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AMPLIAÇÃO DE RECEITAS X DIMINUIÇÃO DAS DESPESAS: UMA ANÁLISE SOBRE APLICAÇÃO DO FUNDEB NO PARANÁ (2007-2008). Aron Magno Dangui 1 RESUMO: O artigo demonstra as receitas e despesas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) do Estado do Paraná no ano de 2007. Constata que as estimativas orçamentárias para receitas do Fundef/Fundeb, tanto por parte do governo do Estado do Paraná, quanto por parte do Ministério da Educação (MEC), são inferiores ao efetivamente arrecadado. Demonstra que as sobras de recursos do Fundeb sem empenho ampliaram-se em mais de 600%, entre 2004 e 2007. Evidencia que as receitas do Fundef/Fundeb estão em constante evolução e que os percentuais aplicados com despesa de pessoal estão aquém do mínimo estabelecido legalmente, nos quatro primeiros meses de 2008. Conclui-se afirmando a necessidade de aumento salarial de 37,31% para não achatar os salários do magistério do Estado do Paraná. Palavras-chave: Fundeb. Financiamento da educação. Valorização do Magistério. ABSTRACT: This essay shows the incomes and expenses of the Development of Basics Education and Appreciation of Education Professionals Maintenance Fund (short form, Fundeb in Portuguese) of Paraná State during the year of 2007. Notes that the budget estimates to incomes of Fundef/Fundeb, for the State of Paraná Government part, as well for the part of the Education Ministry (short form, MEC in Portuguese), are under to the effectively collected. It shows that the remaining resources of Fundeb without endeavour raised in more than 600%, between 2004 and 2007. It remarks that the incomes of Fundeb/Fundef are constantly evolving and that the percentages applied with cost of staff are short of the minimum legally established, in the first four months of 2008. We conclude affirming the necessity of salary raise of 37,31% in order not to flatten the salaries of mastership in Paraná State. Keywords: Fundeb, Education Financing, Mastership Appreciation; Tem por meta este artigo, elucidar as aplicações dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), no âmbito de atuação do Governo do Estado do Paraná. Partiremos de uma breve digressão, apontando os caminhos que 1 Aron Magno Dangui Professor Conselheiro do Fundeb

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AMPLIAÇÃO DE RECEITAS X DIMINUIÇÃO DAS DESPESAS:

UMA ANÁLISE SOBRE APLICAÇÃO DO FUNDEB NO PARANÁ (2007-2008).

Aron Magno Dangui1

RESUMO: O artigo demonstra as receitas e despesas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) do Estado do Paraná no ano de 2007. Constata que as estimativas orçamentárias para receitas do Fundef/Fundeb, tanto por parte do governo do Estado do Paraná, quanto por parte do Ministério da Educação (MEC), são inferiores ao efetivamente arrecadado. Demonstra que as sobras de recursos do Fundeb sem empenho ampliaram-se em mais de 600%, entre 2004 e 2007. Evidencia que as receitas do Fundef/Fundeb estão em constante evolução e que os percentuais aplicados com despesa de pessoal estão aquém do mínimo estabelecido legalmente, nos quatro primeiros meses de 2008. Conclui-se afirmando a necessidade de aumento salarial de 37,31% para não achatar os salários do magistério do Estado do Paraná.

Palavras-chave: Fundeb. Financiamento da educação. Valorização do Magistério.

ABSTRACT: This essay shows the incomes and expenses of the Development of Basics Education and Appreciation of Education Professionals Maintenance Fund (short form, Fundeb in Portuguese) of Paraná State during the year of 2007. Notes that the budget estimates to incomes of Fundef/Fundeb, for the State of Paraná Government part, as well for the part of the Education Ministry (short form, MEC in Portuguese), are under to the effectively collected. It shows that the remaining resources of Fundeb without endeavour raised in more than 600%, between 2004 and 2007. It remarks that the incomes of Fundeb/Fundef are constantly evolving and that the percentages applied with cost of staff are short of the minimum legally established, in the first four months of 2008. We conclude affirming the necessity of salary raise of 37,31% in order not to flatten the salaries of mastership in Paraná State. Keywords: Fundeb, Education Financing, Mastership Appreciation;

Tem por meta este artigo, elucidar as aplicações dos recursos do Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos

Profissionais da Educação (Fundeb), no âmbito de atuação do Governo do Estado

do Paraná. Partiremos de uma breve digressão, apontando os caminhos que

1 Aron Magno Dangui Professor – Conselheiro do Fundeb

levaram à adoção do atual modelo de financiamento da educação pública brasileira.

Em seguida, faremos uma análise dos objetivos do Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef),

que antecedeu o atual Fundeb, e seus resultados. Procura-se evidenciar a efetiva

aplicação dos recursos do Fundeb de acordo com as determinações de seus artigos.

Assim, dar-se-á especial atenção às receitas e despesas efetuadas com estes

recursos. Por fim, analisaremos se os resultados, no que se refere à “valorização do

magistério” correspondem aos ditames legais.

A proposta de organizar fundos públicos para financiar a educação pública brasileira

não é nova. Remonta à década de 30 do século XX. Por fundos, entende-se a

retirada de percentuais de determinados impostos e transferências constitucionais

entre a União, os Estados e Municípios, e sua alocação em uma única fonte/conta (o

fundo) para financiar, neste caso, a educação pública.

