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Ana Alice De Sousa Moreira CRIME ORGANIZADO Centro Universitário Toledo Araçatuba 2016

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Page 1: Ana Alice De Sousa Moreira - UniToledo › repositorio › bitstream...obtenção de prova; Investigação. ABSTRACT The organized crime come on a big problema in the presente because

Ana Alice De Sousa Moreira

CRIME ORGANIZADO

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2016

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Ana Alice De Sousa Moreira

Código 39153

CRIME ORGANIZADO

Trabalho acadêmico exigido como requisito

parcial para conclusão do curso de Direito, sob a

orientação do Prof. Me. Carlos Paschoalick

Antunes.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2016

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Banca Examinadora

Data da defesa: 22/09/2016

Orientador: Prof. Me. Carlos Paschoalick Antunes

Examinadores: Prof. Me. Gustavo Henrique Stábile

Prof. Me. Euller Xavier Cordeiro

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me conceder esta ínfima oportunidade.

Aos meus pais, não somente por todo amor e dedicação ao longo de minha vida,

mas também por sempre me apoiarem e incentivarem em minha formação. Tudo que

sou, o que conquistei e o que ainda irei conquistar devo a eles.

A todos os Professores da Graduação do curso de Direito, que tanto contribuíram

para a minha formação.

E ao meu professor e orientador Prof. Me. Carlos Paschoalick Antunes por seu

auxílio e por sua disponibilidade, indispensáveis para a elaboração do presente trabalho.

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“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-

vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do

que parecia impossível.” (Charles Chaplim)

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RESUMO

O crime organizado vem sendo um grande problema na atualidade devido a sua

facilidade de adaptação aos diversos meios de comunicação e transporte que evoluem

dia após dias. Desse modo, a extensão se suas atividades exigem meios de combate

eficientes.

A promulgação da Lei 12.850/13 possui grande relevância, pois com ela foram

inseridos novos meios para obtenção de prova e investigação.

Contudo, o objetivo do presente trabalho é examinar tais meios, considerando

assim a análise evolução da legislação desde a sua primeira lei sobre as organizações

criminosas, qual seja Lei 9.034/95.

Analisa-se também, a aplicação e atuação do agente infiltrado, o qual ganhou

uma melhor regulamentação através da novatio legis.

Após tais análises, verifica-se que a infiltração, finalmente regulamentada pela

nova lei, traz uma grande evolução nos meios de obtenção de prova à luz do direito

processual penal brasileiro.

A aplicação de tal meio de obtenção de prova, baseia-se nos princípios da

proporcionalidade, excepcionalidade e legalidade, a fim de se evitar os excessos que

podem ser cometidos pelo agente, bem como preservar as garantias e direitos

fundamentais dos investigados.

Palavras-chave: Crime Organizado; Agente Infiltrado; Lei 12.850/13; Meios de

obtenção de prova; Investigação.

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ABSTRACT

The organized crime come on a big problema in the presente because your easy

adaptability in many means of communication and freigth that group up day after.

Therely, the extension of your activities to demand eficiente meand os combat.

The promulgation of the Law 12.850/2013 have a big relevance, because with it

was inserted new means to obtain evidences.

In the other hand, the present monograph is examine this means, especially the

evolution, since the first law about organized crime, the Law 9.034/95.

Furthermore, we will study the infiltrated agente and your acting, that win the

best regulation wtih a novatio legis.

After this study, it appears the infiltrated generated na innovation in the taking of

evidence means in the light of the Brazilian criminal law.

The application this mean have with base many principles: propotionality,

excepcionality, and legality, in order to excesses that can committed by the agent and to

preserve the guarantees and fundamental rights of the investigated.

Key words: Organized crime; Infiltrated agent; Law 12.850/13; means of obtaining

evidence. Ivestigation.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 9

1. CRIME ORGANIZADO......................................................................................................... 10

1.1 Origem e desenvolvimento ................................................................................................ 10

1.2 Conceito e características .................................................................................................. 12

2. CRIME ORGANIZADO NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO ................................................. 17

2.1 Crime Organizado no Brasil .............................................................................................. 17

2.2 Evolução da legislação brasileira ...................................................................................... 19

2.3 Promulgação da nova Lei do Crime Organizado (lei nº 12.850/13) ................................. 25

3. MEIOS DE PROVA DE INVESTIGAÇÃO INSERIDOS PELA NOVA LEI ...................... 28

3.1 Meios de prova e investigação .......................................................................................... 28

3.2 O agente infiltrado ............................................................................................................. 34

3.3 Limites e exigências para atuação do agente infiltrado ..................................................... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 49

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INTRODUÇÃO

As organizações criminosas ganharam destaca com o passar dos anos, desse

modo o presente trabalho irá abordar a complexidade em se construir uma definição

para as Organizações Criminosas, bem como a evolução da legislação em torno do

assunto.

O estudo terá início a partir da origem de tais organizações e suas principais

características.

Noutro giro, o projeto irá versar sobre a Lei 12.850/13 que foi publicada

recentemente, a qual insere no ordenamento jurídico meios de prova e investigações

visando facilitar o combate ao crime organizado. Também é trazida pela mencionada

lei, uma definição mais clara sobre as organizações criminosas.

A publicação da referida lei reforçou o instituto do agente infiltrado. Neste

projeto iremos estudar analisar a infiltração de agente como meios de prova, e a sua

problemática que é voltada a possibilidade de cometimento de delitos pelo agente.

Para a realização do presente estudo, foi utilizado o método de pesquisa

dedutivo, consultando-se bibliografias e legislações pertinentes.

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1. CRIME ORGANIZADO

1.1 Origem e desenvolvimento

O crime organizado, mesmo não se tratando de um tema recente, ainda continua

sendo um grande problema a ser enfrentado nos dias de hoje, seja decorrente de seu

poder, seja de sua influência na sociedade.

Devido à modernização dos meios de comunicação, o crime organizado se

expandiu de tal maneira que fora capaz de abrir espaços para atuação em diversos

mercados. Por conta disso, é possível observar que existe uma grande propensão

empresarial, com uma impecável organização e altamente capacitada, visando lucro por

meio de objetos ilícitos, livres de qualquer vinculação institucional ou legal.

A atuação do crime organizado preocupa cada vez mais a sociedade, bem como

as autoridades, vez que além de gerarem instabilidade política e social, também se

utilizam de violência para a execução de seus delitos, dando origem a grupos armados

com poderio bélico, igual ou comparável, em alguns casos até súpero ao da força

policial.

A prática dessas organizações retrocede ao início do século XVII em Londres,

onde Jonathan Wild liderava uma gangue que emprenhava seu trabalho na prática de

furtos, roubos e extorsão.

É notória a complexidade dessas organizações, levando em conta as diferentes

circunstâncias que dão origem a elas. Como por exemplo, nos Estados Unidos, a origem

do crime organizado se deu por conta da Volstead Act, sabida por Lei seca, a qual

restringia o consumo e a fabricação de álcool, dessa forma os grupos eram destinados ao

contrabando e disseminação das bebidas alcoólicas no país. Com o passar dos anos,

esses grupos ampliaram suas atividades, atingindo a prostituição, jogos ilegais, bem

como o tráfico de drogas.

Já algumas organizações, como as Máfias Italianas, Tríades Chinesa e a Yakusa

Japonesa detinham os mesmos objetivos, de combater os abusos cometidos pelos que

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possuíam poderes, contando com a colaboração de autoridades corruptas em regiões

onde se sucediam movimentos político-sociais.

Frisa-se, que além da exploração de drogas, em muitos países de Terceiro

Mundo, as organizações criminosas empenham-se também na corrupção de funcionários

públicos e políticos.

Já no Brasil, segundo relatos publicados por GONÇALEZ, Alline Gonçalves;

BONAGURA, Anna Paola et al. In “Crime Organizado” (2004: p. 03):

No Brasil, a associação criminosa derivou do movimento conhecido como

cangaço, cuja atuação deu-se no sertão do Nordeste, durante o século XIX,

como uma maneira de lutar contra as atitudes de jagunços e capangas dos

grandes fazendeiros, além de contestar o coronelismo. Personificados na

figura de Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião” (1897-1938), os

cangaceiros tinham organização hierárquica e com o tempo passaram a atuar

em várias frentes ao mesmo tempo, dedicando-se a saquear vilas, fazendas e

pequenas cidades, extorquis dinheiro mediante ameaça de ataque e pilhagem

ou sequestrar pessoas importantes e influentes para depois exigir resgates.

Para tanto, relacionavam-se com fazendeiros e chefes políticos influentes

contavam com a colaboração de policiais corruptos, que lhes forneciam

armas e munições.

No Brasil, duas organizações se destacam o Comando Vermelho e o Primeiro

Comando da Capital, conhecido como PCC. Ambas surgiram dentro do sistema

penitenciário.

O Comando Vermelho teve origem nas penitenciárias do Rio de Janeiro na

década de 1980, visavam o controle do tráfico de drogas nos morros da cidade.

Beneficiavam-se por meio da falta de atuação do Estado dentro das favelas, e valia-se

de táticas de guerrilha urbana influenciadas por grupos de esquerda armada, para

dominar o espaço.

O Primeiro Comando da Capital surgiu em torno de 1990 no Estado de São

Paulo, o qual segundo alguns estudos essa organização surgiu com o intuito de

promover melhoria das condições dentro dos presídios. Atualmente é responsável por

grande parte das rebeliões e atentados ocorrentes nas penitenciárias. Possui uma

hierarquia e uma forte estrutura econômica, bem como estatuto próprio.

Não há como deixar de notar quanto o crime organizado vem se desenvolvendo

ao longo dos anos, incluindo em suas atividades o tráfico ilícito de animais, o qual tem

altíssimo caráter lucrativo, além disso, também, o comércio ilegal de madeira, na região

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da Mata Atlântica e da Amazônica, tendo a suposta colaboração de funcionários do

IBAMA.

