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VIA SACRA

Preparado por: Paróquia de S. Vicente da Branca

Quaresma 2012

- 1 -

1ª ESTAÇÃO

JESUS É CONDENADO À MORTE

Leitura Pilatos disse: «Eis o homem!»

Assim que O viram, os sumos-

sacerdotes e os guardas gritaram:

«Crucifica-O! Crucifica-O!» Tornou

Pilatos a dizer: «tomai-O vós e

crucificai-O, que eu não encontro

n’Ele culpa alguma». Responderam

os judeus: «Nós temos uma Lei, e

segundo a nossa Lei deve morrer,

porque se fez Filho de Deus». (Jo

19,5-7)

Meditação

Toda a via dolorosa começa com

uma condenação. E a injustiça não

cessa de atormentar-nos e de

dilacerar mesmo as grandes almas. Jesus porém não lhe está sujeito: Ele toma

sobre Si a condenação.

A não-violência encontra aqui a sua razão de ser. Mas a escolha de Jesus é

muito mais que a simples não-violência.

A condenação de Jesus continua, e pesa ainda num mundo que continua

hipócrita e perito em condenar justos e santos.

Não basta oferecer a outra face. É preciso reagir com mais amor ao ódio que

temos à nossa volta – e dentro de nós.

Oração

Jesus, dá-nos a força

De aceitar cargas pesadas

Sem nos deixar esmagar;

De não odiarmos

De não nos escravizarmos

De não nos vingarmos.

Jesus, que eu não seja

Juiz impiedoso de quem erra.

E quem não erra?

- 2 -

2ª ESTAÇÃO JESUS TOMA A CRUZ AOS OMBROS

Leitura

Dirigindo-Se depois a todos, disse:

«Se alguém quer vir após Mim,

negue-se a si mesmo, tome a sua

cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc

9,23)

Meditação Toda a condenação é uma cruz.

Dilacera a alma. E o espírito geme,

mais que o corpo. Há condenações

que humilham, quando a verdade é

escondida pela hipocrisia de leis

complacentes. E Jesus caminhava

para o Calvário.

Qualquer cruz nos condena ao

sofrimento, e nós somos

condenados por um mal profundo.

Um mal que podemos vencer pegando com Cristo na cruz. Jesus não nos tirou a

cruz: deu-nos, não só o exemplo, mas também a capacidade de a levar.

Oração Jesus, tomaste às costas o madeiro

E nele estava eu também,

Estávamos todos.

Levas-nos, não ao túmulo

Mas à ressurreição.

Embora nós sintamos

Ainda o peso da cruz,

Tu estás connosco

e isso basta para prosseguirmos.

- 3 -

3ª ESTAÇÃO JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ

Leitura

Ele tomou sobre si as nossas

doenças, carregou as nossas

dores; nós o considerávamos

como um castigado, ferido por

Deus e humilhado. (Is 53,4)

Meditação

Todos caem. Cada um tem o

seu limite de resistência. Mas

poucos caem como Jesus: Ele

cai sob o peso da cruz, e essa

cruz é nossa.

Cai porque quer conhecer

todas as humilhações, até a de

cair por terra, ao nível dos homens.

Por vezes, cair não é sinal de fraqueza mas de qualquer coisa que esmaga e

oprime até ao limite do suportável. A terra é também sinal de humildade.

Quem cai – e todos caem – deve fazer-se discípulo.

Oração

A tua queda, Jesus,

Diante de todos,

Perante o riso da multidão

Ou o silêncio dos cobardes

É humildade que desconcerta

O meu orgulho.

Dá-me, ó Cristo,

A graça de Te sentir a meu lado

Quando me vejo por terra.

- 4 -

4ª ESTAÇÃO JESUS ENCONTRA A SUA MÃE

Leitura

Simeão abençoou-os e disse a

Maria, Sua Mãe: «Eis que este

menino vai ser causa de queda e

elevação de muitos em Israel e

para ser sinal de contradição;

uma espada trespassará a tua

alma a fim de se revelarem os

pensamentos de muitos

corações». (Lc 2,34-35)

Meditação

Dois olhares que se cruzam. Em

silêncio, que é o encontro mais

autêntico. Jesus desejou este

encontro, e Maria ainda mais que

seu Filho. Em toda a via dolorosa

há sempre um encontro de

graça.

E a Senhora está presente com o seu olhar silencioso.

Há vias dolorosas nas quais é difícil encontrar uma mãe, e os filhos agonizam.

Jesus deixou uma mãe para que ninguém tenha de se sentir órfão. Uma mãe de

esperança.

Oração

Jesus, Tua mãe fitou-te

E no seu olhar

Estava todo o perdão que pedimos

Pelas nossas ofensas

Pelas nossas recusas.

