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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E SUA APLICABILIDADE NAS ESCOLAS
Por: Julia Lobo Vieira Matias dos Santos
Orientadora:
Professora Magaly Vasques
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS E SUA APLICABILIDADE NAS ESCOLAS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicopedagogia.
Por: Julia Lobo Vieira Matias dos Santos
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que me deu capacidade,
inteligência e vontade para realizar este trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia ao meu marido
Adriano,
a minha mãe Rejane, ao meu pai Célio
César,
a todos os que me apoiam em meus estudos,
e a meu filho Gabriel, pelo qual lutarei,
com todas as minhas forças,
para dar-lhe sempre um futuro melhor.
5
RESUMO
Este trabalho de monografia aborda a teoria das múltiplas inteligências
elaborada pelo psicólogo americano Howard Gardner. Neste estudo, ele
acredita que existem áreas demarcadas no cérebro humano e que cada uma
delas é responsável em controlar uma inteligência específica. São oito áreas e,
portanto, oito inteligências e “meia”. Essa “meia” inteligência significa a nossa
marca pessoal, a forma e a intensidade como cada inteligência está organizada
em cada um e incluindo ainda nossos desejos e motivações, o que nos torna
únicos. Apresenta também como os psicopedagogos podem orientar os
professores a estimular cada tipo de inteligência em seus alunos em sala de
aula. E destaca as inteligências pessoais - a inteligência emocional. De que
maneira o psicopedagogo institucional pode trabalhar com elas na escola,
como uma forma de prevenir futuros problemas de aprendizagem de ordem
emocional e por que ela deve ser incentivada desde a educação infantil.
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METODOLOGIA
Os métodos na construção desta monografia foram livros, revistas
especializadas, sites de internet e estudos de casos internacionais que
obtiveram resultados positivos. Para o embasamento teórico, foram
consultados textos dos seguintes autores: Howard Gardner, Daniel Goleman,
Celso Antunes, Marta Relvas, Diva Maranhão, Dayse Serra e Maria da Graça
Azenha. Finalmente, é importante citar que também foram utilizados textos e
apostilas de professores da AVM Faculdade Integrada.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 16
CAPÍTULO III 23
CAPÍTULO IV 32
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
ÍNDICE 42
8
INTRODUÇÃO
Como lidar com as pressões na vida adulta se a maioria das escolas
ainda não nos ensina a gerir nossas emoções e sentimentos, e nem a
desenvolver habilidades para amenizarmos o impacto delas em nossas vidas?
E quais matérias as escolas podem incluir em seus currículos para desenvolver
essas inteligências e habilidades?
Esta monografia tem como objetivo principal apresentar a maneira pela
qual os pais e os professores podem estimular as inteligências múltiplas de
seus filhos e alunos e explicar a importância das escolas adotarem programas
de desenvolvimento da inteligência emocional desde o jardim de infância.
Também tem a proposta de explicar de que forma os psicopedagogos
institucionais podem trabalhar esses conteúdos, partindo do princípio que
esses profissionais atuam desenvolvendo habilidades e de modo preventivo.
Por último, demonstra exemplos de currículos e programas já
implantados em algumas escolas nos Estados Unidos que tem apresentado
resultados positivos.
O embasamento teórico desta monografia foi realizado através da leitura
de livros e artigos dos seguintes autores: Howard Gardner, Daniel Goleman,
Celso Antunes, entre outros.
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CAPÍTULO I
INTELIGÊNCIA OU INTELIGÊNCIAS?
A inteligência humana vem sendo estudada há séculos. É um tema
polêmico e curioso. Muitos pesquisadores já realizaram testes na tentativa de
quantificá-la. No entanto, com os avanços da tecnologia e, principalmente, com
a utilização da ressonância magnética, novas pesquisas vêm revolucionando
seu conceito.
“Inteligência” é a junção de outras duas palavras de origem latina. Inter
significa entre; e eligere significa escolher. Ou seja, de maneira geral, podemos
dizer que inteligência significa escolher a melhor entre duas ou mais opções.
Segundo a Enciclopédia Britânica, inteligência “é a habilidade de se
adaptar efetivamente ao ambiente, seja fazendo uma mudança em nós
mesmos, ou mudando o ambiente ou achando um novo ambiente”. Também
segundo a mesma fonte, “inteligência não é um processo mental único, mas
sim uma combinação de muitos processos mentais dirigidos à adaptação
efetiva do ambiente”.
(RELVAS, 2012, p.65)
De acordo com essa definição, que se relaciona à evolução do ser
humano, desde a época dos homens da caverna até hoje, é importante
conhecer a si próprio, o ambiente externo e ter a capacidade de se relacionar e
de se adaptar a esse ambiente.
Sternberg, apropriando-se dessa ideia, elaborou uma “teoria da
inteligência”, na qual afirma que a mesma é composta por três pilares
interligados: “o mundo interno, as relações com o mundo externo, e as
experiências que relacionam o mundo externo e o interno”.
(RELVAS, 2012, p.65)
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Em sua teoria, o autor define o mundo interno como cognição
(processos de decisão, o que fazer, como aprender para fazer); o mundo
externo, define como percepção e ação (capacidade de se adaptar e de
selecionar os melhores ambientes para se instalar); e a “integração dos
ambientes internos e externos por meio da experiência seriam a (capacidade
de enfrentar novas situações, criação de metas de ação).
Jean Piaget, ao pesquisar sobre os estágios do desenvolvimento
infantil, também estudou a inteligência humana e seus processos de aquisição
de conhecimento. Segundo o mesmo autor, uma parte da inteligência é
hereditária, mas precisa ser estimulada.
Muitos outros autores também se interessaram pelo tema da
inteligência. De acordo com a ideia defendida por Pièrre Levy que, em 1993,
desenvolveu a ideia de uma ecologia cognitiva, na qual uma pessoa não
poderia ser considerada inteligente sem linguagem, sem cultura, sem sua
história, sem religião e sem o meio que nos envolve.
Em 1905, a pedido do governo francês, Alfred Binet, juntamente com
Theodore Simon, elaborou uma escala para medir a inteligência, um tipo de
teste para identificar em que idade mental cada criança estava. Esse teste
classificava as crianças em “normais” e “retardadas”. Depois desse, outros
testes de QI foram criados. Alguns, até hoje utilizados, medem o grau
acadêmico de cada aluno.
No entanto, esses testes para QI valorizam mais as inteligências
linguística e lógico-matemática. Inclusive Piaget, ao estudar seus próprios filhos
e elaborar estudos sobre os estágios de desenvolvimento infantil, também
valorizava as mesmas duas áreas cognitivas.
Howard Gardner, psicólogo e grande estudioso de Piaget, pelo fato de
gostar muito de música e de artes, não compreendia a razão pela qual essas
duas e todas as demais áreas do conhecimento não estavam sendo
devidamente valorizadas nos currículos das escolas e das faculdades.
