análise de fadiga de estruturas oceânicas

198
COPPE/UFRJ COPPE/UFRJ ANÁLISE DE FADIGA DE ESTRUTURAS OCEÂNICAS Sergio Augusto Alves Fernandes Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Oceânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Oceânica. Orientador: Julio Cesar Ramalho Cyrino Rio de Janeiro Junho de 2009

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Análise de Fadiga de Estruturas Oceânicas

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  • COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ

    ANLISE DE FADIGA DE ESTRUTURAS OCENICAS

    Sergio Augusto Alves Fernandes

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-graduao em Engenharia

    Ocenica, COPPE, da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

    necessrios obteno do ttulo de Mestre em

    Engenharia Ocenica.

    Orientador: Julio Cesar Ramalho Cyrino

    Rio de Janeiro

    Junho de 2009

  • ANLISE DE FADIGA DE ESTRUTURAS OCENICAS

    Sergio Augusto Alves Fernandes

    DISSERTAO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO

    LUIZ COIMBRA DE PS-GRADUAO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)

    DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

    REQUISITOS NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE MESTRE EM

    CINCIAS EM ENGENHARIA OCENICA.

    Aprovada por:

    ________________________________________________

    Prof. Julio Cesar Ramalho Cyrino, D.Sc.

    ________________________________________________ Prof. Fernando Luiz Bastian, Ph.D.

    ________________________________________________ Prof. Murilo Augusto Vaz, Ph.D.

    ________________________________________________ Dr. Marcos Vincius Rodrigues, D.Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

    JUNHO DE 2009

  • i

    Fernandes, Sergio Augusto Alves

    Anlise de Fadiga de Estruturas Ocenicas/ Sergio

    Augusto Alves Fernandes. Rio de Janeiro:

    UFRJ/COPPE, 2009.

    XXI, 174 p.: il.; 29,7 cm.

    Orientador: Julio Cesar Ramalho Cyrino

    Dissertao (mestrado) UFRJ/ COPPE/ Programa

    de Engenharia Ocenica, 2009.

    Referencias Bibliogrficas: p. 115-117.

    1. Mecnica da Fratura. 2. Elementos Finitos. 3.

    Analise de Fadiga. I. Cyrino, Julio Cesar Ramalho. II.

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,

    Programa de Engenharia Ocenica. III. Titulo.

  • ii

    Dedico este trabalho minha esposa

    Shirley, aos meus pais, Sergio e Sonia, e

    minha irm, Simone, pelo apoio nos meus

    estudos e orientaes prestadas na minha

    vida.

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    Ao professor Julio Cesar Ramalho Cyrino pela orientao dedicada e por todo

    apoio e incentivo durante a realizao deste trabalho.

    Aos professores Fernando Luiz Bastian e Joo Marcos Alcoforado Rebello pelo

    conhecimento transmitido.

    Glace Farias da Costa pela ateno e carinho que dedica aos alunos do

    Programa de Engenharia Ocenica.

    Maria Cludia Galvo pelo apoio e colaborao no desenvolvimento deste

    trabalho.

    Marinha do Brasil pelo apoio, em especial ao CMG (EN) Luiz Carlos Delgado

    pelo apoio e sugestes durante o desenvolvimento do trabalho.

    Ao Corpo Docente, aos funcionrios da COPPE e a todos os colegas de

    mestrado que contriburam para que este trabalho fosse realizado.

  • iv

    Resumo da Dissertao apresentada COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

    necessrios para a obteno do grau de Mestre em Cincias (M.Sc.)

    ANLISE DE FADIGA DE ESTRUTURAS OCENICAS

    Sergio Augusto Alves Fernandes

    Junho/2009

    Orientador: Julio Cesar Ramalho Cyrino

    Programa: Engenharia Ocenica

    Este trabalho tem o objetivo de, atravs do estudo dos diferentes enfoques e

    tecnologias existentes, apresentar um procedimento de anlise de fadiga de estruturas

    ocenicas para aplicao no desenvolvimento de projeto estrutural e no planejamento

    de inspees ao longo da vida til destas estruturas.

    apresentado um resumo dos conceitos tericos mais relevantes para o

    desenvolvimento do trabalho, seguido da descrio dos procedimentos adotados pelo

    mtodo de anlise empregado.

    Para auxiliar na apresentao do mtodo de anlise foi desenvolvido um

    estudo de caso, em que os procedimentos descritos so exemplificados na anlise de

    uma embarcao, aplicando-se os conceitos da mecnica da fratura para o clculo da

    taxa de propagao de uma trinca, at que esta atinja um tamanho mximo

    admissvel. So considerados os efeitos de meio corrosivo e do crescimento da trinca

    nos clculos de sua taxa de propagao.

  • v

    Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

    FATIGUE ANALYSIS OF MARINE STRUCTURES

    Sergio Augusto Alves Fernandes

    June/2009

    Advisor: Julio Cesar Ramalho Cyrino

    Department: Ocean Engineering

    This work main objective is to present a procedure to develop a fatigue analysis

    of ship structures, using the existing knowledge, in order to give support to the

    structural design and the development of an inspection plan to be applied during the

    structure operation life.

    The main theoretical concepts applied in this work development are presented,

    followed by the description of the adopted procedures in the fatigue method analysis.

    A practical example of the analysis method application was developed and the

    method procedures were applied to a ship. The fracture mechanics concepts were

    applied in the evaluation of a crack propagation rate, until an admissible length is

    reached. The environmental effects and crack growth were considered in the

    propagation rate calculation.

  • vi

    NDICE

    1 INTRODUO ...................................................................................................... 1 1.1 APRESENTAO DO PROBLEMA ................................................................... 1

    1.2 OBJETIVOS E RELEVNCIA DA DISSERTAO................................................ 2

    1.3 METODOLOGIA DE TRABALHO ...................................................................... 3

    1.4 LIMITAES DA DISSERTAO ..................................................................... 3

    1.5 ORGANIZAO DA DISSERTAO ................................................................. 4

    2 REVISO BIBLIOGRFICA................................................................................. 5 2.1 INTRODUO............................................................................................... 5

    2.2 MECNICA DA FRATURA............................................................................... 5

    2.3 FADIGA...................................................................................................... 29

    2.4 MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS ............................................................ 43

    2.5 O PROJETO DE NAVIOS E ESTRUTURAS OCENICAS ................................... 48

    3 PROCEDIMENTOS PARA APLICAO DO MTODO DE ANLISE ............. 49 3.1 INTRODUO............................................................................................. 49

    3.2 DEFINIO DA FONTE DE FADIGA E CARREGAMENTO .................................. 52

    3.3 CARACTERIZAO DAS CONDIES AMBIENTAIS DADOS

    METEOCEANOGRFICOS ........................................................................................ 53

    3.4 ANLISE DE MOVIMENTOS E CARGAS INDUZIDAS POR ONDAS ..................... 55

    3.5 MODELOS HIDRODINMICOS E EM ELEMENTOS FINITOS.............................. 61

    3.6 MODELO ESTRUTURAL E ANLISE .............................................................. 63

    3.7 CLCULO DA VIDA EM FADIGA (DANO) E CRITRIOS DE ACEITAO............. 69

    4 ESTUDO DE CASO ............................................................................................ 78 4.1 INTRODUO............................................................................................. 78

    4.2 CARACTERSTICAS DA EMBARCAO EMPREGADA NA ANLISE ................... 79

    4.3 CARACTERSTICAS AMBIENTAIS E ESPECTRO DE MAR ADOTADO................. 85

    4.4 CONDIES DE CARREGAMENTO CONSIDERADAS ...................................... 87

    4.5 ANLISE DE MOVIMENTOS E COMPORTAMENTO NO MAR............................. 90

    4.6 ANLISE ESTRUTURAL EM ELEMENTOS FINITOS.......................................... 94

    4.7 CLCULO DA VIDA EM FADIGA PELA MECNICA DA FRATURA..................... 107

    5 CONCLUSES ................................................................................................. 113 5.1 CONCLUSES OBTIDAS ............................................................................ 113

    5.2 CONSIDERAES FINAIS.......................................................................... 113

    5.3 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS................................................. 114

  • vii

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................. 116

    APNDICE A - CLASSIFICAO DOS DETALHES ESTRUTURAIS ..................... 118

    APNDICE B - RESULTADOS DO PROGRAMA MAXSURF................................... 138

  • viii

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 2.1 Esquema do Modelo analisado por Griffth.......................................... 7

    Figura 2.2 - Modelo de clculo da taxa de liberao de energia elstica................ 7

    Figura 2.3 Variao de energia com o comprimento da trinca e Variao das

    taxas de energia com os comprimentos da trica..................................................... 8

    Figura 2.4 - Modos bsicos de carregamento de trincas......................................... 13

    Figura 2.5 - (a) Slido infinito com trinca vazante submetido tenso ;(b)

    Coordenadas polares e tenses em um ponto nas vizinhanas da trinca.............. 15

    Figura 2.6 - Variao de x e y em funo de h com =0 ..................................... 16

    Figura 2.7- Slido elstico contendo uma trinca e submetido a uma tenso

    uniaxial . ............................................................................................................... 20

    Figura 2.8 - Estados de tenses na frente da trinca em um corpo de prova

    espesso: tenso plana nas superfcies livres e deformao plana no interior........ 21

    Figura 2.9 Crculos de Mhr para os estados (a) plano de tenso e (b) plano de

    deformao plana na ponta da trinca. ..................................................................... 23

    Figura 2.10 Trinca elptica em um slido infinito sujeito tenso uniforme............ 25

    Figura 2.11 - Seqncia de movimentos de deslizamento [3] ................................ 31

    Figura 2.12 Bandas de Deslizamento................................................................... 32

    Figura 2.13 Aspectos de superfcie aps ruptura iniciada por processo de fadiga

    [3] ............................................................................................................................ 33

    Figura 2.14 - Lao de histerese. ............................................................................. 36

    Figura 2.15 - Encruamento e amolecimento cclico do material. ............................ 38

