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ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA DO GERENCIAMENTO DE RISCOS COMO PARTE INTEGRANTE DA ESTRATÉGIA COMPETITIVA. GABRIEL HENRIQUE SILVA RAMPINI - [email protected] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - POLI FERNANDO JOSÉ BARBIN LAURINDO - [email protected] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - POLI ANA MARIA SAUT - [email protected] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP FERNANDO TOBAL BERSSANETI - [email protected] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - POLI Área: 7 - GESTÃO ESTRATÉGICA E ORGANIZACIONAL Sub-Área: 7.1 - PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E OPERACIONAL DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL Resumo: OS ESTUDOS DE ESTRATÉGIA COMPETITIVA AO LONGO DO TEMPO CRESCEM DE IMPORTÂNCIA TANTO NO MUNDO ACADÊMICO QUANTO NO MUNDO CORPORATIVO. O QUE ANTES ERA TRATADO DE MANEIRA ISOLADA, NOS DIAS ATUAIS SÃO IMPRESCINDÍVEIS À SOBREVIVÊNCIA DE UMA ORGANNIZAÇÃO. ASSIM, AS PARTES QUE COMPÕEM OS PROCESSOS ESTRATÉGICOS DAS INSTITUIÇÕES DEVEM SER ESTUDADAS DE FORMA CONTÍNUA VISANDO A OTIMIZAÇÃO DE TODO PROCESSO. NESSE DIAPASÃO ESTÁ O GERENCIAMENTO DE RISCOS, QUE APESAR DE POSSUIR UMA GAMA DE DIRETRIZES E FRAMEWORKS, É POUCO APLICADO NO CONTEXTO DA ESTRATÉGIA COMPETITIVA, NÃO OCUPANDO PAPEL RELEVANTE NA IMPLEMENTAÇÃO DOS PROCESSOS. SENDO ASSIM, O PRESENTE ARTIGO TEM COMO OBJETIVO TRAÇAR UM PERFIL SOBRE A INSERÇÃO DO GERENCIAMENTO DE RISCOS NAS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS VOLTADAS AO ESTUDO DA ESTRATÉGIA COMPETITIVA. PARA ATINGIR O OBJETIVO REALIZOU-SE UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA COM UM AMOSTRA DE ARTIGOS PERTENCENTES À PRINCIPAL COLEÇÃO DA WEB OF SCIENCE E À BASE SCOPUS, DE 2001 À 2016. COM AS ANÁLISES DESCRITIVAS E DE CONTEÚDO FOI POSSÍVEL IDENTIFICAR A EVOLUÇÃO CONSISTENTE DAS PUBLICAÇÕES, A DIVERSIDADE DE PERIÓDICOS INTERESSADOS NO ASSUNTO, A AUSÊNCIA DE NÚCLEOS DE ESPECIALISTAS NO ASSUNTO E A INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE ESTRATÉGIA, RISCOS E CADEIA DE SUPRIMENTOS. Palavras-chaves: ESTRATÉGIA COMPETITIVA; GERENCIAMENTO DE RISCOS; ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

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ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA DO GERENCIAMENTO

DE RISCOS COMO PARTE INTEGRANTE DA

ESTRATÉGIA COMPETITIVA.

GABRIEL HENRIQUE SILVA RAMPINI - [email protected]

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - POLI

FERNANDO JOSÉ BARBIN LAURINDO - [email protected]

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - POLI

ANA MARIA SAUT - [email protected]

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

FERNANDO TOBAL BERSSANETI - [email protected]

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - POLI

Área: 7 - GESTÃO ESTRATÉGICA E ORGANIZACIONAL

Sub-Área: 7.1 - PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E OPERACIONAL DA ESTRUTURA

