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Nº 414 Março / 2015 FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS As ideias e opiniões expostas nos artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo a opinião da Fipe Roberto Luis Troster analisa os desaios do setor bancário e a tendência à maior concentração ante a conjuntura econômica e política de 2015. Regras para Pensão por Morte R N C Presidência do Brasil: Sem Rumo Num Mundo de Fantasias I N C Vídeo sob Demanda, Monetização e Outras Fronteiras na Economia Política do Setor Criativo J L M O Comportamento da Política Fiscal: de 1990 aos Anos Recentes C B S F análise de conjuntura Política Monetária R L T Mercado de Trabalho V M S Rogério Nagamine Costanzi analisa as mudanças nas regras para pensão por morte na Previdência Social, diante de um quadro de expressivo aumento dos gastos com esse beneício. Julio Lucchesi Moraes discute novos modelos de negócio no setor audio- visual internacional, perspectivas de monetização de atividades criativas e possíveis regulamentações nesse segmento. p. 3 Iraci del Nero da Costa tece comentários e críticas sobre a atuação política e econômica do governo Dilma neste início de 2015. p. 9 Carlândia Brito Santos Fernandes, no segundo artigo da série, apresenta uma perspectiva histórica da condução pró-cíclica da política iscal dos anos 1990 até a crise inanceira de 2008. p. 13 p. 14 p. 17 p. 6 Vera Martins da Silva faz um balanço do mercado de trabalho, a partir de 2000, e apresenta os dados da PNAD contínua de janeiro de 2015.

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Page 1: análise de conjuntura - Fundação Instituto de Pesquisas ... · 4 análise de conjuntura março de 2015 As taxas de concentração subi-ram nas últimas duas décadas e aceleraram

Nº 414 Março / 2015FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS

As ideias e opiniões expostas nos artigos são de responsabilidadeexclusiva dos autores, não refl etindo a opinião da Fipe

RobertoLuisTrosteranalisaosdesa�iosdosetorbancárioeatendência

àmaiorconcentraçãoanteaconjunturaeconômicaepolíticade2015.

Regras para Pensão por Morte

R������ N������� C�������

Presidência do Brasil: Sem Rumo Num Mundo de Fantasias

I���� ��� N��� �� C����

Vídeo sob Demanda, Monetização e Outras Fronteiras na Economia Política do Setor Criativo

J���� L������� M�����

O Comportamento da Política Fiscal: de 1990 aos Anos Recentes

C�������� B���� S����� F��������

análise de conjuntura

Política Monetária

R������ L��� T������

Mercado de Trabalho

V��� M������ �� S����

RogérioNagamineCostanzianalisaasmudançasnasregrasparapensão

pormortenaPrevidênciaSocial,diantedeumquadrodeexpressivo

aumentodosgastoscomessebene�ício.

JulioLucchesiMoraesdiscutenovosmodelosdenegócionosetoraudio-

visualinternacional,perspectivasdemonetizaçãodeatividadescriativas

epossíveisregulamentaçõesnessesegmento.

p.3

IracidelNerodaCostatececomentáriosecríticassobreaatuaçãopolítica

eeconômicadogovernoDilmanesteiníciode2015.

p.9

CarlândiaBritoSantosFernandes,nosegundoartigodasérie,apresenta

umaperspectivahistóricadaconduçãopró-cíclicadapolítica�iscaldos

anos1990atéacrise�inanceirade2008.

p.13

p.14

p.17

p.6 VeraMartinsdaSilvafazumbalançodomercadodetrabalho,apartirde

2000,eapresentaosdadosdaPNADcontínuadejaneirode2015.

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março de 2015

Conselho Curador

JuarezA.BaldiniRizzieri(Presidente)AndréFrancoMontoroFilhoCarlosAntonioRocca

DenisardC.deOliveiraAlvesFernandoB.HomemdeMeloFranciscoVidalLunaHeronCarlosEsvaeldoCarmoJoaquimJoséMartinsGuilhotoJoséPauloZeetanoChahad

INFORMAÇÕES FIPE É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DE CONJUNTURA ECONÔMICA DA FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS – ISSN1678�6335

Conselho Editorial

HeronCarlosE.doCarmoLeninaPomeranzLuizMartinsLopesJoséPauloZ.ChahadMariaCristinaCacciamaliMariaHelenaPallaresZockunSimãoDaviSilber

Editora-Chefe

FabianaF.Rocha

Preparação de Originais e Revisão

AlinaGasparellodeAraujo

Produção Editorial

SandraVilasBoas

žhttp://www.�ipe.org.br

SimãoDaviSilberVeraLuciaFava

Diretoria

Diretor Presidente

CarlosAntonioLuque

Diretor de Pesquisa

MariaHelenaPallaresZockun

Diretor de Cursos

JoséCarlosdeSouzaSantos

Pós-Graduação

PedroGarciaDuarte

Secretaria Executiva

DomingosPimentelBortoletto

Indicadores Catho-Fipe

Os indicadores Catho-Fipe, desenvolvidos pela Fipe em parceria com a Catho, oferecem uma visão mais apro-

fundada e imediata do mercado de trabalho e da economia brasileira. As informações disponíveis em tempo

real no banco de dados da Catho e em outras fontes públicas da Internet permitem agilidade na extração e

cálculo dos números. Desta forma, é possível acompanhar a situação imediata do mercado de trabalho, sem

a necessidade de se esperar um ou dois meses para a divulgação dos dados ofi ciais. Todos os indicadores são

divulgados no último dia útil de cada mês, com informações sobre o próprio mês.

O primeiro indicador é uma estimativa para a taxa de desemprego calculada pelo IBGE, a Taxa de Desempre-

go Antecipada. A Fipe calcula também um índice que acompanha a relação entre novas vagas e novos currí-

culos cadastrados na Internet, o Índice Catho-Fipe de Vagas por Candidato (IVC). Este indicador é mais amplo

do que a taxa de desemprego, porque traz informações sobre os dois lados do mercado: a oferta e a deman-

da por trabalho. Além desses dois indicadores, o Índice de Salários Ofertados permite o acompanhamento

dos salários oferecidos pelas empresas que estão em busca de novos profi ssionais.

Maiores Informações:

É:(11)3767-1764

œ:catho�ipe@�ipe.org.br

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3análise de conjuntura

março de 2015

Política Monetária

R������ L��� T������ (*)

Osetorbancáriobrasileiroviveu

muitosdesa�iosaolongodesua

históriaeseencontranumaen-

cruzilhada:podeserumsuporte

importantenestemomentodi�ícil

ouse transformaremmaisum

peso,di�icultandoaretomadada

economia.

Opiorquepoderiaacontecerneste

momentoéterproblemasbancá-

rios.

Oambientemacroeconômicose

apresentacomplicado.Ossinais

desejadosdasvariáveisestãotro-

cados:in�laçãoejurosemaltae

crescimentoeempregoemqueda.

Agravandooquadro,nocenário

internacional,háespeculaçõesde

queoBrasilpodeperderograude

investimento(investmentgrade),os

preçosdascommoditiesestãoem

quedaeoFEDdevesubirastaxas

nofuturopróximo.

Osindicadoresdosetorbancá-

riocomoumtodopreocupam.A

inadimplênciaestáalta,embora

estávelnos�inanciamentosbancá-

rios;oíndiceSerasa,quetambém

incluiatrasosemoperaçõesdo

comércioedo�inanciamentonão

bancário,mostrarecordesdealta

nocomeçodesteano.

Háumaincertezasobreosimpac-

tosdaoperação“LavaJato”nomer-

cadodecréditoeemquesetoresa

desaceleraçãoeconômicavaiafetar

maisocrédito.

Essequadroafetamaisasituação

dosbancosmédiosepequenos,que

jáapresentamumambientehostil.

Osnúmerosdesetembrode2014

(osúltimosconsolidadosdispo-

níveis)mostramqueosquatro

maioresbancostêm49%dopatri-

môniolíquidodosistemae68%do

lucro,enquantoosdemaisbancos

comerciaisemúltiplostêm32%do

patrimônioe10%dolucro.

Essesnúmerosapontamparao

fatodequeaconcentraçãobancá-

riapodevirarmancheteesteano.É

umtemasemprepresentenaanáli-

sedosistemabancáriobrasileiro.

Desdeaestabilizaçãodaeconomia,

osíndicesdeconcentraçãobancá-

riaapresentamvalorescrescentes,

eonúmerodebancos,queda:eram

246instituiçõesem1994,caíram

para157em2010epara155em

2014.

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4 análise de conjuntura

março de 2015

As taxasdeconcentraçãosubi-

ramnasúltimasduasdécadase

aceleraramatendêncianoúltimo

quadriênio.Osquatromaiores

bancosdetinham57%docrédito

dosistemaem2010,aumentaram

suaparticipaçãopara58%noano

seguinte,para60%em2012,para

62%em2013epara63%em2014.

