anais_portal - fundacentro 2012

380
Anais Sistemas de Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho 25 a 27 de novembro de 2008 MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO FUNDACENTRO FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

Upload: lucilio-borges

Post on 19-Oct-2015

290 views

Category:

Documents


20 download

TRANSCRIPT

  • AnaisSistemas de Gesto em Segurana

    e Sade no Trabalho

    25 a 27 de novembro de 2008

    M I N I S T R I ODO TRABALHO E EMPREGO

    FUNDACENTROFUNDAO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

  • Anais da VIII Semana da Pesquisa

  • Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro do Trabalho e EmpregoCarlos Lupi

    Fundacentro

    PresidenteEduardo de Azeredo Costa

    Diretor Executivo SubstitutoHilbert Pfaltzgraff Ferreira

    Diretor TcnicoJfi lo Moreira Lima Jnior

    Diretor de Administrao e FinanasHilbert Pfaltzgraff Ferreira

  • Fundacentro

    Anais da VIII Semana

    da Pesquisa

    Sistemas de Gesto em Segurana e Sade no Trabalho

    25 a 27 de novembro de 2008

    2010

    M I N I S T R I ODO TRABALHO E EMPREGO

    FUNDACENTROFUNDAO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

    So Paulo

  • Ficha Tcnica

    Coordenao Editorial: Glaucia FernandesReviso de textos: Karina Penariol Sanches

    Projeto grfi co e design miolo: Gisele Almeida (estagiria)Design capa: Glaucia Fernandes Gisele Almeida (estagiria)

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Servio de Documentao e Biblioteca SDB / Fundacentro

    So Paulo SPErika Alves dos Santos CRB-8/7110

    CIS Classifi cao do Centre International dInformations de Scurit et dHygiene du TravailCDU Classifi cao Decimal Universal

    1234567Semana da Pesquisa da Fundacentro (8. : 2008 : So Paulo).1234567890Anais da VIII semana da pesquisa : sistemas de gesto em 1234567segurana e sade no trabalho / VIII Semana da Pesquisa da 1234567Fundacentro. So Paulo : Fundacentro, 2010.1234567890374 p. : il. color. ; 23 cm.

    1234567890ISBN 978-85-98117-56-0

    12345678901. Segurana e sade no trabalho - Reunies de segurana e 1234567sade. I. Ttulo.

    CISA Veq (207)

    CDU613.6(81)(063)

    Disponvel tambm em: www.fundacentro.gov.brQualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

  • Sumrio

    Apresentao ............................................................................................................................. 9

    Comisso organizadora .......................................................................................................... 11

    Programao ............................................................................................................................ 13

    Tese de doutorado (resumo) ............................................................................................ 17

    1. Incentivos governamentais para promoo da segurana e sade no trabalho ....................... 19

    Dissertaes de mestrado (resumos) ............................................................................ 27

    1. Arquivos abertos e instrumentos de gesto da qualidade como recursos para adisseminao da informao cientfi ca em segurana e sade no trabalho .............................. 29

    2. A importncia da comunicao de risco para as organizaes ................................................... 37

    3. A gesto da segurana e sade no trabalho: a experincia do arranjo produtivo local do setor metal-mecnico da regio paulista do Grande ABC ........................................... 43

    4. Diretrizes para um centro de triagem de materiais reciclveis quanto ao ambiente construdo em relao segurana e sade no trabalho: um estudo de caso no Guarituba, municpio de Piraquara regio metropolitana de Curitiba ....................................................... 55

    5. Programa de gesto de riscos para tubulaes industriais ........................................................... 61

    6. Consideraes sobre o envelhecimento do trabalhador .............................................................. 69

    7. Exposio ocupacional a campos eletromagntticos em estaes rdio-base: anlise crticado programa de preveno de riscos ambientais em uma empresa do setorde telecomunicaes ...................................................................................................................................................77

    8. Caractersticas da poeira resultante do processo de fabricao de materiais cermicos para revestimento: estudo no plo cermico de Santa Gertrudes ............................................. 85

  • Trabalhos apresentados na forma oral (Resumos) .................................................... 93

    1. Pesquisa sobre acidentes do trabalho em micro e pequenas empresas industriais nos ramos caladista, moveleiro e de confeces: resultados fi nais .......................................... 95

    2. Abordagens pragmticas na avaliao qualitativa de riscos qumicos ...................................... 103

    3. Diagnstico das condies de trabalho no benefi ciamento do sisal ........................................ 109

    4. A previso do ndice Wind Chill um servio operacional voltado aos trabalhadores de reas externas .............................................................................................................................. 115

    5. Projeto de pesquisa e termo de ajustamento da SRTe/PR como instrumento de modifi cao das condies de trabalho de fundies em plo de metais sanitrios ...... 123

    6. Preveno de exploses na fabricao de fogos de artifcios no arranjo produtivo de Santo Antonio do Monte (MG) ............................................................................................... 131

    7. Segurana e sade dos pescadores artesanais no estado do Par ............................................. 139

    8. A produo cientfi ca sobre o trabalho e a sade dos enfermeiros: um panorama .............. 147

    9. Proteo respiratria contra agentes biolgicos e a cartilha para os trabalhadores de sade ........151

    10. Boas prticas no controle da exposio ocupacional ao benzeno ......................................... 159

    11. Avaliao do impacto do nexo tcnico epidemiolgico sobre os benefcios por incapacidade ............................................................................................................................ 165

    Trabalhos apresentados na forma de pster (Resumos) ........................................ 175

    1. O potencial uso do Large Eddy Simulation (LES) para pesquisa no tema sade do trabalhador ....................................................................................................... 177

    2. Relao dos afastamentos do trabalho devido s doenas do aparelho respiratrio com as condies de tempo mensal ........................................................ 185

    3. Estratgias e polticas na eliminao e diminuio da exposio ocupacional ao benzeno ........................................................................................................................ 193

    4. Vigilncia da exposio ao benzeno no Brasil: a importncia da participao ................201

    5. Relato de caso: a pior fbrica de benzeno do Brasil .................................................... 205

    6. Gesto de SST na indstria da construo: resultados preliminares do estudo piloto no Rio de Janeiro .................................................................................... 209

  • 7. Resgate do papel histrico da Fundacentro .................................................................. 215

    8. A educao em segurana e sade no trabalho e a metodologia sociodramtica ............221

    9. Os programas de preveno e controle de riscos nos ambientes de trabalho como instrumentos de gesto em SST: novas abordagens e perspectivas no processo ensino-aprendizagem ................................................................................ 227

    10. Podcast informativo Fundacentro .................................................................................. 235

    11. Determinao de metais pesados em indstria cimenteira que co-processa resduos ...........................................................................................239

    12. Exposio ocupacional a pesticidas em estufas de fl ores ......................................... 245

    13. Determinao de Pb, Al e Ni por ICP-OES no ambiente de trabalho de uma fundio de ligas metlicas de bronze ........................................................................ 251

    14. Metodologia dosimtrica para controle da exposio ocupacional s radiaes ionizantes e ultravioleta ................................................................................................ 257

    15. Developing strategies in Brazil to manage the emerging nanotechnology and its associated risks .................................................................................................. 265

    16. Identifi cao de substncias qumicas ......................................................................... 273

    17. Barreiras s intervenes relacionadas sade do trabalhador do setor sade na Amrica Latina .............................................................................................. 283

    18. Adaptao de metodologia analtica para a determinao de HPA em amostras ocupacionais ................................................................................................................... 287

    19. Determinao de hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPA) em ambiente de trabalho de indstria de cimento que co-processa resduos ............ 291

    20. Avaliao preliminar da presena de HPA no clnquer produzido emcimenteira que co-processa resduos industriais ...................................................... 295

    21. Resduos slidos nas indstrias moveleiras do agreste alagoano: impactos ocupacionais e ambientais ............................................................................................. 299

    22. Tendncias e variaes dos acidentes do trabalho na indstria moveleira brasileira segundo o tamanho das empresas .............................................................. 305

    23. Condies de trabalho e sade dos auxiliares de administrao escolar da rede privada de ensino do Estado de Minas Gerais: resultados de pesquisa ..........................311

  • 24. Avaliao do impacto dos acidentes de trabalho nas micro e pequenas empresas da indstria brasileira de calados: gnero e parte do corpo atingida ................................ 319

    25. Anlise comparativa dos acidentes e doenas do trabalho na indstria txtil e de confeces brasileira .................................................................................... 325

    26. O dialogismo presente em artigos cientfi cos de SST ............................................... 331

    27. Acidente fatal envolvendo exploso de tanques de lcool ....................................... 339

    28. O processo avaliativo no ciclo de palestras tcnicas sobre segurana e sade do trabalhador no estado do Par ..................................................................... 343

    29. Educao continuada em segurana e sade do trabalhador na Fundacentro no estado do Par ................................................................................... 351

    30. Segurana e sade do trabalho no assentamento rural em Potozi do Cabo de Santo Agostinho ............................................................................................. 359

    31. Condies de trabalho no cultivo da mandioca, em Santa Maria da Serra/SP .............367

  • Apresentao

    A Fundacentro Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho instituio vinculada ao Ministrio do Trabalho e Emprego, tem como misso a produo e a difuso de conhecimentos que contribuam para a promoo da segurana e sade dos trabalha-dores e das trabalhadoras, visando ao desenvolvimento sustentvel, com crescimento econmi-co, equidade social e proteo do meio ambiente.

    Uma das aes da Fundacentro, visando ao cumprimento de sua misso, a realizao de um evento bianual com o objetivo de promover o intercmbio tcnico e cientfi co entre os servido-res da Fundacentro e seus parceiros, divulgar os trabalhos por eles realizados, discutir mecanis-mos institucionais para o desenvolvimento de parcerias e avaliar os resultados alcanados. Esse evento chamado de Semana da Pesquisa.

    A VIII Semana da Pesquisa da Fundacentro foi realizada no perodo de 25 a 27 de novembro de 2008, no auditrio do Centro Tcnico Nacional, em So Paulo, e teve como tema Sistemas de Gesto em Segurana e Sade no Trabalho.

    A programao incluiu apresentaes orais de tese de doutorado e dissertaes de mestrado de-fendidas por servidores da Fundacentro no perodo de 2006 a 2008, conferncia sobre as Diretrizes da Organizao Internacional do Trabalho para a SST, apresentada por acadmico da Universidade Tcnica de Lisboa, sesses de comunicaes tcnico-cientfi cas de trabalhos originais apresentados na forma oral e sesso especfi ca de apresentao de trabalhos na forma de psteres.

    O evento teve como pblico alvo os profi ssionais que atuam na rea de Segurana e Sade no Trabalho.