ORGANIZACIONAL

Resumo: OS ESTUDOS DE ESTRATÉGIA COMPETITIVA AO LONGO DO TEMPO

CRESCEM DE IMPORTÂNCIA TANTO NO MUNDO ACADÊMICO QUANTO NO

MUNDO CORPORATIVO. O QUE ANTES ERA TRATADO DE MANEIRA ISOLADA,

NOS DIAS ATUAIS SÃO IMPRESCINDÍVEIS À SOBREVIVÊNCIA DE UMA

ORGANNIZAÇÃO. ASSIM, AS PARTES QUE COMPÕEM OS PROCESSOS

ESTRATÉGICOS DAS INSTITUIÇÕES DEVEM SER ESTUDADAS DE FORMA

CONTÍNUA VISANDO A OTIMIZAÇÃO DE TODO PROCESSO. NESSE DIAPASÃO

ESTÁ O GERENCIAMENTO DE RISCOS, QUE APESAR DE POSSUIR UMA GAMA DE

DIRETRIZES E FRAMEWORKS, É POUCO APLICADO NO CONTEXTO DA

ESTRATÉGIA COMPETITIVA, NÃO OCUPANDO PAPEL RELEVANTE NA

IMPLEMENTAÇÃO DOS PROCESSOS. SENDO ASSIM, O PRESENTE ARTIGO TEM

COMO OBJETIVO TRAÇAR UM PERFIL SOBRE A INSERÇÃO DO GERENCIAMENTO

DE RISCOS NAS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS VOLTADAS AO ESTUDO DA

ESTRATÉGIA COMPETITIVA. PARA ATINGIR O OBJETIVO REALIZOU-SE UMA

ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA COM UM AMOSTRA DE ARTIGOS PERTENCENTES À

PRINCIPAL COLEÇÃO DA WEB OF SCIENCE E À BASE SCOPUS, DE 2001 À 2016.

COM AS ANÁLISES DESCRITIVAS E DE CONTEÚDO FOI POSSÍVEL IDENTIFICAR A

EVOLUÇÃO CONSISTENTE DAS PUBLICAÇÕES, A DIVERSIDADE DE PERIÓDICOS

INTERESSADOS NO ASSUNTO, A AUSÊNCIA DE NÚCLEOS DE ESPECIALISTAS NO

ASSUNTO E A INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE ESTRATÉGIA, RISCOS E CADEIA

DE SUPRIMENTOS.

Palavras-chaves: ESTRATÉGIA COMPETITIVA; GERENCIAMENTO DE RISCOS;

ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

XXIV SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Contribuições Da Engenharia De Produção Para Uma Economia De Baixo Carbono

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BIBLIOMETRIC ANALYSIS OF RISK

MANAGEMENT AS AN INTEGRAL

PART OF THE COMPETITIVE

STRATEGY.

Abstract: OVER TIME COMPETITIVE STRATEGY STUDIES HAVE GROWN IN

IMPORTANCE IN ACADEMIA AS WELL AS IN THE CORPORATE WORLD. WHAT

WAS FORMERLY HANDLED IN ISOLATION, NOWADAYS ARE IMPERATIVE FOR

THE SURVIVAL OF AN ORGANIZATION. THUS, PARTS THAT COMPOSE THEE

STRATEGIC PROCESSES OF THE INSTITUTIONS ARE STUDIED IN A CONTINUOUS

WAY AIMING AT AN OPTIMIZATION OF THE WHOLE PROCESS. IN THIS DIAPASON

IS RISK MANAGEMENT, WHICH HAS A RANGE OF GUIDELINES AND

FRAMEWORKS, BUT IS LITTLE APPLIED IN THE CONTEXT OF COMPETITIVE

STRATEGY, DOES NOT PLAYING A RELEVANT ROLE IN THE IMPLEMENTATION

OF PROCESSES. THUS, THE PRESENT ARTICLE AIMS TO OUTLINE A PROFILE ON

AN INSERTION OF RISK MANAGEMENT IN THE SCIENTIFIC PRODUCTIONS

FOCUSED ON THE STUDY OF COMPETITIVE STRATEGY. FOR THIS, A

BIBLIOMETRIC ANALYSIS WITH A SAMPLE OF ARTICLES BELONGING TO THE

MAIN COLLECTION OF WEB OF SCIENCE AND THE SCOPUS BASE, FROM 2001 TO

2016, WAS HELD. THE DESCRIPTIVE AND CONTENT ANALYSIS ALLOWED TO

IDENTIFY A CONSISTENT EVOLUTION OF PUBLICATIONS, A DIVERSITY OF

JOURNALS INTERESTED IN THE SUBJECT, A LACK OF SPECIALIST NUCLEI AND

AN INTERDISCIPLINARITY BETWEEN STRATEGY, RISKS AND SUPPLY CHAIN.

