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ANÁLISE COMPREENSIVA DO PROCESSO DE MODELAGEM DAS AMOSTRAS EM UMA INDÚSTRIA DE CALÇADOS Andreia Gabriela Arnold (FEEVALE) [email protected] Dusan Schreiber (FEEVALE) [email protected] O objetivo deste trabalho é analisar as especificidades do processo de modelagem das amostras de uma indústria de calçados localizada na região sul do país. Para alcançar este objetivo os autores optaram pela estratégia de estudo de caso, abordagem qualitativa, com a coleta de dados empíricos por meio de observação participante e levantamento documental. O trabalho se justifica pela relevância da modelagem para o sucesso do lançamento de novas coleções de calçados no mercado. As etapas desta operação foram analisadas com base no referencial teórico descrito neste trabalho, e evidenciou-se que para o desenvolvimento e confecção de novos modelos de calçados são necessárias várias etapas, que iniciam com a busca pela tendência da moda da estação, e terminam com a liberação destes modelos para produção em larga escala. Palavras-chave: calçado, tendência, amostras, modelagem. XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens avançadas de produção”

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ANÁLISE COMPREENSIVA DO PROCESSO DE

MODELAGEM DAS AMOSTRAS EM UMA

INDÚSTRIA DE CALÇADOS

Andreia Gabriela Arnold (FEEVALE)

[email protected]

Dusan Schreiber (FEEVALE)

[email protected]

O objetivo deste trabalho é analisar as especificidades do processo de

modelagem das amostras de uma indústria de calçados localizada na região

sul do país. Para alcançar este objetivo os autores optaram pela estratégia

de estudo de caso, abordagem qualitativa, com a coleta de dados empíricos

por meio de observação participante e levantamento documental. O trabalho

se justifica pela relevância da modelagem para o sucesso do lançamento de

novas coleções de calçados no mercado. As etapas desta operação foram

analisadas com base no referencial teórico descrito neste trabalho, e

evidenciou-se que para o desenvolvimento e confecção de novos modelos de

calçados são necessárias várias etapas, que iniciam com a busca pela

tendência da moda da estação, e terminam com a liberação destes modelos

para produção em larga escala.

Palavras-chave: calçado, tendência, amostras, modelagem.

XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens

avançadas de produção”

Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

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1 INTRODUÇÃO

A moda tem como base a tendência do momento, e possui grande representatividade

no mercado consumidor. A grande maioria das empresas, dos mais variados segmentos,

procura seguir a tendência atual no momento de confeccionar seus produtos (SEFERIN,

2012). O setor responsável pela confecção destes novos modelos, nas indústrias de calçados, é

a modelagem. Para Santos (2008, p.14) o setor de modelagem “é o responsável pelo desenho,

planificação e otimização do corte dos moldes do calçado para o processo produtivo”.

Diante deste contexto, este trabalho tem como objetivo analisar as especificidades do

processo de modelagem de amostras em indústria de calçados. Quanto à metodologia, este

estudo classifica-se como: descritivo, estudo de caso com abordagem qualitativa, cujos dados

foram obtidos através de observação participante e levantamento documental. O estudo de

caso foi realizado no setor de modelagem de uma empresa de calçados femininos, localizada

na cidade de Nova Hartz - RS.

O trabalho tem início com a abordagem teórica sobre as etapas seguidas pelo setor de

modelagem para a confecção de amostras. Na metodologia é apresentada a empresa além de

procedimentos adotados na pesquisa. Na análise de resultados, as evidências encontradas são

comparadas com o teor da literatura reviusada. O trabalho finaliza com as Considerações

Finais e Referências.

2. O processo de modelagem no setor calçadista

A participação das empresas calçadistas em feiras pode ser o motivo inicial para a

criação de novos modelos. Furlan (2003, p.153) resume o significado de feiras comerciais

para as empresas falando que, “são espaços privilegiados de promoção e venda, onde

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as forças de mercado se manifestam reunindo fornecedores, clientes, concorrentes, tecnologia

e muitos contatos”.

