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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE - UNI-BH ANA LUISA ARAÚJO PEIXOTO O IMPACTO DA ASCENSÃO CHINESA NA ECONOMIA DE MINAS GERAIS E A SENSIBILIDADE E VULNERABILIDADE AO MINÉRIO DE FERRO DA MINERADORA VALE Belo Horizonte 2008

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE - UNI-BH

ANA LUISA ARAÚJO PEIXOTO

O IMPACTO DA ASCENSÃO CHINESA NA ECONOMIA DE MINAS GERAIS E A SENSIBILIDADE E

VULNERABILIDADE AO MINÉRIO DE FERRO DA MINERADORA VALE

Belo Horizonte

2008

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Ana Luisa Araújo Peixoto

O IMPACTO DA ASCENSÃO CHINESA NA ECONOMIA DE MINAS GERAIS E A SENSIBILIDADE E

VULNERABILIDADE AO MINÉRIO DE FERRO DA MINERADORA VALE

Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Orientadora: Professora Sylvia Marques

Belo Horizonte 2008

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ANA LUISA ARAÚJO PEIXOTO

O IMPACTO DA ASCENSÃO CHINESA NA ECONOMIA DE MINAS GERAIS E A SENSIBILIDADE E

VULNERABILIDADE AO MINÉRIO DE FERRO DA MINERADORA VALE

Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Orientadora: Professora Sylvia Ferreira Marques

Monografia aprovada em 9 de Dezembro de 2008

Banca Examinadora:

Profª. Geraldine Marcelle Moreira Braga

Profª. Ronara Cristina Bozi dos Reis

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A Deus pelo dom da vida. A meus pais, Adilson e Irma, pela dedicação e

preocupação com minha educação, desde o início; pelos valores de

humanidade, trabalho e honestidade; e pelo carinho sempre presente. Ao

meu irmão pela amizade e lealdade. Aos meus grandes amigos pelo apoio

e cooperação. Meus agradecimentos a todos os professores pela

experiência e exemplo de profissionalismo passado ao longo dos anos de

faculdade. Meu agradecimento especial à minha orientadora Sylvia

Marques por sua inigualável e competente orientação.

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“Sabendo reconhecer as prioridades, estarás ao alcance da via” (Da Xue).

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RESUMO

Nesse estudo, pretendeu-se analisar as transformações da China desde sua abertura econômica

quando Deng Xiaoping assume o poder, a partir de 1978, passando pela entrada da China na

OMC (Organização Mundial do Comércio), em 2001, tendo em vista o fenômeno da globalização

e os conceitos da Interdependência Complexa de Keohane e Nye, juntamente com o impacto da

ascensão econômica da China para o fornecimento de minério de ferro proveniente de Minas

Gerais.Por fim, será avaliado o grau de Sensibilidade e Vulnerabilidade da China em relação ao

minério de ferro fornecido pela mineradora VALE.

Palavras Chaves: China. Ascensão Econômica. Interdependência Complexa. VALE.

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ABSTRACT

This study was intended to analyze China’s development since Deng Xiaoping´s Economic

opening in 1978, using the path of the entrance of China in the WTO (World Trade

Organization), in 2001, in view of the globalization phenomenon. And the concepts of

Interdependence of Keohane and Nye, analyzing the impact of Chinas´s economics growing to

the supply of Iron ore coming from the state of Minas Gerais. Finally, will be studied the

Sensibility and Vulnerability rate in relation to the Iron ore from the Brazilian Mining Company

VALE.

Keywords: China. China’s growing. Interdependence. VALE.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Exportações Brasileiras para a China segundo setores e Produtos Selecionados

....................................................................................................................................................... 30

Tabela 2 - Importações Brasileiras da China segundo setores selecionados ................................. 30

Tabela 3 - Exportações do Brasil para a China ............................................................................. 40

Tabela 4 - Maiores exportadoras mundiais de Minério de ferro ................................................... 43

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – PARTICIPAÇÃO DAS CLASSES DE PRODUTOS NAS EXPORTAÇÕES DO

BRASIL PARA A CHINA ............................................................................................................ 29

GRÁFICO 2 – PARTICIPAÇÃO DAS CLASSES DE PRODUTOS NAS EXPORTAÇÕES

TOTAIS DO BRASIL ................................................................................................................... 29

GRÁFICO 3 – DESTINO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE MINÉRIO DE FERRO31

GRÁFICO 4 – DEMANDA DE FERRO – IMPORTAÇÃO CHINESA DE MINÉRIO DE

FERRO BRASILEIRO .................................................................................................................. 32

GRÁFICO 5 – PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS – MINAS GERAIS ....................... 34

GRÁFICO 6 – EXPORTAÇÕES PARA CHINA – BRASIL E MINAS GERAIS ...................... 35

GRÁFICO 7 – FATURAMENTO POR SEGMENTO EM 2006 ............................................. 35

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 11

CAPÍTULO 1 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO MODELO CHINÊS A PARTIR

DA ABERTURA COMERCIAL EM 1978 .................................................................................. 13

1.1 O MODELO CHINÊS DE CRESCIMENTO E AS POLÍTICAS ADOTADAS PELO

GOVERNO DESDE SUA ABERTURA ECONÔMICA ............................................................. 12

1.2 O contexto geopolítico do desenvolvimentismo chinês e o modelo chinês de desenvolvimento

....................................................................................................................................................... 14

1.2.1 O isolamento da URSS pelos EUA nos anos 1970 .............................................................. 14

1.2.2 A ascensão da economia japonesa nos anos 1980 ................................................................ 15

1.2.3 O fim da Guerra Fria nos anos 1990..................................................................................... 17

1.3 Desenvolvimento econômico da China e os resultados alcançados com este modelo. ........... 18

CAPÍTULO 2 - O CRESCIMENTO DA CHINA E SEUS IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA

MINEIRA ...................................................................................................................................... 23

2.1 A China No Cenário Econômico Internacional e a Interdependência Complexa. .................. 24

2.1.2 Composição do Comércio Exterior ...................................................................................... 27

2.1.2.1 Exportações ....................................................................................................................... 27

2.2 Minas Gerais - O Maior E Mais Tradicional Estado Minerador Do Brasil. ............................ 34

2.3 O “Efeito China” Em Minas Gerais ........................................................................................ 34

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DO GRAU DE SENSIBILIDADE E VULNERABILIDADE DA

CHINA FRENTE O MINÉRIO DE FERRO DA VALE .............................................................. 38

3.1 BRASIL E AUSTRÁLIA: COMPETIÇÃO NO MERCADO CHINÊS ................................ 39

3.2 A Sensibilidade Chinesa ao Minério de Ferro Brasileiro ........................................................ 41

3.3 A Vulnerabilidade Chinesa ao Minério de Ferro Brasileiro .................................................... 43

CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 49

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INTRODUÇÃO

Devido ao acelerado crescimento econômico da China ocorrido nos últimos anos, a

comunidade internacional vem voltando sua atenção para este país, que até o final da Guerra Fria

não tinha tanto proeminência internacional como possui nos dias atuais. (STORY,2004)

Desde 1978, quando o governo chinês decidiu iniciar a abertura econômica a fim de

revitalizar a economia doméstica, com a inauguração do denominado “capitalismo de Estado”, o

país tem se convertido em intenso consumidor de insumos, matérias-primas e produtos agrícolas,

elevando a produção e os preços de diversas commodities, entre elas o minério de ferro. Esse

movimento intenso de importação foi a conseqüência de duas décadas de altos índices de

investimento, principalmente governamentais, e forte influxo de investimento direto externo

(IDE), gerando um vigoroso parque industrial, ancorado em uma população de 1,3 bilhão de

habitantes (BETELHEIM, 1981)

Estudos mostram que o crescimento chinês acima de 9% a.a. impulsiona a demanda

mundial pelo aço e sua principal matéria-prima1, tornando o país uma fonte de oportunidades

para o comércio mineiro, no setor específico. Em carta publicada no CEBEC – Conselho

empresarial Brasil-China2 - Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chinês na

Siderurgia Brasileira, os ganhos auferidos com esse dinamismo originaram projetos de expansão,

sobretudo no mercado chinês, tornando o gigante asiático auto-suficiente e exportador líquido de

aço. Esse processo acirrou a competição mundial e a demanda em importação em minério de

ferro, advindo do Brasil, especificamente da VALE, impactando relevantemente nas exportações

mineiras.

Com base nas transformações no cenário mundial causadas pelo dinamismo sem

precedentes da China, o estudo apresenta as características do crescimento chinês nos últimos

anos e sua demanda por aço e minério de ferro, bem como a evolução da balança comercial de

Minas Gerais e a interdependência existente entre a China e Brasil ( via VALE) em relação ao

Minério de ferro e os principais impactos.

O tema exposto instiga uma investigação sobre a relação interdependente da economia

1 www.cebec.org.br; Ano de 2008 é da China, pág.10. 2 www.cebec.org.br ;Ano de 2008 é da China, pág. 8.

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chinesa com a economia mineira. Sendo a economia mineira, de 2001 a 2007, diretamente

afetada pelas exportações de minério de ferro da VALE para a China, o presente trabalho tem a

seguinte pergunta de pesquisa: Qual a importância da VALE no modelo de crescimento chinês?

Como hipótese, trabalha-se com a argumentação de que a China é sensível ao minério de ferro

brasileiro, já que maior parte de suas exportações e seu crescimento está diretamente ligado à

importação do minério de ferro - proveniente de Minas Gerais – e que a manutenção do

crescimento chinês é vulnerável às exportações da VALE para a China. Para confirmar essa

hipótese este trabalho analisa os dados do comércio exterior dos dois países no período 2001 a

2007.

Para alcançar os objetivos, o estudo, estruturar-se-á da seguinte forma: Primeiramente

será abordado o modelo chinês de crescimento desde sua abertura econômica dada em 1978 e as

políticas adotadas pelo governo. Logo após no segundo capítulo, serão expostos os impactos da

ascensão econômica chinesa nas exportações de minério de ferro de Minas Gerais.

Por fim, serão discutidos os conceitos de vulnerabilidade e sensibilidade; conceitos

adotados pela Teoria da Interdependência Complexa, formuladas em fins dos anos 1970 por dois

intelectuais norte-americanos chamados Joseph Nye e Robert Keohane, juntamente aplicadas a

hipótese do trabalho, ou seja, será classificado, relacionando o risco (baixo, médio ou alto) da

economia chinesa frente as exportações da commoditie estudada, via mineradora VALE e a

interdependências das economias.

