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Teoria Geral do Negócio Jurídico

Pontes de Miranda Devido a diversas correntes doutrinárias que

elaboraram critérios para a validade do negócio jurídico no Brasil, sem entretanto chegar a um consenso, adotar-se-á aqui a teoria do genial jurista brasileiro Pontes de Miranda, que posteriormente foi batizada de “escada pontiana”.

Segundo P. de M. os negócios jurídicos devem ser sempre analisados sob 3 planos (existência, validade e eficácia).

PLANO DE EXISTÊNCIA E VALIDADE (ELEMENTOS ESSENCIAIS) Não existe negócio jurídico sem partes, sujeitos,

agentes. Para que o negócio seja válido devem ser porém as partes capazes legitimadas.

Partes capazes – São as partes que possuem pleno discernimento para a assunção de direitos e deveres. Os absolutamente incapazes (- de 16 anos, doentes ou deficientes mentais; e os que por causa transitória não puderem exprimir sua vontade, têm de ser representados pelo pai ou tutor (menor), ou pelo curador (interdição!).

Já os relativamente incapazes devem ser assistidos pelo pai ou tutor (+16, -18) e pelos curadores nos demais casos. Ausência de representação ou assistência enseja a nulidade ou a anulação.

No tocante às pessoas jurídicas a capacidade se aufere de acordo com a sua regular constituição e a ação de acordo com o permitido/definido em seu estatuto social.

Partes Legitimadas Somente as pessoas que possuem a

titularidade dos direitos que pretendem negociar (ou que estão autorizadas para tanto), são partes legitimas para a celebração de um negócio jurídico. Assim, nosso Código Civil veda a venda a non domino. Também deve a pessoa casada, em regra, pedir autorização do cônjuge para a alienação de bem imóvel.

Objeto Não há negócio jurídico sem a presença de um objeto. O objeto válido

deve ainda possuir certas características: deve ser lícito, possível, determinado ou determinável.

Lícito: o que não contraria a lei, a moral, os bons costumes e a ordem pública.

Objeto possível: a possibilidade pode ser física ou jurídica. A possibilidade jurídica se confunde com a própria licitude do objeto, já a física diz respeito, sobretudo, se o objeto é humanamente possível. Exemplo clássico é a construção de uma ponte ligando a Terra à Lua. Essa impossibilidade do objeto é analisada de forma geral, e não de acordo com as aptidões pessoais da parte.

Distingue-se, entretanto, a impossibilidade relativa da absoluta. A absoluta é aquela incapaz de ser realizada por qualquer ser

humano, já a relativa somente para certas pessoas. Objeto determinado (individualizado) ou determinável (a determ.)

Forma Para ser válido o negócio jurídico a forma deve ser

aquela prescrita ou não defesa em lei. Exemplo de imposição de revestimento ou forma

especial ao ato é a necessidade de escritura pública para compra e venda de imóveis com valor acima de 30 salários mínimos. (artigo 108, CC).

Importante! O negócio jurídico pode ser celebrado de forma escrita, verbal e até mesmo gestual! A imposição de solenidade/forma é a exceção, e não a regra.

Podem também as partes acordarem solenidade especial para a celebração de um negócio jurídico entre elas.

Vontade A manifestação de vontade é um requisito de existência do

negócio jurídico. Para que o negócio seja válido, a vontade deve ser formada e manifestada livremente, isto é, sem qualquer vício do negócio jurídico (erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão, fraude contra credores ou simulação). A presença de vício invalida o NJ (nulidade ou anulabilidade).

A declaração de vontade é formada por dois elementos: 1) elemento externo: declaração propriamente dita; 2) elemento interno: vontade real do declarante. Sempre a intenção deve prevalecer ao sentido literal da palavra. (materialidadeXformalidade).

Ao interpretar a vontade nos negócios jurídicos, o juiz deve levar em consideração os princípios da boa-fé e os usos do lugar de sua celebração

Plano de Eficácia (elementos acidentais) As partes possuem a faculdade de

alterar ou regulamentar a produção dos efeitos dos negócios jurídicos. Podem elas então estipular as seguintes cláusulas: condição, termo, modo ou encargo.

Condição: cláusula inserida pelas partes que subordina o efeito do negócio jurídico a um evento futuro e incerto (artigo 121 do CC).