  • Comisso organizadora da VIII Semana da Pesquisa da Fundacentro

    Jos Damsio de Aquino Coordenador Diretoria Tcnica

    Alexandra Rinaldi Assessoria de Comunicao Social

    Ana Maria Tibiri Bon Servio de Agentes Qumicos

    Cludia Ceclia Marchiano Servio de Eventos

    Dbora Maria Santos Assessoria de Comunicao Social

    Glaucia de Menezes Fernandes Servio de Publicaes

    Juliana Andrade Oliveira Servio de Ergonomia

    Luiz Augusto Damasceno Brasil Centro Regional do Distrito Federal

    Maria Cristina Aguiar Campos Servio de Agentes Fsicos

    Maria Ins dos Santos Servio de Documentao e Biblioteca

    Silvia Helena de Arajo Nicolai Servio de Equipamentos de Segurana

    Tarsila Baptista Ponce Servio de Desenvolvimento de Recursos Humanos

    Walter dos Reis Pedreira Filho Servio de Agentes Qumicos

  • Os resumos aqui publicados no passaram por quaisquer re-vises, sejam gramaticais ou de contedo tcnico, mantendo-se

    na ntegra o texto encaminhado por seus autores.

  • Programao

    Dia 25 de novembro de 2008

    08h30 s 10h00Credenciamento

    09h15 s 09h30Apresentao do Coral da Fundacentro

    09h30 s 10h00Cerimnia de abertura Jurandir Bia Rocha

    Presidente da Fundacentro

    Jorge Paulo MagdalenoDiretor Executivo da Fundacentro

    Jfi lo Moreira LimaDiretor Tcnico da Fundacentro

    10h15 s 12h00Conferncia Diretrizes da Organizao Internacional do Trabalho (OIT) para

    a SST e a sua adoo no mundoProf. Dr. Luis Alves DiasUniversidade Tcnica de Lisboa/Portugal

    Coordenao Jos Damsio de AquinoTecnologista da Fundacentro

    14h00 s 16h00Painel Propostas da Fundacentro para adoo de medidas de preveno em

    SST nas pequenas e mdias empresas

    Coordenao Luis Renato Balbo AndradeTecnologista da Fundacentro

    Apresentaes Pesquisa sobre acidentes do trabalho em micro eorais de pequenas empresas industriais nos ramos caladista,trabalhos moveleiro e de confeces: resultados fi nais

    Celso Amorim Salim Analista de C&T da Fundacentro

  • Abordagens pragmticas na avaliao qualitativa de riscos qumicos Marcela Gerardo Ribeiro Pesquisadora da Fundacentro

    Diagnstico das condies de trabalho no benefi ciamento do sisal

    Rosa Yasuko Yamashita Pesquisadora da Fundacentro

    16h15 s 17h15Painel Divulgao de informaes cientfi cas em SST

    Coordenao Eduardo Garcia Garcia Pesquisador da Fundacentro

    Apresentao RBSO: perspectivas e desafi os para difuso deoral de informaes em SSTtrabalho Jos Maral Jackson Filho

    Pesquisador da Fundacentro

    Dia 26 de novembro de 2008

    09h00 s 10h40Painel Apresentaes de dissertaes de mestrado

    Coordenao Maria de Ftima Torres Faria Viegas Tecnologista da Fundacentro

    Apresentaes Arquivos abertos e instrumentos de gesto da qualidadeorais de como recursos para a disseminao da informaotrabalhos cientfi ca em segurana e sade no trabalho

    Erika Alves dos Santos Tecnologista da Fundacentro

    A importncia da comunicao de risco para as organizaesAlexandra RinaldiAssistente de C&T da Fundacentro

    A gesto da segurana e sade no trabalho: a experincia do arranjo produtivo do setor metal-mecnico da regio paulista do Grande ABCMaria Carolina Maggiotti CostaAnalista de C&T da Fundacentro

    11h00 s 12h00Painel Apresentaes de psteres

    13h30 s 15h10Painel Apresentaes de dissertaes de mestrado

  • Coordenao Marcos Alberto Magalhes Nogueira Tecnologista da Fundacentro

    Apresentaes Diretrizes para um centro de triagem de materiaisorais de reciclveis quanto ao ambiente construdo emtrabalho relao segurana e sade no trabalho: um estudo de caso no

    Guarituba, municpio de Piraquara regio metropolitana de Curitiba

    Evelyn Joice Albizu Tecnologista da Fundacentro

    Programa de gesto de riscos para tubulaes industriais Flavio Maldonado Bentes Tecnologista da Fundacentro

    Consideraes acerca do envelhecimento do trabalhadorJuliana Andrade de Oliveira Tecnologista da Fundacentro

    15h30 s 17h10Painel Experincias bem-sucedidas em SST

    Coordenao Ana Rbia Wolf Gomes Tecnologista da Fundacentro

    Apresentaes A previso do ndice Wind Chill um servioorais de operacional voltado aos trabalhadores de reastrabalho externas Daniel Pires Bitencourt

    Pesquisador da Fundacentro

    Projeto de pesquisa e termo de ajustamento da SRTe/PR como instrumento de modifi cao das condies de trabalho de fundies em plo de metais sanitriosCarlos Srgio SilvaPesquisador da Fundacentro

    Preveno de exploses na fabricao de fogos de artifcios no arranjo produtivo de Santo Antonio do Monte (MG)Gilmar da Cunha TrivelatoPesquisador da Fundacentro

    Segurana e sade dos pescadores artesanais no estado do Par Silvio Silva BrasilChefe do Centro Estadual do Par Fundacentro

    Dia 27 de novembro de 2008

    09h00 s 10h40Painel Apresentaes de dissertaes de mestrado e tese de doutorado

    Coordenao Jos Carlos Pesente Tecnologista da Fundacentro

  • Apresentaes Exposio ocupacional em estaes rdio-base:orais de anlise crtica do programa de preveno de riscostrabalho ambientais em uma empresa do setor de telecomunicaes

    Solange Regina SchafferTecnologista da Fundacentro

    Caractersticas da poeira resultante do processo de fabricao de materiais cermicos para revestimento: estudo no plo cermico de Santa GertrudesMaria Margarida Teixeira Moreira LimaTecnologista da Fundacentro

    Incentivos governamentais para promoo da segurana e sade no trabalhoRogrio Galvo da Silva Tecnologista da Fundacentro

    10h00 s 12h40Painel Experincias bem-sucedidas em SST

    Coordenao Fbio Sperduti Tecnologista da Fundacentro

    Apresentaes A produo cientfi ca sobre o trabalho e a sadeorais de dos enfermeiros: um panoramatrabalho Tereza Luiza Ferreira dos Santos Tecnologista da Fundacentro

    Proteo respiratria contra agentes biolgicos e a cartilha para os trabalhadores de sadeSlvia Helena de Araujo NicolaiTecnologista da Fundacentro

    Boas prticas no controle da exposio ocupacional ao benzeno Luiza Maria Nunes Cardoso Pesquisadora da Fundacentro

    Avaliao do impacto do nexo tcnico epidemiolgico sobre os benefcios por incapacidadeMaria MaenoPesquisadora da Fundacentro

    12h30 s 13h00Encerramento Jfi lo Moreira Lima

    Diretor Tcnico da Fundacentro

    Jos Damsio de AquinoCoordenador da VIII Semana da Pesquisa da Fundacentro

  • Tese de Doutorado

    (Resumo)

  • 1Incentivos governamentais para promoo da segurana e sade no trabalho1

    Rogrio Galvo da Silva, Fundacentro/CTN/[email protected]

    Palavras-chave: sade do trabalhador; poltica de sade do trabalhador; preveno de acidentes; incentivos.

    1 Resumo da tese de doutorado defendida em 29/11/2006 na Faculdade de Sade Pblica USP cujo original est disponvel em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6134/tde-02022007-162308/>. Este resumo foi preparado para a VIII Semana da Pesquisa da Fundacentro, realizada na cidade de So Paulo em 2008.

  • 23

    Introduo

    O progresso tecnolgico e as intensas presses competitivas trazem rpidas mudanas nos processos, condies e organizao do trabalho. Os instrumentos tradicionais de Estado, na forma de regulamentao e fi scalizao, so essenciais, mas insufi cientes para tratar estas mudanas ou para abordar os perigos e riscos delas decorrentes. Vrios pases, incluindo a Austrlia, Estados Unidos e a maioria dos pases da Comunidade Europia, tm seguido uma tendncia de combinao dos instrumentos tradicionais com o uso de incentivos. Em geral, o componente regulador reduz o grau de incerteza, enquanto o componente de incentivo admite a fl exibilidade na resposta s presses reguladoras.

    O uso de alguma recompensa ou punio para obteno de resultado desejvel de um indiv-duo ou coletividade antigo, e a histria da humanidade est repleta de exemplos, principalmen-te em culturas capitalistas. Porm, o uso de incentivos no campo das polticas pblicas muito mais recente e est associado tentativa de induzir as organizaes2 numa conduta que favorece determinados valores que so de interesse pblico. A lgica no uso de incentivos supe que a conduta desejada no a escolha natural entre os atores, sendo necessrio a recompensa ou a punio para se alcanar resultado melhor.

    Os mecanismos de funcionamento dos incentivos deveriam levar em conta quatro princpios bsicos: a) simplicidade, isto , os mecanismos do incentivo devem ser simples para reduzirem a carga administrativa dos reguladores e para facilitarem a compreenso e aceitao do pblico-alvo; b) motivao, ou seja, devem gerar motivao adequada para reduo do custo ou aumento do de-sempenho. Os mecanismos do incentivo devem estar relacionados com os objetivos da organiza-o e com elementos sujeitos ao controle gerencial; c) senso de justia, isto signifi ca que as recom-pensas ou penalidades geradas pelo incentivo devem estar dentro de limites aceitveis, tanto em nvel poltico como operacional; d) poder de permanncia, isto , o incentivo deve ser percebido pelo pblico-alvo como uma medida permanente, que merece ser considerada no curto, mdio ou longo prazo. Assim, a previso de vigncia do incentivo deve ser claramente estabelecida e comunicada s partes envolvidas (PFEIFENBERGER; TYE, 1995).

    Dentre os incentivos governamentais para promoo da segurana e sade no trabalho (SST), sendo estes compreendidos como iniciativas que exploram as diferenas entre os desempenhos organizacionais em SST para proporcionar vantagem ou desvantagem ao pblico-alvo com o intuito de estimular a melhoria da SST, pode-se apontar a existncia dos seguintes:

    a) Flexibilizao das alquotas de contribuio do seguro acidente do trabalho (SAT), por meio da qual procura-se recompensar ou onerar as organizaes com descontos ou aumentos nos prmios do seguro, conforme critrios de desempenho relacionados com as condies de SST, levando-se em conta um determinado perodo. H indicativos que este incentivo infl uencia as decises da alta administrao das organizaes na melhoria da SST. (KPMG, 2001; WRIGHT; MARSDEN, 2002; WRIGHT et al., 2003).

    2 O termo organizao empregado para caracterizar qualquer companhia, corporao, fi rma, empresa, instituio ou associ-ao, ou parte dela, incorporada ou no, de natureza privada, que tem funes e estrutura administrativa prprias.