E com o Teu silêncio, Cristo,

Respondeste prosseguindo o caminho da cruz.

- 5 -

5ª ESTAÇÃO JESUS É AJUDADO PELO CIRINEU

Leitura Quando O iam

conduzindo, lançaram

mão de um certo Simão

de Cirene, que voltava

do campo, e carregaram-

no com a cruz, para a

levar atrás de Jesus. (Lc

23,26)

Meditação

Até Jesus quis um

instante de alívio, talvez

para dar ao homem de Cirene a alegria do bom samaritano. Só um instante,

porque não se deve abusar da bondade alheia… E Cristo retoma a cruz, para se

fazer Ele cireneu e bom samaritano para sempre, dando-nos mais que o alívio

de um instante.

Jesus quer-nos cireneus, atentos e sensíveis, sem fazermos pesar a nossa

caridade. E caridade não é fazermos nós o que é dever dos outros fazer.

Caridade é ensinar cada um a andar pelas suas próprias pernas.

Oração

Também Tu, Jesus,

Te permitiste um momento de pausa

Para poderes chegar à cruz.

Existe em nós a tentação, às vezes,

De nos abandonarmos, de nos deixarmos ir, de pararmos,

De fazermos de cada pausa uma meta.

Jesus, que também eu encontre um cireneu

Para ser cireneu dos outros com mais fé.

- 6 -

6ª ESTAÇÃO JESUS ENCONTRA VERÓNICA

Leitura

Cresceu na sua presença como

um rebento, como raiz em terra

árida, sem figura nem esplendor

que pudesse atrair o nosso

olhar, nem formosura capaz de

nos deleitar. (Is 53,2)

Meditação

Outro encontro, e de profundo

diálogo. Entre a exaustão dum

Deus de rosto desfigurado e a

bondade dum grande coração de

mulher. E Cristo oferece-lhe o

seu rosto, o Seu olhar, e deixa-o

na História até ao fim dos tempos.

O rosto de Cristo é o rosto de todos os homens, e quem mais sofre mais está

presente nele. Um rosto que está na natureza de todos, mesmo dos que nos

são antipáticos ou nos querem mal.

Porque não ver nele o convite de Cristo ao perdão?

Oração

Jesus, foi-te agradável

O doce lenço

Que Te acariciou o rosto,

E o Teu olhar

Impresso na história de cada homem

É de conforto no caminho que nos resta

Até à ressurreição.

- 7 -

7ª ESTAÇÃO

JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ

Leitura Foi castigado pelos nossos

crimes, esmagado pelas nossas

iniquidades; o castigo que nos

salva pesou sobre Ele, fomos

curados na Suas chagas.

Todos nós andávamos

desgarrados como ovelhas, cada

um seguia o seu caminho; o

Senhor carregou sobre Ele a

iniquidade de todos nós. (Is 53,5-

6)

Meditação

Sim, Jesus volta a cair, porque a

estrada da cruz não tem fim, nem tão-pouco o cansaço.

Não basta um bom cireneu para carregar todo o peso. Cristo quis nossa cruz, e

quer levá-la até à morte. Nem as quedas conseguirão detê-Lo.

As quedas repetem-se, porque o homem é egoísta e não quer saber da

conversão. Haverá sempre uma injustiça que pesa, haverá sempre uma graça

que salva. O importante é olhar em frente, sempre, mesmo quando se está

caído por terra.

Oração

Jesus, voltar a ver-Te caído por terra

É sentir em mim o peso

Deste meu cansaço

Em trabalhar pelo Teu reino.

Cansamo-nos de esperar.

Mas Tu caíste para ficares à minha altura

Convidando-me a avançar.

- 8 -

8ª ESTAÇÃO JESUS E AS SANTAS MULHERES

Leitura

Seguiam-n’O uma grande massa

de povo e umas mulheres que se

lamentavam e choravam por Ele.

Jesus voltou-se para elas e disse-

lhes: «Filhas de Jerusalém, não

choreis por mim. Chorai antes por

vós mesmas e pelos vossos filhos,

pois dias virão em que se dirá:

“Felizes as estéreis, os ventres

que não geraram e os peitos que

não amamentaram!”. Hão de

então dizer aos montes: “Caí

sobre nós!” E às colinas: “Cobri-

nos!” Porque se tratam assim a

madeira verde, o que acontecerá

à seca?» (Lc 23, 27-31).

Meditação

Desta vez Cristo quebra o silêncio com uma censura. Não é Ele que deve ser

lamentado, o Seu sofrimento, a Sua solidão. Cristo que sofre é uma censura à

indiferença com que deixamos crucificar a justiça e os direitos dos povos,

limitando-nos a murmurar o nosso desacordo.

