anais 2010 - 2012

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2010 – 2012 2010 – 2012 2010 – 2012 Brasília, março de 2012 Ano II Volume I ACADEMIA DE ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA MEDICINA DE BRASÍLIA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA ANAIS SCIENTIA

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Anais Ano II - Volume I

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Brasília, março de 2012

Ano II • Volume I

ACADEMIA DE ACADEMIA DE

MEDICINA DE BRASÍLIAMEDICINA DE BRASÍLIA

ACADEMIA DE ACADEMIA DE

MEDICINA DE BRASÍLIAMEDICINA DE BRASÍLIA

ANAIS

SCIENTIA

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ANAISAno II • Volume I

Brasília, março de 2012

ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

2010 – 2012

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Anais: Ano II, volume I / Academia de Medicina de Brasília (2010-2012) - Brasília : Ed. do Autor, 2012. 112 p.

Coletânea de escritos apresentados em palestras.

1. Medicina. I. Academia de Medicina de Brasília (2010-2012)

CDU 61

Revisão: Maria Neves

Diagramação: Marcos Aurélio Pereira

Capa: Marcos Aurélio Pereira

ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIASGAS 607 – Edifício Metrópolis – Cobertura 1

Asa Sul – Brasília-DF – CEP: 70.200-670E-mail: [email protected]

Tel.: (61) 3346-3655

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Apresentação

A Diretoria Executiva da Academia de Medicina de Brasília – AMeB, ao fi nal de sua gestão biênio 2010-2012, sente-se hon-rada com o lançamento da edição do segundo volume de seus ANAIS, em cumprimento a mais um compromisso fi rmado em suas metas e diretrizes de ação programática para o referido biênio.

Os textos neles contidos revelam a importância com que a Diretoria da AMeB sempre considerou cumprir com uma de suas fi nalidades, isto é, a missão da cultura e da educação mé-dica, da ciência e tecnologia aplicadas à Medicina, do sistema de saúde e do social no contexto das atividades desenvolvidas do Distrito Federal, por meio de respectivas palestras com debates apresentados ao mesmo tempo como um inventário do real e como uma procura do preferível ou do possível.

É bem verdade que as palestras, seguidas de debates, ti-nham objetivos evidentes – isto é, o de proporcionarem propos-tas a serem apresentadas às sociedades médicas e científi cas, particularmente do Distrito Federal que também chegassem ao conhecimento das autoridades governamentais da Capital da República brasileira.

Dentro desse contexto, acreditamos merecer maior des-taque os problemas do ensino médico, o estágio em que se encontra a pesquisa médica científi ca e as políticas públicas de saúde no Governo do Distrito Federal.

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

Vale ressaltar, ainda, a importância que deveria ter sido dada aos debates sobre o ato médico e a relação médico-pa-ciente.

Como é do conhecimento do profi ssional de Medicina, a atividade médica manifesta-se mediante o ato médico, que, por natureza e defi nição, é uma ação. Numa época em que todos se antecipam para adaptar-se às mudanças e exigências do século XXI, tem-se no ato médico elementos de espécie distintas, em função dos múltiplos aspectos que envolvem a relação médico--paciente.

Por outro lado, discute-se muito sobre a relação médico-pa-ciente, e seus complexos caminhos. O que mudou nessa relação e o que permaneceu inalterado ao longo do tempo, a colocou cada vez mais distante do ideário humanista. Nos tempos atuais, entre as principais causas dessa distorção estão as rápidas con-quistas tecnológicas, a prescrição indiscriminada de medicamen-tos e a solicitação excessiva de exames complementares, que contribuem para deixar em segundo plano a pessoa do paciente.

Sir William Osler, lendário médico inglês de origem cana-dense afi rmou que: “É tão importante conhecer a pessoa que tem a doença como conhecer a doença que a pessoa tem”.

Esperávamos mais debates sobre essas atividades e da re-lação médico-paciente.

Outro tema de importância que não foi apresentado e de-batido, diz respeito à Ética e Bioética em saúde.

A ausência desses temas citados e não apresentados nas Sessões Plenárias, ocorreu mais pela falta de disponibilidade no calendário programático no período estabelecido pela Acade-mia, que por qualquer outro motivo que não levasse em consi-deração as suas importâncias.

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ANAIS • Ano I • Volume II

Mesmo assim, foram debatidos temas de maior relevância relacionados com aspectos diversos de estudos, envolvendo as-suntos de formação médica, residência médica, ética em pes-quisa, política de saúde, história da Medicina, política salarial dos médicos, envelhecimento populacional, Medicina e tecnolo-gia e educação médica.

Devemos ressaltar que não foi fácil conduzir os destinos de nossa Academia. Projetá-la no cenário das demais congêneres, instituições afi ns e, na sociedade civil de modo geral, além dos limites das fronteiras geográfi cas do Distrito Federal. E isso só foi possível graças à participação altruística, zelo, modéstia, se-riedade, pureza, responsabilidade e decisão por parte dos Aca-dêmicos titulares membros da Diretoria-Executiva da AMeB e do apoio indispensável dos Acadêmicos titulares e eméritos.

Destarte, o grande sofrimento de cumprir com a obrigação moral do juramento prestado para com a Academia é a conju-ração daqueles que ainda insistem em não querer conhecer o verdadeiro papel das Academias.

Reiteramos: é preciso SER ACADÊMICO e não estar ACA-DÊMICO!

É oportuno citar o imortal Marcos Vilaça, da Academia Bra-sileira de Letras:

“Às Academias estão no limiar de uma nova era, acom-panhando as mudanças do mundo. A globalização, há quem diga, poder fazer desaparecer a alma da cultura, pela massifi cação geradora de impotência e alienação, como se a sociedade existisse e não vivesse.Às Academias compete participarem de Humanismo compatível com esse século do conhecimento.”

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

A AMeB é instituição acima das paixões, dos atropelos, dos ódios, das cóleras, das preferências e da cultura do “eu”.

Estamos felizes com a realização desse grande sonho que é o segundo volume dos ANAIS da AMeB.

Esperamos que nossa luta continue nas gestões futuras, com o mesmo entusiasmo e dedicação com que houve os mem-bros da Diretoria-Executiva da AMeB biênio 2010-2012 pelo en-grandecimento de nossa Academia.

Ao fi nalizarmos esta apresentação, registramos aqui os nossos sinceros agradecimentos ao Sindicato dos Médicos do Distrito Federal – SindMédico-DF e ao Conselho Federal de Me-dicina – CFM, pelo apoio, participação e colaboração que pres-taram à Academia de Medicina de Brasília.

Saudações acadêmicas.

Acadêmico José Leite SaraivaPresidente da Academia de Medicina de Brasília

Brasília-DF, março de 2012

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Mensagem do Relator

A Academia de Medicina de Brasília traz à apreciação de seus caros confrades o segundo volume de seus Anais,

cujo núcleo é composto pela série de palestras patrocinadas pela AMeB ao longo do biênio 2010-2012. Essas palestras refl etem a preocupação de sua Diretoria em promover e divulgar as atividades da nossa Academia “relacionadas direta ou indiretamente ao exercício da profi ssão médica”.

No texto inicial, Pensamento de um Acadêmico, a Acadê-mica Lucimar Coser revela sua visão bastante abrangente do papel que deve ser representado pela Academia de Medicina de Brasília, orientada para a “busca de evidências científi cas que infl uenciem as políticas de saúde, incentivem a disseminação de melhores práticas médicas e aumentem a conscientização dos determinantes sociais da saúde no Distrito Federal”. Sua opinião é secundada pela do Acadêmico Iphis Campbell, exposta em Choque do Futuro, em que o confrade compara o atual clima de efervescência da AMeB com aquele vivido “nas reuniões do programa de integração docente assistencial, que associava os docentes da UnB aos médicos assistentes”, nos idos dos anos 1960. A opinião do Acadêmico Jair Evangelista da Rocha, ex-pressa em Academias, Ensino e Assistência Médica no Brasil encerra a primeira parte dos Anais.

Seguem-se as palestras proferidas no segundo semestre de 2010, nas quais se manifestaram as preocupações profi ssio-nais dos futuros médicos, expressas nos textos dos represen-

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

tantes das três maiores faculdades do Distrito Federal (Pablo Kokay – UnB, Rafael Vinhal da Costa – ESCS e Fernando Erik Damasceno – Católica) e as medidas tomadas pelas autorida-des governamentais (Doutora Maria do Patrocínio Tenório Nu-nes – Secretária-Executiva da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação), no intuito de assegurar aos recém-formados uma especialização de boa qualidade. Nelas, fi ca evidente tanto a intensidade das expectativas dos estudan-tes em relação à prática da atividade médica no Brasil do sé-culo XXI, quanto as difi culdades da política governamental em assegurar à população um sistema de saúde à altura de suas necessidades.

A palestra do Acadêmico Roberto Luiz D’Ávila (Academia de Medicina de Santa Catarina), versando sobre a responsabilidade do pesquisador diante da sociedade, encerrou o ano acadêmico de 2010. O atual presidente do Conselho Federal de Medicina – CFM explicitou os princípios básicos que norteiam a pesquisa médica envolvendo seres humanos, os quais se encontram regulamentados desde 1996 pelo Conselho Nacional de Saúde. Políticas de saúde, primeira palestra de 2011, foi o tema abordado pelo Acadêmico Carlos Vital Correia Lima (Academia de Medicina de Pernambuco), relatando a progressiva substituição da arte médica pela técnica, à medida que “incorporava novos paradigmas à sua prática”. Esses novos paradigmas, entre os quais se destaca o modelo predominantemente empresarial, foram acompanhados pelo aviltamento dos honorários médicos, assunto abordado pelo Acadêmico Cid Célio Carvalhaes (Academia de Medicina de São Paulo), presidente da Federação Nacional dos Médicos – FENAM. Em seu pronunciamento, o Doutor Cid Carvalhaes, também presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, considerou a necessidade da criação da

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carreira de Estado para médicos como medida fundamental à restauração de sua dignidade profi ssional.

O professor Edmundo Machado Ferraz (Academia de Medicina de Pernambuco), utilizou, por sua vez, a vida de Charles Darwin como fi o condutor de sua palestra, enaltecendo a obra daquele pesquisador, considerado por muitos como um dos maiores da humanidade e um dos primeiros a realçar as diferenças entre fatos e questões de fé. Espaços de experiência e horizontes de expectativa foram os conceitos históricos utilizados pelo relator destes Anais, que, amparado na obra do pesquisador alemão Reinhart Koselleck, traçou um paralelo entre o passado e o futuro da Academia de Medicina de Brasília, a partir da renovação de seus quadros.

Renovação e envelhecimento foram também temas aproveitados pelo Acadêmico Renato Maia Guimarães (Academia de Medicina de Brasília), que, em sua palestra O Capital da Saúde, ressaltou a importância das escolhas individuais, ao lado da genética e das condições socioeconômicas, na expectativa de vida de cada um.

A Acadêmica Janice Magalhães Lamas (Academia de Medicina de Brasília), falando sobre a prática médica atual, analisou as controvérsias do emprego excessivo da tecnologia, sumarizando sua palestra com a afi rmação de que o médico, especialmente o mais jovem, por desconhecê-la, não tem uma visão crítica dela, encontrando-se, muitas vezes, incapaz de indicar o exame mais correto para o paciente. O último palestrante do ano foi o Doutor Alexander Jorge Saliba, pediatra, homeopata e apresentador do programa de rádio Conversando sobre Saúde, que discursou sobre os aspectos positivos e negativos da Medicina atual, identifi cando os múltiplos fatores que impedem a Medicina de “voltar ao seu modelo original”.

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

Como no primeiro volume, as palestras dos Anais da Academia de Medicina de Brasília não foram editadas, sendo algumas delas apresentadas de forma resumida, uma vez que foram proferidas sem o suporte de um texto impresso. Nesses casos, as afi rmações atribuídas aos seus autores foram retiradas das atas que registram as respectivas sessões plenárias. Por fi m, mas nem por isso menos importantes, foram anexados nestes Anais o Estatuto e o Regimento da AMeB, reformados em 2010.

Com a edição e lançamento deste volume, a Diretoria da AMeB acredita ter alcançado o último objetivo de seu programa de gestão para o biênio 2010-2012, confi ando que a memória da Academia de Medicina de Brasília, materializada em seus Anais, certamente continuará a ser preservada pelos seus sucessores.

Com cordiais saudações acadêmicas,

Acadêmico Marcus Vinicius RamosRelator dos Anais

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Pensamento de um Acadêmico

Acadêmica Lucimar Rodrigues Coser CannonEm setembro passado, assumi a Cadeira 21 da Academia de Medicina de Brasília, em um dia de grande signifi ca-

do em minha vida profi ssional, pois é um privilégio participar de uma Academia que reúne especialistas, professores, pesquisa-dores e formuladores de políticas, que pensam de forma estra-tégica e criativa sobre as causas e consequências dos proble-mas de saúde, buscando evidências científi cas para infl uenciar as políticas de saúde, incentivar a disseminação das melhores práticas médicas e aumentar a conscientização sobre os deter-minantes sociais da saúde no Distrito Federal.

A Academia de Medicina de Brasília é uma instituição acadê-mica independente, que tem em suas fi leiras todo o espectro da ciência médica, abrigando um alto padrão profi ssional e ético, o qual é reconhecido desde a sua criação e mantido pelos requisitos rigorosos de afi liação. Ao advogar pela prática médica da mais alta qualidade possível, a Academia dedica-se a promover a arte e a ciência da Medicina para a manutenção de elevados padrões de competência e integridade ética no setor saúde, divulgando informações e conhecimento sobre questões relacionadas com a saúde e estimulando a vinculação, o espírito de cooperação e de unidade da comunidade médica do Distrito Federal.

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

A Academia é um recurso independente, altamente espe-cializado em ciência médica e da saúde, que trabalha em rede com instituições líderes e principais tomadores de decisão em saúde em Brasília e no Brasil. É ágil, dinâmica e inovadora e se esforça para exercer um papel relevante na determinação do futuro da ciência médica e da saúde, que a sociedade do Distrito Federal irá desfrutar nos próximos anos, encorajando a imple-mentação de novas ideias e soluções para vencer os obstáculos para o alcance da saúde para todos na capital da República.

Contando com talento, experiência, excelência, indepen-dência, liderança, diversidade e fl exibilidade, a nossa Academia emite opiniões e infl uencia questões complexas da ciência mé-dica e da saúde no Distrito Federal. Organiza congressos, sim-pósios, ofi cinas, conferências e palestras científi cas sobre temas relevantes em saúde, que oferecem oportunidades para reunir as principais fi guras da comunidade médica brasiliense com outros setores da sociedade, permitindo discussões de alto nível sobre o progresso de importantes questões médicas no século XXI.

Tem capacidade para liderar, debater e intercambiar ideias e visões, não apenas com os tomadores de decisão em saúde, mas com a sociedade brasiliense, respondendo em tempo hábil sobre questões emergentes e da atualidade com documentos de posição, respostas às consultas, declarações e comentários de especialistas, mobilizando profi ssionais dedicados a promo-ver a ciência, a arte da Medicina e da saúde pública e o aperfei-çoamento da profi ssão médica.

A Academia de Medicina de Brasília está aberta àqueles que querem participar e contribuir para o engrandecimento da profi ssão médica no Distrito Federal e estão dispostos a encon-trar respostas aos desafi os da Saúde Pública no Brasil.

Saudações acadêmicas!

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O Choque do Futuro

Acadêmico Iphis T. Campbell

Já lá se vão 40 anos quando cheguei a Brasília para tra-balhar em dois hospitais recém-inaugurados, cheirando

a novos – o Hospital das Forças Armadas – HFA, idealizado, construído e posto a funcionar nos moldes de seu homônimo americano, uma instituição médica de grande prestígio. O outro – o Hospital dos Servidores da União – HSU, hoje HUB – Hospi-tal Universitário de Brasília – também idealizado e posto a fun-cionar como o HSE – Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, igualmente muito conceituado à época.

Paralelamente ao exercício da Medicina, passei a desen-volver também atividades administrativas e associativas, tendo exercido, depois de alguns poucos anos, o posto de Diretor de Hospital, Conselheiro do CRM e Presidente da Sociedade Brasi-leira de Dermatologia – entidade que congrega, hoje, mais de seis mil associados –, entre outros. A passagem pelos mais altos cargos dessas instituições e associações foi de grande aprendi-zado, especialmente a direção do hospital, pois nessa função, além de todas as agruras por que passa um diretor de hospital público, implantei e coordenei um programa docente assisten-cial que integrava os docentes da UnB com médicos assistentes para exercerem suas funções no hospital. Como executor desse programa, juntamente com o diretor de Faculdade de Medicina,

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

atuei como mediador de disputas por espaço e poder e aprendi a lidar com frustrações e vaidades.

Atuando no centro desses confl itos, eu me sentia lite-ralmente no chamado olho do furacão. Felizmente, muito me ajudou no entendimento dessa situação a leitura anterior de O Choque do Futuro, o livro de Alvin Tofl ler, que havia sido lan-çado no Brasil no início dos anos 1970. Reconheci nas pessoas envolvidas naquele processo de integração um estado psico-biológico que poderia ser descrito e diagnosticado em termos médicos: era o choque do futuro! Afi nal, “o homem tem uma capacidade limitada para mudança e quando essa capacidade é ultrapassada, ele entra em choque com o futuro.”

Ao chegar à Academia de Medicina de Brasília – AMeB en-contrei, logo nas primeiras reuniões, um clima de efervescência que me lembrou imediatamente aquele vivido nas reuniões do programa de integração docente assistencial. Não tive dúvidas, estava diante de um novo “choque do futuro”! Felizmente, re-cém-chegado e instalado confortavelmente numa poltrona do auditório, não cabia a mim, desta vez, mediar os confl itos.

Percebi que a mudança que provocou o choque do futuro na AMeB foi a transformação pela qual passa uma instituição que atua paralelamente à AMB, ao SindMédico e ao CRM como mais uma entidade representativa da classe médica e, portanto, com responsabilidades como discutir e emitir opinião sobre saú-de e bem-estar da população, políticas públicas de assistência médica e seus temas correlatos.

Como quase sempre os choques do futuro implicam trans-formações mais bem adaptadas à atualidade, sinto-me confi ante que os confrades da AMeB, dentro de um ambiente de convívio fraterno, saberão, com suas opiniões, discussões e conclusões, contribuir para a melhoria das condições de vida da população do Distrito Federal.

