universidade estadual de santa cruz departamento de ... · (embrapa gado de leite) _____ prof. dr....
Post on 11-Feb-2019
215 Views
Preview:
TRANSCRIPT
Universidade Estadual de Santa Cruz
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais
Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal
Jéssica Santos Tigre
Glicerina bruta associada a diferentes fonte de carboidratos
não fibrosos na alimentação de ruminantes
Ilhéus, Bahia
2012
Universidade Estadual de Santa Cruz
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais
Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal
Glicerina bruta associada a diferentes fonte de carboidratos
não fibrosos na alimentação de ruminantes
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência Animal da
Universidade Estadual de Santa Cruz, para
obtenção de título de Mestre em Ciência
Animal – Área de concentração, nutrição de
ruminantes.
Orientador: Profº. DSc. José Augusto Gomes
Azevêdo.
Ilhéus, Bahia
2012
T568 Tigre, Jéssica Santos.
Glicerina bruta associada a diferentes fonte de carboidratos não fibrosos na alimentação de ruminantes / Jéssica Santos Tigre. – Ilhéus, BA : UESC, 2012.
40 f. : il. Orientador: José Augusto Gomes Azevêdo. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. Inclui referências.
1. Ruminante – Nutrição. 2. Ruminante – Alimentação e rações. 3. Nutrição animal. 4. Resíduos agrícolas como ração. 5. Glicerina. 6. Biodiesel. I. Título. CDD 636.085
À meus pais, Manoel Tigre Alves e Terezinha Santos Tigre,
minha irmã, Jackeline Santos Tigre Magalhães por todo amor, confiança e compreensão
Dedico.
Agradecimentos
À Deus por estar comigo em todos os momentos, segurando sempre em minhas
mãos.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, pela oportunidade.
Ao Professor Doutor José Augusto Gomes Azevêdo, pela orientação, paciência e
ensinamentos durante o curso.
Aos professores Luis Gustavo Ribeiro Pereira e Alcester Mendes, pela co-
orientação e contribuições acrescentadas a este trabalho.
Aos amigos companheiros de trabalho, Milena Lima, Brena Oliveira, Rebeca
Silvy, Diego Mendes, Valclei Abreu, pela ajuda dedicada e companheirismo.
Aos colegas de curso e companheiros de laboratório, pelas longas horas que
passamos juntos aprendendo uns com os outros.
Aos meus pais, por sempre me apoiar, amar e amparar, incentivando com
confiança nos momentos difíceis e de alegrias.
Obrigada.
Jéssica Santos Tigre
Glicerina bruta associada a diferentes fonte de carboidratos não fibrosos na
alimentação de ruminantes
Dissertação apresentada à Universidade Estadual de
Santa Cruz, como parte das exigências do Programa
de Pós-Graduação em Ciência Animal, para
obtenção do título de Magister Scientiae.
_______________________________
Dr. Luis Gustavo Ribeiro Pereira
(Embrapa Gado de Leite)
_______________________________
Prof. Dr. Alcester Mendes
(Professor UESC)
_______________________________
Prof. Dr. José Augusto Gomes Azevêdo
(Orientador)
Sumário
Lista de Tabelas..................................................................................................................................vii
Lista de Figuras.................................................................................................................................viii
Introdução Geral...................................................................................................................................1
Revisão de Literatura............................................................................................................................2
Biodiesel...............................................................................................................................................2
Glicerina na produção do biodiesel......................................................................................................2
Metabolismo do glicerol no rúmen.......................................................................................................3
Vantagens do uso da glicerina em ruminantes.................................................................................. ...4
Desvantagens do uso da glicerina em ruminantes................................................................................6
Carboidratos não fibrosos.....................................................................................................................6
Conclusão.............................................................................................................................................7
Referências Bibliográficas....................................................................................................................7
Capitulo I. Cinética de fermentação ruminal in vitro de concentrados energéticos associados à
glicerina bruta............................................................................................................................. ......11
Resumo....................................................................................................................... ........................11
Introdução................................................................................................................... ........................11
Material e Métodos.............................................................................................................................12
Resultados................................................................................................................... ........................15
Cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição ao milho...........................................15
Cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição a mandioca.......................................17
Cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição a polpa cítrica..................................18
Cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição a casca de soja.................................20
Conclusão...........................................................................................................................................22
Referências Bibliográficas..................................................................................................................23
Capítulo II. Consumo e digestibilidade de dietas contendo glicerina bruta associada a
diferentes fontes de carboidratos não fibrosos para ovinos..........................................................26
Resumo....................................................................................................................... ........................26
Introdução................................................................................................................... ........................27
Material e Métodos.............................................................................................................................29
Local, animais e manejo experimental...............................................................................................29
Dietas Experimentais..........................................................................................................................30
Determinação do consumo e coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes.......................30
Procedimentos estatísticos..................................................................................................................32
Resultados e Discussão....................................................................................................... ................33
Consumo de nutrientes das dietas experimentais...............................................................................33
Digestibilidade aparente dos nutrientes das dietas experimentais......................................................36
Conclusão.................................................................................................................... .......................37
Referências Bibliográficas..................................................................................................................37
vii
Lista de Tabelas Capítulo I – Cinética de fermentação ruminal in vitro de concentrados energéticos associados
à glicerina bruta.
Tabela 1. Composição química dos ingredientes utilizados para incubação in vitro........................13
Tabela 2. Valores médios para volume final de produção de gases dos carboidratos fibrosos e não-
fibrosos e (VfCF, VfCNF), suas respectivas taxas de fermentação (KdCF e KdCNF), volume final
de produção de gases dos carboidratos totais (VfT) e lag time (LAG) em função dos níveis de
inclusão de glicerina em substituição ao milho..................................................................................16
Tabela 3. Valores médios para volume final de produção de gases dos carboidratos fibrosos e não-
fibrosos e (VfCF, VfCNF), suas respectivas taxas de degradação (KdCF e KdCNF), volume final
de produção de gases dos carboidratos totais (VfT) e lag time (LAG) em função dos níveis de
inclusão de glicerina em substituição a mandioca..............................................................................17
Tabela 4. Valores médios para volume final de produção de gases dos carboidratos fibrosos e não-
fibrosos e (VfCF, VfCNF), suas respectivas taxas de degradação (KdCF e KdCNF), volume final
de produção de gases dos carboidratos totais (VfT) e lag time (LAG) em função dos níveis de
inclusão de glicerina em substituição a polpa cítrica.........................................................................19
Tabela 5. Valores médios para volume final de produção de gases dos carboidratos fibrosos e não-
fibrosos e (VfCF, VfCNF), suas respectivas taxas de degradação (KdCF e KdCNF), volume final
de produção de gases dos carboidratos totais (VfT) e lag time (LAG) em função dos níveis de
inclusão de glicerina em substituição a casca de soja........................................................................20
Capítulo II - Consumo e digestibilidade de dietas contendo glicerina bruta associada a
diferentes fontes de carboidratos não fibrosos para ovinos.
Tabela 1. Composição química dos ingredientes utilizados nas dietas.............................................31
Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição química da dieta com e sem glicerina............31
Tabela 3. Distribuição dos coeficientes para os contrastes ortogonais empregados na
decomposição da soma de quadrados para dietas com e sem glicerina em função da fonte de
carboidrato.................................................................................................................. ........................33
Tabela 4. Consumo de nutrientes em função da fonte de concentrado nas dietas com e sem
glicerina.................................................................................................................... ..........................33
Tabela 5. Probabilidade (Valor P) de erro tipo I associada ao teste t para os contrastes ortogonais
para consumo dos nutrientes..............................................................................................................34
Tabela 6. Digestibilidade aparente dos nutrientes em função da fonte de concentrado na dieta com e
sem glicerina (%)............................................................................................................ ...................36
Tabela 7. Probabilidade (Valor P) de erro tipo I associada ao teste t para os contrastes ortogonais
para digestibilidade aparente dos nutrientes e nutrientes digestíveis totais.......................................36
viii
Lista de Figuras
Capítulo I – Cinética de fermentação ruminal in vitro de concentrados energéticos associados
à glicerina bruta.
Figura 1. Produção de gases da fermentação ruminal in vitro em função dos tempos de incubação
do milho em substituição à glicerina nos valores de 0, 3, 6 e 9% de inclusão...................................16
Figura 2. Produção de gases da fermentação ruminal in vitro em função dos tempos de incubação
da mandioca em substituição à glicerina nos valores de 0, 3, 6 e 9% de inclusão.............................18
Figura 3. Produção de gases da fermentação ruminal in vitro em função dos tempos de incubação
da polpa cítrica em substituição à glicerina nos valores de 0, 3, 6 e 9% de inclusão.........................20
Figura 4. Produção de gases da fermentação ruminal in vitro em função dos tempos de incubação
da casca de soja em substituição à glicerina nos valores de 0, 3, 6 e 9% de inclusão........................22
1
INTRODUÇÃO GERAL
As pastagens nativas são à base da alimentação da ovinocultura na região nordeste. Porém, o
desempenho dos animais criados exclusivamente a pasto geralmente é menor que o determinado
geneticamente e, o desejado para satisfazer os objetivos da produção. Isto porque, a eficiência
máxima de utilização da dieta resulta do fornecimento de dietas balanceadas nutricionalmente. A
consequência de sistemas de produção baseados em forragens é que o desempenho animal é
limitado a aquele suportado pelo primeiro nutriente limitante.
Nos sistemas de produção eficientes a suplementação é adotada como uma prática
tecnológica de apoio à pastagem, com vistas a uma produção compatível com o mérito genético dos
animais e o propósito da criação. O uso de alimentos alternativos não convencionais vem
despertando o interesse dos produtores e incentivado pela indústria e órgãos governamentais devido
a questões ambientais e considerações econômicas. Entre os subprodutos de interesse para uso na
suplementação, a glicerina, proveniente da indústria dos biocombustíveis, surge como opção.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) o biodiesel é um
combustível produzido a partir de óleos vegetais ou de gordura animal. Dezenas de espécies
vegetais presentes no Brasil podem ser usadas na produção do biodiesel, entre elas soja, dendê,
girassol, babaçu, amendoim, mamona e pinhão manso. Para se tornar compatível com os motores a
diesel, o óleo vegetal precisa passar por um processo químico chamado transesterificação, realizado
nas instalações produtoras de biodiesel autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), desse
processo resulta a glicerina utilizada na alimentação animal.
Os resíduos produzidos no processo de fabricação do biodiesel são uma boa alternativa para
as regiões onde existe redução de alimentos ao longo do ano, não diminuindo, desta forma, a
produção animal.
