análise da eficiência econômica e termodinâmica da ... · análise da eficiência econômica e...

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Fonseca et al 2015 Revista Iberoamericana de Economiacutea Ecoloacutegica Vol 2471-90

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___________________________________________________________________________________________ ISSN 13902776 REVISTA DE LA RED IBEROAMERICANA DE ECONOMIacuteA ECOLOacuteGICA 71

Anaacutelise da eficiecircncia econocircmica e termodinacircmica da produccedilatildeo de soja em primavera do leste

Elisama Fonseca de Carvalho

Faculdade de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso Brasil

elisama_carvalhohotmailcom

Alexandre Magno de Melo Faria


drmelofariagmailcom

Dilamar Dallemole


ddallemolegmailcom

Vallecircncia Maiacutera Gomes

Universidade Federal do Paraacute Nuacutecleo de Altos Estudos Amazocircnicos Brasil

vallenciaoutlookcom

Fecha de recepcioacuten 070613 Fecha de aceptacioacuten 05052015

Resumo

Mato Grosso eacute o maior estado produtor de soja do Brasil e o municiacutepio de Primavera do Leste concentra cerca de 5 da soja regional O objetivo desse trabalho foi determinar do ponto de vista econocircmico e ecoloacutegico a eficiecircncia termodinacircmica dos fluxos energeacuteticos input-output da cultura da soja entre as safras de 2000 e 2010 Do ponto de vista econocircmico a sojicultura demonstra tendecircncia de compressatildeo da margem econocircmica bruta Do ponto de vista termodinacircmico a sojicultura manteve uma eficiecircncia termodinacircmica de 397plusmn04 na relaccedilatildeo input-output de energia no periacuteodo analisado Os insumos mais importantes no input satildeo os adubos e herbicidas com participaccedilatildeo crescente de combustiacuteveis e fungicidas Os insumos industriais alcanccedilaram a meacutedia de 922 dos inputs energeacuteticos no periacuteodo analisado enquanto os insumos bioloacutegicos (sementes e matildeo-de-obra) alcanccedilaram 77 das entradas energeacuteticas Conclui-se que o sistema produtivo de soja em Primavera do Leste precisa ser planejado e ajustado para que se torne tendencialmente sustentaacutevel em relaccedilatildeo agrave dependecircncia de energia exoacutegena

Palavras-chave Fluxos energeacuteticos agrotoacutexicos soja sustentabilidade Mato Grosso

Abstract

Mato Grosso is the largest producer of soybeans in Brazil and town of Primavera do Leste focuses around 5 regional soy The aim of this study was to determine the thermodynamic efficiency of the energy input-output flows of soybean harvests between 2000 and 2010 From an economic standpoint soy production demonstrates trend of economic gross margin compression From the thermodynamic point of view the soybean production maintains a thermodynamic efficiency of 397plusmn04 in relation input-output energy The most important inputs are fertilizers and herbicides with increasing participation of fuels and fungicides The industrial inputs reached the average of 922 of energy inputs in the



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analyzed period while the biological inputs (seeds and hand labor) reached 77 of the energy inputs It is concluded that the production of soybean in Primavera do Leste needs to be planned and adjusted to become sustainable

Keywords energy flows pesticides soy sustainability Mato Grosso

JEL Codes Q01 Q12 Q57

1 Introduccedilatildeo

O campo de estudo desse trabalho eacute o municiacutepio de Primavera do Leste em Mato Grosso que tem uma economia fortemente atrelada agrave agricultura destacando-se a produccedilatildeo de soja e algodatildeo A soja foi cultura escolhida por sua importacircncia econocircmica que movimenta a cadeia do agronegoacutecio em Mato Grosso Estimativas de Faria et al (2009) para o exerciacutecio de 2006 registram que o setor de cultivo e beneficiamento de soja gerou R$7201 bilhotildees de saldo positivo na Balanccedila Comercial de Mato Grosso equilibrando o deacuteficit interno com a economia paulista garantindo um saldo liacutequido de R$6783 bilhotildees descontando as aquisiccedilotildees internas e externas No agregado somando o comeacutercio nacional com o internacional o setor de cultivo e beneficiamento de soja eacute responsaacutevel por 54 das saiacutedas de mercadorias O comeacutercio externo eacute tatildeo forte para a economia regional que o superaacutevit representou em 2006 216 do PIB mato-grossense

Desta forma a formaccedilatildeo da riqueza regional e as possibilidades de desenvolvimento socioambiental passam de forma direta ou indireta pela sojicultora que por sua importacircncia merece estudos para que essa atividade se prolongue no tempo Natildeo se quer afirmar que a sojicultura eacute a uacutenica atividade econocircmica de importacircncia no tecido produtivo regional ou que natildeo se possa no futuro selecionar outra trajetoacuteria teacutecnica econocircmica e poliacutetica que substitua a monocultura da soja agroquiacutemica mas tatildeo somente que neste momento histoacuterico a sojicultura representa grande parcela do esforccedilo social de gerar renda e riqueza em Mato Grosso

A produccedilatildeo neste setor eacute de capital-intensivo devido agrave modernizaccedilatildeo mecacircnica bioloacutegica e quiacutemica que vem sendo implantada desde a deacutecada de 1970 mas que ganhou forccedila a

partir da deacutecada de 1990 (Pereira 1995 Pereira 2007) A produccedilatildeo em Primavera do Leste possui as mesmas caracteriacutesticas verificadas em outras aacutereas produtoras de soja de Mato Grosso como na regiatildeo Norte que envolvem os municiacutepios de Sorriso Sapezal Nova Mutum Campo Novo do Parecis Nova Ubiratatilde Diamantino Lucas do Rio Verde Campos de Juacutelio Santa Rita do Trivelato Brasnorte Tapurah Ipiranga do Norte Nova Maringaacute Vera Sinop e Satildeo Joseacute do Rio Claro dentre outras desta regiatildeo Tambeacutem apresenta similaridade com a produccedilatildeo que eacute desenvolvida na regiatildeo Sudeste e Nordeste de Mato Grosso como Querecircncia Itiquira Campo Verde Canarana e Santo Antocircnio do Leste

Como um estudo de caso pode indicar uma tendecircncia regional acredita-se que a anaacutelise da eficiecircncia energeacutetica e econocircmica da produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste permitiraacute identificar as condiccedilotildees estruturais de produccedilatildeo em Mato Grosso Respeitando as limitaccedilotildees do estudo em funccedilatildeo das especificidades microrregionais este trabalho lanccedila luzes sobre a eficiecircncia energeacutetica e as tendecircncias de utilizaccedilatildeo de energia na produccedilatildeo de soja no troacutepico uacutemido brasileiro e sobre a capacidade de manutenccedilatildeo econocircmica do empreendimento

Dentro deste cenaacuterio eacute possiacutevel refletir quanto ao aumento do consumo dos insumos nos inputs (entradas) no processo produtivo sojeiro em Primavera do Leste em relaccedilatildeo agrave eficiecircncia econocircmica e energeacutetica deste sistema sendo este o desafio do trabalho pois haacute muito tempo os estudos da economia agriacutecola voltam-se apenas agraves questotildees de custo de produccedilatildeo produtividade logiacutestica e de ganho de escala Em funccedilatildeo deste cenaacuterio tem passado despercebidas agraves implicaccedilotildees do uso sustentaacutevel da estrutura orgacircnica e inorgacircnica da terra nas propriedades rurais sendo que o sistema



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produtivo da soja tem sofrido enormes desgastes pelo uso intensivo de fertilizantes agrotoacutexicos e combustiacuteveis foacutesseis

Tecircm-se trecircs objetivos especiacuteficos sendo o primeiro a caracterizaccedilatildeo da economia mato-grossense e do municiacutepio de Primavera do Leste notadamente em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo de soja O segundo objetivo especiacutefico eacute estimar tanto a eficiecircncia termodinacircmica dos fluxos energeacuteticos de entrada e saiacuteda (input-output) quanto a eficiecircncia econocircmica (margem bruta) da produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste entre 2000-2010 atrelando a anaacutelise agraves tendecircncias de expansatildeo ou retraccedilatildeo da participaccedilatildeo de cada insumo no custo de produccedilatildeo e no input energeacutetico Por fim buscar-se-aacute identificar a relaccedilatildeo entre a eficiecircncia econocircmica e a eficiecircncia termodinacircmica do processo produtivo sojeiro no municiacutepio analisado

