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  • anais_ciclo_2013.pdf 1 23/09/2013 16:46:Andr Forte

  • I CICLO DE ESTUDOS EM EDUCAO

    CONTEMPORANEIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE

    ANAIS

    anais_ciclo_2013.pdf 2 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das

    Misses Reitor Luiz Mario Silveira Spinelli Pr-Reitora de Ensino Rosane Vontobel Rodrigues Pr-Reitor de Pesquisa, Extenso e Ps-Graduao Giovani Palma Bastos Pr-Reitor de Administrao Clvis Quadros Hempel Campus de Frederico Westphalen Diretor Geral Csar Lus Pinheiro Diretora Acadmica Silvia Regina Canan Diretor Administrativo Nestor Henrique De Cesaro Campus de Erechim Diretor Geral Paulo Jos Sponchiado Diretora Acadmica Elisabete Maria Zanin Diretor Administrativo Paulo Roberto Giollo Campus de Santo ngelo Diretor Geral Maurlio Miguel Tiecker Diretora Acadmica Neusa Maria John Scheid Diretor Administrativo Gilberto Pacheco Campus de Santiago Diretor Geral Francisco de Assis Grski Diretora Acadmica Michele Noal Beltro Diretor Administrativo Jorge Padilha Santos Campus de So Luiz Gonzaga Diretora Geral Sonia Regina Bressan Vieira Campus de Cerro Largo Diretor Geral Edson Bolzan

    ANAIS DO I CICLO DE ESTUDOS EM EDUCAO

    CONTEMPORANEIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE

    JUNHO A SETEMBRO DE 2013

    FREDERICO WESTPHALEN - RS COORDENAO DO EVENTO Programa de Ps-Graduao em Educao Departamento de Cincias Humanas Cursos de Filosofia, Letras, Matemtica, Pedagogia e Psicologia Comisso Cientfica Adriane Ester Hoffmann Alessandra Tiburski Fink Ana Maria Carvalho Metzler Ana Paula Teixeira Porto Camila Nicola Boeri Carmo Henrique Kamphor Claudir Miguel Zuchi Ederson Cadona Edite Maria Sudbrack Eliane Maria B. Grotto Elisabete Cerutti Juliane Claudia Piovesan Leandro Greff da Silveira Maria Cristina Gubiani Aita Maria Tereza Cauduro Maria Thereza Veloso Marines Aires Marins Ulbriki Costa

    anais_ciclo_2013.pdf 3 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSES CAMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

    CURSOS DE FILOSOFIA, LETRAS, MATEMTICA, PEDAGOGIA E PSICOLOGIA

    I CICLO DE ESTUDOS EM EDUCAO

    CONTEMPORANEIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE

    ANAIS

    Organizadoras

    Edite Maria Sudbrack Magali Teresa de Pellegrin Reinheimer

    Mrcia Dalla Nora

    FREDERICO WESTPHALEN

    2013

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  • Este trabalho est licenciado sob uma Licena Creative Commons Atribuio-NoComercial-SemDerivados 3.0

    No Adaptada. Para ver uma cpia desta licena, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/. Organizao: Edite Maria Sudbrack, Magali Teresa de Pellegrin Reinheimer e Mrcia Dalla Nora Reviso metodolgica: Magali Teresa de Pellegrin Reinheimer Diagramao: Magali Teresa de Pellegrin Reinheimer Capa/Arte: Andr Forte Reviso Lingustica: Wilson Cadon

    O contedo de cada trabalho bem como sua redao formal so de responsabilidade exclusiva dos (as) autores (as).

    Catalogao na Fonte elaborada pela

    Biblioteca Central URI/FW

    C499a

    Ciclo de Estudos em Educao (1.: 2013 : Frederico Westphalen, RS)

    Anais [recurso eletrnico] [do] I Ciclo de Estudos em Educao : contemporaneidade e interdisciplinaridade, Departamento de Cincias Humanas, Programa de Ps-Graduao em Educao / Organizadores: Edite Maria Sudbrak, Magali Teresa de Pellegrin Reinheimer, Mrcia Dalla Nora. Frederico Westphalen : URI Frederico Westph, 2013.

    726 p.

    ISBN 978-85-7796-104-7

    1. Cincias Humanas. 2. Educao. I.Sudbrak, Edite Maria. II. Reinheimer, Magali Teresa de Pellegrin. III. Nora, Mrcia Dalla . IV. Ttulo.

    CDU 37

    URI - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses Prdio 8, Sala 108

    Campus de Frederico Westphalen Rua Assis Brasil, 709 - CEP 98400-000 Tel.: 55 3744 9223 - Fax: 55 3744-9265

    E-mail: [email protected], [email protected]

    Impresso no Brasil Printed in Brazil

    anais_ciclo_2013.pdf 5 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • SUMRIO

    15 APRESENTAO

    16 PALESTRAS

    17

    INOVAO CURRICULAR NO ENSINO MDIO: A POLITECNIA EM QUESTO Gaudncio Frigotto

    38 APRENDER A APRENDER Pedro Demo

    59 PLENRIAS

    60 EIXO TEMTICO: Polticas Pblicas e Gesto da Educao

    61

    A AVALIAO NA POLTICA DE PROGRESSO CONTINUADA E A CONSTANTE BUSCA POR QUALIDADE E EQUIDADE. Silvia Daiana Parussolo Boniati

    69

    A EDUCAO EMANCIPATRIA E OS CONSELHOS DE SADE: ESTRATGIAS PARA EFETIVAO DO CONTROLE SOCIAL EM SADE Caroline Ottobelli

    79

    A EDUCAO INFANTIL DO DIREITO OBRIGAO: CAMINHO PARA A QUALIDADE? Emanuele Froner

    90

    A MANUTENO DAS CULTURAS INDGENAS POR INTERMDIO DA EDUCAO Denise Tatiane Girardon Dos Santos

    95 ESTUDOS INICIAIS SOBRE GESTO ESCOLAR NA EDUCAO BSICA Adejane Pires Da Silva e Eliane Maria Cocco

    101

    FORMAO PEDAGGICA DO DOCENTE UNIVERSITRIO: REGULAO E/OU EMANCIPAO? Janane Souza Gazzola

    111 FUNDEB: UMA POLTICA EDUCACIONAL Paulo Rogerio Brand

    118 GESTO EDUCACIONAL E DEMOCRACIA: UMA RELAO NECESSRIA Clarinda De Carli

    130

    O IMPACTO DA INICIAO CIENTFICA NA FORMAO STRICTO-SENSU DOS EGRESSOS BOLSISTAS DA URI CAMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN Rosangela Da Silva

    anais_ciclo_2013.pdf 6 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • 137

    POLTICAS DE FORMAO CONTINUADA E A PRTICA PEDAGGICA DOCENTE Camila De Fatima Soares Dos Santos

    148

    POLTICAS EDUCACIONAIS E SEU IMPACTO PARA A EDUCAO DE QUALIDADE Ana Paula Pellegrin

    156 POLITICAS PUBLICAS DE EDUCAO PARA SERIES INICIAIS. Karine Seidel Da Rosa

    165 POLTICAS PBLICAS E EXTENSO UNIVERSITRIA Adriano De Souza

    173 EIXO TEMTICO: Formao de Professores e Prticas Educativas

    174 A CANO EM DIFERENTES POCAS: UM PROPOSTA METODOLGICA Adriane Ester Hoffmann E Marins Ulbriki Costa

    183

    A IMPORTNCIA DA SUPERVISO ESCOLAR NA FORMAO ACADMICA DOCENTE ATRAVS DO PROGRAMA PIBID. A CONTRIBUIO DA SUPERVISO ESCOLAR NA FORMAO ACADMICADOCENTE ATRAVS DO PROGRAMA PIBID Dilvana Zanatta

    192

    A PEDAGOGIA DA ALTERNNCIA E OS PRINCPIOS SOCIOEDUCATIVOS DOS CENTROS FAMILIARES DE FORMAO POR ALTERNNCIA CEFFAs Vanessa Dal Canton

    201

    A PERSONIFICAO DA TEORIA NA PRTICAS EDUCATIVAS: O OLHAR DO PIBID NA CONSTRUO DA IDENTIDADE DOCENTE Anilce Angela Arboit

    211 A PRXIS FILOSFICA: UMA REFLEXO SOBRE A CONSTRUO DO CONHECIMENTO NO ENSINO SUPERIOR Evandro Santos Duarte

    220

    A SUPERVISO NO PIBID, EDUCAO CONTINUADA E SABERES DOCENTES: QUESTES DE PROFISSIONALIZAO DO PROFESSOR Dulce Maria De Souza Hemielewski

    229

    ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: UMA POLTICA DE EDUCAO ESPECIAL NO CONTEXTO ESCOLAR INCLUSIVO Emanuele Moura Barretta

    237

    AO SE RENOVAR NA FORMAO DO PROFESSOR, RENOVAM-SE AS PRTICAS PEDAGGICAS, RENOVA-SE A EDUCAO Viviane De Vargas Geribone

    anais_ciclo_2013.pdf 7 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • 243 AS VIVNCIAS DE ESTGIO A PARTIR DA FORMAO INICIAL Vanusa Kerscner

    251 AUTOAVALIAO INSTITUCIONAL NA URI Patrcia Fontana

    263

    BRINQUEDOTECA UNIVERSITRIA: ESPAO DE FORMAO CONTINUADA Dbora Regina Vieira Rocha

    273 CONTAO DE HISTRIAS: UMA VERDADEIRA FBRICA DE SONHOS Elisiane Andria Lippi

    281

    CONTEXTUALIZAO HISTRICA DA POLITECNIA: UM RETORNO AO CONCEITO MARXISTA Magali Seidel Kunz

    294 CONTRIBUIES DE UM ENSINO MUSICAL NAS ESCOLAS Naiara Andreatto Da Silva

    303 ESTADO DA ARTE DA PEDAGOGIA DA ALTERNNCIA Elisandra Manfio Zonta

    312 ESTADO DA ARTE: EDUCAO INCLUSIVA NAS ESCOLAS RURAIS. Juliana Cerutti Ottonelli

    328

    EXPERINCIA DO PROGRAMA PIBID PEDAGOGIA ENSINO MDIO NA URI CAMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN: UM NOVO OLHAR SOBRE A FORMAO DO PROFESSOR Luci Mary Duso Pacheco

    340

    FORMAO DE ANIMADORES EM EDUCAO DO CAMPO COLABORANDO COM O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL DO MDIO ALTO URUGUAI GACHO Antonio Carlos Moreira

    354

    FORMAO DOCENTE A TEORIA E A PRTICA NA CONSTRUO DO CONHECIMENTO Luana Nunes Hauch

    363 FORMAO DOCENTE: SABERES NECESSRIOS PARA UMA FORMAO Salete Maria Moreira Da Silva

    372

    FORMAO E PROFISSO DOCENTE: EXPERINCIAS VIVENCIADAS NO PIBID Eliane Matias Queiroz Martins E Marcieli Salete Schu