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Academias, Ensino e Assistência Médica no Brasil

Acadêmico Jair Evangelista da Rocha

O que vem ocorrendo nos últimos anos na formação pro-fi ssional dos médicos no Brasil, associado às notórias

distorções dos modelos assistenciais à saúde da população bra-sileira, têm trazido signifi cativo desgaste no conceito social de nossa profi ssão e vêm sendo motivo de crescente preocupação nas diversas entidades médicas de nosso país.

Não raramente somos surpreendidos por matérias publica-das nos jornais, TVs ou outros meios de comunicação em que os protagonistas de fatos chocantes são médicos ou serviços de saúde acusados de erros de conduta, omissões no atendimento a pacientes ou negligência no cumprimento de suas respon-sabilidades no trabalho. Tais notícias deixam transparecer, de maneira evidente, a frustração da população ante ao descom-promisso do profi ssional médico junto a ela e estão longe das práticas assistenciais milenares que deveriam ser exercida por aqueles poucos dotados do poder de curar, conforme preconiza-das por Hipócrates.

O governo, nas últimas décadas tem se colocado de forma negativa ante esses problemas, sobretudo os que envolvem a população menos favorecida socioeconomicamente, que é de-pendente do modelo assistencial a ela imposta. Por descuidar-se

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de forma explícita das condições estruturais dos hospitais e da valorização dos profi ssionais da área da saúde, nossa política de saúde constitui um importante componente na equação maca-bra que tem como resultado os fatos que vimos presenciando.

As entidades médicas de âmbito nacional1 têm buscado uma posição de defesa da profi ssão, contudo os resultados são ainda tímidos, diante do amontoado de problemas, nem sempre priorizados por aqueles que têm o poder de resolvê-los.

A nosso ver, as falhas são visíveis em todas as etapas da formação do médico, seja no período de graduação, na resi-dência médica ou na especialização, culminando com a exis-tência de profi ssionais mal preparados em plena atividade por todo o País.

O governo vem autorizando de maneira indiscriminada a abertura de novas faculdades de Medicina, sem exigir qualquer critério básico para o seu funcionamento, ou seja, corpo do-cente capacitado, instalações físicas adequadas e hospitais de clínicas equipados à altura de cumprir um programa de ensino de qualidade, além da assistência médica digna à população.

Já existem 186 faculdades de Medicina no Brasil, das quais 60% são particulares (privadas) e dessas, cerca da metade sem as condições mínimas de funcionamento por serem desprovi-das das condições básicas para assegurar um ensino efi ciente. Alega o governo haver uma grande necessidade de médicos no País e julga ser possível obter uma melhor distribuição dos pro-fi ssionais pelo território nacional, aumentando até a saturação o quantitativo deles.

Esse fato é contestado pelas nossas entidades médicas nacio-nais que, baseadas em minucioso estudo realizado pelo CREMESP,

1 Conselho Federal de Medicina – CFM; Associação Médica Brasileira – AMB; Confederação Na-cional dos Médicos – Conam; Federação Nacional de Academias de Medicina– FBAM.

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concluíram possuir o País número sufi ciente de profi ssionais. O que realmente se torna necessário é uma política de saú-de seriamente desenvolvida para estimular uma distribuição geo gráfi ca mais adequada dos médicos, com apoio logístico ao exercício da medicina em qualquer região do País.

Dentro de sua visão deformada, o governo pressiona tanto o MEC quanto o CFM pela validação dos diplomas obtidos por aproximadamente 25.000 estudantes de medicina em escolas médicas de vários países da América do Sul e Caribe, sobretudo Bolívia e Cuba. Essas escolas funcionam precariamente, ofere-cendo um curso defi citário, conforme testemunho do Professor Aníbal A. Cruz, Secretário-Geral do Colégio Médico de Cocha-bamba, na Bolívia, em simpósio sobre ensino médico realizado recentemente pelo CFM, na cidade de Brasília-DF (1º e 2 de dezembro de 2011). O MEC tem aplicado testes de avaliação daqueles médicos, a fi m de conceder o registro dos mesmos dentro do projeto Revalida. Os resultados têm sido, contudo, decepcionantes: 628 candidatos fi zeram as provas em 2010 e, destes, somente dois (!) foram aprovados. Em 2011, foram 677 a realizarem os exames e apenas 66 obtiveram aprovação, ou seja, menos de 10% do total.

No referido simpósio promovido pelo CFM – onde se fi ze-ram presentes, além de representantes do governo federal, as demais entidades médicas nacionais – muito se discutiu sobre o assunto, visando buscar soluções que viessem a corrigir erros e resgatar a excelência na prática e no conceito da medicina brasileira. Para tanto, recomendou-se:

1. Exigir do governo posições mais sérias em relação à for-mação e qualifi cação dos profi ssionais médicos, desde a graduação, residência médica e especialização.

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2. Exigir melhores condições, a fi m de que ele possa exer-cer sua profi ssão com qualidade e oferecer assistência digna à população, sobretudo a menos favorecida social e economicamente.

3. Exigir do profi ssional médico uma formação acadêmica aprimorada e completa, dentro do conceito moderno de uma visão biopsicossocial ampla e de uma consciência da responsabilidade ética rigorosa.

São inseridas nesses conceitos que as Academias de Medi-cina de todo o País devem se manifestar – de forma eloquente, validada pela experiência e seriedade de seus membros – em nome da ética, da honradez profi ssional e da defesa da ciência. Sob a coordenação da Federação Brasileira de Academias de Medicina – FBAM devem exercer papel relevante na defesa da qualidade do ensino médico em todos os níveis e atuar como observadora crítica na prática profi ssional.

Seguindo a tradição que eternizaram os preceitos defendi-dos por Hipócrates, as Academias devem se constituir também na vanguarda da dignidade profi ssional, procurando garantir a assistência à saúde da população pela dedicação e esmero nos cuidados aos pacientes. Devem se impor diante da classe médi-ca pelo passado ilibado de seus membros, como exemplo vivo a ser imitado pelas mais jovens e servir de inspiração para aque-les que têm o sagrado dever de zelar pela assistência à saúde do nosso povo.

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

DIRETORIA AMeBBiênio 2010-2012

Presidente Acadêmico José Leite Saraiva1º Vice-Presidente Acadêmico José Paranaguá de Santana

Secretário-Geral Acadêmico Marcus Vinícius Ramos1º Secretário Acadêmico Jair Evangelista da Rocha

Diretor Financeiro Acadêmico Luiz Fernando Galvão SalinasDiretora do

Departamento de Patrimônio

Acadêmica Janice Magalhães Lamas

Diretor do Departamento de Tecnologia

de Informação e Comunicação

Acadêmico Marcos Gutemberg F. da Costa

Departamento Científi co

Acadêmico Antônio Márcio Junqueira LisboaAcadêmico Maurício Gomes PereiraAcadêmico Leonardo Esteves LimaAcadêmico Roberto Ronald de A. Cardoso

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

Comissão à Admissão de

Candidatos

Acadêmico Francisco Floripe GinaniAcadêmico Hélcio Luiz MiziaraAcadêmico José Paranaguá de Santana

Comissão de Ética e Bioética

Acadêmico Luiz Fernando Galvão Salinas

Comissão de Eventos

Acadêmica Janice Magalhães Lamas

Conselho Consultivo

Acadêmico Antônio Márcio J. Lisboa

Acadêmico Ely Toscano Barbosa

Acadêmico Elias Tavares de Araújo

Acadêmico Laércio Moreira Valença

Acadêmico José A. Ribeiro Filho

Acadêmico Renault Mattos Ribeiro

Acadêmico Francisco Floripe Ginani

Acadêmico Manoel Ximenes Netto

Acadêmico Sérgio da Cunha Camões

Conselho Fiscal: Acadêmico Ruy Bayma Archer da Silva

Acadêmico Antônio Márcio Junqueira Lisboa

Acadêmico Elias Tavares Araújo

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ACADEMIA DE MEDICINA DEBRASÍLIA – AMeB

ACADÊMICOS TITULARES

Cadeira nº 1 Acadêmico Antônio Márcio Junqueira Lisboa

Cadeira nº 2 Acadêmico Marcus Vinicius Ramos

Cadeira nº 3 Acadêmico Francisco Pinheiro Rocha

Cadeira n° 4 Acadêmica Izelda Maria Carvalho Costa

Cadeira nº 5 Acadêmico Laércio Moreira Valença

Cadeira nº 6 Acadêmico Pedro Luiz Tauil

Cadeira nº 7 Acadêmica Janice Magalhães Lamas

Cadeira nº 8 Acadêmico Luiz Augusto Casulari Roxo Mota

Cadeira nº 9 Acadêmico Hélcio Luiz Miziara

Cadeira nº 10 Acadêmico Edno Magalhães

Cadeira nº 11 Acadêmica Rosely Cerqueira de Oliveira

Cadeira nº 12 Acadêmico Sérgio da Cunha Camões

Cadeira nº 13 Acadêmico Elias Tavares de Araújo

Cadeira nº 14 Acadêmica Maria Mouranilda Tavares Schleicher

Cadeira nº 15 Acadêmico Marcos Gutemberg Fialho da Costa

Cadeira nº 16 Acadêmico Eraldo Pinheiro Pinto

Cadeira nº 17 Acadêmico Procópio Miguel dos Santos

Cadeira nº 18 Acadêmico Iphis Tenfuss Campbell

Cadeira nº 19 Acadêmico Jair Evangelista da Rocha

Cadeira nº 20 Acadêmico Leonardo Esteves Lima

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

Cadeira nº 21 Acadêmica Lucimar Rodrigues Coser Cannon

Cadeira nº 22 Acadêmico Renato Maia Guimarães

Cadeira nº 23

Cadeira nº 24 Acadêmica Regina Cândido Ribeiro dos Santos

Cadeira nº 25 Acadêmico Oscar Mendes Moren

Cadeira nº 26 Acadêmico José Ulisses Manzzini Calegaro

Cadeira nº 27 Acadêmico Ruy Bayma Archer da Silva

Cadeira nº 28 Acadêmico João Eugênio G. de Medeiros

Cadeira nº 29 Acadêmico Cleire Paniago Gomes Pereira

Cadeira nº 30 Acadêmico Francisco Floripe Ginani

Cadeira nº 31 Acadêmico Paulo Andrade de Mello

Cadeira nº 32 Acadêmico Francisco de Assis Rocha Neves

Cadeira nº 33 Acadêmico Roberto Ronald de A. Cardoso

Cadeira nº 34 Acadêmico Maurício Gomes Pereira

Cadeira nº 35 Acadêmico Luiz Fernando Galvão Salinas

Cadeira nº 36 Acadêmico José Paranaguá de Santana

Cadeira nº 37 Acadêmico Célio Rodrigues Pereira

Cadeira nº 38 Acadêmico Armando José China Bezerra

Cadeira nº 39 Acadêmico José Leite Saraiva

Cadeira nº 40 Acadêmico Álvaro Valentim Lima Sarabanda

ACADÊMICOS EMÉRITOS

Acadêmico André Esteves de LimaAcadêmico Ely Toscano Barbosa

Acadêmico Fábio Lage Correa RabelloAcadêmico José Antônio Ribeiro Filho

Acadêmico Leopoldo Pacini Neto

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ANAIS • Ano I • Volume II

Acadêmico Manoel Ximenes NettoAcadêmico Odílio Luiz da Silva

Acadêmico Renato Ângelo SaraivaAcadêmico Renault Mattos RibeiroAcadêmico Wilson Eliseu Sesana

ACADÊMICOS HONORÁRIOS

Acadêmico Jofran FrejatAcadêmico Rômulo Marocolo

ACADÊMICOS BENEMÉRITOS

Acadêmico Newton Lins Teixeira de CarvalhoAcadêmico Luzia de Paula

ACADÊMICO CORRESPONDENTEAcadêmico Joaquim Roberto Costa Lopes

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Expositores

Maria do Patrocínio Tenório Nunes

Roberto D’Ávila

Carlos Vital Correa Lima

Edmundo Machado Ferraz

Marcus Vinicius Ramos

Cid Carvalhaes

Renato Maia Guimarães

Janice Lamas

Alexander Saliba

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PALESTRA:DOUTORANDO, SEU CURSO CORRESPONDEU ÀS EXPECTATI-VAS? CONSIDERA-SE APTO A DAR INÍCIO ÀS SUAS ATIVIDA-DES PROFISSIONAIS?1

PALESTRANTES:Doutorando Fernando Erick Damasceno (Centro Acadêmico da Universidade Católica de Brasília – UCB), Doutorando Pablo Kokay Valente (Centro Acadêmico da Universidade de Brasília – UnB) e Doutorando Rafael Vinhal da Costa (Centro Acadêmico da Escola Superior de Ciências da Saúde – GDF).

O Presidente da Academia de Medicina de Brasília, AMeB, Acadêmico José Leite Saraiva abriu a sessão manifes-

tando a expectativa da Academia em ouvir a opinião dos repre-sentantes dos estudantes de Medicina das três faculdades naquele fórum, passando, em seguida, a palavra aos seus representantes.

Doutorando Fernando Erick Damasceno (Faculdade de Me-dicina da Universidade Católica de Brasília):

Fez uma breve exposição do funcionamento do curso, que adota um currículo tradicional, dividido em ciclos básico e clínico, 1 Palestra realizada em 10/8/2010 no Auditório do Conselho Federal de Medicina – CFM, situado

no SGAS 915 Sul, Brasília-DF.

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com um internato no último ano. Ressaltou o compromisso da Faculdade com as políticas do SUS, mostrando algumas ativida-des exercidas extra campus, tanto nacionais (Projeto Rondon) quanto internacionais (Quênia). Informou que o curso ressente--se da falta de um hospital universitário e que não se considera, como quase todos em sua turma, inteiramente preparado para assumir suas atividades profi ssionais quando formado.

O Doutorando Fernando Erick foi sucedido na tribuna pelo representante do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da UnB, Doutorando Pablo Kokay Valente.

Doutorando Pablo Kokay Valente (Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília – UnB):

Fez uma abordagem diferente das questões por acreditar que os tópicos colocados em discussão se complementavam. Considerou que sua opinião a respeito da função e importância do médico mudou ao longo do curso, passando de uma visão focada na doença para uma avaliação multifocal. Contudo, o curso atendia melhor à sua visão inicial e não à fi nal, pois satis-fazia a parte deixando de considerar o todo.

Sugeriu que a formação do médico deveria ser feita de for-ma integrada às demais áreas relacionadas à saúde, evitando a formação precoce de especialistas, pois o estudante deveria se formar para ser um médico e não um estudante mais qualifi -cado para procurar uma Residência. Reclamou da incapacidade de a opinião do estudante ser levada em conta e que a grade curricular estaria longe de representar a necessidade do País, praticamente ignorando as políticas do SUS. Em sua opinião, curso da UnB poderia ser muito melhor aproveitado se enfati-zasse um viés mais coletivo, em vez de privilegiar os interesses de professores e alunos, ignorando os da população.

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Por último, falou o representante da ESCS – Escola Supe-rior de Ciências da Saúde, Rafael Vinhal da Costa, cujo curso é de responsabilidade do Governo do Distrito Federal.

Doutorando Rafael Vinhal da Costa (Escola Superior de Ciên cias da Saúde – GDF):

Citando Voltaire, disse que o curso não correspondeu às

suas expectativas iniciais, voltadas para a prática de uma Medi-cina tradicional feita em hospitais privados e consultórios. Sua visão da Medicina mudou, contudo, ao longo do curso, cuja ên-fase é colocada nas políticas do SUS, tem suas aulas ministra-das exclusivamente por médicos da Secretaria de Saúde e rea-liza suas atividades práticas em hospitais do GDF credenciados para tanto pelo MEC.

Alegou que o curso da ESCS teria mudado paradigmas, desviando-os de modelos conhecidos para focá-los nas necessi-dades do SUS. Mostrando estatísticas, afi rmou que o número de estudantes formados supera em muito o número de residências oferecidas, o que estimula o desenvolvimento de “cursos para-lelos para futuros residentes”, diminuindo o conceito do médico generalista, voltado para a saúde da família.

Lembrando que a exigência de servir às Forças Armadas serve como entrave ao planejamento do futuro pessoal egresso do curso de Medicina. Informou que o planejamento do curso é também prejudicado pela ingerência de políticos ligados à Se-cretaria de Saúde. Mesmo assim, os alunos da ESCS interessa-dos em fazer residência médica têm obtido sucesso tanto nos programas do Distrito Federal como nos dos demais Estados.

O doutorando concluiu sua exposição afi rmando que se sente apto a exercer a profi ssão como médico generalista ou

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a entrar em um programa de residência, mas não se sente à vontade para se submeter a um exame semelhante ao sugerido pelo CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, devido às grandes diferenças entre o enfoque e a grade curricular da ESCS quando comparados aos das faculda-des convencionais.

Encerrada a fala dos doutorandos, o Presidente da Academia de Medicina de Brasília, Acadêmico José Leite Saraiva, passou a palavra ao Acadêmico Antonio Márcio J. Lisboa, fundador da AMeB, que, felicitando os palestrantes, comentou faltar às esco-las médicas uma defi nição clara de seus currículos, ressalvando que é radicalmente contra um ensino “aos pedaços” que leve em conta apenas o aspecto físico do corpo humano. Falou, em se-guida, o Acadêmico Laércio Valença, que solicitou informações a respeito da proporção entre os recém-formados que se dirigiam aos programas de família e aqueles que preferiam se especiali-zar, sendo informado que a maioria dos estudantes da UnB e UCB procuravam um programa de residência médica ou alistava-se às Forças Armadas, enquanto na ESCS cerca de metade dos novos médicos encaminhava-se para uma carreira como generalistas, possivelmente em função da grade curricular dessa escola.

Diversos acadêmicos e estudantes alternaram-se a seguir aos microfones, registrando-se as seguintes intervenções:

Doutorando Vinicius: “O Programa de Residência em Saúde de Família em Sobradinho, único em Brasília, havia sido fechado pela Secretaria de Saúde do GDF”.

Acadêmico Francisco F. Ginani: “As escolas médicas preci-sam ouvir a sociedade para saber que tipo de médicos deseja formar, uma vez que suas grades curriculares não devem se chocar com a prática da profi ssão”.

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Acadêmico Sérgio C. Camões: “O ensino médico continua a ser precário – entre outras razões, por não terem as escolas médicas hospitais que ensinem o mínimo necessário ao exercí-cio adequado da profi ssão”.