2 A sojicultura em Primavera do Leste

O municiacutepio de Primavera do Leste tem um clima tipo tropical semiuacutemido com vegetaccedilatildeo de Cerrado e chapadotildees O relevo eacute aplainado com cotas que vatildeo desde 600 ateacute 800 metros acima do niacutevel do mar sendo 30 suavemente ondulada e 70 plano na forma de chapadotildees com oacutetima aptidatildeo para o cultivo das lavouras anuais (Faria et al 2009 IBGE Cidades 2010) A regiatildeo eacute reconhecida como um dos polos de produccedilatildeo de gratildeos e fibras de Mato Grosso e participa do complexo agroindustrial brasileiro com lavouras altamente tecnificadas que ocupam 35 da aacuterea do municiacutepio sendo a soja sua principal lavoura

O potencial agriacutecola da regiatildeo foi desenvolvido tatildeo fortemente que na deacutecada de 1990 o municiacutepio de Primavera do Leste foi denominado como a ldquocapital da sojardquo Pode-se visualizar na Tabela 1 a aacuterea plantada de soja no municiacutepio nas safras de 2000-2010 Nota-se que o municiacutepio possui consideraacutevel quantidade de aacuterea plantada em relaccedilatildeo a Mato Grosso alcanccedilando cerca de 5 da aacuterea cultivada regionalmente e 1 da aacuterea brasileira de cultivo de soja neste periacuteodo

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo faz parte de um padratildeo de crescimento econocircmico que destroacutei os recursos ecoloacutegicos Esse modelo do agronegoacutecio empresarial usa o solo apenas como um substrato inerte onde se aplicam os insumos quiacutemicos externos aos ecossistemas e substitui o trabalho humano agriacutecola por maacutequinas (Faria et al 2009) com o objetivo de elevar a produccedilatildeo total e assim a acumulaccedilatildeo de capital na fronteira agriacutecola

O modelo agroquiacutemico se materializa no volume produzido de soja sendo que o municiacutepio de Primavera do Leste ofertou em meacutedia no periacuteodo 2000-2010 649065 toneladas reapresentando em torno de 5 da oferta regional de soja conforme Tabela 2 Na oferta nacional de soja a produccedilatildeo de Primavera do Leste alcanccedila aproximadamente 14 do volume produzido

Na Tabela 3 percebem-se quatro momentos bem claros no periacuteodo 2000-2010

(a) Entre 2000 e 2004 os custos de produccedilatildeo se expandem a uma taxa anual de 167 ao ano e as receitas a 2901 ao ano com uma forte capacidade de acumulaccedilatildeo

(b) No biecircnio 2005-2006 os custos retrocedem a uma taxa geomeacutetrica anual de 1509 e as receitas se deprimem a uma taxa de 3056 ao ano demonstrando uma forte crise no setor sojeiro

(c) Nas safras 2005-2006 especialmente em 2006 a queda do preccedilo da soja no mercado internacional prejudicou a economia local e se vivencia em Primavera do Leste uma perda de capital

(d) Nas safras 2007-2010 percebe-se uma tendecircncia de rentabilidade no intervalo entre 20 e 26 com uma aproximaccedilatildeo agraves taxas de acumulaccedilatildeo do iniacutecio da deacutecada de 2000

No periacuteodo 2007-2010 percebe-se uma recuperaccedilatildeo econocircmica da soja onde os custos de produccedilatildeo se expandem a 1020 ao ano em relaccedilatildeo a 2006 com as receitas



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Tabela 1 Aacuterea plantada (Hectares) de soja no Brasil Mato Grosso e Primavera do Leste 2000 a 2010

Safra Brasil Mato Grosso Primavera do Leste

2000 13693677 2906648 170000

2001 13988351 3121408 183000

2002 16376035 3818231 220000

2003 18527544 4414496 251500

2004 21601340 5279928 262680

2005 23426756 6121724 278189

2006 22082666 5822867 220000

2007 20571393 5075079 200000

2008 21063721 5470149 210000

2009 21761782 5831468 220000

2010 23339094 6227044 224600

Fonte IBGE Censo Agropecuaacuterio 2010

Tabela 2 Quantidade produzida (Toneladas) na lavoura de soja no Brasil Mato Grosso e Primavera do Leste de 2000 a 2010


2000 32820826 8774470 522070

2001 37907259 9533286 567300

2002 42107618 11684885 686400

2003 51919440 12965983 752593

2004 49549941 14517912 736721

2005 51182074 17761444 684558

2006 52464640 15594221 550440

2007 57857172 15275087 620200

2008 59242480 17212351 656250

2009 57345382 17962819 660000

2010 68756343 18787783 703188




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Tabela 3 Custo e Receita por Hectare (R$ha) e Valor da Produccedilatildeo em R$1000 no municiacutepio de Primavera do Leste 2000 a 2010

Safra Custo (R$ha) Valor da produccedilatildeo R$1000 Receita (R$ha) Rentabilidade

2000 58146 13051750 76775 3204

2001 59166 14182500 77500 3099

2002 64371 24024000 109200 6964

2003 96859 45908307 182538 8846

2004 98376 46965870 178795 8175

2005 108948 28066766 100891 -740

2006 92508 15412320 70056 -2427

2007 94227 23567600 117838 2506

2008 146916 38715750 184375 2550

2009 143901 40008540 181857 2638

2010 121673 33049890 147150 2094


Nota valores deflacionados pelo IGP-DI da FGV ano base 2010

expandindo a 2115 ao ano em relaccedilatildeo a 2006 Estes dados indicam uma importante oscilaccedilatildeo na atividade econocircmica e servem de paracircmetro para perceber a necessidade de construccedilatildeo de mecanismos institucionais que venham a amortecer as flutuaccedilotildees do sistema produtivo tendo em vista a importacircncia regional da sojicultura

3 A economia e a eficiecircncia energeacutetica

A obra ldquoThe Entropy Law and the Economic Processrdquo de Nicholas Georgescu-Roegen publicada em 1971 ajudou a definir o conceito de ldquoEconomia Ecoloacutegicardquo Nesse livro ele introduz a ideia de irreversibilidade e de limites biofiacutesicos dos recursos na teoria econocircmica a partir da segunda lei da termodinacircmica especificamente a lei da entropia nas transformaccedilotildees da mateacuteria (Romeiro 20039) A termodinacircmica surgiu com Sadi Carnot (1824 apud Nascimento et al 2004) nos estudos do balanccedilo energeacutetico da maacutequina a vapor apontando o fato do

calor se mover de forma espontacircnea e irreversiacutevel de um corpo quente para o frio Carnot criou as bases para a formulaccedilatildeo posterior por Clausius das Leis da Termodinacircmica em 1865 Georgescu tentou mudar a visatildeo do fluxo circular unitaacuterio e isolado segundo a qual capital e trabalho satildeo considerados a estrutura do processo que transforma fluxo de energia em produtos e resiacuteduos Propocircs uma visatildeo metaboacutelica do processo mostrando que o sistema econocircmico natildeo era um moto-perpeacutetuo que alimenta a si mesmo de forma circular sem perdas mas ao contraacuterio eacute um sistema que transforma recursos naturais em rejeitos que natildeo podem mais ser utilizados Ao desenvolver uma nova representaccedilatildeo do processo Georgescu destacou que ele natildeo eacute isolado mas aberto (Cechin 2010)

Enquanto o sistema econocircmico continuar a produzir sem considerar os limites ecossistecircmicos e as interaccedilotildees dos agroecossistemas com o seu meio ambiente circundante maiores seratildeo as probabilidades



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de formaccedilatildeo de entropia A questatildeo eacute que mais energia desorganizada seraacute descartada apoacutes a produccedilatildeo e o consumo gerando acumulaccedilatildeo de entropia Aleacutem disso mais energia organizada seraacute necessaacuteria para a produccedilatildeo das mesmas quantidades de mateacuteria e energia materializadas em mercadorias Dito de outra forma o sistema produtivo tornar-se-aacute crescentemente ineficiente do ponto de vista termodinacircmico incorrendo em maiores fluxos de energia para os mesmos resultados ou gerando mais entropia no final do processo para a mesma produccedilatildeo Ele coloca que quanto mais raacutepido a sociedade decidir a reorganizar os sistemas altamente formadores de entropia mais raacutepida seraacute a transiccedilatildeo para uma sociedade e uma economia menos insustentaacutevel

4 Energia na agricultura

Conforme Odum e Barret (2008) a alta produtividade e altas taxas de produtividade dos produtos agriacutecolas satildeo devidas as entradas de energia natildeo renovaacutevel utilizadas na lavoura O combustiacutevel usado para acionar o maquinaacuterio das propriedades eacute uma entrada de energia tanto quanto o sol Um exemplo disso ocorre na agricultura dos Estados Unidos onde a entrada dos subsiacutedios de energia na agricultura aumentou dez vezes entre 1900 e 1980 com entrada de energia que varia de uma a dez calorias para cada caloria de alimento colhido Webber (2012) demonstra que na agricultura dos Estados Unidos da Ameacuterica a relaccedilatildeo entre entrada e saiacuteda de energia estaacute em 101 ou seja entram 100 kcal e saem apenas 10 kcal A duplicaccedilatildeo do rendimento da colheita requer um aumento de dez vezes nas entradas de combustiacuteveis foacutesseis fertilizantes e defensivos