De acordo com Choklat (2012), o setor de calçados segue as duas temporadas da moda

que são outono/inverno e primavera/verão. Nestas temporadas, ocorrem as feiras de sapatos

onde as empresas expõem seus modelos para profissionais da área e membros da imprensa,

não sendo aberta para o público em geral.

Para Seferim (2012, p.22) “a moda atua sobre as pessoas, influenciando o

comportamento de compra e os gostos pessoais”. A autora comenta também que a moda está

conectada ao status social de uma pessoa. Choklat (2012, p.54) também destaca “a pesquisa

sobre a nova tendência da moda é uma etapa muito importante no processo de design, pois

investiga a fundo um assunto para encontrar novas ideias para se trabalhar”. Segundo este

autor durante a pesquisa das tendências busca-se opções de cores, de detalhes ou até mesmo

de um nome para a nova coleção. Para Santos (2008, p. 15) “o design, a cor, os materiais,

devem ser escolhas feitas por profissionais capacitados e com grande poder criativo”, pois as

escolhas que a empresa faz durante esta etapa de busca de tendências, é o que ditará o sucesso

ou não dos novos calçados.

Para Choklat (2012, p.64), a pesquisa se divide em três etapas que são a inspiração,

que o designer busca em pôsteres, revistas, jornais, tv e internet, a investigação que é referente

ao tema que surgiu na etapa da inspiração, e o processo que é a aplicabilidade da pesquisa, ou

seja, a etapa de desenvolvimento do produto da pesquisa.

Segundo Andrade e Corrêa (2001), a modelagem é considerada pelos empresários a

etapa mais importante de uma linha de produção, porque é neste momento que o calçado é

desenvolvido. Carloni (2007, p.44), descreve o setor de modelagem como “o local em que os

modelos que serão produzidos são concebidos por meio de criação própria da empresa”. O

autor comenta que estes novos modelos podem ser adaptações de modelos internacionais, ou

imitações de modelos que já existem no mercado.

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Conforme Santos (2008), é na modelagem do calçado que é observadas a medida, o

conforto e o calce do calçado. Para ele, as linhas do modelo não podem limitar o movimento

do pé e ao mesmo tempo deve proporcionar estabilidade e segurança, sem prejudicar a

estética do modelo desenvolvida pelo estilista. A modelagem utiliza o sistema de CAD/CAM

e o desenho manual como auxílio para as confecções das amostras.

“O desenho a mão ainda desempenha um papel muito importante no mundo da moda.

Ele constitui a maneira mais rápida e eficaz de demonstrar os modelos.” De acordo com este

autor os softwares de ilustração também são muito utilizados nas indústrias por esclarecer

detalhes e ser de fácil transferência para outros computadores (CHOKLAT 2012, p.135).

Para Santos (2008), no momento de desenhar, a equipe de estilo e design, deve estar

voltada apenas para a criatividade sem se prender a detalhes de produção. Com o modelo

desenhado, o estilista responsável deve auxiliar os técnicos nas soluções dos possíveis

problemas, para que a amostra possa se tornar viável para produzir.

Segundo Pinoti (2003, p.87) “a forma é uma representação material do pé, pode ser

feita em madeira, metal ou plástico”, o autor ainda comenta que o calçado assume o formato

da forma, as peças cortadas nos mais variados materiais envolvem a forma e assumem seu

formato. De acordo com este autor, os cabedais (parte de cima do calçado) são montados

sobre as palmilhas que são formadas pela alma, um componente de aço que mantem o calçado

com seu formato. São as palmilhas, segundo Furlan (2003) que contribuem para a percepção

do conforto do consumidor. Depois de evidenciar a nova tendência da estação, e feito o design

do cabedal e saltos, definem-se os insumos que serão utilizados na confecção destes modelos.

Para Santos (2008), atualmente é o sistema CAD o responsável por coordenar um

conjunto de programas que desenvolve calçado e orienta a sua montagem. “Os sistemas de

concepção e manufatura assistidos por computador (CAD), utilizam o equipamento para

reunir instruções sobre a concepção e a produção de peças”, dispensando o desenvolvimento

de protótipos (BERWANGER, 2009, P.115).