Osnúmerosindicamquedevecon-

tinuaraseconcentrar.Desde2010,

opatrimôniolíquidodessequar-

tetosubiude41%dosistemapara

49%eolucrolíquidoaumentoude

57%para68%.Portanto,observa-

-serentabilidademédiasuperior

aorestoetendênciadeaumentode

suaparticipação.

Maiorconcentraçãodosetorban-

cário,porsi só,nãoquerdizer

nada.Épossívelimaginarumsis-

temadeumúnicobancoe�iciente

oferecendoserviçosadequadosa

preçosrazoáveis,bemcomooutro

demuitas instituiçõesoperando

comoumcartelcommargensde

lucrosabusivas.

Emborasejaumvalormaiorque

odopassadoequecontinuaráa

subir,onúmeroemsinãoémotivo

depreocupações.Usandocompa-

rações internacionais,osistema

bancáriobrasileironãoémuito

concentrado.

Outrasempresasdeabrangência

nacional,comoaviaçãoetelefo-

nia,têmtaxasdeparticipaçãoem

mercadosmaisaltas.Ehásetores,

comoosaneamentobásico,emque

umaúnica�irmaofereceseuspro-

dutoseserviçosacustosrazoáveis.

Oimportanteédeterminarascau-

sasdaconcentraçãobancária,se

sãobené�icasounãoparaasocie-

dade,ecomoestruturaromercado

paraadequá-loaosinteressesdo

Brasil.

Umaconcentraçãomaiorpodeser

resultadodeabusodopoderde

mercado,daexistênciadeecono-

miasdegrandezaedacombinação

deambos.

Aprimeiracausaéque,emrazão

deseutamanhoedarigidezdos

relacionamentos,osgrandesco-

brariamtaxasmaisaltasecom

issoteriamlucrosextraordinários.

Todavia,nãoéocaso;namédia,as

taxasdosquatrograndesbancos

nãosãomaioresqueasdosoutros

bancoscomerciais.

Umaanálisedasdemonstrações

contábeismostraqueaexplicação

estáemeconomiasdegrandeza,

causadaspordistorçõesinstitu-

cionais,comumviésregulatório

favorecendobancosgrandes.

Osquatromaiorestêm71%dos

depósitostotais,sistemicamente

sãomaisrelevantesdoqueasde-

mais1.576instituiçõesdosistema

juntas,quenamédiatêmumíndice

deBasileia(solidez)queéodobro

dosgrandes.Portanto,ospequenos

sãoapartemenosvulneráveldo

sistema.

Mesmo assim, a regulação é a

mesmaparatodasasinstituições,

éumtamanhoúnico,nãoimpor-

tandosuaparticipaçãoourisco

sistêmico.Comooscustosdecom-

pliancesãopredominantemente

�ixos,sãoproporcionalmentemaio-

resparaosbancosmenores.

EnquantoolemaCCCparabancos

grandeséClientela,CustoseCrédi-

to,paraosdemaissetransformou

emCompliance,ComplianceeCom-

plianceemrazãodoaumentode

exigênciasregulatóriascontábeis,

�iscais,deoperações,depagamen-

tos,cambiais,decadastroepru-

denciais,paracitaralgumas.

Ilustrandooponto,apenasasre-

grasquetratamdeaferirasolidez

decadainstituiçãosão68norma-

tivostotalizando581páginas,um

despautério!Éumabizantinice.

Osistemabancário brasi leiro,

deacordocomoWorldEconomic

Forum, temumdoscustosmais

altosporativosdomundo,ena

médiaosquatromaiorestêmcus-

tosmenoresporativo,oqueexpli-

capartedalucratividademaisalta

dosmaiores.

Umsegundofatorqueexplicaode-

sempenhomelhordosmaioreséa

regulaçãodeliquidez,emrazãodas

exigênciasdeníveisaltosdeencai-

xeseaofatodequeoredesconto

nãocumpreseupapelacontento

–nosúltimosdozemeses,observa-

-seapenasumaoperaçãodeR$20

milhões.

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5análise de conjuntura

março de 2015

Enquantoosquatromaiorestêm

51%doativo emoperaçõesde

crédito,osdemaisapenas38%,em

razãodoestoquemaiordeativos

líquidosquedevemter. Issofaz

comqueoíndicedecoberturados

menoressejamaisbaixo,oquese

re�letenumarentabilidademenor.

Opontoéque,apesardebemin-

tencionada,aregulamentaçãoé

concentradora,temumaltocusto

dee�iciênciaenãoresolveadequa-

damenteaquestãodaestabilidade;

muitopelocontrário,temumefeito

perversodefragilizaremvezde

fortalecerosistema.

Aconcentraçãoémaisconsequên-

ciadoquecausadasdi�iculdades

dosistema.Existeumviésregula-

tórioquegeraeconomiasdegran-

dezafavorecendobancosgrandes,

di�icultandoe,emalgunscasos,in-

viabilizandoinstituiçõesmenores.

Aconsequênciaéquelimitaosur-

gimentodenovosempreendimen-

tos,promoveumenxugamento

inoportuno,desestimulaacompe-

titividadeeainovaçãoefomenta

desnecessariamenteaoligopoliza-

ção.

Instituiçõesmenoresemmerca-

dos,sejaobancário,odesuper-

mercadosououtro,cumpremum

papel importante,eliminandoa

possibilidadedesubsídioscruza-

dos,atendendoanichos,inovando

efacilitandooajustedaestrutura

concorrencialàstransformações

tecnológicaseeconômicas.

Nosetorbancário,osbancosme-

noressãoimportantesporqueca-

nalizamcréditoparaaspequenas

emédiasempresasqueatravessam

umasituaçãoproblemática.De

acordocomoSerasa,maisdame-

tadedelastêmcontasematraso,

muitasdasquaissãosolventes,

massetornaminadimplentesem

razãodadinâmicadosetorban-

cário.

Considerandoafragilidadema-

croeconômicapara2015,quevai

afetardeformaadversaosetor

bancário,mais severamenteas

pequenasinstituiçõesdoqueas

grandes,seriaoportunorepensar

aquestãoprudencialedaliquidez,

analisandoocustobene�íciode

cadanorma.

Poder-se-ia,também,analisarnão

sóasituaçãodospequenos,como

dosistemacomoumtodo,quetem

umpotencialdecontribuirpara

amenizaratravessiade2015ese

tornarumpropulsordaeconomia

apartirde2016.

(*) Fipe. (E-mail: [email protected]).

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6 análise de conjuntura

março de 2015

Mercado de Trabalho: Queda do Nível de Atividade Já Tem Im-pacto no Mercado de Trabalho

V��� M������ �� S���� (*)

Omercadodetrabalho,quenos

últimosanosvinhaapresentando

desempenhomuitobomemtermos

dequedadataxadedesocupação

eaumentosreaisdossalários,�i-

nalmentefoiatingidopelaredução

daatividadeeconômicade2014;

nãohaveriadeserdeoutromodo,

jáqueosdiversosmercadosestão

relacionadosentresi.OGrá�ico1

apresentaaevoluçãodosvínculos

empregatíciosgeradospelaecono-

miaentre2000e2014,tomando-

-secomobaseosdadosdoCAGED

-CadastroGeraldeEmpregadose

DesempregadosdoMinistériodo

TrabalhoeEmprego.Oquesevê

éumaforteexpansãodoemprego

apartirde2004,resultadodame-

lhoriadasrelaçõesdetrocadaeco-

nomiaedaadoçãodepolíticasde

estímuloaomercadointerno,como

aumentosreaisdosaláriomínimo

edeprogramasdetransferência

derendasparaasclassesdabase

dapirâmide.Noentanto,apartir

de2012,essemodelopassoua

apresentarsinaisdeesgotamento,

cujarelevânciafoimitigadapelas

autoridadesdogovernofederal.

Osaldodevínculosformaisge-

radosem2014foiaindapositivo,

cercade153milnovospostosde

trabalhonosetorformal,masfoi

opiorresultadodasériedesde

2000.Os indicadorespassadose

asperspectivasnegativasgenera-

lizadassugeremque2015seráde

fatoumanodeaprofundamentoda

estagnaçãoemesmorecessãoeco-

nômica,demodoqueageraçãode

bonsempregosdemodoconsisten-

tepelaeconomiabrasileirapassaa

serumsonhodistante.

Gráfi co 1 – Saldo de Vínculos Empregatícios Gerados pela Economia Brasileira – Final de Dezembro – 2000-2014

Fonte:CAGED/MTE,<www.ipeadata.gov.br,14/03/2015>.