    382

    FORMAO INICIAL E CONTINUADA PARA PROFESSORES DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO AEE: POLTICAS E PRTICAS PEDAGGICAS PARA A INCLUSO DE ALUNOS Carina Luisa Kurek Tibola

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  • 390 GNERO FILMICO: UMA NOVA EXPERINCIA EM SALA DE AULA Bibiane Trevisol

    400

    GNEROS MIDITICOS E VARIAO LINGUSTICA: PRTICAS DE USO REAL DA LNGUA. Patrcia Simone Grando

    407 INTERFACE DIALGICA ENTRE ARTIGO DE OPINIO E NOTCIA Minia Carine Huber

    415

    KANT: UMA REFERNCIA NA CONSTRUO DO CONHECIMENTO A PARTIR DO SUJEITO ATIVO PEDAGGICAMENTE Fernando Battisti

    422

    LABORATRIO DE ENSINO DE MATEMTICA: CONTRIBUIES PARA OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM Eduardo Post

    428

    LEITURAS PEDAGGICAS: A VISO FREIREANA COMO PRTICA NECESSRIA A FORMAO DE PROFESSORES NAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO PIBID NA ESCOLA CAMPO. Raquel Da Silva Brochier e Vanessa Tas Eloy

    436

    LNGUA E CULTURA NO COTIDIANO ESCOLAR: A PERSPECTIVA DO ALUNO NAS RELAES INTERCULTURAIS Andria Dalla Costa

    445 O ATO PEDAGGICO DE ENSINAR E A FORMAO DO PROFESSOR Fernanda Cristina Piovesan De Souza E Marisa Barbieri

    455 O EDUCADOR: QUEM ELE? Silvana Aparecida Pin e Claudir Miguel Zuchi

    464

    O IMPACTO DA CASA FAMILIAR RURAL E DA PEDAGOGIA DA ALTRENNCIA NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DO MEIO RURAL Clber Renato Zorta

    472

    PEDAGOGIA DA ALTERNNCIA E AGRICULTURA FAMILIAR: IMPLICAES DA REVOLUO VERDE NA ORGANIZAO RURAL Anilce Angela Arboit

    483

    PIBID - POLTICA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAO DOCNCIA: UMA APROXIMAO ENTRE A TEORIA E A PRTICA DOCENTE Giovanessa Lcia Poletti

    494

    PIBID- PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAO DOCNCIA UM APOIO FORMAO DOCENTE Letcia Gobb

    anais_ciclo_2013.pdf 9 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • 504 POLITECNIA E O ENSINO POLITCNICO Vanderlei Gularte Farias

    511

    PROJETO DE PESQUISA: REFLEXES SOBRE A CRISE DA RACIONALIDADE INSTRUMENTAL NA EDUCAO E A CONSTRUO DA RACIONALIDADE EMANCIPATRIA Henriqueta Alves Da Silva

    516

    REFLEXES SOBRE EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS DO ENSINO SUPERIOR Edinia De Lurdes Samua

    523

    SADE/DOENA DOS DOCENTES E SUAS CONSEQUNCIAS NA PRTICA EDUCATIVA Jaqueline Marafon Pinheiro

    531

    TEMA GERADOR FREIREANO: RELAES DIALGICAS COM A PEDAGOGIA DA ALTERNNCIA Ana Paula Noro Grabowski

    540 EIXO TEMTICO: Educao e Tecnologias

    541 ANLISE DE DADOS E PROBABILIDADE NOS CURRCULOS Gesseca Camara Lubachewski

    549 AS TECNOLOGIAS INFORMTICAS E O ENSINO DE MATEMTICA Franciele Spinelli Cargnin

    557

    EDUCOMUNICAO E A CONSTITUIO DO CONHECIMENTO A PARTIR DA LITERATURA INFANTIL PARA SURDOS Maria Aparecida Brum Trindade

    565

    OFICINAS DIDTICO PEDAGGICAS COM AUXLIO DE TECNOLOGIAS INFORMTICAS: EXPERINCIAS PROPICIADAS PELO PIBID Jssica Freitas Avrella

    572 OS DESAFIOS DA DOCNCIA EM TEMPOS DE CIBERCULTURA Elisabete Cerutti

    580

    O USO DE TECNOLOGIAS E A MUDANA DE PARADIGMA DO ENSINO APRENDIZAGEM Roberto Franciscatto

    588 TECNOLOGIAS NA EDUCAO: INOVAO ATRAVS DA REDE EDUCATIVA APRENDERMAIS.NET Manoelle Silaveira Duarte

    596 EIXO TEMTICO: Educao e Diversidade

    597 A LITERATURA COMO UM ESPAO PARA A DIVERSIDADE Luciane Figueiredo Pokulat

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  • 603

    A PRTICA PIBID EM LNGUA PORTUGUESA, UM ENSAIO PARA A VIDA PROFISSIONAL Daniela Tur e Claudia Aline Da Silva Vargas

    610

    BRINCANDO E APRENDENDO: ATIVIDADES LDICAS MEDIANDO A CONSTRUO DO CONHECIMENTO Manoelle Silveira Duarte

    619 O ENFERMEIRO COMO PROTAGONISTA DA EDUCAO EM SADE Sinara Rapachi Rossato

    625

    OS INDGENAS E A UNIVERSIDADE: OS DESAFIOS PARA A INTERCULTURALIDADE Camila Guidini Camargo

    633

    PIBID: REVISITANDO E ESTABELECENDO RELAES ENTRE TEORIA E PRTICA DO ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA Claudia Mara Silva De Oliveira e Tanise Gobbi Dos Reis

    641

    UM OLHAR DA PSICOLOGIA SOBRE A ARTE DE ENSINAR E APRENDER NA UNIVERSIDADE Lus Henrique Paloski

    649 EIXO TEMTICO: Educao e Interdisciplinaridade

    650 A INTERDISCIPLINARIDADE NA HISTRIA DA EDUCAO Clenio Vianei Mazzonetto

    657

    EDUCAR PELO CUIDAR HUMANIZAR: POR UMA EDUCAO COMPROMETIDA COM O CUIDADO Ilria Franois Wahlbrinck

    666

    MODELOS MATEMTICOS UTILIZADOS NA PREDIO DO TEMPO DE VIDA DE BATERIAS UTILIZADAS EM DISPOSITIVOS PORTTEIS Janine Da Rosa Albarello

    672 PSTERES

    673 EIXO TEMTICO: Polticas Pblicas e Gesto da Educao

    674 A FORMAO CONTINUADA E A PRTICA PEDAGGICA DOS DOCENTES LUZ DO CICLO DE POLTICAS Camila De Fatima Soares Dos Santos

    675

    INCENTIVO CARREIRA DOCENTE: O ESTADO PROTAGONISTA OU REGULADOR? Tas Regina Freo

    676 POLTICAS DE FORMAO INICIAL DOS PROFESSORES NO BRASIL Diani Carol Dos Reis

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  • 677 EIXO TEMTICO: Formao de Professores e Prticas Educativas

    678 A CIDADANIA E OS ALUNOS DO ENSINO MEDIO Martha Izabel Dalla Nora

    679

    A DOCNCIA UNIVERSITRIA: CONTRASSENSOS NAS POLTICAS DE FORMAO DE PROFESSORES Jssica De Marco

    680 A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA: A REFLEXO DO PIBID ACERCA DA PROBLEMTICA Marcia Da Silva

    681 COMPETNCIA DOCENTE Tais Levulis

    682

    CONTEXTUALIZAO DO CONTEDO DE FRAES ATRAVS DE SITUAES COTIDIANAS Dionatan Breskovit De Matos

    683

    DIALETOLOGIA E TEXTOS JORNALISTICOS: A UNIDADE E A DIVERSIDADE NA MIDIA IMPRESSA DAS REGIOES DO MEDIO E ALTO URUGUAI, DAS MISSEOS E METROPOLITANA Letcia Rodrigues Da Silva

    684 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Lucimara Nunes Hauch

    685 DIRETRIZES PARA O ENSINO NORMAL Cassinli Aparecida Reis Borba

    686 TICA NA FORMAO DOCENTE Cassiano Librelotto Trezzi

    687 FORMAO DE PROFESSORES E PRTICAS EDUCATIVAS Janete Campos

    688

    FORMAO DOCENTE E O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAO DOCNCIA PIBID Cristina Enderli e Jaqueline Vargas Coelho

    689

    FORMAO DO PROFESSOR PARA A EDUCAO NO CAMPO: SABERES NECESSRIOS A PRTICA DOCENTE Mateus Jose Da Costa

    690 FORMAO PROFISSIONAL ACADMICA: ESPAO- TEMPO INTERDISCIPLINAR NA CONSTRUO DO PROFESSOR Ketlin Ramos Nunes

    691 FORMAO PROFISSIONAL ACADMICA: ESPAO-TEMPO INTERDISCIPLINAR NA CONSTRUO DO PROFESSOR Valria Vedana

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  • 692

    HABILIDADES E COMPETNCIAS: NA VISO DE INGRESSANTES E CONCLUINTES DE EDUCAO FSICA Tharles Gabriele Cauduro

    693

    LEITURAS PEDAGGICAS: CONTRIBUIES PARA A FORMAO INICIAL DOCENTE ATRAVS DO PIBID/URI FREDERICO WESTPHALEN Alessandra Maschio e Katiucia Daniela Poletto Magahim

    694

    OFICINA ENVOLVENDO O NMERO UREO: UMA EXPERINCIA PIBIDIANA Aline Danelli

    695

    OS ESPAOS E AS EXPERINCIAS VIVIDAS, SENTIDAS E INDISPENSVEIS PARA O CONHECIMENTO DO SER APRENDENTE Alexandra Franchini Raffaelli

    696 OS JOGOS NO RECREIO E A TICA Tharles Gabriele Cauduro

    697

    PEDAGOGIA DA INFNCIA, EDUCADOR INFANTIL E TECNOLOGIA: PROCESSO EDUCATIVO EM CONSTRUO Edineia Dos Reis

    698 PRTICA SUPERVISIONADA DE EDUCAO FSICA NO ENSINO MDIO Carlise Olschowsky Pereira

    699 QUALIDADE DE VIDA PARA ALUNOS DO ENSINO MDIO Camila Cadon

    700 RECREIO ESCOLAR: EM UMA ESCOLA DE FREDERICO WESTPHALEN Fernanda Cocco

    701 EIXO TEMTICO: Educao e Diversidade

    702 CINCIA, TECNOLOGIA E FILOSOFIA: UMA INICIAO ngela Srocynsky Da Costa

    703 TICA E SOCIEDADE Claudiane Paula Szdloski

    704

    EXPERINCIA DE ESTGIO NO CONSELHO TUTELAR: UMA PRTICA VINCULADA EDUCAO Jaqueline Paula Vieira

