anÁlise da atividade dos operadores de prensas...
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ANÁLISE DA ATIVIDADE DOS OPERADORES DE
PRENSAS EXCÊNTRICAS EM UMA INDUSTRIA METALÚRGICA: UM DIAGNOSTICO DO POSTO
DE TRABALHO
VITOR APARECIDO PEREIRA DA COSTA (UFSCar ) [email protected]
Andrea Regina Martins Fontes (UFSCar ) [email protected]
Renato Luvizoto Rodrigues de Souza (UFSCar ) [email protected]
Frente à relevância do setor de construção civil no cenário socioeconômico nacional, este artigo buscou verificar as condições de trabalho, a partir da ergonomia da atividade, em uma indústria metalúrgica fornecedora de materiais metálicos para a construção civil localizada na cidade de Araçariguama/SP. A justificativa deste estudo parte da necessidade de aumentar a segurança dos trabalhadores desta cadeia produtiva e reduzir os custos adicionais oriundos de mão de obra ausente e /ou reparação de danos causados a trabalhadores que não tem condições propícias de segurança. Desta forma, o objetivo foi elaborar um diagnóstico da situação atual do posto de corte por prensa excêntrica de bobinas de aço. O método de pesquisa foi pautado na análise ergonômica do trabalho (ATE) e contou com visitas exploratórias, análise de documentos e entrevistas semi estruturadas. Constatou-se a partir da análise da atividade que a realização do trabalho contava riscos inerentes ao design dos equipamentos; com posturas inadequadas devido as condições impróprias e a falta de ajustes da cadeira; excesso de esforço devido as exigências da tarefa em relação ao palete; além da falta de equipamentos de proteção individual (EPI). Por fim, o artigo apresenta proposições de melhorias.
Palavras-chaves: Indústria metalúrgica, construção civil, prensa excêntrica, ergonomia, análise ergonômica do trabalho
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1. Introdução
O setor de construção civil possui elevada importância no cenário socioeconômico nacional,
pois é responsável pela construção de diversos estabelecimentos fundamentais para o
funcionamento da economia e da sociedade. Segundo a Fundação João Pinheiro apud Dacol
(1996, p.48): “a atividade construtora é uma das responsáveis pela criação das próprias bases
da moderna sociedade industrial, assumindo a função de montagem da infraestrutura
econômica e social indispensável ao prosseguimento do processo de industrialização”. Esse
setor atualmente é responsável por 5,8% do PIB nacional (IBGE, 2010).
Para o IBGE (2010), a construção civil empregava cerca de 2,5 milhões de pessoas no Brasil
que receberam naquele ano R$ 41,9 bilhões em salários e outras retiradas. O valor total das
obras públicas foi de R$ 107 bilhões, correspondendo a 42,8% do valor total dos gastos com
construção em 2010. As 74,9 empresas do setor realizaram investimentos de R$ 7,4 bilhões
naquele ano.
Esse setor é constituído por uma série de atividades de elevada complexidade, relacionadas
entre si pela diversificação de produtos e processos. Usualmente, classifica-se a Indústria da
Construção Civil nos subsetores de Materiais de Construção, Edificações e Construção Pesada
(SEBRAE-MG, 2005).
O subsetor de Materiais de Construção envolve a produção dos materiais, como tintas,
cimento e cabos elétricos, excetuando-se a fabricação de máquinas e equipamentos. Cada
material de construção empregado na obra possui a sua cadeia produtiva, contribuindo para o
caráter heterogêneo dos segmentos da cadeia. Já o subsetor de Construção Pesada abrange
atividades relacionadas à construção de infraestrutura, isto é, obras de construção de rodovias,
ferrovias, portos, aeroportos, centrais de abastecimento de água, montagem de instalações
industriais, entre outros. Por fim, o subsetor de Edificações compreende a construção de
edifícios residenciais, comerciais e para o setor público, além das manutenções e reformas
correntes (ABRAMAT/FGV, 2009).
Nessa perspectiva, Mello (2007) discorre que a indústria da construção civil atua sobre uma
extensa cadeia produtiva de fornecedores, serviços de comercialização e manutenção.
