ampliaÇÃo de receitas x diminuiÇÃo das despesas: … · desenvolvimento do ensino fundamental e...
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AMPLIAÇÃO DE RECEITAS X DIMINUIÇÃO DAS DESPESAS:
UMA ANÁLISE SOBRE APLICAÇÃO DO FUNDEB NO PARANÁ (2007-2008).
Aron Magno Dangui1
RESUMO: O artigo demonstra as receitas e despesas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) do Estado do Paraná no ano de 2007. Constata que as estimativas orçamentárias para receitas do Fundef/Fundeb, tanto por parte do governo do Estado do Paraná, quanto por parte do Ministério da Educação (MEC), são inferiores ao efetivamente arrecadado. Demonstra que as sobras de recursos do Fundeb sem empenho ampliaram-se em mais de 600%, entre 2004 e 2007. Evidencia que as receitas do Fundef/Fundeb estão em constante evolução e que os percentuais aplicados com despesa de pessoal estão aquém do mínimo estabelecido legalmente, nos quatro primeiros meses de 2008. Conclui-se afirmando a necessidade de aumento salarial de 37,31% para não achatar os salários do magistério do Estado do Paraná.
Palavras-chave: Fundeb. Financiamento da educação. Valorização do Magistério.
ABSTRACT: This essay shows the incomes and expenses of the Development of Basics Education and Appreciation of Education Professionals Maintenance Fund (short form, Fundeb in Portuguese) of Paraná State during the year of 2007. Notes that the budget estimates to incomes of Fundef/Fundeb, for the State of Paraná Government part, as well for the part of the Education Ministry (short form, MEC in Portuguese), are under to the effectively collected. It shows that the remaining resources of Fundeb without endeavour raised in more than 600%, between 2004 and 2007. It remarks that the incomes of Fundeb/Fundef are constantly evolving and that the percentages applied with cost of staff are short of the minimum legally established, in the first four months of 2008. We conclude affirming the necessity of salary raise of 37,31% in order not to flatten the salaries of mastership in Paraná State. Keywords: Fundeb, Education Financing, Mastership Appreciation;
Tem por meta este artigo, elucidar as aplicações dos recursos do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb), no âmbito de atuação do Governo do Estado
do Paraná. Partiremos de uma breve digressão, apontando os caminhos que
1 Aron Magno Dangui Professor – Conselheiro do Fundeb
levaram à adoção do atual modelo de financiamento da educação pública brasileira.
Em seguida, faremos uma análise dos objetivos do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef),
que antecedeu o atual Fundeb, e seus resultados. Procura-se evidenciar a efetiva
aplicação dos recursos do Fundeb de acordo com as determinações de seus artigos.
Assim, dar-se-á especial atenção às receitas e despesas efetuadas com estes
recursos. Por fim, analisaremos se os resultados, no que se refere à “valorização do
magistério” correspondem aos ditames legais.
A proposta de organizar fundos públicos para financiar a educação pública brasileira
não é nova. Remonta à década de 30 do século XX. Por fundos, entende-se a
retirada de percentuais de determinados impostos e transferências constitucionais
entre a União, os Estados e Municípios, e sua alocação em uma única fonte/conta (o
fundo) para financiar, neste caso, a educação pública.
Já na década de 30 – 1932, um documento assinado por vários intelectuais
brasileiros, fazia, entre outras, a proposta de utilizar uma “cesta” de impostos com o
intuito de financiar a educação. Este documento denominado de O manifesto dos
pioneiros da educação nova apontava diretrizes que em alguns casos, ainda hoje, é
letra impressa. Como, por exemplo, a universalização do Ensino Público. Segundo
este “manifesto”, para se assegurar uma escola pública de qualidade far-se-ia
necessário ampla autonomia dos órgãos responsáveis pela educação. Nos aspectos
relativos ao financiamento da educação prega autonomia de aplicação dos recursos
e a criação de “fundos” exclusivos para “o desempenho da obra educacional”. Assim
prega a necessidade de que estes órgãos
[...] tenham assegurados os meios materiais para poderem realizá-la. Esses meios, porém, não podem reduzir-se às verbas que, nos orçamentos, são consignados a esse serviço público e, por isto, sujeitas às crises dos erários do Estado ou as oscilações do interesse dos governos pela educação. A autonomia econômica não se poderá realizar, a não ser pela instituição de um “fundo especial ou escolar”, que, constituído de patrimônios, impostos e rendas próprias, seja administrado e aplicado exclusivamente no desempenho da obra educacional, pelos próprios órgãos do ensino, incumbidos de sua direção (AZEVEDO, 1932, p.194-195).
Este documento clamava ainda por: gratuidade do Ensino; Universalização; Fundos
para financiar a educação; nível superior para professores; ampliação dos dias
letivos e do tempo na escola.
Pode-se afirmar que o esforço, fruto do engajamento dos educadores e ativistas da
educação, se orienta em direção da universalização do ensino público, não apenas
do ensino fundamental e médio, mas de todas as esferas educacionais. É dever do
Estado propiciar á população, sem qualquer tipo de distinção, acesso a todos os
níveis de ensino.