  • 24

    b) Reconhecimento pblico em SST com a premiao das melhores prticas, da implemen-tao efetiva de modelos de sistemas de gesto, de inovaes ou iniciativas de destaque relacionadas SST. A premiao consiste na emisso de certifi cados, criao de logotipos ou outro tipo de publicidade, por meio da qual procura-se estimular e diferenciar o alcance de nveis de excelncia. As iniciativas de reconhecimento pblico em SST so reconheci-das por vrios autores como uma ferramenta importante para infl uenciar a conduta das organizaes na melhoria da SST. (KPMG, 2001; TAIT; WALKER, 2000).

    c) Publicidade negativa em SST com a divulgao dos resultados desfavorveis s organiza-es nos inquritos civis e criminais relativos s ocorrncias de acidentes e doenas do trabalho, por meio da qual procura-se constranger aquelas onde ocorreram tais eventos. Este tipo de incentivo pode sensibilizar no s a alta administrao das organizaes, mas tambm acionistas e credores que temem a desvalorizao da organizao, perdas de capital e de credibilidade (GUNNINGHAM, 1999; DAVIS, 2004).

    d) Publicidade de dados comparativos do desempenho da SST entre organizaes do mes-mo segmento, por meio da qual procura-se enaltecer as organizaes que alcanaram os melhores desempenhos em SST e constranger as organizaes que apresentam baixos desempenhos. As organizaes, principalmente as grandes, podem ser infl uenciadas pela divulgao pblica de um ndice de medida de desempenho organizacional em SST. Ge-ralmente os dirigentes das organizaes so competitivos e preocupados com suas repu-taes, e a comparao deles com seus pares pode infl uenciar suas decises para melhoria da SST (HOPKINS, 2005).

    e) Estabelecimento de requisitos de SST nas licitaes pblicas, sem se limitar ao atendi-mento das prescries mnimas legais, por meio do qual procura-se oferecer privilgios na aquisio de contratos com o governo para as organizaes que atendem determi-nados requisitos e, ao mesmo tempo, disciplinar as demais interessadas. Muitas organi-zaes australianas atingidas pelo incentivo relataram que tal medida foi determinante para a melhoria do desempenho da SST.

    f) Flexibilizao da ocorrncia das fi scalizaes programadas3 dos ambientes e condies de trabalho, promovendo a iseno ou priorizao das fi scalizaes programadas nas organizaes, conforme o desempenho em SST delas num determinado perodo. Este incentivo permite fazer melhor uso dos recursos limitados de fi scalizao. Alm de de-monstrar sociedade que h um planejamento lgico na ocorrncia delas.

    A questo da pesquisa que norteou o desenvolvimento do trabalho foi a seguinte: quais incentivos governamentais, se implementados, seriam os mais promissores para infl uenciarem a alta administrao das organizaes na melhoria da segurana e sade no trabalho?.

    3 Fiscalizao programada uma fi scalizao de rotina, que foi planejada segundo as prioridades do rgo de fi scalizao, e que no foi gerada por denncia de irregularidade ou pela ocorrncia de acidente grave / fatal.

  • 25

    Neste contexto, os seguintes objetivos foram defi nidos:

    analisar a infl uncia que os incentivos para promoo da SST exerceriam nas decises de membros da alta administrao de organizaes de um determinado ramo de ati-vidade econmica.

    identifi car dentre os incentivos analisados aqueles que so apontados pelos membros da alta administrao das organizaes selecionadas como sendo os mais promissores para promoverem a melhoria do desempenho da SST.

    Metodologia

    Em busca de respostas para a questo da pesquisa, foi selecionado um grupo de empresas de mdio porte, do mesmo ramo de atividade econmica, e que est sujeito s mesmas polticas, legislaes e regulamentaes do governo federal. Assim, a pesquisa de campo foi dirigida ao segmento de terminais martimos para granis lquidos que operam no Pas, os quais so empre-sas que dispem de uma variedade de tanques de superfcie de pequeno e mdio porte, de capa-cidades entre dez e cem mil metros cbicos, com fl exibilidade para armazenar os mais variados produtos lquidos, incluindo os liquefeitos, seja para uso prprio da companhia ou para terceiros, e com facilidades para operar com navios especializados e caminhes-tanque.

    Foram identifi cadas sete companhias para participarem do estudo, as quais possuem um total de quinze terminais martimos para granis lquidos operando no Pas. Dentre essas sete com-panhias, duas delas optaram por no participar do estudo. As cinco companhias participantes possuem onze terminais martimos para granis lquidos, os quais esto distribudos da seguinte forma: cinco na Baixada Santista-SP, um no Rio de Janeiro-RJ, um em Paranagu-PR, um em Ipojuca-PE, um em Candeias-BA, um em So Luiz-MA e um no Rio Grande-RS.

    Os sujeitos da pesquisa foram membros da alta administrao com responsabilidade parcial ou total na aprovao de oramentos e nas decises fi nais relacionadas com a SST, os quais ocupavam cargos da seguinte natureza: diretor fi nanceiro corporativo, diretor de terminal, ge-rente de terminal, lder de terminal, gerente corporativo do meio ambiente e segurana do tra-balho. Utilizou-se um formulrio composto por quarenta e trs questes, abertas e fechadas, para auxiliar a realizao das entrevistas, o qual foi testado e validado previamente. A coleta de informaes ocorreu no perodo de julho de 2005 a fevereiro de 2006 e atendeu as diretrizes da Resoluo n 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Sade, que estabelece a exigncia da anuncia livre e esclarecida dos participantes na pesquisa.

    Resultados

    Os resultados da pesquisa revelaram que os incentivos estudados tm potencial para exer-cerem infl uncia nas decises dos membros da alta administrao das companhias estudadas, com exceo do incentivo na forma de estabelecimento de requisitos de SST nas licitaes p-blicas, pois as organizaes no possuem relaes comerciais com o governo. Os incentivos governamentais na forma de fl exibilizao das alquotas de recolhimento do SAT e na forma de

  • 26

    fl exibilizao da freqncia das fi scalizaes programadas dos ambientes e condies de trabalho foram avaliados pelos membros da alta administrao do segmento estudado como sendo os mais promissores para infl uenciarem suas decises para melhoria do desempenho da SST.

    Esses dois incentivos permitem promover a implementao voluntria de prticas de gesto da SST nas organizaes, na medida em que a comprovao da conformidade com tais prticas se constitua num indicador proativo. Tais incentivos provocam conseqncias diretas e imediatas ao pblico-alvo, tanto na forma de recompensas como de punies, que so objetivas e facil-mente mensurveis. Os incentivos que exploram a publicidade de informaes em SST, como o caso do uso da publicidade negativa e da comparao dos desempenhos em SST, no tm a mesma diretividade, pois a infl uncia que exercem nas decises sobre SST depende de fatores como o nvel da reao ou da presso das partes interessadas sobre o pblico-alvo, a importncia que a imagem corporativa tem para manter ou expandir os negcios das organizaes atingidas, a repercusso e abrangncia alcanada pela publicidade governamental.

    Quanto s especifi cidades da fl exibilizao das alquotas de contribuio do seguro acidente do trabalho, no se deve perder de vista que esta forma de incentivo no tem potencial para infl uenciar todas as empresas com a mesma intensidade, ou seja, o impacto desta medida varia conforme o tamanho das empresas, ramo de atividade, tecnologia utilizada etc. De forma geral, presume-se que enquanto o impacto nas grandes empresas pode ser signifi cativo, nas micro e pequenas empresas pode ser pouco expressivo. Em ramos de atividade em que o custo com a mo de obra consome boa parte do faturamento, o incentivo ter um impacto maior quando comparado com a situao contrria. De forma anloga, haver uma diferenciao entre empre-sas quando for considerado o nvel de tecnologia empregado, pois esse fator pode determinar um menor ou maior nmero de atividades automatizadas, e conseqentemente alterando a relao entre o custo da mo de obra e o faturamento da empresa. Outrossim, h que se consi-derar que provavelmente esse incentivo atua melhor como uma contra-medida, isto , ele ter um efeito maior nas empresas que tero acrscimo nas alquotas de recolhimento do SAT do que naquelas que tero reduo.

    Quanto fl exibilizao da freqncia das fi scalizaes programadas com base no desempe-nho da SST e/ou na demonstrao de conformidade com prticas voluntrias de gesto da SST, cabe lembrar as experincias americanas com o OSHAs Maine 200 Program, que consistiu em direcionar a interveno governamental nas duzentas empresas com as mais altas taxas de bene-fcios decorrentes de acidentes e doenas naquele Estado, e com os Programas Voluntrios de Proteo (Voluntary Protection Programs - VPP), que permite a suspenso das fi scalizaes progra-madas nas empresas que demonstraram estar em conformidade com tais programas e atenderam determinados critrios de desempenho da segurana.

    No entanto, deve-se levar em conta que o potencial deste incentivo ser tanto maior na medida em que a ocorrncia das fi scalizaes seja percebida pelo pblico-alvo como alta, e que o impacto fi nanceiro das penalidades seja tambm percebido como alto. Alm disto, na medida em que o governo e a mdia do mais publicidade s autuaes impostas na rea de SST, haver um impacto maior nas empresas sensveis variao da imagem corporativa. Outrossim, depen-dendo das conseqncias que a alta administrao possa sofrer pelas partes interessadas devido s autuaes, esse incentivo poder ter um potencial maior ou menor para infl uenciar o pblico-

  • 27

    alvo no alcance do benefcio. A possibilidade de suspenso das fi scalizaes de SST acabou se revelando como um benefcio bem valorizado pelos entrevistados, mesmo numa situao que o custo das autuaes percebido pelos entrevistados como baixo ou mdio.

    Quanto ao incentivo na forma de reconhecimento pblico em SST, terceiro na ordem de preferncia, cabe salientar que vrios governos estrangeiros tm empreendido esforos nesse sentido. Os dados obtidos junto aos entrevistados revelaram que esse incentivo reconhecido como promissor para infl uenciar a conduta das organizaes no desenvolvimento de esforos preventivos. No entanto, deve-se considerar a possibilidade dele atingir principalmente aquelas empresas que j esto num patamar elevado de desempenho. Assim, vislumbra-se que o impac-to desse incentivo ser muito menor naquelas com baixo desempenho em SST, ou naquelas em que a SST pouco valorizada.

    Quanto ao incentivo na forma de publicidade negativa, ao tentar identifi car a situao que melhor refl ete a infl uncia deste incentivo, a maioria dos entrevistados indicou que a medida somente infl uenciar as decises deles se provocar a manifestao ou reao adversa de clientes, acionistas ou outra parte interessada; o restante dos entrevistados indicou que haver infl uncia nas suas decises sobre SST, independente de suas companhias serem alvo de publicidade nega-tiva. importante considerar que os terminais martimos para granis lquidos esto inseridos num mercado competitivo em nvel mundial, e a publicidade negativa pode propiciar a perda da confi ana das partes interessadas e, at mesmo, a interrupo das operaes e dos negcios. Alm disto, a publicidade negativa pode sensibilizar acionistas e credores, que temem a desva-lorizao da organizao e perdas de capital. Deste modo, pode haver presso por parte desses atores para resoluo dos problemas.

