universidade de brasÍlia faculdade de economia ... · universidade de brasÍlia faculdade de...
Post on 10-Nov-2018
221 Views
Preview:
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
ALTERNATIVAS FINANCEIRAS PARA A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: o Caso da Estação Ecológica de Águas Emendadas
Ana Cláudia Domingues Casulari da Motta
Dissertação apresentada ao Departamento de Economia da Universidade de Brasília para cumprimento parcial dos requisitos exigidos, visando à obtenção do título de Mestre em Gestão Econômica do Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira
Brasília, DF
2005
iv
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira, pelo suporte sábio, dedicação ao meu trabalho, atenção e disponibilidade de tempo (que é escassíssimo), por ter me “aberto os olhos” e mostrado um outro lado do meio ambiente, diferente da visão biológica e, sobretudo, por ter me incentivado a continuar no curso, nos momentos de desânimo, ao me dar apoio e sugerir temas de pesquisa. Também agradeço a sua paciência ao me disponibilizar um tempo, relativamente longo, para que pudesse decidir e investir no tema de trabalho de minha escolha. Ao Aylton Lopes Santos, administrador da Esecae, por me fornecer dados imprescindíveis para a realização do meu trabalho. Também agradeço a atenção com que me recebeu. Ao Paulo César Magalhães Fonseca, da Subsecretaria do Meio Ambiente - Semarh/DF, pelas sugestões e dados valiosos, disposição em me ajudar, atenção com que me recebeu e toda a ajuda que eu precisei. À Ana Cristina Gadelha Correia da Silva, da Gerência de Orçamento e Finanças da Semarh/DF, pela atenção com que sempre me recebeu e, ainda, por disponibilizar os dados e toda a ajuda que eu precisei. À Muna Ahmad Yousef e Isabel da Silva Magalhães, ambas do Centro de Vivência da Esecae, pela disponibilidade no fornecimento de dados. Mariana Antunes Valente, WWF-Brasil, pelo fornecimento de dados, esclarecimentos de dúvidas e por toda a atenção com que me recebeu. Ao Sr. José Benevenuto Estrela, diretor do Apoio Operacional – Semarh-DF, pelo fornecimento dos dados relativos a Esecae. Ao Herley José de Almeida, Chefe de gabinete do Deputado Distrital Fabio Barcellos, pelo auxílio à pesquisa, fornecimento de dados e a atenção a mim dispensada. À Ianae Cassaro, da Gerência da Unidade de Conservação de Parques Ecológicos – Semarh-DF, pela atenção e tempo a mim dispensados, nos primeiros passos da elaboração desta dissertação. À Denise Urias e Heloísa, ambas da TNC, pelo esclarecimento de dúvidas sobre a referida Ong. Ao Miguel Gonçalves, da Esecae, pela atenção e esclarecimentos de dúvidas sobre a Esecae. À Polícia Militar Ambiental e ao Corpo de Bombeiros, pelo fornecimento de dados ao meu trabalho. Aos meus pais, pela paciência, amizade, dedicação, pelas sugestões valiosas ao meu trabalho, por acreditarem e investirem em mim.
v
“Duas coisas são ilimitadas: o número de gerações pelas quais devemos nos sentir responsáveis e a nossa inventividade. A primeira nos proporciona um desafio:
alimentar e proporcionar condições satisfatórias de vida não apenas para a presente, mas para todas as futuras gerações, a partir do fluxo finito dos recursos naturais
da terra. A segunda, nossa inventividade, poder gerar idéias e políticas que nos possibilitem vencer esse desafio”.
Jan Tinbergen (1992)
vi
RESUMO
Esta dissertação tem por objetivo sugerir possíveis fontes alternativas de financiamento, cujos
recursos poderiam ser utilizados pelas unidades de conservação. A Estação Ecológica de Águas
Emendadas – Esecae – foi a unidade escolhida para esse estudo de caso, devido à sua importância
econômica, científica e ecológica e, também, por abrigar nascentes de duas grandes bacias
hidrográficas – Amazônica e Platina. Nesse estudo, foi avaliada a situação administrativa, política
e financeira da Esecae, por meio de análises de documentos referentes à Esecae, a realização de
um questionário e entrevistas com funcionários da Esecae e da Secretaria do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos – Semarh. Constatou-se que, embora a unidade possua uma boa infra-estrutura
e um elevado número de servidores, a Esecae encontra-se ameaçada por pressões no entorno à
unidade, tais como a expansão urbana e cultura agrícola de soja. Uma possível solução para esse
problema é a captação de recursos financeiros, por meio de uma parceria do Governo do Distrito
Federal com várias entidades públicas e privadas que financiem estruturas de preservação de
biodiversidade. Nos últimos anos, a Esecae obteve recursos do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD),
Banco de Reconstrução da Alemanha (KfW), Semarh e WWF-Brasil. Neste trabalho, sugerimos
outras fontes de financiamento para o uso da Esecae na preservação dos recursos naturais
presentes nessa unidade: (1) Recursos Públicos - federal, estadual ou local - oriundos de
programas ambientais; (2) Instituições Multilaterais e Bilaterais; (3) Participação de ONGs; (4)
Fundos Ambientais Nacionais e Internacionais; (5) Débito Convertido ou Perdão de Débito; (6)
Autofinanciamento; (7) Doações Individuais; (8) Quotas por Serviços Ambientais. Não se
enquadrariam como fontes alternativas para a Esecae os investimentos ecológicos, utilização de
convenções internacionais e incentivos fiscais. A principal contribuição do presente estudo é
provocar reflexão sobre a possibilidade de uma gestão mais eficaz e a preservação dos recursos
naturais presentes nas UCs, enfocando-se, nesse caso, a necessidade de obtenção de recursos
financeiros alternativos.
Palavras Chave: biodiversidade; preservação; unidades de conservação; financiamento; estação
ecológica de águas emendadas.
vii
ABSTRACT
The objective of this work is to suggest possible alternative financing sources, which
funds could be used by conservation units. The Águas Emendadas Ecological Station – Esecae –
was the selected unit for this case study due to its economic, scientific and ecological importance
and also for holding springs of two great hydrographic basins – Amazonian and Platina basins. In
this study, the Esacae managerial, political and financial situation has been evaluated by means of
analysis of documents and by means of a questionnaire and interviews applied to employees of
both Esacae and Environment and Hydric Resources Secretariat - Semarh. It has been verified
that, although the unit presents good infrastructure and a high number of servers, Esecae has been
threatened by outside pressures such as the urban expansion and the soybean agricultural culture.
A possible solution for this problem is the financial funding by means of a partnership of the
Federal Government with several public and private entities in the attempt of searching for
biodiversity preservation financing. In the last years, the Esecae obtained resources from the
Interamerican Development Bank (IDB), International Bank for Reconstruction and
Development (IBRD), German Reconstruction Bank (KfW), Semarh and WWF-Brazil. In this
work, we have suggested other financial sources for Esecae in the preservation of the natural
resources present in this unit: (1) Public, Federal, State or Local Resources- based on
environmental programs; (2) Multilateral and Bilateral Institutions; (3) Participation from NGOs;
(4) National and International Environmental Funds; (5) Converted Debt or Waiver Debt; (6)
Self-financing; (7) Individual Donations; (8) Shares for Environmental Services. Ecological
investments, international conventions and tax incentives would not suit as alternative financial
sources. The main contribution of the present study is to cause a consideration on the possibility
of more effective management and the preservation of the natural resources present in the
conservation units, including the necessity of obtaining alternative financial resources.
Key Words: biodiversity preservation, protected areas, financial resource for conservation,
economics of biodiversity.
viii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS................................................................................................................. x LISTA DE.QUADROS.............................................................................................................. x LISTA DE TABELAS................................................................................................................ x LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................................ xi 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 01 2. BIODIVERSIDADE E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ASPECTOS GERAIS
2.1. Importância da Biodiversidade...................................................................................... 04 2.2. Unidades de Conservação – UCs................................................................................... 07 2.3. Principais Ameaças às Áreas Protegidas Localizadas em Outros Países...................... 12 2.4. Alternativas para Reduzir a Devastação e Perda da Diversidade Biológica................. 18
3. A ECONOMIA E AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: O USO DE INSTRUMENTOS ECONÔMICOS PARA A CONSERVAÇÃO
3.1. Custos das Áreas Protegidas.......................................................................................... 21 3.1.1. Custos Diretos....................................................................................................... 22 3.1.2. Custos Indiretos.................................................................................................... 22 3.1.3. Custos de Oportunidade........................................................................................ 24 3.2. Incentivos Financeiros para a Gestão das Áreas Protegidas.......................................... 24 3.3. Outros Instrumentos Econômicos Utilizados para a Conservação das Unidades de Conservação Brasileiras........................................................................................................ 39 3.4. Dificuldades no Financiamento das Áreas Protegidas................................................... 41
4. ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁGUAS EMENDADAS (ESECAE)
4.1. Gestão e Organograma.................................................................................................. 44 4.2. Pesquisa e Atividades Educativas Ambientais Desenvolvidas na Esecae..................... 46 4.3. Caracterização................................................................................................................ 47 4.4. Descaracterização.......................................................................................................... 49
5. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
5.1. Diagnóstico da Situação da Esecae................................................................................ 51 5.2. Fontes de Financiamento............................................................................................... 52
6. A REALIDADE ATUAL DA ESECAE
6.1. Entrevista com o Administrador e Análises de Documentos........................................ 54 6.2. Despesas Financeiras..................................................................................................... 62
6.2.1. Custos Diretos....................................................................................................... 62 6.2.2. Custos Indiretos.................................................................................................... 63
6.3. Recursos Financeiros da Esecae.................................................................................... 64 6.4. Exemplos de Recursos Alternativos Recebidos em Anos Anteriores pela Esecae....... 64
ix
7. RECURSOS FINANCEIROS QUE PODERIAM SER UTILIZADOS PELA ESECAE 7.1. Financiamento Oriundo do Orçamento Público - Federal, Estadual ou Local.............. 66 7.2. Investimentos de Instituições Multilaterais e Bilaterais................................................ 68 7.3. Participação de ONGs....................................................................................................7.4. Fundos Ambientais Nacionais e Internacionais.............................................................
72 77
7.5. Débito Convertido ou Perdão do Débito....................................................................... 82 7.6. Lucro das Atividades Locais – Autofinanciamento....................................................... 83 7.7. Investimentos Ecológicos.............................................................................................. 85 7.8. Doações Individuais....................................................................................................... 85 7.9. Quotas por Serviços Ambientais................................................................................... 85 7.10. Incentivo Fiscal............................................................................................................ 86 7.11. Utilização de Convenções Internacionais.................................................................... 87 7.11. Organizações que Não se Enquadram como Agências Financiadoras para a Esecae. 88
8. CONCLUSÕES...................................................................................................................... 91 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES......................................................... 93 10. REFERÊNCIAS................................................................................................................... 95 11. ANEXO................................................................................................................................ 108
x
I. LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Categorias de Valores Econômicos Atribuídos ao Patrimônio Ambiental.................. 06
Figura 2.2 Princípios de Planejamento de Reserva com Base nas Teorias de Biogeografia de Ilhas............................................................................................................................ 11
Figura 3.1 Diferentes Fases e Custos Associados à Implementação de Áreas Protegidas de Tamanho Médio – Cerca de 600 mil hectares............................................................ 21
Figura 4.1 Localização da Estação Ecológica de Águas Emendadas e Rodovias do Entorno.... 45
Figura 4.2 Zona Nuclear da Estação Ecológica de Águas Emendadas........................................ 50
II. LISTA DE QUADROS Quadro 2.1 Classificação das Unidades de Conservação............................................................ 08
Quadro 2.2 Ameaças às Áreas de Preservação............................................................................ 13
Quadro 2.3 Razões de Insucesso das Áreas de Preservação Ambiental...................................... 14
Quadro 3.1 Possibilidades de Financiamento.............................................................................. 42
Quadro 7.1 Objetivos do PNMA - fases 1 e 2............................................................................. 67
Quadro 7.2 Metas Ambientais do Brasil, em Consonância com o Bird, para um País mais Sustentável................................................................................................................ 69
Quadro 7.3 Possibilidades de Financiamento de ONGs.............................................................. 77
Quadro 7.4 Possibilidades de Financiamento de Fundos Ambientais e Internacionais.............. 82
Quadro 7.5 Classificação das Fontes de Financiamento que Poderiam ser Implantadas na Esecae........................................................................................................................ 87
III. LISTA DE TABELAS Tabela 6.1 Custo Anual de Manutenção da Esecae nos Anos 2001 e 2004............................ 63
Tabela 6.2 Financiamento de Agências Financeiras em Projetos Envolvendo a Esecae......... 64
xi
IV. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APM Área de Proteção de Manancial ARPA Áreas Protegidas da Amazônia BEI Banco Europeu de Investimentos BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento Caesb Companhia de Saneamento do Distrito Federal CAF Corporação Andina de Fomento CDB Convenção da Diversidade Biológica CI-Brasil Conservação Internacional do Brasil CIDA Canadian International Development Agency CNPq Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico CODEPLAN Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente DF Distrito Federal DFID Department for International Development DGIS Directoraat-Generaal Internationale Samenwerking Esecae Estação Ecológica de Águas Emendadas Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAP Fundo de Áreas Protegidas FAP-DF Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal FBPN Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Finatec Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos Finep Empresa Financiadora de Estudos e Projetos FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente Fonama Fondo Nacional para el Medio Ambiente Fonplata Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata Fumin Fundo Multilateral de Investimentos Funam Fundo Único do Meio Ambiente do Distrito Federal Funatura Fundação Pró-Natureza Funbio Fundo Brasileiro para a Biodiversidade GEF Global Environment Facility GTZ Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Agência Técnica Alemã) Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICDP Projetos Integrados de Conservação e Desenvolvimento ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IDRC International Development Research Centre Iema Instituto de Ecologia e Meio Ambiente do Distrito Federal IFC International Finance Corporation IIED International Institute for Environment and Development IPN Instituto do Patrimônio Natural ITTO International Tropical Timber Organization JBIC Japan Bank for International Cooperation JICA Japan International Coorperation Agency KfW Kreditanstal Für Wiederaufbau (Banco de Reconstrução da Alemanha)
xii
MMA Ministério do Meio Ambiente NORAD Norwegian Agency for Development Cooperation ONG Organização Não-Governamental PNMA Programa Nacional do Meio Ambiente PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPG-7 Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil Prevfogo Sistema Nacional de Preservação e Combate a Incêndios Florestais Probio Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira Pró-carnívoros Associação para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais Pronabio Programa Nacional da Diversidade Biológica Pronanpe Fondo Nacional para Áreas Naturales Protegidas por el Estado Pronaturaleza Fundación Peruana para la Conservación de la Naturaleza RA Região Administrativa RBC Reserva da Biosfera do Cerrado RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SDC Swiss Agency for Development and Cooperation Semarh Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos Sematec Secretaria do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia Siágua Sinopse do Sistema de Abastecimento de Água SIDA Swedish International Development Cooperation Agency SME Small and Medium Enterprises SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação TCDF Tribunal de Contas do Distrito Federal TNC The Nature Conservancy UC Unidade de Conservação UICN União Internacional para a Conservação da Natureza UNDP United Nations Development Programme UNEP United Nations Environment Programme Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura USAID United States Agency for International Development VAF Valor Agregado Fiscal VET Valor Econômico Total WCMC World Conservation Monitoring Center WCPA World Commission on Protected Areas WWF World Wild Fund
1
1. INTRODUÇÃO
A importância dos recursos naturais é praticamente um consenso entre os pesquisadores, na
medida em que gera benefícios sociais e econômicos: alimentos, vestuário, ecoturismo e pesquisa
biotecnológica. Sua preservação é, também, essencial para o equilíbrio populacional das espécies
presentes nos ecossistemas e para a regularidade climática do planeta. Por conta disso,
recentemente, novas unidades de conservação - UCs - foram criadas pelo governo federal,
elevando o número de áreas protegidas federais no país para 651 (IBAMA, 2004). Elas buscam
promover o manejo de uso múltiplo dos recursos florestais, a manutenção das espécies nativas e
aumentar a proteção aos recursos naturais. Esses recursos são ameaçados, constantemente, pela
ocupação urbana, agropastoril e pecuária, além do problema da biopirataria.
Uma dúvida, porém, surge: a criação e a delimitação da unidade seriam suficientes para a
eficácia da preservação da biodiversidade? Caso negativo, quais as principais ameaças às áreas
protegidas e que poderiam comprometer a integridade dos recursos naturais presentes na
unidade? Quais seriam as causas: institucionais - legislação insuficiente - administrativa ou
financeira? Dependendo da unidade, todos esses fatores poderiam influenciar negativamente a
sua gestão, o que, na verdade, acontece na maioria dos casos. Em algumas unidades, no entanto, a
causa do problema é externa à unidade em si, originárias nos hábitos e tradições da comunidade
do entorno e, também, do alto retorno financeiro da utilização dos recursos naturais presentes
nessas áreas.
Dados esses problemas, o que fazer? É certo que a melhora de apenas uma variável -
reformulação legislativa, capacidade administrativa, aumento da fiscalização ambiental e do
repasse governamental ou projetos de educação ambiental na comunidade do entorno - não
aumentaria, necessariamente, a eficácia de gestão da unidade, garantindo, conseqüentemente, a
conservação integral da biodiversidade presente nela. Não obstante, a mudança de pelo menos
uma dessas variáveis poderia garantir mudança significativa na capacidade de gestão da unidade.
O ideal seria a adoção de medidas que interfiram em diversas variáveis.
Uma medida seria aumentar a arrecadação de recursos financeiros para a unidade, o que
possibilitaria o aumento do número de funcionários, compra e manutenção de equipamentos e
veículos de fiscalização, compensações financeiras para a substituição de recursos naturais por
2
produtos inorgânicos e investimentos em projetos de educação ambiental com a comunidade do
entorno.
A maioria das unidades de conservação brasileiras, no entanto, não recebe recursos
financeiros suficientes para sua manutenção, mesmo considerando os programas ambientais
federais - PNMA e Pronabio1. Surge, então, uma dúvida: as áreas protegidas brasileiras não
estariam utilizando seus recursos de modo eficiente ou, realmente, não estariam recebendo
recursos financeiros suficientes para a conservação eficaz da biodiversidade presente nela? Onde
conseguir recursos financeiros alternativos aos financiamentos governamentais? Esses recursos se
aplicariam a todos os tipos de unidades de conservação?
O objetivo da presente dissertação é identificar possíveis fontes alternativas de
financiamento para as UCs, em especial, para a Estação Ecológica de Águas Emendadas -
Esecae. Essa unidade está localizada no Distrito Federal. Trata-se de uma UC de proteção
integral, que abriga uma rica biodiversidade de espécies do bioma Cerrado e abastece de água
duas cidades satélites do Distrito Federal. Essa unidade também é conhecida por ocorrer o
fenômeno da união de duas grandes bacias hidrográficas - Amazônica e Platina.
Nessa dissertação, buscou-se também avaliar a situação administrativa e financeira da
Esecae, procurando-se respostas para algumas perguntas: a Esecae recebe - ou já recebeu -
recursos financeiros de agências de financiamento? Esses recursos seriam suficientes para a
manutenção da unidade e, também, para o financiamento de novos projetos? Que outros tipos de
financiamento ela poderia receber, considerando-se que é uma estação ecológica - unidade de
proteção integral - e que, portanto, não pode arrecadar fundos para a utilização sustentável de
seus recursos naturais?
A presente dissertação é composta por sete capítulos, incluindo esta Introdução. No
segundo capítulo aborda-se a importância da biodiversidade e das unidades de conservação. Faz-
se uma análise das principais ameaças às áreas protegidas e são identificadas algumas atividades
alternativas para reduzir a devastação e a perda da diversidade biológica nessas áreas.
No terceiro capítulo, analisa-se o uso de instrumentos econômicos para a conservação das
unidades de conservação. São discutidos os custos decorrentes da criação e manutenção dessas
áreas. Além disso, são identificadas fontes de financiamento para a gestão das áreas protegidas
brasileiras e as do exterior. Nesse levantamento são analisadas as vantagens e desvantagens de
1 PNMA – Programa Nacional do Meio Ambiente; Pronabio: Programa Nacional da Diversidade Biológica
3
dez fontes de recursos financeiros: orçamento público - federal, estadual ou local, instituições
multilaterais e bilaterais, participações de ONGs, fundos ambientais nacionais e internacionais,
débito convertido e perdão do débito, autofinanciamento, investimentos ecológicos, doações
individuais, quotas por serviços ambientais e incentivo fiscal. Também, são analisadas as
dificuldades de financiamento.
No quarto capítulo analisa-se a Estação Ecológica de Águas Emendadas - Esecae - sob o
enfoque administrativo e verifica-se a importância ecológica, científica e econômica da UC para
a região. No quinto capítulo, com o objetivo de fazer um diagnóstico da situação da UC,
descrevem-se os métodos e procedimentos utilizados para identificar as principais ameaças à
integridade dos recursos naturais presentes na Esecae. Em continuação, no sexto capítulo discute-
se a realidade atual da Esecae, enfocando-se a capacidade política institucional e o envolvimento
da comunidade do entorno nas atividades desenvolvidas na unidade. Efetuou-se, também, um
levantamento que identificou os custos de manutenção da Esecae e a arrecadação de recursos
financeiros recebidos através de agências de financiamento.
No sétimo capítulo sugerem-se fontes de financiamento que poderiam ser contatados pela
Esecae para investir na sua unidade, sobretudo, do ponto de vista da sua capacidade
administrativa. Dentre essas fontes, são identificadas, também, as organizações que não se
enquadram como agências financiadoras para a Esecae. No capítulo oito, são apresentadas as
conclusões do trabalho e, finalmente, no capítulo nove, são analisadas as conseqüências dos
resultados apresentados para a política pública. Discute-se, também, a importância deste trabalho
para o meio científico e para a gestão das UCs e, ainda, sugerem-se recomendações de pesquisas
futuras.
4
2. BIODIVERSIDADE E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO:
ASPECTOS GERAIS
2.1. Importância da biodiversidade
O Brasil abriga cerca de 14% da diversidade de espécies conhecidas pela ciência
(LEWINSOHN & PRADO, 2000), sendo grande parte dessa biodiversidade exclusiva do
território brasileiro (MMA, 1998, GEOBRASIL, 2002). Estima-se que 20 a 22% das espécies de
flora do mundo estão no Brasil; no caso da fauna, estão presentes nos limites brasileiros: 10% das
espécies de mamíferos e anfíbios, 17% de aves e 27% de mamíferos (MMA, 1998). O Brasil
ocupa os primeiros lugares nas listagens mundiais de diversidade biológica, tanto em relação à
flora quanto à fauna (GEOBRASIL, 2002)2 e a segunda posição no número de espécies
endêmicas (MITTERMEIER et al., 1997).
Além da diversidade genética e de espécies, o Brasil detém, também, uma grande variedade
de ecossistemas (MMA, 1998). Biomas como o cerrado e a caatinga, cujas condições climáticas e
de solo não favorecem a incidência de espécies variadas, possuem uma das maiores diversidades
de espécies de fauna e flora do mundo, comparando-se com regiões de outros países detentoras
das mesmas condições. Ainda assim, há muitas espécies a serem descobertas e estudadas,
sobretudo na caatinga, no pantanal brasileiro (LEWINSOHN & PRADO, 2000) e no cerrado.
Para conservar essa megabiodiversidade, há no Brasil 651 UCs federais, que abrangem cerca de
6,63% do território nacional (IBAMA, 2004).
As áreas protegidas são importantes tanto do ponto de vista ecológico quanto social. No
primeiro caso, essas áreas mantêm a diversidade e a variação genética de espécies dos
ecossistemas e dos processos ecológicos essenciais. Estudos recentes indicam que, mesmo
mantendo as condições ideais, a floresta regenerada possui um panorama genético extremamente
pobre, não possuindo a mesma riqueza de espécies. Além disso, os recursos naturais presentes
nas áreas protegidas mantêm o equilíbrio climático, seqüestram carbono e, ainda, protegem o solo
e a qualidade das águas dos mananciais, mantendo-as com poucos sedimentos e sem poluentes
2 O Brasil ocupa o primeiro lugar na listagem mundial de espécies, com os seguintes grupos: mamíferos, peixes dulcícolas, plantas superiores e insetos; o segundo, em riqueza de anfíbios; o terceiro, em aves; e o quinto, em répteis.
5
(DIXON & SHERMAN, 1991; FONSECA et al., 1997; CIFUENTES et al., 2000; WWF
Internacional, 2003; WCMC, 2001a).
Sob o ponto de vista social, as áreas protegidas mantêm a beleza cênica do lugar e
conservam o estoque de material genético e a quantidade de espécies de fauna e flora
economicamente importantes ao homem, tais como: plantas medicinais, recursos alimentícios,
entre outras. Os recursos naturais presentes nessas áreas, além de fornecerem informações
genéticas para o meio científico, são também importantes para o bem-estar social, pois podem ser
aplicados como alternativas educacionais e recreativas. Além disso, fornecem benefícios para as
economias locais e nacionais, por meio de turismo ecológico, produção de medicamentos e
rendimentos do uso sustentável dos recursos naturais (DIXON & SHERMAN, 1991; IUCN, 1993
apud BISHOP et al., 1995; MMA, 1998; CIFUENTES et al., 2000, WCMC, 2001a). 3
As áreas protegidas são importantes, também, como bens de não consumo, do ponto de
vista histórico/cultural e como valor de existência. Quanto ao primeiro, as áreas protegidas
preservam as características históricas e culturais das populações tradicionais locais e o seu bem-
estar (DIXON & SHERMAN, 1991; CIFUENTES et al., 2000). Em alguns países, a preservação
dessas unidades é fonte de orgulho nacional e inspiração para a comunidade local (CIFUENTES
et al., 2000). Muitos pesquisadores e ambientalistas atribuem mais uma importância para a
conservação das áreas protegidas, que é a de trazer benefícios para as gerações futuras. Em vista
de conservar essas áreas, eles atribuem valor de opção e valor de quase-opção aos benefícios dos
recursos naturais presentes nas áreas protegidas para uso vindouro (DIXON & SHERMAN,
1991). O valor de opção considera a possibilidade de benefícios - diretos ou indiretos - para a
sociedade no futuro com o conhecimento atual. Porém, o valor de quase-opção depende de nosso
conhecimento científico para identificar usos futuros alternativos de um recurso ambiental para as
possíveis futuras gerações4 (MOUNTFORD & KEPPLER, 1999; NOGUEIRA et al., 2000).
Os valores de opção e quase-opção fazem parte do cálculo do Valor Econômico Total -
VET - da biodiversidade presente nas áreas protegidas. O VET é estimado e representa a
importância da biodiversidade em relação aos outros bens e serviços disponíveis na economia. O 3 O setor da agroindústria, por exemplo, que se beneficia dos recursos genéticos, contribui com 40% do Produto Interno Bruto - PIB - brasileiro; enquanto o setor florestal e o pesqueiro contribuem com, respectivamente, 4% e 1% do Pib nacional. Ainda mais, a extração de recursos naturais gera empregos; o extrativismo vegetal e a pesca empregam mais de 3 milhões de pessoas (MMA, 1998). 3 Os recursos genéticos são alguns dos exemplos de produtos naturais utilizados em pesquisas tecnológicas. Esses genes são fontes de dados importantes para o desenvolvimento de muitos experimentos de biotecnologia genética (Perman, 1999).
6
VALOR ECONÔMICO DA BIODIVERSIDADE
Valores de Não-Uso
Direto Opção Indireto
Produção que é consumida diretamente
pela sociedade
Existência
Conhecimento de existência continuada
ou que as gerações futuras
desfrutariam dos benefícios
Benefícios que conservam os recursos naturais presentes nas
áreas protegidas e, indiretamente, trazem benefícios para a sociedade
Benefícios - diretos e indiretos -
para as gerações futuras com o
conhecimento atual
Quase-Opção
depende da ciência para identificar a
importância de um recurso ambiental
para as futuras gerações
Valores de Uso
cálculo desse valor compreende, além dos valores de quase-opção e opção, os benefícios de uso
direto e indireto para a sociedade no presente e, ainda, o valor de não-uso (existência) (PEARCE
& MORAN, 1994; MOUNTFORD & KEPPLER, 1999; NOGUEIRA et.al., 2000), conforme
mostra a Figura 2.1.
Figura 2.1: Categorias de valores econômicos atribuídos ao patrimônio ambiental. Fonte: Barbier apud Mountford & Keppler (1999); Turner et al. (2003), com adaptações.
Os valores de uso consistem em elementos que trazem benefícios diretos ou indiretos para a
sociedade atual. O valor de uso direto consiste em bens consumíveis ou utilizados diretamente
pela sociedade, como fonte de alimento, vestimenta, uso da casa, ecoturismo, recreação,
produção de medicamentos e melhoria de produtos agropecuários (SPELLERBERG, 1994;
MOUNTFORD & KEPPLER, 1999). Já, os valores de uso indireto trazem benefícios
econômicos indiretos à sociedade, sobretudo na indústria farmacêutica, uma vez que os remédios
podem ser produzidos a partir de sítios ativos de espécies vegetais (NORTON, 1997).
O valor de não-uso, no entanto, consiste em elementos que visam ao bem-estar dos próprios
recursos naturais (MARQUES & COMUNE, 1995). O cálculo desse valor consiste em quanto as
pessoas estariam dispostas a pagar pela existência e conservação de uma área protegida, mesmo
considerando uma área cuja probabilidade delas usufruírem desses recursos seja pequena ou nula
(PEARCE & TURNER, 1990, MOUNTFORD & KEPPLER, 1999; NOGUEIRA &
MEDEIROS, 1999). Esse valor é classificado em valor de existência e de legado. O primeiro
consiste na satisfação das pessoas em ter conhecimento da existência de algumas espécies de
7
animais, assim como de seu hábitat (NOGUEIRA et. al., 2000); já, o de legado visa conservar o
meio ambiente para o seu uso pelas gerações futuras (MOUNTFORD & KEPPLER, 1999).
Na prática, o cálculo do VET tem tido conseqüências importantes para a conservação dos
bens ou serviços ambientais relacionados (PEARCE & TURNER, 1990; FREEMAN III, 1993).
Esse valor estimado pode enfatizar a importância da biodiversidade para a sociedade e órgãos
governamentais e, até mesmo, facilitar intervenções políticas e econômicas - por exemplo,
indenizações - para pessoas que dependem de serviços oferecidos de uma unidade de
conservação, no caso de danos aos recursos naturais presentes nessas áreas.
2.2. Unidades de Conservação (UCs)
Essas unidades são espaços instituídos pelo Poder Público que têm por objetivo a
conservação dos recursos naturais, incluindo os mananciais, ou que possuam características
naturais relevantes (BRASIL, 2000)5. Segundo o grau de proteção que exercem nos recursos
naturais, as UCs são classificadas em dois grupos: uso sustentável e de proteção integral (Quadro
2.1). Aquelas pertencentes ao grupo de uso sustentável, também denominadas UCs de uso direto,
compatibilizam a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais. Essas
unidades, por sua vez, são classificadas em sete tipos. Já, as unidades de proteção integral,
também denominadas de UCs de uso indireto, têm por objetivo a preservação dos recursos
naturais e admitem apenas o uso indireto dos seus recursos; existem cinco tipos dessa UC
(BRASIL, 2000).
O Quadro 2.1. relaciona, também, as categorias de classificação das UCs, sugeridas pelo
União Internacional para a Conservação da Natureza - UICN6 (IUCN, 2003, MORSELLO,
2001), assim definidas: Ia: área de proteção manejada para fins científicos - reserva natural
estrita; Ib: área de proteção manejada para a proteção da vida silvestre - área silvestre; II: manejo
de áreas protegidas para a proteção dos ecossistemas e recreação - parque nacional; III: manejo
de áreas protegidas para a conservação de recursos naturais específicos - monumento natural; IV:
manejo de área protegida
4 Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). 6 As seis categorias de classificação da UICN foram reorganizadas no IV Congresso Mundial de Parques Nacionais e Áreas Protegidas ocorrido em Caracas, no ano de 1992.
8
Quadro 2.1: Classificação das Unidades de Conservação
Grau de Proteção
Unidades de Conservação Descrição Propriedade UICN
Área de Proteção Ambiental (APA)
Áreas geralmente grandes e públicas que, quando zoneadas, são reguladas para permitir o uso sustentável dos recursos naturais e, também, manter a qualidade ambiental.
Pública/privada: federal, estatal ou municipal. V
Área de Relevante Interesse
Ecológico (ARIE)
Áreas geralmente pequenas com características naturais extraordinárias, mas quase não há presença humana. Podem, também, ser áreas que possuem espécies endêmicas.
Pública/privada: federal, estatal ou municipal. V
Floresta Nacional (FLONA)
Áreas do domínio público, criadas para atividades do desenvolvimento econômico, técnico e social, incluindo atividades de pesquisa e uso sustentável da floresta.
Pública: federal, estatal ou municipal. VI
Reserva Extrativista (RESEX)
Áreas extrativistas, utilizadas pelas comunidades tradicionais como seus meios de subsistência e sobrevivência. O objetivo é assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da reserva.
Pública: federal, estatal ou municipal VI
Reserva de Fauna
Uma área natural com populações de espécies de fauna terrestre e aquática residentes e migrantes. São permitidas pesquisas científicas e atividades para finalidades econômicas.
Pública: federal, estatal ou municipal. VI
Reserva de Desenvolvimento
Sustentável
Área natural que abriga uma população nativa, que possui uma tradição de uso sustentável dos recursos naturais.
Pública: federal, estatal ou municipal.
VI
Uso Sustentável (proteção
parcial dos atributos naturais)
Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN)
Representam áreas naturais bem-conservadas e reconhecidas por lei, que são protegidas pela iniciativa dos seus proprietários. A lei permite que essas áreas sejam usadas para o turismo, a recreação ou a pesquisa, e para extração limitada.
Proprietários individuais ou incorporados II, I a
Estação Ecológica (EE)
Representa os ecossistemas brasileiros, com limitações severas no uso. São apenas realizadas atividades de pesquisa, educação ambiental e as visitas são monitoradas
Pública: federal, estatal ou municipal. I a
Reserva Biológica (REBIO)
Áreas que agem como refúgios para valores nacionais como a biodiversidade, permitindo somente atividades de pesquisa e a educação ambiental
Público: federal, estatal ou municipal.
I b, I a
Parque Nacional (PARNA)
Geralmente são áreas grandes com características excepcionalmente naturais. São reservadas atividades para a educação ambiental, pesquisa e outras atividades de monitoramento para a não-degradação ambiental.