Mas não basta apenas universalizar a oferta de vagas no ensino público. Faz-se
necessário a oferta de ensino público de qualidade. O desafio atual é, fornecer
especificamente, aos matriculados no Ensino Fundamental, qualidade no Ensino,
uma vez que, praticamente, se garantiu acesso aos que estão em idade para
freqüentar este nível de ensino. E, concomitantemente, universalizar o acesso as
demais modalidades de ensino e, garantir a qualidade, ou corremos o risco de
excluirmos por ausência de ensino aprendizagem nas escolas. Exclusão
educacional. Não exclusão da sala de aula. Da matrícula.
Para garantir estes dois elementos – universalização e qualidade de ensino – é
preciso que os professores tenham uma carreira atrativa. Com planos de Carreira
que permitam uma ampliação de seus rendimentos e permita constante
aprendizagem ao mestre, com política de inserção no meio acadêmico e constante
aperfeiçoamento da formação dos trabalhadores em educação. Salários dignos,
constante formação e infra-estrutura adequada este é o tripé em que se embasa o
desafio educacional atual.
Para se alcançar esta condição é necessário dinheiro. Muito dinheiro. Assim, o
financiamento da educação é primordial para se atingir a educação que se almeja.
Nesta perspectiva, o Fundef surge, em 1996. Este fundo foi implantado na maior
parte dos Estados no ano de 1998, como tentativa de se atingir os pressupostos de
autonomia financeira apontada, em 1932, no O manifesto dos pioneiros da educação
nova.
Em seus artigos iniciais o Fundef apontava seus objetivos primordiais. Entre estes
objetivos constava a universalização da oferta do Ensino Fundamental. Nascia,
portanto, sem importante parcela dos níveis e modalidades de Ensino. Excluía dos
componentes do Ensino Básico, a Educação Infantil (creches e pré-escolas) e o
Ensino Médio. Ao criar um nicho com financiamento exclusivo, criou o legislador um
empecilho ao relacionamento dos professores e professoras da Educação Básica.
Nos Entes Federativos, que distribuíam “abonos” para complementar a
determinação de se aplicar no mínimo 60% (sessenta por cento), na remuneração
dos docentes, diretores e supervisores, ocorreu distribuição de valores monetários a
um grupo de professores e professoras do Ensino Fundamental das séries iniciais
(primeira a quarta séries) e, os demais trabalhadores (professoras e professores,
diretores e supervisores) da Educação Infantil ficaram sem receber estes “abonos”.
Fato que gerou uma “corrida” para a inserção nas listagens de pagamento do
Fundef. O que, sem dúvida, contribuiu para ampliar os desvios de finalidade dos
recursos do fundo, tendo em vista que inúmeros chefes dos poderes executivos
incluíram estes trabalhadores nestas listagens. Deve-se ressaltar que o Poder
Executivo Estadual não se recusou a efetuar os pagamentos de agentes
educacionais e administrativos do Ensino Médio com recursos do Fundef, o qual
nasceu gerando conflitos e desvios de finalidade na aplicação dos recursos.
O incentivo á universalização da oferta do Ensino Fundamental ocorre na
distribuição dos recursos do Fundo. As receitas foram distribuídas de acordo com o
número de matrículas do Ente Federado (Estados e Municípios). Quanto maior o
número de matrículas, maior a quantidade de recursos. Na eminência de perder
recursos para o Estado, inúmeros municípios do Paraná municipalizaram suas redes
de Ensino Fundamental das séries iniciais. Ou seja, sob pena de perder recursos,
dado a metodologia de distribuição das receitas, os municípios foram coagidos a
municipalizar e ampliar a oferta de vagas em suas redes de ensino.
Art. 2º Os recursos do Fundo serão aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental público, e na valorização de seu Magistério. § 1º A distribuição dos recursos, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal dar-se-á, entre o Governo Estadual e os Governos Municipais, na proporção do número de alunos
matriculados anualmente nas escolas cadastradas das respectivas redes de ensino, considerando-se para esse fim:
I - as matrículas da 1ª a 8ª séries do ensino fundamental; § 2º A distribuição a que se refere o parágrafo anterior, a
partir de 1998, deverá considerar, ainda, a diferenciação de custo por aluno, segundo os níveis de ensino e tipos de estabelecimento, adotando-se a metodologia de cálculo e as correspondentes ponderações, de acordo com os seguintes componentes:
I - 1ª a 4ª séries; II - 5ª a 8ª séries; III - estabelecimentos de ensino especial; IV - escolas rurais. § 3º Para efeito dos cálculos mencionados no § 1º, serão
computadas exclusivamente as matrículas do ensino presencial. (Lei Fundef)
O caput do artigo segundo cria o nicho Ensino Fundamental e algo que é
crucial para a Educação Pública a Valorização do Magistério. A palavra
valorização vem do latim valorem /valere com significado, geral, de preço,
valer, valia. Também designa coragem, esforço. Por valorização
compreendemos “aumento do valor de mercadorias, gêneros, alta de preços”
E do latim valentia, significando corajoso. Assim, neste sentido, temos valor=
audácia, vigor, mérito, importância. Etimologicamente, portanto, podemos
identificar duas direções, no momento, para o significado de valorização:
preço e mérito. Um valor de coisas (preço) e outro juízo de qualidades
humanas (audácia, mérito, coragem). O sentido dado pelo legislador se
equilibra entre estes juízos: comercial/qualidade. Ora, não resta dúvida que,
o correto seria estipular um valor mínimo por hora/aula, que vigoraria em
todo território nacional. Acreditamos que tal medida não afetaria as
diferenças regionais, uma vez, que, a nosso ver, regiões com maior
desenvolvimento sócio-econômico, poderiam, teoricamente, pagar aos seus
profissionais da educação valores acima do mínimo determinado
nacionalmente. Assim teríamos um valor, um preço mínimo que deveria ser
acatado nacionalmente. Iria assim ao encontro do principio constitucional de
isonomia. Cargos com atribuições semelhantes, com piso salarial
semelhante. Em outra vertente, encontramos o principio do esforço
coragem/audácia/mérito. Assim, a valorização passaria por reconhecimento
de princípios e conceitos universais que apontam para ideais almejados pela
maior parte da humanidade. Busca, portanto, alcançar princípios judaico-
cristãos, que fundamentam nossa sociedade. A profissão de educador –
professor –é envolta em idealizações. A carreira é denominada de, entre
outras coisas: “Sacerdócio”; “missão”; “entrega”; “sacrifício”... E a Lei, bem ou
mal, atende esta atitude mistificadora da sociedade. Depreendemos, então,
que a “valorização” passa, necessariamente, pelo atendimento destes dois
conceitos: preço - qual o valor monetário de um professor? E, mérito – como
reconhecer, mérito, audácia, coragem? Calculamos que seria mais simples
instituir um piso nacional de salários.
