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Departamento de Engenharia Industrial ANÁLISE COMPARATIVA DE DESASTRES NO BRASIL USANDO A METODOLOGIA DaLA (Damage & Loss Assessment) Aluna: Rebeca Hechtman Orientadora: Adriana Leiras Introdução Segundo a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC, 2012), desastres são definidos como eventos súbitos e calamitosos que interrompem as atividades de uma sociedade ou comunidade, causando perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientas que excedem a capacidade de recuperação da sociedade ou comunidade atingida usando apenas seus próprios recursos. Desastres são caracterizados por atingir uma determinada região causando danos econômicos, sociais e ambientais, podendo resultar em mortos e feridos (NATAJARATHINAM et al., 2009). Van Wassenhove (2006) propõe uma classificação de desastres entre naturais e provocados pelo homem, e de acordo com a velocidade com que os desastres se iniciam - de forma lenta (como exemplo, fome, seca, e crises de refugiados) ou súbita (como exemplo, terremotos, furacões e ataques terroristas). Os desastres são caracterizados também por quatro fases: mitigação, preparação, resposta e reabilitação/ reconstrução (VAN WASSENHOVE, 2006). A mitigação abrange atividades que visam impedir ou reduzir a probabilidade de ocorrência de um desastre. A preparação envolve o planejamento das atividades possíveis de serem realizadas para uma resposta eficiente após a ocorrência de um desastre. A resposta é uma fase reativa, tendo em vista que as entidades, o governo e a população atuam diretamente no salvamento de vidas e na preservação dos recursos humanos e financeiros da região afetada. A reabilitação/ reconstrução foca no restabelecimento econômico, social e patrimonial da região afetada. Estima-se que nos próximos 50 anos as catástrofes naturais e outros desastres provocados pelo homem aumentarão cinco vezes, em número e gravidade (THOMAS e KOPCZAK, 2005), tanto em áreas rurais quanto em áreas urbanas, como consequência de fatores como o aumento populacional e a ocupação do solo, associados ao processo histórico de urbanização e industrialização. Nas áreas rurais, estes fatores se devem a desmatamentos, queimadas, compactação de solos e assoreamento de rios. Já nas áreas urbanas, devem-se à impermeabilização de solos, adensamento de construções, conservação de calor, poluição do ar, planejamento deficiente e ocupação de áreas de risco (KOBIYAMA et. al., 2006). Diversos episódios de grande magnitude têm demonstrado a vulnerabilidade da sociedade moderna, evidenciando a necessidade de uma gestão diferenciada para estes eventos. Como exemplo, pode-se citar o tsunami e o terremoto no Oceano Índico em 2004; os frequentes furacões no Caribe e América do Norte; os terremotos no Paquistão em 2005, na China em 2008, no Haiti e no Chile em 2010, na Nova Zelândia em 2010/ 2011 e a série de desastres em Tōhoku, no Japão, em 2011. Eventos como os tornados nos Estados Unidos e o tsunami no Japão são exemplos de que, mesmo em países desenvolvidos, existem grupos vulneráveis aos impactos adversos de fenômenos naturais. No Brasil, ocorreram as enchentes no Vale do Itajaí (SC) em 2008, no Nordeste em 2009, e em São Luiz do Paraitinga (SP) em 2010, além dos catastróficos deslizamentos em Angra dos Reis em 2010 e na região serrana do Rio de Janeiro em 2011.

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Departamento de Engenharia Industrial

ANÁLISE COMPARATIVA DE DESASTRES NO BRASIL USANDO A

METODOLOGIA DaLA (Damage & Loss Assessment)

Aluna: Rebeca Hechtman

Orientadora: Adriana Leiras

Introdução

Segundo a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente

Vermelho (IFRC, 2012), desastres são definidos como eventos súbitos e calamitosos que

interrompem as atividades de uma sociedade ou comunidade, causando perdas humanas,

materiais, econômicas ou ambientas que excedem a capacidade de recuperação da sociedade

ou comunidade atingida usando apenas seus próprios recursos. Desastres são caracterizados

por atingir uma determinada região causando danos econômicos, sociais e ambientais,

podendo resultar em mortos e feridos (NATAJARATHINAM et al., 2009). Van Wassenhove

(2006) propõe uma classificação de desastres entre naturais e provocados pelo homem, e de

acordo com a velocidade com que os desastres se iniciam - de forma lenta (como exemplo,

fome, seca, e crises de refugiados) ou súbita (como exemplo, terremotos, furacões e ataques

terroristas).

Os desastres são caracterizados também por quatro fases: mitigação, preparação,

resposta e reabilitação/ reconstrução (VAN WASSENHOVE, 2006). A mitigação abrange

atividades que visam impedir ou reduzir a probabilidade de ocorrência de um desastre. A

preparação envolve o planejamento das atividades possíveis de serem realizadas para uma

resposta eficiente após a ocorrência de um desastre. A resposta é uma fase reativa, tendo em

vista que as entidades, o governo e a população atuam diretamente no salvamento de vidas e

na preservação dos recursos humanos e financeiros da região afetada. A reabilitação/

reconstrução foca no restabelecimento econômico, social e patrimonial da região afetada.

Estima-se que nos próximos 50 anos as catástrofes naturais e outros desastres

provocados pelo homem aumentarão cinco vezes, em número e gravidade (THOMAS e

KOPCZAK, 2005), tanto em áreas rurais quanto em áreas urbanas, como consequência de

fatores como o aumento populacional e a ocupação do solo, associados ao processo histórico

de urbanização e industrialização. Nas áreas rurais, estes fatores se devem a desmatamentos,

queimadas, compactação de solos e assoreamento de rios. Já nas áreas urbanas, devem-se à

impermeabilização de solos, adensamento de construções, conservação de calor, poluição do

ar, planejamento deficiente e ocupação de áreas de risco (KOBIYAMA et. al., 2006).

