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TT55
PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL ESTUDO DE CASO RELAÇÃO ENTRE TRINCAS E FISSURAS DE IMÓVEIS E EXECUÇÃO DE COLETOR TRONCO
PELO MÉTODO NÃO - DESTRUTIVO
ANA CAROLINA VALERIO NADALINI PERITA JUDICIAL ATUANTE NA ÁREA DE PERÍCIAS E AVALIAÇÕES DE ENGENHARIA CIVIL E
AMBIENTAL, NOMEADA POR JUÍZES DE DIREITO NA CAPITAL, INTERIOR E LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, ASSISTENTE TÉCNICO E CONSULTORA DE DIVERSOS ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA E EMPRESAS PRIVADAS. GRADUADA EM ENGENHARIA CIVIL E PÓS-GRADUADA EM ENG. AMBIENTAL, AMBAS PELA FAAP. CURSOU UM QUADRIMESTRE DO MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL DO
IPT/SP - USP EM 2006.
XIV COBREAP – CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE
AVALIAÇÕES E PERÍCIAS. IBAPE/BA
NATUREZA DO TRABALHO: PROFISSIONAL
PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL – ESTUDO DE CASO – RELAÇÃO ENTRE
TRINCAS E FISSURAS DE IMÓVEIS E EXECUÇÃO DE COLETOR TRONCO
PELO MÉTODO NÃO - DESTRUTIVO
Resumo
Este trabalho consiste em estudo de caso, do resultado de uma perícia técnica sobre
manifestações patológicas e suas eventuais causas que atingiram dez imóveis
situados no Município de Osasco/SP, em decorrência da obra de execução do
Coletor Tronco Ribeirão Vermelho, através da utilização do método não–destrutivo
conhecido como NATM (New Austrian Tunneling Method), e conseqüente utilização
de explosivos.
Palavras-chave: Patologia das construções, Prova pericial de engenharia,
Explosivos, Método não-destrutivo.
II
1. PRELIMINARES .............................................................................................................2
1.1 OBJETO...........................................................................................................2
1.2 OBJETIVO .......................................................................................................4
1.3 DOS TRABALHOS PERICIAIS ...........................................................................4
2. VISTORIA ........................................................................................................................6
2.1. LOCALIZAÇÃO............................................................................................6
2.2. CONSTATAÇÕES FEITAS NO LOCAL..........................................................10
2.2.1 DEMAIS IMÓVEIS VISTORIADOS ...............................................................38
3. ANÁLISE DOCUMENTAL ..............................................................................................41
3.1 EXECUÇÃO DA OBRA................................................................................41
3.2 SONDAGENS ..............................................................................................42
4. ANÁLISE DA QUESTÃO .............................................................................................44
4.1 COM RELAÇÃO AO USO DE EXPLOSIVOS ......................................................44
4.2 COM RELAÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO ......................................46
4.3 COM RELAÇÃO ÀS CONSTRUÇÕES PROPRIAMENTE DITAS ..........................47
5. CONCLUSÕES...............................................................................................................49
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................51
2
1. PRELIMINARES
,
1.1 Objeto
Os autores propõem na inicial uma Ação de Reparação de Danos
contra ré-construtora, alegando basicamente os seguintes motivos:
- Os autores são proprietários dos imóveis situados na Rua Luiz Rink, nº 54
e 58, na Vila São José em Osasco.
- De acordo com os requerentes, a ré executou obras na rede esgoto nas
proximidades de seus imóveis, no período entre 2002 e 2004, o que teria
ocasionado diversas fissuras em toda a estrutura de ambas as casas.
- Os aludidos danos teriam sido causados por vibrações no subsolo
advindas do uso de explosivos para o desmonte de grandes rochas, utilizado
na aludida obra de esgoto.
- Os autores afirmam que as avarias em suas residências se deram em toda
a extensão das casas, atingindo paredes, piso e telhado, ocasionando
inclusive vazamentos através das fissuras geradas pelas constantes
explosões.
- Alegam ainda que o encarregado da obra, teria solicitado orçamento a uma
empresa de Engenharia para reparação dos danos constatados nos imóveis
em questão. Afirmam inclusive, que o mesmo teria reconhecido que os
problemas nas casas teriam surgido após o início das obras.