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CAPÍTULO 1 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO MODELO CH INÊS A

PARTIR DA ABERTURA COMERCIAL EM 1978

1.1 O Modelo Chinês De Crescimento E As Políticas Adotadas Pelo Governo Desde Sua

Abertura Econômica

Apresentar os principais fatos estilizados sobre o desenvolvimento econômico chinês

contemporâneo não é tarefa simples. A velocidade das transformações estruturais e a magnitude

das grandezas tendem a ofuscar os analistas, fazendo com que tudo pareça importante.

A China possui inúmeras peculiaridades nacionais, muitas vezes contraditoriamente

reunidas por especialistas ocidentais. São muito raras as análises disponíveis feitas por chineses.

O debate sobre a China é realizado com altas doses de ideologia. O êxito econômico ocorrido nos

últimos anos significa êxito de que? Do capitalismo? Mas por qual via? Da economia socialista

de mercado? Ou, mais uma vez, do desenvolvimentismo asiático? Quais foram os mecanismos

propulsores deste desenvolvimento? Ou será da exploração da força de trabalho? Através destes e

mais questionamentos, ao longo do capítulo, será exposto o desenvolvimento econômico da

China desde 1978, marco de sua abertura comercial (HOBSBAWN, 1996).

O desenvolvimento econômico recente da China é, provavelmente, um dos fatos

históricos mais importantes deste final de século. Interpretar sua natureza e dinâmica constitui um

dos mais intrigantes desafios para os estudiosos do desenvolvimento econômico. Para Hobsbawn

(1996) o debate sobre a China é altamente ideologizado. A ascensão do liberalismo com o

colapso da URSS – União da Repúblicas Socialistas Soviéticas - marca o início do debate sobre o

desenvolvimento da China. Assim, busca-se entender neste capítulo o processo de

desenvolvimento econômico chinês, visando compreender as razões de seu êxito econômico e os

mecanismos propulsores de seu desenvolvimento.

O crescimento econômico da China a partir das reformas de 1978, foi resultado de três

vetores principais (MEDEIROS, 1999): (i) a estratégia americana de isolamento e desgaste da ex

URSS; (ii) a ofensiva comercial americana com o Japão; (iii) uma complexa estratégia do

governo chinês, visando à afirmação da soberania do Estado sobre o território e a população

através do desenvolvimento econômico e da modernização da indústria.

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A inserção geopolítica da China no confronto dos Estados Unidos da América – EUA –

com a ex URSS foi até 1992, um fator essencial para a arrancada exportadora chinesa. A

desvalorização do dólar em 1985 e a ofensiva comercial dos EUA provocaram amplo

deslocamento de capital asiático para a China. Com o fim da Guerra fria, o contexto geopolítico

mudou inteiramente. A China, entretanto, já havia alcançado condições econômicas

estruturalmente distintas. Em relação aos condicionantes internos, Medeiros (1999) argumenta

que o sucesso da estratégia econômica chinesa deveu-se às possibilidades de enfrentar

sequencialmente estrangulamento da economia e combinar de forma distinta os mecanismos do

planejamento e do mercado, descentralizando o planejamento e concentrando os mercados.

1.2 O contexto geopolítico do desenvolvimentismo chinês e o modelo chinês de

desenvolvimento

Se a reestruturação econômica que se iniciou em 1978 é considerada vitoriosa, deve-se à

combinação de circunstâncias externas favoráveis e por um conjunto de estratégias e políticas

internas. Primeiramente, devemos examinar o contexto externo em que se deu o

desenvolvimentismo chinês, para depois analisarmos as políticas internas que marcam o modelo

chinês de desenvolvimento. (MEDEIROS,1999)

1.2.1 O isolamento da URSS pelos EUA nos anos 1970

A estratégia norte-americana de isolar a URSS levou ao término do embargo comercial

em 1972 e à abertura ao crédito internacional para a China. O comércio com os EUA deu um

salto entre 1978/79 e depois do Japão e de Hong-Kong, os EUA se afirmaram como o maior

parceiro comercial da China e apresentavam crescentes déficits comerciais (WORLD BANK

apud MEDEIROS,1999).

A abertura do mercado americano e ocidental para a China pós 1978, revelou-se um fator

econômico extraordinariamente poderoso quando no Acordo do Plazza3 em 1985, o iene e,

posteriormente as moedas dos Tigres Asiáticos valorizaram-se fortemente em relação ao dólar.

Destarte as exportações chinesas passaram a ser relativamente mais baratas frente aos

3 Acordo de 1985 que resultou na desvalorização do dólar para fazer frente aos volumosos déficits comerciais dos EUA.

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concorrentes asiáticos (VOGEL apud MEDEIROS, 1999).

A abertura chinesa foi precedida pela rapidez e velocidade do acesso ao financiamento

internacional em condições excepcionalmente favoráveis, como explicados anteriormente. De

acordo com Medeiros (1999) a China obteve em 1979 e junto ao governo do Japão taxas de juros

abaixo de 7.25% a.a para empréstimos acima de 5 anos, uma taxa não recomendada pela OCDE

para países em desenvolvimento. Depois de diversos acordos a China contraiu empréstimos entre

20 e 30 bilhões de dólares até 1985 em sua maioria de governo ou de bancos garantidos por

bancos governamentais do tipo export-import.

Houve um pool de governos para a concessão de 18 bilhões de dólares de empréstimos

em 1980, dentre eles, vindos de bancos franceses, ingleses, japoneses e outros. (BARNETT apud

MEDEIROS, 1999)

Ainda em 1979 a China obteve dos EUA o tratamento de nação mais favorecida (MFN)4 e

foi classificada como "nação em desenvolvimento" resultando na redução das tarifas americanas

sobre os têxteis e vestuário chineses a metade dos valores iniciais. Fora do GATT e do acordo de

multfibras, a China se afirmou já em 1979 como o maior exportador "não regulado" de têxteis

para os EUA. (BARNETT apud MEDEIROS,1999)

A expansão das exportações e o acesso ao crédito permitiram ao governo chinês

programar um massivo programa de importações de máquinas e equipamentos essenciais, como

se argumentou anteriormente, à aceleração da indústria pesada sem comprometer a expansão da

indústria leve de consumo e agricultura. (idem)

1.2.2 A ascensão da economia japonesa nos anos 1980

A ofensiva comercial dos EUA, em relação ao Japão e tigres asiáticos impulsionaram

amplo deslocamento de capitais para países de menor grau de desenvolvimento como Indonésia,

Malásia, Tailândia, Filipinas, mas, sobretudo para a China que por razões próprias e estratégicas,

construiu o seu próprio convite aos capitais privados nas zonas econômicas especiais

(MEDEIROS, 1999).

De acordo com Medeiros (1999), ao lado da dimensão geopolítica, a China como os

demais países do leste asiático, beneficiou-se ao longo dos anos 80 de uma macroeconomia

4 Most favored Nation Treatment (MFN) ou Cláusula da Nação Mais Favorerida.

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regional expansiva decorrente dos conflitos comerciais entre os EUA e o Japão. Na primeira

metade da década, a elevada desvalorização do iene face ao dólar resultou em taxas de câmbio

fortemente depreciadas contra o dólar: na segunda metade da década, as moedas dos países

menos desenvolvidos da Ásia entre as quais o yuan chinês, mantiveram-se depreciadas frente ao

dólar e fortemente depreciadas frente ao iene. A reorganização da economia regional asiática a

partir do deslocamento do capital produtivo japonês acelerou intensamente o investimento direto

e o comércio regional.

A valorização das moedas destes países junto das pressões comerciais norte americanas

reduziram os ganhos de comercializações decorrentes da exportação de manufaturas baratas para

os países ocidentais e particularmente para os EUA. (WORLD BANK, apud MEDEIROS, 1999)

O deslocamento da pauta de exportações na direção de bens intensivos em mão de obra e

o influxo de investimento externo voltado à construção desta capacidade exportadora foi a

resposta chinesa ao desafio do desenvolvimento levando, pelo seu tamanho específico, a grande

mudança no comércio regional (MEDEIROS,1999).

Se as receitas de exportação da China limitassem a financiar as importações

complementares de alimentos e matérias-primas, a China teria o seu processo de modernização

bloqueado. O desenvolvimento Chinês requeria obter simultaneamente uma expansão global de

sua capacidade de importar e viabilizar um rápido deslocamento da pauta de importações na

direção de máquinas e equipamentos requerida para a expansão de suas indústrias e agricultura. A

estratégia exportadora e a política de portas abertas nasceram desta dupla necessidade

(MEDEIROS, 1999).

Historicamente, tendo em vista o tamanho da população chinesa e o seu nível de renda, a

principal restrição ao crescimento liderado pelos investimentos públicos foi o ritmo de expansão

da produção de bens de consumo, essencialmente formado pelos alimentos. Assim, a medida em

que os investimentos estatais são acelerados segundo as decisões de governo, a expansão

conseqüente da massa de salários punha em marcha uma demanda por alimentos que se

transformava no curto prazo numa pressão inflacionária – ou como o que aconteceu no período

do “grande salto para frente”5 numa escassez generalizada - a que o governo responde com a

5 Movimento liderado por Mao Zedong, um grande avanço em direção ao comunismo. Com o Grande Salto, a China tentava superar a Inglaterra em 15 anos, mobilizando-se em um intenso esforço de coletivização integral e de industrialização. O Grande Salto consistiu na tentativa de aumentar a produção agrícola, superando, dessa forma, as diferenças entre a cidade e o campo. A intenção de Mao era transferir uma grande massa urbana para o campo, para,

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desaceleração dos investimentos e do crescimento econômico. Com as reformas de Deng Xiao

Ping em 1979, a agricultura chinesa passou por um choque de produtividade elevando a taxa de

crescimento potencial da economia chinesa reduzindo sua volatilidade. Ainda assim, a vigorosa

expansão da demanda interna só poderia ser atendida pelo crescimento das importações

(MEZZETTI,2000).