Diversos episódios de grande magnitude têm demonstrado a vulnerabilidade da

sociedade moderna, evidenciando a necessidade de uma gestão diferenciada para estes

eventos. Como exemplo, pode-se citar o tsunami e o terremoto no Oceano Índico em 2004; os

frequentes furacões no Caribe e América do Norte; os terremotos no Paquistão em 2005, na

China em 2008, no Haiti e no Chile em 2010, na Nova Zelândia em 2010/ 2011 e a série de

desastres em Tōhoku, no Japão, em 2011. Eventos como os tornados nos Estados Unidos e o

tsunami no Japão são exemplos de que, mesmo em países desenvolvidos, existem grupos

vulneráveis aos impactos adversos de fenômenos naturais. No Brasil, ocorreram as enchentes

no Vale do Itajaí (SC) em 2008, no Nordeste em 2009, e em São Luiz do Paraitinga (SP) em

2010, além dos catastróficos deslizamentos em Angra dos Reis em 2010 e na região serrana

do Rio de Janeiro em 2011.

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Os resultados negativos provenientes desses eventos têm crescido significativamente

devido ao aumento da densidade demográfica e ao crescimento urbano desordenado,

especialmente nos países emergentes. Entre 1992 e 2012, desastres em todo mundo afetaram

4,4 bilhões de pessoas, matando 1,3 milhões, e custaram 2 trilhões de dólares em danos

(UNISDR, 2012). Segundo Guha-Sapir et al. (2013), o prejuízo material gerado apenas por

desastres naturais correspondeu, em 2012, ao recorde de 157,3 bilhões de dólares.

O gerenciamento de desastres no Brasil impõe grandes desafios a agentes públicos,

organizações não governamentais e empresas privadas. Assim, esforços acadêmicos

(NOGUEIRA e GONÇALVES, 2010; COSTA et al., 2012; LEIRAS et al., 2014) e práticos

(Lei 12.608/2012 - BRASIL, 2012), estão sendo cada vez mais mobilizados para o

desenvolvimento de conhecimento e ferramentas apropriadas para a gestão de riscos de

desastres e redução de impactos econômicos e sociais em decorrência dos mesmos.

Neste contexto, este trabalho foi motivado pela necessidade de melhor se estimar perdas

e danos em situações de desastres em diferentes setores como saúde, habitação e educação,

entre outros, de forma a comparar desastres recentes ocorridos no Brasil e auxiliar um melhor

gerenciamento dos investimentos na recuperação da área, da economia e da população

afetadas. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL (2013),

dano é a destruição total ou parcial de bens materiais, cujo efeito é imediato. Por outro lado,

perda é definida como mudança no fluxo da economia, com efeito de média e longa duração.

Este artigo objetiva realizar uma análise crítica da aplicação da metodologia DaLA (Damage

& Loss Assessment) a quatro casos de desastres ocorridos no Brasil: Santa Catarina, 2008

(BANCO MUNDIAL, 2012a); Pernambuco, 2010 (BANCO MUNDIAL, 2012b); Alagoas,

2010 (BANCO MUNDIAL, 2012c); e Rio de Janeiro, 2011 (BANCO MUNDIAL, 2012d).

Objetivos

O objetivo deste estudo foi realizar uma comparação das perdas e danos entre casos

recentes no Brasil, utilizando a metodologia DaLA. Este trabalho foi motivado pela

necessidade de melhor se estimar perdas e danos em situações de desastres em diferentes

setores como saúde, habitação e educação, entre outros, de forma a comparar desastres

recentes ocorridos no Brasil e auxiliar um melhor gerenciamento dos investimentos na

recuperação da área, da economia e da população afetadas.

Desta forma, utilizando as análises dos quatro casos de desastres no Brasil

desenvolvidos pelo Banco Mundial (Pernambuco, Alagoas, Santa Catarina e Rio de Janeiro) e

tendo como foco o desenvolvimento de um novo caso (o de São Paulo), foram identificados

alguns problemas/ oportunidades de melhoria, tanto em relação à metodologia em si quanto

sobre as informações disponibilizadas em cada desastre. Fez-se necessária a busca por fontes

de dados e informações comuns aos diferentes estados, de forma a permitir uma avaliação de

perdas e danos mais uniforme e melhor comparável, dada a forte carência no registro e

divulgação de informações e uma falta de uniformização na nomenclatura dos dados obtidos.

Consequentemente, surgiu a necessidade de fazer uma revisão e atualização da

metodologia DaLA para definir um modelo ideal de aplicação da mesma no Brasil. Portanto,

este relatório apresenta uma análise crítica da aplicação da metodologia DaLA (Damage &

Loss Assessment) a casos de desastres no Brasil e possíveis formas de solucionar tais

problemas.

Metodologia

Esta seção apresenta a metodologia DaLA segundo World Bank (2013). Esta

metodologia foi desenvolvida em 1972 pela CEPAL e, desde então, vem sendo modificada

para ser utilizada como uma ferramenta de avaliação de perdas e danos em desastres e é a

única metodologia disponível para analisar efeitos gerais negativos e impactos de desastre na

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economia e sociedade da região afetada (outras metodologias se referem à fase de emergência

ou a somente um dos setores). A DaLA é uma metodologia flexível e pode ser facilmente

adaptada de acordo com o tipo de desastre e região onde ocorreu, já tendo sido aplicada a

desastres como o tsunami na Índia (2005); o tsunami nas Maldivas (2005); as enchentes na

Guiana (2005); o terremoto na Indonésia (2006); o terremoto no Paquistão (2005), dentre

outros eventos.

A aplicação da metodologia é realizada de acordo com avalição das perdas e danos em

setores, como habitação, transporte, educação, saúde, agropecuária, água e saneamento,

energia, indústria, comércio e serviços. O primeiro passo é delimitar a área afetada para,

então, calcular os prejuízos econômicos, sociais e ambientais decorrentes do desastre naquela

região para cada setor. Para este cálculo, são necessárias informações de fontes oficiais, sejam

de órgãos municipais, estaduais ou federais. Também é possível entrevistar proprietários de

estabelecimentos de comércio, o que possibilita uma estimativa do impacto do desastre na

iniciativa privada. A distinção entre impactos no setor público e no setor privado é de vital

importância para se determinar qual dos dois foi mais afetado pelo desastre e, portanto, terá

maiores gastos com a etapa de reconstrução.