- Os autores fizeram a juntada de documentos de fls. 09/108, constando
3
entre eles: o orçamento para reparação dos danos no valor de R$ R$
11.833,00 datado de maio de 2004 e ilustrações fotográficas dos imóveis
objeto da lide.
- Ao final da inicial, requerem a procedência da ação, a citação da ré e a
condenação da mesma ao pagamento de custas processuais, honorários
advocatícios e demais cominações legais.
Por sua vez, a requerida na contestação de fls. 159/171, alega em
síntese basicamente o seguinte:
- A obra em questão consistia na execução do interceptor do Coletor Tronco
Ribeirão Vermelho, no trecho do PV-6 ao PV-4, no Município de Osasco/SP,
sendo a ré vencedora da licitação promovida pela SABESP.
- A obra foi executada através do método não destrutivo, conhecido como
NATM, cuja principal vantagem é a não necessidade de abertura de valas na
via pública, evitando transtornos à população.
- A ré afirma que o trabalho foi feito atendendo os níveis de ruídos permitidos
por lei, nos horários autorizados pela Municipalidade e que não houve
vibrações em torno da obra.
- No entanto, durante a execução da obra em questão, a requerida teve
ciência que moradores da Rua Luiz Rink haviam comunicado à SABESP que
seus imóveis teriam sofrido danos em decorrência da execução do
interceptor.
- Assim, a requerida contratou os serviços de duas empresas de consultoria
na área de engenharia, para que verificassem se o serviço realizado por ela
teria ocasionado qualquer dano às residências dos moradores.
4
- Munida de pareceres elaborados empresa especializada, onde foi
constatado que a obra em questão não teria sido responsável pelos
problemas apontados, a requerida encaminhou os pareceres aos autores e
deu por encerrada as ocorrências.
- A ré afirma ainda que os danos na casa dos requerentes já existiam antes
de iniciadas as obras, sendo decorrência de falhas construtivas.
- Face ao exposto, requer a improcedência da ação e a condenação dos
autores nas despesas processuais e honorários advocatícios.
Saneado o feito e necessária a prova pericial foi a signatária honrada
com a sua nomeação na qualidade de perita judicial, tendo sido indicados
assistentes técnicos de ambas as partes.
1.2 Objetivo
O objetivo do presente trabalho é fornecer subsídios ao MM. Juízo,
elaborando laudo técnico e respondendo aos quesitos formulados, para a
apuração de eventuais problemas causados nos imóveis dos autores em
decorrência da obra de execução do Coletor Tronco Ribeirão Vermelho, no
trecho do PV-6 ao PV-4, no Município de Osasco/SP.
1.3 Dos trabalhos periciais
Os trabalhos para a elaboração do presente laudo implicaram nos
seguintes procedimentos:
Vistorias:
Os trabalhos de campo começaram com uma vistoria detalhada dos
5
imóveis em questão, com a presença dos assistentes técnicos das partes,
que consistiu em:
- Vistoria das áreas internas e externas dos imóveis dos autores;
- Vistoria da obra executada pela requerida, no trecho próximo aos
imóveis em questão, e do Córrego Ribeirão Vermelho.
Posteriormente, a signatária efetuou uma segunda visita ao local, para
a constatação da existência ou não de problemas em outros imóveis da
região.
Análise documental:
Nos autos:
- Contrato CSO nº 23682/01, firmado entre Construtora e Sabesp de
fls. 173/204;
- Relatório Técnico CT Ribeirão Vermelho;
- Parecer Técnico – Impactos Ambientais por Vibração, elaborado por
uma consultoria em Engenharia.
Obtida pela perícia:
- Projeto Executivo dos Coletores Tronco de Esgoto da Bacia TO-20
(Ribeirão Vermelho), fls. 01 e 02;
- Plano de Fogo elaborado por Consultoria em Engenharia;
- ABNT NBR 9653, 1896. Guia para avaliações dos efeitos provocados
pelo uso de explosivos nas minerações em áreas urbanas
(Procedimento).
6
2. VISTORIA
2.1. Localização
Os imóveis em questão estão situados na Rua Luiz Rink, nº 54 e 58,
na Vila São José do bairro denominado Rochdalle, no Município de
Osasco/SP.