Ainda para Mezzetti (2000), com a abertura da economia nos anos 80, a expansão da

capacidade de importar tornou-se a restrição fundamental para o processo de industrialização

chinesa. Mas como as exportações da China eram nos anos iniciais da abertura intensivas em

produtos primários (grãos, petróleo, carvão), o crescimento da produção e da produtividade na

agricultura era necessário tanto ao consumo interno quanto para as exportações. Tendo em vista o

tamanho da população e da escassez de terra e matérias primas o abastecimento ao mercado

interno tornou–se prioritário. Com a substituição de exportações na direção de bens industriais a

China passou de exportador líquido de grãos para um dos maiores importadores líquidos

mundiais. Por outro lado, com a industrialização acelerada o consumo total de minério de ferro,

carvão, aço, alumínio da China passou a exceder imensamente a sua capacidade de produção

exercendo elevada pressão nos mercados mundiais.

1.2.3 O fim da Guerra Fria nos anos 1990

Devido ao fim da guerra-fria, o período entre 1989 e 1991, o contexto que caracterizou a

arrancada chinesa foi modificado. O sucesso do desenvolvimentismo chinês passou a ser

considerado pelos norte-americanos como a afirmação de um não desejável poder regional. As

características políticas e institucionais da China (o regime de partido único, sua ideologia, etc.)

completamente desconsideradas no período anterior, passaram a pautar o comportamento

americano (MEDEIROS, 1999).

Usando o seu direito de voto no Banco Mundial e no Banco de Desenvolvimento

Asiático, os EUA, que alegaram desrespeito aos direitos humanos, bloquearam pedidos chineses

de empréstimos por vários anos. Em 1995 o Japão suspendeu a concessão de auxílio à China.

Desde sua aprovação em 1980, o tratamento de nação mais favorecida (MFN) concedido pelos

EUA foi renovado em bases anuais e de forma automática, mas a partir de 1990 a renovação do

então, conseguir construir uma economia diferente (MEZZETTI, 2000).

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tratamento tem se constituído numa questão política delicada e complexa. (MEDEIROS,1999)

A China, no entanto, já se afirmara nos anos 90 como o segundo maior recipiente, depois

dos EUA, de investimento direto estrangeiro, o décimo maior país em termos comerciais e o

quarto maior em reservas internacionais - atrás do Japão, Formosa e EUA (NOLAN APUD

MEDEIROS, 1999).

1.3 Desenvolvimento econômico da China e os resultados alcançados com este modelo.

As medidas adotadas de desenvolvimento pós 1978, teve como objetivo combinar o

aumento do planejamento da economia através de empresas estatais voltadas à maior integração

do mercado interno e a uma maior divisão nacional do trabalho e também combinando a

autonomia das empresas de vilas e municípios e dos camponeses na produção e comercialização

a preços de mercado. Ou seja, de uma lado é predominou-se o controle sobre o câmbio e o

monopólio estatal sobre importações e exportações nas Zonas Econômicas Especiais.Num pólo,

os preços dos insumos básicos e alimentos permaneceram administrados; do outro aumentou

gradativamente o numero de itens sem controle de preços (WORLD BANK, apud

MEDEIROS,1999).

A estratégia de desenvolvimento chinesa a partir de 1978 passou por uma redução do

escopo do plano assim como por uma promoção da centralização das empresas estatais,

juntamente aos mercados nacionais. Estes mercados locais se desenvolveram num contexto de

escassa articulação nacional dos mercados regionais. A distribuição centralizada pelo Estado e o

sistema de preços controlados procuravam juntar características produtivas singulares e distintas

entre as regiões. No entanto, nos anos 80, a questão regional assumiu maior importância:

protecionismo, bloqueio nas fronteiras regionais surgiram em diversas partes do país. Com efeito,

o processo em curso de racionalização e unificação dos mercados locais, conduzido pela grande

empresa, afirma a natureza do sistema de capitalismo de Estado da China (MEDEIROS,1999).

Nas condições objetivas dos anos 1980s, em meio a forte instabilidade econômica

internacional, falta de continuidade nos arranjos econômicos internacionais e plena ofensiva de

políticas econômicas liberais e ruína do socialismo, foi possível reeditar a fórmula

desenvolvimentista e manejar as tensões e polarizações entre princípios estruturantes rivais como

o planejamento e o mercado evitando as trajetórias explosivas como as que ocorreram na ex-

URSS (MEDEIROS,1999).

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Embora as reformas chinesas tenham substituído os mecanismos do planejamento central por

políticas indiretas, manteve dois pilares centrais de regulação direta: os bancos estatais que

monopolizam a alocação de crédito, e as empresas estatais presentes nos setores mais estratégicos

da economia. Como as Empresas Estatais (EE) seguem o planejamento de governo, mas possuem

autonomia decisória, a regulação do nível global de investimentos ao contrário de se dar como

numa típica economia de mercado através da política fiscal e monetária requer, na China, a

utilização de medidas administrativas e de controles diretos (STORY, 2004).

A estrutura da economia socialistas de mercado está ligada ao sistema básico do socialismo. O estabelecimento dessa estrutura tem por objetivo capacitar o mercado a atuar no papel fundamental da alocação de recursos sob controle macroeconômico do estado. Para transformar esse objetivo em realidade, é necessário defender o princípio de tomar o setor de propriedade pública o principal esteio do sistema. (Story, 2004,p.179)

Faz-se necessário o reconhecimento de que o cenário anterior ao das reformas de 1978,

onde foram definidas as Quatro Modernizações6, não deve ser descrito como recessivo: entre

1965 e 1980 a taxa média de crescimento do PIB foi de 6.8% sendo superada apenas pela dos

países do leste asiático que neste período cresceram a 7,3%. A questão do desenvolvimento

chinês nos 60s e 70s não era de falta de dinamismo, mas dos devidos desequilíbrios setoriais, ou

melhor , ao atraso da agricultura, vindo da estratégia de Mao “grande salto pra frente”, no fim dos

anos 50 (MEDEIROS, 1999).

Entre 1978 e 1995, o crescimento econômico da China atingiu a impressionante taxa de

7,49% a.a. Entre 1985 e 1995, esta taxa foi ainda maior, 10,2%, muito superior à das economias

do Leste Asiático. Estes números conferem à China uma performance única na economia

mundial.(WORLD BANK apud MEDEIROS, 1999)

Entre 1978 e 1991, o setor industrial liderou taxa de crescimento do PIB e do emprego.

No entanto, esse movimento, só se afirmou, de fato, na segunda metade da década. O principal

movimento ocorrido na China entre 1980 e 1983 foi excepcional expansão do setor primário. A

partir de 1983 e até 1988, a indústria leve e voltada a bens de consumo liderou o crescimento

econômico e, a partir daí, a produção de bens de consumo de capital deteve as taxas mais

elevadas (idem).

Ao longo dos anos 80, o investimento bruto situou-se acima de 35% do PIB, mas com

6 O programa das Quatro Modernizações (agrícola, industrial, defesa nacional e cultural), elaborado por Deng já a partir de 1978, constituiu uma tentativa de combinar o socialismo e o capitalismo no desenvolvimento da China.

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forte aceleração a partir de 1985, quando atingiu, por mais de 3 anos seguidos, impressionantes

taxas de 40% da renda. As empresas estatais foram responsáveis por um valor acima de 65% dos

investimentos realizados, e em sua maioria, na expansão da capacidade produtiva industrial e, em

particular, na expansão da oferta e distribuição de energia elétrica; 15% realizada pelas empresas

coletivas de vilas e municípios e 20%pelo setor privado (NAUGHTON apud MEDEIROS,

1999).

As exportações foram o componente da demanda efetiva de maior dinamismo nos últimos

anos. Mesmo com grandes oscilações na década, para um crescimento do PIB de 10,2 % a.a. de

1984 a 1995, as exportações em dólares correntes cresceram extraordinária taxa de 17% a.a.. Esta

performance fez com que parte das exportações chinesas nas exportações mundiais passasse de

0,75% observada em 1978 para 3% em 1995 (WORLD BANK,apud MEDEIROS,1999).

Ainda para Medeiros (1999), a relação entre exportações e importações sobre o PIB

passou de 10% em 1978 para 17% em 1984 e 44% em 1995. Ressaltamos que a última relação

contrasta com o que seria esperado para uma economia continental. Provavelmente evidencia

dois aspectos: o crescente peso das exportações das empresas, processadoras de importações das

Zonas Econômicas Especiais7 e, sobretudo os problemas de mensuração desta relação a partir da

taxa de cambio nominal. Em relação a este segundo fator, se consideramos no denominador o

PIB expresso pelo poder de compra da moeda (segundo o calculo de paridade de poder de

compra) a relação cai para 4,3 % em 1985 a China exportou US$ 27,4 bilhões; em 1995, 148,8

bilhões (MADISON apud MEDEIROS, 1999).

O maior importador da China são os EUA. Isso ocorreu, devido ao declínio da parcela ao

mercado americano por parte dos Tigres Asiáticos, ou NIEs 8 (Coréia, Formosa e Cingapura). A

China, por sua vez, é o mercado de maior expansão das exportações americanas, composta

basicamente por aviões, equipamentos, produtos químicos e grãos (idem).

As reformas e mudanças estruturais são as causas dos investimentos diretos terem

crescido tanto. Até 1991 o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) permaneceu abaixo de 1% do

PIB; sua expansão mais vigorosa ocorreu a partir deste ano. Entre 1978 e 1995, as exportações

foram a principal fonte de divisas, responsáveis por mais de 77% das divisas obtidas em 1988 e

mais de 81% das divisas obtidas em 1990. Nos anos 80, a segunda fonte de captação de divisas

7 Regiões economicamente livres, onde os princípios das reformas seriam logo implementados, com o objetivo de disseminar os ideais do progresso e da modernização e basicamente voltadas para o setor industrial e exportador. 8 NIEs: Newly Industrializing Economy (Novas Economias Industrializadas).

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foi o empréstimo dos bancos credores oficiais, e só em 1991 o investimento externo passo a

ocupar a segunda posição. Em 1993, o ingresso do IDE excedeu em 10 vezes o ingresso de

empréstimos comerciais. Com relação aos países de origem, Hong Kong foi a maior fonte de IDE

para a China entre 1979-2000, contribuindo com 51% do total acumulado no período. Em

seguida vieram os Estados Unidos (9%), União Européia (9%) Japão (8%), Taiwan (Província da

China) (8%) e Singapura (5%) (MADISON apud MEDEIROS, 1998).

Os Estados Unidos e a União Européia, que somaram 18% do total acumulado de IDE na

China, têm concentrado seus investimentos nos setores intensivos em capital e tecnologia. Em

termos das sub-regiões da Ásia, o Leste Asiático domina o IDE na China, contribuindo com mais

de 65% do total contratual de IDE naquele país (China and World Economy).