Através da DaLA, pode-se fazer um estudo comparativo de setores, objetivando definir

a região e os setores mais afetados para traçar prioridades para planos reconstrução da área

atingida. Com a aplicação da metodologia, torna-se possível, portanto, a identificação da

necessidade de políticas públicas e de programas de desenvolvimento para reduzir os efeitos

indesejáveis no desempenho econômico e no bem-estar da população após a ocorrência do

desastre, de forma que a sociedade afetada possa reestabelecer o seu desempenho normal o

mais breve possível.

Um quesito importante na utilização da DaLA é o tempo, pois a aplicação na sua forma

mais precisa e com a maior exatidão nos dados é demorada. Como muitas vezes é necessário

realizar o trabalho de avaliação de forma rápida a fim de nortear a resposta ao desastre e

iniciar a busca por ajuda internacional, a avaliação rápida ganha prioridade sobre a detalhada

(o que não pode comprometer, contudo, a validade do estudo). Logo, deve-se balancear a

precisão da tarefa e a urgência em completar a avaliação. Caso haja necessidade de dados

mais precisos, estes poderão ser levantados posteriormente, atualizando a estimativa de custo.

Outro quesito fundamental é o entendimento dos termos utilizados na metodologia.

Como um desastre causa danos diretos, perdas indiretas e efeitos macroeconômicos, é preciso

entender detalhadamente suas definições. Simplificadamente, pode-se pensar nas perdas

diretas como ativos afetados e nas perdas indiretas como o fluxo para a produção de bens e

serviços que foi afetado (ou seja, que não serão produzidos ou prestados durante um período

de tempo que se inicia após o desastre e pode durar ao longo dos períodos de reabilitação e

reconstrução). Os danos ocorrem no momento do desastre ou nas primeiras horas após o

desastre e as perdas podem se estender ao longo de um período de até cinco anos. Assim,

pode-se perceber que durante uma avaliação rápida, a identificação de danos é relativamente

mais simples que as perdas, já que estas últimas serão notadas em diferentes momentos após o

desastre. Assim, como a maioria destes efeitos indiretos não é evidente (embora possam ser

identificados quando o dano é estimado), quando a avaliação é realizada nem sempre é

possível medi-los em termos monetários.

Para efeito ilustrativo, os principais itens da categoria de danos incluem destruição total

ou parcial de infraestrutura, prédios, instalações, máquinas, equipamentos, meios de

transporte e armazenagem, móveis, danos à terra, obras de irrigação, represas e afins. Já os

principais itens da categoria de perdas incluem aumentos induzidos pelo desastre em despesas

correntes e custos na prestação de serviços essenciais, bem como a esperada diminuição da

renda nos casos em que esses serviços não podem ser prestados em condições normais, como,

por exemplo, perdas de colheitas futuras devido a inundações ou secas prolongadas, perdas na

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produção industrial devido a danos a fábricas ou um déficit resultando em acesso a matérias-

primas e maiores custos de transporte com a necessidade de rotas alternativas. A Tabela 1

apresenta exemplos de perdas e danos a serem levantados para cada setor avaliado na DaLA.

Tabela 1 - Descrição dos setores abordados na metodologia DaLA Setores Perdas Danos

Habitação Contratos, instalações temporárias,

lucro cessante, obras, projetos

Mobiliário, instalações

Transporte Aluguel, obras, limpeza, projetos,

meios de transporte, custos

operacionais, receita

Acessos de transporte, instalações,

vias para transporte, material para

construção

Saúde Campanhas, custos operacionais, lucro

cessante, mobiliário, projetos,

instalações temporárias

Instalações, equipamento hospitalar,

material hospitalar, meios de

transporte

Agropecuária Atividade de gado Alimentos, atividade agrícola,

atividade de gado, infraestrutura,

produção destruída, estoque de

alimentos básicos, criação de animais

Água e Saneamento Aumento de custos operacionais, lucro

cessante, mão-de-obra, remoção de

lixo, suspensão no abastecimento

Abastecimento de água, tratamento de

esgotos, infraestrutura, equipamentos

de coleta, veículos de serviço

Educação Lucro cessante, obras, projetos,

contratos, imóveis temporários custos

operacionais

Imóveis, meios de transporte,

material, mobiliário, alimentos

Energia Petróleo, gás, eletricidade –

Abastecimento temporário/perdas

indiretas

Petróleo, eletricidade – geração/ rede

de transmissão e distribuição, gás

Telecomunicações Sistemas

Fonte: Baseado em World Bank (2013)

Estudo de Caso

Os casos analisados neste artigo são os quatro que foram desenvolvidos pelo Banco

Mundial (BANCO MUNDIAL, 2012a; 2012b; 2012c; 2012d) e um novo caso referente ao

estado de São Paulo com base em relatórios de avaliação de danos da Secretaria Nacional de

Defesa Civil - AVADANs (que são enviados pelos municípios ao governo federal em casos

de decretação de estado de emergência ou calamidade pública), relatórios da Secretarias de

Estado, entre outros.

A primeira das quatro ocorrências de desastres analisados pelo Banco Mundial

aconteceu em Santa Catarina entre novembro de 2008 e janeiro de 2009, quando chuvas

prolongadas e de grande volume atingiram o litoral catarinense. Ainda que siga uma série

histórica de quase 40 anos, o evento se caracterizou como um dos piores da história do estado,

principalmente pela ocupação de áreas de risco e falta de infraestrutura para contenção de

deslizamentos e pela recorrência das chuvas. Mais de um milhão de pessoas foram afetadas e

60 municípios foram atingidos (BANCO MUNDIAL, 2012a).