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Também ficava muito curioso ao verificar como algumas pessoas, após
terem sofrido sérios acidentes que afetaram parte do cérebro, perdiam algumas
habilidades, mas não perdiam outras. Essa curiosidade acabou levando
Gardner a estudar neurociência.
O próprio autor e pesquisador conceitua a inteligência “como um
potencial biopsicológico para processar informações e que pode ser ativado
num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam
valorizados numa cultura”.
(GARDNER, 2001, apud MELCA e BLOIS, 2005, p.65)
As novas pesquisas em neurobiologia nos instigam a pensar que o
cérebro humano possui áreas aproximadas específicas para cada tipo de
aprendizado, significando que cada uma dessas áreas pode representar um
tipo de inteligência.
Em 1983, Howard Gardner publicou seus estudos pela primeira vez. Ele
acreditava que essas oito áreas demarcadas no cérebro humano seriam, cada
uma delas, responsáveis por um tipo de inteligência, dando origem à sua teoria
das Múltiplas Inteligências.
Em entrevista à Revista Mente e Cérebro (edição 175 / agosto 2007),
Gardner responde:
A visão tradicional a respeito da inteligência, que prevalece há centenas de anos, sustenta que em nosso cérebro existe um único computador, de capacidade muito geral. Quando funciona bem, a pessoa é inteligente e capaz de destacar-se em qualquer atividade. Se o desempenho for apenas razoável, o portador consegue resultado satisfatório em diversas circunstâncias. Mas, se funcionar mal, o dono desse equipamento é um tolo, incapaz de estabelecer relações coerentes. Discordo disso tudo. Creio que a relação cérebro-mente pode ser descrita como um conjunto de oito ou nove sistemas distintos de elaborações fundamentais. Um deles pode atuar muito bem, enquanto outro apresenta rendimento mediano e um terceiro funciona mal.
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Portanto, a teoria das múltiplas inteligências veio para substituir a ideia
de que existia uma inteligência geral, única e inata.
Veremos resumidamente cada uma delas:
Linguística ou verbal: refere-se à linguagem escrita e falada. Revela-se
na capacidade de interpretar diferentes gêneros textuais, de se expressar bem,
de ler e escrever com facilidade, de contar histórias, de perceber diferenças de
entonação, de ritmos e significado das palavras; na capacidade de convencer,
de transmitir ideias, de ensinar. Tem sua maior expressividade em poetas,
escritores, palestrantes, teatrólogos, etc.
Inteligência lógico-matemática: envolve a capacidade de realizar
cálculos mentais, de reconhecer padrões, de lidar com símbolos abstratos, de
resolver cálculos complexos. É mais facilmente reconhecida em matemáticos e
cientistas. No entanto, Gardner ressalta que esses profissionais, apesar de
apresentarem de forma acentuada a mesma inteligência, possuem motivações
diferentes em seus trabalhos.
Musical: revela-se nas habilidades de perceber diferenças nas notas
musicais, ritmos e timbres. Inclui a capacidade de apreciar e compor músicas,
criar melodias, e de tocar instrumentos musicais. Tem sua maior expressão em
músicos, compositores, etc.
Visual ou espacial: revela-se nas habilidades de perceber o mundo real
e espacial com precisão, de visualizar ou criar objetos e formas geométricas
mentalmente, sob qualquer perspectiva, e de imaginação fértil. Tem sua maior
expressão em artistas plásticos, escultores, pintores, cartógrafos, desenhistas,
etc.
Cinestésica-corporal: é a capacidade de solucionar problemas com o
corpo ou partes dele, coordenação fina e grossa bem desenvolvidas, aptidão
para manipular objetos. Os profissionais que têm essa inteligência mais
apurada são os dançarinos, artistas circenses, esportistas, etc.
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Naturalista: é a habilidade de reconhecer e classificar espécies
botânicas e animais. Botânicos, biólogos e naturalistas possuem essa
habilidade bem apurada.
Interpessoal: envolve a capacidade de se colocar no lugar do outro, de
ouvir, de interpretar expressões faciais, mudanças de temperamento e de
humor, de se comunicar e de entender o outro, facilidade para trabalhar em
equipe e de liderar. Tem maior expressão em psicólogos, professores,
políticos, chefes de equipe, líderes religiosos, etc.
Intrapessoal: capacidade conhecer a si mesmo, de perceber suas
próprias emoções, domínio próprio, de reconhecer a maneira pela qual aprende
melhor, senso crítico e intuição aguçados, etc. Por ser a mais pessoal de todas,
essa inteligência só pode ser observada através de manifestações das demais
inteligências, expressando-se, por exemplo, verbalmente, através de uma
música, de um desenho ou de uma dança.
Gardner ainda acrescenta (mas não de modo oficial) uma “meia”
inteligência. Essa “meia” inteligência seria relativa ao fato de cada indivíduo ter
o potencial para todas as inteligências, mas a intensidade de cada uma varia
de inteligência para inteligência e de pessoa para pessoa. Essa variação
depende do quanto cada inteligência for estimulada e do quanto ela for
importante para cada cultura.
Segundo a revista “Mente e Cérebro” (edição especial de aniversário –
setembro de 2011) “Ele acredita que todo o ser humano tem uma forma única
de desenvolver processos cognitivos influenciada por interesses e desejos – é
a “meia” habilidade particular a mais”. (p.46)
Também segundo a mesma revista, Gardner define a “meia inteligência”,
como sendo um tipo de característica pessoal, que torna única a combinação e
o somatório das inteligências de cada indivíduo.
Segundo o próprio Gardner, há três aplicações para o termo inteligência.
Na primeira, a inteligência seria uma propriedade inerente a todos os seres
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humanos, e que todos nós temos no mínimo oito delas. Na segunda, a mesma
seria a dimensão pela qual os indivíduos diferem. E na última, a inteligência é
definida como a maneira pela qual uma pessoa executa um trabalho em função
de seus próprios desejos pessoais.
De acordo com sua teoria, podemos considerar oito múltiplas
inteligências, mas esse número ainda é relativo e já antecipa que essa
quantidade ainda pode aumentar. Gardner ainda pensou em considerar mais
algumas inteligências como a pictórica, a existencial, a espiritual, a pedagógica,
a sexual e até a capacidade de concentração.
Quanto à inteligência pictórica, Gardner, mesmo tendo consciência de
que o talento para reproduzir ou inventar imagens por meio de uma pintura ou
de um desenho seja elevado em poucos, mesmo sendo inerente ao ser
humano, acredita que ela possa conter traços de outras inteligências, como a
espacial (para captar o espaço que pode ser utilizado para a criação ou
reprodução da imagem); da cinestésica-corporal (na habilidade de manuseio do
lápis, pincel, ou qualquer outro material utilizado); e da inteligência interpessoal
(pela habilidade de perceber a maneira pela qual outras pessoas podem vir a
interpretar seus quadros).