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7análise de conjuntura

março de 2015

Emtermosdeinformaçõesnovas,

em12demarçode2015,aFunda-

çãoInstitutodeGeogra�iaeEsta-

tística(FIBGE)fezadivulgaçãoda

PesquisaNacionalporAmostrade

Domicílios-PNADContínuaMensal

dejaneiro/2015,quetrazosresulta-

dosdapesquisadotrimestremóvel

queenglobanovembro/2014,de-

zembro/2014ejaneiro/2015.Nesse

trimestre,ataxadedesocupaçãofoi

estimadaem6,8%,oquesigni�ica

umpequenoaumentoemrelação

aomesmotrimestremóveldeum

anoanterior,quandofoiestimada

em6,4%.Notrimestreanterior

terminadoemoutubro(quecompu-

touosdadosdeagosto,setembroe

outubro),ataxadedesocupaçãofoi

estimadaem6,6%.OGrá�ico2mos-

traataxadedesocupaçãosegundo

aPNADContínua,lembrandoquese

tratadeinformaçõesdemédiastri-

mestrais,oquesuavizaatendência

observada.

Emnúmerosabsolutos,otamanho

doproblemaébemmaisclaro:no

trimestreterminadoemoutubro

de2014,oIBGEestimouaexis-

tênciadecercade6,6milhõesde

desocupados,eemjaneirode2015,

essecontingenteaumentouem200

milpessoas,para6,8milhõesde

desocupados.

Pelaprimeiravez foidivulgada

ainformaçãoderendimentosda

PNADContínua,tendosidoapu-

radoum rendimentomédiode

todosostrabalhosrecebidosde

R$1.795,53,umacréscimorealde

2,1%emrelaçãoaosrendimentos

recebidosnomesmotrimestredo

anoanterior.Amassaderendi-

mentosrecebidosnessetrimestre

terminadoemjaneirode2015foi

estimadaemR$166bilhões,um

crescimentorealde3,2%sobreo

mesmotrimestredoanoanterior.

Logo,mesmocomareduçãodo

níveldeatividadeejáhavendoum

aumentodataxadedesocupação,

oaumentorealderendimentos

continuouocorrendoatéjaneiro,

últimodadodisponível.

Gráfi co 2 - Taxa de Desocupação das Pessoas de 14 Anos Ou Mais de Idade, na Semana de Referência - Brasil

Fonte:PNADContínua,IBGE,<www.ibge.gov.br>,acessoem14/03/2015.

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8 análise de conjuntura

março de 2015

ApesardeaPNADContínuaser

umapesquisamuitomaisabran-

gentedoqueaPesquisaMensaldo

Emprego(PME),tambémdaFIBGE,

aPMEapresenta algunsdados

desagregadosqueajudamnaaná-

lisedoqueocorrenomercadode

trabalho.SegundoaPME,napas-

sagemdedezembrode2014para

janeirode2015,houveestabilidade

nocontingentedeempregadosna

maioriadossetoresinvestigados,

excetoemEducação,SaúdeeAd-

ministraçãoPública(-3,2%)e,na

comparaçãocomjaneirode2014,

houveretraçãode6%naocupação

daIndústriaeaumentode3,6%em

OutrosServiços.Osetordeservi-

çoséomaiorempregadornoPaíse

essasoscilaçõessãoesperadases-

pecialmentenoiníciodoano,quan-

doosgrandesgruposdepro�issio-

naisdeeducaçãoesaúderenovam

suascondiçõesdetrabalho.Oque

nãoéumaboanotíciaéaretração

docontingentedeocupadosna

Indústria,quesucessivamentetem

apresentadoreduçõesdepessoale

temsidoosetormaisatingidopela

polít icaeconômicaquevigorou

atéentão.Asalteraçõesnapolítica

econômicapropostasao�inalde

2014,sedefatoforemimplemen-

tadas,aindalevarãoalgunsmeses

paraimpactaromercadodetraba-

lho.Nomomento,oquesenotaé

umchoquedeofertaagregada,seja

pelaescassezdeáguaparaabas-

tecimentoegeraçãodeenergia

elétrica,sejapelainterrupçãode

obrasemfunçãodoprocessoliga-

doàsfraudesenvolvendoaPetro-

bráseasempreiteiras.Adicionan-

doaissooimpactodadepreciação

cambialsobrepreços,pode-sepre-

verqueain�laçãovaicorroerossa-

láriosediversoscontratoseataxa

dedesocupaçãodeveráaumentar.

Emtermosdedadosjádivulgados,

ataxadedesocupaçãoestimada

pelaPME,quedizrespeitoaseis

RegiõesMetropolitanas(SãoPaulo,

RiodeJaneiro,Salvador,Recife,

BeloHorizonteePortoAlegre)foi

estimadaem5,3%emjaneirode

2015,oquerepresentaumacrés-

cimode1%nataxaestimadapara

dezembrode2014ede0,5%em

relaçãoa janeirode2014.Otra-

balhocomcarteiraassinadateve

umdesempenhonegativotambém

naviradadoano.Nacomparação

comdezembro�icounegativoem

2,1%enacomparaçãocomjaneiro

de2014aquedafoiestimadaem

1,9%,oqueapenascon�irmaos

dadoseapercepçãodetodossobre

ofracodesempenhodaeconomia

em2014einíciode2015.Osdados

jáanunciadoseasperspectivassão

ruins.Vamostorcerpara2016che-

garmaisrápidoesteano...

(*)EconomistaeDoutorapeloIPE-USP.(E-mail:[email protected]).

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9temas de economia aplicada

março de 2015

Regras para Pensão por Morte

R������ N������� C������� (*)

Comapromulgaçãodamedidapro-

visória664,de30dedezembrode

2014,cresceuodebatenasocieda-

debrasileiraarespeitodasatuais

regrasdepensãopormorte,que,

antesdareferidamedida,seen-

contravammuitodesalinhadasem

relaçãoaospadrõesinternacionais,

conformemostradopor vários

estudoscomo,porexemplo,deAn-

siliero,CostanziePereira(2014).

Asmudançasestabelecidaspela

referidaMPparaoRegimeGeral

dePrev idência Social (RGPS),

pormeiode alteraçõesna Lei

8.213/1991, foram:a)estabele-

cimentodecarênciaparapensão

pormorteprevidenciáriade24

meses(anteriormentenãohavia

carência,sendoexigidaapenasa

qualidadedesegurado,permitin-

docomportamentooportunista

deapenasumacontribuiçãogerar

umbene�íciovitalíciono“teto”do

RGPS);b)introduçãodaexigência

deumtempomínimodecasamen-

toouuniãoestáveldedoisanos,

tambémparaevitarcomportamen-

tosoportunistasdecasamentos

arranjadosparagerarpensão;c)

�imdobene�íciovitalícioparacôn-

jugesoucompanheirosjovenscom

plenacapacidadelaboral–duração

passaadependerdaexpectativade

sobrevida,sendovitalíciaapenas

paracônjugescomaté35anosde

expectativadesobrevidaque,na

tabelaatualdoIBGE,signi�ica44

anosdeidadeoumais;d)�imda

reversãodascotasindividuais;e)

retiradadodireitoapensãodede-

pendentecondenadoporcrimedo-

losoquetenharesultadonamorte

doseguradoinstituidor;f)altera-

çãodovalordapensãode100%

daaposentadoriaoudosaláriode

bene�íciopara50%mais10%por

dependente,comamanutençãoda

garantiadepagamentodosalário

mínimo,seguindoalógicaque,com

amortedosegurado,haverádimi-

nuiçãodadespesafamiliar.

Partedasmedidas,maisespeci�i-

camente,acarência,tempomínimo

decasamentoeduraçãovariável

paracônjugetambémforamesten-

didasparaosservidorescivisda

União,pormeiodealteraçõesna

Lei8.112/1990.

Portanto,asmedidasrealizaram

ajustesnecessáriosnasregras.

ComomostradoporAnsiliero,Cos-

tanziePereira(2014),emumestu-

docom132países:a)78%desses

exigiamcarência;b)81,8%colo-

cavamcondicionantesparauma

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10 temas de economia aplicada

março de 2015

taxadereposiçãode100%;c)76,5%tinhamrestri-

çõesparacônjugesequiparadoscomo,porexemplo,

exigênciadeidademínimaparaocônjugeououtras

restrições.Claramente,asmedidasderammaiorali-

nhamentoàsregrasdoRGPScomaquelaspraticadas

emnívelinternacional.

Outropontoaserdestacadoéquevemocorrendoum

expressivoaumentodasdespesascompensãopor

mortenoâmbitodoRGPS.Comopodeservistopelo

grá�ico1,asdespesascompensãonoRGPScresceram

deR$21,1bilhõesem2002,paracercadeR$94,8

bilhõesem2103,representandoumincrementore-

lativoacumuladode349,9%emédioanualde13,4%

a.a.Ditodeoutraforma,adespesanominalmaisque

quadruplicouem12anos,denotandoumritmode

crescimentoinsustentávelamédioelongoprazo.O

incrementomédioanualdasdespesascompensões

urbanaseruraisfoide,respectivamente,13,1%a.a.e

14,2%.