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Entre 17 e 19 de junho de 2010, fortes chuvas atingiram Pernambuco e Alagoas gerando

inundações bruscas. Frentes frias de forte intensidade que alcançaram o litoral do Nordeste

aliadas a elevação da temperatura do oceano atlântico e a uma grande concentração de nuvens

nas cabeceiras dos rios resultaram em um fenômeno chamado de Onda Leste, que atingiu 44

municípios em Pernambuco e 20 de Alagoas. Com a entrada do inverno é comum o aumento

das chuvas em Alagoas e Pernambuco em junho e julho, porém no ano de 2010 o volume de

precipitação superou as previsões. Em Pernambuco, cidades inteiras foram destruídas, como

os municípios de Palmares e Barreiros, e ainda que os dois casos tenham uma causa em

comum, o número de afetados desse estado foi mais que o dobro que o de Alagoas (BANCO

MUNDIAL, 2012b; BANCO MUNDIAL, 2012c).

Já o evento ocorrido no Rio de Janeiro entre 11 e 12 de janeiro de 2011 foi considerado

o pior desastre ocorrido no Brasil, com mais de 900 mortos, e mais 300 mil afetados nos 7

municípios atingidos. Além do volume torrencial de chuvas, nesse caso causadas pela entrada

de massas de ar provenientes da Zona de Convergência do Atlântico Sul, a utilização

inapropriada do solo – o que resultou nos deslizamentos – foi culminante para o aumento da

vulnerabilidade. A dimensão do desastre pode ser representada pelo número de pessoas

envolvidas no processo de resposta. Mais de mil homens de diferentes organizações foram

destacados para atuar na região em ações de busca e salvamento. Os impactos deste desastre

foram além de suas perdas e danos e por, sua intensidade, serviram de alerta para desencadear

um processo de fortalecimento das práticas de gestão de riscos de desastres a nível nacional

(BANCO MUNDIAL, 2012d).

Em relação ao caso de São Paulo, vinte dos trinta e nove municípios da mesorregião do

Vale do Paraíba Paulista foram afetados em virtude das chuvas torrenciais (precipitações

diárias ao longo dos meses de dezembro de 2009 e janeiro de 2010) que, com o acúmulo,

resultaram em uma forte inundação. Nesse estudo, porém, será estudado apenas o impacto do

desastre sobre o município de São Luiz do Paraitinga – região mais afetada da mesorregião do

Vale do Paraíba Paulista. O Rio Paraitinga se elevou onze metros acima do normal (sendo

dois metros o comum) e as águas atingiram o centro histórico da cidade de forma inesperada.

Ainda que os drásticos eventos climáticos tenham deflagrado o desastre, deve-se também

levar em conta os fatores antropológicos que aumentam a vulnerabilidade: ocupação

progressiva das várzeas, que naturalmente alagam; disseminação das pastagens concorre para

a compactação do solo, e a realização de queimadas empobrece o solo e contribui para o

assoreamento dos corpos hídricos; utilização, nas técnicas de construção, de um material que

absorveu água e perdeu firmeza durante a inundação, resultando em colapsos estruturais. Em

relação aos prejuízos sociais, a estimativa da quantidade de desalojados, desabrigados,

número de feridos e óbitos foi, respectivamente, 5000, 4000, 2 e 1 pessoas no município de

São Luiz do Paraitinga. Quanto aos prejuízos materiais, foram destruídos edifícios históricos

(que representa destruição da cultura) e foram danificadas as redes elétricas, de abastecimento

de água, de telefonia celular e de transporte terrestre, o que dificultou a comunicação e a

locomoção dos habitantes e a logística de apoio às vítimas (KAWASAKI et al., 2012).

Análise Comparativa

A Tabela 2 exibe um resumo das características dos casos com informações de tipo,

ano, percentual de perdas e danos, número de afetados e custo total. Através da tabela 2 e da

figura 1, é possível notar que, nos casos de Santa Catarina (SC), Pernambuco (PE), Alagoas

(AL) e São Paulo (SP), existe uma relação proporcional entre o número de afetados e custo

total dos desastres, ou seja, quanto maior o número de afetados, maior o custo. O evento

ocorrido no Rio de Janeiro (RJ) chama atenção por ter um comportamento fora desse padrão.

Apesar de ter um número de afetados relativamente baixo (o terceiro menor dos cinco casos),

o desastre deste estado possui o maior custo total. Esse comportamento também é sentido no

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perfil de perdas e danos. Enquanto nos outros quatro estados os danos são mais significativos

(representam de 60% a 84% do total de impactos), no Rio de Janeiro são as perdas que

contribuem majoritariamente (54%).

Tabela 2 - Características dos casos de desastre

Desastre Tipo Ano Perdas Danos Afetados Vítimas fatais Custo total

SC (2008) Inundações bruscas 2008 31% 69% 1.462.596 110 R$ 4.756.204.220,85

PE (2010) Inundações bruscas 2010 40% 60% 740.001 36 R$ 3.349.247.434,97

AL (2010) Inundações bruscas 2010 16% 84% 269.651 20 R$ 1.796.443.918,58

SP (2010) Inundações e deslizamentos 2010 19% 81% 13.518 0 R$ 109.441.550,00

RJ (2011) Inundações e deslizamentos 2011 54% 46% 304.562 905 R$ 4.632.395.531,94

Fonte: Baseado em Banco Mundial (2012a; 2012b; 2012c; 2012d) e AVADAN’s do município de São Luiz do Paraitinga

Figura 1 - Custo total gasto por quantidade de pessoas afetadas em cada um dos cinco estados

Fonte: Autor

Figura 2 – Na figura da esquerda, o tamanho das bolas representa o número de afetados por estado; já na figura

da direita, representa o custo total de cada desastre. A abcissa refere-se aos danos e a ordenada às perdas.