Pôr-se em questão em busca da verdadeira identidade do homem é um dever

quotidiano pessoal e colectivo. Uma questão, isto é, que nos faça ultrapassar

esquemas rígidos, vistas curtas, preconceitos ideológicos.

Oração

A tua censura às santas mulheres, ó Cristo

Atinge-nos a todos.

No fundo, agrada-nos viver

De saudades confortáveis

E lágrimas vazias:

Por isso somos terreno tão seco e duro

À semente da Tua palavra, Jesus.

- 9 -

9ª ESTAÇÃO JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ

Leitura Salvai-me, ó Deus, porque as águas

quase me submergem.

Estou-me afundando no abismo

profundo, onde não há ponto de

apoio; entrei no abismo de águas

profundas e já as vagas me cobrem.

Estou exausto de tanto gritar,

enrouqueceu a minha garganta,

cansaram-se os meus olhos à espera

do meu Deus. (SI 69, 2-4).

Meditação

Jesus cai mais vezes? Ser-nos-á

sempre impossível sabê-lo. Mas

também pouco importa.

Jesus caiu, e volta a cair porque a nossa obstinação é grande. E levanta-Se pela

terceira vez porque o amor não se detém perante nenhum obstáculo, nenhum

cansaço.

Cada via dolorosa é uma estrada de incontáveis quedas.

A esperança incita-nos a prosseguir, mesmo quando o sol desaparece.

Oração

Não é tanto a Tua queda, ó Cristo,

Que fere o meu sentir humano

Quanto a minha imobilidade

Perante a queda silenciosa de espíritos desalentados,

De almas exaustas.

E Tu, Jesus, voltas a erguer-Te

E contigo a minha esperança

De recomeçar outra vez.

- 10 -

10ª ESTAÇÃO JESUS É DESPOJADO DAS SUAS VESTES

Leitura

Foi maltratado e resignou-

se. Não abriu a boca, como

cordeiro levado ao

matadouro, como ovelha

emudecida nas mãos do

tosquiador. (Is 53,7).

Meditação

O condenado não tem

direito a nada. A própria

vida já não lhe pertence.

De que serve agora uma

peça de roupa? A cruz não suporta o supérfluo. Quer tudo. Qualquer

humilhação cabe nesta lógica do dom total.

Começamos a ser realmente pobres quando libertamos do supérfluo o coração

e as mãos. Claro que as humilhações não deixarão nunca de nos ferir.

Oração

Jesus, sem vestes

Sem formalidades

Sem estruturas

Assim no fundo me atrais,

Abraçando a cruz

pobre em tudo

rico apenas de amor universal.

Amar-Te assim na Tua dádiva total

Sem sombras

É a graça que quero.

- 11 -

11ª ESTAÇÃO JESUS É PREGADO NA CRUZ

Leitura

Quando chegaram ao lugar

chamado Calvário,

crucificaram-no a Ele e aos

malfeitores, um à direita e

outro à esquerda. Jesus dizia:

«Perdoa-lhes, ó Pai, porque não

sabem o que fazem». Depois

deitaram sortes para dividirem

entre si as Suas vestes (Lc 23,

33-34).

Meditação

Bastam três ou quatro pregos e

Jesus fica imobilizado, preso a

duas traves de madeira.

Mas o amor não se prende. Da cruz descem palavras de paz, de perdão,

abalando profundamente o homem, e infinitos raios de graça divina iluminando

os corações. Esse é o crucifixo eterno.

Ser totalmente pobre: estar nu sobre uma cruz e ter no coração infinita

capacidade de paz e de perdão. Ainda hoje há demasiadas cruzes de ouro em

que nenhum coração palpita.

Oração

Jesus, és ainda hoje o Crucificado.

E eu estou aqui a contemplar-Te

Vendo o Teu coração bater por mim também,

Ouvindo-Te dizer: «Vê como te amo!

E tu?»…

E eu, ó Crucificado,

Eu contemplo-Te e rezo: «Perdoa-me!».

- 12 -

12ª ESTAÇÃO JESUS MORRE NA CRUZ

Leitura Por volta da hora sexta as

trevas cobriram toda a terra,

até à hora nona, por o Sol se

ter Eclipsado.

O véu do Templo rasgou-se ao

meio, e Jesus exclamou, dando

um grande grito: «Pai, nas Tuas

mãos entrego o meu espírito».

Dito isto, expirou. (Lc 23, 44-

46).

Meditação

A morte é uma cruz que

sangra. É o mistério. O medo

que tudo seja um engano. Até

os espíritos eleitos sentem

esse medo, e só uma grande fé

leva à esperança.