Podemos perceber a “inteligência pictórica” pela elevada habilidade de
se expressar pelo desenho, pelo movimento dos traços, pela sensibilidade na
escolha das cores, etc. Também revela-se através da habilidade em desenhar
utilizando a computação gráfica.
No entanto, essa capacidade ainda é motivo de discussão. Nilson
Machado, um brasileiro e estudioso de Gardner, discorda do autor e defende a
ideia de que a habilidade descrita acima pode ser considerada uma inteligência
independente.
Gardner acredita que, mesmo havendo a polêmica se a capacidade para
se expressar através de desenhos e criação de imagens pode ser considerada
uma inteligência ou não, mais importante é os pais e professores saberem:
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identificá-la; aceitá-la como uma forma de linguagem independente; e de poder
incentivá-la em seus filhos e/ou alunos.
A respeito de outras capacidades, o próprio autor respondeu em
entrevista:
“Eu mesmo considerei a possibilidade de uma capacidade adicional da
inteligência pedagógica, ou o talento de ensinar os outros, mas não realizei o
estudo sistemático necessário para introduzi-lo na lista”.
(Revista Mente e Cérebro, p.52)
Seu colega de trabalho, Antonio Battro, tentou convencê-lo da existência
da inteligência digital; e o neurocientista Michel Posner o desafiou a
acrescentar a capacidade de se concentrar como mais uma inteligência.
No entanto, apesar de tantas especulações se novas inteligências serão
acrescentadas ou não, por enquanto existem oito inteligências determinadas
pela teoria das Inteligências Múltiplas.
O mais importante a partir deste estudo é que pais, professores e
demais profissionais da área de educação saibam reconhecer essas
inteligências em seus filhos e/ou alunos e ajudá-los a estimulá-las, pelo menos
as que se destacam mais. Indiscutivelmente, ao fazermos o que gostamos ou
aquilo para que possuímos mais facilidade, nos tornamos pessoas mais felizes
e realizadas.
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CAPÍTULO II
COMO ESTIMULAR INTELIGÊNCIAS?
Preocupado com a área educacional, Howard Gardner começou a
desenvolver sua própria linha pedagógica, concentrando-se na importância dos
anos anteriores à universidade para a apreensão de conteúdos nas principais
matérias.
A partir deste estudo, chegou à conclusão de que um bom professor que
se apropria da teoria das múltiplas inteligências, deveria “individualizar” e
“pluralizar”.
Individualizar no sentido de entender como cada um de seus alunos
aprende melhor (o perfil de inteligência de cada um) e, na medida do possível,
ministrar suas aulas e realizar avaliações de modo que eles possam
desenvolver suas próprias potencialidades.
E pluralizar no sentido de que o mestre deve ensinar os conteúdos que
considerar mais relevantes, formas diferentes; porque a partir do momento que
o mesmo tópico é apresentado de várias maneiras, mais chances o professor
oferece a seus alunos de entenderem cada uma delas.
Gardner afirma que, quando realmente apreendemos um conceito,
podemos analisá-lo sob vários ângulos e, desta maneira, utilizarmos nossas
inteligências múltiplas. De outro modo, se ficarmos presos a uma única forma,
a compreensão do conteúdo será mais superficial.
Ao se modernizarem, as escolas também deveriam rever seus
conteúdos e sua maneira de ensinar. De diversas maneiras os diretores, os
professores e até mesmo os pais em casa, podem desenvolver as Múltiplas
Inteligências nas crianças e adolescentes.
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Para a aprendizagem da matemática, é muito importante “matematizar”
as situações do cotidiano. Antes de aprender as quatro operações, as crianças
já podem e devem aprender que existe matemática num jogo de futebol e no
troco que sua mãe recebe ao comprar o pão na padaria, por exemplo. Também
podem perceber que, às vezes, certas situações não possuem lógica nenhuma.
Jogos de damas, xadrez, gamão, entre outros, são ótimos para a criança
desenvolver sua percepção e seu raciocínio lógico matemático.
Jean Piaget fundamenta, com muita propriedade, o estímulo a essa
inteligência ao afirmar que o bebê, ainda no berço, inicia suas percepções
lógicas-matemáticas ao explorar suas chupetas, chocalhos e móbiles.
Já um pouco mais crescida, a criança se torna capaz de perceber a
“permanência” de seus brinquedos, e é capaz de falar sobre eles mesmo sem
vê-los; depois passa a reconhecer semelhanças e diferenças entre os mesmos,
podendo separá-los em conjuntos de cores, tamanhos, formas, categorias, etc.
No estágio operatório concreto, ela já é capaz de dar valor aos objetos,
de confrontar conjuntos, de verificar qual deles possui maior quantidade.
As habilidades operatórias (confrontar, identificar, comparar, calcular) ganham contornos definidos e a criança adquire uma razoável noção sobre o conceito de quantidade. O desenvolvimento matemático segue a passagem das ações sensório-motoras para as operações formais concretas, e da capacidade de cálculo avança para raciocínios lógico- experimentais.
(ANTUNES, 2010, p. 31)
A capacidade para essa inteligência aparece de forma mais acentuada
em algumas pessoas do que em outras. Em alguns casos, ela pode se
destacar em relação a outros talentos mesmo sem estímulos. No entanto, o
fato é que pais e professores, sabendo alfabetizar seus filhos e alunos
matematicamente, obterão resultados muito mais significativos e positivos.
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A inteligência verbal ou linguística é uma das mais valorizadas em nossa
cultura.
Apesar de ter sido desvalorizado por algum tempo, alguns cientistas e
pesquisadores tentam provar que o método fônico é a melhor forma de
alfabetização, pelo menos numa língua “grafo-fonêmica” como a nossa.
Com o avanço e o modismo do “construtivismo” e a alfabetização
ocorrendo pela própria leitura através do método global, acabou por aumentar
o número de alfabetizados funcionais, que sabem ler, mas não compreendem o
que lêem.
Celso Antunes afirma que a alfabetização fonética é o centro da
inteligência linguística, e acredita que ainda é a de maior aceitação em nossa
cultura.
Para estimular a inteligência linguística, é necessário um ambiente
letrado e com muitas conversas.
Um bebê, ainda no berço, já começa a querer balbuciar suas primeiras
palavras. É muito importante, neste primeiro momento, que os pais apreciem
esse balbucio e que estimulem seu filho a “falar” mais conversando com ele,
cantando para ele, contando histórias para ele.
Uma maneira de estimular a criança consiste em falar bastante com ela, mas não como quem apresenta um receituário de atitudes desejáveis, e sim como quem procura um interlocutor para colher suas impressões, estimulando com audição atenta a expressão de suas opiniões. Mesmo quando essas opiniões se distanciam do real e invadem o campo da espacialidade, é essencial que a criança opine, cante, invente, sobretudo, disponha de ouvintes estimulantes, dispostos a “arrancar” depoimentos.
