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ANLISE DE IMPACTOS ASSOCIADOS PRECIPITAO NA CIDADE DE SO CARLOS/SP
ALTIERIS PORFRIO LIMA
Orientadora: Dra. Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim
Programa de Ps-Graduao em Geografia da FCT/Unesp Presidente Prudente
Presidente Prudente, 2012
ANLISE DE IMPACTOS ASSOCIADOS PRECIPITAO NA CIDADE DE SO CARLOS-SP
ALTIERIS PORFRIO LIMA
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia da Faculdade de Cincias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, para a obteno do ttulo de Mestre em Geografia.
rea de concentrao: Produo do Espao Geogrfico.
Linha de Pesquisa: Dinmica e Gesto Ambiental.
Orientadora: Dra. Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim.
Presidente Prudente, 2012
Aos meus pais, Seu Gildo e Dona Edileuza,
pelo imenso amor e exemplo de perseverana, e Sinara minha amada.
Agradecimentos
minha orientadora, professora Dra. Margarete Amorim, a quem tenho enorme
respeito e admirao. Tenho imensa gratido pela orientao, confiana e apoio desde a
graduao.
Aos professores Joo Lima SantAnna Neto e Encarnita Salas Martin pelas correes e
contribuies enriquecedoras oferecidas no exame de qualificao do estudo.
Aos professores Luci Hidalgo Nunes e Joo Lima SantAnna Neto pelas sugestes e
contribuies oferecidas na apresentao da dissertao.
Aos professores Jos Tadeu Garcia Tommaselli e Miriam Rodrigues Silvestre pelas
contribuies e sugestes sempre que solicitados.
FCT/Unesp Campus de Presidente Prudente e ao Programa de Ps Graduao em
Geografia pela oportunidade de realizao do mestrado.
Aos professores do Programa de Ps Graduao em Geografia pelas contribuies
oferecidas nas disciplinas.
Aos funcionrios da Seo Tcnica de Ps-Graduao FCT/Unesp, em especial
Cinthia Thiemi Onishi pela gentileza.
FAPESP pelo fomento concedido para o desenvolvimento do estudo.
Aos amigos Eduardo Werneck, Jos Carlos Ugeda Jnior, Felipe Zanatta por suas
contribuies em questes referentes ao estudo.
Ao INMET pela disponibilidade dos dados meteorolgicos solicitados para o
desenvolvimento da pesquisa.
Aos amigos Herivelto Rocha, Tiago Cubas, Fernando Kajiya, Rafael Coelho, Vinicius
Mendona, Paulo Zangalli Jnior, Danilo Valentin, Marcelo Shinoby, Rodrigo Longo, Rosiel
Basso e Rafael Nakandakali pelo apoio e amizade em todas as horas.
minha maravilhosa famlia, pelo exemplo de perseverana, respeito e amor.
minha amada Sinara, com quem divido minhas alegrias e tristezas. Agradeo pelo
amor, apoio, compreenso e pacincia.
Fonte: www.dukechargista.com.br
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
I
SUMRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... II LISTA DE GRFICOS ............................................................................................................ III LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ IV LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. IV RESUMO .................................................................................................................................. V ABSTRACT ............................................................................................................................. VI 1 - INTRODUO .................................................................................................................... 1 2 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 6 2.1 - Objetivo geral ..................................................................................................................... 6 2.2 Objetivos Especficos .................................................................................................... 6
3 - PROCEDIMENTOS METODOLGICOS .......................................................................... 7 4 O ESTUDO DO CLIMA URBANO .................................................................................. 11 4.1 - A origem das preocupaes com a atmosfera e os primeiros estudos sobre a atmosfera das reas urbanas. ................................................................................................................. 13 4.2 - Estudos de clima urbano no Brasil e o Sistema Clima Urbano .................................... 17 4.3 - O Subsistema Hidrometerico ..................................................................................... 27 4.4 Estudos por meio do Subsistema Hidrometerico ....................................................... 31 4.5 - Planejamento e aes mitigadoras s inundaes e alagamentos ................................ 34 4.6 Riscos associadas precipitao no ambiente urbano................................................. 42
5 O MUNICPIO DE SO CARLOS ................................................................................... 47 5.1 - A ocupao inicial da regio e fundao de So Carlos .............................................. 54 5.2 - Expanso territorial urbana de So Carlos ................................................................... 56 5.3 - Inundaes e alagamentos em So Carlos.................................................................... 61 5.4 - Aspectos relativos drenagem urbana: anlise do Plano Diretor Municipal de So Carlos .................................................................................................................................... 62
6 ANLISES DOS IMPACTOS PLUVIAIS EM SO CARLOS ....................................... 75 6.1 Anlise quantitativa dos dados pluviais....................................................................... 76 6.2 Anlise qualitativa dos impactos pluviais a partir de notcias veiculadas nos jornais. 85 6.2.1 - As repercusses dos impactos pluviais registradas nos jornais............................. 89
6.3 - Anlise Rtmica dos episdios de inundao/alagamento em So Carlos ................. 105 6.3.1 - Episdio 1 (06 a 16 de maro de 2009) ............................................................ 108 6.3.2 - Episdio 2 (23 a 30 de outubro de 2009) ......................................................... 113 6.3.3 - Episdio 3 (15 a 27 janeiro de 2007) ............................................................... 117 6.3.4 - Episdio 4 (01 a 24 de janeiro de 2002) .......................................................... 121 6.3.5 - Episdio - 5 (11 a 20 de setembro de 2000) ........................................................ 126 6.3.6 - Episdio 6 (01 a 10 de junho de 1997) ............................................................... 130 6.3.7 - Episdio 7 (13 a 22 de maio de 1995 ) ............................................................. 134 6.3.8 - Episdio 8 (26 de dezembro de 1989 a 09 de janeiro de 1990) ....................... 139 6.3. 9 - Episdio - 9 (05 a 15 de janeiro de 1988) .......................................................... 146 6.3.10 - Episdio -10 (20 a 31 de janeiro de 1987) ........................................................ 150
7 - CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 157 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................... 159
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II
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Inundao na Praa Antnio Adolpho Lobbe (Rotatria do Cristo Redentor), 12/03/2011. ................................................................................................................................. 5 Figura 2: Localizao do municpio de So Carlos. ................................................................. 48 Figura 3: Principais feies climticas do Estado de So Paulo, segundo a classificao de Monteiro, 1973. Fonte: MONTEIRO, 1973. ............................................................................ 50 Figura 4: rea urbanizada e as microbacias do municpio de So Carlos. .............................. 51 Figura 5: Sub bacias urbanas de So Carlos. ...................................................................... 52 Figura 6: Perfil topogrfico da rea urbana de So Carlos - Leste/Oeste................................. 53 Figura 7: Perfil topogrfico da rea urbana de So Carlos - Norte/sul .................................... 53 Figura 8: Inundao no fundo de Vale do Mercado Municipal, 19/12/2007. .......................... 58 Figura 9: Expanso urbana da cidade de So Carlos. ............................................................... 59 Figura 10: reas de Preservao Permanente ocupadas. ......................................................... 60 Figura 11: Zoneamento do Plano Diretor Municipal de So Carlos (2005). ............................ 68 Figura 12: Condies de Infraestrutura na rea urbana: drenagem, eroso e alagamentos. ..... 93 Figura 13: Pontos de ocorrncia de alagamentos e inundaes de 1980 a 2009 em So Carlos. .................................................................................................................................................. 95 Figura 14: Localizao dos episdios de inundao e alagamento na dcada de 1980............ 97 Figura 15: Localizao dos episdios de inundao e alagamento na dcada de 1990............ 99 Figura 16: Localizao dos episdios de inundao e alagamento na dcada de 2000.......... 102 Figura 17: Pontos de ocorrncia de alagamentos e inundaes de 1980 a 2009 em So Carlos/SP. ............................................................................................................................... 104 Figura 18: Grfico de Anlise Rtmica do episdio 1. ........................................................... 110 Figura 19: Repercusso do episdio 1 na cidade de So Carlos. ........................................... 111 Figura 20: Localizao dos impactos do episdio 1 ............................................................... 112 Figura 21: Anlise Rtmica do episdio 2. ............................................................................. 114 Figura 22: Repercusso do episdio 2 na cidade de So Carlos. ........................................... 115 Figura 23: Repercusso do episdio 2 na cidade de So Carlos. ........................................... 115 Figura 24: Localizao dos impactos do episdio 2. .............................................................. 116 Figura 25: Anlise Rtmica do episdio 3. ............................................................................. 118 Figura 26: Repercusso do episdio 3 na cidade de So Carlos. ........................................... 119 Figura 27: Repercusso do episdio 3 na cidade de So Carlos. ........................................... 119 Figura 28: Localizao dos impactos do episdio 3. .............................................................. 120 Figura 29: Anlise Rtmica do episdio 4. ............................................................................. 122 Figura 30: Repercusso do episdio 4 na cidade de So Carlos. ........................................... 123 Figura 31: Repercusso do episdio 4 na cidade de So Carlos. ........................................... 123 Figura 32: Repercusso do episdio 4 na cidade de So Carlos. ........................................... 124 Figura 33: Repercusso do episdio 4 na cidade de So Carlos. ........................................... 124 Figura 34: Localizao dos impactos do episodio 4. .............................................................. 125 Figura 35: Anlise Rtmica do episdio 5. ............................................................................. 127 Figura 36: Repercusso do episdio 5 na cidade de So Carlos. ........................................... 128 Figura 37: Repercusso do episdio 5 na cidade de So Carlos. ........................................... 128 Figura 38: Localizao dos impactos do episdio 5. .............................................................. 129 Figura 39: Anlise Rtmica do episdio 6. ............................................................................. 131 Figura 40: Repercusso do episdio 6 na cidade de So Carlos. ........................................... 132 Figura 41: Repercusso do episdio 6 na cidade de So Carlos ............................................ 132 Figura 42: Localizao dos impactos do episdio 6. .............................................................. 133