Já na década de 30 – 1932, um documento assinado por vários intelectuais

brasileiros, fazia, entre outras, a proposta de utilizar uma “cesta” de impostos com o

intuito de financiar a educação. Este documento denominado de O manifesto dos

pioneiros da educação nova apontava diretrizes que em alguns casos, ainda hoje, é

letra impressa. Como, por exemplo, a universalização do Ensino Público. Segundo

este “manifesto”, para se assegurar uma escola pública de qualidade far-se-ia

necessário ampla autonomia dos órgãos responsáveis pela educação. Nos aspectos

relativos ao financiamento da educação prega autonomia de aplicação dos recursos

e a criação de “fundos” exclusivos para “o desempenho da obra educacional”. Assim

prega a necessidade de que estes órgãos

[...] tenham assegurados os meios materiais para poderem realizá-la. Esses meios, porém, não podem reduzir-se às verbas que, nos orçamentos, são consignados a esse serviço público e, por isto, sujeitas às crises dos erários do Estado ou as oscilações do interesse dos governos pela educação. A autonomia econômica não se poderá realizar, a não ser pela instituição de um “fundo especial ou escolar”, que, constituído de patrimônios, impostos e rendas próprias, seja administrado e aplicado exclusivamente no desempenho da obra educacional, pelos próprios órgãos do ensino, incumbidos de sua direção (AZEVEDO, 1932, p.194-195).

Este documento clamava ainda por: gratuidade do Ensino; Universalização; Fundos

para financiar a educação; nível superior para professores; ampliação dos dias

letivos e do tempo na escola.

Pode-se afirmar que o esforço, fruto do engajamento dos educadores e ativistas da

educação, se orienta em direção da universalização do ensino público, não apenas

do ensino fundamental e médio, mas de todas as esferas educacionais. É dever do

Estado propiciar á população, sem qualquer tipo de distinção, acesso a todos os

níveis de ensino.

Mas não basta apenas universalizar a oferta de vagas no ensino público. Faz-se

necessário a oferta de ensino público de qualidade. O desafio atual é, fornecer

especificamente, aos matriculados no Ensino Fundamental, qualidade no Ensino,

uma vez que, praticamente, se garantiu acesso aos que estão em idade para

freqüentar este nível de ensino. E, concomitantemente, universalizar o acesso as

demais modalidades de ensino e, garantir a qualidade, ou corremos o risco de

excluirmos por ausência de ensino aprendizagem nas escolas. Exclusão

educacional. Não exclusão da sala de aula. Da matrícula.

Para garantir estes dois elementos – universalização e qualidade de ensino – é

preciso que os professores tenham uma carreira atrativa. Com planos de Carreira

que permitam uma ampliação de seus rendimentos e permita constante

aprendizagem ao mestre, com política de inserção no meio acadêmico e constante

aperfeiçoamento da formação dos trabalhadores em educação. Salários dignos,

constante formação e infra-estrutura adequada este é o tripé em que se embasa o

desafio educacional atual.

Para se alcançar esta condição é necessário dinheiro. Muito dinheiro. Assim, o

financiamento da educação é primordial para se atingir a educação que se almeja.

Nesta perspectiva, o Fundef surge, em 1996. Este fundo foi implantado na maior

parte dos Estados no ano de 1998, como tentativa de se atingir os pressupostos de

autonomia financeira apontada, em 1932, no O manifesto dos pioneiros da educação

nova.

Em seus artigos iniciais o Fundef apontava seus objetivos primordiais. Entre estes

objetivos constava a universalização da oferta do Ensino Fundamental. Nascia,

portanto, sem importante parcela dos níveis e modalidades de Ensino. Excluía dos

componentes do Ensino Básico, a Educação Infantil (creches e pré-escolas) e o

Ensino Médio. Ao criar um nicho com financiamento exclusivo, criou o legislador um

empecilho ao relacionamento dos professores e professoras da Educação Básica.

Nos Entes Federativos, que distribuíam “abonos” para complementar a

determinação de se aplicar no mínimo 60% (sessenta por cento), na remuneração

dos docentes, diretores e supervisores, ocorreu distribuição de valores monetários a

um grupo de professores e professoras do Ensino Fundamental das séries iniciais

(primeira a quarta séries) e, os demais trabalhadores (professoras e professores,

diretores e supervisores) da Educação Infantil ficaram sem receber estes “abonos”.

Fato que gerou uma “corrida” para a inserção nas listagens de pagamento do

Fundef. O que, sem dúvida, contribuiu para ampliar os desvios de finalidade dos

recursos do fundo, tendo em vista que inúmeros chefes dos poderes executivos

incluíram estes trabalhadores nestas listagens. Deve-se ressaltar que o Poder

Executivo Estadual não se recusou a efetuar os pagamentos de agentes

educacionais e administrativos do Ensino Médio com recursos do Fundef, o qual

nasceu gerando conflitos e desvios de finalidade na aplicação dos recursos.

O incentivo á universalização da oferta do Ensino Fundamental ocorre na

distribuição dos recursos do Fundo. As receitas foram distribuídas de acordo com o

número de matrículas do Ente Federado (Estados e Municípios). Quanto maior o

número de matrículas, maior a quantidade de recursos. Na eminência de perder

recursos para o Estado, inúmeros municípios do Paraná municipalizaram suas redes

de Ensino Fundamental das séries iniciais. Ou seja, sob pena de perder recursos,

dado a metodologia de distribuição das receitas, os municípios foram coagidos a

municipalizar e ampliar a oferta de vagas em suas redes de ensino.