Pública: federal, estatal ou municipal. II
Monumento Natural
Visa proteger paisagens locais raras ou belezas cênicas grandes.
Pública/privada: federal, estatal ou municipal.
III
Proteção Integral aos
atributos naturais
Refúgio de Vida Silvestre
Proteção dos ambientes naturais, que garantem condições para a reprodução da espécie e/ou as comunidades presentes no local ou a migração de flora e fauna.
Pública/privada: federal, estatal ou municipal. III
Fonte: BRASIL (2000), IUCN (2003).
9
marinha protegida; VI: manejo de áreas protegidas para o uso sustentável dos ecossistemas
naturais - manejo dos recursos das áreas protegidas.
O número e a área total de unidades de conservação federais aumentaram de forma contínua
nas últimas três décadas. As taxas de crescimento foram, respectivamente, cerca de 673% e
2642,2%, entre os anos de 1970 e 2000 (GEOBRASIL, 2002). Essa preocupação com o meio
ambiente também vem sendo estabelecida em outros países. Até recentemente, os parques eram
vistos como limitadores de oportunidade de desenvolvimento econômico e a criação deles era
ativamente combatida por madeireiros, mineradores e proprietários de terra (TERBORGH &
VAN SCHAIK, 2002). Atualmente, no entanto, há tendência ao aumento das áreas protegidas,
sobretudo aquelas para fins recreativos (TERBORGH & SCHAIK, 2002). Na América Central,
houve um aumento de 900% das áreas silvestres, incluindo as reservas indígenas, entre os anos de
1970 e 1987 (MORALES & CIFUENTES, 1989 apud CIFUENTES et. al., 2000). No entanto,
ainda hoje, a criação de parques é discutida em alguns países, em especial, no congresso norte-
americano (TERBORGH & VAN SCHAIK, 2002).
Apesar do aumento do número de UCs, elas não têm sido instrumentos eficazes na
conservação da biodiversidade. Um dos motivos de base técnica para essa ineficácia é o montante
das áreas ser insuficiente para a proteção integral por bioma, dada as grandes dimensões do
território e a diversidade de ecossistemas do Brasil (MAURY, 2002). O número insuficiente de
UCs acelera a extinção de espécies endêmicas, que são importantes para o equilíbrio dos
ecossistemas da região e que, também, poderiam ser fonte de material genético para as pesquisas
biotecnológicas.
Um outro problema relacionado à baixa efetividade das áreas protegidas diz respeito à sua
configuração. Muitas dessas áreas são tão pequenas que não satisfazem algumas espécies como,
por exemplo, os carnívoros e outros grandes mamíferos que requerem grandes áreas para a sua
sobrevivência (NEWMARK, 1995 apud TERBORGH & VAN SCHAIK, 2002). Em base à
teoria do equilíbrio de biogeografia insular, reservas maiores alojam um maior número de
espécies e, também, minimizam os efeitos de borda7 e as taxas de extinção (MORSELLO, 2001,
PRIMACK & RODRIGUES, 2002).
7 O efeito de borda é um processo, cujas áreas limítrofes de uma unidade protegida fazem fronteira com um ambiente não-florestal. O microambiente numa borda desse fragmento de área protegida é diferente daquele do interior da floresta e isso pode levar à extinção muitas espécies dos fragmentos da floresta. A mudança da luminosidade, temperatura, umidade e vento são alguns dos efeitos de borda. Isso compromete o bem-estar de algumas espécies de
10
Além da questão do tamanho das UCs, discute-se a melhor extensão e forma dessas
unidades. Outros aspectos como a proximidade e o isolamento de áreas protegidas, além do
número de reservas, interfere na redução ou aumento da diversidade biológica nessas UCs. A
Figura 2.2 sugere padrões de paisagem para um melhor planejamento das áreas de conservação
para a proteção da diversidade biológica.
Com base nessa figura, sugere-se que a proteção de uma UC torna-se ainda mais eficaz
quando compreende um ecossistema completo - lago ou cordilheira - uma vez que o dano a uma
parte não protegida poderia ameaçar as espécies da área protegida e, também, a saúde da
população que depende dos recursos naturais presentes nessa unidade. Sugere-se, ainda, que essas
áreas não sejam subdivididas em partes, mesmo por estradas, porque podem coibir a dispersão de
algumas espécies e, até mesmo, causar danos à vida dos animais com os atropelamentos. No
entanto, se a área necessitar de subdivisões, sugere-se que a distribuição das partes seja
eqüidistante uma das outras, para facilitar imigrações e re-colonizações. Ainda, se possível,
sugere-se que essas unidades separadas pudessem ser conectadas por faixas de ambiente
protegido ou por corredores ecológicos, o que facilitaria a dispersão de espécies sedentárias. Os
impactos do efeito borda são reduzidos em áreas que possuem forma circular, onde o centro
dessas áreas encontra-se mais distante das bordas do que qualquer outra forma (MORSELLO,
2001, PRIMACK & RODRIGUES, 2002, RODRIGUES et. al., 2002).
As UCs, além de apresentar problemas relacionados ao seu tamanho e número, também
enfrentam escassez de recursos financeiros e humanos, o que contribui para a sua ineficácia
quanto ao papel de preservação. Somente 8,6% dessas áreas estão razoavelmente implementadas,
enquanto as demais estão minimamente ou não estão implementadas. Além disso, 28% das
unidades não possuem uma infra-estrutura adequada e regularizada e, algumas dessas, não
possuem sequer sede administrativa. O fato é que a maioria das UCs de todas as regiões
brasileiras encontra-se em situação precária e apresenta problemas diferentes. Enquanto a região
norte enfrenta o problema da falta de funcionários e equipamentos, na região sul, nenhuma UC
possui planos de manejo (SÁ & FERREIRA, 1999). Além desses problemas, as unidades
existentes estão mal distribuídas nos biomas brasileiros, considerando as categorias de manejo, a
fauna, tais como os anfíbios, que são sensíveis à umidade. A diminuição da umidade reduz a possibilidade de sobrevivência desses animais (PRIMACK & RODRIGUES, 2002).
11
Pior Melhor (A)
Ecossistema parcialmente protegido
Ecossistema
completamente protegido
(B) Reserva menor
Reserva maior
(C)
Reserva fragmentado
Reserva nãofragmentada
(D)
Menos Reservas
Mais reservas
(E)
Reservas Isoladas
Reservas com corredores
F)
Reservas Isoladas
“Pontes” facilitam o
movimento (G)
Habitat uniforme protegido
Habitats diversificados
(montanhas, lagos, florestas) protegidos
(H)
Formato Irregular
Formato da reserva é próximo ao
circular (menos efeitos de borda)
(I) Somente
grandes reservas
Mistura de reservas grandes
e pequenas (J)
Reservas manejadas individualmente
Reservas manejadas
regionalmente
(K)
Pessoas excluídas
Integração social:
zonas tampão
Figura 2.2: Princípios de planejamento de reserva com base nas teorias de biogeografia de ilhas. Fonte: Shafer (1997) apud Primack & Rodrigues (2002)
Rio
300 ha de reserva
300 ha de reserva
100 ha interior
Pare
12
representação geográfica das regiões e estados, o tamanho das unidades e, também, a
representatividade da heterogeneidade regional do bioma. Essa má distribuição dificulta o
cumprimento da preservação da biodiversidade, principalmente das espécies ameaçadas de
extinção (SÁ & FERREIRA, 1999; MAURY, 2002).
2.3. Principais ameaças às áreas protegidas localizadas em outros países
Os problemas presentes nas áreas de proteção brasileira estendem-se para áreas localizadas
em outros países. Mais de 11% das áreas protegidas na superfície terrestre estão abaixo das
expectativas de conservação da biodiversidade. Isso se deve, sobretudo, ao desenvolvimento
econômico urbano, por meio da ocupação da área pela prática da agropecuária, com as plantações
de pasto e produtos economicamente importantes e, também, expansão urbana - crescimento
natural e migração - fogo, caça ilegal da fauna selvagem e operações - legais e ilegais - de corte
de madeira (WWF Internacional, 2004; BRUNER et al., 2001, DOUROJEANNI, 1997a).
Além dessas ameaças comuns na maioria das áreas de preservação, há danos que não são
imediatamente visíveis no ambiente. Por exemplo, a poluição do ar emitida por fábricas próximas
às áreas de preservação em um primeiro momento pode provocar um dano não muito grave.
Porém, por ser gradual e intensa, pode comprometer o equilíbrio ecológico dos ecossistemas
(WWF Internacional, 2000). As principais ameaças ao equilíbrio das áreas de proteção foram
classificadas por Dudley & Stolton (1999) em três níveis, conforme mostra o Quadro 2.2.
As três maiores ameaças às áreas protegidas, de acordo com um estudo realizado em
parques tropicais de três continentes e, um outro, na América Latina, são: caça ilegal, invasão por
agricultura e exploração madeireira (DUGELBY & LIBBY, 1998 apud TERBORGH &
SCHAIK, 2002). Em ambos estudos, a caça ilegal é a principal ameaça aos parques tropicais. As
outras ameaças - pastoreio, construção de rodovias, mineração - aparecem, também, mas são
menos freqüentes.
É certo que a maioria das áreas protegidas é ineficaz no cumprimento do seu papel
conservacionista, mas como justificar a alta freqüência de caça nessas áreas? A precária
fiscalização é um fator importante. Associada a isso, a falta de consciência ambiental, os conflitos
com as populações residentes no seu interior e a expansão urbana têm sido alguns dos fatores
13
Quadro 2.2: Ameaças às áreas de preservação Nível de ameaça Tipos de ameaça
Atividade de caça Coleta excessiva de espécies para fins alimentícios ou medicinais Coleta para o comércio de animais e plantas ornamentais Extração de madeira (aumento do valor comercial das espécies de árvores) Extração de madeira para necessidades locais
Alguns elementos das áreas de preservação são coletados sem prejudicar a estrutura do bioma
Mineração Poluição (ar, agroquímica, solo) Cobertura da área com pasto Atividade recreativa excessiva (turismo irresponsável) Seleção de madeiras nobres Introdução de espécies exóticas Extração de minérios e combustíveis fósseis próximos ou no interior das áreas de preservação
Empobrecimento global da ecologia das áreas de proteção
Ação militar e impacto dos refugiados (guerra) Invasões antrópicas e colonizações Desenvolvimento de infra-estruturas (rodovias, trilhos, canais) Indústrias extrativas (minério) Sistemas energéticos (hidrelétrica) Derrubada de madeira e/ou limpeza da área utilizando fogo
Conversão e degradação
Mudança climática Fonte: DUDLEY e STOLTON (1999)
diferenciais na caça predatória (DUDLEY & STOLTON, 1999; WWF-Internacional, 2000;
WWF-Internacional, 2004). Isso ocorre porque a sociedade não considera as áreas de preservação
importantes para o seu bem-estar; muito pelo contrário, são áreas que restringem o uso de
recursos existentes pela população local e podem inibir a ocupação das populações residentes.
Além disso, a gestão das áreas protegidas e, até mesmo, a política de preservação ambiental são
razões do insucesso dessas unidades ambientais. Outros fatores, como a pobreza, a falta de
crescimento econômico sustentado e o alto consumo de produtos agro-industriais pela população
também aceleram a destruição dos recursos naturais e da biodiversidade (DUDLEY &
STOLTON, 1999; WWF-Internacional, 2000; 2004). Todos esses elementos contribuem para a
ineficácia das áreas protegidas e estão elencados no Quadro 2.3.
O pequeno apoio nacional é justificado pela desinformação da sociedade e dos
governantes sobre os benefícios das áreas protegidas. A visão antropocêntrica da comunidade,
que vê essas áreas como um lugar de preservação remota da vida silvestre e sem qualquer valor
para o bem-estar da sociedade, inibe a obtenção de recursos humanos e financeiros para as UCs8
7 Vale lembrar, no entanto, conforme foi visto anteriormente, que essas áreas além de serem importantes em termos ecológicos, trazem benefícios econômicos para a sociedade. Além disso, a manutenção da biodiversidade presente nessas áreas é responsável pelo equilíbrio climático e indiretamente contribuem para o bem-estar da sociedade (p.3 desta dissertação).
14
Quadro 2.3: Razões do insucesso das áreas de preservação ambiental Principais Causas Razões
Consciência da sociedade quanto à importância das áreas protegidas Conflitos com a população local Apoio nacional fraco para as
áreas de conservação Falta envolvimento dos residentes locais na implantação desses planosConflitos com populações residentes Vontade política Recursos financeiros insuficientes e não-seguros Ausência de planos de manejo Ausência/precários limites de fronteiras das áreas de preservação
Capacidade política
Conflitos com outros órgãos governamentais Carências de comunicação entre os gestores ambientais Capacidade institucional inadequada Gestão limitada (meramente preservacionista) Capacidade institucional
Carência de uma equipe especializada Fonte: DUDLEY e STOLTON (1999); SALGADO (2000); WWF Internacional (2000; 2004).
(LUSIGI, 1992 apud SALGADO, 2000). Essa restrição aos investimentos nas unidades é um dos
motivos para conflitos entre essa população e os administradores das UCs.Isso ocorre porque os
recursos financeiros do tesouro nacional devem ser divididos entre os interesses sociais da
população local e os de conservação das áreas protegidas (DOUROJEANNI, 1997a; WELLS et
al., 1992 e GURUNG, 1992 apud SALGADO, 2000). Essa situação inibe o envolvimento da
população local na conservação das áreas protegidas. Isso prejudica a integridade dessas áreas,
porque muitos dos residentes locais extraem produtos das UCs, sobretudo quando não existe uma
fiscalização adequada no local (TERBORGH & PERES, 2002).
Como se não bastasse a ameaça da comunidade do entorno, metade das áreas protegidas no
mundo possui populações residentes em seu interior. A questão torna-se mais complexa quando
os ocupantes são populações indígenas, cujas áreas de ocupação são reconhecidas pelo governo e
possuem respaldo na legislação (TERBORGH & PERES, 2002). Acontece que quaisquer pessoas
- indígenas ou não - causam um certo dano ao meio ambiente e esse distúrbio varia com a
intensidade, freqüência, tipo de atividade realizada e número de pessoas presentes na área
(MORSELLO, 2001, TERBORGH & PERES, 2002). Esse dano pode ser conseqüência, por
exemplo, da caça, pesca e comercialização dos recursos naturais (TERBORGH & PERES, 2002).
Cabe ao governo averiguar a situação e o grau de impacto humano às áreas protegidas e
propor alternativas. Uma dessas soluções é compensar os custos de oportunidade das atividades
perdidas após a criação das UCs (BROCKELMAN et al., 2002), que será visto com mais
detalhes no próximo capítulo. Uma outra alternativa é realocar a população residente nas áreas
15
protegidas para outro lugar ou, então, incentivar os reassentamentos voluntários (TERBORGH &
PERES, 2002, BARBORAK, 1997). Há, também, a opção de manter a população de residentes
dentro da unidade, a fim de encerrar os conflitos entre a população e as áreas protegidas, do que
arriscar um benefício, talvez na prática irrealizável, da ausência da população no interior dessas
áreas (MORSELLO, 2001, BARBORAK, 1997).
Além do fraco apoio nacional à conservação das áreas protegidas, há a problemática da
capacidade política dos órgãos governamentais. Em alguns casos públicos, por exemplo, a
vontade política para a criação de parques, é maior do que a de manter a integridade da
biodiversidade presente nessa unidade. Enquanto a criação de um parque é visível na mídia e
atrai a atenção, a manutenção desses parques requer mais fundos e, além disso, não compensa
investi-los em termos políticos, já que garante poucos votos. Por conta disso, a manutenção dos
parques em países em desenvolvimento é mais problemática do que a sua criação
(DOUROJEANNI, 2002).
Os recursos financeiros insuficientes e não-seguros são razões, também, da ineficácia de
conservação das áreas protegidas. Além disso, um outro problema, é o fato delas não estarem
realmente implementadas ou porque as administrações existentes são ineficazes (DUDLEY &
STOLTON, 1999, TERBORGH & VAN SCHAIK, 2002), muitas vezes por não terem verbas
suficientes para a compra e a manutenção de equipamentos, materiais e a contratação de pessoal
qualificado e, até mesmo, a posse de terras necessárias às instituições de UCs de uso indireto.
Estima-se que eram gastos9 cerca de R$ 6 656,00 para cada Km2 de áreas protegidas dos EUA,
em 1993. Esse valor era muito superior aos investimentos em UCs brasileiras, que eram cerca de
R$582,40 por Km2, em 1995. Esse valor coloca o Brasil entre os últimos países em gastos na
manutenção de suas áreas protegidas (JAMES et al., 1999 apud PÁDUA, 2000).
Um dos principais problemas para a conservação das áreas protegidas brasileiras é a falta de
recursos para a aquisição de terras. Essa despesa é o maior custo direto para implantação das UCs
no Brasil (ESPÍRITO-SANTO & FALEIROS, 1992 apud MORSELLO, 2001). Além disso, as
formas de financiamento para a compra de propriedades são reduzidas (MORSELLO, 2001).
A ausência de um plano de manejo também é uma das razões para o insucesso das UCs,
sobretudo as da América Latina. É importante que esse plano seja elaborado na fase de
planejamento – criação - de uma UC, para direcionar o manejo e promover estratégias para a
9 Considera-se um câmbio de R$ 2,60 para cada US$ 1.
16
redução dos conflitos potenciais que possam surgir posteriormente (LEDEC, 1992 & MCNEELY
et al., 1990 apud MORSELLO, 2001). No entanto, a maioria das áreas de preservação, localizada
em países subdesenvolvidos, elabora planos de manejo após a construção de uma sede
administrativa e da contratação de funcionários. Isso reduz a eficácia na utilização dos recursos
financeiros, em detrimento da realização de atividades de forma desordenada e independente
(MORSELLO, 2001).
Em relação aos limites de fronteiras, a proteção da fauna presente nas UCs pode ser
comprometida com a construção de estradas e outras atividades humanas, dividindo a área
protegida em pequenos pedaços. Esses fragmentos funcionam como ilhas de habitat imersas em
um “mar” de construções humanas e causam danos à população de fauna e flora presentes nessas
áreas. Um desses danos consiste em limitar a capacidade de alimentação, dispersão e colonização
da flora e fauna, além de aumentar a vulnerabilidade dos fragmentos à invasão de espécies
exóticas e precipitar a extinção e o declínio da população natural (PRIMACK & RODRIGUES,
2002, MORSELLO, 2001) e o risco de atropelamentos de animais, no caso de rodovias que
circundam áreas de preservação.
A sobreposição de agências ambientais, sobretudo aquelas envolvidas em outras atividades,
tem acarretado muitos problemas na conservação das áreas protegidas, principalmente na fase de
manejo. Isso porque têm sido incentivadas e criadas atividades incompatíveis para uma mesma
região ou locais adjacentes como, por exemplo, a construção de estradas ou de barragens que
atravessam áreas protegidas (MORSELLO, 2001, MCNEELY, 1995 apud SALGADO, 2000).
Além disso, a instalação de indústrias e comércios próximos às áreas protegidas e, também, a
atração de turistas mais do que a UC suporta, acarretam prejuízos à área de preservação
(MCNEELY, 1995 apud SALGADO, 2000).10
A comunicação entre os gestores ambientais é essencial para uma capacidade administrativa
eficaz da unidade. Os melhores resultados são obtidos quando há participação de uma equipe
multidisciplinar e, também, quando o diretor da unidade faz parte da equipe e é assessorado pelos
funcionários subordinados (MORSELLO, 2001). O mesmo acontece quando há trocas de
experiências entre os administradores de diferentes unidades, para que os mesmos erros não
10 No Brasil, os conflitos com outras agências governamentais deveriam ser minimizados com a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama, que tem por objetivo ordenar as atividades de controle ambiental. – O Sisnama foi criado pela Lei Federal 6.938/81 e regulamentado pelo Decreto Federal 99.273/90 – Esse sistema, no entanto, não se preocupou em redistribuir atribuições e, também, em estabelecer a comunicação entre as diferentes agências governamentais (MORSELLO, 2001).
17
sejam cometidos e soluções possam vir a ser implementadas de modo mais eficaz. Essa
cooperação entre os gestores é interessante, também, para que as reservas naturais sejam
manejadas como um sistema regional, conforme foi mostrado na Figura 2.2 (PRIMACK &
RODRIGUES, 2002).
Uma outra razão da ineficácia das áreas protegidas é a capacidade institucional inadequada,
devido à uma infra-estrutura incompleta e à falta de funcionários capacitados. A primeira deveria
contemplar um Plano de Manejo e presenças de uma sede administrativa, centro de visitantes,
alojamentos para pesquisadores - no caso de uma UC que permita pesquisas científicas -
equipamentos e veículos suficientes e em estado adequado para a fiscalização da unidade. Quanto
aos funcionários, há no Brasil deficiência tanto no número quanto no nível de formação desses
profissionais (MORSELLO, 2001). Em muitos casos, são financiados projetos - por meio de
agências internacionais, como o BID e o BIRD11 - que contemplam a infra-estrutura da unidade.
Essa, muitas vezes, é até dimensionada, mas por falta de pessoal e recursos financeiros para sua
manutenção não garante o funcionamento dessa UC ao longo prazo (PÁDUA, 2000).
Quanto aos gestores das áreas protegidas, as capacidades requeridas são várias, tais como:
entendimento explícito do processo político, mediação e negociação, identificar conflitos com
população e grupos locais; lidar com questões complexas biológicas e humanas; e tomar decisões
para as quais existe pouca informação, levantamento dos impactos sociais, capacidade de
comunicação e transmissão de informações complexas, conhecimento do manejo de hábitats e
espécies, além de técnicas de restauração de áreas naturais (MORSELLO, 2001).
Muitas vezes, o que atrapalha a administração das áreas de preservação é a filosofia de
gestão, que é meramente conservacionista. Ou seja, os administradores priorizam a conservação
ecológica e biológica dessas áreas e não se atêm à questão social, econômica e política que estão
estritamente relacionadas na manutenção dessas áreas (SALGADO, 2000).
Esses elementos reforçam a idéia do “parque de papel”, ou seja, as atividades de proteção
em áreas protegidas existem apenas na teoria, pois, na prática, são insuficientes para conter a
degradação ambiental (BRUNER et. al., 2001, DUDLEY & STOLTON, 1999, CIFUENTES et.
al., 2000). Na América Central, 30% de todas as áreas de proteção (APs) declaradas são “parques
de papel” e mais de 60% ainda não resolveram os problemas fundiários (UICN/BID, 1993 apud
11 BID: Banco Interamericano de Desenvolvimento; BIRD: Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento.
18
CIFUENTES et.al., 2000). Para Dourojeanni (1997a), a maior ameaça às áreas protegidas é a
ausência de um plano de manejo e de fiscalização dessas áreas, que, quando existem, nem sempre
são adequados para a conservação das áreas.
2.4. Alternativas para reduzir a devastação e perda da diversidade biológica
Uma alternativa para conservar a biodiversidade é reorientar as inversões no manejo das
áreas protegidas para as zonas de amortecimento e corredores ecológicos, o que reduziria as
pressões humanas (RODRIGUES, 2003). Essa reorientação, no entanto, não tem sido tão eficaz
em reduzir o grau de ameaças às áreas protegidas. Isso porque nem sempre as instituições
envolvidas na manutenção dessas áreas possuem suficientes recursos financeiros e de pessoal
para serem agentes efetivos de mudança nas áreas rurais. Além disso, as instituições responsáveis
em promover o desenvolvimento rural das áreas vizinhas a UCs não são eficazes no cumprimento
dessa atividade. Na realidade, essa inversão no manejo das áreas protegidas requer, além de
mudanças institucionais, estudos sobre a questão ecológica da região e propostas de soluções para
os problemas da população rural. Essa preocupação com as necessidades sociais das populações
do entorno e dentro das áreas protegidas poderia reduzir a pressão social nessas áreas
(BARBORAK, 1997).
Para tanto, é preciso investir numa organização social forte e incentivar projetos que
incluam a participação da comunidade local. No México, por exemplo, em vista de conservar a
diversidade biológica ainda existente na região, foi estabelecido um projeto alternativo que
contava com o planejamento e a gestão da área pela população local. Esse projeto tinha por
objetivo melhorar a tecnologia e o nível de vida da comunidade pobre, incentivando a população
a conservar e utilizar a biodiversidade de forma sustentável. O comprometimento com a
população pobre e a indígena reduziria a pressão humana na devastação dos recursos florestais e
seria uma alternativa de conservar a biodiversidade (WCMC, 2001b).
No Brasil, projetos semelhantes fazem parte dos Projetos Integrados de Conservação e
Desenvolvimento - ICDPs. Esses projetos têm por objetivo reduzir as ameaças externas aos
parques, promovendo projetos de desenvolvimento sustentável nas áreas do entorno. A idéia das
ICDPs é de que financiando projetos na comunidade rural, seriam trazidos benefícios incidentais
para a conservação da natureza (VAN SCHAIK & RIJKSEN, 2002). A maioria desses projetos,
19
no entanto, falhou na conservação da biodiversidade. Uma das causas foi de acreditar que os
moradores do entorno seriam conservacionistas, na medida em que pudessem extrair os recursos
naturais sustentavelmente das áreas de preservação. Acontece que nem sempre os habitantes
locais estão interessados na preservação da biodiversidade e muitos desses não exploram
comercialmente os recursos. Há o risco de que os objetivos de conservação serem revertidos para
o uso mais intensivo e estável das terras. Isso pode ser considerado um agravante, já que mesmo a
baixa exploração dos recursos naturais pode afetar a biodiversidade presente nas áreas de
preservação (VAN SCHAIK & RIJKSEN, 2002).
As conseqüências negativas para a efetividade da conservação da biodiversidade podem ser
ainda piores no caso de projetos mal estruturados. Geralmente, são projetos de natureza técnica
mais do que político-administrativa, que têm a desvantagem de possuir soluções de manejo de
curta duração, comprometendo, muitas vezes, a negociação de financiamentos seguros para a
manutenção adequada das áreas de proteção. Em outros casos, são projetos que privilegiam o uso
sustentável dos recursos naturais do que a conservação dos mesmos (VAN SCHAIK &
RIJKSEN, 2002).
Apesar desses problemas, os ICDPs podem ser uma alternativa eficaz para a conservação
das áreas protegidas, basta que sejam respeitadas alguns aspectos. Deve-se ter claro que o
objetivo do parque é preservar a biodiversidade e não tentar resolver desigualdades sociais. Os
projetos para o manejo das áreas de preservação, em especial, os parques, devem ser concebidos
em função dos resultados e, ainda, serem flexíveis para apresentar soluções no combate às
ameaças à integridade dessas áreas (VAN SCHAIK & RIJKSEN, 2002).
Uma dessas soluções é investir na capacidade de fiscalização das áreas protegidas. O uso de
força armada é um instrumento ineficaz, mesmo em sociedades que respeitam o poder e a
jurisdição dos guardas-parques. Ao invés disso, devem ser utilizadas medidas pacíficas como, por
exemplo, a divulgação das penalidades das infrações ambientais e orientação dos funcionários e
guarda-parques. Esses devem se localizar em postos de fiscalização visíveis e vistoriar as pessoas
que transitam na região de proteção. Além disso, o apoio de pessoas populares - artistas, cantores
- e de líderes comunitários podem ser alternativa de fiscalização para a eficácia das áreas de
proteção ambiental (BROCKELMAN et al., 2002).
As Organizações Não-Governamentais (ONGs) pesquisadores e jornalistas também podem
ajudar na fiscalização das áreas protegidas. Os primeiros podem, por exemplo, promover
20
programas de conscientização ambiental da população local. Já os cientistas podem fornecer
informações sobre as violações ao meio ambiente e sugerir medidas que minimizem o impacto
ambiental. No caso da exposição de atividades ilegais na mídia, os jornalistas podem punir os
funcionários e/ou empresas infratoras na questão ambiental (BROCKELMAN et al., 2002).
Essas medidas pacíficas, juntas, podem evitar a retirada de fauna, flora, pedras e outros
recursos naturais presentes nas UCs e, também, em danos ou roubos às propriedades dessas
unidades12. Até mesmo, crimes graves, como exploração madeireira, favoritismo, propinas ou
aplicação indulgente da lei podem ser atividades desencorajadas, caso, por exemplo, forem
revelados à mídia ou denunciados à polícia pela fiscalização (BROCKELMAN et al., 2002).
Há casos, no entanto, que somente a fiscalização ambiental não é eficaz no cumprimento da
conservação das áreas protegidas. Programas de educação ambiental e cooperação de agências
nacionais e internacionais no combate ao comércio de espécies ameaçadas13 são necessários para
a conservação das UCs. Quanto ao primeiro, raramente os infratores que jogam lixo nas áreas
protegidas são pegos em flagrante e, nesse caso, programas de conscientização ambiental seriam
um auxílio complementar na conservação da natureza. As agências reguladoras, no entanto, são
requeridas para prevenir a extração ilegal de produtos que estejam influenciando a economia de
mercado (BROCKELMAN et al., 2002).
Uma outra solução para combater as ameaças de destruição dos recursos naturais é
capacitar os funcionários das UCs a investirem em serviços e/ou produtos que aumentem a
sustentabilidade financeira da unidade (VAN SCHAIK & RIJKSEN, 2002). A arrecadação desses
recursos poderia aumentar a capacidade de gestão da unidade, com a contratação de funcionários
qualificados, compra de equipamentos de fiscalização e investimentos em programas de educação
ambiental com a comunidade local. A maioria dessas UCs, no entanto, recebe recursos limitados
do governo e, ainda, muitas dessas áreas contam apenas com esse financiamento para a sua
manutenção. O que fazer para obter os recursos? É certo que é preciso criar alternativas
financeiras para a preservação dessas áreas protegidas, mas onde consegui-las? Esses
financiamentos alternativos potenciais serão detalhados no próximo capítulo.
10 Podem ocorrer danos às placas de sinalização, fechaduras e cadeados (BROCKELMAN et al., 2002). 11 Exemplos: TRAFFIC - um programa de monitoramento de tráfego de animais selvagens da WWF e IUCN, CITES - Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora e US Fish and Wildlife Service.
21
3. A ECONOMIA E AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO:
O USO DE INSTRUMENTOS ECONÔMICOS PARA A CONSERVAÇÃO
3.1. Custos das Áreas Protegidas
O planejamento, a implementação e o manejo de uma área protegida envolvem custos,
exigindo do planejador a identificação de mecanismos de financiamento que poderiam ser
utilizados (MORSELLO, 2001). As áreas protegidas possuem custos decorrentes da sua criação e
manutenção. O valor desses custos se diferencia em cada fase da gestão - planejamento,
implementação e manejo em longo prazo, conforme mostra a Figura 3.1.
Figura 3.1: Diferentes fases e custos associados à implementação de áreas protegidas de tamanho médio – cerca de 600 mil hectares. Fonte: Houseal (1992) apud Morsello (2001).
A fase de planejamento ou seleção é a que apresenta os menores custos. Nessa fase, as UCs
são delimitadas e regulamentadas em termos de legislação. A maior parcela dos gastos no
planejamento é para a elaboração do Plano de Manejo, que indica quais programas e estrutura
PLANEJAMENTO IMPLEMENTAÇÃO MANEJO A LONGO PRAZO
Delimitação reserva Aspectos Políticos Plano de Manejo
Treinamento de Pessoal Materiais e Equipamentos Construções Administração Assistência Especializada Estudos Aquisição da terra
Pessoal Operação Programas
Auxílio Total
Auxílio Local
Auxílio Internacional
US$ mil
Anos
800 700 600 500 400 300 200 100
530 7
22
administrativa são necessários ao manejo da unidade (HOUSEAL, 1992 apud MORSELLO,
2001).
A fase de implementação das UCs é a que apresenta os maiores custos, sobretudo na
aquisição do título de propriedade da terra. Em se tratando de uma área de proteção integral e
pública, aqueles que residem nessas áreas devem ser reassentados em outro lugar e remanejados
pelo Poder Público (DIXON & SHERMAN, 1991, AITCHISON & BARESFORD, 1992 apud
MORSELLO, 2001). Além disso, há os gastos com a infra-estrutura da área, como por exemplo,
na construção de uma sede administrativa, na aquisição de equipamentos e materiais de gestão e
na contratação e treinamento de funcionários. Nessa fase da implementação, gasta-se, também,
com pesquisas para a coleta de informações necessárias à instituição e com o monitoramento e
fiscalização da área protegida (SALGADO, 2000, MORSELLO, 2001).
Na fase de manejo, em longo prazo, os custos são operacionais e administrativos,
materializando-se, essencialmente, na manutenção das áreas de preservação, como em relação ao
salário dos funcionários e à reposição dos materiais de consumo para a sua gestão. Outras
atividades são também computadas, como novas construções, compra de outras terras e
desenvolvimento de programas que aumentariam a eficácia das UCs como, por exemplo, o
programa de educação ambiental. (SALGADO, 2000, MORSELLO, 2001).
Os gastos nessas três fases de gestão das áreas protegidas podem ser classificados em custos
diretos, indiretos e de oportunidade:
a) Custos Diretos
Os custos diretos são aqueles diretamente relacionados ao estabelecimento e manejo das
áreas protegidas, conforme foi dito anteriormente. Esses custos são representados por: elaboração
de um plano de manejo, delimitação da área, infra-estrutura - construção da sede administrativa,
salário de funcionários e compra de equipamentos e materiais - e financiamento de programas e
equipamentos de monitoramento e fiscalização da UC. A aquisição do título de propriedade da
terra também faz parte desses custos (DIXON & SHERMAN, 1991, SALGADO, 2000,
MORSELLO, 2001).
b) Custos Indiretos
Os custos indiretos representam os gastos provenientes do ressarcimento das comunidades
locais pelos prejuízos resultantes da existência da UC. Por exemplo, a fauna silvestre existente no
23
interior da UC pode ameaçar os residentes próximos ou destruir suas colheitas e criadouros
(DIXON & SHERMAN, 1991, SALGADO, 2000, MORSELLO, 2001, KARANTH &
MADHUSUDAN, 2002). Esses prejuízos são difíceis de serem quantificados, devido à
diversidade de problemas que podem ocorrer e ao número de pessoas prejudicadas envolvidas.
Além disso, a inexistência de organizações que congreguem as pessoas prejudicadas dificulta o
ressarcimento do dano causado a elas (MORSELLO, 2001). Apesar disso, o reembolso
compensatório poderia ser uma alternativa eficaz na redução de conflitos entre o administrador da
UC e a população local, principalmente quando essa compensação for devido a algum dano
causado aos residentes locais (DIXON & SHERMAN, 1991).