Este Piso, como seria lógico, não foi instituído na Lei Fundef. A Valorização
do Magistério não ocorreu financeiramente.
Outro de seus objetivos, no intuito de valorizar o magistério era a instituição
obrigatória – inclusive com prazo – para que Estados e Municípios
implantassem Planos de Carreira, como determinado no artigo nono da Lei
Fundef:
Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, no prazo de seis meses da vigência desta Lei, dispor de novo Plano de Carreira e Remuneração do Magistério, de modo a assegurar: I - a remuneração condigna dos professores do ensino fundamental público, em efetivo exercício no magistério; II - o estímulo ao trabalho em sala de aula; III - a melhoria da qualidade do ensino. § 1º Os novos planos de carreira e remuneração do magistério deverão contemplar investimentos na capacitação dos professores leigos, os quais passarão a integrar quadro em extinção, de duração de cinco anos. § 2º Aos professores leigos é assegurado prazo de cinco anos para obtenção da habilitação necessária ao exercício das atividades docentes. § 3º A habilitação a que se refere o parágrafo anterior é condição para ingresso no quadro permanente da carreira, conforme os novos planos de carreira e remuneração. (Lei Fundef)
Como o Supremo Tribunal Federal entende que a União não pode estipular prazos
para os demais Entes Federados, tal tentativa ficou prejudicada. Muitos Municípios e
Estados estenderam este prazo de “seis meses” para anos. O Próprio Estado do
Paraná só vai implantar Plano de carreira para o magistério em 2004.
Entre esses objetivos estava a ampliação de recursos para o Ensino Fundamental.
Foi instituído um valor mínimo nacional por aluno/ano via decreto e, no caso de
algum Fundo (são vinte e seis fundos estaduais e um distrital) não distribuir o valor
mínimo por aluno/ano, a União complementaria este valor. Infelizmente o custo
aluno/ano é tão pequeno que o Estado do Paraná, desde a instituição da política de
fundos, jamais recebeu um centavo a título de complementação da União. Assim, a
União, por decreto, instituiu um valor tão baixo para o custo aluno/ano que os
estados do Sul, Centro-Oeste e Sudeste amiúde não são contemplados com as
complementações da união.
De qual quer forma o crescimento econômico brasileiro possibilitou uma gradativa
ampliação dos recursos do Fundef, conforme pode ser observado na Tabela 1:
Tabela 1 - Recursos do Fundef do Estado do Paraná 1998 a 2006.
FUNDEF: ESTADO DO PARANÁ 1998 A 2006
ANO RECEITAS MATRÍCULAS CUSTO ALUNO/ANO
1998 R$ 364.057.847,95 870.440 R$ 418,25
1999 R$ 419.841.487,83 873.881 R$ 480,43
2000 R$ 488.065.277,33 813.596 R$ 599,89
2001 R$ 546.872.463,14 787.308 R$ 694,61
2002 R$ 641.515.229,31 779.622 R$ 822,85
2003 R$ 711.855.864,52 760.690 R$ 935,80
2004 R$ 810.594.177,11 766.435 R$ 1.057,62
2005 R$ 918.970.993,83 754.278 R$ 1.218,35
2006 R$ 986.920.873,36 741.409 R$ 1.331,14
171,09 -14,82 218,27
Fonte: STN/Ministério da Fazenda
As receitas totais, sem atualização monetária, apresentam uma evolução de cento e
setenta e um por cento. Em 1998 o fundo totalizou R$ 364.057.847,95 (trezentos e
sessenta e quatro milhões, cinqüenta e sete mil, oitocentos e quarenta e sete reais e
noventa e cinco centavos). Em 2006, último ano de vigência do Fundef, esse valor
totalizou R$ 986.920.873,36 (novecentos e oitenta e seis milhões, novecentos e
vinte mil, oitocentos e setenta e três reais e trinta e seis centavos). Conjugado ao
decréscimo no número de alunos e alunas matriculados no período – em 1998
oitocentos e setenta mil quatrocentos e quarenta matrículas e, em 2006 setecentos e
quarenta e um mil quatrocentos e nove matrículas – temos uma ampliação
significativa do custo aluno/ano.