Art. 2º Os recursos do Fundo serão aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental público, e na valorização de seu Magistério. § 1º A distribuição dos recursos, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal dar-se-á, entre o Governo Estadual e os Governos Municipais, na proporção do número de alunos

matriculados anualmente nas escolas cadastradas das respectivas redes de ensino, considerando-se para esse fim:

I - as matrículas da 1ª a 8ª séries do ensino fundamental; § 2º A distribuição a que se refere o parágrafo anterior, a

partir de 1998, deverá considerar, ainda, a diferenciação de custo por aluno, segundo os níveis de ensino e tipos de estabelecimento, adotando-se a metodologia de cálculo e as correspondentes ponderações, de acordo com os seguintes componentes:

I - 1ª a 4ª séries; II - 5ª a 8ª séries; III - estabelecimentos de ensino especial; IV - escolas rurais. § 3º Para efeito dos cálculos mencionados no § 1º, serão

computadas exclusivamente as matrículas do ensino presencial. (Lei Fundef)

O caput do artigo segundo cria o nicho Ensino Fundamental e algo que é

crucial para a Educação Pública a Valorização do Magistério. A palavra

valorização vem do latim valorem /valere com significado, geral, de preço,

valer, valia. Também designa coragem, esforço. Por valorização

compreendemos “aumento do valor de mercadorias, gêneros, alta de preços”

E do latim valentia, significando corajoso. Assim, neste sentido, temos valor=

audácia, vigor, mérito, importância. Etimologicamente, portanto, podemos

identificar duas direções, no momento, para o significado de valorização:

preço e mérito. Um valor de coisas (preço) e outro juízo de qualidades

humanas (audácia, mérito, coragem). O sentido dado pelo legislador se

equilibra entre estes juízos: comercial/qualidade. Ora, não resta dúvida que,

o correto seria estipular um valor mínimo por hora/aula, que vigoraria em

todo território nacional. Acreditamos que tal medida não afetaria as

diferenças regionais, uma vez, que, a nosso ver, regiões com maior

desenvolvimento sócio-econômico, poderiam, teoricamente, pagar aos seus

profissionais da educação valores acima do mínimo determinado

nacionalmente. Assim teríamos um valor, um preço mínimo que deveria ser

acatado nacionalmente. Iria assim ao encontro do principio constitucional de

isonomia. Cargos com atribuições semelhantes, com piso salarial

semelhante. Em outra vertente, encontramos o principio do esforço

coragem/audácia/mérito. Assim, a valorização passaria por reconhecimento

de princípios e conceitos universais que apontam para ideais almejados pela

maior parte da humanidade. Busca, portanto, alcançar princípios judaico-

cristãos, que fundamentam nossa sociedade. A profissão de educador –

professor –é envolta em idealizações. A carreira é denominada de, entre

outras coisas: “Sacerdócio”; “missão”; “entrega”; “sacrifício”... E a Lei, bem ou

mal, atende esta atitude mistificadora da sociedade. Depreendemos, então,

que a “valorização” passa, necessariamente, pelo atendimento destes dois

conceitos: preço - qual o valor monetário de um professor? E, mérito – como

reconhecer, mérito, audácia, coragem? Calculamos que seria mais simples

instituir um piso nacional de salários.

Este Piso, como seria lógico, não foi instituído na Lei Fundef. A Valorização

do Magistério não ocorreu financeiramente.

Outro de seus objetivos, no intuito de valorizar o magistério era a instituição

obrigatória – inclusive com prazo – para que Estados e Municípios

implantassem Planos de Carreira, como determinado no artigo nono da Lei

Fundef:

Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, no prazo de seis meses da vigência desta Lei, dispor de novo Plano de Carreira e Remuneração do Magistério, de modo a assegurar: I - a remuneração condigna dos professores do ensino fundamental público, em efetivo exercício no magistério; II - o estímulo ao trabalho em sala de aula; III - a melhoria da qualidade do ensino. § 1º Os novos planos de carreira e remuneração do magistério deverão contemplar investimentos na capacitação dos professores leigos, os quais passarão a integrar quadro em extinção, de duração de cinco anos. § 2º Aos professores leigos é assegurado prazo de cinco anos para obtenção da habilitação necessária ao exercício das atividades docentes. § 3º A habilitação a que se refere o parágrafo anterior é condição para ingresso no quadro permanente da carreira, conforme os novos planos de carreira e remuneração. (Lei Fundef)

Como o Supremo Tribunal Federal entende que a União não pode estipular prazos

para os demais Entes Federados, tal tentativa ficou prejudicada. Muitos Municípios e

Estados estenderam este prazo de “seis meses” para anos. O Próprio Estado do

Paraná só vai implantar Plano de carreira para o magistério em 2004.

Entre esses objetivos estava a ampliação de recursos para o Ensino Fundamental.

Foi instituído um valor mínimo nacional por aluno/ano via decreto e, no caso de

algum Fundo (são vinte e seis fundos estaduais e um distrital) não distribuir o valor

mínimo por aluno/ano, a União complementaria este valor. Infelizmente o custo

aluno/ano é tão pequeno que o Estado do Paraná, desde a instituição da política de

fundos, jamais recebeu um centavo a título de complementação da União. Assim, a

União, por decreto, instituiu um valor tão baixo para o custo aluno/ano que os

estados do Sul, Centro-Oeste e Sudeste amiúde não são contemplados com as

complementações da união.

De qual quer forma o crescimento econômico brasileiro possibilitou uma gradativa

ampliação dos recursos do Fundef, conforme pode ser observado na Tabela 1:

Tabela 1 - Recursos do Fundef do Estado do Paraná 1998 a 2006.