Há duas formas de compensação: direta e indireta. A compensação direta consiste em fazer
o pagamento monetário à pessoa que foi prejudicada pelo dano na sua propriedade. Por exemplo,
pelo prejuízo acarretado por ataque de animal selvagem ao doméstico. Ou então, são pagas
indenizações pela proibição de atividades que eram permitidos anteriormente à criação da UC.
Atividades de lazer como o ecoturismo, por exemplo, não seria permitido numa UC de proteção
recém-criada. A compensação indireta busca alternativas de exploração econômica, que não
tenham impactos negativos na área protegida da região, ou então, financia a construção e/ou
manutenção de serviços, como escolas, hospitais, eletricidade (MORSELLO, 2001). Essas
compensações são pagas desde que a população seja proibida de fazer as atividades anteriormente
realizadas (DIXON & SHERMAN, 1991).
Na prática, no entanto, essas compensações têm sido pouco eficazes em conter as ameaças à
integridade das UCs (MORSELLO, 2001). Um grande problema na sua efetividade é o custo
relativamente alto dessas compensações, que dificulta e até mesmo coíbe a eficiência das áreas
protegidas. Além disso, outros problemas como os atrasos e corrupção dos funcionários, assim
como o uso inadequado dos esquemas de compensação por reclamações fraudulentas são fatores
que estimulam reações das populações locais e isso pode acarretar em danos ao meio ambiente –
tais como mortes de animais silvestres (KARANTH & MADHUSUDAN, 2002) e, também,
incêndios florestais.
Uma alternativa para minimizar esses problemas é o pagamento de uma “compensação
preventiva”, que consiste em fazer um seguro da propriedade - animais domésticos, culturas
agrícolas - no caso de prejuízos e perdas acarretadas pela criação de uma UC na região e as
conseqüências que isso possa acarretar às propriedades urbanas localizadas na vizinhança. Isso,
24
no entanto, não é possível nos países em desenvolvimento, devido ao baixo valor monetário da
compensação (KARANTH & MADHUSUDAN, 2002). Mesmo, no entanto, que se utilize essa
alternativa de compensação financeira e a população residente numa UC esteja de acordo com o
valor dessa compensação, caso não haja uma fiscalização efetiva dessas áreas, muitas pessoas
continuarão extraindo recursos naturais das UCs (BROCKELMAN et al., 2002).
c) Custos de Oportunidade
Os custos de oportunidade são os benefícios que a sociedade deixa de obter em termos
econômicos quando uma área passa a ser destinada à preservação da biodiversidade (NORTON-
GRIFFITHS & SOUTHEY, 1995, SALGADO, 2000, MORSELLO, 2001). Esses benefícios
incluem a exploração intensiva da área, como a venda de madeira e outros produtos advindos da
extração da flora e fauna presente nessa UC. Os custos de oportunidade consideram, também, os
benefícios econômicos que poderiam ser obtidos se a área - caso tivesse potencial - fosse
utilizada para outros fins que não a preservação dos recursos naturais presentes na área como, por
exemplo, o cultivo de produtos agrícolas e a exploração pecuária (DIXON & SHERMAN, 1991,
NORTON-GRIFFITHS & SOUTHEY, 1995, MORSELLO, 2001).
Essa limitação na proteção da integridade dos recursos naturais presentes nas áreas
protegidas “impõem perdas na geração de renda, dado que as atividades econômicas também
passam a ser restritas” (MOTTA, 1998 apud SALGADO, 2000, p.32). Essa perda é significativa
em regiões onde a comunidade local teve de abdicar dos ganhos que ela estava acostumada a
obter, antes da criação da UC. Nesse caso, medidas como a compensação - por conta do prejuízo
econômico causado à população local - e a implementação de projetos alternativos de geração de
renda se fazem necessárias para evitar ou minimizar a perda econômica da comunidade
(SALGADO, 2000). Esses custos de oportunidade podem ser muitos elevados, prejudicando em
termos políticos e econômicos a criação de uma UC. Para minimizar esse problema, sugere-se
que parte dos custos de oportunidade seja incorporados ao valor de aquisição de terras (DIXON
& SHERMAN, 1991, NORTON-GRIFFITHS & SOUTHEY, 1995, MORSELLO, 2001).
3.2. Incentivos Financeiros para a Gestão das Áreas Protegidas
A maioria das áreas protegidas da América Latina é mantida por orçamento público e
muitas dessas áreas dependem exclusivamente desses recursos. Considerando os altos custos na
25
criação, implantação e manejo das áreas protegidas, surge uma pergunta: como arrecadar fundos
e aumentar os recursos financeiros necessários para a manutenção eficiente de suas áreas?
Felizmente, há vários instrumentos de financiamento que pode ser utilizados como alternativa de
investimento na manutenção dessas áreas. Esses instrumentos estão classificados conforme
Dourojeanni (1997b) e Morsello (2001).
I. Financiamento utilizando recursos do orçamento público federal, estadual ou local
Esse tipo de financiamento é considerado o mais importante fundo das áreas protegidas na
América Latina (DOUROJEANNI, 1997b), sobretudo porque a maioria das UCs é de
responsabilidade dos governos (BARZETTI, 1993). Em algumas áreas protegidas, os recursos
governamentais são a única fonte de financiamento existente (MORSELLO, 2001). Entretanto,
nem sempre esses recursos são suficientes para cobrir os gastos na criação e manutenção das
UCs. No caso do Brasil, como não bastassem esses escassos recursos destinados às áreas
protegidas, cada vez mais têm sido reduzidos os recursos financeiros do governo (IBAMA, 1997
apud MORSELLO, 2001). Para facilitar o acesso aos recursos financeiros, o governo brasileiro
desenvolveu alguns programas visando à conservação da biodiversidade, como o Programa Piloto
para a Conservação das Florestas Tropicais do Brasil - PPG-7 - PNMA e o Pronabio. Muitas UCs
têm sido beneficiadas com esses programas ambientais governamentais. No entanto, com a
criação do PNMA, por exemplo, os recursos financeiros destinados as UCs brasileiras foram
reduzidos, devido aos financiamentos recebidos das agências estrangeiras. Isso é prejudicial ao
sistema de UCs (MORSELLO, 2001).
A limitação orçamentária do governo para a conservação das áreas protegidas exige que as
UCs se tornem menos dependentes do Estado. Isso é particularmente importante para as UCs que
podem obter recursos a partir de serviços por elas prestados, como visitas turísticas.14
Considerando que os benefícios a curto prazo na conservação dos recursos naturais presentes nas
áreas protegidas, muitas vezes, são maiores do que os gastos na criação dessa UC e partindo do
pressuposto que os recursos naturais trazem benefícios mundiais, argumenta-se que os custos
envolvidos na criação e manutenção das áreas protegidas devem ser divididos entre as nações
14 No Quênia, por exemplo, o turismo ecológico é a segunda maior fonte de renda de origem externa do país; já, no Equador, no Parque Nacional das Ilhas Galápagos, as rendas geradas pelo atendimento aos turistas contribuíram significativamente para a economia do país (MORSELLO, 2001, SPERGEL, 2002). No entanto, mesmo essa fonte de renda financeira pode não ser suficiente para incentivar o governo a aumentar os recursos financeiros para as áreas protegidas.
26
beneficiadas (DIXON & SHERMAN, 1991, NORTON-GRIFFITHS & SOUTHEY, 1995,
MORSELLO, 2001).
II. Investimentos de instituições multilaterais e bilaterais
Agências de financiamentos de bancos multilaterais - Banco Mundial, Banco de
Desenvolvimento da Ásia e o da África, United Nations Environment Programme - UNEP - e
United Nations Development Programme - UNDP - têm disponibilizado recursos financeiros -
export credits - para projetos de conservação da biodiversidade. O empréstimo é destinado
apenas para projetos de governo ou de empresas privadas que tenham sido aprovados pelo
governo (DOUROJEANNI, 1997b, PHILLIPS, 2000, BAYON et al., 2000).
A International Finance Corporation - IFC - do Banco Mundial, por exemplo, cuida desse
processo de aprovação e ainda empresta recursos financeiros às empresas. A IFC privilegia
empresas viáveis comercialmente e, também, na questão ambiental e social. Essa organização
desenvolveu um fundo de investimento para a biodiversidade na América Latina, conhecido
como Terra Capital (PHILLIPS, 2000). Esse fundo recebeu financiamentos de fundos privados
multilaterais - por exemplo, do BID e FMI15, para investir em projetos ambientais (BAYON et
al., 2000).
Embora, a maioria dos projetos financiados por bancos multilaterais necessite do aval do
governo, existem exceções a essa regra. O BID, por exemplo, financia diretamente os projetos de
ONGs, que, na sua maioria, são projetos pequenos (PHILLIPS, 2000). Nessa questão, aliás,
alguns bancos multilaterais têm privilegiado empresas pequenas e médias, em que os recursos
financiados têm sustentado empresas ainda menores, através do programa SME - Small and
Medium Enterprises. A junção do IFC/GEF16/SME, por exemplo, tem investido em projetos
intermediários, cujos recursos são utilizados para as atividades de conservação da biodiversidade
e também, na sua exploração comercial (PHILLIPS, 2000, BAYON et al., 2000).
As agências multilaterais, no entanto, nem sempre aceitam financiar projetos ambientais.
Recentemente, governantes de alguns países têm rejeitado propostas de financiamento a projetos
para a conservação da biodiversidade, porque entendem que há problemas mais prioritários a
serem resolvidos. Os projetos relativos à biodiversidade devem ser financiados exclusivamente
por doações ou concessões (DOUROJEANNI, 1997b), caso contrário, os projetos ambientais 12 FMI: Fundo Monetário Internacional. 16 GEF: Global Environment Facility
27
devem ser anexados a programas de desenvolvimento de infra-estrutura do Estado. Por exemplo,
investir em projetos ambientais que sofreram impactos negativos de rodovias, metropolitanas,
represas (PHILLIPS, 2000).
Assim como as agências multilaterais, as instituições bilaterais17 – CIDA (Canadá), JICA
(Japão), NORAD (Noruega), SIDA (Suécia), SDC (Suíça), USAID (Estados Unidos), GTZ
(Alemanha), DGIS (Alemanha), União Européia (EU), DFID (Reino Unido) - também, fornecem
recursos financeiros em projetos ambientais (DOUROJEANNI, 1997b, PHILLIPS, 2000,
SPERGEL, 2002). Muitas dessas organizações são obrigadas a investir em projetos
conservacionistas, por causa da ratificação da Convenção da Diversidade Biológica (CDB). Por
serem agências assistencialistas, essa ajuda financeira é destinada para a conservação da
biodiversidade de áreas protegidas localizadas em países não desenvolvidos. No entanto, nada
impede que essas agências financiem projetos de áreas protegidas localizadas em seus países
(PHILLIPS, 2000, SPERGEL, 2002).
No Brasil, esses financiamentos têm sido constantes. No período de 1989 a 1995, algumas
agências bilaterais arrecadaram mais recursos - US$ 74 milhões - do que a soma de arrecadação
de algumas das agências multilaterais – GEF, BID, ITTO18, UNDP – (US$ 19 milhões), para a
conservação da biodiversidade (DOUROJEANNI, 1997b). Isso mostra a importância dessas
agências de financiamento para os projetos ambientais.
III. Participação de Organizações Não Governamentais - ONGs
As ONGs seriam responsáveis por parte dos serviços e, também, pela arrecadação de
recursos para a implantação de programas de conservação e conscientização ambiental, sob sua
administração (MORSELLO, 2001, DOUROJEANNI, 1997b). Um exemplo dessa capacidade
administrativa das ONGs é o caso da Fundación Peruana para la Conservación de la
Naturaleza - PRONATURALEZA, que atualmente administra onze áreas protegidas. No Brasil,
há a Fundação Homem Americano, a Fundação Pró-Natureza - Funatura - e o Instituto do
Patrimônio Natural - IPN. A primeira administra o Parque Nacional na Serra da Capivara - Piauí,
13 As siglas significam: CIDA - Canadian International Development Agency, JICA - Japan International Coorperation Agency, NORAD - Norwegian Agency for Development Cooperation, SIDA - Swedish International Development Cooperation Agency, SDC - Swiss Agency for Development and Cooperation, USAID – United States Agency for International Development, GTZ - Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit, DGIS - Directoraat-Generaal Internationale Samenwerking, DFID - Department for International Development. 14 A sigla ITTO significa: International Tropical Timber Organization.
28
a Funatura é responsável pelo Parque Grande Sertão Veredas - Minas Gerais (DOUROJEANNI,
1997b), enquanto a IPN administra uma RPPN em Pirenópolis - Goiás (MORSELLO, 2001).
Embora haja uma parceria dessas ONGs com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - Ibama - essa “co-gestão” ainda não é formal.
A criação da maioria dessas organizações Latino-Americanas começou na década de 80,
com a crise na economia do continente. As ONGs começaram a ocupar o espaço das agências
governamentais que dispunham de poucos recursos na administração das áreas protegidas
(DOUROJEANNI, 1997b). As maiores fontes de financiamento internacionais, que apóiam áreas
de preservação e projetos conservacionistas são: World Wild Fund - WWF, The Nature
Conservancy - TNC (DOUROJEANNI, 1997b) e Conservation International - CI (SPERGEL,
2002).
Uma das vantagens das ONGs, por serem instituições privadas, é a de obter resultados com
recursos reduzidos e, ainda, poderem obter recursos financeiros de investimentos que não
poderiam ser aplicados em órgãos do governo. Normalmente, a abrangência de oportunidades de
financiamento das ONGs é muito significativa, sobretudo, por serem instituições menos
complexas e burocráticas. Assim, os investimentos podem ser aproveitados em menor tempo, o
que facilita a gestão dos programas executados por essas organizações. Além disso, por serem
menos burocráticas, facilitam a interação dos programas ambientais com a participação da
comunidade do entorno das UCs, resultando na maior continuidade dos projetos a longo prazo e,
também, em projetos mais eficazes (BARZETTI, 1993).
No entanto, as áreas administradas pelas ONGs possuem, também, desvantagens. Em
muitos casos, os interesses dos seus doadores prevalecem em relação às prioridades das ONGs
(BARZETTI, 1993). Essas organizações sentem-se pressionadas, mais do que as do governo,
uma vez que dependem de doações. Também, a redução de recursos financeiros pode provocar a
dissolução de uma ONG (MORSELLO, 2001).
IV. Fundos ambientais nacionais e internacionais
Um dos mais positivos avanços na preservação das áreas protegidas foi o estabelecimento
de uma variedade de fundos ambientais em muitos países da América Latina (DOUROJEANNI,
1997b). As agências de financiamento doam recursos para o órgão governamental financiar as
atividades de conservação adicionais àquelas financiadas pelo governo. Em contrapartida, para
29
demonstrar o comprometimento do setor público, exigem que o governo nacional faça algum tipo
de investimento, em dinheiro ou sob outras formas (SPERGEL, 2002).
Quanto à função, os fundos de financiamento podem ser de três tipos (BAYON et al., 1998,
BAYON et al., 2000):
1. Fundos ambientais nacionais que financiam um grande número de atividades, incluindo
planos ou estratégias ambientais nacionais. Exemplos desse tipo de fundo são: Fondo Nacional
para el Medio Ambiente - Fonama, na Bolívia e o Bhutan Trust Fund for Environmental
Conservation, no Butão.
2. Fundos que patrocinam a conservação das áreas protegidas, em especial, os parques - por
exemplo: Mgahinga-Bwindi Impenetrable Forest Conservation - ou sistemas de áreas protegidas
nacionais - por exemplo: Fondo Nacional para Áreas Naturales Protegidas por el Estado –
Pronanpe - no Peru, e Jamaica National Parks Trust.
3. Fundos que fazem concessões para ONGs e outras organizações comunitárias para a
conservação e/ou projetos de desenvolvimento sustentável - exemplo: Foundation for the
Philippine Environment. Esses fundos têm por objetivo fortalecer as organizações da sociedade
civil e aumentar a consciência ambiental da comunidade.
Embora nenhum desses fundos tenha um grande poder de financiamento, os recursos
financeiros advindos desses são importantes tanto para a conservação da maioria das áreas
protegidas (DOUROJEANNI, 1997b), quanto para as ONGs nacionais e internacionais. Esses
benefícios na gestão das áreas protegidas são:
a) Financiamento, em longo prazo, de recursos para a biodiversidade: favorece a
implementação eficaz dos programas conservacionistas, deixando-os menos vulneráveis a
mudanças na política-econômica do país (PHILLIPS, 2000, SPERGEL, 2002).
b) Capacidade/descentralização de concessões pequenas: oferece concessões para
diferentes agências governamentais nacionais e locais e, também, a ONGs. Isso é uma tentativa
de ampliar a participação local e descentralizar as tomadas de decisões, de modo que comitês
locais tenham autonomia e apliquem as verbas em benefício de projetos conservacionistas locais
(PHILLIPS, 2000, SPERGEL, 2002).
c) Coordenação e diversificação de fontes de fundo: os fundos de biodiversidade podem
ser usados para coordenar diversos programas ambientais de fundos de doações e, ainda,
implementar estratégias ambientais nacionais (PHILLIPS, 2000).
30
d) Flexibilidade: os fundos podem ser usados para sustentar um grande leque de projetos,
de acordo com as necessidades e as novas prioridades, conforme eles surgem (PHILLIPS, 2000).
e) Participação/democratização geral: pode encorajar a participação de vários grupos de
interesse, agências governamentais, ONGs e setores de negócios e, ainda, grupos locais, para que
a sociedade civil e o governo trabalhem juntas. Os diferentes interesses e opiniões desses grupos
asseguram um maior leque de ajuda aos projetos conservacionistas, caso for comparado com o
fundo canalizado simplesmente a uma agência do governo (PHILLIPS, 2000, SPERGEL, 2002).
f) Catalisação de reformas políticas: pode reformular a política ambiental, promovendo a
reestruturação de ONGs e incentivar atividades de parceria entre grupos ambientalistas e o
governo (SPERGEL, 2000).
g) Estimulação da capacidade de absorção: as contribuições dos doadores são distribuídas
às ONGs e outras organizações, por longos períodos, e isso facilita a gestão dessas organizações
que recebem os recursos (SPERGEL, 2000).
h) Financiamento de custos recorrentes: os fundos podem auxiliar na manutenção das
áreas protegidas, cobrindo gastos no pagamento de salários, compra e manutenção dos
equipamentos, veículos e combustível (SPERGEL, 2000).
Em relação à questão financeira, a arrecadação e a manutenção dos recursos oriundos de
doações podem se dar de formas diferentes, dependendo do interesse. O Fundo de Dotação é o
mais comum deles e é estruturado para manter-se em perpetuidade, na medida em que libera
apenas os rendimentos do montante capital arrecadado. Já, o Fundo de Resgate, além de utilizar
esses rendimentos, usa, também, parte do capital a cada ano, até zerar o montante de capital. O
último tipo é o Fundo Rotativo que gasta mais rapidamente seus rendimentos do que o reinveste.
A maior parte da renda é adquirida por meio de taxas de uso, multas ou impostos especialmente
destinados a esse fim (SPERGEL, 2002).
No Brasil, há um exemplo do Fundo de Dotação, que é o Fundo de Áreas Protegidas - FAP
- um fundo fiduciário de capitalização permanente, gerido pelo Funbio19. Os recursos recebidos
de doações são investidos e os rendimentos são utilizados para apoio às UCs. O FAP começou
por iniciativa do Programa Áreas Protegidas da Amazônia - Arpa - do governo federal, em vista
de consolidar e manter UCs no Bioma Amazônia, promovendo o desenvolvimento sustentável e
protegendo recursos naturais presentes na região. Estima-se que até 2013, o FAP deverá contar 19 Funbio: Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
31
com US$ 240 milhões para viabilizar em perpetuidade a manutenção das áreas criadas e
consolidadas pelo Arpa20.
Um dos fundos mais conhecidos é o Global Environment Facility - GEF, cujo campo de
financiamento estende-se às áreas protegidas em nível global. Esse fundo foi criado em 1992 e
está regulamentado nos Artigos 21 e 39 da CDB (CDB, 1992).21 O objetivo do GEF é conter as
ameaças ao ambiente global, no campo da biodiversidade, mudança climática, degradação das
águas e na redução da camada de ozônio. O enfoque do GEF, atualmente, é financiar projetos que
promovam o desenvolvimento sustentável, ou seja, estudos que aliem o desenvolvimento
econômico da região, juntamente com a conservação dos recursos naturais (PHILLIPS, 2000).
No Brasil, alguns dos fundos que financiam projetos para a conservação e/ou projetos de
desenvolvimento sustentável e, ainda, fazem concessões para ONGs e outras organizações
comunitárias são o Fundo Nacional do Meio Ambiente - FNMA - Funbio (BAYON et al, 1998) e
Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata - Fonplata.
As principais vantagens dos fundos de investimento dedicados à manutenção das UCs são a
facilidade, rapidez e versatilidade na liberação e uso dos recursos e o fato do custo de
investimento ser zero para o receptor (FUNBIO, 1998). Há, também, a vantagem dos recursos
estarem constantemente disponíveis, independentemente do orçamento nacional e agências
internacionais e, também, da possibilidade das decisões desses fundos serem participativas, já que
podem incluir a representação de interesses diversos em seu conselho administrativo
(MORSELLO, 2001). Além disso, como os agentes financeiros são capacitados na área
ambiental, em geral, os riscos de dano ao meio ambiente são mínimos (FUNBIO, 1998).
No entanto, a obtenção desses recursos diretamente por uma UC é rara, o que é uma das
desvantagens desse instrumento econômico. Isso ocorre porque existe a dificuldade no acesso a
esses recursos, já que as UCs têm de competir com outros projetos ambientais. Além disso, em
virtude do acúmulo de cargos e obrigações por parte dos chefes das unidades públicas e da
maioria dos funcionários não possuírem capacitação, poucos projetos são elaborados. Essa
situação, porém, não se enquadra para as Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPNs,
cujos recursos financeiros necessários são menores e, portanto, de mais fácil obtenção.
20 http://www.mma.gov.br/port/sca/arpa 16 http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/cdb/decreto1.html
32
Uma outra desvantagem dos fundos de investimento é que, na forma como funcionam,
dificilmente poderão alterar a situação das áreas protegidas brasileiras, embora aumentem o
número de projetos de conservação. Os problemas das UCs, possivelmente, seriam reduzidos por
meio da criação de fundos específicos, ou seja, organizado e administrado considerando os
problemas mais freqüentes das UCs. Da mesma forma, a criação de um fundo específico para
cada unidade também seria vantajoso, pois os investimentos seriam enfocados, diretamente, na
solução dos problemas de uma unidade (MORSELLO, 2001). Outra desvantagem do dinheiro
doado é que como o recurso não precisa ser reposto ao órgão financiador, os beneficiários, em
geral, acomodam-se (FUNBIO, 1998).
V. Débitos convertidos - debt swaps - ou perdão do débito - debt forgiveness
O débito convertido22 em favor do meio ambiente - debt-for-nature swaps - consiste na
conversão de dívidas, que o credor não consegue quitar, em investimentos em projetos ambientais
(UNAIDS, 2004). Esse tipo de instrumento econômico surgiu na década de 80, durante a crise da
dívida externa da América Latina. Nessa época, seria mais rentável para os investidores
perdoarem parte da dívida dos devedores do que esperar um longo período de tempo até serem
pagos. Além de ser vantajoso para o credor - recuperaria parte do pagamento - e para o devedor -
quitaria suas dívidas - a dívida restante geraria fundos para as atividades de conservação
(SPERGEL, 2002, UNAIDS, 2004).
Esse instrumento pode ser de três tipos (SPERGEL, 2002). O primeiro deles envolve um
banco estrangeiro comercial - credor, o governo de um país (devedor) e uma ONG internacional
que trabalha em projetos de proteção ambiental (UNAIDS, 2004). Esse processo se inicia com a
compra da dívida com desconto pela ONG, que por sua vez, negocia a dívida com o governo
devedor. A ONG concorda em cancelar esse débito em troca do compromisso do governo em
investir em projetos ambientais ou depositar valores monetários em fundos de conservação23.
(BARZETTI, 1993, BAYON et al., 2000, PHILLIPS, 2000, SPERGEL, 2002, UNAIDS, 2004).
17 O débito convertido é definido como o cancelamento de uma dívida, que é compensada na obrigatoriedade de pagamento pelo devedor, através de serviços ou investimentos em algum setor. O credor não espera recuperar todo o pagamento que o devedor o deve, mas exige que o mesmo esteja preparado para oferecer alguma coisa em resposta ao cancelamento da dívida em questão (UNAIDS, 2004). 18 Alguns desses fundos favorecidos pelos recursos obtidos desse instrumento econômico de débito em troca foram: Fonama, Ecofondo - Colômbia, Pronatura - Fondo Integrado Pro Naturaleza, Fonaes - Fondo Ambiental De El Salvador (LAMBERT, 2002).
33
O segundo tipo de financiamento envolve governos de dois países, sendo um deles o credor
- país desenvolvido - e o outro, devedor - geralmente, um país em desenvolvimento. As agências
bilaterais de ajuda internacional - como USAID, DGIS ou GTZ - fazem a intermediação da
dívida. Em alguns casos, ONGs conservacionistas ou outras agências financeiras locais também
podem participar dessa transação. Essas agências compram o débito e o negociam com o governo
devedor, que aceita cancelar a dívida em troca do compromisso em financiar projetos ambientais
(SPERGEL, 2002).
Finalmente, o terceiro tipo envolve organizações privadas - empresas ou bancos comerciais;
a organização conservacionista negociará a dívida do devedor - banco de um país em
desenvolvimento - com o credor - banco internacional. Essa negociação poderá ser por meio da
troca de débito em moeda forte por um equivalente maior em moeda local a ser utilizado em
projetos ambientais ou, então, por um bem específico do devedor, por exemplo, terras de alto
valor de biodiversidade. Há situações, também, em que as organizações conservacionistas obtêm,
como doação, fundos bloqueados em moeda local de uma corporação multinacional (SPERGEL,
2002). Além da conversão de débitos, é possível que o credor aceite esquecer ou converter o
débito em retornos econômicos para investimentos na conservação dos recursos naturais locais,
por meio de práticas de débitos perdoados - debt forgiveness ou debt buy-back (KAISER &
LAMBERT, 1996 apud BAYON et al., 2000).
As vantagens dessas operações de troca da dívida externa são quatro: a) redução da lentidão
no pagamento para os bancos comerciais que, além disso, recebem em troca parte do estipêndio
da dívida; b) o doador aumenta seu investimento em conservação, já que compra os bônus a um
valor reduzido e receberá o pagamento a um valor nominal total; c) a nação devedora reduz sua
dívida externa em pagamentos com moeda local, o que reduz as dificuldades de obtenção de
dólares a partir de exportações; e d) a organização receptora e a doadora recebem novos fundos
necessários aos investimentos em conservação (BARZETTI, 1993).
A principal desvantagem desse instrumento é que o pagamento da dívida pode incidir no
aumento de impressão de dinheiro pela nação devedora, o que pode fazer aumentar a inflação
local (DOUROJEANNI, 1997b, BARZETTI, 1993). Além disso, os projetos para salvar a dívida
são instituídos pelo governo local sem a participação da população local (BARZETTI, 1993).
Atualmente, a utilização desse tipo de instrumento econômico, nos países da América Latina, tem
sido reduzido, em virtude da recuperação econômica da região e da pequena taxa de desconto nos
34
débitos do país no mercado secundário. Além disso, no Brasil, em especial, a privatização das
empresas reduziu a viabilidade das transações, em virtude do aumento no valor do bônus da
dívida externa (MORSELLO, 2001).
VI. Lucro das Atividades no Local - Autofinanciamento
A arrecadação de recursos usando o autofinanciamento é uma das principais formas de
obtenção de recursos para a sobrevivência das áreas protegidas, sobretudo porque os governos
esperam que elas se autofinanciem (MCNEELY, 1994, LAPAGE, 1994, MORSELLO, 2001). Os
recursos financeiros podem ser arrecadados pelo uso de recursos e serviços oriundos de UC. Essa
taxa está previsto no Artigo 33 da Lei SNUC: A exploração comercial de produtos, subprodutos
ou serviços24 obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais, biológicos, cênicos ou
culturais ou da exploração da imagem de unidade de conservação, exceto Área de Proteção
Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, dependerá de prévia autorização e
sujeitará o explorador a pagamento, conforme disposto em regulamento (BRASIL, 2000). A
arrecadação pode ser feita por meio de cobrança de ingressos, taxas de serviços, concessões de
exploração de atividades - restaurantes, pousadas - licenças de pesquisa e vendas de artigos
relacionados às UCs (MORSELLO, 2001).
A cobrança de ingressos é a forma mais simples de financiamento das UCs, onde são
permitidas a visitação pública e o uso de serviços e facilidades. Em algumas UCs, essas taxas
cobrem quase completamente os gastos na manutenção das mesmas. Galápagos, no Equador, é
um exemplo disso, onde a taxa de ingresso, embora seja alta para a média das áreas protegidas, é
um dispêndio baixo considerando os gastos de viagem dos turistas pela região. No entanto, nem
sempre essa taxa é cobrada, muitas vezes para não desencorajar a visita da população à região
que é carente economicamente. Já que os parques são bens públicos, o acesso a eles não deveria
ser restrito (MCNEELY, 1989). A não restrição ao acesso, no entanto, pode gerar conseqüências
para a integridade dessas áreas protegidas, como o problema da sobrevisitação (MORSELLO,
2001).
24 Conforme consta no Artigo 25 do Decreto no. 4.340, de 22 de agosto de 2002, entende-se por esses produtos e subprodutos aqueles destinados a dar suporte físico e logístico à sua administração e à implementação de atividades de uso comum do público, tais como visitação, recreação e turismo; e também, a exploração de recursos florestais e outros recursos em UCs de uso sustentável (BRASIL, 2002).
35
Uma maneira de solucionar esse problema é diferenciar as taxas de visitação: uma destinada
a habitantes locais ou residentes no país, outra para visitantes estrangeiros e, ainda, uma outra
taxa, no caso dessa visita contar com o alojamento na reserva. Essas taxas devem considerar tanto
os custos operacionais de cada UC quanto à disposição do visitante em pagá-las (DIXON &
SHERMAN, 1991, LAPAGE, 1994).25 No caso das taxas de ingresso aos turistas estrangeiros,
isso tem tido resultados positivos em Belize - América Central. A cobrança de uma “taxa de
conservação” aos turistas, nos aeroportos do país, tem estimulado a vinda de visitantes
estrangeiros (SPERGEL, 2002).
No Brasil, as taxas de visitação seguem as normas padronizadas pelo Ibama, considerando
os tipos de estadias e visitantes - estudantes, pesquisadores, visitantes comuns - embora não
considere os estudos de disposição a pagar e os custos de operação da visitação. No entanto, a
maioria das UCs brasileiras não cobra essas taxas de visitação, muitas vezes porque a entrada nas
unidades exige um pedido de autorização prévia ao Ibama, o que desestimula os visitantes ou
esses acabam entrando sem o consentimento dos diretores. Além disso, a infra-estrutura precária
das UCs “constrange”, de alguma maneira, os diretores e funcionários a cobrarem o ingresso
(MORSELLO, 2001).
No caso da cobrança de taxas e impostos de usuários, esses tipos de financiamentos
poderiam ser instrumentos econômicos alternativos para a conservação das áreas protegidas.
Essas taxas consistem em cobrar um determinado serviço pelo uso - ou extração - de recursos
naturais presentes nas áreas protegidas. Por exemplo: atividades de pesca, caça, mergulho,
caminhadas, escaladas, canoagem, acampamento, fotografia, pesquisa científica, bioprospecção
seriam pagas por um determinado valor (SPERGEL, 2002). Além dessas atividades, devem ser
cobradas taxas pela extração de petróleo, minério e madeira, localizadas no interior de uma UC.
São exemplos disso, o Fundo de Conservação de Águas e Terras dos Estados Unidos e fundos da
Noruega e Filipinas, que são mantidos graças às taxas pagas por companhias que vendem e/ou
utilizam esses produtos. No caso das companhias de petróleo e mineração, em especial, essas
taxas são importantes para estimular, com maior ênfase, os países detentores desses recursos
naturais a investirem em projetos ambientais e não apenas em se preocupar com os lucros
19 Em geral, 10% do montante de renda arrecadado com essa taxa cobrem os gastos exigidos na manutenção de uma UC (LAPAGE, 1994).
36
oriundos desses recursos naturais. Isso poderia reduzir os riscos da companhia ser desapropriada
ou nacionalizada (SPERGEL, 2002), além de contribuir para a conservação do meio ambiente.
Taxas de proteção às bacias hidrográficas também podem ser cobradas, com base nas
rendas de usinas hidrelétricas - na Colômbia, essa taxa consta na legislação ambiental - e,
também, nas contas mensais dos consumidores - Equador. Essas rendas são revertidas para a
manutenção da cobertura florestal das bacias hidrográficas (SPERGEL, 2002).
Quanto às concessões, por meio de licenciamento de atividades como, por exemplo,
aluguéis de barcos, restaurantes e pousadas, seriam cobradas taxas dos usuários que utilizassem
esses serviços nas áreas protegidas (DIXON & SHERMAN, 1991). Esse tipo de financiamento
seria vantajoso tanto para os empresários quanto para as áreas protegidas. No entanto, as
concessões podem resultar no aumento da carga administrativa das UCs, por conta da
fiscalização dos serviços, o que demandaria mais gastos na conservação dessas unidades
(MORSELLO, 2001).
Na maioria das UCs é permitido o desenvolvimento de pesquisas científicas e isso também
pode ser cobrado pela administração dessas áreas de conservação, por meio de licenças de
pesquisa. O meio científico é um dos principais interessados pela integridade dos recursos
naturais existentes nessas áreas e, para tanto, os pesquisadores deveriam contribuir para a sua
conservação. Uma forma de contribuição poderia ser por meio de recursos financeiros ou
serviços prestados, como por exemplo, a publicação de livros sobre a UC em questão. As áreas
protegidas podem arrecadar recursos financeiros com a venda de camisetas e souvenirs,
especialmente em unidades onde haja centros de visitação. Esse tipo de exploração em UCs
públicas é permitido, observando-se os limites estabelecidos pela legislação vigente sobre
licitações públicas e, desde que, essa exploração esteja prevista no Plano de Manejo da unidade
(BRASIL, 2002)26. A venda de produtos e subprodutos de uma UC poderia ser um instrumento
de propaganda para torná-la conhecida e, com isso, aumentar a arrecadação (BARZETTI,
1993).27
A vantagem dessas formas de instrumento econômico de autofinanciamento é que esses
recursos obtidos são aplicados diretamente na UC em questão, o que facilitaria a gestão nessa
26 Artigos 26 e 28 do Decreto Federal no. 4.340, de 22 de agosto de 2002 (BRASIL, 2002). 27 Na maioria das UCs brasileiras, no entanto, a venda de artigos pode ser uma atividade inviável, sobretudo, devido à incapacidade administrativa dessas unidades. Isso ocorre porque muitas dessas UCs possuem um número insuficiente de funcionários qualificados e, mesmo se a venda desses produtos for terceirizada, os custos administrativos poderiam superar a renda obtida com a venda (MORSELLO, 2001).