    Quanto ao incentivo via publicidade de dados comparativos do desempenho da SST, a maio-ria dos entrevistados acredita que a divulgao de dados comparativos do desempenho da SST pelo governo ter uma infl uncia especial nos casos das organizaes classifi cadas abaixo da mdia do setor. Caso estivessem nessa condio, a maioria indicou que seria mais pressionada, ou fi caria mais constrangida, com o pblico interno (nvel hierrquico acima ou subordinados). Os entrevistados esto inseridos em grandes corporaes de capital aberto e respondem pelo desempenho dos terminais para nveis hierrquicos superiores, e a indicao de baixo desem-penho compromete suas reputaes. Um fator importante na comparao dos desempenhos organizacionais em SST a divulgao ampla que a iniciativa deve ter. Outro fator a seleo de indicadores representativos dos desempenhos organizacionais em SST em que se deve avaliar a capacidade do Estado no s em dar conta do processamento dos dados, mas tambm de garan-tir a atualizao e credibilidade dos mesmos.

    Concluses

    O uso de incentivos governamentais para promoo da SST oferece a oportunidade de cobrir lacunas deixadas pelos instrumentos tradicionais de Estado, e tambm a possibilida-de de estimular melhorias tecnolgicas e inovaes de maneira muito mais fl exvel e efi caz que a regulamentao convencional. Alm disto, os incentivos podem encorajar o alcance de resultados que vo alm do alcance da conformidade legal, e numa condio de melhor custo-benefcio para o Estado.

  • 28

    Ao considerar que determinados incentivos podem ser mais efetivos para organizaes de um determinado ramo de atividade econmica do que para outros, que a infl uncia dos incenti-vos nos membros da alta administrao pode variar de acordo com o tamanho das organizaes, que os membros da alta administrao no so infl uenciados similarmente pelos diversos tipos de incentivos, provvel que, num levantamento em organizaes de outros ramos de atividade e com outras caractersticas, se obtenha resultados distintos daqueles obtidos.

    desejvel que o planejamento para a implantao de incentivos conte com um aporte de estudos que permitam vislumbrar o alcance de cada incentivo no pblico-alvo. Cada tipo de in-centivo tem suas vantagens e limitaes, e nenhum deles isolodamente sufi ciente para garantir bons resultados em todo o universo das organizaes. H que se considerar que mesmo quando um estudo aponta que um determinado incentivo promissor para infl uenciar o pblico-alvo, isto no garantia do desencadeamento de aes para promoo da melhoria do desempenho da SST. Somente aps o perodo de implantao e de assimilao pelas partes envolvidas, que se pode obter dados que permitam inferir sobre a sua real efi ccia.

    Referncias

    PFEIFENBERGER, J. P.; TYE, W. B. Handle with care. A primer on incentive regulation. Energy Policy, Great Britain, v. 23, n. 9, p. 769-779, 1995.

    KPMG - Consulting. Key management motivators in occupational health and safety: Main report. v. 1. Canberra: NOHSC, 2001.

    WRIGHT, M.; MARSDEN, S. Changing business behaviour - would bearing the true cost of poor health and safety performance make a difference? Suffolk (United Kingdom): HSE Books, 2002.

    WRIGHT, M. et al. Survey of compliance with employers liability compulsory insurance (ELCI) Act 1969. Prepared by Greenstreet Berman Ltd for the Health and Safety Executive. Research Report 188. Suffolk (United Kingdom): HSE Books; 2003.

    TAIT, R.; WALKER, D. Motivating the workforce: the value of external health and safety awards. Journal of Safety Research, USA, v. 31, n. 4, p. 243-251, 2000.

    GUNNINGHAM, N. CEO and supervisor drivers: review of literature and current practice. Report prepared for the National Occupational Health and Safety Commission. Canberra: NOHSC, 1999.

    DAVIS, C. Making companies safe: what works? A report to the Centre for Corporate Account-ability. London: CCA, 2004.

    HOPKINS, A. New strategies for safety regulators: beyond compliance monitoring. Working Paper32. Australia, 2005. Disponvel em: . Acesso em: 10 jan. 2006.

  • Dissertaes de Mestrado

    (Resumos)

  • 1Arquivos abertos e instrumentos de gesto da qualidade como recursos para a disseminao da

    informao cientfi ca em segurana e sade no trabalho

    Erika Alves dos Santos, Fundacentro/CTN/MTE

    Palavras-chave: gesto da segurana e sade no trabalho; gesto da qualidade; informao cientfi ca; arquivos abertos.

  • 33

    Introduo

    A informao cientfi ca o insumo que pode culminar em descobertas contribuindo para o avano da Cincia. Entretanto, o alto custo e a escassez de recursos so apenas duas barreiras para o acesso a este campo ser explorado. Na rea de Segurana e Sa-de no Trabalho (SST) no diferente. As barreiras encontradas pelos profi ssionais durante o processo de recuperao de informaes, sobretudo aquelas oriundas de experimentos cientfi cos, geram a necessidade da refl exo sobre formas de promoo do giro do capital intelectual entre os profi ssionais da rea.

    A Internet tem grande contribuio neste sentido, considerando que a comunicao entre os pesquisadores se d de forma mais fl uida e gil no espao virtual. Contudo, a popularizao des-te instrumento de pesquisa gerou rudos no fl uxo cientfi co, uma vez que a falta de critrios de qualidade e confi abilidade na publicao de trabalhos gerou o lixo eletrnico criando barreiras na seleo de informaes de real importncia, bem como na verifi cao da legitimidade dos dados apresentados, em especial na rea de SST, na qual as informaes so escassas, em relao s demais reas do conhecimento humano.

    Uma das alternativas para minimizar os impactos destes rudos no fl uxo informacional a criao de ambientes virtuais especializados, ou simplesmente arquivos abertos (AA), que pos-sibilitam o direcionamento das informaes a um pblico alvo, promovem a quebra de prticas burocrticas no processo de publicao de documentos, estabelecem a interoperabilidade entre sistemas e a comunicao na comunidade cientfi ca e promovem o multidimensionamento das formas de acesso aos estudos disponibilizados por tais vias.

    Neste sentido, os objetivos principais deste estudo enfocaram a utilizao de repositrios digitais de informao sob a fi losofi a de disseminao de informaes utilizada na iniciativa de arquivos abertos como uma alternativa para a promoo do giro do capital intelectual e da co-municabilidade cientfi ca entre os pares, enquanto os objetivos secundrios foram a identifi cao da iniciativa em questo como instrumento de apoio gesto da segurana e sade no trabalho, aliada a dois instrumentos da gesto da qualidade: o PDCA e o 5S.

    A informao cientfi ca em segurana e sade no trabalho

    As barreiras do acesso informao so diversas. Por exemplo, a questo dos impedimen-tos lingsticos, que impossibilitam a consulta a estudos relevantes, publicados em peridicos de grande expresso internacional. Diga-se de passagem, que sabido que no grande a porcentagem de profi ssionais que dominam lnguas estrangeiras. Este fato fortalece ainda mais a necessidade de promover o intercmbio tcnico-cientfi co entre os profi ssionais no pas, formando uma grande cadeia de troca de experincias, contribuindo para a reverso da atual situao das condies de trabalho degradantes que ainda podem ser encontradas nos mais diversos ramos de atividade.

    Informao crucial para a efi ccia do sistema de gesto da SST, entretanto, em muitas situaes, as informaes necessrias para as intervenes efetivas no esto disponveis,

  • 34

    limitadas, por exemplo, pela contingncia temporal. [...] A avaliao do sistema de gesto da SST um exame sistemtico da sua funcionalidade e efi ccia com o objetivo de produzir informaes consistentes que possam auxiliar no processo de deciso para a concepo de novas estratgias que promovam a melhoria do desempenho da SST. (BARREIROS, 2002, p. 45-46)

    O ideal que os riscos e oportunidades sejam identifi cados pela organizao de forma pr-ativa. Neste contexto o gestor tem os instrumentos necessrios para prevenir ou mitigar riscos, aproveitando ao mximo as oportunidades emergentes, ou, at erradicando eventos prejudiciais organizao e/ou ao trabalhador.

    Em meio necessidade de promover o pensamento coletivo em SST e s convenincias proporcionadas pela era dos computadores, que facilitam a gerao, armazenamento e trans-misso de informaes, surgem as refl exes no sentido de construir e incentivar o uso de novos instrumentos que viabilizem o fl uxo da comunicao cientfi ca. Neste sentido, a iniciativa de arquivos abertos (AA), originalmente conhecida como Open Archives Iniciative (OAI), aliada aos mecanismos propostos pela gesto da qualidade, que emerge como um meio efi caz no sentido de promover um ambiente de trabalho mais saudvel e seguro ao trabalhador superando barreiras geogrfi cas e temporais, favorecendo o acesso e disseminao da informao.

    Os recursos digitais de acesso informao sob a fi losofi a de arquivos

    abertos

    Os arquivos abertos (AA), so vistos por Triska e Caf (2001) como um conceito inovador que visam disponibilizar o texto da forma mais rpida possvel, favorecendo e democratizando o acesso gratuito das publicaes eletrnicas, de modo que haja o enfraquecimento do mono-plio at ento detido pelas editoras sobre toda a publicao cientfi ca. Os AA estabelecem um conjunto de padres que permitem a interoperabilidade entre os diversos repositrios digitais, que segundo Viana, Mrdero Arellano e Shintaku (2006), so denominados como uma forma de armazenamento de objetos digitais que tem a capacidade de manter e gerenciar material por longos perodos de tempo e prover o acesso adequado. De acordo com Machado (2006, p. 16), os arquivos abertos so bibliotecas digitais desenvolvidas na Web por cientistas e para cientistas, constituindo-se em fruns privilegiados para difuso de resultados e debates cientfi cos.

    Desta forma, os AA podem ser utilizados como um instrumento para agregar valor gesto da qualidade em SST, no sentido de prover informaes e casos de sucesso para adaptaes e possivelmente aplicao e assim promover melhores condies de trabalho ao trabalhador.

    Os instrumentos de gesto da qualidade: os 5S e PDCA

    Concebido por Kaoru Ishikawa em 1950 no Japo (INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS DO ESTADO DE SO PAULO, 2006), o 5S um mtodo de gesto da qualidade, oriundo do Japo. O mtodo dividido em cinco fases, cada um representado por um senso, que visam deli-

  • 35

    near tcnicas efi cientes e efi cazes voltadas reduo de custos, otimizao de recursos materiais, tecnolgicos e humanos, e combate de desperdcios (GOMIERO, 2007). Trata-se de um proces-so educacional, que muitas vezes introduzido como base para outros instrumentos de gesto. Os objetivos so transformar o ambiente das organizaes e a atitude das pessoas, melhorando a qualidade de vida dos funcionrios, diminuindo desperdcios, reduzindo custos e aumentando a produtividade das instituies (INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS DO ESTADO DE SO PAULO, 2006). O 5S pode implicar na melhoria de outras funes como produo, quali-dade, recursos humanos, alm da higiene, segurana e meio ambiente.