Ademais, não podem ser esquecidas as organizações criminosas especializadas

no desvio de valores absurdamente altos dos cofres públicos para contas particulares

abertas em paraísos fiscais no exterior, envolvendo escalões dos Poderes Legislativo,

Judiciário e Executivo.

1.2 Conceito e características

O conceito do crime organizado ainda é uma discussão bastante controvertida,

embora haja várias definições normativas em muitos ordenamentos, devido à

dificuldade de se chegar a um conceito unívoco que alcance todas as peculiaridades e

diversidades das manifestações delitivas. Ademais, como dito anteriormente, as

atividades desses grupos estão sempre evoluindo, buscando maneiras mais lucrativas de

atuação, bem como formas de escapar da persecução penal.

Todavia, o crime organizado é uma organização extremamente rígida, possui um

seguimento “dinástico”, rígida disciplina interna, confrontos internos pelo poder,

métodos severos de punição, execução de atividades tanto ilícitas quanto lícitas, altos

lucros, utilizam-se de corrupção política e social para atingir seus objetivos, bem como

são distribuídas geograficamente por zonas, e possuem como dito anteriormente, lucros

extraordinários.

Seus integrantes são escolhidos por meio de iniciações que buscam tanto na

corrupção quanto na violência alcançar o silêncio e a obediência de seus próprios

membros e até mesmo de terceiros, pretendendo atingir seus objetivos financeiros.

Alberto Silva Franco (1994 apud LEVORIN, 2012, p. 32-33) nesse sentido

leciona que:

(...) o crime organizado possui uma textura diversa: tem caráter transnacional

na medida em que não respeita as fronteiras de cada país e apresenta

características assemelhadas em várias nações; detém um imenso poder com

base em estratégia global e numa estrutura organizativa que lhe permite

aproveitar as fraquezas estruturais do sistema penal; provoca danosidade

social de alto vulto; tem grande força de expansão compreendendo um grama

de condutas infracionais de moderna tecnologia; apresenta um intrincado

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esquema de conexões com outros grupos delinquenciais e uma rede

subterrânea de ligações com os quadros oficiais de vida social, econômica e

política da comunidade, origina atos de extrema violência, urde mil disfarces

e simulações e, em resumo, é capaz de inerciar ou fragilizar os Poderes do

próprio Estado.

Noutro giro, conforme os ensinamentos do sociólogo Guaracy Mingardi (1998

apud Neto, 2012, p. 59):

O crime organizado caracteriza-se pela previsão de lucros, hierarquia,

planejamento empresarial, divisão de trabalhos, simbiose com o Estado,

pautas de condutas estabelecidas em códigos e procedimentos rígidos, divisão

de trabalhos, simbiose com o Estado, pautas de condutas estabelecidas em

códigos e procedimentos rígidos, divisão territorial, etc. Configura um

verdadeiro e próprio poder criminal em concorrência ou em substituição aos

poderes legais do Estado.

No que diz respeito as característica de uma organização criminosa, destaca-se o

entendimento de Fausto Martins de Sanctis (2009, p.8):

(...) o conceito de um crime organizado sempre envolve estrutura complexa e,

de certa forma, profissionalizada. Não se trata apenas de uma organização

bem feita, não sendo somente uma organização internacional, mas se

caracteriza pela ausência de vítimas individuais e por um determinado modus

operandi, com divisão de tarefas, utilização de métodos sofisticados,

existência, por vezes, de simbiose com o Poder Público, além de alto poder

de intimidação (forja clima de medo, fazendo constante apelo à intimidação e

à violência).

Nota-se, desse modo, que não existe um único conceito capaz de reproduzir com

nitidez o que se refere o crime organizado. Porém, existe uma concordância na doutrina

relacionada a algumas características que são semelhantes nessas organizações. Nesse

sentido, a professora Ana Flávia Messa (2012), elenca algumas dessas características

consideradas primordiais:

1) Complexidade estrutural: no interior de uma organização existem regras

próprias a serem seguidas por seus integrantes. Ademais, os objetivos são

estabelecidos previamente, além de serem elaborados minuciosamente. Seu

modo de atuação varia ao longo do tempo e espaço. Possuem esquemas

profissionalizados, além de uma estrutura apropriada.

2) Divisão orgânica hierárquica: A organização estrutural é semelhante à

estrutura e modus operandi de uma empresa, posto que exista um comando

central que fica responsável pela tomada de decisões e planejamento das

atividades a serem executadas pelos demais. Essa estrutura é organizada em

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níveis, de acordo com o comprometimento dos membros na realização das

atividades.

3) Divisão funcional: está vinculado a duas características citadas

anteriormente. Cada integrante tem suas valências e tarefas bem definidas,

demonstrando esse caráter de aperfeiçoamento na delegação de funções.

4) Divisão territorial: as organizações têm estabelecidas limitadamente suas

áreas de atuação. São comandadas por uma sede, onde se concentra as

tomadas de decisões. Normalmente o que define essa demarcação e o poder

de controle dessas áreas são a força e intimidação de cada organização.

5) Estreitas ligações com o poder estatal: para o desenvolvimento de suas

atividades ilícitas, as organizações necessitam exercer sua influência sobre as

instituições estatais, sendo através do próprio controle do poder estatal ou

mesmo, da corrupção de agentes. Beneficiam-se através das falhas do Estado

para provocar a instabilidade política e social.

6) Atos de violência: é o modo com que as organizações executam suas

atividades, ignorando quaisquer princípios e valores constitucionais,

implantando o medo e a insegurança, se não se sujeitando a qualquer limite

no que diz respeito ao uso da força.

7) Obter lucro indevido: as atividades executadas pelas organizações

criminosas possuem um objetivo em comum, qual seja, a obtenção de lucros

ilícitos e indevidos, é uma característica peculiar dessas organizações.

8) Detentora de um poder econômico elevado: é cediço que as organizações

buscam atividades visando altos lucros, onde estabelecem mercados e

conquistam nichos, desse modo, sua organização e controle permitem que

elas acumulem riqueza e poder.

9) Capacitação funcional: os integrantes dessas organizações são selecionados,

de forma que será apenas escolhido o que realmente têm algo a oferecer. Os

recrutados receberão instruções e capacitação para o desemprenho das

atividades.

10) Grande capacidade de intimidação: as organizações criminosas detém uma

grande capacidade de intimidar, e isso é primordial para sua atuação, uma

vez que tal intimidação dificulta intromissão de agente públicos e da própria

população, mas também é uma forma de manter o sigilo, procedendo com

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extrema violência, caso por ventura algum de seus integrantes venham a se

tornar um delator.

11) Clandestinidade: as organizações necessitam desempenhar suas atividades

usando simulações e disfarces, visto que agem á margem da lei. É natural

que haja uma vasta rede de corrupção de modo a ocultar ou revestir de

legalidade essas atividades ilegais.

12) Caráter transnacional: a atuação das organizações mudou conforme surgiam

inovações tecnológicas, dessa forma passaram a ter uma enorme capacidade

de adaptação à nova realidade, expandindo-se rapidamente, tornando-se

assim um fenômeno globalizado.

13) Danosidade social de alto vulto: o uso da violência, de armas de fogo e da

corrupção, bem como o grande número de envolvidos, tornam os danos

causados por essas organizações vultosos.

14) Associação estável e permanente com planejamento e sofisticação de meios:

os integrantes das organizações agem em conjunto e de maneira metódica,

visando facilitar a execução de uma atividade. Suas condutas devem ser

compatíveis para que sejam bem sucedidas as atividades, alcançando o

objetivo em comum.

15) Impessoalidade da organização: a disposição de seus membros permanece na

mais absoluta discrição, a fim de que seja evitada a persecução penal e até

mesmo para manter as operações e o funcionamento preservados.

Para Marcelo Batlouni Mendroni (2009), existem 04 (quatro) formas básicas de

classificar as organizações criminosas, quais sejam:

1) Organização criminosa tradicional: organismo ou empresa, do qual o

objetivo busca a prática de crimes de qualquer natureza. Refere-se ao modelo

clássico, tendo como principal exemplo a Máfia. Sua estrutura é hierárquica-

piramidal, com no mínimo três níveis e constituída por “chefe”, “subchefes”,

“gerentes” e “aviões”, pessoas designadas para funções específicas. Suas

tarefas se dividem de acordo com as especialidades e subdividem-se em

estrutura modular, determinada pelas diferentes etapas das atividades. São

bem exigentes quanto à escolha de seus integrantes, devem o candidato

preencher vários dos requisitos, dentre os principais, se comprometer a

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obedecer, manter o sigilo e seguir ordens. Outra característica que se destaca

é a participação de agentes públicos, de maneira que proporcionam a

execução das atividades ilegais. Seu principal objetivo é a obtenção de lucro

fácil e ilícito e exercem seu poder em determinado território.

2) Rede: é ligada à globalização, tendo caráter provisório e não possuem

estrutura hierárquica como as organizações tradicionais. Esses grupos se

agregam durante certo período para colocarem em prática determinada

atividade, e depois se desfazem, após, seus integrantes se juntam a novos

grupos em locais distintos.

3) Empresarial: tem origem na esfera das empresas licitamente constituídas que

tem como lícitas suas atividades primárias, valendo de tais atividades para

acobertar as atividades ilegais, como por exemplo, crimes fiscais, lavagem

de dinheiro, estelionato, fraudes em licitações, crimes ambientais, entre

outros.

4) Endógena: são organizações criminosas formadas por agentes públicos dos

mais diversos níveis, que agem dentro da própria estrutura estatal,

cometendo crimes contra a administração pública, quais sejam concussão,

prevaricação e corrupção.

Independentemente do conceito dado ou da forma que se apresente o crime

organizado, é encoberta sua lesividade perante a sociedade e as instituições

democráticas. Como u m parasita essas organizações vão se fortalecendo, vão se

ampliando e se infiltrando nas estruturas sociais.

