tribunal arbitral do desporto - faculdade de direito da … · 2014-12-02 · acórdão do tribunal...
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Tribunal Arbitral do Desporto Autonomia e Arbitragem (des)necessárias?
Beatriz Santos, n.º 003871 ; Maria Sofia Mouro, n.º 003771; Marta Cruz, n.º 004217
Estrutura do trabalho
Criação do TAD
Verdadeira arbitragem?
Os recursos das decisões do TAD
Análise da atual LTAD
Âmbitos da arbitragem
Análise do Acórdão do TC n.º 230/2013
Análise do Acórdão do TC n.º 781/2013
Arbitragem voluntária
Arbitragem necessária
Índice
* Do que vamos falar? * Arbitragem necessária no âmbito de litígios desportivos – o
Tribunal Arbitral do Desporto.
* Do que não vamos falar? * Recurso obrigatório para o CAS * Arbitragem em matéria de dopagem * Arbitragem no âmbito de relações laborais desportivas
Introdução ao Tema
Criação do TAD
* S o l u ç ã o a b s o l u t a m e n t e inovatória em Portugal (e no Mundo) * Gerou aceso debate político e
jurídico * Mot ivações : ce le r idade ,
simplificação, especialização * Porquê arbitragem e porquê
necessária?
Lei n.º 74/2013 Decreto n.º 128/XII Acórdão n.º 230/2013
Acórdão n.º 781/2013 Lei n.º 33/2014
Até lá: Competência dos tribunais administrativos
Criação do TAD
* Lei n.º 74/2013, de 6 de Setembro – Cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a Lei do Tribunal Arbitral do Desporto * Solução de arbitragem necessária
para os l it ígios em que se encontre em causa o exercício de poderes de natureza pública * O artigo 8.º/2 da LTAD: exclusão
do recurso aos tribunais estatais
Criação do TAD - Lei n.º 74/2013 -
Mas, obstáculos: - Morosidade - Escassez e/ou
ausência de jurisprudência
- Falta de preparação específica necessária
Apreciação dos Diplomas de criação do TAD
A arbitragem é verdadeiramente uma arbitragem?
Recursos das decisões do TAD
Arbitragem (des)necessária?
* Ordem dos Advogados: jurisdição obrigatoriamente imposta + impede recurso aos tribunais administrativos. * Violação do artigo
209.º/2, CRP – não é um tribunal arbitral; * Violação do artigo
180.º/1 c), CPTA; * Violação do artigo
212.º/3, CRP.
* Conselho Superior dos Tribunais Administrat ivos e Fiscais: resultado normativo trai intenções legislativas. * Violação do princípio da
igualdade; * Violação do princípio de acesso
ao direito e aos tribunais (20.º/1, CRP); * Violação do princípio da tutela
jurisdicional efetiva (268.º/4, CRP); * Violação do artigo 212.º/3, CRP.
* Argumentos em defesa da inconstitucionalidade do TAD (no geral): * Direito de acesso aos tribunais. Duas teses: * Tese da inconstitucionalidade da arbitragem necessária; * Admissão da arbitragem necessária – mas: possibilidade
recurso. * Princípio da igualdade: * Arbitragem necessária – regime menos garantístico.
à Mas: natureza jurisdicional dos tribunais arbitrais (Acórdãos TC n.º 230/86 e 250/96).
Arbitragem (des)necessária?
Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 230/2013
Pedido de Fiscalização Preventiva
Acórdão do TC n.º 230/2013
Fiscalização preventiva do art. 8º, nº1, 2º parte do Anexo do
decreto nº128/XII por:
Restrição do direito de acesso
aos tribunais.
Violação do direito de igualdade por
discriminação dos cidadãos relativamente aos litígios.
Acórdão do TC n.º 230/2013
Qualquer litígio que não respeite a direitos indisponíveis pode ser cometido pelas partes a Tribunal Arbitral. Estão previstos como categoria autónoma de tribunais; as suas decisões têm natureza jurisdicional mas, em si, não são um órgão judicial.
Artigo 209.º, CRP: Categorias
de tribunais
Tribunal Constitucional Supremo Tribunal de Justiça e demais tribunais judiciais Supremo Tribunal Administrativo e demais tribunais administrativos Tribunal de Contas Tribunais Marítimos, Tribunais Arbitrais e Julgados de Paz.
Acórdão do TC n.º 230/2013
Tribunais arbitrais: abrange apenas os voluntários
ou também os necessários?
Implicam que os litigantes deixem de poder recorrer aos tribunais estaduais; a decisão de recorrer a um tribunal arbitral baseia-se no ato legislativo que impõe essa forma de composição do litígio.