(ANTUNES, 2010, p.46)
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Com seis ou sete anos, a criança já é capaz de brincar com jogos de
palavras, telefone sem fio e outras brincadeiras afins. Também é interessante,
nesta faixa etária, pedir para que a criança reescreva uma história contada.
No entanto, é válido destacar que, embora seja importante aumentar o
vocabulário, podemos considerar que uma pessoa tenha essa inteligência mais
apurada se ela conseguir, por exemplo, descrever imagens e transmitir
sentimentos, mesmo com vocabulário restrito.
Quanto à inteligência espacial, seu estímulo pode ser feito de diversas
maneiras e com estratégias apropriadas para cada faixa etária.
Com crianças menores, podemos, por exemplo, contar histórias sem
encerrá-las, para que tenham a oportunidade de interagir com as mesmas e
criar mentalmente um final para elas.
Também é interessante que pais e professores questionem e perguntem
a seus filhos e alunos suas opiniões sobre fatos do cotidiano, mas com o
cuidado de não julgar se suas respostas estarão certas ou equivocadas.
O uso do brainstorming para as crianças é uma maneira interessante de
estimular o pensamento criativo a inteligência espacial, pois a permite se
expressar sem nenhum tipo de censura.
O uso do brainstorming com as crianças pode ser complementado
através de desenhos. Oferecer papéis de vários tamanhos diferentes, de
preferência começando do menor para o maior, é válido porque delimita a área
que a criança pode utilizar para a sua arte. É também importante que ela se
sinta à vontade para criar, e os pais e professores precisam entender que sua
vontade de, por exemplo, desenhar um cachorro azul é legítima, e devem
estimular para que ela continue desenhando assim. Mas, em contrapartida,
precisam dizer a ela que não existem cachorros azuis.
Para as crianças de maior faixa etária, um estímulo importante oferecido
pela escola é o trabalho com a utilização de mapas.
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A Inteligência cinestésica corporal não é tão valorizada em nossa cultura
como a verbal e a lógico-matemática. Apesar do Brasil ser considerado o “País
do Futebol” e da educação física ser obrigatória nas escolas, muitos pais e
educadores ainda não compreendem a real relação entre atividade física e
aprendizagem.
“Corpo são, mente sã”, já diziam os grandes filósofos gregos. No
entanto, a nossa cultura ocidental dá mais valor ao trabalho mental do que ao
braçal.
A inteligência corporal pode ser estimulada de diversas maneiras. Em
casa, ainda pequena, a criança pode ser estimulada a se vestir e a comer
sozinha. Por estar relacionada ao aprimoramento dos cinco sentidos, também
pode ser estimulada a provar diversos tipos de alimentos, a sentir diferentes
cheiros, a observar cores, a tocar em diversos tipos de objetos e texturas.
Na escola, ela costuma ser estimulada pela educação física, pelos jogos
de psicomotricidade. Mas as mesmas deveriam voltar a valorizar as aulas de
artes, de costura, de marcenaria, de pintura, etc.
Mesmo no caso da atenção, tão cobrada e reclamada, mas jamais ensinada em nossas escolas, há indícios seguros de sucesso com o emprego sistemático de alguns exercícios específicos. Diante desse quadro, parece importante destacar que o estímulo dessa inteligência deve ser promovido”... “com programas que disciplinem, sistematizem e saibam avaliar o aprimoramento do tato, do paladar, do olfato, da atenção com atividades teatrais e circenses como jogos mímicos diversificados, mas principalmente com a plena aceitação, por parte dos pais e educadores, do fato de que a educação do corpo é possível e plausível até mesmo para harmonizar melhor o desenvolvimento mental.
(ANTUNES, 2010, p.53)
Como dito anteriormente, apesar de não ser tão valorizada quanto
outras em nossa cultura, essa inteligência, quanto mais trabalhada, representa
para a criança mais facilidade em se concentrar e mais aprimorada será a sua
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coordenação fina e grossa. Um médico-cirurgião, por exemplo, necessita ter
uma boa coordenação para realizar com sucesso suas operações.
A inteligência musical é uma das mais fáceis de identificar. Em quase
todas as culturas, conseguimos perceber a criança que é mais afinada, que
possui um “bom ouvido” para a música, se ela demonstra facilidade para tocar
algum instrumento, etc.
Comumente, essa habilidade é considerada um talento. Mas devemos
ter cuidado ao usar essa palavra, pois talento apresenta uma ideia de exclusão.
De maneira geral, todas as inteligências são encontradas em todas as
pessoas, mas algumas apresentam essa capacidade mais desenvolvida do que
outras.
O Brasil é um país rico em musicalidade, devido principalmente aos
ritmos trazidos pelos escravos africanos. Mas, infelizmente nem todas as
escolas oferecem educação musical.
Para aprender música, é necessário que a criança aprenda teoria
musical: aprender as notas, os símbolos musicais, a ler partituras, etc.
O estímulo a essa inteligência pode ser iniciado com o bebê ainda na
barriga de sua mãe. Já foi comprovado que o feto consegue escutar a voz e o
timbre de sua mãe ou de quem fala com ela. Consegue perceber também se a
voz demonstra carinho ou sentimento de raiva.
Quando os bebês começam a balbuciar, normalmente repetem sons que
já conhecem e já são capazes de se envolver em brincadeiras com sons. A
partir dos dois anos, as crianças já são capazes de inventar sons e melodias.
Na escola, uma brincadeira interessante que pode ser feita na educação
infantil, é pedir para a criança identificar sons: se o som escutado é de algum
animal, se são vindos da natureza, se são produzidos por instrumentos
musicais, se podem ser encontrados no cotidiano, nas ruas etc.
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Um elemento que parece importante destacar no estímulo da inteligência musical é a preocupação em separar a aprendizagem da música e a aprendizagem do som. Parece ser mais importante estabelecer que a “linguagem do som” deve ser estimulada em todos, ainda que alguns, certamente com maior competência, possam aperfeiçoá-la com a aprendizagem musical propriamente dita.
(ANTUNES, 2010, p.59-60)
A inteligência naturalista só foi considerada por Howard Gardner em
suas obras posteriores.
Para estimulá-la, podemos realizar passeios e excursões em sítios e
parques com reservas naturais e, ao mesmo tempo propondo uma “aventura
interativa”, instigando a curiosidade dos estudantes, fazendo perguntas sobre
as plantas e os animais.
De vez em quando, é importante com que a escola se aproprie de
elementos da natureza como chuva, ventania ou rastros e sons de pequenos
animais. Uma aula-passeio em um parque ou a uma floresta, além de ser mais
interessante para as crianças, une o estímulo da inteligência naturalista a
várias outras, cabendo ao professor saber explorá-las.
Como já dito anteriormente, Gardner defende a ideia de que os
professores devem ensinar os conteúdos mesclando as metodologias de
maneira que, alguma ou algumas delas possam fazer sentido a seus alunos.
