analise de imagens no concreto

18
ANÁLISE DE IMAGENS: UM AVANÇO PARA A TECNOLOGIA DO CONCRETO Epaminondas Luiz Ferreira Júnior (1); Gládis Camarini (2) (1) Engº Civil; Mestrando em Engenharia Civil - UNICAMP e-mail: [email protected] (2) Professora Doutora, Departamento de Arquitetura e Construção, Faculdade de Engenharia Civil - UNICAMP email: [email protected] Palavras Chaves: análise de imagens, microestrutura, zona de transição, microfissuração. Resumo No estudo dos materiais de construção, sabe-se que há uma relação de dependência entre o processo de fabricação, sua microestrutura e suas propriedades. Dessa forma, a análise de imagens vem colaborar para melhorar o nível de conhecimento destes materiais, sendo uma ferramenta adequada para avaliar as mudanças morfológicas que ocorrem durante o seu processamento e seu uso. A análise de imagens exerce um papel importante, particularmente na tecnologia do concreto, pois com ela há possibilidade de relacionar, de alguma forma, a microestrutura com suas propriedades físicas e mecânicas. O objetivo deste trabalho foi proporcionar um levantamento das diferentes aplicações da análise de imagens na tecnologia do concreto, cujos resultados têm proporcionado avanços significativos no entendimento de suas propriedades em bases científicas. Entre estes estudos encontram-se a avaliação das dimensões dos grãos das fases do concreto, dispersão e orientação das fases presentes, análise da superfície em 3D, características morfológicas da zona de transição e a microfissuração. As pesquisas existentes indicam que a análise de imagens é uma ferramenta poderosa que proporciona resultados rápidos e objetivos, permitindo avaliar o comportamento do material com a devida segurança.

Upload: wagner-a-porfirio

Post on 26-Nov-2015

18 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

  • ANLISE DE IMAGENS: UM AVANO PARA A TECNOLOGIA DO CONCRETO

    Epaminondas Luiz Ferreira Jnior (1); Gldis Camarini (2)

    (1) Eng Civil; Mestrando em Engenharia Civil - UNICAMP

    e-mail: [email protected]

    (2) Professora Doutora, Departamento de Arquitetura e Construo,

    Faculdade de Engenharia Civil - UNICAMP

    email: [email protected]

    Palavras Chaves: anlise de imagens, microestrutura, zona de transio, microfissurao.

    Resumo

    No estudo dos materiais de construo, sabe-se que h uma relao de dependncia

    entre o processo de fabricao, sua microestrutura e suas propriedades. Dessa

    forma, a anlise de imagens vem colaborar para melhorar o nvel de conhecimento

    destes materiais, sendo uma ferramenta adequada para avaliar as mudanas

    morfolgicas que ocorrem durante o seu processamento e seu uso. A anlise de

    imagens exerce um papel importante, particularmente na tecnologia do concreto,

    pois com ela h possibilidade de relacionar, de alguma forma, a microestrutura com

    suas propriedades fsicas e mecnicas. O objetivo deste trabalho foi proporcionar um

    levantamento das diferentes aplicaes da anlise de imagens na tecnologia do

    concreto, cujos resultados tm proporcionado avanos significativos no entendimento

    de suas propriedades em bases cientficas. Entre estes estudos encontram-se a

    avaliao das dimenses dos gros das fases do concreto, disperso e orientao

    das fases presentes, anlise da superfcie em 3D, caractersticas morfolgicas da

    zona de transio e a microfissurao. As pesquisas existentes indicam que a

    anlise de imagens uma ferramenta poderosa que proporciona resultados rpidos

    e objetivos, permitindo avaliar o comportamento do material com a devida segurana.