Gráfi co 1 – Despesa com Pensão por Morte RGPS Brasil de 2002 a 2014

Fonte:MinistériodaPrevidênciaSocial–MPS.

Alémdisso,aindaháadespesacompensõespormorte

dosRegimesPrópriosdeprevidênciadosservidores

públicosemilitares.Em2013,somandoadespesa

compensãonoRGPSecivisnaUnião,Estadosemuni-

cípios,chega-seaopatamardeR$131,7bilhões,oque

representou2,7%doPIB.Comoconsequênciadessas

regrasinadequadas,oBrasilapresentavaumnível

dedespesacompensãoem%doPIBmuitoacimado

padrãointernacionaledoquepoderiaseesperarda

suaestruturademográ�icaoudarelaçãodedepen-

dênciadeidosos,comopodeservistopeloGrá�ico2.

Opatamarde2,7%doPIBnãolevouemconsideração

asdespesascompensãodosmilitares,eamédiada

OCDEeUniãoEuropeia,considerandoogastopúblico

compensão,foide,respectivamente,1,02%e1,6%do

PIB,em2011.

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11temas de economia aplicada

março de 2015

Gráfi co 2 – Relação de Dependência de Idosos e Despesa com Pensão por Morte em % do PIB – Vários Países 2009/2010 e Brasil 2013

Brasil 2,7

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0

Razão de dependência de idosos em %

Fonte:BancoMundialeelaboraçãoprópriaparaoBrasil.

Umpontoimportanteaserenfati-

zadonadiscussãoéqueasmesmas

forampensadasemumperíodoem

quehaviaumaparticipaçãomuito

maisreduzidadamulhernomer-

cadodetrabalho.Contudo,coma

crescenteparticipaçãodamulher

nomercadodetrabalhoéneces-

sáriodebaterasregrasdepensão

frenteaessaimportantetransfor-

maçãoestrutural.

ComopodeservistopelaTabela1,

em1992,apenas9,9%dospensio-

nistasacumulavamaposentado-

ria,percentualqueseelevoupara

31,6%em2013(semconsiderar

NorteRural)eatendênciaéque

essepercentualseeleveaindamais

emfunçãodacrescentepartici-

paçãodamulhernomercadode

trabalho.Considerandoapenasas

mulheres,quesãoagrandemaio-

riaentreospensionistas,nesta

mesmacomparação,oincremento

daquelesqueacumulavamaposen-

tadoriafoide9,9%,em1992,para

31%em2013(semNorteRural).

Considerandoaquelespensionistas

queacumulavamaposentadoriaou

estavamocupadoscomcontribui-

ção,opercentualdepensionistas

comduplaproteçãoelevou-sede

21,3%,em1992,para39,7%em

2013(semNorteRural).Consi-

derandoapenasasmulheres,o

percentualcresceude20,6%,em

1992,para38,6%,em2013(sem

NorteRural).Ademais,em2013,

haviacercade347milpessoas

queacumulavampensão,aposen-

tadoriaerendadotrabalho,eem

1992,eramapenascercade55mil.

Comoexisteumadefasagementre

ocrescimentodaparticipaçãoda

mulhernomercadodetrabalhoe

opercentualdospensionistasque

acumulapensãoeaposentadoria,

atendênciaéqueestepercentual

cresçaaindamaisnofuturo.

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12 temas de economia aplicada

março de 2015

Referências

ANSILIERO,Grasiela; COSTANZI,Rogério

Nagamine;PEREIRA,Eduardo.Apensão

pormortenoâmbitodoregimegeralde

previdênciasocial.RevistaPlanejamento

ePolíticasPúblicasIPEA,jan.-jun.2014.

(*)MestreemEconomiapeloIPE/USPeEspecialistaemPolíticasPúblicaseGestãoGovernamentaldoGovernoFederaldesde

janeirode2000.MestreemDireçãoeGestãodosSistemasdeSeguridadeSocialpelaUniver-

sidadedeAlcalá/EspanhaeOrganizaçãoIberoamericanadeSeguridadeSocial(OISS).

OautortevepassagenspeloMinistériodaPrevidênciaSocial(AssessorEspecialdoMinis-

tro,Coordenador-GeraldeEstudosPreviden-ciárioseDiretordoDepartamentodoRegime

GeraldePrevidênciaSocial),MinistériodoTrabalhoeEmprego(AssessorEspecialdo

MinistroeCoordenador-GeraldeEmpregoeRenda),MinistériodoDesenvolvimentoSocial

(Coordenador-GeraldeAcompanhamentoeQuali�icaçãodoCadastroÚnico),Organização

InternacionaldoTrabalho(OIT)eInstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA).

Aopiniãodoautornãoexprimeaposiçãoinstitucionaldasinstituiçõescitadas.(E-mail:

[email protected]).

Tabela 1 – Pensionistas por Situação de Aposentadoria e no Mercado de Trabalho

PENSIONISTAS HOMENS E MULHERES

SITUAÇÃO DO PENSIONISTA 1992 2013 sem norte rural – serie 2013 com norte rural

I - total de pensionistas (II + III) 3.339.086 6.903.831 6.954.563

II - pensionistas que acumulam aposentadoria 330.046 2.179.566 2.196.235

Acumulam aposentadoria e ocupados com contribuição 12.943 37.215 37.459

Acumulam aposentadoria e ocupados sem contribuição 41.885 304.488 309.937

III - pensionistas que não acumulam aposentadoria 3.009.040 4.724.265 4.758.328

Sem aposentadoria, mas ocupados com contribuição 382.386 562.952 565.357

Sem aposentadoria, mas ocupados sem contribuição 638.821 628.667 639.690

MULHERES

I - total de pensionistas (II + III) 3.118.255 6.007.517 6.044.737

II - pensionistas que acumulam aposentadoria 307.690 1.863.030 1.875.895

Acumulam aposentadoria e ocupados com contribuição 10.819 28.100 28.100

Acumulam aposentadoria e ocupados sem contribuição 37.366 244.471 248.973

III - pensionistas que não acumulam aposentadoria 2.810.565 4.144.487 4.168.842

Sem aposentadoria, mas ocupados com contribuição 334.783 454.714 455.687

Sem aposentadoria, mas ocupados sem contribuição 586.169 515.771 522.898

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdemicrodadosdaPNAD/IBGE.

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13temas de economia aplicada

março de 2015

Presidência do Brasil: Sem Rumo Num Mundo de Fantasias

I���� ��� N��� �� C���� (*)

AatualpresidentedaRepública

doBrasiltomousuareeleiçãonão

comoaculminânciadeumdes-

lavadoengodopespegadoemum

eleitoradodespreparadoparaiden-

ti�icarasmanobrasdeseuhábil

marqueteiro,mascomoumaval

paradarcontinuidadeàsfaláciase

mentirasqueinformaramsuacam-

panhaeleitoral.

Assim,emprestaàcrise interna-

cional–desencadeadaporpro-

blemasdecorrentesdafacilitação

creditíciabancáriadestinadaa

favoreceromercadoimobiliárioe

praticamentejásuperadanosEUA

eemváriasnaçõeseuropeias–a

origemdasdi�iculdadeseconômi-

casdefrontadaspeloBrasil,óbices

estesdevidos,comosabido,àim-

plementaçãodeumprogramaeco-

nômicoabsolutamenteerrôneoe

desfocadocomrespeitoàsefetivas

necessidadesdenossaeconomiae

dapopulaçãobrasileira.

Umsegundoaspectododesvir-

tuamentodarealidadepresente

nasfalaseatitudespresidenciais

dizrespeitoàlargadeferênciano

tratamentodos interessesdos

aplicadoresdedinheiroedosem-

presáriosemgeral.Destarte,as

medidasde“correçõeseajustes”

apresentadaspeloministroda

Fazendaferemos interessesdos

menosprivilegiadosedamassa

dapopulação,deixandodelado

práticasquepoderiamafetaros

ganhosdosendinheirados,casoda

taxaçãodasgrandesfortunas,dos

ganhosdecapitaldecorrentesde

aplicações�inanceirasedasheran-

çasvultosas.

Daperspectivapolítica,édenun-

ciada,sobretudopeladireçãodo

PT,ainexistenteaçãodeumadi-

reita�ictíciaeaigualmenteirreal

atuaçãodamídiaqueestariaafo-

mentaraçõescontráriasaogover-

noinstituído.En�im,en�ileiram-se

fantasmagóricas�igurasinteira-

menteausentesdenossarealidade,

fantasmasestesqueoperariamde

sorteaprejudicarumgovernoque

agedeformacoerenteetotalmente

a�inadacomassoluçõesconcretas

exigidaspelaeconomiabrasileira.

Esteconjuntodeinverdadesefalsi-

dadespropaladaspeloatualgover-

nocentralepelosdirigentesdeseu

partidodesquali�icaintegralmente

aamboseimpedequeseestabele-

ça,entreapresidênciadaRepúbli-

caeagrandemaioriadapopulação

brasileira,umdiálogoproveitoso

egeradordeumpactocriativoe

geradordepolíticassustentáveis

delongoprazo.