37
unidade. No entanto, essa capacidade de se auto-sustentar, na prática, está longe de acontecer
(HOUSEAL, 1992 apud MORSELLO, 2001). Isso porque, apenas uma pequena parte do
montante de renda arrecadada é usada como investimento para a conservação das áreas
protegidas e, muitas vezes, essa renda é insuficiente para a manutenção delas. O restante valor é
alocado para outros projetos do tesouro público. No caso das UCs brasileiras, parte da renda é
acumulada no caixa do Ibama. Isso desestimula a arrecadação de recursos por essas atividades de
financiamento auto-sustentáveis (MORSELLO, 2001, SPERGEL, 2002). Para se ter uma idéia,
há apenas um caso registrado em que a renda arrecadada por meio de taxas foi utilizada em
investimento próprio, assim mesmo, na compra de terras e não para o manejo das áreas
(DRUMMOND, 1988 apud MORSELLO, 2001). Há casos, porém, em que não é possível a
arrecadação de fundos por autofinanciamento em algumas UCs. Daí a importância de que o
montante de renda arrecadado nas UCs existentes seja dividido proporcionalmente no sistema de
unidades (MORSELLO, 2001).
VII. Investimentos Ecológicos
Os investimentos ecológicos consistem na arrecadação de recursos financeiros oriundos da
exploração das áreas protegidas sem causar prejuízos às mesmas. Por exemplo, a extração de
madeira, reciclagem, criação de espécies nativas em cativeiro e turismo ecológico são atividades
que se utilizam da existência das áreas protegidas para fins econômicos (BARZETTI, 1993).
Atualmente, a atividade mais em voga é o turismo ecológico, em que os recursos arrecadados são
revertidos, em sua maioria, para ONGs ou alguma agência governamental, que o reinvestirá em
projetos de conservação das áreas protegidas. 28
A vantagem dos investimentos ecológicos é o aumento da participação popular e
consciência ambiental das pessoas para a conservação da unidade. Esse apoio popular é
importante na gestão de uma UC. No caso do turismo ecológico, em especial, a região do entorno
torna-se mais valorizada devido ao lazer ecológico que a unidade oferece à comunidade local.
Quanto às desvantagens desse instrumento econômico, a atividade exploratória dos recursos
naturais da unidade não é permitida em estações ecológicas e reservas biológicas, pois suas
28 No Brasil, a arrecadação de fundos por meio do investimento ecológico é pouco explorada, embora tenha um grande potencial para isso. Isso por conta das características de suas áreas protegidas, considerando as belezas das paisagens, existência de uma infra-estrutura básica e o fácil acesso às UCs e, também, a estabilidade política do país - sem ocorrência de guerras (MORSELLO, 2001).
38
atividades se restringem à educação ambiental e pesquisas científicas. Além disso, embora a
visitação em algumas UCs seja significativa, a cobrança de ingressos e serviços é incipiente e,
muitas vezes, esses recursos arrecadados vão para a caixa comum do Ibama e não diretamente
para a unidade (MORSELLO, 2001). Deve-se tomar cuidado, no entanto, de não restringir a
arrecadação de recursos financeiros ao turismo, porque essa atividade está submetida a flutuações
no tempo, modismos e problemas com o controle de zoonoses - malária, cólera (BARZETTI,
1993).
VIII. Doações Individuais
Em teoria, a arrecadação de fundos por meio de doações individuais seria fácil, pelo fato
das pessoas serem bastante flexíveis e, sobretudo, se essas pessoas tiverem consciência ambiental
e souberem da importância das áreas protegidas (PHILLIPS, 2000). No entanto, a desvantagem
desse instrumento é que nem todas as pessoas possuem recursos financeiros disponíveis para esse
fim, a não ser que fossem pessoas com um poder aquisitivo razoável. Em regiões onde a renda da
população é alta ou onde a indústria turística é desenvolvida (BARZETTI, 1993), há uma
arrecadação razoável de recursos financeiros e/ou serviços voluntários, que favorecem o meio
ambiente (PHILLIPS, 2000, BARZETTI, 1993). Essas doações podem vir de empreendedores
turísticos, residentes no entorno das áreas protegidas, de visitantes e, também, de grupos
voluntários (BARZETTI, 1993). Mesmo que esses recursos sejam limitados, eles têm a vantagem
de serem regulares e, além disso, é uma maneira de divulgar a importância da unidade à
sociedade.
IX. Quotas por serviços ambientais
Muitos dos serviços ecológicos prestados pelas áreas protegidas são considerados gratuitos,
embora haja métodos para que sejam cobrados (MCNEELY, 1989). Taxas de serviços para a
manutenção de uma bacia hidrográfica, para a captação de águas dos mananciais que abastece
determinada região, extrações de madeira, coletas de peixes e animais silvestres devem ser
cobrados para a conservação das UCs que abrigam esses recursos naturais (MCNEELY, 1989,
MCNEELY et al., 1990 apud MORSELLO, 2001).
A cobrança dessas taxas beneficiaria tanto as áreas protegidas, como as indústrias
comerciais que dependem dos serviços prestados por essas UCs (DOUROJEANNI, 1997b,
MCNEELY, 1989). Além dos benefícios econômicos oriundos da arrecadação de recursos
39
financeiros, o estabelecimento de taxas por serviços ambientais mostraria a relevância das UCs
para os segmentos da população que não demonstram interesse por elas (MORSELLO, 2001). 29
X. Utilização de Convenções Internacionais
Convenções internacionais reforçam a importância de proteção das áreas protegidas e a
conservação da biodiversidade e uso sustentável dos recursos naturais. Há diversas convenções
aplicadas ao meio ambiente, em que o Brasil participa: Convenção para Regulamentação da
Pesca da Baleia, UICN, Convenção de Ramsar, Comércio Internacional de Espécies da Flora e da
Fauna Silvestres em Perigo de Extinção (CITES), Convenção de Espécies Migratórias, Comissão
para Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos, CDB, Convenção interamericana
para a proteção e conservação das tartarugas marinhas. 30
Algumas dessas convenções internacionais financiam áreas protegidas, por meio de seus
fundos de investimento, tais como a Convenção Ramsar, que fornece recursos financeiros para
projetos que possuam em seu interior áreas úmidas (MCNEELY, 1989). Nesse quesito, projetos
de áreas protegidas úmidas e de proteção às aves migratórias têm tido a oportunidade de
concorrer a esses fundos de investimento (MORSELLO, 2001). A desvantagem desse
instrumento econômico é que os recursos arrecadados são distribuídos por meio de projetos
(MORSELLO, 2001).
3.3. Outros Instrumentos Econômicos Utilizados para a Conservação das UCs
Brasileiras
O Brasil possui outras alternativas financeiras para a conservação das UCs ou prevenção de
um dano ambiental, além dos incentivos econômicos descritos anteriormente, tais como o
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Ecológico - ICMS ecológico. O ICMS
ecológico é uma das alternativas de repasse de recursos financeiros para os municípios que
administram unidades de conservação. O estado do Paraná foi pioneiro na arrecadação de fundos
29 Embora essa cobrança de quotas pelos serviços ambientais esteja estabelecida na legislação brasileira - Artigo 21 da Lei SNUC, o pagamento não vem ocorrendo no Brasil, nem mesmo em relação à cobrança pelo uso da água, proveniente de bacias hidrográficas e captadas dos mananciais em UCs. Isso porque, em muitos casos, a lei que prevê o valor a ser pago pela captação da água da UC, em questão, ainda não está regulamentada. No caso de unidades particulares, essas taxas também não têm sido pagas. Isso pela dificuldade de verificar se o proprietário privado está “pagando” por um benefício usufruído pelo restante da população. Nesses casos, algum mecanismo de transferência poderia ser criado (MORSELLO, 2001). 30< http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm>
40
para o ICMS Ecológico que, na época, era um mecanismo de compensação ecológica e,
posteriormente, passou a ser um instrumento de incentivo à conservação ambiental (LOUREIRO,
1997a e 1997b).
O ICMS ecológico está regulamentado no Artigo 158 da Constituição Federal, que trata dos
recursos financeiros de origem tributária. O inciso IV desse artigo define que 75% do produto de
arrecadação do imposto do Estado ficam com os Estados e 25% são distribuídos entre os
municípios. Dessa porcentagem aos municípios, conforme define o parágrafo único, as parcelas
da receita são creditadas conforme as seguintes regras: 75% são distribuídos segundo o critério
do Valor Agregado Fiscal - VAF - e 25% são distribuídos de acordo com a lei estadual ou federal
(LEITE, 2001). “O VAF mede a produção econômica do município (a diferença entre as notas
fiscais de venda e as notas fiscais de compra) e a Lei Estadual é livre para cada estado definir a
sua regra de distribuição. É nesta regulamentação estadual que o ICMS Ecológico pode ser
inserido”. (LEITE, 2001, p.26). Cada estado brasileiro pode criar suas próprias regras de acordo
com as suas particularidades políticas, econômicas e sociais para incentivar práticas
conservacionistas. Por isso, não há uma única forma de funcionamento do ICMS ecológico,
embora algumas questões sejam similares em alguns estados que adotaram esse imposto (LEITE,
2001).31
O ICMS ecológico demonstra ser mais eficaz quando combinado com outros instrumentos
de política pública ou em parceria com os municípios. Os benefícios dessa parceria podem
contribuir para: aumento do número e na melhoria da qualidade da gestão das RPPN e de
unidades de conservação municipais, estaduais e federais; avanços no processo de capacitação
dos profissionais e adoção de instrumentos de gestão ambiental nos municípios. Além disso, o
ICMS ecológico pode trazer benefícios nas despesas de outros programas do governo, que
estejam relacionados com a questão ambiental. Atualmente, em alguns municípios onde
predominam áreas protegidas, os recursos do ICMS ecológico participam significativamente na
receita local e são importantes na economia municipal (CAMPOS, 2000, LOUREIRO, 2002).
Embora o ICMS ecológico seja vantajoso para os municípios que possuem UCs, em alguns
dos estados brasileiros a sua implantação tem tido obstáculos e pode ser inviabilizada. Um dos
31 No Paraná, em especial, esse instrumento mostrou-se bastante eficaz na arrecadação de fundos e em benefícios aos municípios onde se localizam as UCs. Houve um aumento de UCs de 142,8%, até o ano de 1999, o que demonstra o incontestável incentivo na criação de UCs. O montante de recursos envolvidos é de cerca de 35,5 milhões de reais por ano para projetos em meio ambiente. Além disso, o sucesso desse instrumento também tem servido de exemplo para os outros estados brasileiros (LOUREIRO, 2002).
41
problemas refere-se à oposição dos prefeitos e deputados dos municípios, que perderiam no rateio
do ICMS pela sua implantação. Isso aconteceu em Minas Gerais, onde esse incentivo econômico
demorou cerca de dois anos para ser aprovado no estado (LEITE, 2001). Outras dificuldades para
a implantação do ICMS ecológico seriam: a falta de informações precisas sobre as UCs porque o
cálculo dos percentuais a serem repassados requer informações atualizadas das UCs de cada
município e a existência de áreas protegidas no estado pertencentes às três esferas do governo.
Esses problemas foram obstáculos na implantação do ICMS ecológico no Rio de Janeiro (LEITE,
2001).
Um outro fator que poderia contribuir para reduzir a eficácia do ICMS ecológico é o caso
de ocorrer uma “ ´indústria´ da Unidade de Conservação, ou seja, da possibilidade de criá-las
apenas no ´papel´, para efeito da busca de crédito do ICMS ecológico” (LOUREIRO, 1999 apud
LEITE, 2001, p.44). Na verdade, esse dinheiro da arrecadação fiscal não cobriria os gastos de
conservação da diversidade biológica das UCs, mas traria benefícios ilícitos ao Estado, que
poderia desviar o dinheiro para outros serviços.
Os recursos oriundos dessas onze fontes de financiamentos podem ser destinados a
programas regionais, mais abrangentes, acoplados a projetos do governo; ou a programas
pequenos, específicos às necessidades da UC em questão ou que tenham parcerias com
instituições de ensino e pesquisa. Há várias possibilidades de financiamento ao reverter os
recursos dessas onze fontes de financiamento em benefícios às UCs; são elas: conhecimento
científico, apoio técnico na elaboração de projetos, aquisição de material permanente, atividades
de educação ambiental, obtenção de recursos para a manutenção da unidade, suporte na busca de
fontes alternativas de financiamento, recuperação de áreas degradadas, reflorestamento, sistema
de monitoramento e prevenção de impacto ambiental (Quadro 3.1).
3.4. Dificuldades no financiamento das áreas protegidas
Em todas essas fases de gestão, a maioria das áreas protegidas enfrenta dificuldades na
obtenção de financiamentos e na administração adequada desses recursos (MORSELLO, 2001,
42
Quadro 3.1. Possibilidades de financiamento. POSSIBILIDADES DE FINANCIAMENTO FONTE PC AP MP EA AF RA SM IA
TIPOS DE PROGRAMAS
Orçamento público federal, estadual ou local X X Abrangentes Instituições multilaterais e bilaterais X Abrangentes e
específicos ONGs X X X X X X Específicos Fundos ambientais e internacionais X X X X X X X Abrangentes e
Específicos Débitos convertidos ou perdão do débito* X X X X X X X X Específicos Autofinanciamento* X X X X X X X X Específicos Investimentos ecológicos* X X X X X X X X Específicos Doações individuais* X X X X X X X X Específicos Quotas por serviços ambientais* X X X X X X X X Específicos Utilização de convenções internacionais* X X X X X X X X Específicos ICMS ecológico* X X X X X X X X Específicos * os recursos oriundos dessas fontes podem ser destinados a qualquer tipo de projeto da UC em questão, dependendo de sua necessidade.
PC: pesquisa científica e/ou tecnológica; AP: apoio técnico na elaboração e execução de projetos; MP: aquisição de material permanente e aparelhamento da UC; EA: atividades de educação ambiental; AF: auxílio financeiro em projetos de gerenciamento de recursos naturais – manutenção da unidade; S: suporte na busca de fontes alternativas de financiamento; RA: recuperação de áreas degradadas, reflorestamento; SM: sistema de monitoramento; IA: prevenção de impacto ambiental.
PUTNEY, 2000). Em muitos casos, falta disposição e capacidade para administrar o apoio
político, público e financeiro para a conservação das áreas protegidas (PUTNEY, 2000).
Os recursos financeiros advindos das fontes de financiamento são instáveis, ou seja, as UCs
não podem contar sempre com esses financiamentos (PUTNEY, 2000). Isso ocorre, às vezes,
porque as agências financiadoras questionam alguns gastos das UCs, como a compra de terras e o
pagamento de funcionários (MORSELLO, 2001). Também, a administração inadequada das UCs
pode dificultar o manejo eficaz das áreas protegidas. Muitas dessas administrações não estão
preparadas para utilizar os recursos financeiros obtidos por agências de financiamento ou, até
mesmo, de ganhos da própria UC. Devido à má administração, doações não são aceitas porque a
UC não pode utilizar esses recursos. Ou então, essas UCs recebem recursos financeiros no final
do ano, mas não são capazes de gastar esses recursos num período curto e nem mesmo guardá-los
para pagar as despesas do ano seguinte. Faz parte, também, dessa má administração a
problemática da instabilidade trabalhista, que pode resultar na fuga de funcionários competentes e
talentosos (PUTNEY, 2000).
Às vezes, o problema pode ser de cunho político. Os recursos financeiros obtidos com os
serviços oferecidos pela UC, por exemplo, muitas vezes são revertidos para o tesouro nacional,
43
ao invés de serem investidos na própria unidade. Há casos, também, em que o plano de manejo
de uma área protegida não está adequado à realidade da unidade ou da região e não pode ser
implementado (PUTNEY, 2000).
A limitação orçamentária do governo, como discutido anteriormente, para a conservação
das áreas protegidas exige que uma UC deva se tornar menos dependente do Estado. Por isso, é
de particular importância que uma UC possa obter recursos de variadas fontes de financiamento.
Assim, esses tipos de financiamentos identificados e avaliados neste capítulo poderiam ser
importantes para a Estação Ecológica de Águas Emendadas. Para identificar quais fontes seriam
de utilidade para essa UC, necessita-se verificar suas condições de gestão e caracterizar suas
peculiaridades como estação ecológica.
44
4. ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁGUAS EMENDADAS (Esecae)
A Esecae é uma UC de proteção integral, que tem por principal objetivo a proteção da
vegetação e fauna característica do bioma cerrado, bem como a conservação dos recursos
hídricos presentes em sua unidade. Essa unidade compõe a área núcleo da Reserva da Biosfera do
Cerrado - Fase 1 - cujas atividades permitidas possíveis são a realização de pesquisas científicas e
atividades de educação conservacionista (BRASIL, 1981, SEMARH, 2004, LABARRÉRE,
2004).
A Esecae foi criada pelo Decreto no 771, de 12 de agosto de 1968 como Reserva Biológica
e depois modificada para Estação Ecológica, pelo Decreto no 11.137, de 10 de junho de 1988
(IEMA, 1999, BRASÍLIA, 1968, BRASÍLIA, 1988). Ela foi declarada como de utilidade pública,
para efeito de desapropriação, pelo Decreto no 6.004 de 10 de junho de 1981 (BRASÍLIA, 1981).
A Esecae possui uma área de 10.547,21 hectares e está localizada a nordeste do Distrito
Federal, a 50 Km de Brasília, na Região Administrativa de Planaltina – RA-VI (Figura 4.1). Essa
área é composta por um polígono principal - 9.768,00 hectares - e uma área adjacente, onde se
situa a Lagoa Bonita, também, denominada de Mestre D´Armas - 779,22 hectares. O polígono
principal faz limites com três estradas distritais - DF-345/BR-010, DF-205 e DF-12832 - e uma
rodovia federal - BR-02033 (SEMATEC, 1993, IEMA, 1999) (Figura 4.1).
4.1. Gestão e Organograma
A Esecae está, atualmente, sob a administração da Gerência de Preservação do Patrimônio
Ecológico das Unidades de Conservação e Parques Ecológicos, da Secretaria do Meio Ambiente
e Recursos Hídricos - Semarh34. Alguns dos objetivos dessa gerência são: supervisionar a
administração, implantação, manutenção e fiscalização das Unidades de Conservação de Parques
24 DF-345: dá acesso às cidades de São João da Aliança e Alto Paraíso (GO); DF-205: dá acesso a propriedades rurais do entorno; e DF-128 - antiga DF-130: dá acesso à cidade de Planaltina de Goiás. 25 BR-020: dá acesso à cidade de Formosa (GO) e aos estados do norte e nordeste do país. 34 De 1968 a 1993, a Reserva Biológica de Águas Emendadas era diretamente subordinada ao Departamento de Recursos Naturais, da Fundação Zoobotânica do Distrito Federal, da Secretaria de Agricultura e Produção. Esse Departamento foi extinto pelo Decreto no 14.639, de 22 de março de 1993 (BRASÍLIA, 1993a) e a administração da Esecae foi repassada à Gerência de Ecossistemas e Vigilância Ambiental, do Instituto de Ecologia e Meio Ambiente do Distrito Federal - Iema - que, por sua vez, era vinculada à Secretaria do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia -Sematec (BRASÍLIA, 1993b). Em 2000, a Sematec e o Iema foram extintos, transferindo-se suas atribuições para a Semarh - Decreto nº 21.410, de 02 de agosto de 2000 (IEMA, 1999, MMA, 2001, BRASÍLIA, 2000).
46
Ecológicos sob a gestão da Semarh-DF e, ainda, propor e acompanhar a elaboração dos
zoneamentos ambientais e planos de manejo das UCs35.
Atualmente, o administrador da Esecae é subalterno da Gerência de Preservação do
Patrimônio Ecológico das Unidades de Conservação e Parques, da Semarh. No entanto, existe
uma proposta de reestruturação administrativa da Esecae, que está sendo discutida na Semarh,
para que a estação se torne uma unidade administrativa autônoma. Nessa proposta, a Esecae seria
administrada por uma gerência própria, exclusiva, juntamente com seus núcleos administrativos,
e seria subordinada à Diretoria da Preservação, Conservação e Educação Ambiental, conforme
foi relatado por funcionários da Semarh.
Para o administrador da Esecae, entretanto, essa mudança poderá agilizar a capacidade
gerencial, facilitando o processo de gestão da unidade, tanto técnico quanto administrativo, e
principalmente, facilitando a busca de parcerias com outras instituições de pesquisa e na captação
de recursos.
4.2. Pesquisas e atividades educativas desenvolvidas na Esecae
A Esecae pode ser considerada como um dos grandes centros de estudos científicos do
bioma cerrado. A unidade é utilizada, principalmente, por estudantes em pesquisa acadêmicas
tanto em nível de graduação, quanto de pós-graduação. Os recursos bióticos presentes nessa
unidade são fontes de estudo para diferentes tipos de análise científica. Grande parte dessas
pesquisas é relativa a levantamentos da flora36 e fauna37 presente no local. São realizados estudos,
também, sobre os aspectos biológicos e econômicos desses organismos para a sociedade. Um
desses estudos é a revisão taxonômica de uma espécie de fungo causadora de doenças em plantas
de importância econômica. A coleta de algumas espécies, que fizeram parte do estudo, aconteceu
na Esecae.38 Na Esecae são também realizados estudos geológicos e paleontológicos que trazem
35 Home page: <http://www.semarh.df.gov.br/> 27 Os trabalhos que remetem à flora presente na Esecae são: MAURY et al (1994), FERREIRA (1976), FILGUEIRAS & PEREIRA (1993), CODEPLAN (1976), SILVA JÚNIOR & FELFILI (1996), RAMOS et al. (1986), MAURY et al. (1985), FELFILI et al. (1998). 28 Os trabalhos que remetem à fauna presente na Esecae são: MARINHO FILHO et .al. (1998), RODRIGUES (2002), LOPES et al. (2004). 29 REZENDE & DIANESE (2003).
47
explicações sobre a origem da região39. Além disso, são desenvolvidos trabalhos que avaliam o
grau de impacto ao meio ambiente, causado pela ocupação humana na região.40
Muitos desses estudos somente foram possíveis graças à facilidade de acesso a Esecae e,
também, pela boa infra-estrutura de apoio. Para os ornitólogos, em especial, essa UC possui uma
excelente representação da avifauna e oferece boas oportunidades de observação e pesquisa aos
cientistas (MARINHO FILHO et al., 1998). Todos esses estudos mostram a importância
científica dessa UC e evidenciam a sua relevância para o patrimônio científico, além de ecológico
e econômico.
4.3. Caracterização
Conforme dito acima, a UC de Águas Emendadas foi originalmente criada como uma
reserva biológica. Enquanto foi assim caracterizada, ela tinha como objetivo a preservação
integral da biota e não permitia interferência humana direta ou modificações ambientais, exceto
para fins de recuperação41 . Já como estação ecológica, alterações nos ecossistemas continuam
não sendo permitidos, exceto para fins de restauração42 ou com finalidades científicas ou pela
coleta controlada de recursos do ecossistema, em uma área correspondente a no máximo três por
cento da extensão total da unidade e até o limite de um mil e quinhentos hectares (BRASIL,
2000). Essa modificação de reserva biológica para estação ecológica foi justificada pela
importância ecológica dessa UC e o interesse em promover o desenvolvimento de pesquisas
científicas aplicada à ecologia (LABARRÉRE, 2004).
Algumas considerações sobre o Cerrado merecem ser mencionadas para enfatizar a
importância da sua preservação. No âmbito nacional, o bioma Cerrado ocupa quase 25% do
território brasileiro (GEOBRASIL, 2002) e é considerado a savana mais rica do mundo em
biodiversidade de espécies, com um grau de endemismo significativo (BUSCHBACHER, 2000,
GEOBRASIL, 2002). No caso da diversidade florística conhecida, o cerrado conta com 26% dos
gêneros e 65% das espécies estimadas para a América do Sul, quando comparada com os dados
de outros biomas, tais como Chaco, Lhanos e Pantanal (GENTRY et al., 1997 apud FELFILI &
30 Estudos paleontológicos na Esecae estão presentes nos trabalhos: BROD (2003), RIBEIRO (1994). 31 PINELLI (1999). 41 Recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que não necessariamente seja igual à condição original. 42 Restituição: restituição do ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da condição original
48
SILVA JÚNIOR, 2001). Quanto à diversidade de fauna, cerca de 10% a 15% dos vertebrados são
espécies endêmicas. A importância econômica do cerrado para a sociedade é vasta, sendo útil na
indústria farmacêutica e alimentícia, com as plantas medicinais, além do uso na produção de
cortiça, fibras, óleos e artesanato. As espécies de flora do cerrado são importantes, também, sob o
ponto de vista agronômico, pois algumas são fixadoras de nitrogênio43.
No caso da Esecae, é possível reconhecer cinco tipos de fisionomias de vegetação: cerrado
sensu stricto, campo limpo, campo sujo, mata de galeria e vereda.44 Essa diversidade de hábitats
favorece o estabelecimento de uma ampla variedade de espécies de fauna e flora. Comparando-se
a fitossociologia do componente arbóreo da Esecae com o Parque Nacional de Brasília e a Área
de Preservação Ambiental Gama-Cabeça do Veado, a Esecae é a UC mais rica em espécies. Sua
flora, em especial, é bastante representativa e a sua preservação é considerada importante em
estudos de recursos genéticos do cerrado (FELFILI, 1998).
No caso da fauna presente na Esecae, existem 80 espécies de herpetofauna45 e 27 espécies
de anfibiofauna registradas (MARINHO FILHO et al., 1998). Quanto às aves, há 287 espécies
registradas, o que corresponde a 35% do total de espécies conhecidas em todo o cerrado (SILVA,
1995 apud MARINHO FILHO et al., 1998) e 69% das espécies conhecidas para a região do
Distrito Federal (NEGRET et al., 1984 apud MARINHO FILHO et al., 1998). No caso dos
mamíferos, há 66 espécies registradas, o que corresponde a um terço do total de espécies de
mamíferos registrados no bioma cerrado (MARINHO FILHO et al., 1998).
Além dessa diversidade de espécies de fauna e flora, a Esecae é um importante foco de
seqüestro de carbono. Isso ocorre porque essa UC é constituída por cerrado sensu stricto - ou
cerrado típico - cuja vegetação absorve mais carbono do que o emite e a sua capacidade de
armazenamento de carbono é o dobro da capacidade da floresta amazônica (BUSCHBACHER,
2000).
A Esecae é conhecida, também, devido ao fenômeno hidrográfico do nascimento de duas
grandes bacias da América Latina, vertendo de uma nascente comum: Amazônica e Platina. A
43 Home page: <http://www.semarh.df.gov.br> 32 O cerrado sensu stricto brasileiro é uma vegetação de interflúvio, que cresce, sobretudo, em regiões de solos profundos e bem drenados. Já, nos campos - limpo e sujo, há o predomínio de ervas e arbustos, sobretudo, de gramíneas. As matas de galeria, por outro lado, são constituídas por uma rede florestal perenifólia ao longo dos cursos d´água e rodeadas por campos e vegetação de cerrado típico. Enfim, as veredas são ecossistemas dominados por espécies a solos permanentemente alagados - por exemplo: palmeiras arbóreas perenifólias (FELFILI & SILVA JÚNIOR, 2001). 33 Herpetofauna: herpeto (réptil) + fauna (animais). Fauna de répteis. (FERREIRA, 1986).
49
primeira é formada a partir do córrego Vereda Grande, que corre para o norte, encontrando o rio
Maranhão e o Tocantins. Já o córrego Brejinho corre para o sul, engrossa o córrego Fumal e
forma o rio Paraná (IEMA, 1999).
A presença de diversas nascentes, fontes e brejos denotam essa área como um importante
manancial de águas do Distrito Federal (IEMA, 1999). Os córregos Fumal e Brejinho são fontes
de captação de água da Companhia de Saneamento do Distrito Federal - Caesb - na região da
Esecae, além do córrego de Cascarra, que no momento, encontra-se desativado.
4.4. Descaracterização
O Distrito Federal perdeu 74% de sua vegetação original, no período de 1954 a 2001, e as
principais causas dessa degradação foram a pressão urbana e as atividades agropecuárias
(MAURY, 1995, MACHADO et al., 1998, UNESCO, 2002). Em 1994, a soma das áreas
ocupadas pela agropecuária (32,65%), loteamentos irregulares (2,92%) e áreas degradadas
(0,88%) foi de 36,45% da ocupação do solo no DF; enquanto a área ocupada pelo cerrado46 era
de 52,16% (SEBRAE, 1997 apud SINHOROTO, 2002).
Nos últimos anos tem-se constatado uma tendência para desaceleração no ritmo de perda de
cobertura das matas, por conta de uma diminuição do crescimento de áreas agrícolas. Entretanto,
as taxas de ocupação na região continuam altas, enquanto as áreas reflorestadas decresceram e
foram convertidas em ocupações urbanas e rurais (MAURY, 1995, MACHADO et al., 1998,
UNESCO, 2002).
Por conta da perda da vegetação original no Distrito Federal, a preocupação na preservação
da integridade da Esecae tem sido constante, sobretudo pela localização dessa UC. Utilizando-se
os parâmetros definidos por Dudley e Stolton (1999), no Quadro 2.2. (p.13 desta dissertação),
verificam-se quatro tipos de ameaças a Esecae: a) presença próxima de rodovias e expansão
ocupacional humana - conversão e degradação; b) cobertura da área com pasto - empobrecimento
global da ecologia das áreas de proteção; c) mineração; e d) atividade de caça - elementos das
áreas de preservação coletados sem prejudicar a estrutura do bioma (Figura 4.2).
34 Cerrado: mata de galeria, campos, cerrado sentido restrito, cerradão e mata mesofítica
50
Figura 4.2.: Zona Nuclear da Estação Ecológica de Águas Emendadas Fonte: Miranda & Coutinho (2004)
Uma das rodovias separa a Lagoa Bonita do polígono principal e, assim, aumentando a
freqüência de atropelamentos de animais nas rodovias. A expansão urbana da área ao seu redor
tem trazido sérias conseqüências à integridade da unidade de conservação, como a redução da
conectividade dos fragmentos de vegetação natural com outras áreas do cerrado. Esse isolamento
de fauna e flora local pode comprometer o fluxo de material genético e reduzir a biodiversidade e
dilapidação dos recursos naturais (MAURY, 1995, UNESCO, 2002).
A expansão das plantações de soja é um fator preocupante região da Esecae. Essas culturas
agrícolas deixam o solo mais suscetível à lixiviação e erosão acelerada e utilizam grande
quantidade de agrotóxicos. Também causam danos a mineração de calcáreo e argila no seu
entorno (UNESCO, 2002), atividades de caça e coleta ilegal (DAMÉ, 1992), além dos incêndios
acidentais e os provocados (PROUSSIER, 1993, MAPN, 1996 apud MARINHO FILHO et al.,
1998). Um outro problema recorrente da ocupação humana crescente no entorno da Esecae é a
poluição dos córregos e captações impactantes de água nas nascentes, para o abastecimento de
água da cidade de Planaltina - DF (MAPN, 1996 apud MARINHO FILHO et al., 1998).
Essas ameaças à Esecae deveriam ser minimizadas por um quadro de gestão eficaz nessa
UC, dada a sua importância ecológica e econômica. Nesse momento, surgem perguntas para
explicar as causas da ineficácia nos objetivos de preservação ambiental dessa UC, cuja
explicação é um dos objetivos desse trabalho.
Reflorestamento
Chácaras
Área Agrícola
Área Agrícola
Área Urbana (Planaltina-DF)
51
5. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
5.1. Diagnóstico da situação da Esecae
A pesquisa referente ao diagnóstico da situação da Esecae e as possíveis fontes de recursos
para a sua gestão foram realizadas entre setembro de 2004 e fevereiro de 2005. Para fazermos o
diagnóstico da situação da Esecae, utilizamos quatro procedimentos: a) aplicação de um
questionário ao atual administrador da Esecae - Aylton Lopes Santos; b) análises de documentos
sobre a Esecae; c) pesquisa em artigos científicos e livros sobre a Esecae; d) pesquisa em
reportagens sobre a Esecae de jornais de grande circulação; e e) entrevistas com funcionários da
administração da Esecae - Aylton Lopes Santos e Miguel Gonçalves - com Muna Ahmad
Youssef e Isabel da Silva Magalhães do Centro de Vivência da Esecae, com Ana Cristina
Gadelha Correia da Silva da Diretoria de Apoio Operacional e da Gerência de Orçamento e
Finanças da Semarh, com o antigo administrador da Esecae - Sr. Paulo César Magalhães Fonseca
- e com Mariana Antunes Valente - WWF-Brasil.
Em relação ao questionário, as perguntas foram realizadas de acordo com um roteiro
previamente elaborado pelo pesquisador (Anexo). O teor das perguntas foi baseado naquele
desenvolvido pela WWF-Brasil, em 1999, para verificar o grau de riscos de vulnerabilidade das
UCs federais brasileiras (SÁ & FERREIRA, 1999). Optou-se por esse questionário por ser rápido
na sua aplicação e estar de acordo com a disponibilidade de tempo do administrador da Esecae.
Esse processo metodológico é uma variação daquela proposta por Faria, em 1993, que utilizou
indicadores de manejo para medir a eficácia das áreas protegidas. Os indicadores eram
confrontados com os objetivos de conservação das áreas protegidas e verificava-se se essas áreas
estavam cumprindo os seus objetivos (CIFUENTES et al., 2000).
Foram, também, realizadas entrevistas com o atual administrador da Esecae e, também,
com funcionários da Semarh, com o objetivo de esclarecimento de alguns pontos sobre a
administração da Esecae, arrecadação de recursos, o grau de sua implementação e
vulnerabilidade, além dos principais elementos que estariam ameaçando a integridade dos
recursos naturais presentes nessa unidade e as dificuldades na sua gestão. Foram entrevistados,
também, funcionárias do Centro de Vivência da Esecae - Muna e Isabel - e a funcionária da
WWF-Brasil - Mariana - à respeito do programa de educação ambiental “Agua para a vida, água
52
para todos”, desenvolvido na Esecae, em parceria com a WWF-Brasil. Quanto à relação das
despesas da Esecae, os dados relativos ao número e ao salário de funcionários que fornecem
assistência à Esecae foram obtidos em visita à sede da Polícia Militar Ambiental e na do Corpo
de Bombeiros.
