zanella, maria nilvane. as bases teóricas da socioeducação (ucb)
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7/29/2019 ZANELLA, Maria Nilvane. As bases tericas da socioeducao (UCB)
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137Revista Dialogos: pesquisa em extenso universitria. IV Congresso Internacional dePedagogia Social: domnio epistemolgico. Braslia, v.18, n.1, dez, 2012
As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas*
MARIA NILVANE ZANELLA1
* Esse o primeiro de quatro artigos que se pretende publicar sobre o
tema e decorrente da dissertao de Mestrado Prossional em Polticas
e Prticas em Adolescente em conito com a lei, defendida sob o ttulo
Bases tericas da Socioeducao: anlise das prticas de interveno e
metodologias de atendimento do adolescente em situao de conito com
a lei, no ano de 2011 na Universidade Bandeirantes de So Paulo, sob a
orientao da professora Dra. Isa Maria Ferreira da Rosa Guar.
1 Pedagoga, Especialista em Gesto em Centro de Socioeducao, Mestre
em Polticas e Prticas em Adolescente em Conito com a Lei e Mestranda
em Educao (UEM). E-mail: nilvane@gmail.com
RESUMOO referido artigo sistematiza a anlise, concluda
em 2011, no Mestrado Stricto Senso em Polticas e Prticas
em Adolescente em conito com a Lei, da Universidade
Bandeirantes de So Paulo. A pesquisa bibliogrca
objetiva desvelar as bases tericas da educao socialliberal, estruturadas a partir da anlise de 27 estudos que
sistematizaram prticas e metodologias de atendimento
do adolescente em situao de conito com a lei no Brasil.
O problema de pesquisa buscou identicar, como as bases
tericas da educao social liberal se apresentam nas
metodologias de atendimento e prticas socioeducativas
desenvolvidas com adolescentes em conito com a lei?
Para denir o objeto selecionaram-se estudos realizados
entre os anos de 1990 a 2008, disponveis no banco de
teses e dissertaes da Coordenao de aperfeioamento
de pessoal de nvel superior (CAPES). Nesse estudo, ser
traado um paralelo entre os fundamentos da educao
escolar e da educao social, concebendo-se que para a
educao escolar o espao institucional a escola, enquanto
que para a educao social, quando se trata de adolescente
em situao de conito com a lei, o lugar institucional o
espao da socioeducao que se fundamenta em duas
teorias, uma de carter liberal e outra de cunho progressista.
O artigo apresentado segue o caminho terico percorrido
por Dermeval Saviani ao analisar as Teorias da educao e
objetiva identicar a presena de Teorias no-crticas, no
mbito da socioeducao e o estudo justica-se por ser uma
pesquisa de relevncia para os diferentes prossionais queatuam na rea.
PALAVRAS-CHAVE: Socioeducao, Adolescente emsituao de conito com a lei, Bases tericas, Pedagogia
social, Teorias da Educao social liberal e progressista.
ABSTRACTThis Article systematises the analysis, of the Masters
Degree Stricto Sense Policies and Practices in Adolescents
in conict with the Law research, of the Bandeirantes
University in So Paulo, completed in 2011. The literature
review aims to uncover the theoretical basis of social liberaleducation, that was structured from the analysis of 27
systematized practices and methodologies to adolescents in
conict with the law studies, in Brazil. The research problem
was to identify, how the theoretical basis of social liberal
education are present in the methodologies of care and
socio-educational practices developed with adolescents in
conict with the law. To set the object of this study it was
selected studies conducted between 1990 to 2008, available
in a database of thesis and dissertations of the Coordination
of development of senior sta (CAPES). In this study, a
parallel between the school education and social education
foundation, conceiving that the school education space is
the institutional school, while for social education, when
it comes to adolescents in conict with the law, the place
is the institutional socioeducation space which is based on
two theories, the liberal social one and the progressive one.
The presented paper follows the path traveled by Dermeval
Saviani theory that analyses the theories of education and
aims to identify the presence of non-critical theories within
the socioeducation. This study is justied because it has
relevance for the professionals who are working in this area.
KEYWORDS: Socioeducation, Adolescents in conictwith the law, Theoretical basis, Social pedagogy, Theories of
social liberal and progressive education.
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INTRODUO
Ao apresentar as teorias que reetem sobre
as relaes entre educao e sociedade, Saviani
classicou essas teorias em no-crticas, teorias
crtico-reprodutivistas e teorias crticas. A classicao
pautou-se no modo como essas teorias pressupem a
educao e consequentemente a escola. Nesse sentido,
esse estudo procura identicar pressupostos da teoria
no-crtica nas pesquisas que propem ou descrevem
intervenes de atendimentos socioeducativos.