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III
Figura 43: Anlise Rtmica do episdio 7. ............................................................................. 135 Figura 44: Repercusso do episdio 7 na cidade de So Carlos. ........................................... 136 Figura 45: Repercusso do episdio 7 na cidade de So Carlos. ........................................... 136 Figura 46: Repercusso do episdio 7 na cidade de So Carlos. ........................................... 137 Figura 47: Localizao dos impactos do episdio 7. .............................................................. 138 Figura 48: Anlise Rtmica do episdio 8. ............................................................................. 141 Figura 49: Repercusso do episdio 8 na cidade de So Carlos. ........................................... 142 Figura 50: Repercusso do episdio 8 na cidade de So Carlos. ........................................... 142 Figura 51: Repercusso do episdio 8 na cidade de So Carlos. ........................................... 143 Figura 52: Repercusso do episdio 8 na cidade de So Carlos. ........................................... 143 Figura 53: Repercusso do episdio 8 na cidade de So Carlos. ........................................... 144 Figura 54: Repercusso do episdio 8 na cidade de So Carlos. ........................................... 144 Figura 55: Localizao dos impactos do episdio 8. .............................................................. 145 Figura 56: Anlise Rtmica do episdio 9. ............................................................................. 147 Figura 57: Repercusso do episdio 9 na cidade de So Carlos. ........................................... 148 Figura 58: Localizao dos impactos do episdio 9. .............................................................. 149 Figura 59: Anlise Rtmica do episdio 10. ........................................................................... 151 Figura 60: Repercusso do episdio 10 na cidade de So Carlos. ......................................... 152 Figura 61: Repercusso do episdio 10 na cidade de So Carlos. ......................................... 152 Figura 62: Repercusso do episdio 10 na cidade de So Carlos. ......................................... 153 Figura 63: Localizao dos impactos do episdio 10. ............................................................ 154
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1: Crescimento populacional de So Carlos. ................................................................. 7 Grfico 2: Total anual de precipitao em So Carlos de 1980 a 2009.................................... 78 Grfico 3: Desvio da precipitao em So Carlos de 1980 a 2009. ......................................... 79 Grfico 4: Tendncia da precipitao de 1980 a 2009 em So Carlos. .................................... 79 Grfico 5: Variabilidade da precipitao mensal de 1980 a 2009 em So Carlos. ................... 80 Grfico 6: Variabilidade da precipitao mxima em 24h de 1980 a 2009 em So Carlos. .... 81 Grfico 7: Mdia mensal e precipitao mxima em 24h de 1980 a 2009 em So Carlos. ..... 82 Grfico 8: Nmero de dias com chuva em So Carlos no perodo de 1980 a 2009. ................ 83 Grfico 9: Mdia mensal do nmero de dias com chuva em So Carlos de 1980 a 2009........ 84 Grfico 10: Nmero de notcias relacionadas s inundaes e alagamentos registradas em jornais locias de So Carlos no perodo entre 1980 e 2009. ..................................................... 90 Grfico 11: Distribuio por dcadas de notcias de episdios de inundaes e alagamentos em So Carlos no perodo entre 1980 e 2009. .......................................................................... 90 Grfico 12: Nmero de notcias de episdios de alagamentos/inundaes em So Carlos no perodo dentre 1980 e 2009. ..................................................................................................... 91 Grfico 13: Totais mensais de notcias e impactos no perodo de 1980 a 2009. ...................... 92 Grfico 14: Locais de ocorrncia de alagamentos e inundaes em So Carlos no perodo de 1980 a 2009. ............................................................................................................................. 94
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IV
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Sistema Clima Urbano - Articulao dos sistemas segundo os canais de percepo. .................................................................................................................................................. 24 Quadro 2: Canal Hidrometerico. ............................................................................................ 29
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Modelo de ficha para registro das informaes contidas nas notcias. ....................... 9 Tabela 2: Inundaes no Brasil de 1900 a 2011. ...................................................................... 43 Tabela 3: Totais mensais de precipitao (mm) - So Carlos .................................................. 77 Tabela 4: Perodo de retorno de precipitao mxima em 24h em So Carlos. ....................... 82 Tabela 5: Notcias dos jornais da dcada de 1980. ................................................................... 96 Tabela 6: Notcias dos jornais da dcada de 1990. ................................................................... 98 Tabela 7: Notcias de jornal dcada de 2000 .......................................................................... 101 Tabela 8: Ocorrncias de impactos pluviais deflagrados pela precipitao durante o perodo de 1980 a 2009 em So Carlos. ................................................................................................... 107 Tabela 9: Episdios selecionados para a anlise rtmica. ....................................................... 108 Tabela 10: Precipitao mxima em 24h do perodo de 1980 a 2009. ................................... 156
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V
RESUMO
O aumento da concentrao populacional nas reas urbanas brasileiras, ocorrido principalmente a partir da segunda metade do sculo XX, tem como um de seus reflexos os graves problemas socioambientais observados atualmente. Frequentemente, episdios de precipitaes, que fazem parte da variabilidade climtica natural de reas tropicais, deflagram diversos transtornos e inmeras perdas entre a populao em diversas cidades. Considerando-se os riscos associados s precipitaes existentes nas cidades brasileiras o estudo teve como objetivo a anlise da ocorrncia e a distribuio espacial de episdios de alagamentos e inundaes ocorridos entre 1980 e 2009 na cidade de So Carlos/SP, tendo como referencial terico metodolgico o Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976), Subsistema Hidrometerico. O estudo foi desenvolvido atravs da anlise associada entre os dados pluviais da Estao Meteorolgica do INMET em So Carlos e as notcias sobre as repercusses dos impactos deflagrados pela precipitao veiculados em jornais locais. Os resultados revelaram que, embora a ocorrncia de alagamentos e inundaes na cidade de So Carlos seja considerada fato antigo - haja vista que os estudos de Mendes et al. (2005) j indicavam a existncia de tais episdios desde meados do sculo XX - houve um grande aumento do nmero de ocorrncias e surgimento novas reas atingidas por esses impactos, especialmente a partir do final da dcada de 1990, como reflexo da expanso urbana de So Carlos e do aumento da concentrao das chuvas, principalmente nos casos de grandes volumes de precipitao em 24h. Palavras chave: Clima Urbano; Precipitao; Impactos pluviais; Notcias de jornal; So Carlos
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VI
ABSTRACT
The increasing concentration of population in Brazil urban areas, occurred mainly from the second half of the twentieth century, has as one of its consequences the serious social and environmental problems currently observed. Often episodes of rainfall that are part of natural climate variability in tropical areas trigger disorders and countless losses among the population in various cities. Thinking about the risks associated with precipitation in Brazilian cities, the study aimed to analyze the occurrence and spatial distribution of flood and flooding episodes that occurred between 1980 and 2009 in So Carlos/SP, having as theoretical and methodological referential of the Urban Climate System (MONTEIRO, 1976), Hydrometeoric Subsystem. The study was developed through the joint analysis between precipitation data from the Meteorological Station in So Carlos and the news about impacts triggered by rainfall recorded in local newspapers. The results revealed that although the occurrence of flooding and flood in So Carlos city is considered really old - Mendes et al. (2005) indicated the existence of such episodes since the mid-twentieth century - there was a large increase in the number of occurrences and the new areas affected by these impacts, especially from the end of the 1990s, reflecting the urban expansion of So Carlos and the increased concentration of rainfall, especially in large volumes of precipitation cases in 24 hours. Keywords: Urban Climate; Precipitation; Impacts of rain; Newspaper; So Carlos.
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1 - INTRODUO
O crescimento populacional urbano e suas demandas se refletem em uma srie de
problemas socioambientais que se evidenciam cotidianamente na vida de milhares de pessoas
em cidades de todo o mundo.
O processo de urbanizao atingiu, no final do sculo XX e incio do XXI, ndices bastante elevados, resultando que na atualidade a populao do planeta , majoritariamente, urbana. Esta condio engendra uma srie de novos e complexos problemas para a compreenso e gesto do espao e da sociedade urbana, sendo que aqueles de ordem socioambiental encontram-se destacados no contexto das cidades, particularmente daquelas de pases em condies socioeconmicas de alta complexidade, como o caso do Brasil (MENDONA, 2004, p. 140).
Analisando o processo de urbanizao brasileiro, observa-se que o pas seguiu a
tendncia mundial. Segundo Santos (1981, p. 3), no incio do sculo XIX a populao urbana
brasileira era menos de 2%, na metade do sculo XX, havia aumentado para 21% e na dcada
de 1980 os nmeros j chegavam a 41,5%. De acordo com Conti (1998, p.42), em 1991 a
populao urbana j era de mais de 74%, e atualmente, segundo o ltimo censo realizado
pelo IBGE em 2010, a populao urbana brasileira chegou a 84,35%.
A partir da segunda metade do sculo XX, muitas cidades brasileiras registraram um
aumento populacional abrupto e tal fato, de acordo com Oliveira (1998, p.2), contribuiu para
o desencadeamento de situaes vinculadas ausncia de planejamento para subsidiar o
processo de expanso urbana.
A anlise dos cenrios urbanos brasileiros revela a forma desordenada de apropriao, norteado pela ausncia de planejamento que considere o disciplinamento do uso e ocupao do solo como prerrogativa bsica de seu ordenamento. Essa desordenao traz como conseqncia, nveis abusivos de degradao ambiental evidentes no cotidiano urbano (OLIVEIRA, 1998, p. 3).
Nesse contexto destaca-se ainda o fato de que as cidades brasileiras, de modo geral,
tiveram como modelo cidades europias. Para Oliveira (1998, p. 1) a aplicao desse modelo
observada a partir dos primeiros decnios do sculo atual, com a urbanizao de reas
posicionadas ao longo dos rios, como se pode observar pelo processo de urbanizao ao longo
do rio Tiet, na cidade de So Paulo.