Ainda em relação às despesas da Esecae, esses dados foram obtidos por meio de um
ofício, e referente aos materiais de consumo de 2004, na Diretoria de Apoio Operacional da
Semarh. Os dados referentes à captação de recursos da Esecae desde a sua criação foram obtidos
em documentos arquivados na Gerência de Orçamento e Finanças da Semarh - IEMA, 1995,
IEMA, 1996, IEMA, 1999, SEMARH, 2003, SEMATEC, 1993 - e, também, na home page da
Semarh e da Secretaria de Infra-estrutura e Obras do Distrito Federal. Foram, também,
pesquisadas informações sobre a Esecae em artigos científicos e livros, além de pesquisas em
jornais de grande circulação - Correio Braziliense e Jornal de Brasília - em documentos
arquivados na Gerência da Unidade de Conservação e Parques Ecológicos e na biblioteca da
Semarh.
5.2. Fontes de financiamento
Em relação aos recursos financeiros, foram coletadas informações: a) em home pages:
Ministério do Meio Ambiente – MMA - agências de financiamento - BIRD, BID, KfW47 e
IDRC48, Fundação Ford, CIDA, IFC, BEI49, CAF50, ONGs - WWF-Brasil, TNC, CI, FBPN51,
Funatura, Pró-Carnívoros52, Fundação Biodiversitas e Pro-Natura, fundos ambientais de
financiamento - GEF, FNMA, Funbio, Fonplata, Funam53, JBIC54; b) contato por correio
eletrônico com funcionários de ONGs e com um assessor parlamentar; e c) consulta na legislação
brasileira sobre fundos ambientais, programas de financiamento e incentivos fiscais.
Sobre as fontes de financiamento, foi realizado levantamento dos programas e projetos que
atualmente estão sendo investidos e desenvolvidos por essas agências. Foram identificados os
programas em que a Esecae poderia obter recursos, considerando sua categoria de UC de
47 KfW: Kreditanstalt für Wiederaufbau - Banco de Reconstrução da Alemanha 48 IDRC: International Development Research Centre 49 BEI: Banco Europeu de Investimentos 50 CAF: Corporação Andina de Fomento 51 FBPN: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza 52 Pró-carnívoros: Associação para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais 53 Funam: Fundo Único do Meio Ambiente do Distrito Federal 54 JBIC: Japan Bank for International Cooperation
53
proteção integral e, também, os tipos de financiamento aplicados pelas fontes de financiamento -
aquisição de equipamentos, e/ou investimentos em projetos de educação ambiental, e/ou pesquisa
científica, infra-estrutura.
Foram contatadas por correio eletrônico duas ONGs, com o objetivo de esclarecimento de
alguns pontos sobre a atuação e tipo de investimento dessas organizações em programas
ambientais, cujas informações de nosso interesse não estavam explícitas na internet: Funatura e
TNC. Somente recebemos respostas da TNC - Denise Urias - em 30 de setembro de 2004 e -
Heloísa - em 27 de dezembro de 2004. Também, por correio eletrônico, entramos em contato
com um assessor parlamentar sobre a possibilidade do ICMS ecológico ser implantado no
Distrito Federal - mensagens recebidas em 15, 19 e 20 de outubro de 2004. Foram, também,
obtidos dados sobre os fundos e programas de financiamento do governo federal - Pronabio e
FNMA - e distrital - Funam - além do ICMS ecológico.
54
6. A REALIDADE ATUAL DA ESECAE
6.1. Entrevista com o Administrador e análises de documentos
De acordo com as respostas do atual administrador, Sr. Aylton Lopes Santos, ao
questionário, entrevistas com funcionários da Semarh e Esecae e a análise de documentos e
estudos sobre a unidade, a Esecae enfrenta problemas de ordem institucional e é ameaçada pela
expansão urbana.
• Situação Fundiária (Questão 1)
A situação fundiária da Esecae encontra-se quase totalmente regularizada - 90 a 100%, de
acordo com as respostas do administrador ao questionário. Conforme Decreto Distrital55, ela é
declarada de utilidade pública, desde 1981 (BRASIL, 1981). Até os dias de hoje, no entanto, o
processo de desapropriação de algumas terras não foi regularizado. Até meados de 1993, a
Terracap não conseguiu um acordo com chacareiros, que já habitavam a região antes do
estabelecimento da estação ecológica. Conforme consta em reportagens de jornais, essas pessoas
exigiram, na justiça, indenização pelos terrenos e benfeitorias. As terras rurais foram avaliadas
como urbanas e o valor da indenização aumentou, na época, para cerca de US$22 milhões
(PROUSSIER, 1993, RODRIGUES, 1993, TORRES, 1993). No momento, consta que 57,5% da
área desapropriada está regularizada e os hectares de terra restantes - 42,5% - estão em discussão
na justiça sobre o valor que os proprietários das terras desejam receber e aquele que o Governo
do Distrito Federal estaria disposto a pagar.56
• Demarcação Física (Questão 2)
A Esecae encontra-se demarcada - 100%, de acordo com as respostas do administrador ao
questionário - por meio de uma cerca no perímetro da área. Uma de suas mais importantes áreas,
a Lagoa Bonita, no entanto, está separada do polígono principal, pela rodovia DF 128. Essa
55 Decreto no 6.004 de 10 de junho de 1981 (BRASIL, 1981). 56 Atualmente, esse processo de desapropriação de terras está tramitando no Tribunal de Contas do Distrito Federal -TCDF - e, conforme a decisão nº 4701/2003, a Terracap teria que elaborar uma nova avaliação dos imóveis pagos por ela, indenizando os proprietários de terra, no caso, a Empresa Brasileira de Empreendimentos Imobiliários e Agropastoril Ltda. – MINA. Na decisão nº 2281/2004, a Terracap encaminhou cópia dos laudos de avaliação elaborados pela Câmara de Valores Imobiliários do Distrito Federal a serem analisados pelo TCDF (http://www.tc.df.gov.br).
55
proximidade com a rodovia tem limitado a dispersão de espécies de fauna e flora da área
principal para a Lagoa Bonita e vice-e-versa e aumentado a freqüência de atropelamentos de
animais. Estima-se que mais de dois mil vertebrados são mortos por ano nas estradas do seu
entorno (RODRIGUES, 2002), em especial, o grupo dos canídeos-carnívoros, como o lobo-guará
e o cachorro-do-mato, além das jaritatacas, furões, tamanduás-mirins e tatus (MARINHO FILHO
et al., 1998). No caso do lobo-guará, por exemplo, cerca de metade da produção anual de filhotes
é perdida nas estradas (RODRIGUES, et al., 2002, RODRIGUES, 2002).
• Áreas Alteradas (Questão 3)
A porcentagem de áreas alteradas no interior da Esecae é baixa - 0 a 20%, de acordo com as
respostas do administrador ao questionário. Essas alterações podem acontecer devido à captação
de água e, sobretudo, à pressão externa. A Esecae encontra-se ameaçada pela expansão
ocupacional e atividades agropecuárias no seu entorno, que serão discutidas com mais detalhes na
Questão 7.
• Exploração de Recursos Naturais no seu Interior (Questão 4)
Não há exploração de fauna e flora - coleta e caça - no interior da Esecae, de acordo com as
respostas do administrador ao questionário. Isso é saudável, pois a Lei do SNUC não permite essa
exploração em UCs de proteção integral, que é o caso da Esecae, a não ser para fins científicos.
No entanto, em entrevista, o atual administrador da Esecae não tem permitido a coleta de
materiais nem mesmo para pesquisas científicas.
Há, no entanto, captação de água. Os córregos Fumal e Brejinho, localizados na Esecae, são
fontes de captação de água da Caesb, além do córrego de Cascarra que, no momento, encontra-se
desativada. Os dois córregos ativos abastecem a Região Administrativa de Planaltina (RA VI). A
soma da captação mensal de água dos córregos, em 2002 e 2003, foi maior do que o consumo
mensal de água da RA VI, considerando as perdas de água, em média, de 33,5% (CAESB, 2002,
CAESB, 2003). Essa informação sugere que houve um volume de água captado nos córregos
maior do que efetivamente foi consumido pela comunidade e, ainda, ressalta-se uma alta
porcentagem de perda de água tratada. Considerando-se que não há abundância de água na
região, ressalta-se a importância de minimizar essas perdas e o cuidado para que não haja a
superexploração de água na região.
56
A captação mensal desses dois córregos tem aumentado, o que também acarretou o aumento
da contribuição dessas fontes de captação na produção total mensal de água que abastece o
Distrito Federal. A contribuição mensal de captação de água dos córregos Fumal, Mestre
D´Armas e Brejinho aumentou de, respectivamente, 23%, 3,6% e 1,3%, em 2001, para 86,1%,
12% e 1,9%, em 2003, da captação total mensal de água (CAESB, 2001, CAESB, 2003).
Esse aumento de captação tem ocorrido devido aos investimentos da Caesb na área, onde a
disponibilidade hídrica é baixa e a população do entorno está se expandindo, sobretudo com o
aumento de condomínios habitacionais (CAESB, 2001) e das atividades agrícolas. Apesar dessa
expansão populacional, a qualidade das águas captadas dos córregos tem variado de “Boa” a
“Muito Boa” (CAESB, 2002).
A Caesb tem licença de operação para a captação de água no córrego Brejinho
(LABARRÉRE, 2004), Tal captação ainda não foi regulamentada e não tem sido cobrada pela
Semarh. Para se implantar a cobrança na captação de água na Esecae, deve ser regulamentado o
Artigo 47 da Lei 9.985/0057 (BRASIL, 2000). No entanto, conforme entrevista com o servidor
Miguel Gonçalves, a CAESB tem fornecido materiais de apoio à unidade, tais como: uma viatura
(Kombi), um vidrante para abastecer carro-pipa e material de caixa d’àgua.
Além disso, apesar de não estar dentro dos limites da Esecae, é preocupante a mineração de
calcário e argila no seu entorno (UNESCO, 2002).
• Freqüência de atividades de caça e pesca (Questão 5)
O administrador teve dificuldade em definir a incidência - gravidade - das atividades de
caça e pesca, com base no questionário - reduzida, ou mediana, ou elevada. Em entrevista, ele
disse que os moradores do entorno freqüentemente coletam frutos da flora presente no interior da
Esecae e, ainda, disse que há cerca de uma ocorrência de caça ilegal por mês na Esecae. Quanto à
pesca ilegal, atualmente, o numero de ocorrência é insignificante. No passado, no entanto,
segundo o ex-administrador da Esecae, a pesca ilegal na Lagoa Bonita ocorria com freqüência.
57 Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da proteção proporcional por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.
57
• Grau de insularização - percentual de cobertura vegetal natural no entorno (Questão 6)
A cobertura vegetal natural no entorno da Esecae é quase nula - 0 a 20%, de acordo com as
respostas do administrador ao questionário. Num raio de 10 km da Esecae há grandes plantações
agrícolas e ocupação humana (PROUSSIER,1993). Essa ocupação tem contribuído para a perda
da vegetação nativa da Esecae, cuja abrangência reduziu de 41,2%, em 1987, para 35,8%, em
1996 (MACHADO et al., 1998). Os desordenados loteamentos e assentamentos urbanos
irregulares das cidades de Planaltina (DF) e Planaltina (GO), localizados, respectivamente, ao sul
e ao norte da Esecae, são considerados áreas de risco à integridade da Esecae. Há invasão de
plantas e animais exóticos, em especial, os animais domésticos - cães, bovinos, eqüinos, felinos e
suínos, conforme será discutido na Questão 7.
Essa ocupação deveria ser restrita, conforme o Artigo 2 da Resolução Conama no 13, de 6
de dezembro de 1990. Nesse artigo consta que “nas áreas circundantes das Unidades de
Conservação, em um raio de dez quilômetros, qualquer atividade que possa afetar a Biota,
deverá ser obrigatoriamente licenciada pelo órgão ambiental competente” (CONAMA, 1990).
• Formas predominantes de uso da terra no seu entorno (Questão 7)
São a agricultura intensiva e a ocupação urbana, de acordo com as respostas do
administrador ao questionário. Isso pode ser comprovado na imagem de satélite da Esecae da
Figura 4.2. - página 50 desta dissertação. No âmbito agrícola, a expansão das plantações de soja
pode comprometer a integridade dos recursos naturais presentes na Esecae, deixando o solo
suscetível à lixiviação e erosões. Além disso, a utilização de intensa quantidade de agrotóxicos
pode provocar o envenenamento da fauna e contaminar os mananciais hídricos, comprometendo a
qualidade da água na Esecae, em especial da Lagoa Bonita (DAMÉ, 1992, SEMATEC, 1993,
PROUSSIER, 1993). A poluição dos córregos e a captação exacerbada de água nas nascentes,
para o abastecimento de água na cidade de Planaltina (DF), também, podem promover a
degradação e a contaminação da água e da mata nativa da Esecae (MAPN, 1996 apud
MARINHO FILHO et al., 1998).
Quanto à expansão irregular urbana, há o problema da invasão de plantas e animais exóticos
na Esecae (MAPN, 1996 apud MARINHO FILHO et al., 1998), em especial, de animais
domésticos, como cães, (GOULART, 2004), eqüinos, bovinos, suínos e felinos. Esses animais
tornam-se selvagens e competem com a fauna nativa na busca de alimentos, além de trazerem
58
prejuízos com a transmissão de doenças e, principalmente, com a predação de espécies nativas.
(MARINHO FILHO et al., 1998, MMA, 2004). Isso vem estimulando a saída de lobos-guarás da
Esecae para as rodovias e para os assentamentos urbanos, em busca de alimento (RODRIGUES,
2002).
Há, também, a questão inversa. Ou seja, a proximidade de chácaras no entorno da Esecae
estaria atraindo algumas espécies de animais e trazendo prejuízos aos fazendeiros. A maioria dos
fazendeiros ao redor da Esecae é criador de galinha, que é uma das dietas do lobo-guará (DIETZ,
1984 e DIETZ, 1987 apud RODRIGUES, 2002) e há denúncias de que os fazendeiros estariam
matando esses animais (RODRIGUES, 2002).
A expansão urbana nos limites de fronteira da Esecae favorece, também, os incêndios
acidentais e os provocados na unidade (PROUSSIER, 1992, PROUSSIER, 1993, MAPN, 1996
apud MARINHO FILHO et al., 1998). Os primeiros ocorrem quando há secas muito prolongadas
ou quando a mata de galeria está degradada (FELFILI & SILVA JÚNIOR, 1992 e FELFILI, 1997
apud KLINK et al., 2000). Os incêndios provocados ocorrem em sua maioria e são causados por
fazendeiros que utilizam a queimada para o preparo da terra para o cultivo de plantações
agrícolas e se alastram, facilmente, na mata seca, o que provoca grandes prejuízos ao
ecossistema. O fogo, além de matar os animais, causa a destruição de seus abrigos e locais de
nidificação, reduz a disponibilidade de alimentos e, ainda, retarda a regeneração natural da
vegetação, devido à perda de nutrientes do solo (KLINK et al., 2000).
• Grau de envolvimento da comunidade do entorno em atividades desenvolvidas na
Esecae (Questão 8)
O grau de envolvimento da comunidade do entorno está entre 30 e 49%, de acordo com as
respostas do atual administrador da Esecae ao questionário. Ele sugere que a população residente
no entorno não possui consciência da importância ecológica dessa UC e apresenta o exemplo da
caça e coleta predatória. Espera-se, no entanto, que essa freqüência de caça predatória reduza na
medida em que a comunidade do entorno da Esecae saiba da importância ecológica e econômica
dos recursos naturais presentes nessa UC. Esse trabalho de educação ambiental tem sido
conduzido pela equipe de Educação Ambiental da Esecae, em parceria com a Semarh e a WWF-
Brasil, com alunos de escolas públicas da região. Algumas dessas atividades incluem as trilhas
59
dentro da estação ecológica e as informações sobre a importância ecológica e econômica das
espécies de fauna e de flora presentes na Esecae.58
Além de desenvolver atividades ambientais com estudantes primários e secundários de
escolas públicas, o trabalho de educação ambiental tem envolvido, também, os professores. Em
setembro de 2004, foi realizado o Congresso da Estação Ecológica de Águas Emendadas, onde os
professores e alunos puderam apresentar os resultados de uma pesquisa de opinião sobre o meio
ambiente. O objetivo desse congresso era o de envolver a comunidade na questão ambiental, em
especial, na UC mais próxima, que é a Esecae.59
• Relação entre os recursos financeiros aplicados e aqueles necessários para o manejo da
Esecae (Questão 9)
A relação entre os recursos financeiros aplicados e aqueles necessários para o manejo da
Esecae esteve entre 50 e 69%, em 2004, de acordo com o questionário respondido pelo atual
administrador da Esecae. Os recursos financeiros são insuficientes para a manutenção da unidade
e são, também, não-seguros, ou seja, o valor que a Esecae irá receber da Semarh é incerto.
Conforme a ser apresentado no item 5.2, mais abaixo, as despesas financeiras para a manutenção
da Esecae, no ano de 2004, foram de R$ 3.961.881,74 - cerca de R$ 330.156,81 por mês. As
despesas com recursos humanos, em especial, foram aquelas que mais comprometeram o
orçamento. Os recursos financeiros que mantém a Esecae e os projetos de educação ambiental
advêm, atualmente, somente do Governo do Distrito Federal e da WWF-Brasil.
O administrador não soube quantificar um valor para os recursos que estariam faltando para
a manutenção da unidade. Essas despesas supririam os gastos na estrutura da administração, ou
seja, na manutenção da instalação física e de equipamentos da Esecae.
58 Em março de 2003, em comemoração ao Dia Temático de Água Doce, estudantes de escolas públicas participaram de atividades pela preservação da água doce, no projeto Amigos da Escola. Esse projeto contou com a parceria da WWF-Brasil e da Unesco e envolveu UCs localizadas em 10 estados do Brasil. No Distrito Federal, a UC escolhida foi a Esecae. Além de obterem informações sobre a Esecae, visitarem o marco das águas e as trilhas ecológicas, os estudantes receberam um kit educativo para desenvolverem campanhas de conscientização em suas comunidades (http://www.wwf.org.br/informa/). 59 A pesquisa sobre o meio ambiente era parte do Curso de Reeditores Ambientais, que é uma das ações conservacionistas do projeto Águas do Cerrado e está inserida na Campanha Água para a Vida, Água para Todos. Esse projeto tem por objetivo desenvolver estratégias de corresponsabilidade e participação da comunidade do entorno da Esecae, para promover ações e práticas conservacionistas em relação à UC e aos recursos hídricos da região (http://www.wwf.org.br/informa).
60
• Número de funcionários (Questão 10)
A Esecae conta, atualmente, com 107 servidores que trabalham diretamente na unidade.
Eles estão distribuídos da seguinte maneira: 78 são funcionários diretamente ligados à unidade e,
desses, 59 são requisitados da Belacap60, 12 são Policiais Militares Ambientais e 17 são do Corpo
de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Para o atual administrador, esse número de
funcionários é o ideal para a unidade e, nesse quesito, a unidade possui razoável capacidade
administrativa.
• A qualificação da equipe de funcionários (Questão 11)
O índice de servidores qualificados é baixo - 30% a 49% dos funcionários são qualificados
para a função, de acordo com a resposta do administrador ao questionário. Essa carência, no
entanto, é parcialmente suprida com intervenção de instituições parceiras da Esecae, como a
Polícia Militar Ambiental - que é responsável pela vigilância no local - e o Corpo de Bombeiros –
que auxiliam a Esecae quando há incêndios florestais. Quando há necessidade, junta-se à Brigada
de Incêndios da Esecae, a Brigada Voluntária de Combate a Incêndios Florestais - Brigada
Florestal - da Patrulha Ecológica.61 Essa última é uma ONG ambientalista sediada em Brasília,
cuja maioria dos brigadistas (90%) é qualificada para o cargo, pois recebe treinamentos do
Ibama/Prevfogo e/ou Corpo de Bombeiros.
• Infra-estrutura da Esecae (Questão 12)
De acordo com o atual administrador, em resposta ao questionário, a Esecae possui uma
infra-estrutura completa. A unidade possui um laboratório de monitoramento ambiental62, centro
de informação ambiental - educação ambiental - sede administrativa e alojamento para
pesquisadores. Além dessas construções, a Esecae conta com duas torres de observação,
localizadas em pontos estratégicos para a fiscalização da unidade63.
60 Serviço de Conservação de Monumentos Públicos e Limpeza Urbana do Distrito Federal 61 Home page: http://www.patrulhaecologica.org.br/ 62 O laboratório foi implantado graças a um convênio entre a Sematec e a Universidade de Brasília (UnB). Esse laboratório tem sido importante por fornecer informações sobre a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, o efeito estufa e as condições da camada de ozônio (RODRIGUES, 1994). 63 Nessas torres, fiscais munidos de rádio de comunicação e de goniômetro - aparelho para medição de ângulos, facilitando localização de pontos e, conseqüentemente, auxiliando a fiscalização e o combate a incêndios na unidade (PEDRO, 1994, DAMÉ, 1992).
61
Embora possua uma boa infra-estrutura, a Esecae ainda não possui um Plano de Manejo.
Ela conta, no entanto, com um Plano de Ação Emergencial, desde 1996. Em 2003, foi elaborado
um termo de referência para a elaboração do plano de manejo e a contratação de serviços para a
sua execução está, atualmente, em processo de licitação (MMA, 2001, SEMARH, 2003). O plano
de manejo serve de orientação aos administradores sobre o que deve ser feito na UC a fim de
proteger os recursos naturais presentes na unidade. No caso da Esecae, esse plano de manejo tem
por objetivo inicial caracterizar a unidade, na identificação da fauna e flora presente na unidade,
além dos aspectos abióticos - clima, geologia, relevo e geomorfologia, solos e hidrografia – e
fazer um levantamento do patrimônio cultural e socioeconômico na região. Esse plano, também,
deve comentar os benefícios ou prejuízos à unidade da legislação federal e distrital pertinente,
além de identificar as fontes de recursos financeiros e orientar a aplicação dos mesmos na
unidade de conservação. Propõe-se, ainda, nesse plano de manejo, a realização de estudos
específicos sobre a prevenção e combate aos incêndios, a visitação e a educação ambiental
(SEMARH, 2003).
• Quantidade de Equipamentos e Materiais (Questão 13)
De acordo com o atual administrador, em resposta ao questionário, a Esecae possui
transporte e comunicação e parte dos demais equipamentos e materiais necessários ao
funcionamento da unidade. Em entrevista, ele complementou que a Esecae possui uma boa frota
de veículos de transporte para a ronda na região, num total de doze: um veículo esportivo, quatro
caminhonetes, três veículos Kombi, dois ônibus, um trator e um caminhão pipa. Além disso, essa
UC conta com materiais de comunicação interna e externa à unidade e, ainda, parte dos demais
equipamentos e materiais necessários para o funcionamento da unidade - equipamentos de
fiscalização e de escritório e material de consumo. Atualmente, está sendo estudada a compra de
equipamentos de câmaras a serem instalados em locais estratégicos na unidade, como uma tática
auxiliar na fiscalização e monitoramento dos recursos naturais presentes na Esecae. É válido
lembrar que, apesar das vantagens da fiscalização e punição dos acusados do dano ambiental, em
longo prazo, é provável que aumente um antagonismo em relação às áreas protegidas, por parte
da população local (KARANTH & MADHUSUDAN, 2002) e isso poderia acontecer em relação
à Esecae.
62
• Grau de comunicação com os administradores de outras UCs (Questão 14)
Há grande troca de informações com as UCs localizadas no Distrito Federal - 90 a 100%, de
acordo com a resposta do atual administrador ao questionário - sobretudo no quesito combate aos
incêndios florestais. No entanto, caso fosse considerado as UCs de outros estados, esse grau de
comunicação se reduziria para 0 a 29%, ou seja, é quase inexistente.
• Capacidade de gestão institucional (Questão 15)
De acordo com a resposta do atual administrador ao questionário, a Esecae encontra-se
adequada em um percentual compreendido entre 70 e 89%, incluindo a gestão desde a Semarh até
a administração direta da Esecae, mesmo considerando os problemas envolvidos: financeiro e
ausência de plano de manejo.
6.2. Despesas Financeiras da Esecae
6.2.1. Custos Diretos
O Governo do Distrito Federal gasta, anualmente, cerca de R$3.961.881,74 - cerca de
R$330.156,81 por mês - para a manutenção da Esecae, conforme mostra a Tabela 6.1. Observa-se
que as maiores despesas são com a manutenção de servidores.
Considerou-se a provisão de 5% sobre os gastos eventuais, para cobrir gastos não
planejados com a operação da Esecae. Além disso, foi considerada uma provisão de 25% para
fins de investimento em melhorias e recuperação do estado atual de degradação ambiental. Por
fim, adicionou-se o custo de remuneração do capital, admitindo-se um rendimento de 6% ao ano
(LABARRÉRE, 2004). Nesses gastos não estão inseridos os projetos de educação ambiental,
organizados pela Esecae ou outros programas que poderiam contribuir para a conservação da
biodiversidade presente nessa unidade. Esses programas de educação ambiental, atualmente,
estão sendo financiados pela WWF-Brasil e pela Semarh.
A diferença exacerbada nas despesas da Esecae entre os anos 2001 e 2004 pode ser
explicada devido a compras de equipamentos de fiscalização e, também, devido ao aumento do
número de servidores atuantes na Esecae. Em entrevista com o administrador da Esecae, ele disse
que em 2001 havia cerca de 20 funcionários trabalhando diretamente na unidade, um número
inferior do quadro de 107 funcionários presentes em 2004. Após a terceirização de cargos da
63
Belacap em 2002, seus funcionários foram remanejados para outros órgãos do governo, entre eles
a Semarh, que por sua vez, transferiu alguns deles para trabalharem diretamente na Esecae.
Tabela 6.1: Custo anual de manutenção da Esecae nos anos 2001 e 2004.
Custo Total (R$/ano) Especificação
2001 2004 1. Despesas orçamentárias (a) 26 251,07 124 824,00
1.1. Serviços 64 13 313,03 24 000,001.2. Material de Consumo 11 976,44 2 000,001.3. Material Permanente 961,60 98 824,00
2. Despesas de pessoal (b) 182 487,41 2 750 271,602.1. Servidores Semarh 133 037,41 1 789 132,002.2. Policia Militar Ambiental 22 100,00 303 600,002.3. Bombeiros 65 20 400,00 510 000,002.4. Serviço de terceiros 66 6 950,00 147 539,60
3. Provisão Despesas Eventuais (c) 10 436,92 143 754,78
4. Provisão de Investimentos (d) 52 184,62 718 773,90
Total Despesas Esecae (a+b+c+d) 271 360,02 3 737 624,28
Remuneração do capital 16 281,60 224 257,46
Custo Total 287 641,62 3 961 881,74Fonte: Semarh apud Labarrére (2004), Comunicação própria I (2004)67, Semarh (2004), Comunicação própria II (2004)68, Comunicação própria III (2004)69.
6.2.2. Custos Indiretos
Segundo o atual administrador da Esecae, não há pedidos de indenização, por parte dos
proprietários de chácaras localizadas no entorno da unidade, que possa ter sido prejudicado por
algum dano causado a animais de sua propriedade. No entanto, segundo Rodrigues (2002), alguns
desses proprietários de terra da Esecae acusam lobos-guarás de matar suas galinhas, o que
poderia causar prejuízo econômico à renda familiar. Entretanto, o consumo de animal doméstico
é eventual e pouco importante para a dieta de um canídeo (RODRIGUES, 2002).
64 luz e telefones 65 9ª Companhia Regional de Incêndio. Endereço: http://www.cbm.df.gov.br. 66 aceiros 67 administrador da Esecae 68 Corpo de Bombeiros 69 Polícia Militar Ambiental
64
6.3. Recursos Financeiros da Esecae
Os recursos financeiros que mantêm a Esecae e os projetos de educação ambiental advêm,
atualmente, somente da Semarh e da WWF-Brasil. A WWF-Brasil está financiando projetos de
educação ambiental na Esecae, por meio do programa “Água para a Vida, Água para todos”. De
acordo com uma funcionária dessa ONG, via correio eletrônico, o apoio da WWF-Brasil à Esecae
é técnico e financeiro. Durante dois anos, foram despendidos R$ 45 mil; a partir de agosto de
2005 serão gastos cerca de R$ 35 mil e, em 2007, é previsto o financiamento de R$ 25 mil para
esse projeto.
6.4. Exemplos de Recursos Alternativos Recebidos em Anos Anteriores pela Esecae
Conforme mostra a Tabela 6.2., entre 1994 e 1996, o Iema - atual Semarh – órgão estadual
que administra a Esecae - firmou três convênios com o Ibama para a obtenção de recursos do
PNMA, advindos do BIRD e do KfW, com contrapartida do governo brasileiro.
Tabela 6.2: Financiamento de agências financeiras em projetos envolvendo a Esecae.
Período Agências Programas Projetos Financia-mento (R$)
Convenio Ibama 39/94 S/n Convênio Ibama 58/95 248 000,00
1994 a
1997
BIRD e KfW
PNMA Convênio Ibama 48/96 265 458,00
2000 BID
Programa de Saneamento Básico do Distrito Federal
1) elaboração de um plano diretor de recursos hídricos do Distrito Federal;
2) proteção de nascentes e áreas de cabeceira do DF; 3) conservação da biodiversidade por meio do uso da
biotecnologia; 4) capacitação de recursos humanos; 5) fortalecimento da fiscalização ambiental; 6) implantação de parques vivenciais sustentados; 7) prevenção e combate aos incêndios florestais do DF; 8) educação ambiental.
47 000 000,00
Fonte: IEMA (1995, 1996, 1997), BID (1998), DF (2004), MMA (2001). S/n. valor desconhecido
Não foi possível obter os dados relativos ao primeiro convênio - Convênio Ibama no 39/94.
Quanto ao segundo - Convênio no 58/95, o mesmo foi executado na Esecae, entre 1996 e 1997
(IEMA, 1995) e contemplou os seguintes gastos:
65
a) aquisição e manutenção de materiais: veículos, cercas, equipamentos de combate a
incêndios florestais, materiais permanentes - móveis, ferramentas, abertura e reparos de aceiros
externos à Esecae;
b) infra-estrutura: reforma do alojamento para pesquisadores e do centro de pesquisa da
unidade - Centro de Pesquisa Ecológicas Ezequias Heringer, construção de um centro de
visitantes - Centro de Informações Ambientais Luís Eduardo Alves de Carvalho - recuperação do
reservatório de água junto à Administração da Esecae;
c) estratégia de gestão: elaboração dos planos emergencial e de prevenção e combate a
incêndios florestais, produção de material de divulgação - vídeo, folder e livro sobre a vegetação
da unidade;
d) fiscalização da área: patrulhamento motorizado e com eqüinos, em conjunto com a Polícia
Militar Ambiental (IEMA, 1996).
O terceiro convênio - no 48/96 - que foi executado em 1997, também previu gastos com a
implementação da Esecae, em especial, para despesas com a aquisição e manutenção de
equipamentos e instalações e, ainda, realização de obras e programas de educação ambiental. O
Ibama desprendeu R$204.198,00, com a contrapartida do Iema de R$61.260,00. Os gastos
oriundos desses três convênios foram investidos integralmente na Esecae.
Em 2000, a Esecae recebeu investimentos do BID, por meio do Programa Saneamento
Básico do Distrito Federal (DF, 2004, BID, 1998, IEMA, 1997), que foi importante para a
implantação da Agência de Regulação dos Recursos Hídricos e, também, de um regulador de
prestação de serviço de água potável e saneamento no Distrito Federal (DF, 2004). Os valores
investidos foram categorizados em projetos ambientais, ao invés de UCs envolvidas. O valor
mostrado na Tabela 6.2 contempla o financiamento total do BID no programa, incluindo todas as
UCs de responsabilidade do Governo do Distrito Federal, entre elas a Esecae.
Um aspecto importante para esta Dissertação é a pouca arrecadação de recursos advindos de
fontes alternativas de financiamento. Analisando-se a realidade atual da Esecae, nota-se também,
que a Esecae arrecada poucos recursos oriundos dos serviços prestados dentro da unidade. Por
exemplo, a administração da Esecae não tem cobrado ingressos e serviços prestados advindos das
visitas de educação ambiental e das pesquisas científicas desenvolvidas na unidade - arrecadação
por autofinanciamento - discutido no Capítulo 3. A obtenção desses recursos oriundos de
agências de financiamento deveria ser incentivada.
66
7. RECURSOS FINANCEIROS QUE PODERIAM SER OBTIDOS PELA
ESECAE
7.1. Financiamento oriundo do orçamento público - federal, estadual ou local
I. Programa Nacional da Diversidade Biológica - Pronabio
O Pronabio70 tem por objetivo aliar a conservação da diversidade biológica com o uso
sustentável de seus recursos naturais e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios decorrentes
dessa utilização (MMA, 2001). Ele tem obtido apoio administrativo do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento - PNUD - e é financiado pelos fundos recebidos do GEF e do
BIRD (MMA, 1998). Esse programa possui projetos que enfocam conhecimento - acesso aos
recursos genéticos, conservação, monitoramento, avaliação, prevenção e mitigação de impactos
sobre a biodiversidade. Além disso, são desenvolvidos projetos de gestão institucional das áreas
protegidas e, também, são promovidas atividades de educação ambiental para a sensibilização
pública e divulgação sobre os benefícios da biodiversidade (BRASIL, 2003, MMA, 2001)71.
Um desses projetos é o Probio - Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da
Diversidade Biológica Brasileira, que tem por objetivos a geração e divulgação de conhecimentos
e informações sobre biodiversidade, além da identificação de ações prioritárias e facilitação de
parcerias entre o setor público e o privado.72 Na Esecae, o Probio poderia contribuir com projetos
em educação ambiental e em pesquisas científicas - como já aconteceu. Um dos subprojetos
financiados pelo Probio é a respeito da conservação, recuperação e o estabelecimento de
fronteiras de florestas de galeria naturais e parcialmente degradadas do Distrito Federal e das
regiões adjacentes nos estados de Minas Gerais e Goiás - trabalho foi finalizado em 200073. O
Probio financiou esse trabalho científico em R$836.056,34, com a contrapartida do governo de
R$1.234.000,00 - custo total do subprojeto: R$2.072.056,34. O financiamento dos subprojetos
70 O Pronabio foi criado pelo Decreto nº 1.354, de 29 de dezembro de 1994 e, recentemente, modificado pelo Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002 (MMA, 2004). 71 Decreto no. 4.703, de 21 de maio de 2003. 72 O Probio é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, que atua como gestor administrativo, contratando os subprojetos e liberando recursos. Banco Mundial/GEF é quem administra os recursos financeiros (PROBIO, 2002). 73 Além da Probio/Cnpq, esse subprojeto contou com financiamentos da Finatec e Bird/GEF, além do Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN - e centros de pesquisa – Universidade Federal de Uberlândia, Universidade de Brasília, Embrapa (PROBIO, 2002).