Fonte: Autor

R$ 0,00

R$ 1.000.000.000,00

R$ 2.000.000.000,00

R$ 3.000.000.000,00

R$ 4.000.000.000,00

R$ 5.000.000.000,00

R$ 6.000.000.000,00

- 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000

Cu

sto

to

tal

Número de afetados

Custo Total x Afetados

AL(2010)

SC (2008)

RJ (2011)

SP (2010)

PE (2010)

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A Tabela 3 mostra um quadro resumo com os totais de dispêndios financeiros em cada

um dos setores definidos pela metodologia DaLA: infraestrutura, setores sociais, setores

produtivos e meio ambiente. As informações de Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa

Catarina foram obtidas através de publicações realizadas pelo Banco Mundial (Banco

Mundial, 2012). As informações referentes ao caso de São Paulo foram geradas com base nos

relatórios de Avaliação de Danos (AVADAN) da Secretaria Nacional de Defesa Civil.

Tabela 3: Perdas e danos por setor de acordo com a metodologia DaLA

SETORES ALAGOAS PERNAMBUCO RIO DE JANEIRO SANTA CATARINA SÃO PAULO

Infraestrutura R$ 277.778.697,34 R$ 443.789.235,61 R$ 1.122.738.863,48 R$ 1.458.162.848,28 R$ 48.882.260,00

Transporte R$ 247.602.577,34 R$ 394.096.015,20 R$ 620.971.233,15 R$ 1.352.090.098,28 R$ 46.527.000,00

Telecomunicações R$ 2.889.000,00 R$ 816.835,30 R$ 9.303.400,00 R$ 2.804.000,00 R$ 1.500.000,00

Água e saneamento R$ 15.522.920,00 R$ 36.158.464,11 R$ 457.033.353,83 R$ 29.206.230,00 R$ 622.500,00

Energia R$ 11.764.200,00 R$ 12.717.921,00 R$ 35.430.876,50 R$ 74.062.520,00 R$ 232.760,00

Setores Sociais R$ 1.348.105.070,89 R$ 2.436.194.215,91 R$ 2.695.572.627,97 R$ 1.747.797.876,49 R$ 28.998.400,00

Habitação R$ 1.092.324.866,56 R$ 2.003.595.752,74 R$ 2.609.672.627,97 R$ 1.428.782.841,04 R$ 25.806.000,00

Saúde R$ 59.261.819,33 R$ 146.042.136,36 R$ 11.270.000,00 R$ 155.725.066,36 R$ 634.400,00

Educação R$ 196.518.385,00 R$ 286.556.326,81 R$ 74.630.000,00 R$ 163.289.969,09 R$ 2.558.000,00

Setores Produtivos R$ 232.166.150,28 R$ 424.835.417,56 R$ 896.100.891,49 R$ 1.398.034.286,20 R$ 31.245.890,00

Agricultura R$ 12.112.150,00 R$ 63.385.828,06 R$ 214.000.000,00 R$ 539.466.589,20 R$ 16.688.560,00

Indústria R$ 94.368.000,00 R$ 35.372.380,95 R$ 153.482.850,00 R$ 858.567.697,00 R$ 12.802.330,00

Comércio R$ 125.686.000,28 R$ 326.077.208,55 R$ 469.218.041,49 R$ 0,00 R$ 0,00

Turismo R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 59.400.000,00 R$ 0,00 R$ 1.755.000,00

Meio Ambiente R$ 32.762.000,00 R$ 66.260.698,65 R$ 71.466.000,00 R$ 152.209.210,00 R$ 315.000,00

Total R$ 1.890.811.918,51 R$ 3.371.079.567,73 R$ 4.785.878.382,94 R$ 4.756.204.220,97 R$ 109.441.550,00

Numero de Afetados 269.651 740.001 304.562 1.462.596 13.518

Fonte: Autor

Observa-se que os gastos no caso de São Paulo se concentraram majoritariamente no

setor de infraestrutura – transporte (43%), enquanto que estes mesmos gastos foram em

média, nos outros quatro casos, apenas 17% do total. Em relação aos setores sociais, São

Paulo teve gastos mais baixos (26%) quando comparado com a média dos demais casos

(59%). Já nos setores produtivos, São Paulo teve gastos mais altos em comparação com os

outros quatro casos (29% e 18%, respectivamente). O setor de meio ambiente foi aquele com

menor custo: São Paulo praticamente teve gasto nulo em relação ao total gasto (0%) e a média

dos demais foi de 2%.

A Tabela 4 mostra a divisão de custos por setor, onde os setores de habitação,

transportes e indústria, comércio e serviços são os mais afetados de forma geral. Em função

da falta de informações, foram omitidos detalhes a respeito de impactos em setores como

infraestrutura de energia e telecomunicações, turismo e meio ambiente, conforme apresentado

na classe “Omitidos”.

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Tabela 4 - Divisão dos custos dos casos de desastre por setor

Setores PE (2010) AL (2010) SC (2008) RJ (2011) SP (2010)

Habitação 60% 61% 30% 56% 24%

Transportes 12% 14% 28% 13% 42%

Indústria, comércio e serviços 10% 7% 18% 10% 12%

Educação 9% 11% 3% 2% 2%

Agropecuária 2% 1% 11% 5% 15%

Água e saneamento 1% 1% 1% 10% 1%

Saúde 4% 3% 3% 0% 1%

Energia 0% 1% 2% 1% 0%

Omitidos 2% 2% 3% 3% 3%

Custo total 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: Baseado em Banco Mundial (2012a; 2012b; 2012c; 2012d) e AVADAN’s do município de São Luiz do

Paraitinga

A Figura 3 exibe a divisão dos custos por setor associada aos cinco casos de desastres

analisados nesse estudo. Esse gráfico representa as somas dos gastos de todos os estados por

setor em relação ao total gasto em todos os desastres. É explicitado, assim, que os setores de

habitação, transportes e indústria, comércio e serviços são os mais afetados de forma geral.

Figura 3 - Divisão dos custos dos casos de desastre por setor

Fonte: Autor

A Figura 4 exibe a divisão do custo de habitação associado aos cinco casos de desastre.

Uma análise preliminar permite inferir que o tipo de impacto que mais relevante nos casos

brasileiros são ‘obras’ e ‘unidades habitacionais destruídas’, com 42% e 33%

respectivamente.