O trecho em questão, indicado no mapa da figura 1, encontra-se na
Rua Luiz Rink, entre as ruas Mario Macílio e Luís Durazzo, sendo provida de
todos os melhoramentos públicos essenciais, estando localizada nas
proximidades da Avenida Brasil e Rodovia Castelo Branco, e ainda do braço
morto do Rio Tietê denominado Ribeirão Vermelho. Sua ocupação, bem
como das vias adjacentes, tem caráter misto, representado por residências
de padrão simples e comércio de âmbito local.
Segundo informações locais, ocorrem inundações na Avenida Brasil
e em parte da Rua Luis Rink devido às enchentes do Ribeirão Vermelho, no
entanto tais inundações não atingem os imóveis pesquisados.
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Figura 1: mapa da região indicando localização dos imóveis em questão e
do Córrego Ribeirão Vermelho.
Figura 2: vista aérea da região indicando a localização dos imóveis, da obra
da Sabesp e do Córrego Ribeirão Vermelho (fonte: Google Earth).
IMÓVEIS Ribeirão
Vermelho
IMÓVEIS
RIBEIRÃO
VERMELHO
Coletor tronco
8
Foto 01: Vista dos imóveis de propriedade dos autores.
Foto 02 vista da quadra onde estão situados os imóveis em questão.
IMÓVEIS
RUA LUIS RINK
CANTEIRO DE OBRAS
IMÓVEL
Nº 58
IMÓVEL
Nº 54
9
Foto 03: Vista da Avenida Brasil no trecho onde foi assentado o coletor tronco.
Foto 04: Vista do córrego Ribeirão Vermelho nas proximidades dos imóveis da Rua Luis Rink.
Coletor tronco
Canteiro
Córrego
10
2.2. Constatações feitas no local
Em vistoria realizada pela signatária em conjunto com os assistentes
técnicos das partes, foram inspecionados os dois imóveis relacionados na
inicial.
Trata-se de duas casas térreas geminadas em estado regular de
conservação, necessitando de reparos simples e importantes, com idade
real estimada entre 20 e 25 anos, de padrão construtivo simples de acordo
com o estudo “Valores de Edificações de Imóveis Urbanos/2002” do IBAPE
SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São
Paulo.
Foram mapeados todos os locais nos aludidos imóveis onde há
ocorrência de manifestações patológicas, os quais estão apontados no
croqui a seguir:
11
Legenda:
- Em amarelo, trincas e fissuras; - Em azul, manchas de umidade devido a infiltrações; - Em verde, local com reforma recente.
Figura 3: Croqui de mapeamento das manifestações patológicas
constatadas por ocasião da vistoria, nos imóveis da Rua Luis Rink, nº 54 e
58.
SALA
COZINHA
DORM. 2
DORM. 1
BANHO A.S.
HALL
GARAGEM
SALA
COZINHA
DORM. 2
DORM. 1
BANHOA.S.
HALL
GARAGEM
COZINHA
SALA
BANHO
DORM. 1
PAVIMENTO TÉRREO PAVIMENTO SUPERIOR
DORM. 2
HALL
17 1718
EDÍCULADORM.
VARANDASALA
Sem escala
12
Será relatado a seguir, via documentação fotográfica, a situação dos
imóveis em questão constatada na vistoria bem como as manifestações
patológicas apontadas na figura 4.
IMÓVEL DA RUA LUIS RINK, Nº 54
Foto 05: Vista da parede externa da sala de estar.
Fotos 06 e 07: Vista da fissura situada na parede externa da sala de estar.
13
Foto 08: Vista da fissura no piso da garagem.
Foto 09: Vista da fissura situada acima da porta da sala de estar.
14
Foto 10: Vista da fissura que desce a 90o da janela da sala de estar.
Foto 11: Vista da fissura localizada acima da porta que dá acesso ao hall.
15
Foto 12: Vista da fissura na parede da sala de estar (divisa com o nº 58).
Foto 13: Vista da cozinha e acesso à área de serviço com indícios de
reforma recente.
16
Foto 14: Vista da trinca existente no beiral que continua pelo teto da cozinha
e hall.
Foto 15: Vista das trincas e umidade existentes no teto do hall.
17
Foto 16: Vista das trincas e fissuras presentes no azulejo do banheiro.