A escolha da bibliograa de referncia justica-se
por ser esse um dos primeiros estudos que compila
as bases tericas da educao escolar brasileira e
mesmo sendo o texto produzido no sculo passado,
so reexes que [...] procuram aproximar o leitor
do signicado daquela concepo educacional que,
desde 1984, venho denominando pedagogia histrico-
crtica. Para o autor, embora datado de 1983, esse
texto, mantm-se atual, sendo oportuno, ainda, para
recolocar em novo patamar a questo da unidade das
foras progressistas no campo educacional (SAVIANI,
2008b, p. 1).
O embasamento terico-metodolgico da
pesquisa discutir inicialmente o processo histrico
que fundamenta a teoria da educao no-crtica e
posterior apresentar a aproximao com objeto da
pesquisa, relacionando essa teoria educacional com a
prtica socioeducativa.
EDUCAO SOCIAL LIBERAL: DESVELANDO
O CONTEXTO HISTRICO
Para Saviani (1984) as teorias no-crticas de
educao, reguladas em uma concepo de mundo
liberal so constitudas pela pedagogia tradicional,
pedagogia nova e tecnicista. No sistema capitalista,
os conitos sociais e a pobreza colocam em risco
uma pretensa estabilidade. Nesse sentido torna-se
necessrio diagnosticar os problemas sociais e buscar
formas alternativas de controle, o que justica uma
proposta de Pedagogia Social que possibilite pacicar
a populao desassistida socialmente.
O conceito de educao social mais difundido
atualmente possui origens relacionadas com a crise
blica da Europa na primeira metade do sculo XX,
conforme descreve Daz:
Nesta poca, procurava-se na educaouma soluo para os problemas humanose sociais (fortes movimentos migratrios,proletarizao do campesinato, desemprego,
pobreza, excluso econmica e cultural,abandono de menores, delinquncia, entreoutros) que se produziram a partir da novarealidade ento criada. Toda esta situao ircriando o espao e a necessidade para umapedagogia que d resposta s necessidadesindividuais e sociais e estabelecendo o ideal decomunidade, face ao excessivo individualismoque se propugnava na educao anterior.Esta nova pedagogia ser designada comoPedagogia Social (2006, p. 93).
Caliman apresenta Pestalozzi e Froebel comoprecursores da Pedagogia Social que, nesse artigo,
adjetivamos de no-crtica e segundo ele
O termo de origem alem e foi utilizadoinicialmente por K. F. Magwer em 1844, naPadagogische Revue, e mais adiante por A.Diesterweg (1850) e Natorp (1898), que aanalisa como disciplina pedaggica. Foramas problemticas sociais que emergiramda industrializao, a partir da metade dosculo XIX, especialmente na Alemanha, quemotivaram tal sistematizao da pedagogia
social como cincia e como disciplina (2008, p.17).
Segundo Niskier, no Brasil a Pedagogia Social
serviu aos interesses do Governo, quando aps a I
Guerra Mundial a educao popular passou a ser vista
por agncias internacionais como [...] a caixa de
ressonncia dos problemas que agridem os pases em
desenvolvimento para os quais se buscam solues
alternativas (2001, p. 251). Nesse contexto, em
1968, Philip H. Coombs ento Diretor do InstitutoInternacional de Planejamento da Educao, da
Organizao das Naes Unidas para a Educao, a
Cincia e a Cultura (UNESCO), ao analisar o sistema
de ensino, inserido em seu ambiente poltico, social
e econmico apreendeu uma possvel crise mundial
e sinalizou que a pedagogia moderna seria incapaz
de descrever o mundo da educao atual, como
tambm de resolver sozinha a crise que se instaurou
mundialmente no sistema de ensino e segundo
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ele ainda haveria tempo de colocar em ao uma
estratgia que impedisse o desajustamento [...] da
prpria sociedade (COOMBS, 1986, Prefcio).Para intencionalmente resolver o problema
gerado pelo sistema capitalista, o autor publicou ainda
o estudo A crise mundial da educao: uma anlise
de sistemas, no qual sugeriu o desmembramento do
sistema educacional em elementos formais (cursos
ociais) e informais (atualizao prossional, tcnica
e rural, alfabetizao de adultos, etc.), destacando
especialmente a escassez dos recursos destinados aos
programas educacionais (COOMBS, 1986).
Em consonncia com o interesse dosorganismos internacionais, a educao popular
passou a ser considerada um modelo de educao
social e uma possvel resposta ausncia do papel do
Estado enquanto poltica pblica. Em 1972, a Unesco,
apresentou o Relatrio Aprender a Ser, denominado
Relatrio Faure, que orientava ser a Educao de
Jovens e Adultos (EJA) uma educao permanente,
sendo assim, esta deixaria de fazer parte da Educao
Bsica (VENTURA, 2008).