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Do mesmo modo, Vergna (2007) acrescenta que esse setor é diferente dos outros, pois os seus
outputs são projetos únicos e há uma considerável complexidade de relações ao longo de sua
cadeia produtiva. A Figura 1 apresenta um modelo geral da cadeia produtiva da construção
civil.
Figura 1: Esquema geral da cadeia de construção civil
Fonte: Deconcic/Fiesp (2008), p.13
Como pode ser observado pela Figura 1, os subsetores da Construção Pesada e Edificações
possuem como início de seus processos produtivos o subsetor de Materiais de Construção (elo
a montante das cadeias). Os demais elos, a montante e a jusante, ou correspondem a
prestadores de serviços (subempreiteiras) ou comerciantes e distribuidores.
Da mesma forma, observa-se que o relacionamento entre empresa construtora e fornecedores
ainda possui barreiras que comprometem a eficiência da cadeia produtiva da construção civil,
como salienta Reis (1998) ao afirmar que essa relação é pouco cordial e de curta duração,
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dificultando o estabelecimento de vínculos quanto à continuidade do fornecimento. Outros
entraves são, conforme Reis (1998), que o monitoramento da capacidade dos fornecedores em
atender pedidos da empresa construtora em relação à qualidade e prazos é pouco usual e que
há dificuldade em ter uma visão integrada da construção civil, já que, diferentemente das
demais indústrias, ela ainda não pode ser considerada uma montadora, o que contribui para a
presença de fornecedores de materiais de baixa qualidade e indiferentes às condições de
trabalho dos seus operários.
Devido a essa considerável relevância no cenário nacional, as empresas que pertencem à
cadeia produtiva da construção civil necessitam, cada vez mais, aumentar a segurança de seus
trabalhadores e reduzir os seus custos adicionais oriundos de mão-de-obra ausente e/ou
reparação de danos causados a trabalhadores que não tem condições propícias de segurança.
Deste modo, o estudo da ergonomia surge para auxiliar a definir o espaço adequado para a
execução das tarefas dos trabalhadores de forma segura e com qualidade, influenciando na
produtividade das empresas (IIDA, 2005).
Dentro deste contexto, o principal objetivo desse trabalho consiste na elaboração de um
diagnóstico da situação atual do posto de corte por prensa excêntrica de bobinas de aço em
uma indústria metalúrgica, fornecedora de materiais metálicos para a construção civil
localizado na cidade de Araçariguama/SP. Pretende-se ainda realizar a proposição de
melhorias no referido posto, por meio de conceitos e ferramentas da Ergonomia da Atividade.
2. Acidentes e riscos do trabalho na cadeia de construção civil
O setor de construção civil é um dos que apresentam os índices mais elevados de acidentes de
trabalho. Segundo Araújo (1998), esse setor está em segundo lugar na frequência de acidentes
registrados em todo o país, tendo estes as mais diversas causas, como: falta de planejamento
adequado, utilização inadequada de materiais e equipamentos, falhas na execução, falta de
informação e motivação; elevada rotatividade de mão-de-obra, más condições de trabalho,
falta de treinamentos adequados e uso incorreto de equipamentos de proteção.
Os dados estatísticos de Acidentes de Trabalho de 2011 divulgados pelo Ministério da
Previdência Social indicam, em comparação com os dos anos anteriores, um pequeno
aumento no número de acidentes de trabalho registrados.
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Vale ressaltar que os setores industriais com os maiores números de ocorrências foram o de
alimentos e bebidas com 59.976 acidentes e de construção civil com 54.664 registros (MPAS,
2011).
Entretanto, esses dados consideram apenas os acidentes ocorridos nos canteiros de obras,
desconsiderando os números de acidentes que ocorrem ao longo da cadeia produtiva do setor.
Ao realizar uma análise sistêmica dessa cadeia, percebe-se que os índices referentes aos
acidentes de trabalho em relação à construção civil seriam maiores, especialmente ao enfocar
as indústrias metalúrgicas fornecedoras das construtoras, as quais possuem números
alarmantes de ocorrência de acidentes, principalmente devido à notória presença de prensas e
similares em suas instalações, que são causadores de aproximadamente 21 % do total de
acidentes de trabalho no país, conforme a Previdência Social (2005).