Foto 17: Vista da fissura na laje do dormitório.
18
Foto 18: Vista da trinca em outro ponto do beiral, na altura do dormitório 1.
Foto 19: Vista da fissura localizada abaixo da janela do dormitório 2.
19
Foto 20: Vista das fissuras situadas próximo ao piso do dormitório 2.
Fotos 21/22: vista da fissura na vertical situada na parede do dormitório 2.
20
Foto 23: vista externa da lateral da referida casa.
Foto 24: Vista das fissuras presentes na parede externa da casa, próximo ao
piso.
21
Foto 25: Vista da trinca e umidade presente na parede externa da área de serviço, cuja causa é a furação na laje no ponto logo acima, conforme fotografias 26 e 27 a seguir.
Fotos 26 e 27: Detalhe da fiação elétrica existente sobre o beiral e furação
inadequada.
22
Foto 28: vista das fissuras próximo ao piso presentes na parede externa do
dormitório 2.
Fotos 29 e 30: vista das trincas existentes na junção do beiral com a parede
de divisa do imóvel de nº 58.
23
Foto 31: Vista da edícula que foi reformada recentemente.
Foto 32: vista externa do 2o pavimento da edícula onde foi constatada a
presença de fissuras e umidade logo abaixo da janela do dormitório.
24
Foto 33: vista de fissuras a 90o no muro de divisa.
Fotos 34/35: vista de outras trincas existentes no aludido muro.
25
IMÓVEL DA RUA LUIS RINK, Nº 58
Fotos 36/37: vista das trincas existentes na fachada do imóvel.
Foto 38: vista das trincas existentes no piso da garagem.
26
Foto 39: detalhe de outras fissuras presentes no aludido piso cerâmico.
Foto 40: detalhe do local onde houve descolamento do rodapé com a
parede, ainda na garagem.
27
Foto 41: vista da garagem e parede externa da sala de estar, e detalhe de
onde houve deslocamento da telha de fibrocimento.
Vista 42: vista da trinca existente na parede da garagem, provocada pelo
deslocamento da cobertura de telhas de fibrocimento.
28
Foto 43: vista interna da sala de estar.
Foto 44: vista da fissura situada acima da porta de entrada da sala de estar.
29
Foto 45: vista da fissura existente acima da porta que dá acesso ao hall.
Foto 46: detalhe da fissura que percorre verticalmente toda a parede de
divisa com o nº 54.
30
Foto 47: vista do hall.
Foto 48: vista da trinca existente na parede do hall, na divisa com o nº 58.
31
Foto 49: vista da trinca existente no azulejo da cozinha.
Fotos 50/51: vista das fissuras e descolamento dos azulejos na parede da
cozinha e porta externa.
32
Foto 52: vista da parede externa da cozinha onde existem fissuras.
Foto 53: vista das fissuras existentes nos azulejos do banheiro
33
Fotos 54/55: vista da umidade presente na parede do dormitório 1, próxima à
janela.
Foto 56: vista da trinca paralela ao teto e próxima à porta de entrada do
dormitório 2.
34
Fotos 57 e 58: vista das trincas existentes ao redor da janela do dormitório 2.
Foto 59: vista da rachadura que se estende pela parede externa do mesmo
dormitório.
35
Foto 60: vista da trinca presente no beiral na altura dos dormitórios.
Foto 61: vista da trinca existente no piso externo.
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Foto 62: vista da casa dos autores de quem dos fundos do terreno olha.
Fotos 63/64: vista externa da edícula.
37
Foto 65: vista da trinca existente na parede externa da edícula próximo à janela do piso inferior.
Foto 66: vista da fissura existente na parede interna da edícula.
38
2.2.1 Demais imóveis vistoriados
Neste item será relatada a vistoria efetuada em outros imóveis da Rua
Luis Rink, para a verificação de presença de manifestações patológicas
semelhantes às encontradas nos imóveis dos autores. Tal procedimento se
torna necessário, pois se realmente houve abalo no aludidos imóveis devido
à utilização de explosivos na obra executada pela ré, os demais imóveis
também apresentariam problemas.
Figura 3: croqui ilustrativo da localização dos imóveis vistoriados pela perícia, em relação aos imóveis dos autores (em amarelo).