Quanto mais cedo um bebê começar a ser estimulado, e quanto mais
tipos de estímulos ele tiver, mais facilidade ele terá para adquirir novos
conhecimentos.
Este capítulo apresentou algumas ideias de como pais e mestres podem
melhorar as habilidades de seus filhos e alunos. No entanto, as inteligências
pessoais (intrapessoal e interpessoal) serão descritas no próximo capítulo.
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CAPÍTULO III
AS INTELIGÊNCIAS PESSOAIS E A ATUAÇÃO DO
PSICOPEDAGOGO
O cérebro humano possui três partes responsáveis pelo processo de
aprendizagem: o hipotálamo, o córtex e o sistema límbico.
O hipotálamo é responsável pelas funções ligadas à sobrevivência e
reprodução; o córtex controla a nossa parte motora, perceptiva, sensitiva e o
nosso pensamento; o sistema límbico é a parte responsável pelas nossas
emoções e sentimentos. É o que nos torna equilibrados ou desequilibrados
emocionalmente.
Pesquisas neurológicas do final do século XX, principalmente as
realizadas pelos doutores Paul Maclean, Joseph LeDoux e Stanyslaw Grof,
comprovaram que essas três partes do cérebro humano são interdependentes,
funcionam ao mesmo tempo e se complementam. No entanto, dependendo da
natureza do estímulo enviado, uma parte pode sobressair momentaneamente
sobre a outra.
Assim, poderíamos dizer que cada cérebro possui uma capacidade própria de aprender e uma forma toda particular de trabalhar esta aprendizagem; em outras palavras, possuiria três estruturas biológicas de inteligência, sendo: a Inteligência Instintiva, a Inteligência Racional e a Inteligência Emocional.
(RELVAS, 2012, p.77)
Portanto, é de fundamental importância para o equilíbrio de um
indivíduo, receber todos os tipos de estímulos: motores, cognitivos, sensoriais e
emocionais.
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Todas as emoções são, em essência, impulsos, legados pela evolução, para uma ação imediata, para planejamentos instantâneos que visam lidar com a vida. A própria raiz da palavra emoção é do latim movere – “mover” – e acrescida do prefixo “e” – que denota afastar-se, o que indica que em qualquer emoção está implícita uma propensão para um agir imediato.
(GOLEMAN, 2007, p. 32)
Sob esse ponto de vista da própria etimologia da palavra, todas as
emoções do ser humano foram essenciais para a história de sua sobrevivência
e evolução. Em muitas situações, como fugir do ataque de um animal feroz,
parar para raciocinar o que fazer, poderia custar a vida de uma pessoa; mas
agir impulsivamente pela reação do medo, poderia garantir a sua
sobrevivência.
No entanto, com o avanço da civilização humana, a “alfabetização
emocional” adquiriu um novo enfoque. Além de continuar a garantir a
sobrevivência, a reprodução e a evolução da espécie, a inteligência emocional
para a modernidade significa a capacidade de nos relacionarmos mais
adequadamente com outras pessoas; de melhor conhecermos e controlarmos
a nós mesmos e de evitarmos conflitos e algumas doenças tipicamente sociais,
como o estresse e a depressão.
Segundo Antunes, a inteligência interpessoal tem como base principal a
habilidade para perceber distinções nas pessoas; principalmente, as diferenças
em seus estados de humor, suas motivações, seus desejos e até em seus
temperamentos.
As inteligências intrapessoal e interpessoal são as mais complexas de
se entender, pois muitas vezes dependem da manifestação de outras
inteligências. Como exemplo, um artista pode expor seu estado emocional
através de um quadro, mas necessita de suas habilidades cinestésicas,
espaciais e de seus conhecimentos artísticos para conseguir pintar aquilo que
deseja.
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Uma característica de ambas as inteligências pessoais, é que seu
excesso ou sua escassez, muitas vezes são considerados casos patológicos.
Como exemplo, um indivíduo que apresente uma acentuada baixa estima, a
ponto de atrapalhar seus relacionamentos e seu rendimento no trabalho, deve
ser incentivado a se consultar com um psicólogo. O mesmo não ocorre com o
fato de uma pessoa ter ou não habilidades para tocar instrumentos musicais.
Existem sinais característicos e funções específicas para cada reação
emocional. Quando sentimos medo, empalidecemos porque o sangue e a
nossa energia fluem para nossas pernas, para estarmos prontos para fugir;
quando ficamos com raiva, nosso sangue “corre” para nossas mãos, para
estarmos prontos para dar um soco em alguém ou sacar uma arma; quando
ficamos tristes, quase deprimidos, ficamos com uma baixa de energia, como
uma defesa natural para não nos afastarmos muito de casa; quando ficamos
alegres, ficamos naturalmente mais relaxados, afastamos pensamentos de
preocupação e, ao mesmo tempo, ficamos com mais energia e disposição para
fazermos atividades que nos interessam. Além desses exemplos,
manifestações de choro como sinal de tristeza e mal-estar, e sorriso como sinal
de alegria e bem-estar são assim interpretados em todas as culturas.
O emocional de um indivíduo deve sempre estar funcionando em
harmonia com a área cognitiva. Caso contrário, ele entraria em desequilíbrio.
Portanto, é muito importante que as inteligências intrapessoais e interpessoais
sejam estimuladas desde a mais terna infância.
Sentimentos e suas reações podem “aparecer” desde quando o bebê
ainda está na barriga de sua mãe, pois a relação entre a mãe e o filho vai além
do cuidar físico. Como já dito anteriormente, desde o ventre o feto já escuta a
voz humana, e percebe se o tom é de carinho ou de agressividade.
Com dois meses de idade, um neném é capaz de reconhecer algumas
expressões faciais como de alegria, tristeza, carinho ou rejeição.
26
Podemos ressaltar então a importância da educação infantil para uma
criança. Em uma fase em que a criança é altamente voltada para si mesma, a
socialização com outras crianças de sua idade faz toda a diferença em seu
desenvolvimento.
Sabe-se que a infância é o período mais importante na construção global de uma pessoa e que se determinam certos marcadores que permanecerão ativos por toda a vida. É imprescindível o manejo adequado desta fase que trem seu início no útero materno e se estende até os doze anos da criança.
(RELVAS, 2012, p.84)
Segundo Vygotsky, a aprendizagem ocorre na relação da criança com o
ambiente. E é interagindo com o seu amigo de infância que ela descobre a si
mesma.
Vygotsky, em concordância com Piaget e Wallon, menciona em suas
obras a importância da afetividade no processo de ensino-aprendizagem.
Atualmente, sabemos que a memória é fundamental para a aprendizagem. No
entanto, tudo o que aprendemos com “um toque” de emoção, se fixa melhor em
nossa memória.
Mas antes de demonstrarmos de que maneira os psicopedagogos, pais
e professores podem estimular a inteligências pessoais em seus filhos e/ou
alunos, vejamos brevemente o seu surgimento e os objetivos da
psicopedagogia.