Agropecuária6%

Água e saneamento

4%Educação

5%

Energia1%

Habitação49%

Indústria, comércio e

serviços12%

Omitidos3%

Saúde2% Transportes

18%

Agropecuária

Água e saneamento

Educação

Energia

Habitação

Indústria, comércio eserviços

Omitidos

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Figura 4 - Divisão dos custos de habitação

Fonte: Autor

Para consolidar essa ideia, pode-se analisar o caso de cada estado. Conforme

apresentado na Tabela 5, em Alagoas e em São Paulo, ‘unidades habitacionais destruídas’

representam o maior custo (75% e 71%, respectivamente); em Pernambuco, ‘obras’ e

‘unidades habitacionais destruídas representam 47% e 37%, respectivamente; no Rio de

Janeiro, ‘obras’ foi o item com o qual mais foi gasto (72%). Em Santa Catarina, ‘unidades

habitacionais danificadas’, ‘unidades habitacionais destruídas’ e ‘obras’ (53%, 19% e 14%

respectivamente). Ainda que este último caso fuja um pouco do perfil por ter como maior

‘custo unidades habitacionais danificadas’, todo o quadro mostra que a maior relevância dos

desastres brasileiros no setor de habitação se encontra em obras e unidades habitacionais.

‘Obras’ por sua vez, é constituída por: Barragens; Contenção de margem; Demolição de

imóveis em situação de risco; Dragagem/Drenagem/Desassoreamento; Encostas;

Readequação das Margens; Recuperação Ambiental; Remoção de escombros; e

Terraplanagem para habitacionais.

CONTRATOS1%

MOBILIÁRIO DE DOMICILIOS

DANIFICADOS1%

MOBILIÁRIO DE DOMICILIOS DESTRUÍDOS

2%

MORADIA TEMPORÁRIA

5%

OBRAS42%

PERDAS DE RECEITA

1%

TERRENO1%

UNIDADES HABITACIONAIS DANIFICADAS

14%

UNIDADES HABITACIONAIS

DESTRUÍDAS33%

CONTRATOS

MOBILIÁRIO DEDOMICILIOSDANIFICADOS

MOBILIÁRIO DEDOMICILIOS DESTRUÍDOS

MORADIA TEMPORÁRIA

OBRAS

PERDAS DE RECEITA

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Tabela 5 - Divisão dos custos de habitação para cada caso

Item de custo PE (2010) AL (2010) SC (2008) RJ (2011) SP (2010)

Contratos 1% 1% 1% 0% 0%

Mobiliário de domicílios danificados 1% 0% 5% 0% 0%

Mobiliário de domicílios destruídos 2% 4% 1% 1% 0%

Moradia temporária 6% 12% 6% 2% 0%

Obras 47% 0% 14% 72% 17%

Perdas de receita 0% 5% 0% 0% 0%

Projetos 0% 0% 0% 0% 0%

Receita 0% 0% 0% 0% 0%

Terreno 0% 0% 0% 1% 0%

Unidades habitacionais danificadas 6% 2% 53% 4% 12%

Unidades habitacionais destruídas 37% 75% 19% 19% 71%

Total 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: Baseado em Banco Mundial (2012a; 2012b; 2012c; 2012d) e AVADAN’s do município de São Luiz do

Paraitinga

A Figura 5 mostra o percentual de cada item no custo de transporte para os cinco

estados, a partir da qual infere-se que maior parte das despesas estão relacionadas a ‘vias para

transportes’ e ‘passagens de transporte’ (46% e 44%). A Tabela 6 confirma esse resultado, já

que para os estados de Pernambuco, Santa Catarina e Rio de Janeiro e São Paulo os mesmos

itens constituem mais de 80% do total. Já para Alagoas, o perfil se altera um pouco. O item

‘Projetos’ aparece segundo maior custo, item que não foi destaque nos outros estados e que

supera ‘Passagens de transportes’. Ainda assim, juntos, ‘vias para transporte’ e ‘passagens de

transporte’ constituem majoritariamente o custo do setor de transporte em Alagoas, com 72%.

Figura 5 - Divisão dos custos de transporte

Fonte:Autor

AUMENTO DE CUSTO DE

OPERACÕES COM VEÍCULOS

1%

LIMPEZA3%

MEIOS DE TRANSPORTE

1%

PASSAGENS DE TRANSPORTES

44%

PORTOS4%

PROJETOS1%

VIAS PARA TRANSPORTE

46%

AUMENTO DE CUSTO DEOPERACÕES COMVEÍCULOS

LIMPEZA

MEIOS DE TRANSPORTE

PASSAGENS DETRANSPORTES

PORTOS

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Tabela 6 - Divisão dos custos de transporte para cada caso

Item de custo PE (2010) AL (2010) SC (2008) RJ (2011) SP (2010)

Aumento de custo de operações com veículos 0% 0% 2% 0% 0%

Limpeza 7% 0% 4% 0% 0%

Lucro cessante 0% 0% 1% 0% 0%

Obras 0% 0% 0% 0% 9%

Manutenção 0% 0% 0% 0% 0%

Material para construção 0% 0% 0% 0% 0%

Meios de transporte 0% 0% 2% 0% 8%

Passagens de transportes 53% 12% 41% 48% 0%

Terminais 0% 0% 9% 0% 0%

Projetos 0% 27% 0% 0% 0%

Vias para transporte 40% 60% 41% 52% 83%

(vazio) 0% 1% 0% 0% 0%

Total 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: Baseado em Banco Mundial (2012a; 2012b; 2012c; 2012d) e AVADAN’s do município de São Luiz do

Paraitinga

Análise crítica da aplicação da metodologia DaLA

Para a análise crítica da aplicação da metodologia DaLA aos casos anteriormente

mencionados, primeiramente faz-se necessário ressaltar a importância da iniciativa do Banco

Mundial frente ao desafio de realizar o estudo, considerando a falta de informações

padronizadas, detalhadas e consistentes sobre históricos de desastres no Brasil. A prevenção

de e a preparação para desastres requer o estudo de desastres passados, visto que para se

dimensionar o tamanho e a severidade de um possível futuro desastre numa área de risco, é

necessário um levantamento de dados sobre catástrofes anteriores semelhantes na região.