Sua alta predisposição de transformação apresenta as mais variadas

peculiaridades, necessitando um aperfeiçoamento constante dos mecanismos de

enfrentamento à criminalidade. Demandam assim, respostas rápidas e eficientes do

Estado.

Entende o autor Flávio Cardoso Pereira (2012), que o controle preventivo e

repressivo da organização criminosa deve partir de 03 (três) principais pontos, sendo: o

tratamento legislativo em relação ao Direito Penal substantivo, uma política criminal e

medidas eficazes propícias na esfera do Direito Processual Penal, de modo exclusivo

com o melhoramento dos meios de investigação.

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2. CRIME ORGANIZADO NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO

2.1 Crime Organizado no Brasil

O crime organizado no Brasil, além de valerem-se do narcotráfico e da

exploração de jogo, também se beneficiam através de sequestros com o intuito de pedir

resgate sob as vítimas. No decorrer dos anos esses sequestros ocorreram com grande

frequência, proporcionando a essas organizações uma grande fortuna.

Ademais, foram encontradas várias organizações nacionais que através de

frequentes golpes lesaram o Erário Público apoderam-se de grandes quantias em

dinheiro.

Além disso, estruturam-se grupos de trapaceiros, que se beneficiam da fé e da

credulidade de milhares de pessoas, para arrecadar altíssimos valores em dinheiro,

possibilitando que tenham livre acesso às áreas de comunicação de massa e até

rendimentos políticos.

Atualmente essas organizações estão agindo particularmente em furtos e roubos

de carros e cargas, bem como assaltos a carros de valores, furto e apropriação de

dinheiros por intermédio da internet.

Por volta da década de 80, Tommaso Buscheta, ora conhecido por “Dom

Masimo”, teria sido o primeiro mafioso italiano a ingressar no Brasil. Após, passaram a

ser detectada a presença de vários chefes mafiosos utilizando o Brasil como sede para

remeter drogas a Europa. É cediço que esses mafiosos estão usando o Brasil para fundar

seus “negócios”, inclusive usando mulheres para realizarem o transporte internacional

de drogas.

A máfia chinesa tem como objetivo o tráfico de heroína em todo o Brasil, no

entanto, tem como sede de operações a cidade de São Paulo. Além do tráfico, cobra

“taxas de proteção” de orientais que estão irregularmente no país.

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A Yakusa, máfia chinesa, é acusa de controlar casas noturnas e clube de jogos

no Brasil com o intuito de aliciarem mulheres em várias capitais para se prostituirem no

Japão.

A respeito do narcotráfico, o Brasil de torna o centro do refinamento e da

distribuição de drogas, em razão de sua vasta extensão territorial e em virtude de dividir

fronteira com a Bolívia, Peru e Colômbia que são os principais produtores de tóxicos do

mundo. Compreende que passam mais de 200 toneladas de cocaína por ano no Brasil.

Conforme pesquisas realizadas pela ONU, o Brasil ganhou destaque de

consumidor no mercado mundial de droga nos últimos 05 anos. Até então, era destaque

apenas como rota de comércio de mercadoria e não como consumidor.

Dentre as atividades mais lucrativas do crime organizado, destaca-se a venda de

drogas, sobretudo heroína, cocaína e as sintéticas. Os valores arrecadados com essa

atividade são estimados entre US$ 300 e US$ 500 bilhões de dólares. Em segundo lugar

ganha destaque o tráfico de armas e em seguida o tráfico de pessoas, que visa à

prostituição, o comércio de órgãos e até mesmo o trabalho escravo. Por último e não

menos importante, destaca-se a corrupção e a lavagem de dinheiro. O destino mais

costumeiro dos lucros arrecadados com o crime organizado são os paraísos fiscais.

A origem do crime organizado no Brasil está na política de governos pretéritos e

atuais. Nas grandes metrópoles, em área onde não existe a presença do poder público,

surgiram situações em que há um Estado formal e um não formal. Havia acordo entre o

asfalto e a favela, no qual um não provocaria o outro. Mas a situação já não é mais a

mesma, posto que o traficante não necessite mais da favela, pois é temido pela

sociedade.

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2.2 Evolução da legislação brasileira

Para regulamentar a utilização de meios operacionais para a punição e prevenção

do crime organizado, foi publicada a Lei nº 9.034 em 03 de maio de 1995.

A problemática da Lei era a falta de definição legal quanto à organização

criminosa o que gerou certa inconsistência na aplicação, sendo ela, limitada às

associações criminosas previstas nos artigos 2º e 35 das respectivas leis 11.343/06 e

2.889/56, bem como, aos crimes de quadrilha ou banco, trazidos pela antiga redação do

Código Penal em seu art. 288.

Nesse sentido observa-se a lei de seu art. 1º:

Art. 1º Esta lei define e regula meios de prova e procedimentos

investigatórios que versarem sobre crime resultante de ações de

quadrilha ou bando.

Conforme o entendimento do professor Francisco Tolentino Neto (2012, p.58):

Resta clara a intenção do legislador em criar um novo tipo penal, a

“organização criminosa". No entanto, sua omissão conceitual deixa a

cargo do intérprete do direito a fixação dos limites de entendimento

sobre essa modalidade delituosa. Com efeito, abre-se espaço para a

ocorrência de deliberações, uma vez que não há definido elementos

fundamentais para a identificação do tipo, nem mesmo a condutas

passíveis de punição por constituírem essa modalidade.

Tal situação gerou discussão, o que gerou o surgimento de duas correntes

doutrinárias em torno da definição das organizações criminosas.

A primeira corrente acreditava que quadrilha ou bando eram sinônimos de

organizações criminosas, sendo assim a Lei 9.034 estaria amparada pelo art. 288 do

antigo Código Penal, não havendo qualquer diferença relativa à sofisticação e

complexidade desse conjunto de agentes.

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Para a segunda corrente a complexidade e a sapiência eram elementos

primordiais para o desempenho das atividades das organizações criminosas. Sendo

assim, a conceituação de organização criminosa ultrapassava aquele conceito de

quadrilha ou bando, assentindo que a Lei era omissa quanto ao elemento que

distinguisse do tipo previsto no art. 288 do Código Penal. Esse posicionamento não foi

aceito, visto que não possuía argumentos específicos que fizessem entender que

quadrilha ou bando eram termos sinônimos de organização criminosa.

Sobre o assunto, resume Fernando Capez (2012, pp. 264-265):

A Lei n. 9.034/95, em seu texto original, regulava apenas os meios de

prova e procedimentos investigatórios que versassem sobre quadrilha

ou bando, sem mencionar organizações criminosas. Existia, portanto,

um descompasso entre o enunciado, que colocava como objeto da

regulamentação legal as organizações criminosas, e a redação

restritiva do art. 1º, que falava apenas em crime praticado por

quadrilha ou bando. Ficava a dúvida: afinal de contas, a lei se refere à

quadrilha ou ao bando, conforme em seu art. 1º, ou às organizações

criminosas, mencionadas no enunciado? Surgiram, então, duas

posições:

a) organização criminosas é sinônimo de quadrilha ou bando, delito

enfocado pela legislação em tela;

b) organização criminosa é mais do que quadrilha ou bando, ou seja,

constitui-se de quadrilha ou bando mais alguma coisa (que a lei não

disse o que é).

A fim de melhor esclarecer o art. 1º, foi alterado pela Lei 10.217/01, passando a

vigorar o seguinte texto:

Art. 1o Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos

investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações

praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações

criminosas de qualquer tipo.

Novamente tal assunto gerou diversas posições doutrinárias, o que

consequentemente ocasionou uma insegurança jurídica, assim, Alberto Silva Franco

(2001, p. 576) se manifestou:

O art. 1º da Lei n. 10.217/01 equipara rigorosamente quadrilha ou

bando a organizações ou associações criminosas de qualquer tipo.

Essa equiparação deixou ainda mais vulnerável o dispositivo penal na

medida em que não foi formulada - tal como já havia ocorrido

anteriormente - a descrição de organização criminosa e, agora, da

associação criminosa de qualquer tipo.

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Diante dessa lacuna, tratou a doutrina de estipular uma definição para as

expressões quadrilha ou bando, sendo o entendimento majoritário à época, o mesmo

que estaria estabelecido pela antiga redação do art. 288 do CP, qual seja uma associação

composta por mais de três pessoas para o fim de cometer crimes.

Já no art. 14 da Lei nº 6.368/76 já revogada, que tratava do tráfico ilícito ou uso

de substâncias entorpecentes, definia a associação criminosa sendo formada por duas

ou mais pessoas com o fim de praticar, habitualmente ou não, crimes previstos nos arts.

12 ou 13 da mesma lei. O art. 2º da Lei 2.889/56 que versa sobre o genocídio e os arts.

16 e 24 da Lei 7.170/83 que versa sobre a segurança nacional, também se referiam sobre

as modalidades de associações criminosas.

Todavia, tal definição sempre foi conhecida por sua dificuldade em razão de

controvérsia e complexidade, nesse sentido pontuou Guilherme de Sousa Nucci (2013,

p.13):

O conceito de organização criminosa é complexo e controverso, tal

como a própria atividade do crime nesse cenário. Não se pretende

obter uma definição tão abrangente quanto pacífica, mas um

horizonte a perseguir, com bases seguras para identificar a atuação

da delinquência estruturada, que visa ao combate de bens jurídicos

fundamentais para o Estado Democrático de Direito.

A ausência de definição gerava insegurança jurídica, o que dava abertura para as mais

diversas interpretações.

Tal definição ficou omissa até a entrada em vigor do Decreto nº 5.015/2004, que

publicou a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, que assim

trazia em seu art. 2º:

Art. 2º - Para efeitos da presente Convenção, entende-se por: a) "Grupo

criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente

há algum tempo e atuando concentradamente com o propósito de cometer

uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a

intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro

benefício material;

b) "Infração grave" - ato que constitua infração punível com uma pena de

privação de liberdade, cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com

pena superior; (...).