    705 NCLEOS DE INCLUSO SOCIAL Emanuele Moura Barretta

    706

    O USO DAS TICS COMO FERRAMENTAS PEDAGGICAS PARA O ENSINO DE REA DE FIGURAS PLANAS EM LIBRAS Maria Aparecida Brum Trindade

    anais_ciclo_2013.pdf 13 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • 707 UNIVERSIDADE X ESCOLA DE EDUCAO BSICA Viviane Andria Santana Saldanha Dos Anjos

    708 EIXO TEMTICO: Educao e Tecnologias

    709 A AULA E AS NOVAS TECNOLOGIAS NA CONTEMPORANEIDADE Letcia Cristina Scherer

    710

    ANLISE DE JOGOS EDUCACIONAIS ONLINE: CONTRIBUIES PARA O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Rudinei Lazarotti

    711

    A TRAJETRIA DA TECNOLOGIA NA EDUCAO E AS POLTICAS PARA A FORMAO DO PROFESSOR COM O USO DAS TECNOLOGIAS Natana Fussinger

    712

    A TECNOLOGIA E SUA INFLUNCIA NAS CRIANAS DA EDUCAO INFANTIL E DOS ANOS INICIAIS Luana Fussinger

    713

    EDUCAO E TECNOLOGIA: POLTICAS PARA A FORMAO DO PROFESSOR Fabiana Vicente

    714

    EDUCAO E TECNOLOGIA: POSSIBILIDADES DE ENFRENTAMENTO DA EXCLUSO SOCIAL Karine De Freitas Quevedo

    715 FILOSOFIA, CINCIA E TECNOLOGIA Alessandra Azeredo Ferrari

    716

    FILOSOFIA, CUIDADO E QUALIDADE DE VIDA: BIOTICA E AS RELAES DE PRODUO PRIMRIA Karoline Burin

    717

    IDEOLOGIA E ALIENAO: UMA REFLEXO SOBRE A SOCIEDADE DE CONSUMO Raquel Botezini Quoos

    718

    INDSTRIA CULTURAL E COMUNICAO DE MASSA: O PODER DOS MEIOS DE COMUNICAO Ricardo Ceolin

    719

    MSICA E TECNOLOGIA: REFLEXES E PERSPECTIVAS NO PROCESSO DE APRENDER E ENSINAR Letcia Zanella

    anais_ciclo_2013.pdf 14 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • 720 O LDICO NA EDUCAO INFANTIL Mara Margarida Ellwanger

    721

    POLTICAS PBLICAS PARA A FORMAO DO PROFESSOR NO USO DAS TECNOLOGIAS Raquel Johann Prezniska

    722 RECURSOS TECNOLOGICOS NA PRTICA DOCENTE Marili Philippsen

    723

    REDES SOCIAIS: RECURSOS TECNOLOGICOS PARA O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM Ana Claudia De Quadros Fontoura

    724

    TECNOLOGIA E COMUNICAO: APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS PARA PROFESSOR E ALUNO Casiane Vargas De Queiroz

    725 EIXO TEMTICO: Educao e Interdisciplinaridade

    726 AS INFLUNCIAS NA ESCOLHA DO CURSO DE GRADUAO Anelise Flach, Fbio Andr Frigeri E Gilson Henrique Panosso

    anais_ciclo_2013.pdf 15 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • APRESENTAO

    Esta publicao que ora tornada pblica contm a Conferncia de Abertura do I

    Ciclo de Estudos em Educao: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade, a cargo do

    Professor Doutor Gaudncio Frigotto (UERJ), Inovao Curricular no Ensino Mdio: A

    Politecnia em questo

    Destacamos de igual forma, a palestra de Encerramento proferida pelo Professor

    Doutor Pedro Demo (UnB), abordando a temtica Desafios da Educao Contempornea.

    Anunciamos neste veculo tambm, os trabalhos aprovados pela comisso Cientfica,

    na modalidade Plenria e Pster.

    Ao faz-lo cumpre evocar o espao de reflexo sobre as temticas do contexto

    educacional contemporneo; a integrao entre o PPGEDU da URI, Cursos de Graduao e as

    Redes de Ensino; a divulgao das pesquisas e da produo de saber acerca dos eixos

    temticos deste Ciclo.

    A edio dos ANAIS leva ao leitor(a), a disseminao do saber que orbitaram em

    torno da contemporaneidade e da interdisciplinaridade, focando os sub-eixos Educao e

    Diversidade; Formao de Professores e Prticas Educativas; Polticas Pblicas e Gesto da

    Educao; Educao e Tecnologias; Educao e Interdisciplinaridade.

    Registramos, por fim, nosso reconhecimento aos pesquisadores que compartilham

    sua cincia, aos pareceristas e avaliadores, pelo desprendimento e generosidade na apreciao

    dos trabalhos.

    Agradecemos de forma especial a todas as Comisses de Trabalho envolvidas pela

    dedicao e disponibilidade.

    Boa leitura.

    A Coordenao

    anais_ciclo_2013.pdf 16 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • PALESTRAS

    anais_ciclo_2013.pdf 17 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

    17

    INOVAO CURRICULAR NO ENSINO MDIO:

    A POLITECNIA EM QUESTO1

    Gaudencio Frigotto2

    Somos um pas que com frequncia fazemos reformas de legislao e mudanas

    curriculares no suposto que a esteja o grande problema da educao bsica. No momento o

    foco destas mudanas o ensino mdio dada a sua situao de acesso e qualidade pfias.

    Com efeito, no Brasil, de acordo com os dados do Censo do INEP/MEC de 2011,

    tem atualmente 8.357.675 alunos matriculados no ensino mdio. Apenas 1,2% no mbito

    pblico federal, 85,9%, no mbito estadual, 1,1% no municipal e 11,8% no ensino privado.

    Pode-se afirmar que no mbito pblico apenas as escolas federais de nvel mdio e algumas

    experincias estaduais tm condies objetivas de um trabalho de qualidade com professores

    de tempo integral, carreira digna, tempo de pesquisa e orientao, laboratrios, biblioteca,

    espao para esporte e arte etc., cujo custo econmico mdio de 4 mil dlares,

    aproximadamente 8 mil reais.

    Mas o alarmante o que revela a ltima Pesquisa Nacional por Amostra de

    Domiclios (PNAD) sobre a negao do direito ao ensino mdio aos jovens brasileiros.

    Aproximadamente 18 milhes de jovens entre 15 e 24 anos esto fora da escola, metade da

    juventude brasileira.

    Face s condies objetivas das bases que se oferece na maioria das escolas pblicas

    do Brasil o foco reiterado em nossa cultura educacional de reformas curriculares

    contraditrio por duas razes principais. Primeiro porque o que bsico no muda com tanta

    frequncia, pois de contrrio no seria bsico. As melhores escolas, onde estudam os filhos da

    classe dirigente, resistem s mudanas daquilo que entendem que bsico. Um segundo

    aspecto de que, especialmente em relao escola pblica, o problema fundamental no est

    na reforma curricular e nem mesmo na gesto, como tanto se tem insistido entre ns. Tudo

    isso importante, mas no resolve o problema dos dados acima apontados. Antnio Gramsci,

    na dcada de 1930, referindo-se escola na Itlia insistia que seu problema principal no era

    de currculo, o professor ou gesto, mas de deciso poltica da sociedade assumir a escola

    pblica como uma questo central. 1 Texto da Conferncia de Abertura do I Ciclo de Estudos em Educao, realizada em 28/06/2013. 2. Doutor em Cincias Humanas- Educao. Professor titular em economia Poltica da Educao Na Universidade Federal Fluminense (aposentado). Atualmente professor no Programa de Ps graduao em Polticas Pblicas e Formao Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    As diferentes denominaes que encontramos na legislao ou normatizaes sobre

    o ensino mdio (ensino mdio inovador, ensino mdio integrado, ensino mdio tcnico,

    ensino mdio tcnico concomitante ou subsequente) revelam que a classe dominante brasileira

    representada nas organizaes da sociedade civil e com o poder na burocracia do Estado, no

    poder judicirio, no executivo e no parlamento, no s no assume o preceito constitucional

    de que o ensino mdio a etapa final da educao bsica, como, no raro e salve poucas

    excees, impedem que isso acontea por interesses particularistas. Hoje vemos bancos, redes

    de comunicao, igrejas, entidades industriais, de servios e do agronegcio, todos querendo

    moldar a educao bsica de acordo com seus interesses particulares. O direito escola

    pblica e os recursos para dar-lhes a bases materiais para seu funcionamento com qualidade

    so sistematicamente ignorados.

    Neste breve texto, que objetiva dar elementos para o debate especialmente com os

    educadores e as instituies cientficas e movimentos sociais historicamente empenhados na

    luta pela escola bsica pblica como direito social e subjetivo, vou abordar os seguintes

    aspectos: o ensino mdio pbico como uma dvida social a hegemonia do pensamento

    mercantil no contedo, mtodo e forma da educao bsica de ensino mdio e nas polticas

    educacionais como entraves concepo de educao politcnica; a politecnia como

    concepo no ensino mdio e o ensino mdio integrado como estratgia para a travessia a

    esta concepo; e, a ttulo de consideraes finais, como se situa hoje a perspectiva de

    educao politcnica, as resistncias e os desafios para uma agenda propositiva para renascer

    das cinzas.

    1.Ensino mdio: reiterao de uma dvida social politicamente produzida e

    afirmao da concepo mercantil.

    Caberia perguntar o que foi feito, quem utilizou de fato e em que mudaram a

    educao fundamental brasileira os Parmetros Curriculares Nacionais lanados em 1997 no

    governo de Fernando Henrique Cardoso? Dezesseis anos depois, o atual Ministro da

    Educao bate na mesma tecla, agora em relao ao ensino mdio. Temos que sair desse

    currculo3. Alm do currculo, outro lugar comum reiterado pelo ministro o despreparo dos

    professores. Os alunos so digitais e a gerao de docentes, em geral, analgica.

    3 Ver entrevista do Ministro Aluisio Marcadante ao Jornal Zero Horas em 15/06/20013. Baixada no dia 17.06.2013 [email protected] klecio.gruporbs.com.br

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    O problema maior, certamente, est num outro lugar. Um olhar histrico sobre nossa

    realidade educacional a partir da dcada de 1930 nos conduz a perceber que nunca se teve de

    fato uma deciso poltica para enfrentar a questo da educao bsica em geral e, em

    particular, o ensino mdio. No presente no s no se est enfrentando como a tendncia

    dominante de gerir a educao bsica pblica com critrios mercantis.