Na dcada de 90 do sculo XX, o Banco Mundial,
na mesma linha terica elaborou o relatrioA pobreza
(1990) anunciando que a educao bsica um fator
preponderante para o crescimento econmico,
desenvolvimento social e reduo da pobreza, o que
explica o interesse dos Organizamos Internacionais emretirar a modalidade EJA da educao bsica (BANCO
MUNDIAL, 1990).
No entanto, o documento preponderante para a
educao social liberal foi publicado, melhor dizendo,
republicado mais de 20 anos depois do Relatrio Faure,
sendo ento denominado, Relatrio para a Unesco da
Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo
XXI elaborado entre os anos de 1993 a 1996 cou
amplamente conhecido sob o ttulo Educao: um
tesouro a descobrirde Jacques Delors.Atravs de uma proposta humanista, osestudos do Relatrio Faure pretendiamgarantir ao Estado nacional o papel decoordenador das relaes capitalistas atravsdas ideias de educao permanente e desociedade educativa. E o Relatrio Delors,nos anos 1990, em linhas gerais, cumpriu omesmo objetivo, ou seja, o de construir umaproposta educacional capaz de dar respostas atual fase de acumulao exvel do sistemacapitalista (Grifo do autor, VENTURA, 2008, p.7).
Segundo Niskier (2001), a possibilidade de
contradio, fez com que a educao popular, em
desacordo com os pressupostos desses organismos
passasse a ser utilizada, como estratgia crtica de
transformao da realidade em iniciativas pedaggicas
como a do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem
Terra (MST), o que fez com que a Unesco publicasse
em 2005 o caderno intitulado Educao popular na
Amrica Latina: dilogos e perspectivas enfatizando que
seria necessria [...] uma reviso crtica das prticas e
concepes at ento vigentes na Educao Popular
luz das grandes transformaes em curso no mundo e
de modo particular, nas sociedades latino-americanas
(UNESCO, 2005, p. 96).
A proposta do Organismo foi denominada
refundamentao da Educao Popular e objetiva
redenir seu papel, suas tarefas, sua concepo
metodolgica e criar novos instrumentos para sua
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No sistema capitalista,os conitos sociais e a
pobreza colocam em
risco uma pretensaestabilidade. Nessesentido torna-se
necessrio diagnosticaros problemas sociais
e buscar formasalternativas de controle,
o que justifca uma
proposta de PedagogiaSocial que possibilitepacifcar a populao
desassistida socialmente.
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interveno (Ibdem). A refundamentao, segundo
os pressupostos da Unesco busca eliminar o modelo
de Educao Social crtica que ainda resiste no Brasil e
Amrica Latina.
PRESSUPOSTOS DE UMA PRTICA
SOCIOEDUCATIVA NO-CRTICA
A partir desse ponto, o artigo buscar relacionar
a teoria no-crtica sistematizada por Saviani, com as
prticas descritas nas dissertaes e teses analisadas.
Na organizao do texto Saviani (1984) nomeou as
trs concepes de educao que possuem uma
concepo de sociedade harmoniosa e que concebem
a marginalidade como um fenmeno que deve ser
corrigido pela educao, sendo elas a PedagogiaTradicional, a Pedagogia Nova e a Pedagogia Tecnicista.
A PEDAGOGIA TRADICIONAL E OS SEUS
PRESSUPOSTOS NA SOCIOEDUCAO
Na tendncia tradicional, marginalizado
quem no esclarecido e a educao um antdoto
ignorncia, logo, um instrumento para equacionar
o problema da marginalidade (SAVIANI, 1984, p. 10)
e conforme Libneo nessa tendncia pedaggica oaluno educado pra atingir, pelo prprio esforo, sua
plena realizao como pessoa (Grifo meu, 1990, p. 22).
Aproximando a reexo para o sistema
socioeducativo possvel observar que essa concepo
encontra-se presente na exclusiva culpabilizao do
adolescente, pela reincidncia ou cometimento de
atos infracionais, desconsiderando os condicionantes
sociais e a ausncia de polticas pblicas.