  • 1 Introduo

    A anlise de imagens originou-se da necessidade de se obterem

    solues especficas sobre os materiais, cujas tcnicas convencionais para avaliao

    de suas propriedades no forneciam respostas adequadas. As tcnicas de anlise de

    imagens se desenvolveram muito rapidamente graas ao progresso na aquisio das

    imagens e tambm ao desenvolvimento de algoritmos e softwares para medir sua

    interpretao. Historicamente, mtodos manuais ou semi-automticos medir as

    caractersticas dos poros j tinham sido publicados em 1898 (Chermant, 2001). Com

    o desenvolvimento dos computadores pessoais, e o progresso da aquisio,

    armazenagem, apresentao de imagens, e dos novos algoritmos e softwares,

    pesquisadores da rea da engenharia civil tambm passaram a usar a anlise

    automtica de imagens para caracterizar seus materiais por um mtodo mais

    acessvel e com bases estatsticas. Com isso, est sendo possvel atender as

    expectativas quanto ao desenvolvimento de novos materiais, como os concretos de

    alta e ultra-desempenho, novos concretos leves, ou concretos de ps reativos. A

    anlise de imagens uma ferramenta para investigao da estrutura e morfologia de

    um material em escala microscpica, seja ele concreto, argamassa, pasta de

    cimento, metais ou polmeros. Essa investigao importante para assegurar que as

    associaes entre as propriedades e a estrutura (e defeitos) do material estejam

    suficientemente compreendidas e, estabelecidas estas relaes, prever o seu

    comportamento.

    2 Microscopia

    Alguns elementos estruturais so de dimenso macroscpica podendo

    ser observados a olho nu. No entanto, a maioria dos produtos internos desses

    materiais, apresentam dimenses microscpicas e seus detalhes devem ser

  • observados em microscpios pticos ou eletrnicos. Estes microscpicos auxiliam na

    investigao das feies microestruturais de todos os tipos de materiais.

    2.1 Microscpios

    No microscpio ptico a iluminao e o conjunto de lentes so seus

    elementos bsicos. Para materiais opacos luz (clnquer, argamassas e concretos)

    observa-se uma superfcie polida e utiliza-se a luz refletida na amostra. Essa

    superfcie polida pode ou no sofrer ataque qumico para evidenciar a presena de

    alguns cristais (Figura 1). O aumento mximo de um microscpio ptico da ordem

    de 2000 vezes. Consequentemente, alguns elementos estruturais por serem muito

    pequenos, tornam-se difceis de serem observados neste tipo de microscpio. Neste

    caso, emprega-se o microscpio eletrnico de transmisso (MET) ou o microscpio

    eletrnico de varredura (MEV).

    (a) (b)

    Figura 1 - Sistema de Aquisio de imagens por microscopia ptica (a) (JOURLAN et

    al., 2001) e Seo polida do clnquer (b) (STUTZMAN & LEIGH, 2001).

  • A imagem obtida no MET formada por um feixe de eltrons que

    atravessa a amostra. Para isso, a amostra uma pelcula extrada do material a ser

    observado. O aumento chega a 1.000.000 de vezes. Algumas pesquisas esto

    empregando o MET para estudos de pastas de cimento; no entanto, como uma

    tcnica muito mais sofisticada do que as outras, e sua aplicao , no momento,

    mais restrita, no ser abordada neste levantamento.

    Os cristais presentes nos compostos do cimento hidratado so

    demasiadamente pequenos para serem observados pelo microscpio ptico, sendo

    necessria a utilizao do MEV. A alta resoluo do MEV pode atingir at 30

    ngstrons e grandes profundidades de foco (a distncia de penetrao depende da

    voltagem de acelerao do aparelho). Os aumentos empregados podem variar entre

    100 e 100 mil vezes (SCRIVENER, 1989). O MEV consiste basicamente de uma

    coluna ptico-eletrnica, de uma cmara para a amostra, sistema de vcuo, controle

    eletrnico e sistema de obteno de imagem. Quando um ponto da superfcie da

    amostra alcanado por um feixe de eltrons, originam-se diferentes sinais que

    podem ser detectados independentemente. Destes sinais, um deles a emisso de

    eltrons secundrios (SE) (Figura 2a), e o outro a emisso de eltrons

    retroespalhados (BSE) (Figura 2b). O emprego do MEV permite evidenciar a

    morfologia dos compostos hidratados em funo das condies de hidratao.