Acadêmico Luiz G. Salinas: “Embora todas as faculdades enfatizem o papel do SUS, parecem ignorar que os programas de residência médica mais procurados no Brasil correspondem às especialidades de endocrinologia, dermatologia e cirurgia plástica. É preciso, também o médico de família, uma vez que Medicina não é só ciência“.

Doutorando Lucas: “É preciso abrir espaço aos estudantes de Medicina de todas as faculdades nos diversos hospitais de ensino da cidade, que são praticamente reservados para as fa-culdades públicas, especialmente a ESCS. A rede hospitalar do DF deveria aproveitar todos os estudantes, uma vez que o SUS é também para todos”.

Acadêmico Luiz Augusto C. Motta: “Houve uma tentativa no passado de se juntar forças entre UnB e GDF para o aprovei-tamento de professores, médicos e hospitais com o intuito de se criar uma ‘superfaculdade’, que, infelizmente, não prosperou. A ideia foi posteriormente retomada, por razões políticas, apenas pelo GDF, o que levou à eventual criação da ESCS”.

Acadêmico José Paranaguá de Santana: “As angústias dos atuais estudantes não são muito diferentes das do meu tempo. Embora seja preciso defender o serviço público como paradig-ma da igualdade, a polaridade é benéfi ca, uma vez que o pro-blema da saúde pertence a todos e não deve ser tratado como exclusividade de um ou outro modelo”.

Doutoranda Mayra: “A formação dos médicos deveria ser feita no contexto da saúde como um todo, incluindo os demais parceiros da área. A Medicina tornou-se um curso excessivamen-

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te técnico, dissociado das demandas sociais”. Acadêmico Anto-nio Marcio Lisboa: “Cabe à escola formar o médico, mas cabe ao médico individualmente decidir o que fazer com seu futuro. Os objetivos de cada um devem ser claramente demarcados”.

Acadêmico Mauricio Gomes: “Não há respostas precisas para as colocações dos estudantes, uma vez que o mundo cami-nha inexoravelmente para a especialização. Na experiência em Sobradinho, na década de 1970, uma das razões do fracasso do modelo então adotado na UnB havia sido justamente a vontade de todos em especializar-se, o que o currículo da escola não permitia”.

Acadêmico Antonio C. Teixeira: “Não se deve brigar com a realidade. O povo sabe o que quer e deve-se universalizar o que há de melhor, ressalvando-se o que é prioritário. A opção entre ser especialista ou generalista deve ser do próprio médico, ten-do sempre o humanismo com fundamento”.

Encerrada a participação da plateia, os palestrantes fi ze-ram suas considerações fi nais, entre elas a exigência de se va-lorizar mais os grandes temas médicos e menos os pormenores do currículo, de se estender a todos os avanços da tecnologia, lutando mais pelo avanço da Saúde que pelos interesses nem sempre claros dos cursos de Medicina e, acima de tudo, a ne-cessidade imperiosa de o médico e aqueles sob seus cuidados exercerem seus direitos de cidadania em sua plenitude.

O Acadêmico José Leite Saraiva retomou, então, a palavra e manifestando sua satisfação com o alto nível dos debates, ressaltou a necessidade de a Academia estender suas ativida-des junto aos médicos mais jovens, pois a eles caberá, no futu-ro, colocar em prática as políticas de saúde com que sonhamos no presente.

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PALESTRA:PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA PARA O BRASIL.2

PALESTRANTE: Doutora Maria do Patrocínio Tenório Nunes: Secretária-Executiva da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério de Educação – MEC.

O Presidente da Academia de Medicina de Brasília, Aca-dêmico José Leite Saraiva abriu a sessão lamentando a

ausência dos residentes, em greve nacional por melhores condi-ções de trabalho, passando em seguida a palavra à Doutora Maria do Patrocínio Tenório Nunes, que deu início à sua palestra citando a Lei nº 6.932, de 7/7/1981, que criou a Residência Médica – RM, e determinou que o treinamento dos residentes se caracterizasse por treinamento em serviço, sob orientação de profi ssionais médi-cos de elevada qualifi cação técnica e ética. A RM estaria articulada à graduação e ao mundo do trabalho, por meio de diretrizes curri-culares e das necessidades das políticas de saúde.

A Doutora Maria do Patrocínio afi rmou que a RM precisa da participação ativa de todos para sua regulação e fi scalização,

2 Palestra realizada em 14/9/2010 no Auditório do Conselho Federal de Medicina – CFM, situado no SGAS 915 Sul, Brasília-DF.

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pois sua missão precípua é melhorar o cuidado em saúde, que deve ser feita via defi nição de fontes de fi nanciamento, avalia-ção local dos serviços e suporte à fi gura do preceptor. Argumen-tou que o gráfi co de distribuição das vagas oferecidas, hoje, se superpõe ao da distribuição dos médicos nas diversas regiões do País, inferindo que o programa de RM é um importante fa-tor de fi xação do médico. Contudo, acrescentou que tal fato também reproduz a preferência dos residentes pelas diversas especialidades, privilegiando-as em detrimento do treinamento nas grandes áreas.

Continuando, enumerou os desafi os encontrados pela RM, entre eles a necessidade de se garantir vagas, de se fazer ajus-tes às regras de acesso e de se distribuir de forma mais igualitá-ria a oferta dessas vagas entre as diversas especialidades médi-cas. Prosseguiu dizendo que o curso de graduação em Medicina deve ter um fi m em si mesmo – e não servir de “cursinho” para a RM – e que a relação entre o número de egressos das escolas médicas e número de vagas disponíveis na RM deve obedecer às necessidades da população.

Enfatizou a necessidade de as Academias de Medicina co-laborarem como agentes fi scalizadores das residências médi-cas, uma vez que a preceptoria é a chave para resolver muitos de seus problemas. Concluindo, a palestrante discutiu o tópico relativo à titulação ao fi nal do curso, que deve ser feito conjun-tamente pelas Escolas Médicas-Universidades e as Entidades Médicas-Sociedades de Especialidades.

O Acadêmicos José Leite Saraiva franqueou, então, a pa-lavra ao Acadêmico Antonio Marcio Lisboa, que entre outras colocações, afi rmou ser a graduação de fundamental importân-cia, que o médico recém-formado precisava ser mais humano, participar mais da sociedade e que tanto a graduação quanto

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a RM precisavam insistir no aspecto psicológico do exercício da Medicina. A Doutora Maria do Patrocínio concordou, acres-centando que na Alemanha, por exemplo, os programas de RM já incluíam uma maior participação das comunidades nos programas de Residência Médica. Em seguida, o Acadêmico Luiz Salinas observou que a Lei nº 6.932 não exigia dedicação exclusiva por parte do residente, o que permitia a ele trabalhar sem supervisão em outro serviço. A Doutora Maria do Patrocí-nio argumentou que o problema estaria relacionado ao próprio médico, que deveria fazer uma opção entre investir em traba-lho ou estudo.

Questionada pela Doutora Vera Bezerra a respeito do não reconhecimento da carreira de preceptor e da consequente au-sência de remuneração, a palestrante informou que a lei era omissa a esse respeito. Foi arguida, então, pelo Presidente do Centro Acadêmico da Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS, Rafael Vinhal, que fez uma série de colocações sobre a RM, enfatizando principalmente a proliferação de “cursinhos” para exames de residência e a pouca oferta de vagas ofereci-das à especialidade de Medicina Familiar. A Secretária-Execu-tiva respondeu que a especialidade é relativamente recente, mas que o número de vagas deverá ser expandido à medida que aumentar a demanda. Quanto aos “cursinhos”, disse que não seriam necessários se os estudantes valorizassem mais a graduação ao invés de considerá-la como uma ponte para a residência.

O Acadêmico Roberto Ronald perguntou a razão da discre-pância entre os números das Sociedades Médicas nos exames para título de especialização, que aprovam poucos residentes, em contraste com os do MEC, que outorga o título de especialis-ta a todos que concluem o curso. A Doutora Maria do Patrocínio

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respondeu acreditar que as Sociedades precisam acompanhar o programa do MEC e que a titulação é uma atividade conjunta das instituições que deve benefi ciar, acima de tudo, a sociedade brasileira.

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PALESTRA: A RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR PERANTE A SOCIE-DADE E O HOMEM.3

PALESTRANTE: Acadêmico Roberto Luiz D’Ávila, Presidente do Conselho Federal de Medicina – CFM.

O Doutor Roberto D’Ávila deu início à sua palestra ci-tando o problema do “imediatismo”, afi rmando que o

médico não lida com objetos e, sim, com sujeitos, sendo, por-tanto, bastante grande a sua responsabilidade. Tal fato por si só já garantiria a necessidade de um Código de Ética para o pes-quisador, já que a ciência pode também ser considerada uma atividade comercial e, numa conceituação mais radical, uma atividade em que impera a rivalidade e competição.

Prosseguiu citando algumas experiências ditas “científi cas”, levadas a cabo no sul dos USA na década de 1930 e na Alema-nha durante a II Guerra Mundial, fazendo uma breve cronologia dessas atividades. Mencionou, também, a abertura de proces-sos contra vários médicos considerados “criminosos de guerra” em um Tribunal Militar Internacional (Londres, 1946) e a edição 3 Palestra realizada em 5/10/2010 no Auditório do Conselho Federal de Medicina – CFM, sito no

SGAS 915, Lote 71, Brasília-DF.

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do Código de Nuremberg (1947), o qual alinhava, pela primei-ra vez, os princípios básicos a serem obedecidas pela pesquisa médica envolvendo seres humanos. Tais princípios foram ratifi -cados e expandidos pela Associação Médica Mundial (Helsinque, 1964) e vêm sofrendo várias revisões ao longo das últimas dé-cadas. Embora amplamente aceitos e difundidos na comunida-de médica, alguns de seus princípios básicos continuam sendo desconsiderados por pesquisadores, especialmente em experi-mentos realizados em países mais pobres.

O assunto é regulamentado no Brasil pela Resolução nº 196, do Conselho Nacional de Saúde (1996), que mesmo não sendo lei, tem força legal e aplica-se a todo e qualquer tipo de pesquisa envolvendo seres humanos. O Professor D’Ávila con-clui sua palestra afi rmando categoricamente que, apesar das difi culdades e da burocracia inerentes ao processo de aprovação de pesquisas em nosso meio, o Comitê de Ética em Pesquisa – CEP – não devia ser considerado como um empecilho ao desen-volvimento da ciência e, sim como uma ferramenta de amparo ao pesquisador.

A palavra foi, então, passada ao Acadêmico Laércio Moreira Valença que perguntou como era regulamentada a pesquisa em países mais desenvolvidos e se o pesquisador necessitava de algum tipo de seguro para realizá-las. O Professor D’Ávila infor-mou que, de modo geral, o Código de Helsinque era rigorosa-mente obedecido, embora eventualmente ocorressem fraudes, e que os pesquisadores, em sua maioria, eram ligados a algum tipo de instituição, que provavelmente se responsabilizaria pelo seguro.

O palestrante foi secundado pelo Acadêmico Carlos Vital Tavares Correa Lima, Vice-Presidente do CFM, que informou ha-ver tratados internacionais que, sem dúvida, tratariam disso.

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O Acadêmico José Paranaguá ponderou que o controle do siste-ma CEP-CONEP – Conselho Nacional de Pesquisas – era precário e enfatizou a importância do contexto social, que podia e, mui-tas vezes, dava ensejo à prática de um “padrão operacional du-plo”, onde os mais pobres eram prejudicados em benefício dos mais bem aquinhoados, como no caso de pesquisas com place-bos, por exemplo. O Professor d’Ávila concordou, mas ressaltou que esse tipo de duplo padrão também ocorria em países mais desenvolvidos que o nosso, citando a Alemanha, entre outros.

Nessa mesma linha manifestaram-se o Acadêmicos Anto-nio Márcio Lisboa (que dizendo temer um futuro ainda mais sombrio, questionou poeticamente o Professor D’Ávila sobre a existência de pesquisas sobre a felicidade) e Luiz Fernando Sa-linas (que questionou a efi cácia de uma simples declaração ser sufi ciente para negar qualquer confl ito de interesse).

O Professor D’Ávila encerrou sua palestra manifestando a opinião de que algum tipo de controle, por mais precário que fosse, seria melhor que nenhum e que as resoluções do sistema CEP-CONEP tornavam o processo mais transparente.

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PALESTRA: MEDICINA CONTEMPORÂNEA E AS POLÍTICAS DE SAÚDE4

PALESTRANTE: Acadêmico Carlos Vital Tavares Correia Lima (Academia de Me-dicina de Pernambuco): Vice-Presidente do Conselho Federal de Medicina – CFM.

O Professor Carlos Vital, após agradecer o convite e a oportunidade de estar presente à sessão, deu inicio

à sua palestra fazendo um breve retrospecto histórico a partir da Antiguidade, mostrando como no século XX a arte médica deixou de se conciliar com a espiritualidade dos enfermos, pas-sando a privilegiar a técnica à medida que incorporava novos paradigmas à sua prática.

Demonstrou como o Código de Moral Médica de 1929 era paternalista e como se fazia de forma desigual a transferência de tecnologia entre o Norte e o Sul de nosso planeta. Lamen-tou a mecanização da vida nas unidades de terapia intensiva, a invasão da privacidade, a transformação dos médicos em pres-tadores de serviço e os pacientes em usuários, valores introdu-

4 Palestra realizada em 12/4/2011 no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS 607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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zidos na prática médica principalmente em função da interme-diação mercantilista praticada pelos planos de saúde.

Referiu-se à maneira que o novo Código de Ética Médica, aprovado em 2009, procurou aplicar um paradigma benigno hu-manitário à saúde e explicou porque o modelo do SUS, efetivado a partir de1988, está fadado ao fracasso, por falta de vontade política. Afi rmou que a grande maioria dos médicos é contrária ao paradigma empresarial, comercial e técnico científi co atual, preferindo o humanista e social e a agir com prudência, compai-xão, justiça e humildade.

A palavra foi franqueada aos presentes, que concordaram em linhas gerais com as posições assumidas pelo palestrante. Após ser salientada a necessidade de “uma participação mais ativa do médico nos diversos foros nacionais” (Acadêmico La-ércio Valença), “a presença mais fi rme do Estado na defesa do usuário fi nal dos progressos tecnológicos” (Acadêmico Francisco Floripe Ginani) e a “necessidade de se formar melhor o médico” (Acadêmico Antonio Márcio Lisboa), o Acadêmico Carlos Vital retomou a palavra para fi nalizar sua exposição, concluindo que o estudante é mal formado, há escolas médicas em excesso, o trabalho do residente é, na maioria das vezes, brutal, o médico muitas vezes se especializa precocemente, o generalista não é devidamente prestigiado e que não basta ao governo gastar em saúde, mas que essa verba precisa ser bem gasta, uma vez que o médico não tem culpa de o Estado ser anárquico.

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PALESTRA: OS 200 ANOS DE CHARLES DARWIN E A EVOLUÇÃO NATURAL5

PALESTRANTE: Acadêmico Edmundo Machado Ferraz (Academia Pernambucana de Medicina): Professor de Cirurgia da Universidade Federal de Pernambuco.

Charles Robert Darwin (1809-1882) é hoje considerado um dos quatro cientistas mais importantes da história da

humanidade. Em 2009, foram celebrados no mundo inteiro os 200 anos de seu nascimento e 150 anos da publicação de sua mais im-portante contribuição, o livro “A Origem das Espécies” (The Origen of Species). Esse livro marcou uma dramática modifi cação no pen-samento científi co a partir de sua publicação. Publicado nos seus 50 anos, Darwin, com uma grande maturidade e experiência, lan-çou a Teoria da Evolução baseada na interpretação de seus acha-dos para a compreensão da história da humanidade. A seleção natural é considerada por Richard Dawkins (A Devil’s Chaplain, 2003), a ideia mais revolucionária da história da ciência.

A longa viagem realizada no navio Beagle com curta per-manência nas Ilhas Galápagos (1831-1836) gerou sua posterior 5 Palestra realizada em 24/5/2011, no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS

607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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formulação da teoria da evolução. “O mistério dos mistérios: o surgimento de novos seres na terra” e suas explicações como as espécies mudam ou evoluem, o tornaram o mais polêmico cien-tista de todos os tempos, atingindo essa controvérsia, os dias atuais, desafi ando, também, os pensadores de todos os credos religiosos até o presente momento. O tempo e a evolução têm confi rmado a grande maioria da sua contribuição, como ocorreu com Galileu Galilei, Isaac Newton, Einstein e Watson e Crick.

Darwin nasceu em 12/2/1809, em Shrewsbury na Ingla-terra, fi lho de Robert W. Darwin (1766) e Susannah W. Darwin. Seu pai era um médico bem-sucedido, assim como o seu avô, Erasmus Darwin (1731-1802), médico dedicado à ciência, es-tudioso da história natural, particularmente da botânica, já que considerava que todas as formas de vida da terra eram apa-rentadas e tinham uma única origem. Erasmus foi o fundador do “Clube da Lua” (Lunar Society), que se reunia nas noites de lua cheia, permitindo a seus membros voltar para casa com o caminho iluminado pelo luar (sendo, por isso, chamados de “lu-náticos”).

Charles Darwin estudou Medicina na Universidade de Edim-burgo, na Escócia (1825-1827) e, posteriormente, na Universi-dade de Cambridge (1828-1831). No período de 1831 a 1836, viajou pelo mundo, cruzando o Atlântico para dirigir-se à Améri-ca do Sul, passando pela costa do Brasil (Recife, Salvador, Rio); Argentina, passando pela Patagônia para o Oceano Pacífi co, Chile, Equador e Ilhas Galápagos, onde considerou que tinham se originado todas suas ideias.

Em 1831, Charles Darwin recebeu um convite para juntar--se ao “HMS Beagle” como naturalista para uma viagem ao re-dor do mundo. Foi um convite irrecusável para quem almejava tornar-se clérigo para ter a tranquilidade de torna-se um biólo-

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go. O contato com o paraíso ecológico das Galápagos infl uenciou decisivamente sua vida, permitindo formar uma nova concepção da formação, existência e evolução da vida na terra. Darwin re-tornou da viagem reconhecido como um experiente naturalista, detentor de importantes coleções que paulatinamente enviava a Londres durante a viagem no Beagle, formando um importante acervo admirado por todos.