A exigência mundial para redução do uso de combustíveis fósseis e emissão de gases de
efeito estufa, visando à sustentabilidade ambiental, favorece o crescimento do uso de fontes
renováveis de energia, porém produtos secundários são gerados no processo de produção do
biocombustível e nem todos possuem mercado definido para a sua comercialização.
REVISÃO DE LITERATURA
Biodiesel
O biodiesel vem ganhando destaque mundialmente por ser biodegradável e não tóxico isto
porque seu uso não libera gases tóxicos como enxofre e compostos aromáticos quando comparado
2
ao petróleo. O uso do biodiesel pode ser justificado por alguns benefícios principalmente por ser
uma fonte renovável de energia, redução da emissão de gases poluentes (Quintela, et al., 2009).
Segundo o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), o Brasil apresenta
potencial para a plantação de oleaginosas que serão usadas na produção do biodiesel, devido à
diversidade climática de ecossistemas. Porém, nesta produção geram-se produtos secundários
(subprodutos) que podem ser potencialmente poluentes, quando dispersos no meio ambiente
(PNPB, 2004).
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, desde 1º de janeiro de 2010, o óleo diesel
comercializado em todo o Brasil contém 5% de biodiesel (ANP, 2009). Esta regra foi estabelecida
pela Resolução nº 6/2009 do Conselho Nacional de Política Energética, publicada no Diário Oficial
da União (DOU 6/2009) em 26 de outubro de 2009, que aumentou de 4% para 5% o percentual
obrigatório de mistura de biodiesel ao diesel (CNPE, 2009).
Este aumento do percentual de adição de biodiesel ao diesel demonstra o sucesso do
Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel e da experiência acumulada pelo Brasil na
produção e no uso em larga escala de biocombustíveis. Além disso, propiciam o desenvolvimento
de uma fonte energética sustentável sob os aspectos ambiental, econômico e social.
Glicerina na produção do biodiesel
A glicerina provém do processo de transesterificação do óleo na transformação de metil e
ésteres de ácidos graxos da produção do biodiesel, ou seja, ocorre quando os triacilgliceróis de
origem animal reagem com o metanol, na presença de um catalisador, produzindo glicerol
(subproduto) e o éster metílico de ácido graxo (biodiesel) (Donkin et al., 2009).
O glicerol é incolor, inodoro, higroscópico e um líquido doce de aparência viscosa, podendo
ser apresentada com outros nomes como: glicerol, propane-1, 2,3- triol, 1,2,3-propanetriol, 1,2,3-
trihydroxypropano e álcool glicerol, além disso devido ao seu sabor adocicado pode ser chamado
por álcool açúcar (Donkin & Doane, 2008).
O processo de transesterificação é vantajoso porque 0,92 kg de glicerina crua são produzidos
para cada 10 L de biodiesel produzido. A glicerina apresenta potencial para ser utilizada como
suplemento na alimentação de animais no semi-árido, por sua menor disponibilidade de alimentos,
escassez e irregularidade das chuvas, fazendo com que haja menor disponibilidade de alimento para
os animais ao longo do ano. (Ferreira et al., 2009).
A legislação norte-americana atribui ao glicerol o status GRAS (geralmente reconhecido
como seguro), quando usado como aditivo alimentar segundo as boas normas de fabricação e
alimentação, inclusive na alimentação humana (FDA, 2006). No Brasil, o Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (MAPA), juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
3
(ANVISA), por meio da resolução 386/1999, coloca o glicerol na lista de aditivos permitidos para a
alimentação humana e animal.
Na indústria, quando purificada, várias são as aplicações da glicerina, entre as quais se
destacam o uso em tabaco, alimentos, bebidas e cosméticos. No entanto este processo de
purificação tem elevado custo, gerando a busca por alternativas para seu uso na forma bruta (Peres
et al.,2005).
Metabolismo do glicerol no rúmen
Segundo Donkin et al. (2009), através da analise in vitro a glicerina apesar de não ser um
carboidrato, no rúmen é convertida em ácidos graxos voláteis (AGV), principalmente, propionato e
acético, observa-se diminuição da produção de ácido butírico, além disso os microrganismos do
rúmen se adaptam facilmente a alimentação a base de glicerina.
A glicerina pode ser usada na alimentação de ruminantes como fonte de energia, além de
diminuir o impacto ambiental causado por acúmulo de resíduos na natureza, os ruminantes se
adaptam a nova dieta sem afetar seu rendimento e sem provocar alterações nos microrganismos
presentes no rúmen. Segundo Roger et al. (2008) o uso da glicerina promoveu crescimento, adesão
e atividade celulolítica de dois tipos de microrganismos o Ruminococcu flavefaciens e Fibrobacter
succinogenes, indispensáveis no processo de degradação das fibras e conversão de energia no
rúmen.
O glicerol também pode ser absorvido diretamente pelo epitélio ruminal, sendo convertido
em glicose no fígado pela enzima glicerol quinase que converte glicerol e ATP a glicerol-3-fosfato
e ADP ao nível de triose fosfato, direcionando o glicerol para a gliconeogênese (Lage et al., 2010).
O glicerol ao ser absorvido pelo do rúmen ou intestino delgado, torna-se um precursor de
glicose nas vias gliconeogênicas do fígado, no rúmen, o glicerol é fermentado pelas bactérias,
produzindo ácidos graxos voláteis, mas apenas o propionato contribui para a produção de glicose
(Neilsen & Ingvartsen 2004).
Vantagens do uso da glicerina em ruminantes
O processo de cetose observado em vacas leiteiras de alta produção ocorre devido ao
balanço energético negativo, principalmente pelo decréscimo de absorção de propionato ruminal e
carência de glicose. Porém, quando o animal é alimentado com uma dieta à base de glicerina há o
fornecimento de glicose num total de 15 a 20% da demanda no período de transição (DeFrain et al.,
2004).
Osborne et al., (2009), observaram que a ingestão de uma ração contendo glicerina faz com
que as vacas passem com sucesso pelo período de transição, isso é explicado devido ao rápido
4
fornecimento de energia, já que no período final da gestação observa-se aumento da demanda de
energia, além disso, foi observado redução dos níveis de amônia ruminal e uréia no sangue. Já
Chung et al., 2007, avaliando a ingestão, produção de leite e concentração de glicose no sangue de
vacas leiteiras da raça holandesa, no período de 21 dias após o parto, recebendo uma alimentação a
base de glicerina em pó por 6 semanas, foi observado que a partir da terceira semana houve maior
disponibilidade de energia auxiliando no período de transição, maior quantidade de glicose no
sangue, bem como, aumento no consumo de alimentos e maior produção de leite.
De acordo com a quantidade de glicerina na dieta, Drackley (2007) percebeu que não ocorre
diminuição da ingestão de alimentos, alteração de desempenho em ruminantes em crescimento ou
vacas de lactação, considerando nível do uso da glicerina até 10% da matéria seca da dieta.
Segundo Mach et al. (2009), avaliando a qualidade da carne de touros da raça Holandesa em
dietas a base de altas quantidades de concentrado, observaram que a osmolalidade do líquido
ruminal não foi afetado nem a quantidade de produção de ácidos graxos voláteis pelo uso de 12%
da glicerina. Já uma dieta com nível de 8% houve um decréscimo do pH e diminuição de AGV,
porém essa diminuição do pH ruminal não teve qualquer impacto sobre o desempenho e a saúde
animal.
Outro fator interessante do uso da glicerina observado pelos autores no nível de 8% de
glicerina na dieta promoveu aumento do nível sérico de insulina sendo um fator positivo devido à
prevenção de diurese osmótica, além disso, a produção de insulina apresenta-se maior do que a
concentração de glicose produzida, neste caso observa-se melhoria da qualidade da carcaça devido
ao aumento intramuscular do teor de gordura, apresentando melhor resultado do que nos bovinos
com dietas a 12% ou sem glicerina.
Já Parsons et al. (2008) avaliaram características da carcaça de novilhos em terminação,
observaram ganho de peso médios diários de 12,6%; 8,4% e 5,0% para bovinos alimentados com
2%, 4% e 8% de glicerina, respectivamente. Houve aumento da área do músculo longo longuíssimo
quando 2% da dieta foi substituída pela glicerina.
Segundo Musselmam et al. (2008), ao avaliarem o desempenho de carcaças de cordeiros em
confinamento numa concentração de 15, 30 e 45% de glicerina bruta na dieta em substituição ao
milho, os autores concluíram que numa dieta a 15% de glicerina não prejudica o desempenho dos
animais em confinamento, nem altera a característica da carcaça quando comparado as
concentrações de 30 e 45%, onde foi observado menor rendimento de carcaça. Isso porque, 15% de
glicerina atuou no organismo dos cordeiros fornecendo maior quantidade de energia quando
comparada à alimentação a base de milho, já o excesso de gordura observado nas dietas acima de
30% levou a menor ação das bactérias celulolíticas, compromentendo o desempenho animal.
5
Avaliando a fermentação ruminal e desempenho de bezerros destinados a produção de carne,
através da inclusão de 0, 5, 10 e 20% de glicerina bruta substituindo grãos de milho, Ramos &
Kerley, 2012, observaram que quanto maior a inclusão da glicerina ocorre redução no consumo da
matéria orgânica e melhoria da eficiência microbiana, não sendo observado nenhuma alteração na
digestibilidade da fibra, nem alteração na produção de ácidos graxos voláteis, concluindo que a
substituição até 20% do milho pela glicerina não afetou o desempenho e características da carcaça
dos animais. Avaliando o comportamento ingestivo de novilhas alimentadas em pastagens
juntamente com glicerina a 2,8%, 6,1% e 9,1% na matéria seca da dieta, condicionada numa calha
de plástico, os autores observaram que a inclusão da glicerina até 9,1% não promoveu alteração no
período de pastejo e ruminação, desempenho e digestibilidade dos alimentos, porém apresentou
efeito negativo no crescimento das novilhas.
Desvantagens do uso da glicerina em ruminantes
A glicerina e todos os subprodutos da indústria de biodiesel na alimentação de ruminantes
apresentam seu uso limitado devido, principalmente, à composição de contaminantes, já que
apresentam efeitos deletérios e presença de metabólitos bioativos (Abdalla et al., 2008).
Lage et al. (2010) através da inclusão de 0, 3, 6, 9 e 12% de glicerina bruta na alimentação
de cordeiros em terminação, observaram que não houve efeito dos níveis de glicerina bruta sobre os
teores de umidade, extrato etéreo e cinzas do músculo Longissimus dorsi. Concluindo que, a
inclusão de glicerina na dieta diminuiu linearmente o teor de proteína bruta da carne, apresentando
um fator negativo porque as proteínas estão envolvidas na transformação do músculo em carne,
sendo esta, a principal fonte de proteína de alta qualidade na dieta humana.