Em relação à valorização do magistério da Rede Pública Estadual, nos seus
aspectos monetários podemos visualizar a seguinte situação expressa na Tabela 2:
Tabela 2 – Piso Salarial para Licenciatura Plena: Rede de Ensino Público Estadual
do Paraná 1998 e 2006.
PISO SALARIAL PARA LICENCIATURA PLENA: REDE DE ENSINO
PÚBLICO ESTADUAL DO PARANÁ 1998 E 2006.
ANO PISO SALARIAL LP CUSTO
ALUNO/ANO
PERCENTUAL
1998 R$ 385,04 R$ 418,25 92,06%
2006 R$ 515,00 R$ 1.331,14 38,69%
% 33,75% 218,27%
Fonte: STN/Ministério da Fazenda/INEP/APP-SINDICATO
Em 1998, uma professora com vinte horas-aula da Rede Pública Estadual de Ensino
do Paraná, detentor de Licenciatura Plena, iniciava sua carreira recebendo trezentos
e oitenta e cinco reais e quatro centavos. Como o custo aluno/ano totalizava
quatrocentos e dezoito reais e vinte e cinco centavos, o salário inicial do professor
ou professora correspondia a noventa e dois por cento, do custo aluno-ano.
Em 2006, depois de dez anos de política pública, que tinha por objetivo valorizar o
magistério, com remuneração condigna, o piso para Licenciatura Plena atingiu
quinhentos e quinze reais, por vinte horas-aula, ampliação de 33,75%, o custo
aluno-ano, no mesmo período ampliou-se em 218,27% chegando a um mil trezentos
e trinta e um reais e quatorze centavos. O valor do piso salarial em relação ao custo
aluno-ano decresceu para 38,69%, ou seja, ocorreu um violento achatamento
salarial.
Resta ainda, sobre o Fundef, a crítica sobre a “cesta de imposto que compõem o
fundo”. Apenas quatro impostos, entre os cerca de oitenta impostos, taxas e
contribuições em vigor atualmente no Brasil. Além deste aspecto, destinou-se para o
fundo apenas 15 % (quinze por cento) do montante dos impostos. Devemos lembrar
que estados e Municípios devem aplicar 25 % (vinte e cinco por cento) de suas
receitas em educação.
Após este pequeno balanço sobre o Fundef, passemos ao fundo que o substituiu em
2007: o Fundeb com suas receitas e despesas na esfera do Governo do Estado do
Paraná.
O FUNDEB é o fundo, de recursos públicos, destinado ao financiamento do Ensino
Básico. No ano de 2007 as receitas do FUNDEB ultrapassaram um bilhão e
quatrocentos milhões de reais. Destes valores o governo do Estado do Paraná
empenhou, cerca de, um bilhão e trezentos e cinqüenta milhões de reais. Segundo a
Nota Técnica nº 01/2008, emitida pela SEED2 os recursos estão assim
discriminados:
Tabela 3 - Receitas, despesas e saldo sem empenhar do Fundeb-Pr em 2007.
RECEITAS, DESPESAS E SALDO SEM EMPENHAR DO FUNDEB-PR EM2007
TOTAL DA RECEITA TOTAL DA DESPESA SALDO %
R$ 1.398.911.973,12 R$ 1.351.957.677,25 R$ 46.954.295,87 3,35648
Fonte: SEED-Paraná.
2 Secretaria de Estado da Educação do Paraná.
Mais de quarenta e seis milhões de reais ficaram sem comprometimento, ou seja, os
valores ficaram sem empenhar e passaram de 2007 para 2008 sem destinação de
aplicação. Sobraram recursos da educação!
A Tabela abaixo demonstra esquematicamente a composição das despesas do
Fundeb em 2007:
Tabela 4 – Despesas do Fundeb-Pr em 2007.
DESPESAS DO FUNDEB-PR EM 2007.
DESPESA VALOR EM R$ %
Profissionais do Magistério da
educação(Docentes e profissionais de
suporte)
R$ 971.869.918,89 71,17
Servidores administrativos e serviços
gerais.
R$ 209.400.910,93 15,34
Transporte escolar R$ 29.229.591,55 2,14
Material de consumo R$ 5.230,05 0,00
Capacitação R$ 6.592.146,09 0,48
Pen drives R$ 2.625.900,00 0,19
Telefone R$ 3.874.286,42 0,28
Energia elétrica R$ 7.134.647,93 0,52
Água e Esgoto R$ 6.943.754,83 0,51
Serviços Gráficos R$ 2.471.270,00 0,18
Aquisição de Equipamentos R$ 5.190.547,78 0,38
Obras e reparos R$ 80.033.775,16 5,86
Outras despesas R$ 26.585.697,62 0,47
Fonte: SEED/SEFA - Anexo VI
As despesas podem, por força de lei, ser divididas em três partes: recursos do
mínimo 60% (art.22 da Lei 11.494/07); máximo 40% para pagamento de
trabalhadores em educação (art.21 da Lei 11.494/07); e para Manutenção e
Desenvolvimento da Educação – MDE – (art.21 da Lei Fundeb).
Um montante de 71,17 % dos recursos foi destinado ao pagamento dos profissionais
da educação, definidos no Inciso II, Parágrafo Único, artigo 22 da Lei Fundeb e no
artigo 2º da resolução nº 03/97 da CNE/CEB3 do Ministério da Educação. A
legislação determina que, no mínimo 60% dos recursos do Fundeb se destinam a
valorização dos Trabalhadores em Educação no exercício de docência e de suporte
pedagógico. Deve-se ressaltar que estão inclusos neste percentual os encargos
patronais.