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A ocupao de plancies aluviais e fundos de vale com a implantao de vias de
circulao de trnsito ou mesmo com a construo de edificaes, tem sido prtica comum em
muitas cidades brasileiras. A ocupao indiscriminada de reas imprprias, especialmente
aquelas atualmente denominadas reas de Preservao Permanente (APP), evidencia grave
problema socioambiental produzido e reproduzido nos centros urbanos desde a fundao das
primeiras cidades brasileiras at os dias atuais e se expressa no elevado grau de
vulnerabilidade s enchentes1.
Associado a ocupao de APPs ainda cabe ressaltar que o elevado grau de
impermeabilizao do solo, a remoo da cobertura vegetal alm da retificao e canalizao
de rios e crregos, contribui decisivamente no aumento excessivo da gua de escoamento
superficial, fato que potencializa a ocorrncia de alagamentos e inundaes urbanas.
importante esclarecer ainda que caractersticas fsicas naturais relevantes foram
desconsideradas no processo de ocupao e organizao dos espaos urbanos brasileiros, tais
como o ritmo e a variabilidade climtica, especialmente em relao ao regime pluvial.
Atualmente episdios de precipitaes concentradas - eventos que fazem parte da
variabilidade climtica natural de reas tropicais - comumente desencadeiam transtornos e
perdas que comprometem a qualidade de vida de grande parte da populao urbana brasileira.
As alteraes no ambiente natural produzidas pelo processo de urbanizao em So
Carlos/SP, especialmente em relao ao uso e ocupao do solo, resultaram em consequncias
que no foram previamente calculadas na fase inicial da fundao do ncleo urbano e em sua
expanso. O reflexo dessa situao atualmente se tornou um dos principais problemas
socioambientais registrados na cidade, que a vulnerabilidade a impactos2 deflagrados por
episdios de precipitaes, tais como alagamentos3 e inundaes4 urbanas.
1 As enchentes podem ser consideradas uma das conseqncias da atuao e dinmica de sistemas naturais sobre a superfcie terrestre que maiores alteraes provocam no espao geogrfico. Essa dinmica no se restringe apenas ao aumento da vazo que leva enchente, mas tambm aos movimentos atmosfricos, aos processos geomorfolgicos e, principalmente, s repercusses ocorridas nas reas afetadas pelas enchentes, em especial nas reas urbanas situadas s margens dos rios, onde so processos freqentes. (...) As enchentes, quando estudadas dentro de uma perspectiva climtica, acabam tendo abordagem diferente da observada nas linhas de pesquisa da geomorfologia. Nessa perspectiva, as enchentes passam a ser vistas como azares da natureza, os quais o homem est freqentemente submetido e, nesse nterim, prevenir-se das catstrofes passa a ser um dos grandes objetivos da relao dos seres humanos com o clima (WOLLMAN e SARTORI, 2008, p.2). De acordo com Maia (2007, p. 20) as cheias do curso fluvial o termo tcnico correto para descrever esta ao fluvial; no entanto, as enchentes foi um termo popular assimilado pela cincia. Qualquer um dos termos escolhidos se refere aos fenmenos naturais que ocorrem dentro de uma bacia hidrogrfica. 2 Segundo Maia (2009, p. 7) para definio do termo impacto preciso, atualmente, reflexo sobre o seu significado conforme as diferentes correntes do pensamento contemporneo. Gonalves (1992, p. 7 apud Garcia, 1982) assinala impacto como a expresso das transformaes que decorrem de um determinado evento em
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Mota (2003. p. 41) afirma que:
O processo de urbanizao pode provocar alteraes sensveis no ciclo hidrolgico, principalmente sob os seguintes aspectos: aumento da precipitao; diminuio da evapotranspirao, como conseqncia da reduo da vegetao; aumento da quantidade de lquido escoado; diminuio da infiltrao da gua devido impermeabilizao e compactao do solo; consumo de gua superficial e subterrnea para consumo pblico, usos industriais e outros; mudanas no nvel do lenol fretico podendo ocorrer reduo ou esgotamento do mesmo; maior eroso do solo e conseqente aumento do processo de assoreamento das colees superficiais da gua; aumento da ocorrncia de enchentes e poluio das guas superficiais e subterrneas. A urbanizao provoca alteraes na drenagem das guas pluviais, resultando no aumento do volume de gua escoada, bem como em um pico de vazo maior e de ocorrncia mais rpida. Isto tem sido a causa dos problemas de cheias em muitas cidades.
A cidade de So Carlos foi fundada prxima margem direita do crrego do Gregrio,
rea onde atualmente se concentra grande parte dos problemas associados drenagem urbana.
As cidades ribeirinhas atualmente padecem da urbanizao empreendida no passado, quando as inundaes se destacam nas reas urbanas na estao das guas. No preciso uma chuva de grande monta para que os cursos dgua provoquem a derrubada de pontes, inundem casas e vias de circulao. O cu com nuvens pretas traz para as pessoas uma sensao de insegurana do que est por vir. Isto pode ser verificado no comportamento da cidade, vistos os congestionamentos de trfego de veculos e sua circulao desordenada (MAIA, 2007, p. 5).
Mendes et al. (2005) baseando-se em registros histricos, esclarecem que a cidade de
So Carlos j apresentava rea sujeita ocorrncia de inundaes desde os primrdios de sua
expanso urbana, ainda no final da dcada de 1940, mas tal vulnerabilidade no foi
determinado meio, seja econmico, social, poltico ou ambiental. Portanto para a autora, impacto sempre est associado idia de algo forte, que representa choque ou coliso. 3 Os alagamentos esto restritos as reas urbanas, fruto das fortes chuvas sobre um ambiente extremamente urbanizado e solo intensamente impermeabilizado (WOLLMAN e SARTORI, 2008, p.2). De acordo com Grilo (1992), os alagamentos ocorrem, de modo geral, em reas planas ou com depresses e fundos de vales, com o escoamento superficial comprometido pela topografia e falta ou insuficincia de um sistema pluvial no ambiente urbano. Ainda, quanto menor a extenso de reas verdes, menor a infiltrao de gua no solo e, conseqentemente, menor auxlio para o escoamento superficial, as quais poderiam atenuar as causas dos mesmos. 4 Para Maia (2009, p. 20) existe uma pequena confuso conceitual quando se designa este fenmeno hidrolgico: o termo inundao. H uma diferena entre enchente e inundao. O primeiro se refere a guas que extravasam o leito menor dos rios; a inundao um fenmeno geomorfolgico que ocorre no perodo de cheia, quando as guas fluviais extravasam o canal fluvial, inundando a regio.
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considerada naquele momento, o que permitiu a ocupao indiscriminada de reas de vrzea e
fundos de vale.
Atualmente as principais reas de ocorrncia de inundaes e alagamentos localizam-
se nas imediaes da regio central da cidade, em vias de grande importncia para circulao
do trnsito local (avenidas situadas prximo s margens de alguns crregos urbanos) e na
principal rea comercial do centro da cidade (rea localizada em fundo de vale e em plancie
aluvial). Zago (2006, p.2) afirma que:
Entre os diversos tipos de danos (humanos, ambientais e materiais) contabilizados aps as recorrentes enchentes no municpio de So Carlos, os danos materiais so de considervel magnitude, tendo em vista que grande parte da regio comercial constantemente alagada, causando grandes prejuzos aos comerciantes.
Os transtornos mais comuns so inundaes das casas, lojas ou veculos, interrupo
de vias pblicas, prejuzos materiais e doenas. Entretanto, tais situaes tambm podem
ocasionar bitos, por meio de graves doenas como leptospirose, desabamento de edificaes
ou acidentes de trnsito como engavetamentos e quedas de veculos no leito dos crregos,
visto que durante as enchentes torna-se impossvel distinguir o limite das vias de circulao
tomadas pela gua (Figura 1).
Os frequentes episdios de alagamentos e inundaes registrados em So Carlos nos
ltimos anos ressaltam a relevncia do estudo no sentido de gerar contribuies para a
mitigao da questo, haja vista os transtornos e perdas sofridos pela populao atingida por
esses impactos recorrentes.
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Figura 1: Inundao na Praa Antnio Adolpho Lobbe (Rotatria do Cristo Redentor), 12/03/2011. Fonte: Mauricio Duch/So Carlos Agora.
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2 OBJETIVOS
2.1 - Objetivo geral
A pesquisa tem como objetivo principal analisar a distribuio dos impactos
deflagrados pela precipitao, especificamente episdios de alagamentos e inundaes
urbanas ocorridos entre 1980 e 2009 na cidade de So Carlos/ SP, com a finalidade de
compreender os processos causadores desses impactos.
2.2 Objetivos Especficos
Os objetivos especficos so:
Analisar estatisticamente o padro pluviomtrico de 1980 a 2009 em So Carlos visando
compreender as caractersticas da precipitao durante esse perodo.
Identificar e mapear reas de ocorrncia de alagamentos e inundaes na cidade de So
Carlos, tendo como fonte as notcias veiculadas pela imprensa local nos jornais Primeira
Pgina, A Folha, e A Tribuna de So Carlos.
Analisar a frequncia de ocorrncia de alagamentos e inundaes e verificar se houve
evoluo no perodo, com o aumento desses impactos na cidade de So Carlos.
Compreender, por meio da Anlise Rtmica (MONTEIRO, 1971), as condies sinticas
atuantes e os tipos de tempo deflagradores desses impactos na rea urbana de So Carlos,
correlacionando os episdios de alagamentos e inundaes noticiados nos jornais aos
dados pluviais correspondentes.