67
patrocinados pela Probio, nos últimos anos, variou de R$51.971,00 a R$1.494.200,00 (PROBIO,
2002).
II. Programa Nacional do Meio Ambiente - PNMA
O PNMA - fase I - foi instituído pelo MMA em 1987-1989. Em 1994, a estrutura
programática foi reorganizada, com a supressão de algumas ações devido à sua ineficácia -
insuficiente definição de resultados, inviabilidade técnica para execução ou relação
custo/benefício elevada. A segunda fase - PNMA II - ainda está em andamento. Sem alterar, na
essência, os objetivos originais do PNMA I, a revisão de meio termo, permitiu um ajustamento na
definição dos objetivos, que estão esquematizados no Quadro 7.1.
Quadro 7.1: Objetivos do PNMA (fases 1 e 2)
Objetivos PNMA I (1987-1989) PNMA II (1994-?) desenvolvimento
institucional Ibama e órgãos estaduais da
Amazônia e Pantanal MMA, Ibama e Órgãos Estaduais
de meio ambiente Estrutura legal e
normativa da área ambiental
Relatórios de Impacto Ambiental – RIMA, gerenciamento de bacias hidrográficas e
zoneamento ambiental
implantação e manutenção de um Sistema Nacional de Unidades de Conservação
proteção de áreas importantes
aliando a questão da conservação ambiental com o desenvolvimento econômico)
implementação de projetos de desenvolvimento sustentável, com base nos princípios de (I) fomento à gestão ambiental
descentralizada; (II) incorporação das administrações locais e da sociedade civil à
gestão ambiental; (III) indução de mecanismos de mercado à gestão do meio ambiente e ao
uso sustentável dos recursos naturais
proteção de ecossistemas sob risco iminente de
degradação
-
desenvolvimento de instrumentos de gerenciamento e ações de proteção a
ecossistemas especiais, declarados como “patrimônio nacional” pela Constituição Federal (Pantanal, Mata Atlântica, Zona Costeira) sujeitos a riscos iminentes de
degradação Agências
Financiadoras BIRD, KfW, contrapartida do
governo brasileiro, PNUD PNUD
Fonte: PNMA74
Esse programa trouxe contribuições na consolidação da área ambiental - área
administrativa e sua descentralização do governo - e, também, propiciou a retomada do controle e
a conservação da Mata Atlântica, Pantanal e Zona Costeira, que estavam ameaçados pela
74 http://www.mma.gov.br/port/se
68
ocupação humana. O PNMA II financiou, também, projetos que visavam o desenvolvimento
sustentável e, além disso, recolocou à disposição do uso social, da indústria emergente do turismo
ecológico e das entidades de investigação científica, um patrimônio paisagístico e de
biodiversidade de incalculável valor.75
A Esecae foi beneficiada no âmbito de financiamentos para o desenvolvimento
institucional da unidade. Ela recebeu auxílio financeiro para a compra de equipamentos de
vigilância-fiscalização da unidade, já que se desde aquela época a Esecae era uma unidade sob
risco iminente de degradação. Além disso, financiou pesquisas científicas, juntamente com outras
instituições de financiamento e centros de pesquisa, na avaliação da flora presente no cerrado, em
especial, no desenvolvimento do Projeto Biogeografia do Bioma Cerrado (MENDONÇA et al.,
1997).
7.2. Investimentos de instituições multilaterais e bilaterais
I. Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento - BIRD
Existem duas metas ambientais do Bird para um Brasil mais sustentável: a questão da
qualidade da água e gestão dos recursos hídricos e, também, o manejo sustentável do solo, das
florestas e da biodiversidade. De todos os programas, o Bird tem privilegiado unidades da região
sudeste, norte e nordeste do país, conforme mostra o Quadro 7.2. Há, no entanto, objetivos a
médio prazo que não são restritos às essas regiões, o que poderia acoplar a região do Distrito
Federal, em especial, a Esecae.
Projetos que poderiam ser desenvolvidos na Esecae obedeceriam ao último tópico desse
quadro: adoção de estratégia para a preservação da biodiversidade. Não há, no momento,
entretanto, um programa financiado pelo Bird/Banco Mundial para a conservação dos recursos
naturais do cerrado. O Arpa e o PPG-7 desenvolvem projetos em florestas brasileiras localizadas
na Amazônia e Mata Atlântica.76 A Esecae pode, no entanto, obter recursos financeiros com as
75 http://www.mma.gov.br/port/se 76 A ARPA, em parceria com órgãos do governo e instituições financeiras - governos estaduais e municipais da Amazônia, GEF, Banco Mundial, KfW, GTZ , WWF-Brasil, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), e organizações da sociedade civil, - comprometeram-se em investir US$400 milhões ao longo de 10 anos na criação, consolidação e manutenção de áreas protegidas na Amazônia. O PPG7, por sua vez, possui cerca de US$350 milhões em recursos comprometidos e empenhados, cujo objetivo principal é promover a proteção e o uso sustentável das florestas e o bem-estar das populações locais. Desde 2003, o PPG7 está em sua segunda fase, que deverá se estender até 2010 (Home page: http://www.mma.gov.br/ppg7 e http://www.mma.gov.br/port/sca/arpa).
69
Quadro 7.2.: Metas ambientais do Brasil, em consonância com o Bird, para um país mais sustentável
Objetivos do país a longo prazo
Resultados de médio prazo que contribuem para os objetivos de
longo prazo
Contribuições apoiadas pela EAP para
obtenção dos resultados de médio prazo*
Opções de atividades selecionadas do Grupo do
Banco para apoiar as contribuições
• Maior número de bacias hidrográficas com concessão legal do direito de água (10% das bacias com direito de água)
• Elaboração e implementação de legislação e instituições integradas para gestão dos recursos hídricos no NE e SE
• Empréstimos programáticos em série para reforma do desenvolvimento sustentável
Melhor qualidade da água, especialmente nas áreas da região Sudeste
• Políticas de recuperação de custos elaboradas e estabelecidas para combate aos danos ambientais no nível local
• Projeto de melhoria da qualidade da água urbana • Empréstimos integrados para a gestão dos recursos hídricos estaduais
Melhor qualidade da água e da gestão dos
recursos hídricos
• Gestão dos recursos hídricos mais eficiente, especialmente na região árida do Nordeste
• Crescente investimento e melhor gestão da infra-estrutura dos recursos hídricos
• Projetos de gestão dos recursos hídricos nos estados do NE • Projetos nacionais de gestão dos recursos hídricos (PROAGUA I & II)
• Zoneamento e fiscalização do uso do solo mais sistemáticos
• Estratégias participativas de planejamento do zoneamento e do uso do solo implementadas nos estados da região Amazônica
• Empréstimos programáticos em série para o desenvolvimento sustentável • Projetos estaduais integrados
• Adoção de estratégia de manejo florestal sustentável, especialmente na região Norte e na Mata Atlântica
• Redução do comércio ilegal de madeira • Maior número de novos parques florestais estaduais e municipais
• Projeto de Proteção das Florestas Nacionais • Fundo de Carbono • Apoio da IFC à responsabilidade corporativa social e ambiental
Manejo mais sustentável do solo, das
florestas e da biodiversidade • Adoção de estratégia para
a preservação da biodiversidade
• Programas oportunos para promoção de tecnologia apropriada ao local • Maior porcentagem de terras protegidas
• ARPA • Programa Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais do Brasil (RFPP, novo e em andamento) • Doações do GEF
Fonte: BIRD (2003).
doações do programa do GEF, por meio de uma parceria. Existe a possibilidade da criação de
projetos apoiados por esse fundo para o cerrado e a caatinga (BIRD, 2003).
70
II. Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID77
O Bid é fonte importante de financiamento multilateral para projetos de desenvolvimento
econômico, social e institucional, bem como programas de promoção do comércio e integração
regional na América Latina e no Caribe. Em nível ambiental, esse banco foi o primeiro a adotar
uma Política de Meio Ambiente, apoiando projetos ambientais nessa região (BID, 1998).
Atualmente, o Bid está propondo, em parceria com o Fundo Multilateral de Investimentos -
Fumin, uma nova política - Política de Meio Ambiente e Observância de Salvaguardas - cuja
meta é promover o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza. Nessa proposta, o Bid
atuará integrando a questão ambiental no contexto do desenvolvimento econômico e social,
considerando os riscos e os impactos ambientais desencadeados por eles - viabilidade ambiental.
Alguns dos setores que o Bid pode investir para reforma de políticas, em longo prazo, é o
florestal e água (BID, 2004). Esse banco reconhece que a biodiversidade deve ser conservada
dentro de parques e reservas, pois a ecologia de muitas plantas e animais requer que sejam
mantidos em áreas protegidas. Por isso, ele apoiaria a consolidação de áreas protegidas,
ajudando-as na sua gestão, por meio de financiamentos, o que asseguraria na proteção eficaz em
longo prazo.
III. Kreditanstal Für Wiederaufbau - KfW78
O KfW foi criado, em 1948, para fornecer financiamentos aos projetos de reconstrução da
Alemanha após a Segunda Grande Guerra, sobretudo, na zona de industrialização ocupada pela
Grã Bretanha. Atualmente, esse banco alemão financia projetos que incentivam a economia, a
sociedade e a ecologia tanto na própria Alemanha, quanto na Europa e no restante do mundo. No
Brasil, a KfW geralmente mantém parcerias com a Funbio, WWF Brasil e Ministério do Meio
Ambiente (FNMA). Na Esecae, em especial, esse banco alemão, juntamente com o BIRD (Banco
Mundial), financiou projetos para esta estação, por meio do PNMA. Conforme foi relatado no
Capítulo 6 desta dissertação, esses projetos contemplaram a construção da infra-estrutura da
unidade, na compra de materiais e na elaboração de planos estratégicos de gestão.
77 Home page: http://www.iadb.org. 78 Home page: http://www.kfw.de.
71
IV. International Development Research Centre - IDRC79
A IDRC é uma corporação pública canadense, que foi criada para ajudar países
desenvolvidos a usar a ciência e o conhecimento tecnológico na prática, ou seja, encontrar
soluções para os problemas sociais, econômicos e ambientais. Um dos programas do IDRC,
MINGA80, em especial, financia projetos de gerenciamento de recursos naturais da América
Latina e Caribe. Esse programa tem os seguintes objetivos: a) gerir os recursos naturais de
maneira sustentável e eqüitativa, incluindo princípios organizacionais para a gestão de conflitos;
b) identificar e desenvolver métodos eficazes para a gestão multisetorial dos recursos naturais, ou
seja, incentiva indivíduos dentro da sociedade a participar de decisões sobre a proteção, uso,
exploração e benefícios dos recursos naturais. Esse apoio ocorre respeitando os direitos legais e
morais dos grupos de interesse.
Um dos projetos investidos pelo programa MINGA foi o ampliamento do plano de manejo
dos recursos naturais no vale de Pearl Lagoon, na Nicarágua, em 2000 - Projeto de
Monitoramento da Área Costeira. Foram gastos cerca de R$20.177,5981 nesse projeto, em
particular, que contribuiu para facilitar a intervenção das comunidades nos processos de tomada
de decisões que afetem o seu meio ambiente e seus meios de vida. Nesse programa, são
desenvolvidos mecanismos participativos para a implementação, monitoragem e avaliação do
regime de manejo de recursos. É um bom exemplo da participação da comunidade desde a etapa
de identificação do problema até a implementação da solução. Isso seria importante na Esecae,
guardando as devidas proporções, para resolver a situação de interferência da população do seu
entorno. Atualmente, não há um projeto que prevê a participação da população do entorno nas
atividades desenvolvidas na Esecae.
79 Home page: http://web.idrc.ca/es/ev-1-201-1-DO_TOPIC.html. 80 Palavra “quechua” que descreve a colaboração das comunidades andinas em tarefas específicas – ex: colheita, sementeiro, construção de moradias. 81 CAD$10 680 – considera-se o valor unitário do dólar canadense, o câmbio de R$1,8893.
72
7.3. Participação de ONGs
I. WWF-Brasil 82
As despesas da WWF-Brasil em projetos voltados às UCs vêm aumentando, a cada ano.
Nos anos 1996 e 1997 foram gastos R$590.147,00; já, nos anos 1999 e 2000 foram gastos
R$6.272.209,00, no “Programa de Biodiversidade e Parques”, cujo objetivo era apoiar a criação e
implementação de áreas de proteção integral nas áreas prioritárias para a conservação (WWF-
Brasil, 2001). Atualmente, a WWF-Brasil pode contribuir com auxílio técnico e financeiro aos
projetos desenvolvidos em UCs de todo o território nacional, por meio do “Programa Áreas
Protegidas”. Ultimamente, esse programa tem atuado nas UCs da Amazônia, ao fornecer apoio
direto na execução do Arpa, sobretudo no suporte das tomadas de decisões, captação de recursos
e no planejamento da criação de novas UCs. O Arpa é coordenado pelo MMA e é implementado
pelo Ibama, em parceria com governos estaduais e organizações da sociedade civil da Amazônia
e fundos ambientais, tais como Funbio, GEF, KfW e GTZ. Os recursos financeiros destinados ao
Arpa vêm aumentando, a cada ano: em 2001, foram investidos cerca de 0,2% dos recursos da
WWF-Brasil – R$22 mil (WWF-Brasil, 2004), já em 2004 esse investimento aumentou para
cerca de 27,2% dos recursos da ONG - R$6.688 mil (WWF-Brasil, 2005).
No caso da Esecae, desde 2003, ela tem obtido apoio financeiro do Programa “Água Doce”
da WWF-Brasil, por meio da campanha nacional “Água para Vida, Água para Todos”, cuja linha
estratégica é o fortalecimento das instituições públicas e privadas que atuam na conservação e
gestão de água. Um dos enfoques desta campanha é a proteção dos mananciais através de
trabalhos com a comunidade, como o projeto “Adote uma Nascente” da Semarh e atividades
incentivando a redução de consumo e o combate ao desperdício. A Esecae tem participado desta
campanha, promovendo atividades de educação ambiental com alunos das escolas públicas de
Planaltina-DF. Ainda são previstos serviços de saneamento, que tem por objetivo de evitar o
desperdício na distribuição de água e aumentar o acesso da população aos serviços de água e
saneamento.
Além do programa “Água Doce”, a Esecae também recebeu recursos da WWF-Brasil, por
meio do Programa “Educação Ambiental”, cujos projetos são desenvolvidos em escolas e
comunidades em todo o país, capacitando profissionais e difundindo experiências bem sucedidas. 82 Home page: <http://www.wwf.org.br/wwf/opencms/site/index.htm>
73
Em 2003, no Centro de Vivência da Esecae, foram desenvolvidos trabalhos de formação de
professores e alunos de escolas da região da micro bacia do Ribeirão Mestre Armas, em
Planaltina/DF. O investimento nessas atividades de educação ambiental na Esecae conscientizaria
a comunidade local quanto à importância dessa UC. A participação da sociedade em trabalhos de
educação ambiental na Esecae é importante por conscientizar a comunidade local quanto à
importância dessa UC e, ainda, poderia minimizar conflitos e pressão externas com a população
local, sobretudo, de Planaltina do DF e de Goiás. Os recursos da WWF-Brasil investidos nesse
programa vêm aumentando a cada ano: de R$258 mil, em 2001 (WWF-Brasil, 2004), para R$474
mil em 2004 (WWF-Brasil, 2005), o correspondente a cerca de 2% do orçamento da ONG, ao
longo dos três anos.
II. The Nature Conservancy - TNC83
TNC é uma ONG presente em vários países, voltada para a conservação da natureza. De
acordo com a TNC, por correio eletrônico (COMUNICAÇÃO PRÓPRIA IV, 2004), no Brasil, o
apoio a unidades de conservação vem acontecendo de diversas formas, desde apoio técnico como,
por exemplo, no desenvolvimento de planos de manejo, até o financeiro. Na década de 90, por
exemplo, a TNC criou um fundo por meio do mecanismo de conversão da dívida externa em
recursos financeiros para natureza. Esse fundo financiou as atividades do Parque Nacional
Grande Sertão Veredas e, ainda, apoiou a aquisição de terras na criação de parques.
Os mecanismos são variados e sua aplicação depende de cada oportunidade, da importância
ecológica da unidade de conservação, se a região está em uma área prioritária para a TNC, do
grau de ameaça, etc. Não existe uma linha de financiamento e não há editais. Cada situação é
analisada separadamente e os recursos são obtidos com parceiros locais, seja governo,
proprietários privados, outras ONGs, para garantir o apoio as unidades de conservação que
identificamos como prioritárias.
Uma atividade que merece atenção é a Agricultura Sustentável no Parque Nacional das
Emas. Assim como a Esecae, essa unidade possui uma grande diversidade de flora, cujas espécies
estão ameaçadas por causa do avanço da agricultura no seu entorno. A TNC, em parceria com o
Fundo Monsanto, está desenvolvendo um trabalho de incentivo em adotar práticas de agricultura
83 Home page: http://nature.org/wherewework/southamerica/brasil/
74
sustentável na região.84 O investimento de US$600 mil tem resultado no aumento da
produtividade, a diminuição dos problemas gerados pela erosão dos solos, a melhora da oferta e a
qualidade da água local. Essa prática alternativa de manejo agrário da TNC poderia ser utilizada
pelos agricultores do entorno da Esecae, cuja lavoura tem prejudicado a conservação dos recursos
naturais presentes na Esecae.
III. Conservation International - CI85
A CI é uma ONG dedicada à conservação e utilização sustentada da biodiversidade. Os
principais objetivos da CI-Brasil são: assessorar o planejamento e estruturação dos
empreendimentos; assessorar a elaboração do plano de negócios e seu acompanhamento; apoiar
os empreendedores a identificarem suas carências gerenciais e a estabelecerem um programa de
treinamento de recursos humanos; assessorar os empreendedores na identificação de produtos
com mais alto potencial de mercado; e dar suporte na busca de fontes alternativas de
financiamento, apoiando também a elaboração de projetos e propostas.
No projeto Corredor Cerrado-Pantanal, em especial, há 5 projetos em andamento: Educação
Ambiental - Amigos da Natureza, Programa de Combate e Prevenção a Incêndios Florestais,
Pesquisa sobre Biodiversidade e Criação Experimental de Queixadas e Alternativas Econômicas.
Esse último projeto, em especial, poderia fornecer ajuda financeira à gestão da Esecae. Nos
últimos anos a CI-Brasil tem firmado parcerias com outras ONGs - Instituto BioAtlântica e
instituições privadas, tais como Ford Motor Company, J.W.Thompson, Citibank, Anheuser-
Busch, Unibanco, Banco Alfa, Bradesco, Hotéis Transamérica e Éffem Mars. Atualmente, esse
projeto conta com o envolvimento dos proprietários e das associações de produtores locais na
recuperação do entorno do Parque Nacional das Emas e do Parque Estadual das Nascentes do Rio
Taquari, junto às importantes nascentes dos rios Correntes, Jacuba, Araguaia, Jaurú e Taquari.
IV. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza - FBPN86
A FBPN é uma instituição sem fins lucrativos, com autonomia administrativa e
financeira, destinada a apoiar e realizar projetos conservacionistas. Ela tem por objetivo
84 Home page: http://www.monsanto.com.br/monsanto/brasil/comunidade/projetos/mo_projetos.asp 85 Home page: http://www.conservation.org.br. 86 Home page: http://www.fbpn.org.br/site/br/home/index.htm
75
apoiar projetos de conservação da natureza, oriundos de órgãos governamentais e não-
governamentais, por meio de programas como o Fundo de Apoio para Projetos de
Ecodesenvolvimento e, também, o Programa de Incentivo à Conservação da Natureza.
O Fundo de Apoio financia projetos que reduzam a pressão sobre os recursos naturais
e fomentem atividades de conservação integral dos mesmos e, ao mesmo tempo, que
incentive o desenvolvimento sócio-econômico da comunidade e melhoria da qualidade
de vida local. Já, o Programa de Incentivo apóia projetos para a manutenção das
unidades de conservação, populações importantes ou sob risco, recuperação de
ecossistemas alterados ou degradados, manejo de unidade de conservação,
conservação e manejo de espécies ameaçadas. O volume de recursos destinado por este
programa é da ordem de US$ 5 milhões. A Esecae poderia desenvolver projetos inseridos no Programa de Incentivo à Conservação
Ambiental da FBPN, cujos editais são publicados anualmente. O mais recente deles - edital 2005,
poderia investir na Esecae, nas seguintes áreas: implantação - de um Plano de Manejo - e sua
manutenção; pesquisa e proteção de espécies e populações importantes ou sob risco e seus
hábitats; (rei)início de um processo de recuperação de ecossistemas alterados ou degradados;
publicação de materiais e realização de eventos da Esecae.
V. Fundação Pró-Natureza - Funatura87
A Funatura é uma ONG ambientalista, criada em 1986, por profissionais ligados à área
ambiental. Seu principal objetivo é a defesa do meio ambiente no Brasil, principalmente no que
diz respeito à preservação da biodiversidade biológica e à melhoria da qualidade de vida da sua
população, contribuindo para o uso sustentável dos recursos naturais em todas as regiões do país,
especialmente, nos biomas Cerrado e Pantanal.
87 Home page: http://www.funatura.org.br.
76
Um dos projetos que merece destaque e poderia servir de modelo a projetos da Esecae é o
Projeto de Implementação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas.88 Esse projeto está sendo
financiado pela TCN através do mecanismo de conversão da dívida externa para fins ambientais.
Os objetivos desse trabalho foram: elaboração de um plano de manejo, regularização fundiária do
Parque e trabalho junto às comunidades locais. As atividades da Funatura com a comunidade do
entorno da unidade trouxeram benefícios quanto à conscientização ambiental das pessoas e,
também, no desenvolvimento de trabalhos produtivos compatíveis com a preservação do parque.
Como resultado, houve redução acentuada da área queimada, anualmente, e eliminação quase
total da caça e da pesca no Parque. Na Esecae, a Funatura poderia oferecer serviços por meio da
execução direta de projetos, programas ou planos de ações e na doação de recursos físicos,
humanos e financeiros.
VI. Associação para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais - Pró-Carnívoros89
A Pró-Carnívoros é uma ONG brasileira, que foi fundada em 1996, e tem projetos em
diversos pontos do país. Sua missão é promover a conservação dos carnívoros neotropicais e seus
hábitats. Na Esecae, a Pro-Carnívoros poderia atuar no desenvolvimento de pesquisa básica -
ecologia, biologia, genética dos animais - e aplicada - auxílio na manutenção da unidade - para
gerar informações científicas para a conservação e manejo das espécies. Além disso, essa ONG
poderia auxiliar nos projetos de educação ambiental - orientação sobre os problemas de predação
à comunidade. Em relação à pesquisa, isso já está sendo feito. Nos dois projetos que foram
desenvolvidos na Esecae, o lobo-guará foi o objeto de estudo.90
Um deles fez um estudo sobre a biologia da espécie - dieta, ecologia, variabilidade genética
- e os fatores de risco à sobrevivência da espécie na região. Já, o segundo projeto enfocou o
impacto das rodovias no entorno dessa UC, em especial, a questão dos atropelamentos de animais
silvestres - lobo-guará - na área de influência da Esecae. Foi feito um mapeamento das estradas e
definidos locais apropriados para colocação de placas. Com a parceria do Ministério Público
Federal, Ministério Público do Distrito Federal e a Semarh, foi reduzido o limite de velocidade de
80 a 60Km na região. Além disso, sugere-se que sejam instalados redutores de velocidade -
88 Nesse projeto, a Funatura obteve parcerias com Ibama,TNC, Pathfinder International, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e Embaixada do Japão. 89 Home page: http://www.procarnivoros.org.br. 90 Os trabalhos foram referenciados nesta dissertação: Rodrigues (2002) e Rodrigues et al. (2002).
77
quebra-molas, nos pontos críticos identificados e, também, poda da vegetação às margens da
estrada, para uma significativa diminuição do número de atropelamentos.
VII. Fundação Biodiversitas91
A Biodiversitas tem por objetivo conservar a biodiversidade brasileira, por meio de
pesquisas científicas e em projetos para desenvolvimento econômico e social. Os programas
efetuados por essa ONG são: conservação da biodiversidade; áreas protegidas; planejamento
ambiental; educação ambiental; capacitação e divulgação; e políticas públicas. A maioria dos
projetos desenvolvidos pela Biodiversitas tem tido apoio de agências de financiamento, tais como
a Fundação MacArthur, GTZ, CI e FBPN.
Na Esecae, a Biodiversitas poderia fornecer serviços de pesquisa científica da
biodiversidade presente na unidade; em projetos de educação ambiental. Desta forma,
possibilitaria o envolvimento da comunidade local na discussão dos problemas da unidade, a
troca de experiências sobre técnicas de manejo sustentado do solo e a ampliação do grau de
informação sobre o meio ambiente. Ele poderia, ainda, auxiliar projetos desenvolvidos pela
administração da unidade.
Em suma, as principais possibilidades de financiamento das ONGs são destinados a
pesquisa científica, atividades de educação ambiental, Investimen-tos na manutenção da unidade,
suporte na busca de fontes alternativas de financiamento, elaboração e execução de projetos,
recuperação de áreas degradadas e doação de recursos físicos, conforme mostra o Quadro 7.3.
Quadro 7.3.: Possibilidades de financiamento de ONGs.
POSSIBILIDADES DE FINANCIAMENTO
ONGs Pesquisa científi-
ca
Educação ambiental
Investimen-tos na
manutenção da unidade
suporte na busca de
fontes alternativas de financiamento
elaboração e execução de
projetos (apoio técnico)
recuperação de áreas
degradadas
doação de recursos
físicos
WWF-Brasil X TNC X CI X X FBPN X X X Funatura X X Pró-carnívoros X X Fundação Biodiversitas X X
91 Home page: http://www.biodiversitas.org.br.
78
TNC: The Nature Conservancy; CI: Conservação Internacional do Brasil; FBPN: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza
7.4. Fundos ambientais nacionais e internacionais
I. Fundo para o Meio Ambiente Mundial - Global Environment Facility - GEF92
O GEF foi criado durante a Eco-92 com o objetivo de fornecer recursos financeiros para
implementação da agenda global definida no encontro (FUNBIO, 2005). Ele conta com a parceria
de BIRD, PNUD e PNUMA93, que administram os recursos do fundo (MCT, 2005). O GEF atua
em quatro áreas: Diversidade Biológica, Mudança Climática, Águas Internacionais e Prevenção
da destruição da camada de ozônio. A primeira área, em especial, enfoca a conservação e o uso
sustentável da biodiversidade presentes em quatro tipos de ecossistemas, dentre eles, as zonas
áridas e semi-áridas (MCT, 2005). As agências executoras podem ser bancos multilaterais de
desenvolvimento, organismos especializados em programas das Nações Unidas, outras
organizações internacionais, organismos bilaterais de desenvolvimento, instituições nacionais,
organizações não-governamentais, entidades do setor privado e instituições acadêmicas. O BID é
um desses organismos que está credenciado pelo Conselho do GEF (MCT, 2005).
A Esecae poderia utilizar o financiamento do GEF nos seguintes projetos (MCT, 2005):
a) avaliação do impacto ocasionado pelo estresse antropogênico causados pela expansão
urbana e da agricultura na região;
b) controle de espécies invasoras (como os cães, por exemplo, que são vistos na região da
Esecae);
c) identificação de componentes de diversidade biológica importante para sua
conservação, observando a lista indicada no Anexo I da Convenção sobre Diversidade Biológica
- há espécies endêmicas na região como, por exemplo, lobo-guará;
d) identificação de processos e categorias de atividades que têm ou provavelmente terão
impactos adversos significantes sobre a conservação e uso sustentável da biodiversidade - a
expansão da agricultura, por exemplo, poderá acarretar, num futuro próximo, na contaminação
dos mananciais, comprometendo a sobrevivência das espécies e causando prejuízos ao homem;
92 Home page: http://www.gefweb.org 93 PNUMA: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
79
e) apoio de atividades de desenvolvimento sustentável na comunidade residentes no
entorno da unidade. Isso poderia fortificar a consciência das pessoas em proteger a
biodiversidade;
f) investimento em pesquisas dirigidas para a conservação da biodiversidade, de acordo
com as prioridades nacionais;
g) investimento em atividades existentes a fim de proteger a biodiversidade - conservação
do solo e recuperação de áreas degradadas
Para identificar as áreas prioritárias, a GEF prioriza vários aspectos que se encontram na
Esecae: existência de altos níveis de riqueza relativa de espécies e/ou diversidade de
habitat/ecossistema; presença de espécies endêmicas dentro de uma área restrita e de sítios de
passagem e de descanso para aves migratórias.
II. Fundo Nacional do Meio Ambiente - FNMA
O FNMA, que foi criado pela Lei no 7.797 de 10 de julho de 1989 (BRASIL, 1989), é
atualmente administrado pelo Ministério do Meio Ambiente94. Esse fundo tem por missão
contribuir, como agente financiador e por meio da participação social, para a implementação do
PNMA (MMA, 2001). Podem concorrer aos recursos do FNMA tanto as instituições públicas, em
níveis federal, estadual e municipal, quanto as privadas brasileiras sem fins lucrativos, que
possuam atribuições estatutárias para atuar em áreas do Meio Ambiente. As UCs são um dos
temas prioritários na seleção de projetos que receberão recursos financeiros do FNMA. No
Distrito Federal, os recursos disponíveis são da ordem de 10 a 20% do recurso oferecido pela
FNMA. A contrapartida da instituição proponente ou das suas parceiras no projeto em questão
poderá ser disponibilizada em capital ou como bens e serviços economicamente mensuráveis para
a execução desse projeto.
A Esecae poderia concorrer aos recursos na área de atuação de “Gestão Integrada de Áreas
Protegidas”. Essa linha temática da FNMA apóia projetos sobre a gestão de Reservas Particulares
do Patrimônio Natural - RPPNs - e, também, projetos de UCs sob administração pública. Nesse
último caso, o FNMA prioriza o financiamento a projetos visando o seu aparelhamento e
capacitação à gestão e elaboração de plano de manejo. No caso da existência desse plano, além
94 Home page: http://www.mma.gov.br/port/fnma/index.cfm.
80
de aparelhar e capacitar a gestão da unidade de conservação, tem-se por objetivo a
implementação das ações previstas no Plano de Manejo.
III. Fundo Brasileiro para a Biodiversidade - Funbio 95
Podem concorrer aos recursos do Funbio instituições públicas ou privadas que atuem no
Brasil, organizações não-governamentais com projetos pertinentes à conservação e ao uso
sustentado da biodiversidade e, também, as comunidades locais beneficiárias dessas ações. Os
projetos podem ser de diferentes modalidades, biomas e regiões, desde que estejam em
consonância com o edital publicado. Projetos provenientes de demanda espontânea não são
aceitos.
A maioria dos projetos em andamento e já com os prazos encerrados96 - Fundos de Parceria,
Fundação Ford/Funbio, Programa de Apoio à Produção Sustentável, Programa Melhores Práticas
para o Ecoturismo - visa à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade no Brasil. Dois
projetos, porém, merecem atenção: edital 96/97 e Áreas Protegidas da Amazônia - Arpa. O
primeiro, que foi concluído em 2000, contemplou cinco grandes temas, entre eles, gestão de
unidades de conservação, cuja unidade escolhida foi o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de
Janeiro. Em seu planejamento era proposto um modelo de gestão participativa, que contemplou,
dentre outros, os seguintes objetivos: levantamento de atividades de uso público; equipamento de
infra-estrutura; situação administrativa, financeira, jurídica e fundiária; e identificação de
possibilidades de parceria. Com a parceria do Ibama e do Instituto de Estudos da Religião
(ISER), o Funbio despendeu R$114.300,00 para o projeto.
O projeto Arpa também tem desenvolvido atividades de gestão, mas é restrito às UCs da
Amazônia. A meta desse projeto considera a infra-estrutura da unidade e tem enfoque no pleno
funcionamento e o cumprimento de sua missão de conservação da biodiversidade. A perspectiva
desse projeto é de duração de 10 anos e tem parceria com a WWF-Brasil, MMA, Ibama, KfW,
Banco Mundial e GEF.
IV. Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata - Fonplata97
95 Home page: http://www.funbio.org.br. 96 O edital de chamada foi encerrado em: agosto/2002 (Fundos de Parceria), outubro/1999 (Fundação Ford/Funbio), 2000 (Programa Apoio à Produção Sustentável), 2000 (Programa Melhores Práticas para o Ecoturismo). 97 Home page: http://www.fonplata.org
81
O Fonplata tem a finalidade de promover o desenvolvimento e a integração dos países
membros - Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Uma de suas atividades engloba
educação e recuperação ambiental na Bacia do Prata (MMA, 2005). No Brasil, por exemplo, em
Campo Grande e Porto Alegre, vêm sendo desenvolvidos programas de preservação e
recuperação de áreas degradadas com o gasto de, respectivamente, US$1,1 milhões e US$6,2
milhões da Fonplata.
Também a Esecae poderia receber financiamentos da Fonplata para projetos de educação
ambiental. Conforme foi dito anteriormente, a nascente de rios afluentes do Rio Paraná, que é um
dos afluentes da Bacia do Prata, encontra-se na Esecae.
V. Fundo Único do Meio Ambiente do Distrito Federal - Funam
O Funam foi instituído pelo Artigo 73 da Lei no 41, de 13 de setembro de 1989
(BRASÍLIA, 1989). Os recursos financeiros destinados a esse fundo são aplicados
exclusivamente em atividades de desenvolvimento científico, tecnológico de apoio editorial e
tecnológico, de educação ambiental e em despesas de capitais relativas à execução da política
ambiental do Distrito Federal (BRASÍLIA, 1994).
Projetos desenvolvidos por ONGs cadastradas podem ter acesso aos recursos do Funam,
desde que os trabalhos visem à implantação e manutenção dos Parques Ecológicos e de Uso
Múltiplo e, ainda, sejam aprovados pela Semarh e pelo Conselho do Meio Ambiente do Distrito
Federal - Conam/DF (BRASÍLIA, 2003)98. Essa parceria ONG e Semarh, com o repasse dos
recursos aos projetos, pode ser realizada por meio de convênios, acordos ou ajustes desde que os
objetivos estejam associados aos do Funam. Os projetos em questão são acompanhados e
avaliados, periodicamente, pelo Conam/DF.