    Figura 2.16 - Variao da tenso com o nmero de ciclos de carregamento e

    comparao das curvas estticas e cclicas para um material em duas condies. 39

    Figura 2.17 Taxa de crescimento de trinca por fadiga versus K. ...................... 41

  • ix

    Figura 2.18 Solicitaes que geram fadiga. ......................................................... 42

    Figura 2.19 - Espectro de carga real e simplificado.[7]............................................ 43

    Figura 2.20 Malha em Elementos Finitos ........................................................... 44

    Figura 3.1 Fluxograma simplificado da aplicao do procedimento de anlise de

    fadiga. ..................................................................................................................... 51

    Figura 3.2 Componentes vertical e horizontal do carregamento instantneo.... 59

    Figura 3.3 Componentes normal e tangencial do carregamento instantneo

    em posio de roll. .................................................................................................. 60

    Figura 3.4 Definio da Tenso de Ponto (Hot Spot)........................................... 66

    Figura 3.5 (a) Calculo das tenses na solda atravs da extrapolao das

    tenses superficiais; (b) Linearizao ao longo da superfcie; (c) Equilbrio de

    tenses. .................................................................................................................. 66

    Figura 3.6 Conceitos do mtodo de acoplamento com chapa perpendicular. .... 69

    Figura 3.7 Curvas S-N recomendadas pelo DNV [18]. ........................................ 73

    Figura 4.1 - Vista de perfil da embarcao utilizada na anlise. ............................ 79

    Figura 4.2 - Seo acrescentada ao casco (jumborizao). ................................... 79

    Figura 4.3 - Seo sendo introduzida no dique para montagem. ........................... 80

    Figura 4.4 - Subdiviso do casco do navio. ............................................................ 81

    Figura 4.5 - Mapa da Bacia de Campos. ................................................................ 84

    Figura 4.6 Representao Grfica do Espectro de Mar Adotado. ....................... 85

    Figura 4.7 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante - Navio com

    carga mxima em guas tranquilas. ....................................................................... 87

    Figura 4.8 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante - Navio com

    50% de carga em guas tranquilas. ....................................................................... 88

  • x

    Figura 4.9 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante - Navio em

    condio de lastro em guas tranquilas. ................................................................ 89

    Figura 4.10 Representao esquemtica do mtodo numrico aplicado no

    programa MAXSURF Teoria das Faixas. ............................................................ 90

    Figura 4.11 - Vista do fundo do casco do modelo para clculo de comportamento

    no mar. .................................................................................................................... 91

    Figura 4.12 - Vista superior do convs do modelo para clculo de comportamento

    no mar. .................................................................................................................... 92

    Figura 4.13 - Orientao do eixo de coordenadas empregado no modelo. [23] ...... 93

    Figura 4.14 Onda com ngulo de fase = 0. ...................................................... 93

    Figura 4.15 - Onda com ngulo de fase = 0,5. .................................................... 94

    Figura 4.16 Regio da Estrutura foco da Anlise de Fadiga. ........................... 95

    Figura 4.17 Modelo estrutural em Elementos Finitos Geometria do Modelo... . 96

    Figura 4.18 Regio da Estrutura selecionada para clculo de Elementos Finitos 97

    Figura 4.19 Regio da Estrutura selecionada para clculo de Elementos Finitos 97

    Figura 4.20 Presso hidrosttica aplicada ao casco N/mm2. ............................ 99

    Figura 4.21 Cargas concentradas aplicadas ao modelo. ..................................... 99

    Figura 4.22 Carga Distribuda e Presso hidrosttica aplicada ao casco

    (N/mm2).................................................................................................................... 100

    Figura 4.23 Modelo estrutural em Elementos Finitos Representao das Espessuras do Chapeamento. ................................................................................ 101

    Figura 4.24 Detalhe da Estrutura Analisada Modelo Slido 3D. ....................... 102

    Figura 4.25 Definio do contorno da trinca. [24] ................................................. 103

    Figura 4.26 Detalhe do modelo na regio da trinca. ............................................ 103

  • xi

    Figura 4.27 Regio da trinca inserida em elemento estrutural. ............................ 104

    Figura B.1 Representao grfica do RAO calculado. ........................................ 138

    Figura B.2 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 0,75 m de amplitude. ........................................................................ 141

    Figura B.3 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    0,75 m de amplitude, = 0,25. ........................................................................ 142

    Figura B.4 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    0,75 m de amplitude, = 0,75. ........................................................................ 142

    Figura B.5 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 1,25 m de amplitude. ......................................................................... 145

    Figura B.6 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    1,25 m de amplitude, = 0,25. ........................................................................ 146

    Figura B.7 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    0,75 m de amplitude, = 0,75. ....................................................................... 146

    Figura B.8 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 1,75 m de amplitude. ......................................................................... 149

    Figura B.9 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    1,75 m de amplitude, = 0,10. ....................................................................... 150

    Figura B.10 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    1,75 m de amplitude, = 0,65. ....................................................................... 150

    Figura B.11 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 2,25 m de amplitude. ......................................................................... 153

    Figura B.12 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    2,25 m de amplitude, = 0. ............................................................................ 154

    Figura B.13 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    2,25 m de amplitude, = 0,5............................................................................ 154

  • xii

    Figura B.14 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 2,75 m de amplitude........................................................................... 157

    Figura B.15 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    2,75 m de amplitude, = 0,45. ........................................................................ 158

    Figura B.16 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    2,75 m de amplitude, = 0,95. ........................................................................ 158

    Figura B.17 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 3,25 m de amplitude. ......................................................................... 161

    Figura B.18 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    3,25 m de amplitude, = 0,35. ........................................................................ 162

    Figura B.19 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    3,25 m de amplitude, = 0,85. ........................................................................ 162

    Figura B.20 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 3,75 m de amplitude. ........................................................................ 165

    Figura B.21 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    3,75 m de amplitude, = 0,33. ........................................................................ 166

    Figura B.22 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    3,75 m de amplitude, = 0,83. ........................................................................ 166

    Figura B.23 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 4,25 m de amplitude. ........................................................................ 169

    Figura B.24 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    4,25 m de amplitude, = 0,30. ........................................................................ 170

    Figura B.25 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    4,25 m de amplitude, = 0,80. ........................................................................ 170

    Figura B.26 Representao grfica do espectro do centro de gravidade (CG)

    para onda de 4,75 m de amplitude. ......................................................................... 173

  • xiii

    Figura B.27 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    4,75 m de amplitude, = 0,25. ........................................................................ 174

    Figura B.28 - Curva de Pesos, Flutuao, Momento Fletor e Cortante Onda de

    4,75 m de amplitude, = 0,75. ....................................................................... 174

  • xiv

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 2.1 Exemplos de influncia de meios agressivos na tenacidade fratura

    de ligas metlicas. .................................................................................................. 29

    Tabela 3.1 Diagrama de ocorrncia de ondas..................................................... 54

    Tabela 3.2 - Curvas S-N no Ar como ambiente DNV-RP-C203 [18]. ................. 72

    Tabela 4.1 - Distribuio do Tipo de Operao do Navio no Tempo. .................... 84

    Tabela 4.2 - Condies de Mar Consideradas. ........................................................ 86

    Tabela 4.3 - Momentos Fletores e Fora Cortante nas extremidades de vante e r

    do modelo. ................................................................................................................ 98

    Tabela 4.4 - Espessuras de chapeamento representadas na figura. .................... 101

    Tabela 4.5 - Valores de K e K para trinca de 5 mm em MPa.m1/2........................ 105

    Tabela 4.6 - Valores de K e K para trinca de 10 mm em MPa.m1/2...................... 106

    Tabela 4.7 - Valores de K e K para trinca de 15 mm em MPa.m1/2...................... 106

    Tabela 4.8 Propagao da trinca para a0=5 mm em ar seco. ............................ 107

    Tabela 4.9 Propagao da trinca para a0=10 mm em ar seco. .......................... 108

    Tabela 4.10 Propagao da trinca para a0=15 mm em ar seco. ........................ 108

    Tabela 4.11 Propagao da trinca para a0=5 mm em meio agressivo de

    ambiente marinho. .................................................................................................. 109

    Tabela 4.12 Propagao da trinca para a0=10 mm em meio agressivo de

    ambiente marinho. .................................................................................................. 110

    Tabela 4.13 Propagao da trinca para a0=15 mm em meio agressivo de

    ambiente marinho. .................................................................................................. 110

    Tabela A.1 Detalhes sem solda. .......................................................................... 118

    Tabela A.2 Conexes rebitadas. ......................................................................... 119

  • xv

    Tabela A.3 Solda continua paralela direo da tenso aplicada. .................... 120

    Tabela A.4 Soldas intermitentes e em escalopes. ............................................... 122

    Tabela A.5 Soldas de topo transversais, soldada por ambos os lados. .............. 123

    Tabela A.6 Soldas de topo transversais, soldada por apenas um lado. ............. 126

    Tabela A.7 Juntas soldadas na superfcie ou aresta de um componente

    estrutural tensionado. ............................................................................................. 127

    Tabela A.8 Juntas soldadas com carregamento aplicado sobre as soldas. ........ 130

    Tabela A.9 Sees vazadas. ............................................................................... 133

    Tabela A.10 Detalhes relacionados a componentes tubulares. .......................... 136

    Tabela B.1 RAO calculado para velocidade de 4 ns e 0 graus em relao

    incidncia de ondas. ............................................................................................... 138

    Tabela B.2 Resumo dos resultados para onda de 0,75 m de amplitude. ............ 139

    Tabela B.3 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 0,75 m de

    amplitude. ................................................................................................................. 141

    Tabela B.4 Resumo dos resultados para onda de 1,25 m de amplitude. ........... 143

    Tabela B.5 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 1,25 m de

    amplitude. ............................................................................................................... 145

    Tabela B.6 Resumo dos resultados para onda de 1,75 m de amplitude. ........... 147

    Tabela B.7 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 1,75 m de

    amplitude. ................................................................................................................. 149

    Tabela B.8 Resumo dos resultados para onda de 2,25 m de amplitude. ........... 151

    Tabela B.9 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 2,25 m de

    amplitude. ................................................................................................................. 153