A condição pode também ser lícita ou ilícita. É lícita a condição quando não viola o ordenamento jurídico. É ilícita quando viola então a lei, a moral, a ordem pública ou os bons costumes. Existe também a condição perplexa (ex: venda de um carro com a condição de que o mesmo não possa ser utilizado); imoral, quando uma parte é compelida a agir contra seus princípios morais, religiosos, de honestidade, etc.; e ilegal, prática de um ato ilícito.

Condição suspensiva é aquela que subordina o início dos efeitos do negócio jurídico ao implemento da condição..

Condição resolutiva: perduram os efeitos do negócio jurídico até a não concretização de condição pré-determinada.

Existe também uma classificação da condição de acordo com a natureza;

Condição causal: subordina o negócio jurídico ao acaso, ou seja, a um fato alheio a vontade das partes. (Ex: empresto o carro se chover amanhã).

Condição potestativa: a condição potestativa válida , quando depender de alguma prática ou certa circunstância, e não mero capricho.

Condição mista: depende das duas acima simultaneamente. Ex: pago-lhe uma quantia em dinheiro se apresentares uma peça teatral e estiver chovendo.

Termo Termo diz respeito ao tempo e determina,

então, quando se inicia ou termina a eficácia do negócio jurídico.(Evento futuro e certo!)

Pode ser resolutivo ou suspensivo. A ausência de estipulação de termo no

negócio jurídico implica na sua imediata efetivação, exceto se o negócio deva ser realizado em outro local ou se depender de certo tempo.

Modo ou Encargo Consiste num ônus (obrigação) imposto à parte que é

beneficiada em virtude de uma liberalidade praticada pelo agente.

O encargo é um ato que restringe a liberdade, seja para estabelecer uma finalidade ao objeto do negócio jurídico ou impondo uma obrigação que deverá ser cumprida pelo favorecido, em benefício de terceiros/coletividade, etc. Ex: empresto minha casa para que cuide da minha sogra.

Não se confunde o encargo com a condição, pois o primeiro é um ato coercitivo, o que não ocorre com a condição.

Princípios contratuais Princípio da autonomia privada. Princípio da função social. Princípio da força obrigatória (pacta sunt

servanda). Princípio da boa-fé objetiva. Princípio da relatividade dos efeitos

(efeitos inter partes) Ver choque de princípios.

Vícios ou Defeitos do Negócio Jurídico Os defeitos dos negócios jurídicos são vícios

que atingem a formação ou manifestação da vontade, ensejando sua nulidade ou anulabilidade.

São divididos em dois grupos: 1) os vícios da vontade ou do consentimento

(prejuízo de uma das partes): erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão;

2) vícios sociais (prejuízo de terceiro(s)): fraude contra credores e simulação.

Erro ou ignorância (artigos 138 a 144) “um engano fático, uma falsa noção, em relação

a uma pessoa, ao objeto do negócio ou a um direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico” (Flavio Tartuce). Entretanto, o erro praticado por outra pessoa, mesmo que por omissão, caracteriza o dolo, outro defeito do negócio jurídico. De acordo com o Art. 138 do CC, determinante para a caracterização é a substancialidade do erro e a percepção por pessoa de diligência normal (homem comum/médio).

Classificação do erro quanto ao conteúdo Se divide em dois tipos: erro substancial e erro acidental. A) erro substancial: é aquele que incide sobre aspecto

determinante do NJ. Quando interessa à natureza do negócio (error in ipso negotio): Odirlei desejando doar uma joia à Joana, acaba realizando a sua venda. Ou em relação ao objeto principal da declaração (error in ipso corpore): Elizeu imagina estar adquirindo um quadro pintado por Picasso, mas na verdade trata-se de um quadro pintado por Gilson de Jesus. Também existe o (error in corpore) relativo à alguma qualidade do objeto: Ex: Jéssica acredita estar comprando um colar de ouro que, na verdade, é uma bijuteria.

Quando toca à identidade ou qualidade essencial da pessoa: Winissius Segatto pensa estar se casando com uma mulher, Roberta Pinto que, na verdade, é um transsexual.

Quando sendo o erro de direito (error in juris) e não implicando a recusa à aplicação da lei. Ex: Reinaldo acredita estar realizando um ato em conformidade com a lei, mas sem saber que a mesma já fora revogada.