Em 1837, após retornar à Inglaterra, começa a escrever o primeiro caderno de anotações sobre a mudança das espécies. Em 1839, casou-se com Ema Wedgwoad. Apenas em 1858 foi lido um texto sobre a Teoria da Evolução da autoria de Darwin e de Alfred Russel Wallace, outro estudioso da evolução natural na Sociedade Lineana em Londres. Em 1859, foi publicado o li-vro “A Origem das Espécies”, quando Darwin tinha 50 anos. Na década de 1870 Darwin publicou cinco volumes sobre plantas e mais um livro, “A origem do Homem” e, em 1872, “A Expressão das emoções nos homens e nos animais”. Em 1881, publicou outros livros sobre as minhocas. Faleceu em 19/4/1882 aos 73 anos, sendo sepultado na Abadia de Westminster.

Apesar do grande reconhecimento em vida recebido por Darwin, a Teoria da Evolução provocou grandes controvérsias, surgindo duas grandes questões sem respostas à época da pu-blicação da “Origem das Espécies”: uma era o pequeno tempo de existência da terra (6.000 anos ou 100 milhões de anos, na opinião de Lord Kelvin), a outra foi o esfriamento da terra, que ocorreu mais lentamente do que imaginava Kelvin. A seleção natural é um simples mecanismo de longa evolução que leva as populações de seres vivos a sofrerem mudanças ao longo do tempo por meio da variação, herança, seleção e adaptação.

Os membros de uma mesma espécie variam em tama-nho, coloração, habilidade em lidar com doenças além de ou-

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tras modifi cações que os habilitam à sobrevivência. Essas va-riações resultam de mutações ao acaso, também chamadas de “erros de cópias”, que podem ser repetidos proporcionando o aparecimento de novas espécies. Quando os organismos se re-produzem, passam o seu DNA, um autêntico kit de instruções genéticas (com ou sem erros) transmitindo as características hereditárias que podem sofrer variações ao longo dos tempos e novas interferências genéticas. Outro aspecto importante é o meio ambiente que não suporta populações que ultrapassem sua capacidade de recursos. Sobrevivem aqueles mais capazes de encontrar comida, de evitar os predadores e que tenham chance de reprodução, passando seus DNAs. As diferenças vão se estabelecendo na cor e na capacidade de mimetismo, visão mais acurada, mandíbula mais desenvolvida, maior altura que representa vantagem aos predadores o que, ao longo do tem-po, modifi ca gerações sucessivas, tornando-as mais adaptadas para a sobrevivência.

Alfred Russel Wallace formulou sua teoria da seleção natu-ral pouco antes de Darwin publicar o seu livro. Realizou uma ex-pedição à Amazônia (1842-1852) e concluiu que “toda espécie surge de outra pré-existente, aparentada”. Em 1855, publicou o livro “Sobre a lei que regula a introdução de novas espécies” e enviou o seu livro para Darwin, que já vinha desenvolvendo sua teoria há 20 anos. Com centenas de páginas escritas, Darwin aceitou a ideia de Lyell e Hooker de apresentar sua teoria sobre a origem das espécies na Sociedade Lineana em julho de 1858, juntamente com a de Wallace, propondo que ambos compar-tilhassem o crédito dela. Essa atitude é reconhecida como um exemplo notável de cooperação científi ca. Wallace concordou com a proposta ao saber da apresentação três meses após. Am-bos foram amigos e colaboradores daí em diante.

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Darwin considerava que todo ser vivo originava-se de um ancestral comum. Considerava existir uma enorme grandeza nessas formas de vida com diferentes complexidades original-mente geradas de uma única forma de vida. Sobre tal fato, considerou Richard Dawkins que Darwin ofereceu ao mundo 150 anos atrás uma singela explicação científi ca para a enor-me diversidade da vida existente na terra – a evolução pela seleção natural. Desde então, outros cientistas se sucederam identifi cando o DNA, estudando os vírus e as mutações genéti-cas, mapeando o genoma, identifi cando e catalogando fósseis encontrados em locais e situações inesperadas, confi rmando a importância do estudo pioneiro de Darwin no desenvolvimento e na elucidação dos importantes fenômenos biológicos que vie-ram a confi rmar que a evolução procede nem sempre de forma gradual. Darwin já havia considerado que não é a espécie mais forte que sobrevive ou a mais inteligente, mas a que melhor se adapta às novas circunstâncias.

Em seu livro, “Charles Darwin, a revolução e evolução”, Rebecca Stefoff (Cia das Letras, 2007, tradução do original de 1996) dedica um capítulo fi nal ao legado de Darwin. Conside-rou que embora Charles Darwin tenha recebido em vida um extraordinário reconhecimento por sua contribuição, existe até hoje uma grande resistência às suas ideias, particularmente em grupos religiosos. Considerou a autora que “em grande medida foi o mesmo tipo de resistência enfrentada por Copérnico quan-do pela primeira vez afi rmou que a terra girava em torno do Sol”. Ainda no ano 2010, enquete realizada nos Estados Unidos considera que apenas 40% de sua população aceita a teoria de evolução natural criada por Darwin. Uma das crenças mais arraigadas era de que a Bíblia (a Septuaginta foi traduzida por mais de 70 eruditos e representa a mais antiga versão em gre-

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go do texto hebraico do Antigo Testamento) era um livro que ensinava verdades científi cas. Os evangelhos foram copiados à mão. Além dos erros naturais, alguns escritos usavam sua interpretação, como ocorreu com “jovem mulher” em hebraico, que foi traduzido como “virgem” para o grego, como foi traduzi-da erroneamente muitos anos após a morte de Cristo.

Em 1925, relata Rebecca em seu livro, John T. Scopes, pro-fessor de escola pública de ensino médio no Tennessee foi leva-do a julgamento sob a acusação de ensinar a teoria da evolução após uma nova lei estadual ter proibido o ensino desse tema nas escolas públicas daquele estado. Seu julgamento foi um marco na história da ciência. A American Civil Liberties Union protestou argumentando que a lei violava o direito de Scopes à liberdade de expressão. Scopes foi condenado em primeira ins-tância a pagar uma multa de cem dólares posteriormente revo-gada devido a um detalhe jurídico. A questão foi magnifi camen-te relatada em um famoso fi lme na década de 1960 chamado “O vento será sua herança”, interpretado por Frederic March (no papel do promotor) e Spencer Tracy no papel do advogado de defesa, demonstrando a radicalidade como se processava o de-bate entre os “criacionistas” e os “evolucionistas” que tentavam estabelecer a diferença entre as teorias, fatos e crença ou fé.

Posteriormente, surgiram os “Cientistas da criação” que aceitavam a existência da terra em bilhões de anos e os novos dados dos registros fósseis e geológicos, as relações entre as diferentes espécies de plantas e animais e seu caráter evolutivo, considerando que por trás de tudo havia um “Regime Divino”. Darwin não chegou a conhecer os trabalhos de Gregor Mendel (1822-1884), monge e naturalista austríaco, que a partir de estudos iniciados em 1850, demonstrou em ervilhas os fenôme-nos da dominância e da recessividade, em que as característi-

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cas dominantes (altura) apareciam em todos os descendentes da primeira geração e em 3/4 dos descendentes da 2ª geração. Os artigos de Mendel foram publicados em uma revista de cir-culação local de história natural e como Mendel assumiu um cargo de supervisão em um mosteiro e trocou suas atividades de investigador por funções administrativas, seu trabalho foi muito pouco conhecido. Com a sua morte, em 1884, todas suas anotações e textos foram jogados fora sendo somente por volta de 1900 que outros cientistas que estudaram a hereditariedade reconheceram a importância de seus estudos e avançaram na identifi cação dos genes que regulam a hereditariedade.

Em 1953, James Watson e Francis Crick decifraram a dupla hélice do DNA, que já havia sido demonstrada, mas não identi-fi cada por Rosalind Franklin no King’s College em Londres, em 1950, tendo o próprio Watson reconhecido em 2000 a importân-cia de sua contribuição – não citada no trabalho de única página publicado na revista Nature em 1953 – com a sugestão da pro-posta de estrutura do DNA logo consagrada com o prêmio Nobel daquele ano. Rosalind faleceu vítima de câncer do ovário em 1953, e apenas em 1968 Watson publicou “The Double Helix”, onde reconheceu o trabalho de Rosalind (ao qual teve acesso clandestinamente), mas permitiu que tirassem a conclusão que Rosalind não antecipou e foi ignorada na referência bibliográfi ca (Rosalind Franklin, the Dark Lady of the DNA, Brenda Maddox, Perennial, Happer Collins Publishers, 2002 UK).

Por meio do DNA as informações genéticas dos organis-mos são transmitidas aos descendentes e neles se combinam. O gene é a unidade da replicação e o organismo é seu veículo (ou máquina da sobrevivência) como afi rmou Richard Dawkins (“O Gene Egoísta”, Cia das Letras, 1989), referindo também que “o gene é uma replicação de longa duração existindo sob a forma

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de muitas cópias de si mesmo ou um fragmento de cromossomo pequeno o bastante para durar o tempo sufi ciente para funcio-nar como uma unidade de seleção natural”. Existiram na sopa primordial e agora nas diferentes máquinas de sobrevivência (animais, plantas, bactérias e vírus). Os genes são unidade da hereditariedade e como os diamantes, são eternos, mas, na opinião de Dawkins, continuam vivos como cópias de si mesmo e suas expectativas de vida devem ser medidas em milhares ou milhões de ano. Viaja intacto do avô ao neto e persiste sem se fundir com outros por todo esse tempo (1 milhão de anos).

Os seres vivos já existiam na terra há mais de 3 bilhões de anos, sem que soubéssemos a explicação. Foi Charles Darwin que decifrou o enigma construindo no seu dizer, uma explicação coerente e convincente da razão por que existimos e uma forma pela qual a simplicidade se torna complexidade, como os áto-mos desordenados se agruparam em estruturas cada vez mais complexas até que surgiram todos os seres vivos conhecidos como o homem que tem mais de um octilhão de átomos.

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PALESTRA: ESPAÇO DE EXPERIÊNCIA E HORIZONTE DE EXPECTATIVA: PAS-SADO E FUTURO DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA.6

PALESTRANTE: Acadêmico Marcus Vinicius Ramos (AMeB).

Experiências e expectativas interagem na academia des-de a fundação da primeira delas, nas cercanias de Ate-

nas. Não há evidências históricas a respeito da data precisa de fundação da Academia por Platão, mas é geralmente aceito que seu início coincidiu com seu retorno da Sicília, no início do século IV a.C. A Academia não era aberta ao público nem repre-sentava uma “escola”, na medida em que não havia distinção entre alunos e professores, mas, sim, entre os mais jovens e os mais experientes. A Academia de Atenas tampouco tinha uma doutrina particular a ensinar – os problemas eram apresenta-dos para serem estudados e resolvidos diretamente pelos seus membros. Os temas discutidos provavelmente eram tópicos fi -losófi cos e possivelmente incluíam também temas relacionados à matemática e à astronomia. Essa primeira Academia funcio-nou continuamente até 86 a.C. (quando foi destruída por Sila)

6 Palestra realizada em 7/6/2011 no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS 607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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e de forma intermitente nos séculos seguintes, até ser fechada defi nitivamente por Justiniano, no ano 529 de nossa era.

A restauração da Academia precisou esperar o Renascimen-to, período que corresponde, grosso modo, à transição entre a Idade Média e Moderna. A partir desse movimento surgiram “Academias” em Roma e Florença, que procuravam reproduzir, na medida do possível, as tradições da Academia de Platão. De um modo geral, não passavam de um pequeno grupo de pesso-as ligadas à hierarquia da Igreja que se dedicavam a discussões literárias, sem maiores preocupações em desenvolver uma aná-lise mais crítica desses textos.

A partir do século XVII, esse tipo de academia cedeu espa-ço a instituições mais modernas, abertas ao público e não mais constituídas por grupos homogêneos de pensadores. A Acade-mia passou a se interessar por outras esferas do conhecimen-to, estimulando debates nos campos da ciência e das artes, transformando-se em “instrumentos culturais” e infl uenciando diretamente a opinião pública. O exemplo clássico é a Academia Francesa, fundada pelo cardeal Richelieu em 1635. Esperava--se, contudo, que a Academia permanecesse apolítica e evitas-se discutir assuntos sociais e religiosos.

A mais antiga sociedade deste tipo a se dedicar exclusiva-mente à ciência foi a Real Sociedade Londrina para o Progres-so do Conhecimento Natural. A Real Sociedade foi fundada em 1660 para ser um foro de pesquisas e troca de ideias e atua, até hoje, como um órgão de assessoria científi ca ao governo britâ-nico, mas sem dele fazer parte. Foi, contudo, a Academia Nacio-nal de Medicina da França, criada em 1820 por Luiz XVIII, que inspirou a criação da primeira academia de medicina do Brasil.

Fundada em 1829 sob o nome de Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, a atual Academia Nacional de Medicina tem o objetivo de “contribuir para o estudo, a discussão e o desen-

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volvimento das práticas da medicina, cirurgia, saúde pública e ciências afi ns, além de servir como órgão de consulta do Gover-no brasileiro sobre questões de saúde e de educação médica”. Seguiram-se muitas outras, hoje quase todas abrigadas sob o manto da Federação Brasileira das Academias de Medicina.

A Academia de Medicina de Brasília, a AMeB, nasceu no dia 18 de outubro de 1989 pelas mãos de um pediatra, o Doutor Antonio Márcio Lisboa, que juntamente com os doutores Fran-cisco Pinheiro Rocha, Laércio Moreira Valença, João da Cruz Car-valho e Ítalo Nardelli – à exceção dos dois últimos, os demais ainda participam ativamente das nossas atividades – redigiram, analisaram e aprovaram seu primeiro Estatuto. A AMeB tem 40 cadeiras, das quais os ocupantes das primeiras 20 são conside-rados seus membros fundadores.

Como se aplicam os conceitos mencionados no início desta palestra – experiência e expectativa –, à Academia? Espaço de experiência e horizonte de expectativa são categorias históri-cas utilizadas pelo pesquisador alemão Reinhart Koselleck que equivalem às de espaço e tempo. Não propõem uma alternativa entre eles, uma vez que não se pode ter um sem o outro: não há experiência sem expectativa. Essas categorias tendem a in-dicar a condição humana universal e são conceitos adequados para procurar se descobrir o que é um tempo histórico, pois en-trelaçam passado e futuro, dirigindo ações concretas no plano social e político. A coordenação entre experiência e expectativa deslocou-se e modifi cou-se ao longo da história.

Podemos defi nir experiência como sendo o passado atu-al, aquele no qual os acontecimentos já foram incorporados e podem ser lembrados. Devemos ter em mente que na experi-ência de cada um de nós, transmitida pelas gerações que nos antecederam, sempre estará contida uma experiência alheia. A expectativa, por sua vez, é também ligada às pessoas e cor-

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responde a um futuro presente, voltado para o que ainda não foi experimentado, para o que pode apenas ser previsto. Fa-zem parte de uma expectativa não só valores como esperan-ça, desejo e inquietação, mas também a análise racional dos fatos. Embora relacionadas, experiência e expectativa não são imagens especulares recíprocas – uma experiência, uma vez feita, está completa. Enquanto a experiência futura é anteci-pada como uma expectativa e decompõe-se em uma infi nidade de pequenos momentos temporais, a experiência proveniente do passado representa um todo formado pela superposição de estratos de tempos anteriores simultaneamente presentes. As-sim, a experiência não pode ser cronologicamente mensurável.

Enquanto podemos esperar que a experiência que temos hoje se confi rme no futuro, uma expectativa não pode ser expe-rimentada de igual forma. Uma não pode ser transformada na outra. Tanto erra aquele que formula suas expectativas baseado apenas na experiência quanto aquele que não o faz, uma vez que o imponderável, no primeiro caso e a falta de informação, no segundo, não devem e não podem ser desconsiderados quando tomamos uma decisão. Uma expectativa somente se confi rma ou não, com o passar do tempo, pois o futuro não pode jamais ser considerado o resultado puro e simples do passado.

As experiências adquiridas modifi cam-se com o tempo, seja porque continham recordações errôneas, passíveis de se-rem corrigidas, seja porque novas experiências abriram pers-pectivas diferentes. Expectativas, por sua vez, só surpreendem quando não são esperadas e quando acontecem nos colocam diante de uma nova experiência. É esta tensão permanente, mas sempre diferente, entre experiência e expectativa que sus-cita novas soluções e faz surgir um tempo que chamamos de histórico. Expressos em termos mais próximos à nossa área de

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atuação, podemos dizer que os dados da experiência, contidos num diagnóstico, estendem o horizonte de expectativa, libe-rando e orientando os prognósticos. Prognósticos, por sua vez, liberam expectativas e condições alternativas que também têm que ser levadas em consideração, pois podem abrir expectati-vas que não decorrem apenas de experiências anteriores, o que nos leva a concluir que um espaço de experiência jamais chega a determinar a totalidade de um horizonte de expectativa.

Durante milhares de anos a humanidade viveu em conso-nância com os ciclos da natureza e as habilidades que precisa-vam ser aprendidas eram transmitidas de uma geração para outra. As inovações técnicas se impunham com lentidão, per-mitindo que as pessoas se adaptassem sem precisar modifi car de forma signifi cativa seu estoque de experiências. Nos tempos antigos europeus, enquanto o mundo camponês se orientava pela eterna sucessão das estações, no mundo urbano dos arte-sãos eram as regras corporativas que garantiam que nada tam-bém se modifi caria nas cidades. Nesse cenário, as expectativas eram inteiramente sustentadas pelas experiências dos antepas-sados e passavam praticamente sem modifi cações a seus des-cendentes. O tempo histórico não se superpunha exatamente ao cronológico, mas o acompanhava muito de perto.

Permitam-me ilustrar a “longa duração desse tempo” discor-rendo sobre uma notável obra de arte. Quem visita a Pinacoteca Antiga, em Munique, Alemanha, pode apreciar, numa pintura re-lativamente pequena, uma visão panorâmica da batalha de Issus, travada em 333 a.C., a qual abriu o mundo conhecido ao domínio das tropas de Alexandre Magno. Feita a pedido do duque Guilher-me IV da Baviera, seu autor, Albrecht Altdorfer, fi xou na tela um episódio fundamental da história Antiga, a derrota persa diante dos gregos. Sob um olhar mais rigoroso, o quadro revela alguns

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detalhes notáveis: a fi gura que representa Alexandre, por exem-plo, tem as feições de Maximiliano I, Duque da Borgonha, Arqui-duque da Áustria e Imperador do Sacro Império Romano. Suas tropas estão vestidas e armadas de maneira exatamente igual à dos mercenários da infantaria germânica dos séculos XV e XVI. Se desviarmos um pouco o olhar, perceberemos que o fi gurino das tropas persas em fuga assemelha-se, dos pés aos turbantes, ao exército turco comandado por Suleiman, o Magnífi co, que no mesmo ano de 1529, data da confecção dessa obra, sitiava Viena.