Em relação aos riscos de trabalho nas empresas pertencentes a essa cadeia produtiva, segundo
Araújo (1998), deve-se focalizar as atenções na prevenção de acidentes e higiene do trabalho
para evitar o afastamento temporário do trabalhador e o efeito psicológico do mesmo sobre o
grupo de trabalhadores. Nesse sentido, a questão da segurança deve constar no planejamento
de qualquer item referente à organização do trabalho (ARAÚJO, 1998).
3. Ergonomia da atividade
A Ergonomia da Atividade é fundada sobre a descoberta da disparidade entre o trabalho
prescrito, aquele exigido pela gerência, e o trabalho real, aquele que é efetivamente realizado
pelo trabalhador, enfatizando que todo trabalho possui complexidade, isto é, ela possui como
foco central de estudo e intervenção a complexidade das situações de trabalho e a
multiplicidade de aspectos que refletem sobre a segurança e a saúde dos trabalhadores,
visando conciliá-las à produtividade e à qualidade do trabalho. Desse modo, ela objetiva
elaborar um diagnóstico com vistas a transformar as condições laborais, na perspectiva de
melhorar a relação homem-trabalho. (DANIELLOU, 2004; GUÉRIN et al., 2001).
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é uma abordagem ascendente e proporciona
elencar as percepções dos trabalhadores sobre o posto de trabalho.
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A coleta de dados baseia-se na junção das etapas da AET com atividades projetivas, a partir
dos seguintes procedimentos:
− Análise da demanda: consiste na análise do contexto global e na escolha do recorte de
análise;
− Análise da tarefa: refere-se à análise do trabalho, dos processos, do produto e do
trabalho prescrito. Nesta etapa, utiliza-se a aplicação da ferramenta de análise de risco
Ergonomics Workplace Analysis (EWA) (AHONEN et al., 1989) para avaliação dos
constrangimentos a que os trabalhadores estão submetidos (considerando posturas e
movimentos, o espaço de trabalho, esforço físicos, riscos de acidentes, demandas
cognitivas e organizacionais); e, posteriormente, desenvolve-se a Ficha de Descrição
da Tarefa (FDT) (CAMAROTTO, 2007);
− Análise da atividade: consiste na interação com os trabalhadores, em entrevistas
abertas a partir de um roteiro de questionário de percepção (SOUZA e MENEGON,
2002);
− Diagnóstico: corresponde às conclusões da fase de análise e da elaboração dos
requisitos de análise. Nesta fase são elaborados os requisitos de projeto;
− Proposição de melhorias: trata-se de um projeto participativo com os trabalhadores da
empresa e da avaliação da atividade futura (DANIELLOU, 2004).
4. Metodologia
Primeiramente, realizaram-se visitas exploratórias na empresa como forma de analisar a
situação atual do posto de trabalho definido. Por meio dessas visitas, realizou-se a coleta de
dados. A coleta contou com informações obtidas dos operadores das prensas excêntricas bem
como fotos, documentos e entrevistas.
Uma vez coletados esses dados, aplicou-se parcialmente a AET (Análise Ergonômica do
Trabalho) para o posto de trabalho em questão, conforme o Tabela 1:
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Tabela 1: Aplicação parcial da AET
Fonte: Adaptado de Fontes et. al., (2008).
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5. Apresentação e análise dos resultados
Ao aplicar parcialmente a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) no posto de trabalho em
voga, pretende-se obter informações referentes a tarefa que a empresa espera que o
trabalhador exerça (tarefa prescrita) e a atividade executada nesse posto, desse modo, a partir
desses dados, visa-se realizar uma comparação entre a tarefa e atividade do trabalhador. Da
mesma forma, tornar-se-á possível a elaboração de propostas de melhoria no local estudado,
considerando a produtividade da empresa e o bem-estar do trabalhador.
5.1 Análise da demanda e da tarefa
A empresa em questão é uma indústria metalúrgica de pequeno porte e foi fundada por um ex-
engenheiro civil no final dos anos 90. Ela fornece materiais metálicos somente para a
construção civil, tais como andaimes, fôrmas, escoramentos, painéis, alinhadores, vigas
diagonais, chapas de aço, entre outros produtos.