Nessa perspectiva, a pesquisa de Lima (2007)
relata que a Febem de So Paulo dene o lcus documprimento da medida socioeducativa, tendo como
principal critrio a gravidade da infrao, sendo os atos
infracionais mais gravosos determinantes para denir
o local de cumprimento da medida. Aun descreve uma
dessas unidades que atende adolescentes reincidentes
no Estado
A unidade de internao, a qual vou mereferir nesta narrativa, era uma das ditasmais problemticas do complexo. Abrigava
internos com infraes graves e a maioria dosadolescentes j tinha alcanado a maioridadepenal e, se no eram reincidentes na Febem,j tinham circulado por vrias unidades e/ou complexos. Sua estrutura fsica pareciabonita; lembrava o ptio de colgio, espaosde educao talvez, mas um clima sombrio
denunciava relaes tortas, evidenciandoproibies, ameaas, medo e descrena (AUN,
2005, p. 14).
O relato da pesquisadora demonstra que
os adolescentes recebem do coletivo um estigma
que aparentemente inofensivo, os transforma
em irrecuperveis. Esses adolescentes ao serem
transferidos chegam nova unidade com status de
lder, [...] um certicado de que a unidade no deu
conta de mim, ou seja, um certicado de considerao,
liderana e poder; ainda mais valorizado se emitido porunidades palco de grandes rebelies e periculosidade
(AUN, 2005, p. 105).
A anlise demonstra que a categoria reincidncia
segue a orientao terica de uma tendncia
pedaggica tradicional, de cunho liberal, que
acompanha a trajetria do adolescente. Essa teoria
do conhecimento comunga da idia de uma sociedade
planejada, organizada, prevista e controlada em
todos os seus nveis, sendo que o sujeito inadaptado
socialmente deve ser retirado do organismo social.A concepo terica do ajustamento aparece
na reproduo de um documento tcnico de 1976 da
Fundao Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM).
Segundo Violante (1989, p. 68-69), no documento, a
instituio explicita que a equipe tcnica objetiva tratar
o menor, auxiliando-o em sua reintegrao, sendo que,
o mesmo dever ser reeducado, prossionalizado,
tratado de acordo com suas caractersticas prprias,
e posteriormente mudar o seu comportamento,
adquirindo aquelas condies mnimas indispensveispara que ele retorne comunidade como cidado til
(VIOLANTE, 1989, p. 68-69).
Lima na dissertao analisada evidencia que
competia Fundao Pro-menor, elaborare executar programas de atendimento aomenor carenciado, abandonado e ou infrator,promover a sua reintegrao social, adotarprovidncias para prevenir a marginalizaoe corrigir as causas de desajustes dessesmenores (Grifo meu, 2007, p. 34).
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Para Aun o poder avaliador dos tcnicos, muitas
vezes, reete a perspectiva do ajustamento social
como parmetro para correo de conduta do sujeito
e da sua violncia (Grifo meu, 2005, p. 121). Oliveira
tambm encontrou na funo dos prossionais
resqucios de ajustamento e segundo elaA Unidade de Tratamento recebia os menoresque haviam passado pela Triagem e queapresentavam, conforme levantamento,alguma diculdade signicativa em suaconduta, sendo esse o motivo alegadopara denir o tempo de permanncia maisprolongado e necessrio para sua recuperaopsquica e social, at encontrarem-se aptospara a reintegrao social (Grifo do autor,2005, p. 58).
As pesquisas analisadas acima identicarampressupostos da pedagogia tradicional na prtica
realizada nas Instituies Socioeducativas. Entretanto,
alguns pesquisadores utilizaram essa concepo terica
ao proporem intervenes em suas pesquisas. Hasse
(2004, p. 29), por exemplo, deniu que a Biblioterapia,
objeto de sua pesquisa pode ser denida como um
processo de interao dinmica [...] que pode ser
utilizada para avaliao, ajustamento e crescimento
pessoal, sendo que a tcnica tambm objetiva
enfocar aspectos das doenas mentais,distrbios de comportamento, ajustamentoe desenvolvimento pessoal, fornecendoliteratura sobre o assunto, resultando numfavorecimento mudana de atitudes ecomportamento nos pacientes, com a soluoou melhora do problema de comportamentoapresentado (HASSE, 2004, p. 40).
Nilsson, seguindo o mesmo pressuposto terico
defende que a internao muitas vezes o tempo
necessrio para comear um processo de renovao,
ou seja, o adolescente deve se desprender de
lembranas, costumes e outras tradies, pois
livres do peso do passado e cumprido o processo de
reeducao, 60% dos infratores internos, comeam
nova vida ou o processo de renovao (2007, p. 52).
Os conceitos utilizados pelas instituies
de atendimento aos adolescentes em situao de
conito com a lei, pelos prossionais que l atuam e
pelos pesquisadores das dissertaes analisadas, nos
permitem observar que nesses casos especcos, o
atendimento a esse grupo de adolescentes entendido
como pressuposto para a superao da marginalidade.