A batalha de Issus - Albrecht Altdorfer

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Altdorfer procurou “comprimir o tempo”, de forma a tra-zer para a sua contemporaneidade os mais de 18 séculos que separavam Alexandre e Dario de Maximiliano e Suleiman, igno-rando completamente a dimensão especifi camente temporal da história. Como foi isso possível? Para o artista, essa impossibi-lidade simplesmente não se manifestava como tal e a referida “compressão do tempo” não tinha maior importância. Para ele sua obra estava perfeita e acabada, mesmo que contivesse ana-cronismos gritantes.

Mas os olhos do século XXI não têm difi culdade em distin-guir as diversas camadas temporais que se expressam no qua-dro, tanto as que se situam em seu próprio tempo quanto as da época que pretendiam representar. Posto de outra maneira, o tempo dos quase 500 anos que nos separam de Altdorfer tem uma natureza completamente diferente do tempo que trans-correu entre os anos que separam a batalha de Alexandre de sua representação em 1529. Com o advento da Modernidade, o tempo cronológico deixou de corresponder ao tempo histórico, que praticamente o acompanhou pari passu, como já vimos, ao longo de quase toda a Antiguidade e no Medievo.

Quais foram as qualidades que preencheram esse tem-po histórico a partir do século XVI e o caracterizam como um tempo específi co, o tempo da modernidade, o nosso tempo? Para responder a essa pergunta, é preciso procurar entender como as gerações passadas concebiam o futuro, esclarecendo melhor esses vieses atemporais que percebemos no quadro de Altdorfer.

Numa época caracterizada por guerras religiosas como foi o século XVI, qualquer cristão educado, contemporâneo a Al-tdorfer, provavelmente entenderia que a vitória de Alexandre sobre os persas signifi cava o cumprimento da profecia de Da-

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niel, narrada no Antigo Testamento. Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma seriam segundo essa tradição, os quatro reinos que se sucederiam na terra antes do advento do quinto e último, o reino de Deus. Perceberia também que o quadro retratava, além das tropas em combate, forças celestiais e cósmicas, re-presentadas pelo Sol e pela Lua, signifi cando a luz e as trevas, elementos relacionadas aos dois reis em luta. Este observador não teria dúvidas sobre o resultado fi nal dessa batalha, pois o Sol nascente, simbolizando a alvorada de um novo tempo, sur-ge sobre um navio cujo mastro tem a forma da cruz, indicando a vitória fi nal da cristandade.

Os contemporâneos de Altdorfer esperavam a ocorrência de acontecimentos análogos para que ocorresse o fi m do mun-do, uma vez que todos os elementos de outro apocalipse, o de João, já se encontravam presentes no início do século XVI: o Anticristo (Lutero ou o Papa, dependendo de sua fé), a guerra civil que precederia o dia do Juízo (a revolta dos camponeses germânicos que ocorria naquele momento), o ataque do povo de Gog e Magog que viria das montanhas do Cáucaso (os tur-cos). A representação de um acontecimento passado, da forma apresentada pelo artista, era mais atual do que nunca, pois a luta entre Maximiliano e Suleiman podia ser perfeitamente rein-terpretada como uma metáfora do combate fi nal que precederia e anunciaria a chegada do Juízo.

O mundo mostrado por Altdorfer, dominado pela Igre-ja e praticamente estático, passou a mudar com velocidade crescente a partir dos acontecimentos que marcaram o iní-cio da modernidade, entre eles o Renascimento, a crescente mobilização dos meios do poder, a descoberta e início de co-lonização do novo mundo, a Reforma e a revolução científi ca levada a efeito por Copérnico e Galileu. Nesses marcos fi cava

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evidente o tamanho das tensões que começavam a surgir en-tre a experiência transmitida e as novas expectativas que se desenhavam no horizonte, estendidas a praticamente toda a sociedade.

O advento dos tempos modernos rompeu a corrente ge-renciada pela doutrina cristã de uma expectativa de um mundo vindouro de paz e harmonia, que atrelava o futuro ao passado. Como consequência imediata, esse novo horizonte adquiriu um coefi ciente de mudança que “abriu o futuro” e o deixou incapaz de poder “ser previsto pela observação do passado”, como antes se acreditava. A aceleração do tempo passou a ser uma tarefa do ser humano, a quem, a partir de agora, caberia a responsa-bilidade exclusiva de introduzir os novos tempos de liberdade e felicidade, tão bem representados nos ideais da Independência americana e da Revolução Francesa.

Uma vez que não mais era possível projetar expectativas a partir somente das experiências passadas, a História deixou de ser considerada como “a mestra da vida” e passou a ter que ser explicada a cada nova geração que surgia. A percepção deste novo tempo se fazia tanto mais clara à medida em as expecta-tivas passavam a se distanciar cada vez mais das experiências sofridas. Esta diferença temporal entre experiência e expectati-va incorporou-se rapidamente no conceito de “progresso”, per-mitindo que o antigo e o novo entrassem em choque na experi-ência cotidiana.

Como funcionaria essa convivência entre experiência e expectativa, tempo e espaço, em uma Academia de Medicina como a nossa? Como pode ser aproveitada, diante do que foi dito, a enorme experiência de seus membros, cuja dedicação em servir a população da nossa cidade ao longo de tantos anos

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foi e ainda é reconhecida por todos, nesse “tempo novo” que nos aproxima, com velocidade crescente, do nosso horizonte de expectativa? Se não temos dúvidas que nosso espaço de expe-riência é amplo o sufi ciente para enfrentar esse desafi o, quais são as armas que dispomos para enfrentá-lo?

Antes de tudo, é necessário que confrades e confreiras continuem a atuar no âmbito interno da Academia. Somente a participação ativa nas atividades acadêmicas pode nos oferecer uma plataforma de discussão para os temas científi cos e sociais que nos são tão caros e, ao mesmo tempo, nos proporcionar esse singular espaço de convivência.

Da mesma forma, a recente inserção da Academia de Me-dicina de Brasília, por meio da Federação Brasileira das Acade-mias de Medicina, no concerto das entidades médicas nacionais, abriu um novo espaço operacional em contextos muito mais amplos do que aqueles que estávamos acostumados a trabalhar. Participar da elaboração de políticas de saúde que prestigiem a pesquisa e o cuidado médico, assegurando que seus resultados reverterão em benefício da sociedade é uma oportunidade rara, da qual estamos aptos a desfrutar desde agora. Nesse mesmo contexto, nunca é demais lembrar que fazem parte da nossa Academia tanto o Presidente da FBAM, Acadêmico José Leite Saraiva, quanto o representante de Brasília no Conselho Federal de Medicina, o Acadêmico Emérito José Antonio Ribeiro Filho, a quem acabamos de homenagear. Além deles, muitos confrades e confreiras emprestam suas experiências às diversas entidades médicas de nossa cidade, entre elas as diversas faculdades de medicina, a Organização Pan Americana de Saúde, o Sindicato dos Médicos, o CRM e um sem número de sociedades de espe-cialidades.

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Não menos importante é a necessidade de prestigiar a ju-ventude, tomando cuidado para que este sentido não seja de mão única. É preciso ser capaz tanto de transmitir a nossa ex-periência quanto escutar a dos mais jovens. Na realidade, nos-sa Academia já vem procurando se aproximar daqueles que no futuro estarão sentados nessas mesmas cadeiras que hoje ocu-pamos. O recente ciclo de palestras reunindo representantes do corpo discente das escolas de medicina do Distrito Federal e a Secretária Executiva da Comissão Nacional de Residência Médi-ca mais uma vez trouxe à tona problemas que nos incomodam há décadas e que continuam sem solução. Os debates entre es-tudantes, autoridades e confrades mostraram que nesse cam-po existe um enorme espaço de interferência para a Academia semear suas ideias e propostas. O aproveitamento da nossa experiência na formulação de políticas para a educação médica me parece fundamental.

Mas esta palestra é sobre o tempo e creio que nela já me alonguei bastante. Gostaria, contudo, de encerrar minha apre-sentação citando um curto texto de Max Weber, publicado em 1919, intitulado “Ciência como vocação”. Weber escreveu que “em nossos dias, especialmente no meio da juventude, existe a noção disseminada que a Ciência se transformou em uma questão fria de cálculo, algo que se fabrica em laboratório ou se alcança por meio de estatísticas, que envolve apenas o intelecto e não o coração e a alma de uma pessoa. Nada mais falso. O desenvolvimento da Ciência precisa tanto do laboratório quanto do entusiasmo do pesquisador”.

Também a Academia de Medicina de Brasília precisa de ambos. Somente orientando o conhecimento que adquirimos no passado em direção ao futuro poderemos aproximar nosso

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espaço de experiência do nosso horizonte de expectativas. Só assim poderemos tentar fazer coincidir nosso tempo histórico com o tempo cronológico da Academia de Medicina de Brasília.

Só assim poderemos pretender a imortalidade.Muito obrigado.

Referências Bibliográfi cas

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semânti-ca dos tempos históricos. Rio de janeiro: Contraponto – Ed. PUC Rio, 2006.

ROSSI, Paolo. Naufrágio sem espectador: a ideia do progresso. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

WEBER, Max. A Ciência como vocação (trad. Artur Morão). Dis-ponível em http://www.lusosofi a.net/textos/weber_a_ciencia_como_vocacao.pdf

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SESSÃO PLENÁRIA DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA – AMeB

PALESTRA: HONORÁRIOS MÉDICOS: SATISFATÓRIOS OU SACRIFICADOS?7

PALESTRANTE: Acadêmico Cid Célio Jayme Carvalhaes (Academia de Medicina de São Paulo): Presidente da Federação Nacional dos Médicos (FENAM) e Presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (SIMESP).

O Acadêmico Cid Carvalhaes deu início à sua palestra manifestando sua satisfação em estar entre iguais, sa-

lientando o fato de ter feito sua residência médica no antigo 1º Hospital Distrital de Brasília, atual Hospital de Base. Dizendo que seria uma conversa informal, o Doutor Cid historiou o “ga-nho médico” desde o primeiro Império até o presente, relatando como essa remuneração era feita e como é feita agora, com es-pecial ênfase na relação entre médicos e planos de saúde. Rela-tou que até o início da década de 1970 do século passado havia apenas 34 faculdades de Medicina, número que passou para 181 em 2010. Mostrou como cerca de 70% dos médicos brasileiros têm menos de 15 de formado, o que implica pouca experiência no exercício da profi ssão, do que se aproveitam os empresários

7 Palestra realizada em 5/7/2011 no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS 607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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para aviltar ainda mais os honorários dos profi ssionais. Analisou, em seguida, as complexas operações que governos estaduais e municipais praticam com o objetivo de não cumprir a obrigação constitucional de se gastar pelo menos 12% do orçamento na área da saúde, ressalvando que mesmo assim o salário do mé-dico no serviço público é ridiculamente baixo, citando o caso do estado de São Paulo, o mais rico da Federação, onde está abaixo de R$ 1.000,00 por mês.

Prosseguindo, mostrou que medidas a Federação Nacional dos Médicos (FENAM) vem tentando estabelecer para melhorar essa situação, entre elas a criação de uma carreira médica de Estado, com um plano de cargos e salários determinado. Entre outros projetos de capital importância para o exercício da ati-vidade médica, a FENAM trabalha também junto ao Congresso Nacional fazendo um levantamento dos projetos parlamentares de interesse do médico e do perfi l da bancada de cada estado.

Liberada a palavra aos presentes, o Doutor Cid Carvalha-es foi questionado pelo Acadêmico Renato Maia, que pergun-tou se a carreira médica de estado contemplaria a necessidade de dedicação exclusiva, o que foi negado pelo palestrante. O Presidente da FENAM informou que é direito constitucional dos médicos possuírem mais de um emprego, o que inviabiliza a dedicação exclusiva. Os Acadêmicos Pedro Tauil, Elias Tavares e Francisco Ginani fi zeram intervenções nessa mesma linha, com o último indagando de que maneira a Federação Brasileira das Academias de Medicina – FBAM, poderia participar daqueles fó-runs. O Acadêmico Cid Carvalhaes informou que a participação da FBAM era fundamental para o fortalecimento das entidades médicas nacionais e que via sua participação entre elas com muito bons olhos. Por fi m, o Acadêmico Antonio Márcio Lisboa lembrou a importância da ética no ensino médico, com o que concordou o palestrante.

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PALESTRA: ENVELHECIMENTO E CAPITAL DE SAÚDE.8

PALESTRANTE: Acadêmico Renato Maia Guimarães (Academia de Medicina de Brasília).

Envelhecer é um processo marcado pela heterogeneida-de. Os hóspedes dos berçários das maternidades são

muito parecidos, mas na medida em que seguimos a trilha cha-mada vida, nos diferenciamos. Cada um escreve sua história, sua própria biografi a. Além da herança genética, o corpo refl ete escolhas, oportunidades e os cenários onde nascemos e vive-mos. Nada mais revelador do que a festa de 20 anos de forma-tura. Não há quem não queira se apresentar bem diante dos colegas de outrora, mas nos surpreendemos ao constatar que todos nos apresentamos diferentes. Uns aparentam envelheci-mento mais acentuado; sempre existe quem pareça ter saído da escola ontem, tal sua aparência jovial. Quais os fatores que contribuem para que as pessoas tornem-se tão diferentes na medida em que os anos passam?

A duração da vida sofre a ação de três componentes distin-tos: a genética é responsável por 30%, as condições ambien-

8 Palestra realizada em 2/8/2011 no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS 607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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tais e as condições política, socioeconômicas e mesmo a sorte por outros 20%. A metade restante depende de como se leva a vida, é o resultado de escolhas que se fazem no dia-a-dia.

Os jornais relatam quase diariamente uma nova descoberta em relação à genética. Os genes que determinam esta ou aquela doença vão sendo desmascarados nos laboratórios dos centros de pesquisa. Sabe-se, com segurança, que várias enfermidades que comprometem a saúde e podem colocar ponto fi nal na vida estão ligados à genética. Muitos tumores malignos estão relacio-nados a genes herdados dos pais. Também a genética pode de-terminar a capacidade imunológica e assim contribuir para maior ou menor resistência a doenças infecciosas. Algumas formas de comportamento são ditadas pelo patrimônio genético, tais como a propensão ao risco ou, pelo contrário, a aversão. Pessoas com maior propensão ao risco, tais como aquelas que se envolvem em atividades perigosas como alguns esportes “radicais” ou es-tão sempre participando voluntariamente de tarefas com grande risco, também obedecem a uma estrutura comportamental que tem grande contribuição genética.

Um bom exemplo deste tipo de comportamento foi anúncio colocado por Ernest Shackleton, explorador inglês da Antártida, nos jornais de Londres: “Procuro homens para viagem arrisca-da. Salário baixo, frio enregelante, longos meses de completa escuridão, perigo constante, retorno duvidoso. Honra e reco-nhecimento em caso de sucesso”. Comentando o resultado do anúncio, Shackleton afi rmou “a julgar pelo volume de respostas, parecia que todos os homens da Inglaterra estavam decididos a me acompanhar”. Nenhum dos 28 homens que acompanharam o explorador morreu!

A despeito da força e importância dos genes não convém acreditar em determinismo genético. Doenças incluídas no script

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da genética podem ser evitadas por um estilo de vida sadio e medidas preventivas. Um bom exemplo são os tumores de prós-tata e mama, que surpreendidos em estágio precoce podem ser tratados e assim deixarem de contribuir para a morte. Assim, a despeito da força da hereditariedade, não convém acreditar que ao nascer “a sorte está lançada”. A vida ensina que muitos que nascem com genes prósperos, sem nenhum compromisso com vicissitudes futuras, se não seguirem o caminho da vida bem vivida, podem sucumbir aos desmandos do destino.

Os 20% seguintes estão relacionados a aspectos políticos, socioeconômicos e mesmo sorte. O naufrágio do Titanic levou para o fundo do mar centenas de pessoas que poderiam passar dos 80 anos, mas que o destino (se destino houver) os convidou para participar da primeira viagem do mais seguro navio até en-tão construído. A viagem foi interrompida por um iceberg. Nas-cer em tempo de guerra ou escassez não é condição favorável a uma vida longa. A ausência de berço, escola e de uma rede social, amputa anos na vida de milhões. A pobreza é inimiga da vida longa: a esperança de vida do Japão é quase 50 anos maior do que a de alguns países africanos. Os fatores socioeconômi-cos são, sem dúvida, grandes determinantes da duração e da qualidade de vida.

A outra metade responsável do tempo de vida está relacio-nada à maneira como se vive. Aqui são importantes as escolhas intertemporais. Este é um tema que tem atraído tanto psicólo-gos quanto economistas. Uma pessoa que se delicie com mas-sas e doces que provoquem prazer imediato diminuirá a chance de desfrutar do prazer futuro de ser mais magro, no caso um prazer tardio. Quem fuma ou excede na bebida alcoólica com certeza se delicia com o prazer destes dois hábitos, mas igno-ra o custo do amanhã. Por outro lado acordar duas horas mais

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cedo para exercitar-se e abrir mão do prazer de dormir um pou-co mais, constitui investimento na saúde de hoje e do futuro. São escolhas do dia-a-dia. A vida não é apenas hoje; sofre a infl uência de ontem e determina como será o amanhã. Quem investe na harmonia, na felicidade e no cuidado com a saúde estará contribuindo para um futuro melhor e uma vida mais longa. Viver como se este fosse o último dia de nossa vida não deixa de ser um convite para “fazer a hora e não esperar acon-tecer”. É também um incentivo para não se considerar o futuro como uma possibilidade real.