Também Jesus morre, e quem poderia imaginar um Deus que morresse?

É preciso fé, muita fé, para ter esperança num amanhã melhor, e a morte

afasta-se. Mas por pouco.

A cruz é Jesus Cristo morto para ressuscitar. A cruz, qualquer cruz, é iluminada

por essa glória divina.

Oração

Na Tua morte, ó Crucificado,

Há já toda uma nova humanidade

Que está para nascer.

E do peito trespassado sai a Tua Igreja,

Mãe de todos os vivos.

O amor terá sempre a última palavra

Ainda que todo o ódio deste pobre mundo

Crucifique milhões de seres humanos.

Tu, ó Cristo, garantes-nos a vida.

- 13 -

13ª ESTAÇÃO JESUS É DESCIDO DA CRUZ

Leitura

Depois disto, José de Arimateia,

que era discípulo de Jesus, ainda

que ocultamente por medo dos

judeus, pediu a Pilatos para levar

o corpo de Jesus. Pilatos

permitiu-lho. Veio, pois, e tirou o

corpo (Jo 19,38).

Meditação

Jesus é despregado da cruz. Sim,

duma trave de madeira. E só

dessa trave de madeira, porque

toda a cruz se torna de hoje em

diante uma cruz de salvação e

ninguém poderá separá-la de

Cristo. Cristo não se deixa

apartar do nosso sofrimento.

Por muito duro que seja tomar a cruz e aceitá-la, é consolador saber que ela é

parte da cruz de Cristo. Nenhuma cruz está separada da cruz de Cristo, e por

isso todo o sofrimento é redentor.

Oração

Ó Crucificado,

Tu não inventaste nenhuma cruz

E pensá-lo é desalento e dúvida.

Entenda-se, porém:

Tu inventaste a cruz da salvação

Da qual nasce toda a força,

Toda a capacidade de suportar as cruzes humanas.

- 14 -

14ª ESTAÇÃO JESUS É COLOCADO NO SEPULCRO

Leitura

Respondeu-lhes Ele: «Chegou a

hora de ser glorificado o Filho do

Homem. Em verdade, em verdade

vos digo: se o grão de trigo, caindo

na terra, não morrer, fica ele só;

mas se morrer dá muito fruto» (Jo

12, 23-24).

Meditação

Como qualquer homem que morre,

assim Cristo deposto num sepulcro.

Também a semente precisa de ser

lançada à terra para renascer e dar

fruto. Tal como o meu sofrimento.

Um pouco derrota. De morte. E

depois a Primavera. Um novo dia

despontará sobre tantos hojes que

parecem de morte.

Há sempre um amanhã para tudo. Até para tanto sofrimento e tanta injustiça

que oprimem este mundo de forma asfixiante. Ninguém poderá aniquilar o

Espírito de vida e de liberdade.

Oração

Ó Jesus:

Tu sabes como somos fracos

E prontos a desesperar de tudo.

Mas o dia de hoje é já Teu,

E o de amanhã ainda mais.

É preciso acreditar num Deus vivo

E tudo, mas tudo,

Cedo ou tarde ressuscitará,

Mesmo o meu sofrimento de hoje.

Eu creio, ó Cristo!

- 15 -

REFERÊNCIAS

[Texto]: Modelo de via Sacra proposto pela Diocese de Aveiro

http://www.diocese-aveiro.pt/noticia_detalhe.asp?id=317

[Imagem Capa]: “Jesus carrega a Cruz” (1526), Lorenzo Lotto

[Imagem Pág. 1]: “Ecce Homo” (1606), Caravaggio

[Imagem Pág. 2]: “Cristo Carregando a Cruz” (1580s), El Greco

[Imagem Pág. 3]: “Cristo Carregando a Cruz” (1737-38), Giovanni Battista Tiepolo

[Imagem Pág. 4]: “Jesus Encontra sua Mãe no Caminho para o Calvário” (1516-17), Raphael

[Imagem Pág. 5]: “Simão de Cirene e Cristo” (1565), Titian

[Imagem Pág. 6]: “O encontro de Jesus e Verónica” (séc. XVI), Carlo Caliari

[Imagem Pág. 9]: “Cristo Carregando a Cruz” (1480s), Hieronymus Bosch

[Imagem Pág. 10]: “Jesus é despido de suas roupas” (1448-53), Fra Angelico

[Imagem Pág. 11]: “Jesus é Crucificado” (1908), William Brassey Hole

[Imagem Pág. 12]: “Cristo Crucificado” (1632), Diego Velázquez

[Imagem Pág. 13]: “Descida da Cruz” (1515), Giovanni Bellini

[Imagem Pág. 14]: “O Sepultamento de Cristo” (1602-03), Caravaggio

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