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Subjetividade e Contemporaneidade:impactos na praxis da Psicologia

IENH – CURSO DE PSICOLOGIA

28 de fevereiro de 2011

Profa. Dra. Marisa Faermann Eizirik

O que faz andar a estrada? É o sonho.

Enquanto a gente sonhar, a estrada

permanecerá viva. É para isso que servem

os caminhos,para nos fazerem

parentes do futuro.

Mia Couto, Terra Sonâmbula

Depois da Paisagem ( Milton Rauber)

Leva teus olhos por este caminhoque ultrapassa os limitesdaquelas coisas exatasque ficaram na outra margem,a gravurada paisagem que agora vêsna objetiva molduraé a imagem codificadade uma outra figurabem mais subjetivaa paisagem da paisageme mesmo que não pareçaela está bem aquirefletida na pinturade tua cega retinaé por aqui que começa a viagem.

Viajar, sabemos, não é dado a todos.

Viajar é da ordem da inquietude, do estranhamento.

Significa ser sensível às diferenças estar atento aos limites desdenhar do homogêneo e do contínuo. ser atraído pelas fronteiras.

Convite: viajar em intensidade, abertura, profundidade exercer um olhar viajante

estrangeiro

Sistema de significados compartilhados

por uma variedade de indivíduos em

suas vidas cotidianas.

Cultura

valoresatitudeslinguagenscódigos

comportamentosrelações

Mudanças ao nível social, intelectual, econômico e político influenciam

Revolucionam, criam e sustentam mentalidades.

BAUMAN, Z.- O Mal Estar da Pós-Modernidade.

Bauman, em Vidas desperdiçadas, utiliza a metáfora do resíduo para desvelar algo profundo que atinge também os seres humanos, inseridos num sistema centrado no consumo, atingidos pela globalização, ou seja, o princípio da obsolescência, o que não quer e não pode ser reciclado: resíduos humanos.

Cada vez mais um grande contingente de pessoas são expulsas – refugiados, pobres, desempregados, incapazes físicos e mentais – são corpos visíveis da humanidade residual.

Modernidade líquida

Não só as pessoas, mas também suas relações estão integralmente atravessadas pela incerteza, a precariedade, a liquidez.

Modernidade líquida, amor líquido são palavras que traduzem a fragilidade dos vínculos que caracterizam a sociedade contemporânea, tanto no terreno afetivo como no do trabalho.  

Ninguém se sente realmente seguro. Ninguém sabe em que momento pode acabar no cesto de lixo.

Vulnerabilidade e incerteza  

Dolorosa experiência de estar perdido

Descobertas e avaliações são parciais

Sínteses são provisórias.

  Fragilização dos vínculos humanos

Liquidez

A fragilização dos vínculos nas relações contemporâneas é um fenômeno que se amplia e se aprofunda, em todos os níveis, em

conseqüência da globalização, do sistema centrado no consumo, da promoção da obsolescência precoce dos objetos, idéias, valores,

pessoas

Tempos múltiplos

enlaçados

interligados

O tempo da complexidade é o tempo da incerteza.

O ar do tempo contemporâneo se constitui nesse mix de rupturas de parâmetros, lutas

visíveis e invisíveis,

de competições e construções, de dificuldade de pensar o real,

de capturá-lo, de compreendê-lo.

De compreendermos a nós mesmos.

Complexidade é dialogar com o mistério do mundo.

MORIN

Tempo não mais imóvel móvel.

Não mais tempo silencioso, monótono, parado, universal, previsível.

O nosso é o tempo da velocidade, dos fluxos, do movimento constante, não linear. Tempo que pede mudança, movimento, ruptura com o mesmo.

Tempo criativo, potencial e potencializador, de construção,, de conquistas, dentro da ordem e da desordem que caracterizam a complexidade do real.

Também é um tempo sombrio.

HANNA ARENDT

O que acontece em nosso mundo?

Novas ordens se instalam Novos valores Novas necessidades Novas atitudes Novas formas de relacionamento

Rupturas

• estranhamento• sofrimento• insegurança • incerteza• desassossego

Do que temos medo?

A que resistimos?

• desconforto

O que procuramos?

• Prazer• Segurança• Conforto

Muitas vezes adaptamos as lentes de acordo com o valor e a necessidade do que está em jogo.

Colocamos focos de luz mais ou menos intensos, damos mais cor, maior nitidez ou brilho,

dependendo do lugar onde estamos, do papel que desempenhamos, da importância que tem para nós

o que está sendo percebido.

Modelo

Padrão

Protótipo

Exemplo

Verdades universais sacudidas e derrubadas, trazendo,

aos rigores rigores da ciência, à certeza da verdade, à previsibilidade do presente e do futuro, a vertigem do provável, do provisório, do conhecimento como seu campo de possíveis dentro do tempo histórico

Todos desejamos o saber por natureza

FOUCAULT

VONTADE DE SABER

Curare, curae (latim)Kurion (Grego) - coisas de importância primordial (kuriotata - as mais sérias)

Curiosidade - tem origem em Cura - surpresa/pesquisa/natural desejo de saber

Cuidado

CURA

Curiosidade brota da raiz Cura - cuidado, preocupação.