A industrialização chinesa se fez acompanhar por mudanças estruturais no emprego e na

urbanização, sendo estas muito peculiares, diferentes das típicas do ocidente. É importante notar

que nos anos 1960 a forca de trabalho rural e os empregados nas atividades agrícolas eram

contingentes semelhantes , totalizando algo em torno de 80% da população ocupada. A partir de

1994, a primeira relação era de 54,3% e a segunda 72,6%. A grande distância entre os dois

percentuais deve-se a urbanização do campo, com forte expansão do emprego rural não agrícola.

Em 1978, 17,9 % da população éramos classificadas como urbana, e em 1990 esse numero passa

a 26,4% (WORLD BANK, apud MEDEIROS, 1999).

Para Medeiros, quando se trata de distribuição de renda e redução de pobreza,a China

passou por uma década notável nos anos 1980. Segundo dados do Banco Mundial (WORLD

BANK, apud MEDEIROS, 1999), a incidência da pobreza caiu fortemente entre 1978 e 1985. A

partir deste ano, o índice de incidência de pobreza manteve-se inalterado. Um aspecto central foi

a expansão da agricultura e da indústria rural, resultando num crescimento de 9,6% a.a da renda

per capita dos residentes rurais entre 1980 e 1988 contra 6,3% a.a dos residentes urbanos (idem).

Levando-se em conta a evolução da produtividade do trabalho na agricultura e na indústria,

Medeiros conclui que a mudança dos termos de troca entre agricultura e indústria- política

deliberada do governo chinês - foi o principal mecanismo responsável pela redução da

disparidade de renda entre as cidades e o campo, vista nos anos 80. A partir da segunda metade

dos anos 80 este mecanismo para reduzir a pobreza deixa de atuar, o que levou o índice de

incidência de pobreza a se manter alterado.

É importante ressaltar, que, a despeito de um crescimento significativo na desigualdade

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regional ocorrido nos anos 90, a experiência chinesa nos anos 70 e 80 revelam a baixa dispersão

regional, tanto na taxa de crescimento de produto quanto na taxa de crescimento do produto per

capita (FERNALD; EDISON; PRAKASH, 1998, p. 13).

Como antes observado, a força de trabalho rural não se confunde com a força de trabalho

ocupada na agricultura, devido a industrialização do campo. Em 1994, considerando uma forca

de trabalho total de 614,7 milhões, a forca de trabalho rural totalizava 446,5 milhões,

aproximadamente 73% da população ocupada. Já a forca de trabalho urbana era de 168,2

milhões: 112,1 milhões empregadas em empresas estatais. 32,9 em empresas coletivas, 15,6 em

empresas privadas e 7,6 milhões em outras (FERNALD; EDISON; PRAKASH, 1998 p. 13).

Por fim, este capítulo procurou apresentar, desde a abertura econômica chinesa em 1978,

ou “ Socialismo de Mercado” , que o Produto Interno Bruto chinês aumentou em assombrosos

300%, chegando à casa dos US$ 3,41 trilhões, número que deixa a China como a quarta maior

economia do mundo, caminhando a passos largos para ultrapassar a Alemanha e encostar no

Japão e Estados Unidos. Em 2006, o país exportou US$ 343,9 bilhões em alta tecnologia,

assumindo a ponta do ranking mundial, seguido por EUA (US$ 323,8 bilhões), Alemanha (US$

214,3 bilhões) e Japão (US$ 156,4 bilhões). Estes produtos hoje lideram a pauta de exportação do

país, substituindo as mercadorias baratas e de baixa qualidade que até há pouco pareciam

responder por toda a produção chinesa.Esta grande transformação Chinesa nos últimos anos,

dirigida especialmente citado no trabalho, por Deng Xiaoping ( 1976-1997), Entre suas medidas

liberais, ele autorizou a abertura de zonas comerciais nas províncias costeiras; o aumento de

investimentos estrangeiros; e a liberalização do comércio e do mercado agrícola. O movimento

de abertura econômica se deu sem deixar de lançar mão de expedientes como subsídios fartos,

aproveitamento de mão-de-obra barata e repressão brutal às oposições (CHUNG,2006).

Ainda para Chung ( 2006) com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio

(OMC) oficializou o acesso do país ao mercado globalizado, e a partir desse marco para a

economia mundial, vem crescendo cada vez mais a demanda chinesa por várias commodities,

como em questão, o Minério de ferro, um dos principais produtos para o desenvolvimento chinês

e matéria prima para suas exportações, fazendo assim, com que a complementaridade da

Economia Brasileira ,e do estado de Minas Gerais especificamente, e da Chinesa, se tornem cada

vez mais fortes.Este será assunto para o próximo capítulo em questão, que abordará o

Crescimento chinês e os impactos reais sobre a economia Mineira.

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CAPÍTULO 2 - O CRESCIMENTO DA CHINA E SEUS IMPACTOS SOBRE A

ECONOMIA MINEIRA

Como visto no capítulo anterior, de acordo com estudos desenvolvidos pelo Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a China tem se tornado um do

grandes destaques no cenário econômico global nos últimos anos, em virtude de suas expressivas

taxas de crescimento e de seu peso crescente no comércio internacional. O crescimento da

importância da China decorre não apenas de seu desempenho, mas também do seu porte: o país

tem a maior população do planeta – cerca de 1,3 bilhões de habitantes – e atualmente a quarta

maior economia, com um PIB de aproximadamente US$ 3 trilhões. Ademais, já ocupa o terceiro

lugar em termos de volume de comércio internacional, com cerca de 6% do total transacionado

mundialmente (BNDES, 2007).

Estas características fazem com que o crescimento chinês tenha implicações e impactos

globais bastante distintos de outras experiências bem sucedidas de crescimento econômico na

segunda metade do século XX, como os casos de Japão, Coréia do Sul e outros “tigres asiáticos”.

Dessa forma, o grande interesse que a emergência da China desperta atualmente deriva também

de seu ineditismo, visto que não se encontram na história econômica recente outros exemplos de

igual magnitude. O crescimento chinês e sua presença maciça no comércio internacional têm

causado intensa preocupação e impactos diferenciados sobre as economias de países

desenvolvidos e em desenvolvimento (BNDES, 2007).

A expressiva demanda da China por commodities tem provocado substancial elevação de

seus preços no mercado internacional e tem beneficiado países exportadores de produtos

primários. Em última instância, os efeitos da expansão chinesa dependem do padrão de

especialização setorial das economias, sendo que os países mais penalizados são aqueles cujas

estruturas produtivas competem diretamente com a China no comércio mundial (LIBÂNIO,

2007).

Neste capítulo, procura-se examinar as implicações do crescimento chinês para economia

de Minas Gerais, tendo como ponto de partida a China no cenário econômico globalizado que os

autores como Keohane e Nye (1989), abordando a Interdependência Complexa e a relação

existente com a China.Será descrito também o desempenho recente da China e seu padrão de

especialização setorial, assim como os efeitos de sua expansão . Será exposta também a maior

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mineradora Brasileira, a VALE, e suas oportunidades no mercado chinês, que cada vez mais

demanda minério de ferro. Será tratado especificamente da economia mineira, buscando mostrar

como a China tem afetado positivamente seu desempenho recente.

2.1 A China No Cenário Econômico Internacional e a Interdependência Complexa.

De acordo com Keohane e Ney (1989), a globalização tornou-se um termo bastante

comum na década de 90, geralmente associado às grandes mudanças ocorridas no sistema

econômico internacional, resultantes do aprofundamento das relações de interdependência entre

diversos atores internacionais (estatais e não-estatais). Embora o impacto econômico tivesse sido

mais evidente (porque possível de se quantificar), os efeitos da globalização foram caracterizados

por um conjunto de mudanças em diversas áreas, tanto no âmbito econômico quanto no político,

social e cultural, cada qual avançando em uma determinada velocidade.

Isto pode ser aplicado ao caso China, já que economia chinesa tem crescido a uma taxa

média anual de quase 10% nas últimas três décadas. Isto significa que o PIB da China é

atualmente cerca de 12 vezes maior que seu valor ao final dos anos setenta. Como visto no

capítulo 1, devido sua abertura econômica em 1978, este expressivo crescimento tem sido

baseado fundamentalmente no dinamismo do setor industrial, que cresceu 18 vezes entre 1978 e

2006, o que corresponde a uma taxa média de crescimento de 12% ao ano. Em 2006, observa-se

que o setor secundário é de fato o setor mais importante da economia da China, representando

quase 50% do PIB (BNDES, 2007).

Por outro lado, o país tem passado por um processo de abertura comercial e tem elevado

substancialmente sua participação no comércio internacional nos últimos anos. A inclusão da

China na Organização Mundial de Comércio (OMC) em 2001 e a conseqüente

internacionalização de sua economia, tais como a evolução do PIB do setor extrativo mineral do

estado durante o mesmo período, dá força ao argumento da positividade do crescimento chinês

para os mineiros, permitindo maior acesso de produtos chineses aos mercados internacionais.

Entre 2002 e 2006, o volume de exportações da China cresceu a uma média anual de 28%,

enquanto o volume de importações cresceu em média 21% ao ano (BNDES, 2007).

A expansão da China nos mercados mundiais e sua maior abertura comercial teve também

como conseqüência, um aumento das exportações e importações como proporção do PIB. Em

1990, estes valores eram de 20% e 15%, respectivamente. Em 2006, as exportações

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correspondem a 37% do PIB, enquanto as importações alcançaram 32% do PIB. Estes valores

colocam a China como uma das economias mais abertas do planeta, principalmente se comparada

a outros países de dimensão continental, como Brasil, Estados Unidos, Canadá, cujos fluxos

comerciais (soma das exportações com as importações) correspondem a menos de 30% do PIB

(BNDES, 2008).

Ainda cabe notar que os dois elementos destacados acima – expressivo crescimento do

setor manufatureiro e expansão do comércio internacional – não são independentes. De fato, boa

parte do crescimento industrial pode ser explicada pelas vendas externas do país (BNDES,2008).