    Tabela B.10 Resumo dos resultados para onda de 2,75 m de amplitude. .......... 155

  • xvi

    Tabela B.11 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 2,75 m de

    amplitude. ............................................................................................................... 157

    Tabela B.12 Resumo dos resultados para onda de 3,25 m de amplitude. .......... 159

    Tabela B.13 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 3,25 m de

    amplitude. ................................................................................................................. 161

    Tabela B.14 Resumo dos resultados para onda de 3,75 m de amplitude. ....... 163

    Tabela B.15 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 3,75 m de

    amplitude. ................................................................................................................. 165

    Tabela B.16 Resumo dos resultados para onda de 4,25 m de amplitude. .......... 167

    Tabela B.17 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 4,25 m de

    amplitude. ................................................................................................................. 169

    Tabela B.18 Resumo dos resultados para onda de 4,75 m de amplitude. .......... 171

    Tabela B.19 Espectro do centro de gravidade (CG) para onda de 4,75 m de

    amplitude. ................................................................................................................. 173

  • xvii

    LISTA DE SMBOLOS Letras Romanas

    a Comprimento da trinca

    ao Comprimento inicial da trinca

    ac Comprimento crtico da trinca

    aj Coeficientes da Srie de Fourier

    ax, ay, az Aceleraes longitudinais, laterais e verticais

    At Acelerao induzida pelos movimentos

    B Espessura da chapa de ao

    B0 Espessura mnima para estado plano de deformaes

    c Profundidade da trinca elptica

    C Constante de propagao dependente do material

    Cv Energia obtida do ensaio Charpy

    D Dano

    E Mdulo de Elasticidade

    ff Freqncia final

    fi Freqncia inicial

    fn Frequncia de onda

    Fv Fora vertical

    gx, gy, gz Aceleraes gravitacionais longitudinais, laterais e verticais instantneas

    G Taxa de liberao de energia elstica por unidade de espessura

    Gc Valor crtico para a taxa de liberao de energia elstica por unidade de

    espessura

  • xviii

    GI Taxa de liberao de energia elstica por unidade de espessura no modo I

    de carregamento

    GIc Valor crtico para a taxa de liberao de energia elstica por unidade de

    espessura no modo I de carregamento

    h Coordenada polar cilndrica (distncia ao eixo)

    hg Altura do fundo superfcie da carga

    hf Distncia do ponto considerado superfcie do fluido

    Hs Altura significativa de onda

    H(|) Funo de tranferncia

    j ndice da Srie de Fourier

    K Fator de intensidade de tenso

    KI Fator de intensidade de tenso no modo I de carregamento

    KIc Fator crtico de intensidade de tenso no modo I de carregamento

    KII Fator de intensidade de tenso no modo II de carregamento

    KIII Fator de intensidade de tenso no modo III de carregamento

    KIEAC Tenacidade fratura em meio agressivo

    Kf Fator de concentrao de tenses

    Ksn Parmetro da curva S-N

    L Vida mnima desejada

    m Inclinao negativa da curva S-N plotada em formato log-log

    mf Expoente de propagao - constante dependente do material

    n Contador numrico

  • xix

    ni Nmero de ciclos atuantes para um determinado valor de amplitudes de

    tenso

    N Nmero de ciclos

    Nf Nmero de ciclos at a falha

    Ni Nmero de ciclos admissveis para um determinado valor de amplitude de

    tenso

    Ns Carga normal

    NDE Nmero de subdivises do espectro

    p Constante positiva

    P Presso total interna no ponto considerado

    P0 Presso de marcao da vlvula de alvio

    q Constante positiva

    rp Raio da zona plstica na ponta da trinca

    R Vetor

    t Espessura da chapa

    Tn Perodo de onda

    Ts Carga Tangencial

    Tz Perodo de onda caracterstico

    U Variao total de energia

    UE Energia de deformao elstica liberada por unidade de espessura

    US Ganho de energia com a formao da superfcie de fratura

    W Largura da chapa

    Y (a) Fator geomtrico da trinca

  • xx

    YI Fator geomtrico da trinca no modo I de carregamento

    Y2 Fator geomtrico da trinca no modo II de carregamento

    Y3 Fator geomtrico da trinca no modo III de carregamento

    Letras Gregas

    Indicao de ngulo

    t ngulo de talude da carga

    a Altura da regio livre de tenses

    p Energia absorvida no processo de deformao plstica

    s Tenso superficial

    Faixa de deformao total

    e Componente elstica da faixa de deformao total

    p Componente plstica da faixa de deformao total

    f Intervalo de freqncia

    K Variao do Fator de intensidade de tenso

    S Amplitude de tenso

    Deformao

    Indicao de ngulo

    n Comprimento de onda

    Coeficiente de Poison

    Densidade do lquido

  • xxi

    Tenso normal aplicada

    I, II e III Tenses principais

    c Tenso de fratura da chapa

    x Tenso normal na direo x

    y Tenso normal na direo y

    YS Tenso limite de escoamento do material

    z Tenso normal na direo z

    Tenso cisalhante

    max Tenso cisalhante mxima

    xy Tenso cisalhante no plano xy

    Coeficiente de Poison

    ngulo de fase

    )(xj Funo de base

    Integral elptica

    R Vetor de movimento rotacional

    Frequncia

  • 1

    1 INTRODUO

    1.1 Apresentao do Problema

    Os processos de degradao estrutural, tais como trincas devidas fadiga,

    esto sempre presentes ao longo da operao de embarcaes. A anlise de fadiga

    tem como objetivo garantir que todos os componentes estruturais expostos a uma

    carga dinmica tenham uma vida fadiga adequada.

    A evoluo do desgaste da estrutura tende a reduzir o desempenho do

    sistema, podendo chegar a extrapolar um limite aceitvel, dependendo das medidas

    adotadas durante a etapa de projeto e durante a operao, em termos de desgaste

    permissvel e medidas de proteo. Programas de inspees so utilizados para

    avaliao da evoluo deste processo de degradao.

    Atualmente, as Sociedades Classificadoras apresentam mtodos de clculo de

    fadiga baseados em formulaes empricas e nas curvas S-N. No entanto, grandes

    diferenas so encontradas nos resultados apresentados atravs dos clculos

    baseados nestas regras (FRICKE et al.[1]).

    Alm disso, as formulaes propostas visam aplicao em embarcaes

    convencionais, pr-definidas nas regras destas Sociedades Classificadoras, sendo

    inadequadas, gerando resultados pouco precisos, quando aplicadas a embarcaes

    no convencionais, sendo impraticvel a aplicao destas em estruturas cujos arranjos

    diferem de uma padronizao.

    A anlise de componentes estruturais sofreu um desenvolvimento bastante

    acentuado nas ltimas dcadas, com o surgimento de estudos detalhados nos campos

  • 2

    de Fadiga, Mecnica da Fratura, Confiabilidade Estrutural e Mtodos Numricos de

    Anlise Estrutural.

    Alguns dos mtodos apresentados j esto consagrados, havendo um

    consenso entre os especialistas da rea, outros esto ainda em desenvolvimento,

    sendo que o enfoque apresentado procura ser adaptado da melhor forma a uma

    aplicao prtica na Engenharia Naval.

    Existe um grande volume de informao sobre a aplicao destes mtodos,

    dispersa em vrias publicaes, tornando difcil uma compreenso da aplicao

    conjunta em um procedimento de anlise, sendo um dos objetivos deste trabalho a

    concentrao e organizao desta informao, buscando uma aplicao prtica em

    um procedimento de anlise que se apresente como uma alternativa aos mtodos

    convencionais.

    1.2 Objetivos e Relevncia da Dissertao

    Este trabalho tem o objetivo de, atravs do estudo dos diferentes enfoques e

    tecnologias existentes, apresentar um procedimento de anlise de fadiga de estruturas

    ocenicas para emprego no desenvolvimento de projeto estrutural e no planejamento

    de inspees ao longo da vida til destas estruturas.

    Este procedimento deve se basear em desenvolvimento de clculo analtico

    direto e mtodos numricos, evitando-se a utilizao de formulaes empricas ou

    experimentais que restringem a abrangncia da sua aplicao.

    Desta forma o procedimento pretende ser aplicvel a qualquer tipo de

    embarcao ou estrutura ocenica, abrangendo as regies que no poderiam ser

    avaliadas por mtodos simplificados devido a suas limitaes.

    O mtodo proposto pretende apresentar alternativas para obteno de

    resultados mais precisos que os mtodos simplificados, podendo ser utilizado na

    reavaliao de regies que apresentaram baixos valores de vida fadiga em outras

    anlises.

  • 3

    1.3 Metodologia de Trabalho

    Caracterizao do Trabalho

    Este trabalho se baseia no estudo exploratrio e descritivo dos diversos mtodos

    existentes propostos para anlise de fadiga de estruturas, visando aglutinar a

    contribuio de cada um deles para a obteno de um mtodo mais acurado de

    anlise e com menos restries de aplicao.

    Em paralelo buscou-se atravs de uma reviso bibliogrfica o estudo de

    conceitos importantes para a compreenso dos mtodos existentes e com o emprego

    deste conhecimento o aprimoramento do procedimento de anlise proposto.

    1.4 Dificuldades Encontradas e Limitaes da Dissertao

    As tarefas selecionadas para o projeto aplicam-se a qualquer navio, seja militar,

    seja mercante, ou a qualquer estrutura ocenica cuja estrutura feita de ao ou ligas

    de alumnio.

    Para aplicao do mtodo necessrio o emprego de mtodos numricos que

    demandam grande esforo computacional. Esta dificuldade tende a se reduzir com a

    evoluo dos equipamentos de informtica cada vez mais rpidos e com maior

    capacidade de memria.

    necessrio o emprego de vrias horas de modelagem para representao da

    estrutura analisada em suas caractersticas fsicas e geomtricas e na aplicao dos

    carregamentos e condies de contorno, o que pode ser reduzido dependendo-se dos

    programas utilizados para os clculos.

    No linearidades, tais como o efeito de splashing, de slamming e deslocamentos

    em altas velocidades, devem ser consideradas separadamente, caso a caso.