    Antnio Cndido, ao analisar a dcada de 1930 e a questo da cultura e educao

    discorda das avaliaes dos que a historiografia apresenta como os pioneiros da educao para

    os quais teria havido mudanas significativas no campo da educao pblica. Pelo contrrio,

    para Cndido, como no houve alteraes na estrutura e relaes sociais, mas apenas um

    arranjos entre os grupos da classe dominante, tratava- se de ampliar e melhorar o

    recrutamento da massa votante e de enriquecer a composio da elite votada. Portanto, no

    era uma revoluo educacional, mas uma reforma ampla, pois o que concerne ao grosso da

    populao a situao pouco se alterou. (Candido, 1984, p. 28)

    A ditadura civil militar, que durou duas dcadas, processou reformas em todos os

    nveis de ensino e um dos focos era a profissionalizao compulsria do ensino mdio,

    poca denominado segundo grau. Todas estas reformas efetivaram-se tendo como concepo

    a teoria do capital humano. Tratava-se de entender a educao bsica no mais como um

    direito social e subjetivo, mas um lugar onde, especialmente, as crianas e jovens da classe

    trabalhadora iriam adquirir um capital, to importante quanto ser dono de fbricas, terras,

    bancos, redes de televiso, etc. Uma ideologia que penetrou no tecido social e cultural e que

    se aprofundou, como veremos adiante, com outras noes mais sutis com a ideologia

    neoliberal 4.

    A dcada de 1980 constitui-se num singular momento da vida poltica do Brasil onde

    ressurgiram as lutas que foram interrompidas mediante a violncia do golpe civil militar de

    1964. Um momento de intensa mobilizao pela redemocratizao e pela defesa da escola

    pblica no contexto de construo de uma nova constituio. O campo educacional

    mobilizou-se em debates, conferncias e, no interior de alguns programas de ps graduao,

    na elaborao terica para a disputa das concepes de educao.

    Foi no interior destes embates que aparece a elaborao das concepes da escola

    unitria, politcnica, ominilateral e o trabalho como principio educativo. Trata-se de

    concepes, como veremos abaixo, que no apenas se contrapem ao iderio da deologia de

    capital humano, mas buscam ir alm concepo liberal burguesa de escola pblica.

    4 . Para uma compreenso detalhada da teoria do capital humano e seus efeitos no desmanche da educao pblica no Brasil ver: Frigotto, 2010.

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    O que se esperava de que a nova Constituio incorpora-se, certamente no estas

    concepes, mas no mnimo o compromisso constitucional de garantir as bases materiais para

    que o Brasil, ainda que tardiamente, pagasse a dvida imensa com o direito da educao bsica

    no patamar daquelas sociedades que completaram a revoluo burguesa e que, mesmo que

    dentro da dualidade, garantiram a educao bsica universalmente.

    Passado meio sculo da anlise de Antnio Cndido, um dos mais destacados

    intelectuais do sculo XX na defesa da escola pblica, universal gratuita, laica e democrtica,

    Florestan Fernandes, proclamada a nova Constituio, conclui que a educao, uma vez mais,

    no foi assumida pela sociedade como prioridade. A educao nunca foi algo de fundamental

    no Brasil, e muitos esperavam que isso mudasse com a convocao da Assembleia Nacional

    Constituinte. Mas a Constituio promulgada em 1988, confirmando que a educao tida

    como assunto menor, no alterou a situao (Fernandes, 1992).

    Os embates da dcada de 1990 enfrentados pelos movimentos sociais, organizaes

    dos educadores e instituies cientficas, tanto no plano da defesa da escola pblica, quanto da

    sua concepo pedaggica se deram numa conjuntura de contrarreforma sob os auspcios da

    ideologia neoliberal.

    O colapso do socialismo existente e a apropriao privada de um novo salto

    tecnolgico digital molecular- deram as bases para o que se denominou de ajuste. A palavra

    ajuste assume aqui o sentido poltico de consertar algo que tinha se desajustado da ideologia

    do livre mercado como o deus regulador das relaes sociais5. Este ajuste seguiu uma cartilha

    produzidas pelos intelectuais dos centros hegemnicos do capital e seus associados nos pases

    de capitalismo dependente e de desenvolvimento desigual e combinado6 e que foi conhecida

    como Consenso de Washington. Vrios intelectuais do campo econmico especialmente do

    Brasil faziam e os que ainda vivem fazem parte dos organismos internacionais que

    representam os interesses do grande capital.

    5 . Os fundamentos do neoliberalismo ou de retorno ao liberalismo conservador foram desenvolvidos especialmente por Frederik Hayek, considerado pai do neoliberalismo. Sua tese fundamental que as polticas sociais do Estado de bem estar social e o socialismo levam servido, porque so contra a natureza humana e conduzem preguia, no competio, ao no progresso. Ver Hayek (1980 e 1987) 6 . O conceito de capitalismo dependente que se caracteriza por um desenvolvimento desigual e combinado se expressa pela combinao de concentrao de riqueza e capital e de desigualdade. Trata-se de um conceito que rechaa a ideologia da modernizao e expe os limites da teoria da dependncia com as abordagens centro e periferia e o confronto entre naes, ao situar o ncleo explicativo na relao de classes e no conflito de classe no sistema capitalista. Capitalismo dependente expressa que no se trata de dualidade e, tambm, no um confronto entre naes, mas a aliana e associao subordinada, em nosso caso da burguesia brasileira, com as burguesias dos centros hegemnicos do sistema capital na consecuo de seus interesses. Ver Fernandes, 1973

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    O ajuste, em realidade, tem se constitudo num conjunto de medidas para permitir

    liberdade total ao mercado, agora em termos globais, para o livre fluxo de capitais, em

    especial, o financeiro e a anulao das leis que protegiam a classe trabalhadora e que lhes

    garantiam direitos duramente conquistados ao longo do sculo XX.

    Resulta deste ajuste um tempo de horror econmico, na anlise de Viviane Forrester

    (1996), de rolo compressor ou desmedida do capital, sobre os trabalhadores e sindicatos,

    como o descreve Danile Linhart (2007), de um pesado fardo histrico para a humanidade,

    por Istvn Mszros(2007) e de banalizao da injustia social e corroso do carter,

    respectivamente, nas anlises de Cristophe Dejours (1999) e de Ricard Sennett (1999).

    Trata-se de uma literatura que evidencia a vingana do capital contra o trabalho e as

    consequncias sobre o desemprego, a super explorao e precarizao dos trabalhadores em

    todas as esferas da sociedade.

    Embora as teses do neoliberalismo e sua aplicao poltica j estivessem em curso na

    dcada de 1980, a organizao dos movimentos sociais, sindicatos e a batalha no plano das

    ideias em pequenos espaos do campo acadmico, no permitiram sua adoo aberta na

    sociedade brasileira. As polticas neoliberais iniciam com o governo Collor de Mello no incio

    da dcada de 1990, mas por ter sido incapaz de conduzir o ajuste acabou, com a juno de

    foras de sentido oposto, em certa medida antagnico, sofrendo o impeachment. Quem vai

    efetivar de forma profunda o ajuste com a venda do pas mediante as privatizaes e o

    desmanche da economia e do Estado em sua face pblica, como analisa Oliveira (2007),

    foram os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso.

    ao longo destes oito anos que se instaura um processo de hegemonia do

    pensamento mercantil no campo da educao numa dupla e articulada estratgia de protelar e

    descaracterizar a aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB) e,

    posteriormente o Plano Nacional de Educao e, ao mesmo tempo, efetivar por medidas ad

    hoc, as mudanas no campo educativo seguindo os ditames dos organismos internacionais.

    No por acaso o ministro Paulo Renato de Souza e intelectuais que como ele trabalharam no

    ou pelo Banco Mundial, trataram de ajustar, na forma, contedo mtodo o campo

    educacional ao iderio do livre mercado, do ajuste para conformar a fora de trabalho ao

    contexto da flexibilizao e da reengenharia dos processos de trabalho. Uma LDB que por seu

    carter minimalista7 apenas ratificava o que j tinha sido feito.

    7 Para uma viso crtica sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional e o Plano Nacional de Educao ver , respectivamente, Saviani ( 1998).

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    No que concerne ao ensino mdio, que a Constituio e a prpria LDB na letra

    asseguram como a ultima etapa da educao bsica, no s no se alterou no plano do acesso

    e da defasagem idade srie daqueles que o frequentam, mas consagrou a ampliao da

    dualidade de uma escola generalista e humanista e de uma escola adestradora, tecnicista,

    esta para a grande massa dos filhos de trabalhadores. Isto se materializou mediante o Decreto

    Lei 2.208/97.

    Junto afirmao da dualidade incorporou-se ao iderio pedaggico da estrutura

    curricular as novas noes que redefinem a ideologia do capital humano para ajustar mentes e

    coraes na educao que serve ao mercado. Trata-se de elevar para a educao bsica, em

    particular para o ensino mdio, aquilo que foi a pedagogia do capital traada para o Sistema S

    peles empresrios a partir da dcada de 1940 ensinar o que serve ao mercado8.

    As novas noes que embasam as mudanas ou inovaes curriculares e que

    mascaram o carter opaco e cada vez mais violento das relaes sociais, so: sociedade do

    conhecimento, qualidade total, competncias ou pedagogia das competncias,

    empregabilidade e empreendedorismo. Cada uma destas noes representa um deslocamento

    de sentido e busca naturalizar as formas em que o capital penetra nas relaes sociais

    anulando direitos e buscando colocar nos indivduos a culpa pele excluso a que so

    submetidos.

    Assim, a ideia de sociedade de conhecimento quer nos convencer que j no h

    classes sociais com assimetria de poder, mas apenas quem detm mais ou menos

    conhecimento para inserir-se no mundo da tecnologia. No mundo real, contrariamente, o

    conhecimento cientfico apropriado cada vez mais por uma minoria. Da engenharia

    gentica, aos remdios e modificao de sementes, etc., apenas alguns grupos privados

    detm as patentes. Um nico remdio pode custar, para enfrentar determinadas doenas mais

    de dez mil reais por ms. Isso porque uns poucos laboratrios detm o direito privado do que

    ao longo de dcadas se produziu. Bela sociedade do conhecimento! No Brasil o agronegcio

    se vangloria de gerar segurana alimentar, ao mesmo tempo que milhes de brasileiros esto

    dentro de um programa de fome zero. Aqui tambm meia dzia de grandes empresas do

    capital mundo fazem da maior produo de alimentos do mundo propriedade sua para vender

    onde d mais lucro.