Cabe ressaltar que, os proprietários dos imóveis vistoriados pela
perícia, afirmaram que podiam sentir as vibrações em suas residências por
ocasião das explosões efetuadas na obra do coletor tronco.
Os imóveis vistoriados pela perícia foram os seguintes:
- Rua Luis Rink, nº 112
Observações: casa com indícios de reforma recente, porém com presença
de fissuras na fachada externa e no beiral do telhado. Segundo a
proprietária, devido às explosões que continuam ocorrendo, o vidro da sala
estilhaçou e as portas internas estão com problema de fechamento.
- Rua Luis Rink, nº 80
Observações: duas construções com idades reais de 60 anos e 20 anos,
Nº 48 Nº 42 Nº 46 Nº 32 Nº 39 Nº 35 Nº 80 Nº 112
RUA LUIS RINK
Nº 58 Nº 54
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ambas apresentando os seguintes problemas:
- trincas e fissuras inclinadas em paredes internas;
- trincas e fissuras na laje;
- trinca no beiral do telhado e cobertura da garagem;
- havia problemas de fissuras nos azulejos da cozinha mas a
proprietário procedeu à troca dos mesmos;
- alguns pontos com presença de água devido à presença de trincas.
- Rua Luis Rink, nº 35
Observações: casa dos fundos com idade real de 50 anos em estado ruim
de conservação, apresentando rachaduras em diversos pontos da
construção.
A casa da frente tem idade real de 50 anos, apresentando trincas e fissuras
praticamente em toda a área interna e externa.
- Rua Luis Rink, nº 39
Observações: casa com idade real de 20 anos. Segundo a proprietária, a ré
efetuou reparos em sua residência em 2004, mas outros problemas
surgiram, especificamente na cozinha, onde notamos a presença de fissuras
no teto, nos azulejos e na parede externa.
- Rua Luis Rink, nº 48
Observações: casa com idade real de 20 anos, porém tendo sido reformada
há cerca de 8 anos estando em bom estado de conservação, apresentando
os seguintes problemas:
- rachadura vertical na parede da sala que tem continuação no
dormitório do 2o pavimento;
- trincas nos azulejos da cozinha, no piso do hall do 2o pavimento e
azulejos do banheiro;
- trincas na laje da garagem causando infiltração.
- Rua Luis Rink, nº 42
Observações: casa com idade real de 25 anos, apresentando os seguintes
40
problemas:
- trincas e fissuras na garagem, na sala, no hall e no dormitório da
frente;
- fissuras nos azulejos da cozinha;
- porta da sala com problema de esquadro.
O imóvel de nº 36 da Rua Luis Rink, segundo a proprietária,
apresentava problemas de trincas e fissuras mas foi totalmente reformado.
O imóvel de nº 32 da Rua Luis Rink, não apresentava problemas
construtivos por ocasião da vistoria.
41
3. ANÁLISE DOCUMENTAL
3.1 Execução da Obra
De acordo com o Termo de Contrato CSO nº 23682/01 acostado aos
autos, a requerida foi contratada pela SABESP para a execução do
interceptor de esgotos Tietê ITI-3-Trecho entre Ponte do Piqueri e Travessia
do EM-2, coletores tronco e travessias nas bacias TO-11, TO-15, TO-20,
TO-21 e TC14, incluindo interligações e obras complementares , integrantes
do sistema Barueri na RMSP.
O trecho que interessa ao estudo em questão, está situado entre o
PV-6 e o PV-4 e faz parte do Coletor Tronco Ribeirão Vermelho, sendo que
os imóveis dos autores estão localizados a uma distância aproximada de
58,00 metros conforme levantamento efetuado pela perícia.
O coletor foi executado através do método não–destrutivo conhecido
como NATM (New Austrian Tunneling Method) que consiste na escavação
seqüencial do maciço através de pequenos avanços, utilizando concreto
projetado como suporte.
De acordo com o projeto executivo do referido coletor tronco anexado
ao presente, a escavação do túnel foi executada numa camada de aterro de
argila siltosa e argila arenosa, a uma profundidade média de 6,00 metros
abaixo do nível da rua, sendo que o nível d´água se encontrava a cerca de
2,00 metros de profundidade.