B) erro acidental: é aquele erro que recai sobre qualidades acessórias ou secundárias, seja da pessoa ou do objeto que está sendo negociado. Segundo o artigo 142 do CC: “O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

Erro de cálculo: não enseja a possibilidade de anulação do NJ, somente autoriza o CC a retificação

Falso motivo (erro quanto ao fim colimado). O falso motivo só vicia a declaração de

vontade quando expresso como razão determinante. Micheli, em seu testamento, deixa uma casa a Alceu, por este ter salvado sua vida em virtude de um acidente, mas, conclui-se depois, que Alceu não estava nem ao menos presente no local do acidente, assim torna-se viciado o negócio jurídico.

Dolo (artigos 145 a 150 do CC) É o induzimento a erro de forma maliciosa (artifício,

artimanha, engodo, encenação, astúcia) que tem como objeto viciar a vontade do agente num determinado contexto. Dolo então é o erro induzido, a vontade deliberada de enganar alguém. O estelionato é um bom exemplo.

Requisitos para a constatação do negócio viciado pelo dolo: a) intenção de induzir o declarante a praticar o NJ; b) utilização de recursos fraudulentos graves; c) que o artifício seja causa determinante para a celebração da manifestação da vontade; d) que procedam do outro contratante ou de terceiro com o conhecimento do outro contratante. Ex: conluio.

Espécies de dolo A) dolo positivo ou comissivo: ato positivo (ação) que

enseja a anulabilidade. Ex: Douglas vende um carro à Franci dizendo possuir o mesmo injeção eletrônica, entretanto ele havia trocado a IE por um carburador.

B) dolo negativo ou omissivo: “consistente em um ato omissivo. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o NJ não se teria celebrado (art. 147 do CC). Ex: Questionada por Charles se seu aparelho de DVDs rodava discos de todas as regiões, responde Juliane que desconhece tal informação, embora tivesse ciência inequívoca de que não o fosse.

C) dolo bom (dolus bonus) : também denominado dolo tolerável, no qual uma das partes atribui ao objeto da relação certos exageros de qualidade do produto, ou visa dissimular os defeitos existentes na coisa. Não existe a vontade de prejudicar o outro agente. Não gera anulabilidade.

D) dolo mau (dolus malus): é o ato de ludibriar a outra parte visando seu prejuízo. Gera anulabilidade

E) dolo essencial (dolus causam dans contracti): recai sobre parte essencial ou relevante do NJ, que se a outra parte tivesse conhecimento, não teria concretizado o NJ.

F) dolo acidental (dolus incidens): é aquele em que a atuação maliciosa da outra parte não foi a razão determinante da celebração do NJ, embora tenha trazido prejuízo ao contratante. Se a parte conhecesse o problema omitido, teria praticado o negócio de outra forma. Não gera anulabilidade, somente indenização (perdas e danos ou redução no valor da prestação celebrada.

G) dolo recíproco ou bilateral: é aquele em que ambas as partes visam o prejuízo alheio (dolo), usando ambas de meios ardilosos. Não enseja a anulabilidade.

H) dolo do representante (pai, mãe, tutor, curador, mandatário, procurador): o dolo do rep. Legal só obriga civilmente até a importância do proveito que teve., no convencional o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos, aplicando-se o art. 932, III, do CC.

i) dolo de terceiro: Art. 148 do CC: “ pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o NJ, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou”. Essa modalidade gera a anulabilidade do NJ. Necessário é que um dos contratantes tenha disso conhecimento e que tire algum proveito disso. Caso a parte que foi beneficiada não tenha conhecimento do dolo, deverá receber uma indenização do terceiro.

Coação É a pressão ou ameaça, física ou moral, sobre uma

das partes, que faz com que essa tenha sua vontade alterada, deixando de agir de acordo com suas ações e convicções. “ A coação, para viciar a declaração de vontade, há de ser tal que incuta, ao paciente, fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou a seus bens”. Art. 151 do CC. Depende de uma certa violência física ou moral. Ao apreciara a coação o juiz levar em conta o sexo, idade, condição, saúde e as demais circunstâncias que possam influenciar na gravidade da coação.

Espécies de coação A) coação moral: Na coação moral, a

vontade do agente é tão só cerceada, restringida e não totalmente excluída, podendo deixar de praticar o NJ optando por resistir ao mal prometido. Ex: Ana Paula, mediante ato de coação, exige que Alan assine um contrato de compra e venda de um imóvel e caso se negue, sua família irá sofrer graves consequências.

B) coação física: Nesta espécie de coação não existe vontade, observa-se assim, ausência total de consentimento da parte que está sofrendo coação. Assim, se o indivíduo apontando uma arma para o outro, exigindo que o mesmo assine um documento, não existe vontade por parte do violentado.