    Num mudo onde a cincia e a tecnologia so apropriadas privadamente as mquinas

    substituem braos e energia intelectual e, no apenas qualidade, mas qualidade total passa

    8 . Sobre o sentido de ensinar o que serve ao mercado e ao capital o leitor poder ter uma compreenso ampliada num pequeno texto publicado nos Cadernos de Pesquisa da Fundao Carlos Chagas Frigotto, 1993

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    significar que no h lugar para todos no mercado, mas apenas para aqueles que se submetem

    s normas do mercado de fazer bem feito, em menor tempo e com menor custo o que se lhes

    pede.

    Se o trabalhador tem que se adaptar a um mercado flexvel e organizao flexvel e,

    portanto a uma sociedade desregulamentada que no garante direitos, no faz sentido a busca

    de emprego estvel. A educao tem que educar para a instabilidade. Resulta da o

    apagamento da ideia de emprego e de qualificao e de direitos do trabalhador e o surgimento

    duas noes correlatas empregabilidade e competncias. Agora trata-se de convencer o

    trabalhador e quem o educa que ele tem que correr atrs e que se no consegue emprego ou se

    demitido a culpa dele. Para ser empregvel tem que permanentemente estar atento quais

    as competncias que o mercado lhes exige e tratar de adquiri-las. preciso que esquea o

    sentido de qualificao, de profisso, pois estas esto ligadas a um tempo de conquista de

    direitos, num passado no tanto distante, de estabilidade no emprego e de instituies, dentre

    elas os sindicatos, que lhes defendiam os direitos.

    Numa sociedade de decrescente necessidade de trabalhadores empregados, como

    ofuscar a realidade crescente do trabalho informal que assume uma gama de feies na

    legalidade e se espraia na esfera ilegal e do crime? Aqui surge a noo charmosa do

    empreendedorismo. Por certo em todos os tempos encontramos empreendedores e no havia

    a necessidade de cursos e frmulas para que existissem. Empreendedorismo, assim assume

    outro significado. O recado : caso no haja emprego ou se perder o emprego h um caminho

    de viver sem patro prepare-se para ser empreendedor. Trate, pois, de construir essa

    competncia, o mercado oferece cursos. Aqui tambm depende de voc como indivduo!

    Para que como educadores no assumamos uma compreenso alienada deste

    processo crucial entender que essas alteraes conceituais, incorporadas nas reformas

    curriculares expressam, no plano das ideias, o que funcional s mudanas nas relaes

    sociais de produo. A sntese, pois, de que a dcada de 1990, ao mesmo tempo em que

    vendeu o pas e o desmanche da face pblica do Estado, tratou de incorpora nas reformas

    educativas o iderio do mercado formulado no mais por pessoas ligadas formao

    pedaggica, filosfica e sociolgica da educao, mas por economistas e gestores ligados aos

    organismos internacionais Banco Mundial (BM) Organizao Mundial do Comrcio

    (OMC), Organizao Internacional do Trabalho (OIT), Banco Interamericano de

    Desenvolvimento (BID) e seus braos nas regies e naes. No caso Brasileiro os grupos

    privados que constituem o Todos pela Educao. As novas noes acima assinaladas

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    expressam, pois, a pedagogia do mercado e do capital. O interesse privado passa comandar o

    Estado e os governos em todos os nveis da federao, com rarssimas excees .

    Que tipo de alterao as foras sociais ligadas luta pelas reformas estruturais da

    sociedade brasileira poderiam esperar com a eleio de um operrio e hoje de uma ex

    militante revolucionria na direo de reformas estruturais e da garantia da educao bsica

    pbica como direito social e subjetivo? Trata-se daquilo um projeto de desenvolvimento

    nacional e popular, que no ruptura com a sociedade capitalista, mas condio para que

    relaes sociais de novo tipo, socialistas, possam se constituir sem retorno. Uma revoluo,

    como a expe Florestan Fernandes (1975) dentro da ordem, mas na perspectiva de ruptura

    com esta ordem.

    Uma vasta literatura de intelectuais que, em sua maioria construiu a possibilidade da

    eleio do ex operrio Luiz Incio Lula da Silva, em consecutivas anlises, aps o primeiro

    ano de governo explicitam que o que foi se consolidando dereforma dentro da ordem para

    manter inalteradas as estruturas sociais. Na metfora do ornitorrinco de Francisco de Oliveira

    (2003), de uma sociedade desigualitria sem remisso, que produz a misria e se alimenta

    dela.

    A aliana, por um lado, com as foras que historicamente produziram as estruturas da

    desigualdade na sociedade e na educao e por outro as polticas assistenciais da bolsa famlia

    e programas mltiplos de pequena transferncia de renda, includo no consumo vastos

    contingentes que viviam na misria, descoladas da ruptura das estruturas e dos grupos que

    produzem esta misria, tm como efeito a anulao da poltica. Todas estas medidas teriam

    outra positividade se acompanhadas de mudanas estruturais. O resultado perverso de que

    os grupos que constituem a burguesia brasileira, que sempre foram associados aos centros

    hegemnicos do capital, tomam o Estado para regular a misria no limite da no

    desagregao social e utilizam o fundo pblico privadamente impondo a pedagogia do

    mercado e do capital como poltica do Estado.

    No campo da educao o que acabamos de assinalar se explicita de forma

    emblemtica pelo que ocorre com o Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) e o Plano

    Nacional de Educao. Enquanto o Plano Nacional de Educao (PNE), que expressa uma

    longa negociao e construo em diferentes espaos da sociedade, cuja sntese foi a

    Conferncia Nacional da Educao (CONAE) em dezembro de 2010, est sendo retalhado e

    protelado h trs anos. E quem so os que efetivam esse retalhamento e postergao?

    Justamente os deputados e senadores dos grupos privados que constituem o todos pela

    educao e comanda dentro e fora do MEC o PDE.

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    A retrica de todos pela educao esconde que de fato quem protagoniza a poltica

    de educao e sua concepo so organizaes que representam, os interesses dos industriais,

    dos servios, especialmente os bancos, as grandes redes de comunicao, o agronegcio. Os

    passos so cada vez mais ousados. Em 31 de Janeiro de 2013, lanou-se, com clara anuncia

    do MEC, um sistema virtual gratuito com o nome sugestivo de Conviva Educao,

    produzido por investidores sociais para apoiar a gesto das secretarias municipais e

    estaduais de educao de todo o Brasil. Compe a lista principal destes investidores:

    Fundao Lemann, Fundao Roberto Marinho, Fundao SM Fundao Ita Social,

    Fundao Telefnica Vivo, Fundao Victor Civita, Instituto Gerdau, Instituto Natura,

    Instituto Razo Social, Ita BBA e o Movimento Todos Pela Educao. A barriga de aluguel

    para a gesto e da divulgao Unio Nacional dos Dirigentes Municipais da Educao

    (UNDIME), com o apoio do Conselho Nacional de Secretrios da Educao (CONSED).

    Constata-se, pois, pois que os grupos privados que dominam o PDE tem a mesma

    estratgia, agora mais ousada porque sem resistncia e com consentimento ativo do Ministrio

    da Educao, que se utilizou na rejeio do texto da LDB fruto da negociao feita na

    sociedade, no governo de Fernando Henrique Cardoso. No momento est se debatendo em

    todo o Brasil outra CONAE, cujo objetivo deveria ser avaliar os resultados da implementao

    do PNE. Mas como o PNE est h trs anos no Congresso Nacional sendo estilhaado e

    postergado a agenda no poderia ser outra seno de avaliar porque o PDE no aprovado e o

    quanto o setor privado tomou por inteiro, na gesto e no contedo, a educao publica bsica.

    Dermeval Saviani, referindo-se ao Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE),

    susteta:

    Fica-se com a impresso que estamos diante, mais uma vez dos famosos mecanismos protelatrios. (...) do ponto de vista da pedagogia histrico crtica, o questionamento ao PDE dirige-se prpria lgica que o embasa. Com efeito, essa lgica poderia ser traduzida como uma espcie de pedagogia de resultados. Assim, o governo se equipa com instrumentos de avaliao dos produtos forando, com isso, que o processo se ajuste a essa demanda. , pois, uma lgica do mercado que se guia, nas atuais circunstncias, pelos mecanismos das chamadas pedagogia das competncias e da qualidade total (Saviani, 2007.p.3).

    O ensino mdio elucida mais claramente este processo. Ao longo de dois anos

    debateu-se no Ministrio da Educao a revogao do decreto 2.208\97 que consagrava como

    lei a dualidade educacional no ensino mdio. Deste processo resultou o Decreto 5154/04 que

    busca restabelecer o ensino mdio integrado. Na compreenso dos que se empenharam na

    construo de sua concepo, desde incio tinham presente que no se tratava da mesma coisa

    da perspectiva da politecnia, mas se construdo tendo como eixos de integrao a cincia, o

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    trabalho e a cultura e efetivado em quatro anos e com bases materiais (laboratrios,

    professor em tempo integral numa escola e com salrio digno e carreira, etc.), poderia se

    constituir em travessia para a formao politcnica

    O caminho acima trilhado pelo governo e o avano da hegemonia empresarial

    acabou que esta proposta no teve aderncia nem mesmo na rede federal onde poderia ser

    exemplar9. Os protagonistas do todos para a educao (que convm ao mercado) ocuparam

    rapidamente os espaos. Um primeiro grande campo aberto foi o a aprovao do Decreto N

    7.397 de 22 de dezembro de 2010 que inclui na educao bsica a educao financeira. De

    imediato os bancos, atravs de sues organismos, buscaram oferecer aos estados e municpios e

    governo federal seus prestimosos servios. Um exemplo, entre muitos, o que a Associao

    de Bancos do Distrito Federal imediatamente se props.

    Visando a disseminao dos conhecimentos sobre educao financeira e tributria, a ASSBANDF, juntamente com Procon/ DF e o Governo do Distrito Federal, tenciona ministrar em todas as Escolas Pblicas do DF, os conceitos primordiais sobre Educao Financeira. Para tanto estamos solicitando uma parceria da BM & F, e desta colaborao gostaramos que nos fosse autorizado a utilizao dos links da vossa Home Page onde aparecem os vdeos educativos para atender o pblico de idade 7 a 12 anos, que visa atender 16890 crianas que esto localizadas na rea urbana e 2250 crianas residentes na rea rural, distribudas por 22 regionais e 638 escolas pblicas do DF10.

    Estados de So Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Cear, Gois, Tocantins, entre

    outros adotam em escolas de ensino mdio educao financeira. Na mesma esteira o

    agronegcio cria cartilhas para serem includas na educao bsica.

    A fora da hegemonia empresarial na educao bsica se escancara no fato que quem

    presidiu a Cmara de Educao Bsica no perodo da discusso das novas diretrizes do ensino

    mdio um histrico representante do Sistema S. No obstante grande presso para aprovar

    uma nica diretriz, acabou-se, reiterando a dualidade do ensino mdio, aprovar duas

    diretrizes: uma diretriz para a educao de ensino mdio e outra para a educao profissional

    e tcnica de nvel mdio11.

