ANÁLISE BROMATOLÓGICA E FITOQUÍMICA DO LÍRIO AMARELO ( Hemerocallis flava) – PLANTA ALIMENTÍCIA

NÃO CONVENCIONAL

L.A. Soares1, E. M. Santos2, F. Ottequir3, M. Kretzschmar4

1,2,3 - Departamento de Engenharia Química – Centro Tecnológico – CEP: 89030-000 – Blumenau – SC – Brasil, Telefone: (47) 3321-6000 – Fax: (47) 3321-6001 – e-mail: (lucasalfredo@furb.br). 4- Departamento de Química – Centro de Ciências Exatas e Naturais – CEP: 89030-903 – Blumenau – SC – Brasil, Telefone: (47) 3321-0200 – Fax: (47) 3321-0150 – e-mail: (morganak@furb.br)

RESUMO – O objetivo principal deste estudo foi realizar a análise bromatológica e fitoquímica das folhas e do rizoma de Hemerocallis flava, popularmente conhecida como lírio amarelo, uma planta alimentícia não convencional (PANC). Foram determinadas a composição centesimal, o valor calórico e testes qualitativos para fitoquímicos (alcalóides, esteróides, cumarinas e flavonoides) no extrato hidroalcoólico da planta in natura. As folhas e os rizomas apresentaram teores médios de umidade de 89,3 e 77,5%, cinzas 0,92 e 0,78%, proteínas 0,36 e 0,19%, lipídios 0,25 e 0,18%, fibra alimentar 3,65 e 5,02%, carboidratos 5,52 e 16,33% e valor calórico de 25,77 e 67,7 kcal em 100g, respectivamente. Foi detectada a presença de heterosídios flavonônicos e cumarinas nas folhas, mas não foram detectados compostos fitoquímicos no rizoma. As folhas e rizomas do lírio amarelo são uma opção para uso na gastronomia pela aparência, sabor agradável e reduzido valor calórico. PALAVRAS-CHAVE: Hemerocallis flava, composição centesimal, PANCS. ABSTRACT – The main objective of this study was to perform the bromatological and phytochemical analysis of the leaf and rhizome of the Hemerocallis flava L., popularly known as yellow lily, an unconventional food plant (PANCS). Centesimal composition, caloric value and qualitative tests were carried out to determine the presence of phytochemicals (alkaloids, steroids, coumarins and flavonoids) in the hydroalcoholic extract of the in natura plant. The leaves and rhizomes had an average moisture content of 89.30% and 77.5%, ashes 0.92 and 0.78%, proteins 0.36 and 0.19%, lipids 0.25 and 0.18%, dietary fiber 3.65 and 5.02% and carbohydrate 5.52 and 16.33%, respectively. The presence of flavonoid heterosides and coumarins in the leaves was detected, but no phytochemical compounds were detected in the rhizome. The leaves and rhizome of the yellow lily plant are options for use in gastronomy due to its appearance, pleasant taste and reduced caloric value. KEYWORDS: Hemerocallis flava, nutritional composition, PANCS.

1. INTRODUÇÃO

Uma alimentação saudável está diretamente relacionada com a saúde e bem-estar dos indivíduos. Desta forma, a associação de valor nutritivo com aparência visual agradável é um estímulo para o consumo de alimentos como vegetais crus, que ainda hoje são pouco aceitos pela população.

A planta Hemerocallis flava, popularmente conhecida como lírio amarelo, é um híbrido herbáceo, acaules, rizomatoso que forma uma touceira resistente e perene, e sua vistosa floração dura apenas um dia (Souza; Lorenzi, 2005). É amplamente cultivada como planta ornamental, porém, as suas flores, folhas e rizomas podem ser consumidos crus ou após preparo apropriado, como na forma de patês, empanados, salteados na manteiga, entre outros. As raízes suculentas podem ser consumidas cozidas, assadas ou fritas e apresentam sabor que lembra o milho verde (Kinupp; Lorenzi, 2014).

Dados sobre a composição bromatológica, fitoquímica e a aceitação de alimentos são importantes para verificar a adequação nutricional da dieta de indivíduos e de populações, identificar alimentos funcionais, plantas com potencial medicinal, desenvolver pesquisas sobre as relações entre dieta e doença, promover o consumo de alimentos não convencionais, entre outros (Martins; Rosa, 2002). Desta forma, o objetivo principal deste estudo foi determinar a composição bromatológica e fitoquímica da folha e do rizoma da planta Hemerocallis flava, conhecida como lírio amarelo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

As amostras das folhas e rizomas do lírio amarelo foram obtidas em hortas caseiras na cidade de Gaspar, SC. 2.1 Análises físico-químicas - As análises físico-químicas de umidade, proteínas, lipídios, carboidratos, fibras e cinzas foram realizadas em triplicata e seguiram as Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (2005). 2.2 Valor Calórico – O valor calórico foi determinado usando o fator de conversão de “atwater” (4 para um grama de proteínas e carboidratos e 9 para lipídios). 2.3 Ensaios fitoquímicos qualitativos - Para verificar a presença dos principais grupamentos químicos do extrato hidroalcoólico das folhas e rizomas do lírio amarelo, 15 g da planta foram maceradas em etanol a 80% e aquecidos, em banho-maria, a 55ºC por 35 minutos. Em seguida, o extrato foi filtrado e transferido para um balão volumétrico de 250 mL. Os ensaios fitoquímicos avaliaram a presença de alcaloides, heterosídeos antraquinônicos, heterosídeos antociânicos, heterosídeos cianogênicos, saponinas, taninos, esteroides e/ou triterpenos, segundo a metodologia de Nakashima (1993). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na tabela 1 estão apresentados os resultados da composição centesimal e valor calórico das folhas e dos rizomas do lírio amarelo. Tabela 1: Valores médios dos resultados da análise da composição centesimal das folhas e rizomas do lírio amarelo (Hemerocallis flava).