    Imagens obtidas por meio de eltrons secundrios (em amostras fraturadas)

    evidenciam a morfologia e a textura, muito comum para avaliao morfolgica dos

    compostos formados durante o processo de hidratao. Imagens obtidas por meio de

    eltrons retroespalhados (em superfcies polidas) permitem visualizar a

    heterogeneidade no interior da amostra. Neste caso, usada para verificao do grau

    de hidratao, da formao de microfissuras e da zona de transio.

  • (a) (b)

    Figura 2 - Imagem de produtos de hidratao do cimento obtida por MEV:

    (a) Imagem por Eltrons Retroespalhados (DIAMOND, 1999) e (b) Imagem por Eltrons

    Secundrios (ANDRADE & VEIGA, 1998).

    Em conjunto com a anlise de imagens possvel realizar a espectrometria de

    disperso de energia - EDS, determinando a composio qumica aproximada de

    partculas, de regies ou pontos de interesse. A funo do EDS detectar, contar e

    distribuir, em classes de energia, os raios-x produzidos por uma pequena regio da

    amostra selecionada para anlise. O aparelho de raios-x conectado a um medidor

    automtico dos ngulos de refrao (?) e suas correspondentes intensidades.

    Usando-se raios-x de comprimento de onda (?) conhecido, e medindo-se ?, pode-se

    perfeitamente calcular o espao interplanar d (Lei de Bragg) (MEHTA &

    MONTEIRO, 1994). Como a distncia interplanar uma caracterstica prpria de

    cada cristal, consegue-se identific-lo quando se comparam os valores com registros

    pr-obtidos de substncias conhecidas. Os equipamentos modernos permitem gravar

    os dados em microprocessadores, resultando numa listagem dos elementos

    presentes no ponto analisado.

  • (a) (b)

    Figura 3 Imagem por eltrons retroespalhados de agregado reativo (a) e a anlise por

    EDS da regio indicada pela seta (b) (BAKHAREV et al., 2001).

    Um cuidado especial deve ser dado no preparo da amostra. No caso de

    amostras no condutoras de eltrons como polmeros, cermicas, pastas,

    argamassas e concretos, preciso que a superfcie a ser observada seja recoberta

    por uma camada com material condutor de eltrons (metais ou ligas metlicas), cujo

    processo denominado metalizao de amostras. Isto necessrio para evitar um

    efeito chamado carregamento, que impede a obteno de imagens satisfatrias

    durante a anlise (ANDRADE & VEIGA, 1998).

    3 Microscopia do clnquer

    A anlise microscpica do clnquer proporciona informaes teis sobre

    a sua estrutura e seu processo de produo. A avaliao microscpica de sees

    polidas (Figura 4) proporciona uma inspeo visual sobre o tamanho dos cristais, sua

    morfologia, distribuio dos cristais e quantidade presente. O emprego do

    microscpio ptico mais difundido e menos oneroso e necessita da anlise de

    imagens para separar suas fases. As sees podem ser ou no atacadas por

    compostos qumicos para evidenciar a presena de determinada fase (Figura 4).

  • Figura 4 - Seo polida do clnquer, com ataque de HF por 30 s

    (STUTZMAN & LEIGH, 2000)

    Mais recentemente desenvolvem-se pesquisas para a obteno de

    dados do clnquer por anlise semi-automtica, cujas imagens so obtidas em

    diferentes tons de cinza e p rocessadas por computador.