Aos servidores administrativos e do quadro geral, são destinados 15,34% dos
recursos do Fundeb. Neste rol estão incluídos os servidores com contratos precários
e/ou por tempo determinado, além de seus encargos patronais.
O valor despendido em Transporte escolar, de 2,14% do total do fundo é,
geralmente, aplicado através de transferência de recursos do Governo do Estado
para Prefeituras, via convênio, para transporte de alunos da Rede Pública Estadual
pelo serviço de transporte escolar dos Municípios, próprios ou terceirizados.
As despesas de manutenção das escolas (água, luz, esgoto, telefone, material de
consumo, serviços de gráfica e aquisição de equipamentos) totalizaram 1,87% dos
recursos do Fundeb.
A aquisição de pen drives consumiu 0,19% das receitas e, anteriormente foi
demonstrada a título de compra de MERENDA ESCOLAR, despesa que não se
coaduna com as despesas de MDE. Sendo que, programas suplementares de
alimentação são proibidos no artigo 71 da LDB4.
A capacitação de servidores do Estado, com recursos do Fundeb, não chegam a
1%, somam, apenas 0,48% do total.
3 Conselho Nacional de Educação – Câmara de Educação Básica.
4 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Em obras e reparos estão incluídos convênios com APMFs5, Prefeituras, reparos e
construções de unidades novas. Do valor empenhado de R$ 80.033.775,16 um total
de R$ 77.722.800,15 foram empenhados no mês de dezembro de 2007. Assim,
97,11% do total empenhado para obras e reparos, foram empenhados no último mês
do ano, a maior parte no dia 31/12/2007. Outras despesas referem-se a restos a
pagar.
As finanças do Estado destinadas para a educação são, portanto, perfeitamente
administráveis e possibilitam investimentos maiores em salários, em formação e
recuperação física das escolas. Não devemos esquecer que o Fundeb representa
pouco mais de 15%, dos 30% que o Governo Estadual deve aplicar em educação
anualmente.
As receitas orçadas para o Fundef/Fundeb estão discriminadas na tabela abaixo:
Tabela 5 - Receitas estimadas – MEC/Governo do Paraná – e receitas efetivas.
RECEITAS ESTIMADAS – MEC/GOVERNO DO PARANÁ – E RECEITAS EFETIVAS.
ANO 2004(em R$) 2005(em R$) 2006(em R$) 2007(em R$) 2008 (em R$)
ESTADO 758.808.660,00 909.871.830,00 1.005.051.310,00 1.014.501.060,00 1.508.366.040,00
MEC ND
858.236.800,00 986.839.350,00
1.318.283.829,53 1.679.170.529,83
RECEITA
870.775.887,91 949.309.722,79 1.042.079.569,35 1.398.911.973,12 1.968.860.998,00¹ FONTE: APP-SINDICATO COM DADOS DE WWW.PR.GOV.BR/SEFA/SEED/SIAF E WWW.FNDE.GOV.BR www.sepl.pr.gov.br
www.mec.gov.br.
1. Receita estimada.
ND:Dados não disponíveis
As receitas orçadas, tanto por técnicos do MEC, quanto por técnicos do Governo do
Estado do Paraná, estão aquém da real arrecadação, como se pode perceber nos
dados acima. Todas as estimativas, tanto do MEC, quanto do Governo do Paraná
estão minimizadas. Em 2004 o Estado do Paraná orçou 758 milhões de reais, e a
receita arrecadada chegou a 870 milhões de reais. A receita efetivada ultrapassou
em mais de cem milhões de reais o orçado. No ano de 2005 os valores orçados por
5 Associação de Pais, Mestres e Funcionários.
dois órgãos - MEC e Estado do Paraná – ficaram, respectivamente, noventa e
quarenta milhões de reais aquém da receita efetiva. Repete-se o fenômeno em
2006. Tal situação se tornou critica a partir de 2007. Os erros de previsão se
tornaram mais agudos. O Estado do Paraná orçou trezentos e oitenta milhões de
reais aquém do efetivamente arrecadado! Equivoco superior a um terço dos valores
arrecadados! Aparentemente os técnicos do MEC calcularam – os dados são
fornecidos pelo Estado do Paraná – com mais acerto as receitas dentro da nova
lógica do Fundeb, pois sua estimativa é inferior em, cerca de, oitenta milhões, a
arrecadação. Para 2008, o orçamento do Fundeb, feito pelo Estado, prevê um
aumento de, mais ou menos, 50%, em relação ao ano anterior. Mas as previsões
anteriores nos permitem afirmar que estarão novamente abaixo do efetivamente
arrecadado. Assim trabalhamos com dado matemático, retirado do comportamento
efetivo da arrecadação em anos anteriores. A receita estimada, para 2008 de R$
1.968.860.998,00, foi obtida com base na média percentual das receitas do
FUNDEB, nos meses de janeiro a abril de 2005, 2006 e 2007, em relação com o
montante anual da receita. Acreditamos que tal número esteja mais próximo da
realidade.
Por minimizar o valor arrecadado é comum ocorrerem sobras sem comprometimento
de despesas nos anos anteriores. Entre 2004 e 2007 ocorreram constantes sobras
de recursos que não foram empenhados. Com o advento do FUNDEB em
substituição ao FUNDEF6, em 2007, a situação se agravou. Um dispositivo legal
limitou, em 5%, os valores que podem ficar sem empenho (art.21 da Lei
11.494/2007).