    As ltimas medidas adotadas pelo MEC em 2013 mostram, ao mesmo tempo o

    abandono da perspectiva do ensino mdio integrado e deciso de entregar a gesto deste nvel

    de ensino pblico ao setor empresarial. Uma primeira iniciativa foi de entregar a orientao 9 . Dentre vrios outros trabalhos,o leitor poder o sentido da concepo de ensino mdio integrado como travessia formao politcnica no livro organizado por Frigotto, Ciavatta e Ramos, (2005 ) 10 . Ver: Carminha Porto. Plano de trabalho financeiro nas escolas do DF. s/d. Baixado da interne [email protected] em 20 de julho de 2013. 11 . Do documento que sintetiza a proposta contrria ao que foi aprovado e no qual constam os pesquisadores que o produziram foi publicado um livro. Ver Pacheco, 2012.

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    do ensino mdio inovador cuja origem tinha outra perspectiva para ser gerido pelo

    Instituto Airton Sena e escola Unibanco. A segunda medida a oferta do MEC aos Estados

    do mesmo patrocinar para que adotem, especialmente para os 54,9% de alunos fora da idade

    adequada e que cursam os ensino mdio, de acordo com o ministro, o modelo consagrado o

    telecurso da Rede Globo.

    Por certo, trata-se de estratgias que reafirmam as anlises que mostram que para

    uma classe dominante, que sempre se associou de forma subordinada ao grande capital e

    construiu uma sociedade que combina altssima concentrao de renda e de propriedade para

    uma minoria e vida precria ou pobreza para a grande maioria, no h necessidade e nem

    interesse de universalizao do ensino mdio e menos ainda na perspectiva do integrado e da

    formao politcnica. Mas o que se afirma pela hegemonia do pensamento empresarial

    gerindo a educao do Estado Brasileiro mais grave. Est se desenhando, pelo abandono do

    sentido de educao bsica, a anulao da possibilidade da cidadania poltica determinado o

    que Milton Santos temia a formao de geraes de deficientes cvicos.

    2. A concepo e as bases materiais da educao politcnica: incompreenses,

    resistncias e possibilidades.

    Colocar na agenda do debate educacional a concepo da formao politcnica, da

    escola unitria, da educao que leve em conta todas as dimenses da vida humana

    (omnilateral) no processo educativo e do trabalho como principio educativo algo

    extremamente positivo na batalha das ideias e no embate contra-hegemnico da tendncia

    avassaladora de mercantilizar a educao.

    Neste sentido importante o debate que se efetiva no Rio Grande do Sul sobre a

    introduo no ensino mdio, destas concepes. Trata-se de averiguar quais os pontos que

    geram tenses quer pela estratgia de implementao, quer pela frgil compreenso de grande

    parte do magistrio atordoado pela sua sobrevivncia ou mesmo resistncia desta perspectiva

    pelas foras que expressam a perspectiva mercadolgica de educao.

    Neste item buscarei explicitar sucintamente as concepes de educao politcnica,

    educao omnilateral, escola unitria e trabalho como principio educativo. Num segundo

    momento buscarei situar as tenses, questionamentos e possveis equvocos na reforma

    curricular que se processa no Rio Grande do Sul a despeito de sua intencionalidade ser

    claramente positiva. Buscarei assinalar que, talvez, o passo primeiro, no s no Rio Grande do

    Sul, mas no Brasil para os que buscam alterar as relaes sociais e educativas historicamente

    anais_ciclo_2013.pdf 28 23/09/2013 16:47:Andr Forte

  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    dominantes, seria a tentativa de universalizar o ensino mdio integrado com base nos eixos da

    cincia, trabalho e cultura como travessia necessria para superar a dualidade e para a

    formao politcnica.

    Os conceitos de educao ominalateral, educao politcnica, escola unitria e

    trabalho como principio educativo12 no so sinnimos, mas tm em comum a luta para

    desenvolver, no plano contraditrio das relaes sociais capitalistas, a formao do ser

    humano novo que incorpora os valores de uma sociedade solidria, sem a explorao de uma

    classe sobre as outras.

    A idia de que o futuro no acontece se no for construdo na apreenso das

    contradies do presente, dimenso central da dialtica do processo histrico elabora por

    Marx, talvez tenha na tese de seu doutoramento sobre Epicuro uma inspirao primeira.

    Nunca nos devemos esquecer que o futuro nem totalmente nosso, nem totalmente no-nosso,

    para no sermos obrigados a esper-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos

    desesperarmos como se no estivesse por vir jamais13.

    A tese central que podemos tirar da dialtica em Marx, Engels, Gramsci, Lenin de

    que nem o presente e nem o futuro so fatalidades, mas construes sociais feitas pelos seres

    humanos e que, portanto, o futuro que buscamos s acontecer se o construirmos nas

    contradies do presente.

    Os processos de dominao de uma classe sobre as demais classes, ao longo da

    histria tm como resultado a imposio de obstculos para o livre e amplo desenvolvimento

    das potencialidades humanas. Os escravos, na sociedade antiga, sequer eram concebidos

    como seres humanos e sim como animais que falavam. Nos regimes feudais a nobreza e o

    clero tinham em seus servos como serviais e mesmo os que tinham o usofruto da terra o

    excedente no lhes pertencia. Sob o capitalismo instaura-se uma igualdade formal, mas a

    classe que precisa vender sua fora de trabalho, quando existem compradores, o faz numa

    relao de explorao e expropriao de parte de seu tempo de trabalho.

    Em todas as formas dessas sociedades, com suas particularidades, a classe dominante

    impede, restringe e mutila o desenvolvimento humano dos dominados. Assim a busca da

    educao ominlateral (termo que vem do latim e cuja traduo literal significa todos os lados

    ou dimenses) implica levar em conta todas as dimenses que constituem a especificidade do

    ser humano e as condies objetivas e subjetivas reais para seu pleno desenvolvimento 12 . A breve caracterizao destes conceitos retirada de anlises mais amplas que efetivo em textos j publicados Uma sntese destas concepes de formao humana o leitor pode encontr-las no Dicionrio de Educao do Campo. Ver: Caldart, Pereira, Alentejano e Frigotto, org. (2012). 13 . Ver: Epicuro . Carta a Meneceu. (lvaro Lorencini, Enzo Del Carratore). So Paulo: UNESP, 1987

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    histrico. Dimenses que envolvem sua vida corprea material e seu desenvolvimento

    intelectual, cultural, educacional, psicossocial, afetivo, esttico, tico e ldico. Em sntese,

    abrange a educao e emancipao de todos os sentidos humanos, pois os mesmos tambm

    so desenvolvidos socialmente. Trata-se de uma concepo de formao humana que vai alm

    da escola e trata de desenvolver as qualidades do ser humano para uma sociedade sem

    explorao e, portanto, sem a dominao de classe.

    A concepo de formao humana politcnica igualmente tem como centro a

    construo do ser humano novo e para novas relaes sociais, mas numa dimenso mais

    especfica ligada aos processos de produo da existncia pelo trabalho. O ser humano, como

    um ser da natureza, para sobreviver necessita apropria-se desta mesma natureza ou produzir

    bens que satisfaam suas necessidades vitais. Desde os povos coletores e caadores at o

    presente e enquanto o ser humano existir, o trabalho constitui-se, assim, na atividade vital

    imprescindvel pelo simples fato que atravs dele que o ser humano se produz ou recria

    permanentemente.

    na apreenso da especificidade das relaes sociais do modo de produo

    capitalista e de suas contradies insanveis que Marx (1983), ainda que de forma breve no

    conjunto de sua obra, trata dos processos amplos de formao humana e da instruo escolar e

    a natureza do conhecimento e da cincia que interessa serem desenvolvidas na perspectiva da

    superao do capitalismo e de todas as formas de ciso em classes.

    A revoluo burguesa aboliu o trabalho escravo como necessidade imprescindvel de

    produzir uma classe duplamente livre: no ter dono e no ter propriedade. Assim construiu-se

    de um lado detentores de propriedade privada para gerar lucro e de outro trabalhadores que

    dispunham da nica propriedade, sua fora de trabalho a ser negociada no mercado.

    Uma das caractersticas da sociedade capitalista a busca incessante de introduzir

    novos processos, mais velozes, de produo das mercadorias e servios para aumentar a

    produtividade do trabalho e aumentar os lucros. Isto implica que os trabalhadores tenham um

    domnio mnimo desse processo, mas ao mesmo tempo que os mesmos estejam sob o controle

    de capital. Uma equao que sempre foi problemtica para os gestores do capital j que no

    h interesse que os trabalhadores tenham uma formao ampla. A estratgia histrica e que

    perdura at o presente de construir sistemas formativos duais: uma educao geral e

    cientfica para a classe dominante e dos seus prepostos na gesto dos seus negcios e da fora

    de trabalho e uma educao pragmtica, restrita e adestradora para os trabalhadores.

    A educao politcnica resulta, assim, no plano contraditrio da necessidade do

    desenvolvimento das foras produtivas das relaes capitalistas de produo e da luta

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    consciente da necessidade de romper com os limites intrnsecos e insanveis destas mesmas

    relaes e de seus processos formativos. Assim formao politcnica, ao contrario de

    processos formativos duais, pragmticos, tecnicista e adestradores, diz respeito ao domnio

    dos fundamentos cientficos das diferentes tcnicas que caracterizam o processo de trabalho

    moderno. (Saviani, 2003, p. 140).

    Pelo fato de Marx ao longo de sua obra ter utilizado tanto o termo politecnia, que

    literalmente significa muitas tcnicas, quanto o de tecnologia- cujo sentido a cincia da

    tcnica alguns educadores, dentre eles osella (2007), defendem que o termo mais adequado

    seria educao tecnolgica.

    Por certo o debate ajuda a qualificar as anlises, mas por diferentes razes

    entendemos como Saviani que independentemente da questo terminolgica do ponto de vista

    conceitual o que est em causa um mesmo contedo. Trata-se da unio entre formao

    intelectual e trabalho produtivo, que, no texto do Manifesto, aparece como unificao da

    instruo com a produo material nas instrues, como, instruo politcnica que

    transmita os fundamentos cientficos gerais de todos os processos de produo e nO

    Capital como instruo tecnolgica, terica e prtica (Saviani, op. cit. p.145).