Carboidratos não fibrosos
Os carboidratos não fibrosos (CNF) como amido e pectina, apresentam disponibilidade de
aporte energético rápido, enquanto os carboidratos fibrosos, como celulose e hemiceluloses, os
quais juntamente com a lignina, compõem a parede celular vegetal, são lentamente digeridos,
apresentando disponibilidade nutricional variável ocupando espaço no trato gastrintestinal.
Quantitativamente, o carboidrato não fibroso mais importante dos alimentos é o amido, sendo
o maior carboidrato de reserva na maioria das gramíneas, sementes de leguminosas e tecido
vegetativo de gramíneas e leguminosas de clima tropical (Van Soest, 1967).
6
Na dieta os CNF são responsáveis pelo fornecimento de energia para o animal são
encontrados basicamente nos concentrados energéticos. Segundo Detmann et al. (2010), é estimado
pela diferença entre proteína bruta, matéria mineral, extrato etéreo e fibra detergente neutro.
Quando presentes no rúmen são rapidamente fermentados, porém, não estimulam a ruminação e
produção de saliva, quando em excesso apresenta efeito negativo na fermentação das fibras
(Andrigueto, 1996).
CONCLUSÃO
Os resíduos do biodiesel, principalmente a glicerina pode ser usada na alimentação animal
como fonte de energia, além de diminuir o impacto ambiental causado por acúmulo de resíduos na
natureza, já que os ruminantes se adaptam a nova dieta sem afetar seu rendimento e sem provocar
alterações nos microrganismos do rúmen, estes resíduos são uma boa alternativa para as regiões
onde existe escassez de alimentos ao longo do ano, não diminuindo a produção animal.
Em regiões que existem fábricas de biodiesel a glicerina apresenta menor custo ao produtor
quando comparado ao milho. Porém, novos estudos in vivo devem ser realizados com o objetivo de
determinar a melhor forma de utilização em relação à porcentagem na ração, composição química,
riscos de intoxicação, existência de dose letal e espécies que melhor se adaptam ao seu uso, bem
como sua interação com outros ingredientes da ração.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDALLA, A.L.; SILVA FILHO, J.C.; GODOIS, A.R. et al. Utilização de subprodutos da
indústria de biodiesel na alimentação de ruminantes. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa,
v.37, p. 260-268, 2008.
ANDRIGUETTO, J.M. Nutrição Animal. 5ª ed, vol. 1. São Paulo: Nobel, 1996. 395p.
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 2009.
Disponívelem:<http://www.anp.gov.br/?pg=60127&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust
=1337207996415>Acesso em: 25 de setembro de 2012.
CHUNG, I.H.; RICO, D.E.; MARTINEZ, C.M. et al. Effects of Feeding Dry Glycerin to Early
Postpartum Holstein DairyCows on Lactational Performance and Metabolic Profiles. Journal
Dairy Science. v. 90, p. 5682-5691, 2007.
7
CNPE - Conselho Nacional de Política Energética. DOU nº 6/2009. Disponível em:
<http://nxt.anp.gov.br/NXT/gateway.dll/leg/folder_resolucoes/resolucoes_cnpe/2009/rcnpe%206%
20%202009.xml?f=templates$fn=documentframe.htm$3.0$q=$x=$nc=4011>Acesso em: 04 de
outubro de 2012.
DEFRAIN, J.M.; HIPPEN, A.R.; KALSCHEUR, K.F. et al. Feeding glycerol to transition dairy
cows: effects on blood metabolites and lactation performance. Journal Dairy Science. v. 87, p.
4195-4206, 2004.
DONKIN, S.S.; DOANE, P.H. Glycerol from Biodiesel Production: The New Corn for Dairy
Cattle. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516359t=sci_arttext>Acesso em 14 de abril de 2012.
DONKIN, S.S.; KOSER, S.L.; WHITE, H.M.; et al. Feeding value of glycerol as a replacement for
corn grain in rations fed to lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 92, p. 5111-5119,
2009.
DRACKLEY, J.K. Glycerin as a Potential Feed Ingredient for Dairy Cattle. Illiny Dairy Net,
Illinois, 2007. Disponível em: <http://www.livestocktrail.uiuc.u>. Acesso 14 de abril de 2012.
FDA. 2006. Code of Federal Regulations, 21 CFR 582.1320, Title 21, Vol. 6, 21CFR582.1320.
Disponível em <http://edocket.access.gpo.gov/cfr_2002>. Acesso: 10 de abril de 2012.
FERREIRA, M.A.; SILVA, F.M.; BISPO, S.V. et al. Estratégias na suplementação de vacas
leiteiras no semi-árido do Brasil, Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 38, p.322-329, 2009.
LAGE, J.F.; PAULINO, P.V.R.; PEREIRA, L.G.R. et al. Glicerina bruta na dieta de cordeiros
terminados em confinamento. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v. 45, n. 9, p. 1012-1020, 2010.
MACH, N.; BACH, A.; DEVANT, M. Effects of crude glycerin supplementation on performance
and meat quality of Holstein bulls fed high-concentrate diets. Journal of Animal Science, v. 87,
p. 632-638, 2009.
8
MUSSELMAN, A.F.; EMON, M.L.; GUNN, P.J.; et al. Effects of Crude Glycerin on Feedlot
Performance and Carcass Characteristics of Market Lambs. American Society of Animal
Sciences, v. 59, p. 353-355, 2008.
NIELSEN, N.I.; INGVARTSEN K.L. Propylene glycol for dairy cows: A review of the metabolism
of propylene glycol and its effects on physiological parameters, feed intake, milk production and
risk of ketosis. Animal Feed Science and Technology, v. 115, p. 191-213, 2004.
OSBORNE, V. R.; ODONGO, N.E.; CANT, J.P. et al. Effects of supplementing glycerol and
soybean oil in drinking water on feed and water intake, energy balance, and production performance
of periparturient dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 92, p. 698-707, 2009.
PARSONS, G.L.; SHELOR, M.K.; DROUILLARD, J.S. Performance and carcass traits of
finishing heifers fed crude glycerin. Journal of Animal Science, Manhattan, 2008. Disponível em:
<http://jas.fass.org/cgi/content87/2/653>. Acesso em: 14 de abril de 2012.
PERES, J.R.R.; FREITAS JUNIOR, E.; GAZZONI, D.L. Biocombustiveis. Uma oportunidade para
o agronegócio brasileiro. Revista de Política Agrícola, Brasília, v. 1, p. 31-41, 2005.
QUINTELA, C.M.; TEIXEIRA, L.S.G.; KORNE, M.G.A. et al. Cadeia do biodiesel da banCada à
indústria: uma visão geral Com prospe Cção de tarefas e oportunidades para p&d&. Química
Nova. v. 32, n. 3, p. 793-808, 2009.
RAMOS, M.H.; KERLEY, M.S. Effect of dietary crude glycerol level on ruminal fermentation in
continuous culture and growth performance of beef calves. Jounal of Animal Science. v. 90, n. 3,
p. 892-899, 2012.
ROGER, V.; FONTY, G.; ANDRÉ, C.; GOUET, P. Effects of Glycerol on the Growth, Adhesion,
and Cellulolytic Activity of Rumen Cellulolytic Bacteria and Anaerobic Fungi. Current
Microbiology, New York, v. 25, p. 197-201, 2008.
VAN SOEST, P.J.; WINE, R.H. Use of detergents in the analysis of fibrous feeds. IV
Determination of plant cell-wall constituents. Journal of the Official Agricultural Chemist, v.50,
p.50-55, 1967
9
Capítulo I
Cinética de fermentação ruminal in vitro de concentrados energéticos associados à glicerina
bruta
RESUMO
Estudou-se a cinética de fermentação ruminal com quatro níveis diferentes de glicerina bruta (0%,
3%, 6% e 9%) e quatro concentrados (milho, mandioca, polpa cítrica e casca de soja) utilizando-se
a técnica in vitro semi-automática de produção de gases. Foi utilizado o delineamento inteiramente
casualizado com três repetições. Os alimentos apresentaram comportamento fermentativo
diferenciado quando associados à glicerina. No milho houve influência negativa para o volume final
dos gases dos carboidratos fibrosos (VFCF) e na taxa de degradação dos carboidratos fibrosos
(KDCF), já para mandioca o maximizou o volume final total dos gases dos carboidratos totais
(VFT) e a taxa de degradação dos carboidratos não fibrosos (KDCNF). Na polpa cítrica a glicerina
maximizou a taxa de degradação dos carboidratos não fibrosos (KDCNF) e o volume final (VFT).
Para a casca de soja a inclusão da glicerina prejudicou a fermentação ruminal in vitro dos
carboidratos. Portanto, a glicerina pode substituir o milho em até 9%, já para mandioca e polpa
cítrica níveis variando entre 3,3 e 5,3% de glicerina maximizam os padrões de fermentação ruminal.
Palavras Chave: biodiesel, digestibilidade, glicerol, produção de gases, ruminantes
INTRODUÇÃO
A inclusão de carboidratos não fibrosos na dieta dos ruminantes tem como principal função
servir como fonte de energia, aumentando a produtividade dos animais, levando a produção final de
10
ácidos graxos voláteis que serão convertidos em energia e proteína microbiana (Cañizares et al,
2009).
A reciclagem ou o uso de subprodutos da indústria tem sido um assunto muito discutido em
diversos congressos e reuniões que visam desacelerar o aquecimento global, devido ao impacto que
está ocorrendo ao meio ambiente.
Os subprodutos do biodiesel, principalmente a glicerina pode ser usada na alimentação de
ruminantes como fonte de energia, além de diminuir o impacto ambiental causado por acúmulo de
resíduos na natureza, os ruminantes se adaptam a nova dieta sem afetar seu rendimento e sem
provocar alterações nos microrganismos presentes no rúmen. Os resíduos produzidos no processo
de fabricação do biodiesel são uma boa alternativa para as regiões onde existe redução de alimentos
ao longo do ano, não diminuindo, desta forma, a produção animal.
Para estimar de forma rápida a produção de gases e assim conhecer a cinética de
fermentação ruminal, a taxa e extensão da fermentação das plantas forrageiras, medir os produtos da
fermentação e partes solúveis e insolúveis de substratos, tem sido utilizada a técnica in vitro semi-
automática de produção de gases (Getachew et al., 1998; Mauricio et al., 1999). Estudos in vitro,
como o realizado por Pereira et al. (2008), avaliando níveis de inclusão da GB à dieta, evidenciaram
efeitos negativos quanto à produção de gases e digestibilidade, sugerindo que sejam realizadas
pesquisas in vivo para que possa ser encontrado o nível ótimo de inclusão como fator
gliconeogênico para ruminantes.