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Alguns autores acreditava que por se tratar de um tratado internacional não teria

capacidade para definir crimes e penas na esfera do direito interno, o que demandava

que a lei fosse debatida e aprovada pelo parlamento brasileiro.

Um tratado internacional possui apenas jus puniendi no âmbito do direito

internacional, assim não pode determinar tipos penais e sanções no Direito Penal

Brasileiro.

Acatando esse posicionamento o Ministro Marco Aurélio, ao julgamento do

Habeas Corpus nº 96.007 – SP assimilou pela inaplicabilidade do crime praticado por

organização criminosa, previsto no art. 1º, inc. VII da Lei 9.613/98, que define como

conduta atípica, pois só fora conceituada por meio da Convenção de Palermo, não

havendo quaisquer definições de organização criminosa no ordenamento jurídico

brasileiro, assim vejamos:

Não é demasia salientar que, mesmo versasse a Convenção as

balizas referentes à pena, não se poderia, repito, sem lei em sentido

formal e material como exigido pela Constituição Federal, cogitar-se

de tipologia a ser observada no Brasil. A introdução da Convenção

ocorreu por meio de simples decreto!

Ressalta-se um trecho do voto-vista da Ministra Cármen Lúcia (HC 96.007 –

SP), qual foi proferido nos mesmos autos:

A definição emprestada de “organização criminosa” acrescenta à

norma penal elementos inexistentes, numa intolerável tentativa de

substituir o legislador que não se expressou adequadamente, o que é

defeso em Direito Penal.

Dessa forma, mesmo que a Convenção de Palermo trouxesse um conceito à

organização criminosa, o Decreto nº 5.015/04 ainda não conseguiu perfazer a lacuna

acerca das sanções aplicadas aos crimes cometidos pelas organizações.

Luiz Flávio Gomes (2014) pontuou a respeito da inaplicabilidade:

1º) a definição de crime organizado contida na Convenção de

Palermo é muito ampla, genérica, e viola a garantia da taxatividade

(ou de certeza), que é uma das garantias emanadas do princípio da

legalidade;

2º) a definição dada, caso seja superada a primeira censura acima

exposta, vale para nossas relações com o direito internacional, não

com o direito interno; de outro lado, é da essência dessa definição a

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natureza transnacional do delito (logo, delito interno, ainda que

organizado, não se encaixa nessa definição). Note-se que a

Convenção exige "(...) grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há

algum tempo e atuando concentradamente com o

propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas

na Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um

benefício econômico ou outro benefício material". Todas as infrações

enunciadas na Convenção versam sobre a criminalidade

transnacional. Logo, não é qualquer criminalidade organizada que se

encaixa nessa definição. Sem a singularidade da transnacionalidade

não há que se falar em adequação típica, do ponto de vista formal;

3º) definições dadas pelas convenções ou tratados internacionais

jamais valem para reger nossas relações com o Direito penal interno

em razão da exigência do princípio da democracia (ou garantia da LEX

populi).

Em 2012 foi publicada a Lei 12.649/12 e com ela surgiu à primeira definição

relacionada às organizações criminosas. Em seu art. 2º a Lei estabelece que:

Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a

associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e

caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo

de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a

prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos

ou que sejam de caráter transnacional.

Percebe-se que tais alterações trazidas pela Lei são sutis, porém bastante

relevantes. Nesse sentido Rogério Sanches Cunha aponta quatro requisitos para se

caracterizar uma organização criminosa de acordo com o conceito dado pela Lei:

1. É imprescindível a reunião sólida (quanto à estrutura) de um

número plural de pessoas.

2. A caracterização da organização criminosa depende da existência

de hierarquia e divisão de funções.

3. A finalidade da organização deve ser a obtenção de vantagem (não

necessariamente econômica)

4. Percebe-se que, no Brasil, a organização criminosa não precisa

ter, obrigatoriamente, caráter transnacional. Se nacional, depende da

prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 anos;

se transnacional, essa restrição objetiva desaparece.

Vale ressaltar que a Lei nº 12.964/12 apenas apresentou uma definição legal

acerca da organização criminosa para o emprego de outros institutos, e não a

caracterizou como um delito, passível de punição.

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Para Rômulo de Andrade Moreira, a Lei trouxe uma grande inovação em seu art.

1º, o qual compreende a possibilidade do Juiz decidir pela formação de um órgão

colegiado de primeiro grau para os atos processuais ou procedimentos que possuíssem

como matéria os crimes realizados pelas organizações, assim vejamos:

Art. 1o Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes

praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação

de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente:

I - decretação de prisão ou de medidas assecuratórias;

II - concessão de liberdade provisória ou revogação de prisão;

III - sentença;

IV - progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena;

V - concessão de liberdade condicional;

VI - transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança

máxima; e

VII - inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado.

Vejamos também:

Art. 1º - § 1o O juiz poderá instaurar o colegiado, indicando os motivos e as

circunstâncias que acarretam risco à sua integridade física em decisão

fundamentada, da qual será dado conhecimento ao órgão correcional.

Desse modo, é cediço que o que dispõe o §1º é pressuposto para a instauração do

colegiado quando houver risco à integridade física do juiz.

Nesse sentido discorre Rafael Fecury Nogueira (2012 apud Moreira) que:

[...] havendo circunstância que acarrete risco para o julgador em

determinado feito envolvendo organização criminosa, surge para ele

a possibilidade de convocação do colegiado de juízes para deliberar

sobre qualquer ato decisório. Não se pode olvidar que a decisão que

convoca o colegiado deve ser devidamente motivada com a

exposição das razões pelas quais se vislumbrou o risco à integridade

física do juiz a partir da explicitação das circunstâncias verificadas

que, em regra, giram ao redor de ameaças ao magistrado.

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2.3 Promulgação da nova Lei do Crime Organizado (lei nº 12.850/13)

No dia 02 de agosto de 2013 foi publicada a nova Lei 12.850/13 que versa sobre

o crime organizado, tal lei trazia em sua redação a definição de organização criminosa,

bem como sobre a investigação, meios de prova, infrações penais correlatas e

procedimentos criminais.

A referida lei alterou o Decreto-Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940 e revogou

a Lei 9.034 de 03 de maior de 1995, trazendo novas providências.

Ademais, a lei também alterou os art. 288, de forma que deixou de existir os

crimes de quadrilha ou bando e art. 342, alterando apenas a pena, ambos do Código

Penal.

Fica claro, desse modo, que o legislador não cuidou apenas em trazer a definição

de organização criminosa, além disso, em criar uma normatização, tipificando o crime e

institutos relacionados, assim como trazer meios de investigação e combate a essas

organizações.

A Lei 12.850/13 trouxe a definição para organização criminosa logo em seu art.

1º, §1º, assim vejamos:

Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação

criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o

procedimento criminal a ser aplicado.

§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais

pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,

ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,

vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas

penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter

transnacional.

Em relação às novas mudanças trazidas pela Lei, vale ressaltar os apontamentos

de Filipe Martins Alves Pereira e Rafael Vasconcelos Silva:

1) O número mínimo de integrantes exigidos na nova compreensão

legal passa a ser de 4 (quatro) pessoas, e não apenas 3 (três) como

previa a lei anterior.

2) A nova definição deixa de abranger apenas crimes, passando a

tratar sobre infrações penais, que incluem crimes e contravenções

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(art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal). Além disso, abarca

infrações punidas com pena máxima superior a 4 (quatro) anos, e não

mais as com pena máxima igual ou superior a este patamar.

3) A prática de crimes com pena máxima igual a 4 (quatro) anos,

que incluem o furto simples (art. 155, CP), a receptação (art. 180,

CP), a fraude à licitação (art. 90, Lei 8.666/90), restaram afastados da

possibilidade de incidirem como crime organizado pelo novo conceito

legal. Embora o contrabando e o descaminho (art. 318, CP) tenham

pena máxima igual a 4 anos, estes são essencialmente

transnacionais, razão pelo qual não estão excluídos na nova

conceituação legal.

4) A nova compreensão legal inovou também ao estender o

conceito às infrações penais previstas em Tratados Internacionais

quando caracterizadas pela internacionalidade; e ainda aos grupos

terroristas internacionais.

Por sua vez, o art. 2º, expõe o seguinte tipo penal:

Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por

interposta pessoa, organização criminosa:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas

correspondentes às demais infrações penais praticadas.

O mesmo dispositivo em seus § 1º ao 4º, versam a respeito da equiparação,

aumento de pena e agravante. Já os §5º e 6º tratam de providências que possam ser

tomadas em casos de haver envolvimento de funcionário público, e por sua vez, o §7º,

em casos de envolvimento de policial.

Cumpre salientar, que embora a Lei 12.850/13 tenha revogado expressamente a

Lei 9.034/95 em seu art. 16, nada diz a respeito da Lei 12.684/12, tal qual traz definição

diferente de organização criminosa. Diante de tal situação surgiram duas correntes

doutrinárias: uma entende que embora a Lei 12.850/13 não fizesse menção, teria

revogado tacitamente o art. 2º da Lei 12.684/12 que tratava da conceituação de

organização criminosa; a outra corrente entende que a Lei 12.684/12 permanece válida

em nosso ordenamento.

Em se tratando do primeiro entendimento, confronta-se o ensinamento de Cezar

Roberto Bittencourt:

[...] admitir-se a existência de “dois tipos de organização criminosa”

constituiria grave ameaça à segurança jurídica, além de uma discriminação

injustificada, propiciando tratamento diferenciado

incompatível com um Estado Democrático de Direito, na persecução

dos casos que envolvam organizações criminosas. Levando em

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consideração, por outro lado, o disposto no § 1º do art. 2º da Lei de

introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 4.657/1942),

lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,

quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a

matéria de que tratava a lei anterior. Nesses termos, pode-se afirmar,

com absoluta segurança, que o § 1º do art. 1º da Lei 12.850/2013

revogou, a partir de sua vigência, o art. 2º da Lei 12.694/2012, na

medida em que regula inteiramente, e sem ressalvas, o conceito de

organização criminosa, ao passo que a lei anterior, o definia tão

somente para os seus efeitos, ou seja, “para os efeitos desta lei”.