Analisar o Plano Diretor de So Carlos/SP, especificamente em relao aos problemas
ligados drenagem urbana (evidenciado pela frequente ocorrncia das inundaes e
alagamentos), e verificar as aes tomadas pelo poder pblico, direcionadas mitigao
desses impactos.
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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3 - PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
O estudo dos impactos deflagrados pela precipitao na cidade de So Carlos foi
desenvolvido a partir da anlise da interao existente entre atmosfera e ambiente urbano,
pressuposto bsico em estudos de Clima Urbano. A pesquisa se concentrou na anlise do
recorte temporal de 1980 a 2009, perodo em que a cidade de So Carlos apresentou
significativo crescimento populacional (Grfico 1).
Grfico 1: Crescimento populacional de So Carlos.
Fonte: IBGE
Para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado amplo levantamento bibliogrfico
com leituras e fichamentos de teses, dissertaes, livros e artigos de peridicos.
Sobre a rea de estudo - a cidade de So Carlos - as leituras tiveram como propsito
esclarecer questes sobre seu processo de ocupao inicial, expanso urbana e suas
caractersticas fsicas naturais. Sobre climatologia e clima urbano, as leituras foram
direcionadas a textos relacionados s questes epistemolgicas, climatologia dinmica e
anlise de impactos pluvial em reas urbanas. Outros temas relevantes para o
desenvolvimento da pesquisa, tais como a aplicao de tcnicas estatsticas; Planos Diretores
e planejamento urbano ligado drenagem urbana; risco e vulnerabilidade; e ainda questes
relacionadas mdia impressa tambm foram pesquisados e fizeram parte da reviso
bibliogrfica.
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2010
Dcada
Populao
Crescimento populacional
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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O estudo foi desenvolvido tendo como principal referencial terico metodolgico o
Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976), por meio do Subsistema Hidrometerico (impacto
meterico), analisando a relao entre o clima, o espao urbano e a ocorrncia de impactos
associados precipitao.
Os dados meteorolgicos utilizados no estudo foram disponibilizados pelo INMET5 e
so da Estao Meteorolgica de So Carlos (estao convencional n 83726), localizada no
Campus da Universidade Federal de So Carlos, situada a 47 88 W e 22 02 S, a uma
altitude de 856 m.
Os dados de precipitao dirios correspondentes ao perodo de 1980 a 2009 foram
organizados e analisados quantitativamente por meio de aplicao de tcnicas estatsticas,
utilizado o programa EXCEL6, com a finalidade de gerar informaes detalhadas sobre as
caractersticas da precipitao em So Carlos. Nesse sentido, procurou-se identificar
caractersticas e tendncias da distribuio anual e mensal da precipitao atravs de clculos
de mdia, desvio padro, precipitao mxima em 24h, perodo de retorno de precipitao
mxima em 24h e nmero de dias com chuva.
Anlise qualitativa da precipitao no espao urbano de So Carlos foi realizada por
meio do levantamento das notcias de episdios alagamentos e inundaes veiculadas nos
jornais locais durante o perodo de 1980 a 2009. A anlise qualitativa da precipitao no
projeto inicial contava tambm com a utilizao de dados do Corpo de Bombeiros e da Defesa
Civil do municpio de So Carlos, contudo esses dados no foram disponibilizados. O Corpo
de Bombeiros informou que devido a problemas tcnicos seus dados estavam indisponveis, e
a Defesa Civil informou que devido ampliao de suas instalaes seu acervo estava
inacessvel.
A utilizao de notcias da mdia impressa como fonte de dados para anlises
climticas qualitativas considerada estratgica conveniente e eficiente, haja vista que o
mesmo procedimento j foi empregada nos trabalhos de Brando (2001), Souza e SantAnna
Neto (2004), Souza (2005), Vicente (2005), Candido (2007), Nunes (2007), Silveira (2007),
Ely (2008), Teodoro (2008), Maia (2009), Castellano (2010), e Mendona (2011).
As informaes sobre as ocorrncias de alagamentos e inundaes foram pesquisadas
em trs jornais de So Carlos: Jornal Primeira Pgina, Jornal A Tribuna de So Carlos, e
Jornal A Folha. Esses jornais foram consultados no acervo do arquivo pblico e histrico da
Fundao Pr-Memria de So Carlos e no acervo da Biblioteca Jurdica da Cmara 5 Instituto Nacional de Meteorologia. 6 Marca registrada Microsoft Office.
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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Municipal de So Carlos. Cabe destacar que as visitas e consultas desses acervos em So
Carlos foram realizadas durante os trabalhos de campo.
A prioridade foi analisar o jornal Primeira Pgina, pois era o peridico que possua a
srie histrica mais completa. Nos casos em que no havia o jornal Primeira Pgina
disponvel para consulta, foram analisados os demais jornais disponveis, A Folha ou A
Tribuna de So Carlos.
O Jornal Primeira Pgina, editado em So Carlos pela empresa Interpress
Comunicaes Editoriais, foi fundado em abril de 1988. O Primeira Pgina circula em So
Carlos, Ibat e Itirapina e est voltado para uma populao regional estimada em 400 mil
habitantes, com circulao mdia de 10.000 exemplares durante a semana apresentando 40
pginas divididas em 5 cadernos, e 12.000 exemplares aos domingos, com 10 cadernos e
mdia de 80 pginas. Atualmente o jornal tem uma equipe de quase 100 funcionrios entre
jornalistas, reprteres, fotgrafos, diagramadores, impressores e distribuidores.
O peridico A Folha, tambm editado na cidade de So Carlos, circula de tera a
domingo em So Carlos, Ibat e Ribeiro Bonito. Completou 50 anos de existncia no dia 25
de janeiro de 2012 e atualmente tem tiragem diria de 3 mil exemplares, e 4 mil aos
domingos. O jornal A Tribuna de So Carlos foi o primeiro peridico editado em So
Carlos, criado em 1876 sob a direo de Ernesto Luiz Gonalves. Apesar de seu pioneirismo o
peridico foi extinto h poucos anos atrs, na dcada de 2000.
Os jornais foram analisados manualmente, dia por dia, e as notcias encontradas
relacionadas s repercusses de episdios de precipitao foram registradas atravs de
fotografia e organizadas em planilhas utilizando o programa Excel (Tabela 1).
Ficha de informaes sobre os episdios de inundaes e alagamentos
Jornal Data Cabealho da notcia Caderno e pgina Local e repercusses Foto Destaque Outras observaes
Tabela 1: Modelo de ficha para registro das informaes contidas nas notcias.
Fonte: Adaptado de Souza, 2005
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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Nos jornais foram selecionadas para anlise as notcias que continham algum tipo de
informao relativa ocorrncia de episdios de inundaes e alagamentos. importante
ressaltar que os artigos dos diferentes jornais consultados no apresentaram um consenso em
relao aos termos utilizados para definio dos impactos pluviais relacionados drenagem
urbana. Nesse sentido a consulta procurou analisar os artigos que continham informaes
sobre enchentes, cheias, enxurradas, alagamentos e inundaes.
De modo geral, as notcias encontradas nos jornais continham as datas e os locais onde
ocorreram os alagamentos e as inundaes e facilitaram a identificao e posteriormente o
mapeamento desses pontos. Geralmente as fotografias mostravam os transtornos provocados e
a rea atingida. Um dado muito importante encontrado somente em algumas notcias dos
jornais foi a relao tempo/volume da precipitao. Essas informaes tinham como fonte a
Defesa Civil do Municpio e demonstrava as intensidades das precipitaes, fator relevante na
anlise do processo de alagamentos e inundaes urbanas.
A anlise rtmica, proposta por Monteiro (1971) foi empregada para compreenso da
gnese e dinmica dos episdios de precipitao e seus impactos na rea urbana de So
Carlos. De acordo com Monteiro (1971, p. 18) a anlise rtmica consiste na representao
contnua e simultnea dos elementos bsicos do clima, fato que poderia contribuir para
estudos do ritmo climtico relacionado a problemas urbanos.
Monteiro (1971, p. 13) observa que:
Na anlise rtmica as expresses quantitativas dos elementos climticos esto indissoluvelmente ligadas gnese ou qualidade dos mesmos e os parmetros resultantes dessa anlise devem ser considerados levando em conta a posio no espao geogrfico em que se define. [...] As possveis aplicaes destas anlises devem ser integradas nos espao regional e que os parmetros admitidos como vlidos para uma regio, no podero ser aceitos, a priori, para uma regio diferente. [...] Sendo a anlise rtmica uma abordagem essencialmente dinmica, torna-se necessrio um perfeito entrosamento entre as observaes locais, detalhadas em unidades de tempo cronolgico adequadas, como tambm os elementos de anlise espacial da circulao atmosfrica.
A anlise rtmica foi aplicada somente a alguns episdios de precipitao, haja vista a
dificuldade de acesso s imagens de satlites e cartas sinticas correspondentes aos dados
meteorolgicos, importantes elementos para realizao desse tipo de anlise.
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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4 O ESTUDO DO CLIMA URBANO
Uma questo extremamente relevante e tema de grande debate em todo o mundo a
qualidade de vida nas reas urbanas. Mendona (2003, p. 93) destaca que:
Os estudos relativos qualidade de vida urbana remontam Revoluo Industrial, embora seja no sculo XX, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial, que o desenvolvimento dos mesmos, tenham sido mais marcante. Nos ltimos trinta anos, aproximadamente, essa temtica ganhou relevncia na seara de preocupaes de cientistas, polticos, administradores e da sociedade em geral devido a considerveis modificaes introduzidas pelo processo de urbanizao no ambiente precedente criao, na maioria das vezes, de condies ambientais prejudiciais vida (MENDONA, 2003, p. 93).
A questo que envolve a qualidade de vida nas reas urbanas est, entre outros fatores,
relacionada ao agravamento dos problemas socioambientais observados nas cidades que, de
modo geral, ainda apresentam precariedades evidentes, como falta de saneamento e servios
bsicos, habitao, reas de lazer, alm de poluio no solo, gua e ar entre outras demandas
fundamentais vida e sade da populao.