A psicopedagogia é uma área de estudo recente e, em nosso país,
existe há aproximadamente trinta anos.
Teve sua origem na Europa, mais especificamente na França, durante o
século XIX. Apareceu no intuito de intervir nos problemas de aprendizagem da
época.
No entanto, foi aprimorada na Argentina, tendo Pichón Rivière e Jorge
Viska como seus maiores representantes.
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Abrange várias outras áreas do conhecimento como a psicologia, a
psicanálise, a sociologia, a linguística e a neurociência.
De acordo com o código de ética da Associação Brasileira de
Psicopedagogia:
CAPÍTULO I: DOS PRINCÍPIOS
Artigo 1º
A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio – família, escola e sociedade – no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia.
E acrescido em parágrafo único:
“A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento
relacionado com o processo de aprendizagem”.
Ou seja, a psicopedagogia tem como foco principal de seu estudo a
aprendizagem humana. Portanto o profissional da área pode atuar em qualquer
âmbito que a aprendizagem aconteça.
Da mesma maneira que a aprendizagem pode ocorrer a qualquer tempo
em qualquer lugar de nossas vidas, também podem aparecer dificuldades de
aprendizagem. Essas dificuldades podem surgir de várias origens: cognitivas,
afetivas, sociais e culturais.
O psicopedagogo institucional atua de maneira preventiva, normalmente
com pequenos grupos heterogêneos de alunos, visando elevar o potencial de
cada um deles e ensinando habilidades.
Essas novas capacidades permitem aos estudantes aprender de forma
mais eficaz os conteúdos escolares, e evitam que os alunos venham a
apresentar futuras dificuldades de aprendizagem.
28
Na instituição escolar, o psicopedagogo trabalha orientando a equipe
docente e os professores. Aos primeiros, ajuda na elaboração do projeto
político pedagógico, a rever metodologias e didáticas, contextualizando-as, e
até a repensar a parte de estrutura física da escola, de modo a torná-la mais
inclusiva, entre outros aspectos. Aos mestres, ajuda a pensar a maneira pela
qual podem lidar melhor com cada um de seus alunos, orientando-os a realizar
as adaptações curriculares que se fizerem necessárias, e de que maneira
podem tornar suas aulas mais atrativas e significativas para os alunos.
Diante da mesma ótica, neste grupo heterogêneo em que atua, o
profissional da psicopedagogia poderia também incluir habilidades de
concentração e autodomínio, incluindo o controle dos impulsos e das emoções,
uma vez que, como já dito anteriormente, auxilia bastante o aluno a conseguir
aumentar seu rendimento nos conteúdos escolares.
Com base nesta afirmação, o psicopedagogo pode orientar os
professores a buscarem formas didáticas de estimular as inteligências
emocionais em seus alunos através de jogos socializadores; de brincadeiras
utilizando espelhos, a fim de que a criança perceba a si mesma e ao outro;
brincando de feliz e triste; nomeando as emoções e, principalmente,
legitimando os sentimentos das crianças, mesmo em situações nas quais a
atitude que o aluno apresente, pareça “bobagem” para um adulto.
Histórias de contos de fadas são interessantes de serem contadas para
crianças, pois a grande maioria delas, apresenta a “batalha” do bem contra o
mal, questões ligadas à superação, o enfrentamento da morte, relações de
família alteradas com o aparecimento da madrasta, entre outras situações que
são importantes que as crianças saibam que existem e que tirem suas próprias
conclusões de como enfrentá-las.
29
A estimulação da inteligência interpessoal não é muito difícil, ainda que seus resultados sejam extremamente lentos e seus métodos necessitem do emprego de fundamentos adequados. Ao que tudo indica, esses métodos integram em verdadeira multidisciplinaridade alguns fundamentos da educação, da psicologia, da neurolinguística e da psicopedagogia, e devem estabelecer diferenças claras e nítidas entre seu enfoque “pedagógico”, a ser empregado com todos os alunos, da educação infantil à terceira idade.
(ANTUNES, 2010, p. 89)
Em escolas de nível fundamental, a “alfabetização emocional” pode vir
disfarçada entre outros conteúdos. Por exemplo, ao dar uma matéria específica
de português, o professor pode dar um texto que fale sobre relações de
amizade.
No cenário atual, inclusive no Brasil, no qual aumentaram os casos de
bullying, também podem ser trabalhados textos e debates em que o professor
possa fazer com que o “agressor” se coloque no lugar da vítima.
Em casa, os pais devem estar cientes de que é mais relevante a
qualidade do tempo que passa junto com os filhos, do que a quantidade do
tempo em si.
Também é importante que os pais reaprendam a dizer “não” para seus
filhos, impondo limites e fazendo com que as crianças aprendam a lidar com as
suas frustrações. Adiar recompensas, fazendo-as aprender a esperar, é
igualmente fundamental para o desenvolvimento emocional delas.
Os pais podem atrapalhar ou auxiliar no desenvolvimento emocional dos
filhos. Os erros mais comuns dos pais que inconscientemente prejudicam seus
filhos nesse sentido são: ignorar os sentimentos das crianças por acreditarem
que os motivos pelos quais seus filhos estão chateados são banais e perder a
oportunidade de conversar com eles ou de demonstrar alguma forma de
solidariedade ou afeto; poder até entender o que os filhos estão vivenciando e
sentindo, mas permitir que eles se “virem” sozinhos, até mesmo se a solução
30
encontrada for bater em outras crianças; “comprar” os filhos, para que
esqueçam o que os deixou tristes, sem ao menos conversar sobre o que
sentiram; ou serem severos demais com as críticas e censuras, sendo capazes
de colocar seus filhos de castigo, apenas por terem manifestado sua raiva.
De fato, para poderem ajudar seus filhos, os pais devem ter algum
conhecimento em inteligência emocional, como, por exemplo, saber distinguir e
nomear sentimentos. Devem também ter paciência e sensibilidade para
escutarem seus filhos e legitimar seus sentimentos. Devem ser capazes de
desvendar o medo de um filho com carinho; e não simplesmente dizer que o
que ele está sentindo é uma “bobagem” de criança.
Crianças que sabem minimamente controlar seus impulsos são mais
aceitas emocionalmente, menos agressivas e mais relaxadas “biologicamente”.
“A primeira oportunidade para moldar os ingredientes da inteligência
emocional, é nos primeiros anos, embora essas aptidões continuem a formar-
se durante todo o período escolar”.
(GOLEMAN, 2007, p. 211)
Durante os três ou quatro primeiro anos de vida da criança o cérebro
humano cresce aproximadamente dois terços de seu tamanho final. É um
período único, em que ela é capaz de aprender tudo o que lhe é ensinado com
mais rapidez e com mais facilidade, mais do que na vida adulta. Por isso que é
tão importante a criança nesta faixa etária possuir todos os tipos de estímulos,
inclusive os emocionais.
