teatro de animaÇÃo

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TEATRO de ANIMAÇÃO

O homem muito cedo, criou o boneco à sua imagem. Nãoapenas jogo e símbolo, boneco e ator, títere e obra dearte, mas também divertimento e espetáculo, o bonecodesempenha em todas as sociedades um papel múltiplo eimportante.

Na Pré-história, o Teatro de Bonecos era encontradonas cavernas, movendo-se em sombras projetadas comas mãos ou com os dedos, para o deleite doshabitantes.

A origem do Teatro de Bonecos é umadas mais remotas maneiras de diversãoentre a humanidade. Registros dessaforma de expressão artística datam de422 ac . Alguns historiadores defendemque seu uso antecipou os atores noteatro.

Os bonecos de barro sem movimentação foramdesenvolvidos e depois passaram a movimentar-se coma cabeça e os membros.

Evidências mostram que sua aplicação aconteceu noEgito em 2 mil ac. com o uso de figuras de madeiraoperadas com barbante. Bonecos articulados demarfim e argila, controlados com cordões, tambémforam encontrados nas tumbas egípcias. Os hieróglifostambém descrevem "estátuas que caminham" usadaspelos antigos egípcios em peças teatrais religiosas.

O teatro de bonecos tem um papel significativo na história das civilizações. Ele está especialmente ligado aos primitivos cultos animistas, os quais consideram que tudo no Universo é portador de alma e, por extensão, de sentimentos, desejos e até mesmo de Inteligência.

Assim, determinados objetos eram considerados sagrados, entre eles as máscaras e os bonecos.

Este instrumento teatral conferia aos seres que os utilizavampoderes mágicos, caracterizando-os como personas intermediáriasentre os povos primitivos e seus deuses. As pessoas conferiam talsacralidade ao bonecos que ele realmente parecia sustentá-lasespiritualmente.

Na Grécia, além do espetáculo, o Teatro de Bonecos tinhaconotações religiosas. Os Gregos chamavam os bonecos deNeyrospasmata, que quer dizer "objetos postos em movimentoscom pequenas cordas", que na época de Sófocles já constituíamespetáculos autônomos.

Aristóteles designa claramente osbonecos ao falar: - "aqueles querepresentam homens e todos osseus gestos por meio de bonecosde madeira. Vemo-los voltar opescoço, inclinar a cabeça, reviraros olhos, as mãos obedecemexatamente ao movimento queexigimos dela: toda essa gentinhade pau parece viver e animar-se".

Durante o Império Romano, no período helenístico, tratou-se deexpandir o Teatro de Bonecos pela Europa inteira.

Na Idade Média, os bonecos foram usados na propagação da féreligiosa e apresentados nas feiras do povo, em praça pública.

Bonecos articulados eram utilizadospelo padre, nas missas de festas, parailustrarem e animarem o sermão.Depois impôs-se o costume decompor com eles presépios vivos naépoca do natal.

Como este teatro lembrava demais os antigos ritos animistas,

a Igreja começou a proibir as encenações dentro dos templos. Esta atitude deu origem aos teatros itinerantes, os quais reduziram o porte para poder circular aqui e ali com suas representações, especialmente pelas ruas e em festas que aconteciam no interior dos palácios.

No séc. XIV, os desfiles de personagens e de autômatosgeneralizaram-se ao ponto de aparecerem com freqüência nomostrador de enormes relógios. Na catedral de Estrasburgoexiste um dos mais célebres.

O Pulcinella italiano foi reconhecido por pesquisadores e porartistas, como o “pai” da maioria do teatro de bonecos europeu,uma vez que em muitos lugares por onde ele apresentou-se noseu pequeno palco, foi adotado e naturalizado pela tradiçãopopular local.

A aceitação de Pulcinella pelas audiências estrangeiras e a suaderivação em tantos outros protagonistas do teatro de bonecossão resultado de seu temperamento variável, que permitiu a suaadaptação ao gosto local.