FUNDEF: ESTADO DO PARANÁ 1998 A 2006

ANO RECEITAS MATRÍCULAS CUSTO ALUNO/ANO

1998 R$ 364.057.847,95 870.440 R$ 418,25

1999 R$ 419.841.487,83 873.881 R$ 480,43

2000 R$ 488.065.277,33 813.596 R$ 599,89

2001 R$ 546.872.463,14 787.308 R$ 694,61

2002 R$ 641.515.229,31 779.622 R$ 822,85

2003 R$ 711.855.864,52 760.690 R$ 935,80

2004 R$ 810.594.177,11 766.435 R$ 1.057,62

2005 R$ 918.970.993,83 754.278 R$ 1.218,35

2006 R$ 986.920.873,36 741.409 R$ 1.331,14

171,09 -14,82 218,27

Fonte: STN/Ministério da Fazenda

As receitas totais, sem atualização monetária, apresentam uma evolução de cento e

setenta e um por cento. Em 1998 o fundo totalizou R$ 364.057.847,95 (trezentos e

sessenta e quatro milhões, cinqüenta e sete mil, oitocentos e quarenta e sete reais e

noventa e cinco centavos). Em 2006, último ano de vigência do Fundef, esse valor

totalizou R$ 986.920.873,36 (novecentos e oitenta e seis milhões, novecentos e

vinte mil, oitocentos e setenta e três reais e trinta e seis centavos). Conjugado ao

decréscimo no número de alunos e alunas matriculados no período – em 1998

oitocentos e setenta mil quatrocentos e quarenta matrículas e, em 2006 setecentos e

quarenta e um mil quatrocentos e nove matrículas – temos uma ampliação

significativa do custo aluno/ano.

Em relação à valorização do magistério da Rede Pública Estadual, nos seus

aspectos monetários podemos visualizar a seguinte situação expressa na Tabela 2:

Tabela 2 – Piso Salarial para Licenciatura Plena: Rede de Ensino Público Estadual

do Paraná 1998 e 2006.

PISO SALARIAL PARA LICENCIATURA PLENA: REDE DE ENSINO

PÚBLICO ESTADUAL DO PARANÁ 1998 E 2006.

ANO PISO SALARIAL LP CUSTO

ALUNO/ANO

PERCENTUAL

1998 R$ 385,04 R$ 418,25 92,06%

2006 R$ 515,00 R$ 1.331,14 38,69%

% 33,75% 218,27%

Fonte: STN/Ministério da Fazenda/INEP/APP-SINDICATO

Em 1998, uma professora com vinte horas-aula da Rede Pública Estadual de Ensino

do Paraná, detentor de Licenciatura Plena, iniciava sua carreira recebendo trezentos

e oitenta e cinco reais e quatro centavos. Como o custo aluno/ano totalizava

quatrocentos e dezoito reais e vinte e cinco centavos, o salário inicial do professor

ou professora correspondia a noventa e dois por cento, do custo aluno-ano.

Em 2006, depois de dez anos de política pública, que tinha por objetivo valorizar o

magistério, com remuneração condigna, o piso para Licenciatura Plena atingiu

quinhentos e quinze reais, por vinte horas-aula, ampliação de 33,75%, o custo

aluno-ano, no mesmo período ampliou-se em 218,27% chegando a um mil trezentos

e trinta e um reais e quatorze centavos. O valor do piso salarial em relação ao custo

aluno-ano decresceu para 38,69%, ou seja, ocorreu um violento achatamento

salarial.

Resta ainda, sobre o Fundef, a crítica sobre a “cesta de imposto que compõem o

fundo”. Apenas quatro impostos, entre os cerca de oitenta impostos, taxas e

contribuições em vigor atualmente no Brasil. Além deste aspecto, destinou-se para o

fundo apenas 15 % (quinze por cento) do montante dos impostos. Devemos lembrar

que estados e Municípios devem aplicar 25 % (vinte e cinco por cento) de suas

receitas em educação.

Após este pequeno balanço sobre o Fundef, passemos ao fundo que o substituiu em

2007: o Fundeb com suas receitas e despesas na esfera do Governo do Estado do

Paraná.

O FUNDEB é o fundo, de recursos públicos, destinado ao financiamento do Ensino

Básico. No ano de 2007 as receitas do FUNDEB ultrapassaram um bilhão e

quatrocentos milhões de reais. Destes valores o governo do Estado do Paraná

empenhou, cerca de, um bilhão e trezentos e cinqüenta milhões de reais. Segundo a

Nota Técnica nº 01/2008, emitida pela SEED2 os recursos estão assim

discriminados:

Tabela 3 - Receitas, despesas e saldo sem empenhar do Fundeb-Pr em 2007.

RECEITAS, DESPESAS E SALDO SEM EMPENHAR DO FUNDEB-PR EM2007

TOTAL DA RECEITA TOTAL DA DESPESA SALDO %

R$ 1.398.911.973,12 R$ 1.351.957.677,25 R$ 46.954.295,87 3,35648

Fonte: SEED-Paraná.

2 Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Mais de quarenta e seis milhões de reais ficaram sem comprometimento, ou seja, os

valores ficaram sem empenhar e passaram de 2007 para 2008 sem destinação de

aplicação. Sobraram recursos da educação!

A Tabela abaixo demonstra esquematicamente a composição das despesas do

Fundeb em 2007:

Tabela 4 – Despesas do Fundeb-Pr em 2007.

DESPESAS DO FUNDEB-PR EM 2007.

DESPESA VALOR EM R$ %

Profissionais do Magistério da

educação(Docentes e profissionais de

suporte)

R$ 971.869.918,89 71,17

Servidores administrativos e serviços

gerais.