    A maior fonte de incertezas na aplicao do mtodo encontra-se na definio

    dos carregamentos aplicados estrutura, deduzidos da probabilidade de exposio s

    condies ambientais ao longo da vida da estrutura. No entanto, qualquer mtodo que

    possa reduzir este tipo de incerteza, pode ser incorporado ao procedimento aqui

    descrito.

  • 4

    Algumas hipteses assumidas, visando simplificar o procedimento de anlise

    proposto, como a no considerao do fenmeno de fechamento de trinca, podem

    aumentar a impreciso dos resultados calculados.

    1.5 Organizao da Dissertao

    A seqncia de apresentao da dissertao composta por quatro itens:

    Reviso Bibliogrfica, onde so introduzidos conceitos importantes para compreenso

    e desenvolvimento do mtodo de anlise.

    Em seguida apresentado o Procedimento de Anlise de Fadiga proposto

    apresentando-se uma comparao com caminhos alternativos para desenvolvimento

    da anlise.

    Com base no mtodo de anlise proposto desenvolvido um Estudo de Caso,

    onde o procedimento exemplificado na anlise de fadiga de uma estrutura.

    Por fim, no item Concluses, apresentam-se as consideraes finais e

    concluses deste trabalho e sugere-se uma srie de novos estudos a serem

    realizados.

  • 5

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Introduo

    Nesta reviso bibliogrfica so apresentados alguns conceitos importantes para

    o estudo do fenmeno de fadiga e o desenvolvimento de um procedimento para

    anlise de fadiga de uma estrutura.

    So apresentados conceitos de mecnica da fratura, importantes para

    compreenso do comportamento do material e desenvolvimento do clculo de fadiga.

    apresentada uma abordagem do Fenmeno de Fadiga, para posterior

    apresentao do mtodo de anlise proposto.

    feita uma descrio do Mtodo de Elementos Finitos ressaltando-se sua

    importncia para o clculo das tenses na estrutura, de modo a se possibilitar uma

    avaliao de seu comportamento quando submetida a determinado tipo de

    carregamento.

    Finalmente so apresentados alguns conceitos adotados sobre o projeto de

    navios e estruturas ocenicas, identificando um mesmo foco para a anlise de fadiga

    destas estruturas.

    2.2 Mecnica da Fratura

    Os componentes mecnicos e as estruturas normalmente apresentam

    descontinuidades ou outros defeitos j introduzidos durante a fabricao e incluses

    no metlicas, que reduzem a tenacidade fratura do material. Estes defeitos

    produzem concentrao de tenses capazes de levar fratura, mesmo quando estas

    estruturas so submetidas a tenses inferiores tenso de projeto.

  • 6

    Atravs da Mecnica da Fratura Linear Elstica, busca-se considerar a

    existncia de trincas e defeitos no clculo da resistncia das estruturas,

    compensando-se a inadequao dos conceitos convencionais de projeto.

    Segundo BASTIAN [2], as foras de coeso interatmicas so as que

    determinam a resistncia ruptura, ou fratura, dos materiais sem trincas. No

    entanto, nos experimentos realizados com corpos de prova observa-se que ocorre

    rompimento antes que tenso de coeso terica, que corresponde tenso de ruptura

    de um material sem defeitos, seja atingida. Como um material apresenta defeitos, a

    tenso de coeso efetiva inferior de coeso terica.

    Os critrios convencionais de projeto, baseados no limite de resistncia

    trao, limite de escoamento e carga crtica de flambagem, so inadequados quando

    h ocorrncia de trincas.

    Resistncia ruptura dos materiais com trincas

    O estudo dos fenmenos relacionados mecnica da fratura so relativamente

    recentes. No incio do sculo passado, INGLIS e GRIFFTH (apud BASTIAN [2]) foram

    dois pesquisadores que apresentaram relevantes contribuies para a abordagem do

    problema.

    Primeiramente uma abordagem por anlise de tenses foi apresentada por

    INGLIS em 1913, que, utilizando-se de uma metodologia da resistncia dos materiais,

    determinou uma expresso para o clculo da concentrao de tenses provocada por

    um defeito elptico contido em uma chapa submetida trao.

    Em 1920, GRIFFITH formulou uma abordagem para a anlise da trinca

    baseada em balano energtico. O critrio de GRIFFITH afirma que uma trinca se

    propaga de modo instvel se a taxa de liberao de energia elstica armazenada pelo

    carregamento do material for, ao menos, igual ao aumento de energia superficial

    resultante do crescimento da trinca. Ou seja, que a propagao da trinca ocorre de

    modo instvel se o decrscimo de energia elstica com a propagao for, ao menos,

    igual energia necessria para criar a superfcie da trinca.

    Para a formulao de seu modelo, GRIFFITH considerou uma chapa infinita

    contendo um defeito elptico vazante, carregada em trao com uma tenso ,

    perpendicular ao plano do eixo maior da elipse. As tenses na chapa encontram-se no

  • 7

    regime elstico e pode ser considerado o estado plano de tenses para chapa fina.

    Em relao s dimenses da chapa, a trinca pequena para assegurar-lhe um

    carregamento remoto de acordo com a figura 2.1.

    Figura 2.1 Esquema do Modelo analisado por Griffth

    Considerando-se o balano energtico envolvido na propagao da trinca,

    elaborado o clculo da taxa de liberao de energia elstica. No modelo considera-se

    a metade do comprimento da trinca elptica vazante, a, e a chapa submetida a

    deslocamento constante conforme a figura 2.2.

    Figura 2.2 - Modelo de clculo da taxa de liberao de energia elstica

    As regies livres de tenses acima e abaixo da trinca so supostas

    aproximadamente triangulares e estendem-se a uma altura a, ento, para um

    comprimento de trinca a, a energia de deformao elstica liberada por unidade de

    espessura, em tenso plana, dada pela metade do produto da tenso pela

    deformao e pela rea hachurada na Figura 2.2, conforme a equao (2.1).

    2

    21 a

    EUE =

    (2.1)

  • 8

    Em sua abordagem GRIFFITH concluiu que tende ao valor de , chegando

    equao (2.2).

    22

    .21 a

    EUE = (2.2)

    O ganho de energia com a criao da superfcie de fratura de dimenso 2a

    dado pela equao (2.3) onde s representa a energia necessria para a criao das

    superfcies de fratura.

    aU sS 2= (2.3)

    A variao total de energia dada pela equao (2.4).

    SE UUU += (2.4)

    Na Figura 2.3.a esto representadas as variaes da energia de deformao

    elstica, da energia superficial e da energia total do sistema, com o comprimento da

    trinca.

    Figura 2.3 (a) Variao de energia com o comprimento da trinca; (b) Variao das taxas de energia com

    os comprimentos da trica.

  • 9

    UE e US tm sinais contrrios, pois enquanto a energia armazenada sob a

    forma de deformao elstica cedida ao sistema, no momento em que h

    crescimento da trinca, a energia superficial se eleva. A variao total de energia do

    sistema pode ser escrita na forma da equao (2.5).

    aaE

    U s 2.21 22 += (2.5)

    Na Figura 2.3(a) pode-se observar que a curva da energia total em funo do

    comprimento da trinca possui um valor mximo. O valor de a neste ponto

    denominado como comprimento crtico, ac.

    Pelo critrio de GRIFFITH (apud BASTIAN [2]) para a propagao, tm-se:

    0=+

    aU

    aU SE (2.6)

    0=aU (2.7)

    Que resulta na equao (2.8).

    sEa 2.

    2

    = (2.8)

    Esta igualdade est representada na Figura 2.3(b), no ponto cujo comprimento

    da trinca tem valor ac e ocorre a interseo da reta da taxa de energia potencial com a

    reta da energia superficial por unidade de comprimento.

    Para comprimento de trinca superior ao comprimento crtico, existe propagao

    instvel da trinca, pois o mdulo da taxa de energia elstica maior que a energia

    superficial por unidade de comprimento, de acordo com a inequao (2.9).

    aU

    aU SE

    >

    (2.9)

    Para o tamanho de trincas inferiores ao crtico, chamadas de trincas

    subcrticas, no h propagao instvel da trinca, conforme a inequao (2.10)

  • 10

    aU

    aU SE

    0).

    tido como G, a taxa de liberao de energia elstica por unidade de

    espessura, que representa o valor positivo da taxa de energia potencial, conforme a

    equao (2.11).

    aUG E

    = (2.11)

    Portanto, pode-se reescrever as inequaes (9) e (10) na forma das

    inequaes (12) e (13) respectivamente.

    aU

    G S< : no h propagao instvel da trinca; (2.12)

    aU

    G S> : h propagao instvel da trinca; (2.13)

    Da equao (2.8) pode-se obter a tenso de fratura da chapa para o estado

    plano de tenso, vlido para espessuras finas, na equao (2.14).

    aE S

    C 2= (2.14)

    Para os casos de grandes espessuras, tem-se a restrio deformao ao

    longo da direo transversal, caracterizando, assim, a condio de estado plano de

    deformao cuja tenso de fratura da chapa conforme se observa na equao (2.15).

    aE S

    C )1(2

    2 = (2.15)

    As equaes (2.14) e (2.15) obtidas pelo critrio de GRIFFITH referem-se s

    variaes de energia associadas propagao da trinca, permitindo-se ignorar os

    detalhes do processo de fratura na ponta da trinca. Entretanto, estas equaes so

  • 11

    derivadas para um material no regime elstico, com um defeito planar de pontas

    aguadas, no envolvendo o raio de curvatura. Portanto, estas se aplicam ao clculo

    da tenso de ruptura para os defeitos com raios de curvatura muito pequenos (pontas

    muito aguadas).

    A teoria de GRIFFITH aplicada satisfatoriamente a materiais completamente

    frgeis, pois os materiais frgeis so incapazes de aliviar as tenses atuantes por

    meio de deformaes plsticas na ponta da trinca e a concentrao de tenses se

    torna mais severa.