A coação gera a anulabilidade do NJ. Não é considerada coação a ameaça normal de um direito. Ex: cobrar dívida dizendo que com o descumprimento do pagamento, será acionada a justiça. Nem mesmo o temor reverencial.

Estado de perigo Ocorre quando alguém, premido da necessidade de salvar-

se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Também é reconhecível o estado de perigo quando o prejudicado praticou o ato para salvar alguém não pertencente a sua família, devendo o juiz decidir nesses casos. Caso seja reconhecido que o agente praticou o ato em estado de perigo, o NJ deverá ser anulado. Quando o negociante se encontra em uma situação de estado de perigo acaba por celebrar um NJ exorbitante, caracterizado pela onerosidade excessiva (elemento objetivo). O NJ será anulado por estado de perigo se o outro contratante tiver conhecimento da situação de risco ou perigo.

Ex: pessoa tem um familiar sequestrado, tendo sido fixado para o resgate o valor de cinco mil reais. Um terceiro tendo conhecimento do fato, oferece a quantia em troca de um bem do indivíduo, que vale 10 vezes mais esse valor. A venda se conclui pela situação desesperadora da pessoa que quer salvar seu parente. Outro ex. clássico é a caução exorbitante exigida por centro médico para atendimento de pessoa em estado grave. Aqui entretanto o contrato subsiste. (Explicar pq).

Lesão Ocorre quando a pessoa, por premente necessidade, ou

por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Se averigua a desproporcionalidade com os valores vigentes ao tempo da celebração do NJ.

Possui dois requisitos: a) objetivo: lucro exagerado de uma das partes; b) subjetivo: aproveitamento da inexperiência de uma das partes pela outra, devendo ser analisadas também as questões psicológicas ao tempo da celebração do NJ.

A lesão requer, na maior parte da vezes, a revisão contratual, e não a anulabilidade do NJ. Respeito do princípio da conservação dos contratos.

Fraude contra credores É caracterizada quando o devedor

insolvente, ou na iminência de assim se tornar, pratica atos maliciosos no intuito de diminuir o seu patrimônio, reduzindo, assim, a garantia que esse representa para o pagamento de suas dívidas perante os credores.

Aqui o terceiro tem ciência do motivo da disposição do bem, e em conluio com o devedor, conclui o negócio em prejuízo do credor.

É regido pelo princípio da responsabilidade patrimonial segundo o qual o patrimônio do devedor responde por suas obrigações. Esse patrimônio, se desfalcado maliciosamente, e de tal maneira que torne o devedor insolvente, estará configurada a fraude contra credores.

Para caracterizar a fraude aqui argüida, o devedor deve firmar o negócio estando em estado de insolvência, ou tornar-se insolvente em razão do desfalque patrimonial promovido. Enquanto seu patrimônio bastar para o pagamento das suas dívidas, terá total liberdade de dispor dele.

A ação para a anulação do NJ por pare do credor chama-se ação pauliana ou ação revocatória.

Requisitos: A) anterioridade do crédito: bem deve ter sido alienado

depois da existência da obrigação; B) consilium fraudis (conluio fraudulento): má-fé, intuito

deliberado de prejudicar, sendo bastante para a caract. Que o devedor saiba que de seus atos advirão prejuízos;

C) eventus damni (evento danoso): é o evento que deixa devedor sem bens suficientes para a satisfação do crédito do credor.

Simulação Simulação é a declaração enganosa da vontade , com

o objetivo de produzir efeito diverso do ostensivamente indicado. As partes fingem praticar um negócio, que na verdade não desejam, para prejudicar um terceiro. Não existe mais a diferença entre simulação maliciosa e simulação inocente. Ex: Douglas é casado com Renata, contudo é amante e Janaína e, querendo agradá-la, deseja lhe dar uma casa. Para tanto Douglas simula a venda da casa a Erasmo que, posteriormente repassa a casa para Janaína. Atenta-se para o fato de que foi simulada uma venda que não ocorreu.

Espécies de simulação: Simulação absoluta: quando há apenas a intenção

de lesar um terceiro. Simulação relativa: é aquela em que os

contratantes realizam o negócio jurídico sob determinada aparência, desejando, na verdade, realizar negócio diverso.

Srsubjetiva: quando diz respeito à pessoa dos contratantes.

Srobjetiva: vício acomete o elemento objetivo do NJ, o conteúdo.

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