Giannetti, na obra “O valor do amanhã” considera que “o horizonte temporal defi ne o intervalo de tempo à luz do qual as escolhas entre presente e futuro são feitas. O maior risco aqui é a ocorrência de um descasamento entre o horizonte subjeti-vo implícito nas escolhas feitas (viver cada dia como se fosse o último dia, por exemplo) e a exigência do arco da vida no seu conjunto (chegar à idade avançada). A perspectiva cada vez mais provável estatisticamente, de uma existência longeva põe em relevo a necessidade de um plano de vida mais estru-turado, isto é, atento aos cuidados com formação de recursos materiais e espirituais compatíveis com este horizonte. A fór-mula impulsividade + antevisão onírica do futuro – viver cada dia como se fosse o último + sonhar como se fosse imortal – é um campo minado de armadilhas e desenganos.” Carpe-diem (colha o dia, viva o dia de hoje) é um bom conselho, desde que não esqueça que o amanhã, quando chegar, também será chamado de “hoje”.

Também a postura fatalista expressa na exclamação “está escrito nas estrelas” em nada ajuda a enfrentar as possíveis tempestades, recolher ou infl ar velas, navegar em mar tranqui-lo ou na tempestade.

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Um comportamento que vem crescendo em importância é a resiliência. Implica habilidade de adaptação bem sucedida à adversidade. Uma pessoa resiliente tem a capacidade de re-cuperar o bem estar após circunstâncias estressantes. Envolve recuperação do equilíbrio fi siológico, psicológico e as relações sociais ameaçadas por condições circunstanciais ou mesmo du-radouras. Nesta última situação, envolve sustentabilidade da resiliência face ao curso de adversidade constante.

O conceito de capital de saúde inclui estes três pilares de-terminantes do tempo de vida em uma única equação. É como se fosse uma conta corrente, com créditos e débitos que vão revelar um saldo. Uma genética livre de câncer, doenças psi-quiátricas e cardíacas é um crédito considerável. A ignorância, a baixa escolaridade e a pobreza serão incluídas na coluna do débito. O impacto do baixo nível educacional é enorme e dura-douro. O gradiente social manifesta-se até mesmo na velhice. Aqueles com baixa escolaridade têm maior nível de incapacida-de nos anos tardios, independente da doença básica. Esta situa-ção revela a cumulação de desvantagens descritas no chamado efeito Mateus.9 Vantagens precoces na vida podem favorecer vantagens maiores no futuro, enquanto as desvantagens favo-recem a acumulação progressiva de desvantagens.

Também as doenças vão para a coluna do débito, enquan-to tratamentos bem sucedidos e prevenção constituirão crédito na vida de cada um. Não existe dúvida em qualifi car uma vida desregrada, o sistemático desrespeito às leis de trânsito e a re-cusa em procurar auxílio médico quando necessário. Ao longo da vida aqueles que tiverem mais crédito terão mais capital de saúde, serão mais saudáveis e fortes candidatos a uma vida

9 Mateus 25:29 Porque a todo o que tem se lhe dará e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.

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longa. Pessoas nas quais os débitos forem preponderantes te-rão menos saúde e maior chance de morrer mais cedo. Cada um tem um saldo no momento em que lê estas linhas.

Dessa forma o conceito empírico de capital de saúde possi-bilita prever trajetórias distintas na vida (fi gura 1).

Capacidade de modificar o curso de vida para

melhor ou pior. A resiliência é um fator

preponderante para facilitar a migração para

trajetórias mais favoráveis.

X X‐1

Figura 1 – Estoque de saúde e trajetória do curso de vida

A trajetória A é compatível com baixa escolaridade, baixo nível socioeconômico e menor suporte em relação à saúde. Nes-te caso, o estoque de saúde (capital) não será grande e o declí-nio será decorrente do processo do envelhecimento exacerbado pelo gradiente social. Esse grupo tende a ter menor esperança de vida e cruzar o limiar de incapacidade mais precocemente,

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vivendo nessa condição um período longo do fi nal de vida (X). A trajetória B está relacionada a bom nível educacional, melhor nível socioeconômico e acesso à saúde. Existe maior acumula-ção de estoque de saúde e uma depreciação mais lenta, fazendo que o limiar de incapacidade seja cruzado mais tardiamente e implicando menor tempo de vida nesta condição (X-1). A Linha C (continuidade da B) descreve a possível trajetória dos longe-vos (maiores de 85 anos) que tende, nos anos fi nais de vida, a acumular incapacidade. A seta bidirecional implica na possibili-dade de modifi car a trajetória. O indivíduo educado, com bom nível socioeconômico, mas dependente de álcool, pode migrar para a trajetória inferior. Por outro lado, alguém que tenha acu-mulado desvantagens, se dotado de alto nível de resiliência, po-derá superar as adversidades e aumentar seu estoque de saúde.

Não se pode (ainda) mudar a genética, nem tampouco es-colher os pais. Ninguém pode optar pelo local de nascimento, nem fazer escolhas nos primeiros anos de vida. Nesse período, os pais as farão. A dieta, a atividade física ou a procura por saú-de são importantes, mas dependem da capacidade de escolher e decidir. A atividade física contribui para o aumento do tempo de vida, mas só a pratica quem decide. O mesmo se aplica à dieta ou à atitude em relação à saúde. Não é apenas o conheci-mento, pois se assim fosse médicos não fumariam e ex-atletas não seriam obesos. Ainda assim, a possibilidade de decisões acertadas será fortemente infl uenciada pela educação formal. Como esperar que alguém que nunca frequentou os bancos es-colares, ou lá permaneceu pouco tempo, tome decisões predo-minantemente corretas na vida? Os pobres quase sempre estão decidindo sobre o que comer e como sobreviver com recursos mínimos. A falta de condições para decidir sobre a própria vida é uma infeliz consequência da carência de educação e pobreza.

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Lutar pela redução das desigualdades sociais é lutar pelo livro arbítrio de todos os cidadãos, sem que sofram as infl uências perversas da ignorância e da pobreza.

Aqueles que tiveram a oportunidade de educar-se, que le-ram nos livros a experiência da civilização, que conseguem en-tender a linguagem da saúde, têm nas mãos a oportunidade de infl uir no tempo e na qualidade de vida. A vida é uma viagem com estações intermediárias onde muitos podem fi car. Uns por ignorância, falta de sorte ou por serem vítimas das loucuras das guerras, das drogas e do acaso. Seguir em frente é uma possibilidade da maioria, não apenas para viajar no tempo, mas encantar-se com a jornada. Ao ver chegar à estação fi nal, que possam dizer como Pablo Neruda: confesso que vivi!

Bibliografi a

Guimaraes RM. Health capital, life course and ageing. Gerontology 2007; 53:96-1001.

Reich JW, Zautra AJ, Hall JS (editors). Handbook of Adult Resilience. New York, Guilford Press, 2010.

Ferraro KF, Shippee TP, Schafer MH. Cumulative Inequality Theory for Research on Aging and the Life Course. In Bengstson VL, Gans D, Putney NM, Silverstein M (editors) Theories of Aging. New York, Springer Publishing, 2009.

Guimarães RM. Decida Você, Como e Quanto Viver. Brasília, Saúde e Letras, 2008.

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ANAIS • Ano I • Volume II

Giannetti E. O Valor do Amanhã. São Paulo, Companhia das Letras, 2005.

Grossman M. On the Concept of Health Capital and the demand for health. The Journal of Political Economy 1072; 80:223-255.

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SESSÃO PLENÁRIA DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA – AMeB

PALESTRA: A PRÁTICA MÉDICA ATUAL: CONTROVÉRSIAS DO EMPREGO DA TECNOLOGIA E A MEDICINA CLÍNICA.10

PALESTRANTE: Acadêmica Janice Magalhães Lamas (Academia de Medicina de Brasília).

A Acadêmica Janice Magalhães Lamas deu início à sua palestra citando o Padre Antonio Vieira, quanto à di-

fi culdade de se discutir o controverso. Afi rmando que o uso da tecnologia em excesso devia-se ao grande número de especiali-dades, citou os avanços da Medicina, passando pelas invenções do estetoscópio, do termômetro, do microscópio, até à desco-berta do raio-X, no fi nal do século XIX, por Roentgen. Passou, então, a explicar o avanço dos meios de diagnóstico por ima-gem, enumerando cronologicamente o surgimento da fl uoros-copia, radiografi a, mamografi a, tomografi a computadorizada, ultrassonografi a, ressonância magnética, tomografi a computa-dorizada associada à emissão de pósitrons, ressonância magné-tica convencional e funcional, comparando-os e analisando suas vantagens e desvantagens.10 Palestra realizada em 13/9/2011 no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS

607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

Comentou, a seguir, a complexa relação entre o médico e a indústria e a infl uência do modelo norte-americano de alta tec-nologia nos hospitais brasileiros, acrescentando que o aumen-to de gastos com tecnologia nem sempre correspondia a um aumento da expectativa de vida e que nem sempre uma nova tecnologia substituía completamente a anterior. Concluiu sua exposição mostrando as principais indicações para cada exa-me, sugerindo que o principal problema que o médico enfrenta-va em seu consultório seria determinar qual tecnologia seria a mais indicada ao seu paciente.

O Presidente da AMeB, Acadêmico José Leite Saraiva, pas-sou em seguida a palavra ao plenário, que assim se manifes-tou: “O médico deve saber ser abrangente, pede muito e pouco sabe; precisa ter honestidade de propósitos” (Acadêmico Sérgio Camões); “Muitas vezes, o médico pede exames desnecessá-rios porque possui o equipamento que os realiza, aumentando, assim, a sua renda” (Acadêmico Renato Maia); “Todo e qual-quer exame é, por defi nição, complementar, mas hoje em dia é feito antes mesmo de o médico ver o paciente” (Acadêmico Mauricio Gomes Pereira). “Apenas 1/3 dos leitos hospitalares no Brasil é do SUS, que também precisa ter acesso à alta tec-nologia e não tem” (Doutora Mariângela Delgado Cavalcante); “A rede SARAH tem a mais alta tecnologia hospitalar de Brasília e atende a todos, indiscriminadamente, embora somente 30% de suas verbas venham diretamente do governo” (Acadêmico João Eugênio); “Tanto a tecnologia quanto os exames clínicos são necessários; o grande problema reside na indicação deles” (Acadêmico Edno Magalhães); “A Escola Superior de Ciências da Saúde, do Governo do Distrito Federal, tem tentado nos seus dez anos de existência, seguir um modelo que ensine o estu-dante de Medicina a pensar mais no doente que na doença”

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(Acadêmico Procópio Miguel dos Santos); “O problema não é e nunca foi a tecnologia e, sim, a maneira como é aplicada e os médicos são coniventes com este status quo” (Doutor Nelson Marins); “O paciente se considera conhecedor do saber médico por consultar a Internet e exige o uso da tecnologia” (Acadêmi-ca Maria Mouranilda Tavares Schleicher).

A Acadêmica Janice Lamas concordou com as ponderações colocadas pelo plenário, acrescentando que o médico mais jo-vem nem sempre sabia indicar o exame correto, uma vez que por só conhecer a tecnologia atual e não lidar com pacientes du-rante sua formação, não poderia ter daqueles uma visão crítica daqueles exames.

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SESSÃO PLENÁRIA DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA – AMeB

PALESTRA: O QUE NÓS, MÉDICOS, ESTAMOS DEIXANDO PARA OS FUTU-ROS COLEGAS?11

PALESTRANTE: Doutor Alexander Jorge Saliba, clínico-geral, pediatra, homeopata e apresentador do programa de rádio Conversando sobre Saúde.

Minha vida como médico.Quando me formei, saí da faculdade como um ferrenho

alopata, claro, com aquele sentimento tão comum aos médicos, de saber tudo e deter o poder sobre a vida e a morte. Chegava a ser arrogante quando falava de certos assuntos. O tempo foi passando e eu apanhando da Medicina, que considerava ser o melhor que havia. Um belo dia, o Doutor Maurício Vasquez me presenteou com um livro em francês sobre homeopatia, L’Homeopathie Sans Peine, que mudou minha vida. Os concei-tos ali externados coincidiam com os da vida. Insatisfeito com os resultados da minha prática médica como alopata, resolvi, por insistência de alguns pacientes, conhecer a homeopatia.

Estudando homeopatia e a praticando, fui entendendo me-lhor que a função do médico era muito mais que buscar diag-11 Palestra realizada em 11/10/2011 no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS

607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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nósticos e receitar medicamentos, na verdade e no meu enten-dimento, o médico é, em alguns momentos, a última esperança de alguém que sofre e tem de entender isso, que é único dentre todas as outras profi ssões.

Hoje, eu vejo a Medicina como uma arte de curar que tem que ter como objetivo permitir que o resultado de um tratamen-to correto venha a devolver ao paciente a possibilidade de viver os altos fi ns de sua existência.

Contudo, vejo a Medicina com reservas quanto ao seu fu-turo se nada for feito para mudar o médico. Não existe como continuar a manter essa Medicina perdulária, cara, impossível de ser mantida por pessoas, empresas e governos. Essa medi-cina que esta aí já é muito distante da Medicina real.

Quem pode e deve ser médico.

“Um bom médico é necessário que seja homem de letras e amante do saber; de outro modo será ofi cial de Medicina, mas não médico” (do livro Método Para Aprender e Estudar a Medicina, de Antônio Nunes Ribeiro Sanches, médico português radicado no Brasil em 1763). Tomei a liberdade de citar esse conceito porque o considero absolutamente atual. Nunca foi tão necessário humanizar o médico.

Pequena análise da Medicina atual

De positivo.• Avanços notáveis nos meios de diagnóstico. Não

resta dúvida de que, em termos de diagnóstico, estamos avançadíssimos e continuamos avançando. A tecnologia existente permite cada vez mais que entremos nos mean-dros do organismo que padece de alguma enfermidade.

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• Crescimento dos resultados positivos de modo geral. Do ponto de vista de resultados positivos nos tratamen-tos aplicados, mesmo com as limitações do arsenal tera-pêutico disponível ao clínico, graças ao diagnóstico mais preciso, é possível ministrar menos medicamentos e, as-sim, permitir uma reação pontual e com menor quantida-de de efeitos colaterais indesejáveis.

• Aumento da expectativa de vida. Estudos demons-tram que o corpo humano foi feito para durar uns 55 anos funcionando bem. Então, passar dessa idade é sempre temeroso. Antigamente, uma pessoa de 55 ou 60 anos era considerada velha; hoje em dia, não é bem assim. O dinamismo dos dias atuais, a não aceitação da idade pe-las pessoas, a alimentação abundante, o acesso às frutas e ao que a Medicina proporciona, empurraram a velhice para depois dos 70 anos. Vemos com frequência pessoas lá pelos 80 anos trabalhando e produzindo sem dar muita bola para idade.

• Cirurgias com avanços nunca antes imaginados. Quem tem mais de 30 anos de Medicina, com certeza, espanta-se com as coisas incríveis que os cirurgiões fa-zem todos os dias. Ninguém consegue acompanhar os avanços da cirurgia em todos os campos. As superações são constantes e continuadas.

• Mescla do orgânico com o eletrônico. Não faltam exem-plos do que há pouco tempo era obra de fi cção científi ca. O pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis está produzindo resultados fantásticos, utilizando impulsos elétricos do cére-bro de um macaco para mover estruturas mecânicas, como próteses. Não vai demorar muito e várias “infuncionalidades” adquiridas ou congênitas serão solucionadas desta forma.

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De negativo.• Especialização extrema contra o não entendimento

do todo. Eu tive um professor na UnB que dizia que o es-pecialista é alguém que sabe tudo de nada. Claro que aí existe um exagero da crítica, mas ele não estava tão lon-ge da verdade. A especialização pode bitolar o médico, coloca antolhos. Quando isso acontece, teremos alguém que entende o corpo humano como pedaços que funcio-nam separadamente e não como um processo harmônico e funcional em conjunto; portanto, quanto mais especia-lizado, mais distante da verdadeira cura.

• Dependência dos exames complementares de diag-nóstico. Quando eu estudei Medicina, meus professores diziam que primeiro temos de dar o diagnóstico e depois pedimos exames para confi rmar se estávamos certos ou não. Hoje, o exagero é evidente. O médico, em regra, não ouve o paciente, escuta a queixa, pede um monte de exames e marca a próxima consulta, quando então medicará de acordo com o diagnóstico laboratorial. Em uma das minhas análises de concessão de benefícios, na empresa onde trabalho, recebi dois pedidos de exames em nome de dois pacientes jovens, com boa saúde, mas que, por algum motivo, foram à clinica da médica que é devidamente auxiliada por um nutricionista que também se autointitulava “doutor”. Os dois pedidos já estavam impressos, com o mesmo conteúdo, idêntico, indicando que não importa qual a doença ou qual o tratamento, os exames são os mesmos: 96 exames por paciente! Sem dúvida, uma demonstração eloquente de capacitação médica extraordinária ou o exercício eloquente de falta de ética, conhecimento, bom senso e respeito para com

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o paciente e para com a Medicina. Prefi ro essa segunda opção.

• Prescrição exagerada de medicamentos. Analisando prontuários e receituários, em regra, encontramos pres-crições monumentais e de difícil entendimento. Remédios de todas as cores e tamanho, mas nem sempre algo es-pecífi co para a patologia tratada. Só podemos observar, pois a ética nos proíbe de opinar ou interferir, mas não me impede de fi car indignado diante dessa demonstração de falta de competência. É preciso melhorar o entendi-mento médico das patologias de que tratamos.

• Os médicos não conhecem mais a vis medicatrix naturae. É uma pena que a Medicina atual desconhece o grande trabalho de Hipócrates, quatrocentos anos antes de Cristo. O pai da Medicina descobriu que o corpo huma-no está apto a produzir cura, desde que não haja obstá-culos a ela. Isso ocorre porque todo organismo vivo pos-sui a via de cura natural (vis medicatrix naturae). Toda doença tende à cura, apesar do médico, já dizia o Doutor Aventino Agostini, meu professor de Patologia Clínica na UnB. Brincadeiras à parte, isso parece ser verdade. Li uma vez em um livro sobre os grandes problemas da Medicina, que em uma greve dos médicos em Israel, não me lembro mais o ano, durou uns 30 dias e a mortalidade dos pacientes internados caiu mais de 40%. Com o tér-mino da greve, a mortalidade dos internados subiu mais de 50%. Acho que o professor Agostini estava certo.

• Relação médico-paciente comprometida. É compro-metida pela pressa do médico, pela falta de humildade para entender que não sabe tudo de tudo, nem pode fa-zer diagnóstico por indução. Nossos colegas levados pela

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pressão que eles mesmos geraram por aceitarem traba-lhar em condições absolutamente distantes do bom tra-balho do médico acabam fazendo um trabalho ruim, sem foco, sem contato, sem diálogo e é claro, tentam corrigir a besteira pedindo uma grande quantidade de exames. Sem relação médico-paciente não existe Medicina efi -ciente e efi caz.