Nãoé,pois,quiméricaahipótese

levantadaporváriosanalistaspolí-

ticosquantoàpossívelemergência

de largosmovimentospopulares

contráriosàsatitudesassumidas

pelogovernocentralbrasileiroo

qual,bemcomooPT,pretende-se

perfeitoecaminhasemrumono

mundodafantasia.Esteúltimofato

nãojusti�ica,evidentemente,cam-

panhasfavoráveisaoimpeachment,

masdárazãoesustentaçãoamo-

vimentospopularesdecontestação

dasituaçãopresente.

(*)ProfessorLivre-DocenteaposentadodaFEA-USP.(E-mail:[email protected]).

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14 temas de economia aplicada

março de 2015

Vídeo sob Demanda, Monetização e Outras Fronteiras na Econo-mia Política do Setor Criativo

J���� L������� M����� (*)

Emcontinuidadeanossobalan-

çodetendênciasedestaquesna

economiapolíticadaEconomia

CriativaedasTICsem2014,avan-

çamosagorarumoanovostemas.

Nossasegundarodadadere�lexões

parte,umavezmais,deumepi-

sódiotranscorridonaÁsia.Curio-

samente,nãoestamosfalandode

grandespotênciastecnológicas

docontinente,comoaChinaouo

Japão,massimdaCoreiadoNorte

que,inusitadamente,tomouparte

deumadasmaisinteressantespo-

lêmicasdosegmentonoanopassa-

do:oataqueaoscomputadoresda

SonyPicturesporhackers,numa

açãoemsupostarepresáliaaolan-

çamentodo�ilme“AEntrevista”,

obraqueironizavaolíderdopaís.

Paraalémdasearaestritamen-

tepolítica,oacontecimentoabre

portastambémparadiscussões

ampliadasdenaturezaeconômica.

Ésobretaisaspectosquenosde-

bruçaremosnopresenteartigo.

1 “A Entrevista” e os Novos Mode-los de Negócio no Audiovisual Internacional

Logoapósainvasãoaoscompu-

tadoresdaSony,diversascadeias

exibidorasnorte-americanascan-

celaramassessõesprevistaspara

acomédia,commedodepossíveis

ataques terroristas.Poralgum

tempo,questionou-seseopróprio

lançamentoseriamantido,masa

opçãodaempresafoiincrivelmen-

teinovadora:naausênciadeum

volumeextensodesalasdispostas

aarcarcomorisco–econtando

comfrancoapoiodapopulação

norte-americana–aprodutora

fechoucontratodelançamentoda

obrapormeiodecanaisdigitais,

mobilizandoparceiroscomooGoo-

glePlayeoYoutubeMovies.

Oresultadodessaopçãofoibastan-

teinteressante:areceitadocha-

madovideo-on-demand(V.O.D.)do

�ilmefoide15milhõesdedólares,

contraapenas5milhõesnaarre-

cadaçãoconvencionaldesalasde

cinemas.Muitoemboraoresultado

nãotenhanemdelongecobertoos

custosdolonga,amodalidadede

comercializaçãoadotada–aprincí-

pio,umsimplesefeitocolateraldo

fatopolítico–acabousemostrando

exitosaerentável,elevandoaSony

aotítuloderecordistamundialem

bilheteriadigital.

Algunsanalistasatéarriscaram

ahipótesedequeoepisódionão

tenhapassadodeumaousadíssima

estratégiademarketingdaempre-

sa.Apropostaépolêmica,jáqueo

casochegouaenvolverautoridades

eórgãosdesegurançadosEstados

Unidos.Teoriasconspiratóriasà

parte,é fatoque “AEntrevista”

abriuuminteressantecasodentro

douniversodemodelosdenegócio

noaudiovisualsobdemanda,um

ambienteemfrancaexpansão,mas

ondemuitasdúvidasaindapersis-

tem.

2 Video on-Demand: a Revolução do Consumo Audiovisual

Nãoporacaso,poucodepoisdaes-

treiao�icial,“AEntrevista”atraiu

o interessedeoutrosatoresdo

segmento,comooNet�lix,empre-

salíderemV.O.D.nomundoeque

anunciou,poucotempoapósolan-

çamento,queaobraestariadis-

ponívelemstreamingparaseus

usuários.Osúbitointeressepelos

direitosdeexibiçãodo�ilmeabre

portasparaumadiscussãoam-

pliada,vinculadaaoexpressivo

aumentodessajaneladecomercia-

lizaçãonadinâmicaeconômicados

produtosaudiovisuais.

Adisponibilidadedeconteúdosno

formatosobdemandanãoéexata-

menteumanovidade.Nosúltimos

anos,contudo,oaltovolumede

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15temas de economia aplicada

março de 2015

investimentoseotamanhodabase

deespectadoreslograramalcançar

númerosbastanteexpressivos.

Apenasparacitaralgunsexemplos:

aAmazonrevelourecentemente

que,em2014,gastou1,3bilhão

dedólaresemseuserviçodestre-

amingdevídeo,oPrimeInstant

Video.Ovalorestáabaixodosnú-

merosdoNet�lix,quechegaram

àcasade3,8bilhõesdedólares

anuaisnaaquisiçãodeconteúdos

audiovisuais.Estima-se,aliás,que

50%dotrânsitodedadosdein-

ternetdosEUAhojesejadevídeos

disponibilizadospelaempresae

peloYoutube.

Paraalémdouniversodascifras,

jápodemospensarnumaefetiva

in�lexãoqualitativa.Nãoestamos

lidando,aqui,comumasimples

mudançanopadrãodeconsumo

deprodutosaudiovisuais:ocres-

cimentodeplayersemvídeosob

demandatrazimpactospolíticose

econômicosnãonegligenciáveis.Já

háumafortediscussãonosEstados

Unidosarespeitodeumpossível

remanejamentodaforçadetraba-

lho,comoesvaziamentopaulatino

naindústriadocaboeahegemonia

dasmodalidadesemstreaming.

Tambémouniversopublicitário

vemserealinhandoparadarconta

deestabelecer-senanovajanela.

Mesmoem termosde lobbies e

dedisputaspolíticas,vemosuma

mudançaexpressivanopanorama

audiovisualglobal.Nosúltimos

meses,oV.O.D.ganhoudestaque

nasdiscussões�iscaiseregulató-

riasaoredordomundo.Diversos

paísescomeçamaestudarmétodos

detaxaçãoaoconsumodevídeos

remotos.Emsetembrode2014,a

Argentinaestabeleceuumimpos-

tosobreessetipodeproduto.Jáa

AgênciaNacionaldoCinema(ANCI-

NE),brasileira,aventouahipótese,

emjaneirodesteano,deestipular

cotasdeprodutosnacionaisnas

plataformas,emulandoapolíticajá

aplicadaaoscanaisporassinatura.

Épossívelquevejamos,aolongo

dospróximosmeses,diversasou-

trasaçõeseiniciativasaparecendo

aoredordoglobo.

3 Das Fronteiras Regulatórias às Fronteiras do Valor

Otemordeumapossíveltaxação

sobreoconsumooudaimplemen-

taçãodeoutrosentravesregulató-

riosnãosãoosúnicosfantasmas

namentedosadministradoresdas

companhiasdosegmento.Ades-

peitodagrandeeuforiaedinamis-

modaplataforma,aindasubsistem

consideráveisdúvidasarespeito

daspossibilidadesdemanter,de

umlado,umacarteirainteressante

detítulosesériese,deoutro,asse-

gurarumpreçoacessívelecompe-

titivonosdiversosmercadosonde

aempresaatua.

Adiciona-seaoquadrooacirra-

mentoda concorrência, coma

constituiçãodeoutrasempresas

deoferecimentodeconteúdossob

demanda,muitasdelasvinculadas

àsoperadorasdetelevisãoacabo

oumesmooperadorasdetelefonia

móveljásedimentadas.Certamen-

te,maiscomplicadaéaconcorrên-

ciacomnovasplataformasdis-

postasadisponibilizarconteúdos

integralmentegratuitos.Umavez

mais,uminteressantecasovem

daArgentina:emboraatuenum

nichobastanteespecí�ico,podemos

mencionarcasoscomoodoCine-

margentino,umaplataformaque

ofereceacessoaobrasaudiovisuais

nacionaisemstreamingsemcusto

algum.

Maisousado,oPopcornTime,pre-

senteemdiversospaíses,inclusive

noBrasil,operacomoumaespécie

debuscadoresincronizadorde

arquivosdeTorrent.Naprática,

portanto,tem-seumsistemades-

centralizado,colaborativoe,aopé

daletra,“pirata”.Asidasevindas

jurídicasdaplataformaremetema

outrofamigeradositedeconteúdos

audiovisuais:oPirateBay,este

sim,declaradamenteàmargemda

legalidade.Tantonum,quantoem

outrocaso,contudo,observamos

convergênciasrumoàsdiscussões

sobreoslimiteslegais,regulató-

rios,econômicose,obviamente,

políticos,dosegmentoaudiovisual

global.