Keyword: COMPETITIVE STRATEGY; RISK MANAGEMENT; BIBLIOMETRIC

ANALYSIS

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1. Introdução

A estratégia competitiva é um conceito que ao longo do tempo vem se consolidando

tanto no mundo acadêmico quanto no mundo corporativo. Inicialmente a estratégia era tratada

de maneira isolada pelas empresas, o que na realidade não agregava valor considerável às

mesmas, pois é através do conhecimento do ambiente competitivo que são extraídas as bases

para uma gestão estratégica (PORTER, 1979). Assim, as demandas corporativas aliadas às

pesquisas científicas sobre o tema fizeram com que a estratégia competitiva ocupasse papel

relevante nos estudos da comunidade acadêmica, ampliando sua implementação nas

organizações (CHRISTENSEN, 1997).

Uma forma apresentada por Eisenhardt e Sull (2001) foi o processo estratégico das

regras simples. O sucesso de sua implementação está relacionado a um reduzido número de

regras seguidos rigorosamente pelas organizações. Um grande desafio foi associar o

planejamento estratégico ao pensamento estratégico, pois o não alinhamento desses dois

conceitos acarreta processos de tomada de decisão burocráticos e uma formalização arbitrária

(CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Dentre as características contempladas na lógica estratégica das regras simples está o

gerenciamento de riscos, que apesar de possuir uma gama de diretrizes e frameworks, é pouco

aplicado no contexto da estratégia competitiva, não ocupando um papel relevante na

implementação dos processos (OLECHOWSKI et al., 2016). Além disso, apesar de as

produções científicas intensificarem as investigações sobre estratégia competitiva, é raro

identificar na literatura como o gerenciamento de riscos está inserido nessa grande área do

conhecimento.

Dessa forma, com a solidificação do tema estratégia na literatura e verificando que o

estudo sobre gestão de riscos é uma fonte de crescimento para as organizações, pois estão

relacionados a inovação e estratégia (HILLSON, 2002), a investigação sobre o gerenciamento

de riscos como parte integrante da estratégia competitiva possibilita identificar as principais

fontes de informação sobre estratégia utilizadas e analisar características acadêmicas sobre o

tema, obtendo-se assim, um mapa literário da área de conhecimento (VANZ; CAREGNATO,

2003).

A gestão estratégica das atitudes em relação ao risco é uma área de investigação

especialmente importante dentro de um ambiente competitivo cada vez mais global

(PORTER, 1985). Nessa senda, o presente artigo tem como objetivo traçar um perfil sobre a

inserção do gerenciamento de riscos nas produções científicas voltadas ao estudo da estratégia

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competitiva. Para atingir esse objetivo será realizada uma análise bibliométrica através de

uma revisão da literatura e análise de conteúdo de artigos. Segundo Randolph, 2009, tal

metodologia permite a realização de uma pesquisa consistente e uma apresentação de

resultados direta da literatura acadêmica sobre a gestão de riscos inserida no contexto da

estratégia competitiva.

2. Referencial Teórico

2.1 Estratégia Competitiva

O conceito de estratégia competitiva pode ser empregado em diversas áreas do

conhecimento e seu significado tem-se ampliado ao longo do tempo, desde a utilização em

manobras militares à ações empregadas no mundo corporativo (CAMARGOS; DIAS, 2003).

Segundo Henderson (1989), estratégia é uma busca deliberada de um plano de ação

que irá desenvolver a vantagem competitiva de um negócio e seus componentes. A essência

da formulação de uma estratégia competitiva é relacionar uma companhia a seu meio

ambiente (PORTER, 1996). Considera-se como um processo iterativo que se inicia com o

reconhecimento do ambiente em que se está inserido e a avaliação dos concorrentes, cujo

objetivo é ampliar a vantagem competitiva através dos diferenciais apresentados em relação

aos demais competidores (SU; DHANORKAR; LINDERMAN, 2015).

Um outro enfoque é dado quando define-se a estratégia como ações de incentivo e

desenvolvimento de competências essenciais (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Com o fomento

de tais competências, as entidades conseguem compartilhar custos, sem necessidade de um

investimento maior que seus concorrentes em pesquisa e desenvolvimento (CARVALHO;

LAURINDO, 2007).