    3 Microscopia dos Materiais Base de Cimento

    Para entender a relao entre as propriedades fsicas e a

    microestrutura, necessrio ter acesso: (i) diversidade da morfologia e suas

    caractersticas, (ii) sua heterogeneidade principalmente aps a modelagem da

    microestrutura, (iii) sua evoluo a partir de modelos probabilsticos, e (iv)

    qualidade da interface entre gros ou fases dos pontos a partir da estrutura qumica

    ou fsica visualizada. A anlise das imagens obtidas pela microscopia ptica

    adequada para investigar o primeiro aspecto, a microscopia eletrnica de varredura

    adequada para investigar os primeiros trs aspectos, e a microscopia de transmisso

    de eltrons a quarta (Chermant, 2001).

  • 3.1 Hidratao da Pasta de Cimento

    Vrios mtodos tm sido utilizados para o estudo da hidratao da

    pasta de cimento, como a difrao de raios-X e a anlise termogravimtrica, cada

    qual com suas dificuldades e limitaes. Assim, tcnicas de microscopia para o

    estudo da hidratao do cimento vm sendo aprimoradas constantemente. Uma

    tcnica para analisar o grau de hidratao do concreto, consiste em preparar a

    amostra e observ-la por eltrons retroespalhados. As vrias fases presentes so

    diferenciadas atravs de tons de cinza. Essas imagens so analisadas em um

    software de computador que calcula as reas em uma escala escolhida, que vai de

    escura brilhante. Escolhendo-se um determinado brilho, os pontos que contm

    aquele nvel de cinza so vistos na tela com um contraste de cor apropriado, sendo

    mostrada a porcentagem daquele nvel de brilho na imagem (Ash et al., 1993). A

    pasta de cimento Portland endurecida constituda essencialmente de trs nveis de

    cinza: os produtos de hidratao, os gros anidros e os poros. Para a anlise das

    imagens em argamassas e concretos h um nvel a mais e os gros de agregados

    so facilmente identificados na imagem, e ento removidos pelo computador pois o

    que interessa a pasta de cimento hidratado. Na rea da imagem observada

    elimina-se a rea correspondente aos agregados, as reas ocupadas pelos poros e

    pelos gros anidros (identificados pelos tons de cinza). O resultado de cada imagem

    a rea ocupada pela pasta de cimento hidratado. O resultado final a mdia da

    rea ocupada pela pasta de cimento hidratado obtida em dez imagens feitas de

    maneira aleatria na amostra. A ampliao empregada pode ser de at 450 vezes

    (ASH et al., 1993).

    3.2 Zona de Transio e Formao de Microfissuras

    A zona de transio do concreto a regio delimitada pela interface do

    agregado e a pasta de cimento. Apresenta espessura de, aproximadamente, 30 mm

  • dentro da qual a porosidade aumenta medida que se aproxima da superfcie do

    agregado (Diamond et al, 2001). Embora sejam constitudas dos mesmos elementos,

    a estrutura e as propriedades da zona de transio diferem daqueles

    correspondentes matriz da pasta. Somente com o desenvolvimento das tcnicas de

    anlise de imagens foi possvel observar essa regio, cujas caractersticas so to

    importantes para compreender os fenmenos que ocorrem na macroestrutura do

    concreto. Vrios resultados de investigaes da zona de transio por anlise de

    imagens tm sido divulgados, e o exame das amostras por MEV tem produzido

    resultados que comprovam o comportamento do concreto em diversas situaes.