Localiza-se em Araçariguama – SP, possui uma área aproximada de 5000 m², além de 70
funcionários divididos em dois turnos e uma variedade de cerca de 500 produtos. Atualmente
ela possui um único cliente, que é uma construtora multinacional e, aproximadamente, 250
fornecedores.
O fato de a empresa ser de pequeno porte e de possuir apenas um cliente a torna submissa às
exigências da construtora, já que ela é totalmente dependente deste cliente, por isso
dificilmente a empresa contesta alguns empecilhos recorrentes nessa relação como a elevada
frequência de projetos do cliente que necessitam de ajustes de medidas ou as mudanças
constantes nas prioridades dos pedidos e, por consequência, nos prazos de entrega. Desse
modo, a empresa precisa se adequar às necessidades da construtora para sobreviver no
mercado.
Do mesmo modo, como a cadeia produtiva da construção civil não é tão integrada como, por
exemplo, a automobilística, e a construtora possui inúmeros fornecedores. Desta forma, a
construtora não estende o mesmo nível de controle e de exigência de qualidade para todos os
fornecedores de sua cadeia, inclusive para o fornecedor em questão, logo, ocasionalmente, há
devoluções de produtos fornecidos com defeitos. Além disso, a empresa analisada possui
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irregularidades quanto ao atendimento da legislação trabalhista e condições precárias de
trabalho. Estas são negligenciadas tanto pela empresa quanto pela construtora, que demostra
preocupação estrita com o atendimento de seus pedidos, desconsiderando a realidade
trabalhista desse fornecedor.
O posto de trabalho escolhido para a realização deste trabalho foi o da prensa excêntrica de
corte de engate por chaveta da marca Harlo com 100 ton de capacidade, utilizada no corte de
chapas de aço de diversos tamanhos.
É importante ressaltar que o processo de corte se inicia neste posto de trabalho, isto é, após as
bobinas de aço passarem pelo processo de desbobinamento, elas são cortadas em chapas de
diferentes dimensões. Em seguida, passam pelos processos de estampagem nas outras prensas,
montagem, soldagem, acabamento e expedição.
Ao se observar de modo minucioso a execução da tarefa, foi possível identificar alguns
problemas referentes ao posto de trabalho. Destaca-se a falta de uma grade de proteção na
área de corte da prensa e de alguns equipamentos de proteção individual (EPIs) em condições
inadequadas de uso, o que influencia na segurança do trabalhador; a utilização de uma cadeira
inadequada para o posto devido ao seu elevado peso, dificultando a sua movimentação, e à
falta de um ajuste de altura em sua estrutura, afetando a postura do trabalhador e podendo,
consequentemente, ocasionar lesões posturais, já que há um rodízio de trabalhadores no posto
de trabalho de acordo com a disponibilidade de cada operador de prensa, pois há 8 prensas
para 5 operadores.
Da mesma forma, foi constatado que o palete, onde as peças são agrupadas após serem
cortadas, possui uma altura baixa (78,5 cm), obrigando o trabalhador a realizar movimentos
que podem prejudicar a sua saúde.
5.2. Riscos de acidentes
Os riscos identificados foram os de falha de design da máquina, decorrentes da falta de uma
grade de proteção na área de corte da prensa excêntrica, sendo que, de acordo com o PPRPS
(Programa de Prevenção de Riscos em Prensas e Similares) essas prensas não podem permitir
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o ingresso das mãos ou dos dedos dos trabalhadores na zona de prensagem, por isso, devem-
se adotar as seguintes medidas de proteção nessa área:
− Enclausuramento da zona de prensagem, com frestas que permitam apenas o ingresso
do material, e não dos dedos e mãos nas áreas de risco, conforme a NBR 13761:1996.
Pode ser constituído de proteções fixas ou móveis, conforme a NBR NM 272:2002; ou
− Operar somente com ferramentas fechadas, significando o enclausuramento do par de
ferramentas, com frestas ou passagens que não permitam o ingresso de dedos e mãos
nas áreas de risco, conforme as NBR 13760:1996 e 13761:1996.
