vidas secas final

Post on 10-Jul-2015

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VIDAS SECASGraciliano Ramos

Graciliano Ramos

“Falo somente com o que falo:com as mesmas vinte palavrasgirando ao redor do solque as limpa do que não é faca”

(João Cabral de Melo Neto)

Vidas Secas – a narrativa

• Narrativa em 3ª pessoa – estilo enxuto –economia vocabular

• O retrato social e existencial dos retirantesnordestinos e o drama da solidão.

• O regionalismo universal.

• O lirismo advindo da objetividade.

• O romance cíclico.

Vidas Secas – a narrativa

• Os capítulos independentes.

• A seca como protagonista.

• A humanidade do autor – mescla na fala daspersonagens.

"Miudinhos, perdidos no deserto queimado, osfugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças eos seus pavores. O coração de Fabiano bateu juntoao coração de sinha Vitoria, um abraço cansadoaproximou os farrapos que os cobriam."

A problemática da linguagem

• A esfera de limitações: física - financeira - social –linguística.

• A palavra transforma-se em obstáculo.

• A linguagem com instrumento de poder (cadeia –contas).

A problemática da linguagem

Os níveis da linguagem

• Externo: as palavras soltas - um diálogoinacabadas.

• Interno: coerência e organização.

O isolamento

• Solidão e o primitivismo: sociabilidadeineficiente.

• Cada personagem vive seu próprio abandono.

As Personagens

Fabiano: o enfoque determinista – o polo dabrutalidade.

“Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha odireito de saber? Não tinha.

“E ele, Fabiano, era como a bolandeira. Não sabiaporquê, mas era.”

Sinha Vitória: o polo do conhecimento - o desejo demudança.

“Fora de propósito dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama de varas.

Fabiano que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: - “Hum! hum!” E amunhecada,

porque realmente mulher é bicho difícil de entender.

Menino mais moço: a busca pela atitude heroica – oespelhamento na figura paterna

“E precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano,matar cabras a mão de pilão

Menino mais velho: a paixão pelas palavras

“A culpada era sinha Terta que na véspera, depois de curar com reza a espinhal de Fabiano, soltara uma palavra esquisita, chiando, o canudo do cachimbo

preso nas genvivas banguelas. ele tinha querido que a palavra virasse coisa e ficara desapontado quando a

mãe se referira a um lugar ruim, com espetos e fogueiras."

O soldado amarelo: o governo

“Não se inutilizava, não valia a pena inutilizar-se.Guardava a sua força.Vacilou e coçou a testa. Havia muitos bichinhos assimruins, havia um horror de bichinhos assim fracos eruins. Afastou-se, inquieto. Vendo-o acanalhado eordeiro, o soldado ganhou coragem, avançou, pisoufirme e perguntou o caminho. E Fabiano tirou ochapéu de couro.- Governo é governo.

Baleia: o catalisador emocional da famíliaAntropomorfizada – o contraste nome X condição.

“Baleia, que era como uma pessoa da família, sabidacomo gente.”

“Deu um pontapé na cachorra, que se afastouhumilhada e com sentimentos revolucionários."

Tinha havido um desastre, mas Baleia nãoatribuía a esse desastre a impotência em que seachava nem percebia que estava livre deresponsabilidades. Uma angustia apertou-lhe opequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquelahora cheiros de suçuarana deviam andar pelasribanceiras, rondar as moitas afastadas.

(...)A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao

peito de Baleia. Do peito para trás era tudoinsensibilidade e esquecimento. Mas o resto docorpo se arrepiava, espinhos de mandacarupenetravam na carne meio comida pela doença.

Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. Apedra estava fria, certamente sinha Vitória tinhadeixado o fogo apagar-se muito cedo.

Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundocheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, umFabiano enorme. As crianças se espojariam comela, rolariam com ela num pátio enorme, numchiqueiro enorme. O mundo focaria todo cheio depreás, gordos, enormes.”

Fuga

“Os pés calosos, duros como cascos, metidos em alpercatas novas, caminhariam meses. Ou não

caminhariam? Sinha Vitória achou que sim. Fabiano agradeceu a opinião dela e gabou-lhe as pernas

grossas, as nádegas volumosas, os peitos cheios. As bochechas de sinha Vitória avermelharam-se e

Fabiano repetiu com entusiasmo o elogio. Era. Estava boa, estava taluda, poderia andar muito. Sinha Vitória

riu e baixou os olhos.

Vidas Secas – o eterno retorno

Dentro de pouco tempo estaria magra, de seios bambos. Mas recuperaria carnes. E talvez esse lugar

pra onde iam fosse melhor que os outros onde tinham estado. (...)

As palavras de sinha Vitória encantavam-no iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano estava contente e acreditava nessa terra,

porque não sabia como ela era nem onde era. Repetia docilmente as palavras de sinha Vitória, as palavras

que sinha Vitória murmurava porque tinha confiança nele.

E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos

em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns

cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos

nela. E o sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois

meninos.”

“Depois da comida, falaria com Sinha Vitória sobre aeducação dos meninos.”

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