Compilando as ideias apresentadas e de acordo com Porter (1996), este artigo

considera estratégia competitiva como um conjunto de ações desenvolvidas pelas entidades

que criam uma posição vantajosa perante seus concorrentes e facilitam a adaptação no

ambiente externo em que estão inseridas.

2.2 Processo Estratégico das Regras Simples

Em 2001, os pesquisadores Kathleen M. Eisenhardt e Donald N. Sull publicaram na

Havard Business Review o artigo intitulado Strategy as Simple Rules. Desde então e até o mês

de abril do ano 2017 este artigo foi citado 190 vezes na base de dados Scopus e 40 vezes na

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principal coleção da base de dados Web of Science, demonstrando sua difusão entre os

pesquisadores do tema.

O artigo apresenta o processo estratégico das regras simples. Esse processo se

diferencia das estratégias tradicionais por se concentrar nos principais processos estratégicos e

desenvolver regras simples que os moldem. Ressalta-se que em mercados considerados

estáveis, os gerentes podem confiar em estratégias complexas, baseando-se em previsões

futuras (EISENHARDT, 1999); entretanto, em mercados instáveis, onde decisões precisam

ser tomadas constantemente, o excesso de regras pode inviabilizar os objetivos, sendo viável a

utilização de estratégias simples.

As empresas que utilizam a estratégia das regras simples, por vezes são acusadas de

não possuírem quaisquer estratégias, entretanto devido sua lógica de perseguir oportunidades,

são regidas por etapas e questões estratégicas claramente definidas.

Os autores também destacam que não é possível determinar a duração de uma

vantagem competitiva obtida, sendo sua característica mais evidente a imprevisibilidade e não

a sustentabilidade. Assim, é necessário que os gestores adotem medidas corretas

tempestivamente pois, caso contrário, pode-se perder a vantagem adquirida. Normalmente os

gestores compreendem a necessidade de focar nos processos estratégicos que irão posicionar a

empresa onde o fluxo de oportunidades é mais promissor (KAPLAN; NORTON, 2000);

porém, pecam ao realizarem rotinas excessivamente detalhadas nas tomadas de decisões,

perdendo a noção das regras simples, que oferecem a estrutura exata para permitir que as

melhores oportunidades sejam capturadas.

Sendo assim, tem-se que a estratégia das regras simples apresentada por Kathleen M.

Eisenhardt e Donald N. Sull se adequam a qualquer mercado, cabendo aos gestores

aproveitarem as oportunidades com flexibilidade e disciplina, concentrando-se nos processos-

chave e nas regras simples.

2.3 Gerenciamento de Riscos

O gerenciamento de riscos é uma atividade que visa aumentar a probabilidade de

sucesso na atividade complexa, multidisciplinar e desafiadora de gerenciar projetos e

desenvolver produtos (OLIVA, 2016). Assim, é indispensável a qualquer âmbito empresarial,

pois o risco incide nos resultados dos processos e é fundamental para garantir o atingimento

dos objetivos estratégicos (ROSA; TOLEDO, 2015).

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Neste sentido, o gerenciamento de riscos deve ser visto como uma abordagem prática,

inserido em um plano estratégico que os gerentes de fato executem (LALONDE; BOIRAL,

2012), levando em conta as especificidades do ambiente organizacional interno e externo e

permanecendo vigilante no acompanhamento.

3. Metodologia de Pesquisa

Baseando-se no objetivo do presente artigo, a metodologia de pesquisa utilizada é a

bibliometria. Trata-se de uma técnica que possui o intuito de obter um melhor entendimento

sobre a literatura de um determinado tema (EIRAS et al., 2017). Assim, inicia-se com uma

revisão bibliográfica, composta por três etapas distintas (planejamento, revisão e resultados) e

posteriormente uma análise bibliométrica na disseminação dos resultados (TRANFIELD;

DENYER; SMART, 2003).

3.1 Planejamento

Iniciando a fase de planejamento com a proposta de identificar como o tema

gerenciamento de riscos está inserido nas produções científicas sobre estratégia competitiva,

optou-se por utilizar a base de dados da Principal Coleção do Web of Science e a base de

dados Scopus, pelo fato de possuírem um portfólio de produções que abrange as publicações

mais citadas na literatura, pelo acesso a artigos em texto completo e pela extração completa

dos dados necessários às análises realizadas no decorrer da pesquisa.