VI. Japan Bank for International Cooperation - JBIC99
O JBIC é um fundo de financiamento, que tem a missão de apoiar o desenvolvimento
estável e sustentável nas estruturas sócio-econômicas dos países estrangeiros e, com isso,
promover o fortalecimento das relações econômicas entre o Japão e a comunidade internacional.
Seus principais objetivos são fornecer o apoio financeiro para o investimento externo e comércio
internacional das empresas japonesas e, também, executar a Assistência Oficial de 98 Regulamenta o artigo 17 da Lei Complementar nº 265, de 14 dezembro de 1999 (BRASÍLIA, 1999). 99 Home page: http://www.jbic.org.br.
82
Desenvolvimento - ODA - do governo japonês através de empréstimos ODA. Esse empréstimo é
concedido com condição subsidiada com longo tempo para sua amortização e baixo juro.
No Brasil, a maioria dos projetos ambientais financiados pelo JBIC é de exploração de
petróleo e de gás, cujos trabalhos são realizados em parceria com a Petrobrás. No entanto, esse
fundo tem interesse, também, em financiar estudos de recursos naturais brasileiros, por meio do
empréstimo ODA, tais como: conservação florestal - gerenciamento, pesquisa para fontes
florestais, reflorestamento, sistema de monitoramento, prevenção de poluição aquática -
tratamento efluente, reciclagem de água - e conservação do ambiente natural - proteção da vida
animal e pesquisa para recursos genéticos, conservação do solo. Esses pontos de interesse estão
presentes na Esecae.
Em suma, as principais possibilidades de financiamento dos fundos ambientais são
destinados a pesquisa científica e tecnológica, atividades de educação ambiental, aparelhamento e
capacitação à gestão e implementação das ações previstas no Plano de Manejo, prevenção de
impacto ambiental, reflorestamento e sistemas de monitoramento, conforme mostra o Quadro 7.4.
Quadro 7.4.: Possibilidades de financiamento de fundos ambientais nacionais e internacionais.
POSSIBILIDADES DE FINANCIAMENTO
Fundos ambientais
Pesquisa científica e/ou
tecnológica
Educação ambiental
Aparelhamento e capacitação à gestão e implementação das ações previstas no Plano de
Manejo
Prevenção de impacto ambiental
Reflo-resta-mento
Sistema de monitora-
mento
GEF X X X FNMA X Funbio X Fonplata X Funam X X X JBIC X X X * X X * poluição aquática
GEF: Global Environment Facility; FNMA: Fundo Nacional do Meio Ambiente; Funbio: Fundo Brasileiro para a Biodiversidade; Fonplata: Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata; Funam: Fundo Único do Meio Ambiente do Distrito Federal; JBIC: Japan Bank for International Cooperation.
7.5. Débito convertido ou perdão do débito
A conversão do débito em favor da natureza é um instrumento de sucesso na Costa Rica,
Equador, Bolívia e Brasil. Um exemplo brasileiro é o financiamento ao projeto de implementação
do Parque Nacional do Grande Sertão Veredas (DOUROJEANNI, 1997b), por meio da quitação
83
de dívidas compradas pela TNC. Ela adquiriu dois milhões de dólares da dívida externa brasileira
e depositou esse recurso no Banco Central. Essa agência internacional tem mediado a conversão
das dívidas externas brasileiras para fins ambientais, em especial, para esse projeto. Juntamente
com a TNC, a Funatura tem apoiado o trabalho de implementação do parque por meio de
pesquisas e outros serviços ambientais (FUNATURA, 2004)100.
Esse tipo de financiamento poderia ser utilizado em projetos desenvolvidos na Esecae.
7.6. Lucro das Atividades Locais - Autofinanciamento
Em consonância com o Artigo 33101 da Lei SNUC e como dito no terceiro capítulo, a
arrecadação de recursos para o autofinanciamento poderia ser feita, segundo Morsello (2001), das
seguintes formas: cobranças de ingressos, licenças de pesquisa, vendas de artigos relacionados às
UCs, taxas de serviços e concessões de exploração de atividades - restaurantes, pousadas. Com
exceção dessa última, todos os outros meios poderiam ser utilizados na Esecae.
A cobrança de ingressos é a forma mais simples de financiamento das UCs, onde são
permitidas a visitação pública. No entanto, o tipo de categoria da Esecae não permite visitação
em seus limites para o público em geral, de acordo com a Lei SNUC (BRASIL, 2000). A maioria
dos seus visitantes é pesquisador ou aluno das escolas públicas da Região Administrativa de
Planaltina. Esses estudantes participam de atividades de educação ambiental, desenvolvidos na
Esecae. Devido a isso, provavelmente, a arrecadação de fundos por essa modalidade não
representaria ganho importante.
Em relação aos pesquisadores que desenvolvem trabalhos no interior da Esecae, a cobrança
de uma taxa - licença de pesquisa - não seria viável - visto que pesquisas na área poderia trazer
benefícios à Esecae, a fim de conhecer e melhorar o manejo da própria unidade. No entanto, é
possível a cobrança dessa licença por fontes alternativas, tais como:
a) Agências de fomento a pesquisa científica
78 O período de execução desse projeto começou em 1993 e o seu término está previsto para 2013 (http://www.funatura.org.br). 101 A exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais, biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem de unidade de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, dependerá de prévia autorização e sujeitará o explorador a pagamento, conforme disposto em regulamento (BRASIL, 2000).
84
Muitas dessas pesquisas recebem financiamentos de agências financiadoras e poderiam
fornecer uma determinada porcentagem dos recursos obtidos para a administração da Esecae. Isto
é, deveria ser incluída a licença de pesquisa na Esecae como custos do projeto. Essas agências de
fomento à pesquisa são o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -
CNPq - a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa - a Empresa Financiadora de
Estudos e Projetos - Finep102 - e, mais recentemente, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito
Federal - FAP-DF. Recomenda-se, também, a criação de um Programa de Pesquisa, na Esecae,
com linhas prioritárias para conseguir fundos de financiamento.
b) Universidades federais e estaduais
Grande parte dos cientistas que estudam os recursos naturais na Esecae pertencem às
universidades públicas - Universidade de Brasília, Universidade de Campinas - ou privadas -
UniCEUB, Universidade Católica de Brasília - e à instituição de pesquisa Embrapa. As
universidades privadas cobram uma mensalidade razoável de seus alunos e não fazem qualquer
repasse para a Esecae. Muitas delas utilizam, também, recursos das agências financiadoras de
pesquisas, tais como, o CNPq e a Embrapa.
c) Uso e exploração comercial dos subprodutos e imagem da Esecae
Pesquisadores de empresas ao usarem imagens da Esecae com finalidade comercial e
usarem produtos e subprodutos da unidade devem pagar uma taxa, conforme está previsto no
Artigo 33 da Lei SNUC – a não ser que o uso da imagem da Esecae for para fins científico,
educativo ou cultural; nesse caso, o uso é gratuito.103 Da mesma maneira, pesquisadores que
estivessem usando os recursos naturais no interior da Esecae como, por exemplo, o consumo da
água, deveria pagar pelo mesmo. Essa taxa pelo uso da água na Esecae será aprofundada no item
6.9 desta dissertação.
As vendas de artigos relacionados à Esecae poderiam ser camisas, calendários, pôsteres e
cartão postal com estampas de paisagens e dos recursos naturais presentes na Esecae. Embora o
retorno da venda desses produtos seja pequeno, poderia ser útil como estratégia de marketing,
102 A Finep é uma empresa pública criada em 1967 e vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que tem por objetivo financiar projetos científicos e tecnológicos de empresas, universidades, institutos tecnológicos, centros de pesquisa e outras instituições públicas ou privadas para o desenvolvimento econômico e social brasileiro. Home page: http://www.finep.gov.br. 103 Artigo 27 do Decreto no. 4.340, de 22 de agosto de 2002 (BRASIL, 2002).
85
para tornar a Esecae conhecida em todo o Brasil. Isso tem sido feito com sucesso pelo Projeto
Tamar, no Espírito Santo e na Bahia. Um capítulo à parte seria a publicação de livros ou Atlas
sobre os recursos naturais da Esecae. É possível até que não dê grande lucro, mas teria um
importante papel na difusão de sua biodiversidade. Por exemplo, poderia ajudar pesquisadores
que não têm a facilidade de vir a Brasília para realizar pesquisa de campo na Esecae.
A aplicação da arrecadação de recursos por autofinanciamento já está prevista em lei. O
Artigo 35 da Lei SNUC (BRASIL, 2000) diz que o montante dos recursos obtidos, oriundos da
sua própria unidade, deverá ser aplicado de acordo com os seguintes critérios:
a) até 50% e não menos que 25% na implementação, manutenção, e gestão da própria UC;
b) até 50% e não menos que 25%, na regularização fundiária das UCs do grupo;
c) até 50% e não menos que 15% na implementação, manutenção e gestão de outras UC do
grupo de proteção integral.
7.7. Investimentos Ecológicos
Os investimentos ecológicos são aqueles que arrecadam recursos financeiros explorando o
potencial econômico da área protegida, tais como a extração de madeira. No entanto, a Esecae,
por ser uma UC de proteção integral, está impedida de extrair recursos de sua unidade. Por
pressuposto, a arrecadação de recursos financeiros por investimentos ecológicos não poderia
ocorrer na Esecae.
7.8. Doações Individuais
Pode-se ser criado, por exemplo, um sistema de “filiação” à Esecae, em que a pessoa
contribuiria regularmente para a sua manutenção, como sugerido por Morsello (2001) para outras
UCs. O investimento nas áreas protegidas pode ser interessante para fortificar a conscientização
ambiental das pessoas, na medida em que elas teriam mais confiança em doar recursos - por meio
de doações espontâneas ou taxas locais - em atividades que elas tivessem certeza que seriam
reinvestidas em prol da conservação (MCNEELY, 1993 apud MORSELLO, 2001). As atividades
de educação ambiental poderiam ser iniciativas interessantes para a arrecadação de doações às
áreas protegidas e, também, uma maneira de minimizar os conflitos que pudessem existir entre a
população local e a administração das áreas protegidas (PHILLIPS, 2000).
86
7.9. Quotas por serviços ambientais
A Caesb tem extraído água dos córregos de Brejinho, Fumal e Mestre D´Armas, que estão
localizados na Esecae. Entretanto, essas captações de água não têm sido cobradas pela Semarh,
conforme estabelece o Artigo 21 da Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997 – Política Nacional de
Recursos Hídricos (BRASIL, 1997), que prevê a fixação de valores para a cobrança de captação e
extração de água, considerando o seu volume retirado e regime de variação.
Atualmente, não existe uma legislação ambiental, regulamentada, específica da cobrança de
captação de águas dos córregos localizados dentro da Esecae. O valor a ser cobrado para cada
metro cúbico de água retirado dos mananciais ainda está em processo de negociação e, ainda, não
existem informações suficientes quanto à quantidade de água retirada da Esecae e o seu impacto
ambiental (LABARRÈRE, 2004). Essa taxa pelo consumo e captação da água nos córregos da
Esecae é de suma importância para a Esecae, por ser uma fonte de recursos para a preservação
dos córregos. De acordo com o Artigo 22 da Política Nacional de Recursos Hídricos, esses
recursos financeiros são aplicados em projetos e estudos incluídos nos Planos dos Recursos
Hídricos da bacia hidrográfica – destacam-se os projetos que tragam benefícios à coletividade,
quantidade e regime de vazão de um corpo de água - e no pagamento de despesas administrativas
do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
7.10. Incentivo Fiscal
A Esecae, no presente momento, não possui respaldo legal para requerer incentivos fiscais
na sua unidade, porque o ICMS Ecológico não foi implantado no Distrito Federal e não há
perspectivas que isso aconteça. Isso porque o Distrito Federal é organizado em Regiões
Administrativas (RAs) (BRASIL, 1988)104 e o montante do ICMS arrecadado pela Secretaria de
Fazenda do DF não é dividida entre as RAs. Esse repasse só acontece de estados para municípios
e, no caso do DF, é vedada a sua divisão em municípios (BRASÍLIA, 1993c)105. Enquanto nos
outros estados brasileiros 25% do ICMS é distribuído aos municípios, independentemente das
necessidades imediatas, no DF, o repasse do montante de renda arrecadado somente ocorre para
104 Artigo 32 da Constituição Federal de 1988. 105 Artigo 10 da Lei Orgânica do DF.
87
cobrir as despesas de custeio e de investimento indispensáveis a sua gestão (BRASÍLIA,
1993c)106.
Como se não bastasse, a vinculação de receitas tributárias na legislação ordinária é vedada
pela Constituição Federal (BRASIL, 1988)107, com exceção dos recursos destinados para a saúde,
ensino e para a realização de atividades da administração tributária. Nesse caso, a destinação de
recursos para as UCs do Distrito Federal somente seria possível com a alocação de recursos na
Lei Orçamentária e Lei de Diretrizes Orçamentárias, que é elaborada anualmente pelo poder
executivo (BRASIL, 1988)108.
7.11. Utilização de Convenções Internacionais
Algumas convenções internacionais provêem fundos de investimento para a conservação de
áreas protegidas, por meio de projetos. No momento, a Esecae não se enquadra em nenhuma
categoria de convenção internacional em vigor.
Verifica-se que, de uma maneira geral, houve uma mudança de enfoque dos financiamentos
das fontes de recursos aos projetos relativos às UCs. Antigamente, investia-se em projetos que
estavam comprometidos com a proteção dessas unidades e em pesquisas científicas. Atualmente,
priorizam-se atividades que contam com a participação da comunidade local e em projetos de
desenvolvimento sustentável. Esse novo enfoque de financiamentos poderia ajudar a Esecae no
desenvolvimento de projetos com a participação da população do entorno à Esecae, que é um dos
maiores problemas da unidade. A Esecae poderia se beneficiar tanto de grandes programas
quanto de pequenos. Quanto ao primeiro, a Esecae poderia participar se inserindo em programas
regionais, mais abrangentes, junto com outras organizações. O benefício em pequenos programas
seria advindo de trabalhos específicos organizados somente pela Esecae ou que tenha parcerias
com instituições de ensino e pesquisa (Quadro 7.5).
Quadro 7.5.: Classificação das fontes de financiamento que poderiam ser implantadas na Esecae Programas Fontes de
financiamento Agências financiadoras e Organizações parceiras
Projetos
Pronabio GEF, BIRD, PNUD Probio Abrangentes (inserção em PNMA BIRD, KfW, PNUD, órgãos do governo PNMA II
106 Artigo 148 do capítulo III da Lei Orgânica do DF. 107 inciso IV do Artigo 167 da Constituição Federal - texto consolidado até a Emenda Constitucional nº 43 de 15 de abril de 2004. 108 Art. 165 da Constituição Federal de 1988.
88
Funbio KfW, WWF-Brasil, MMA, Ibama, GEF Áreas Protegidas Fonplata - Educação ambiental
projetos regionais)
JBIC - Empréstimo ODA
WWF-Brasil KfW, órgãos do governo e universidades Programas Água Doce e Educação Ambiental
TNC débito convertido, Funatura e fundos ambientais
Agricultura sustentável com a comunidade do entorno
CI-Brasil Instituto BioAtlântica e bancos privados Cerrado-Pantanal
FBPN - Programa de Incentivo à Conservação Ambiental
Funatura TNC Execução de projetos e doação de recursos
Pró-carnívoros universidades e centros de pesquisa Pesquisa básica Biodiversitas fundos ambientais, GTZ, CI, FBPN Pesquisas científicas
Funam ONGs cadastradas Manutenção de parques Débito convertido ONGs Pesquisas e serviços ambientais
Autofinancia-mento
universidades estaduais e federais, agências de fomento à pesquisa
Taxas de serviços, cobranças de ingressos, pesquisa
Doações Individuais Educação ambeintal
Específicos (projetos
voltados à Esecae, em
parceria com instituições de
ensino e pesquisa)
Quotas por serviços ambientais Taxas ambientais
7.12. Organizações que não se enquadram como agências financiadoras para a Esecae
Foram pesquisadas inúmeras agências, mas uma grande parte não se enquadra nas
características da Esecae. Seria pouco útil descrevê-las aqui. No entanto, algumas delas foram
selecionadas para demonstrar as dificuldades de se pesquisar fontes de recursos para uma UC,
sobretudo, se a mesma for de proteção integral. A maioria das agências destina os recursos
financeiros e serviços de apoio para projetos que visam o desenvolvimento sustentável. Esses
tipos de projetos não podem ser desenvolvidos em UCs de proteção integral, como é o caso da
Esecae.
I. Fundação Ford 109
A Fundação Ford, criada nos Estados Unidos, tem como objetivos promover o progresso
humano, a consolidação da democracia e financiar projetos que reduza a pobreza e a injustiça.
Uma das áreas temáticas dessa fundação é o Programa de Desenvolvimento Sustentável, que
procura alternativas para assegurar o controle e o uso sustentável dos recursos naturais às
populações desfavorecidas das regiões Amazônica e Mata Atlântica e, também, às comunidades
indígenas e tradicionais.
II. Canadian International Development Agency - CIDA110
109 Home page: http://www.fordfound.org.
89
A CIDA é uma agência do governo canadense que prioriza projetos para desenvolvimentos
social, econômico e sustentável. O trabalho dessa agência é concentrado em países pobres,
localizados na África, Ásia e América Latina, mas, também, financia projetos para o
desenvolvimento democrático e econômico em países da Europa Oriental e na União Soviética
Projetos relativos a Esecae, provavelmente, não estariam nos pressupostos dessa agência
canadense. Isso porque, no Brasil, a CIDA tem financiado, sobretudo, projetos de cunho social e
econômico, para aumentar a participação dos pobres na tomada de decisão pública. Projetos
ambientais relacionados ao desenvolvimento sustentável, também, têm sido financiados, mas com
enfoque social. O projeto “Brazil Inland Fisheries: conservation and sustainable livelihoods”,
com a parceria da Universidade de São Carlos - UFSCar, por exemplo, tem contribuído para um
manejo mais eficaz dos recursos pesqueiros, inserindo a comunidade a participar das questões
políticas e de desenvolvimento da região e, ainda, aprimorando-a a tecerem atividades
alternativas pesqueiras, tais como aqüicultura e ecoturismo na região. A Esecae, por ser uma
unidade de proteção integral, não poderia desenvolver projetos semelhantes.
III. International Finance Corporation - IFC111
O IFC faz parte do Grupo Banco Mundial e tem por objetivo promover investimentos no
setor privado em países em desenvolvimento para reduzir a pobreza e melhorar a vida das
pessoas. Na questão ambiental, a IFC tem apoiado projetos que visam, especialmente, o
desenvolvimento sustentável, trazendo benefícios tanto sociais quanto ambientais. Acredita-se
que o uso sustentável da biodiversidade é indispensável para a sua conservação a longo prazo,
visto que os usuários dos produtos oriundos da biodiversidade terão um incentivo a mais para
protege-la. O Terra Capital foi um desses financiamentos criados pela IFC, em 1996, no qual
priorizou projetos para o uso sustentável da biodiversidade em países, que tenham ratificado a
CDB, da América Latina. O objetivo comercial da Terra Capital era mostrar para as empresas o
retorno financeiro de investimentos que foram feitos na conservação e o uso sustentável da
biodiversidade. Esses investimentos variaram de US$500.00 a US$ 2.2 milhões.
Na área ambiental, a IFC prioriza programas de infra-estrutura e manutenção, que
minimizem os impactos sobre o meio ambiente. Esses financiamentos incluem aeroportos,
transmissão de energia elétrica, rodovias, telecomunicações, reuso de água, indústria madeireira, 110 Home page: http://www.acdi-cida.gc.ca/index-e.htm 111 Home page: http://www.ifc.org.
90
agricultura, agrotóxicos. No Brasil, a IFC tem financiado projetos de infra-estrutura, tais como a
construção de uma termoelétrica em Macaé e a construção, operação e manutenção de energia
eólica no município de Rio do Fogo - Rio Grande do Norte. Não foram encontrados registros de
financiamentos na gestão de áreas protegidas ou investimentos em projetos de educação
ambiental. Por esse motivo, a Esecae não poderia desfrutar dos recursos oriundos desse fundo de
financiamento.
IV. Banco Europeu de Investimentos - BEI112
O BEI financia projetos de integração, desenvolvimento econômico, social e ambiental dos
países membros. Há, também, investimentos para países que não são da União Européia, como é
o caso do Brasil. Os projetos ambientais, os recursos são destinados a trabalhos que abranjam
política de mudanças climáticas. Nessa questão, o BEI tem favorecido projetos para o uso
racional de energia - transporte público, eficiência industrial - ou recursos oriundos de energia
renovável. Por esse motivo, a Esecae não poderia prover dos recursos do BEI, pois o interesse da
unidade é desenvolver projetos para a gestão e o manejo dessa UC.
V. Corporação Andina de Fomento - CAF113
A CAF é uma instituição financeira multilateral, que tem a missão de promover o
desenvolvimento sustentável, equilibrado e harmônico e, além disso, a integração e a
competitividade da região latino-americana. Seus principais acionistas são os países que integram
a comunidade andina – Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela - e, além disso, conta com
sócios, entre os quais, o Brasil.
Em geral, a CAF privilegia projetos que requeiram financiamentos limitados, sobretudo
aqueles vinculados ao setor da infraestrutura e, ainda, procedentes, sobretudo, dos contratos de
concessão outorgados pelos governos ou aqueles relacionados a minério e exploração de petróleo
e gás. Quanto aos recursos naturais, a CAF possui um programa denominado BioCAF que
financia projetos destinados ao desenvolvimento sustentável e à conservação dos recursos
naturais, exclusivo para a comunidade andina. Por conta disso, este tipo de financiamento CAF
não poderia contribuir para a gestão da Esecae.
112 Home page: http://www.eib.org/search/index.asp. 113 Home page: http://www.caf.com.
91
VI. Pro-Natura114
O Pro-Natura é uma ONG brasileira, criada em 1986, de cunho internacional. Ela
administra o Instituto Pró-Natura - responsável pelas Américas - e Pro-Natura International -
responsável por Europa, África e Ásia. Sua missão é conservar a biodiversidade por meio de
projetos integrados de desenvolvimento sustentável. A maioria dos projetos visam o uso
sustentável dos recursos naturais presentes nas UCs com o enfoque de mostrar à comunidade a
importância da biodiversidade e, ao mesmo tempo, oferece alternativas de renda à população.
114 Home page: http://www.pronatura.org.br.
92
8. CONCLUSÕES
Há pelo menos onze categorias de fontes de recursos financeiros que poderiam ser
utilizadas na manutenção de UCs. São elas: 1) financiamento oriundo do orçamento público
federal, estatal ou local; 2) investimentos de instituições multilaterais e bilaterais; 3) participação
de ONGs; 4) fundos ambientais nacionais e internacionais; 5) débito convertido ou perdão de
débito; 6) autofinanciamento; 7) doações individuais; 8) quotas por serviços ambientais; 9)
utilização de convenções internacionais; 10) investimentos ecológicos; e 11) incentivos fiscais –
ICMS ecológico. Os recursos oriundos dessas fontes poderiam ser revertidos às UCs por meio de
investimentos em atividades de educação ambiental, recuperação de áreas degradadas,
reflorestamento e na prevenção de impactos ambientais e, também, recursos para a manutenção e
implementação da unidade. Além do apoio financeiro, as UCs podem receber ajuda por meio de
doações de materiais de apoio e de infra-estrutura e, ainda, apoio técnico na elaboração e
execução de projetos e pesquisas científicas e tecnológicas.
Em se tratando da Estação Ecológica de Águas Emendadas, essa UC poderia usufruir de
todas essas fontes de financiamento, exceto os recursos oriundos dos investimentos ecológicos e
o do ICMS ecológico. O primeiro não poderia ser utilizado pela Esecae, pois a legislação
ambiental brasileira não permite a exploração dos recursos naturais presentes em estações
ecológicas. Quanto ao ICMS ecológico, no momento a Esecae não possui respaldo legal para
requerer incentivos fiscais na sua unidade, visto que não é possível a distribuição de recursos
financeiros em Regiões Administrativas. A Esecae poderia se beneficiar do financiamento de
projetos abrangentes ou regionais. Quanto aos primeiros, ela poderia obter recursos financeiros
por meio do Pronabio, PNMA, BIRD, BID, KfW, IDRC, GEF, FNMA, Funbio, Fonplata,
Funam, JBIC. Em relação aos projetos específicos, a serem desenvolvidos somente na UC, a
Esecae poderia obter financiamentos essencialmente de ONGs, tais como WWF-Brasil, TNC, CI,
FBPN, Funatura, Pró-Carnívoros, Fundação Biodiversitas. As organizações que não se
enquadram como agências financiadoras para a Esecae são: Fundação Ford, CIDA, IFC, BEI,
CAF, Pró-Natura.
Analisando-se a situação administrativa e financeira da Esecae, constatou-se que a unidade
conta com um alto número de servidores e possui uma infra-estrutura de apoio e fiscalização
consolidada, como um centro de vivência para as atividades de educação ambiental, alojamentos
93
para os pesquisadores e equipamentos de fiscalização. Mesmo assim, a Esecae enfrenta
problemas, sobretudo em relação às pressões do entorno, tais como a expansão urbana e por fazer
limites de fronteira com culturas agrícolas de soja. Além disso, a Esecae encontra-se fragmentada
em duas – Lagoa Bonita e polígono principal – por rodovias federais e distritais. Isso tem
acarretado, na unidade, a invasão de animais domésticos, atropelamentos da fauna silvestre,
incêndios florestais provocados e a poluição dos córregos e de fontes de captação de água.
94
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
9.1. Conseqüências dos Resultados para a Política Pública
Esses dados permitem a reflexão sobre a diversidade de alternativas de financiamento, cujos
recursos poderiam ser utilizados pelas UCs brasileiras. Verifica-se, também, que a maior parte
desses recursos é destinado a projetos em que são previstos a exploração sustentável dos recursos
naturais presentes na unidade. Esses tipos de projetos são úteis às UCs de uso sustentável, mas
não seriam permitidos, de acordo com a Lei SNUC, em UCs de proteção integral.
A obtenção desses recursos é realizada por meio de parcerias com agências de
financiamentos nacionais e internacionais, fundos de investimentos e ONGs. As áreas protegidas
obtêm suporte financeiro dessas instituições para a manutenção da reserva e, também, apoio de
consultoria e pesquisa para a realização de estudos científicos na unidade. Isso aumentaria o
conhecimento a respeito da diversidade biológica presente nessas UCs e poderia facilitar o
monitoramento e a conservação eficaz da fauna e flora brasileira.
A cada dia, o apoio seguro e de longo prazo de organizações internacionais de conservação
das áreas protegidas de países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, é requerido. Isso porque,
conforme foi dito nesta dissertação, os custos de criação e manutenção de uma área protegida são
elevados e os recursos disponibilizados para suprir esses gastos são escassos. A arrecadação de
recursos financeiros, além daquele disponibilizado pelo governo, faz-se necessário para suprir as
carências e desenvolver trabalhos complementares, como atividades de educação ambiental e o
desenvolvimento de projetos científicos e, além disso, coibir as ameaças as UCs.
A Esecae, em especial, precisa desses recursos para investir mais em atividades
complementares, como em projetos de educação ambiental e em pesquisas científicas, além de
destinar recursos para a fiscalização da área e outras atividades de manutenção da unidade. O
fortalecimento desses projetos conservacionistas é fundamental para reduzir o grau de ameaças
aos recursos naturais presentes na Esecae.
Espera-se que o levantamento de agências de financiamento descritas neste trabalho
estimule as UCs brasileiras a buscar recursos financeiros para suprir despesas de manutenção e
investir na gestão da unidade. Acredita-se que uma reunião das instituições financiadoras e
científicas com os administradores das UCs em discussões e sessões de planejamento possibilite
95
o fortalecimento de programas conservacionistas importantes e, ainda, sensibilize a sociedade de
que o envolvimento da mesma no investimento em projetos ambientais é importante.
9.2. Conseqüências dos Resultados para a Pesquisa
O estudo sobre a situação da Esecae permite a reflexão dos problemas que atingem a
realidade atual das demais UCs e da necessidade de buscar soluções alternativas de
financiamento e de planejamento para reduzir a perda da diversidade biológica nessas unidades.
Sugerem-se estudos sobre UCs de proteção integral, em especial, dando ênfase às atividades de
educação ambiental, com a participação da comunidade local. Enfatiza-se a importância de
incentivar as agências de financiamento a investirem mais em projetos que poderiam ser
desenvolvidos em UCs de proteção integral, dado que a maior parte dos recursos é destinado a
projetos que visam a exploração dos recursos naturais presentes nas UCs.
Sugerem-se estudos sobre o assunto não somente para a arrecadação de recursos financeiros
adequados para cada UC, mas também, na utilização eficiente desses recursos nas unidades. A
obtenção de recursos financeiros nem sempre garante a estabilidade da UC, quanto à sua
manutenção e o desenvolvimento de pesquisas e projetos de educação ambiental. Há UCs que
recebem investimentos razoáveis do governo e de agências de financiamento, mas não
administram o montante de forma adequada e eficiente e os recursos naturais presentes nessas
unidades tornam-se vulneráveis.
É de suma importância, também, incentivar as agências de financiamento a investirem em
pesquisa básica - tal como estudos sobre a taxonomia de fauna e flora presentes em UCs – e não
somente em pesquisas conservacionistas e em estudos de monitoramento ambiental. Há poucas
organizações que investem em pesquisa básica, o que deveria ser estimulado, pois é um
conhecimento importante para a proteção de espécies-chaves pertencentes em uma UC.
96
10. REFERÊNCIAS BARBORAK, J.R. Mitos e realidade da concepção atual de áreas protegidas na América Latina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1997, Curitiba. Anais... Curitiba: Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação/Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, 1997. p.39-47. BARZETTI, V. Parques y Progreso. Cambridge: UICN/Banco Interamericano de Desenvolvimento, 1993. 258p. BAYON, R.; LOVINK, J.S.; VEENING, W.J. Financing Biodiversity Conservation (Artigos-séries de Desenvolvimento Sustentável: ENV-134). Washington: Inter-American Development Bank. Jun. 2000. Disponível em: <http://www.iadb.org. Acesso em: 26 out. 2004.> BAYON, R. et al. Environmental Funds: lessons learned and future prospects. 1998. Disponível em: <http://biodiversityeconomics.org/finance/topics-18-00.htm>. Acesso em: 26 out. 2004. BEI. Disponível em: <http://www.eib.org/search/index.asp>. Acesso em: 19 set. 2004 BID. Disponível em: <http://www.iadb.org>. Acesso em: 8 set. 2004. BID. Saneamento Básico do Distrito Federal. 1998. Disponível em: <http://www.iadb.org/exr/doc98/apr/br1288e.pdf>. Acesso em: 8 set. 2004. BID. Minuta de Política: Política do Meio Ambiente e Observância de Salvaguardas. S/l: BID. 12 nov. 2004. Disponível em: <http://www.iadb.org/sds/doc/ENV-Policy-Portugues-P.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2005. BIODIVERSITAS. Disponível em: <http://www.biodiversitas.org.br>. Acesso em: 16 fev. 2005. BIRD. Nova estratégia de assistência ao Brasil 2004-2007. 9 dez. 2003. Disponível em: <http://www.bird.org.br/index.php/content/view_folder/1792.html>. Acesso em: 8 fev. 2005. BISHOP, K.; PHILLIPS, A.; WARREN, L. Protected for ever? Factors shaping the future of protected areas policy. Land Use Polic. v. 12, n. 4, p. 291-305, 1995. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira). BRASIL. Decreto n° 6.004, de 10 de junho de 1981, jun.1981. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.semarh.df.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2004. BRASIL. Lei Federal n° 7.797, de 10 de julho de 1989. Cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
97
DF, jul. 1989. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/ccivil/Leis/L7797.htm.>. Acesso em: 10 ago. 2004. BRASIL. Lei Federal n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, jan. 1997. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/ccivil/LEIS/L9433.htm>. Acesso em: 10 ago. 2004. BRASIL. Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, jul. 2000. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/doc/snuc.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2004. BRASIL. Decreto nº. 4.340, de 22 de agosto de 2002. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, ago. 2002. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/doc/regulamenta.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2004. BRASIL. Decreto nº. 4.703, de 21 de maio de 2003. Dispõe sobre o Programa Nacional da Diversidade Biológica - PRONABIO e a Comissão Nacional da Biodiversidade, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, maio. 2003. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/legis/decretos/4703_2003.htm>. Acesso em: 10 ago. 2004. BRASÍLIA. Lei no 41, de 13 de setembro de 1989. Dispõe sobre a Política Ambiental do Distrito Federal. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, Brasília, set. 1989. Disponível em: <http://www.semarh.df.gov.br>. Acesso em: 12 out. 2004. BRASILIA. Decreto no 14.639, de 22 de março de 1993. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, Brasília, mar. 1993(a). Disponível em: <http://www.sga.df.gov.br>. Acesso em: 12 out. 2004. BRASÍLIA. Lei no 408, de 13 de janeiro de 1993. Estabeleceu nova reestruturação administrativa do Distrito Federal e criou a SUCAR - Subsecretaria de Coordenação das Administrações Regionais, que retornou à supervisão da Secretaria de Governo. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, Brasília, jan. 1993(b). Disponível em: <http://www.brasilia.df.gov.br>. Acesso em: 12 out. 2004. BRASÍLIA. Lei Orgânica, de 8 de junho de 1993. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, Brasília, jun. 1993(c). Disponível em: <http://www.mpdft.gov.br/Orgaos/ACC/LeiOrg/LeiOrgDF.htm>. Acesso em: 12 out. 2004. BRASÍLIA. Decreto no 15.895, de 8 de setembro de 1994. Dispõe sobre o Fundo Único de Meio Ambiente do Distrito Federal – FUNAM e dá outras providências. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, Brasília, set. 1994. Disponível em: <http://www.sga.df.gov.br>. Acesso em: 12 out. 2004.