Acórdão do TC n.º 230/2013
TAD, no âmbito da arbitragem necessária, conhece os litígios emergentes dos atos e omissões das federações e outras entidades desportivas e ligas profissionais. Mas não há possibilidade de recurso para os tribunais estaduais!
As decisões são apenas passíveis de recurso para a
câmara de recurso. Parte da organização interna do TAD – art. 8º, nº 2, a), LTAD.
Acórdão do TC n.º 230/2013
Poderes das federações desportivas exercidos no âmbito da regulamentação e d isc ip l ina da respet iva modalidade são de natureza pública.
Logo, são atos administrativos e impugnáveis quando possuam eficácia externa.
A possibilidade de recurso à arbitragem existe no domínio do contencioso administrativo. Mas art. 4 do Anexo ao Decreto nº 128/XII prevê arbitragem necessária como único meio e não contém nenhuma exceção relativamente aos atos administrativos que poderão ser objeto de apreciação em tribunal arbitral.
Acórdão do TC n.º 230/2013
Será mesmo necessário criar um TAD que implica a submissão imediato de litígios que relevam do ordenamento jurídico desportivo a um tribunal arbitral e a exclusão do recurso para um tribunal estadual?
Agravante: existência do caso julgado desportivo – permite que fiquem “salvaguardados os efeitos desportivos entretanto validamente produzidos ao abrigo da última decisão da instância competente na ordem desportiva”.
Acórdão do TC n.º 230/2013
DECISÃO: Inconstitucionalidade do art. 8º, nº 1, 2ª parte, conjugada com as normas dos artigos 4.º e 5.º do Anexo do Decreto nº 128/XII, pois destas resulta a irrecorribilidade para os tribunais do Estado das decisões do TAD.
Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 781/2013, de
20 de novembro
Pedido de Fiscalização Abstrata Sucessiva
Acórdão do TC n.º 781/2013
Câmara de Recurso (artigo 19.º/1, LTAD)
Decisões dos colégios arbitrais que sancionem infrações disciplinares
Decisões dos colégios arbitrais em contradição com outra decisão
Supremo Tribunal
Administrativo
Atos e omissões de federações e outras entidades desportivas e ligas
profissionais
Recursos de deliberações tomadas por órgãos disciplinares das
federações desportivas ou pela AAP +
Tribunal Arbitral do Desporto
+
Acórdão do TC n.º 781/2013
Recursos legais - LTAD
Recurso interno (Câmara de recurso)
Recursos de revista para STA (artigo 150.º, CPTA)
Esgotamento Casos de importância fundamental: «válvula de segurança do sistema que apenas pode ser acionada
nos termos estritos da lei» (Ac. STA 4-06-2013)
E se não tiver essa importância?
Não podem ser deixadas sem proteção!
Insuficiência dos mecanismos de acesso estadual.
* 3 Mecanismos de discussão da decisão arbitral (artigo 8.º, LTAD): * Recurso de revista para o STA * Recurso para o TC * Ação de impugnação da decisão
arbitral: partes só podem pedir a anulação da decisão (artigo 8.º/4, LTAD e 46.º, LAV)
Acórdão do TC n.º 781/2013
Não permitem discussão sobre mérito da decisão
arbitral
* Recurso de revista para STA depende: * De se tratar de decisão proferida pela câmara de recurso; * Matérias: * Estar em causa apreciação de questão com importância
fundamental; ou * Admissão do recurso ser claramente necessária para uma
melhor aplicação do direito.
* Não permite discussão sobre o mérito da matéria de facto.
Acórdão do TC n.º 781/2013
Matérias importantes tratadas pelas instâncias de forma pouco consistente ou contraditória.
«O recurso (excecional) de revista (...) não está orientado principalmente para a defesa de direitos e interesses legalmente protegidos dos particulares».
A «intervenção do STA é considerada justificada apenas em matérias de assinalável relevância e complexidade, sob pena de se desvirtuarem os fins tidos em vista pelo legislador». (Ac. STA 3-10-2013)
Acórdão do TC n.º 781/2013
Inconstitucionalidade dos n.ºs 1 e 2 do artigo 8.º, LTAD:
- Violação do direito de acesso aos tribunais (20.º/1, CRP);
- Violação do princípio da tutela jurisdicional efetiva (268.º/4, CRP).
Necessidade de adaptação da lei à Alteração legislativa à Lei
n.º 33/2014
«Haverá assim que concluir, como no acórdão n.º 230/2013, que as normas impugnadas, na medida em que permitem o recurso para um tribunal estadual apenas em casos excecionais,
violam o direito de acesso aos tribunais, quando entendido em articulação com o princípio
da proporcionalidade, nas referidas vertentes da necessidade e justa medida.»