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O desenvolvimento começa, normalmente, pelo cabedal e forro. Conforme Pinoti

(2003, p.88), cabedal é a parte superior do calçado e tem seu processo dividido em duas

etapas, a primeira é onde as peças são cortadas e a segunda onde essas peças são sobrepostas e

unidas por costuras. Já o forro, na descrição de Pinote (2003, p 89) “é a interface entre o

cabedal e o pé, é o revestimento interno do cabedal”.

Após os modelos serem desenhados e escolhidos para fazer parte da nova coleção,

passam para o setor de produção. Segundo Diedrich (2002), o processo de fabricação de

calçados é baseado na divisão em setores que são: modelagem, setor de corte, setor de

pesponto, setor de pré fabricado, montagem e acabamento. O setor de modelagem também é

dividido em setores menores responsáveis por cada etapa da confecção do protótipo. As

etapas constituem-se de:

Corte: Conforme Diedrich (2002, p.24), este setor é responsável pelo corte da matéria

prima que irá compor o cabedal do calçado. Segundo SANTOS (2008, p.17), são 3

alternativas: (i) corte manual: sistema antigo, de baixo custo, usado por empresas que

não possuem recursos para investir em tecnologia, ou quando o lote vendido não

justifica o gasto com navalhas; (ii) corte mecânico: utilizado pela maioria das

empresas, onde um cortador opera uma máquina de nome balancins que utiliza força

braçal para cortar as peças; (iii) corte assistido por computador: Este sistema é

considerado o melhor, pois o molde é aplicado diretamente sobre o material, copia o

molde a cada repetição do processo. Segundo Costa, Deberorofski e Spricigo (1995,

p.8), o tipo de corte que é usado em escala industrial é o feito com balancins, de modo

manual ou automático. Os balancins manuais utilizam navalhas de corte simples ou

conjugadas, já os com sistemas automatizados “são aqueles que têm seu controle com

memória programável; são sistemas utilizados para o corte de materiais homogêneos,

normalmente em materiais sintéticos, e com rápida substituição de navalhas”.

Conforme Pinoti (2003), antes de ser liberada a confecção das navalhas, os cabedais,

sola e palmilha são revisados.

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Pesponto e costura: Conforme Costa, Deberorofski e Spricigo (1995, p.8), após o

corte as peças vão para o setor de preparação e costura. Primeiramente as peças são

preparadas, o que, segundo o autor consiste em “colocar reforços nas peças do

cabedal, virar bordas e colocar debrum, realizar perfurações e picotes, queimar e pintar

cantos, unir as peças para a costura por meio de adesivos, entre outras”. De acordo

com Andrade e Corrêa (2001), a costura é realizada por máquinas simples. Este autor

comenta que após ser feito o corte dos cabedais, estes são organizados em lotes e

seguem para o setor de pesponto, lá os modelos são chanfrados, picotados, preparados

e em seguida costurados.

Montagem: Para Andrade e Corrêa (2001), na etapa de montagem, que ocorre na

sequência da preparação e costura do calçado, o salto e a sola assim como a palmilha

são cortados, lixados, conformados, limpos e colados ou costurados, ou seja, é feita a

fixação do cabedal com a sola deixando o modelo praticamente pronto. “Nesta etapa

os calçados montados são acabados e recebem os últimos materiais, como fivelas,

enfeites cadarços e outros materiais voltados para o adorno do produto”. (CARLONI,

2007, p.44)

Calce: “O calce representa a adequação do calçado ao pé. É desenvolvido a partir de

sucessivos experimentos, testados por um pé padrão”. É durante o calce que é

descoberto qualquer tipo de defeito do calçado, que podem causar possíveis

desconfortos ao consumidor (PINOTI, 2003, P.88).

Escalas: Conforme Santos (2008, p.22) a escala possibilita o desenvolvimento e

correção (se necessário) do modelo, em todos os tamanhos desejados. Para a escala é

utilizado software que opera com os tamanhos selecionados para as peças, com

destaque para o comprimento e a largura. Segundo Pinoti(2003), após o primeiro par

de amostra estar confeccionado e aprovado, é liberado o conjunto de escalas que

correspondem a um par de cada número chave do modelo, os quais são produzidos

pelos técnicos de modelagem juntamente com a produção.