• Modismos da Medicina. Os modismos da Medicina es-tão aí e sempre voltam. Quem não se lembra ou ouviu falar da moda de se tirar apêndices como forma de pre-venir apendicites? Ou amígdalas, pois houve um tempo que a Medicina decidiu que amígdalas não tinham função defi nida. Atualmente, alguns colegas se apegam a exa-mes da moda, mesmo que não tenham nenhuma indica-ção para aquela patologia a ser investigada, mas está na moda, então, por que não pedir?

O que falta para que a Medicina volte ao seu modelo original?

• Formação humanista para o médico. Parece-me que cada vez mais os médicos são formados em suas acade-mias, leia-se escolas, para serem o mais científi cos pos-sível, e essa visão cientifi cista termina por afastar o mé-dico do que é mais importante na Medicina, o humanis-mo, tão necessário para entender as razões e os porquês das enfermidades dos que buscam a cura para os seus males por meio de nosso trabalho. Sem humanismo, o médico torna-se um burocrata frio que consegue até en-contrar formas de tratamentos, mas não tem nenhum tipo de proximidade com seu paciente, o que considero

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ser fundamental para que qualquer tratamento dê certo do ponto de vista da cura completa e duradoura.

• Falta conhecimento sobre Filosofi a aos médicos. O médico, quando tem acesso aos conceitos fi losófi cos compreende sua arte de forma diferente, foge do lugar comum, não sacrifi ca valores para obter ganhos a qual-quer custo. A Filosofi a cria as bases para o entendimento das razões e dos porquês do comportamento humano, de suas dores e de suas angústias. Quando o médico enten-de por que o paciente sofre, quais são as razões fi losófi -cas de sua patologia, assim como qual seria o comporta-mento correto diante de cada situação, a Filosofi a ajuda na compressão dos processos de enfermidade e na cura e seu trabalho terá um índice de sucesso muito maior.

O estudo da História da Medicina nos permite compreender como e por que chegamos onde chegamos. A ciência e a com-preensão do homem e suas enfermidades não começa no século vinte e nem se consolida no século vinte e um. Os homens tra-tam dos homens há milhares de anos e isso gerou uma história. Conhecer e analisar essa história dará ao médico a compreen-são de situações que ele normalmente despreza quando apenas se liga a relações científi cas que lhe foram ensinadas. Agindo assim, ele não consegue abstrair nem acrescentar e, com isso, perdem o médico e o paciente. Apesar dos avanços da Medicina, alguns conceitos com mais de dois mil anos ainda são viáveis e utilizáveis, mas é preciso saber que eles existem.

• Conhecimento geral. Médicos que apenas são médi-cos, que apenas conhecem da sua profi ssão, estão viven-do fora da realidade. Medicina não é apenas o exercício de um sacerdócio, aliás, de sacerdotes temos pouco ou

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nada. Somos vendedores de serviços e, geralmente, não sabemos cuidar do nosso “negócio”. Não entendemos de mercado, de ciências não médicas, de processos sociais, de negociação, da força da unidade e por aí vai. Ser um bom médico, focado na profi ssão é muito bom, mas não resolve o problema da Medicina atual, a falta de união diante dos desafi os que estão acontecendo há mais de 30 anos e nós estamos apenas olhando e sofrendo as con-sequências. Apenas a visão ampla permite ao homem in-terferir no meio e não ser apenas mais um a seguir o que lhe é impingido. Portanto, dar ao médico uma visão geral do mundo e das ciências de um modo geral, irá contribuir para que esse médico tenha maior poder de decisão em todos os sentidos, incluindo-se aí as decisões médicas.

A visão social é fundamental para que o médico exerça sua profi ssão de forma ampla, geral e coerente, sem que te-nha necessidade de defender aspectos políticos para ver valer sua opinião. Visão social não é fazer caridade ou dar consultas de graças para pobre, ou como alguns colegas meus fi zeram, ir para interior para ajudar quem não podia ter um médico do serviço público e a única coisa que conseguiram foi voltar “que-brados” para Brasília. Na verdade, a visão social proporcionará ao médico um modelo mais adequado de trabalho dentro das limitações e condições que ele determinar. E isso quer dizer que ele produzirá e ganhará seus proventos sem precisar aviltar sua labuta ou agir como um argentário sem ética ou moral.

Então, eu vejo que a forma para que as novas gerações de médicos venham a atuar de forma diferente ao modelo que temos no momento, vai depender de uma série de informações que esse profi ssional começará a receber no lar, mas que se-

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rão oferecidas, estudadas, discutidas e sedimentadas na uni-versidade. Essas informações não podem se restringir apenas à informação científi ca necessária à formação do futuro médico. Quanto maior for o número de informações consistentes que esse jovem vier a receber nos bancos da universidade que me-xam com os seus conceitos e sedimente sua correta formação, maior será a ingerência dessa pessoa ao meio, menor será sua abstração e melhores serão as transformações que ele patro-cinará ou participará. Claro que ética, moral, boa conduta têm um componente familiar indiscutível, mas nem toda boa árvore dá bons frutos e nem toda má árvore dá frutos ruins. Isso quer dizer que se pode formar o homem independente de sua ori-gem e para isso é necessário oferecer a oportunidade correta de acesso à informação necessária.

Eu entendo que quando o ser humano conhece e entende as várias nuances da vida e, por consequência do comporta-mento humano, ele aprende a se conhecer e por consequência, conhecendo-se, entende que pode e deve viver sua vida plena-mente em todos os sentidos e assim será um bom cidadão e, claro, um bom médico. Quem assim age supera as difi culdades e entende os conceitos éticos de sua profi ssão. Conhecendo e aceitando os princípios da ética e do modo correto de tratar seu semelhante, esse profi ssional, com certeza, se mais efi ciente em seu trabalho, sem a busca frenética de riqueza e brilho so-cial a todo custo.

E o que podemos fazer efetivamente para mudar o estado atual da Medicina e dos médicos no Brasil? Devemos humanizar o médico desde o seu primeiro momento na universidade. De-vemos fazê-lo entender que a verdade não está em um único ponto, mas é vasta, abrangente e só a mente livre de precon-ceito poderá julgar sem reservas o que é bom ou ruim dentre

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tantas situações e conceitos que não são apresentados todos os dias. Fazer o médico entender que apenas um bom exame e uma receita correta sem a boa reação entre ele e o paciente não cumpre os ditames da Medicina. Abolir de vez a prepotên-cia de alguns profi ssionais que acreditam que o paciente tem de obedecê-lo sem questionar. Com o advento da internet, os pacientes buscam informação sobre o que foi receitado e quan-do a informação é incorreta, como acontece muito, o médico se desgasta. Então, apenas quando a empáfi a e a prepotência são abolidas, combatidas ou pelo menos minoradas, o médico poderá ver seu paciente como alguém que sofre, que está fra-gilizado por isso e só essa condição seria sufi ciente para mudar seu comportamento e ser um pouco mais cordial.

Devemos ensiná-lo muito mais pelo exemplo que pelo dis-curso, que a Medicina é a mais nobre das profi ssões, pois é a única que vê o rei nu. Ensiná-lo desde os primeiros momentos que só ele pode e deve valorar seu trabalho. Fazê-lo ver as mudanças, o reconhecimento, a valorização do profi ssional, o pagamento correto por seu trabalho, seja em que esfera for, de-pende unicamente dele. Ninguém lutará pelo médico a qualquer tempo. Temos de mostrar a geração atual que os erros que são hoje praticados podem e devem ser mudados; caso contrário, não haverá futuro para a Medicina, nem sequer nos moldes atuais.

Mas, para mim, o mais importante é mostrar com exem-plos que na Medicina, acima de tudo, só o amor pela arte que abraçamos é que nos fará ser verdadeiramente médicos.

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ESTATUTO DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

CAPÍTULO I DA DENOMINAÇÃO, SEDE E FINALIDADE

Art. 1º A Academia de Medicina de Brasília, identifi cada pela sigla AMeB, fundada em 18 de outubro de 1989, entida-de civil de direito privado, sem fi ns econômicos, de duração indeterminada, com sede e foro em Brasília – Distrito Federal, inscrita no CNPJ/MJ sob o nº 26443994/0001-04, reger-se-á por este Estatuto, regulamentado pelo Regimento Interno e por normas complementares, gerais e específi cas, que serão insti-tuídas ao longo de sua gestão.

Art. 2º A AMeB tem por fi nalidade: I – contribuir para o progresso da Medicina e ciências cor-

relatas;II – desenvolver atividades de cultura geral ligadas à Me-

dicina;III – contribuir para a preservação da memória da Medicina

de Brasília;IV – divulgar suas atividades e trabalhos de seus membros

relativos à Medicina; V – estimular e contribuir com críticas construtivas com o

Poder Público nas atividades de saúde, cultura, educação médi-ca, ciência e tecnologia;

VI – manter intercâmbio com entidades congêneres nacio-nais e estrangeiras;

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

VII – promover atividades com fi ns educativos, culturais, históricos, científi cos e de pesquisa, que se relacionem direta ou indiretamente com a profi ssão em medicina.

CAPÍTULO II DOS ÓRGÃOS DIRIGENTES

QUE COMPÕEM A ESTRUTURA BÁSICA

Art. 3º A estrutura básica de administração da AMeB com-preende:

I – Assembleia Geral; II – Conselho Consultivo; III – Diretoria Executiva;IV – Conselho Fiscal. Art. 4º A Assembleia Geral, órgão soberano da AMeB, é

constituída dos Acadêmicos Titulares, competindo-lhe privati-vamente:

I – aprovação das contas anuais;II – alteração ou reforma do estatuto;III – admissão de acadêmicos; IV – eleição dos membros da Diretoria Executiva e do Con-

selho Fiscal, segundo normas eleitorais estabelecidas no Regi-mento Interno;

V – deliberação sobre casos omissos;VI – homologação dos nomes dos Acadêmicos Eméritos,

Beneméritos e Honorários;VII – aprovação ou rejeição do nome do Patrono indicado

pelo acadêmico; VIII – alteração do número de cadeiras; IX – dissolução da Academia. Art. 5º O Conselho Consultivo é um órgão não deliberativo

e de colaboração da AMeB, formado pelos ex-presidentes, tendo

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como atribuição assessorar as ações administrativas e técnicas da entidade.

Art. 6º O Conselho Fiscal será constituído de 3 (três) mem-bros efetivos e de 3 (três) suplentes, eleitos pela Assembleia Geral e terá por encargo analisar a gestão contábil da AMeB e emitir parecer sobre a prestação de contas anuais e balancetes.

Parágrafo único. O primeiro, o segundo e o terceiro su-plentes substituirão, nessa ordem, os membros efetivos quando impedidos e no caso de vacância.

Art. 7º A Diretoria Executiva terá a seguinte composição: I – Presidente;II – Primeiro Vice-Presidente;III – Segundo Vice-Presidente;III – Secretário Geral;IV – Primeiro Secretário;V – Segundo Secretário. § 1º A Diretoria Executiva desenvolverá suas atividades

por meio dos seguintes Departamentos: Financeiro, de Patrimô-nio, de Tecnologia de Informação e Comunicação e Científi co, podendo criar, bem como suprimir, aqueles que julgar necessá-rio, tendo cada um deles o respectivo Diretor.

§ 2º O mandato da Diretoria Executiva será de dois anos, podendo ser prorrogado por igual período.

CAPÍTULO IIIDAS ATRIBUIÇÕES DOS MEMBROS

DA DIRETORIA EXECUTIVA

Art. 8º Ao Presidente competirá: I – representar a Academia em juízo, ativa e passivamente;

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

II – representar a Academia junto ao Poder Público, às ins-tituições públicas e privadas, às entidades representativas da sociedade e de organismos e entidades internacionais;

III – representar a Academia em quaisquer atos ou soleni-dades;

IV – convocar e presidir as sessões da Academia e da Di-retoria Executiva;

V – designar a ordem do dia das sessões;VI – convocar as sessões extraordinárias quando fato rele-

vante e urgente as justifi car;VII – dar posse aos novos acadêmicos e aos membros da

Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal; VIII – assinar diplomas, representações, despachos e ex-

pedientes; IX – preencher, por designação, as vagas em cargos eleti-

vos quando essas ocorrerem;X – designar substitutos para os membros da Diretoria

Executiva quando ocorrer impedimentos; XI – adotar providências sobre assunto urgente;XII – designar comissões para fi ns especiais ou encarregar

qualquer acadêmico para desempenhar trabalho de sua especial competência;

XIII – convidar profi ssional estranho à academia ou à clas-se médica para integrar comissão especial, conforme a natureza do assunto;

XIV – autorizar o pagamento de despesas ordinárias e, ou-vida a Diretoria Executiva, o das despesas extraordinárias;

XV – admitir, promover e dispensar servidor da Academia;XVI – criar ou extinguir cargo administrativo, ouvida a Di-

retoria Executiva;XVII – designar, quando for o caso, quem lhe faça a alocu-

ção congratulatória por ocasião das sessões solenes;

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XVIII – discursar na abertura das sessões solenes;XIX – movimentar a conta da Academia com o Diretor Fi-

nanceiro;XX – designar acadêmico para substituí-lo em solenidade

ou evento; XXI – receber o requerimento de inscrição de candidatos

ao ingresso na Academia;XXII – designar o Secretário Geral, em sessão específi ca,

para ler o Relatório Anual e o Balanço Financeiro da Academia. Art. 9º Ao Primeiro Vice-Presidente competirá substituir o

Presidente nos seus impedimentos, justifi cados ou não, e auxi-liá-lo no desempenho de suas tarefas estatutárias e regimen-tais.

Art. 10. Ao Segundo Vice-Presidente competirá substituir o Primeiro Vice-Presidente em seus impedimentos, justifi cados ou não, e auxiliá-lo no desempenho de suas tarefas estatutárias e regimentais.

Art. 11. Ao Secretário Geral competirá: I – substituir os Vice-Presidentes em seus impedimentos;II – coordenar e executar o serviço de secretaria, manten-

do em dia todos os registros necessários;III – elaborar o Relatório Anual de atividades da AMeB;IV – secretariar as reuniões da Diretoria Executiva, bem

como redigir as respectivas atas e assinando-as com o presi-dente da reunião;

V – expedir diplomas, que os subscreverá com o Presidente; VI – organizar e manter sempre atualizado o cadastro dos

membros da Academia;VII – ter sob sua guarda e responsabilidade os documentos

dos candidatos à admissão na Academia. Art. 12. Ao Primeiro Secretário competirá:

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

I – substituir o Secretário Geral em seus impedimentos;II – auxiliar o Secretário Geral nos encargos a ele atribuí-

dos; III – providenciar os expedientes administrativos para a

convocação das sessões;IV – ter a seu cargo a correspondência do expediente.Art. 13. Ao Segundo Secretário competirá: I – substituir o Primeiro Secretário em seus impedimentos; II – auxiliar o Primeiro Secretário nos encargos a ele atri-

buídos. Art. 14. Ao Diretor Financeiro competirá: I – ter sob sua guarda e responsabilidade as contas bancá-

rias, registros e documentos inerentes a seu cargo;II – assinar com o Presidente, os cheques e demais docu-

mentos que abranjam responsabilidade fi nanceira; III – solicitar ao prestador dos serviços contábeis, os ba-

lancetes trimestrais e os balanços anuais da AMeB;IV – efetuar o pagamento das despesas ordinárias previs-

tas no orçamento e das despesas extraordinárias; V – informar ao Presidente as atividades inerentes a seu

cargo.Parágrafo único. Haverá um Diretor Financeiro Adjunto a

quem competirá substituir o Diretor Financeiro em seus impe-dimentos.

Art. 15. Ao Diretor de Patrimônio competirá: I – manter sob sua guarda o Livro de Controle de Patrimô-

nio da AMeB;II – apresentar ao Presidente, semestralmente, o registro

de bens incorporados ao patrimônio da Academia; III – zelar pela conservação dos bens patrimoniais da Aca-

demia;

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ANAIS • Ano I • Volume II

IV – fi cará a cargo do Presidente a designação de seu subs-tituto eventual.

Art. 16. Ao Diretor de Tecnologia de Informação e Comu-nicação competirá:

I – organizar e redigir as informações concernentes à Aca-demia;

II – proceder à organização, guarda e conservação do acer-vo inerente ao cargo;

III – promover e manter permuta das publicações nacio-nais e estrangeiras que interessem à Academia;

IV – manter em dia, com a colaboração do Secretário Ge-ral, o fi chário dos membros da Academia, anotando as altera-ções referentes à sua vida profi ssional, científi ca e biográfi ca;

V – solicitar aos membros da Academia os dados necessá-rios ao preparo de sua biografi a;

VI – anotar devidamente os documentos que possam in-teressar à vida social da Academia, completar sua história e arquivar os que não mais interessarem à atividade normal;

VII – solicitar o concurso não só dos membros da Academia como das pessoas a ela estranhas e de outras instituições, sempre que for necessário, no interesse do desenvolvimento e aperfeiço-amento da Diretoria de Tecnologia de Informação e Comunicação;

VIII – manter em dia o arquivo da Academia; IX – promover e atualizar a Tecnologia da Informação. Art. 17. Ao Diretor Científi co competirá: I – coordenar o Departamento Científi co; II – planejar e orientar a programação científi ca dos even-

tos e cursos da Academia; III – realizar sessões em que sejam discutidos assuntos

relativos à medicina, à cultura, à educação médica e à ciência em geral;

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

IV – sugerir temas para pesquisas e trabalhos patrocinados pela Academia;

V – julgar trabalhos correlacionados aos prêmios instituí-dos pela Academia.

§ 1º Ficarão subordinadas ao Departamento Científi co as seguintes comissões permanentes: Comissão de Programas de Atividades Científi cas; Comissão de Avaliação das Credenciais dos Candidatos à Academia; Comissão de Ética e Bioética e Co-missão de Eventos.

§ 2º Cada uma das comissões acima terá um coordenador designado pelo Presidente.