Nocernedessasdiscussõespersis-

teagrandequestão:comoasem-

presasdosetoraudiovisual–en-

tendidasaquiemseusentidolato,

istoé,levandoemcontaaextensa

cadeiaprodutivadosetor–podem

desenvolver-senumambienteonde

agratuidadesefaztãopresente?

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16 temas de economia aplicada

março de 2015

Voltaremosadiscutiressaquestãoemartigoposte-

rior,quandodenossaanálisesobreo�lorescimentode

novosmodelosdenegócionouniversocriativo.

Porora,cabemencionarqueodesa�iovemsendo

encaradofrontalmente,indicandoaincrívelversati-

lidadedosagenteseconômicosenvolvidos.Talveznão

hajacasomaisinteressantedoqueodoWhatsapp,o

popularíssimoaplicativodecomunicaçãoquesedis-

seminoumundoaforacobrandomeros0,99centavos

dedólarporanodeutilização.Háumano,aempresa

foiadquiridapeloFacebookpelaincrívelcifrade22

bilhõesdedólares.Quasenamesmaépoca,omundo

viuaaberturadecapitaldairlandesaKingDigital

Entertainment,detentoradediversostítulosdejogos,

incluindooCandyCrush.Temostambém,aí,osucesso

deoutramodalidadedemodelodenegócioemfranco

crescimento:adoschamadosprodutos“freemium”,

istoé,comacessoparcialmentegratuito,mascom

ofertadeaquisiçõesqueauxiliame/ouampli�icama

experiênciadousuário(nestecaso,ajogabilidadedos

games).

DoNet�lixaoCandyCrush,doCinemargentinoao

Whatsapp.Iniciativasdiversasdocomplexotecno-

lógicointernacionalmarcadasporumaquestãoem

comum:quaissãoasefetivasperspectivasdemone-

tizaçãodasatividadescriativasdepontaequaissão

suasimplicaçõeseconômicasepolíticasemâmbito

global?Talvezestasejaaquestãomaiscentralaser

feitaaosetorcriativo.

(*)GraduadoemCiênciasEconômicaseDoutoremHistóriaEconômi-capelaUSP.Trabalhacomtemasligadosàeconomiadacultura,eco-nomiacriativaeeconomiadatecnologia,informaçãoecomunicação

(TICs).(E-mail:[email protected]).

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17temas de economia aplicada

março de 2015

O Comportamento da Política Fiscal: de 1990 aos Anos Recentes

C�������� B���� S����� F�������� (*)

Noprimeiroartigodasérie foi

apresentadaatrajetóriadapolí-

tica�iscalparaadécadade1970

(períododeintensosincentivos

�iscais)eparaadécadade1980,

que,aocontrário,apresentoucomo

característicapredominanteforte

restrição � iscal.Nestesegundo

artigoseráapresentadoocompor-

tamentodapolítica�iscalde1990

aosanosrecentes.

Adécadade1990,assimcomoa

de1980,foimarcadaporplanos

deestabilização,porém,comadi-

ferençadequeumadastentativas

obteriasucesso.Lopreato(2002)

a�irmaqueasmedidasadotadasno

PlanoCollor,comoaretençãodos

ativos,adesvalorizaçãodariqueza

�inanceiraeasmedidas�iscaisque

aumentaramaarrecadaçãoredu-

ziramocustoderolagemdadívida

públicaecriaramespaçoparao

controledodé�icit.Outraestraté-

giadogovernofoiautilizaçãoda

valorizaçãodataxadecâmbioreal

comoformadecombaterodé�icit

públicoea in�lação.Asmedidas

provocaram,inicialmente,aqueda

abruptadain�lação,masadeterio-

raçãodosaldocomercialeoimpas-

senarenegociaçãodadívidaexter-

naapontavamparaproblemasno

balançodepagamentos,tornando

inevitáveladesvalorizaçãocam-

bialpararecuperarosaldocomer-

cialeevitarocolapsoexterno.

OresultadodoPlanoCollor,além

doelevadosuperávit�iscal,foide

forteretraçãononíveldeatividade

econômica.Épossívelobservarno

Grá�ico1queoPIBrealdecresceu

maisde4%emrelaçãoaoanoan-

terior.Oefeitosobreain�laçãofoi

temporário,sendoretomadanos

mesesseguintesaolançamentodo

Plano,fechandooanode1990em

aproximadamente1.500%.1Anali-

sandoocomportamentododé�icit

público,conformedadosapresen-

tadosnoGrá�ico2,noconceito

nominaldaNFSP2odé�icitatingiu,

em1990,29,6%doPIB,enquanto

noconceitoprimáriohouvesupe-

rávitde4,6%doPIBenoopera-

cional,superávitde1,3%doPIB,

indicandobomdesempenho�iscal

dosetorpúblico.3

Gráfi co 1 – Produto Interno Bruto, Variação Real Anual (% a.a.)

Fonte:InstitutoBrasileirodeGeogra�iaeEstatística(IBGE)SistemadeContasNacionais.

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18 análise de conjuntura18 temas de economia aplicada

março de 2015

Giambiagi(2008)de�ineoperío-

dode1990a1994,dosgovernos

ColloreItamarFranco,comosendo

dedé�icitreprimido,poisenquan-

tonogovernoSarneyasNFSPno

conceitooperacionalapresentaram

umamédiade5,1%doPIB,nogo-

vernoCollor/Itamarestedé�icitfoi

praticamentezerado.Istoocorreu

emfunçãodamelhoradoresultado

primárioetambémdareduçãodas

despesascomjurosreais.Oautor

aindaargumentaqueamelhorado

resultadoprimáriofoibaseadana

facilidadepermitidapelaaltataxa

dein�laçãoparaajustarovalordas

despesasreaisemfunçãodosob-

jetivos�iscaisdogoverno,emum

contextodereceitasrazoavelmen-

teindexadasàin�lação(GIAMBIA-

GI,2002;2008).

OPlanoReal,queobtevesucesso

nocontroledain�lação,foilançado

duranteogovernoItamarFranco.

Ascondiçõesexternasfavoráveis,

emtermosdeliquidez,possibilita-

ramousodocâmbiocomoâncora,

�icandoreservadoàspolíticas�is-

calemonetáriaopapeldegaran-

tirasexpectativaspositivasdos

investidores,paraqueosmesmos

nãotivessemdúvidasquantoao

�inanciamentodobalançodepa-

gamentos,permitindoamanuten-

çãodocâmbiovalorizado.Opapel

dapolítica�iscalfoiacomodaros

custosdaspolíticasdecâmbioe

dejuroseimpedireventuaisriscos

dedefault nadívidapúblicaque

pudessemlevarà fugadecapi-

taiseameaçaraestabilidadedo

câmbio.Assim,dopontodevista

�iscal,ocrescimentododé�icitex-

ternoapós1994criouaobrigação

demanterascontaspúblicasem

condiçõesdetransferirrendaaos

capitaisresponsáveispeloseu�i-

nanciamento,atravésdacolocação

detítulosdadívidapúblicacom

juros reaiselevadoseproteção

diantedaincertezadocâmbio.

Estaobrigaçãosomentefoipossí-

vel,alémdoespaçoquehaviapara

ocrescimentodadívidapública,

devidoaosuperávitprimáriode

1994,que�icouacimade5%doPIB

(LOPREATO,2002).

Nosquatroanosqueseseguiram

aoPlanoRealas�inançaspúblicas

apresentaramumapiora.Amédia

doresultadoprimáriofoidedé�icit

deaproximadamente0,2%doPIB,

eadoresultadooperacionaldedé-

�icitdequase5%doPIB,conforme

ilustradonoGrá�ico2.4Lopreato

(2002)argumentaqueaestabilida-

dedocâmbioeareduçãogradual

dosjurosindicavamarecuperação

dascontaspúblicasedavamtran-

quilidadeaomercadoemrelação

aocomportamentodoestoqueda

dívida.Alémdisto,obommomento

econômicoefatoscomoosdes-

taquesaosproblemasdosbancos

estaduais,àsdívidasdosEstados

emunicípios,aos“esqueletos”5 e

àreformadaprevidênciasocial,

comoprioridadesdapolítica�iscal,

foramrecebidoscomosinaispo-

sitivospelomercado,favorecendo

aexpectativadesustentabilidade

dascontaspúblicasepermitindo

afrouxarorígidocontrole�iscal

de1994.Nestecontexto,adeterio-

raçãodoquadro�iscalapartirde

1995nãocomprometeuoprogra-

madeestabilizaçãoenãocolocou

emriscoasustentabilidadeinter-

temporaldascontaspúblicas.