O MOVIMENTO ESCOLANOVISTA E A
INFLUNCIA NA PRTICA SOCIOEDUCATIVA
Na educao escolar, o entendimento de que
a escola tradicional era inadequada para realizar a
funo de equalizao social, inuenciou o movimento
da teoria da escola nova que se propunha a corrigir as
distores sociais que a escola tradicional no o fazia
(SAVIANI, 1984; LIBNEO, 1990).
Na perspectiva de Saviani (1984, p. 14) essa
nova concepo terica, encantou os prossionais
da educao escolar e foi entendida como uma
justicativa para o afrouxamento da disciplina e
motivo de despreocupao com a transmisso de
conhecimento para as classes mais pobres, o que
agravou o problema da marginalidade.
O movimento da escola nova tinha em Carl
Rogers, Piaget, Decroly e Montessori seus precursores,
em consonncia com o momento histrico, de ampla
inuncia da cincia experimental. evidente nessa
teoria, a inuncia dos modelos e procedimentos
educacionais especcos para as crianas especiais, que
posterior foram generalizados para todas as instituies
escolares, que passou a olhar o marginalizado social
como um rejeitado que necessitava ser reintegrado. Ou
seja, se o marginalizado aceito pelo grupo, ele deixa de
ser marginalizado, tendo em vista que a anormalidade
apenas uma diferena, sendo a educao um fator
de correo da marginalidade, ajustando e adaptando
os indivduos que se sentiro aceitos (SAVIANI, 1984).
Assim, o marginalizado j no , propriamente, o
ignorante, mas o rejeitado. Algum est integrado no
quando ilustrado, mas quando se sente aceito pelogrupo e, atravs dele, pela sociedade em seu conjunto
(Idem, p 11).
Nessa perspectiva, os diagnsticos eram
utilizados para rotular os sujeitos que no se ajustavam
s normas sociais e institucionais, como relata Violante
Em Moji-Mirim, o psiclogo diz que a maioria psicopata: [...] crtica rebaixada, inafetividade,imediatismo, baixo limiar para frustrao,baixa emotividade [...], apesar de psicopatas,
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tratamento a ser realizado pela instituioque o acolheria. Diagnstico este que acabavapor enquadr-lo dentro da normalidade eda anormalidade, sendo que estes ltimospodem ser extremamente discriminatrios edenitivos (RIZZINI, 1993, p. 85).
Conforme Oliveira (2005) os antecedentes
hereditrios dos adolescentes, bem como as anlises
sociais, o meio familiar, escolar e tambm as possveis
perverses recebiam uma apreciao mdica que
englobavam os aspectos emocionais, intelectuais ecomportamentais determinando uma pr-sentena.
Gomide (1990, p. 4) denuncia que em 1980,
os maus tratos iam desde a violncia fsica, o uso
de psicotrpicos e o adestramento at realizaes
de cirurgias indevidas, passando por toda sorte
de aes que visavam fazer o menor perder a sua
individualidade e sua capacidade de pensar. Segundo
Rizzini (1993) a anlise cientca da poca investigava
a existncia de distrbios psquicos baseando-se em
alguns so rebaixados, no sentido de carnciacultural [...] so espertos, mas carentes [...].Deste modo diagnosticada a maioria dosmenores internos em Moji-Mirim, pelos maisdiferentes motivos. Uma vez que o Menor considerado completamente desacreditado,a psiquiatria d o respaldo pseudocientco
necessrio para a prtica institucional, qualseja, a punio e a conteno (1989, p. 112).
Segundo a autora em todos os casos, o discurso
psicolgico e psiquitrico se caracteriza de modo
a culpar a vtima por sua condio e pelo modo de a
ela responder (Idem, p. 113). Para Rizzini (1993) as
avaliaes buscavam denir se a personalidade do
adolescente era normal ou patolgica, procedimento
que pretendia dar ao diagnstico um carter cientco,
rotulando as caractersticas morais, fsicas, sociais,afetivas e intelectuais por meio da aplicao de
exames pedaggicos, mdico-pedaggico, mdico-
psicolgico, de discernimento e de qualicao do
adolescente.
A prtica data de um momento histrico em
que a utilizao de tcnicas cientcas na assistncia
criana e ao adolescente era aceita e encontrava-se
em pleno desenvolvimento, tendo em vista que as
penas deveriam ser baseadas na responsabilidade do
criminoso e em sua periculosidade para a sociedade,comprovada ou no, provavelmente inuenciada pelos
estudos de Cesare Lombroso (1835-1909), fundador
da escola positiva do direito penal. Para a concepo
positiva, o delinqente no tinha conscincia das
foras que o levavam a praticar o ato criminoso, pois
ele j nascia com essa predisposio.