* Alteração dos artigos 4.º e 8.º, LTAD:
* Todas as decisões proferidas pelos colégios arbitrais em matéria de arbitragem necessária passam a ser passíveis de recurso para o TCA (efeito meramente devolutivo) à Exceção passa a ser a regra.
Alteração legislativa - Lei n.º 33/2014 -
Funcionamento e Organização do Tribunal Arbitral do Desporto:
A lei atual
Análise da Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro, alterada pela Lei n.º 33/2014, de 16 de junho
Tribunal Arbitral do Desporto * Entidade jurisdicional independente; * Dispõe de autonomia administrativa e financeira; * Competência específica para administrar a justiça
relativamente a litígios que relevam do ordenamento jurídico desportivo.
à Artigo 1.º da LTAD.
Natureza do Tribunal Arbitral do Desporto
Artigo 9.º Composição
São elementos integrantes da organização e
funcionamento do TAD o Conselho de Arbitragem Desportiva, o presidente, o vice-presidente, o conselho diretivo, o secretariado, a câmara de
recurso e os árbitros.
Funcionamento e Competência do Tribunal Arbitral do Desporto
Composição (Artigo 10.º) * Dez membros nomeados provenientes de distintas áreas; * Presidente do TAD.
MANDATO: Duração de três anos (Artigo 10.º/1)
Conselho de Arbitragem Desportiva
Restrição: Os membros do Conselho não podem agir como árbitros em litígios submetidos à arbitragem do TAD, nem como advogados ou representantes de qualquer das partes em litígio (Artigo 10.º/6)
Competência: artigo 11.º
Presidente do Tribunal Arbitral do Desporto
Presidente e vice-presidente do CAD (Artigos 13.º e 14.º)
São eleitos pelo plenário dos árbitros
Representa o TAD nas suas
relações externas
O mandato tem a
duração de três anos
Coordena toda a
actividade do TAD
Conselho Diretivo do Tribunal Arbitral do Desporto
Competência (Artigo 16.º)
Gestão do TAD
Administração do TAD
* O Conselho Diretivo é constituído: • Presidente pelo vice-presidente do TAD • Dois vogais • Secretário geral * (Artigo 15.º)
* O Secretariado do TAD integra os serviços judiciais e administrativos necessários e a d e q u a d o s a o funcionamento do Tribunal. * O Secretariado do TAD é
dirigido pelo secretário-geral, a quem compete a organização e composição q u e s ã o d e f i n id a s n o respet i vo regu lamento (artigo 18.º).
Secretariado do Tribunal Arbitral
Câmara de Recurso e Árbitros
Câmara de Recurso (Artigo 19.º)
A câmara de recurso é c o n s t i t u í d a , a l é m d o presidente, ou, em sua s u b s t i t u i ç ã o , d o v i c e -presidente do TAD, por 8 árbitros, de entre os da lista do Tribunal, designados pelo Conselho de Arbitragem Desportiva.
Árbitros (Artigo 20.º)
40 Árbitros - Pessoas singulares e capazes - Juristas experientes - Independentes e imparciais - Conhecimento da temática
desportiva
Designação dos Árbitros
A designação dos árbitros depende se estamos no âmbito de uma arbitragem necessária ou de
uma arbitragem voluntária.
Arbitragem Necessária: artigo
28.º
Arbitragem Voluntária: artigo
29.º
No âmbito da Câmara de Recurso: artigo 30.º - A designação para esta câmara fica dependente da aceitação do próprio árbitro.
O que cabe na arbitragem necessária e na arbitragem voluntária?
Análise material. Questões controvertidas.
* O que cabe na arbitragem necessária? * «Artigo 4.º, N.º 1 — Compete ao TAD conhecer dos litígios emergentes dos atos e
omissões das federações desportivas, ligas profissionais e outras entidades desportivas, no âmbito do exercício dos correspondentes poderes de regulamentação, organização, direção e disciplina.»
* Litígios derivados de atos e omissões das federações desportivas, ligas profissionais e outras entidades desportivas; tais atos e omissões têm de estar relacionados com o exercício dos correspondentes poderes de regulamentação, organização, direção e disciplina. * O que são “outras entidades desportivas”? Outras entidades
desportivas que exerçam poderes de regulamentação, organização, direção e disciplina (ex. associações de clubes). * Que poderes são estes?
* Tais poderes são somente aqueles que têm natureza pública. * Estatuto de utilidade pública desportiva origina exercício de poderes de natureza
pública, precisamente no âmbito regulamentação, organização, direção e disciplina de competições desportivas.