Do ponto de vista das relações internacionais, essas transformações, embora viessem

evoluindo em um processo caracterizado pelo aprofundamento do que Keohane e Nye(1989)

chamaram de “interdependência complexa”, ganham uma nova dimensão com a despolarização

do sistema internacional no período Pós Guerra Fria, e no caso da China ainda mais após a

entrada na OMC. A mudança do modelo de sistema internacional obrigou, não apenas à

reformulação de posturas dos países em relação ao mundo, mas à reformulação dos conceitos que

antes o definiam. Neste novo cenário globalizado, os Estados, em vez de desaparecer, adquirem

uma nova lógica de operação, em que seu poder é limitado frente à expansão das forças

transnacionais que reduzem a capacidade dos governos de controlarem os contatos entre as

sociedades, e que impulsionam essas relações transfronteiriças. Nessa perspectiva, os problemas

políticos nem sempre podem ser resolvidos adequada e ou satisfatoriamente, sem a cooperação

com outras nações e agentes não-estatais. (KEOHANE E NYE, 1989).

Do ponto de vista de Keohane e Nye (1989), as relações de interdependência sempre

implicarão em ônus para os envolvidos, estes que serão analisados no próximo capítulo, ao

analisar o grau de vulnerabilidade e sensibilidade da China em relação ao minério de ferro de

Minas Gerais,vindo essencialmente da VALE, não sendo possível especificar se os benefícios do

relacionamento serão maiores do que seus custos; nada garante que as relações de

interdependência signifiquem benefícios mútuos e eqüitativos, ou seja, há uma relação de

interdependência entre a China e o Minério de ferro brasileiro.Estes benefícios mútuos, serão

analisados junto aos conceitos de sensibilidade e vulnerabilidade. Além disso, as relações de

interdependência são geralmente assimétricas.

A interdependência Complexa descreve a realidade das relações internacionais: os

participantes sofrem com freqüência limitações, mas, devido à posse de instrumentos mais

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efetivos, à maior capacidade de projetar poder e a um grau menor de vulnerabilidade, um Estado

pode se colocar dentro do relacionamento de forma mais poderosa e repassar assimetricamente

parte de seus custos para o(s) seu(s) parceiro(s). Para melhor entender esse poder na

interdependência é preciso diferenciar duas dimensões: sensibilidade e vulnerabilidade9 .

Suponha-se que todos os atores internacionais são sensíveis e vulneráveis aos fatores externos,

porém a intensidade com que tais fatores externos os atingem é bem diferenciada. Um ator pode

ter pouca ou muita sensibilidade, ou vulnerabilidade, o que de penderá de algumas de suas

características particulares (KEOHANE E NYE,1989).

A sensibilidade é diferente da vulnerabilidade, manifestando-se quando alguma alteração

no panorama externo provoca reações internas. A vulnerabilidade refere-se à capacidade (ou grau

dela) de um ator de arcar com o ônus das mudanças necessárias para enfrentar as alterações

externas. Em termos de custos da dependência, a sensibilidade refere-se à obrigação de pagar o

preço imposto pelos efeitos exteriores antes que sejam alteradas as políticas, enquanto a

vulnerabilidade está ligada à obrigação de um ator sofrer os custos impostos pelos eventos

externos depois que as políticas foram alteradas (KEOHANE E NYE , 1989).

A vulnerabilidade é um elemento importante para entender a estrutura política do

relacionamento interdependente. O ator com menor vulnerabilidade aos efeitos externos possui

maior poder de barganha nas relações internacionais porque possui uma vantagem: qualquer

alteração no seu relacionamento pode representar para ele custos menores que para os demais

parceiros (KEOHANE E NYE , 1989).

Destarte, é concluído que a existência da interdependência afeta a política internacional e

o comportamento das nações, significando para o Estado uma perda de seu status de ator

dominante, e praticamente único, da política mundial; o poder estatal foi obscurecido pelo

surgimento de novos atores internacionais, como as corporações multinacionais, os movimentos

sociais transnacionais e as organizações internacionais. Todavia, apesar de sua existência, os

Estados permanecem como os únicos capazes de controlar e regular as relações transnacionais e

interestatais (KEOHANE E NYE , 1989).

Nogueira e Messari (2005), argumentam que “o grau de integração e a complexidade da

9 Os conceitos de vulnerabilidade e sensibilidade são mais aplicados aos Estados do que aos demais atores internacionais devido às características de cada tipo de ator e às suas formas de participação no sistema internacional. Existe hoje uma proliferação institucional que, no entanto, não corresponde a uma verdadeira transferência ou delegação de competência por parte dos Estados. Esses conservam ainda seus poderes de decisão e estão incessantemente buscando a consolidação de suas influências.

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economia internacional tornam o aprofundamento de interdependência inevitável, forçando os

Estados a buscarem mecanismos para lidar com seus efeitos negativos”. Esta afirmação se aplica

ao caso estudado, pois a integração, gerada pela interdependência pós Guerra Fria, a cooperação

no âmbito comercial, fez com que a China se tornasse parceiro fiel do Brasil para o fornecimento

de minério de ferro, sendo este, trazendo seus efeitos negativos, já que o Brasil é um dos poucos

fornecedores capazes de suprir em termos de qualidade juntamente com quantidade e preço,

suprir as necessidades do mercado chinês, conceitos estes, profundamente estudados pelos

autores Keohane e Nye. Os mesmos, ainda distinguem dois tipos de efeitos produzidos pela

interdependência que são legitimamente aplicáveis ao caso estudado, ou seja , se aplica à China e

sua interdependência em relação ao minério brasileiro.Tais conceitos serão aplicados , no ultimo

capítulo, para melhor compreensão e comprovação da análise aqui feita.

O primeiro efeito é a sensibilidade “que indica o impacto, medido em termos de custos,

que uma ocorrência em um país tem sobre a sociedade do outro. Quanto maior for a

interdependência, maior a sensibilidade. O segundo efeito é a Vulnerabilidade, que mede os

custos das alternativas disponíveis para fazer frente diante do impacto externo” (KEOHANE E

NYE,1989). A vulnerabilidade de um país será alta quanto mais alto for o custo das iniciativas

necessárias para fazer frente ao efeito gerado pela interdependência (NOGUEIRA E MESSARI,

2005).

2.1.2 Composição do Comércio Exterior

A participação da China nos fluxos comerciais brasileiro vem crescendo rapidamente, não

só como destino das exportações, mas também como origem das exportações brasileiras. A

análise se se dará com a relação das exportações e importações entre o comércio Brasil-China,

como segue abaixo.

2.1.2.1 Exportações

De acordo com Estudos da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior, FUNCEX

(2004), O primeiro aspecto que chama a atenção no que se refere à composição das exportações

brasileiras para a China refere-se à importância dos produtos básicos, que responderam por nada

menos que 55,5% das exportações na média do período 2001-2003, ou o dobro da participação

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que tais produtos têm na pauta de exportações totais do país. Os produtos semimanufaturados

também têm peso mais elevado no comércio com a China, de 20,1% contra 14,7% no total. Em

compensação, as exportações de produtos manufaturados, que são responsáveis por 55,1% das

exportações totais do país, respondem por apenas 24,1% das vendas para a China.

A título de comparação, é interessante verificar se tal concentração em produtos básicos é

um fenômeno específico das vendas para a China ou se reflete um padrão de comércio típico do

Brasil com os países asiáticos em geral, Japão inclusive, sabendo-se que os países daquela região

são tradicionalmente grandes importadores de commodities.

Neste sentido, considerando-se mais uma vez a média do período 2001-03, a participação

dos produtos básicos nas exportações brasileiras para os países da Ásia-Pacífico,de 39,1%, situa-

se em um valor intermediário entre o padrão das vendas para a China e as vendas totais do país.

No caso das exportações para o Japão, a participação dos produtos básicos é relativamente mais

elevada (47,6%), mas ainda assim inferior ao dado referente à China (FUNCEX, 2004).

Em ambos esses casos, porém, o que se destaca é a participação proporcionalmente mais

elevada dos produtos semimanufaturados, de cerca de 30%, sendo superior tanto ao percentual da

China quanto ao das vendas totais do país. Isto nos permite concluir que, de fato, as exportações

brasileiras para a Ásia são efetivamente mais concentradas em produtos de menor grau de

elaboração – básicos e semimanufaturados (FUNCEX, 2004).

O caso da China, contudo, representa um exemplo extremo deste padrão, pois a maior

participação dos produtos básicos vis-à-vis os semimanufaturados implica que o nível médio de

elaboração dos produtos exportados para lá é ainda menor do que no caso dos demais países

asiáticos. É importante destacar, contudo, que após um período em que os básicos assumiram

posição predominante na pauta (entre 1995 e 1998), o perfil das exportações brasileiras para a

China vem mudando, com gradual perda de participação dos básicos e aumento dos

semimanufaturados e manufaturados. A participação dos básicos caiu de quase 70% em 1998

para apenas 50% em 2003, ao passo que a dos manufaturados, passou, no mesmo período, de

14% para 26% (FUNCEX, 2004). Segue abaixo as informações nos gráficos 1 e 2

respectivamente:

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GRÁFICO 1 - PARTICIPAÇÃO DAS CLASSES DE PRODUTOS NAS EXPORTAÇÕES DO BRASIL PARA A CHINA – Média 2001-2003( em %) Fonte: FUNCEX,2004

GRÁFICO 2 - PARTICIPAÇÃO DAS CLASSES DE PRODUTOS NAS EXPORTAÇÕES TOTAIS DO BRASIL- Média 2001-2003( em %) Fonte: FUNCEX,2004

A tabela 1 a seguir, mostrará, por setores, a composição das exportações brasileiras para

China segundo principais setores e produtos. O que surpreende neste caso é a grande

concentração de vendas em um número reduzido de setores e produtos.

Observa-se, por exemplo, que 47,5% das vendas para China referem-se a apenas dois

setores, Agropecuária e Extrativa Mineral, sendo que, em cada um deles, no ano passado, o

destino de 30,6% das exportações brasileiras de soja e de 22,1% das de minério de ferro. Observa

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mais de 90% referem-se a apenas um produto: soja, no primeiro caso, e minério de ferro, no

segundo. Aliás, a China foi, no ano passado, o destino de 30,6% das exportações brasileiras de

soja e de 22,1% das de minério de ferro (FUNCEX, 2004). Ainda de acordo com a Funcex

(2004), aumento recente do market-share10 brasileiro para a China estaria associado a um

crescimento acima do normal da demanda chinesa pelos produtos tradicionalmente vendidos pelo

Brasil, dentre ele, o estudado em questão minério de ferro, como mostrado na tabela (1) a seguir:

Tabela 1

Exportações Brasileiras para a China segundo setores e Produtos Selecionados Fonte:Ministério do desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,Dados disponíveis no site:http\\www.mdic.gov.br,acesso 22⁄11⁄2008

2.1.2.2 Importações

As importações brasileiras provenientes da China mantiveram-se em um patamar bastante

reduzido até os primeiros anos da década de 90, quando a liberalização comercial e a valorização

real do câmbio propiciaram um salto entre os anos de 1993 e 1997. Após um período de

estagnação elas voltaram a crescer rapidamente nos anos recentes, acumulando um crescimento,

em termos de quantum, de nada menos que 230% entre 1999 e 2003, em um momento em que o

quantum total registrou queda de 1,6%. Entretanto, o aumento da participação da China em na 10 A expressão tem como tradução participação no mercado e designa a fatia de mercado detida por uma organização, ou mesmo um país.