R$ 209.400.910,93 15,34

Transporte escolar R$ 29.229.591,55 2,14

Material de consumo R$ 5.230,05 0,00

Capacitação R$ 6.592.146,09 0,48

Pen drives R$ 2.625.900,00 0,19

Telefone R$ 3.874.286,42 0,28

Energia elétrica R$ 7.134.647,93 0,52

Água e Esgoto R$ 6.943.754,83 0,51

Serviços Gráficos R$ 2.471.270,00 0,18

Aquisição de Equipamentos R$ 5.190.547,78 0,38

Obras e reparos R$ 80.033.775,16 5,86

Outras despesas R$ 26.585.697,62 0,47

Fonte: SEED/SEFA - Anexo VI

As despesas podem, por força de lei, ser divididas em três partes: recursos do

mínimo 60% (art.22 da Lei 11.494/07); máximo 40% para pagamento de

trabalhadores em educação (art.21 da Lei 11.494/07); e para Manutenção e

Desenvolvimento da Educação – MDE – (art.21 da Lei Fundeb).

Um montante de 71,17 % dos recursos foi destinado ao pagamento dos profissionais

da educação, definidos no Inciso II, Parágrafo Único, artigo 22 da Lei Fundeb e no

artigo 2º da resolução nº 03/97 da CNE/CEB3 do Ministério da Educação. A

legislação determina que, no mínimo 60% dos recursos do Fundeb se destinam a

valorização dos Trabalhadores em Educação no exercício de docência e de suporte

pedagógico. Deve-se ressaltar que estão inclusos neste percentual os encargos

patronais.

Aos servidores administrativos e do quadro geral, são destinados 15,34% dos

recursos do Fundeb. Neste rol estão incluídos os servidores com contratos precários

e/ou por tempo determinado, além de seus encargos patronais.

O valor despendido em Transporte escolar, de 2,14% do total do fundo é,

geralmente, aplicado através de transferência de recursos do Governo do Estado

para Prefeituras, via convênio, para transporte de alunos da Rede Pública Estadual

pelo serviço de transporte escolar dos Municípios, próprios ou terceirizados.

As despesas de manutenção das escolas (água, luz, esgoto, telefone, material de

consumo, serviços de gráfica e aquisição de equipamentos) totalizaram 1,87% dos

recursos do Fundeb.

A aquisição de pen drives consumiu 0,19% das receitas e, anteriormente foi

demonstrada a título de compra de MERENDA ESCOLAR, despesa que não se

coaduna com as despesas de MDE. Sendo que, programas suplementares de

alimentação são proibidos no artigo 71 da LDB4.

A capacitação de servidores do Estado, com recursos do Fundeb, não chegam a

1%, somam, apenas 0,48% do total.

3 Conselho Nacional de Educação – Câmara de Educação Básica.

4 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Em obras e reparos estão incluídos convênios com APMFs5, Prefeituras, reparos e

construções de unidades novas. Do valor empenhado de R$ 80.033.775,16 um total

de R$ 77.722.800,15 foram empenhados no mês de dezembro de 2007. Assim,

97,11% do total empenhado para obras e reparos, foram empenhados no último mês

do ano, a maior parte no dia 31/12/2007. Outras despesas referem-se a restos a

pagar.

As finanças do Estado destinadas para a educação são, portanto, perfeitamente

administráveis e possibilitam investimentos maiores em salários, em formação e

recuperação física das escolas. Não devemos esquecer que o Fundeb representa

pouco mais de 15%, dos 30% que o Governo Estadual deve aplicar em educação

anualmente.

As receitas orçadas para o Fundef/Fundeb estão discriminadas na tabela abaixo:

Tabela 5 - Receitas estimadas – MEC/Governo do Paraná – e receitas efetivas.

RECEITAS ESTIMADAS – MEC/GOVERNO DO PARANÁ – E RECEITAS EFETIVAS.

ANO 2004(em R$) 2005(em R$) 2006(em R$) 2007(em R$) 2008 (em R$)

ESTADO 758.808.660,00 909.871.830,00 1.005.051.310,00 1.014.501.060,00 1.508.366.040,00

MEC ND

858.236.800,00 986.839.350,00

1.318.283.829,53 1.679.170.529,83

RECEITA

870.775.887,91 949.309.722,79 1.042.079.569,35 1.398.911.973,12 1.968.860.998,00¹ FONTE: APP-SINDICATO COM DADOS DE WWW.PR.GOV.BR/SEFA/SEED/SIAF E WWW.FNDE.GOV.BR www.sepl.pr.gov.br

www.mec.gov.br.

1. Receita estimada.

ND:Dados não disponíveis

As receitas orçadas, tanto por técnicos do MEC, quanto por técnicos do Governo do

Estado do Paraná, estão aquém da real arrecadação, como se pode perceber nos

dados acima. Todas as estimativas, tanto do MEC, quanto do Governo do Paraná

estão minimizadas. Em 2004 o Estado do Paraná orçou 758 milhões de reais, e a

receita arrecadada chegou a 870 milhões de reais. A receita efetivada ultrapassou

em mais de cem milhões de reais o orçado. No ano de 2005 os valores orçados por

5 Associação de Pais, Mestres e Funcionários.

dois órgãos - MEC e Estado do Paraná – ficaram, respectivamente, noventa e

quarenta milhões de reais aquém da receita efetiva. Repete-se o fenômeno em

2006. Tal situação se tornou critica a partir de 2007. Os erros de previsão se

tornaram mais agudos. O Estado do Paraná orçou trezentos e oitenta milhões de

reais aquém do efetivamente arrecadado! Equivoco superior a um terço dos valores

arrecadados! Aparentemente os técnicos do MEC calcularam – os dados são

fornecidos pelo Estado do Paraná – com mais acerto as receitas dentro da nova

lógica do Fundeb, pois sua estimativa é inferior em, cerca de, oitenta milhões, a

arrecadação. Para 2008, o orçamento do Fundeb, feito pelo Estado, prevê um

aumento de, mais ou menos, 50%, em relação ao ano anterior. Mas as previsões

anteriores nos permitem afirmar que estarão novamente abaixo do efetivamente

arrecadado. Assim trabalhamos com dado matemático, retirado do comportamento

efetivo da arrecadação em anos anteriores. A receita estimada, para 2008 de R$

1.968.860.998,00, foi obtida com base na média percentual das receitas do

FUNDEB, nos meses de janeiro a abril de 2005, 2006 e 2007, em relação com o

montante anual da receita. Acreditamos que tal número esteja mais próximo da

realidade.