Nas plataformas de pesquisa inseriu-se como critérios de filtro: os artigos como o tipo

de documento, pois representam de forma mais rápida a tendência de estudo nas áreas do

conhecimento; o período iniciando no ano de 2001, ano em que fora publicado o artigo

Strategy as Simple Rules e terminando em 2016, visto que é o último ano catalogado em sua

plenitude nas bases de dados utilizadas; as categorias Management e Business, pelo

relacionamento direto com o tema pesquisado e finalmente os campos de pesquisa que

englobam itens essenciais na seleção dos artigos, como título, resumo e palavras-chave de

autor.

A estrutura geral das strings de busca possui dois identificadores principais: um de

estratégia competitiva (competitive strategy) e outro de gerenciamento de riscos (risk

management). Assim, com a finalidade de realizar o mapeamento da literatura com maior

robustez, apresenta-se a interseção utilizada nas buscas:

“strateg*” AND “competitiv*” AND “risk*” AND “management”

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3.2 Revisão

A fase de revisão iniciou-se com os primeiros resultados obtidos através da busca

realizada nas bases de dados. Inicialmente, a Principal Coleção do Web of Science apresentou

302 artigos e a Scopus, 358. Ao serem inseridos no software Mendeley®, verificou-se que 93

artigos estavam em ambas as bases, sendo necessário a exclusão. Assim, após esse primeiro

filtro restaram 567 artigos.

Em seguida, foram analisados os títulos de todos os artigos. Eliminou-se aqueles que

não abordavam diretamente quaisquer das strings de busca, pois não auxiliariam na execução

do objetivo proposto pelo trabalho. Com isso, 126 artigos compuseram a amostra utilizada

para elaboração de estatísticas descritivas, tais como periódicos com maior quantidade de

publicação, quantidade de publicações por ano, principais palavras-chave utilizadas,

quantidade de autores e artigos mais citados.

Finalizando a revisão, foram selecionados os 3 artigos do autor que mais publicou

sobre o tema na amostra, devido abordarem diretamente a inserção do gerenciamento de

riscos no cenário da estratégia competitiva. Essa última seleção fora lida na íntegra e

destacados os aspectos mais relevantes ao objetivo deste trabalho.

3.3 Resultados

3.3.1 Periódicos

Os dados da Tabela 1 apresentam os periódicos que mais publicaram artigos que

relacionam o gerenciamento de riscos no escopo da estratégia competitiva. Os 07 periódicos

destacados abrangem 20,6% do total de artigos.

TABELA 1 – Informações sobre periódicos.

Dentro da amostra selecionada, 89 periódicos publicaram sobre o tema, demonstrando

assim a difusão do assunto entre os journals. Salienta-se que ao se verificar a classificação

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segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o fator

de impacto segundo o Journal Citation Reports (JCR), os periódicos destacados possuem uma

avaliação relevante na área, devendo ser consultados prioritariamente por acadêmicos que

desejam pesquisar e publicar artigos cuja linha temática seja a estratégia competitiva.

3.3.2 Ano de publicação

Na Figura 1, que representa a quantidade de artigos publicados entre 2001 e 2016, é

possível identificar o padrão crescente na linha de tendência (pontilhada), apresentando a

evolução do tema gerenciamento de riscos como parte integrante da estratégia competitiva na

literatura.

FIGURA 1 – Distribuição temporal de artigos publicados entre 2001 e 2016

Apenas 02 artigos foram publicados em 2001 e 2002. No triênio 2003 – 2005 nota-se

um aumento no número de publicações. Em 2006 somente 01 artigo fora publicado e no

triênio 2007 – 2009 a quantidade de publicações cresceu e permaneceu estável. Após a última

queda significativa em 2010, com a publicação de apenas 02 artigos, a partir de 2011 a

quantidade de publicações voltou praticamente ao máximo alcançado até aquele ano e a partir

de 2013 cresceu vertiginosamente ano a ano, fato que caracteriza a necessidade em

desenvolver estudos sobre o tema.

Verifica-se que após 2011 com a publicação da ISO 31.000 – Gestão de Riscos, não

ocorreram quedas significativas, demonstrando o real interesse da academia em estudar gestão

de riscos sob a ótica da estratégia competitiva. Por fim, destaca-se que as 57 publicações no

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triênio 2014 – 2016 representam 45,2 % da amostra em questão, demonstrando a sólida

pesquisa sobre o tema na literatura.