No presente estudo objetivou-se avaliar a cinética de fermentação ruminal de concentrados
energéticos (milho, mandioca, polpa cítrica e casca de soja) em associação a GB, utilizando-se a
técnica in vitro semi-automática de produção de gases.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido nas dependências do Laboratório de Nutrição Animal
pertencente ao Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Estadual de Santa
Cruz, localizado em Ilhéus no sul da Bahia.
Inicialmente as amostras foram pré-secadas em estufa de ventilação forçada a 60 ºC, por 96
horas, para posterior moagem em peneira de 2 mm. As análises laboratoriais consistiram na
determinação da matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo
(EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e proteína
(FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), nitrogênio indigestível em detergente neutro (NIDN),
carboidratos totais (CHT) e carboidratos não fibrosos (CNF). As análises de PB, EE, MO e MM
foram realizadas seguindo os procedimentos padrões da Association of Official Analytical Chemists
11
(AOAC...,1990), e as análises de FDN e FDA conforme Van Soest et al. (1991) (Tab. 1). Os
carboidratos totais foram calculados a partir da fórmula CT= 100-(%PB+%EE+% Cinzas); e os
carboidratos não fibrosos (CNF), a partir da fórmula: CNF = 100 -(%PB + %FDNcp + %EE +
%Cinzas), de acordo com Sniffen et al. (1992).
Tabela 1 - Composição química dos ingredientes utilizados para incubação in vitro
Item
Ingredientes
Milho Mandioca
Casca
soja
Polpa
cítrica Glicerina
Matéria seca1
85,59 82,89 85,09 82,64 69,90
Matéria organica2
98,30 95,27 95,64 91,35
Extrato etéreo2
4,25 2,02 1,69 2,16 14,80
Proteína bruta2
8,34 3,55 8,90 5,54 0,41
NIDN2
2,17 0,79 4,09 1,26
FDN2
19,33 10,50 54,33 26,00
FDNcp2
14,27 6,87 47,53 21,22
FDA2
5,30 7,54 46,60 20,90
Carboidratos totais2
85,70 89,69 85,05 83,64
Carboidratos não fibrosos2
71,43 82,83 37,51 62,41
1 %; 2 % na MS.
As incubações in vitro pela técnica semi-automática de produção de gases foram conduzidas
conforme Santos et al. (2010). Amostras de cada tratamento foram pesadas seguindo os quatro
níveis de inclusão de glicerina e depositadas em frascos de vidro com capacidade de 50mL. Cada
frasco foi previamente autoclavado, seco e recebeu injeção de CO2 para que o ambiente interno
deste se aproximasse ao máximo às condições de anaerobiose encontrada no rúmen. Foram
adicionados, 28,125mL de meio de cultura conforme Menke e Stongres (1988). Os frascos foram
vedados com rolhas de borracha, sendo posteriormente mantidos a 39°C. A glicerina foi colocada
em cada frasco individualmente através de uma seringa de acordo com os níveis de inclusão. As
incubações foram feitas em triplicata, os brancos, contendo apenas o inóculo foi utilizado para
correção da fermentação de resíduos presentes no inóculo.
A solução tampão, macro e micromineral, descrita por Menke & Steingass (1988), foi
preparada duas horas antes à incubação, sendo aquecida a 39ºC com aferição contínua da
temperatura utilizando um termômetro imerso na solução, sob gaseificação contínua por CO2, e
homogeneizada por um agitador do tipo “bailarina”. O pH da solução foi monitorado
12
constantemente até atingir valor de 6,8. Por se tratar de um alimento fibroso, o pH de 6,8 foi
determinado como ótimo devido a ação das bactérias celulolíticas ser favorecida nessa condição.
O líquido ruminal foi obtido de um bovino macho, fistulado no rúmen, mantido em pasto de
Braquiária decumbens, consumindo 2,0 kg de concentrado por dia. A coleta foi realizada ao
amanhecer, utilizando um funil envolto com uma fralda de algodão limpa onde o líquido ruminal foi
filtrado e direcionado a uma garrafa térmica pré aquecida a 39ºC e imediatamente levada ao
laboratório para a incubação dos frascos. No laboratório, o líquido ruminal foi filtrado através de
camadas de gaze de algodão sob injeção contínua de CO2 e mantido aquecido a 39°C. A inoculação
foi feita por meio de injeção de 3,125 ml do inoculo por frasco, utilizando um micropipetador.
A pressão originada dos gases acumulados na parte superior dos frascos foi medida por um
leitor digital, nos tempos 1, 2, 3, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 17, 20, 24, 28, 36, 48, 60, 72, 84, 96, 108, 120
horas após a incubação. A equação de regressão utilizada para a conversão de pressão (P), pressão
dada por libra por polegada ou pound square inch (PSI), para volume [V (mL) = 0,04755 + 1,9754P
+ 0,01407P2, (R2 = 0,99), foi padronizada de acordo com Santos et al. (2010) seguindo metodologia
proposta por Maurício et al. (2003). As variáveis da cinética dos carboidratos fibrosos (CF) e não-
fibrosos (CNF) foram estimadas pelo modelo bicompartimental, ajustado às curvas de produção
cumulativa dos gases (Schofield et al., 1994): V = VFCNF / (1 + exp (2 - 4*kdCNF*(T - L))) +
VFCF / (1 + exp(2 - 4*kdCF*(T - L))), em que: VFCNF equivale ao volume máximo dos gases da
fração dos CNF; kdCNF, à taxa de fermentação (h-1) desta mesma fração (CNF); VFCF, ao volume
máximo de gás da fração dos CF; kdCF, à taxa de fermentação (h-1) dos CF; e T e L, aos tempos de
incubação (horas) e à latência (horas), respectivamente.
Após estimativa das variáveis da cinética de produção de gases dos carboidratos, foram
construídas as curvas de fermentação dos carboidratos em função do tempo de incubação.
Os dados obtidos sobre os parâmetros da produção dos gases dos CNF e CF, foram
ajustados por regressão não-linear pelo método de Gauss-Newton, implantado no software
Statistical Analysis System, versão 9.0 (SAS..., 2000).
Foram realizadas análises de variância e quando significativa, foi realizada a análise de
regressão quanto aos níveis de glicerina em cada fonte de carboidrato não fibroso utilizado. Foi
utilizado o delineamento inteiramente casualizado com três repetições.
Os modelos foram selecionados com base nos coeficientes de determinação e na
significância dos coeficientes de regressão. Os procedimentos estatísticos foram realizados com o
auxílio do programa SAS, adotando-se 0,05 como nível crítico de probabilidade do erro tipo I.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição ao milho
13
0% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vol
ume
de g
ases
, mL/
g de
MS
incu
bada
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
3% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vol
ume
de g
ases
, mL/
g de
MS
incu
bada
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
6% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vol
ume
de g
ases
, mL/
g de
MS
incu
bada
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
9% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vol
ume
de g
ases
, mL/
g de
MS
incu
bada
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
Avaliando a cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição ao milho,
observou-se que não houve efeito significativo (P>0,05) para a KDCNF, VFCNF e VFT. Diferença
significativa (P<0,05) foi observada no VFCF e KDCF. A inclusão da glicerina influenciou
negativamente o VFCF e KDCF, já que a degradação foi mais eficiente quando não havia glicerina
(Tab. 2, Fig. 1). Estimou-se redução de aproximadamente 3 mL para cada percentual de substituição
do milho pela glicerina na incubação. Contudo, os gases oriundos dos CF no milho não representam
a principal fonte de energia para a população microbiana e por isto, os impactos negativos
influenciados pela presença da glicerina na incubação são biologicamente pouco significativos.
Desta forma, pode-se inferir que a substituição de até 9% do milho pela glicerina não alterou a
disponibilidade de energia a população microbiana ruminal.
Tabela 2. Valores médios para volume final de produção de gases dos carboidratos fibrosos e não-
fibrosos e (VfCF, VfCNF), suas respectivas taxas de fermentação (KdCF e KdCNF), volume final
de produção de gases dos carboidratos totais (VfT) e lag time (LAG) em função dos níveis de
inclusão de glicerina em substituição ao milho
Item Nível de glicerina (%)
Valor P CV ER 0 3 6 9
VFCNF, mL 204,68 229,89 212,15 235,68 0,0822 6,38 Ŷ =220,60
KDCNF, mL h-1
0,088 0,081 0,083 0,078 0,1180 5,25 Ŷ =0,083
L, h 2,98 2,58 2,88 3,22 0,1427 10,11 Ŷ =2,91
VFCF, mL 100,12 69,57 78,06 67,88 0,0179 13,11 1
KDCF, mL h-1
0,024 0,020 0,023 0,018 0,0287 9,94 2
VFT, mL 304,80 299,45 290,21 303,56 0,5053 4,15 Ŷ =299,51
1 – Ŷ = 92,1313879 – 2,94071X (r2 = 0,59); 2 – Ŷ = 0,0233 – 0,00043844X (r2 = 0,49).
14
Figura 1. Produção de gases da fermentação ruminal in vitro em função dos tempos de incubação do
milho em substituição à glicerina nos valores de 0, 3, 6 e 9% de inclusão.
A redução na utilização dos CF na associação entre o milho e a glicerina pode ser explicado
por Tamminga e Doreau (1991) e Jenkins e McGuire (2006), que consideram haver inibição do
crescimento bacteriano e recobrimento de fibras por lipídeos e excesso de glicerol na dieta, já que
os menores valores de degradação foram observados à proporção que se aumenta o nível de
glicerina na dieta (Paggi et al., 2004).
Cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição a mandioca
A substituição da mandioca por glicerina, não influenciou (P>0,05) o VFCNF, VFCF, KDCF
e L, porém, resultou em efeito significativo (P<0,05) para VFT e KDCNF (Tab. 3, Fig. 2). A
glicerina influenciou positivamente na produção final dos gases produzidos pelos CHT e na taxa de
degradação de carboidratos não fibrosos (KDCNF), sendo estimado que 3,84% de inclusão da
glicerina maximizou o VFT e 5,29% de inclusão da glicerina maximiza a KDCNF.