Em conseqüência a esta adaptabilidade, Pulcinella aparece sobdiferentes facetas: como um personagem luxurioso, tal como oturco Karagöz; cruel e amoral, tal como o Sr. Punch (Sr.Perfurador), o Guignol (Polichinelle francês) e como umaristocrata avarento, tal qual o espanhol Don Cristobal, além dospersonagens simplórios, similares a Pulcinella, como o alemãoHanswurst (João Sausicha, o glutão), o australiano Kasper, orusso Petruskha e no Brasil o Benedito e Simão da brincadeira deMamulengo.

turco Karagöz

O inglês Punch é compreendido por alguns pesquisadores como sendo o resultado da mistura de Pulcinella com os clowns primitivos das peças populares, tais como dos mummers’ plays medievais.

O Guignol , personagem que substituiu na França definitivamente o Polichinelle, foiintroduzido por Laurente Mourguet, mais ou menos em 1808. Esse nome viria de umaexpressão sua, muito peculiar, C’est guignolant, o que significa c’est drôle, ou engraçado,estranho.

Don Cristóbal de la Porra, personagem clássico do teatro de boneco popular espanholque Frederico Garcia Lorca toma como base de sua produção em “Retablillo de DonCristóbal”. Nas historias, Don Cristóbal vence a morte mais uma vez, enfrentando os seusclássicos rivais e conquistando o amor de Rosita.

O boneco alemão Hanswurst (João Salsicha, o glutão).

O boneco australiano Kasper

Petruskha (no centro) e outros personagens do teatro de bonecos russo.

Ao lado da barraca com Petruskha e o Doutor, o tocador de um tipo de realejo.

Petruska seria a fusão do personagem italiano com os menestréis e velhos palhaços da Rússia.

Nós podemos pensar em Benedito e Simão, os protagonistas do Mamulengo brasileiro como o resultado da mistura dos tipos locais, tais como o Mateus e o Benedito do Bumba-meu-Boi / Cavalo-Marinho com personagens do teatro de bonecos que aportou no Brasil, com os colonizadores e depois, com os imigrantes europeus.

Outro aspecto da adaptabilidade de Pulcinella e da sua extensainfluência pode ser compreendido a partir da forma como osbonequeiros ambulantes enfrentavam o público de línguaestrangeira. Era prática comum entre estes artistas se ter um“intérprete” na frente do palco, uma espécie de mediador entrebonecos e audiência que falava a língua local.

Em Petrushka, a tradição russa, um músico localizado na frenteda barraca, além de acompanhar musicalmente o espetáculo, faztambém de intermediário. O mesmo personagem aparece nastradições de teatro de bonecos do nordeste brasileiro. NoMamulengo pernambucano é conhecido como Mateus,enquanto que no João Redondo do Rio Grande do Norte e noBabau da Paraíba aparece como Arriquilim, uma clara referênciaa Arlequim, outra máscara da Commedia dell’Arte.

O BONECO NO ORIENTE

Os bonecos animados das ilhas de Sunda,os Wayangs constituem uma das maisextraordinárias manifestações da arteteatral Indo-Javanesa.

Os bonecos são também muito populares em todo o oriente.

Birmânia

China

No Japão, surgiu o Bunraku, o teatro de bonecos, no século XVI, para entreter o povo de Osaka, cidade notadamente comercial.

O Teatro tradicional japonês Yukiza foi fundado por YukiMagosaburo I, durante o período Edo (1603-1868). A fundação

Yukiza existe até hoje.

Os “Mua Roi Muoc” (bonecos que dançam na água) do Vietnamé uma técnica de manipulação pouco conhecida no Ocidente.Com uma representação teatral sobre dragões, guerreiros,damas em busca de seu amado, flutuando na água, provoca umdeslumbramento em quem assiste.

No Brasil

No início dos anos de 1800 , há registros de trêsgrupos muito populares. E eles tinham três formas maiscomuns: O bonecos de porta, de capote e o de sala.

O primeiro consistia em improvisar uma bocade cena colocando um tecido colorido sobre as portasdas casas,e as pessoas que passavam davam dinheiro,se quisessem, era um espetáculo de rua, emboraacontecesse dentro da casa.