A ausência desta proteção aumenta consideravelmente o risco de ocorrência de graves
acidentes.
Acerca dos riscos referentes à atividade do trabalhador, pode-se citar a ausência de EPIs
adequados, como luvas, protetor auricular, entre outros, porém os riscos relacionados aos
ruídos, iluminação, energia e utilidades, não foram constatados na empresa.
Observou-se que o risco de acidentes é grande e a severidade é gravíssima.
5.3. Ficha de descrição da tarefa de corte de bobina de aço
Com o objetivo de caracterizar as tarefas executadas pelo operador, foi aplicada a Ficha de
Descrição da Tarefa (FDT) (CAMAROTTO, 2007).
Tabela 2: Ficha de descrição da
tarefa
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Fonte: Adaptado de Camarotto, 2007
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Vale ressaltar que as etapas descritas na Tabela 2 são referentes à tarefa de corte de chapas de
aço de grandes dimensões, sendo que para o corte de chapas de aço de pequenas dimensões a
única diferença é a utilização de uma pinça magnética para movimentar as chapas da mesa da
prensa para um palete diferente que possui os lados fechados.
5.4. Análise da atividade
Com o intuito de analisar a atividade do trabalhador, ou seja, as ações que ele efetivamente
realiza na execução do trabalho, aplicou-se uma entrevista aberta a partir de um roteiro
presente no Anexo.
Com base nas respostas obtidas na entrevista, observou-se que há muitos fatores que afetam a
satisfação, segurança e o desempenho do trabalhador na empresa.
Sobre as ferramentas e outros dispositivos técnicos, por exemplo, observou-se que eles não
atendem a tarefa do trabalhador, conforme o discurso a seguir:
“Sim, utilizo algumas ferramentas, como pinças magnéticas para movimentar chapas
pequenas da mesa da prensa para o palete, mas elas não estão em condições apropriadas de
uso. Já pedi várias vezes para que houvesse a troca dessas ferramentas, porém nada foi feito
ainda.”
Os discursos dos outros quatro trabalhadores que já operaram no mesmo posto foram muito
similares.
6. Diagnóstico e proposição de melhorias
Basicamente, os problemas identificados foram:
− Em relação à postura no trabalho, constatou-se que há a utilização de uma cadeira
excessivamente pesada e que não possui ajuste de altura, afetando consideravelmente
a postura do trabalhador e podendo ocasionar lesões no corpo, principalmente na
coluna;
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− Em relação ao esforço físico, percebeu-se que há o uso de paletes demasiadamente
baixos e que obrigam o trabalhador a exercer um esforço excessivo sobre sua coluna
ao ter que movimentar as chapas grandes de aço da mesa da prensa para o palete,
prejudicando a sua integridade física;
− Em relação à falta de equipamentos, observou-se que há falta de equipamentos de
proteção individual (EPIs), podendo gerar lesões nas mãos dos trabalhadores e falta de
ferramentas em condições adequadas de uso, afetando o desempenho dos
trabalhadores e podendo ocasionar acidentes. Da mesma forma, há a ausência de uma
grade de proteção na zona de prensagem da prensa, aumentando significativamente os
riscos de ocorrer graves acidentes no posto de trabalho.
Propõe-se como melhorias a esses problemas, uma maior atenção e comprometimento da
gerência da empresa em relação às condições dos EPIs e das ferramentas utilizadas pelos
trabalhadores, de modo a assegurar que as condições dos equipamentos fornecidos sejam
adequadas.
Em relação à cadeira, sugere-se que sejam colocados rodízios e ajuste de altura em sua
estrutura ou que haja a aquisição de uma cadeira que possua essas características, desse modo,
possibilitando a qualquer operador da prensa regular a altura da cadeira e a sua distância em
relação a ela, aumentando, assim, o conforto no posto de trabalho.
A proposição de melhoria para o problema da altura dos paletes é a utilização de um palete
que possua uma altura adequada para qualquer trabalhador que possa operar a prensa, sendo
que a definição dessa altura seria baseada no nível do cotovelo, na qual é igual a altura do
cotovelo com o braço em posição relaxada (AHONEN et al., 1989). Desse modo, evitando
que o trabalhador aplique um esforço excessivo sobre sua coluna.