98
BRASÍLIA. Lei complementar n°265, de 14 de dezembro de 1999. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, Brasília, dez. 1999. Disponível em: <http://www.sga.df.gov.br>. Acesso em: 12 out. 2004. BRASÍLIA. Decreto nº 21.410, de 2 de agosto de 2000. Dispõe sobre a estrutura orgânica da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, Brasília, ago. 2000. Disponível em: <http://www.sga.df.gov.br>. Acesso em: 12 out. 2004. BRASÍLIA. Decreto n°23.937, de 24 de julho de 2003. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, Brasília, jul. 2003. Disponível em: <http://www.sga.df.gov.br>. Acesso em: 12 out. 2004. BROCKELMAN, W. et al. Mecanismos de Fortalecimento. In: TERBORGH, J., VAN SCHAIK, C., DAVENPORT, L., RAO, M. (Orgs.) Tornando os parques eficientes: estratégias para a conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: UFPR/FBPN, 2002. p.290-304. (capitulo 20). BROD, T.C.J. Vulcanologia das Rochas Kamafugíticas da Província Alcalina de Goiás. (Tese) Instituto de Geociências, Universidade de Brasília. 2003 BRUNER, A.G. et al. Effectiveness of parks in protecting tropical biodiversity. Science, v. 291, p. 105, 2001. BUSCHBACHER, R. Expansão Agrícola e Perda da Biodiversidade no Cerrado: origens históricas e o papel do comércio internacional (Série Técnica 7) nov. 2000. Brasília: WWF-Brasil. 104p. CAESB. Siágua: Sinopse do Sistema de Abastecimento de Água do Distrito Federal. dez. 2001 . 10.ed. Brasília: CAESB. Disponível em: <http://www.caesb.df.gov.br/Siagua_2002/Default.htm#>. Acesso em: 27 set. 2004. _____. Siágua: Sinopse do Sistema de Abastecimento de Água do Distrito Federal. dez. 2002. 11o. edição. Brasília: CAESB. Disponível em: <http://www.caesb.df.gov.br/Siagua_2003/Default.htm#>. Acesso em: 27 set. 2004. _____. Siágua: Sinopse do Sistema de Abastecimento de Água do Distrito Federal. dez. 2003. 12o. edição. Brasília: CAESB. Disponível em: <http://www.caesb.df.gov.br/Siagua_2004/Default.htm#>. Acesso em: 27 set. 2004. CAF. Disponível em: <http://www.caf.com>. Acesso em: 24 fev. 2005. CAMPOS, L.P.R. ICMS Ecológico: experiências nos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e alternativas na Amazônia. mar. 2000. Cuiabá: MMA. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sqa/brasiljl/doc/icmsecol.doc>. Acesso em: 30 set. 2004. CDB. Convenção sobre Diversidade Biológica. 1992. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/cdb/decreto1.html>. Acesso em: 30 set. 2004.
99
CI-Brasil. Disponível em: <http://www.conservation.org.br>. Acesso em: 14 fev. 2005. CIDA. Disponível em: <http://www.acdi-cida.gc.ca/index-e.htm>. Acesso em: 19 set. 2004 CIFUENTES, M.; IZURIETA, A; FARIA, H.H. Medición de la Efectividad del Manejo de Areas Protegidas. Turrialba: WWF/IUCN/GTZ, 2000. 105p. (Série Técnica, 2). Disponível em: <http://www.iucn.org/themes/forests/protectedareas/Medicion.PDF>. Acesso em: 25 set. 2004. CODEPLAN. Diagnóstico do Espaço Natural do Distrito Federal. 1976. Brasília: CODEPLAN. 300p. COMUNICAÇÃO PRÓPRIA I. Administrador da Esecae. 5 out. 2004. COMUNICAÇÃO PRÓPRIA II. Corpo de Bombeiros. 6 out. 2004. COMUNICAÇÃO PRÓPRIA III. Polícia Militar Ambiental. 8 out. 2004. COMUNICAÇÃO PRÓPRIA IV. TNC. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida em mensagem recebida em 27 dez. 2004. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução Conama no.13, de 6 de dezembro de 1990. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res90/res1390.html>. Acesso em 5 out. 2004. DAMÉ, L. Águas Emendadas está ameaçada. Jornal de Brasília, Brasília, 14 maio 1992. DF - Secretaria de Infra-Estrutura e Obras do Distrito Federal. Anexo II - Termo de referência. Disponível em: <http://www.so.df.gov.br/IMAGENS/Arquivo03.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2004. DIXON, J.A; SHERMAN, P.B. Economics of protected areas: a new look at benefits and costs. Washington, D.C.: Island Press, 1991. 234p. DOUROJEANNI, M.J. Áreas Protegidas: problemas antiguos y nuevos, nuevos rumbos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1997, Curitiba. Anais... Curitiba: IAP, 1997a. p.69-109. _____. Financing protected areas in Latin America. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1997, Curitiba. Anais... Curitiba: IAP, 1997b. p.237-261. _____. Vontade política para estabelecer e manejar parques In: TERBORGH, J., VAN SCHAIK, C., DAVENPORT, L., RAO, M. (Orgs.) Tornando os parques eficientes: estratégias para a conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: UFPR/FBPN, 2002. DUDLEY, N.; STOLTON, S. Threats to Forest Protected Areas: Summary of a survey of 10 countries. Suiça: WWF/World Bank Alliance/IUCN WorldCommission on Protected Areas, nov. 1999. 46p. Disponível em:
100
<http://www.iucn.org/themes/forests/protectedareas/ThreatstoForestProtectedAreas.pdf>. Acesso em: 1 jul. 2004. FBPN. Disponível em: <http://www.fbpn.org.br/site/br/home/index.htm>. Acesso em: 14 fev. 2005. FELFILI, J.M. A Estação Ecológica de Águas Emendadas no contexto fitogeográfico do cerrado. In: 30 anos da Estação Ecológica de Águas Emendadas. Anais... Brasília: IEMA, 1998. p. 71-87. FELFILI, J.M., SILVA JÚNIOR, M.C. (Org.). Biogeografia do Bioma Cerrado: estudo fitofisionômico na Chapada do Espigão Mestre do São Francisco. Brasília: UnB/MMA. 152p. 2001. FELFILI, J.M. et al. Projeto Biogeografia do Bioma Cerrado: vegetação e solos. Caderno de Geociências. v.12, n.4, p.75-166. 1994. FERREIRA, M.B. Reserva Biológica de Águas Emendadas. Dados sobre sua composição florística, I. Cerrado v.7, p.24-29. 1976. FERREIRA, A.B.H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FILGUEIRAS, T.S.; PEREIRA, B.A. Flora do Distrito Federal. In:__. PINTO, M.N. (Org.). Cerrado. Brasília: UnB/SEMATEC. 2a. edição. 1993. FINEP. Disponível em: <http://www.finep.gov.br>. Acesso em: 19 set. 2004 FNMA. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/fnma/index.cfm>. Acesso em: 1 out. 2004. FONPLATA. Disponível em: <http://www.fonplata.org>. Acesso em: 14 fev. 2005. FONSECA, G.A.B., PINTO, L.P.S., RYLANDS, A.B. Biodiversidade e Unidades de Conservação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1997, Curitiba. Anais... Curitiba: IAP, 1997. p.263-285. FORD FOUNDATION. Disponível em: <http://www.fordfoundation.org>. Acesso em: 19 set. 2004 FREEMAN III, A.M. Resource evaluation and public policy. In:__. The measurement of Environmental and Resource Values: theory and methods. Resources for the future, Washington: [s.n.]. Cap.1. p.1-17, 1993
FUNATURA. Disponível em: <http://www.funatura.org.br>. Acesso em: 14 fev. 2005. FUNBIO. Disponível em: <http://www.funbio.org.br>. Acesso em: 12 fev. 2005.
101
FUNBIO. Estudos Funbio 1: financiando o uso sustentável da biodiversidade. 1998. Disponível em: <http://www.funbio.org.br/publique/web/media/estudo1.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2005. GEF. Disponível em: <http://www.gefweb.org>. Acesso em: 25 fev. 2005. GEOBRASIL. Relatório Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil. Estado do Meio Ambiente: biodiversidade, 2002. Disponível em: <http://www2.ibama.gov.br/~geobr/geobr.htm>. Acesso em: 20 maio 2003. GOULART, G. Cachorros: terror do parque. Correio Braziliense, Brasília, 18 jul. 2004. IBAMA. Atlas de Conservação da Natureza Brasileira: unidades federais. Brasília: Metalivros, 2004. 336p. IDRC. Disponível em: <http://web.idrc.ca/es/ev-1-201-1-DO_TOPIC.html>. Acesso em: 19 set. 2004 IEMA. Prestação de contas. Brasília: IEMA, 1995. _____. Prestação de contas. Brasília: IEMA, 1996. _____. Unidades de conservação no DF. Brasília: IEMA, set. 1999. IFC. Disponível em: <http://www.ifc.org>. Acesso em: 19 set. 2004. IUCN. Guidelines for Protected Area Management Categories. 2003. Disponível em: <http://www.iucn.org/themes/wcpa/pubs/pdfs/iucncategories.pdf>. Acesso em: 10 out. 2004. JBIC. Disponível em: <http://www.jbic.org.br>. Acesso em: 14 fev. 2005. KARANTH, K.U.; MADHUSUDAN, M.D. Mitigando os conflitos entre pessoas e a vida selvagem no Sul da Ásia. In: TERBORGH, J.; VAN SCHAIK, C.; DAVENPORT, L.; RAO, M. (Orgs.) Tornando os parques eficientes: estratégias para a conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: UFPR/FBPN, 2002. p.274-289. (capítulo 19). KfW. Disponível em: <http://www.kfw.de>. Acesso em: 19 set. 2004. KLINK, C. et al. O Bioma Cerrado: site 3. In: O site e o Programa Brasileiro de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD). [2000]. Disponível em: <http://www.icb.ufmg.br/~peld/port_site03.pdf>. Acesso em: 19 set. 2004. LAMBERT, A. Financing Global Sustainability: a proposal for Multilateral Environment Agreements. Nov. 2002. Disponível em: <http://www.conservationfinance.org/Documents/CF_related_papers/Financing_Global_Sustainability-_final.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2005.
102
LABARRÉRE, L.B.G. A gestão dos recursos hídricos na Estação Ecológica de Águas Emendadas-DF. Brasília, 2004, 103f. Dissertação (Mestrado em Planejamento e Gestão Ambiental), Universidade Católica de Brasília. LAPAGE, W.F. America´s self Funding Park System: the New Hamphshire Model. In: MUNASINGUE, M, MCNEELY, J (eds.). Protected area economics and policy: linking conservation and sustainable development. Washington: The World Bank/IUCN. jan. 1994. p. 117-120. Disponível em: <http://www-wds.worldbank.org>. Acesso em: 29 out. 2004. LEITE, F.H.F. O ICMS Ecológico no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2001, 70 f. Monografia (Economia). Universidade Federal do Rio de Janeiro. LEWINSOHN, T.M.; PRADO, P.I. Biodiversidade Brasileira: Síntese do Conhecimento Atual. Campinas: MMA/SBF. nov. 2000. 127 p. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/doc/estarte.doc.>. Acesso em: 4 ago. 2004. LOPES, L.E.; PINHO, J.B.; LEITE, L. Novos registros para a avifauna da Estação Ecológica de Águas Emendadas, Planaltina, Distrito Federal. In: XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA, 2004, Brasília. Resumo... 2004. p.42. LOUREIRO, W. ICMS Ecológico: a contribuição conservacionista de uma política tributária. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1997, Curitiba. Anais... Curitiba: IAP, 1997(a). p.500-517. _____. ICMS Ecológico: incentivo econômico à conservação da biodiversidade (uma experiência exitosa no Brasil). Revista de Administração Municipal, Rio de Janeiro, v. 44, n. 221, p.49-60, abr./dez. 1997(b). LOUREIRO, W. Contribuição do ICMS Ecológico à Conservação da Biodiversidade no Estado do Paraná. Curitiba, 2002, 189 f. Tese (Doutorado em Ciências Florestais). Universidade Federal do Paraná. MACHADO, R.B. et al. Um método de análise das áreas de risco no entorno de unidades de conservação: estudo de caso da estação ecológica de águas emendadas, Brasília (DF), Brasil. Anais... Seminário Águas Emendadas 30 anos. Pesquisa em unidades de conservação. Brasília: IEMA/SEMATEC, ago. 1998. p. 43-58. MARINHO FILHO, J.; RODRIGUES, F.; GUIMARÃES, M. Vertebrados da Estação Ecológica de Águas Emendadas: história natural e ecologia em um fragmento de cerrado do Brasil Central. Brasília: GDF/SEMATEC/IEMA/IBAMA. 1998. 92 p. MARQUES, J.F.; COMUNE, A. Quanto vale o ambiente: interpretações sobre o valor econômico ambiental. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 23, 1995, Salvador, Anais... Salvador: SBE, 1995, p.633-651.
103
MAURY, C.M. Avaliação e identificação de áreas e ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade nos biomas brasileiros. Brasília: MMA/SBF, 2002. 404 p. MAURY, C.M. Áreas núcleo da Reserva da Biosfera: situações e perspectivas. In: UNESCO. Relatório do Workshop. Subsídios para um plano de gestão: Reserva da Biosfera do Cerrado. Brasília: MAB/UNESCO/GDF/SEMATEC. dez. 1995. MAURY, C.M.; RAMOS, A.E.; OLIVEIRA, P.E. A vegetação da Reserva biológica de Águas Emendadas – DF. In: V Congresso da Sociedade Botânica de São Paulo. Botucatu-SP. Resumos. 1985. MAURY, C.M.; RAMOS, A.E.; OLIVEIRA, P.E. Levantamento Florístico da Estação Ecológica de Águas Emendadas. Boletim Herbário Ezechias Paulo Heringer. v. 1, p. 46-67. 1994. MCNEELY, J.A. How to pay for conserving biological diversity. Ambio, v. 18, n.6, p. 308-19, 1989. MCNEELY, J.A. Protected areas for the 21st century: working to provide benefits to society. Biodiversity and Conservation, v.3, p.390-405, 1994. MCT. Fontes internacionais: GEF. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/Fontes/internacionais/GEF>. Acesso em: 12 fev. 2005. MENDONÇA, R.C. et al. Flora vascular do bioma Cerrado. [1997]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/levantamento/floravascular.pdf>. Acesso: 24 fev. 2005. MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2004. Disponível em: <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 6 fev. 2006. MITTERMEIER, R.A.; ROBLES GIL, P.; MITTERMEIER, C.G. Megadiversity: Earth.s biologically wealthiest nations. CEMEX, Conservation International, Agrupacion Sierra Madre, Ciudad Mexico, 1997. 501 pp. MMA. Arpa. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/sca/arpa. Acesso em: 12 fev. 2005. MMA. PPG7. Disponível em: http://www.mma.gov.br/ppg7. Acesso em: 12 fev. 2005. MMA. Diagnóstico da Gestão Ambiental nas Unidades da Federação: relatório final do Distrito Federal. Brasília: MMA/PNMA II. fev. 2001. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/se/pnma2>. Acesso em: 24 set. 2004. MMA. Expansão urbana e cães ameaçam lobos-guarás no DF. 9 nov. 2004. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ascom/ultimas>. Acesso em: 9 nov. 2004.
104
MMA. Apresentação da Diversidade Biológica Brasileira. In:__. Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica – BRASIL. 1998. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/doc/cap1.pdf>. Acesso em: 01 out. 2004. MMA. Criação e Consolidação de Unidades de Conservação. [2005]. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/ffinanci.html#fumbio>. Acesso em: 12 fev. 2005. MMA. Outras convenções internacionais. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/>. Acesso em: 16 mar. 2005. MONSANTO. Monsanto Fund. Disponível em: <http://www.monsanto.com.br/monsanto/brasil/comunidade/projetos/mo_projetos.asp>. Acesso em: 12 fev. 2005. MORSELLO, C. Áreas Protegidas Públicas e Privadas: seleção e manejo. São Paulo: Annablume, 2001. 343p. MOUNTFORD, H.; KEPPLER, J.H. Financing Incentives for the Protection of Biodiversity. The Science of The Total Environment. v. 240, 1999. p.133-144. NOGUEIRA, J. M.; MEDEIROS, M.A.A; ARRUDA, F.S.T. Valoração Econômica do Meio Ambiente: ciência ou empirismo. Cadernos de Ciência e Tecnologia, v. 17, 2000. p. 81-115. NOGUEIRA, J.M.; MEDEIROS, M.A.A . As interfaces entre políticas setoriais e a política de meio ambiente: aspectos conceituais e operativos básicos da política pública. Brasília, 1999. 30p. mimeo. NORTON, B. Mercadoria, comodidade e moralidade: os limites da quantificação na avaliação da biodiversidade. In: WILSON, E.O. (Ed.); PETER, F.M. (Subed.). Biodiversidade. Tradução de Marcos Santos e Ricardo Silveira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. Cap. 22, p. 253-260.
NORTON-GRIFFITHS, M.; SOUTHEY, C. The opportunity costs of biodiversity conservation in Kenya. Ecological Economics. v. 12, p. 125-139, 1995. PÁDUA, M.T.J. Efetividade das Políticas de Conservação da Biodiversidade. In: II CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 2000, Campo Grande. Anais... Campo Grande: IAP, 2000. p.104-116. vol.I. PATRULHA ECOLÓGICA. Disponível em: <http://www.patrulhaecologica.org.br>. Acesso em: 12 fev. 2004. PEDRO, S. Águas Emendadas recebe obras de proteção. Jornal de Brasília, Brasília, 8 jun. 1994. PEARCE, D.; MORAN, D. The Economic Value of Biodiversity. Londres: Earthscan, 1994. 172p.
105
PEARCE, D.W.; TURNER, R.K. Economics of natural resources and the environment. Baltimore: The Johns Hopkins University, 1990, 378p. PERMAN, R. The origins of the sustainability problem. In:__ Natural Resource &Environmental Economics. Essex: Longman, 1999. cap.1. p.12-49. PHILLIPS, A. Financing Protected Areas - Guidelines for Protected Area Managers. 2000. Disponível em: <http://www.iucn.org/themes/wcpa/pubs/pdfs/Financing_PAs.pdf>. Acesso em: 17 out. 2004. WCPA/IUCN/Cardiff University. PINELLI, M.P. Geoquímica de Água e Sedimentos da Bacia do São Bartolomeu. Brasília, 1999, 87f. Dissertação (Mestrado em Geologia). Universidade de Brasília, Instituto de Geociências. PNMA. Relatório de Atividades PNMA I e PNMA II. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/se>. Acesso em: 24 fev. 2005. PRIMACK, R.B., RODRIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina: Planta, 2002. 328p. PROBIO. Relatório de atividades 1996-2002. Brasília: MMA, ago. 2002. 73p. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/prb_por.pdf >. Acesso em: 6 ago. 2005. PRO-CARNÍVOROS. Disponível em: <http://www.procarnivoros.org.br>. Acesso em: 24 fev. 2005. PRONATURA. Disponível em: <http://www.pronatura.org.br>. Acesso em: 24 fev. 2005. PROUSSIER, L. Invasão põe em risco Águas Emendadas. Correio Braziliense, Brasília, 5 set. 1993. _____. Fogo em Águas Emendadas pode ter sido provocado. Correio Braziliense, Brasília, 21 ago. 1992, p.2. PUTNEY, A. Estratégias para obter apoio político, público, y financiero. In: II CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 2000, Campo Grande. Anais... Campo Grande: IAP, 2000. p.132-141. vol..I RAMOS, A.E. et al. Variação fitossociológica e química do solo em uma transcecção cerrado-mata-cerrado na Reserva Biológica de Águas Emendadas, Brasília. In: XXXVII Congresso Nacional de Botânica. Ouro Preto. Resumos. 1986. REZENDE, D.V.; DIANESE, J.C. Revisão Taxonômica de Algumas Espécies de Ravenelia em Leguminosas do Cerrado Brasileiro. Fitopatologia Brasileira. v.27, p.27-36. 2003. RIBEIRO, M.B. Paleovegetação e Paleoclima do Quaternário tardio da Vereda de Águas Emendadas. Brasília, 1994. Dissertação (Mestrado em Geologia). Universidade de Brasília, Instituto de Geociências.
106
RODRIGUES, A.P. Planejamento de Corredor Ecológico entre o Parque Nacional de Brasília e a Estação Ecológica de Águas Emendadas. Brasília, 2003, 30p. Monografia, Universidade de Brasília – UnB, Faculdade de Tecnologia, Departamento de Engenharia Florestal. RODRIGUES, F.H.G. Biologia e conservação do lobo-guará na Estação Ecológica de Águas Emendadas-DF. Campinas, 2002, 105p. Tese (Doutorado em Ecologia). Universidade de Campinas – UNICAMP, Instituto de Biologia. RODRIGUES, V. GDF deve pagar 1,3 tri (Cr$) por Águas Emendadas. Jornal de Brasília, Brasília, 9 jun. 1993. Clipping Cidade, p.15. RODRIGUES, V. Águas Emendadas vai ganhar um laboratório. Jornal de Brasília, Brasília, 11 jun. 1994. Clipping Cidade, p.16. RODRIGUES, F.H.G et al. Impacto de rodovias sobre a fauna da Estação Ecológica de Águas Emendadas, DF. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 3, 2002, Fortaleza. Anais. Fortaleza: Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, 2002. p. 585-593. SÁ, R.M.L.; FERREIRA, L. Áreas Protegidas ou Espaços Ameaçados: o grau de implementação e a vulnerabilidade das unidades de conservação federal brasileiras de uso indireto. Brasília: WWF Brasil, 1999, 32p. SALGADO, G. S. M. Economia e Gestão de Áreas Protegidas: o caso do Parque Nacional de Brasília. Brasília, 2000, 124f. Dissertação (Mestrado em Gestão Econômica do Meio Ambiente), Universidade de Brasília – UnB, Instituto de Ciências Humanas. SEMARH. Termo de referência para a elaboração do Plano de Manejo da Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESECAE). Brasília: SEMARH. jun. 2003. _____. Disponível em: <http://www.semarh.df.gov.br>. Acesso em: 6 fev. 2004. SEMATEC – Secretaria do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. Relatório de Unidades de Conservação e Áreas Protegidas. Brasília: IEMA. 2a. edição. ago. 1993. SILVA JUNIOR, M. C.; FELFILI, J. M. A vegetação da Estação Ecológica de Águas Emendadas. GDFSEMATEC/IBAMA. 1996. Brasília-DF. SINHOROTO, K.A. Recursos Hídricos no Distrito Federal: escassez de água ou falta de consenso? Brasília, 2002, 107f. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade de Brasília – UnB, Instituto de Ciências Humanas. SPERGEL, B. Financiamento de Áreas Protegidas. In: TERBORGH, J., VAN SCHAIK, C., DAVENPORT, L., RAO, M. (Orgs.) Tornando os parques eficientes: estratégias para a conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: UFPR/FBPN, 2002. p.394-413.
107
SPELLERBERG, I.F. Importance and value of biodiversity. In:__ Evaluation and Assessment for Conservation. 2 ed. New York: Chapman & Hall, 1994. p.1-35. TCDF. Disponível em: <http://www.tc.df.gov.br>. Acesso em: 12 fev. 2004. TERBORGH, J.; PERES, C.A. O problema das pessoas nos parques. In: TERBORGH, J., VAN SCHAIK, C., DAVENPORT, L., RAO, M. (Orgs.) Tornando os parques eficientes: estratégias para a conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: UFPR/FBPN, 2002. p.334-346. TNC. Disponível em: <http://nature.org/wherewework/southamerica/brasil>. Acesso em: 10 jul. 2004. TERBORGH, J.; VAN SCHAIK, C. Por que o mundo necessita de parques. In: TERBORGH, J., VAN SCHAIK, C., DAVENPORT, L., RAO, M. (Orgs.) Tornando os parques eficientes: estratégias para a conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: UFPR/FBPN, 2002. p.25-36. (capitulo 1). TORRES, C.A. Águas Emendadas está em perigo. Jornal de Brasília, Brasília, 6 jun. 1993. TURNER, R.K. et al. Valuing nature: lessons learned and future research directions. Ecological Economics, [S.I.], v.46, p.493-510, 2003. UNAIDS. Debt for AIDS swaps: a UNAIDS policy information brief. Genebra: UNAIDS. fev. 2004. Disponível em: <http://www.unaids.org/html/pub/publications/irc-pub06/jc1020-debt4aids_en_pdf>. Acesso em: 26 out. 2004. UNESCO. Vegetação do Distrito Federal: tempo e espaço. Uma avaliação multitemporal da perda de cobertura vegetal no DF e da diversidade florística da Reserva da Biosfera do Cerrado – Fase 1. 2.ed. Brasília : UNESCO, 2002. 80p. VAN SCHAIK, C.; RIJKSEN, H.D. Projetos Integrados de Conservação e Desenvolvimento: problemas e potenciais. In: TERBORGH, J., VAN SCHAIK, C., DAVENPORT, L., RAO, M. (Orgs.) Tornando os parques eficientes: estratégias para a conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: UFPR/FBPN, 2002. p.37-51. (capitulo 2). WCMC. Protected area. In:__. Biodiversity in Development (Biodiversity brief serie). [2001]a. Disponível em: <http://www.wcmc.org.uk/biodev/index2.html.> Acesso em: 11 jul. 2004. _____. Biodiversity in Development Project Case Study Series. In: Biodiversity in Development (Biodiversity brief serie). [2001]b. Disponível em: <http://www.wcmc.org.uk/biodev/index2.html>. Acesso em: 11 jul. 2004. WWF-Brasil. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/wwf/opencms/site/index.htm>. Acesso em: 7 fev. 2006. _____. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/informa>. Acesso em: 12 fev. 2004.
108
_____. Relatório de Atividades 1999 e 2000. [2001]. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/wwf/doc/relatorio/relatorio_financeiro.pdf>. Acesso em: 27 set. 2004. _____. Relatório de Atividades 2001 e 2003. [2004]. Disponível em: <http://200.99.40.162/publicacoes/relatorio2003/index.htm>. Acesso em: 27 set. 2004. _____. Relatório de Atividades 2004. [2005]. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/relatorio_atividades/index.htm>. Acesso em: 6 fev. 2006. WWF International. Squandering paradise? The importance and vulnerability of the world’s protected áreas. maio 2000. Disponível em: <http://www.panda.org/downloads/forests/squandering_paradise.pdf>. Acesso em: 1 jul. 2004. _____. Running pure: the importance of forest protected areas to drinking water. ago. 2003. Disponível em: <http://www.panda.org/downloads/freshwater/runningpurereport.pdf>. Acesso em: 1 jul. 2004. _____. How effective are protected areas? A preliminary analysis of forest protected areas by WWF – the largest ever global assessment of protected area management effectiveness. fev.2004. Disponível em: <http://www.panda.org/downloads/forests/protectedareamanagementreport.pdf>. Acesso em: 1 jul. 2004.
110
ANEXO: QUESTIONÁRIO Questionário respondido pelo atual administrador da Estação Ecológica de Águas Emendadas. Marcar com um “X” a resposta apropriada: 1) Situação fundiária da Esecae: ( ) 90-100% regularizada ( ) 70-89% regularizada ( ) 50-69% regularizada ( ) 30-49% regularizada ( ) 0-29% regularizada ( ) dados inexistentes 2) Demarcação física da Esecae - % do perímetro demarcado comparado com o perímetro demarcável; ou seja, partes do perímetro que possuem limites naturais não entram no cálculo. Exemplo: Se os limites da unidade estão em linhas secas e ela está completamente demarcada, então marcar a primeira opção. A primeira opção também deverá ser marcada se 50 % dos limites da unidade forem um rio e os outros 50% de linha seca estiverem demarcados. No caso de não haver nenhuma demarcação ou demarcação parcial das linhas secas, marcar as opções 2,3,4, ou 5.
3) Porcentagem de áreas alteradas dentro da Esecae.
4) Exploração dos recursos naturais dentro da Esecae. Esclarecimento: Considere por exploração esporádica aquela que for eventual, não planejada. Exploração sistemática, por outro lado, é a aquela que possui um plano anual de exploração - mesmo que não aconteça durante os 12 meses do ano, mas que ocorra todos os anos. ( ) Sem exploração ( ) Exploração esporádica em menos de 10% da área ( ) Exploração sistemática em menos de 10% da área ou exploração esporádica entre 10 a 50% da área ( ) Exploração sistemática entre 10 e 30% da área ou esporádica ( ) Exploração sistemática (de vários recursos) em mais de 30% da área ( ) dados inexistentes
( ) 90-100% demarcada ( ) 70-89% demarcada ( ) 50-69% demarcada ( ) 30-49% demarcada ( ) 0-29% demarcada ( ) dados inexistentes
( ) 0-10% da unidade alterada ( ) 70-89% da unidade alterada ( ) 30-49% da unidade alterada ( ) 90-100% da unidade alterada ( ) 50-69% da unidade alterada ( ) dados inexistentes
111
5) Incidência de atividades de caça e pesca dentro da Esecae: ( ) incidência reduzida ( ) incidência mediana ( ) incidência elevada ( ) dados inexistentes 6) Grau de insularização da unidade: percentual de cobertura vegetal natural no entorno, em um raio de 10 km da Esecae. Exemplo: Opção 1 = a vegetação no entorno da unidade, num raio de 10 km, está entre 90 e 100% intacta. Opção 5 = a unidade está praticamente isolada, com quase 100% do entorno desmatado ou com outra vegetação que não a cobertura vegetal original. ( ) 90-100% de cobertura vegetal natural no entorno num raio de 10 km da Esecae, contíguas ou não ( ) 70-89%de cobertura vegetal natural no entorno num raio de 10 km da Esecae, contíguas ou não ( ) 50-69%de cobertura vegetal natural no entorno num raio de 10 km da Esecae, contíguas ou não ( ) 30-49%de cobertura vegetal natural no entorno num raio de 10 km da Esecae, contíguas ou não ( ) 0-29%de cobertura vegetal natural no entorno num raio de 10 km da Esecae, contíguas ou não ( ) dados inexistentes 7) Forma predominante de uso da terra no entorno da Esecae ( ) Área natural e extrativismo extensivo ( ) Agricultura de subsistência de baixa densidade ( ) Monocultura de reflorestamento ou pecuária ou exploração madeireira ou agricultura de alta densidade ( ) Agricultura intensiva ( ) Centro urbano ( ) Outros (identifique)_______________________________________________________ ( ) dados inexistentes 8) Grau de envolvimento da comunidade do entorno em atividades desenvolvidas na Esecae. Exemplo: Opção 1= todas as atividades desenvolvidas na Esecae tiveram a participação da comunidade do entorno; Opção 5= nenhuma atividade desenvolvida na Esecae teve a participação da população do entorno.
( ) 90-100% das atividades teve a participação da comunidade ( ) 70-89% das atividades teve a participação da comunidade ( ) 50-69% das atividades teve a participação da comunidade ( ) 30-49% das atividades teve a participação da comunidade ( ) 0-29% das atividades teve a participação da comunidade ( ) dados inexistentes
112
9) Relação entre os recursos financeiros aplicados e os necessários para a Esecae, em 2004. Exemplo: Recursos necessários para o manejo da unidade X em 2004 = 1.000,00 Recursos efetivamente aplicados em 2004 na unidade X = 500,00 Resposta = 50%
10) Número de funcionários que trabalham na Esecae.
Observação: número atual: ____ número ideal: _____ 11) Qualificação da equipe de funcionários que trabalha na Esecae. Esclarecimento: Essa qualificação considera o tempo de experiência, cursos, especializações e treinamentos para o cumprimento das funções do cargo de responsabilidade de cada funcionário. ( ) 90-100% dos funcionários são qualificados para a função
12) Infra-estrutura - alojamento para pesquisador, laboratório, centro de vivência, sede administrativa. ( ) infraestrutura completa de acordo com a categoria da unidade ( ) infraestrutura parcialmente completa de acordo com a categoria da unidade e com sede administrativa ( ) unidade possui apenas sede administrativa ( ) infraestrutura incompleta de acordo com a categoria da unidade e inclusive sem sede administrativa ( ) sem nenhuma infraestrutura ( ) dados inexistentes
( ) 90-100% ( ) 30-49% ( ) 70-89% ( ) 0-29% ( ) 50-69% ( ) dados inexistentes
( ) 90-100% do ideal para a unidade ( ) 30-49% do ideal para a unidade ( ) 70-89% do ideal para a unidade ( ) 0-29% do ideal para a unidade ( ) 50-69% do ideal para a unidade ( ) dados inexistentes
( ) 70-89% dos funcionários são qualificados para a função ( ) 50-69% dos funcionários são qualificados para a função ( ) 30-49% dos funcionários são qualificados para a função ( ) 0-29% dos funcionários são qualificados para a função ( ) dados inexistentes
113
13) Em relação à quantidade de equipamentos e materiais - transporte, comunicação interna e externa, equipamento de escritório, equipamento para fiscalização, material de consumo - a Esecae: ( ) possui todos os equipamentos e materiais necessários para o funcionamento da unidade ( ) possui transporte e comunicação e parte dos demais equipamentos e materiais necessários para o funcionamento da unidade ( ) possui parte dos equipamentos e materiais necessários para o funcionamento da unidade ( ) possui equipamento mas não possui material de consumo e/ou vice-versa ( ) nenhum equipamento e material ( ) dados inexistentes Outras questões relacionadas com a Esecae.
14) Grau de comunicação com os administradores de outras unidades de conservação. Exemplo: Opção 1: Grande troca de informações e experiências importantes para uma maior eficácia das unidades de conservação. Opção 5: Não há - há pouca - comunicação com os administradores de outras unidades de conservação.
15) Como é vista a capacidade de gestão institucional da Esecae. Esclarecimento: envolve a eficácia na capacidade de gestão desde a Semarh até a administração direta na Esecae, considerando todos os problemas envolvidos - financeiro, ausência de plano de manejo e outros.
( ) 90-100% de comunicação ( ) 70-89% de comunicação ( ) 50-69% de comunicação ( ) 30-49% de comunicação ( ) 0-29% de comunicação ( ) dados inexistentes
( ) 0-10% adequado ( ) 30-49% adequado ( ) 50-69% adequado ( ) 70-89% adequado ( ) 90-100% adequado ( ) dados inexistentes
Casulari da Motta, Ana Cláudia Domingues Alternativas Financeiras para a Conservação dos Recursos Naturais em Unidades de Conservação / Ana Cláudia Domingues Casulari da Motta. – Brasília: UnB, 2005. 124f. : il. Orientador: Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Faculdade Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Economia, 2005. 1. Biodiversidade. 2. Conservação. 3. Unidades de Conservação. 4. Financiamento. 5. Estação Ecológica. 6. Águas Emendadas. – Dissertação. I. Nogueira, Jorge Madeira. II. Universidade de Brasília, Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação, Centro de Estudos em Economia, Meio Ambiente e Agricultura - CEEMA -, Programa de Pós-Graduação em Economia. III. Título.
top related