O autor comungava das idias inatistas, de que
o homem no livre, mas determinado por fatores que
no pode controlar. A sociedade, do sculo XVIII e XIX
crescia desordenadamente, movida pelas mudanascientcas, tecnolgicas e industriais e caberia ao
Estado, combater o delito, sobretudo, atravs da
disciplina do trabalho. Oliveira (2005, p. 25) evidencia
que a leitura cientca da criana no Brasil ganhou fora
em meados dos anos 30, com a criao do Laboratrio
de Biologia Infantil pelo Juzo de Menores.
O recurso destas cincias tinha por nalidadeauxiliar no enquadramento do menor dentrode um diagnstico que permitia indicar o
evidente nessateoria, a inuncia
dos modelos eprocedimentos
educacionais especfcos
para as crianasespeciais, que posterior
foram generalizadospara todas as
instituies escolares,
que passou a olhar omarginalizado socialcomo um rejeitado
que necessitavaser reintegrado.
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reaes anti-sociais, impulsividades, emotividade
excessiva, sentimentalidade e reaes hostis ao meio,
pautando-se os diagnsticos no comportamento
institucional dos adolescentes.
Por outro lado, a busca pela mudana no
comportamento do adolescente repetidamentemencionada nas dissertaes e teses que quase
sempre objetivam aumentar a auto-estima, diminuir a
agressividade, reduzir a evaso escolar e a delinquncia
juvenil (MARQUES, 2006), ou ainda, proporcionar
mudanas comportamentais esperadas nas atividades
cooperativas com vistas a promover a integrao ou
a reintegrao social (SANIOTO, 2005, p. 29).
Da mesma maneira, a pesquisa de Andretta
(2008, p. 45) explicita que a entrevista motivacional
uma interveno breve, que visa estimular a mudanade comportamento e em sua pesquisa concentrou-se
no diagnstico de 50 adolescentes que cumpriam
medidas socioeducativas em meio aberto, deferindo
que
As comorbidades mais freqentes foramo Transtorno de Dcit de Ateno eHiperatividade (TDAH), com 13 casos (26,0%);Transtorno de Conduta (TC), com umaprevalncia de 11 casos (22,0%); e TranstornoOpositivo Desaador (TOD), com dois casos
(4,0%). Em relao intensidade de sintomasde ansiedade e depresso, a mdia dosescores foi leve, e no houve nenhum caso dediagnstico de transtorno depressivo ou deansiedade (2008, p. 47).
Nessa pesquisa, chama ateno o fato de que
aps a metodologia de interveno o adolescente
deveria se submeter a um exame denominado
Screening toxicolgico para deteco do uso de
maconha, para comparar os resultados obtidos no
exame com os relatos dos sujeitos (Idem, p. 48) e
segundo a autora
Todos os adolescentes desta amostrarealizaram o Screening toxicolgico paramaconha, e houve 100,0% de conabilidadeentre os auto-relatos e os resultados dosexames. A idia inicial foi de que, por seremadolescentes, por terem cometido atoinfracional, e devido a alguns deles terem sidodiagnosticados com transtorno de conduta, ondice de no conformidade positivo entre oexame e o auto-relato seria alto (Idem, p. 51).
Ou seja, os diagnsticos e as anlises
experimentais da atualidade se sustentam no avano
tecnolgico para descobrir se os sujeitos da pesquisa,
no caso os adolescentes, mentiram ao responder ao
questionamento.
O MOVIMENTO TECNICISTA NO
ESPAO SOCIOEDUCATIVO
Segundo Violante, ressocializar implica a crena
de que o Menor ajustado ser um bom trabalhador e
mesmo quando os agentes institucionais reconhecem
as condies sociais adversas, culpabilizam o indivduo
e a sua famlia imunizando a sociedade (1989, p. 116).
Para Demo (1987) a metodologia sistmica se
alimenta das concepes funcionalistas de sociedadeque concebem esta como consensual e harmoniosa
numa perspectiva de funcionamento racional e mais
produtivo possvel. Nesse sentido, o funcionalismo ou a
teoria sistmica possuem a habilidade fundamental de
controlar conitos e para Demo2apudDemo signica
no mais o controle duro, maquiavlico,no sentido das imposies extremamenteexcludentes; signica muito mais emborajamais se elimine o anterior a cooptaodos adversrios, o convencimento atravs
da propaganda, o fazer a cabea atravs daindstria cultural, a oposio domesticada, eassim por diante (Grifo do autor, 1987, p. 111).