Odum e Barret (2008) ressaltam ainda que o outro modo pelo qual os humanos aumentam a produccedilatildeo de alimentos natildeo envolve uma elevaccedilatildeo na produtividade bruta mas a seleccedilatildeo geneacutetica no sentido de aumentar a razatildeo de rendimento A desvantagem eacute que a planta modificada natildeo tem energia para produzir compostos quiacutemicos para se defender assim dependeraacute do uso de

defensivos quiacutemicos o que exigiraacute uma demanda de energia maior

A transferecircncia de energia ao longo da cadeia alimentar de um ecossistema eacute chamada de cadeia troacutefica ou cadeia de transformaccedilatildeo dos fluxos de energia porque de acordo com a lei da entropia as transformaccedilotildees da energia satildeo ldquounidirecionaisrdquo em contraste com o comportamento ciacuteclico da mateacuteria (Odum e Barret 2008) Conforme os autores as altas taxas de produccedilatildeo ocorrem quando os fatores fiacutesicos satildeo favoraacuteveis especialmente quando os subsiacutedios de energia (como os fertilizantes de fora do sistema) aumentam o crescimento ou as taxas de produccedilatildeo dentro do sistema Esses subsiacutedios de energia tambeacutem podem ser o trabalho do vento e da chuva em uma floresta ou de combustiacuteveis foacutesseis o trabalho animal ou humano usado no cultivo agriacutecola

O comportamento da energia eacute descrito pela primeira e segunda lei da termodinacircmica A primeira lei estabelece que a energia se transforma de uma forma para outra mas natildeo pode ser criada nem destruiacuteda mas se degrada A segunda lei termodinacircmica determina que os processos que envolvem transformaccedilotildees de energia natildeo ocorreratildeo espontaneamente a menos que haja uma degradaccedilatildeo de energia de uma energia organizada para uma forma natildeo organizada (a entropia tende a aumentar) Esta determinaccedilatildeo remete agrave importacircncia da prudecircncia ecoloacutegica na escolha de alternativas das fontes de energia (renovaacuteveis preferentemente) e de cadeias troacuteficas que exijam o miacutenimo de etapas de transformaccedilatildeo aleacutem da adoccedilatildeo de sistemas eco-eficientes (Odum e Barrett 2008)

A distribuiccedilatildeo do uso da energia tambeacutem eacute um importante fator a ser considerado na avaliaccedilatildeo da sustentabilidade dos agroecossistemas porque ela estaacute associada ao fluxo de mateacuteria e de renda dentro e entre os sistemas Isso implica que o fortalecimento relativo de um sistema produtivo resulta na fragilidade de outros em funccedilatildeo das relaccedilotildees de troca eou transferecircncia que se estabelecem entre eles (Altieri e Masera



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1997)

A avaliaccedilatildeo dos inputs energeacuteticos das operaccedilotildees de cultivo eacute importante para estimar a energia investida no sistema de produccedilatildeo e identificar os pontos de desperdiacutecios energeacuteticos e os componentes que podem ser substituiacutedos por outros de maior eficiecircncia aleacutem de melhorar a visibilidade sobre o balanccedilo energeacutetico edificando um novo suporte cientifico agrave produccedilatildeo de mateacuteria e energia de forma sustentaacutevel

5 Metodologia

Para obter a eficiecircncia termodinacircmica dos fluxos energeacuteticos da soja foi necessaacuterio realizar o balanccedilo energeacutetico ou anaacutelise input-output que implica em transformar insumos e produtos em fluxos agregados de energia mediante o uso de coeficientes energeacuteticos correspondentes a cada insumo ou seja contabilizar as energias das entradas (inputs) e as energias da saiacuteda (output) do sistema produtivo da soja em Primavera do Leste

O Coeficiente Energeacutetico (CE) refere-se ao montante de energia consumida para se obter um determinado recurso utilizado na agricultura como insumo Este valor eacute geralmente retirado de estudos de ciclo de vida dos materiais Seu objetivo principal eacute traduzir em equivalentes energeacuteticos os fatores de produccedilatildeo provenientes da economia humana possibilitando a construccedilatildeo de valores de energia agregada comparaacuteveis entre si que permitam a intervenccedilatildeo no sistema produtivo visando melhorar sua eficiecircncia (Bueno 2002)

Reconhecendo a importacircncia desta metodologia vaacuterios pesquisadores tecircm se utilizado dos balanccedilos de energia para avaliar sistemas agriacutecolas de diversas proporccedilotildees e com distintas delimitaccedilotildees A conversatildeo energeacutetica dos fatores de produccedilatildeo envolvidos na produccedilatildeo de soja tem respaldo na literatura (FAO 1980 Scott e Krummel 1980 Pimentel et al 1983 Campos et al 1998)

A quantificaccedilatildeo energeacutetica dos insumos foi

obtida atraveacutes da multiplicaccedilatildeo do produto fiacutesico pelos respectivos iacutendices de conversatildeo e apresentaccedilatildeo final dos dados foi em quilocaloria (Kcal) como unidade de energia em todas as anaacutelises energeacuteticas Para obtenccedilatildeo dos inputs de energia foram considerados os iacutendices caloacutericos constantes no Quadro 1

O valor energeacutetico da soja foi obtido a partir da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo total em toneladas pela capacidade caloriacutefica deste produto constante nas Tabelas de Composiccedilatildeo de Alimentos do IBGE (1999) que eacute de 4000 calorias por quilo valor tambeacutem constatado por Melo et al (2007) e Campos et al (2009)

Eficiecircncia termodinacircmica

A eficiecircncia termodinacircmica corresponde a razatildeo output (kcal de saiacuteda) entre input (kcal de entrada) como pode ser visto na equaccedilatildeo 1

(ET) = ΣE Output ΣE Input (1)

Em que

ΣE Output = Total de saiacutedas de energia (kcal)

ΣE Input = Total de entradas de energia (kcal)

Sendo que o output representa a saiacuteda de soja (em forma de energia) e o input representa o conjunto de insumos mais importantes (em forma de energia) que satildeo necessaacuterios para produzir aquele montante de soja

Resultados com valores superiores a 100 representam um excedente energeacutetico ou seja na produccedilatildeo haacute maior energia de saiacuteda do que de entrada Resultados com valores inferiores a 100 representam uma situaccedilatildeo de perda energeacutetica caracterizando uma produccedilatildeo termodinamicamente ineficiente Para Risoud (1999) se o excedente energeacutetico for superior a um pode-se afirmar que houve eficiecircncia naquele sistema agriacutecola

Em outra abordagem Schroll (1994) define como iacutendice de sustentabilidade da produccedilatildeo agriacutecola um excedente de duas unidades energeacuteticas (kcal) para que o sistema produtivo seja considerado sustentaacutevel



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Quadro 1 Coeficientes energeacuteticos na agropecuaacuteria

Bibliografia Insumo Coeficiente

Beltratildeo et al (1993)

Albuquerque et al(2007) Oacuteleo diesel (70 lhora) 9583kcall

Pimentel et al (1973) Gasolina (15 lhora) 953289 kcall

Albuquerque et al (2007) Calcaacuterio 3989 kcalkg

Pimentel et al (1973)

Lockeretz 1980)

Nitrogecircnio

(inclui produccedilatildeo e processamento) 21000 kcalkg


Lockeretz 1980)

Foacutesforo

(inclui mineraccedilatildeo e processamento) 3800 kcalkg


Lockeretz 1980)

Potaacutessio


Albuquerque et al (2007)

Pimentel (1980) Herbicidas 83090kcalkg


Pimentel (1980) Inseticidas 74300kcalkg


Pimentel (1980) Formicidas 21340kcalkg

Pimentel (1980) Fungicidas 50083 kcalkg

Pimentel (1980) Acaricidas espalhantes oacuteleos minerais inoculantes adjuvantes

64683 kcal por kg ou L

Albuquerque et al (2010) Forccedila de trabalho humana 225kcalhora

Ulbanere (1988)

Freitas et al (2006)

Demanda especiacutefica de energia

(DEE) de maacutequinas agriacutecolas trator com 65cv 432270 kcalhora

Ulbanere (1988)



(DEE) de maacutequinas agriacutecolas

trator com 105cv (76 ton de peso)

56746kcalh

Doering e Peart (1977)

Castanho Filho e Chabariberi (1982)