    FIGURA 5 Anlise da imagem ao redor do gro de areia:

    (a) rea da imagem, (b) nveis de cinza da zona de transio,

    (b) (c) e (d) imagem binria segmentada mostrando os poros e o hidrxido de

    clcio, respectivamente (DIAMOND & HUANG, 2001)

    Alm da grande quantidade de cristais de hidrxido de clcio orientados

    e de vazios capilares, uma caracterstica da zona de transio a formao de

  • microfissuras. Qualquer que seja a sua origem (mecnica, fsica, ou qumica), a

    degradao dos materiais a base de cimento freqentemente resulta do inicio e da

    propagao de microfissuras. Estudos indicam que a presena de microfissuras pode

    influenciar de maneira significativa as propriedades mecnicas e de transporte de

    massa do concreto. Por esse motivo, a otimizao e/ou a atribuio das

    propriedades macroscpicas do material, requer o desenvolvimento de uma

    ferramenta segura que capaz de quantificar as suas caractersticas

    microestruturais (AMMOUCHE et al., 2000). Pesquisas empregando a microscopia

    em materiais base de cimento tm avaliado as microfissuras do concreto. Neste

    caso, tenta-se relacionar a influncia do estado de microfissuras do concreto (ou

    argamassa) com as propriedades fsicas, ou avaliar a evoluo da microfissura com

    aplicao de um carregamento (ao trmica, retrao, fissura ou carregamento

    mecnico). Dois mtodos diferentes podem ser utilizados para anlise das

    microfissuras: uma por observao e outra por anlise quantitativa (RINGOT &

    BASCOUL, 2001) A primeira dificuldade em usar imagens para investigao de

    modelo de fissuras, vem do fato de que as imagens fornecem uma informao local

    do material. Na maioria das vezes, h uma desproporo entre o tamanho da

    amostra extrada e as dimenses das imagens. As tcnicas baseadas em imagens,

    fornecem uma quantidade de dados que so abundantes, mas parciais em apenas

    um campo, devendo haver cuidado quando da anlise desses campos. A segunda

    dificuldade est na segmentao das fissuras, que consiste em reconhec-las dentro

    das imagens. No passado, essa operao era feita manualmente. Hoje se emprega a

    anlise de imagens para esse fim, por meio de um processo automtico. Freitas

    (2001) analisou imagens obtidas de amostras de concretos, relacionando a formao

    de microfissuras ao grau de hidratao. As imagens foram obtidas pelo MEV, em

    sees polidas, por imagens de eltrons retroespalhados. Das imagens originais

    foram selecionadas apenas as regies mais escuras, que so vazios e microfissuras

    e, com isso, pde-se calcular a rea dessa regio em relao rea total da

    imagem. Na anlise das imagens, verificou-se que os poros menores apresentaram

    dimenso aproximada de 0,1 mm e os maiores 20 mm, sendo todos caracterizados

  • como poros capilares. As microfissuras apresentaram espessura mxima

    aproximada de 2,5 mm. Em todos os casos, observou-se que as microfissuras

    tendem a contornar os agregados, confirmando que essa regio do concreto frgil

    e com mais vazios. Ressalta-se que a preparao da amostra muito importante,

    pois as etapas de corte e polimento podem criar e/ou aumentar as microfissuras.

    (a) (b)

    Figura 6 Anlise de microfissuras em concreto (FREITAS, 2001).

    (a) (b)

    Figura 7 - Microfissuras em concreto: (a) imagem real e (b) imagem processada

    (Cherman, 2001).

  • 3.3 Estudo da Relao gua/cimento

    A relao gua/cimento um parmetro importante para o concreto no s pela

    relao direta com a sua resistncia, mas tambm pela sua influncia quanto

    durabilidade do concreto. Isso ocorre devido estreita ligao entre a relao a/c e a

    porosidade capilar da pasta de cimento. Uma porosidade capilar elevada, resulta em

    permeabilidade a agentes agressivos, tais como lquidos nocivos e gases. Portanto,

    a determinao da relao a/c de concretos endurecidos relevante para (a) (b) um

    diagnstico da deteriorao, assim como para assegurar a qualidade do concreto em

    geral. Mtodos pticos tm sido desenvolvidos para determinar a relao a/c do

    concreto endurecido, usando sees delgadas. O mtodo baseado no princpio de

    que a intensidade da fluorescncia do epxi em pastas de cimento proporcional

    porosidade capilar. Quanto maior intensidade da fluorescncia, maior a porosidade

    capilar e maior tambm a relao a/c. Neste caso, a intensidade de fluorescncia de

    sees delgadas em amostras de concreto com uma relao a/c no conhecida,

    comparada visualmente com uma srie referencial de sees delgadas de concreto

    com relao a/c conhecida, cimento bem definido, e cura sob condies

    padronizadas por 28 dias (ELSEN et al., 1995).