Além da comparação de eventos em uma mesma região, para efeitos de comparação, pode-se

utilizar ainda dados de regiões distintas, mas de comportamento similar. No entanto, para que

estas comparações sejam válidas, é necessário que métodos, dados coletados e a organização

destes dados sejam os mesmos ou similares. Assim, a comparação dos casos de desastre

apresentados é dificultada devido a variáveis como:

Tempo: quanto tempo o indivíduo fica “afetado”, disponibilização de aluguel social

etc.;

Nomenclatura não padronizada: o levantamento de perdas e danos para cada setor

seguiu a disponibilidade dados e, por isso, os diversos itens de custo e/ou agrupamento

destes custos eram por vezes diferentes para os casos;

Valores Unitários: cada região tem um valor unitário para cada item (por exemplo,

valor unitário de unidades normais e populares no RJ cerca de 45% e 61% maior que

média dos demais estados, respectivamente.; e

Falta de definição dos padrões de medição: número de habitantes por habitação

destruída; período referente aos incentivos/ compensações - aluguel social, abrigos etc.

Proposta de uma nomenclatura padronizada

Através do estudo dos cinco casos apresentados (Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro,

Santa Catarina e São Paulo), foi criado um banco de dados reunindo e agrupando todos os

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setores impactados, com os itens de custo e detalhamentos do mesmo e sendo classificados de

acordo com o tipo (dano ou perda). Esse banco de dados tem como objetivo reunir as

informações de todos os casos analisados através de uma nomenclatura comum padronizada

para que seja possível, desta forma, uma comparação mais eficaz. Além disso, esse banco de

dados também tem como meta a criação de um modelo ideal com nomenclatura padronizada

que possa ser aplicada em casos futuros com mais facilidade.

A tabela abaixo exemplifica o modelo ideal com nomenclatura padronizada referente

aos dois principais setores: Habitação e Transporte. Pode-se perceber que foi considerado

importante a criação de subitens para detalhar e especificar os tópicos mais amplos,

permitindo, assim, uma comparação mais precisa e exata. Como forma de ilustração, pode-se

citar que em meios de transportes existem aqueles danificados e destruídos, que por sua vez

dividem-se em automóveis de passeio, aviões, barcos, bicicletas, caminhões, caminhonetes,

helicópteros, micro-ônibus, minivans, motos, ônibus e taxis para evitar que uma bicicleta

danificada fosse comparada com um avião destruído, o que aconteceria se não houvessem

detalhamentos.

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Tabela 7 – Setores Habitação e Transporte

OBRAS

CONSTRUÇÃO

CONJUNTOS HABITACIONAIS

UNIDADE HABITACIONAIS POPULARES

UNIDADES HABITACIONAIS NORMAIS

UNIDADES PÚBLICAS

CONTENÇÃO

BARRAGEM

ENCOSTAS

MARGEM

DEMOLIÇÃO

IMÓVEIS IRREGULARES EM RISCO

IMÓVEIS REGULARES EM RISCO

VIAS E ACESSOS

DRAGAGEM/DRENAGEM/DESASSOREAMENTO

LAGOS E/OU LAGOAS

RIOS

READEQUAÇÃO

BARRAGEM

ENCOSTAS

MARGEM

RECUPERAÇÃO

BARRAGEM

ENCOSTAS

MARGEM

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL

OUTROS

PLANTIO DE ÁRVORES

REMOÇÃO

ESCOMBRO

TERRAPLANAGEM

HABITAÇÃO

PROJETOS

CONSTRUÇÃO

CONJUNTOS HABITACIONAIS

LAUDOS INFRAESTRUTURA

ABRIGOS

ALOJAMENTOS

LAUDOS VISTORIA

ABRIGOS

ALOJAMENTOS

UNIDADE HABITACIONAIS POPULARES

UNIDADES HABITACIONAIS NORMAIS

UNIDADES PÚBLICAS

HABITAÇÃO

CONTRATOS

PROGRAMA DE RESSARCIMENTO

TERRENOS

AGUARDANDO AVALIAÇÃO

DESAPROPRIAÇÃO (EM ANDAMENTO)

DESAPROPRIAÇÃO (REALIZADA)