Gonalves (2003, p. 80) enfatiza que os problemas socioambientais encontrados nas
cidades brasileiras resultam de questes complexas, mltiplas e extremamente inter-
relacionadas como o crescimento demogrfico acelerado, o problema habitacional, a
deficincia de infraestrutura bsica, as desigualdades socioeconmicas e a consequente
segregao espacial, que repercutem com grande intensidade no ambiente natural.
De acordo com Mendona (2003, p. 94) a degradao ambiental e a queda na
qualidade de vida nas cidades se agravam proporo que a urbanizao se intensifica. Um
dos reflexos dessa grave crise ambiental nas cidades o alto grau de vulnerabilidade de
grande parte da populao.
O enfoque da discusso proposta nesse estudo est direcionado temtica da
qualidade ambiental urbana, mais especificamente questo climtica urbana, por meio da
anlise dos impactos deflagrados pela precipitao na cidade de So Carlos/SP. Como destaca
Zanella (2006, p. 45) h que se considerar que o clima urbano constitui-se em apenas uma
das mltiplas feies da qualidade ambiental urbana. Mas seu estudo de fundamental
importncia como uma contribuio ao planejamento urbano.
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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O clima constitui-se numa das dimenses do ambiente urbano e seu estudo tem oferecido importantes contribuies ao equacionamento da questo ambiental das cidades. As condies climticas destas reas entendidas como clima urbano, so derivadas da alterao da paisagem natural e da sua substituio por um ambiente construdo, palco de intensas atividades humanas (MENDONA, 2003, p. 93).
Maia (2007, p. 7) destaca que o estudo do ambiente atmosfrico urbano tem chamado
ateno dos gegrafos, entre outros fatores, por estar diretamente relacionado com a queda na
qualidade de vida urbana, especialmente em razo das frequentes inundaes, da poluio do
ar e da gua, e das ocorrncias de chuvas cidas e ilhas de calor.
As intervenes na superfcie, sem um planejamento que considera corretamente, as caractersticas geoecolgicas do local onde a malha urbana est instalada, interferem na qualidade de vida da populao, fato j fartamente evidenciado atravs da poluio do ar, das situaes de desconforto ambiental e das frequentes inundaes que refletem peculiaridades dos climas de nossas cidades (BRANDO, 2005, p. 56).
Com respeito aos problemas relacionados especialmente s frequentes inundaes
urbanas, Perez Filho et al. (2006, p. 44) ressaltam que as caractersticas sociais e ambientais
de diversas cidades brasileiras, tais como a impermeabilizao excessiva do solo e parcela
considervel da populao ocupando fundos de vale e reas de inundao, acarretaram
problemas crnicos de enchentes. O autor complementa sua afirmao esclarecendo que nos
ltimos anos, tais problemas causaram grandes impactos em reas urbanas provocando
prejuzos econmicos populao afetada.
As enchentes urbanas tm a precipitao como seu agente deflagrador e no so raros
os casos em que as repercusses dos impactos causados pelas enchentes chegam ao status de
desastres ou catstrofes, especialmente quando ocasionam perdas humanas.
Os fenmenos atmosfricos constituem uma das principais inquietaes dos cientistas de desastres naturais em todo o mundo neste final de milnio, que tentam compreender suas causas, avaliar suas repercusses e encontrar formas mais seguras de preveno para lidar com sucesso com os impactos na qualidade de vida e nas atividades econmicas (BRANDO, 2005, p.48).
Em relao aos eventos extremos de precipitao, especialmente aqueles deflagradores
de grandes impactos, Gonalves (2003, p. 80) esclarece que embora sejam fenmenos naturais
ocasionados pelas disritmias dos sistemas meteorolgicos, a interferncia da ao antrpica ao
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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longo do tempo, tanto na cidade quanto no campo, tem contribudo, consideravelmente, para
sua maior frequncia, agressividade e expanso areolar.
As reas urbanas e metropolitanas so, particularmente, mais afetadas porque correspondem aos segmentos da superfcie terrestre mais intensamente transformados. A atividade humana nestas reas, principalmente atravs do tratamento incorreto dos recursos naturais, produz quase sempre inadequada artificializao, altera o ambiente local e cria uma vulnerabilidade maior em relao aos eventos do sistema natural que, na maioria das vezes, no so de grande magnitude. Como um circuito alimentado positivamente, a vulnerabilidade aumenta e, consequentemente, aumenta a capacidade de a populao absorver seus efeitos (GONALVES, 2003, p. 70).
Brando (2005), citando seus estudos j realizados sobre os impactos pluviais na
cidade do Rio de Janeiro atravs da apresentao do histrico de ocorrncias, afirma que alm
dos impactos deflagrados por episdios extremos de precipitao, at mesmo eventos pluviais
considerados moderados passaram a causar enchentes e inundaes urbanas, o que reflete
claramente que as derivaes antropognicas tm participao decisiva no agravamento
desses episdios (BRANDO, 2005, p.64).
A impermeabilizao crescente e progressiva do solo prejudica o escoamento, no tendo a rede de captao de guas pluviais capacidade suficiente para escoar, de modo rpido, o grande volume de gua que se acumula nos vales e baixadas. Ocorrem ento os alagamentos e/ou inundaes com uma srie de problemas que lhes so caractersticos: dificuldades de circulao, congestionamento de trfego e consequncias atrasos nos deslocamentos, prejuzos materiais, afogamentos, desabamentos e um grande nmero de desabrigados. (GONALVES, p 74).
4.1 - A origem das preocupaes com a atmosfera e os primeiros estudos sobre a atmosfera das reas urbanas.
De acordo com SantAnna Neto (1998, p. 119):
A preocupao do homem com os fenmenos originados na atmosfera e que repercutem na superfcie terrestre to antiga quanto a sua prpria percepo do ambiente habitado. Desde os primrdios da epopia humana na Terra, o interesse pelo tempo e pelo clima se justifica pela indubitvel influncia que seus fenmenos, e os aspectos inerentes a eles, exercem nas atividades realizadas pelo homem.
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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Gmez (1993, p. 10) destaca que la percepcin sensorial del clima urbano es ya
vieja. Como recuerdan Landsberg, Heidorn y otros. Ya se refera Sneca, em el siglo I, a los
humos pestilentes de Roma y como mejoraba su nimo al alejarse de la urbe.
Segundo Brando (2005, p.47) os fenmenos atmosfricos sempre despertaram o
interesse e a curiosidade do homem desde as civilizaes mais antigas, que consideravam este
fenmeno obra da fora divina. SantAnna Neto (1998, p. 119) afirma que, na histria da
humanidade, devem-se aos gregos as primeiras observaes meteorolgicas e a ruptura com
as posturas teolgicas empregadas pelas civilizaes anteriores, que atribuam aos deuses o
controle do tempo. Nesse perodo o autor ainda destaca que foi concebido o primeiro
zoneamento climtico do planeta, que era relativo latitude, e dividia a Terra em: zonas
trridas, temperadas e frgidas.
Na evoluo do conhecimento e estudo da atmosfera, SantAnna Neto (1998, p. 119)
ressalta tambm a contribuio cientfica de Ares, guas e Lugares de Hipcrates, e ainda
Meteorologia de Aristteles, ambas no sculo V antes da era crist.
SantAnna Neto (op. cit.) tambm destaca a relevante sistematizao do conhecimento
cientfico ocorrido na Renascena Europia, especialmente a partir da inveno dos primeiros
instrumentos para a mensurao dos elementos do tempo, produzidos por Torricelli, Galileo,
Descartes, entre outros. Ele enfatiza que nesse perodo houve um avano significativo no
conhecimento atmosfrico e reconheceu-se que as variaes climticas no se restringiam
apenas s variaes latitudinais, sendo afetadas pela circulao geral da atmosfera, e
distribuio de oceanos e continentes.
Durante os quatro sculos seguintes, do XVI ao XIX, os cientistas se concentraram nas questes bsicas de elucidao da estrutura e composio da atmosfera, bem como da distribuio de seus elementos na superfcie terrestre. Ao longo deste perodo, os principais estudiosos das cincias naturais se desdobraram nas tarefas de compreender e identificar as leis gerais que regem os sistemas atmosfricos e o conhecimento mais especfico dos elementos do clima, na sua concepo fsica (SANTANNA NETO, 1998, p. 120).
J no final do sculo XIX, at a II Guerra Mundial, o avano cientfico foi associado
expanso imperialista europia, e depois americana, fato que, segundo SantAnna Neto (op.
cit.), detonou um impressionante progresso tecnolgico, uma verdadeira revoluo
paradigmtica que colocava o homem e suas potencialidades, como verdadeiros senhores da
Terra.
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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Nesta concepo, a humanidade tudo poderia. O ambiente natural se adequaria s necessidades de provimento de alimentos, de recursos naturais e de vida das sociedades, a partir do conhecimento tecnolgico, em que a natureza, se comportaria de maneira passiva s intervenes humanas (SANTANNA NETO, 1998, p. 120).
De acordo com SantAnna Neto (op. cit.), muito tempo se passou e muitos erros
ocorreram at que essa concepo se revelasse equivocada, e que a humanidade percebesse
que neste jogo de interaes entre a sociedade e a natureza, nenhum destes agentes detm o
monoplio ou o comando irrestrito desta relao.
Nesse sentido destaca Brando (2005, p. 47) que:
A histria do ajustamento do homem s condies do meio e das transformaes destas por suas atividades tem sido uma relao de conflito e harmonia, mas durante muitos sculos tais condies se mantiveram dentro dos limites sem causar impacto ambiental significativo, pelo menos at o incio do perodo da Revoluo Industrial. Conscientes ou inconscientemente, ao criar microclimas artificiais, o homem vem atuando na alterao da composio qumica da baixa atmosfera.