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19análise de conjuntura

março de 2015

19temas de economia aplicada

Gráfi co 2 – Necessidades de Financiamento do Setor Público

Fonte:ConjunturaEconômica,v.63n.06,2009ev.67n.11,2013.Osdadossãorelativosàposiçãodedezembrodecadaano.(+)superávite(-)

dé�icit.Elaboraçãoprópria.

NosegundogovernoFHC,emfun-

çãodoacordoestabelecidocomo

FMIno�inalde1998,oqualacabou

sendoestendidoaté2002,amédia

doresultadoprimáriofoide3,62%

doPIB.6Giambiagi(2002)destaca

comopontoimportanteanature-

zadaexpansãodogastopúblico,

ocorridadepoisdoPlanoReal.Uma

interpretaçãomuitodifundidaé

queestateriasidodecorrentedo

chamado“efeitoTanziàsavessas”,

resultantedofatodeadespesadei-

xardesercorroídapelain�lação.

Acrisecambialde1999forçoua

elevaçãodataxadejuros,assim,os

elevadoscustoseoriscodedefault

exigiramumapolítica�iscalmais

rígida,sendoprecisoelevarosu-

perávitprimário,diluiroriscode

inadimplênciadadívidapúblicae

reduziraabsorçãodosetorpriva-

doeanecessidadede�inanciamen-

toexterno.

Tornou-seobrigatóriode�inirna

LeideDiretrizesOrçamentárias

(LDO)ametadesuperávitprimá-

riodopróximoanoeaindicação

paraosdoisanosseguintes.Aex-

plicitaçãodocompromissocoma

trajetóriadadívidapúblicaesta-

beleceunaexecuçãoorçamentária

apráticadocontingenciamento

dosgastospúblicos,nomontante

exigido,paraqueametadesupe-

rávitprimáriofossealcançada.A

austeridadedascontaspúblicas

depoisde1999devolveuaomerca-

doacon�iançanaconduçãodapo-

lítica�iscalenasuperaçãodacrise

cambial.Alémdisto,ossinaisde

reversãodoritmodecrescimento

dodé�icitexternoearetomadada

liquidezinternacionalassegura-

ramascondiçõesde�inanciamento

dobalançodepagamentoseman-

tiveramasbasesparaacontinui-

dadedoprogramadeestabilização

(LOPREATO,2002;2007).Adécada

de1990seencerracomosgastos

dogovernorelativamenteestáveis,

representandoaproximadamente

22%doPIBnosúltimostrêsanos.

Asreceitasdogoverno,porém,re-

gistraramtrajetóriadescendente,

comreduçãode21,8%doPIBem

1997para18,73%em1998,voltan-

doacrescerem1999.7

Nestecontexto,umamudançaim-

portanteocorridalogonoiníciodo

milêniofoiaLeideResponsabili-

dadeFiscal(LRF)8nº101,de4de

maiode2000,queestabelecenor-

masde�inançaspúblicasvoltadas

àgestão�iscal.Pressupõeaação

planejadaetransparente,deforma

aprevenirriscosecorrigirdesvios

quepossamafetaroequilíbrio

dascontaspúblicas,cumprindo

metasderesultadosentrereceitas

edespesaseaobediênciaàsregras

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20 temas de economia aplicada

março de 2015

relacionadasàrenúnciadereceita,

geraçãodedespesascompesso-

al,daseguridadesocialeoutras,

dívidasconsolidadaemobiliária,

operaçõesdecrédito,inclusivepor

antecipaçãodereceita,concessão

degarantiaeinscriçãoemrestosa

pagar(LRF,art.1o§1

o).

AaprovaçãodaLRFreforçouocon-

troledascontasdeEstadosemuni-

cípios.Aconcepçãodonovoregime

�iscaldeuatençãoàdefesadaesta-

bilidadeeàminimizaçãodosriscos

deaplicaçãoemmoedanacional,

incutindonomercadoacertezade

queosmovimentosinesperadosde

jurosecâmbioseriamcompensa-

doscomoaumentodosuperávit

primáriocapazdegarantiroajuste

intertemporaldascontaspúblicas

(LOPREATO,2007).

Ocomportamentodadívidalíquida

dosetorpúblicoconsolidado,em

relaçãoaoPIB,utilizandoocon-

ceitodoBancoCentraldoBrasil

queincluiabasemonetáriacomo

partedadívidainterna,éilustrado

noGrá�ico3,paraoperíodo1981

a2013.Percebe-seumpadrãoem

formatodeVentre1984e2002.

Apósoprimeiropicode55,5%do

PIBem1984,adívidalíquidaentra

emtrajetóriadescendente,atin-

gindoummínimode30%doPIB,

em1994,voltandoaumatrajetória

crescente,atéatingirummontante

semelhanteaode1984,em2001.A

dívidatotalcontinuoucrescendo

até2002eatingiu,historicamente,

onívelmaiselevado.

Gráfi co 3 – Dívida Líquida do Setor Público (DLSP)

Fonte:BancoCentraldoBrasil(BCB)eGiambiagi(2009).Elaboraçãoprópria.

Confrontandoestasinformações

comasapresentadasporGiambia-

gi(2009)eporLopreato(2007),

provavelmentedevidoaquestões

metodológicasouàatualização

dosvaloresdasérie,aDLSPcres-

ceuaté2002enãoaté2003,como

constatamosautores.Comrelação

aocomportamentodadívidaem

1984,Giambiagi(2009)destaca

que,naquelemomento,adívida

públicaerapredominantemente

externaefatorescomoacriseda

dívida,aresponsabilidadeassumi-

dapelogovernofederaldepassivos

externoseoaumentorelativoda

dívidaemmoedaestrangeiracom

amaxidesvalorizaçãorealde1983

levaramaumaexplosãodoseu

valor,quemaisdoquedobrouem

apenastrêsanos.

Giambiagi (2009)apontacomo

causasparaaquedadadívidapú-

blicalíquida,entre1984e1994:a

tendênciadelongoprazoàaprecia-

çãorealdocâmbio,emrelaçãoàs

taxasqueprevaleceramlogoapós

amoratóriamexicana;oacordo

dadívidaexternaem1994,que

representoureduçãodamesma;

osdiversosepisódiosdesubinde-

xaçãodadívidainternaemfunção

daselevadas taxasdein� lação;

um�luxodesenhoriagemde3%

a4%doPIBquecontribuíapara

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21temas de economia aplicada

março de 2015

�inanciarpartedodé�icitpúblico;

eocrescimentodoPIBnoperíodo,

acumuladoem32%,contribuindo

paraareduçãodarelaçãodívida/

PIB.Lopreato(2007)argumenta

queaquedadaDLSPapartirde

2004éexplicadapelaperdade

participaçãodadívidaexternano

totaldadívidapública,comavalo-

rizaçãodataxadecâmbioocorrida

nogovernoLulaea liquidaçãoe

reestruturaçãodepartedadívida.

Porém,adívidainterna,apesarde

nãoterriscodedefault,manteve

a tendênciadecrescimentoem

relaçãoaoPIBdevidoaoaltocusto

derolagemdostítulos,os juros

nominais.

Nocontextodeacordos juntoao

FMI,oúltimoanodogovernoFHC

fechoucomumsuperávitprimário

daordemde4%doPIB;porém,a

DLSPfechouemmaisde60%do

PIBeodé�icitnominalsuperiora

10%doPIB.ComaDLSPatingindo

patamaressuperioresàquelesdos

anos1980,osagentespassaram

atemerumapossívelmoratória,

oquegerouumaprolongaçãodo

acordocomoFMIparaoprimeiro

anodopróximogoverno.Oresulta-

doparaoperíodode2000a2008

nãopoderiaserdiferente:foram

anosdesuperávitsprimárioscon-

secutivos,variandoentre3,2%e

4,01%doPIB.

Lopreato(2007)a�irmaqueogo-

vernoLulabuscouampliaroesfor-

ço�iscalcomoobjetivodeevitar

queosmovimentosdastaxasde

câmbioedejuroscolocassemem

riscooresultadodascontaspúbli-

cas.Oaumentodosuperávitpri-

márioeobomcomportamentoda

economiainternacionalapartirde

2003ajudaramaconterataxade

câmbioeospreçosinternoseafas-

tarossinaisdedominância�iscal.

Aaltadospreçosdascommodities

−portanto,melhoranostermosde

troca−repercutiusobreastaxas

dein�lação,provocandoaumento

dastaxasdejurosapartirde�ins

de2004,afetandoascontaspúbli-

casem2005e2006.Aestratégia

foi,novamente,ampliarosuperávit

primário,procurandomantera

trajetóriadequedadadívidapú-

blicaeacredibilidadedapolítica

econômica(LOPREATO,2007).