A concepo funcionalista v a sociedade
constituda por partes (polcia, hospitais, escolas),
sendo que, cada parte, possui funes que promovem a
estabilidade social. Nesse sentido, o homem educado
o que mais se adapta ao esquema social, assumindo de
maneira natural o comportamento padro, tendo em
vista que comportamentos rebeldes e transgressoresso inaceitveis, em uma concepo de homem,
fundamentada em um ser humano ideal, moral,
virtuoso e racional.
Segundo Saviani (1984), quando os estudiosos
perceberam que a subjetividade da escola nova no
resolveria o problema da marginalidade, os mesmos
se detiveram em planejar um modelo de educao
2 DEMO, Pedro. Da burocracia administrao total. In: Documentao e
atualidade poltica. UNB, n. 10, maio de 1980, p. 3.
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racional. Assim, enquanto a pedagogia nova tinha na
relao interpessoal e subjetiva do aluno, o centro do
processo, a pedagogia tecnicista, coloca o professor
e o aluno como secundrios no processo e racionaliza
os meios, burocratizando o espao escolar. Para
a pedagogia tecnicista a marginalidade no ser
identicada com a ignorncia nem ser detectada a
partir do sentimento de rejeio. Marginalizado ser o
incompetente (no sentido tcnico da palavra), isto , o
ineciente e improdutivo (SAVIANI, 1984, p. 17).
A pedagogia tecnicista busca superar a
marginalidade formando indivduos ecientes para
a produtividade e equilbrio da sociedade. O mtodo
de ensino ou de atendimento passa pela perspectiva
do aprender fazendo. A transformao desse modelo
escolar pressupunha novas teorias educacionais
prximas do empirismo que possui em comum com
o positivismo a desconana contra o conhecimento
sem base emprica.
Do ponto de vista pedaggico conclui-se,
pois, que se para a pedagogia tradicional a questo
central aprender e para a pedagogia nova aprender a
aprender, para a pedagogia tecnicista o que importa
aprender a fazer (Idem, p. 18), assim como descrito no
Relatrio Delors de 1999, amplamente utilizado como
base terica dos Centros de Socioeducao do Brasil.
Aprender a viver junto, aprender a viver com osoutros (DELORS,1999), um dos quatro pilaresda educao, representa hoje um grandedesao de (re) aprendizagem de convivnciana perspectiva da sociedade democrtica [...].Aprender a conviver implica conhecer, aceitare respeitar as regras da organizao social emque se est inserido [...]. Aprender a viver econviver com cidadania, com responsabilidadesobre a prpria conduta e com participaoprodutiva na sociedade [...] (LIMA, 2007, p.54).
Libneo evidencia que
Num sistema social harmnico, orgnico efuncional, a escola funciona como modeladorado comportamento humano, atravs detcnicas especcas. educao escolarcompete organizar o processo de aquisiode habilidades, atitudes e conhecimentosespeccos teis e necessrios para queos indivduos se integrem na mquina dosistema social global [...]. A escola atua,
assim, no aperfeioamento da ordem socialvigente (o sistema capitalista) articulando-sediretamente com o sistema produtivo (1990,p. 28-29).
Na educao social, o tecnicismo busca produzir
e reeducaros indivduos competentes para o mercadode trabalho. O treinamento aparece nas dissertaes
e teses, relacionado s atividades desenvolvidas pelos
adolescentes, como uma tcnica adquirida pelos jovens
no relacionamento com os seus pares, de base emprica,
envolvendo inclusive a aquisio de habilidades para a
realizao das atividades ilegais.
Para Gallo, por exemplo, existe um treinamento
para o envolvimento com a conduta delituosa.
Segundo o pesquisador, fazer parte de um grupo
social desviante um fator de risco para a prtica deatos infracionais [...] e que isso seria um treino bsico
para a criminalidade (2006, p. 17). Aun, por outro lado,
evidencia que os adolescentes utilizam um discurso
para amedrontar o outro e que estes so experientes
no assunto: treinados pela prpria experincia do
mundo do crime ou pela convivncia entre si na Febem
(2005, p. 104).
Em relao ao fazer prossional o termo
treinamento aparece relacionado formao
prossional. Nilsson (2007, p. 49) sentencia A artede ouvir mais difcil que a arte de falar. Ouvir requer
disciplina. E esta, s pode ser adquirida por meio de um
treino constante. Marques (2006, p. 25) dene que o
mentor deve desenvolver no mentorado competncias
especcas e para tanto dever prover treinamento
tcnico capacitando-o a superar desaos, sendo
que, cabe tambm ao mentor fornecer feedback ao
mentorado sobre seu desempenho.