SantAnna Neto (1998, p. 120) esclarece que nessa relao entre a sociedade e a
natureza, o homem pode alterar significativamente o ambiente em escalas inferiores (micro e
local), alm de influenciar nas escalas mdias e regionais.
Uma das mais antigas referncias sobre as preocupaes com a modificao da
atmosfera nas cidades data de 1661, a proposio de Sir John Evelyn de que fosse criado um
cinturo verde com espcies aromticas para purificar o ar fumarento e j nocivo de Londres
(MUMFORD, 1956 apud GONALVES 2003, p. 76).
Gmez (1993, p. 10) tambm destaca que el primer estdio concreto sobre tal
influencia en el clima es la curiosa obra sobre el clima de Londres de Evelyn (1661), quien
afirma que el azufre produzido por la combustin dificulta la llegada de los rayos solares.
Gmez (1993, p. 10) ressalta que em relao aos estudos da atmosfera urbana hasta
comienzos del siglo XIX no se emplean datos meteorolgicos para analizar las alteraciones
climticas urbanas.
A preocupao com a qualidade do ambiente urbano parece remontar ao perodo da Revoluo Industrial, em funo do estado de deteriorao dos grandes aglomerados industriais que se desenvolveram principalmente na Inglaterra, Frana e Alemanha, o que justifica a preocupao pioneira do ingls Luke Howard e do Francs Emilien Renou com o estudo do clima em suas cidades (Brando, 2005, p. 51).
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
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Gmez (1993, p. 11) fez referncia a vrios outros trabalhos pioneiros que foram
produzidos atravs da anlise do clima urbano. Estudos como o do meteorologista francs
RENOU, de MARTINS em Montpellier, e de YOSHINO confirmaram os resultados que
apontavam um aumento da temperatura do ar nas reas urbanas, ainda na segunda metade do
sculo XIX.
Gmez (op. cit.) cita tambm os primeiros trabalhos produzidos atravs da
metodologia utilizando veculos a motor com aparelhos para observao da variao espacial
da temperatura do ar nas cidades (transecto) como o de SCHIMIDT em Viena (1927) e
PEPPLER em Karsruhe. Menciona ainda o trabalho de SCHMAUSS em Munique sobre o
aumento da precipitao por influncia da rea urbana.
Gonalves (2003, p. 76) ressalta que a maioria dos estudos realizados at aquele
momento, primeira metade de sculo XX, referia-se as cidades da Europa, Amrica do Norte
e, mais recentemente, do Japo, priorizando as anlises na pesquisa meteorolgica e
climatolgica, com grande nfase no campo da poluio atmosfrica e ilhas de calor.
Las investigaciones se multiplican com ritmo acelerado en los pases cientficamente ms avanzados de Europa, em Norteamrica, Japn, etc., sobrepassando ya los trs millares de estudos. En las obras generales, ya clsicas, referentes al clima cerca del suelo y em reas pequeas, como las de Geiger (1966) o Yoshino (1975), se incluyen resmenes sobre el clima urbano; entre las dedicadas a este en concreto, destacan especialmente las de la Organizacin Meteorolgica Mundial (OMM-WMO) (Simposio de 1968), Chandler (1978), Landsberg (1981), etc. (GMEZ, 1993, p. 11).
Os estudos sobre as peculiaridades da atmosfera urbana e o clima das cidades em
regies tropicais comearam a ser produzidos principalmente a partir da segunda metade do
sculo XX.
Nas regies tropicais, as investigaes so ainda mais recentes e objetivaram, inicialmente, estabelecer comparaes entre as caractersticas observadas nas cidades das baixas e mdias latitudes. A produo ainda relativamente escassa e se deve insuficincia de recursos financeiros e, consequentemente, dos equipamentos para a pesquisa, alm da deficiente rede de observao meteorolgica necessria a este tipo de anlise (JAUREGUI, 1984, OKE, 1984, apud, GONALVES, 2003, P. 76).
As cidades de pases tropicais, notadamente as de mdio e pequeno porte, s muito recentemente comearam a despertar a ateno para a elaborao de estudos de seus ambientes climticos. Metodologias especficas para estes estudos tais como a proposta do Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976), e a identificao de novos fatores como o papel da precipitao e da umidade
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
17
do ar consideravelmente importante na determinao da atmosfera urbana (MENDONA, 2003, p. 94).
4.2 - Estudos de clima urbano no Brasil e o Sistema Clima Urbano
De acordo com Maia (2009, p.308) embora as primeiras cidades tenham aparecido h
mais de 3500 anos a.C., o processo de urbanizao moderno teve incio no sculo XVIII em
consequncia da Revoluo Industrial. Segundo SantAnna Neto (1998, 125) o processo de
urbanizao que a sociedade moderna tem experimentado desde o final da Revoluo
Industrial pode ser considerado como um dos mais impressionantes fenmenos da histria de
nosso planeta.
Cabe ressaltar, entretanto que nos pases subdesenvolvidos a urbanizao foi
consolidada a partir do sculo XX. Hoje, quase metade da populao mundial vive nas
cidades, e a tendncia que este fato se intensifique cada vez mais (MAIA, op. cit.).
Histrica e espacialmente, a cidade apresenta problemas diferenciados. A segunda metade do sculo XX, por exemplo, marcada por um processo de urbanizao acelerado e desordenado, principalmente nos pases emergentes, e suas cidades passam a manifestar todo tipo de problema, relacionado, sobretudo ao inchao populacional. No caso brasileiro, o processo de urbanizao principalmente fruto do xodo rural, e este fenmeno est intimamente relacionado ao modelo de desenvolvimento capitalista que elegeu a indstria por meio da entrada de tecnologia e capital estrangeiro, imprimindo um novo ritmo economia. Assim, progressivamente a populao foi se transferindo para as cidades (ZANELLA, 2006, p. 1).
Na medida em que aumentou a participao do setor industrial na economia nacional,
o nmero de habitantes das cidades passou a crescer mais do que o do campo. No entanto,
nem sempre foi assim, pois este fenmeno evidenciou-se mais a partir da dcada de 1970,
quando a populao urbana superou a populao rural (ZANELLA, 2006, p. 19).
Mendona (1994, p.1) enfatiza que em pases como o Brasil a urbanizao
desenvolvida desordenadamente deu origem a inmeras novas cidades ou ao crescimento das
j existentes. Assim, destitudas de orientao planejada para suas expanses, as cidades dos
pases pobres, principalmente localizadas em reas tropicais, tem apresentado ambientes onde
a deteriorao fsica e social flagrante.
Analisando o espao urbano sob a tica de seus problemas socioambientais, entre toda
a gama de mazelas resultantes da degradao fsica e social encontrada nas cidades, os
problemas deflagrados por eventos climticos tem se destacado especialmente pela
Anlise de impactos associados precipitao na cidade de So Carlos/SP Lima, A.P.
18
intensidade e frequncia com que tm sido observados seus impactos, notadamente os
associados aos episdios de precipitao, como enchentes urbanas.
No ambiente urbano encontram-se as aes antrpicas ou transformaes humanas,
que adaptam o meio natural s suas necessidades. Assim, o ambiente natural dotado de
infraestrutura urbana com obras de engenharia como construo de galerias pluviais,
retificao de canais, canalizao de crregos, etc. Tais transformaes no ambiente podem
resultar em um espao urbano vulnervel a riscos e impactos que afetam diretamente
integridade da organizao das cidades gerando problemas especialmente deflagrados pela
precipitao como enchentes e inundaes.
O processo de urbanizao pode provocar alteraes sensveis no ciclo hidrolgico, principalmente sob os seguintes aspectos: aumento da precipitao; diminuio da evapotranspirao, como conseqncia da reduo da vegetao; aumento da quantidade de lquido escoado; diminuio infiltrao da gua devido a impermeabilizao e compactao do solo; consumo de gua superficial e subterrnea para consumo pblico, usos industriais e outros; mudanas no nvel do lenol fretico podendo ocorrer reduo ou esgotamento do mesmo; maior eroso do solo e conseqente aumento do processo de assoreamento das colees superficiais da gua; aumento da ocorrncia de enchentes e poluio das guas superficiais e subterrneas. A urbanizao provoca alteraes na drenagem das guas pluviais, resultando no aumento do volume de gua escoada, bem como em um pico de vazo maior e de ocorrncia mais rpida. Isto tem sido a causa dos problemas de cheias em muitas cidades (MOTTA, 2003, p. 41).
Os resultados diretos de tais problemas so os transtornos na circulao, nas atividades
e servios com o colapso dos transportes, problemas sanitrios e de abastecimento alm de
outras perdas e danos. Nesse sentido, cabe ressaltar que devido o Sistema Clima Urbano ser
um sistema aberto e adaptativo, aes tomadas principalmente pelo poder pblico podem
atenuar seus efeitos negativos.
De acordo com Monteiro (1990, p. 10) a previso de que os maiores centros urbanos
do futuro prximo estaro na Amrica Latina onde os processos de urbanizao forosamente
espelham uma trgica realidade socioeconmica, aumenta a importncia do problema.
A organizao dos espaos urbanos tem sido considerada fator importante na anlise
de estudos sobre enchentes urbanas. E muitos estudos j esto sendo produzidos ressaltando o
papel do clima na organizao do espao urbano.
Muito tempo se passou at que o homem percebesse o importante papel desempenhado pelos atributos da atmosfera na organizao do espao. Primeiramente considerado como determinante e, posteriormente, como
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irrelevante (uma vez que a tecnologia poderia corrigir suas variaes), apenas a partir das reflexes de Sorre (Les fundaments biologiques de La Gographie Humaine, 1951) e das contribuies de Curry (Climate and economic life, 1952), os condicionantes climticos passaram a assumir seu real papel, ou seja, o de insumo natural nos processos fsicos e econmicos (SANTANNA NETO, 1998, p. 121).