A Figura 2 representa um modelo do posto de trabalho com a cadeira e o palete sugeridos:
Figura 2: Posto de trabalho com a cadeira e palete propostos
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Fonte: Autor
Acerca do problema das grades de proteção nas prensas, propõe-se que, conforme a PPRPS
(Programa de Prevenção de Riscos em Prensas e Similares), seja realizado o enclausuramento
da zona de prensagem ou que ocorra operação somente com as ferramentas fechadas, como
mostra a Figura 3 e 4, respectivamente. Dessa forma, minimizando a ocorrência de acidentes
nessa área.
Figura 3: Enclausuramento da zona de prensagem
Fonte: Silva, 2008, p.16
Figura 4: Ferramenta fechada
Fonte: Silva, 2008, p.17
7. Considerações finais
Considerando as limitações presentes na elaboração desse trabalho como a hesitação inicial de
alguns trabalhadores em responder as perguntas sobre suas condições de trabalho, temendo
afirmar algo que comprometesse a manutenção do seu emprego, e a participação escassa da
gerência durante o andamento da pesquisa, pode-se dizer que os objetivos propostos foram
alcançados, pois, embasando-se nos conceitos da Ergonomia da Atividade e nos declarações
dos trabalhadores do posto de trabalho analisado, pôde-se construir um diagnóstico
condizente com a realidade.
Do mesmo modo, utilizando como base esse diagnóstico e as ideias dos operadores de prensa
foi possível elaborar melhorias plausíveis e que não fossem tão onerosas para a empresa
adotar.
A contribuição desse trabalho para o aprendizado do autor foi significativo, pois ele pôde se
aprofundar no conhecimento referente à Ergonomia, analisando a realidade de um ambiente
empresarial e percebendo o enorme abismo que há entre a teoria aprendida no ambiente
acadêmico e a prática adotada nas empresas.
Caso essas melhorias sejam implantadas, a contribuição desse trabalho para a empresa em
voga será considerável, tanto para o bem-estar, segurança e satisfação do trabalhador quanto
para o aumento da sua produtividade. Logo, percebe-se a grande relevância que a aplicação
dos fundamentos da Ergonomia da Atividade possui para a geração de melhorias em um
ambiente empresarial.
REFERÊNCIAS
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Araraquara, 2008. 89f. Disponível em:< http://www.segurancaetrabalho.com.br/download/prensas-kleber.pdf>. Acesso em Junho 2013. VERGNA, José Rafael Gatti. Formação e gerência de redes de empresas de construção civil: sistematização de um modelo de atores e recursos para obras de edificações. 2007. 97f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2007.
Anexo - Roteiro para a entrevista
1. Você usa algum tipo de Equipamento de Proteção Individual (EPI)? Se sim, eles estão
em boas condições de uso? Caso a resposta seja negativa, por que não usa?
2. Você utiliza algum tipo de ferramenta durante o seu trabalho? Se sim, elas estão em
condições adequadas de uso?
3. O espaço que você dispõe para trabalhar é apropriado para a sua operação?
4. Qual sua postura mais comum nesse posto de trabalho? Essa postura te incomoda?
5. Você se esforça muito na realização do seu trabalho? Se sim, o que você faria para
diminuir o esforço?
6. Quanto tempo você costuma trabalhar neste posto de trabalho sem pausas para
descanso?
7. Já sofreu algum acidente nesse posto ou já testemunhou um acidente em outros postos
similares ao seu? Você se sente seguro trabalhando nesse posto?
8. Você tem sentido algum tipo de desconforto ou dor constante devido ao trabalho? Se
sim, em qual parte do corpo?
9. Qual a sua carga diária de trabalho (quantidade de cortes, no caso)? Você considera o
seu trabalho muito repetitivo? Quantos ciclos diários você costuma realizar?
10. Você tem liberdade para sugerir ou realizar alguma melhoria no seu posto de trabalho?
Se sim, você já realizou ou sugeriu alguma?