Na segunda forma, os atores andavam pelasruas em feiras ou em dias de festa com uma capa largae comprida, o capote, dentro de onde saía o boneco.

O terceiro acontecia em locais específicos. Naépoca de Dom João VI já existiam algumas salas deteatro de bonecos no Rio de Janeiro.

Em 1945, a Sociedade Pestalozzi, com Helena Antipoff [psicólogae pedagoga de origem russa radicada no Brasil], criou osprimeiros cursos de teatro de bonecos no Brasil, o caráter darelação era mais pedagógico do que propriamente artístico.

A Pestalozzi foi uma das pioneiras em educação diferenciada, ao reconhecer que as criançasreagem de formas diferentes aos processos de aprendizado. Dessa forma, as suas escolas ficaramfamosas por acharem uma abordagem diferente para crianças portadoras de deficiência, eusavam o teatro de bonecos. Ou seja, tudo começou como uma ferramenta educativa. Esse“tudo” se refere é o sucesso que o teatro de bonecos passou a fazer com o público infantil desdeentão – a ponto de, até hoje, espetáculos com personagens animados serem considerados, porgrande parte do público, como algo voltado exclusivamente para os pequenos.

Maria Clara Machado - Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, filha deAníbal Machado (escritor) e Aracy Jacob Machado. Veio para o Rio de Janeiroainda criança, onde fez seus estudos. Começou a carreira artística com umteatro de bonecos que fundou e dirigiu durante cinco anos. Desta experiênciapublicou um livro "Como Fazer Teatrinho de Bonecos" (editado pelaMelhoramentos), que esgotou-se rapidamente. Em 1969 a Livraria Agirreeditou-o. Ainda nesta fase escreveu dez peças para fantoches.

Pluft, O Fantasminha , 1955 Teatro Tablado, Rio de Janeiro RJ

Em 1958 aconteceu, no Rio de Janeiro, o primeiro festival deteatro de bonecos de que se tem notícia. Juntou os 16 gruposcariocas que existiam então, no restante do país, o movimentoera incipiente.

No Nordeste sempre existiu omamulengo como umamanifestação popular. E, fora isso,havia, no interior, em todos osestados, uma forma desse tipo deboneco. Mas ele não erareconhecido pela classe maisesclarecida, era considerado umacoisa do povão, então ficava maisrestrita a festas populares, àsfazendas, quando os coronéisconvidavam os grupos ebonequeiros para animar algumafesta.

O teatro de animação passou a se articular melhor a partir dadécada de 1970. Em 1977, foi criada a (ABTB) e, pouco antesdisso, grupos com uma produção sistemática já pipocavam noSul e Sudeste do país.

Em Belém, existem pelo menos 6 grupos de teatro que trazemna sua proposta de linguagem a utilização do boneco comocondutor da dramaturgia e mais uns 3 ou 4 que utilizam oboneco inserido nas suas encenações.

Bonecos nas cenas Paraenses

Na década de 80 havia pela cidade um moço chamado Serbeto, que “brincava” em sua barraca, da maneira mais mamulengaque se vê por aí. Outro mamulengueiro, um nordestino conhecido como Babi, veio algumas vezes por aqui.

Pelo final dos anos 80 Eugênia Melo aprendeu a técnica de confecção e manipulação defantoches e iniciou despretensiosamente, com outros artistas de teatro da época, ummovimento embrionário de teatro de bonecos na cidade. Entre 1985 e 1991, mais oumenos, formou grupos, participou de festivais nacionais no nordeste e no sul, trouxepara o norte do país, com Jair Silva, uma representação da ABTB (Associação Brasileirade Teatro de Bonecos).

Criou encenações para movimentospopulares dentro e fora da universidade,introduzindo nas suas dramaturgias temaspolíticos e sociais, e inseriu de maneiradefinitiva o teatro de bonecos em atividadesde educação popular, em Belém, através daRádio Margarida, hoje em plena ereconhecida atividade.