    O ciclo PDCA, por sua vez hoje reconhecido como um processo de melhorias e controle de processos que precisa ser de domnio de todos os funcionrios de uma organizao para ter efi ccia, segundo Souza e Mekbekian (1993) e o Centro de Tecnologia de Edifi caes (1994). Basicamente, o ciclo PDCA

    [...] um mtodo que visa controlar e conseguir resultados efi cazes e confi veis nas ativi-dades de uma organizao. um efi ciente modo de apresentar uma melhoria no proc-esso. Padroniza as informaes do controle da qualidade, evita erros lgicos nas anlises, e torna as informaes mais fceis de se entender. Pode tambm ser usado para facilitar a transio para o estilo de administrao direcionada para melhoria contnua. (PARCE-RIA DO DISTRITO INDUSTRIAL EM CINCIAS AMBIENTAIS, 2007)

    O processo proposto pelo PDCA implica avaliao constante de todo o sistema, de forma a detectar quaisquer possveis falhas, de forma pr ativa. Sob esta ideologia, que se faz necessria a conduo de rgidas auditorias, em cada uma das etapas do trabalho. Desta forma, sempre so emergentes as novas formas de executar tarefas, de se fazer coisas de uma maneira mais efi ciente e segura. O fato de seguir o ciclo planejar, fazer, checar e agir, uma forma de promover a me-lhoria contnua e conseqentemente, o aprimoramento do conhecimento de todos os envolvidos com a atividade em questo. Alis, o ciclo PDCA um mtodo de gesto pela qualidade total, incluindo tambm a preveno de acidentes e doenas ocupacionais.

    A fuso do ciclo PDCA + 5S = Benefcios para a empresa?

    Aumentar a qualidade e produtividade ao mesmo tempo em que promove qualidade de vida, aliada competitividade: eis o grande desafi o do gestor / empreendedor do Sculo XXI. Quais-quer que sejam os instrumentos utilizados para melhorar a qualidade no processo de trabalho dentro das indstrias, haver benefcios tangveis para a gesto da SST.

    Os sistemas de informao, igualmente, tm sua importncia neste sentido, uma vez que a so depositados e publicados diversos estudos de caso, que so vlidos no sentido de auxiliar na identifi cao de pontos passveis de melhoras nos processos organizacionais como um todo.

    Informao, qualidade, gesto organizacional, SST, retornos fi nanceiros. Embora cada um tenha uma particularidade completamente diferente, a utilizao conjunta destes instrumentos converge para o estabelecimento de programas de melhorias organizacionais, que benefi ciam no somente o cliente, mas sobretudo o trabalhador que justamente o responsvel pela exis-

  • 36

    tncia do produto fi nal. O valor de um operrio para a organizao incalculvel. Cada vez que uma vida se perde, no somente um trabalhador que deixa de fazer parte do quadro de funcionrios daquela instituio, mas tambm um membro da sociedade, que leva consigo uma gama de conhecimentos, que pode ainda no ter sido disseminada. Neste caso, alm do operrio, a organizao perde tambm um valioso ativo intangvel: o conhecimento.

    Dessa maneira, advm a importncia de disseminar ao mximo o conhecimento. A proposta que a gesto da SST e do conhecimento sejam convergentes, de modo a certifi car que a gesto da qualidade como um todo, e no apenas do produto fi nal, possa apresentar pontos positivos no sentido de proporcionar melhores condies de trabalho ao trabalhador, sendo subsidiada pelo provimento de dados tcnico-cientfi cos oriundos tanto do conhecimento tcito, quanto da experincia de outros profi ssionais.

    Metodologia

    A populao deste estudo foi composta por 23 profi ssionais, sendo que destes, 52% foi cons-tituda por tcnicos de segurana, ao passo que os engenheiros, responderam por 21% do total da amostra. O perfi l da comunidade selecionada caracterizou-se predominantemente masculina (82,6%), na faixa de idade entre 36 a 50 anos e com mais de 10 anos de atuao na rea. Foi ela-borado um questionrio composto de 17 perguntas, que foi aplicado aos profi ssionais atuantes em organizaes da zona sul da cidade de So Paulo.

    Anlise dos dados

    Constatou-se que o ambiente virtual para pesquisas ainda no devidamente explorado pelos entrevistados, sendo este um fato que desperta certa preocupao aos gestores em SST, considerando todos os benefcios deste recurso de transferncia do conhecimento, aqui apresentados, dentre outros que fogem aos objetivos desta pesquisa.

    Em relao ao bem estar do trabalhador, os resultados mostram claramente que o acesso informao imprescindvel para a melhoria dos anteparos para acidentes ocupacionais. A proteo da sade fsica e mental dos trabalhadores depende em grande parte do acesso a que os profi ssionais ocupantes dos cargos superiores tm informao cientfi ca de forma geral. Segundo os entrevistados, importante o cruzamento de informaes entre uma e outra empresa, no sentido de aprimorar tcnicas, e at auxiliar em processos de tomada de deciso ou resoluo de problemas.

    A atual situao denuncia a necessidade de promover a prtica da gesto da SST den-tro da organizao como um instrumento de proteo ao trabalhador, e no como um agente fi scalizador, com poder punitivo aos que descumprirem suas recomendaes. O trabalhador precisa ter uma viso diferente da segurana no trabalho, bem como dos pro-fi ssionais atuantes na rea. Neste sentido a integrao e conscientizao dos trabalhadores por meio da informao uma vez mais se mostram efi cazes. A informao, por si s no a chave para a resoluo de todos os problemas, mas pode ser um caminho para o come-o de tudo. O intercmbio de dados entre as empresas proporciona o compartilhamento

  • 37

    de experincias proporcionando o aprimoramento de processos e o auxlio na previso deocorrncias danosas, o acidente propriamente dito.

    As premissas iniciais, que se confi rmaram ao trmino deste estudo, indicaram que a fi losofi a de disseminao de informaes cientfi cas, utilizadas em arquivos abertos con-siderada pelos profi ssionais questionados, como um instrumento de apoio para a gesto da SST. Quanto postura desses profi ssionais, a aceitao desta nova forma de disseminao de informaes cientfi cas plausvel, embora a confi abilidade e familiaridade deste pblico com os instrumentos digitais de pesquisa seja relativamente baixo, gerando a necessidade de promover a cultura do esprito cientfi co, que instiga a produo e compartilhamento de informaes, e sobretudo, a publicao de trabalhos cientfi cos.

    A refl exo salientou que a informao cientfi ca pode ser vista e utilizada como um ins-trumento de apoio gesto da SST de forma geral, sendo esta considerada um pilar para a gesto da segurana e sade no trabalho. Um instrumento de pesquisa na rea auxiliaria os profi ssionais, seja em processos de tomada de deciso, seja em aspectos tcnicos. Aliado aos mecanismos de gesto da qualidade, os benefcios so potencializados, podendo chegar a trazer benefcios signifi cativos s organizaes.

    Consideraes fi nais

    O uso e aplicao efetiva da informao e comunicao cientfi ca podem ser considerados hoje como um dos maiores desafi os, seno o maior deles, para a Segurana e Sade no Trabalho. Considerando que este um ramo do conhecimento que lida com a vida humana, o avano rumo ao conforto e segurana no trabalho de forma a permitir que a humanizao do mesmo se torne uma realidade visvel aos olhos da sociedade, com resultados concretos, proporcionando a qualidade de vida no trabalho, sobretudo nas atividades que oferecem maiores riscos laborais, que colocam em jogo a segurana e at mesmo a vida dos trabalhadores.

    Por mais necessrios que seja os bens materiais, no devemos nos esquecer do seguinte: TUDO ISSO EXISTE PARA O HOMEM. E ele no pode ter sua sade desprote-gida. O controle dos ambientes de trabalho obrigatrio. Trata-se de uma questo de moralidade. Se o trabalho no contribuir para sua felicidade, ser tudo uma imensa e deplorvel perda. (SAAD, 2006)

    No caso de acidentes de trabalho, inaceitvel qualquer tipo de adaptao. Afi nal de contas, um trabalhador mutilado por acidente de trabalho, muito difi cilmente se adaptar sociedade e ao ambiente de trabalho de forma a realizar as atividades de sua rotina, a cena do momento do acidente jamais ser apagada de sua memria. No ser uma indenizao, independente do valor, ou qualquer outro benefcio social que ir suprir os traumas psicolgicos deste tra-balhador, ou substituir as atividades das quais foi privado em decorrncia do acidente. Logo, inadmissvel o uso do termo adaptao quando o assunto segurana e sade no trabalho, uma vez que a sade e a integridade do trabalhador um direito adquirido, e portanto, deve ser respeitado pelo empregador.

  • 38

    Cabe aos profi ssionais da rea de segurana e sade do trabalho zelar pela alterao deste cenrio, promovendo mudanas efetivas no ambiente de trabalho e que estas, alcancem e vigo-rem em todos os ambientes laborais, de forma que a vida do trabalhador, que representa a fora de uma nao, seja respeitada e preservada. A construo de um repositrio digital na rea de segurana e sade no trabalho pode ser uma ferramenta auxiliar neste processo.

    Referncias

    BARREIROS, D. Gesto da segurana e sade no trabalho: estudo de um modelo sist-mico para as organizaes do setor mineral. 2002. 317 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Minas e Petrleo)-Escola Politcnica da Universidade de So Paulo, So Paulo, 2002.

    CENTRO DE TECNOLOGIA DE EDIFICAES. Sistema de gesto da qualidade para empresas construtoras. So Paulo: SINDUSCON-SP, 1994.

    GOMIERO, F. Os cinco sensos do combate ao desperdcio. Disponvel em: . Acesso em 20 set. 2007.

    INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS DO ESTADO DE SO PAULO. O programa 5 esses. So Paulo: IPEM, 2006. Disponvel em: . Acesso em 21 set. 2007

    MACHADO, M. Open archives: panorama dos repositrios. Dissertao (Mestrado em Ci-ncia da Informao). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2006. Disponvel em: . Acesso em: 10 jul. 2007.

    PARCERIA DO DISTRITO INDUSTRIAL EM CINCIAS AMBIENTAIS. Ciclo PDCA. Disponvel em: . Acesso em: 20 set. 2007.

    TRISKA, R.; CAF, L. Arquivos abertos: subprojeto da Biblioteca Digital Brasileira. Cincia da Informao, Braslia, v. 30, n. 3, p. 92-96, set./dez. 2001.