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3 Método da pesquisa

Para alcançar os objetivos do estudo, os autores optaram pelo estudo de caso,

abordagem qualitativa e coleta de dados por meio de levantamento documental e observação

participante, visto que um dos autores é colaboradora da empresa investigada. A pesquisa

pode ser considerada, de acordo com suas características, como aplicada, por descrever e

analisar o processo organizacional e seus resultados podem contribuir para ajuste e adequação

do mesmo (YIN, 2010; GIL, 2010; PRODANOV; FREITAS, 2013).

Com base na revisão teórica, sistemática, foram construídos os instrumentos de coleta

de dados, a saber, roteiro de categorias de análise, que emergiram da literatura científica

revisada, que foram utilizados tanto no levantamento documental (registros internos da

organização, do setor de modelagem e produção), bem como a observação participante. Os

dados empíricos, representados por anotações dos autores, foram submetidos à análise de

conteúdo (BARDIN, 2011).

4. Análise de resultados

A empresa, objeto de estudo desta pesquisa, confecciona apenas calçados femininos e

localiza-se na cidade de Nova Hartz, no estado do Rio Grande do Sul. Atuando no mercado há

40 anos, possui aproximadamente 4.000 funcionários, distribuídos entre a matriz e três filiais.

A cada troca de estação é lançada uma nova coleção de calçados. O responsável pela criação e

confecção destes novos modelos é o setor de modelagem, que confecciona de 400 a 800

modelos por coleção.

Pesquisa e viagem

A nova coleção começa a ganhar forma com a pesquisa na internet, onde é possível

ver as imagens e os vídeos dos desfiles de moda internacionais, fornecendo subsídio para o

planejamento da viagem ao exterior, verificando “in loco” as tendências em curso.

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Essa pesquisa online é realizada em sites pagos, também em blogs de moda e no site das

marcas internacionais. Este processo vem ao encontro às recomendações de autores revisados

que indicam as melhores práticas de pesquisa de tendências de moda, sua validação e

operacionalização para o mercado nacional (CHOKLAT, 2012).

Três meses antes do lançamento desta nova coleção, dois estilistas e a responsável

pelo marketing da empresa viajam para países da Europa, considerados lançadores de

tendências. As viagens variam de 15 a 20 dias, lá frequentam feiras, visitam lojas, desfiles e

tiram muitas fotos de cores, tecidos, estampas, modelos de calçados, insumos como couro,

fivelas enfeites, ou seja, tudo o que poderá ser aproveitado na nova coleção (FURLAN, 2003).

Também compram muitos pares de calçados prontos para servirem de base para a criação da

nova coleção.

No retorno da viagem, todos os produtos comprados e as fotos tiradas são mostrados

para a equipe que ficou no Brasil, e em um segundo momento, é feita uma apresentação, onde

é descrito tudo o que foi visto e percebido como tendência. Estas informações obtidas nas

viagens, junto com as pesquisas na internet e dados da real situação em que o mercado se

encontra, servem de subsídio para o desenvolvimento da próxima coleção. Carloni (2007)

comenta que estes novos modelos podem ser adaptações de modelos internacionais, ou

imitações de modelos que já existem no mercado. Na sequência, são escolhidos os materias.

Nesta etapa os estilistas entram em contato com fornecedores para conseguirem amostra de

materiais necessários.

Desenvolvimento de solas e saltos

Na fase inicial do processo de desenvolvimento de amostras, os estilistas começam a

desenhar os modelos de solas e saltos de acordo com a tendência da estação observada, com

os desenhos em mãos é feita nova reunião para decidirem quantas linhas terá a nova coleção

(CHOKLAT, 2012). As informações sobre quantas linhas serão feitas e os desenhos de solas,

são passados para um modelista responsável somente pelo desenvolvimento das

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solas, saltos e palmilhas. Este modelista digitaliza no programa CAD e destaca os modelos,

logo após faz o perfil da sola e salto e manda estes modelos para fornecedores fazerem os

moldes (SANTOS, 2008).