    Em 1950, OROWAN (apud BASTIAN [2]) procurou resolver esta limitao

    considerando-se a plasticidade envolvida no caso de materiais dcteis, alterando as

    equaes de GRIFFITH de forma a se considerar a plasticidade envolvida. A energia

    para a fratura correspondente energia absorvida no processo de deformao plstica

    seria considerada atravs do termo p, e seria adicionada energia necessria para a

    criao das superfcies de fratura, s.

    Desta maneira, a equao (2.14) para o estado plano de tenso modificada

    para a equao (2.16).

    aE PS

    C )(2 += (2.16)

    No entanto, a sugesto de OROWAN encontrou dificuldade na determinao

    prtica da energia absorvida no processo de deformao plstica, p.

    Na mesma poca (1949), IRWIN (apud BASTIAN [2]) definiu o processo

    atravs da energia elstica total liberada na propagao da trinca, utilizando-se da

    taxa de liberao de energia elstica, G, como sendo a fonte de energia para o

    processo de fratura. A energia elstica liberada na propagao da trinca de uma

    unidade de comprimento dada pela equao (2.17).

    aUG E

    = (2.17)

    A diferena de enfoques entre OROWAN e IRWIN que o primeiro procura

    determinar a energia consumida no processo de fratura (p + s), e IRWIN define a

    energia total liberada como fonte de energia para o processo de fratura.

  • 12

    Assim quando a igualdade da equao (2.18) for atendida, ocorre o momento

    do incio da propagao instvel da trinca.

    C

    CC a

    EG = (2.18)

    O termo Gc uma caracterstica do material em funo da temperatura, da

    velocidade de carregamento, do estado de tenses e do modo de carregamento

    (modos I, II ou III). Para um material elstico frgil, onde a energia elstica liberada no

    processo de propagao da trinca consumida para a criao das superfcies de

    fratura sem qualquer deformao plstica, o valor de Gc por unidade de espessura

    dado pela equao (2.19).

    sCG 2= (por unidade de espessura) (2.19)

    O conceito de taxa de liberao de energia elstica no se restringe fratura

    de materiais frgeis, pois a energia elstica liberada pode ser consumida para a

    criao de superfcies de trinca e para pequena deformao plstica.

    A formulao de IRWIN atinge seu objetivo, permitindo a extenso da teoria de

    GRIFFITH fratura de materiais mais tenazes, que apresentem pequena deformao

    plstica associada ao processo de propagao da trinca.

    Para trincas subcrticas, tm-se as equaes (2.20) e (2.21), para o estado

    plano de tenses e para o estado plano de deformaes, respectivamente.

    aEG

    = (2.20)

    aEG

    )1( 2 = (2.21) Da equao (2.20) podemos escrever:

    EaG

    2

    = (2.22)

    O valor de G aumenta com o aumento da tenso nominal e com o aumento do

    tamanho da trinca. Portanto, podemos aplicar uma tenso progressiva a um corpo de

  • 13

    prova at se chegar a uma situao em que a trinca se propague, definindo-se ento o

    valor de Gc.

    Fatores de intensidade de tenso

    Atravs da anlise do comportamento mecnico nas vizinhanas da ponta da

    trinca, so caracterizados trs modos mais importantes de propagao da trinca em

    funo de carregamentos aplicados ao corpo de prova trincado: trao, cisalhamento

    puro e cisalhamento fora do plano. A Figura 2.4 apresenta estes modos de

    propagao identificados respectivamente como I, II e III. O material pode estar

    submetido a um modo de carregamento ou a uma combinao destes.

    Figura 2.4 - Modos bsicos de carregamento de trincas

    Os modos bsicos de carregamento de trincas podem ser caracterizados pelo

    comportamento mecnico nas vizinhanas da ponta da trinca.

    No modo I observado o de carregamento de trao, o deslocamento das

    superfcies da trinca perpendicular si mesmas.

    No modo II de carregamento ocorre cisalhamento puro, o deslocamento das

    superfcies da trinca paralelo a estas e perpendicular frente de propagao.

    No modo III de carregamento observado cisalhamento fora do plano, o

    deslocamento das superfcies da trinca paralelo a estas.

  • 14

    A Figura 2.5.a apresenta o modelo usado por WESTERGAARD (apud

    BASTIAN [2]) na determinao das distribuies das tenses nas vizinhanas de uma

    trinca vazante contida em uma chapa submetida a uma trao perpendicular ao

    plano da trinca. Sendo a chapa de material elstico linear e de dimenses infinitas e a

    trinca de comprimento 2a e de pontas aguadas.

    WESTERGAARD definiu expresses para determinao das distribuies das

    tenses nas vizinhanas de uma trinca vazante, de comprimento 2a, contida em uma

    chapa, de material elstico linear e de dimenses infinitas, submetida a uma trao ,

    perpendicular ao plano da trinca. As equaes (2.23), (2.24), (2.25), (2.26), (2.27) e

    (2.28) apresentam as distribuies das tenses x , y , z, xy, xz e yz, para o modo I de propagao da trinca, onde h e so as coordenadas polares cilndricas de um

    ponto com relao ponta da trinca, a tenso trativa aplicada chapa, e a a

    metade do comprimento da trinca.

    =2

    3sen2

    sen12

    cos2

    ha

    x (2.23)

    +=2

    3sen2

    sen12

    cos2

    ha

    y (2.24)

    23sen

    2sen

    2cos

    2

    ha

    xy = (2.25)

    0=z (2.26)

    )( yxz += (2.27)

    0== yzxy (2.28)

    Observa-se que as tenses so proporcionais tenso externa e raiz

    quadrada da metade do tamanho da trinca. Por estas equaes, as tenses tendem

    ao infinito na ponta da trinca, pois h tende a zero.

  • 15

    Figura 2.5 - (a) Slido infinito com trinca vazante submetido tenso ;(b) Coordenadas polares e tenses em um ponto nas vizinhanas da trinca.

    A tenso y tende a zero quando o ngulo nulo e a coordenada polar h

    assume valores grandes, entretanto a tenso y deveria tender ao valor da tenso

    externa . Isto acontece porque estas equaes so vlidas somente nas vizinhanas

    da trinca.

    O primeiro termo da srie fornece uma descrio aproximada do campo de

    tenso na ponta da trinca, visto que os outros termos so relativamente pequenos. Os

    outros termos do desenvolvimento em srie devem ser considerados para se obter as

    tenses em pontos afastados da ponta da trinca.

    Estas equaes podem ser escritas de forma generalizada pela equao

    (2.29).

    )(2

    ijij fha= (2.29)

    IRWIN (apud BASTIAN [2]) verificou que o termo a estava presente em

    todas as equaes de distribuies de tenses de WESTERGAARD. Quando este

    termo conhecido, o campo de tenses na ponta da trinca fica definido, pois o termo

    )(21 ijfh funo somente da posio do ponto em que as tenses so consideradas.

  • 16

    A partir desta constatao, IRWIN, definiu o fator de intensidade de tenso, K,

    que no modo I de carregamento dado pela equao (2.30).

    aK I = (2.30)

    Podendo ser escrita de forma generalizada pela equao (2.31).

    )(2

    ijI

    ij fhK= (2.31)

    O fator de intensidade de tenso envolve um termo correspondente tenso

    aplicada externamente e outro correspondente dimenso da trinca. Portanto,

    conhecendo o valor do fator de intensidade de tenses KI para uma trinca, se define

    todo o campo de tenses na ponta dessa trinca.

    As tenses x e y apresentam valores mximos no plano da trinca, ou seja,

    para a situao em que o ngulo da coordenada polar igual a zero (2.32).

    hKI

    yx 2== (2.32) A variao dessas tenses em funo da distncia representada pela

    coordenada polar h representada na Figura 2.6.

    Figura 2.6 - Variao de x e y em funo de h com =0

    Fatores de intensidade de tenso no modo I de carregamento para trincas de

    diferentes formas, orientaes e posies podem ser expressos na forma geral da

    equao (2.30).

    aYK II = (2.33)

  • 17

    Sendo Y1 chamado de fator geomtrico no modo I de carregamento. Este um

    fator adimensional que determinado em funo da distncia da trinca aos contornos

    da chapa, ou a outras trincas, da orientao e da forma da trinca e de restries na

    estrutura que a contm.

    Para uma trinca vazante isolada, de tamanho 2a, em uma chapa sob tenso

    uniforme remota trinca e aplicada perpendicularmente ao plano da trinca, o fator

    geomtrico, Y1, equivale a unidade. Portanto, a equao (2.33) se simplifica para a

    equao (2.30). Sendo esta a expresso do fator de intensidade de tenses definido

    por IRWIN para o modelo usado por WESTERGAARD.

    medida que o tamanho da trinca se torna relativamente grande em relao s

    dimenses da chapa, os valores de Y1 aumentam. A expresso analtica do fator de

    intensidade de tenses, KI, para o caso de uma chapa de largura finita W e de

    comprimento infinito submetida tenso e contendo uma trinca vazante de

    comprimento 2a dada pela equao (2.34).

    WaaKI

    sec= (2.34)

    A expresso analtica de KI para o caso de uma chapa de largura finita W e de

    comprimento infinito carregada sob a tenso e contendo uma trinca de comprimento

    a na borda da chapa dada pela equao (2.35).

    WaaKI

    sec12,1= (2.35)

    Para o caso anterior, se o comprimento da trinca a for muito pequeno em

    relao largura da chapa, W

  • 18

    a tenso de cisalhamento plano e Y2 chamado de fator geomtrico no modo II de

    carregamento.

    aYKII 2= (2.37)

    E o fator de intensidade de tenses para o modo III de carregamento, KIII,

    dado pela equao (2.38), onde a tenso de cisalhamento fora do plano e Y3

    chamado de fator geomtrico no modo III de carregamento.

    aYK III 3= (2.38)

    Portanto, as equaes de distribuies de tenses para os trs modos de

    carregamento podem ser escritas de forma generalizada pela equao (2.39).

    )(2

    ijN

    ij fhK= , (para N = I, II, III) (2.39)

    O modo I de carregamento encontrado com maior freqncia em aplicaes

    prticas de engenharia, enquanto que os modos II e III so mais raros.