Curioso é alguém cuidadoso com sua ocupação

Curare - cuidar, preocupar-se.

Incuria - abandono, des-cuido, despreocupação.

ORTEGA Y GASSET

O cuidado é constitutivo do ser humano

• angústia• desvelo• inquietude

HEIDEGGER, Ser e Tempo

Cuidado de si

exercícios

• a meditação, • o exame de consciência • a concentração sobre o presente.

Estar no mundo é um cuidado

Impõe

• uma responsabilidade• um compromisso• um envolvimento• um exercício• uma preocupação• uma ansiedade• uma atenção• uma escuta

Cuidar de si e cuidar dos outros são atividades mutuamente interligadas: um

cuidado que se institui na ordem do ser, numa perspectiva de ultrapassar o

individualismo e preocupar-se com o(s) outro(s).

A interrogação sobre o cuidado de si se situa no

horizonte de uma história da subjetividade.

Constitui o coração da

ética.

Ética

Ethos - costume, prática,morada, comportamento habitual, lugar.

Ética é o espaço habitável do ser humano.

É o lugar que define o modo de ser de cada um.

Ética é a prática refletida da liberdade.

Ethos consiste fundamentalmente na

possibilidade de pensar de outra maneira.

A idéia chave é de uma identidade em construção:

uma performance dada ao mundo.

É uma insistência, mais que uma instância.

A dimensão ética é aquela das mútuas implicações e das mútuas responsabilidades, que acompanha os movimentos do tempo e da história.

A ética, como problema da organização da existência, é inseparável da forma com que o indivíduo constrói saberes sobre si e sobre os outros, faz escolhas e as assume, entendendo-as como fazendo parte de domínios nem sempre amplos, às vezes até bastante restritos, mas sempre possíveis e absolutamente necessários.

Fazer escolhas é um condimento vital da existência, e no campo da ética, o cuidado de si se instala como enunciado fundamental da cultura, impondo a experiência de si mesmo.

Nós nos constituímos dentro de . jogos de verdade

. práticas de poder

A verdade é deste mundo.

FOUCAULT

Poderes

Desejar é construir um agenciamento, constituir um conjunto.

Não há desejo que não corra para um agenciamento.

Desejo é força, produção, potência.

DELEUZE

Eros, a alegoria do amor, que une, tece os fios das relações, impõe princípios e

possibilidades; Psique, borboleta e, também, alma, alegoria da alma humana, que

purificada pelos sofrimentos e infortúnios, alça vôo para a experiência da alegria e da

felicidade.

Movidos pelo desejo, ambos, Eros e Psique, representam, nessa fábula, movimentos e estratégias, produção de agenciamentos,

que se constituem em modos de existência, em constituição de subjetividade e podem ,

de alguma maneira, ajudar-nos a pensar sobre nós mesmos.

Novas subjetividades se constroem, na ação e no

exercício do estranhamento e da diferenciação,

na articulação dos encontros a das trocas.

Processo de re-simbolização e de enriquecimento

constantes.

Construir-se como sujeito é reinventar-se a cada momento

A subjetividade se constrói no social.

Luta, se rebela, cria e constrói singularidades.

Traz consigo a ambigüidade e a necessidade de exercer a insegurança, buscar o estranhamento e a diferença,

mais do que tolerá-los ou, apenas, respeitá-los.

Nossa subjetividade contemporânea contempla o cuidado de si como indiferença

ao outro e o uso dos prazeres, como vigilância e punição.

Falta-nos, talvez, unir liberdade e justiça, criatividade e compaixão, autonomia de

espírito e respeito pelo próximo,e, principalmente, restaurar a confiança na

força dos vínculos.  

É preciso “dar-se a si mesmo”, considerando as possibilidades pessoais e os constrangimentos objetivos do mundo.  

Mas o que significa “dar-se a si mesmo”?

Nós como projetos de nós mesmos.

 . escolher o próprio destino.. ter um compromisso com a vida, . dar um salto existencial, . fazer escolhas e responsabilizar-se por elas

Onde acontece a prática da Psicologia?

• Escolas/Universidades• Hospitais• Consultórios• Empresas• Equipes de pesquisa• Centros comunitários• Postos de saúde• Sociedade em geral• Outros espaços por criar

Impactos na prática do psicólogo

ou

Como prosseguir a viagem?

Exercer um olhar viajante, estrangeiro

Romper paradigmas

Fazer uso da razão cética, questionadora e vigilante.

Questionar a prática

Confrontar-se com o erro

Conquistar o conhecimento contra a ilusão do saber imediato

Atentar para o inesperado, romper com as relações aparentes e trabalhar na emergência de um novo sistema de relações entre os elementos.

Romper com as pré-noções e modelos prontos.

Superar armadilhas – arrogância do saber preconceitos

certezas

Pensar, ainda que seja perigoso

Conceber a vida como combate

Utilizar a própria experiência/enraizamento social, histórico, político

Cuidar de si e dos outros

Atentar para o fortalecimento dos vínculos

Manter a curiosidade para perguntarinfindável alimento do conhecimento.

‘Nada é mais prático do que uma boa teoria”

K. LEWIN

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