    SAAD, I. F. S. O adicional de Insalubridade aps a nova NR-9. Revista ABHO de higiene ocupacional, v. 5, n. 14, p. 13-14, 2006.

    SOUZA, R.; MEKBEKIAN, G. Metodologia de Gesto da qualidade em empresas constru-toras. In: ENTAC93 ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUDO: AVANOS EM TECNOLOGIA E GESTO DA PRODUO DE EDI-FICAES, 1993, So Paulo. Anais... So Paulo: EDUSP, 1993. p. 127-131.

    VIANA, C. L. M.; MRDERO ARELLANO, M. A.; SHINTAKU, M. Repositrios institu-cionais em cincia e tecnologia: uma experincia de customizao do Dspace. Disponvel em: . Acesso em: 22 Mar. 2007.

  • 2A importncia da comunicao de riscos para as organizaes

    Alexandra Rinaldi, Fundacentro/CTN/MTE

    Palavras-chave: risco; comunicao de risco; gesto de risco; percepo de risco.

  • 41

    Justifi cativa

    A comunicao de risco um tema complexo e abrangente ao envolver situaes de risco, sejam eles decorrentes de aes humanas, naturais e industriais. Questes re-lacionadas aos problemas decorrentes da gesto ambiental, da gesto da segurana e sade no trabalho, de acidentes tecnolgicos e mesmo as questes relacionadas com o risco do negcio da organizao podem ser melhores compreendidos pelas partes interessadas a partir da compreen-so da importncia da comunicao de risco.

    Objetivos

    Evidenciar a importncia da comunicao de risco para as organizaes e ao mesmo tempo apontar para os benefcios e limitaes que as corporaes encontram ao incorporarem o tema nos seus processos de gesto.

    Metodologia

    Esta pesquisa de carter exploratrio analtico, uma vez que tem a inteno, por meio da reviso e anlise crtica da literatura, de explorar os contornos sociais, polticos, tcnicos e eco-nmicos nos quais a comunicao de risco se insere.

    Para a realizao do trabalho, buscou-se, principalmente em artigos e referncias bibliogrfi -cas internacionais e nacionais, levantar o estado da arte sobre o tema comunicao de risco.

    Paralelamente, buscou-se explorar tambm as principais bases de dados, tais como LILACS, Portal de peridicos da CAPES, base de dados ORACLE, BIREME e internet, por meio da seleo de artigos, dissertaes e teses. Alm dos Portais consultados, outros docu-mentos ofi ciais, tais como da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de So Paulo (CETESB), do National Research Council (NRC) e da World Health Organization (WHO) serviram como apoio presente pesquisa.

    O perodo de levantamento da reviso bibliogrfi ca, compreendeu a partir do ano de 1969 at 2006, embora se faa citao uma referncia de 1949 sobre teoria da comunicao.

    Resultados e concluses da pesquisa

    Em decorrncia das difi culdades de compreenso sobre a importncia da comunicao de risco em diferentes contextos, muitas organizaes enfrentam momentos delicados para justifi car a implementao de projetos, explicar situaes de emergncias decorrentes de seus processos produtivos como a ocorrncia de acidentes que trouxeram impacto sobre pessoas e meio ambiente.

    Isso no signifi ca que a comunicao de riscos poderia ter evitado esses acidentes, mas en-fatiza-se que a incorporao do processo de comunicao de risco gesto de riscos poderia ter ajudado a contribuir para uma melhor compreenso dos eventos ocorridos, e, dessa forma contribudo para que esses eventos se mantivessem dentro da governabilidade organizacional.

  • 42

    So inmeros os exemplos no qual uma estratgia inadequada de comunicao de risco pro-vocou desdobramentos que levaram muitas organizaes a perder totalmente sua capacidade de agir na liderana sobre o que fazer aps a ocorrncia de um evento catastrfi co ou ainda, contri-buiu para evidenciar ainda mais uma situao na qual houve a total perda de confi ana das partes interessadas sobre a maneira como a organizao lida com seus riscos.

    Embora muitas organizaes venham se esforando em incorporar a comunicao de risco em seus programas de gesto, parte delas agem e so conduzidas por meio de requisitos legais que as obrigam a informar a sociedade e as partes interessadas sobre seus riscos, como o direito-de-saber (right-to-know) nos Estados Unidos, a lei sobre poltica ambiental americana e a comu-nicao em situaes de emergncia tambm praticada no Brasil pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB.

    Por outro lado, cada vez mais as organizaes se vem obrigadas a se engajarem em inicia-tivas voluntrias que exigem delas uma maior adeso a princpios que possam sinalizar para as diferentes partes interessadas de que tem uma atuao com tica e responsabilidade social. O exemplo mais interessante vem das indstrias qumicas que desde 1986 vm incorporando o programa denominado Responsible Care ou Atuao Responsvel, como forma de melhorar a gesto dos perigos e riscos nesse tipo de atividade. A implementao dessa iniciativa pelas in-dstrias qumicas vem contribuindo para tornar mais efi cazes seus mecanismos de controle de perigos e riscos e, ao mesmo tempo, melhorar a capacidade de dilogo e a imagem desse tipo de atividade junto s partes interessadas.

    Neste mesmo contexto de aplicao voluntria, o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente PNUMA, lanou, em 1988, o APELL Alerta e Preparao de Comuni-dades para Emergncias Locais, no qual auxilia as organizaes quanto gesto dos riscos. Ainda em 1988, a Associao Brasileira da Indstria Qumica ABIQUIM, incumbiu-se de implantar o APELL no Brasil como um instrumento para elaborao de planos de emergn-cia para aumentar a coordenao no atendimento a acidentes e melhorar o +dilogo entre a indstria e a populao.

    Amplia-se gesto do risco corporativo, como por exemplo, o risco fi nanceiro, o risco ope-racional e o risco estratgico, abrindo novos debates quanto importncia da gesto dos riscos organizacionais, a fi m de assegurar e manter a confi ana de investidores e acionistas.

    Em Julho de 2002, nos Estados Unidos, foi implantada a lei que se tornou conhecida como Sarbanes-Oxley em homenagem aos seus autores, os senadores Paul Sarbanes e Michael Oxley. Essa lei busca garantir a criao de mecanismos de auditoria e segurana confi veis nas empresas de maneira a mitigar riscos aos negcios e garantir a transparncia na gesto das organizaes.

    Assim, se o risco est presente em diversas situaes e de acordo com o socilogo alemo Ulrick Beck (1992), vivemos em uma sociedade de risco como resultado do acelerado proces-so de modernizao, e para Giddens (1991), a modernidade uma cultura de risco, a comuni-cao de risco traz uma nova oportunidade em promover a interao de troca de informaes e opinies entre as diferentes partes interessadas.

    Uma das partes interessadas que pode interferir de modo positivo ou negativo no processo de comunicao e de gerenciamento de riscos est a mdia.

  • 43

    Em detrimento da prpria complexidade de se estabelecer a comunicao de risco, bem como identifi car e envolver as diferentes partes interessadas e alinhar suas diferentes percepes, as organizaes se vem confrontadas com fatores polticos que em sua grande parte advm do clima interno ou da sua prpria poltica organizacional. Nesse sentido, Wiedemann (1999), observa que as micro-polticas existentes nas organizaes decorrem, em grande parte, das dife-renas de interesses entre essas partes interessadas, disputa de poderes internos e na ausncia de transparncia em compartilhar de suas aes.

    Da mesma maneira que a poltica interna infl uencia negativamente no resultado das orga-nizaes, a poltica externa revela-se outro ponto de descontentamento entre as organizaes. Representados pelo governo e pelas agncias reguladoras, estas instituies possuem um papel social importante, pois so elas que devem agir em favor do interesse pblico. Para as organi-zaes, os fatores polticos so vistos como intrusivos na medida em que podem impactar nos resultados das organizaes.

    Alm disso, quando o processo de tomada de deciso no setor pblico ou privado deixa de envolver as partes interessadas, os desdobramentos com relao s estratgias para a gesto do risco podem fi car comprometidas.

    Estas posies antagnicas entre a poltica interna e externa expem as organizaes a um emaranhado de confl itos culminando em processos judiciais, atrasos na produo, boicotes, conspiraes e reao negativa da mdia.

    Os modelos de gesto de risco atualmente utilizados no Brasil reforam a importncia do processo da comunicao de risco e oferece uma grande oportunidade e auxlio aos gestores na compreenso de todo o processo de gesto. Contudo, as formas de implementao e de adoo quanto a um nico modelo, ainda fragilizada e incipiente na realidade Brasileira. Em sua maior parte, os modelos de gesto foram propostos por pases europeus e pases como Canad, Esta-dos Unidos, Nova Zelndia e Austrlia.

    Exceto entre as grandes organizaes que possuem em seus quadros pessoal especializado capazes de evidenciar a importncia do processo de comunicao de risco para as iniciativas de gerenciamento de riscos, a situao ainda se mostra incipiente nas iniciativas do poder pblico. Por outro lado, na literatura nacional identifi cou-se uma enorme lacuna de pesquisas que pudes-sem auxiliar as organizaes a compreender esse processo de comunicao de riscos.

    Dada a importncia, a complexidade e a interdisciplinaridade do tema, a comunicao de risco deve estar inserida em outras disciplinas. Na engenharia, representada aqui por gestores e especialistas em gesto de riscos. Na psicologia ao abordar os aspectos intuitivos e cognitivos voltados para a compreenso da percepo do risco.

    Na comunicao social por meio dos cursos de jornalismo ambiental e jornalismo cientfi co, e por ltimo, nos cursos de Direito ao auxiliar num arcabouo jurdico em leis e regulamentos voltados sade, segurana e meio ambiente. Na pedagogia, a comunicao de risco tambm poder dar importante contribuio na medida em que forme cidados preparados e conscientes do seu papel na sociedade, especialmente frente aos novos riscos tecnolgicos.

  • 44

    Na prtica, uma srie de fatores de carter social, tico, organizacional, educacional, cultural e governamental impedem a comunicao de risco de ser implementada de maneira efetiva e obrigatria nas organizaes. Alm disso, grande parte dos trabalhos cientfi cos esto voltados a compreender a comunicao ambiental e a comunicao em sade, mas no na comunicao do ponto de vista da prpria gesto dos riscos. A principal contribuio da comunicao de risco que o tema, embora venha sendo paulatinamente discutido e incorporado nas grandes organizaes, pode auxili-las na construo da confi ana e credibilidade, a partir do momento em que incorporem a comunicao de risco como uma atividade com comeo, meio e fi m. Uma vez que divulgar informaes sobre riscos, envolve uma srie de julgamentos cientfi cos, a comunicao de risco oferece a oportunidade de traduzir aquilo que seja de desconhecimento pblico. E neste processo ela no ter somente uma participao passiva, mas tambm ativa, na medida em que sua funo estabelecer o dilogo de mo-dupla em informar e receber a opinio das partes interessadas.