MINHA CASA MINHA VIDA

IMÓVEIS

DANIFICADOS

UNIDADES HABITACIONAIS NORMAIS

UNIDADES HABITACIONAIS POPULARES

UNIDADES PÚBLICAS

DESTRUÍDOS

UNIDADES HABITACIONAIS NORMAIS

UNIDADES HABITACIONAIS POPULARES

UNIDADES PÚBLICAS

IMÓVEIS TEMPORÁRIOS

ALUGUEL

SOCIAL

INSTALAÇÃO

ABRIGOS

ACAMPAMENTOS

LOCAÇÃO DE ESPAÇO

ABRIGOS

ACAMPAMENTOS

MANUTENÇÃO

ABRIGOS

ACAMPAMENTOS

LUCRO CESSANTE

ALUGUEL

CONTRATOS

MOBILIÁRIO

DANIFICADOS

UNIDADES HABITACIONAIS NORMAIS

UNIDADES HABITACIONAIS POPULARES

UNIDADES PÚBLICAS

DESTRUÍDOS

UNIDADES HABITACIONAIS NORMAIS

UNIDADES HABITACIONAIS POPULARES

UNIDADES PÚBLICAS

Departamento de Engenharia Industrial

TRANSPORTE

ACESSOS DE TRANSPORTE

DANIFICADOS

CANAIS

PONTES

PONTILHÕES

TÚNEIS

DESTRUÍDOS

CANAIS

PONTES

PONTILHÕES

TÚNEIS

ALUGUEL

VEÍCULOS

CUSTOS OPERACIONAIS

AQUISIÇÃO

VEÍCULOS UTILIZADOS NA OPERAÇÃO

MANUTENÇÃO

PETRÓLEO E DERIVADOS

VEÍCULOS UTILIZADOS NA OPERAÇÃO

TEMPORAL

CONGESTIONAMENTO

IMÓVEIS

DANIFICADOS

ARMAZÉNS

BERÇOS

CABINES

CONTEINERES

OBRAS DE ARTE

PLATAFORMAS

TERMINAIS AEROVIÁRIOS

TERMINAIS FERROVIÁRIOS

TERMINAIS HIDROVIÁRIOS

TERMINAIS RODOVIÁRIOS

DESTRUÍDOS

ARMAZÉNS

BERÇOS

CABINES

CONTEINERES

OBRAS DE ARTE

PLATAFORMAS

TERMINAIS AEROVIÁRIOS

TERMINAIS FERROVIÁRIOS

TERMINAIS HIDROVIÁRIOS

TERMINAIS RODOVIÁRIOS

LIMPEZA

VIAS E ACESSOS

MATERIAL PARA CONSTRUCAO

DANIFICADOS

CANALETAS

DESTRUÍDOS

CANALETAS

MEIOS DE TRANSPORTE

DANIFICADOS

AUTOMÓVIES PASSEIO

AVIÕES

BARCOS

BICICLETAS

CAMINHÕES

CAMINHONETES

HELICÓPTEROS

MICROÔNIBUS

MINIVANS

MOTOS

NÃO DETALHADO

ÔNIBUS

TAXIS

DESTRUÍDOS

AUTOMÓVIES PASSEIO

AVIÕES

BARCOS

BICICLETAS

CAMINHÕES

CAMINHONETES

HELICÓPTEROS

MICROÔNIBUS

MINIVANS

MOTOS

NÃO DETALHADO

ÔNIBUS

TAXIS

LUCRO CESSANTE

CONSUMO DE PETRÓLEO E DERIVADOS

TAXIS

TRANSPORTE AEREIO

TRANSPORTE DE CARGAS

TRANSPORTE PÚBLICO

OBRAS

CONTENÇÃO

BARRAGEM

ENCOSTAS

MARGEM DO RIO

DEMOLIÇÃO

PASSARELAS

PONTES

RODOVIAS

TÚNEIS

VIAS URBANAS (RUAS E AVENIDAS)

DRAGAGEM/DRENAGEM/DESASSOREAMENTO

LAGOS E/OU LAGOAS

PORTOS

RIOS

Departamento de Engenharia Industrial

READEQUAÇÃO

BARRAGEM

ENCOSTAS

MARGEM DO RIO

RECUPERAÇÃO

BARRAGEM

ENCOSTAS

MARGEM DO RIO

REMOÇÃO

ESCOMBRO

REPARAÇÕES DE EMERGENCIA

HABILITAÇÃO DE CRUZAMENTOS

TEMPORÁRIOS

HABILITAÇÃO DE VIAS ALTERNATIVAS HABILITAÇÃO TEMPORÁRIA DE

PORTOS

REPARAÇÃO TEMPORÁRIA DE PONTES

REPARAÇÃO TEMPORÁRIA DE PORTOS

REPARAÇÃO TEMPORÁRIA DE VIAS

VIAS E ACESSOS

TERRAPLANAGEM

PROJETOS

ESPECIFICAÇÃO

PASSARELAS

PONTES

RODOVIAS

TÚNEIS

VIAS URBANAS (RUAS E AVENIDAS)

LAUDOS INFRAESTRUTURA

PASSARELAS

PONTES

RODOVIAS

TÚNEIS

VIAS URBANAS (RUAS E AVENIDAS)

LAUDOS VISTORIA

PASSARELAS

PONTES

RODOVIAS

TÚNEIS

VIAS URBANAS (RUAS E AVENIDAS)

RECEITA

PEDÁGIO

VIAS PARA TRANSPORTE

DANIFICADOS

ESTRADAS VICINAIS

MALHA FERROVIÁRIA

RODOVIAS

VIAS URBANAS (RUAS E AVENIDAS)

DESTRUÍDOS

ESTRADAS VICINAIS

MALHA FERROVIÁRIA

RODOVIAS

VIAS URBANAS (RUAS E AVENIDAS)

Fonte:Autor

Conclusões

Este trabalho buscou realizar uma comparação entre os casos de desastre apresentados

pelo Banco Mundial e um novo desastre ocorrido no estado de São Paulo. Durante o processo

comparativo foi identificada a necessidade de uma nomenclatura padronizada que

possibilitasse o agrupamento dos dispêndios de acordo com os setores avaliados, impactos

causados e seus respectivos detalhes. Portanto, são duas as contribuições deste estudo:

primeiro, uma proposta de padronização da nomenclatura de perdas e danos de forma a

otimizar o tempo na geração de relatórios estatísticos e possibilitar a comparação correta entre

diferentes desastres; e segundo, a análise de perdas e danos de um novo caso de São Paulo.

Para trabalhos futuros, propõe-se a criação de uma base de dados centralizada que

possibilite o cadastro das perdas e danos de diferentes desastres utilizando-se de uma

nomenclatura padronizada. Esta base de dados centralizada possibilitará um melhor

planejamento dos recursos financeiros necessários em caso de futuros desastres.

São sugeridas, também, melhorias na gestão da resposta a desastres de início súbito, nos

quais ocorre rápida formação de forças-tarefa. A necessidade de prestar socorro e assistência

às vitimas em menor tempo possível, a fim de minimizar danos humanos, justifica a

importância da logística humanitária. Evidentemente, esse avanço também pode ser feito

estudando e comparando eventos passados e buscando as falhas que aconteceram em cada

Departamento de Engenharia Industrial

resposta ao desastre e buscando solucioná-las em casos futuros. Nessa pesquisa pode-se

também encontrar métodos de prevenção eficazes a fim de evitar novos casos.

Como principal resultado, esta pesquisa originou um artigo científico, aceito para

publicação no XXXIV Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ANTAIS et al., 2014).

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