O que cabe na arbitragem necessária e na arbitragem voluntária?
* Trata-se então de arbitragem necessária administrativa? * SIM. * Porém, será aqui de incluir as ações relativas a contratos, a
responsabilidade civil extracontratual bem como os demais processos urgentes previstos no CPTA?
* NÃO. * Mas, ações principais e processos cautelares que tenham por objeto
a prática ou a omissão de atos administrativos (impugnação de atos e condenação à prática de atos legalmente devidos e providências cautelares relativas a atos administrativos) estão aqui incluídos.
* E impugnação de normas ou a sua declaração de ilegalidade por omissão? TALVEZ.
O que cabe na arbitragem necessária e na arbitragem voluntária?
«Artigo 4.º, N.º 3 — O acesso ao TAD só é admissível em via de recurso de: a) Deliberações do órgão de disciplina ou decisões do órgão de justiça das federações
desportivas, neste último caso quando proferidas em recurso de deliberações de outro órgão federativo que não o órgão de disciplina;
b) Decisões finais de órgãos de ligas profissionais e de outras entidades desportivas.»
* O n.º 3:
* Admite o acesso imediato ao TAD das deliberações dos órgãos disciplinares das
federações desportivas e ainda das decisões finais das ligas profissionais e das
demais entidades desportivas.
* A alínea a) prevê normas especiais relativamente à impugnação das deliberações
dos órgãos das federações desportivas.
* Será necessário distinguir as deliberações proferidas pelos órgãos disciplinares das
deliberações proferidas pelos demais órgãos das federações desportivas.
* Enquanto as primeiras serão imediatamente impugnáveis, as segundas apenas o
serão depois de recurso para o órgão de justiça.
O que cabe na arbitragem necessária e na arbitragem voluntária?
O que cabe na arbitragem necessária e na arbitragem voluntária?
* O n.º 3: * Questões: a norma estabelece um recurso necessário das decisões e
deliberações dos órgãos das federações desportivas, que não o conselho de disciplina, para conselho de justiça?; qual o regime de impugnação das deliberações do conselho de justiça proferidas em sede de recurso das deliberações do conselho de disciplina?
* A norma vem prever o recurso necessário de todas as decisões e deliberações dos órgãos das federações desportivas, com exceção do conselho de disciplina, para o conselho de justiça.
* A alínea b) exige a definitividade horizontal dos atos administrativos praticados pelos órgãos ligas profissionais e outras entidades desportivas.
O que cabe na arbitragem necessária e na arbitragem voluntária?
* O n.º 6:
* De acordo com o disposto no artigo 18.º, n.º 3 da LBAFD (o artigo 18.º foi expressamente revogado
pelo artigo 4.º da Lei 74/2013, de 6 de setembro): “são questões estritamente desportivas as que
tenham por fundamento normas de natureza técnica ou de caráter disciplinar, enquanto questões
emergentes da aplicação das leis do jogo, dos regulamentos e das regras de organização das
respetivas competições”.
* De acordo com o artigo 4.º n.º 6, encontra-se excluída da jurisdição do TAD, “a resolução de
questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares diretamente respeitantes à
prática da própria competição desportiva”.
* Assim, a exclusão da jurisdição aplica-se apenas a questões emergentes de normas diretamente
respeitantes à prática da própria competição, deixando de lado a controvérsia ligada às “questões
estritamente desportivas”.
«Artigo 4.º, N.º 6 — É excluída da jurisdição do TAD, não sendo assim suscetível designadamente do recurso referido no n.º 3, a resolução de questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares diretamente respeitantes à prática da própria competição desportiva.»
* E na voluntária? * Critério residual de competência relativamente aos litígios submetidos a
arbitragem necessária.
* Terá de ser lido em conjunto com a LAV.
* Essencial se afigura, também, definir o conceito de “litígios relacionados direta ou indiretamente com a prática do desporto” à Muita abertura.
* Um exemplo de litígios que poderão estar sujeitos, caso as partes assim o decidam, a arbitragem voluntária junto do TAD são os relativos aos direitos de imagem de um atleta.
* A norma tem o efeito de criar uma espécie de arbitragem que apesar de voluntária se apresenta como inst itucional izada, funcionando obrigatoriamente junto do TAD.
O que cabe na arbitragem necessária e na arbitragem voluntária?
«Deve o TAD, em grande medida, ficar ligado a uma entidade desportiva, por mais respeitosa que se
entenda que ela é? Ou, pelo contrário, em face da natureza das suas competências, deve ficar fora do
universo desportivo?» (José Manuel Meirim)
FIM.
OBRIGADA
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