É importante destacar que Daniel Goleman e Howard Gardner são dois
influentes pesquisadores no estudo da inteligência emocional. No entanto, seus
pensamentos divergem na medida em que o primeiro acredita, e deixa
transparecer em seus livros, nos valores morais que a “educação” das
emoções pode conferir a um indivíduo; enquanto o segundo acredita que essa
mesma “educação” das emoções pode elevar o potencial das pessoas tanto
31
para o bem quanto para o mal. Isso dependeria mais da índole de cada uma
delas, do que da inteligência propriamente dita.
Este capítulo procurou explicar a importância das inteligências
emocionais em nossas vidas e os motivos pelos quais devemos aprender mais
sobre elas. Procurou também demonstrar a função da psicopedagogia e do
psicopedagogo e até mesmo dos pais quanto a seu estímulo.
32
CAPÍTULO IV
METODOLOGIAS E CASOS DE SUCESSO
Ao iniciarmos este novo capítulo, é relevante ressaltar que há
controvérsias a respeito do que foi exposto até o presente momento sobre
“alfabetização emocional”. Há autores que não acreditam que o controle das
emoções possa ser realmente ensinado. Acreditam que existem apenas dois
“tipos” de indivíduos: os resilientes, que criam vínculos seguros; e os de risco,
que criam vínculos frágeis com as pessoas de sua convivência.
No entanto, pretendemos aqui expor algumas metodologias criadas por
algumas escolas e centros de referência em “alfabetização emocional” dos
Estados Unidos, no intuito de defender a ideia central desta monografia.
No Centro de aprendizado Nueva Lengua, na cidade de São Francisco,
há uma aula denominada “Ciência do Eu”, um “treinamento modelar em
inteligência emocional”, cujo foco principal são os sentimentos. Durante a aula,
a professora posiciona seus alunos sentados em roda em estilo hindu e, ao
fazer a chamada, ao invés de os alunos responderem “presente”, eles
respondem como estão se sentindo no dia e justificando a sua resposta. E em
qualquer conflito que as crianças e os adolescentes enfrentem, a professora
atua como mediadora e faz com que eles reflitam sobre a razão de estarem
agindo assim, o que provocou a situação e o que eles estão sentindo em
relação a ela.
O Projeto Spectrum de Howard Gardner, um currículo elaborado nos
moldes de sua teoria das Inteligências Múltiplas e aplicado na “Pré-Escola
Eliot-Pearson”, também nos Estados Unidos, tem como objetivo central
identificar e valorizar as aptidões inatas das crianças pequenas, além daquelas
focadas pelas escolas tradicionais.
33
Gardner acredita que toda escola deve incentivar todas as aptidões das
crianças, e não somente aquelas que evolvam números e letras. O autor
pretende, com esse projeto, aumentar o espectro de talentos humanos.
Esse currículo inclui atividades que dão oportunidade às crianças de
desenvolverem diversos talentos e ajuda a identificarem onde se sentem
melhor. Assim, a principal contribuição que esse modelo de educação pode
oferecer a uma criança é auxiliá-la a, no futuro, optar por uma profissão para a
qual possua um talento inato e, consequentemente, ser mais feliz e competente
em sua atuação.
Na escola Augusta Lewis Troup, também nos Estados Unidos, durante a
“Aula de Aptidões para a Vida”, quando a professora percebe que alguma
criança está furiosa, a ponto de sair do controle, ou, pelo contrário, está
retraída por algo que a perturbou ou chorando demasiadamente, utiliza a
metodologia aplicada para o aprendizado do controle do impulso: um cartaz
confeccionado no formato de um sinal de trânsito, subdividido em seis etapas:
Sinal vermelho:
1-Pare, se acalme e pense antes de agir.
Sinal amarelo:
2-Diga qual é o problema e como você se sente.
3-Estabeleça uma meta positiva.
4-Pense em muitas soluções.
5-Tente prever as consequências.
Sinal verde:
6- Siga e tente o melhor plano.
(GOLEMAN, 2007, p. 291)
34
Os currículos em alfabetização emocional, como os utilizados na Escola
Troup e nas aulas da “Ciência do Eu”, foram criados a partir de uma tentativa
desesperada de contornar a onda de pobreza, violência e abuso de drogas
no bairro de New Heaven, nos Estados Unidos.
Durante a década de 1980, uma equipe de educadores e psicólogos da
Universidade Yale, elaborou o “Programa de Competência Social”.
Além dos problemas citados acima, New Heaven é o bairro que
apresenta o maior índice de mulheres portadoras do vírus da Aids do país.
Sendo assim, com tantos problemas desta natureza, seria impossível ensinar
apenas matérias acadêmicas.
Outro projeto em alfabetização emocional que também surgiu em função
de problemas sociais é o “Programa de Solução Criativa para Conflitos” e que
foi implementada em várias escolas públicas do país. Esse currículo
diferenciado inclui aulas de como solucionar conflitos internos na escola sem
ser através de agressões físicas.
Linda Lantieri, fundadora e diretora do centro nacional do curso, acredita
que seu projeto pode ir além de controlar brigas. Para isso, alguns alunos são
selecionados para serem mediadores de conflitos dentro e fora das salas de
aula.
O “Projeto de Desenvolvimento da Criança” idealizado pela equipe de
Eric Schaps, tem por finalidade transmitir ensinamentos emocionais e sociais
incluídos em outras disciplinas escolares – o currículo invisível.
Todos os professores que ensinam sobre o controle das emoções
passam por uma capacitação específica.
35
Além do treinamento do professor, a alfabetização emocional amplia a visão acerca do que é a escola, explicitando-a como um agente da sociedade encarregado de constatar se as crianças estão obtendo os ensinamentos essenciais para a vida- isto significa um retorno ao papel clássico da educação.
(GOLEMAN, 2007, p.295)
O controle das emoções permite diminuir o índice de violência, de
distúrbios alimentares, do uso de drogas, de sexualidade precoce, de
repetência, entre outros aspectos nas escolas e nas comunidades.
Qualquer indivíduo com prática emocional bem desenvolvida tem mais probabilidade de sentir-se satisfeito e de ser eficiente em sua vida, dominando os hábitos mentais que fomentam a sua produtividade; os que não conseguem exercer nenhum controle sobre sua vida emocional travam batalhas internas que sabotam a capacidade de concentração no trabalho e de lucidez de pensamento.
(MARANHÃO, 2007, p.81)
A criança mais confiante, menos ansiosa e, consequentemente sabendo
solucionar seus conflitos de maneira mais racional, apresenta um rendimento
melhor nas aulas.
Uma das mais importantes contribuições da “alfabetização emocional” é
fazer com que as pessoas parem para pensar antes de agir. Essa afirmação
até parece óbvia, mas a verdade é que a maioria delas não sabe controlar seus
impulsos e acabam por se agredir por vários motivos irrelevantes.
Pensar antes de agir pode significar mudar as consequências
positivamente.