    De acordo com a equao (2.33), observado que o valor do fator de

    intensidade de tenses para o modo I de carregamento (KI) proporcional ao valor da

    tenso externa () e raiz quadrada do comprimento de trinca (a), para uma dada

    geometria de trinca e do corpo trincado.

    Portanto, o aumento da tenso externa ou do comprimento de trinca induz a

    elevao do fator de intensidade de tenses, que quando atinge um valor determinado

    d incio trinca no corpo de prova. Ensaiando um material para vrios corpos de

    prova, com diferentes geometrias de trincas, observa-se que a trinca ocorre quando o

    fator de intensidade de tenses atinge um mesmo valor crtico.

    Isto caracteriza a existncia de um fator crtico de intensidade de tenses, KIC,

    como uma propriedade intrnseca do material. Este fator crtico denominado

    tenacidade fratura do material. Quando mantidas as mesmas condies de contorno,

    tais como temperatura, velocidade de carregamento e caractersticas do meio

    ambiente, um material elstico fratura para um fator de intensidade de tenses igual a

    KIC.

  • 19

    Equivalncia das abordagens do balano de energia e do fator de intensidade de tenses

    A abordagem do balano energtico de GRIFFITH (apud BASTIAN) resultou na

    equao (2.40) para a taxa de liberao de energia elstica no modo I de

    carregamento da trinca.

    EaGI

    = 2

    (2.40)

    Por outro lado, pela abordagem do fator de intensidade de tenses de IRWIN,

    considerando-se a mesma geometria de trinca e de chapa e o mesmo modo de

    carregamento que o modelo analisado por GRIFFITH, foi desenvolvido um modelo que

    resultou na equao (2.30).

    aK I = (2.30)

    Atravs de uma comparao entre as equaes (2.30) e (2.40) para o estado

    plano de tenses, observando-se a relao de equivalncia entre as duas abordagens,

    chega-se na equao (2.41). A relao de equivalncia entre as duas abordagens

    para o estado plano deformaes est apresentada na equao (2.42).

    EKG II

    2

    = (2.41)

    E

    KG II)1( 22 = (2.42)

    A propagao instvel da trinca para o estado plano de tenses ocorre quando

    a equao (2.43) satisfeita. Para o estado plano de deformaes, a propagao

    instvel da trinca ocorre quando a equao (2.44) satisfeita.

    EKG ICIC

    2

    = (2.43)

    E

    KG ICIC)1( 22 = (2.44)

  • 20

    Princpio da superposio

    Seja um slido submetido a uma combinao de carregamentos designados

    pelos ndices i, ii e iii. Segundo BASTIAN [2], considera-se que a ao isolada de cada

    um destes provoque uma propagao da trinca pelo modo I de carregamento e que os

    fatores de intensidade de tenso correspondentes sejam KI(i), KI(ii) e KI(iii).

    O princpio da superposio permite calcular o fator de intensidade de tenses

    equivalente como sendo a soma dos fatores de intensidade de tenses

    correspondentes aos carregamentos de mesmo modo, suposto mantido no regime

    elstico. O fator de intensidade de tenso equivalente dado pela equao (2.45).

    KI = KI(i) + KI(ii) + KI(iii) (2.45)

    O que se aplica a KI pode ser estendido independentemente a KII e KIII,

    entretanto a combinao dos diferentes fatores de intensidade transcende ao regime

    linear.

    Estado plano de tenso e deformao em corpos de prova trincados

    Corpos de prova de pequena espessura submetidos a carregamento de trao

    apresentam um estado plano de tenso na ponta da trinca. Enquanto, que corpos de

    prova espessos apresentam um estado plano de deformao.

    A Figura 2.7 apresenta o esquema de um slido elstico contendo uma trinca

    vazante sendo submetido a uma trao .

    Figura 2.7 - Slido elstico contendo uma trinca e submetido a uma tenso uniaxial .

  • 21

    Em conseqncia da aplicao da tenso , desenvolve-se uma tenso y, segundo a direo y. Na proximidade da ponta da trinca, ocorre concentrao de

    tenses, normalizando-se medida que se afasta da mesma.

    Em conseqncia do vazio produzido pela trinca, a tenso x nula na ponta

    da trinca, crescendo para o interior do slido.

    A direo z corresponde direo da espessura. Slidos de pequena

    espessura praticamente no apresentam restrio deformao elstica nesta direo

    e a tenso normal correspondente muito pequena, podendo ser abandonada. Logo,

    nestes slidos ocorrem estados planos de tenso.

    Slidos espessos apresentam duas situaes de restrio deformao

    elstica na direo z: a primeira nas superfcies externas, onde ocorrem estados

    planos de tenses e a segunda no interior do slido, est impedida a deformao

    elstica segundo a direo z e ocorrendo uma tenso z.

    Esta tenso z decresce com o afastamento da ponta da trinca, isto , com o

    aumento da coordenada polar h. Portanto, no interior dos slidos espessos

    desenvolvem-se estados planos de deformao.

    A condio para o estado plano de tenso nas superfcies livres de slidos

    espessos e deformao plana no seu interior est representada esquematicamente na

    Figura 2.8.

    Figura 2.8 - Estados de tenses na frente da trinca em um corpo de prova espesso:

    tenso plana nas superfcies livres e deformao plana no interior.

  • 22

    Plastificao na ponta da trinca

    Na abordagem da Mecnica da Fratura apresentada at o momento, foi

    considerado que os materiais que se comportam de uma maneira puramente elstica.

    Desta forma, os materiais so incapazes de aliviar as tenses atuantes por meio de

    deformaes plsticas na ponta da trinca. Isto torna a concentrao de tenses mais

    severa.

    Entretanto, a maioria dos materiais apresenta alguma deformao plstica na

    ponta da trinca de forma que a tenso atuante permanece prxima ao limite de

    escoamento do material. Tal fato requer modificaes em alguns conceitos da

    mecnica da fratura linear elstica de modo que os mesmos possam ser aplicados

    para estes materiais.

    Analisando as equaes (2.23) a (2.28) de WESTERGAARD, verifica-se que as

    tenses tendem ao infinito na ponta da trinca, pois a coordenada polar h tende a zero.

    Entretanto, os materiais normalmente apresentam um valor de tenso de escoamento

    acima da qual se deformam plasticamente. Deste modo, em torno da ponta da trinca

    existe uma regio com comportamento elasto-plstico.

    O modelo de IRWIN (apud BASTIAN) usado para a estimativa da zona

    plstica. Neste modelo, a tenso mxima na ponta da trinca limitada pela tenso

    limite de escoamento do material, YS.

    A dimenso aproximada da zona plstica dada pela distncia da ponta da

    trinca at um ponto cuja tenso atuante no exceda o limite de escoamento do

    material. Esta dimenso corresponde a 2rp, sendo rp o raio da zona plstica na ponta

    da trinca.

    O raio da zona plstica na ponta da trinca para o estado plano de tenso

    dado pela equao (2.46), enquanto que o estado plano de deformao dado pela

    equao (2.47).

    2

    21

    =

    YS

    Ip

    Kr (2.46)

    2

    61

    =

    YS

    Ip

    Kr (2.47)

  • 23

    Observando as equaes (2.46) e (2.47), verifica-se que a zona plstica na

    ponta da trinca maior em materiais submetidos ao estado plano de tenso do que

    nos submetidos ao estado plano de deformao onde a tenso normal na direo z

    inibe o processo de deformao plstica, restringindo a regio do material onde ocorre

    a plastificao. A tenso cisalhante provoca esta deformao plstica.

    Analisando os crculos de Mhr relacionados com os estados planos de tenso

    e deformao, constata-se a influncia das tenses cisalhantes no processo.

    Considerando as tenses principais em um ponto I, II e III, de forma que

    I > II > III, admite-se para comparao que a maior tenso seja igual em ambos os

    estados.

    Em ambos os casos a maior tenso principal a tenso na direo y (y). No

    estado plano de tenso, tem-se que a tenso na direo z nula, III = z = 0,

    enquanto no estado plano de deformao, tem-se que a tenso na direo z no

    nula, III > 0.

    Essas tenses so representadas nos crculos de Mhr da Figura 2.9.

    Figura 2.9 Crculos de Mhr para os estados (a) plano de tenso e (b) plano de

    deformao plana na ponta da trinca.

    A mxima tenso cisalhante calculada pela equao (2.48).

    2max

    IIII = (2.48)

  • 24

    Portanto, considerando o mesmo valor da maior tenso principal para ambos

    os estados, observa-se na Figura 2.9 que a mxima tenso cisalhante para o estado

    plano de tenso maior que a do estado plano de deformao.

    Como a deformao plstica gerada pela tenso cisalhante e o maior valor

    de tenso cisalhante ocorre para o estado plano de tenso, confirma-se que o

    tamanho da zona plstica na ponta da trinca maior em materiais submetidos ao

    estado plano de tenso que ao estado plano de deformao.

    Os slidos finos apresentam estados planos de tenso e, em conseqncia,

    zonas plsticas relativamente grandes. Como os slidos espessos apresentam

    estados planos de tenso nas superfcies e estados planos de deformao no interior,

    a zona plstica na ponta da trinca maior nas superfcies que no seu interior. Uma

    conseqncia das diferentes dimenses de zonas plsticas em funo da espessura

    do material que corpos de prova finos, quando ensaiados at fratura, apresentam

    valores de fatores de intensidade de tenso crticos superiores queles dos corpos de

    prova espessos.

    Estudos empricos com ligas metlicas mostraram que a espessura mnima do

    corpo de prova necessria para garantir um estado plano de deformao deve atender

    condio da equao (2.49).

    2

    0 5,2

    YS

    ICKB (2.49)

    O valor de KIC definido como a tenacidade fratura em deformao plana do

    material do corpo de prova para o modo I de carregamento de trao.

    Trincas elpticas

    As trincas naturais, tambm denominadas trincas por fadiga, so

    freqentemente iniciadas em cantos vivos ou arestas, e nas bordas das estruturas,

    onde so observadas variaes bruscas na geometria. Estas trincas tendem a crescer

    penetrando no componente e assumindo a forma semi-elptica.