Ademais, a lei posterior disciplina o instituto organização criminosa,

de forma mais abrangente, completa e para todos os efeitos. Assim, o

procedimento estabelecido previsto na Lei 12.694/12, contrariando o

entendimento respeitável de Rômulo Moreira, com todas as vênias,

deverá levar em consideração a definição de organização criminosa

estabelecida na Lei 12.850/13, a qual, como lei posterior, e,

redefinindo, completa e integralmente, a concepção de organização

criminosa, revoga tacitamente a definição anterior.

Quanto ao segundo entendimento que diz que a Lei 12.694/12 segue vigente,

leciona Luiz Flávio Gomes:

Num primeiro momento cheguei a imaginar o contrário (que os dois

conceitos continuariam vigentes). Refletindo um pouco mais, estou

concluindo que houve revogação do primeiro pelo segundo. O

conceito dado pela Lei 12.694/12 visava a permitir o julgamento

colegiado em primeira instância. Essa possibilidade (de julgamento

colegiado em primeiro grau) continua (aliás, a Lei 12.694/12 continua

intacta na sua totalidade, salvo no que diz respeito ao conceito de

organização criminosa). Mas, agora, o juiz tem que se valer do

conceito de organização criminosa da Lei 12.850/13, pelo seguinte: é

com esta nova lei que veio, pela primeira vez no Brasil, o conceito de

“crime” organizado. O processo (julgado por juiz singular ou por juiz

colegiado) existe para tornar realidade à persecução de um crime (ele

é o instrumento da persecutio criminis in iuditio). O julgamento

colegiado em primeiro grau é instrumento, não a substância. É a

forma, não a matéria. Se o instrumento processual existe para tornar

realidade o material, o substancial (o essencial), claro que esse

instrumento deve estar conectado ao principal. O acessório segue a

sorte do principal. Quando os juízes se reúnem coletivamente é para

apurar e julgar um “crime organizado”. Eles não se reúnem para

julgar a organização criminosa, isoladamente, que constitui apenas

uma parte do crime organizado. O que importa para fins penais e

processuais é o crime (não a parte dele). Se o conceito de crime

organizado está dado pela nova lei, aos juízes competem seguir a

nova lei, respeitando o seu conceito de crime organizado, que nada

mais é que a soma dos requisitos típicos do art. 2º com a descrição

de organização criminosa do art. 1º.

O capítulo da nova Lei que trata dos meios de prova e investigação em qualquer

fase da persecução penal, traz em seu art. 3º meios de prova que podem ser

considerados sem que se prejudiquem aqueles já previstos em lei, os quais verão a

seguir.

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3. MEIOS DE PROVA DE INVESTIGAÇÃO INSERIDOS PELA

NOVA LEI

3.1 Meios de prova e investigação

Foi trazido pela Lei nº 12.850/13, em seu capítulo II os meios de obtenção de

provas e investigação na fase de persecução penal, abrangendo investigação antecedente

e o processo. Os atos investigatórios tem restrito valor probatórios, veste que são

realizados sob sigilo, impedindo o contraditório e a ampla defesa.

Os meios de obtenção de prova inseridos pela Lei 12.850/13 estão previstos em

seu art. 3º:

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem

prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da

prova:

I - colaboração premiada;

II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;

III - ação controlada;

IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados

cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a

informações eleitorais ou comerciais;

V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da

legislação específica;

VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da

legislação específica;

VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art.

11;

VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e

municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou

da instrução criminal.

1. Colaboração premiada

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Está prevista no art. 4º da Lei, essa espécie de prova oportuniza que seja feita

negociação entre membros das organizações criminosas e agentes públicos

encarregados na persecução penal.

Segundo leciona Luiz Flávio Gomes (apud NETO, 2012):

Ela ocorre quando o acusado não só confessa sua participação no delito

imputado, como também delata outro ou outros participantes do mesmo fato,

contribuindo para o estabelecimento de outro ou outros crimes e sua autoria.

Isto é, esse meio de prova busca conseguir informações para que se possam ser

identificados os demais membros da organização, possibilitando o esclarecimento de

outros crimes executados e a dissolução do grupo.

O referido artigo dispõe que:

Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial,

reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la

por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e

voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que

dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa

e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização

criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da

organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações

penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Cumpre salientar que, o §1º também do mencionado artigo, diz que, para obter o

benefício da colaboração premiada o julgador deverá:

§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta à

personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a

repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.

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2. Captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos.

Essa modalidade está prevista no art. 3º, inciso II da Lei 12.850/13. Tal meio de

prova consiste em captar som e/ou imagem de uma conversa, podendo ser feita por

terceiros, sem que o interlocutor saiba que está havendo uma gravação.

Acerca desse meio de prova, tramita um Projeto de Lei nº 510/2013 do Senado

Federal, a fim de regulamentar essas gravações para utilização de processos judiciais ou

administrativos, vez que o legislador não estabeleceu limites para o uso desse instituto,

deixando a critério da doutrina e da jurisprudência.

3. Ação controlada

Conforme dispõe o art. 8º da Lei 12.850/13:

Art. 8o Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou

administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela

vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a

medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e

obtenção de informações.

Para Rômulo de Andrade Moreira (2013):

A ação controlada, típico ato de investigação, nada mais é que do que a não

imediata atuação policial, quando se inicia a prática do delito. Trata-se, aqui,

de mais uma hipótese de flagrante diferido ou protelado, cuja previsão legal

já existia na Lei nº. 9.034/95 (art. 2º, II) e ainda hoje consta da Lei nº.

11.343/06 (art. 53, II). Permite-se, por exemplo, que não se prenda os agentes

desde logo, ainda que em estado de flagrância, quando há possibilidade que o

diferimento da medida possa ensejar uma situação ainda melhor do ponto de

vista repressivo.

São necessários dois requisitos para que a efetivação da medida: a) é necessário

que existam indícios da ocorrência de outros atos ilícitos conexo com a prática

investigada e que sejam suficientes para justificar o retardo da intervenção; b)

comunicar previamente o juiz competente.

4. Acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais

constantes de bancos e dados públicos ou privados a informações eleitorais

ou comerciais.

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Previsto no art. 15 da Lei 12.850/13:

Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso,

independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do

investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e

o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições

financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito.

Ao mesmo tempo em que este artigo confere amplos poderes ao Ministério

Público e à polícia, ele restringe o uso de tal instituto, aos casos expressamente

previstos na Lei.

Por sua vez o art. 16 estabelece que as empresas de transporte preservem esses

registros pelo prazo de 05 anos, assim como o atr. 17 estabelece para as empresas de

telefonia.

5. Interceptação de comunicação telefônica e telemática.

O art. 3º, inciso V, da Lei 12.850/13, não tratou apenas de regulamentar a

utilização da interceptação telefônica, mas também deixou a legislação específica

incumbida de sua regulamentação, assim vejamos:

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem

prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de

obtenção da prova:

V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos

termos da legislação específica;

Na realidade a interceptação telefônica já é regulamentada pela Lei 9.296/96,

apesar de estar prevista no art. 5º, inciso VII, parte final da Constituição Federal, como

exceção à inviolabilidade do sigilo das correspondências e das comunicações:

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações

telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no

último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei

estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual

penal;

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A interceptação telefônica compreende na captação e gravação de conversas

telefônicas, e pode ser realizada mesmo sem a ciência do investigado, no entanto para

sua aplicação é necessária que haja prévia autorização judicial. Seu principal beneficio é

a possibilidade de se obter informações precisas e em sobre tempo real sobre os locais

de atuação dos investigados, bem como identifica-los.

Tal medida investigatória se tornou tão presente que os infratores buscam

desenvolver meios para dificultá-la. Nesse sentido, expôs Jiskia Sandri Trentim (2014,

p. 384):

É bem verdade que já se teve mais sucesso com o seu emprego,

antes de ter sido tão difundido o seu uso entre infratores da lei penal:

os "profissionais do crime" deixaram de falar abertamente ao telefone;

ou, quando falam, utilizam-se de códigos, dialetos e idiomas

estrangeiros para turbarem a compreensão de seus diálogos,

exigindo dos agentes incumbidos de operacionalizar a ferramenta

extrema habilidade para poder compreender o real sentido da

conversação, apresentando-se, então, o primeiro desafio do seu

manejo.

6. Afastamento dos sigilos financeiros, bancário e fiscal.

Embora na Constituição Federal não haja previsão a respeito da inviolabilidade

de informações financeiras, bancárias ou patrimoniais, é possível o amparo para estes no

art. 5º, inciso V da Constituição, que trata das garantias da inviolabilidade à intimidade

e à vida privada, garantias essas fundamentais:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem

das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material

ou moral decorrente de sua violação;

As referidas garantias não são absolutas, dando abertura para que sejam

aplicadas de acordo com as situações, desde que previstas em lei, ou até mesmo quando

forem necessárias à investigação, como por exemplo, nos casos em que existir interesse

público. Nesse sentido cumpre salientar os ensinamentos de Ana Brasil Rocha (2012,

p.333):

[...] estabelecido o sigilo das informações, fiscais ou bancárias, o

fundamento para relativizá-lo é similar ao da exceção criada ao sigilo

das comunicações telefônicas, isto é, não existem direitos absolutos,

mormente quando o sigilo é utilizado de forma abusiva para prática

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de crimes na clandestinidade. Neste caso, o interesse público

sobrepõe-se ao interesse privado e, havendo indícios suficientes da

prática de crimes, é possível a quebra dos sigilos fiscal e bancário,

cujos elementos obtidos poderão subsidiar uma investigação.