Como exemplo de melhoria, o diretor da escola Troup havia imposto
uma regra na qual todos os estudantes que fossem vistos se agredindo seriam
suspensos. No entanto, no decorrer de alguns anos, constatou-se uma queda
na quantidade de suspensões.
36
Porém, além deles, existem dados estatísticos que demonstram que,
apesar de ninguém conseguir mudar seu interior de um dia para o outro, à
medida que as crianças avançam nos currículos, apresentam melhorias
incontestáveis em seus comportamentos dentro e fora da escola e em sua
capacidade de aprender, em relação a outros meninos e meninas que não os
cursaram.
Daniel Goleman afirma que o projeto ideal dos cursos que oferecem
alfabetização emocional é iniciar na primeira infância, ser adequado à idade,
corresponder ao tempo de escolaridade e que os trabalhos possam ser
realizados não somente na escola, mas também em casa e na comunidade.
Citando as palavras do mesmo autor:
“Apesar do grande interesse que têm os educadores na alfabetização
emocional, esse gênero de treinamento é difícil de ser encontrado; a maioria
dos professores, diretores e pais simplesmente nem sabem que eles existem”.
(GOLEMAN, 2007, p.301)
É claro que nenhum trabalho em educação é milagroso e a maioria dos
esforços realizados na área são a longo prazo. Mas se essa proposta de
currículo pode fazer alguma diferença em nossas vidas, por que não
começarmos logo sua divulgação?
37
CONCLUSÃO
O papel desta monografia e, principalmente do último capítulo, é tentar
demonstrar que a educação não pode ser constituída apenas por conteúdos
escolares. O ser humano, por ser altamente complexo e holístico, deve possuir
uma educação de qualidade, que seja abrangente e que o prepare para a vida.
Em um mundo cada vez mais globalizado e tecnológico, onde as
pessoas estão sendo separadas em prol da competitividade, precisamos
reaprender a conviver entre nós mesmos, seres humanos. E um ensino mais
humanizado é o primeiro passo para revermos nossos conceitos e
concretizarmos minimamente nosso desejo de viver mais harmonicamente.
Através do estímulo das Inteligências Múltiplas, um indivíduo é capaz de
se desenvolver mais plenamente e de poder reconhecer em si mesmo a área
para a qual possui maior aptidão. Desenvolvendo o que gosta e o que tem mais
facilidade em trabalhar, o ser humano é indiscutivelmente mais feliz.
E sendo capazes de agir mais racionalmente, nos apropriando dos
conhecimentos em alfabetização emocional, podemos nos relacionar com
outras pessoas de maneira mais saudável.
Finalmente, precisamos continuar acreditando que a educação possa
fazer a diferença na vida das pessoas e, portanto, devemos ajudar a divulgar e
a concretizar todos os conhecimentos que possam tornar a nossa educação
mais eficaz e positiva.
38
ANEXO
O CURRÍCULO DA CIÊNCIA DO EU
Principais componentes:
• Autoconsciência: observar a si mesmo e saber exatamente o que está
sentindo; formar um vocabulário para nomear sentimentos; saber a
relação entre pensamentos, sentimentos e reações.
• Tomar decisões: examinar suas ações e avaliar as consequências delas;
saber se uma decisão está sendo ditada pela razão ou pela emoção,
utilizar essas intuições para questões que digam respeito a sexo e ao
uso de drogas.
• Lidar com sentimentos: monitorar a “conversa consigo mesmo” para
captar rapidamente mensagens negativas tais como, por exemplo,
repreensões internas; compreender o que está por trás de um
sentimento (por exemplo a mágoa por trás da raiva); encontrar meios de
lidar com o medo, a ansiedade, a raiva e a tristeza.
• Lidar com a tensão: aprender o valor dos exercícios, imagística
orientada, métodos de relaxamento.
• Empatia: compreender os sentimentos e preocupações dos outros e
adotar a perspectiva deles; reconhecer as diferenças no modo como as
pessoas se sentem em relação às coisas.
• Comunicação com o outro: falar efetivamente de sentimentos, ser um
bom ouvinte e um bom perguntador; distinguir entre o que alguém faz ou
diz e suas próprias reações ou julgamento a respeito; enviar mensagens
do “Eu” ao invés de culpar.
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• Auto-revelação: valorizar a franqueza e construir confiança num
relacionamento; saber quando convém falar de sentimentos.
• Intuição: identificar padrões em sua vida e reações emocionais;
reconhecer padrões semelhantes nos outros.
• Auto-aceitação: aceitar-se tal como é e ver-se sob uma luz positiva;
reconhecer as consequências de suas decisões e ações, aceitar seus
sentimentos e estados de espírito, ir até o fim nos compromissos (por
exemplo, nos estudos).
• Assertividade: declarar suas preocupações e sentimentos sem raiva nem
passividade.
• Dinâmica de grupo: cooperação; saber quando e como tomar a liderança
e quando se submeter a uma liderança.
• Solução de conflitos: como lutar limpo com outras crianças, com os pais,
com os professores; o modelo vencer/vencer para negociar acordos.
Fonte: Self Science: The Subject is Me, de Karen F. Stone e Harold Q.
Dillehunt (Santa Monica: Goodyear Publishing Co., 1978).
40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: Por que ela pode ser mais
importante que o QI? 10ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
ANTUNES, Celso. As Inteligências Múltiplas e seus estímulos. 16ª ed.
Campinas, SP: Papirus, 1998.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência na Prática Pedagógica.
Rio de Janeiro, RJ: WAK, 2012.
MARANHÃO, Diva Nereida Marques Machado. Ensinar brincando: a
aprendizagem pode ser uma grande brincadeira. 4ª ed. Rio de Janeiro: WAK,
2007.
AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo: de Piaget a Emília Ferreiro.
7ª ed. São Paulo, SP: Ática, 2003
SERRA, Dayse Carla Gênero. Teorias e práticas da Psicopedagogia
Institucional. 2ª ed. IESDE, 2009.
GARDNER, Howard. A identidade da inteligência. Mente e Cérebro, São
Paulo, SP, nº24, (p.46-53), setembro de 2011 – Edição especial de aniversário.
www.wikipedia.com.br acessado em 20/05/2012
www.pedagogiaaopedaletra.com.br acessado em 25/07/2012
www.psicodagogia.com.br acessado em 26/07/2012
www.abpp.com.br acessado em 26/07/2012
41
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Campinas, SP: Papirus, 1998.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência na Prática Pedagógica.
Rio de Janeiro, RJ: WAK, 2012.
MARANHÃO, Diva Nereida Marques Machado. Ensinar brincando: a
aprendizagem pode ser uma grande brincadeira. 4ª ed. Rio de Janeiro: WAK,
2007.
GARDNER, Howard. A identidade da inteligência. Mente e Cérebro, São
Paulo, SP, nº24, (p.46-53), setembro de 2011 – Edição especial de aniversário.
www.abpp.com.br acessado em 26/07/2012
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