Tabela 6 - Saldos de receitas do Fundeb-Pr sem comprometimento (sobras).
SALDOS DE RECEITAS DO FUNDEB-PR SEM COMPROMETIMENTO (SOBRAS).
ANO 2004
(EM R$)
%¹ 2005
(EM R$)
%¹ 2006
(EM R$)
%¹ 2007
(EM R$)
%¹
VALOR 6.185.309,94 100 21.802.637,75 252,49 33.435.284,71 440,56 46.954.295,87 659,13
Fonte: APP-Sindicato com dados SEFA/SEED
1. Base 1 para 2004.
6 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério.
As sobras sem comprometimento, vêm se ampliando rapidamente, em virtude da
não aplicação destes recursos no ano de seu recebimento. O valor sem empenho de
2004, que passou para aplicação em 2005, foi superior a seis milhões de reais. Em
2007 este valor superou quarenta e seis milhões de reais. Com o FUNDEB a
situação se agravou e os recursos só não foram distribuídos, a título de abono, em
razão de se ter empenhado no dia 31/12/2007 mais de setenta e sete milhões de
reais para obras e reparos, como citado anteriormente. A título de exemplo, sobre a
não aplicação dos recursos, no final de abril de 2008 o Governo do Estado tinha
aplicado no mercado financeiro mais de 318 milhões de reais nas contas 50.051-1 e
6.883-7 do Banco do Brasil. Valor suficiente para quitar 3,6 folhas de pagamentos
dos 60%, que em abril de 2008, foi pouco superior a 87 milhões de reais. Entre 2004
e 2007 as sobras aumentaram mais de 600%.
Para o ano de 2008 as projeções de evolução da receita estão sendo superadas.
Estimava-se que as receitas deste ano majorariam em 10% as receitas de 2007.
Mas, o comportamento da receita nos quatro primeiros meses de 2008, levou a
reformulação do valor estimado.
Tabela 7 - Receitas do Fundeb-Pr: meses de janeiro a abril entre os anos de 2005 e
2008.
Receitas do Fundeb-Pr: meses de janeiro a abril entre os anos de 2005 e 2008.
mês 2005 % ¹ 2006 % ¹ 2007 % ¹ 2008 % ¹
Jan² 85.685.604,26 9,2 112.677.636,25 10,9 125.139.130,34 8,9 189.952.664,00 9,6
Fev 70.139.827,39 7,5 80.260.984,96 7,8 83.488.996,72 6,0 158.423.037,09 8,0
Mar 70.085.624,61 7,5 79.780.949,40 7,7 97.010.890,59 6,9 145.306.342,30 7,4
Abr 78.822.919,30 8,4 82.880.352,48 8,0 139.690.956,92 10,0 155.768.353,73 7,9
SOMA
304.735.980,56 32,6 355.599.923,09 34,5 445.329.974,57 31,8 649.450.397,12 33,
0
Receita anual ²
934.140.005,66 100
1.031.262.687,03 100
1.398.911.973,12 100
1.968.860.998,00 100
Evolução %³ 100,0000 16,69115096 46,13632882 113,1190403
FONTE: APP-SINDICATO COM DADOS DE WWW.PR.GOV.BR/SEFA/SEED/SIAF
1.Sobre a receita anual.
2. Incluindo as sobras do ano anterior sem comprometimento de despesa.
O quadro permite observar que as receitas dos quatro primeiros meses do ano têm
comportamento uniforme. A receita do mês de janeiro gira em torno de 9% das
receitas anuais (9,17% em 2005; 10,92% em 2006; 8,94% em 2007 e; 9,64% em
2008). O mesmo se pode dizer em relação aos demais meses, onde as variações
são de pequena monta. Destaca-se o comportamento uniforme das receitas do mês
de março (7,50% em 2005; 7,73% em 2006; 6,93% em 2007 e; 7,38% em 2008). As
únicas variações dignas de nota são as de 2007. Onde janeiro e fevereiro são
receitas do Fundef e abril é o ajuste das receitas com as novas regras do Fundeb.
Ou seja, ocorrem variáveis identificáveis que explicam sua alteração, pequena, diga-
se de passagem. A média percentual de 32,9861%, utilizada para determinar a
receita estimada de 2008, foi obtida de dados dos três anos anteriores. É constante
a evolução das receitas do Fundo. Os valores entre 2005 e 2008 aumentaram 113%.
A ampliação da receita em reais, entre 2005 – mais ou menos trezentos milhões - e
2008 – mais ou menos seiscentos e cinqüenta milhões -, nos quatro primeiros
meses, ultrapassam os trezentos milhões de reais. Os recursos de 2008, em relação
aos quatro primeiros meses de 2007, aumentaram em 57,64%. Em reais os valores
entre 2007 e 2008, ampliaram-se em, cerca de, duzentos milhões.
O acréscimo da receita do Fundeb se explica devido a alguns fatores conjugados:
ampliação da arrecadação dos impostos que compõem o Fundeb; inclusão de 1/3 de
matrículas do Ensino Médio; inclusão de 1/3 dos recursos oriundos da ampliação do
percentual sobre a cesta de impostos que compõem o Fundeb; maior rigor da
fiscalização; expansão industrial; expansão do agro-negócio. Acrescente-se a estes
dados a maior transparência sobre a aplicação dos recursos e efetiva aplicação dos
recursos do Fundeb no Ensino Básico, como demonstrado acima.