    A despeito de todas as limitaes que movem a comunicao de risco nas organizaes, ela pode dar importante contribuio aos processos de gesto e conseqentemente aos gestores e especialistas. Para tanto, necessrio que as organizaes tenham real conscincia sobre a impor-tncia de informar a sociedade sobre seus riscos, mas, sobretudo, priorizar recursos aos gestores na adoo de polticas organizacionais em comunicao de risco.

    Em pases democrticos, a adoo do right-to-know e do Freedom of Information Act foram implementados de forma mandatria e no compulsria ou voluntria e podem ser compre-endidos como iniciativas a fi m de atender s expectativas das partes interessadas com relao ao processo de comunicao de risco.

    Para isso, o desafi o que se impe ao governo brasileiro no sentido de avanar com novas me-didas e mecanismos legais que auxiliem as organizaes a informarem seus riscos, como, por exem-plo, a adoo de uma poltica nacional de gerenciamento e comunicao dos riscos tecnolgicos.

    Para concluir, ainda que as audincias pblicas tenham como fundamento a prtica da comu-nicao de riscos e da legitimidade social ao envolver a populao nas questes voltadas ao meio ambiente, a discusso acerca dos riscos tecnolgicos deve ser ampliada, a fi m de contribuir na formao popular e em uma melhor cultura prevencionista.

  • 3A gesto da segurana e sade no trabalho: a experincia do arranjo produtivo local do setor

    metal-mecnico da regio paulista do Grande ABC

    Maria Carolina Maggiotti Costa, Fundacentro/CTN/[email protected]

    Palavras-chave: micro e pequenas empresas; arranjos produtivos locais; metal-mecnico; Grande ABC (Brasil); Gesto da Segurana e Sade no Trabalho.

  • 47

    Introduo

    A tualmente, com a retomada do processo de desenvolvimento, o pas necessita aten-tar para o seu maior desafi o, que o de enraizar a democracia e acabar com a pobre-za, aliando crescimento econmico reduo da desigualdade. de fundamental importncia que, ao desenvolver novas iniciativas empresariais, tenha-se em conta: o capital humano, que se traduz nos conhecimentos, habilidades e competncias da populao local, as condies e a qualidade de vida (SEBRAE, 2003); o capital social, que se refere s instituies, relaes e normas que ajustam a qualidade e quantidade das interaes sociais de uma sociedade. O capital social no somente a soma de instituies que compem uma sociedade, mas sim a substncia que a mantm unida (WORLD BANK, 2006); a governana, que se refere s re-laes entre empresas e a mecanismos institucionais por intermdio dos quais se consegue a coordenao extra-mercado das atividades dentro de uma cadeia produtiva (HUMPHREY & SCHMITZ, 2002); e o uso sustentvel do capital natural (SEBRAE, 2003). Na fundamentao terica dessa viso, verifi ca-se a convergncia de pelo menos duas importantes correntes do pensamento contemporneo: a que enfatiza a noo de capital social como um conjunto de recursos capazes de promover a melhor utilizao dos ativos econmicos pelos indivduos e pelas empresas; e a que privilegia a dimenso territorial do desenvolvimento insistindo na idia de que a competitividade um atributo do ambiente, antes mesmo de ser um trunfo de cada empresa (ABRAMOVAY, 2000; SEBRAE, 2003).

    Quando a questo do desenvolvimento nacional abordada, no se pode deixar de considerar uma importante varivel do cenrio internacional: a globalizao da economia, que se constitui em um fenmeno marcante e irreversvel do fi m do sculo XX e comeo do sculo XXI e tem como elemento catalisador a combinao do crescente movimento de liberalizao e desregulamentao dos mercados (sobretudo dos sistemas fi nanceiros e dos mercados de capitais) com o advento do paradigma das tecnologias de informao (CASSIOLATO; LASTRES, 1999).

    As micro, pequenas e mdias empresas, que tm uma expressiva participao na economia nacional, sofrem impactos ainda mais intensos dos desafi os competitivos contemporneos. Ava-liaes de experincias em vrios pases, desenvolvidos ou em desenvolvimento, tm evidenciado e comprovado os efeitos positivos de aglomeraes econmicas de pequenas e mdias empresas em um determinado espao territorial no processo de desenvolvimento econmico e social das naes. Tais aglomeraes de empresas em um determinado territrio e com atividades similares so defi nidas na literatura internacional como clusters e na literatura brasileira como Arranjos Produtivos Locais (APLs), dentre outras defi nies menos utilizadas.

    A constatao de que o processo de adensamento empresarial eleva a competitividade das empresas e impulsiona o desenvolvimento vem se refl etindo nas polticas pblicas, o que lhes conferem o papel de propor aes, orientadas para impulsionar o desenvolvimento local tendo como alvo no a empresa individual, mas os vnculos entre as organizaes e as demais instituies situadas em um espao territorial delimitado. Alm de todo o exposto, torna-se necessrio ressaltar que na maioria dos pases, as empresas de pequeno porte apresentam difi culdades para alcanar os padres estabelecidos nas legislaes nacionais que regem a ma-tria em geral e em particular nas legislaes sobre sade e segurana no trabalho (SST) e,

  • 48

    conseqentemente, apresentam uma elevada incidncia de acidentes de trabalho. No Brasil, onde o setor produtivo est constitudo majoritariamente por micro e pequenas empresas, este problema especialmente preocupante devido ao fato de que um elevado contingente de trabalhadores est presente nestas empresas. A ausncia de um tratamento adequado da SST implica, no s em uma tragdia para os trabalhadores e suas famlias, como tambm em uma grande carga social e econmica para a empresa e para a sociedade, limitando o progresso e o desenvolvimento do setor e do pas.

    A empresa de pequeno porte, em razo dos escassos recursos fi nanceiros de que dispe, deve ser cuidadosa na observao e no controle de seus riscos laborais e ambientais, pois a inobservncia destes pontos cruciais poder gerar responsabilidade civil e criminal com srios danos a sua imagem e patrimnio. Entretanto, deve-se considerar que apesar das abordagens sobre as estratgias sistmicas serem defendidas por autores, bem como pelas normas interna-cionais, a situao outra quando se depara com a empresa de pequeno porte, pois este seg-mento empresarial est quase sempre estruturado no mbito familiar ou entre indivduos que constituram um negcio, por experincia no ramo e conhecimento da tecnologia, ou muitas vezes, por esprito empreendedor (GOMES; PACHECO JR, 2002).

    Em mbito mundial, verifi ca-se a existncia de inmeros sistemas de produo regional-mente concentrados demonstrando que a dimenso local vem assumindo uma importncia crescente no processo de inovao tecnolgica, fator fundamental na competitividade. No caso do Brasil, em virtude de seu vasto territrio, da heterogeneidade espacial da economia e da grande desigualdade regional, torna-se cada vez mais urgente a implementao de aes indutoras do desenvolvimento local. Portanto, essas aes s faro sentido se forem compar-tilhadas com redes locais empresariais, sociais e institucionais, onde essas condies sejam levadas em conta da mesma forma que a dimenso econmica. Portanto, aes em APLs vm ganhando maior destaque, na tentativa de transform-los em objeto prioritrio das polticas de desenvolvimento. Entretanto, um dos principais desafi os ser certamente o da orquestrao poltica e tcnica na sua administrao. Alm disso, h a necessidade do conhecimento apro-fundado do APL, com vistas formulao de estratgias de atuao. Este exerccio ainda muito recente no Brasil e, conseqentemente, esta nova maneira de trabalho integrado e sinr-gico de organizaes vem sendo construda paulatinamente.Assim, o objetivo deste trabalho a elaborao de um diagnstico das empresas constituintes do APL do setor metal-mecnico, segmento ferramentaria, da regio paulista do Grande ABC, que contemple sua gesto admi-nistrativa e fi nanceira, seu processo produtivo, aspectos mercadolgicos, assim como as rela-es entre as empresas constituintes do APL e os fatores e condicionantes fi scais, fi nanceiros e poltico institucionais. nfase especial ser dada segurana e sade no trabalho (SST), por atuar diretamente sobre a qualidade de vida dos trabalhadores e de suas famlias e ser um dos componentes principais na implementao de sistemas de gesto.

    A Regio Paulista do Grande ABC e o Projeto APL do Grande ABC

    A regio Paulista do Grande ABC, situada na rea metropolitana de So Paulo, abrange uma rea de 825 km2 com uma populao de 2,5 milhes de habitantes, sendo constituda por sete municpios: Santo Andr, So Bernardo, So Caetano do Sul, Diadema, Mau, Ribeiro Pires e Rio Grande da Serra (IBGE, 2005). Segundo a Agncia de Desenvolvimento Econmico do Grande

  • 49

    ABC (2006), a regio apresenta um alto padro de vida e responsvel por 12% da atividade in-dustrial do Estado de So Paulo. Alm da presena de grandes empresas do setor automobilstico, o ABC tambm se destaca pela fora de seu complexo qumico-petroqumico e por inmeras indstrias de autopeas sendo o principal plo automotivo do pas. Sua renda per capita aproxi-madamente de R$1000/ms, o que torna a regio o terceiro mercado consumidor do pas.

    Em agosto de 2004, a Agncia de Desenvolvimento Econmico do Grande ABC e o Ser-vio Brasileiro de Apoio Micro e Pequena Empresa SEBRAE iniciaram a implantao de um projeto de desenvolvimento de APLs para o setor metal-mecnico envolvendo os segmen-tos de autopeas, ferramentaria e plsticos, atividades industriais de grande importncia para a economia regional. Para dar incio ao projeto, foram destinados R$ 1,8 milho em recursos, sendo R$ 1,7 milho provenientes do SEBRAE e R$ 100 mil da Agncia. Participam do pro-jeto 63 MPE (com at 99 funcionrios cada) desses trs segmentos, instaladas nos sete muni-cpios da regio, sendo 16 empresas de ferramentaria, 24 de autopeas e 23 de plsticos. Tal projeto visava o fortalecimento da vocao regional nessas trs reas, oferecendo s indstrias participantes meios e conhecimentos para melhoria da capacidade competitiva no mercado interno e no plano internacional. (AGNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO DO GRANDE ABC, 2006).

    Justifi cativa

    O cenrio econmico atual tem exposto as empresas brasileiras a uma severa concorrncia internacional, em que as empresas de pequeno porte so as mais vulnerveis em razo das limita-es impostas pela elevada burocracia e tributao, difi culdade de acesso a crdito, dentre outros aspectos. vital para o desenvolvimento do pas rever as relaes entre as empresas de pequeno porte de um dado setor que tenham uma dinmica produtiva instalada em uma regio bem deli-neada geografi camente (CASSIOLATO; LASTRES, 2001). Assim, real importncia est sendo dispensada questo do adensamento empresarial em territrios nas polticas pblicas nacionais por intermdio de uma srie de aes conduzidas pelo Ministrio da Indstria, Desenvolvimento e do Comrcio Exterior MDIC, pelo Ministrio da Cincia e Tecnologia MCT e pelo SEBRAE (MDIC 2005; MCT, 2005; SEBRAE 2004).