    Seja uma chapa infinita contendo uma trinca elptica, conforme a Figura 2.10,

    submetida a uma tenso uniforme .

  • 25

    Figura 2.10 Trinca elptica em um slido infinito sujeito tenso uniforme.

    Sendo a o semi-eixo menor, c o semi-eixo maior de uma trinca elptica, o

    ngulo que define um ponto no permetro e a integral elptica, tem-se que o fator de

    intensidade de tenso para qualquer ponto do permetro da elipse dado pela

    equao (2.50).

    4/12

    2

    22 cossen

    +=

    caaK I (2.50)

    A integral elptica, , definida pela equao (2.51).

    dcac

    2/12/

    0

    22

    22

    sen1

    = (2.51)

    Os valores da integral elptica, , esto disponveis em tabelas e em bacos.

    Desenvolvendo esta integral em uma srie, obtm-se a equao (2.52).

    = ...

    643

    411

    2

    2

    2

    22

    2

    22

    cac

    cac (2.52)

    A srie apresentada na equao (52) pode ser aproximada pela equao

    (2.53).

    22

    883

    ca

    + (2.53)

  • 26

    Observa-se na equao (2.50) que o fator de intensidade de tenso varivel

    ao longo do permetro da elipse. Na extremidade do eixo menor ( = /2), tem-se o

    fator de intensidade de tenso dado pela equao (2.54). Na extremidade do eixo

    maior ( = 0), tem-se o fator de intensidade de tenso dado pela equao (2.55).

    aK I

    == )2/( (2.54)

    ca

    K I

    2

    )0(

    == (2.55)

    Tem-se que a menor que c e conseqentemente (a/c

  • 27

    A caracterizao do comportamento mecnico de materiais que venham a

    trabalhar sob condies ambientais adversas imprescindvel para o desenvolvimento

    e seleo de materiais.

    A suscetibilidade de uma determinada liga frente a um meio agressivo pode ser

    associada s condies eletroqumicas, ou diretamente associada ao de

    elementos deletrios, principalmente o hidrognio. Para aos, comprovado o fato de

    que quanto maior a resistncia mecnica, maior sua suscetibilidade a fragilizao

    por hidrognio.

    A abordagem tradicional para avaliao da suscetibilidade fratura assistida

    pelo meio ambiente considera o tempo necessrio para produzir a fratura de corpos

    lisos, com diferentes nveis de carregamento, enquanto expostos ao meio agressivo

    em questo.

    O ensaio de corpos de prova lisos fornece o tempo total necessrio para

    romp-los, sendo este a vida fadiga. Embora estas informaes sejam importantes,

    o uso de corpos de prova polidos apresenta as seguintes desvantagens:

    (a) O tempo para ruptura inclui ambas as fases de iniciao e de crescimento

    da trinca, no sendo possvel distingui-las; e

    (b) Existem ligas sem entalhes que resistem bem corroso sob tenso. Isto

    provavelmente ocorre porque estas ligas no devem ser sensveis a processos de

    pites, picadas de corroso. Entretanto, estas apresentam alta suscetibilidade

    propagao da trinca quando entalhadas.

    Considerando que a existncia de defeitos praticamente inevitvel em obras

    de engenharia, torna-se necessria a avaliao da resistncia dos materiais

    propagao de trincas nos meios em que sero utilizados, considerando-se a

    existncia de defeitos.

    Para uma trinca inferior dimenso crtica, chamada trinca subcrtica, no

    existe propagao instvel da trinca, pois o mdulo da taxa de energia potencial

    menor que a energia superficial por unidade de comprimento.

    Entretanto, a propagao de uma trinca subcrtica pode ocorrer em casos onde

    h o fornecimento de uma energia adicional ao sistema, como a fratura assistida pelo

  • 28

    meio ambiente, a fadiga e a corroso-fadiga. Segundo BASTIAN, a aplicao da

    mecnica da fratura estendida a estes casos.

    O uso do valor crtico do fator de intensidade de tenses KI no meio ambiente

    de trabalho uma metodologia indicada para a avaliao da suscetibilidade que um

    material pode apresentar ao crescimento subcrtico de trinca frente a determinado

    meio.

    Em ensaios de corpos de prova submetidos a uma carga constante, uma clula

    de corroso permite a ao do meio ambiente agressivo na rea pr-trincada. Verifica-

    se que um corpo de prova aparentemente rompe com um valor de KI inferior ao valor

    de KIC do material. Na realidade, ocorre um crescimento subcrtico da trinca por

    assistncia do meio ambiente a um determinado valor de KI inicial. Este crescimento

    subcrtico da trinca aumenta o nvel de intensidade de tenses efetivo, KI(EF), pois

    embora a carga permanea constante, a seo remanescente diminui gradativamente.

    Portanto, para um determinado KI inicial, a propagao subcrtica da trinca faz

    com que haja um aumento de KI com o tempo. A fratura final ocorre quando KI atingir o

    valor de KIC do material.

    Quanto maior for o valor de KI inicial, menor ser o tempo necessrio para levar

    a pea fratura. Constata-se que no ocorre crescimento subcrtico de trinca para

    valores iniciais de KI inferiores a um determinado patamar. Este patamar seria o valor

    de KIEAC do material. O ndice EAC tem origem do termo em ingls Environment

    Assisted Cracking.

    O termo fratura assistida pelo meio ambiente (EAC) envolve qualquer

    fenmeno de interao do ambiente com uma pea solicitada mecanicamente.

    Portanto, so analisados sob a mesma metodologia os efeitos de corroso-tenso,

    fragilidade por hidrognio e fragilidade por metal lquido.

    Na Tabela 2.1, apresentam-se exemplos da influncia de determinados meios

    agressivos na tenacidade fratura de ligas metlicas e os respectivos valores de KIC e

    KIEAC.

  • 29

    Tabela 2.1 Exemplos de influncia de meios agressivos na tenacidade fratura de ligas metlicas

    Material Ao 4340

    Ao 300-M

    Limite de escoamento y (MPa) 1335 1735

    Tenacidade fratura KIC ( mMPa ) 79 70

    Tenacidade fratura em meio agressivo KIEAC ( mMPa )

    9 22

    Meio agressivo Soluo de 3,5% NaCl

    2.3 Fadiga

    A fadiga do material a causa mais comum de falha de componentes

    estruturais de navios e estruturas ocenicas. Segundo DA ROSA [3], do nmero total

    de falhas, as provocadas por fadiga perfazem de 50% a 90%, sendo que em algumas

    das vezes, estas falhas ocorrem de forma inesperada, repentinamente, podendo

    causar grandes danos. A fadiga uma reduo gradual da capacidade de carga do

    componente, pela ruptura lenta do material, devida ao avano quase infinitesimal das

    fissuras que se formam no seu interior.

    Este crescimento ocorre para cada flutuao do estado de tenses onde parte

    da carga aplicada sob trao. As cargas variveis, sejam cclicas ou no, fazem com

    que, ao menos em alguns pontos, tenhamos deformaes plsticas que tambm

    variam com o tempo. Estas deformaes levam o material a uma deteriorao

    progressiva, dando origem trinca, a qual cresce at atingir um tamanho crtico,

    suficiente para a fratura, em geral brusca, apresentando caractersticas macroscpicas

    de uma fratura frgil.

    Segundo BRANCO [4], designa-se por fadiga o fenmeno de ruptura

    progressiva de materiais sujeitos a ciclos repetidos de tenso ou de deformao. O

    mecanismo da fadiga compreende as seguintes fases sucessivas: nucleao ou

    iniciao da trinca de fadiga, propagao e ruptura final.

    A iniciao de uma trinca de fadiga ocorre normalmente na superfcie do

    material. Os fatores que contribuem para isto so os valores mximos das

    concentraes de tenses, a liberdade para a deformao plstica sob tenso e o

    contato com um ambiente possivelmente agressivo.

  • 30

    Em componentes estruturais formados por materiais isentos de defeitos o

    processo de nucleao de trincas de fadiga ir se desenvolver, caso existam pontos

    com elevado nvel de tenses, o que pode levar falha. Para que o processo de

    nucleao se inicie necessrio (ao menos para os materiais dcteis) que ocorram

    deformaes plsticas, quer sejam estas generalizadas, quer sejam confinadas a um

    pequeno volume de material.

    No projeto de estruturas, adotado como requisito que as tenses nominais

    devidas ao carregamento externo fiquem dentro do regime elstico. No entanto, quer

    devido a descontinuidades geomtricas, descontinuidades metalrgicas ou ainda

    devido a sobrecargas quando em operao, o material no estar necessariamente

    respondendo, como um todo, de uma maneira elstica. Assim, a abordagem de uma

    anlise plstica no estudo de fadiga torna-se necessria, ao menos para regies do

    material prximas aos pontos onde temos concentrao de tenso, pois nestes se

    desenvolve uma plastificao confinada, com o restante do material tendo ainda uma

    resposta elstica. Nestes pontos com escoamento localizado que inicia o processo

    de nucleao das trincas de fadiga.

    A trinca que leva falha pode j estar presente desde a fabricao da

    estrutura, seja por imperfeio do material ou decorrente do processo de soldagem.

    Desta forma, esta no passa pelo perodo de nucleao, pois o componente estrutural

    possui trincas previamente existentes.

    Cabe ressaltar que os mtodos de inspeo existentes possuem limitao em

    sua capacidade de deteco de trincas, ou seja, deve ser assumida a hiptese, que

    mesmo no ocorrendo deteco, pode haver trincas na estrutura.

    Segundo GUANGUEWEI [5], com o acrscimo dos requisitos de

    operacionalidade das estruturas, os procedimentos de inspeo tem se tornado cada

    vez mais caros, sendo de grande importncia um dimensionamento adequado do

    intervalo entre inspees.