A princípio os moldes são feitos todos em numeração 35 porque as amostras são

confeccionadas neste número. Quando os fornecedores entregam os moldes, o modelista de

sola mede, analisa, faz alguns ajustes necessários e libera para que produzam 45 pares de cada

modelo que serão usados nas amostras.

Testes de novos materiais

Os novos materiais que farão parte da coleção são testados antes de serem utilizados

nos novos modelos por meio de maquetes, agora utilizando novos insumos. Estes pares

passam por todas as etapas do processo de confecção, ou seja, corte preparação, costura

montagem e calce onde são analisados para descobrir possíveis problemas. Além de verificar

a resistência e a durabilidade, neste momento também é trabalhado com a mistura de tons para

escolher as cores que farão parte da coleção (FURLAN, 2003).

Desenho e destaque

Com as linhas definidas e as solas e saltos prontos, inicia-se os desenhos do cabedal,

para inspiração os estilistas utilizam as fotos tiradas na viagem, as pesquisas feitas e os pares

de calçados comprados no exterior. Com os desenhos em mãos, os destacadores colam fita

branca em toda a forma, para cada linha é necessário fazer formas diferentes. Depois

desenham o novo modelo nesta fita, recortam esta fita que servirá como primeiro molde,

colam em papelões e desenham as peças do tamanho necessário e definem as partes que serão

viradas, as tiras que serão colocadas, fivelas e enfeites para cada modelo, encaminhando os

para setor de corte (CHOKLAT, 2012).

Corte e preparação da maquete

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O cortador estende sobre sua mesa o couro ou sintético que será utilizado no modelo,

coloca as peças de papelão em cima e recorta manualmente uma a uma, o cortador corta peças

suficientes somente para fazer um pé de maquete. Conforme preconizado por Santos (2008,

p.17), depois de recortadas, as peças seguem para as preparadeiras de maquete, elas juntam as

peças, preparam e costuram o modelo de acordo com o desenho, deixam o cabedal

completamente pronto. Sempre que necessário contam com o auxílio do estilista que fiscaliza

todo este trabalho, para garantir que o modelo seja exatamente igual ao seu desenho. Neste

primeiro pé não são observados detalhes de qualidade ou de calce, apenas a estética (COSTA;

DEBEROROFSKI; SPRICIGO, 1995). O pé pronto segue para o montador de maquetes, que

monta o cabedal na sola específica para aquele modelo (ANDRADE; CORRÊA, 2001).

Ajuste técnico

Depois que as linhas são escolhidas, realizam-se várias reuniões para analisar detalhes

que visam à operacionalização de cada uma das linhas. Participam destas reuniões o modelista

que será responsável pela linha, o cronoanalista chefe, diretor geral, gerente do setor de

amostra e o responsável pelos custos da produção. Neste momento, é analisado cada modelo

separadamente e decidido o melhor jeito de fabricá-los, as fitas que devem ser usadas,

reforços, dublagens, espessura da linha para costura, gabaritos, ou seja, todos os detalhes para

começar a aperfeiçoa-los, observando sempre o tempo do processo e o custo.

Depois destas definições, cada modelista começa a trabalhar nas suas linhas, colocam

os modelos no sistema CAD, onde ajustam todos os detalhes somente para o numero 35, neste

momento o modelo deve ficar perfeito (BERWANGER, 2009). Quando o modelista ajusta um

modelo, ele manda as imagens através de um programa específico para uma máquina

automática de corte de couro. Esta máquina é operada por apenas uma pessoa que estende o

material sobre a mesa, programa para cortar apenas um par do modelo de numero 35 e aciona

os botões, em poucos minutos o par do modelo está cortado (SANTOS, 2008).

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O cortador entrega este par para os responsáveis pela confecção manual do ajuste,

estes preparam, costuram e observam se ainda há defeitos no modelo que podem ser nas peças

que não se encaixam corretamente na preparação, podem faltar pontos que servem como guia

para costura, enfeites que dificultam o processo por estarem em lugar errado entre outros. Se

algum defeito é encontrado, estes responsáveis se dirigem aos modelistas para que o modelo

seja melhorado, e refazem novamente o par. Todos os problemas encontrados nesta etapa são

anotados em fichas que são arquivadas, e servirem de prova de que ocorreram mudanças.