Por minimizar o valor arrecadado é comum ocorrerem sobras sem comprometimento

de despesas nos anos anteriores. Entre 2004 e 2007 ocorreram constantes sobras

de recursos que não foram empenhados. Com o advento do FUNDEB em

substituição ao FUNDEF6, em 2007, a situação se agravou. Um dispositivo legal

limitou, em 5%, os valores que podem ficar sem empenho (art.21 da Lei

11.494/2007).

Tabela 6 - Saldos de receitas do Fundeb-Pr sem comprometimento (sobras).

SALDOS DE RECEITAS DO FUNDEB-PR SEM COMPROMETIMENTO (SOBRAS).

ANO 2004

(EM R$)

%¹ 2005

(EM R$)

%¹ 2006

(EM R$)

%¹ 2007

(EM R$)

VALOR 6.185.309,94 100 21.802.637,75 252,49 33.435.284,71 440,56 46.954.295,87 659,13

Fonte: APP-Sindicato com dados SEFA/SEED

1. Base 1 para 2004.

6 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério.

As sobras sem comprometimento, vêm se ampliando rapidamente, em virtude da

não aplicação destes recursos no ano de seu recebimento. O valor sem empenho de

2004, que passou para aplicação em 2005, foi superior a seis milhões de reais. Em

2007 este valor superou quarenta e seis milhões de reais. Com o FUNDEB a

situação se agravou e os recursos só não foram distribuídos, a título de abono, em

razão de se ter empenhado no dia 31/12/2007 mais de setenta e sete milhões de

reais para obras e reparos, como citado anteriormente. A título de exemplo, sobre a

não aplicação dos recursos, no final de abril de 2008 o Governo do Estado tinha

aplicado no mercado financeiro mais de 318 milhões de reais nas contas 50.051-1 e

6.883-7 do Banco do Brasil. Valor suficiente para quitar 3,6 folhas de pagamentos

dos 60%, que em abril de 2008, foi pouco superior a 87 milhões de reais. Entre 2004

e 2007 as sobras aumentaram mais de 600%.

Para o ano de 2008 as projeções de evolução da receita estão sendo superadas.

Estimava-se que as receitas deste ano majorariam em 10% as receitas de 2007.

Mas, o comportamento da receita nos quatro primeiros meses de 2008, levou a

reformulação do valor estimado.

Tabela 7 - Receitas do Fundeb-Pr: meses de janeiro a abril entre os anos de 2005 e

2008.

Receitas do Fundeb-Pr: meses de janeiro a abril entre os anos de 2005 e 2008.

mês 2005 % ¹ 2006 % ¹ 2007 % ¹ 2008 % ¹

Jan² 85.685.604,26 9,2 112.677.636,25 10,9 125.139.130,34 8,9 189.952.664,00 9,6

Fev 70.139.827,39 7,5 80.260.984,96 7,8 83.488.996,72 6,0 158.423.037,09 8,0

Mar 70.085.624,61 7,5 79.780.949,40 7,7 97.010.890,59 6,9 145.306.342,30 7,4

Abr 78.822.919,30 8,4 82.880.352,48 8,0 139.690.956,92 10,0 155.768.353,73 7,9

SOMA

304.735.980,56 32,6 355.599.923,09 34,5 445.329.974,57 31,8 649.450.397,12 33,

0

Receita anual ²

934.140.005,66 100

1.031.262.687,03 100

1.398.911.973,12 100

1.968.860.998,00 100

Evolução %³ 100,0000 16,69115096 46,13632882 113,1190403

FONTE: APP-SINDICATO COM DADOS DE WWW.PR.GOV.BR/SEFA/SEED/SIAF

1.Sobre a receita anual.

2. Incluindo as sobras do ano anterior sem comprometimento de despesa.

O quadro permite observar que as receitas dos quatro primeiros meses do ano têm

comportamento uniforme. A receita do mês de janeiro gira em torno de 9% das

receitas anuais (9,17% em 2005; 10,92% em 2006; 8,94% em 2007 e; 9,64% em

2008). O mesmo se pode dizer em relação aos demais meses, onde as variações

são de pequena monta. Destaca-se o comportamento uniforme das receitas do mês

de março (7,50% em 2005; 7,73% em 2006; 6,93% em 2007 e; 7,38% em 2008). As

únicas variações dignas de nota são as de 2007. Onde janeiro e fevereiro são

receitas do Fundef e abril é o ajuste das receitas com as novas regras do Fundeb.

Ou seja, ocorrem variáveis identificáveis que explicam sua alteração, pequena, diga-

se de passagem. A média percentual de 32,9861%, utilizada para determinar a

receita estimada de 2008, foi obtida de dados dos três anos anteriores. É constante

a evolução das receitas do Fundo. Os valores entre 2005 e 2008 aumentaram 113%.

A ampliação da receita em reais, entre 2005 – mais ou menos trezentos milhões - e

2008 – mais ou menos seiscentos e cinqüenta milhões -, nos quatro primeiros

meses, ultrapassam os trezentos milhões de reais. Os recursos de 2008, em relação

aos quatro primeiros meses de 2007, aumentaram em 57,64%. Em reais os valores

entre 2007 e 2008, ampliaram-se em, cerca de, duzentos milhões.