Constata-se que a receita, está em constante evolução, passemos, pois, às
despesas.
Os limites são simples: 60%, no mínimo, para Trabalhadores em Educação em
efetivo exercício de docência ou em atividades de apoio definidas no Inciso II,
Parágrafo Único do artigo 22 da Lei Fundeb. O máximo 40% para os demais
Trabalhadores em Educação em atividade nas escolas e para as despesas de MDE
(Manutenção e Desenvolvimento da Educação) definidas nos artigos 70 e 71 da
LDB.
A Tabela abaixo detalha as despesas realizadas (pagas) citadas acima, nos
exercícios de 2005, 2006 e 2008. As de 2007 ainda não estão disponibilizadas. O
critério é o mesmo até aqui utilizado. Comparam-se os quatro primeiros meses de
cada ano. As despesas estão divididas de acordo com a determinação legal.
A coluna com o ano demonstra o que foi efetivamente pago nos meses em análise,
de acordo com o tipo de despesa. A coluna com % mostra a relação percentual dos
gastos com a receita do período (jan-abr).
Tabela 8 - Despesas Fundeb/Fundef-Pr: Mínimo 60%; Máximo 40% e MDE
FUNDEB-PR: FOLHAS DE PAGAMENTO 60%, 40% E MDE JAN-ABR
Mês 2005 % ¹ 2006 % ¹ 2008 % ¹
Jan
60,00% 64.207.696,29 21, 71.877.531,59 20,2 67.131.766,22 10,3
40,00% 12.815.381,01 4, 10.745.771,41 3,0 21.276.972,53 3,2
MDE 0,00 0,0 0,00 0,0 0,00 0,0
Fev
60,00% 49.508.372,12 16,2 43.874.213,34 12,3 75.447.784,75 11,6
40,00% 13.388.877,60 4,3 7.697.164,15 2,1 25.218.204,87 3,8
MDE 0,00 0,0 0,00 0,0 6.500,00 0,0
Mar
60,00% 54.213.163,69 17,7 51.035.508,65 14,3 91.632.285,88 14,1
40,00% 10.317.032,85 3,3 9.566.751,42 2,6 22.817.234,38 3,5
MDE 1.571.295,39 0,5 3.382.438,76 0,9 5.586.752,29 0,8
Abr
60,00% 55.760.939,65 18,2 62.652.557,84 17,6 87.708.693,02 13,5
40,00% 11.881.965,85 3,8 12.084.933,68 3,3 7.723.488,13 1,1
MDE 823.482,53 0,2 1.261.472,47 0,3 4.096.974,62 0,6
Receita anual ²
934.140.008,66 100
1.031.262.687,03
1.968.860.998,00 100
Receita 01-04
304.735.980,56 32,6
355.572.923,09 34,4 649.300.824,24 32,9
Soma 60% 60,00%
223.690.171,75 73,4
229.439.811,42 64,5 321.920.529,87 49,5
Soma 40% 40,00% 48.403.257,31 5,1 40.094.620,66 3,8 77.035.899,91 3,9
Soma MDE
MDE 2.394.777,92 0,2 4.643.911,23 0,4 9.690.226,91 0,4
Total
274.488.206,98 90,0 274.178.343,31
77,1 408.646.656,69 62,9
projeção 0,0
FONTE: APP-SINDICATO COM DADOS DE WWW.PR.GOV.BR/SEFA/SEED/SIAF
1.Sobre a receita de jan-abr.
2. Incluindo as sobras do ano anterior sem comprometimento de despesa.
Em valores totais (em R$), as folhas estão em acréscimo, o mesmo se dando com
as despesas de MDE. As despesas dos 60% saltaram de duzentos e vinte milhões
em 2005, para trezentos e vinte milhões em 2008. As aplicações com vencimentos
de trabalhadores da educação dos 40% eram de quarenta e oito milhões em 2005 e,
em 2008 este valor chegou a setenta e sete milhões. O mesmo ocorreu com as
despesas de MDE: dois milhões em 2005 e, nove milhões em 2008. Mas, quando se
analisa o valor percentual (como definido em Lei), as folhas estão diminuindo
drasticamente. Os valores são expressivos e preocupantes. As despesas com o
mínimo 60% diminuíram de 73,40% em 2005 para 49,57% em 2008. Esta aplicação,
aquém do limite mínimo, contraria o disposto no artigo 41 do Provimento 01/97
(037/97) do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), que determina
acompanhamento trimestral para verificação das aplicações dos percentuais
mínimos definidos na Constituição. As diminuições dos valores percentuais
aplicados nas folhas de pagamento se explicam por dois fatores conjugados:
ampliação das receitas e; política de aumentos salariais em valores incompatíveis
com a evolução da receita.
Um dos objetivos do Fundeb é a valorização do magistério! Urge um aumento que
contemple o determinado na legislação! Ou o Estado do Direito estará ameaçado!
Os governos devem cumprir os limites Constitucionais!
Saliente-se que estas considerações estão embasadas em dados sobre despesas e
receitas extraídas da contabilidade do Estado e não de meras projeções ou
conjecturas. Além do mais, o valor total previsto para aplicação na educação em
2008 é de R$ 3.454.800.000,00, para o Estado do Paraná. O Fundeb, segundo a
previsão do Estado, é inferior a 50% do valor total orçado para a educação. Poder-
se-ia utilizar maior parcela deste fundo para ampliar a base salarial dos
Trabalhadores em Educação da Rede Pública Estadual.