No mesmo pensamento segue Juarez Tavares (apud NETO):

[...] sua proteção pode ceder diante do interesse público relevante e

maior a exigir a divulgação dos dados individuais, desde que,

entretanto, assegurados o devido processo legal e todas as garantias

de preservação da vida privada.

Da mesma maneira que o legislador fez com a interceptação telefônica, fez

também com o sigilo financeiro, bancário e fiscal, não regulamentando o afastamento de

tal sigilo, deixando-o a cargo de legislação específica:

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos,

sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de

obtenção da prova:

[...]

VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos

da legislação específica;

A Lei Complementar nº 105/01, versa em seu art. 1º, § 3º, inciso IV e § 4º a

respeito do afastamento do sigilo bancário e financeiro:

Art. 1o As instituições financeiras conservarão sigilo em suas

operações ativas e passivas e serviços prestados.

[...]

§ 3o Não constitui violação do dever de sigilo:

[...]

IV – a comunicação, às autoridades competentes, da prática de

ilícitos penais ou administrativos, abrangendo o fornecimento de

informações sobre operações que envolvam recursos provenientes

de qualquer prática criminosa;

[...]

§ 4o A quebra de sigilo poderá ser decretada, quando necessária

para apuração de ocorrência de qualquer ilícito, em qualquer fase do

inquérito ou do processo judicial, e especialmente nos seguintes

crimes:

I – de terrorismo;

II – de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;

III – de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material

destinado a sua produção;

IV – de extorsão mediante sequestro;

V – contra o sistema financeiro nacional;

VI – contra a Administração Pública;

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VII – contra a ordem tributária e a previdência social;

VIII – lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores;

IX – praticado por organização criminosa.

Pela leitura do referido artigo, é possível notar que se trata de um rol meramente

exemplificativo, podendo ser incluídos outros crimes que não foram mencionados,

desde que exista autorização judicial.

Além do amparo encontrado na Constituição, o afastamento do sigilo fiscal,

pode encontrar amparo também no Código Tributário Nacional, art. 198, §1º, inciso I:

Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a

divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de

informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou

financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o

estado de seus negócios ou atividades. § 1o Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos

no art. 199, os seguintes:

I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;

3.2 O agente infiltrado

O instituto do agente infiltrado é um meio muito significativo para obtenção de

provas. Ele permite que sejam absorvidas vasta quantidade de informações acerca do

funcionamento das organizações criminosas.

Para a atuação do agente infiltrado ele deve ser inserido no meio criminal, com

identidade desconhecida. Tal atuação visa colher informações e apurar quanto ao modus

operandi dos integrantes das organizações, com o intuito de facilitar a investigação

policial.

José Luis Seoane Spiegelberg (apud CAPEZ, p.282) ensina que o agente

infiltrado é:

A pessoa que, integrada na estrutura orgânica dos serviços policiais, é

introduzida, ocultando-se sua verdadeira identidade, dentro de uma

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organização criminosa, com a finalidade de obter informações sobre ela e,

assim proceder, em consequência, à sua desarticulação.

Conforme Marcelo Batlouni Mendroni (2012, p.119):

As vantagens que podem advir desse mecanismo processual são evidentes:

fato criminoso não esclarecido pode ser desvelado, modus operandi, nomes -

principalmente dos 'cabeças' da organização, nomes de 'testa de ferro', bens,

planos de execução de crimes, agentes públicos envolvidos, nomes de

empresas e outros mecanismos utilizados para a lavagem de dinheiro etc.

Refere-se a um meio investigativo evidente em quase todos os países, mesmo

não estando expresso em alguns ordenamentos jurídicos.

A primeira lei que tratou do tema no Brasil foi a Lei 9.034/95, que em sua

redação original expunha:

Art. 2º Em qualquer fase de persecução criminal que verse sobre

ação praticada por organizações criminosas são permitidos, além dos

já previstos na lei, os seguintes procedimentos de investigação e

formação de provas:

I – a infiltração de agentes de polícia especializada em quadrilhas ou

bandos, vedada qualquer coparticipação delituosa, exceção feita ao

disposto no art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de

1940 – Código Penal, de cuja ação se pré-exclui, no caso, a

antijuridicidade.

O aludido artigo foi vetado pelo Presidente da República quando houve a

aprovação da supracitada lei, sob a alegação de que ia contra o interesse público. Como

argumento para o veto, utilizou também manifestação do Ministério da Justiça,

vejamos:

O inciso I do art. 2°, nos termos em que foi aprovado, contraria o interesse

público, uma vez que permite que o agente policial, independentemente de

autorização do Poder Judiciário, se infiltre em quadrilhas ou bandos para a

investigação de crime organizado. Essa redação, como se pode observar,

difere da original, fruto dos estudos elaborados por uma subcomissão,

residida pelo Deputado Miro Teixeira, que tinha como relator o Deputado

Michel Temer, criada no âmbito da Comissão de Constituição e Justiça e

Redação, que, de forma mais apropriada, condicionava a infiltração de

agentes de polícia especializada em organização criminosa à prévia

autorização judicial. Além do mais, deve-se salientar que o dispositivo em

exame concede expressa autorização legal para que o agente infiltrado

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cometa crime, pré-excluída, no caso, a antijuridicidade, o que afronta os

princípios adotados pela sistemática do Código Penal. Em assim sendo,

parece-nos que o inciso I do art. 2º deve merecer o veto do Excelentíssimo

Senhor Presidente da República, nos termos do art. 66, § 1'. da Constituição

Federal, ressaltando, contudo, que este Ministério, posteriormente,

encaminhará proposta regulamentando a matéria constante do dispositivo

acima mencionado.

A redação original do referido dispositivo não tinha muita eficácia posto que,

não previa a possibilidade do agente infiltrado cometer qualquer delito, o que

dificultaria o uso deste meio investigativo.

Nesse seguimento, pontuou Fernando Capez (2012, p. 273):

Previa a infiltração de agentes da polícia especializada em quadrilhas ou

bandos, sem permitir, contudo, a participação em crimes cometidos pelo

grupo, exceção feita ao próprio crime de participação em quadrilha ou bando,

cuja ilicitude ficaria excluída. Esse dispositivo foi vetado pelo Presidente da

República. Caso viesse a ser aprovado, teria duvidosa eficácia, uma vez que,

não podendo o infiltrado cometer crimes, acabaria tendo sua identidade

revelada, pois a prática de delitos constitui uma das primeiras exigências para

alguém tomar parte na organização, como demonstração de coragem e

lealdade.

O instituto do agente infiltrado foi inserido no ordenamento jurídico após a

edição da Lei 10.217/01, a lei alterou os arts. 1º e 2º da Lei 9.034/95, que passou a viger

com o seguinte conteúdo:

Art. 1º Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos

investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por

quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer

tipo.

Art. 2º Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo

dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e

formação de provas:

[...]

V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de

investigação, constituída pelos órgãos especializado pertinentes, mediante

circunstanciada autorização judicial.

Parágrafo único. A autorização judicial será estritamente sigilosa e

permanecerá nesta condição enquanto perdurar a infiltração.

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Pode se notar que a redação da Lei 10.217/01 deu fim à problemática da

dispensa da autorização judicial que gerou o veto presidencial do inciso I do art. 2º da

Lei 9.034/95.

A Lei 10.409/02 em seu art. 33 versa a respeito da infiltração policial:

Art. 33. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes

previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos na Lei no 9.034, de 3

de maio de 1995, mediante autorização judicial, e ouvido o representante do

Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:·.

I – infiltração de policiais em quadrilhas, grupos, organizações ou bandos,

com o objetivo de colher informações sobre operações ilícitas desenvolvidas

no âmbito dessas associações;

Cumpre salientar, que a Lei 11.343/06 conhecida como a Lei de Drogas,

revogou a Lei mencionada anteriormente. Tal lei também trata no art. 53 sobre o

instituto do agente infiltrado:

Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes

previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante

autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes

procedimentos investigatórios:

I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída

pelos órgãos especializados pertinentes;

Apesar de haver previsão legal em torno do agente infiltrado, não existia

qualquer regra a respeito de tal infiltração, o que estabeleceu várias indagações em torno

de sua aplicabilidade. No entanto, a maior parte da doutrina acabou por ser favorável a

sua aplicação.

Colaciona o ensinamento de Jesus e Bechara (2005 apud CARLOS; FRIEDE,

2014, pp. 05-06):

Apesar da reação lacunosa da lei que introduziu a figura do agente infiltrado,

não há necessidade de regulamentação dela por meio de outra espécie

normativa. A principal exigência para sua aplicação, que constituiu o

standard mínimo para o deferimento da medida, está expressamente

reconhecida. Assim, há as exigências de se tratar de associação criminosa e

de decisão judicial fundamentada. Não se fez qualquer alusão quanto ao

procedimento ou ao prazo da medida. É possível, contudo, afirmar a

intencionalidade dessa omissão legislativa, uma vez que a determinação do

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prazo deve se orientar pela necessidade do caso concreto e pelo bom senso e

responsabilidade do juiz. Por outro lado, a iniciativa de provocação é do

Ministério Público e da autoridade policial. Por se tratar de uma providência

indiscutivelmente de caráter cautelar, o pedido deve ser autuado em apartado,

mantido o absoluto e irrestrito sigilo ao longo da infiltração.

A lei 12.850/13 trouxe uma regulamentação mais adequada para a infiltração do

agente e sua aplicação. Na opinião de Carlos e Friede (2014, p.7):

Finalmente, a Lei n. 12.850/13 aclarou o panorama referente à infiltração

policial, cuja imprecisão [...] possibilitava toda uma sorte de interpretações,

pondo em risco, até mesmo, o princípio da segurança jurídica.