Quando tratamos de reas urbanas, o clima original constantemente modificado pela
construo do espao urbano, uma vez que alterado, entre outros fatores, o balano de
energia, em funo da concepo de cidade estabelecida pela civilizao ocidental
(SANTANNA NETO, 1998, p. 122).
Por estes aspectos o clima assume importante papel como insumo, tanto na produo agrcola quanto na construo do ambiente urbano. Tambm pode ser considerado como regulador de processos urbanos e agrrios, alm de agente de impactos, como afirma Monteiro (1976). Assim o clima apresenta diferentes maneiras de influenciar e condicionar o espao (SANTANNA NETO, 1998, p. 122).
Os estudos de Clima Urbano no Brasil, segundo Gonalves (2003, p. 77) datam
aproximadamente da mesma poca em que a crise ambiental comeou a afetar suas grandes
cidades, sobretudo So Paulo com graves problemas de poluio do ar e inundaes.
Apesar de estes estudos terem sido iniciados no perodo da Revoluo Industrial na Inglaterra, no Brasil foi na dcada de 1970, a partir do momento em que a populao urbana ultrapassou a rural, que as pesquisas sobre o clima urbano passaram a ser desenvolvidas de maneira mais expressiva, e com fundamentao terica e metodolgica mais apurada (ZANELLA, p. 31 ).
Mendona (2003, p. 94) destaca que os estudos relativos ao ambiente climtico
urbano tm sido desenvolvidos no Brasil, notadamente sobre a influncia de Carlos Augusto
de Figueiredo Monteiro, que acabou fundando uma escola brasileira de climatologia urbana.
Gonalves (2003, p. 77) enfatiza que o fomento pesquisa nesta rea do
conhecimento se deve a Monteiro, atravs de seu trabalho Teoria e Clima Urbano (1976),
uma proposta de teorizao e de uma nova abordagem metodolgica para o estudo do clima
urbano, adaptada s necessidades da realidade brasileira.
Segundo Monteiro (1990, p.9) a respeito de sua proposta terico metodolgica: No apenas algumas especificidades da cidade brasileira estavam a requerer uma sria reflexo sobre as derivaes climticas produzidas pelo homem em nossa realidade scio-econmica espalhadas nas metrpoles, mas a prpria concepo bsica de clima urbano que nos chegava dos centros
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produtores de conhecimento do exterior. [...] Tal esforo de reflexo crtica sobre a temtica resultou na constituio da tese de livre docncia.
De acordo com SantAnna Neto (1998, p. 121) desde a mudana de paradigma, a
partir da aceitao dos propsitos tericos de SORRE e o legado de MONTEIRO, a
climatologia geogrfica no Brasil tem sido eficiente na compreenso e explicao dos
mecanismos da circulao atmosfrica regional e dos sistemas produtores dos tipos de tempo.
No sentido de formalizao de uma teoria, pioneira no Brasil a obra Teoria e Clima Urbano, de Monteiro (1976), que se utiliza da anlise sistmica como forma de hierarquizar as relaes entre o ambiente urbano e as transformaes porque passam os componentes climticos nesse ambiente (Tarifa, 1977, p. 60).
Monteiro, utilizando a Teoria Geral dos Sistemas de Betalanffy, elaborou uma
proposta terica metodolgica, denominada Sistema Clima Urbano, apresentando uma nova
orientao sobre como conduzir uma investigao integrando o clima e o espao urbano.
Segundo Monteiro (1976, p. 90) a Teoria Geral dos Sistemas colocada sob a perspectiva
organsmica, visando, sobretudo, a compreender funcionamento, desempenho, enfim,
organizao. Sobre a proposta terica metodolgica Sistema Clima Urbano, Mendona
(2003, p.7) afirma que:
Aquela publicao de 1976 transformara-se em matriz para o desenvolvimento de inmeras cpias utilizadas em vrias partes do pas e mesmo no exterior, comprovando que uma boa proposta terica, a despeito das dificuldades de publicao comercial, ganha legitimidade pela importncia que encerra. Sua aplicao em variados estudos de caso permitiu tanto a verificao de suas potencialidades, possibilidades e rigor cientfico quanto eclodiu na sua consolidao, levando alguns pesquisadores a atribuir a Monteiro a criao de uma escola brasileira de climatologia (Zavatinni) e de uma escola brasileira de climatologia urbana (Mendona). A originalidade da proposta, ao lado de inmeros outros detalhes, torna-se evidente ao colocar a tropicalidade como condio fundamental para repensar os problemas das cidades brasileiras na perspectiva do planejamento urbano. Neste particular revela-se de suma importncia para aqueles que, ao colocarem no centro de suas preocupaes tcnico cientficas os to graves problemas ambientais que caracterizam o ambiente urbano dos pases em estgio de desenvolvimento, buscam construir melhores condies de vida na cidade.
A proposta de estudo de clima urbano elaborada por Monteiro apresenta como
critrios bsicos:
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Pragmatismo: a transformao do conhecimento resultado de nossa capacidade de
resolver problemas [...] no caso do clima urbano, trata-se de uma questo de
sobrevivncia humana (MONTEIRO, 1976, p.93);
Dinamismo: na conceituao sorreana o clima no esttico, necessrio
compreender esse dinamismo e suas peculiaridades;
Consistncia: o clima urbano exige estrutura que correlacione fatos mais amplos e
complexos como os mais simples e restritos, por isso importante a anlise de todas
as escalas de tratamento espacial-temporal e graus de complexidade urbana
(MONTEIRO, 2003, p. 18);
Empirismo: como qualquer fenmeno investigado pela cincia, a estrutura terica
deve ser suscetvel e orientada investigao emprica como teste de verificao;
Modelismo: o clima urbano necessita tanto de mapas quanto de diagramao, para o
desenvolvimento e aperfeioamento da pesquisa.
Para que o estudo de clima urbano atinja os critrios acima propostos, Monteiro
sugeriu uma idia reguladora, porm sem carter de regra, que chamou de enunciados bsicos.
Eles foram elaborados para serem utilizados como referncia para o desenvolvimento da
pesquisa. So dez os enunciados bsicos:
1. O clima urbano um sistema que abrange o clima de um dado espao terrestre e sua
urbanizao (MONTEIRO, 1976, p.95). No existe um grau de urbanizao
determinado para se utilizar o termo clima urbano. A formao de um clima urbano
diferenciado das reas circunvizinhas, no est atrelada dimenso territorial de uma
cidade e os problemas gerados por esse clima local podem ser notados tanto em cidades
de pequeno porte quanto em cidades de grande porte ou em metrpoles.
2. O espao urbanizado, que se identifica a partir do stio, constitui o ncleo do sistema
que mantm relaes ntimas com o ambiente regional imediato em que se insere
(MONTEIRO, 1976, p. 95). Ressalta-se a necessria articulao geogrfica entre as
diferentes escalas climticas: local, regional e zonal.
3. O Sistema Clima Urbano importa energia atravs do seu ambiente a ponto de gerar
produtos que so exportados para o ambiente, configurando-se como um sistema aberto.
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O S.C.U.7 visa compreender a organizao climtica peculiar da cidade e, como tal,
centrado essencialmente na atmosfera, que assim, encarada como o operador
(MONTEIRO, 1976, p.97). Tudo o que no atmosfrico no espao urbano (incluindo
os seres vivos) constitui o operando, que no esttico ou passivo.
4. As entradas de energia no S.C.U. so de natureza trmica, implicando componentes
dinmicas inequvocas determinadas pela circulao atmosfrica, e decisivas para a
componente hdrica englobada nesse conjunto (MONTEIRO, 1976, p. 97). As
diferentes formas de uso e ocupao urbana exercem efeitos decisivos de reflexo,
absoro e armazenamento trmico.
5. A avaliao dessa entrada de energia no SCU deve ser observada tanto em termos
quantitativos como, especialmente em relao ao seu modo de transmisso
(MONTEIRO, 1976, p.98). Deve-se conceber o clima sob a perspectiva dinmica alm
de se ressaltar o ritmo climtico.
6. A estrutura interna do S.C.U. no pode ser definida pela simples superposio ou
adio de suas partes, mas somente por meio da ntima conexo entre elas
(MONTEIRO, 1976, p.99). O todo muito mais que a soma das partes. Deve-se
observar as inter-relaes existentes entre os diferentes nveis e escalas.
7. O homem deve constituir sempre o referencial dos problemas e valores dos fatos
geogrficos. O conjunto-produto do S.C.U. pressupe vrios elementos que
caracterizam a participao urbana no desempenho do sistema. Sendo variada e
heterognea essa produo, faz-se mister uma simplificao classificadora que deve ser
constituda atravs de canais de percepo humana (MONTEIRO, 1976, p.100).
Poluio do ar, ilha de calor, inundaes no espao urbano, dentre outras formas,
assumem destaque nos climas urbanos, refletindo, com isso, peculiaridades do clima da
cidade (MONTEIRO, 1976, p.100). Monteiro destaca trs elementos: conforto trmico
englobando as componentes termodinmicas (calor, ventilao e umidade); qualidade do ar
associada a outras formas de poluio uma das mais decisivas na qualidade ambiental
7 Sistema Clima Urbano
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urbana; meteoros de impacto esto agrupadas todas as formas de metericas, hdricas,
mecnicas e eltricas, que so capazes de causar danos na vida urbana.
8. A natureza urbana do S.C.U. implica em condies especiais de dinamismo interno
consoante o processo evolutivo do crescimento e desenvolvimento urbano
(MONTEIRO, 1976, p.100).
9. O S.C.U. um sistema passvel de auto-regulao conferida pelo homem que ao
conhec-lo capaz e detectar suas disfunes e intervir no funcionamento do mesmo.