Trator (ajustes em funccedilatildeo da potecircncia) 3494000 kcalt

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Contudo esta eacute apenas uma parte da anaacutelise Deve-se avaliar tambeacutem a qualidade das energias de entrada e saiacuteda O consumo crescente de insumos industrias e de origem exauriacutevel representam uma ameaccedila ao sistema principalmente em funccedilatildeo da origem exoacutegena agrave economia local e regional Por outro lado quanto maior a participaccedilatildeo de insumos de origem bioloacutegica e renovaacutevel maiores as possibilidades de resistecircncia e resiliecircncia do sistema

Para Heitschmidt et al (1996) a eficiecircncia de energia eacute medida pelo balanccedilo energeacutetico ou pela relaccedilatildeo outputinput a partir da determinaccedilatildeo da quantidade de energia obtida na forma de produto em relaccedilatildeo agrave energia cultural utilizada no sistema para produzi-lo A relaccedilatildeo outputinput tem valor agrave medida que indica o niacutevel de dependecircncia de um agroecossistema qualquer por fontes externas de energia e da possibilidade de sobrevivecircncia daquele modelo diante da



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finitude de tais fontes de energia Natildeo bastaria observar somente o excedente energeacutetico mas a capacidade de manter o fluxo de inputs estaacuteveis ou mesmo crescentes no tempo

Apoacutes a identificaccedilatildeo da razatildeo entre a saiacuteda e as entradas de energia para determinar o excedente ou deacuteficit energeacutetico verificou-se a participaccedilatildeo percentual de cada insumo Os insumos foram agrupados de acordo com o tipo de recurso adubo (nitrogecircnio foacutesforo potaacutessio e calcaacuterio) sementes agrotoacutexicos (herbicida inseticida formicida e fungicida) combustiacuteveis (diesel e gasolina) maacutequinas e matildeo-de-obra Natildeo se considerou as atividades poacutes-colheita

Eficiecircncia econocircmica

Em forma similar ao iacutendice da Eficiecircncia Termodinacircmica (ET) calcula-se o iacutendice da Eficiecircncia Econocircmica (EC) que visa demonstrar atraveacutes da razatildeo entre o Valor Bruto da Produccedilatildeo (VBP) e o Custo Total (CT) o quatildeo sustentaacutevel pode ser a atividade de produccedilatildeo de soja a cada safra produzida conforme a equaccedilatildeo 2

Margem bruta (MB) = Σ Receita Total (R$) Σ Custo Total (R$) (2)

A Receita Total representa o valor bruto da produccedilatildeo que corresponde a multiplicaccedilatildeo do valor de produccedilatildeo obtido do IBGE vezes o preccedilo meacutedio recebido O Custo Total representa o somatoacuterio de insumos necessaacuterios agrave produccedilatildeo em valores monetaacuterios

O custo de produccedilatildeo e o preccedilo de venda da saca de 60 quilos de soja eacute a referecircncia para se compreender a dimensatildeo econocircmica da sojicultura local Na Tabela 4 pode-se visualizar os preccedilos anuais da soja deflacionados com base em 2010

Coeficientes abaixo de 100 indicam desacumulaccedilatildeo de capital enquanto coeficientes iguais a 100 indicam um break even point ou seja um ponto de nivelamento onde natildeo haacute lucro ou prejuiacutezo Coeficientes

Tabela 4 Custo e Preccedilo (R$saca 60 quilos) de Soja em Primavera do Leste 2000 a 2010

Safra Custo

(R$saca) Preccedilo (R$saca)

2000 1136 1500

2001 1145 1500

2002 1238 2100

2003 1942 3660

2004 2105 3825

2005 2656 2460

2006 2218 1680

2007 1823 2280

2008 2821 3540

2009 2878 3637

2010 2332 2820

Fonte IBGE Censo Agropecuaacuterio 2010 Nota valores deflacionados pelo IGP-DI da FGV ano base

2010 acima de 100 indicam pontos onde ocorre mark up ou seja acumulaccedilatildeo de capital e quanto maior o coeficiente acima da unidade maior a capacidade de acumular excedentes

A anaacutelise conjunta destes dois indicadores (ET e EC) podem lanccedilar luzes sobre a capacidade de reproduccedilatildeo econocircmica e energeacutetica do sistema de produccedilatildeo de soja em Mato Grosso Mais do que identificar os itens que compotildeem as referidas eficiecircncias torna-se interessante reconhecer a dinacircmicas de tais meacutetricas que podem sugerir o caminho tendencial em direccedilatildeo agrave (in)sustentabilidade do sistema produtivo De certa forma podem indicar duas dimensotildees da sustentabilidade a econocircmica e a ambiental

Com os dados de preccedilo final de venda e custo de produccedilatildeo pode-se calcular a rentabilidade econocircmica do empreendimento sojeiro em Primavera do Leste A rentabilidade eacute um indicativo de desempenho monetaacuterio pondendo ser avaliada a capacidade de retenccedilatildeo do excedente econocircmico no setor avaliado Na equaccedilatildeo 3 pode-se visualizar o meacutetodo de caacutelculo Se a rentabilidade for negativa o empreendimento



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estaacute desacumulando capital em suas operaccedilotildees Se for positivo estaacute havendo retenccedilatildeo de excedente que pode ser totalmente distribuiacutedo aos agentes econocircmicos que participam do empreendimento podendo tambeacutem ser total ou parcialmente acumulado

Rentabilidade = (Vendas ndash Custo total) Σ Custo Total (3)

Como forma de apresentaccedilatildeo dos dados obtidos junto agrave GECUP (Gerecircncia de Custos) da CONAB (Companhia Nacional Abastecimento) empresa puacuteblica ligada ao MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento do Brasil) tem-se as Tabelas 5 e 6

6 Resultados e discussotildees

Apoacutes a promulgaccedilatildeo da lei Kandir em setembro de 1996 que isentou os produtos primaacuterios e semielaborados com destino agrave exportaccedilatildeo do pagamento de impostos estaduais (Imposto sobre Circulaccedilatildeo de

Mercadorias e Serviccedilos ou ICMS) Mato Grosso passou a produzir safras recordes de soja e de acordo com o MDIC o valor das exportaccedilotildees de soja que eram de pouco mais de R$480 milhotildees em 1996 alcanccedilou R$7201 bilhotildees de saldo positivo em 2006 reapresentando 715 das exportaccedilotildees de Mato Grosso neste uacuteltimo ano (Faria et al 2009) Verificou-se uma forte expansatildeo da aacuterea para produccedilatildeo de soja e maior uso de agrotoacutexicos e fertilizantes Todavia natildeo se observaram limites impostos pelos recursos naturais quanto agrave fertilidade do solo no bioma Cerrado que se constitui de um solo aacutecido sendo necessaacuteria a correccedilatildeo da acidez pela calagem Para aumentar a produtividade e ganho de escala foram necessaacuterios estudos feitos pela EMBRAPA para tornar o Cerrado produtivo A soluccedilatildeo encontrada para o aumento na produtividade foi agrave aquisiccedilatildeo dos pacotes tecnoloacutegicos da ldquorevoluccedilatildeo verderdquo (novas variedades de sementes sobre tudo transgecircnicos agrotoacutexicos e fertilizantes) em detrimento poreacutem dos custos ecoloacutegicos incorridos pela utilizaccedilatildeo desse pacote tecnoloacutegico que natildeo foram incorporados no custo de produccedilatildeo Conforme Saacute (2009) na regiatildeo Sudeste de Mato Grosso que inclui

Tabela 5 Insumos utilizados na sojicultura de Primavera do Leste em kcal 2000-2010

Safras

Ad

ub

os

Herb

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2000 176012500 38969210 19915551 11588650 22000000 4077759 1193996 151025 000 273828722

2001 186250000 48940010 19915551 9454650 22000000 5329834 1278954 156100 000 293239245

2002 187950000 48940010 19915551 9454650 22000000 5329834 1278954 156100 000 294939245

2003 187950000 48940010 18489239 14750650 22000000 5329834 1278954 156100 000 298894788

2004 187950000 48940010 18489239 14750650 22000000 5329834 1278954 156100 000 298894788

2005 187950000 48940010 18489239 14750650 22000000 5329834 1278954 156100 000 298894788

2006 187950000 48940010 21822129 9454650 22000000 7833984 1278954 156750 000 299350265

2007 187950000 48940010 21822129 9454650 22000000 7833984 1278954 156750 000 299350265

2008 144704510 51977526 29530534 22552932 27000000 12603468 3417194 272100 79780 291988388

2009 144593484 51977526 32213774 22552932 24550000 13605128 3881052 291900 79780 293585031

2010 144593484 78233966 30637370 26400716 24200000 13605128 3484528 280150 79780 321361039

Fonte elaborada pelos autores a partir de CONAB (2012)