O instituto do agente infiltrado está previsto no art. 3º, VII da Lei 12.850/13,

para sua aplicação são necessários alguns requisitos, os quais se encontram elencados

nos art. 10 e 11 da mesma lei:

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação,

representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público,

após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso

de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa

autorização judicial, que estabelecerá seus limites.

§ 1º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente,

antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.

§ 2º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que

trata o art. 1º e se a prova não puder ser produzida por outros meios

disponíveis.

§ 3º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem

prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade.

§ 4º Findo o prazo previsto no § 3º, o relatório circunstanciado será

apresentado ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério

Público.

§ 5º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar

aos seus agentes, e o Ministério Público poderá requisitar a qualquer tempo,

relatório da atividade de infiltração.

Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do

delegado de polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da

necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível,

os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração.

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O crime organizado na Argentina se limita aos crimes pertinentes ao

narcotráfico, contrabando, corrupção e tráfico de armas e pessoas. O art. 33 parágrafo

único da Lei nº 23.737/89 que foi alterada pela Lei 24.424/95, versa sobre o agente

infiltrado, denominado como “agente encubierto”. A atuação do agente é restrita ao

crime de tráfico de drogas e assim como nossa legislação também regulamenta a ação

controlada.

Na Colômbia a prioridade do governo é combater ao tráfico internacional de

drogas, visto ser um país responsável pelo refino de 70% de toda cocaína consumida no

mundo.

No ordenamento jurídico colombiano a infiltração de agentes é tratada nos

artigos 241 e 242 do Código de Processo Penal, sendo denominado também como

“agente encobierto”.

No direito penal espanhol, o agente infiltrado também é denominado como

agente encoberto, pois entendem que tal denominação é mais ampla e permite que sejam

incluídos sujeitos que não tenham permissão legal para tanto. Está previsto no art. 282

da Lei de Enjuiciamiento Criminal.

Já na Itália o instituto do agente infiltrado está previsto em três dispositivos,

sendo, art. 93 do Decreto 309/90 que possibilita que o agente adquira entorpecentes, art.

12-quarter da Lei 356/92 possibilita que os bens, benefícios e dinheiros concebidos

através da criminalidade ou que impeçam a identificação de sua fonte sejam substituídos

e por último a Lei 269/98 que mediante autorização judicial possibilita a aquisição

fictícia de material pornográfico ou intermediação ligada à exploração sexual de

menores.

3.3 Limites e exigências para atuação do agente infiltrado

Para que se possa executar qualquer atividade estatal, tal como a infiltração de

agentes, é indispensável o princípio da legalidade, de modo que os agentes só poderão

agir conforme o que estiver previsto em lei.

Ensina Celso Antônio Bandeira de Mello (2012, p.103):

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O principio da legalidade é a consagração da ideia de que a Administração

Pública só pode ser exercida na conformidade da lei.

Como mencionado anteriormente, a infiltração de agentes possui requisitos

legais que são encontrados nos artigos 10 e 11 da Lei 12.850/13.

Conforme dispõe o caput do art. 10, a infiltração será requerida por

representação do delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Público. Se

solicitada pelo delegado de polícia no decorrer do inquérito policial, deverá o delegado

se manifestar a respeito da possibilidade técnica da infiltração policial.

Havendo representação por parte da autoridade policial, o Ministério Público

será ouvido antes que o juiz competente se pronuncie acerca da medida.

O art. 11 por sua vez prevê que em ambos os casos deverá ser demonstrada a

indispensabilidade da medida, a importância das tarefas a serem realizadas pelos

agentes, e se possível, os nomes e apelidos que serão dados às pessoas investigadas,

bem como o local da infiltração.

O art. caput do art. 10 traz expressamente que para ser aplicada a infiltração é

necessário que sejam determinados os limites de atuação do agente, bem como, há a

necessidade de autorização judicial circunstanciada, motivada e sigilosa.

Nesse sentido, doutrina André Carlos e Reis Friede (2014):

O adjetivo circunstanciada revela que o magistrado não deve se limitar a

autorizar a medida. Deve, sim, pormenorizá-la tanto quanto possível,

estabelecendo os limites da infiltração policial, de modo que o delegado de

polícia responsável pelas investigações (e pelo controle direto da operação a

ser desencadeada) e o agente infiltrado possam ter um norte referencial das

atribuições (e respectivas balizas) a serem desenvolvidas no âmbito da

organização criminosa.

A infiltração policial só será permitida se for evidente a ocorrência de delito

penal previsto no art. 1º da Lei 12.850/13 em conformidade com o §2º do art. 10:

Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação

criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o

procedimento criminal a ser aplicado.

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§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais

pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,

ainda que informalmente, com objetivo de obter

direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática

de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a (quatro) anos, u

que sejam de caráter transnacional.

§ 2º Esta Lei se aplica também:

I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional

quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter

ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as

normas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos

atos de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de

execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território

nacional.

Ainda consoante com o §2º do art. 10, será utilizada a medida de infiltração uma

vez que não existam outros meios possíveis para produção de provas.

Desse modo, fica visível o caráter excepcional da medida, que além de

vulnerabilizar a integridade física do agente, ameaçaria também os direitos e garantias

do investigado, por se tratar de uma medida invasiva.

Logo, o princípio da subsidiariedade deve ser observado, devendo eleger a

medida apenas quando necessário.

O êxito da atuação, do mesmo modo a segurança do agente estão ligados ao

sigilo absoluto.

Tal sigilo está amparado pelo caput do art. 10, caput do art. 12 e §2º:

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação,

representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público,

após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso

de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa

autorização judicial, que estabelecerá seus limites.

[...]

Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a

não conter informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou

identificar o agente que será infiltrado.

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[...]

§ 2º Os autos contendo as informações da operação de infiltração

acompanharão a denúncia do Ministério Público, quando serão

disponibilizados à defesa, assegurando-se a preservação da identidade do

agente.

Ainda sobre o art. 10, verifica-se que a infiltração só poderá ser realizada por um

agente policial. Em conformidade com o ensinamento de André Carlos e Reis Friede

(2014, p. 26):

Embora a lei não mencione expressamente, trata-se de agente de polícia

judiciária, ou seja, de um integrante da Polícia Federal ou das Polícias Civis

dos Estados e do Distrito Federal, instituições incumbidas de apurar a autoria

e materialidade de infrações penais.

De acordo com o exposto no art. 14, o agente tem poder para recusar ou cessar

sua atuação. Dessa forma, observa-se que mesmo não expresso, a infiltração tem como

requisito a voluntariedade, vez que pode ser recusada.

O prazo para a atuação é de 06 meses podendo ser prorrogável se houver

necessidade. Esse prazo está disposto no art. 10, §3º. Não foi estabelecido pelo

legislador um limite para a prorrogação do prazo, deixando a critério do juiz conforme

for oportuno.

A segurança do agente está assegurada pelo art. 12 e art. 14, incisos II, III e IV,

conforme veremos:

Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a

não conter informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou

identificar o agente que será infiltrado.

§ 1º As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão

dirigidas diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e

quatro) horas, após manifestação do Ministério Público na hipótese de

representação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas

necessárias para o êxito das investigações e a segurança do agente infiltrado.

§ 2º Os autos contendo as informações da operação de infiltração

acompanharão a denúncia do Ministério Público, quando serão

disponibilizados à defesa, assegurando-se a preservação da identidade do

agente.

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[...]

Art. 14. São direitos do agente:

[...]

II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art.

9º da Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas e

proteção a testemunhas;

III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais

informações pessoais preservadas durante a investigação e o processo

criminal, salvo se houver decisão judicial em contrário;

IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos

meios de comunicação, sem sua prévia autorização por escrito.

Noutro giro, conforme disposto no art. 13, parágrafo único haverá excludente de

culpabilidade quando for inexigível conduta diversa, isso traz maior segurança jurídica

ao agente, que quando inserido em uma organização criminosa se vê obrigado a cometer

delitos, tendo como punição a sua identidade revelada, colocando a perder não só a

operação como também sua própria segurança.

Não obstante, o art. 12, §3º determina que “havendo indícios seguros de que o

agente infiltrado sofre risco iminente, a operação será sustada mediante requisição do

Ministério Público ou pelo delegado de polícia.”

Assim, também estabelece o art. 14, inciso I:

Art. 14. São direitos do agente:

I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;

Por sua vez, o art. 13 da Lei impõe limites à atuação do agente:

Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida

proporcionalidade com a finalidade da investigação, responderá pelos

excessos praticados. Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração,

prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investigação, quando

inexigível conduta diversa.

A obscuridade quanto aos limites de atuação dos agentes faz com que a atividade

se torne suscetível de risco, por conta da aproximação com os criminosos e a

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probabilidade de ser descoberto e também por ser submetido às sanções administrativas

e criminais.

A própria natureza da medida e sua complexidade impossibilita que o legislador

delimite precisamente a atuação do agente. Não é benéfico que o agente atue sem

quaisquer delimitações, possuindo autorização para matar, roubar ou estuprar sem

impedimentos.

Antes mesmo da publicação da supracitada lei, a doutrina já previa a

possibilidade da prática de delitos pelo agente, desde que fossem obedecidos os

princípios constitucionais da razoabilidade, adequação social e da proporcionalidade.