3.3.4 Palavras-chave

As 10 palavras-chave que apareceram com maior frequência nos artigos e em destaque

na Tabela 2, em sua grande maioria possuem ligação direta com as strings de busca usadas

nas bases de dados pesquisadas, como por exemplo: competitive strategy, risk management e

strategic management. A contagem fora realizada através do software NVivo 11®.

TABELA 2 – Contagem das palavras-chave

Nesta análise, destacam-se as palavras-chave supply chain (cadeia de suprimento) e

firm performance (desempenho da empresa). Apesar de nenhum dos termos isoladamente

estarem nas strings de busca foi verificado uma relevante ocorrência de tais palavras,

demonstrando assim que os estudos de cadeia de suprimento e desempenho da empresa estão

diretamente relacionados às pesquisas científicas que tratam sobre gerenciamento de riscos

inserido na estratégia competitiva das empresas.

3.3.5 Artigos mais citados

Com a finalidade de identificar quais artigos da amostra foram mais influentes na

literatura, confeccionou-se a Tabela 3, em que são apresentados os 5 artigos com maior

número de citações.

TABELA 3 – Artigos mais citados na amostra.

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Identificou-se que os dois artigos mais citados abordam sobre o tema supply chain

(cadeia de suprimento). Esta evidência somada ao expressivo número da expressão como

palavra-chave, demonstra o relacionamento na literatura dos estudos de cadeia de suprimento

com gerenciamento de riscos e estratégia competitiva.

3.3.6 Autores

Analisando a amostra, verificou-se que 308 autores publicaram artigos onde é

possível, de alguma maneira, associar o gerenciamento de riscos como parte integrante da

estratégia competitiva. O pesquisador Avi Fiengenbaum, com suas 03 publicações (2002,

2003 e 2004), foi quem mais publicou artigos sobre o tema (Tabela 4).

TABELA 4 – Artigos publicados por Avi Fiegenbaum

Sendo assim, excluindo o autor em destaque, o fato de a maioria dos autores

possuírem somente uma publicação sobre o tema aliado à variedade de periódicos

apresentados no item 3.3.1, não foi possível identificar nesse trabalho a existência de um

consistente grupo de pesquisadores que se dediquem a analisar a inserção da gestão de riscos

nos processos estratégicos.

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3.3.7 Análise de conteúdo

Com a finalidade de ampliar as análises descritivas realizadas e reconhecer possíveis

enfoques sobre como pesquisar a gestão de riscos no ambiente estratégico das organizações,

optou-se por analisar o conteúdo dos 3 artigos publicados por Avis Fiegenbaum com demais

pesquisadores.

Fiegenbaum e Thomas (2004) investigam a relação entre a decisão de se expor ao

risco e a vantagem competitiva. O artigo apresenta um modelo de estratégia competitiva que

relaciona risco e competição, no qual pontos estratégicos de referência e atitudes de risco são

determinados internamente e influenciam o desempenho do risco.

O autor destaca que os bons gerentes assumem alto risco, mas são capazes de reduzi-

los ao longo do tempo. Por fim, conclui que é necessário o gerenciamento de riscos para

obtenção de vantagem competitiva e que as organizações que buscam riscos podem alcançar

estrategicamente retornos sustentáveis de baixo risco, conforme quadrante apresentado pelo

autor na Figura 2.

FIGURA 2 – Relação entre estratégia competitiva e gestão de riscos. Fonte: Adaptada de (FIEGENBAUM;

THOMAS, 2004)

Fiegenbaum et al. (2003) relacionam a gestão de riscos e a vantagem competitiva

incorporando noções comportamentais e econômicas de risco. Destaca-se que a tomada

contínua de riscos pelas empresas pode ajudar a manter a vantagem competitiva, reduzindo

assim o risco de negócio das organizações. Tal relação, segundo os autores, aumenta o retorno

financeiro aos acionistas, garante o crescimento dos lucros e reduz o prêmio de risco

associado ao fluxo de renda da empresa.