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pauta de importações, de 2,7 pontos percentuais entre 1999 e 2003, parece inserir-se em um

contexto mais amplo de diversificação das origens das compras brasileiras, uma vez que também

ganharam participação as vendas provenientes dos Demais Países Asiáticos, África, Oriente

Médio e Europa Oriental (MDIC, 2004).

Em termos de setores e produtos, a estrutura da pauta brasileira de importações

provenientes da China também apresenta um razoável grau de concentração. Os dois principais

setores, Equipamentos eletrônicos e Siderurgia, respondiam por 40% das importações em 2003, e

os cinco primeiros (que incluem também na média do período 2000-2002 – contra um percentual

de 66,2% referente às exportações totais do país. Segue abaixo, a tabela com as importações

brasileiras, por setor (TABELA 2):

Tabela 2

Importações Brasileiras da China segundo setores selecionados (Em US$ milhões e em %) Fonte: Funcex, 2004

Como se pode observar, o segundo setor da China que mais exporta, é justamente o que

requer como matéria prima, o minério de ferro, ou seja, a segunda matéria prima mais exportada.

O que se pode observar é um a complementaridade entre as estruturas produtivas de ambos os

países. Isto significa avaliar quanto do comércio Brasil-China se baseia no princípio das

vantagens comparativas, segundo o qual os países comercializam produtos bem diferentes,

beneficiando-se de grandes diferenciais relativos de custos de produção. Enquanto se exporta o

minério de ferro, a China, de acordo com sua demanda, utiliza-o para suprir suas siderúrgicas e

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na fabricação de equipamentos eletrônicos, ou seja, produtos acabados (FUNCEX, 2004).

Dado o expressivo crescimento de setores intensivos em commodities, a China tem sido a

principal responsável pela expansão da demanda mundial por produtos como minério de ferro, o

que tem beneficiado países exportadores de matérias-primas (ver Gráfico 3).Isto se deve pelo

aumento dos volumes exportados, como pela elevação generalizada dos preços de commodities

no mercado internacional

GRÁFICO 3 – DESTINO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE MINÉRIO DE FERRO – 2001. Fonte: BNDES ,2003.

O setor com maior representatividade nas exportações do Brasil para a China é o

Extrativo Mineral, impulsionado pela comercialização de minério de ferro. Desde o início da

década de 1990, as vendas desse segmento vêm crescendo de forma continuada e, à semelhança

do verificado para a Agropecuária, atingiram também o seu ponto de máximo em 2003, com um

total de US$ 830,6 milhões, correspondendo a uma participação de 18,3% na pauta (BNDES,

2003).

A expansão da China tem contribuído não apenas para elevar os preços das commodities,

mas também para o declínio nos preços de manufaturas, gerando, uma vez mais,uma dinâmica de

termos de troca desfavorável a países cuja pauta de exportação seja concentrada em manufaturas

(BNDES, 2002).

O crescimento chinês e sua grande presença no comércio internacional tem causado

grande interesse, no que se refere a seus impactos sobre outras economias emergentes.

Particularmente, cabe destacar os impactos da expansão chinesa sobre a economia mineira

(LIBÂNIO, 2007).

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Em linhas gerais, tais impactos obedecem aos mesmos condicionantes associados ao

padrão de especialização, ou seja, os efeitos da expansão chinesa dependem do padrão de

especialização setorial das economias, sendo que os países mais penalizados são aqueles cujas

estruturas produtivas competem diretamente com a China no comércio mundial (LIBÂNIO,

2007).

De modo geral, ainda para Libânio (2007), a experiência recente tem mostrado que o

Brasil e especificamente Minas Gerais, tem sido beneficiado pela expansão da China no cenário

mundial. As exportações brasileiras têm atingido recordes históricos no período, contribuindo

para a elevação da demanda interna e taxas de crescimento relativamente altas. Particularmente,

as exportações brasileiras para a China quadruplicaram entre 2002 e 2007, e hoje representam

cerca de 7% do total de exportações do país. Observa-se que o crescimento da economia mineira

nos últimos anos tem sido puxado principalmente pela indústria extrativa mineral (ver Gráfico 4).

GRÁFICO 4 - DEMANDA DE FERRO – IMPORTAÇÃO CHINESA DE MINÉRIO DE FERRO BRASILEIRO (milhões de tons.) Fonte: MDIC,2008.

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2.2 Minas Gerais - O Maior E Mais Tradicional Estado Minerador Do Brasil.

De acordo com os dados do Exportaminas (2008) Minas Gerais destaca-se no cenário

nacional como o principal produtor de minerais metálicos e não-metálicos do País, respondendo

por 35% do total da mineração brasileira. A produção vem aumentando significativamente com o

crescente interesse das empresas em explorar grandes reservas de minério de ferro, e minerais em

geral. O principal minério extraído é o de ferro.

Minas Gerais, em 2004, produziu 190.514 milhões de toneladas, 72,7% do total brasileiro

(262.029 milhões de toneladas). Em termos mundiais, o Brasil e a Austrália destacam-se como

grandes exportadores que dominam o mercado internacional do produto. A principal empresa

mineradora de ferro em atividade em Minas Gerais é VALE.

No Estado essa empresa opera os complexos mineradores de Itabira (Cauê, Conceição,

Dois Córregos, Onça, Esmeril, Chacrinha e Periquito), Mariana (Alegria, Timbopeba, Fábrica

Nova, Fazendão e Morro da Mina), Minas Centrais (Água Limpa, Brucutu, Córrego do Meio e

Gongo Soco), e Minas do Oeste (Córrego do Feijão e Fábrica). Além desses sistemas próprios, a

Vale é sócia da BHP Biliton na Samarco que explora o complexo de Alegria, em Mariana, e da

Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) , que é proprietária de várias minas em Nova Lima e em

Itabirito. A VALE é a segunda maior mineradora do planeta, em termos de valor de mercado

(EXPORTAMINAS, 2008).

A indústria extrativa mineral contribuiu com 4,5 % para o PIB de Minas Gerais em 2004.

Esta indústria é base da mais importante cadeia produtiva do Estado que engloba ainda os

seguintes segmentos industriais: metalurgia (siderurgia, zinco, nióbio, alumínio, fundição, ferro-

ligas), máquinas e equipamentos e o automobilístico (EXPORTAMINAS, 2008).

Maior produtor mundial de nióbio, mineral de larga utilização na indústria por suas

propriedades supercondutoras - sobretudo na fabricação de ligas de ferro-nióbio -, empregadas,

entre outras funções, na construção de turbinas de propulsão de aviões a jato e naves espaciais,

Minas Gerais foi responsável, em 2004, pela extração de 1,67 milhão de toneladas do produto. A

mineração também é um importante gerador de emprego no Estado. Em 2004 o segmento mineral

foi responsável pela ocupação de 38.107 postos de trabalho em Minas Gerais

(EXPORTAMINAS, 2008).

A movimentação financeira entre os dois países chega a 30 bilhões de dólares. Os

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chineses são os principais parceiros comerciais do nosso estado e a tendência é que essa parceria

fique ainda mais fortalecida (EXPORTAMINAS, 2008).

2.3 O “Efeito China” Em Minas Gerais

De acordo com estudos realizados por Libânio (2007), a economia de Minas Gerais esteve

historicamente associada, em maior ou menor grau, à produção e exportação de produtos

primários agrícolas ou minerais, como ouro, pedras preciosas, café e leite. Este caráter primário-

exportador ainda permanece como um dos aspectos mais marcantes da economia mineira. Dentre

os quinze maiores setores exportadores do Estado, oito podem ser considerados bens primários

ou semi-manufaturas baseadas em recursos naturais. Ademais, em 2007, 26% das exportações de

Minas Gerais correspondem a apenas a uma commoditie: minério de ferro. O gráfico abaixo

mostra os principais setores exportadores de Minas Gerais em 2007 (Gráfico 5).

GRÁFICO 5 - PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS – MINAS GERAIS ( 2007). Fonte: Ministério do desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Dados disponíveis no site:http\\www.mdic.gov.br; acesso em 22⁄11⁄2008.

O padrão de especialização primário-exportador da economia mineira reflete-se também

no perfil das maiores empresas exportadoras do estado. A maior exportadora em 2006 e 2007 , a

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mineradora, VALE, se enquadra no entanto no setor estudado. Devido a este padrão de

especialização, a economia de Minas Gerais apresenta elevado grau de complementaridade em

relação à China e, por esta razão, tem sido fortemente beneficiada pela maior inserção daquele

país na economia global. A seguir, nota-se que o minério de ferro responde por 80% das

exportações Mineiras para a China .

GRÁFICO 6 - EXPORTAÇÕES PARA CHINA – BRASIL E MINAS GERAIS ( 1996-2007). Fonte: Ministério do desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,Dados disponíveis no site:http\\www.mdic.gov.br,acesso 22⁄11⁄2008

Em termos do coeficiente de competição mencionado na seção anterior, Minas Gerais

apresenta-se em posição bem mais favorável que a economia brasileira como um todo, visto que

boa parte dos setores que mais se beneficiam do comércio com a China têm forte presença no

estado, como no caso estudado, o setor de mineração (LIBÂNIO, 2007).

Esta posição mais favorável da economia mineira em termos de padrão de especialização

é um elemento crucial para entender seu desempenho recente. A expressiva expansão da indústria

extrativa mineral desde 2001, cabe essencialmente á admissão da China na OMC

(LIBÂNIO,2007).