    Os primeiros resultados de medidas quantitativas sobre a relao a/c do

    concreto foram obtidos em amostras polidas usando um aparelho de foto-diodo.

    Hoje, a anlise de imagens permite obter resultados quantitativos empregando o

    mtodo da fluorescncia da pasta de cimento (ELSEN et al., 1995). Atualmente, trs

    diferentes mtodos de anlise de imagens so utilizados: um mtodo interativo, um

    mtodo semi-automtico com obteno de dados dos nveis de cores cinza da

    imagem, e um mtodo completamente automtico. No mtodo interativo, as reas na

    pasta de cimento para serem avaliadas so escolhidas pelo operador. A relao a/c

    medida calculada como a mdia dos valores das reas selecionadas. A principal

    desvantagem desse mtodo que as reas relevantes so definidas interativamente

    pelo operador para cada imagem, consumindo muito tempo. Outra desvantagem

    que esse mtodo no totalmente reprodutvel. As reas examinadas so definidas

  • e, assim, influenciadas pela subjetividade do operador que poder escolher as

    mesmas reas; neste caso, o resultado pode no ser representativo da amostra. No

    mtodo semi-automtico de entrada de dados, o operador define uma srie de

    parmetros para o incio das medies, entre elas os tons de cinza para seleo da

    pasta de cimento. Aps essa operao, as medidas so executadas

    automaticamente. No mtodo totalmente automtico, uma seo delgada

    escaneada e o nvel cinza do histograma para cada imagem acumulado e

    armazenado.

    3.4 Anlise da Superfcie da Fratura do Concreto em 3 Dimenses

    A superfcie da fratura de concretos pode ser investigada com o auxlio de programas

    que, por meio de imagens, reconstituem essa superfcie. A forma de como estudar a

    natureza e as caractersticas da superfcie de fratura uma rea de pesquisa

    importante que vem sendo desenvolvida na rea das cincias dos materiais e de

    mecnica da fratura. Devido s limitaes de mtodos experimentais anteriores, a

    superfcies de fratura em materiais como concreto, so apenas idealizadas como

    planos 2D, o que condiciona a validade dos parmetros de medidas da fratura,

    resultando em concluses incorretas. Assim, a maioria das informaes sobre a

    micro e mesoestrutura, e os mecanismos de fadiga dos materiais so ignoradas, e

    um problema a ser solucionado a maneira de medir e quantificar corretamente a

    superfcie da fratura do concreto, (WU et al., 2000). Atualmente, tem-se utilizado uma

    nova tcnica experimental baseada em triangulao a laser e reconstruo da fratura

    superficial em 3-D. Os resultados da reconstruo de um objeto padro e da

    superfcie de fratura de uma amostra de concreto indica que essa tcnica tem uma

    preciso aceitvel. Comparado com os mtodos de anlises tradicionais, esse

    mtodo adequado para determinar a dimenso da fratura e outros parmetros da

    superfcie da fratura. A anlise quantitativa da rugosidade e a caracterstica da

    fratura das superfcies de concreto so realizadas de acordo com o parmetro de

    rugosidade Rs (que a razo da rea atual superficial com superfcie projetada).

  • Esses estudos mostram que a verdadeira rea superficial da fratura cerca de

    45,4% maior do que a rea nominal da fratura (WU et al., 2000). Dois mtodos de

    clculo da dimenso da fratura esto sendo empregados: a tcnica slit-island e a

    anlise da seo vertical da superfcie. Essas novas tcnicas podem ser uma grande

    avano para medir precisamente os parmetros da fratura e eventualmente aumentar

    o nvel de conhecimento sobre os mecanismos de fadiga do concreto.