    Nucleao de Trincas

    O processo de fadiga est normalmente relacionado ocorrncia de

    deformaes plsticas e, estas, associadas com tenses cisalhantes. Em um material

    cristalino a deformao plstica ocorre atravs dos movimentos de discordncias, sob

    a ao de tenses cisalhantes. Este movimento tem como resultado final o

  • 31

    deslocamento relativo entre dois planos atmicos. Este deslizamento se acentua com

    o aumento da tenso cisalhante, e, para um dado carregamento, a deformao

    plstica preponderante na direo da mxima tenso de cisalhamento.

    Para um material policristalino, onde os gros possuem uma orientao

    aleatria dos planos atmicos, a deformao plstica inicia nos gros com orientao

    mais desfavorvel, ou seja, cujos planos de deslizamento estejam com orientao

    prxima da orientao da tenso cisalhante mxima. Desta forma, pode ocorrer que

    haja um deslizamento em uns poucos gros apenas, estando o restante do material

    com comportamento perfeitamente elstico. Neste caso, a deteco da deformao

    plstica bastante difcil, pois o material se comporta elasticamente de uma forma

    global, e mesmo para tenses abaixo da tenso limite de proporcionalidade, ou do

    limite de escoamento, apresentar pequenos pontos de plastificao.

    No caso dos materiais dcteis, a nucleao de fissuras ocorre pela formao

    de planos de deslizamento, provenientes da deformao plstica no gro mais

    desfavoravelmente orientado. Estes planos de deslizamento tm sua origem j nos

    primeiros ciclos do carregamento, e com o prosseguimento da solicitao ocorre a

    formao de novos planos, para acomodar as novas deformaes plsticas. Deste

    modo o conjunto de planos de deslizamento forma uma banda de deslizamento, cuja

    densidade de planos vai gradativamente aumentando. Segundo DA ROSA [3], aps

    um nmero de ciclos da ordem de 1% da vida de fadiga as bandas de deslizamento j

    esto plenamente formadas na superfcie do material.

    Figura 2.11 - Seqncia de movimentos de deslizamento

  • 32

    Os deslizamentos cclicos que do origem s bandas de deslizamento

    ocasionam na superfcie da pea reentrncias na forma de pequenas fendas

    superficiais, chamadas intruses, e salincias de forma irregular, como minsculas

    cadeias de montanhas, chamadas extruses. O modelo representado na figura 2.11

    mostra a seqncia de movimentos de deslizamento responsveis pela formao de

    uma intruso e de uma extruso. A figura 2.12 mostra este deslizamento entra

    camadas em uma forma mais evoluda, onde feita uma analogia dos planos

    cristalinos com as cartas de um baralho (card slip), movimentadas alternadamente por

    esforos de cisalhamento, podendo ser observados na superfcie pontos de intruso e

    extruso.

    Figura 2.12 Bandas de Deslizamento

    Estas irregularidades formam pontos reentrantes, onde ocorre concentrao de

    tenso, que leva formao de microtrincas. Segundo DA ROSA [3], geralmente as

    microtrincas so formadas nas intruses, propagando-se paralelamente aos planos

    atmicos de deslizamento, coincidentes com um plano de mxima tenso cisalhante.

    As microtrincas seguem crescendo at que atinjam um tamanho tal que passam a se

    propagar de forma perpendicular s tenses de trao que agem no material. No

    primeiro estgio de propagao as tenses cisalhantes que so importantes,

    enquanto que no estgio II as tenses de trao que controlam o crescimento. O

    tamanho da microtrinca em que ocorre a transio do estgio I para o estgio II de

    propagao depende do nvel de solicitao, pois em um material altamente solicitado

    a microtrinca passa para o estgio II com um tamanho menor do que no caso da

    solicitao ser mais baixa. Em componentes lisos, sem entalhes, como para corpos de

    prova, mais de 70% da vida usada para a nucleao e para a propagao no estgio

    I, ficando o restante da vida para a propagao no estgio II. A propagao da trinca

    no estgio I corresponde ao modo microscpico de propagao, tendo a trinca um

  • 33

    comprimento da ordem do tamanho de gro, sendo muito sensvel a diferenas locais

    de microestrutura, presena de partculas de segunda fase, mudanas de direo dos

    planos cristalogrficos, contornos de gro, etc.. J a propagao no estgio II

    corresponde ao modo macroscpico de propagao, em que o material pode ser

    considerado homogneo, sendo relevantes as propriedades mdias do material, e as

    diferenas a nvel metalrgico so de menor importncia.

    Propagao

    A propagao no estgio II caracterizada atravs da formao de estrias

    microscpicas, que marcam o crescimento da fissura a cada ciclo de carregamento.

    Para a propagao no estgio II necessrio que existam tenses de trao no

    extremo da trinca, que venha a possibilitar a ruptura do material. Muitas vezes a

    propagao no estgio II produz uma superfcie que fica marcada macroscopicamente

    pelas sucessivas posies da frente da trinca, dando origem s chamadas linhas de

    praia ou linhas de repouso (Figura 2.13). Estas so formadas devido a paradas no

    crescimento da trinca, seja por uma reduo da carga ou por uma parada da

    solicitao cclica da estrutura, ou ento por uma sobrecarga que imobiliza a trinca por

    algum tempo. Muitas vezes as linhas de repouso ficam mais evidenciadas pela ao

    da corroso sobre as superfcies j rompidas. Quando a carga que provoca a falha por

    fadiga possui amplitude constante, as linhas de repouso praticamente no aparecem,

    o que pode ser observado no caso da falha em corpos de prova de fadiga.

    Figura 2.13 Aspectos de superfcie aps ruptura iniciada por processo de fadiga

  • 34

    Em estudos mais atuais, quanto formao e propagao de trincas de fadiga,

    indicado que as trincas tenham sua origem j nos primeiros ciclos de carregamento,

    com a formao das bandas de deslizamento, e depois se propagando no estgio I

    para dentro do gro. Esta propagao se desenvolve com velocidade decrescente,

    conforme a frente da trinca penetra dentro do material, devido aos obstculos que

    encontra ao seu avano, como incluses e outros defeitos ou impurezas. Grande parte

    da vida de fadiga despedida na etapa do crescimento da trinca. A propagao da

    trinca no modo microscpico, na escala metalrgica, extremamente sensvel a

    diferenas locais de microestrutura, sendo afetada por diversos fatores, como a

    topografia da superfcie, a existncia de tenses residuais, a agressividade do meio

    ambiente.

    No caso dos materiais frgeis ou duros, como por exemplo, as ligas de alta

    resistncia de alumnio e os aos tratados para uma alta dureza, a nucleao das

    trincas iniciada na interface entre a matriz e as incluses existentes, uma vez que a

    matriz no chega a sofrer deformao plstica. Neste caso, as bandas de

    deslizamento na superfcie livre no ocorrem, e a nucleao tem origem mais no

    interior do material.

    No processo de fadiga onde ocorre um baixo nmero de ciclos para a falha, a

    nucleao e a propagao da trinca de fadiga ocorrem acompanhadas por um

    escoamento generalizado na superfcie do elemento estrutural, o que resulta

    normalmente no surgimento de uma superfcie corrugada, devido ao elevado grau de

    deformao plstica. As microtrincas podem ser nucleadas a partir das bandas de

    deslizamento, ou mesmo a partir dos contornos de gro, quando o corrugamento

    superficial for excessivo, dependendo do material e do modo como ocorrem os planos

    de deslizamento. Neste caso so formados degraus na superfcie, em funo de um

    escorregamento intergranular, ao longo dos contornos de gro, sendo as microtrincas

    intergranulares logo na sua formao, podendo passar a transgranular com o

    crescimento. Podem ser observados vrios pontos de formao de microtrincas, os

    quais se propagam inicialmente de modo cristalogrfico, ou seja, estgio I, e aps,

    normalmente direo das tenses de trao aplicadas, estgio II.

    Havendo o desenvolvimento da propagao das trincas, algumas de pequeno

    tamanho so absorvidas pelas maiores, at que reste no material um pequeno nmero

    de trincas remanescentes. Este processo referido como de nucleao mltipla. Em

    materiais mais duros, umas poucas trincas surgem de defeitos microestruturais,

  • 35

    bastante comuns na forma de incluses, formando em geral uma frente nica de

    propagao. Este modo de nucleao dito homogneo. Em qualquer dos processos

    de nucleao as microtrincas surgem logo no incio do carregamento, representando

    uma pequena parcela da vida de fadiga.

    No processo de fadiga em que ocorre um elevado nmero de ciclos at que a

    estrutura seja levada falha, a deformao elstica predominante, sendo a

    nucleao de trincas um fenmeno mais raro, ocorrendo em regies localizadas. A

    maior parte da superfcie permanece sem alterao, ocorrendo a formao de poucas

    microtrincas, sendo que a propagao de apenas uma delas suficiente para provocar

    a ruptura. No processo de fadiga a alto ciclo, a deformao plstica cclica no uma

    varivel relevante para se correlacionar com a falha. Alm de ser bastante pequena e

    inferior deformao elstica, logo difcil de ser medida com preciso, varia de modo

    bastante aleatrio no interior do corpo pelas diferenas locais da microestrutura.

    Assim, este regime de alto ciclo mais bem representado pelas deformaes elsticas

    cclicas, ou, o que equivalente, pelas tenses cclicas. Enquanto a trinca pequena,

    as diferenas de orientao de gros, microestrutura, etc., so importantes, retardando

    ou acelerando a propagao da trinca. Aps esta adquirir um tamanho maior, as

    alteraes microestruturais no extremo da fissura so irrelevantes, podendo o material

    ser tratado como um contnuo, usando propriedades mdias.

    Desta forma, pode-se deduzir que a Mecnica da Fratura Linear Elstica

    (MFLE) pode se apresentar como uma ferramenta til na representao do processo

    de fadiga de alto ciclo, principalmente na fase de propagao da trinca.

    Curva Tenso-Deformao Cclica

    Assumindo-se por hiptese um slido, perfeitamente elstico, poderia ser

    solicitado ciclicamente sem que a sua rede cristalina apresente alteraes, qualquer

    que seja o nmero de ciclos de carregamento aplicados.

    No entanto, os materiais reais, mesmo quando solicitados abaixo do limite

    elstico, apresentam alteraes permanen