Parâmetros Valores (%) Folhas Rizomas

Umidade 89,30±0,22 77,5±0,12 Proteínas 0,36±0,21 0,19±0,10 Lipídios 0,25±0,08 0,18±0,01 Carboidratos 5,52±0,17 16,33±0,03 Fibras 3,65±0,09 5,02±0,05 Cinzas 0,92±0,01 0,78±0,02 Valor calórico 25,77±0,13 kcal.100g-1 67,7±0,05 kcal.100g-1

A obtenção de dados referentes à composição nutricional de plantas alimentícias não convencionais (PANC) tem como objetivo reunir informações que auxiliem na promoção do consumo destes alimentos.

As folhas e rizomas do lírio amarelo apresentam elevado teor de umidade, 89,3 % e 77,5% respectivamente. Fator relevante quanto ao controle da qualidade de plantas comestíveis e medicinais, pois o alto teor de água nas amostras permite a ação de enzimas que podem degradar substâncias ativas, além de facilitar o desenvolvimento de fungos e bactérias (Silva e Queiroz, 2006). Os teores de proteínas foram 0,36 e 0,19 %, lipídios 0,25 e 0,18 %, fibra alimentar 3,65 e 5,02%, carboidratos 5,52 e 16,33%, cinzas 0,92 e 0,78% nas folhas e rizomas, respectivamente.

A partir dos valores encontrados na análise da composição centesimal, obteve-se o valor calórico de 25,77 kcal.100-1 para as folhas e 67,7 kcal.100-1 para os rizomas. O maior valor calórico observado nos rizomas se deve ao maior teor de carboidratos. Esta parte da planta tem como característica um maior conteúdo deste nutriente, fonte de energia para a planta (Ascheri et al., 2010).

A análise fitoquímica tem como objetivo rastrear possíveis grupos de compostos com algum tipo de bioatividade, quer seja tóxica ou terapêutica, em alguma parte da planta (tabela 2).

Tabela 2 - Resultados dos testes fitoquímicos do extrato hidroalcoólico das folhas e rizomas do lírio

amarelo (Hemerocallis flava).

Fitoquímicos Folhas Rizomas Alcalóides - -

Heterosídeos Flavônicos + - Heterosídeos Antraquinônicos - -

Heterosídeos Cianogênicos - - Heterosídeos Antociânicos - - Heterosídeos Saponínicos - -

Cumarinas + - Esteróides e/ou Triterpenos - -

Taninos - - Foi detectada a presença de heterosídios flavonônicos e cumarinas nas folhas, mas não foram

detectados os compostos fitoquímicos, avaliados neste estudo, nos rizomas. A análise fitoquímica é o primeiro passo para avaliar a possibilidade de emprego da planta

como medicinal e/ou alimento funcional, uma vez que dão uma noção dos possíveis grupos químicos presentes. Porém, os teores dos metabólitos primários e, principalmente, os metabólitos secundários das plantas não são fixos e são influenciados por fatores sazonais como, intensidade luminosa, excesso ou falta de chuva, época de colheita e parte da planta usada. Desta forma, a presença de algum composto bioativo pode não ser detectada em testes qualitativos (MELLO, 2007; WANG, 2006).

4. CONCLUSÕES

As folhas e rizomas do lírio amarelo apresentam elevado teor de umidade e reduzidos teores de proteínas, lipídios, carboidratos e minerais, consequentemente, baixo valor calórico. Porém, são boas opções para uso na gastronomia pela aparência e sabor, principalmente do rizoma.

Foi verificada a presença de heterosídios flavonônicos e cumarinas nas folhas, mas não foram detectados compostos fitoquímicos nos rizomas do lírio amarelo. Desta forma, sugere-se a continuidade das pesquisas com o uso de solventes extratores com diferentes polaridades.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ascheri, D. P. R., Moura, W. S., Ascheri, J. L. R., Carvalho, C. W. P. (2010). Caracterização física e físico-química de rizomas e amido do lírio-do-brejo (Hedychium coronarium). Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 40, n. 2, p. 159-166. Brasil. Instituto Adolfo Lutz (2005). Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Métodos Físico-Químicos para Análise de Alimentos. 4a. ed., Brasília: Ministério da Saúde. Kinupp, V. F; Lorenzi, H. (2014) Plantas Alimentícias Não convencionais (PANC) no Brasil. Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Instituto Plantarum de Estudos de Flora, São Paulo. Martins, L.; Rosa, C.S. (2002). Composição química e valor calórico de rosas, hibiscus, crisântemo e calêndula: uma opção alimentar. Rev. Tecnológica. Santa Cruz do Sul, 6(1), 61-70. Melo, J.G. (2007) Controle de qualidade e propriedade de conservação de plantas medicinais comercializadas no Brasil. (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Recife. Recife, PE. Nakashima, T. (1993) Étude phytochimique, évaluation des activités antifongiques at antivirales de trois Verbenaceae: Líppia alba N. E. Brown, Lippia multiflora Mold. et Citharexylum myrianthum Cham. Toulouse, França. Originalmente apresentada como tese, Institut National Polytechnique de Toulouse, 1993. Souza, V.C.; Lorenzi, H. (2005) Botânica Sistemática. Guia ilustrado para identificação das famílias de famílias de Angiospermas da flora brasileira. 3ª. Ed. Instituto Palantarum. São Paulo Wang, H. S., Pan, Y. M., Tang, X. J., Huang, Z. Q. (2006). Isolation and characterization of melanin from Osmanthus fragrans’ seeds. LWT- Food Science and Technology. 5(39), 496-502.