O acréscimo da receita do Fundeb se explica devido a alguns fatores conjugados:

ampliação da arrecadação dos impostos que compõem o Fundeb; inclusão de 1/3 de

matrículas do Ensino Médio; inclusão de 1/3 dos recursos oriundos da ampliação do

percentual sobre a cesta de impostos que compõem o Fundeb; maior rigor da

fiscalização; expansão industrial; expansão do agro-negócio. Acrescente-se a estes

dados a maior transparência sobre a aplicação dos recursos e efetiva aplicação dos

recursos do Fundeb no Ensino Básico, como demonstrado acima.

Constata-se que a receita, está em constante evolução, passemos, pois, às

despesas.

Os limites são simples: 60%, no mínimo, para Trabalhadores em Educação em

efetivo exercício de docência ou em atividades de apoio definidas no Inciso II,

Parágrafo Único do artigo 22 da Lei Fundeb. O máximo 40% para os demais

Trabalhadores em Educação em atividade nas escolas e para as despesas de MDE

(Manutenção e Desenvolvimento da Educação) definidas nos artigos 70 e 71 da

LDB.

A Tabela abaixo detalha as despesas realizadas (pagas) citadas acima, nos

exercícios de 2005, 2006 e 2008. As de 2007 ainda não estão disponibilizadas. O

critério é o mesmo até aqui utilizado. Comparam-se os quatro primeiros meses de

cada ano. As despesas estão divididas de acordo com a determinação legal.

A coluna com o ano demonstra o que foi efetivamente pago nos meses em análise,

de acordo com o tipo de despesa. A coluna com % mostra a relação percentual dos

gastos com a receita do período (jan-abr).

Tabela 8 - Despesas Fundeb/Fundef-Pr: Mínimo 60%; Máximo 40% e MDE

FUNDEB-PR: FOLHAS DE PAGAMENTO 60%, 40% E MDE JAN-ABR

Mês 2005 % ¹ 2006 % ¹ 2008 % ¹

Jan

60,00% 64.207.696,29 21, 71.877.531,59 20,2 67.131.766,22 10,3

40,00% 12.815.381,01 4, 10.745.771,41 3,0 21.276.972,53 3,2

MDE 0,00 0,0 0,00 0,0 0,00 0,0

Fev

60,00% 49.508.372,12 16,2 43.874.213,34 12,3 75.447.784,75 11,6

40,00% 13.388.877,60 4,3 7.697.164,15 2,1 25.218.204,87 3,8

MDE 0,00 0,0 0,00 0,0 6.500,00 0,0

Mar

60,00% 54.213.163,69 17,7 51.035.508,65 14,3 91.632.285,88 14,1

40,00% 10.317.032,85 3,3 9.566.751,42 2,6 22.817.234,38 3,5

MDE 1.571.295,39 0,5 3.382.438,76 0,9 5.586.752,29 0,8

Abr

60,00% 55.760.939,65 18,2 62.652.557,84 17,6 87.708.693,02 13,5

40,00% 11.881.965,85 3,8 12.084.933,68 3,3 7.723.488,13 1,1

MDE 823.482,53 0,2 1.261.472,47 0,3 4.096.974,62 0,6

Receita anual ²

934.140.008,66 100

1.031.262.687,03

1.968.860.998,00 100

Receita 01-04

304.735.980,56 32,6

355.572.923,09 34,4 649.300.824,24 32,9

Soma 60% 60,00%

223.690.171,75 73,4

229.439.811,42 64,5 321.920.529,87 49,5

Soma 40% 40,00% 48.403.257,31 5,1 40.094.620,66 3,8 77.035.899,91 3,9

Soma MDE

MDE 2.394.777,92 0,2 4.643.911,23 0,4 9.690.226,91 0,4

Total

274.488.206,98 90,0 274.178.343,31

77,1 408.646.656,69 62,9

projeção 0,0

FONTE: APP-SINDICATO COM DADOS DE WWW.PR.GOV.BR/SEFA/SEED/SIAF

1.Sobre a receita de jan-abr.

2. Incluindo as sobras do ano anterior sem comprometimento de despesa.

Em valores totais (em R$), as folhas estão em acréscimo, o mesmo se dando com

as despesas de MDE. As despesas dos 60% saltaram de duzentos e vinte milhões

em 2005, para trezentos e vinte milhões em 2008. As aplicações com vencimentos

de trabalhadores da educação dos 40% eram de quarenta e oito milhões em 2005 e,

em 2008 este valor chegou a setenta e sete milhões. O mesmo ocorreu com as

despesas de MDE: dois milhões em 2005 e, nove milhões em 2008. Mas, quando se

analisa o valor percentual (como definido em Lei), as folhas estão diminuindo

drasticamente. Os valores são expressivos e preocupantes. As despesas com o

mínimo 60% diminuíram de 73,40% em 2005 para 49,57% em 2008. Esta aplicação,

aquém do limite mínimo, contraria o disposto no artigo 41 do Provimento 01/97

(037/97) do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), que determina

acompanhamento trimestral para verificação das aplicações dos percentuais

mínimos definidos na Constituição. As diminuições dos valores percentuais

aplicados nas folhas de pagamento se explicam por dois fatores conjugados:

ampliação das receitas e; política de aumentos salariais em valores incompatíveis

com a evolução da receita.

Um dos objetivos do Fundeb é a valorização do magistério! Urge um aumento que

contemple o determinado na legislação! Ou o Estado do Direito estará ameaçado!

Os governos devem cumprir os limites Constitucionais!