    Classe CNAE Descrio

    2834- 7 Metalurgia do p

    2839- 8 Tmpera, cementao e tratamento trmico do ao, servios de usinagem, galvanotcnica e solda.2940- 8 Fabricao de mquinas-ferramenta

    2961- 0 Fabricao de mquinas para a indstria metalrgica - exceto mquinas-ferramenta

    2969- 6 Fabricao de outras mquinas e equipamentos de uso especfi co

    Quadro 1 Descrio das atividades econmicas objeto da pesquisa, apresentadas segundo seu cdigo CNAE

    Fonte: IBGE/CONCLA/CNAE (2006)

  • 50

    Existem no pas, especialmente no Estado de So Paulo, regies com essas caractersticas. Pode-se citar como exemplo um APL de forte concentrao de atividades do setor metal-mecnico localizado na regio paulista do Grande ABC. Esse APL contm uma estrutura de produo bem delineada, caracterizando-se pela presena de uma micro-cadeia produtiva local e de algumas inicia-tivas de articulao regional entre empresas e entre agentes locais, como prefeituras, organizaes de apoio, associaes empresariais, e instituies de ensino e pesquisa.

    Na medida em que o APL constitudo majoritariamente por empresas de pequeno porte que respondem por signifi cativa parcela do produto e dos postos de trabalho do setor no pas, rele-vante o conhecimento, dentre outros aspectos, da gesto da SST nesse ambiente. A opo pelo seg-mento de ferramentaria do APL do Grande ABC Paulista como objeto deste trabalho, foi baseada na importncia deste segmento no contexto da indstria automotiva e por sugesto do Escritrio Regional Grande ABC II do Sebrae no Estado de So Paulo, que um dos gestores do APL e que facilitar o contato inicial com as empresas constituintes do arranjo.

    A gesto da SST hoje reconhecida por organismos internacionais como a Organizao Inter-nacional do Trabalho (OIT) e a Organizao Mundial da Sade (OMS) como uma varivel essen-cial na elaborao de modelos de sistemas de gesto que considerem a produtividade e respeitem o meio ambiente.Portanto, razovel considerar que a SST est fi rmemente arraigada ao conceito de trabalho decente, pois como expressa a OIT (2005, prefcio) Trabalho decente trabalho seguro, e trabalho seguro tambm um fator de produtividade e crescimento econmico.

    Nesse cenrio, no qual esto imersas as empresas constituintes de um APL, os organismos internacionais e, por conseguinte, o governo brasileiro, recomendam a promoo de programas destinados reduo de mortes por causas ocupacionais, de acidentes de trabalho e de enfermi-dades relacionadas ao trabalho. Infelizmente, um problema emergente e ainda no devidamente dimensionado no mbito do largo espectro composto pelas MPE.

    Metodologia

    Para efetuar o levantamento de dados optou-se pelo estudo de caso tendo em vista a exis-tncia de vrios condicionantes, dentre os quais os de carter prtico como a permisso das em-presas para a execuo da pesquisa em suas dependncias, a limitao de tempo e a limitao de custos, e outros de carter metodolgico. Segundo Yin (2005, p. 32), um estudo de caso uma investigao emprica de um fenmeno contemporneo dentro de seu contexto da vida real, es-pecialmente quando os limites entre o fenmeno e o contexto no esto claramente defi nidos.

    Para esse levantamento, utilizou-se a classifi cao CNAE. Para maior detalhamento da meto-dologia consultar a Dissertao de Mestrado da autora.

    Resultados da pesquisa

    Breve caracterizao do arranjo produtivo do Grande ABC paulista

    As caractersticas do APL do Grande ABC paulista foram pesquisadas com foco nas atividades defi nidas no CNAE descritas no quadro 1 que esto mais diretamente relacionadas com o projeto conduzido pela Agncia de Desenvolvimento do Grande ABC conjuntamente com o SEBRAE.

  • 51

    Levantou-se tambm o nmero de empresas existentes em cada municpio da regio nos anos 2003 e 2004 nas fontes do IBGE (2001) e RAIS (2003-2004) para cada uma das atividades econmicas mencionadas. Os resultados obtidos so apresentados a seguir e resumem a distri-buio das empresas segundo porte e atividade em toda a regio paulista do Grande ABC nos dois anos investigados: entre os anos de 2003 e 2004 houve um crescimento de 7,7% no nmero de empresas na regio que passou de 637 para 686; este crescimento foi mais acentuado para as empresas de micro e pequeno porte que passaram de 627 para 675; as atividades de tmpera, cementao e tratamento trmico do ao, servios de usinagem, galvanotcnica e solda (CNAE 2839-8) e fabri-cao de outras mquinas e equipamentos de uso especfi co (CNAE 2969-6) so as de maior intensidade, respondendo juntas por mais de 75% do total de empresas da regio nos dois anos investigados. Dados sobre a populao, pessoal ocupado total e pessoal ocupado nas atividades de interesse, distribudos pelos municpios da regio em 2003 e 2004 tambm foram levantados e mostra-ram que as atividades envolvidas respondem por cerca de 1,5% do total de empregos da regio e o pessoal ocupado diretamente nas atividades est concentrado nos municpios de Diadema (36%), So Bernardo do Campo (33%), Santo Andr (15%) e Mau (11%) que juntos respon-dem por cerca de 95% do total de empregos. O n de desligamentos associados a falecimento ou aposentadoria, resultantes de acidentes no trabalho ou doena profi ssional nos anos 2003 e 2004, nas atividades econmicas pesquisadas na regio do Grande ABC, por porte da empresa mostraram que nos dois anos investigados ocorreram 4 desligamentos, sendo 2 por falecimento associado a acidente no trabalho e 2 por aposentadoria por invalidez. interessante observar que todos esses desligamentos ocorreram em micro empresas. Para o caso das atividades CNAE investigadas a mdia de desligamento 2/10.000 por ano, isto so 2 eventos em uma populao mdia de 8.800 pessoas ocupadas em um ano.

    As pequenas indstrias estudadas

    Esta seo se dedica ao resumo da discusso dos dados obtidos nas entrevistas realizadas nas seis pequenas empresas por ocasio da realizao do estudo de caso, considerando-se princi-palmente as prticas de gesto da SST por elas utilizadas e o seu posicionamento em relao ao APL do qual fazem parte. Verifi cou-se que as condies de trabalho das indstrias estudadas so fortemente infl uenciadas pela incerteza fi nanceira e pelas presses a que esto sujeitas por parte dos seus clientes. Os contratos de trabalho, em sua grande maioria so formais, existindo um pe-queno nmero de funcionrios terceirizados nos setores de limpeza e vigilncia. Os clientes em maioria so grandes empresas nacionais e multinacionais, com predominncia da indstria auto-mobilstica. Observou-se que a idade dos fundadores varia entre 22 e 30 anos, o que demonstra que so empreendedores jovens e a escolaridade de tais empresrios poca da fundao da empresa era o ensino mdio tcnico. Quanto s difi culdades operacionais foi observado que o custo ou falta de capital de giro, a contratao de mo-de-obra qualifi cada, a alta carga tributria e o pagamento de juros de emprstimos, ou seja, fatores ligados competitividade do pas (in-fra-estrutura, taxa de cmbio, carga tributria, dentre outros) afetam sobremaneira as MPE. Em relao mo de obra, a maioria possui ensino mdio completo indicando que nas atividades de ferramentaria existe a preocupao com a contratao de mo-de-obra com um nvel de esco-

  • 52

    laridade mais alto (mquinas CNC, CAD/CAM). No que diz respeito certifi cao de confor-midade (qualidade, ambiental e SST): apenas 2 das 6 empresas pesquisadas tm ISO 9000:2000, duas empresas esto em processo de certifi cao e uma empresa havia sido certifi cada somente em um setor que encerrou suas atividades. No que concerne poltica e procedimentos de SST observou-se que nenhuma das empresas possui poltica formal implementada nos termos da OHSAS 18001. As empresas limitam seus procedimentos ao cumprimento da legislao traba-lhista de forma meramente documental, em atendimento s normas regulamentadoras do MTE. Quanto aos indicadores para monitorar a SST, o que se encontrou foi o absentesmo ocasiona-do por doenas ocupacionais, com exceo de uma nica empresa que relatou possuir todos, ou seja, alm do controle do absentesmo, controlam a freqncia e a gravidade dos acidentes laborais. Em relao aos objetivos e metas de SST foi constatado que as empresas possuem uma cultura de trabalhar para o alcance das metas relacionadas aos programas impostos pelas normas regulamentadoras do MTE, mais especifi camente o PPRA e o PCMSO, mas muitas vezes no conseguem cumpri-las. Quanto aos treinamentos em SST verifi cou-se que existem praticamente para situaes de emergncia (preveno a incndios e primeiros socorros), agre-gando-se em algumas das empresas estudadas o treinamento referente CIPA. A respeito dos acidentes de trabalho, das seis empresas estudadas, cinco informaram que no ano de 2005 no houve afastamento ocasionado por acidentes de trabalho, tampouco acidentes com mutilao ou danos integridade fsica com afastamento permanente do cargo ou morte. Somente uma das empresas relatou que em 2005 houve trs acidentes considerados leves, porm com afastamentos entre 5 e 10 dias. Todas as empresas entrevistadas utilizam servios prestados por consultorias na rea de SST, que se responsabilizam pelos procedimentos legais e pela instruo e treinamento dos funcionrios.

    Foi observado que os apoios externos de rgos patronais e de assistncia tcnica, como CNI/SENAI e SEBRAE, sindicatos patronais e de trabalhadores ou rgos governamentais diminutos na identifi cao de solues de SST, o que deixa clara a demanda por apoio ofi cial para o devido enquadramento das MPE s questes de SST. Alm disso, notou-se que as instituies de fomento ainda so pouco atuantes e muitas vezes sequer chegam a ser consultadas.

    Em relao infl uncia dos clientes foi observado que os mesmos procuram conhecer as condies de SST da empresa, (uso EPIs, CIPA, atualizao da documentao) o que sugere que mesmo aqueles clientes possuidores de sistemas de gesto da SST implementados (mdias e gran-des empresas em geral) se contentam com a simples exibio de documentos comprobatrios do atendimento legislao de SST pelo fornecedor. Quanto aos obstculos na implementao de aes de SST sobressaiu o alto nvel de exigncia da legislao e a difi culdade de conscien-tizao dos funcionrios sobre o uso dos EPIs e demais procedimentos seguros. A fi scalizao por rgos pblicos mostrou-se incipiente e observou-se uma baixa participao dos rgos sindicais na negociao de aes de SST, embora no se possa afi rmar categoricamente esse fato tendo em vista o tamanho da amostra selecionada. Tendo em vista que todas as empresas sele-cionadas participam da Associao das Ferramentarias do Grande ABC ASSOFER