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Tabela 6 Insumos utilizados na sojicultura de Primavera do Leste em unidades fiacutesicas por hectare 2000-2010

Safras

Nit

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)

2000 002 020 022 469 156 081 1282 800 175 000 5500 316 000

2001 002 020 026 589 127 106 1282 800 188 000 5500 312 000

2002 002 020 026 589 127 106 1282 800 188 000 5500 312 000

2003 002 020 026 589 199 106 1134 800 188 000 5500 694 000

2004 002 020 026 589 199 106 1134 800 188 000 5500 694 000

2005 002 020 026 589 199 106 1134 800 188 000 5500 694 000

2006 002 020 026 589 127 156 1083 1200 190 000 5500 314 000

2007 002 020 026 589 127 156 1083 1200 190 000 5500 314 000

2008 001 018 018 626 304 252 2883 200 415 2000 5000 355 200

2009 001 018 018 626 304 272 3163 200 455 1300 5000 355 200

2010 001 018 018 942 355 272 2998 200 431 1200 5000 355 200


Primavera do Leste a mateacuteria orgacircnica do solo pode ser degradada em ateacute 7 ao ano em funccedilatildeo da umidade calor e complexidade de microrganismos presentes no solo Em aproximadamente dez anos a mateacuteria orgacircnica pode ser totalmente degradada caso natildeo haja recomposiccedilatildeo

O modelo de produccedilatildeo agropecuaacuteria desenvolvido em Primavera do Leste tem seguido o pacote tecnoloacutegico estabelecido regionalmente demonstrando utilizaccedilatildeo intensiva de tecnologia e maacutequinas em detrimento do trabalho humano O grande destaque no custo de produccedilatildeo de soja em Primavera eacute o custo dos adubos (nitrogecircnio foacutesforo e potaacutessio - NPK) que assume os maiores valores de participaccedilatildeo com percentuais meacutedios de 416 com desvio-padratildeo de 32 no periacuteodo entre 2000 e 2010 Esses valores podem ser explicados pelo fato do adubo exercer a funccedilatildeo de correccedilatildeo e nutriccedilatildeo do solo em funccedilatildeo da elevada atividade microbiana em regiotildees tropicais que exaurem rapidamente a mateacuteria orgacircnica disponiacutevel

Quando haacute uma abertura de aacuterea transformando a vegetaccedilatildeo complexa e um monocultivo utiliza-se inicialmente a mateacuteria orgacircnica do solo como fonte de micronutrientes (NPK e outros) que foram depositados em milhares de anos de uma interaccedilatildeo floriacutestica fauniacutestica e microbiana Contudo apoacutes safras sucessivas a mateacuteria orgacircnica disponiacutevel decresce rapidamente em funccedilatildeo da atividade microbiana e da exportaccedilatildeo dos micronutrientes materializados na produccedilatildeo agriacutecola como a soja o algodatildeo o milho e diversos outros sistemas produtivos Findada a fase de utilizaccedilatildeo do ldquoadubo natural endoacutegenordquo torna-se necessaacuteria uma crescente incorporaccedilatildeo de ldquoadubos exoacutegenosrdquo para manter a produtividade

Os cultivares de soja geneticamente modificada natildeo tem recursos geneacuteticos para produzir os compostos bioquiacutemicos necessaacuterios para se defender dos predadores e competidores assim se usam produtos da induacutestria quiacutemica e farmacecircutica para defendecirc-los das ervas daninhas e pragas agriacutecolas Os agrotoacutexicos (herbicidas



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inseticidas formicidas e fungicidas) satildeo importantes na produccedilatildeo agriacutecola regional pois em eles natildeo se atinge uma produtividade e lucro satisfatoacuterio uma vez no troacutepico semiuacutemido a proliferaccedilatildeo de espeacutecies predadoras eacute elevada Como resultado os custos dos agrotoacutexicos assumiram valor expressivo no custo total entre 2000 e 2010 com meacutedia de 287 e desvio-padratildeo de 30 Para evitar a perda da safra por ataque de pragas o agricultor acaba por aplicar maior quantidade de agrotoacutexicos sucessivas vezes Em especial desde a safra 2002 a incidecircncia de ferrugem asiaacutetica tem forccedilado a aplicaccedilatildeo crescente de fungicidas (Yorinori et al 2005)

Os combustiacuteveis (gasolina e diesel) ganham destaque pela uso de maacutequinas agriacutecolas que operam com energia foacutessil para transportar insumos e produtos primaacuterios no manejo agriacutecola e demais veiacuteculos automotores utilizados direta ou indiretamente no processo produtivo No periacuteodo analisado o custo com combustiacuteveis alcanccedilou em meacutedia 161 dos custos totais com desvio-padratildeo de 31 A mecanizaccedilatildeo agriacutecola eacute um dos pilares do agronegoacutecio que substitui o trabalho humano por tecnologia mecacircnica A participaccedilatildeo relativa da matildeo-de-obra dentro do custo de produccedilatildeo (em R$) Sua participaccedilatildeo meacutedia foi de 34 com um desvio-padratildeo de 08 no periacuteodo 2000-2010 As sementes de soja adquiridas compotildee o quarto maior insumo alcanccedilando em meacutedia 97 dos custos de produccedilatildeo com desvio-padratildeo de 25 no periacuteodo analisado

Destes dados se depreende que o conjunto formado por adubos quiacutemicos (416) agrotoacutexicos (287) e combustiacuteveis (161) representam 864 dos custos totais Somando a biotecnologia das sementes (97) estes insumos representam 961 dos custos totais

Conclui-se que a produccedilatildeo de soja em Primavera manteacutem fortes ligaccedilotildees com setores agroindustriais agrave jusante da atividade primaacuteria com forte integraccedilatildeo com a induacutestria quiacutemica petroliacutefera mecacircnica e de biotecnologia A formaccedilatildeo de oligopoacutelios agroindustrias eacute um fator de risco para a

atividade agriacutecola haja vista a falha de mercado que pode impactar no excedente do produtor e elevar o custo dos insumos

Foi realizada tambeacutem a anaacutelise da margem bruta que eacute a razatildeo entre a receita total (R$) pelo custo total (R$) Por hipoacutetese quanto maior a margem bruta de um sistema econocircmico maior o niacutevel de acumulaccedilatildeo de capital e por suposto maior o aumento da capacidade produtiva do referido sistema em funccedilatildeo do controle sobre excedentes passiacuteveis de inversatildeo Trata-se de um indicador da eficiecircncia econocircmica do sistema de produccedilatildeo de soja como que pode ser observado na Tabela 7

No primeiro biecircnio (2000-2001) eacute possiacutevel identificar uma eficiecircncia da margem bruta com niacuteveis estaacuteveis de acumulaccedilatildeo do capital com valores de (1132) ou seja para cada Real gasto no custo de produccedilatildeo houve uma contrapartida de R$132 na receita Jaacute no triecircnio seguinte nota-se um crescimento bem maior com niacuteveis mais elevados de acumulaccedilatildeo de capital para o setor principalmente no ano de 2003 com valores de (1188) Jaacute a queda da margem bruta nos anos de 2005 com valores de (1093) e 2006 (1076) significa dizer que no ano de 2005 a cada Real gasto houve uma contrapartida de apenas R$093 de receita total No ano de 2006 para cada Real aplicado houve uma contrapartida de apenas R$076 Tal fato reflete o endividamento liacutequido do setor na qual os valores representam a desacumulaccedilatildeo de capital dos setores produtivos a montante e a jusante evidenciando a crise do agronegoacutecio em Primavera do Leste bem como ocorrido em todo o estado de Mato Grosso no mesmo periacuteodo demonstrando ineficiecircncia econocircmica E nos anos entre 2007 e 2010 houve o processo de recuperaccedilatildeo com uma estabilidade na acumulaccedilatildeo de capital contudo inferior aos valores iniciais analisados Tal fato revela que a eficiecircncia econocircmica no sistema produtivo sojeiro em Primavera do Leste seguiu um padratildeo de ciacuteclico com forte expansatildeo da margem bruta no triecircnio 2002-2004 frente ao biecircnio anterior seguido de uma forte retraccedilatildeo da margem



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Tabela 7 Margem Bruta a partir da relaccedilatildeo receitacustos para produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste de 2000 a 2010

Safra Receita Bruta (R$) Custo Total (R$) Margem Bruta (R$) Margem Bruta

()