A correlação entre o crescimento da China e o desempenho do setor de mineração em

Minas Gerais fica ainda mais claro analisando-se o gráfico 6 acima, que mostra a trajetória das

exportações do Brasil e de Minas Gerais para a China. No caso de Minas Gerais, observa-se

expressiva expansão das exportações para a China nos últimos anos. Entre 2002 e 2007, as

exportações do Estado para a China cresceram seis vezes. Em 2007, a China passou a ser o

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principal destino para as exportações de Minas Gerais (15% do total exportado pelo estado). Cabe

notar que o minério de ferro é a commoditie mais exportada de Minas Gerais para a China

(LIBÂNIO, 2007).

No entanto, as perspectivas para o mercado mundial de minério de ferro são de

continuidade do crescimento do mercado transoceânico, especialmente das importações chinesas,

baseando-se na perspectiva de expansão de sua economia, aliado a substituição de parte de

minério doméstico pelo importado. Neste contexto apresenta-se o comportamento do mercado

transoceânico e as perspectivas para os próximos anos, considerando o “share” 11 crescente da

China como importador relevante (BNDES, 2007).

O objetivo deste capítulo foi mostrar como o “efeito China” tem contribuído

positivamente para o desempenho da economia de Minas Gerais, devido principalmente à

crescente demanda chinesa por produtos minerais e a conseqüente elevação dos preços destas

commodities no mercado internacional. Neste sentido, os argumentos que foram colocados aqui

seguem a idéia de que a economia de Minas Gerais apresenta um padrão de especialização com

alto grau de complementaridade em relação à China e, portanto, tem recebido impactos positivos

em seus principais setores exportadores, associados à produção agrícola e à extração mineral

(LIBÂNIO, 2007).

No próximo e último capítulo, será abordada a importância da Mineradora VALE para o

crescimento chinês, juntamente com a preferência da China em relação ao minério de ferro

brasileiro, associando a teoria de Interdependência e os conceitos de vulnerabilidade e

sensibilidade da China em relação à commoditie brasileira.

11 Entende-se por Share, fatia de mercado.

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CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DO GRAU DE SENSIBILIDADE E VUL NERABILIDADE DA

CHINA FRENTE O MINÉRIO DE FERRO DA VALE

Como demonstrado nos capítulos anteriores, a China adotou, de 1978 em diante, um

pragmatismo que levou Deng Xiaoping a transformar, em 25 anos, a velha e atrasada China numa

das potências mais admiradas do mundo. O crescimento chinês acima de 9% a.a. impulsionou a

demanda mundial pelo aço e pelas principais matérias-primas, como o minério de ferro. Os

ganhos auferidos com esse dinamismo originaram projetos de expansão, sobretudo no mercado

chinês, tornando o gigante asiático auto-suficiente e exportador líquido de aço, através do minério

de ferro advindo, maior parte, do Brasil e como mostrado no capítulo anterior, especificamente de

Minas Gerais.

Brasil e China são parceiros estratégicos, o aumento do fluxo comercial entre o dois e

complementaridade entre as duas economias, mostrada no capítulo anterior, aumentam cada vez

mais a interdependência existente. Na interdependência complexa, dois conceitos se mostram

bastantes relevantes para analisar as relações sino-brasileiras: a sensibilidade e a vulnerabilidade.

Em relação à Sensibilidade, pode-se dizer que esta está relacionada ao impacto, medido

em termos de custos, que uma ocorrência em um país tem sobre a sociedade do outro, e que

quanto maior for a interdependência, maior a sensibilidade. Já a vulnerabilidade diz respeito aos

custos das alternativas disponíveis para fazer frente diante do impacto externo (KEOHANE &

NYE, 1989; NOGUEIRA & MESSARI, 2005). Assim, a vulnerabilidade de um país será alta

quanto mais alto for o custo das iniciativas necessárias para fazer frente ao efeito gerado pela

interdependência. Embora não seja objetivo deste trabalho medir os custos da sensibilidade e da

vulnerabilidade, dada a falta de dados quantitativos para realizar os cálculos, é possível apontar

graus de sensiblidade e de vulnerabilidade, a saber: baixo, médio e alto.

Para avaliar a sensibilidade da China ao minério de ferro brasileiro, considera-se o efeito

que a ausência do suprimento brasileiro causaria na economia chinesa. Caso esse efeito seja

significativo considera-se alto o grau de sensibilidade; caso seja praticamente nulo, considera-se

o grau de sensibilidade baixo; casos intermediários são caracterizados por grau de sensibilidade

médio. Um raciocínio análogo serve à determinação do grau de vulnerabilidade. Para avaliar a

vulnerabilidade analisam-se as opções chinesas para a substituição do minério de ferro brasileiro

na ausência do produto brasileiro. Assim, se a China conseguir facilmente, ou sem grandes

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complicações, suprir seu mercado de minério de ferro na falta do produto brasileiro, a

vulnerabilidade chinesa ao minério de ferro brasileiro é considerada baixa. Caso a substituição do

minério de ferro brasileiro por outro seja muito difícil, ou com grandes complicações, a

vulnerabilidade é considerada alta. E caso o acesso ao produto alternativo seja possível, mas com

algumas complicações, a vulnerabilidade é considerada média.

3.1 BRASIL E AUSTRÁLIA: COMPETIÇÃO NO MERCADO CHINÊ S

A maior empresa de Mineração brasileira e a segunda mundial, a VALE, teve uma

alavancada em seu crescimento graças a grande demanda chinesa pela commoditie em foco

(BNDES, 2003).

O minério de ferro, principal produto da Vale ,é o segundo item de maior peso na pauta de

exportações brasileiras para a China, um país em construção, ávido por aço para sustentar suas

siderúrgicas. Graças a essa enorme demanda, a Vale pôde reajustar o preço do minério de ferro

em mais de 70% no início em 2005 (EXPORTAMINAS, 2008).

Juntamente com a Austrália, o Brasil detém a hegemonia do setor no mundo, onde atuam

grandes grupos, a exemplo da VALE - maior produtora de minério de ferro-, RTZ e BHP-

Billiton. O Brasil é também o maior produtor (45 milhões t/a) e exportador de pelotas do mundo,

com volume próximo de 35 milhões t/a (BNDES, 2003).

Os investimentos em execução da VALE, visam aumentar as exportações futuras de

minério de ferro, especialmente destinadas à Ásia, em particular para a China, detentora de

reservas pobres em teor de ferro e que vem intensificando a importação, tanto da Austrália quanto

do Brasil, em atendimento à sua produção siderúrgica. Estima-se que o mercado transoceânico

possa atingir 500 milhões t em 2006, com crescimento médio anual de 2,1%. Os preços do

minério de ferro são negociados anualmente com os consumidores siderúrgicos da Europa e do

Japão e, considerando-se o cenário de crescimento reduzido da siderurgia mundial, não estarão

sujeitos a alterações significativas nos próximos anos (BNDES, 2003).

Como visto, considerando que a China apresenta ser o maior comprador de minério de

ferro nos próximos anos, a ampliação das exportações brasileiras também poderia basear-se na

estratégia de associações ou joint-ventures com produtores australianos, visando alternativas de

insumos metálicos para o mercado em questão (BNDES, 2003).

Além disso, associações no Brasil para agregação de valor ao minério de ferro com

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produção de semi-acabados, propiciariam maior agregação de valor ao minério de ferro

possibilitando uma maior rentabilidade não só para a VALE como também para o País. As

mineradoras brasileiras vêm constantemente empreendendo esforços para uma maior inserção

internacional. A VALE apresenta posição preponderante no mercado internacional com as

vantagens de escala, custo de produção, produtos de alta qualidade, confiabilidade e prestação de

serviços ao cliente. Estes fatores aliados a uma estratégia agressiva de marketing podem conferir

às empresas e ao Brasil ampliação de marketshare no mercado internacional (BNDES, 2001).

De acordo com estudos promovidos pelo BNDES (2008), o minério de ferro é uma das

commodities de maior atratividade no cenário atual da mineração mundial. Seus produtores têm

obtido boas margens operacionais. Além disso, por ser mais negociado através de contratos de

longo prazo, é um produto que não está tão exposto a fortes oscilações de preço como ocorre com

as commodities comumente negociadas em bolsas. Ressalta-se, entretanto que os grandes grupos

mineradores têm buscado não concentrar-se fortemente em um segmento, como forma de reduzir

riscos.

A VALE, tem quase a totalidade de suas operações concentradas no território brasileiro,

com grande volume de exportações (ver Gráfico 7).

GRÁFICO 7 – FATURAMENTO POR SEGMENTO EM 2006 Fonte: BNDES, 2008.

Os minérios de ferro (aglomerado e não aglomerado) explicam cerca de 86% dos ganhos

de competitividade do segmento extrativo mineral e, aproximadamente, um quarto do total dos

ganhos obtidos pelos setores superavitários no mercado importador chinês (BNDES,2008).

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3.2 A Sensibilidade Chinesa ao Minério de Ferro Brasileiro

Como visto no presente trabalho, o minério de ferro tem sido o maior responsável pelo

aumento dos contratos internacionais de exploração e importação de matérias primas firmados

pela China. O país busca fornecedores não tradicionais do produto e aumenta investimentos em

mineração no exterior, com o objetivo de garantir novas fontes de abastecimento para sustentar o

crescimento econômico e reduzir sua dependência da VALE.

Existe uma interdependência de cunho comercial entre Brasil e China porque o Brasil tem

commodities primárias que a China busca com avidez para continuar crescendo, sendo ela o

minério de ferro, este então, brasileiro através da VALE, como mostra a tabela a seguir, (Tabela

3). O produto que a China mais importa como se vê, é o Minério de ferro, esta, a commoditie de

maior abundância no estado de Minas Gerais,tendo seu desenvolvimento atrelado à grande

demanda Asiática, como exposto no capítulo anterior.

Tabela 3

Exportações do Brasil para a China. Fonte: Ministério do desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,Dados disponíveis no site:http\\www.mdic.gov.br,acesso 22⁄11⁄2008

De acordo com as pesquisas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior (MDIC), as exportações brasileiras de minério de ferro para a China, apresentam ainda

mais perspectiva de crescimento. A demanda chinesa por commodities se expressa claramente na

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sua pauta comercial com o Brasil, tornando o país o maior importador do aço brasileiro.

O Brasil é um país com recursos naturais abundantes, os quais a China necessita. Calcula-

se, por exemplo, que as reservas de minério de ferro do Brasil chegaram a 50 bilhões de toneladas

(MDIC, 2008). A China, por sua vez, desenvolve a sua indústria de aço, as siderúrgicas,

apresentando um amplo mercado para o minério de ferro brasileiro.