Como houve necessidade da drenagem para a escavação do túnel,
42
foi realizado o esgotamento da água através de bomba submersa de
pequeno porte instalada nos poços uma vez que o nível d´água encontra-se
aproximadamente dois metros acima da geratriz superior do conduto.
Devido à presença de fragmentos de rocha que se encontravam
imersos na camada de aterro, foi necessária também a execução de
desmonte de rocha, utilizando-se carga explosiva que variou entre 0,40 kg e
0,70 kg de acordo com o Plano de Fogo em anexo.
3.2 Sondagens
Sondagens são um tipo de ensaio que consiste em introduzir um tubo
no terreno, mediante golpes de uma massa, com peso e altura constantes,
registrando a penetração e o número de golpes. A informação referente ao
estado do solo é considerada com base a resistência que o solo oferece à
penetração do mostrador
Durante a amostragem são anotados os números de golpes do
martelo necessários para cravar cada trecho de 15 centímetros do
amostrador (tubo). Desprezam-se os dados referentes ao primeiro trecho de
15 cm e define-se resistência a penetração (SPT) como o número de golpes
necessários para cravar 30 cm do amostrador, após aqueles primeiros 15
cm.
O perfil geológico do solo ao longo do coletor tronco, especificamente
no trecho do PV-6 ao PV-4, está retratado nas plantas da Sabesp fornecidas
pela requerida.
Às fls. 208/217 foi juntado outro levantamento geotécnico efetuado
numa seção transversal ao coletor, abrangendo a área existente entre o
coletor e as residências, num total de quatro furos.
43
Com base no resultado das referidas sondagens, destaca-se a
ocorrência de aterro de argila siltosa na cor marrom e cinza escuro, e argila
arenosa que encontram-se no subsolo da região, com SPT entre 3 e 11 o
que caracteriza o solo com pequena rigidez.
44
4. ANÁLISE DA QUESTÃO
Primeiramente vale ressaltar que as fissuras nas edificações são
provocadas por tensões oriundas de atuação de sobrecargas ou de
movimentações de materiais, dos componentes ou da obra como um todo
(Thomaz, 1989 1).
Ainda segundo Thomaz, as fissuras também podem ser provenientes
da má utilização do edifício, de falhas na sua manutenção, de vibrações
transmitidas pelo ar ou pelo solo, e solicitações cíclicas e degradações
sofridas pelos materiais e componentes em função do seu envelhecimento
natural.
Assim, é preciso analisar as manifestações patológicas constatadas
tantos nos imóveis dos autores, como nos imóveis adjacentes, sob os
aspectos acima mencionados.
4.1 Com relação ao uso de explosivos
Como dito anteriormente, foi necessária a utilização de
explosivos para o desmonte de rochas durante a execução do mini-túnel.
O desmonte de rochas com emprego de explosivos em áreas
urbanas gera como efeito indesejável ruídos e vibrações no solo, os quais
1 THOMAZ, ERCIO. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação. São Paulo, 1989.
PINI/USP/IPT.
45
podem causar danos às estruturas construídas.
A norma NBR 9653 da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) que regulamenta o uso de explosivos nas minerações em áreas
urbanas recomenda que se utilize, para o cálculo da carga máxima por
espera, o critério da Distância Escalonada (DE), ou seja, o valor algébrico
calculado pela fórmula abaixo:
DE = d/Q 0,5 onde:
- d é a distância em metros entre o ponto de medição e o ponto de
detonação;
- Q é a carga máxima por espera de explosivo em Kg.
- Sendo que DE deve ser maior ou igual a 40 para minimizar o risco de dano
por vibração nas estruturas vizinhas.
Para o caso em questão, o emprego da aludida fórmula resultou nos
seguintes cálculos:
Para d = 58,00 metros (distância mínima dos imóveis da R. Luis Rink em
relação ao ponto de detonação), temos:
Q (Kg) DE (> 40)
1,0 58
1,5 47
2,0 41
2,5 36
Portanto verifica-se que a carga máxima em espera de explosivos (Q)
para o caso em questão, não deveria ultrapassar 2,0 kg o que está de
acordo com o Plano de Fogo anexado ao presente.