2000 130518000 98848200 31669600 132

2001 141825000 108273780 33551220 131

2002 240240000 141616200 98623800 170

2003 459082000 243600385 215481615 188

2004 469660000 258414077 211245923 182

2005 280669000 303081352 (22412352) 093

2006 154123000 203517600 (49394600) 076

2007 235676000 188454000 47222000 125

2008 387188000 308524192 78663808 125

2009 400085031 316583151 83501880 126

2010 330498000 273278177 57219823 121

Fonte Elaborada a partir dos dados da CONAB 2012 e IBGE 2009

bruta com desacumulaccedilatildeo de capital no biecircnio 2005-2006 A recuperaccedilatildeo no quadriecircnio 2007-2010 apenas presentou um ajustamento agrave margem bruta proacutexima de 25 No agregado houve acumulaccedilatildeo de aproximadamente R$644 milhotildees no periacuteodo descontando os prejuiacutezos de 2005-2006 poreacutem com tendecircncia de compressatildeo da margem bruta nas uacuteltimas quatro safras em relaccedilatildeo a periacuteodo preacute-crise

Realizou-se o levantamento dos insumos da produccedilatildeo no total dos inputs (energia de entrada) para cada ano conforme Tabela 8 no sentido de verificar quais insumos apresentam maior importacircncia na composiccedilatildeo total na energia de entrada ou seja identificar o principal insumo responsaacutevel pela eficiecircncia ou ineficiecircncia termodinacircmica do sistema em estudo Os insumos analisados foram matildeo-de-obra adubos (NPK) sementes combustiacuteveis (gasolina e diesel) maacutequinas e agrotoacutexicos (herbicidas inseticidas formicidas e fungicidas) Eacute possiacutevel notar a partir da Tabela 8 que a participaccedilatildeo da matildeo-de-obra

na anaacutelise energeacutetica eacute bem reduzida de 01 com desvio-padratildeo tendendo a zero para todos os anos analisados demonstrando que processo de produccedilatildeo da soja eacute extremamente mecanizado

Os adubos apresentam a maior participaccedilatildeo no custo da produccedilatildeo e tambeacutem nos inputs de energia com inserccedilatildeo de 590plusmn72 no periacuteodo 2000-2010 A maior parcela eacute de foacutesforo e potaacutessio em proporccedilotildees variaacuteveis em funccedilatildeo da safra O uso de nitrogecircnio foi registrado somente no iniacutecio da seacuterie pois segundo Sfredo (2008) a fixaccedilatildeo bioloacutegica do nitrogecircnio (FBN) realizado pelas micorrizas presentes na raiz da planta de soja eacute a principal fonte de nitrogecircnio para a proacutepria cultura natildeo havendo necessidade de aplicar esse nutriente na adubaccedilatildeo

A participaccedilatildeo das sementes nos inputs de energia alcanccedilaram em meacutedia 77plusmn06 no periacuteodo analisado A partir da safra 2008 com o uso de milheto para cobertura de palhada tem-se uma maior participaccedilatildeo deste insumo



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Tabela 8 Participaccedilatildeo relativa () dos insumos na anaacutelise energeacutetica (kcal) da produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste 2000 a 2010

Safra Adubos Agrotoacutexicos Combustiacuteveis Sementes Maacutequinas MObra

2000 643 200 73 80 04 00

2001 635 217 68 75 04 00

2002 637 216 68 75 04 00

2003 629 231 62 74 04 01

2004 629 231 62 74 04 01

2005 629 231 62 74 04 01

2006 628 221 73 73 04 00

2007 628 221 73 73 04 00

2008 496 298 101 92 12 00

2009 493 300 110 84 13 00

2010 450 368 95 75 11 00

Meacutedia 590 249 77 77 06 00

Desvio-padratildeo 72 51 17 06 01 00

Fonte Elaborada a partir dos dados da CONAB 2012

A participaccedilatildeo meacutedia dos combustiacuteveis e de maquinaria foi crescente no periacuteodo pois satildeo insumos complementares Os combustiacuteveis alcanccedilaram meacutedia de 77plusmn17 e as maacutequinas de 06plusmn01 Haacute um claro fortalecimento do uso de maacutequinas agriacutecolas Na safra 2010 o uso de combustiacuteveis e maacutequinas recua poreacutem manteacutem-se acima do periacuteodo 2000-2007

Entretanto os agrotoacutexicos satildeo os insumos que apresentam maior expansatildeo no input energeacutetico da produccedilatildeo de soja No periacuteodo 2000-2010 este insumo representou 249plusmn51 Contudo desde a safra 2008 a aplicaccedilatildeo de agrotoacutexicos tem sido crescente alcanccedilando importantes 368 na safra 2010 Entre as explicaccedilotildees do grande consumo de agrotoacutexico eacute que a soja geneticamente modificada natildeo dispotildee de processos bioloacutegicos para produzir os compostos quiacutemicos para se defender passou a depender dos agrotoacutexicos para o controle bioloacutegico e afinal exigiraacute uma demanda de energia maior (Odum e Barret 2008)

Na Tabela 9 estatildeo listadas as participaccedilotildees relativas dos agrotoacutexicos no input energeacutetico da soja Os herbicidas satildeo os principais componentes do uso de agrotoacutexicos com meacutedia de 172plusmn25 no periacuteodo Sua participaccedilatildeo se eleva mais fortemente ao final da seacuterie quando a tecnologia OGM (organismos geneticamente modificados) passam a representar a principal tecnologia bioloacutegica Esta semente OGM necessita aporte maior de herbicidas posto que a planta de soja eacute resistente a este produto quiacutemico e o seu uso elimina outras plantas competidoras

Ademais a necessidade de insticidas eacute crescente e alcanccedilaram 50plusmn19 no periacuteodo com destaque de elevaccedilatildeo desde a safra 2008 Por sua vez os fungicidas passam a ser crescentemente necessaacuterios desde a safra 2006 quando a ferrugem asiaacutetica se torna mais relevante e as perdas econocircmicas consideraacuteveis A sua participaccedilatildeo meacutedia entre 2000 e 2010 foi de 26plusmn11 Nas uacuteltimas trecircs safras (2008-2010) a participaccedilatildeo dos



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fungicidas alcanccedilou cerca de 44 dos inputs energeacuteticos Por suposto os empreendimentos monocultores ao inveacutes de buscar soluccedilotildees preventivas que evitem a proliferaccedilatildeo de espeacutecies predadoras buscam resoluccedilotildees sintomaacuteticas aplicando controladores quiacutemicos Dialeticamente quanto mais utilizam controladores da natureza mais simplificam os ecossistemas gerando menor resistecircncia e resiliecircncia das culturas agriacutecolas Neste quadro o ataque de espeacutecies predadores pode se tornar exponencial

Desta forma percebe-se que o complexo quiacutemico-industrial eacute o grande fornecedor de energia para a sojicultura Somando as participaccedilotildees meacutedias dos adubos (590) dos agrotoacutexicos (249) dos combustiacuteveis (77) e das maacutequinas (06) tem-se 922 da energia exoacutegena incorporada no sistema produtivo somente de insumos industriais As fontes bioloacutegicas se limitam a 77 com a participaccedilatildeo das sementes sendo a matildeo-de-obra infinitesimal A energia do calcaacuterio eacute despreziacutevel

A anaacutelise da eficiecircncia termodinacircmica (ET) dos fluxos energeacuteticos para o sistema de produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste estaacute apresentada na Tabela 10 onde estatildeo mostrados os valores agregados de entrada (input) e saiacuteda (output) Nela pode ser observados os resultados da razatildeo outputinput com valores meacutedios de 397plusmn04 O maior saldo energeacutetico ocorreu em 2000 e no periacuteodo 2000-2006 haacute uma clara tendecircncia de reduccedilatildeo da eficiecircncia energeacutetica A partir da safra de 2007 percebe-se uma maior inserccedilatildeo de energia exoacutegena na forma de agrotoacutexicos A produtividade de eleva aos niacuteveis do iniacutecio da deacutecada e haacute uma recuperaccedilatildeo da eficiecircncia energeacutetica que retorna ao patamar acima de 400 Contudo no biecircnio 2009-2010 a eficiecircncia volta a cair abaixo de 400 na safra 2010

Os anos de maiores ineficiecircncia energeacutetica foram 2005 e 2006 com valores de 329 e 334 Esses valores revelam uma crise velada do sistema tendo como principal causador o alto custo energeacutetico do uso de agrotoacutexicos no troacutepico subuacutemido Apesar de estar acima

Tabela 9 Participaccedilatildeo relativa () dos agrotoacutexicos na anaacutelise energeacutetica (kcal) da produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste 2000 a 2010