    (a) (b)

    Figura 8 - Reconstruo da superfcie de fratura do concreto:

    (a) superfcie original e (b) perfil em 3D a superfcie da fratura (WU et al., 2000).

    3.5 Anlise da Microfissura do Concreto em 3 Dimenses

    A anlise de microfissuras em 3-D uma das mais novas tcnicas que

    emprega a microscopia. Pode se ter acesso a parmetros 3D em medidas

    executadas em 2D, usando uma relao estereolgica, que por meio de uma srie

    de mtodos matemticos possvel definir os parmetros 3D com medidas obtidas

    em 2D nas sees da estrutura (RINGOT & BASCOUL, 2001). A maior parte dos

    mtodos para obter dados tridimensionais consiste em recuperar o desenho espacial

    da fissura a partir de observaes feitas em diferentes tipos de planos. Se esses

    planos so paralelos, ento essa tcnica se torna similar a tomografia usada em

    cincias mdicas. Infelizmente, essa aproximao requer grande quantidade de

    dados e isso no a realidade da cincia dos materiais, embora existam alguns

  • trabalhos publicados, so restritos a pequenas quantidades (RINGOT & BASCOUL,

    2001). A simulao 3-D parece ser capaz de fornecer resultados precisos e uma

    geometria realstica do modelo de fissuras em quantidades razoveis de dados em

    curto prazo. Entretanto, modelos estatsticos para simular o modelo da fissura podem

    ser usados para obter resultados importantes, em particular sobre as propriedades

    de percolao de lquidos e gases nos concretos, atribudo relatado conectividade

    das fissuras (RINGOT & BASCOUL, 2001).

    3.6 Reatividade lcali-Agregado

    Grandes construes tm sido afetadas pela reao lcali-agregado: barragens,

    pontes, torres e pavimentos de aeroportos. A possibilidade de ocorrncia da

    reatividade lcali-agregado est sendo investigada com o auxlio da microscopia. Em

    alguns estudos, a microscopia usada como uma ferramenta de auxlio para

    verificao da formao do gel expansivo em concretos produzidos com agregados

    potencialmente reativos. Neste caso, mesmo os concretos que no apresentam

    expanso, podem apresentar a formao do gel, verificado por meio de microscopia

    eletrnica (VALDUGA, 2002). da microscopia.

    Figura 9 - Presena de gel expansivo em agregados analisados em um MEV

    (VALDUGA, 2002)

  • 4 CONCLUSES

    Os mtodos de anlise de imagens esto sendo cada vez mais usados para avaliar e

    entender, de forma mais pertinente, o comportamento de concretos, argamassas e

    pastas de cimento. Assim, permite assegurar que a associao entre as

    propriedades e a estrutura do material seja suficientemente compreendida, e que o

    seu comportamento seja previsto. As mudanas morfolgicas ocorridas durante o

    processo de fabricao e de uso, e a estreita ligao entre a microestrutura e as

    propriedades fsicas e mecnicas dos materiais podem ser melhor analisadas com o

    uso destas tcnicas. Neste intuito, vrias tcnicas de observao microestrutural

    esto sendo desenvolvidas e graas ao desenvolvimento de microscpios cada vez

    mais potentes, e o rpido progresso da tecnologia de computadores e softwares, os

    recursos para analisar os materiais base de cimento tm melhorado. Os trabalhos

    baseados em anlise de imagem esto sendo publicados, o permite tornar a anlise

    de imagem um recurso imprescindvel para o desenvolvimento da tecnologia do

    concreto.

  • 5 Referncias

    AMMOUCHE, A. et al. A new image technique fr quantitative assessment of

    microcracks in cement-based materials. Cement and Concrete Research, Vol 30,

    pp. 25-35, 2000.