Quando o cabedal de número 35 está pronto, é entregue ao montador de ajustes, que

monta a sola de maneira artesanal observando se há defeitos nesta etapa, se encontrado, este

se dirige ao modelistas para que o par seja novamente refeito. Depois de montado é o

momento do calce, a empresa tem uma funcionária específica para realizar o calce de todos os

modelos. É o número 35 perfeito que serve de base para todas as formas, sendo ela quem

aprova, ou não, cada modelo. Se no momento do calce o modelo ficar largo, apertado ou

desconfortável, ele é refeito e calçado novamente buscando reparar os erros. Se calce não

encontrar nenhum defeito nesta parte, estes modelos são liberados para a produção de 45

pares de cada (PINOTI, 2003).

Amostras

Os primeiros 45 pares de cada modelo são confeccionados pelo setor chamado

amostras. Este setor inclui corte, chanfração, costura, montagem e expedição. Estes pares são

produzidos em esteiras com muitos funcionários, maquinários específicos, matrizes corretas

para enfeites - ou seja- linha de produção (DIEDRICH, 2002).

Os 45 pares feitos pelas amostras são remetidos aos representantes da empresa que

atuam em todos os estados do país, divulgando a marca e vendendo os modelos, e são levados

para feiras. A participação das empresas calçadistas em feiras, pode ser o motivo inicial para a

criação de novos modelos (FURLAN, 2003).

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Escalas

De acordo com a quantidade vendida os modelos são liberados para elaboração da

escala, ou seja, até o momento havia sido fabricado apenas o número 35 dos modelos, sendo

agora necessária a confecção de um par de cada número, para ter a certeza de que estão todos

corretos. Para isto é feitos 4 pares completos de cada modelo, por vezes em escala impar ou

escala par (SANTOS, 2008). Depois de prontos, o modelista responsável pela linha analisa

cada par de cada modelo e se todos estiverem ok, libera para serem feitas as navalhas.

Navalhas

Modelistas entregam para o responsável pelo navalhamento gabaritos que servem de

moldes para as navalhas, cuja produção é, normalmente, terceirizada. Depois que as navalhas

estão prontas são revisadas uma a uma, separadas por modelos e por linhas para serem

encaminhadas para a produção (PINOTI, 2003). Estas navalhas são utilizadas em máquinas de

corte chamadas balancins que servem para cortar muitos pares ao mesmo tempo, essencial

para uma grande produção (COSTA; DEBEROROFSKI; SPRICIGO, 1995).

Depois de todas estas etapas concluídas os modelos são liberados para serem

confeccionados pela produção. O setor de programação manda uma lista para o setor de

amostras relatando em qual fábrica (matriz ou filiais), as respectivas linhas serão produzidas.

Então é separado por modelo um pé de amostra, a pasta contendo dados da maneira de

produzir, os gabaritos e as navalhas e enviado para as devidas fábricas.

5 Considerações finais

Este estudo analisa o processo de modelagem de empresa calçadista da cidade de

Nova Hartz-RS. Observou-se a complexidade de cada etapa do processo. Ao comparar a

realidade dos processos do setor da empresa com o referencial teórico descrito no trabalho,

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observou-se grande semelhança nas etapas durante o desenvolvimento da nova coleção.

Conforme descrito no trabalho, o processo da confecção das amostras inicia com a

pesquisa de tendência da moda da estação, logo após são desenvolvidas as formas e ao mesmo

tempo feito os testes com os novos insumos. Com as formas prontas, começam os desenhos

dos novos modelos que em seguida são produzidos pelas maquetes, quando as linhas ficam

prontas é feita uma reunião para a escolha de quais modelos terão sequência.

Os modelos escolhidos são encaminhados para os modelistas técnicos, que ajustam

detalhes de calce e montagem e liberam para as amostras produzir 45 pares de cada modelo.

Esses pares são destinados aos representantes da empresa para as vendas, conforme a

quantidade vendida, os modelos são liberados para as escalas, que é o último teste antes do

navalhamento. Com as navalhas prontas, as linhas seguem para o setor de produção da

empresa, onde são produzidas em grandes quantidades.

Referências

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