Saliente-se que estas considerações estão embasadas em dados sobre despesas e

receitas extraídas da contabilidade do Estado e não de meras projeções ou

conjecturas. Além do mais, o valor total previsto para aplicação na educação em

2008 é de R$ 3.454.800.000,00, para o Estado do Paraná. O Fundeb, segundo a

previsão do Estado, é inferior a 50% do valor total orçado para a educação. Poder-

se-ia utilizar maior parcela deste fundo para ampliar a base salarial dos

Trabalhadores em Educação da Rede Pública Estadual.

As negativas de equiparação salarial se embasam em limites impostos por

instrumento legal – a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Mas este argumento é

falho. Como pode uma Lei Federal ter precedência sobre uma determinação

Constitucional?

A obrigação de estados, Distrito Federal e municípios destinarem o

mínimo de 60% do Fundeb para fins de pagamento da remuneração

do magistério emana da Constituição Federal, portanto fora do

alcance de outro mandamento infraconstitucional que contenha regra

distinta. A Lei de Responsabilidade Fiscal, ao estabelecer percentual

máximo das receitas correntes líquidas para fins de cobertura dos

gastos com pessoal, não estabelece mecanismo que comprometa o

cumprimento definido em relação à utilização dos recursos do

Fundeb. Trata-se de critérios legais, técnica e operacionalmente

compatíveis, que devem ser rigorosamente observados pelos

estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios. (www.fnde.gov.br

Manual de orientação do Fundeb p.50-51).

Uma vez que os limites Constitucionais não estão sendo cumpridos (de acordo com

os dados dos quatro primeiros meses em combinação com o artigo 41 do

Provimento 01/97), e a LRF não é empecilho legal. Porque não equiparar os salários

da educação com os demais servidores do Estado detentores de curso superior?

Com a Data-base obtivemos um reajuste de 5%, que contemplou as perdas da

inflação. A folha terá, aproximadamente, o seguinte valor:

Tabela 9 - Folha de pagamento total de 2007 com reposição da inflação em 2008.

FOLHA DE PAGAMENTO TOTAL DE 2007 COM REPOSIÇÃO DA INFLAÇÃO EM 2008.

FOLHA 2007 COM MAIS 5% PARA 2008

R$ 971.869.918,89 R$ 1.020.463.414,83

FONTE: SEED/SEFA - Anexo VI

Com base nas projeções até aqui utilizadas as receitas estão previstas em:

Tabela 10 - Estimativas de receitas e limite mínimo dos 60%.

ESTIMATIVAS DE RECEITAS E LIMITE MÍNIMO DOS 60%.

RECEITA VALOR EM R$ 60%

Estado R$ 1.508.366.040,00 R$ 905.019.624,00

MEC R$ 1.679.170.529,83 R$ 1.007.502.317,89

APP R$ 1.968.860.998,00 R$ 1.181.316.598,80

FONTE: SEED/SEFA. MEC

Caso a receita prevista por MEC e Estado do Paraná sejam superadas, fato

corriqueiro nos últimos anos, como demonstrado, e, nossa previsão esteja correta,

60% corresponderão a um bilhão e cento e oitenta milhões de reais, valor acima do

estimado para a folha de 2008, pouco superior a um bilhão de reais.

Como demonstrado anteriormente, as previsões orçamentárias são suplantadas na

efetivação da receita. No caso da projeção da APP-sindicato estar correta, ao findar

o ano a aplicação do Fundeb mínimo 60% chegará em 51,83% (1.968.860.998,00 x

51,83% = 1.020.460.655,22), abaixo, portanto, do patamar constitucional.

Isto, entretanto, não é o mais grave. Para não ocorrer achatamento salarial, deve-se

manter a aplicação em 71,17% (que foi aplicado em 2007) a título do mínimo 60%.

Tabela 11 - Investimento em reais necessários para manter 71,17% em

remuneração.

INVESTIMENTO EM REAIS NECESSÁRIOS PARA MANTER 71,17% EM REMUNERAÇÃO

RECEITA VALOR EM R$ 71,17%

Estado R$ 1.508.366.040,00 R$ 1.073.504.110,66

MEC R$ 1.679.170.529,83 R$ 1.195.065.666,08

APP R$ 1.968.860.998,00 R$ 1.401.238.372,27

FONTE: SEED/SEFA. MEC

Para manter a aplicação em vencimentos em 71.17% o aumento de 5% não é

suficiente, mesmo no caso de se utilizar os valores do Estado e do MEC. Não

importa qual previsão de receita esteja correta. Em qualquer uma delas se faz

necessário um aumento para além da inflação. Com a reposição inflacionária os

vencimentos dos 60% chegarão a R$ 1.020.463.414,83 (um bilhão, vinte milhões,

quatrocentos e sessenta e três mil, quatrocentos e quatorze reais e oitenta e três

centavos). As receitas previstas por técnicos do MEC e do Governo do estado do

Paraná permitem a visualização do achatamento salarial. Para manter os 71,17%

aplicados em 2007, seriam necessários um bilhão e setenta e três milhões de reais,

cinqüenta milhões além do previsto com a reposição de 5% (cinco por cento).

Na eventualidade de se concretizar o valor da receita previsto na projeção da APP-

sindicato, se faz necessário um aumento de 37,31%7 para manter os 71,17% de

aplicação a título de 60%.

Os Trabalhadores em Educação (docentes, corpo administrativo e quadro geral)

podem e devem ser contemplados com um reajuste superior ao proposto, sob pena

de achatamento salarial, nos moldes demonstrados acima, ou de sequer atingir o

mínimo obrigatório.

7 R$ 1.020.463.414,83(folha de 2008) X 37,31% = R$ 1.401.983.314,90 (valor da folha mantendo

71,17% com a receita estimada APP-Sindicato).

Referências bibliográficas

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