    O que parece claro que as diferentes denominaes dadas por Marx para qualificar

    a educao ou instruo que interessa classe trabalhadora e que se contrape educao

    formao humana burguesa, se forjam no plano histrico real e contraditrio das relaes

    sociais capitalistas.

    interessante sublinhar que tanto a formao humana omnilateral, conceito mais

    amplo e que no se reduz educao escolar, quanto a politcnica, esta relacionada aos

    fundamentos cientficos que embasam todos os processos produtivos, no se definem como

    nveis ou modalidades de ensino, mas como concepes que orientam a natureza dos

    processos educativos. Quando referidos educao ou instruo escolas assumem o sentido

    dado por Gramsci de escola unitria a qual se expressa na unidade entre instruo e trabalho,

    na formao de homens capazes de produzir, mas tambm de serem dirigentes, governantes.

    Para isso, seria necessrio tanto o conhecimento das leis da natureza, como das humanidades

    e da ordem legal que regula a vida em sociedade14.

    Outro conceito que se situa no embate da travessia na construo do ser humano

    novo, para uma sociedade sem a explorao de classe o de trabalho como principio

    educativo. A questo que emerge entre educadores e mesmo pesquisadores com frequncia

    14 . Ver a esse respeito Gramsci, 1981

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    a seguinte: como o trabalho pode ser educativo se at o presente tivemos o trabalho

    escravo, servil e sob o capitalismo o trabalho explorado? Sem dvida sob todas essas formas

    o trabalho tem imensa negatividade, porm mesmo sob esta tem a positividade de produzir os

    meios de vida para quem explora e para si mesmo.

    O ser humano, como um ser da natureza, para sobreviver necessita apropria-se desta

    mesma natureza ou produzir bens que satisfaam suas necessidades vitais. Desde os povos

    coletores e caadores at o presente e enquanto o ser humano existir, o trabalho constitui-se,

    assim, na atividade vital imprescindvel pelo simples fato que atravs dele que o ser humano

    se produz ou recria permanentemente.

    dentro desta compreenso que Marx (1983, p. 149) vai dizer que o trabalho um

    processo entre o homem e a natureza onde, por sua ao, os seres humanos regulam e

    controlam o seu metabolismo com a natureza. Para isso pe em movimento seu corpo, braos,

    pernas, cabea, mos para apropria-se daquilo que necessitam para a prpria vida. Pelo

    trabalho, ento, o ser humano modifica a natureza que lhe externa e, ao mesmo tempo,

    modifica a sua prpria natureza. A histria humana, nesta perspectiva, para Marx a

    expresso da produo do ser humano pelo trabalho.

    O trabalho como principio educativo est relacionado formao humana

    ominalteral que transcende, portanto, o mbito da escola, embora nela possa ser includo.

    Trata-se de um princpio formativo que deriva do fato de que todos os seres humanos so

    seres da natureza e, portanto, tm a necessidade de alimentar-se, proteger-se das intempries e

    criar seus meios de vida. fundamental socializar, desde a infncia, o princpio de que a

    tarefa de prover a subsistncia e outras esferas da vida pelo trabalho, comum a todos os

    seres humanos, evitando-se, desta forma, criar indivduos ou grupos que exploram e vivem do

    trabalho de outros. Estes, na expresso de Gramsci, podem ser considerados mamferos de

    luxo seres de outra espcie que acham natural explorar outros seres humanos. O trabalho

    como principio educativo, ento, no uma tcnica didtica ou metodolgica no processo de

    aprendizagem, mas um princpio tico-poltico. Dentro desta perspectiva o trabalho , ao

    mesmo tempo um dever e um direito.

    Dentro desta compreenso h hoje uma dupla tarefa para os educadores e para as

    organizaes da classe trabalhadora. Uma luta sem trguas contra a explorao do trabalho

    infantil pelo capital sob qualquer forma. Neste sentido as leis da Organizao Internacional do

    Trabalho de proibio do trabalho infantil, ainda que o foco dominante seja a competio

    intercapitalista, so bem vindas. Entretanto no se pode confundir que qualquer atividade

    infantil limpar uma sala, ajudar os pais no cuidado com a casa, etc., possa ser confundido

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    com explorao infantil. Pelo contrrio, este tipo de atividade fundamental na formao para

    no criar exploradores.

    Do que expusemos at aqui fica claro que estas concepes esto em sentido

    antagnico tendncia da mercantilizao dos processo educativos na escola e na sociedade

    como exposto no item 1. dentro deste contexto que a reforma curricular em curso no Rio

    Grande do sul onde estas concepes, mormente de politecnia e de trabalho como principio

    formativo, esto presentes, algo fundamental.

    Em que sentido, ento, a questo da politecnia estaria em questo na experincia que

    est sendo proposta e implementada no Rio Grande do Sul? At onde acompanho tanto a

    concepo da mudana curricular, quanto a estratgia de sua implementao, tendo a perceber

    um aspecto de ordem conceitual e outro de ordem estratgica que podem gerar dificuldade de

    entendimento e resistncias.

    O de ordem conceitual diz respeito ao fato de que a concepo de educao

    politcnica, como assinalei acima, no pode ser entendida como uma modalidade de ensino

    mdio, mas uma concepo que o orienta de forma unitria. E at onde percebo, na mudana

    curricular em curso entra como uma opo ou modalidade. Se assim , trata-se de um

    equvoco de compreenso.

    No plano estratgico, considerando o fato de que no s o ensino mdio tem sido

    historicamente dual, mas apresenta dentro da dualidade diferenciaes, inclino-me a pensar

    que o Rio Grande do Sul teria dado uma enorme contribuio ao ensino mdio pblico no

    Brasil se tivesse encampado como horizonte de sua proposta curricular o ensino mdio

    integrado, sob os eixos da cincia, trabalho e cultura como travessia para a educao

    politcnica. Uma perspectiva que engendra a concepo de escola unitria e do trabalho como

    principio educativo e de combate, portanto, da dualidade educacional que se caracteriza pelas

    diferentes modalidades de ensino mdio para diferentes grupos sociais.

    Por certo no se trata de abandonar a perspectiva da formao humana politcnica,

    educao ominlateral e do trabalho no sentido de valor de uso e produtivo desde a infncia,

    mas de ter presente as condies objetivas no processo de sua construo. Como nos ensina

    Bertolt Bretch, na teoria temos que buscar fazer o caminho todo, na prtica um passo de cada

    vez.

    As resistncias, os questionamentos e resistncias em grande parte, creio, advm pro

    um lado no fato de a educao politcnica parecer na reforma curricular como uma

    modalidade e, pro outro, sua implementao, exigira como passo anterior analisar que bases

    materiais so demandadas para o desenvolvimento da perspectiva da politecnia ou do ensino

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    mdio integrado. Essas bases materiais os educadores de todo o Brasil as sabem muito bem e

    as defendem h dcadas: incluem escolas com laboratrios, bibliotecas, espaos para a arte e

    o lazer, professores numa s escola e com pelo menos metade de sua carga horria para

    pesquisar, atender alunos, etc. com uma carreira e salrios dignos. Um dos grandes ns, no

    s no Rio Grande do Sul, mas no Brasil, criar essas condies. Seja qual for a proposta

    curricular, sem encarar pela raiz estas condies, tende ter enormes resistncias e rejeio.

    Por certo isso no depende apenas e principalmente de um governador ou de um

    secretrio de educao, mas como sublinhei acima na compreenso que Gramsci tinha dos

    problemas da escola, de uma sociedade que entenda escola como uma valor seu e a dote de

    condies e recursos. Tambm pelo que j assinalei no o caso da classe dominante

    brasileira que sequer completou a revoluo burguesa e sempre foi associada ao grande

    capital.

    Por isso se entende que passados trs anos as propostas que constituem o Plano

    Nacional de Educao e que poderiam permitir um salto qualitativo escola Bsica pblica,

    esto congeladas e em grande parte desfiguradas. Os 10% do PIB para a educao no s so

    escalonados ao longo de uma dcada, mas dependem de algo que ainda no realidade

    recursos que advenham do pr sal.

    A ttulo de consideraes Finas: Ou como renascer das cinzas

    A breve anlise acima exposta sinaliza que a questo do ensino mdio no Brasil

    continua sendo um desafio sem clara soluo quanto ao atendimento de todos os jovens desta

    etapa final da educao bsica e quanto ao foco de sua concepo. O fato de mais da metade

    dos jovens entre 15 e 24 estarem fora da escola e as frgeis condies materiais em que se

    encontra a maioria das escolas e a tendncia de uma viso mercantil e estreita de ensino

    mdio tm como resultado a negao da possibilidade da cidadania poltica e econmico

    social para a maio parte de nossa juventude.

    Cidadania poltica significa ter os instrumentos de leitura da realidade social que

    permitam aos jovens e adultos reconhecerem os seus direitos bsicos, polticos, econmicos,

    sociais, culturas e subjetivos e a capacidade de organizao para poder fru-los. No plano da

    preparao para inserir-se no mundo da produo e conquista da cidadania econmico social o

    pressuposto de que adquiram os fundamentos cientficos que esto na base de qualquer

    processo produtivo ou servio. Este , como est assinalado acima, o sentido da educao

    politcnica e de ensino mdio integrado como perspectiva e travessia para esta concepo.

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    Tanto no sentido da cidadania poltica, quanto da cidadania econmico social a

    condio bsica o de superar a dualidade estrutural que separa a formao geral da

    especfica, a formao tcnica da poltica, lgica dominante no Brasil desde a colnia aos dias

    atuais. Uma concepo que naturaliza a desigualdade social postulando uma formao geral

    para os filhos da classe dominante e de adestramento tcnico profissional para os filhos da

    classe trabalhadora.

    O descaminho que assumiram as polticas pblicas da educao bsica na dcada de

    1990, sob a ideologia neoliberal que postula que o mercado deve regular todas as relaes

    sociais, afirmou na legislao a dualidade histrica do ensino mdio mediante o decreto

    2.208/97. Isto no se deu sem forte resistncia dos movimentos sociais, instituies cientficas

    e sindicalismo que historicamente e, em especial ao longo da dcada de 1990, lutaram para

    restaurar a escola bsica pblica, universal, gratuita, laica e unitria. Foi neste movimento de

    resistncia que a concepo de educao politcnica ocupou o debate de muitos educadores.

    A ascenso ao poder de um ex operrio, com o apoio de ampla base social, oferecia

    perspectivas de efetivar rupturas profundas numa das sociedades mais injustas e desiguais do

    mundo e avanar no direito efetivo a todas as crianas, jovens e aos adultos ainda no

    escolarizados, a educao bsica como direito social e subjetivo e dentro de uma viso da

    escola unitria. Uma escola que se no igual no seu incio no acesso ao conhecimento tem

    como tarefa de s-lo ao longo do processo.

    O caminho trilhado pelo governo nos ltimos dez anos optou por reformas dentro da

    ordem e conservando intactas as estruturas que impedem reforma agrria, tributria, jurdica e

    poltica e impedem sistematicamente ao direito educao a milhes de jovens ou lhes

    oferece uma educao de pssima qualidade. Cinicamente so as mesmas foras que se dizem

    todos pela educao e que reclamam de tempos em tempos aquilo que eles mesmos

    produzem o apago educacional. Uma imagem que revela sua medocre compreenso do

    que seja uma educao de qualidade e o tempo de sua construo.