Safra Herbicidas Inseticidas Fungicidas

2000 142 42 15

2001 167 32 18

2002 166 32 18

2003 164 49 18

2004 164 49 18

2005 164 49 18

2006 163 32 26

2007 163 32 26

2008 178 77 43

2009 177 77 46

2010 243 82 42

Meacutedia 172 50 26

Desvio-padratildeo 25 19 11




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da indicaccedilatildeo de Risoud (1999) e de Schroll (1994) para sistemas superavitaacuterios em energia a produccedilatildeo em Primavera do Leste eacute menos eficiente daqueles avaliados por Melo et al (2007) que indicaram um excedente de 547 e de 541 na sojicultura na regiatildeo Oeste do estado do Paranaacute nas safras de 2002 e 2003 respectivamente aleacutem do trabalho de Campos et al (2009) que estimou o excedente energeacutetico de 1864 na sojicultura de plantio direto em Medianeira no Oeste do Paranaacute Serratildeo e Ocaacutecia (2007) apresentam um excedente energeacutetico de 633 para a sojicultura do Rio Grande do Sul

A meacutedia de 397 em Primavera do Leste pode indicar que nestes espaccedilos natildeo haacute margem para grandes excedentes energeacuteticos com a tecnologia atual naquela regiatildeo Deve-se buscar novas abordagens e procedimentos que venham a elevar a produtividade conjugada com uma restriccedilatildeo de incorporaccedilatildeo de energia Os resultados da sojicultura em Primavera podem indicar a necessidade de reflexatildeo da manutenccedilatildeo desta atividade no troacutepico uacutemido e subuacutemido Para a construccedilatildeo de modelos produtivos mais proacuteximos da sustentabilidade torna-se imperativo identificar os sistemas produtivos

mais eficientes dadas as condiccedilotildees edafoclimaacuteticas locais e regionais E talvez a sojicultura em zonas tropicais uacutemidas e subuacutemidas necessitem de tais reflexotildees para se ter clareza da sua real capacidade de manutenccedilatildeo no longo prazo

O uso do balanccedilo energeacutetico distingue a energia uacutetil para propoacutesitos humanos e pode revelar que sistemas econocircmicos superavitaacuterios podem ser deficitaacuterios ou tendencialmente deficitaacuterios do ponto de vista energeacutetico Quanto menor a energia organizada que estaacute incorporada no produto final em relaccedilatildeo agrave energia organizada de entrada nos insumos maior a formaccedilatildeo de entropia no sistema em funccedilatildeo da perda de qualidade energeacutetica No caso de Primavera do Leste os insumos que apresentam crescimento elevado satildeo os agrotoacutexicos que podem inviabilizar a produccedilatildeo de soja tanto do ponto de vista energeacutetico quanto econocircmico

Em qualquer sistema de produccedilatildeo se espera a expansatildeo da produtividade para que haja cada vez maior excedente Em Primavera do Leste percebe-se que a produtividade no periacuteodo de 2000 a 2010 tende a manter-se

Tabela 10 Eficiecircncia termodinacircmica da produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste 2000 a 2010 (em kcal)

Safra Input Output Eficiecircncia Termodinacircmica

(OutputInput)

2000 274E+06 123E+07 449

2001 293E+06 124E+07 423

2002 295E+06 125E+07 423

2003 299E+06 120E+07 400

2004 299E+06 112E+07 375

2005 299E+06 984E+06 329

2006 299E+06 100E+07 334

2007 299E+06 124E+07 414

2008 292E+06 125E+07 428

2009 294E+06 120E+07 409

2010 321E+06 125E+07 390

Meacutedia 297E+06 118E+07 397




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estacionada em torno de 2946 tonhectare com desvio-padratildeo de 0248 tonhectare e um maacuteximo de 3130 tonhectare na safra de 2010

Como a produtividade da atividade agriacutecola (toneladas de sojahaano) depende da interaccedilatildeo dos processos bioloacutegicos com o meio fiacutesico eacute importante perceber as restriccedilotildees impostas pelos ecossistemas na tentativa de um desenvolvimento sustentaacutevel Caso a expansatildeo da produccedilatildeo de soja tenha com base a incorporaccedilatildeo de novas aacutereas e natildeo no aumento da produtividade cria-se dialeticamente uma antiacutetese

A antiacutetese baseia-se na negaccedilatildeo da complexidade da vida local em favor do monocultivo que gera na verdade menor capacidade de manutenccedilatildeo de estruturas bioloacutegicas Quanto maior a aacuterea aberta de cultivo menor a biodiversidade local e menor a interaccedilatildeo com o meio fiacutesico podendo reduzir a capacidade de resistecircncia dos agroecossistemas locais (resiliecircncia ecoloacutegica) Pelo princiacutepio da precauccedilatildeo o esforccedilo em produzir deveria focalizar-se predominantemente na intensificaccedilatildeo pelo uso de tecnologia apropriada reduzindo as perdas de biodiversidade de exposiccedilatildeo dos solos de possibilidade de lixiviaccedilatildeo e erosatildeo e da manutenccedilatildeo de populaccedilotildees bioloacutegicas Quanto menor a resistecircncia e resiliecircncia dos ecossistemas locais maiores seratildeo as possibilidades de ataques de populaccedilotildees aos agroecossistemas (Costa 2007) e isso explica o crescente uso de agrotoacutexicos na produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste Ou seja dialeticamente quanto mais se busca produzir com abertura de novas aacutereas o sistema se torna menos sustentaacutevel com crescente dependecircncia de insumos exoacutegenos para se manter

Uma mutaccedilatildeo gecircnica pode tornar a uma praga agriacutecola tolerante a determinado agrotoacutexico passando essas caracteriacutesticas a seus descendentes Com o uso intenso de um agrotoacutexico a populaccedilatildeo de organismos sensiacuteveis diminui e a dos resistentes aumenta por pressatildeo de seleccedilatildeo Nesses casos o agricultor responde aplicando altas doses do agrotoacutexico A praga por sua vez torna-se

resistente agraves altas doses do agrotoacutexico por um mecanismo de seleccedilatildeo natural Caso o agricultor resolva mudar de agrotoacutexico surgem os processos de resistecircncia cruzada De modo geral nos insetos os genes ou os grupos de genes responsaacuteveis pelos mecanismos de destoxificaccedilatildeo possuem um amplo espectro de accedilatildeo isto eacute satildeo capazes de codificar enzimas que metabolizam e degradam diferentes grupos quiacutemicos de agrotoacutexicos (Grisoacutelia 2005)

Como resultados mais objetivos da eficiecircncia energeacutetica e da margem bruta tem-se um vetor ciacuteclico de excedente energeacutetico em Primavera do Leste sem tendecircncia perceptiacutevel Aleacutem disso os dados indicam uma maior sensibilidade do sistema econocircmico em relaccedilatildeo agrave acumulaccedilatildeo de capital pois muitos eventos dependem de variaacuteveis externas e com grande oscilaccedilatildeo e se materializam tanto na funccedilatildeo custo quanto nos preccedilos da soja Haacute uma maior compressatildeo das margens ao final do periacuteodo analisado conformando um quadro de maior competitividade pelo excedente econocircmico

Por outro lado o sistema produtivo tem respondido aos efeitos dos impactos naturais incorporando mais energia externa para lsquoorganizarrsquo a produccedilatildeo em especial os agrotoacutexicos para dominar os iacutempetos das espeacutecies que porventura venham a se alimentar do precioso capital adiantado temporariamente aprisionado na planta de soja

Este processo conjugado com a tendecircncia geral de reduccedilatildeo da produtividade aumenta a entropia do sistema Esta entropia pode manter-se lsquoveladarsquo sob o sistema econocircmico enquanto vigorarem condiccedilotildees de acumulaccedilatildeo de capital por causa dos preccedilos da soja e das accedilotildees das estruturas institucionais

Caso as condiccedilotildees de reproduccedilatildeo social do capital venham a ser constrangidas seja por uma crise ecoloacutegica endoacutegena que leve a utilizar em forma crescente os agrotoacutexicos e fertilizantes ou por mudanccedila exoacutegena dos preccedilos ou condiccedilotildees institucionais a sojicultura de Mato Grosso pode incorrer em riscos crescentes com impactos



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consideraacuteveis no tecido produtivo e social regional

7 Consideraccedilotildees finais

A eficiecircncia termodinacircmica da soja em Primavera do Leste tem apresentado um indicador meacutedio de 397plusmn04 entre as safras de 2000 e 2010 Conforme Schroll (1994) sugere a eficiecircncia energeacutetica deve estar acima de 200 para ser considerada tendencialmente sustentaacutevel Para Risoud (1999) bastaria o sistema manter-se com um excedente acima de um para ser considerado superavitaacuterio

Contudo apenas avaliar o saldo energeacutetico natildeo seria suficiente Deve-se identificar as fontes dos insumos e a sua possibilidade de manutenccedilatildeo de longo prazo Apoiar-se em grandes fluxos de energia exoacutegena e potencialmente exauriacuteveis pode representar um grau elevado de risco Aleacutem disso deve-se avaliar o potencial toacutexico dos insumos utilizados Os agrotoacutexicos podem contaminar vaacuterios compartimentos ambientais aleacutem das populaccedilotildees fauniacutesticas e floriacutesticas no ecossistema circundante A adubaccedilatildeo pode interferir no equiliacutebrio das populaccedilotildees de bacias hiacutedricas pelo processo de eutrofizaccedilatildeo O uso de combustiacuteveis foacutesseis eleva a emissatildeo de carbono e natildeo se sustenta no longo prazo