Ressalta-se a importncia de um desenvolvimento/crescimento com metas e
planejamento prvio.
10. Devido capacidade auto-reguladora existente no S.C.U., como um sistema aberto,
acrescentam-se propriedades de entropia (troca de energia) negativa atravs de
processos adaptativos, podendo ser considerado como um sistema morfogentico.
O Sistema Clima Urbano subdividido em trs subsistemas: Termodinmico (canal de
percepo conforto trmico), Hidrometerico (canal de percepo impacto meterico) e
Fsico- Qumico (canal de percepo qualidade do ar) (Quadro1).
O Sistema Clima Urbano aglutina os grandes conjuntos de fenmenos associados intrinsecamente atmosfera, os quais desdobrados em subsistemas (Termodinmico, Fsico-Qumico e Hidrometerico) so dirigidos percepo sensorial e comportamental do habitante da cidade (BRANDO, 2005, p. 64).
De acordo com Gonalves (2003, p, 76.) desta maneira, as variveis que se
sobressaem nos climas urbanos, tais como ilhas de calor, poluio atmosfrica e inundaes
no espao urbano, so analisadas, respectivamente atravs de canais abstratos conforto
trmico, qualidade do ar e impacto meterico. Esses canais definem os subsistemas
fundamentais do Sistema Clima Urbano (Termodinmico, Fsico-Qumico e Hidrodinmico)
que atuam no complexo energtico.
Este modelo subdividido em subsistemas procura distinguir os fatores de controle, o ncleo do sistema, os nveis de resoluo, os efeitos paralelos e a ao planejada que, simultaneamente, tratam dos processos de insumo, transformao, produo, percepo e auto-regulao. um ambiente
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complexo, singular, aberto, adaptativo, cuja organizao funcional passvel de auto-regulao, isto , a ao de planejamento para corrigir suas disfunes, expressos em trs canais de percepo humana: termodinmico, fsico-qumico e hidrometerico (LUCENA, 2010, p. 3).
Quadro 1: Sistema Clima Urbano - Articulao dos sistemas segundo os canais de percepo.
Sistemas I Termodinmico II Fsico-Qumico III Hidrometerico
Canais Conforto Trmico Qualidade do Ar Impactos Hidrometerico
Fonte Atmosfera, radiao, circulao horizontal
Atividade urbana, veculos automotores, indstrias, obras limpas
Atmosfera, estados especiais (desvios rtmicos)
Trnsito no sistema Intercmbio de
operador e operando Do operando ao operador Do operador ao operando
Mecanismo de ao Transformao no
sistema Difuso atravs do
sistema Concentrao no sistema
Projeo Interao ncleo
ambiente Do ncleo ao ambiente Do ambiente ao ncleo
Desenvolvimento Contnuo (permanente) Cumulativo (renovvel) Episdio (eventual)
Observao Meteorolgica espacial
(T. de campo) Sanitria e meteorolgica Meteorolgica hidrolgica (T.
de campo) Correlaes disciplinares e tecnolgicas
Bioclimatologia, Arquitetura e Urbanismo Engenharia Sanitria
Engenharia Sanitria e infraestrutura urbana
Produtos
"Ilha de Calor", ventilao, aumento da
precipitao Poluio do Ar Ataques integridade urbana
Efeitos diretos Desconforto e reduo do desempenho humano
Problemas sanitrios, doenas respiratrias, oftalmolgicas, etc.
Problemas de circulao e comunicao urbana
Reciclagem adaptativa
Controle do uso do solo, tecnologia de conforto habitacional
Vigilncia e controle dos agentes de poluio
Aperfeioamento da infra-estrutura urbana e regularizao
fluvial, uso do solo
Responsabilidade Natureza e homem Homem Natureza
Fonte: MONTEIRO (2003, p. 46).
Monteiro (1976) em sua contribuio terico metodolgica considera a cidade, no
como um antagonismo entre o homem e a natureza, mas como uma co-participao, optando
por uma abordagem sistmica e definindo o clima urbano como um sistema singular,
abrangendo um fato natural (clima local) e um fato social (a cidade).
La ciudad es el paisaje humanizado por excelencia y el ms espectacular. La accin del hombre alcanza all intensidad mxima, incluso en aspectos no visibles como la composicin del aire y los elementos del clima (temperatura, precipitaciones, vientos), de gran repercucin ecolgica puesto que afetan de manera inmediata a todos los habitantes (GOMZ, 1993, p. 9).
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Segundo Pitton (1997, p. 8) as alteraes que se processam nos espaos urbanos,
atravs da materialidade fsica da cidade e das atividades decorrentes, associadas ao stio e s
relaes que se estabelecem entre espaos e a atmosfera contgua, propiciam condies
climticas distintas de reas circunvizinhas e criam um clima prprio, denominado Clima
Urbano. Gonalves (2003, p. 76) esclarece que essa materialidade fsica da cidade e as
atividades dela decorrentes promovem alteraes nos balanos energtico, trmico e hdrico
resultantes, trazendo como conseqncias modificaes importantes nas propriedades fsicas e
qumicas da atmosfera.
Neste ambiente sociamente construdo, o balano de energia precedente sofre profundas mudanas, sendo que os elementos climticos mais observados tm sido a temperatura e a umidade relativa do ar (ilha de calor, ilha de frescor, conforto/desconforto trmico etc.) os ventos (diretamente ligados a disperso da poluio) e, nas cidades tropicais, a precipitao (inundaes). As atividades scio-econmicas urbanas, de maneira geral, so fatores da formao do clima urbano, sendo que a intensidade do adensamento humano e urbano e a localizao geogrfica da cidade desempenham forte influncia em tal formao (MENDONA, 2003, p. 94).
Quando se diz que o clima urbano um sistema que abrange o clima de um dado
espao terrestre e sua urbanizao, trata-se de uma preocupao bsica de tom-lo como um
sistema que, aberto como , pressupe uma mobilidade tanto espacial quanto temporal
(MONTEIRO, 1990, p. 80).
Segundo Conti (1998, p. 43) o mecanismo do clima urbano pode ser entendido se a
cidade for considerada um sistema aberto por onde circulam fluxos de energia, sofrendo
processos de absoro, difuso e reflexo.
O meio ambiente urbano um sistema altamente inter-relacionado, em que tanto os elementos que so obras do homem como os elementos naturais so considerados parte do sistema de ralaes, e os resultados (bons ou ruins) so fruto da combinao dos dois. Por isso o clima da cidade corresponde a um sistema aberto, implicando, portanto, entrada de energia, sua transformao no sistema e exportao ao ambiente externo (BRANDO, 2005, p. 56).
inquestionvel que cada vez mais as reas construdas ocupam os espaos existentes
e desencadeiam profundas mudanas ambientais, como desmatamento, desmonte de morros,
impermeabilizao do solo, distrbios no escoamento das guas e no comportamento do
clima, em escala local (CONTI, 1998, p. 42).
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As alteraes que as cidades provocam na temperatura e umidade relativa do ar so conhecidas desde o sculo passado e muitos trabalhos vm sendo realizados buscando explicar as relaes entre a urbanizao e essas variaes climatolgicas na escala local (ZAMPARONI e LOMBARDO, 1997, p. 40).
SantAnna Neto (2002, p. 10-12) afirma que as condies climticas existentes nas
grandes reas densamente urbanizadas so totalmente diferentes das reas rurais
circunvizinhas. Porm, no so apenas as grandes metrpoles que tem sofrido modificaes
em seus climas locais. Estudos recentes demonstram que mesmo em cidades de pequeno
porte, j h ndicos de alteraes no comportamento da temperatura, da umidade relativa e de
outros elementos que caracterizam os climas urbanos.
De acordo com Tarifa (1977, p. 73):
Os fundamentos tericos, que permitem a explicao das diferenas constatadas nas variaes da temperatura e umidade nos ambientes investigados, devem ser procurados no modo de recepo, transmisso, propagao e dissipao da energia nesses ambientes. Estando, pois localizadas junta interface solo-atmosfera, qualquer alterao na natureza dessa superfcie, tanto espacial como vertical, altera significativamente o modo de propagao da energia. [...] Resultam dessas interferncias, alteraes nas variaes da temperatura e umidade, que nada mais so do que elementos ou variveis respostas, consequentemente funes do balano de energia por unidade de tempo, dentro de um quadro tridimensional.
A formao de um clima urbano diferenciado das reas circunvizinhas, no est
atrelada dimenso territorial de uma cidade como j dito anteriormente em Monteiro (1976).
Devido s diferenas entre a distribuio dos espaos intraurbanos, as condies do clima
urbano variam entre cada cidade, pois condies especficas do relevo, direo predominante
dos ventos, incidncia de densidade de reas verdes e lagos ou rios etc., so fatores que
influenciam diretamente no clima. Portanto, independentemente do porte, o processo de
urbanizao de uma cidade pode alterar o clima local.
Assim o lugar que serve de stio materialidade da cidade algo de muito peculiar tanto pelas repercusses que produz nas esferas lito e biolgicas quanto pela prpria repercusso na atmosfera. E isso que faz com que a considerao do sistema clima urbano exija que essa estrutura interna seja obtida no por meio de uma simples adio ou superposio de partes diferentemente complexas tais como a compartimentao geoecologica e morfologia urbana, mas antes pela ntima conexo entre estas diferentes
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partes, gerando uma estrutura peculiar tanto pelas novas formas quanto pelas resultantes funes aglutinando-as (em harmonia ou em conflito) tanto aquelas do ambiente natural primitivo, quanto derivado e urbanizado (MONTEIRO, 1999, p. 81).
Algumas caractersticas urbanas so importantes elementos para a compreenso da
formao do Clima Urbano como a poluio suspensa na atmosfera proveniente de carros e
indstrias; a circulao diferenciada dos ventos devido s edificaes; a imp