No final dos anos 80, no Centur (Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves), aconteceua primeira oficina de confecção de bonecos para animação, ministrada pela cineastaFlávia Alfinito. Presentes na oficina, Anibal Pacha e Beto Paiva, que transitavam pelalinguagem teatral, começaram a experimentar o boneco manipulável, dando-lhepersonalidade e possibilidade de encenação, introduzindo-o, como linguagem, na UsinaContemporânea de Teatro.

Usina Contemporânea de Teatro, que permanece atuante no que se chama de teatro deatores, experimentou o boneco como foco principal em 3 espetáculos inesquecíveis: oprimeiro e mais inesquecível o Virando Ao Inverso, em 90/91, com manipuladorespalhaços negros, expondo suas tristezas através de esquetes com bonecos demanipulação direta, quase um balé de atores parados.

À Deriva, em 92, baseado em “A Tempestade”, do Shakespeare, utilizando a manipulaçãodireta, o contato irrestrito entre os manipuladores e seus duplos, manipulados, masdialogando entre si e o último da trilogia, Fausto, do Goethe, em 93, com variadas técnicasde manipulação e bonecos que contracenavam com atores.

A Usina ainda experimentou o boneco emoutro espetáculo, A Vida é Sonho, deCalderón de La Barca, em 97, mas enquantocomposição para a atuação dos atores.

Desses grupos atuantes, o In Bust Teatro com Bonecos é o queestá a mais tempo em cena, desde 1996.

Desde a sua criação, o In Bust – Teatro com Bonecos investiga a utilização teatral do boneco, o jogo com o ator e a sua relação com a platéia, elemento ativo na dramaturgia do In Bust.

In Bust Teatro com Bonecos surgiu com o espetáculo Mini Minutosde Fama que teve uma carreira longa e foi apresentado até 1998.

Aftasardendöen foi o segundo espetáculo da In

Bust, produzido para a Semana de Cultura Alemã.

1997

Humanos 1412 em 2141

1997

Fio de Pão – A Lenda da Cobra Norato

1998

Ora Noite Ora Dia

Catalendas. Programa infantil da TV Cultura doPará. Produzido desde 1998, é veiculado na RedePública de Televisão (Culturas e TVE’s) e RedeVida, desde 2001. Já alcançou 4 pontos deaudiência na TV Cultura de São Paulo. Soma 60episódios gravados para a TV contando lendas,mitos e causos da cultura popular e doisepisódios contados ao vivo em formato teatral,com bonecos.

1999

Curupira

2000

O Caçador de Borboleta, performance concebida com bonecos de grandes dimensões.

Semana de Bonecos, evento de aconteceu até 2006.

2001

Maria Conda, é uma continuidade da experimentação com bonecos maiores.

Os Doze Trabalhos de Hercules

2002

Pássaro Junino Garça Dourada

2003

Olho de Peixe Boto, espetáculo resultado do Projeto Pauta Residência do Teatro Experimental Waldemar Henrique.

Tem Boneco no Cortejo

2006

Sirênios

2007

O Conto que Eu Vim Contar

2007

TIM TUM um toque musical Espetáculo de música para crianças, com o Grupo de Percussão da Escola de Música da UFPA e Coral Marina Monarca.

2008

Natureza no Asfalto Projeto de mini-espetáculos de teatro com bonecos em caixa lambe-lambe.

“O Pássaro e a Flor”

Bonito, não!?

2008E Aí, Macaco!?,

2009

Quebra Nozes participação especial no espetáculo da Escola de Dança Ana Unger.

2009

Catolé e Caraminguás

2009

Sirênios, nova montagem

AMARAL, Ana Maria. O Teatro de Formas Animadas. São Pauo: Edusp, 2000.AMARAL, Ana Maria. O Ator e Seus Duplos. São Paulo: Senac, 2002.BORBA FILHO, Hermilo. Fisionomia e Espírito do Mamulengo. Rio deJaneiro: Funarte, 1987. SANTOS, Fernando Augusto. Mamulengo: um povo em forma de bonecos. Rio de Janeiro: Funarte, 1979NASCIMENTO, Paulo. Escritos “Teatro Com Bonecos – como atuam os atuantes do Grupo In Bust Teatro com Bonecos e outras possibilidades”, 2009.

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