Tabela 3. Valores médios para volume final de produção de gases dos carboidratos fibrosos e não-
fibrosos e (VfCF, VfCNF), suas respectivas taxas de degradação (KdCF e KdCNF), volume final
de produção de gases dos carboidratos totais (VfT) e lag time (LAG) em função dos níveis de
inclusão de glicerina em substituição a mandioca
Item Nível de glicerina (%)
Valor P CV ER 0 3 6 9
VFCNF, mL 278,82 307,23 285,34 278,30 0,2050 5,91 Ŷ =287,42
KDCNF, mL h-1
0,088 0,107 0,103 0,099 0,0060 4,76 1
L, h 3,07 3,42 3,15 3,42 0,1346 6,10 Ŷ =3,26
VFCF, mL 66,62 81,77 65,19 59,15 0,1411 15,70 Ŷ =68,18
KDCF, mL h-1
0,029 0,020 0,018 0,018 0,3904 37,69 Ŷ =0,021
VFT, mL 345,44 388,99 350,52 337,45 0,0259 4,83 2
1 – Ŷ = 0,08893 + 0,00667X – 0,00063056X2 (R2 = 0,87); 2 – Ŷ = 350,8117 + 12,0745X – 1,57286X2 (R2 = 0,63).
15
0% de glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vo
lum
e d
e g
ase
s, m
L/g
de
MS
incu
ba
da
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
3% de glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vo
lum
e d
e g
ase
s, m
L/g
de
MS
incu
ba
da
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
6% de glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Volu
me
de
ga
ses,
mL
/g d
e M
S in
cub
ad
a
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
9% de glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Volu
me
de
ga
ses,
mL
/g d
e M
S in
cub
ad
a
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
Figura 2. Produção de gases da fermentação ruminal in vitro em função dos tempos de incubação da
mandioca em substituição à glicerina nos valores de 0, 3, 6 e 9% de inclusão.
Vilela e Ferreira (1987) atribuem a melhor digestibilidade da mandioca em comparação ao milho
devido a sua quantidade de amilopectina que no milho é de 76% e na mandioca 83%. A presença de
maior quantidade de amilopectina possibilita melhor digestibilidade da mandioca quando
comparada a outros cereais ricos em amido. Já Holzer et al. (1997) e Pires (1999), atribuíram a
melhor digestibilidade da mandioca com a quantidade de proteína que é baixa e não se associa aos
grãos de amido favorecendo a digestibilidade, quando comparada ao milho.
Cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição a polpa cítrica
Quando substituída a polpa cítrica por glicerina observou-se valores significativos (P<0,05),
para o VFCNF, KDCNF e VFT. Estimou-se que a inclusão da glicerina em substituição a polpa
cítrica pode ser maximizada numa concentração variando entre 3,31 e 5,29%, já que no primeiro
16
0% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vol
ume
de g
ases
, mL/
g de
MS
incu
bada
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
3% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vol
ume
de g
ases
, mL/
g de
MS
incu
bada
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
6% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vol
ume
de g
ases
, mL/
g de
MS
incu
bada
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
9% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vol
ume
de g
ases
, mL/
g de
MS
incu
bada
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
nível maximizou a KDCNF e o segundo nível maximizou o VFT, enquanto para o VFCNF a
inclusão da glicerina melhorou a utilização dos CNF (Tab. 4, Fig. 3).
Tabela 4. Valores médios para volume final de produção de gases dos carboidratos fibrosos e não-
fibrosos e (VfCF, VfCNF), suas respectivas taxas de degradação (KdCF e KdCNF), volume final
de produção de gases dos carboidratos totais (VfT) e lag time (LAG) em função dos níveis de
inclusão de glicerina em substituição a polpa cítrica
Item Nível de glicerina (%)
Valor P CV ER 0 3 6 9
VFCNF, mL 231,86 259,64 230,23 265,46 0,0112 4,77 1
KDCNF, mL h-1
0,072 0,077 0,073 0,064 0,0397 5,89 2
L, h 2,10 2,18 2,07 2,13 0,9388 10,58 Ŷ =2,12
VFCF, mL 88,71 118,56 103,51 86,98 0,1967 18,29 Ŷ =99,44
KDCF, mL h-1
0,018 0,019 0,018 0,017 0,1596 6,78 Ŷ =0,018
VFT, mL 320,57 378,20 333,74 352,44 0,0110 4,62 3
1 – Ŷ = 236,09282 + 2,37954X (r2 = 0,25); 2 – Ŷ = 0,07218 + 0,00245X – 0,00037X2 (R2 = 0,99); 3 – Ŷ = 328,83450 +
11,43712X – 1,08133X2 (R2 = 0,27).
A polpa cítrica tem como principal fonte de energia a pectina. Rodrigues et al (2008),
descreve a pectina contendo alto teor energético, por esse motivo provoca melhoria na degradação
da porção fibrosa da dieta, além de ser degradado rapidamente pelos microrganismos do rúmen, não
promovendo alteração da fermentação ruminal quando comparado ao milho que apresenta altos
teores de amido.
17
Figura 3. Produção de gases da fermentação ruminal in vitro em função dos tempos de incubação da
polpa cítrica em substituição à glicerina nos valores de 0, 3, 6 e 9% de inclusão.
Cinética de fermentação ruminal da glicerina em substituição a casca de soja
Na cinética de fermentação ruminal in vitro da casca de soja, observou-se efeito significativo
(P>0,05) no VFCNF, KDCNF, L, VFCF e KDCF, indicando influência negativa sobre os CF, à qual
foi a principal fonte de energia para população microbiana ruminal à medida que acrescentou
glicerina na incubação, apesar de ter melhorado a utilização dos CNF (Tab. 5, Fig. 4).
Tabela 5. Valores médios para volume final de produção de gases dos carboidratos fibrosos e não-
fibrosos e (VfCF, VfCNF), suas respectivas taxas de degradação (KdCF e KdCNF), volume final
de produção de gases dos carboidratos totais (VfT) e lag time (LAG) em função dos níveis de
inclusão de glicerina em substituição a casca de soja
Item Nível de glicerina (%) VALOR
P CV ER
0 3 6 9
VFCNF, mL 22,94 33,40 41,30 49,92 <0,0001 7,89 1
KDCNF, mL h-1
0,317 0,164 0,153 0,167 0,0036 20,66 2
L, h 5,86 5,94 4,31 4,32 0,0002 6,05 3
VFCF, mL 325,84 308,29 293,69 287,04 0,0076 3,40 4
KDCF, mL h-1
0,021 0,020 0,019 0,014 <0,0001 3,94 5
VFT, mL 348,78 341,69 334,98 336,96 0,2289 2,34 Ŷ =340,60
1 – Ŷ = 23,56439 + 2,96133X (r2 = 0,99); 2 – Ŷ = 0,31089 - 0,05695X + 0,00462X2 (R2 = 0,96); 3 – Ŷ = 6,04282 –
0,20802X (r2 = 0,78); 4 – Ŷ = 323,36095 – 4,36655X (r
2 = 0,96); 5 – Ŷ = 0,02178 – 0,00078578X (r
2 = 0,87).
18
0% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vo
lum
e d
e g
ase
s, m
L/g
de
MS
in
cu
ba
da
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
3% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Vo
lum
e d
e g
ase
s, m
L/g
de
MS
in
cu
ba
da
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
6% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Volu
me
de
ga
ses, m
L/g
de
MS
incub
ad
a
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
9% de Glicerina
Tempo de incubação, horas
0 20 40 60 80 100 120
Volu
me
de
ga
ses, m
L/g
de
MS
incub
ad
a
0
100
200
300
400
CT
CNF
CF
A casca de soja, mesmo devido aos seus altos valores de fibra, apresenta uma
degradabilidade efetiva mediana, possuindo alta digestibilidade in vitro (Zambom et al. 2001).
Alcalde et al. (2009), descreve a casca de soja como um subproduto da agroindústria que apresenta
pectina na composição da parede celular, além de boa degradação dos CF, sendo que, seu baixo teor
de lignina permite melhor ação dos microrganismos no rúmen, apresenta produção reduzida de
ácido lático não interferindo no pH ruminal, consequentemente melhorando padrão de fermentação
ruminal.
Zambom et al. (2007), avaliando a qualidade do leite de cabras através da substituição do
milho pela casca do grão de soja, observou que, mesmo com alto teor de FDN e limitada ingestão
de matéria seca pelos animais, a casca de soja apresentou alta digestibilidade devido a presença de
carboidratos estruturais de fácil degradação como a hemicelulose e pectina. Portanto, a glicerina
deve ter proporcionado ambiente desfavorável à utilização dos CHT da casca de soja.
19
Figura 4. Produção de gases da fermentação ruminal in vitro em função dos tempos de incubação da
casca de soja em substituição à glicerina nos valores de 0, 3, 6 e 9% de inclusão.
CONCLUSÃO
Alimentos com mesma fonte de carboidratos não fibrosos apresentam comportamento
fermentativo diferenciado quando associado à glicerina. A glicerina pode substituir o milho em até
9% e na mandioca o nível ótimo de substituição que deve esta entre 3,84 e 5,29% de glicerina. Para
a polpa cítrica o nível ótimo de substituição que melhora o processo de utilização dos carboidratos
deve esta entre 3,31 e 5,29% de glicerina. Porém, tornam-se necessários estudos in vivo para
ratificar estes resultados e identificando efeitos de consumo, digestibilidade dos nutrientes e
desempenho de animais alimentados com diferentes fontes de carboidratos em associação com
glicerina.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCALDE, C.R.; ZAMBOM, M.A.; PASSIANOTO, G.O. et al. Valor nutritivo de rações
contendo casca do grão de soja em substituição ao milho moído para cabritos Saanen. Revista
Brasileira de Zootecnia. v. 38, n.11, p. 2198-2103, 2009.
AOAC. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY - Official Methods of
Analysis, 15th ed. AOAC International, Arlington. 1990.
CAÑIZARES, G.I.L.; RODRIGUES, L.; CAÑIZARES, M.C. Metabolismo de carboidratos não-
estruturais em ruminantes. Archives of Veterinary Science. v.14, n.1, p.63-73, 2009.
GETACHEW, G.; BLÜMMEL, M.; MAKKAR, H. P. S. et al. In vitro gas measuring techniques
for assessment of nutrition quality of feeds: a review. Animal Feed Science Technology. v. 72, n.
3-4, p. 261-281, 1998.
20
HOLZER,Z.; ARARONI, Y.; LUBIMOV, V. e t a l. The feasibility of replacement of grain by
tapioca in diets for growing-fat ening cattle . Animal Feed Science Technology. v. 64, n.3 p. 133-
142, 1997.
JENKINS, T.C.; MCGUIRE, M.A. Major advances in nutrition: impact on milk composition.
Journal Dairy Science. v.89, p.1302 -1310, 2006.
MAURICIO, R. M.; MOULD, F. L.; DHANOA,M. S. et al. Semi-automated in vitro gas production
technique for ruminants feedstuff evaluation. Animal Feed Science Technology. v. 79, p. 321-330,
1999.