Neste quadro deve-se envidar esforccedilos no monitoramento da sojicultura no troacutepico subuacutemido buscando perceber se haacute uma tendecircncia de ineficiecircncia energeacutetica que implicaria em um sistema produtivo insustentaacutevel Como a sojicultura apresenta uma margem bruta positiva em um uma anaacutelise superficial e economicista parece esconder uma crise ecoloacutegica endoacutegena

Uma compreensatildeo sistecircmica mais ampla necessita incorporar indicadores ecoloacutegicos e sociais Neste artigo buscou-se a interpretaccedilatildeo da concretude alicerccedilada com o indicador da eficiecircncia termodinacircmica Em estudos mais avanccedilados sugere-se a incorporaccedilatildeo de indicadores sociais Poreacutem independente de novas meacutetricas a eficiecircncia termodinacircmica de Primavera do Leste sofre

de problemas estruturais

O caacutelculo dos valores de eficiecircncia termodinacircmica dos fluxos energeacuteticos de um sistema constitui uma poderosa ferramenta de diagnoacutestico de sistemas produtivos agriacutecolas no que se refere agrave questatildeo energeacutetica podendo auxiliar na tomada de decisatildeo dos agricultores aleacutem de analisar a propriedade como um sistema complexo e natildeo apenas um subconjunto de um sistema

Considera-se possiacutevel que os agentes econocircmicos quanto os planejadores do desenvolvimento regional e local a reajustar seus sistemas produtivos em direccedilatildeo agrave sustentabilidade usando os indicadores energeacuteticos conjugados com indicadores econocircmicos e sociais A negligecircncia no reconhecimento da crise ecoloacutegica e econocircmica da regiatildeo e a falta de providencias adequadas pode levar a uma forte crise socioeconocircmica

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analyzed period while the biological inputs (seeds and hand labor) reached 77 of the energy inputs It is concluded that the production of soybean in Primavera do Leste needs to be planned and adjusted to become sustainable

Keywords energy flows pesticides soy sustainability Mato Grosso

JEL Codes Q01 Q12 Q57

1 Introduccedilatildeo

O campo de estudo desse trabalho eacute o municiacutepio de Primavera do Leste em Mato Grosso que tem uma economia fortemente atrelada agrave agricultura destacando-se a produccedilatildeo de soja e algodatildeo A soja foi cultura escolhida por sua importacircncia econocircmica que movimenta a cadeia do agronegoacutecio em Mato Grosso Estimativas de Faria et al (2009) para o exerciacutecio de 2006 registram que o setor de cultivo e beneficiamento de soja gerou R$7201 bilhotildees de saldo positivo na Balanccedila Comercial de Mato Grosso equilibrando o deacuteficit interno com a economia paulista garantindo um saldo liacutequido de R$6783 bilhotildees descontando as aquisiccedilotildees internas e externas No agregado somando o comeacutercio nacional com o internacional o setor de cultivo e beneficiamento de soja eacute responsaacutevel por 54 das saiacutedas de mercadorias O comeacutercio externo eacute tatildeo forte para a economia regional que o superaacutevit representou em 2006 216 do PIB mato-grossense

Desta forma a formaccedilatildeo da riqueza regional e as possibilidades de desenvolvimento socioambiental passam de forma direta ou indireta pela sojicultora que por sua importacircncia merece estudos para que essa atividade se prolongue no tempo Natildeo se quer afirmar que a sojicultura eacute a uacutenica atividade econocircmica de importacircncia no tecido produtivo regional ou que natildeo se possa no futuro selecionar outra trajetoacuteria teacutecnica econocircmica e poliacutetica que substitua a monocultura da soja agroquiacutemica mas tatildeo somente que neste momento histoacuterico a sojicultura representa grande parcela do esforccedilo social de gerar renda e riqueza em Mato Grosso

A produccedilatildeo neste setor eacute de capital-intensivo devido agrave modernizaccedilatildeo mecacircnica bioloacutegica e quiacutemica que vem sendo implantada desde a deacutecada de 1970 mas que ganhou forccedila a

partir da deacutecada de 1990 (Pereira 1995 Pereira 2007) A produccedilatildeo em Primavera do Leste possui as mesmas caracteriacutesticas verificadas em outras aacutereas produtoras de soja de Mato Grosso como na regiatildeo Norte que envolvem os municiacutepios de Sorriso Sapezal Nova Mutum Campo Novo do Parecis Nova Ubiratatilde Diamantino Lucas do Rio Verde Campos de Juacutelio Santa Rita do Trivelato Brasnorte Tapurah Ipiranga do Norte Nova Maringaacute Vera Sinop e Satildeo Joseacute do Rio Claro dentre outras desta regiatildeo Tambeacutem apresenta similaridade com a produccedilatildeo que eacute desenvolvida na regiatildeo Sudeste e Nordeste de Mato Grosso como Querecircncia Itiquira Campo Verde Canarana e Santo Antocircnio do Leste

Como um estudo de caso pode indicar uma tendecircncia regional acredita-se que a anaacutelise da eficiecircncia energeacutetica e econocircmica da produccedilatildeo de soja em Primavera do Leste permitiraacute identificar as condiccedilotildees estruturais de produccedilatildeo em Mato Grosso Respeitando as limitaccedilotildees do estudo em funccedilatildeo das especificidades microrregionais este trabalho lanccedila luzes sobre a eficiecircncia energeacutetica e as tendecircncias de utilizaccedilatildeo de energia na produccedilatildeo de soja no troacutepico uacutemido brasileiro e sobre a capacidade de manutenccedilatildeo econocircmica do empreendimento

Dentro deste cenaacuterio eacute possiacutevel refletir quanto ao aumento do consumo dos insumos nos inputs (entradas) no processo produtivo sojeiro em Primavera do Leste em relaccedilatildeo agrave eficiecircncia econocircmica e energeacutetica deste sistema sendo este o desafio do trabalho pois haacute muito tempo os estudos da economia agriacutecola voltam-se apenas agraves questotildees de custo de produccedilatildeo produtividade logiacutestica e de ganho de escala Em funccedilatildeo deste cenaacuterio tem passado despercebidas agraves implicaccedilotildees do uso sustentaacutevel da estrutura orgacircnica e inorgacircnica da terra nas propriedades rurais sendo que o sistema



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2000 13693677 2906648 170000

2001 13988351 3121408 183000

2002 16376035 3818231 220000

2003 18527544 4414496 251500

2004 21601340 5279928 262680

2005 23426756 6121724 278189

2006 22082666 5822867 220000

2007 20571393 5075079 200000

2008 21063721 5470149 210000

2009 21761782 5831468 220000

2010 23339094 6227044 224600




2000 32820826 8774470 522070

2001 37907259 9533286 567300

2002 42107618 11684885 686400

2003 51919440 12965983 752593

2004 49549941 14517912 736721

2005 51182074 17761444 684558

2006 52464640 15594221 550440

2007 57857172 15275087 620200

2008 59242480 17212351 656250

2009 57345382 17962819 660000

2010 68756343 18787783 703188




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2000 58146 13051750 76775 3204

2001 59166 14182500 77500 3099

2002 64371 24024000 109200 6964

2003 96859 45908307 182538 8846

2004 98376 46965870 178795 8175

2005 108948 28066766 100891 -740

2006 92508 15412320 70056 -2427

2007 94227 23567600 117838 2506

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1997)


5 Metodologia










Em que








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Lockeretz 1980)

Nitrogecircnio



Lockeretz 1980)

Foacutesforo



Lockeretz 1980)

Potaacutessio












Ulbanere (1988)




Ulbanere (1988)





56746kcalh









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Safras

Ad

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Herb

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Safras

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T)

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REFEREcircNCIAS









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1997)


5 Metodologia










Em que








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Lockeretz 1980)

Nitrogecircnio



Lockeretz 1980)

Foacutesforo



Lockeretz 1980)

Potaacutessio












Ulbanere (1988)




Ulbanere (1988)





56746kcalh









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Safra Custo


2000 1136 1500

2001 1145 1500

2002 1238 2100

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Safras

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1997)


5 Metodologia










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Ulbanere (1988)





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1997)


5 Metodologia










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Ulbanere (1988)





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Safras

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5 Metodologia










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(OutputInput)

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REFEREcircNCIAS









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()

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REFEREcircNCIAS









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REFEREcircNCIAS









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