Tratando da infiltração de agentes, disciplinada pela Lei 9.034/95, art. 2º, inciso

V, lei esta que foi alterada pela Lei 10.217/01, expõe Fernando Capez (2012, pp. 282-

283):

Entendemos que, a princípio, a participação do agente nos crimes praticados

pelo grupo configurará fato típico, ilícito e culpável, não sendo, portanto,

admissível, doutrinariamente, essa prática delituosa. Assim, o policial que,

para desbaratar uma grande quadrilha internacional de tráfico de

entorpecentes, acaba por participar de ações criminosas, como sequestros,

homicídios, tráfico de entorpecentes etc., será responsabilizado

criminalmente. Evidentemente, não se poderá estabelecer de antemão uma

regra inflexível, retirando-se do julgador a análise discricionária de cada caso

concreto, pois pode ocorrer que a incidência dos princípios constitucionais da

proporcionalidade e da adequação social, diretamente derivados da dignidade

humana (CF, art. 1º, III) influenciem na aferição do comportamento do

agente. Estando a conduta compreendida da razoabilidade do senso médio, no

critério social de justiça, conformada com o conceito social e, acima de tudo,

compensada pela relação custo-benefício social, poderá, dependendo das

peculiaridades da situação específica, ser até considerada atípica. É o caso do

agente ser obrigado a participar de lutas com outros membros, para

demonstrar coragem e lealdade à organização, ou ter de portar armas de uso

restrito, submetendo-se a isso em prol de um objetivo maior de defesa social,

relevado pela posterior prisão ou desbaratamento da organização criminosa.

O fato aí será atípico, pela incidência de princípios constitucionais como

proporcionalidade e adequação social. [...] Em outras situações, a maior

nocividade do fato cometido pelo agente público impede sua atipicidade e só

poderá ser excluída do âmbito de aplicação do direito penal, pela excludente

do estado de necessidade. Nesse caso, compara-se o sacrifício do bem

jurídico lesado pela ação criminosa do policial com benefício resultante do

afastamento do perigo representado pela quadrilha. Finalmente, pode ocorrer

de o fato ser típico, por estar dotado de conteúdo criminoso e ser

perniciosamente inadequado, de não se encontrar acobertado por excludente

de antijuridicidade, mas a culpabilidade restar eliminada pela dirimente da

coação moral irresistível, tornando inexigível conduta diversa por parte do

servidor infiltrado.

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Repara-se que o legislador na redação da Lei 12.850/13 cuidou por normatizar o

entendimento de uma boa parte da doutrina em torno da imputabilidade do agente, que

no decorrer das investigações pudesse cometer algum crime se fosse necessário para

obter êxito na operação, e obviamente, que fosse respeitado o princípio da

proporcionalidade e a inexigibilidade de conduta diversa.

Em derredor do princípio da proporcionalidade, cumpre salientar o entendimento

de Celso Antônio Bandeira e Mello (2012, p. 114):

Parece-nos que o princípio da proporcionalidade não é senão uma faceta do

princípio da razoabilidade. Merece um destaque próprio, uma referência

especial, para ter-se maior visibilidade da fisionomia específica de um vício

que pode surdir e entremostrar-se sob esta feição de desproporcionalidade do

ato, salientando-se, destarte, a possibilidade de correção judicial arrimada

neste fundamento. Costuma-se descompor o princípio da proporcionalidade

em três elementos a serem observados nos casos concretos: a adequação, a

necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. Conforme expressões

de Canotilho, a adequação "impõe que a medida adotada para a realização do

interesse público deve ser apropriada à prossecução do fim ou fins a ele

subjacentes"; o princípio da necessidade ou da menor ingerência possível

coloca a tônica na ideia de que "o cidadão tem direito à menor desvantagem

possível" e o princípio da proporcionalidade em sentido restrito é “entendido

como princípio da justa medida”. Meios e fins são colocados em equação

mediante um juízo de ponderação, com o objetivo de se avaliar se o meio

utilizado é ou não desproporcionado em relação ao fim. Trata-se, pois, de

uma questão de 'medida' ou 'desmedida' para se alcançar um fim: pesar as

desvantagens dos meios em relação às vantagens do fim.

Nota-se então que o legislador preferiu por inserir uma excludente de

culpabilidade da inexigibilidade de conduta diversa do agente, sem distanciar a

tipicidade e antijuricidade dos delitos praticados durante a atuação, ainda que

respeitados os princípios constitucionais.

Tal escolha gera críticas, por não afastar a possibilidade de punição do policial

infiltrado, ficando o julgador incumbido de examinar se os delitos praticados estão

dentro dos critérios de proporcionalidade e razoabilidade.

De acordo com o ensinamento de Eduardo Luiz Santos Cabette (2014):

Importa ainda anotar que a própria opção legislativa pelo reconhecimento da

inexigibilidade de conduta diversa como forma de evitar a punição do agente

infiltrado por seus atos proporcionais também não segue o melhor caminho.

É que esse instituto retrata uma excludente de culpabilidade, o que significa

que o Estado está afirmando que o agente pratica fato típico e antijurídico

(injusto penal), somente não culpável. Soa muito estranha essa opção, já que

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o policial atua por determinação estatal e de acordo com um instituto

legalmente previsto. O reconhecimento das ações do agente infiltrado como

mera inexigibilidade de conduta diversa significa mais um indicativo, na sua

faceta teórica, de que o instituto é falido desde o seu nascedouro. O mínimo

que se pode entender é que a dicção legal é inadequada e deve ser objeto de

uma releitura doutrinária. Na verdade as condutas aparentemente criminosas

perpetradas pelo agente infiltrado, dentro de uma proporcionalidade e,

portanto, permitidas e até mesmo incentivadas pela legislação respectiva,

configuram aquilo que Zaffaroni e Batista denominam de “atipicidade

conglobante”, a afastar, desde logo a tipicidade da conduta e não a

reconhecer mera excludente da culpabilidade. Do contrário, a paga social do

agente infiltrado pelo arriscar da própria vida, seria sua insegurança perpétua

e, para, além disso, seu reconhecimento pelo Estado como um criminoso que

somente não seria punível! Simbólica e moralmente isso é um

reconhecimento mais do que claro de que o instituto é uma aberração.

No mesmo viés a crítica de Ricardo Antônio Andreucci (2013):

Curioso notar, entretanto, que a nova lei, a par de se alinhar ao Princípio da

Proporcionalidade Constitucional no “caput” do art. 13, estabelece, no

parágrafo único, que “não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de

crime pelo agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível

conduta diversa”, estabelecendo expressamente causa excludente de

culpabilidade, consistente na inexigibilidade de conduta diversa (conforme o

Direito), a acobertar eventuais ilicitudes praticadas pelo infiltrado, isentando-

o de responsabilidade. Essa não nos pareceu a melhor solução, até

porque coloca o agente infiltrado em delicadíssima posição de ter que avaliar,

muitas vezes em situação concreta de perigo durante o desenrolar da

infiltração, a inexigibilidade de conduta diversa em sua atuação, a qual será

posteriormente reavaliada e até mesmo rechaçada pelas autoridades,

acarretando-lhe a eventual responsabilização pelos “excessos praticados”.

Melhor seria tivesse a nova lei ousado mais e erigido à infiltração

propriamente dita em causa de pré-exclusão de antijuridicidade

Até mesmo a própria medida de infiltração foi atingida por críticas de grande

parte da doutrina, tanto pelo aspecto ético, em decorrência de utilização de mecanismos

astutos, quanto por violar direitos fundamentais, ou até mesmo pela prática de delitos,

sob a alegação de hostiliza-los, o que é inadmissível em um Estado Democrático de

Direito.

Nas palavras de Franco (2001 apud CARLOS; FRIEDE, 2014, p.08):

[...] o agente infiltrado se vê, não raro, na contingência de praticar fatos

também criminosos e quase sempre ações de duvidosa eticidade. É de

indagar-se, então, se, em nome da eficiência do sistema punitivo, guarda

legitimidade o juízo criminal que se apoia na atuação de agente infiltrado, ou

melhor, se, em nome dessa mesma eficiência, deva reconhecer-se, como

racional e justo, que, próprio Estado em vez de exercer a função de prevenção

penal, pratique atos desviados, igualando-se ao criminoso.

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No mesmo sentido, Pacheco (20017 apud CARLOS; FRIEDE 2014, p.09)

leciona:

[...] é o cíclico retorno do dilema ético, da velha discussão sobre meios e fins,

na qual o Estado, neste caso, ao fazer uso da infiltração policial sob a égide

de elucidar e evitar crimes, ainda que não deseje, se arrisca a praticá-los.

A infiltração policial se tornou uma medida primordial ao combate das

organizações criminosas, de modo que a negatória de sua aplicação poderia gerar

grande prejuízo aos direitos assegurados pela Constituição.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tudo o que foi apresentado, podemos enxergar que o crime organizado

é uma das maiores preocupações das autoridades.

Esse crescimento vem causando grande preocupação também aos legisladores,

de modo que a nossa legislação precisou sofrer várias alterações com o objetivo de obter

eficácia para o enfrentamento das organizações.

Em 02 de agosto de 2013, após muito se modificar, foi publicada a Nova Lei de

Organizações Criminosas (12.850/13) a qual trouxe uma grande melhoria no combate às

atividades dessas organizações, inserindo novos meios de investigação e obtenção de

provas.

Além disso, a nova lei regulamentou também o instituto do agente infiltrado, o

qual se viu rodeado de várias críticas doutrinárias que entendiam que a medida

apresentava vários riscos a pessoa do agente, encurralado pela expectativa de que no

decorrer da operação o agente viesse a praticar delitos e que estes não podiam ser

ignorados.

Embora tal instituto seja uma importante medida para a investigação das

organizações criminosas, ainda existem muitas incertezas quanto a sua aplicação e

atuação.

A problemática de tal medida gira em torno da existência da possibilidade da

prática de delitos pelo agente infiltrado no decorrer de uma investigação, que conforme

o art. 13 da supracitada lei, só sofrerá sanções, desde que o cometimento desses delitos

não sejam necessários para obter êxito na operação, e que não sejam respeitados a

proporcionalidade e a inexigibilidade de conduta diversa, bem como os princípios

constitucionais.

Assim podemos concluir que, mesmo que inexista uma regulamentação precisa

dos limites para a atuação, à utilização do instituto deverá estar sempre apoiada por um

severo controle judicial e principalmente pelos princípios da legalidade,

excepcionalidade, proporcionalidade, a fim de que sejam evitados exageros, assim como

preservar as garantias e direitos fundamentais assegurados aos investigados.

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