MAURICIO, R.M.; PEREIRA, L.G.R.; GONÇALVES, L.C. et al. Relação entre pressão e volume
para implantação da técnica in vitro semi-automática de produção de gases na avaliação de
forrageiras tropicais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.55, p.216-219,
2003.
MENKE, K.H.; STEINGASS, H. Estimation of the energetic feed value obtained from chemical
analysis and gas production using rumen fluid. Animal Research Development v. 28, p. 7-55,
1988.
PAGGI, R.A.; FAY, J.P.; FAVERIN, C. In vitro ruminal digestibility of oat hay and cellulolytic
activity in the presence of increasing concentrations of short -chain acids and glycerol.
Journal of Agricultural Science. v.142, p.89 -96, 2004.
PEREIRA, L. G. R.; MENEZES, D. R.; ARAÚJO, G.G.L. et al. Degradabilidade in situ da matéria
seca e proteína bruta de co-produtos do biodiesel. In: 45º REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNA, 2008, Lavras. Anais... Lavras: SBZ, 2008.
PIRES, A.V. Efeito da inclusão de fontes de amido e silagem de milho em dietas à base de
cana-de-açúcar na digestibilidade de nutrientes e na produção de leite de vacas Holandesas.
Piracicaba, SP, 1999. 120p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
/Universidade de São Paulo, 1999.
21
RODRIGUES, G.H.; SUSIN, I.; PIRES, A.V. et al. Polpa cítrica em rações para cordeiros em
confinamento: caracterisitcas da carcaça e qualidade da carne. Revista Brasileira de Zootecnia. v.
37, n. 10, p. 1869-1875, 2008.
SANTOS, M.G.M.F; AZEVÊDO, J.A.G; PEREIRA, L.G.R. et al. Relação entre pressão e volume
para implantação da técnica in vitro de produção de gases no trópico úmido. In: REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 47, 2010, Salvador. Anais…
Salvador: SBZ, 2010 (CD ROM).
SAS Institute. SAS/STAT User’s guide, Version 9.1 . SAS Institute Inc., Cary, NC. . 2000.
SCHOFIELD, P.; PITT, R.E; PELL, A.N. Kinetic of fiber digestion from in vitro gas
production. Journal of Animal Science. v.72, n.11, p.2980-2991, 1994.
SNIFFEN, C.J., O’CONNOR, D.J., VAN SOEST, P.J. et al. A net carbohydrate and protein system
for evaluating cattle diets: carbohydrate and protein availability. Journal of Animal Science. v. 70,
n.12, p. 3562-3577, 1992.
TAMMINGA, S.; DOREAU, M. Lipids and rumen digestion. In: JOUANY, J.P. (Ed.). Rumen
microbial metabolism and ruminant digestion. INRA. p.151 -164, 1991.
VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J.B.; LEWIS, B.A. et al. Symposium: carbohydrate
methodology, metabolism, and nutritional implications in dairy cattle. Journal Dairy Science. v.74,
n.10, p.3583-3597, 1991.
VILELA, E.R., FERREIRA, M.E. Tecnologia de produção e utilização do amido de mandioca.
Informe Agropecuário. v. 13 n.145, p.69-73, 1987.
ZAMBOM, M. A.; SANTOS, G.T.; MODESTO, E.C. et al. Valor nutricional da casca do grão de
soja, farelo de soja, milho moído e farelo de trigo para bovinos. Acta Scientiarum. v. 23, n. 4, p.
937-943, 2001.
ZAMBOM, M.A.; ALCALDE, C.R.; HASHIMOTO, J.H. et al. Parâmetros digestivos, produção e
qualidade do leite de cabras Saanen recebendo rações com casca do grão de soja em substituição ao
milho. Acta Scientiarum. v. 29, n. 3, p. 309-316, 2007.
22
Capítulo II
Consumo e digestibilidade de dietas contendo glicerina bruta associada a diferentes fontes de
carboidratos não fibrosos para ovinos
RESUMO
Objetivou-se avaliar o consumo e a digestibilidade aparente dos nutrientes em ovinos mestiços
recebendo dietas com e sem glicerina e quatro fontes de carboidratos não fibrosos (milho,
mandioca, polpa cítrica e casca de soja) e feno. Foram utilizados dez ovinos sem raça definida,
machos, adultos, castrados, com peso médio de 47,4 ± 5,5 kg, mantidos em gaiolas metabólicas
individuais. O experimento foi conduzido em dois quadrados latinos 5 x 5 incompleto, com 4
períodos de 15 dias cada, sendo 10 dias de adaptação e 5 de coleta de dados, totalizando 60 dias de
período experimental. Independente da fonte de carboidratos, observou-se diferenças no cosumo de
MS (expressos em g/dia e g/kg de peso metabólico), MO, PB, FDNcp (expressos em g/dia e g/kg de
peso corporal), FDA, CHT e NDT, sendo que as dietas com glicerina apresentaram menor consumo
dos nutrientes na digestibilidade. A presença da glicerina proporcionou menor digestibilidade
aparente, com exceção apenas para o EE na dieta com casca de soja, mandioca, polpa cítrica e feno
e digestibilidade aparente de MS e PB em dietas com mandioca e polpa cítrica, não havendo efeito
da fonte de CNF em dietas contendo ou não glicerina. A GB influenciou negativamente o consumo
e digestibilidade aparente.
Palavras chave: alimentos alternativos, nutrição, resíduos, ruminantes
23
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a ovinocultura brasileira vem crescendo, principalmente por ter áreas
suficientes para sua criação e pela disponibilidade de raças adaptável em todas as regiões (Almeida
Junior et al., 2004). As regiões do semiárido se destacam na criação destes animas devido à rápida
adaptação das condições climáticas estabelecidas, usando animais deslanados para a produção de
carne e pele, porém, o desempenho produtivo torna-se limitado principalmente por deficiências
nutricionais impostas pela condição climática (Silva & Araújo, 2000).
O consumo de nutrientes influência o desempenho do animal, porém o maior ou menor
consumo depende do tipo de alimento fornecido ou das condições de alimentação impostas ao
animal. O consumo é responsável por suprir as exigências de mantença e consequentemente,
garantir a produção animal (Hashimoto, et al., 2007). Já a digestibilidade segundo Silva & Leão
(1979), está diretamente ligada a características do próprio alimento, ou seja, sua composição
químico-bromatologica, bem como, o aproveitamento de cada nutriente pelo organismo animal.
Outro fator que afeta significativamente a produção em grande escala dos ovinos é o alto
custo da ração, principalmente do milho, justificando-se o uso de alimentos alternativos ou
subprodutos de agroindústrias regionais que apresentam bom valor nutritivo, baixo custo,
proporcionando um destino correto desse material (Menezes et al. 2004).
Os carboidratos não fibrosos (CNF), compostos por amido e pectina são responsáveis pelo
rápido fornecimento de energia para o animal ruminante, já que este é rapidamente fermentado
pelos microrganismos do rúmen e convertido em proteína microbiana e ácidos graxos voláteis. O
carboidrato não fibroso mais importante dos alimentos é o amido, sendo o maior carboidrato de
reserva na maioria das gramíneas, sementes de leguminosas e tecido vegetativo de gramíneas e
leguminosas de clima tropical (Van Soest, 1967).
A glicerina, um subproduto da indústria de biocombustíveis originada pelo processo de
transesterificação, pode ser usada na alimentação animal devido a sua grande quantidade de energia
24
(4.320 kcal de energia bruta por kg para o glicerol puro) e por agir como substrato gliconeogênico.
O glicerol, componente principal da glicerina é um metabólito presente nas células e no rúmen,
sendo reconhecido pelos microrganismos ruminais (Menten et al. 2009).
Lage, et al. (2010), ao incluírem até 12% na matéria seca de glicerina bruta na alimentação de
cordeiros em terminação, observaram melhoria na conversão alimentar quando incluíam até 6% da
glicerina bruta (GB). Já Musselman et al. (2008), avaliando níveis crescentes de glicerina na
matéria seca (15, 30 e 45%) , observaram que o uso até 15% de glicerina na dieta de cordeiros em
terminação não reduziu o desempenho dos animais em confinamento ou características da carcaça,
promovendo melhor ganho de peso diário. Os autores também chamaram atenção em relação ao
custo da ração que seria economicamente inviável acima desse valor. Krueger et al. (2010), também
avaliando níveis crescentes de glicerina bruta 0, 5, 10, 20 e 40% através da técnica de fermentação
ruminal in vitro, substituindo parcialmente o feno de alfafa, concluíram que acima de 20% a
glicerina afeta negativamente a digestão da fibra e produção de ácidos graxos voláteis e isto se deve
a menor atividade dos microrganismos do rúmen devido ao excesso de gordura.
Objetivou-se avaliar fontes de carboidratos não fibrosos em associação à glicerina na dieta de
ovinos sobre o consumo e digestibilidade dos nutrientes.
MATERIAL E MÉTODOS
Local, animais e manejo experimental
O experimento foi conduzido nas dependências do Laboratório de Pesquisa em Nutrição e
Alimentação de Ruminantes da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-BA.
Foram utilizados dez ovinos sem raça definida, machos, adultos, castrados, com peso corporal
médio de 47,4 ± 5,5kg, distribuídos em dois quadrados latinos 5 x 5 incompleto. Os animais foram
mantidos em gaiolas metabólicas individuais de 0,8 m x 1,2 m cada, com piso ripado de metal,
providos de comedouros e bebedouros, dispostos frontalmente.
25
Antes de iniciar o experimento, todos os animais foram pesados, tosquiados, identificados e
tratados contra ecto e endoparasitas. O experimento teve duração de 60 dias, constituído por quatro
períodos experimentais, com 15 dias cada, sendo os dez primeiros dias destinados à adaptação dos
animais e os cinco dias finais à coleta de dados de consumo e excretado.
Ao término de cada período experimental os animais foram novamente pesados para melhor
ajuste das dietas concomitante a uma nova tosquia em especial na área de contato entre a bolsa
coletora e o animal para evitar a contaminação das fezes com pelos.
As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, às 8h00 e às 16h00, sendo ajustadas de forma a
manter as sobras em torno 5% do fornecido.
Dietas Experimentais
A glicerina utilizada neste experimento foi proveniente do processo de produção do biodiesel
a partir da mamona, os quatro concentrados utilizados, milho, polpa cítrica e casca de soja foram
provenientes de indústrias locais, já a mandioca foi na forma in natura, processada na forma de
raspa de mandioca. Foi utilizado feno de transvala (Digitaria decumbens c.v.). Para que as dietas
fossem isonitrogenadas, foi adicionado mistura de 9:1 de ureia e sulfato de amônio.