    ANDRADE, N. P. H.; VEIGA, F. N. Microscopia Eletrnica de Varredura.

    Informativo, Furnas Centrais Eltricas S.A, 1998.

    ASH, J. E.; HALL, M. G.; LANGFORD, J. I.; MELLAS, M. Estimations of Degree of

    Hidratation of Portland Cement Pastes. Cement and Concrete Research, Vol. 23, n

    2, p. 399-406, 1993.

    BAKHAREV, T; SANJAYAN, J. G.; CHENG, Y.-B. Resistance of alkali-activated slag

    concrete to alkaliaggregate reaction. Cement and Concrete Research, Vol. 31 pp.

    331-334, 2001.

    CHERMANT, J. L Why automatic image analysis? An introduction to this issue.

    Cement & Concrete Composites, Vol. 23 , pp. 127-131, 2001. DIAMOND, S.

    Aspects of concrete porosity revisited. Cement and Concrete Research,Vol. 29, pp.

    1181-1188, 1999.

    DIAMOND, S., HUANG. J. The ITZ in concrete A diferent view based on image

    analysis and SEM observations Cement & Concrete Composites, Vol 23, pp. 179-

    188, 2001.

    ELSEN, J; et al. Determination of the w/c relation of hardened cement past and

    concrete samples on thin sections using automated image analysis techniques.

    Cement and Concrete Research, Vol. 25, n 4, pp. 827-834, 1995.

    ESCALANTE-GARCIA, J.J; SHARP, J. H. Effect of temperature on the hydration of

    the main clinker phases in portland cements: part I, neat cements. Cement and

    Concrete Research, Vol. 28, No. 9, pp. 12451257, 1998

    FREITAS, F. A. E. Microfissurao e evoluo da hidratao de concretos de

    cimento Portland, com e sem adio de escria, por meio de anlise de

    imagens. Dissertao Mestrado Faculdade de Engenharia Civil, Unicamp, 2001.

    JOURLAN, M.; ROUX, B.; FAURE, R.-M. Recognition of clinker phases by automatic

    image analysis. Cement & Concrete Composites, Vol. 23, pp. 207-214, 2001.

  • MEHTA, P.K; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais.

    So Paulo, Ed. Pini, 1994. 573 p.

    MIN, D. et al. Microstructure of some alkali-silica reative agregates in China. Cement

    and Concrete Research, Vol. 26, Vol 5, pp. 663-668, 1996

    RINGOT. E, BASCOUL. A. About the analysis of microcraking in concrete

    Cement & Concrete Composites, Vol 23, Pp. 261-266, 2001.

    SCRIVENER, K. L. The Microstructure of Concrete, In: SKALNY, J. P. Materials

    Science of Concrete I, Westerville; American Ceramic Society, 1989. 473 p.

    STUTZMAN, P. E.; LEIGH, S. Compositional analysis of NIST reference material

    clinker 8486. In: Proceedings 22th. International Conference on Cement Microscopy,

    Montreal, Quebec, Canada, pp. 22-38, april 29 - may 4, 2000.

    STUTZMAN, P. E.; LEIGH, S. Compositional analysis of NIST reference material

    clinker 8486. Powder Diffraction III, Proceedings. National Institute of Standards and

    Technology. April 22-25, 2001, Gaithersburg, MD, Poster #2, 2001.

    VALDUGA, L. Agregados Reativos no Estado de So Paulo Dissertao de

    Mestrado Faculdade de Engenharia Civil, Unicamp, 2002.

    WEIBEL., E. R. - Stereological method, vol. 1: Pratical methods for biological

    morphometry, New York: Academic Press; 1979.

    WU, K. R. et al. Reconstruction and analysis of 3-D profile of fracture surface of

    concrete. Cement and Concrete Research, Vol 30, pp. 981-987, 2000.