    O paradoxo de que um governo eleito com ampla base social para reverter o

    desmanche da economia e do Estado na sua face pblica e que introduziu a viso

    mercadolgica na educao tenha perdido justamente o projeto de sociedade e de educao

    pelas foras que fora eleito para combat-las. A natureza das intensas e enormes

    manifestaes que esto ocorrendo, capitaneadas por jovens em redes sociais e que rejeitam

    explicitamente a mediao a presena de partidos e sindicatos, pode ser resultado do que

    Francisco de Oliveira (2010) denominou de hegemonia s avessas ou despolitizao da

    poltica pela natureza da aliana efetivadas.

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  • Anais I CICLO DE ESTUDO EM EDUCAO: Contemporaneidade e Interdisciplinaridade

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    Se por um lado o claro recado aos poderes institudos de que esqueceram da

    sociedade e das necessidades elementares de grandes massas altamente positivo, por outro a

    fluidez de representao das multides nas ruas podem abrir caminho ao impondervel. Os

    conglomerados da grande mdia, foras diuturnas que navegam para o grande capital da qual

    so parte, do sinais claros para onde querem canalizar a insatisfao de inmeras facetas que

    expressam as multides nas ruas.

    Dentro da perda de direo do projeto educacional em plano Nacional pelas foras

    poderosas do mercado e do capital, como busquei demonstrar, o sentido de fundo da reforma

    curricular do ensino mdio do Rio Grande do Sul retomando a concepo de politecnia,

    com o esforo de dar novas bases materiais s escolas, altamente positivo. Nada impede

    que no processo, possveis equvocos conceituais e estratgias de implementao sejam

    alterados.

    A lio da autocrtica da gerao de Florestan Fernandes dos caminhos trilhados para

    construir a revoluo nacional no foi levada a srio. Uma lio de extraordinria clareza para

    os que queira fazer uma revoluo dentro da ordem, mas contra e na perspectiva de sua

    superao. No foi um erro confiar na democracia e lutar pela revoluo nacional. O erro foi

    outro o de supor que se poderiam atingir esses fins percorrendo a estrada real dos

    privilgios na companhia dos privilegiados. No h reforma que concilie uma minoria

    prepotente a uma maioria desvalida ( FERNANDES, 1980, p.245)

    Isto no s possvel como, em muitas circunstncias desejvel. Mas quem pode

    avaliar isso so os condutores do processo. Um passo que pode ser dado, talvez, seja de

    analisar se o ensino mdio integrado, tendo como eixos a cincia, o trabalho e a ultura, no

    poderia contemplar o horizonte da politecnia e caminhar na consolidao do ensino mdio

    unitrio. Seria, na minha avaliao, uma contribuio extraordinria educao bsica no seu

    conjunto e, em especial ao ensino mdio. Mais que isso, um sinal forte, que possvel

    renascer das cinzas, pois como nos ensina Florestan Fernandes: A histria nunca se fecha por

    si mesma e nunca se fecha para sempre. So os homens, em grupos e confrontando-se como

    classes em conflito, que fecham ou abrem os circuitos da histria.(FERNANDES, 1977, p.

    5)

    Referncia Bibliogrficas.

    CALDART, Roseli Salete, PEREIRA, Isabel Brasil, ALENTEJANO, Paulo e FRIGOTTO, Gaudncio, (org.). Dicionrio de Educao do Campo. So Paulo, Expresso Popular, 2012.

    anais_ciclo_2013.pdf 36 23/09/2013 16:47:Andr Forte

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    APRENDER A APRENDER*

    - Neoliberal? -

    Pedro Demo**

    Resumo: O texto mostra que aprender a aprender, como toda temtica naturalmente ambgua, pode ser usada para inmeros fins e oportunismos, mas igualmente para propostas bem fundamentadas. Num primeiro momento sinaliza as tiradas neoliberais e questiona a noo de aprender a aprender, destaca que a escola lugar da aprendizagem do professor e do aluno, da garantia do direito de todos de aprender bem e reconhecer que fundamental aprender a vida toda do que preferir arruinar o termo porque seria neoliberal. No ser neoliberal importante, mas no a preo do despreparo. Na continuidade, as dinmicas vlidas do aprender a aprender, sinalizam o duplo horizonte entre o direito constitucional de aprender bem e, a percepo de que aprender bem implica captar a necessidade de continuar aprendendo a vida toda. Entende que sejam sinalizaes neoliberais flagrantes nessas esquerdas da direita: alfabetizar em trs anos, ciclos e promoo automtica, Ideb, planos conservadores de educao, escola integral, aposta no sistema, novas tecnologias, assistncias e assistencialismos e nivelamentos por baixo. No ltimo capitulo discute sobre os grafiteiros e os pichadores, afirmando que h muitos revolucionrios de planto, contudo o importante ter abertura solcita e respeitosa a pontos de vista contrrios para aprender a aprender. Assim, nada combate melhor o neoliberalismo que a aprendizagem bem feita na escola e por toda a vida, uma educao capaz de aprender a aprender pode contribuir medida que instiga um tipo de cidadania sempre aberta, crtica e autocrtica, e capaz de conviver com vises divergentes. Palavras-chave: Aprendizagem; Neoliberalismo; Educao.

    INTRODUO

    De repente, aprender a aprender virou estigma neoliberal. Quem usa esta expresso

    (aprender a aprender), est ipso facto se declarando neoliberal. Certamente, esta expresso

    vem sendo usada preponderantemente em contextos neoliberais prprios de empresas e

    propostas privadas de educao, como o caso de um de seus mentores mais conhecidos,

    Novak (2009. Novak et alii, 1984), sem falar em sites mltiplos que usam esta nomenclatura

    tendencial ou escrachadamente para fins comerciais, no educacionais (How to Learn.com,

    2011. Learning to learn, 2011. Learn to learn, 2011. ACE Distance, 2011, Campaign for

    learning, 2011). Cita-se frequentemente ao educador John Holt: J que no podemos saber

    qual conhecimento ser mais necessrio no futuro, sem sentido tentar ensin-lo previamente.

    Ao invs, deveramos tentar inventar pessoas que amam aprender tanto e aprendem to bem

    que sero capazes de aprender o que sempre for necessrio ser aprendido (Campaign, 2011.

    Unschooling, 2011). Esta aluso indica desafio pertinente e fundamental para a vida das

    pessoas, acenando para dinmicas cruciais da formao, contrrias ao instrucionismo,

    * Texto publicado anteriormente na Revista de Cincias Humanas v.14, n 22(dez.2013). **. Ps-doutor em sociologia. Professor titular aposentado e emrito da Universidade de Braslia

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    memorizao, reproduo (Fonseca, 1998), muito embora no decorra disso que sua

    fundamentao seja satisfatria (por vezes cognitivista, como no caso de Fonseca). J que

    Holt visto tambm como pai da desescolarizao (Unschooling, 2011), em posio similar

    de Illich (1971. Kamenetz, 2010), esta aluso pode insinuar que aprender a aprender

    dispensaria a escola, ao final das contas. Por mais que a educao no formal venha crescendo

    avassaladoramente e coloque a escola contra a parede (Rosen, 2010), no se pensa em acabar

    com a escola. Ao contrrio, pensa-se em traz-la para dentro do sculo XXI com renovada

    condio de equalizao de oportunidades (Au, 2009. Zhao, 2009), porque hoje uma

    entidade de sculos passados (Knobel & Lankshear, 2010. Kamenetz, 2010).

    O estigma de neoliberal hoje assacado a torto e a direito apenas para ofender e

    pretensamente arrumar uma superioridade ridcula, por parte de revolucionrios de planto

    acomodados sombra de propostas neoliberais inconfessas, tambm porque, quase sempre,

    no possuem nenhuma prtica alternativa. Quando tentam alguma prtica, aparecem coisas

    como piso salarial de mil reais, alfabetizar em trs anos, aumentar os dias letivos, escola

    integral, formao docente apenas presencial, ciclos e promoo automtica, e assim por

    diante. Neste texto no enfrento esta gama inteira de questes. Apenas procuro mostrar que

    aprender a aprender, como toda temtica naturalmente ambgua, pode ser usada para

    inmeros fins e oportunismos, mas igualmente para propostas bem fundamentadas. O abuso

    no tolhe o uso, assim como o abuso da web 2.0 no mercado no suprime a oportunidade de

    us-la de modo adequado na escola, ou o abuso da espiritualidade em declaraes de misses

    empresariais no desfaz sua importncia na vida das pessoas e da sociedade (Demo, 2009;

    2009a).

    1 TIRADAS NEOLIBERAIS

    Um dos panos de fundo do aprender a aprender a tradio nrdica (neste caso

    americana) do do-it-yourself (faa por Voc mesmo, autonomamente) (Kamenetz, 2010.

    Knobel & Lankshear, 2010), voltada para a instigao da autonomia das pessoas, entendendo

    sempre ajuda mais apropriada como aquela que ajuda to bem que, logo, o ajudado no mais

    precisa dela (Wirth & Perkins, 2011). Esta ideia vem no conceito de autoajuda, mas, que, na

    prtica, formulada de tal modo a vincular-se submissamente a frmulas prontas impositivas

    (Demo, 2005). Este mesmo truque reaparece na proposta de empoderamento do Banco

    Mundial e instituies similares: postulando que os marginalizados precisam ser

    empoderados por conta de seu direito de cidadania, o que se prope no sua condio de

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    protagonistas, mas de comparsas (Caufield, 1998. Demo, 2000), oferecendo uma incluso

    acomodatcia. No muito diferente do Bolsa-Famlia: os includos neste programa de

    extrema importncia e peso no so protagonistas da superao de sua pobreza, mas

    beneficirios que se acomodam e votam. Esta crtica no desfaz a relevncia do Bolsa-

    Famlia no plano assistencial quem tem fome, tem direito de se alimentar condignamente

    em qualquer democracia, mesmo nesta democracia fajuta brasileira mas desvela que apenas

    a pobreza material enfrentada, no a pobreza poltica (Demo, 2007). Na prtica, no se

    quer o pobre como protagonista, ou se teme, denotando a um indisfarvel contexto

    neoliberal.

    A viso do do-it-yourself faz parte do American dream (sonho americano),

    sinalizado pela expectativa tipicamente neoliberal do self-made man (homem que se faz a si

    mesmo) ou do American way of life (modo americano de vida), propugnando a crena

    facilmente etnocntrica de que s pobre quem no trabalha ou no quer trabalhar. Embora

    esta viso receba muitas crticas (Ehrenreich, 2005; 2009), tambm por conta de sua p