A norma NBR 9653 ainda estabelece a velocidade de vibração de
46
partícula igual a 15 mm/s como limite máximo de vibração admissível nos
arredores das áreas de detonação. Tal medida é auferida no local, através
da soma das velocidades máxima de partícula no eixo longitudinal, vertical e
transversal, sendo que as cargas de explosivos devem ser ajustadas para
atender a legislação.
Tais medições devem ser feitas in loco por ocasião das detonações,
porém a signatária não tem como fazer a verificação uma vez que tais dados
não estão contemplados no Plano de Fogo obtido pela perícia.
Verifica-se assim, que é essencial que haja um controle em campo
para o monitoramento das detonações para que sigam rigorosamente o
plano de fogo previamente determinado, bem como a legislação vigente.
4.2 Com relação às características da região
Outro fator agravante das manifestações patológicas presentes nos
imóveis em questão é o fato de estar situado próximo ao córrego Ribeirão
Vermelho o qual transborda causando inundações nas proximidades. A
inundação ocorre tanto na Avenida Brasil como na própria Rua Luis Rink,
mas segundo informações no local, as águas da enchente não chegam a
atingir os aludidos imóveis.
No entanto, devido à ocorrência das enchentes e ao fato de o lençol
freático da região estar próximo à superfície, em alguns pontos até cerca de
dois metros, a constante infiltração de água no solo acarreta na diminuição
de sua resistência, podendo provocar recalques, este efeito é tanto maior
quanto mais argiloso for o solo, como é o caso do solo na região em estudo.
Segundo Thomaz, as variações de umidade no solo, principalmente
no caso das argilas, provocam alterações volumétricas e variações no seu
47
módulo de deformação, com possibilidade de ocorrência de recalques
localizados. Estes recalques são bastante comuns por causa da saturação
do solo pela penetração da água da chuva nas vizinhanças da fundação.
Aqui vale uma explicação sobre o comportamento dos solos em
presença de água2.
Um solo saturado de umidade é um esqueleto sólido dentro d´água.
Uma certa parte da carga que o solo suporta é absorvida pelo esqueleto
sólido e a outra pelo líquido. Logo que se permite à água escapar, o
esqueleto sólido se comprime e a pressão neutra diminui, aumentando a
carga suportada pelo esqueleto.
Finalmente, após muito tempo, água não suportará mais pressão e o
solo estará adensado. A velocidade de adensamento depende da facilidade
em que a água pode escapar ou escoar, e essa facilidade é tanto maior
quanto mais permeável for o terreno.
É esta permeabilidade que dá a velocidade de recalque das
construções. Nos solos menos permeáveis, como as argilas, a deformação é
bastante lenta, ao contrário dos solos arenosos, e a deformação é tanto
maior quanto maior a quantidade de água ela contiver e quanto maior for a
carga sobre ela aplicada.
4.3 Com relação às construções propriamente ditas
Os imóveis dos autores têm cerca de 20 anos de idade e como já dito,
são edificações de padrão simples, tendo sido provavelmente construídas
2 Explicação adaptada do livro Ao Pé do Muro de Robert L´Hermite, traduzida pelo Eng. L. A.
Falcão Bauer, editado pela Concrebras SA.
48
sem um padrão rigoroso de controle da execução.
De acordo com informações obtidas com os requerentes e também
com os imóveis adjacentes vistoriados, constatou-se que as construções
foram edificadas em sua maioria sobre brocas, um tipo de fundação pouco
profunda (estas brocas podem ser perfuradas até não mais do que 4,00
metros de profundidade) e são largamente empregadas em residências
modestas, porém não são eficazes em solos compressíveis.
Cabe ressaltar que, a signatária não logrou êxito em obter os projetos
de construção das casas dos autores, tendo inclusive se dirigido à Prefeitura
Municipal onde foi informada que não havia nenhum documento desta
natureza para consulta.
As referidas edificações apresentam diversos tipos de trincas e
fissuras, e em alguns pontos infiltração de água ou umidade no teto. A maior
parte das fissuras presentes nas paredes são inclinadas a 45o ou próximas
ao piso na horizontal, e em alguns pontos nota-se nitidamente uma variação
na abertura da fissura o que indica sintoma de recalque.