Segundo Hasse (2007, p. 60) na tcnica de
biblioterapia, caber ao terapeuta treinar e expor osadolescentes a um repertrio de textos adequados
para o uso da tcnica, haja vistas que a mesma
mais eciente na reduo do medo, dores de
cabea, depresso, e treinamento de habilidades, e
menos eciente para dieta e exerccios e hbitos de
comportamento (Idem, p. 61).
O uso das terminologias ligadas rea
empresarial, assim como os pressupostos tericos do
Relatrio Delors, comum nas dissertaes que tratam
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da educao escolar no espao da Educao Social e
reetem o contexto tecnicista
Para poderem fazer um bom trabalho osprofessores devem no s ser prossionaisqualicados, mas tambm beneciar-se deapoios sucientes. O que supe, alm dos
meios de trabalho e dos meios de ensinoadequados, a existncia de um sistemade avaliao e de controle que permitadiagnosticar e remediar as diculdades, eem que a inspeo sirva de instrumento paradistinguir e encorajar o ensino de qualidade.(Grifo meu, DELORS3, apudLIMA, 2007, p. 69).
Marlene Guirado (1980) com base em pesquisa
realizada no nal dos anos 70 do sculo passado ao
falar das contradies do espao socioeducativo
descreve a organizao do trabalho realizado e permiteuma anlise da inuncia do tecnicismo na instituio
Febem na dcada de 80 do sculo XX:
[...] por um lado, a tentativa de organizaro trabalho leva a previses detalhadas dasatribuies de cada funcionrio, chegandoa delimitar o tempo mdio a ser gasto emseu contato com a criana e, como se podeobservar no processo de internao, todosos esforos so feitos no sentido de mantereste horrio e esta previso; por outro ladopela descrio das atribuies de cada caso,observa-se que a criana tratada, muito maisacentuadamente, como um sujeito jurdico-penal (consultas e despachos, entrevistas commenores, relatrio social, encaminhamentoadequado do caso, exame de corpo delito,elaborao de parecer, confeco deparecer, confeco de chas onomsticase datiloscpicas, anlise e classicao dasimpresses, registro no livro, revista demenores acolhidos, conduo de menores asetores competentes, efetuao de entregasdomiciliares). Na verdade, essa descrio
revela a maneira como, na prtica, se concebea criana-menor e, mais propriamente, comose concebe a criana-menor. E, esta concepoparece muito mais vinculada s deniesdo Documento de 1976 e conceituao domenor como desviante de uma norma, de umaordem, do que como vtima (Grifo do autor,GUIRADO, 1980, p. 162-163).
3 DELORS, Jacques. Educao: um tesouro a descobrir. Relatrio para a
UNESCO da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI. 2.
ed. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: MEC: UNESCO,1999, p.165.
A anlise demonstra que a Pedagogia Tradicional,
a Pedagogia Nova e a Pedagogia Tecnicista so reexes
tericas presentes em documentos institucionais, no
fazer dirios dos prossionais que atuam no Sistema
Socioeducativo, assim como, nas concepes tericas
e metodolgicas das pesquisas analisadas.
CONSIDERAES FINAIS
O captulo intitulado As teorias da educao e o
problema da marginalidade do livro clssico de Saviani
Escola e Democracia (1984)orienta metodologicamente
a dissertao que deu origem a esse artigo. Assim,
a pesquisadora buscou nas dissertaes e teses as
teorias descritas pelo autor (teorias crticas, teoriasno-crticas e teorias crtico-reprodutivistas), seguindo
tambm, a mesma organizao racional do texto.
O estudo de cunho bibliogrco analisa as
produes acadmicas sobre o tema da socioeducao
e toma como ponto de partida o banco de dados do
projeto docente intitulado O estado do conhecimento
sobre a interveno socioeducativa em programas para
adolescentes envolvidos em delitos. Das pesquisas
selecionadas realizou-se uma leitura completa de 16
trabalhos e leitura parcial de duas pesquisas, ao restante
(nove pesquisa) acessou-se apenas o resumo dos
estudos. A anlise das bases tericas fundamenta-se
especialmente, em estudos j realizados no mbito da
educao escolar por autores como Saviani (1984) e
Libneo (1990).
A anlise mapeou as Bases tericas da
socioeducao, a partir do estudo das prticas
de interveno e metodologias de atendimento
do adolescente em situao de conito com a lei,
apresentando a anlise de trs teses de doutorado e
vinte quatro dissertaes de mestrado, totalizando
27 pesquisas no recorte temporal de 1990 a 2008,
selecionadas a partir do banco de teses e dissertaes
da Coordenao de aperfeioamento de pessoal de
nvel superior (CAPES). No estudo identicaram-se a
presena de bases tericas ditas no-crticas, seguindo
o referencial terico utilizado.
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