Voltandoàquestãoabordadano

primeiroartigo,darelaçãoentre

ascontaspúblicaseostermosde

troca,percebe-se,atravésdoGrá-

�ico4,quesemantémomesmo

padrãoqueocorreunosanos1980:

asreduçõesnostermosdetroca

sãoacompanhadasporumapiora

nascontaspúblicas.Mesmoapós

oPlanoReal,quandonãohámais

oproblemadasaltíssimastaxas

dein�lação,arelaçãosemantém.

Outraconstataçãoimportanteé

quea incidênciadostermosde

trocaempatamaresmaiselevados

−porexemplo,aquelesqueseefe-

tivaramnamaiorpartedosanos

1990e2000−está relacionada

aummelhorresultadonominal,

pois,emboraaindade�icitários,sua

proporçãonemsecomparaàquela

anteriora1993.Conformemencio-

nadoanteriormente,estarelação

seráveri�icadanoterceiroartigo.

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22 temas de economia aplicada

março de 2015

Atrajetóriadapolítica�iscalmodi-

�icou-seapartirdosúltimosmeses

de2008emvirtudedade�lagração

dacrise�inanceira,abrindoespaço

paraaadoção,noBrasil,deuma

política�iscalmais�lexível.Osu-

perávitprimário,conformeapre-

sentadonoGrá�ico2,declinoude

3,42%doPIBem2008para2,03%

em2009.Estapolítica�iscalcon-

tracíclicacontribuiu,mesmoque

emparte,paraarecuperaçãoda

economia,oquesepercebeatravés

deanálisedataxadecrescimen-

todoPIBapresentadanoGrá�ico

1,quesaltoude-0,33%em2008

para7,53%em2010.Aindaduran-

te2009retomou-seapolíticade

expansãodosuperávitprimário,

tantoqueomesmoatingiu2,77%

doPIBem2010e3,11%em2011.

Naverdade,oagravamentoda

criseeuropeiaeoambienteins-

távelemnívelinternacionaltêm

exigidoumapolítica�iscalbrasi-

leiracadavezmaisaustera,oque

édefendidopelaagendadoFMI.

Apesardisto,oresultadoprimário

dosúltimosanosnãotemsidodos

melhores:caiupara2,38%doPIB

em2012epara1,58%em2013.

Estefatotemdespertadoumasérie

decríticasemrelaçãoàpolítica�is-

calbrasileira.

Essascríticasse intensi� icaram

noanode2013emfunçãodeum

aumentodadívidabruta,quede

acordocomdadosdoFMI(2014)

passoude63,5%doPIBem2008

para68,2%em2012e66,3%em

2013.AquestãoéqueoBrasilpos-

suiumhistóricodepolítica�iscal

econdiçõesdeestabilidadenão

agradáveisaosolhosdosinves-

tidores,comooendividamento

brasileironosanos1980eocon-

sequentedefault,aselevadastaxas

dein�laçãoquemarcaram,prin-

cipalmente,osanos1980e1990,

equetêmperturbadoogoverno

brasileironosúltimosanos.Estes

fatores,masnão limitadosaos

mesmos,fazemcomqueapolítica

�iscalsemantenhacomorefémdas

expectativasdosinvestidores.Con-

sequentemente,asdecisões�iscais

sãotomadas,namaioriadasvezes,

comoobjetivodeguiaraopinião

dosinvestidoresouevitarumacor-

ridadosmesmosdomercadobrasi-

leiro.Assim,oquedeixaosinvesti-

doresfelizes(etambémoFMI)ea

política�iscalimuneacríticassão

oselevadossuperávitsprimários.

A impressãoéqueseesquecem

queaverdadeiramedidaquedeve

serlevadaemconsideraçãoéore-

sultado�iscalmedidopeloconceito

nominal,oqualincluiasdespesas

comjurosemsuaapuração.

Gráfi co 4 – Défi cit Público Nominal e Termos de Troca

Fonte:Ipeadata;ConjunturaEconômica,v.63n.06,2009;v.67n.11,2013.Elaboraçãoprópria.

Page 23: análise de conjuntura - Fundação Instituto de Pesquisas ... · 4 análise de conjuntura março de 2015 As taxas de concentração subi-ram nas últimas duas décadas e aceleraram

23temas de economia aplicada

março de 2015

Oresultadodessasituação,depo-

lítica�iscaldependentedasopini-

õesdosinvestidores,éumcírculo

viciosoqueseperpetuaporduas

vertentes:pelatentativadeconter

oaumentodospreços,elevando

astaxasdejuros(oquetambém

éótimoparaos investidores)e

pelatentativadesatisfazerosin-

vestidores,buscandosuperávits

primárioscadavezmaiselevados.

Oproblemaéqueossuperávitssão

obtidoscomaumentodeimpostos

oureduçãodegastos,reduzindoo

níveldedemandaagregadainterna

e,consequentemente,onívelde

rendadaeconomia.Poroutrolado,

oaumentodataxadejurostendea

reduzirosinvestimentosnosetor

produtivoetambémaconterade-

manda.Oresultadodessaespiral,

namelhordashipóteses,seráopa-

gamentodejurosdadívidapública.

Otipodepolítica�iscalpraticada

desviaosrecursos�iscais,quepo-

deriamserinvestidosparamelho-

rarascondiçõesestruturaisdo

paísemeducaçãoeinfraestrutura

−porexemplo,paraopagamento

dejuros−comprometendoataxa

decrescimentodopaís.

Conclusão

Oobjetivodesteartigofoiapresen-

tarumpanoramadapolítica�iscal

paraosanos1990e2000,percor-

rendopelasvariáveisquepossam

in�luenciaroseucomportamento,e

darbaseàparteempíricaqueserá

desenvolvidanopróximoartigo.

Emresumo,nosprimeirosanos

dadécadade1990apolítica�iscal

foivoltadaàestratégiadaestabi-

lizaçãoeparecetermantidoum

padrãopró-cíclico.Mesmoapóso

controlein�lacionárioestepapel

prevalece,comadiferençadeque

éexecutadogarantindoocâmbio

valorizado.Osanos2000sãomar-

cadospelaLeideResponsabilidade

Fiscal,pelosacordoscomoFMIe

porsuperávitsprimáriosconse-

cutivos.Comacrise�inanceirade

2008apolítica�iscalpassaater

umpapelmais�lexível,naverdade

contracíclico.Porém,algunsanos

depois,comoaumentodadívida

públicabrutaeareduçãodosu-

perávitprimário,aconduçãoda

política�iscaltemsofridocríticase

atendênciaéquesetornecadavez

maisaustera.Nogeral,asanálises

desteedoprimeiroartigoindicam

queapolítica�iscalsemanteve

pró-cíclicadurantetodoperíodo,

comexceçãodoperíodopós-crise

�inanceira.Alémdisto,osdados

demonstramquearelaçãoentre

ostermosdetrocaeapolítica�is-

caléumaspectointeressanteda

pesquisaeprecisa,portanto,ser

investigadomaisa fundo.Estas

questõesserãoinvestigadasnoter-

ceiroeúltimoartigodasérie.

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1 IGP-DI-(%a.a.)-FundaçãoGetúlioVargas,ConjunturaEconômica.

2 Lembrandoqueestenãoéumaboamedidaparaperíodosdeelevadastaxasdein�lação.

Page 24: análise de conjuntura - Fundação Instituto de Pesquisas ... · 4 análise de conjuntura março de 2015 As taxas de concentração subi-ram nas últimas duas décadas e aceleraram

24 temas de economia aplicada

março de 2015

3 Giambiagi(2002)argumentaqueoanode1990normalmentenãoéconsideradonasanálisessobrepolítica�iscalpelofatodequeasreceitas arrecadadas,nocenáriodoPlanoCollor I, apresentaramresultadoexcepcional.

4 Giambiagi (2002;2008)refere-seaoperíodocomode“dé�icitdemetas”e“dé�icitaberto”.

5 Oschamados“esqueletos”referem-seàsdívidasnãocontabilizadas.

6 RevistaConjunturaEconômica,v.63n.06,jun.2009.

7 InternationalMonetaryFund(IMF),GovernmentFinanceStatistics(GFS),Yearbookanddata�iles,WorldBankandOECDGDPestimates.

8 Parauma ideiasobrea in�luênciadaLRFnocomportamentodapolítica�iscal,consulteRochaeGiuberti(2008),Rocha(2009)eArenaeRevilla(2009).

(*)DoutorandaemEconomiadoDesenvolvimentonaFEA/USP.FoiVisitingScholarnaColumbiaUniversity(EUA).E-mail:carlan-

[email protected]çãodeAmparoàPesquisadoEstadodeSãoPaulo(FAPESP),processosnº

2012/04600-0e2013/07326-9.Asopiniões,hipóteseseconclusõesourecomendaçõesexpressasnestematerialsãoderesponsabilidadeda

autoraenãonecessariamentere�letemavisãodaFAPESP.