Determinação do consumo e coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes
Para obtenção dos coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (MS), matéria
orgânica (MO), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido
(FDA), extrato etéreo (EE) e carboidratos não fibrosos (CNF), utilizou-se o método de coleta total
de fezes. As coletas totais de fezes foram realizadas sempre às 07:30 e 16:00 h utilizando bolsas
coletoras de lona e napa ajustadas aos animais.
As fezes foram pesadas e retiradas amostras equivalentes a 5% do peso total excretado,
congeladas à -10ºC em sacos plásticos assim como amostras de feno, milho, raspa de mandioca,
polpa cítrica, casca de soja e sobras de cada animal nos cinco dias de coleta.
26
Para que fosse realizada a pré-secagem as amostras de fezes juntamente com as dos demais
alimentos e sobras de todos os períodos, foram descongeladas e pré-secadas a 60ºC durante 76
horas, processadas em moinho de faca com peneira de porosidade de 1 mm de diâmetro, para
posteriores análises do conteúdo de MS, PB, MO, EE e FDA, conforme os métodos do AOAC
(1990) (Tabela 1).
Nas análises de FDN, as amostras foram tratadas com alfa-amilase termoestável, sem o uso de
sulfito de sódio e corrigido para cinzas residuais (Mertens, 1992). A correção da FDN e FDA para
os compostos nitrogenados e a estimação dos conteúdos de compostos nitrogenados insolúveis nos
detergentes neutro (NIDN) e ácido (NIDA) foram feitas conforme Licitra et al. (1996). (Tabela 1).
Tabela 1. Composição química dos ingredientes utilizados nas dietas
Item
Ingredientes
Feno Milho Mandioca Casca
soja
Polpa
cítrica Glicerina
Matéria seca1 79,74 85,59 82,89 85,09 82,64 69,90
Matéria organica2 89,87 98,30 95,27 95,64 91,35
Extrato etéreo2 1,92 4,25 2,02 1,69 2,16 14,80
Proteína bruta2 8,44 8,34 3,55 8,90 5,54 0,41
NIDN2 3,54 2,17 0,79 4,09 1,26
FDN2 76,75 19,33 10,50 54,33 26,00
FDNcp2 68,78 14,27 6,87 47,53 21,22
FDA2 47,16 5,30 7,54 46,60 20,90
Carboidratos totais2 79,51 85,70 89,69 85,05 83,64
Carboidratos não fibrosos2 10,73 71,43 82,83 37,51 62,41
1 %; 2 % na MS; NIDN: nitrogênio insolúvel em detergente neutro; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: Fibra em
detergente ácido; FDNcp: fibra em detergente neutro livre de cinzas e proteína.
Os carboidratos não fibrosos (CNF), expresso em % na MS, foram calculados de acordo com
Hall (2000) como: 100- (%FDN + %PB + %EE + %MM), e os nutrientes digestíveis totais (NDT)
como: NDT = %PBdigestível + %FDNdigestível + %CNFdigestível + 2,25*%EEdigestível (Tabela
2).
Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição química da dieta com e sem glicerina
Casca soja Mandioca Milho Polpa cítrica Feno
Item Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem
27
Proporção dos ingredientes
Feno 65,0 75,0 65,0 75,0 65,0 75,0 65,0 75,0 80,0 95,0
Fonte CHT 14,9 20,3 14,6 19,9 14,9 20,3 14,7 20,1 0,0 0,0
Ureia 1,1 0,7 1,4 1,1 1,1 0,7 1,3 0,9 1,1 0,7
Glicerina 15,0 0,0 15,0 0,0 15,0 0,0 15,0 0,0 15,0 0,0
Sal Mineral* 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0
Composição química
Proteína bruta 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0
Extrato etéreo 3,7 1,8 3,8 1,8 4,1 2,3 3,8 1,9 3,8 1,8
FDNcp 51,8 61,2 45,7 53,0 46,8 54,5 47,8 55,8 55,0 65,3
CNF 12,6 15,7 19,1 24,6 17,6 22,5 16,2 20,6 8,6 10,2
CHT 64,3 76,9 64,8 77,5 64,4 77,0 64,0 76,4 63,5 75,5 FDNcp: Fibra em detergente neutro livre de cinzas e proteínas; CNF: carboidratos não fibrosos; CHT: carboidratos
totais. * Composição por kg de produto: cálcio 80g, cobalto 30 mg, cobre 350 mg, cromo 11,70 mg, enxofre 11,70 g,
ferro 700 mg, flúor 600 mg, fósforo 60g, iodo 50 mg, manganês 1,2 g, molibdênio 180 mg, selênio 15 mg, sódio 132 g,
zinco 2,6 g.
Procedimentos estatísticos
O experimento foi conduzido em delineamento de quadrado latino. Foram avaliados os consumos e
as digestibilidades aparente dos nutrientes da dieta total com e sem glicerina. Realizadas análises de
variância e quando significativo, foi comparado as médias entre as dietas (tratamentos) por meio de
contrastes ortogonais (Tabela 3).
Ao contraste 1 atribuiu-se a comparação entre as médias das dietas com glicerina e sem
glicerina. No contraste 2, 3, 4, 5 e 6 compararam-se dentro de cada fonte as dietas com e sem
glicerina, respectivamente para: casca de soja, mandioca, milho, polpa cítrica e feno. Nos contrastes
7 e 8 compararam-se dietas com e sem glicerina entre fontes de pectina e amido, respectivamente.
Os procedimentos estatísticos foram realizados com o auxílio do Software SAS (Statistical
Analisys System, versão 9.0), adotando-se 0,05 como nível crítico de probabilidade do erro tipo I.
Tabela 3. Distribuição dos coeficientes para os contrastes ortogonais empregados na
decomposição da soma de quadrados para dietas com e sem glicerina em função da fonte de
carboidrato
Contrastes
Fonte de carboidrato
Casca soja Mandioca Milho Polpa cítrica Feno
Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem
1 1 -1 1 -1 1 -1 1 -1 1 -1
2 1 -1 0 0 0 0 0 0 0 0
3 0 0 1 -1 0 0 0 0 0 0
4 0 0 0 0 1 -1 0 0 0 0
5 0 0 0 0 0 0 1 -1 0 0
28
6 0 0 0 0 0 0 0 0 1 -1
7 1 0 -1 0 -1 0 1 0 0 0
8 0 1 0 -1 0 -1 0 1 0 0
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Consumo de nutrientes das dietas experimentais
No contraste entre dietas com e dietas sem glicerina, independente da fonte de carboidratos,
observou-se diferenças (P<0,05) no cosumo de MS (expressos em g/dia e g/kg de peso metabólico),
MO, PB, FDNcp (expressos em g/dia e g/kg de peso corporal), FDA, CHT e NDT, sendo que as
dietas com glicerina apresentaram menor consumo dos nutrientes (Tabela 4 e 5).
Tabela 4. Consumo de nutrientes em função da fonte de concentrado nas dietas com e sem glicerina
Item Casca soja Mandioca Milho Polpa cítrica Feno
EPM Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem
g/dia
MS 993,8 1175,5 901,3 833,3 852,5 1232,3 1053,3 1160,8 764,0 1005,8 40,8
MO 691,0 980,8 596,5 704,5 561,8 1039,5 728,3 995,5 521,3 844,3 40,2
EE 32,8 21,8 24,0 15,8 21,3 33,5 36,8 21,0 19,0 22,0 1,6
PB 100,8 142,3 78,0 95,5 74,8 148,8 100,8 118,8 94,5 132,3 5,9
FDNcp 495,5 702,3 443,3 487,3 383,0 637,3 470,0 641,0 446,0 651,8 27,0
FDA 367,5 513,5 298,3 352,5 263,5 451,0 331,5 455,0 292,0 445,3 19,5
CHT 557,3 817,0 495,0 593,3 465,8 857,3 590,8 856,3 407,8 695,5 34,3
NDT 392,8 596,3 395,3 445,5 465,0 661,8 550,7 660,8 367,5 634,3 31,0
% PC
MS 2,1 2,4 2,0 1,8 1,7 2,5 2,4 2,4 1,7 2,1 0,1
FDNcp 1,0 1,4 1,0 1,0 0,8 1,3 1,0 1,3 0,9 1,4 0,1
g/kg PC0,75
MS 54,9 63,3 51,3 46,0 45,8 67,1 60,9 62,5 43,6 55,7 2,0 MS: matéria seca; MO: matéria orgânica; EE: extrato etéreo; PB: proteína bruta; FDNcp: Fibra em detergente
neutro livre de cinzas e proteína; FDA: Fibra em detergente ácido; CNF: carboidratos não fibrosos; NDT:
nutrientes digestíveis totais.
Redução no consumo dos nutrientes também foram encontrados por Lage et al. (2010) quando
avaliou níveis de até 12% de inclusão da glicerina bruta na dieta de cordeiros, comparando com a
dieta sem glicerina e concluíram que baixos níveis de glicerina bruta na dieta de cordeiros em
29
terminação (6%) otimiza a conversão alimentar e níveis acima desses valor, os animais
apresentaram desempenho inferior.
Tabela 5. Probabilidade (Valor P) de erro tipo I associada ao teste t para os contrastes ortogonais
para consumo dos nutrientes
Item
Contrastes ortogonais
1 2 3 4 5 6 7 8
g/dia
MS 0,0321 0,2870 0,6879 0,0309 0,5263 0,1597 0,2257 0,2625
MO <0,0001 0,0521 0,4568 0,0023 0,0719 0,0316 0,2075 0,2607
EE 0,1675 0,0835 0,1893 0,0554 0,0157 0,6542 0,0091 0,4600
PB 0,0007 0,0724 0,4385 0,0024 0,4257 0,1007 0,1325 0,5991
FDNcp 0,0010 0,0644 0,6857 0,0249 0,1228 0,0656 0,3678 0,1612
FDA 0,0004 0,0601 0,4734 0,0177 0,1088 0,0491 0,2039 0,1289
CHT <0,0001 0,0373 0,4162 0,0026 0,0335 0,0221 0,2754 0,1963
NDT 0,0119 0,0972 0,6731 0,2646 0,3585 0,0707 0,6998 0,3591
%PC
MS 0,0641 0,3501 0,4673 0,0126 0,9981 0,1619 0,0941 0,3056
FDNcp 0,0014 0,0766 0,8002 0,0139 0,2082 0,0737 0,2743 0,2066
g/kg PC0,75
MS 0,0440 0,3122 0,5181 0,0132 0,8397 0,1463 0,1130 0,2783
MS: matéria seca; MO: matéria orgânica; EE: extrato etéreo; PB: proteína bruta; FDNcp: Fibra em detergente neutro livre de cinzas e proteína; FDAcp: Fibra em detergente ácido livre de cinzas e proteína; CNF:
carboidratos não fibrosos; NDT: nutrientes digestíveis totais.