CAPÍTULO IVDOS MEMBROS

Seção IDa Composição

Art. 18. Integram a Academia de Medicina de Brasília:I – Acadêmicos Titulares;II – Acadêmicos Eméritos;III – Acadêmicos Honorários;IV – Acadêmicos Correspondentes;V – Acadêmicos Beneméritos.§ 1º Cada Acadêmico Titular ou Acadêmico Emérito ocupa-

rá, em caráter vitalício, uma das 60 (sessenta) cadeiras identi-fi cadas pelo nome do respectivo patrono, defi nitivo e imutável.

§ 2º O número total de cadeiras será preenchido progres-sivamente de acordo com a necessidade da Academia, proposta pela Diretoria Executiva e submetida à Assembleia Geral.

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§ 3º O nome do patrono será reservado a vulto da medici-na brasileira, já falecido, e que tenha se destacado em sua área de atuação.

§ 4º O nome do patrono a partir da 41ª cadeira será indica-do pelo acadêmico que vier a ocupá-la pela primeira vez, que o apresentará e justifi cará a proposição, em Assembleia Geral es-pecifi camente convocada para essa fi nalidade, devendo aquela aprová-la ou rejeitá-la.

§ 5º São fundadores da Academia de Medicina de Brasília os 20 primeiros Titulares.

Art. 19. Deixarão de fazer parte da Academia os que assim solicitarem formalmente, por escrito, ou os que forem excluídos pelos dispositivos regimentais.

Art. 20. Acadêmicos Titulares são aqueles admitidos por eleição, cujo processo dar-se-á por votação com maioria sim-ples dos presentes em Assembleia Geral convocada para essa fi nalidade.

Art. 21. O candidato a Acadêmico Titular deverá preencher as seguintes condições:

I – ser brasileiro nato ou naturalizado;II – ser diplomado em Medicina com, pelo menos, vinte

anos de exercício profi ssional;III – ser apresentado formalmente, por escrito, por pelo

menos três autoridades reconhecidas na área da medicina, que não sejam acadêmicos;

IV – apresentar os documentos estipulados no edital do respectivo concurso.

Art. 22. Acadêmicos Eméritos são os membros que preen-cherem cumulativamente os seguintes requisitos, por iniciativa própria ou indicação da Diretoria:

I – ter completado 75 anos de idade;

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

II – ter completado vinte anos de admissão à Academia.Parágrafo único. A Diretoria submeterá à Assembleia Geral

sua homologação. Art. 23. Acadêmicos Honorários são médicos de notório

saber e que tenham contribuído para o progresso da Medicina, cujos nomes forem propostos por um Acadêmico Titular ou um Acadêmico Emérito, aprovados pela Diretoria Executiva e sub-metidos à homologação da Assembleia Geral.

Art. 24. Acadêmicos Correspondentes são aqueles médi-cos de comprovado valor, não residentes em Brasília, cujo nome proposto por um Acadêmico Titular deva ter sua aprovação por maioria simples dos membros da Diretoria Executiva.

Art. 25. Acadêmicos Beneméritos são personalidades que tenham contribuído para a valorização e o engrandecimento da Academia de Medicina de Brasília, cujos nomes forem propostos por um Acadêmico Titular ou um Acadêmico Emérito, aprova-dos pela Diretoria Executiva e submetidos à homologação da Assembleia Geral.

Seção II Das infrações

Art. 26. Constituem infrações:I – deixar de contribuir fi nanceiramente com mais de 2

(duas) parcelas da anuidade ou deixar de comparecer a mais de 4 (quatro) sessões consecutivas da Academia, sem motivo justifi cado, a critério da Diretoria Executiva, sem necessidade de homologação pela Assembleia Geral;

II – prejudicar, moral ou materialmente, os interesses da Academia;

III – acarretar discórdias entre os membros;

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IV – instigar, publicamente, o descrédito da Entidade;V – infringir a ética médica, a moral e os bons costumes.

Seção IIIDa exclusão

Art. 27. Constatada a infração do inciso I do artigo 26, o acadêmico será excluído.

Parágrafo único. No caso de infrações dos incisos II a V e após a apreciação da Comissão de Ética e Bioética, o acadêmico poderá ser excluído, a critério da Diretoria Executiva.

CAPÍTULO VDOS DIREITOS E DEVERES

Art. 28. São direitos dos Acadêmicos Titulares:I – participar das sessões da Academia;II – votar e ser votado, desde que cumpridos os dispositi-

vos estatutários e regimentais;III – propor à Diretoria Executiva as medidas que julgarem

convenientes aos interesses da Academia.Parágrafo único. Aos Acadêmicos Eméritos, Honorários,

Correspondentes e Beneméritos não é concedido o direito de voto nem de ser votado.

Art. 29. São deveres do acadêmico:I – cumprir e respeitar fi elmente as disposições estatutá-

rias e o Regimento Interno;II – zelar pelo progresso, decoro e renome da Entidade;III – frequentar com assiduidade as sessões da Academia;IV – desempenhar com esmero as funções dos cargos para

os quais tenham sido eleitos ou designados;

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V – contribuir fi nanceiramente com a mensalidade ou anui-dade em conformidade com o Regimento Interno.

CAPÍTULO VI DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 30. Os recursos fi nanceiros da Academia de Medicina de Brasília provêm de contribuições dos acadêmicos, de doações e legados feitos por pessoa física ou jurídica, de subvenções de entidades públicas ou privadas, de rendimentos de depósitos e aplicações fi nanceiras e de outras rendas eventuais.

Art. 31. Os membros da Academia não respondem subsi-diariamente pelas obrigações contraídas pela Diretoria Executiva ou por qualquer de seus membros, assim como a Diretoria Exe-cutiva não é responsável pelos conceitos emitidos ou por atos praticados individualmente por quaisquer dos seus membros.

Art. 32. A Academia de Medicina de Brasília possui brasão, logomarca, emblema e bandeira, já defi nidos em Assembleia Geral.

Art. 33. A Academia de Medicina de Brasília adota o uso de sua vestimenta ofi cial em sessões solenes ou protocolares.

Art. 34. O presente Estatuto e o Regimento Interno só poderão ser reformados por Assembleia Geral especialmente convocada pela Diretoria Executiva para esse fi m.

Art. 35. Em caso de dissolução da Academia, o patrimô-nio será transferido para uma instituição fi lantrópica de bene-merência, reconhecida ofi cialmente, em decisão da Assembleia Geral Extraordinária.

Art. 36. Em caráter excepcional, nas Assembleias Gerais Extraordinárias, poderão ser aceitos votos por correspondência dos acadêmicos, com fi rma reconhecida em cartório.

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Art. 37. Os casos omissos neste Estatuto serão submeti-dos à decisão da Assembleia Geral Extraordinária.

Art. 38. O presente Estatuto foi aprovado em Assembleia Geral Extraordinária e entra em vigor na data de seu registro em cartório, revogando-se todas as disposições do Estatuto an-terior.

Parágrafo único. A Diretoria Executiva da gestão 2010–2012 e toda sua estrutura básica terão que se adequar ao pre-sente Estatuto a partir de seu registro.

Brasília - DF, 19 de abril de 2011.

Acadêmico José Leite SaraivaPresidente da Academia de

Medicina de Brasília

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REGIMENTO INTERNO

CAPÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO

Art. 1º A estrutura básica de administração da Academia de Medicina de Brasília compreende:

I - Assembleia Geral;II - Conselho Consultivo;III - Diretoria Executiva;IV - Conselho Fiscal.

CAPÍTULO II DA ASSEMBLEIA GERAL

Art. 2º A Assembleia Geral é constituída dos Acadêmicos Titulares em pleno gozo de seus direitos.

Art. 3º A Assembleia Geral poderá ser convocada pelo Pre-sidente ou, no mínimo, por metade mais um dos Acadêmicos Titulares, devendo ser declarado o motivo da convocação.

§ 1º A Assembleia Geral será convocada por intermédio de edital publicado em jornal de grande circulação ou por outro meio de comunicação, com pauta de convocação específi ca e com o prazo mínimo de sete dias.

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§ 2º A Assembleia Geral reunir-se-á, em primeira convo-cação, com a maioria absoluta de seus membros e, em segun-da convocação, após trinta minutos, com qualquer número de membros presentes, sendo as deliberações tomadas por maio-ria simples de votos dos presentes.

CAPÍTULO III DO CONSELHO CONSULTIVO

Art. 4º O Conselho Consultivo, órgão não deliberativo de orientação e assessoramento da Diretoria Executiva, forma-do pelos ex- presidentes, reunir-se-á com a maioria dos seus membros em primeira convocação e com qualquer número trin-ta minutos após.

§ 1º O Conselho Consultivo terá um Presidente e um Se-cretário eleitos pelos seus pares na sua primeira reunião.

§ 2º O Presidente da Academia poderá convocar o Conse-lho Consultivo dentro de suas atribuições para equacionar situ-ações que envolvem a entidade.

§ 3º O mandato será coincidente com o da Diretoria Execu-tiva, podendo haver reeleição.

§ 4º O Conselho Consultivo terá livro próprio de atas para documentação de suas atividades.

CAPÍTULO IV DA DIRETORIA EXECUTIVA

Art. 5º A Diretoria Executiva desenvolverá suas atividades por meio dos seguintes departamentos:

I – Departamento Financeiro;II – Departamento de Patrimônio;

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III – Departamento de Tecnologia de Informação e Comu-nicação;

IV – Departamento Científi co. Art. 6º Cada departamento, com o respectivo Diretor, de-

signado pelo Presidente, deverá elaborar suas normas de fun-cionamento.

Parágrafo único. Haverá um Diretor Financeiro Adjunto, de-signado pelo Presidente, a quem compete substituir o Diretor Financeiro em seus impedimentos.

Art. 7º O Diretor de Patrimônio deverá zelar por todo o acervo material da Academia, fi cando a cargo do Presidente a designação de seu substituto eventual.

Art. 8º O Diretor de Tecnologia de Informação e Comunica-ção deverá zelar pelo acervo e promover as atividades inerentes à sua Diretoria, fi cando a cargo do Presidente a designação de seu substituto eventual.

Art. 9º O Departamento Científi co será coordenado pelo Diretor Científi co, que deverá promover as atividades inerentes à sua Diretoria e terá sob sua subordinação as seguintes Comis-sões Permanentes:

I – Comissão de Programas de Atividades Científi cas;II – Comissão de Avaliação das Credenciais dos Candidatos

à Academia;III – Comissão de Ética e Bioética;IV – Comissão de Eventos. Parágrafo único. Cada uma das comissões terá um Coor-

denador indicado pelo Diretor Científi co, cujo nome deverá ser homologado pelo Presidente.

Art. 10. A Comissão de Programas de Atividades Cientí-fi cas fi cará encarregada de planejar e orientar a programação científi ca dos eventos e cursos da Academia.

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Art. 11. A Comissão de Avaliação das Credenciais dos Can-didatos à admissão na Academia é constituída de três Acadê-micos Titulares, indicados pelo Diretor Científi co e homologados pelo Presidente, tendo a competência de avaliar toda a docu-mentação exigida e apresentada pelos candidatos e submetê--los a uma entrevista individual.

§ 1º A Comissão de Avaliação das Credenciais dos Candi-datos à Academia deverá elaborar um parecer com os nomes daqueles considerados aptos a serem submetidos ao Diretor Científi co para análise.

§ 2º O Diretor Científi co, após análise do parecer, o enca-minhará ao Presidente que, por sua vez, depois de sua avalia-ção o submeterá à Assembleia Geral.

Art. 12. A Comissão de Ética e Bioética é constituída de três Acadêmicos Titulares cabendo promover a Ética e a Bioéti-ca, a paz, a cidadania, os direitos humanos, a democracia e os valores universais similares.

Art. 13. A Comissão de Eventos é constituída de três Aca-dêmicos Titulares, cabendo a ela:

I – coordenar e planejar eventos especiais, conferências, seminários e reuniões;

II – elaborar o programa de patrocinadores dos eventos;III – elaborar programação e procedimentos orçamentários

oucontábeis dos eventos e submetê-los ao parecer do diretor científi co.

CAPÍTULO V DO CONSELHO FISCAL

Art. 14. O Conselho Fiscal é um órgão independente, que se reunirá, sempre que necessário, com a presença mínima de três membros.

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Parágrafo único. Haverá um livro de atas específi co para suas reuniões.

CAPÍTULO VI DA ADMISSÃO

Art. 15. Quando houver vagas no quadro de acadêmicos titulares, o Presidente declarará abertas as inscrições para o seu preenchimento, por meio de edital publicado em jornal de grande circulação.

Parágrafo único. Caberá à Comissão de Avaliação das Cre-denciais dos Candidatos estabelecer os critérios de seleção.

Art. 16. Para concorrer à vaga de Acadêmico Titular, no ato da inscrição, além do atendimento ao disposto no artigo 21 do Estatuto, o candidato deverá assinar um documento em que afi rma estar ciente e de acordo com as normas estatutárias e regimentais da Academia.

Art. 17. Encerradas as inscrições, o Presidente enviará a documentação recebida de cada candidato à Comissão de Ava-liação das Credenciais dos Candidatos para sua apreciação e emissão de parecer.

Art. 18. Com o parecer da Comissão de Avaliação das Cre-denciais dos Candidatos, o Presidente convocará, em prazo má-ximo de dias, a Assembleia Geral Extraordinária para discussão e votação do parecer da Comissão.

Art. 19. Considerar-se-á classifi cado o candidato que obti-ver, por votação secreta, a maioria simples dos votos.

§ 1º Em caso de empate, será classifi cado o candidato com maior tempo de graduação e, se persistir o empate, será classi-fi cado aquele de mais idade.

§ 2º Não será permitido voto por procuração.

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Art. 20. O candidato classifi cado pela deliberação da As-sembleia Geral assumirá as taxas referentes à aquisição de beca, da anuidade e dos demais emolumentos.

Art. 21. A posse dos novos acadêmicos será em sessão solene, cujos atos cerimoniais, bem como a data de sua realiza-ção, serão determinados pela Diretoria Executiva.

CAPÍTULO VII DA EXCLUSÃO

Art. 22. Além do disposto no caput do artigo 27 do Estatu-to, o acadêmico será excluído se:

I – tiver seu exercício profi ssional cassado pelo Conselho Federal de Medicina;

II – solicitar, por escrito, seu afastamento da Academia de-fi nitivo e irrevogável

Parágrafo único. A critério da Diretoria Executiva, a exclu-são do acadêmico será encaminhada para decisão da Assem-bleia Geral.

CAPÍTULO VIIIDAS REUNIÕES E SESSÕES

Art. 23. A Academia de Medicina de Brasília realizará reu-niões administrativas, ordinárias e extraordinárias e sessões plenárias e solenes.

Art. 24. As reuniões administrativas são aquelas da Di-retoria Executiva e das Comissões e ocorrerão mediante suas necessidades.

Art. 25. As sessões plenárias deverão ocorrer, preferente-mente, uma vez por mês, com convocação prévia do Presiden-

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te, e terão como objetivo discutir temas de saúde, educação médica, pesquisas e outros temas científi cos, culturais e gerais.

Art. 26. As reuniões da Diretoria Executiva ocorrerão se-manalmente ou, a qualquer tempo, extraordinariamente.

Art. 27. É obrigatório o comparecimento dos Acadêmicos Titulares às sessões plenárias.

Art. 28. As sessões solenes ocorrerão a qualquer tempo para posse dos Acadêmicos Titulares e dos membros da Direto-ria Executiva, bem como por ocasião de homenagens ou come-morações.

Parágrafo único. Nas sessões solenes, deverá ser usado traje com beca, medalha e emblema.

CAPÍTULO IX DA ELEIÇÃO DA DIRETORIA EXECUTIVA

Art. 29. A eleição dos membros da Diretoria Executiva far--se-á por escrutínio secreto, com observância dos seguintes preceitos:

I – só poderão concorrer aos cargos da Diretoria Executiva os Membros Titulares em gozo de seus direitos;

II – as eleições serão realizadas cada dois anos, em As-sembleia Geral Extraordinária especialmente convocada para esse fi m, por meio de edital publicado em jornal de grande cir-culação, observando-se o prazo mínimo de quinze dias para re-gistro de chapas;

III – a inscrição da chapa deverá ser feita por requerimento à Diretoria Executiva, em formulário próprio, subscrito por to-dos os componentes aos respectivos cargos;

IV – o Presidente designará uma Comissão Eleitoral com-posta por três membros titulares, que fi cará responsável pelo processo de eleição, votação e apuração;

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V – será eleita a chapa que obtiver maioria simples dos votos apurados;

VI – as votações serão simbólicas, nominais ou por escru-tínio secreto;

VII – a votação nominal só se fará por requerimento verbal de algum acadêmico, com a anuência, sem discussão, da maio-ria dos presentes;

VIII – não será permitido voto por procuração;IX – em caráter excepcional e à critério da Diretoria Exe-

cutiva, o acadêmico poderá ocupar simultaneamente um cargo eletivo e um de membro de comissão.

CAPÍTULO XDOS PRÊMIOS

Art. 30. A Academia de Medicina concederá o prêmio Aca-demia de Medicina de Brasília, láurea ofi cial, bem como outros prêmios e láureas que vierem a ser instituídos.

Art. 31. Só poderão concorrer aos prêmios pessoas não pertencentes à Academia.

Art. 32. Os aspectos formais da inscrição e da concessão dos prêmios serão objeto de regulamentação da Diretoria Exe-cutiva.

CAPÍTULO XIDAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 33. O disposto no artigo 32 do Estatuto será conside-rado cláusula pétrea.

Art. 34. A Diretoria Executiva poderá elaborar Resoluções Normativas.

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Art. 35. Os cargos de qualquer natureza não serão remu-nerados.

Art. 36. Poderá ser criado um quadro de funcionários, de acordo com as circunstâncias, sugerido pela Diretoria Executiva e homologado pela Assembleia Geral.

Art. 37. Os casos omissos neste Regimento Interno serão submetidos pelo Presidente à decisão da Assembleia Geral Ex-traordinária.

Art. 38. O ano acadêmico contar-se-á de 1º de março a 15 de dezembro.

Art. 39. A Academia poderá reunir-se em sessão extraor-dinária quando houver relevante e urgente motivo, a critério do Presidente ou por requerimento da maioria absoluta dos Acadê-micos Titulares.

Art. 40. Este Regimento Interno entrará em vigor na data de seu registro em cartório, e revogam-se todas as disposições do regimento anterior.

Brasília, 18 de outubro de 2010.

Acadêmico José Leite SaraivaPresidente da Academia de

Medicina de Brasília

Doutora Luisa de Pinho ValleOAB/DF 19371

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