As negativas de equiparação salarial se embasam em limites impostos por
instrumento legal – a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Mas este argumento é
falho. Como pode uma Lei Federal ter precedência sobre uma determinação
Constitucional?
A obrigação de estados, Distrito Federal e municípios destinarem o
mínimo de 60% do Fundeb para fins de pagamento da remuneração
do magistério emana da Constituição Federal, portanto fora do
alcance de outro mandamento infraconstitucional que contenha regra
distinta. A Lei de Responsabilidade Fiscal, ao estabelecer percentual
máximo das receitas correntes líquidas para fins de cobertura dos
gastos com pessoal, não estabelece mecanismo que comprometa o
cumprimento definido em relação à utilização dos recursos do
Fundeb. Trata-se de critérios legais, técnica e operacionalmente
compatíveis, que devem ser rigorosamente observados pelos
estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios. (www.fnde.gov.br
Manual de orientação do Fundeb p.50-51).
Uma vez que os limites Constitucionais não estão sendo cumpridos (de acordo com
os dados dos quatro primeiros meses em combinação com o artigo 41 do
Provimento 01/97), e a LRF não é empecilho legal. Porque não equiparar os salários
da educação com os demais servidores do Estado detentores de curso superior?
Com a Data-base obtivemos um reajuste de 5%, que contemplou as perdas da
inflação. A folha terá, aproximadamente, o seguinte valor:
Tabela 9 - Folha de pagamento total de 2007 com reposição da inflação em 2008.
FOLHA DE PAGAMENTO TOTAL DE 2007 COM REPOSIÇÃO DA INFLAÇÃO EM 2008.
FOLHA 2007 COM MAIS 5% PARA 2008
R$ 971.869.918,89 R$ 1.020.463.414,83
FONTE: SEED/SEFA - Anexo VI
Com base nas projeções até aqui utilizadas as receitas estão previstas em:
Tabela 10 - Estimativas de receitas e limite mínimo dos 60%.
ESTIMATIVAS DE RECEITAS E LIMITE MÍNIMO DOS 60%.
RECEITA VALOR EM R$ 60%
Estado R$ 1.508.366.040,00 R$ 905.019.624,00
MEC R$ 1.679.170.529,83 R$ 1.007.502.317,89
APP R$ 1.968.860.998,00 R$ 1.181.316.598,80
FONTE: SEED/SEFA. MEC
Caso a receita prevista por MEC e Estado do Paraná sejam superadas, fato
corriqueiro nos últimos anos, como demonstrado, e, nossa previsão esteja correta,
60% corresponderão a um bilhão e cento e oitenta milhões de reais, valor acima do
estimado para a folha de 2008, pouco superior a um bilhão de reais.
Como demonstrado anteriormente, as previsões orçamentárias são suplantadas na
efetivação da receita. No caso da projeção da APP-sindicato estar correta, ao findar
o ano a aplicação do Fundeb mínimo 60% chegará em 51,83% (1.968.860.998,00 x
51,83% = 1.020.460.655,22), abaixo, portanto, do patamar constitucional.
Isto, entretanto, não é o mais grave. Para não ocorrer achatamento salarial, deve-se
manter a aplicação em 71,17% (que foi aplicado em 2007) a título do mínimo 60%.
Tabela 11 - Investimento em reais necessários para manter 71,17% em
remuneração.
INVESTIMENTO EM REAIS NECESSÁRIOS PARA MANTER 71,17% EM REMUNERAÇÃO
RECEITA VALOR EM R$ 71,17%
Estado R$ 1.508.366.040,00 R$ 1.073.504.110,66
MEC R$ 1.679.170.529,83 R$ 1.195.065.666,08
APP R$ 1.968.860.998,00 R$ 1.401.238.372,27
FONTE: SEED/SEFA. MEC
Para manter a aplicação em vencimentos em 71.17% o aumento de 5% não é
suficiente, mesmo no caso de se utilizar os valores do Estado e do MEC. Não
importa qual previsão de receita esteja correta. Em qualquer uma delas se faz
necessário um aumento para além da inflação. Com a reposição inflacionária os
vencimentos dos 60% chegarão a R$ 1.020.463.414,83 (um bilhão, vinte milhões,
quatrocentos e sessenta e três mil, quatrocentos e quatorze reais e oitenta e três
centavos). As receitas previstas por técnicos do MEC e do Governo do estado do
Paraná permitem a visualização do achatamento salarial. Para manter os 71,17%
aplicados em 2007, seriam necessários um bilhão e setenta e três milhões de reais,
cinqüenta milhões além do previsto com a reposição de 5% (cinco por cento).
Na eventualidade de se concretizar o valor da receita previsto na projeção da APP-
sindicato, se faz necessário um aumento de 37,31%7 para manter os 71,17% de
aplicação a título de 60%.
Os Trabalhadores em Educação (docentes, corpo administrativo e quadro geral)
podem e devem ser contemplados com um reajuste superior ao proposto, sob pena
de achatamento salarial, nos moldes demonstrados acima, ou de sequer atingir o
mínimo obrigatório.
7 R$ 1.020.463.414,83(folha de 2008) X 37,31% = R$ 1.401.983.314,90 (valor da folha mantendo
71,17% com a receita estimada APP-Sindicato).
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