A forte demanda chinesa por minério de ferro pode ser explicada pelos vultuosos

investimentos que estão sendo realizados no país no setor em infra-estrutura e pelo expressivo

crescimento da produção de bens de capital e bens de consumo duráveis derivados do

crescimento econômico interno, como já explicitado no capítulo anterior (MDIC, 2008).

Para o Conselho empresarial Brasil-China ,CEBC, (2007) a alta do preço do minério de

ferro no mercado internacional nos últimos anos, assim como do custo de transporte, tem

incentivado a China a buscar novas alternativas para o fornecimento da matéria prima em

questão. Entre 2004 e 2006, a extração de minério no país cresceu 69,4% e registrou recorde de

680 milhões de toneladas no último ano. Entre os investimentos previstos no setor está o contrato

de exploração de minas no oeste da província de Hubei, firmado entre o governo local e o

terceiro maior produtor de aço no país, Wuhan Iron & Steel. O custo estimado do projeto é de

US$ 1,8 bilhão.

Ao classificar o grau de Sensibilidade, é necessário observar a intensificação das relações

comerciais da China com produtores não tradicionais de minério de ferro. Contudo, essa

diversificação de fornecedores e o aumento do volume importado não garantem a manutenção do

mesmo padrão de qualidade observado no minério fornecido pela VALE. A maior parte dos

contratos garante o fornecimento de minério com muito menos de 65% de teor de ferro. Caso a

VALE pare de fornecer minério de ferro para a China, percebe-se que tal ação seria de alto grau

se sensibilidade, já que, os investimentos para com o minério advindo de outras fornecedoras

seriam muito altos se comparado com a importação do produto brasileiro (CEBC, 2007).

Investimentos nestes novos projetos, possuem retorno de longo prazo em razão do volume

de capital necessário para atenuar problemas com infra-estrutura, uma vez que as reservas

localizam-se em regiões de difícil acesso. No caso das reservas de minério no Gabão – adquiridas

pela China em 2006 após derrubar oferta realizada pela VALE – serão necessários três anos e

cerca de US$ 3 bilhões em investimentos em transporte e energia até que a produção seja iniciada

(CEBC, 2007).

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Outro aspecto importante na análise de grau de sensibilidade, é a do teor de ferro do

minério importado pela Austrália, por exemplo, que oscila entre 58% e 59%, sem contar as

impurezas, o que requer um tratamento especial e maior custo por parte das siderúrgicas

Chinesas, o contrário do minério Brasileiro (BNDES, 2003).

Concluímos dessa forma que, apesar de crescentes, os investimentos da China em

mineração no exterior ainda não atendem à demanda do país. Tampouco produzem efeitos sobre

o mercado da maior produtora mundial,a VALE, atualmente responsável por quase 30% do

fornecimento de minério de ferro.A busca por minério de qualidade continuará sendo o foco da

China. Dessa forma, o Brasil destaca-se no mercado mundial da commoditie em função da

qualidade e da quantidade de suas reservas e do tamanho da sua produção, bem como de sua

representatividade como exportador, fazendo com que a China tenha um alto grau de

sensibilidade frente ao minério vindo do Brasil (especialmente do estado de Minas Gerais).

(BNDES, 2003)

3.3 A Vulnerabilidade Chinesa ao Minério de Ferro Brasileiro

O Brasil é o maior produtor de Minério de ferro com participação de 19,1%, isso equivale

a 200 milhões de toneladas, como demonstra o gráfico dos maiores exportadores de Minério para

a China abaixo: (tabela número 4).

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Tabela 4

Maiores exportadoras mundiais de Minério de ferro. Fonte: BNDES, 2007.

Considerando o alto teor do minério de ferro de 65% em média, o país apresenta posição

diferenciada tendo em vista o teor médio 59% obtido na Austrália, de menos de 40%, na China.

(BNDES, 2003). O produto brasileiro apresenta vantagens mesmo em relação ao produto

doméstico, uma vez que o minério produzido pelas minas chinesas contém apenas 30% de teor de

ferro e são de difícil acesso. A VALE, que participa do grupo das cinco empresas brasileiras com

maior volume de exportação para o mercado chinês, detém o menor custo por unidade de ferro

entre as exportadoras globais congêneres. Em função de seus baixos custos de produção e do alto

teor de ferro do minério brasileiro, tem-se uma preferência pelo minério de ferro vindo do Brasil

e não de outros países, como Austrália, que segue no ranking da 2ª maior exportadora.

(EXPORTAMINAS, 2008).

A VALE, como maior fornecedora brasileira, apresenta posição preponderante no

mercado internacional com as vantagens de escala, custo de produção, produtos de alta qualidade,

confiabilidade e prestação de serviços ao cliente. Estes fatores aliados a uma estratégia agressiva

de marketing podem conferir à empresa e ao Brasil ampliação de share no mercado internacional

(BNDES,2001). A despeito das ameaças que pairam sobre vários dos setores industriais do

Brasil, alvos diretos da concorrência da monumental escala chinesa, os produtores nacionais de

commodities vivem um momento de euforia poucas vezes visto na história, e em mercados como

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os de minério de ferro, o Brasil possui vantagens inquestionáveis. O Brasil é o único país do

mundo, que consegue atender seu parceiro comercial, a China com uma reserva de ferro com

volume e qualidade incomparáveis com outro fornecedor chinês de minério de ferro, mesmo

sendo ele o fornecedor Australiano (BNDES,2003).

Analisando o grau de Vulnerabilidade, a China apresenta uma classificação média em

relação às importações de minério de ferro do Brasil, pois se pararmos de fornecer o commoditie

em questão, os outros parceiros, tais como Austrália, não conseguiriam suprir em termos de

quantidade e padrões de qualidade as exigências Chinesas,mesmo com o preço

competitivo.Como já exposto anteriormente, o Minério Brasileiro é o único que possui o teor de

ferro necessário para atender as demandas chinesas e o custo/benefício para suprir suas

siderurgias e garantir a sua produção.Afim de reduzir a dependência em relação ao Minério de

ferro vindo do Brasil, a China tem desenvolvido vários projetos, dentre eles o contrato de

exploração de minas na costa oeste de seu país. O custo estimado do projeto é de US$ 1,8 bilhão.

Embora tenha de fato ocorra aumento da produção interna, esta permanece insuficiente para

atender à demanda nacional. Como visto anteriormente, a diversificação de fornecedores e o

aumento do volume importado não garantem a manutenção do mesmo padrão de qualidade

observado no minério comercializado pela maior produtora mundial, dentre elas o minério vindo

da Austrália (CEBC, 2007).

Mesmo sendo o segundo maior parceiro da China para fornecimento da Commoditie, a

Austrália, forneceria o minério com uma qualidade inferior ao brasileiro, o que seria inviável para

a China, assim como a exploração das minas existentes na China, pois são de difícil acesso e o

custo para a exploração de tal não atenderia, de fato, a produção chinesa. .De acordo com a

análise de vulnerabilidade presumida anteriormente, o grau de vulnerabilidade aqui em questão ,

pode ser indicado como médio, levando em conta as argumentações anteriores e principalmente,

o custo/benefício (CEBC,2007).

Conclui-se neste último capítulo, que o minério de ferro apresenta grande importância

para a balança comercial brasileira, visto ser o maior item da pauta de exportações do país,

gerando grande grau de complementaridade e interdependência com a economia chinesa, já que

esta está demandando cada vez mais matérias-primas para suprir sua necessidade interna. Brasil

e Austrália, que dominam 68% do comércio internacional do minério, continuam competindo

para manter as suas participações no mercado internacional, levando em conta a preferência da

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China em relação ao Minério de ferro Brasileiro, vindo de Minas Gerais, através da mineradora

VALE.

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CONCLUSÃO

Pode-se constatar, ao longo do presente trabalho, que desde sua abertura econômica em

1978, o acesso do país ao mercado globalizado, cresceu extraordinariamente, e a partir desse

marco para a economia mundial, vem crescendo cada vez mais a demanda chinesa por várias

commodities, como em questão, o Minério de ferro, um dos principais produtos para o

desenvolvimento chinês e matéria prima para suas exportações, fazendo assim, com que a

complementaridade da Economia Brasileira, e do estado de Minas Gerais especificamente, e da

Chinesa, se tornem cada vez mais fortes.

Averigua-se também que a China tem se tornado um dos grandes destaques no cenário

econômico global nos últimos anos, em virtude de suas expressivas taxas de crescimento e de seu

peso crescente no comércio internacional. O crescimento da importância da China decorre não

apenas de seu desempenho, mas também do seu porte: o país tem a maior população do planeta –

cerca de 1,3 bilhões de habitantes – e atualmente a quarta maior economia, com um PIB de

aproximadamente US$ 3 trilhões.

Devida essa ascensão chinesa, a expressiva demanda por commodities tem provocado

substancial elevação de seus preços no mercado internacional e tem beneficiado países

exportadores de produtos primários assim como o Brasil e especificamente Minas Gerais. De

última instância, os efeitos da expansão chinesa dependem do padrão de especialização setorial

das economias, sendo que os países mais penalizados são aqueles cujas estruturas produtivas

competem diretamente com a China no comércio mundial.

Desta forma, procurou-se examinar as implicações do crescimento chinês para economia

de Minas Gerais, tendo como ponto de partida a China no cenário econômico globalizado ,

abordando a Interdependência Complexa dos autores Keohane e Nye (1989), e a relação existente

com a economia em destaque.Foi analisando também o desempenho recente da China e seu

padrão de especialização setorial, assim como os efeitos de sua expansão sobre a economia de

Minas Gerais.

Destarte, Conclui-se que o minério de ferro apresenta grande importância para a balança

comercial brasileira, visto ser o maior item da pauta de exportações do país, gerando grande grau

de complementaridade e interdependência com a economia chinesa, já que esta está demandando

cada vez mais matérias-primas para suprir sua necessidade interna. Brasil e Austrália, que

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dominam 68% do comércio internacional do minério, continuam competindo para manter as suas

participações no mercado internacional, levando em conta a preferência da China em relação ao

Minério de ferro Brasileiro, vindo de Minas Gerais, através da mineradora VALE. Portanto,

comprova-se a Hipótese de que a sensibilidade ao minério de ferro brasileiro é alta e a

vulnerabilidade média, devido a análise dos dados das seções 3.2 e 3.3 do presente trabalho.

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