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Assim, sob enfoque das perspectivas econômicas, os autores concluem que os modelos

estratégicos que envolvam riscos de mercado devem estar diretamente relacionados a

resultados econômicos, pois afetam a capacidade da empresa em obter investimentos

externos. As escolhas estratégicas que envolvem riscos afetam tanto o desempenho da

empresa quanto as expectativas do mercado ao desempenho futuro.

Finalizando a análise de conteúdo dos artigos, em Fiegenbaum e Shoham (2002)

desenvolve-se um estudo de como as estratégias aversivas e propensas ao risco são

determinadas dentro das organizações. Tal estudo concentra-se nos chamados pontos

estratégicos de referência. Esses pontos delineiam as atitudes organizacionais em relação à

tomada de risco. Os autores concluem que o setor de negócio da empresa, a estratégia

organizacional adotada e o desempenho alcançado afetam os tipos de pontos de referência

utilizados, impactando no comportamento de risco utilizado na estratégia da organização.

4. Discussão

Findada as análises descritivas e de conteúdo, observa-se que o objetivo de traçar um

perfil sobre a inserção do gerenciamento de riscos nas produções científicas voltadas ao

estudo da estratégia competitiva foi atingido.

Verificou-se que o assunto está difundido em diversos periódicos acadêmicos,

mostrando que existem campos para pesquisa e publicações. Destaca-se ainda a possibilidade

de os pesquisadores submeterem seus trabalhos a journals com classificação Qualis / CAPES

A1 e A2 e fatores de impacto acima de 2 no JCR, ou seja, dados considerados positivos em se

tratando de publicações na área de Engenharia de Produção.

A área estudada configurou-se como uma linha de pesquisa consolidada, visto que

entre os anos 2001 e 2016 a quantidade de artigos publicados apresentou uma tendência de

crescimento, destacando-se consideravelmente no último triênio considerado na amostra.

Outro aspecto relevante é a interdisciplinaridade com o tema cadeia de suprimento.

Apesar de o termo não ter sido aplicado nas strings de busca, destacou-se tanto na contagem

das palavras-chave como nos assuntos abordados nos artigos mais citados da amostra.

Por fim, devido a gama de autores que publicaram apenas uma vez sobre o tema e em

periódicos distintos, não foi possível identificar uma comunidade acadêmica especializada em

estudar o papel da gestão de riscos no âmbito estratégico. Entretanto, salienta-se os 3

trabalhos de Avis Fiegenbaum, cujos conteúdos foram analisados e identificou-se a análise

direta do papel do gerenciamento de riscos como parte integrante da estratégia competitiva

das organizações.

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5. Conclusão

Este artigo contribui para os pesquisadores da área pois através de uma revisão de

literatura e um estudo bibliométrico foi possível qualificar como a gestão de riscos é abordado

nas publicações voltadas ao estudo da estratégia competitiva.

O presente trabalho atingiu o objetivo de traçar um perfil sobre a inserção do

gerenciamento de riscos nas produções científicas voltadas ao estudo da estratégia

competitiva, auxiliando assim na contínua construção de conhecimento em estratégia e riscos,

na medida em que ratificou a integração entre os dois temas.

Conclui-se que o assunto possui uma vasta área para publicações e pesquisas, visto

que encontra-se presente em vários periódicos acadêmicos. Além disso, trata-se de um tema

consolidado no mundo acadêmico, devido ao aumento contínuo no número de publicações.

Esta pesquisa também evidenciou que o tema cadeia de suprimento está diretamente

relacionado à estratégia e riscos, dada a relevância apresentada nas análises descritivas.

Apesar de não ter sido identificado na amostra um grupo especialista no assunto, as

abordagens feitas por Avis Fiegenbaum demonstra claramente na literatura que a gestão de

riscos e um subgrupo da estratégia competitiva.

Como limitação encontrada, cita-se o fato de o estudo possuir somente um caráter

exploratório, em que as análises descritivas dos artigos da amostra, revestem-se de

subjetividade. Em trabalhos futuros, além de ser aplicada uma metodologia quantitativa,

convém estender o marco temporal inicial com a finalidade de se identificar comunidades

acadêmicas especialistas no tema. Uma pesquisa de campo sobre o tema e estudos

complementares sobre a aplicação da estratégia competitiva nas cadeias de suprimentos

contribuiriam para geração de conhecimento sobre a área.

Referências

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