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Post on 07-Apr-2016
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TV: SABER DEMOCRATIZADO OU DIVERTIMENTO SEM QUALIDADE
FRANCISCO RUI CÁDIMA
Será a televisão o objecto mais democrático das sociedades democráticas ou o objecto mais
totalitário das sociedades totalitárias?
Os efeitos da televisão na segunda metade
do século XX são extremamente
complexos e de natureza multimodal.
«A televisão não é
boa nem má,
depende do uso que
se faça dela.»
Marcelo Caetano
Contexto
• A televisão entrou nas nossas vidas como um dos mais poderosos instrumentos de entretenimento e informação.
• Quando a televisão começou, nos anos 30, a grande inquietação era saber se constituiria um progresso civilizacional ou se seria a decadência. Hoje, essas questões permanecem.
A televisão foi o primeiro meio de comunicação que submergiu a aldeia global sem que esta a pudesse, em boa parte, entender. Mas desde cedo se compreendeu a sua importância:
– Havia exemplos de uso amigável do aparelho, mas também de “ódios de estimação”.
– A chegada da publicidade não se fez sem forte oposição
– No início dos anos 60 um legislador do estado da Califórnia inscreveu a televisão na lista dos «objectos de primeira necessidade».
Kennedy em 1961 convida todos os países a participar na organização de um sistema por satélite “para concorrer para a paz mundial e para a fraternidade entre os povos”.
De Gaulle afirmava a sua esperança de ver a nova tecnologia contribuir para “as relações entre os povos, para a sua compreensão recíproca, para a sua amizade, alguma coisa que será provavelmente decisiva na evolução da história e do relacionamento entre os homens”.
Actualmente que balanço fazer da presença massificante da televisão?
– Mutação no plano da mentalidade e dos comportamentos– Miscigenação ou mesmo aculturação a novos padrões de
vida– Mutações sociais e políticas– Emancipação da opinião pública– Espectacularização do real– Negação do acesso e dos particularismos– Aculturação por “empréstimo”– Abuso de violência– Desautorização e desafio de valores tradicionais– Atribuição de notoriedade ao prevaricador
Várias personalidades que conferiram à televisão uma importância civilizacional começam a
descobrir o seu lado negro
o Arthur Clarke, criador da Mundivisão: «a televisão era pior que a bomba...»
o Portugal: um responsável do Instituto Piaget propôs a suspensão temporária das emissões às horas das refeições
oGerald Long, antigo director do Times: chamava à televisão uma «chaga da sociedade»
A questão da privacidade
• A televisão dos anos 90 é a televisão da convivialidade, da participação, das grandes audiências. Surgem programas cujos temas podem ir desde alguém que procura um familiar, que declara o seu amor a outrem, que pede perdão em directo ou casos limite como o incesto e o sexo.
• A televisão tornou-se algo demasiadamente familiar, mais íntima do que as pessoas com as quais se compartilha a vida de todos os dias.
• Transforma-se a esfera do íntimo no verdadeiro show do real – surgimento dos reality shows.
Existem três modos de encarar este tipo de programas:
– Denegar e criticar, ser totalmente contra– Ponto de vista do telespectador passivo, que
contribui para as audiências– Constatação da existência do problema,
necessidade de reflexão
Verifica-se actualmente uma inversão perversa na partilha do espaço público: o facto dos excluídos sociais ascenderem à primeira página não significa que lhes esteja a ser dada uma voz. Significa apenas que foi criada uma forma de reparação dessa exclusão: enquanto ela não é resolvida no plano da educação e na sociedade, a televisão vai criando as suas ilusões.
A Questão da Violência e do Sexo
• Segundo a linha mais conservadora da sociedade americana, é imperioso que as principais redes de televisão passem a emitir, em horário nobre, séries televisivas dirigidas à família.
• Em Portugal, a partir de Fevereiro de 1997, a Alta Autoridade para a Comunicação Social e os operadores de televisão assinaram um protocolo em que se comprometem a respeitar regras elementares face à questão da violência na TV.
• Len Masterman considera ser vital para a democracia que as mensagens dos media possam ser descodificadas pelo espírito crítico do cidadão.
Televisão versus Poder De uma forma geral,
a televisão sempre se deu bem com o poder. Uma relação demasiado estreita ou um afastamento total entre política e televisão pode ser fatal para a política.
Serge Moati propôs à TF1 um projecto que se chamava «O Ringue»: dois políticos deviam afrontar-se perante as câmaras, em directo, precisamente no ringue de boxe do Elysée-Montmartre.
• Debates Nixon-Kennedy 1960 – a imagem dos candidatos foi determinante para a escolha do Presidente. Também pequenas alterações do tipo técnico podem condicionar enormemente uma prestação.
• No passado a gestão televisiva da política fazia-se num registo de teatralidade e de marketing político. Agora, a tendência é para a exteriorização convival do protagonismo e da performance. Exemplo: Canal Parlamentar.
Teoria da recepção• Estudo do impacto dos programas num público que já não é um
simples consumidor do discurso dominante, mas participa na construção do sentido. Implica:– Análise das práticas de ver televisão e da competência do
telespectador em integrar uma estética da recepção– Ver como a recepção organiza o texto– Pensar a recepção como apropriação, ou seja, compreender os
efeitos do ficcional no real de cada espectador.– O audímetro não foi destinado a medir a experiência da
audiência, mas apenas a contabilizar o número de telespectadores.
Parâmetros pelos quais se devem reger as rádios e as televisões públicas europeias, à luz do
Conselho da Europa e do Parlamento Europeu:
– Ser uma referência para o público, factor de coesão social e de integração de todos os indivíduos, grupos e comunidades
– Fornecer um fórum de discussão– Difundir informações e comentários imparciais e independentes– Desenvolver uma programação pluralista, inovadora e
diversificada correspondendo a normas éticas– Estruturar grelhas de informação para um largo público sem
descurar as minorias– Contribuir, graças à programação, para um melhor
conhecimento e apreciação da diversidade do património cultural nacional e europeu
– Alargar a escolha de que dispõem os telespectadores e os ouvintes
• Os operadores privados também têm de responder a algumas exigências, nomeadamente ao nível da programação cultural
• Diferentes concepções de audiência:
– Normativa – o seu objectivo é dar conformidade a uma norma cultural.
– Funcionalista – modificar as atitudes e o comportamento do público.
– Subjectivista (tem predominado historicamente) – responder às necessidades imediatas do público na perspectiva de venda de espaço comercial.
– Para Meneer, existe uma incompatibilidade entre «audiência» e «diversidade». Assim, o serviço público deve ser complementar em relação aos difusores privados, deve ter uma oferta variada, promover a cultura local e ter em conta a sensibilidade do público.
– Os índices de audiência devem ser complementados com estudos qualitativos: mais do que saber quantos telespectadores viram um programa, importa saber a razão por que o viram, a reacção ao que viram e sobretudo a disponibilidade para o mundo de coisas que não viram.
– Os estudos qualitativos em televisão devem possuir dados sobre o agrado do público mas também procurar definir modelos de programação que encontrem o equilíbrio entre o agrado do público e a responsabilidade de fornecer um serviço público.
Será que compete apenas às televisões públicas programar conteúdos que promovam o acesso ao saber e à cultura? Segundo o autor, a resposta é não, e existem vários exemplos de obrigatoriedade das televisões privadas também o fazerem.
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