No contraste que comparou os animais recebendo dieta com casca de soja contendo ou não glicerina
observou-se redução (P<0,05) no consumo de CHT para dietas com glicerina (Tabela 4 e 5). Este
resultado deve ter sido consequência da menor concentração de CHT nas dietas com inclusão de
glicerina, já que a principal fonte de energia da glicerina é oriunda do glicerol, que é um álcool.
A presença da glicerina nas dietas com milho foi a que mais influenciou no consumo dos
nutrientes, apresentando redução no consumo de MS (g/dia, % PC e g/kg de peso metabólico), MO,
PB, FDNcp (% PC), FDA e CHT em comparação à dietas com milho sem a presença da glicerina
(Tabela 4 e 5).
Nas dietas com polpa cítrica a presença da glicerina aumentou (P<0,05) o consumo de EE e
reduziu (P<0,05) o consumo de CHT em relação às dietas sem glicerina (Tabela 4). Efeitos já
esperados, pois a glicerina possui maior concentração de EE e menor concentração de CHT na sua
30
composição química. Lammers et al. (2008) encontraram valores de ácidos graxos bem reduzidos
na glicerina, devido ao uso de uma glicerina de melhor qualidade com menor teor de glicerol.
O consumo de MO, FDA e CHT foi reduzido (P<0,05) em dietas com glicerina e feno em
comparação a dietas com feno sem glicerina (Tabela 4). Como os ovinos são animais seletivos,
provavelmente, houve rejeição da dieta com glicerina em virtude da menor palatabilidade.
Na comparação das dietas com pectina entre fontes de carboidratos (amido x pectina)
observou-se que os animais que receberam dietas com fontes de amido tiveram menor (P<0,05)
consumo de EE. Este resultado pode ser explicado pelo maior consumo médio de MS pelos animais
que consumiram dietas com fontes de pectina em comparação àqueles que consumiam dietas com
fontes de amido.
Digestibilidade aparente dos nutrientes das dietas experimentais
Em relação à digestibilidade, observou-se que dietas com glicerina proporcionaram menor
(P<0,05) digestibilidade aparente dos nutrientes, com exceção para digestibilidade aparente do EE
nas dietas com casca de soja, mandioca, polpa cítrica e feno e também, para digestibilidade aparente
da MS e PB nas dietas com mandioca e polpa cítrica, respectivamente (Tabelas 6 e 7). Não houve
(P<0,05) efeito de fontes de carboidratos (amido x pectina) em dietas com e sem glicerina.
Tabela 6. Digestibilidade aparente dos nutrientes em função da fonte de concentrado na dieta com e
sem glicerina (%)
Item Casca soja Mandioca Milho Polpa cítrica Feno
EPM Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem
MS 61,7 62,7 62,3 60,9 58,7 61,9 63,9 64,1 57,0 61,6 1,0
MO 51,8 61,3 50,2 61,9 44,6 60,5 54,3 64,4 45,3 61,3 1,8
EE 72,8 53,9 69,7 53,2 67,0 71,8 81,3 50,3 67,3 57,8 2,3
PB 61,7 70,0 54,1 64,4 56,2 65,2 66,0 63,0 66,0 74,4 1,5
FDNcp 62,4 68,1 63,5 67,0 52,7 60,7 58,0 66,7 65,0 75,7 1,6
CHT 48,6 58,7 55,1 61,7 58,6 59,1 57,7 64,7 54,0 59,2 1,3
NDT 38,8 55,2 40,9 53,6 47,0 53,2 45,4 56,3 46,1 55,8 1,5 MS: matéria seca; MO: matéria orgânica; EE: extrato etéreo; PB: proteína bruta; FDNcp: Fibra em detergente
neutro livre de cinzas e proteína; CNF: carboidratos totais; NDT: nutrientes digestíveis totais.
31
Tabela 7. Probabilidade (Valor P) de erro tipo I associada ao teste t para os contrastes ortogonais
para digestibilidade aparente dos nutrientes e nutrientes digestíveis totais
Item Contrastes ortogonais
1 2 3 4 5 6 7 8
MS 0,5047 0,8434 0,7818 0,5254 0,9664 0,3726 0,5179 0,5740
MO 0,0006 0,2042 0,1211 0,0379 0,1776 0,0373 0,2861 0,7539
EE 0,0008 0,0267 0,0516 0,5906 0,0007 0,3182 0,1554 0,0793
PB 0,0276 0,2220 0,1052 0,1874 0,6387 0,1856 0,0662 0,7091
FDNcp 0,0217 0,4098 0,6096 0,2428 0,2059 0,1249 0,6648 0,4677
CHT 0,0386 0,0719 0,2651 0,9321 0,2388 0,4305 0,4219 0,7402
NDT 0,0001 0,0019 0,0118 0,3708 0,0276 0,0904 0,6998 0,3591 MS: matéria seca; MO: matéria orgânica; EE: extrato etéreo; PB: proteína bruta; FDNcp: Fibra em detergente
neutro livre de cinzas e proteína; CHT: carboidratos totais; NDT: nutrientes digestíveis totais.
Avaliando o efeito da glicerina bruta e sua ação nas bactérias ruminais Roger et al. (1992),
observaram que inclusão de até 1% de glicerina não tem interferência sobre os microrganismos do
rúmen, já acima de 5% ocorre inibição das bactérias devido a quantidade de gordura que leva a
inibição da atividade celulolítica. Moore et al. (2002) e Hashimoto et al. (2007) avaliando consumo
e digestibilidade de cabritos quando substituía o milho pela casca do grão de soja, observaram que
altos teores de FDN na ração diminuem a digestibilidade da MS, MO, PB, CHT e aumentam a
digestibilidade do FDN, isto ocorre devido a redução dos carboidratos não estruturais de rápida
degradação ruminal. Altos teores de fibra também são responsáveis pela maior produção de saliva,
mantendo em níveis adequando o pH do rúmen (6,2 a 7,0), desta forma, auxiliando no
desenvolvimento e manutenção das bactérias celulolíticas, melhorando a degradação do FDN.
CONCLUSÃO
Não existe diferença no consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes entre dietas com
fontes de carboidratos não fibrosos em associação ou não com a glicerina. Existe efeito negativo no
consumo e digestibilidade aparente dos nutrientes em dietas com glicerina independente da fonte de
carboidrato não fibroso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
32
ALMEIDA JUNIOR, G.A.; COSTA, C.; MONTEIRO, A.L.G. et al. Desempenho, caracteristicas
de carcaça e resultado economico de cordeiros criados em Creep Fiding com silagem de grãos
úmidos de milho. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 33, n. 4, p. 1048-1059, 2004.
AOAC. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY - Official Methods of
Analysis, 15th ed. AOAC International, Arlington. 1990.
HALL, M.B. Neutral Detergent-Soluble Carbohydrates. Nutritional Relevance and Analysis.
University of Florida, Gainesville. 2000
HASHIMOTO, J.H.; ALCALDE, C.R.; ZAMBOM, M.A. et al. Desempenho e digestibilidade
aparente em cabritos Boer x Saanen em confinamento recebendo rações com casca do grão de soja
em substituição ao milho. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 36, n. 1, p. 174-182, 2007.
KRUEGER, N.A.; ANDERSON, R.C.; TEDESCHI, L.O. et al. Evaluation of feeding glycerol on
free-fatty acid production and fermentation kinetics of mixed ruminal microbes in vitro.
Bioresource Tecnology,v. 101, p.8469-8472, 2010.
LAGE, J.F.; PAULINO, P.V.R.; PEREIRA, L.G.R. et al. Glicerina bruta na dieta de cordeiros
terminados em confinamento. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v. 45, n. 9, p. 1012-1020, 2010.
LAMMERS, P.J.; KERR, B.J.; WEBER, T.E. et al. Growth performance, carcass characteristics,
meat quality and tissue histology of growing pigs fed crude glycerin-supplemented diets. Journal
of Animal Science, v.86, p.2962-2970, 2008.
LICITRA, G., HERNANDEZ, T.M., VAN SOEST, P.J. Standardization of procedures for nitrogen
fractionation of ruminant feeds. Animal Feed Science and Technology, v.57, p. 347–358, 1996.
MENEZES, M.P.C.; RIBEIRO, M. N.; COSTA, R.G. et al. Substituição do milho pela casca de
mandica (Manihot esculenta Crantz) em rações completas para caprinos: consumo, digestibilidade
de nutrientes e ganho de peso. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 33, n. 3, p. 729-737, 2004.
MENTEN, J.F.M.; MIYADA, V.S.; BERENCHTEIN, B. Glicerol na Alimentação Animal, 2009.
Disponíve em: <http://avesite.com.br/cet/im_glicerol.pdf> Acesso em: 10 de abril de 2012.
33
MERTENS, D.R. Analysis of fiber in feeds and its use in feed evaluation and ration formulation. In:
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE RUMINANTES, 1992, Lavras. Anais... Lavras: Sociedade
Brasileira de Zootecnia, p.1-32. 1992.
MOORE, J.A.; POORE, M.H.; LUGINBUHL, J.M. By-product feeds for meat goats: Effects on
digestibility, ruminal environment, and carcass characteristics. Journal of Animal Science, v.80,
p.1752-1758, 2002.
MUSSELMAN, A.F.; EMON, M.L.; GUNN, P.J. et al. Effects of Crude Glycerin on Feedlot
Performance and Carcass Characteristics of Market Lambs. American Society of Animal
Sciences, v. 59, p. 353-355, 2008.
ROGER, V.; FONTY, G.; ANDRE, C. et al. Effects of glycerol on the growth, adhesion and
cellulolytic bacteria and anaerobic fungi. Current Microbiology, v.25, p.197-201, 1992.
SAS Institute. SAS/STAT User’s guide, Version 9.1 . SAS Institute Inc., Cary, NC. . 2000.
SILVA, F.L.R.; ARAÚJO, A. M. Caracteristicas de reprodução e de crescimento de ovinos
mestiços Santa Inês, no Ceará. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 29, n. 6, p. 1712-1720, 2000.
SILVA, J.F.C.; LEÃO, M.I. Fundamentos de nutrição dos ruminantes. Piracicaba: Livroceres,
1979. 380p.
VAN SOEST, P.J.; WINE, R.H. Use of detergents in the analysis of fibrous feeds. IV
Determination of plant cell-wall constituents. Journal of the Official Agricultural Chemist, v.50,
p.50-55, 1967.
top related