Apesar da idade avançada dos imóveis situados na Rua Luis Rink, as
trincas e fissuras constatadas por ocasião da vistoria são recentes, e
conforme relato de alguns moradores, mesmo após a reforma de algumas
casas (imóvel nº 112 e imóvel nº 48) as fissuras reapareceram.
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5. CONCLUSÕES
Diante da exposição apresentada nos itens anteriores, onde se
procurou reunir todos os elementos documentais disponíveis, além de
informações colhidas durante as vistorias, concluímos o seguinte:
- O subsolo da região onde foi executada a obra do coletor tronco em
questão é de baixa resistência;
- as sondagens executadas indicaram um elevado nível do lençol freático,
em certos pontos situado a 2,00 metros de profundidade;
- nas sondagens transversais ao coletor, verifica-se que a profundidade do
lençol freático vai aumentando à medida que se aproxima dos imóveis dos
autores, pois se distancia do córrego do Ribeirão Vermelho. Tal fato
demonstraria que o solo não apresenta-se saturado, segundo o relatório de
fls. 208/217;
- no entanto, a região é assolada por enchentes do Ribeirão Vermelho, que
chegam a inundar as áreas circunvizinhas à dos requerentes, o que acarreta
na penetração de água causando a saturação do solo.
- Para uma distância mínima de 58,00 metros (distância dos imóveis dos
autores ao local onde ocorreu o desmonte de rocha), a carga máxima em
espera de explosivos (Q) para o caso em questão, não deveria ultrapassar
2,0 kg, o que está de acordo com o Plano de Fogo. Com relação a
velocidade máxima de vibração da partícula (15 mm/s), a signatária não tem
como averiguar pois tais medições devem ser feitas in loco e não constam
50
do referido plano de fogo;
- As fundações da maior parte dos imóveis situados na Rua Luis Rink,
inclusive dos imóveis objeto da lide, são provavelmente do tipo pouco
profunda, o que não tem grande eficácia em solos de baixa resistência e
sujeitos a saturação, podendo ao longo dos anos ocorrer recalques
diferenciados.
Em função destas premissas básicas, cuja fundamentação pode ser
verificada ao longo do trabalho, conclui-se o seguinte:
A ocorrência de trincas e fissuras em construções podem ocorrer em
função de diversas variáveis. A vibração gerada por explosivos durante a
execução da obra da ré pode ter sido o instante detonador de um processo
de instabilidade atribuído a outras causas, como recalque, insuficiência de
material, erro de cálculo de projeto, etc.
Tal hipótese é compatível com as condições pouco resistentes do
subsolo e à proximidade ao Córrego Ribeirão Vermelho e do seu
transbordamento que atinge esta área, ocasionando a saturação do solo, o
que tornaria a situação favorável à propagação das vibrações, acelerando o
processo de deformação do solo, acarretando recalques diferencias que
geraram parte das trincas e fissuras constatadas nos imóveis dos autores e
também nos imóveis adjacentes.
Tal fato explicaria também o relato dos moradores que afirmaram
poder sentir as vibrações em suas casas no momento das detonações.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR NBR
9653. Guia para avaliações dos efeitos provocados pelo uso de
explosivos nas minerações em áreas urbanas. Norma de Procedimento.
São Paulo: 1896.
BACCI, Denise de La Corte. Principais normas e recomendações
existentes para o controle de vibrações provocadas pelo uso de
explosivos em áreas urbanas – Parte II. Rem: Revista Esc. Minas. Abr/jun
2003, vol. 56, nº 2, p.131-137. ISSN 0370-4467.
KOPPE, Jair Carlos. Monitoramento geofísico de desmonte de rocha
com utilização de explosivos em condições de risco elevado em zona
urbana. Rem: Revista Esc. Minas. oct/dec 2001, vol. 54, nº 4, p.273-280.
ISSN 0370-4467.
L´HERMITE, Robert. Ao pé do muro. SOCIETÉ DE DIFUSION DES
TECHNIQUES DU BATIMENT ET DES TRAVAUX PUBLICS – PARIS, (s.n.).
SPRINGER, Richard Robert. Metodologia para realização de prova
pericial de vícios, defeitos e não-conformidades de construção em
edificações. São Paulo: IBAPE-SP, 2006
THOMAZ, Ercio. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação.
São Paulo: PINI/USP/IPT, 1989.
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