ribeira de albergaria-a-velha
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Ribeira de Albergaria
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
Hidrologia
2005/2006
Trabalho prático
João Pedro Bastos
Introdução
No âmbito da disciplina de Hidrologia, na sua vertente prática, propôs-
se a execução de um trabalho de análise sobre uma pequena bacia
hidrográfica, no caso que vamos estudar, de uma ribeira.
A bacia escolhida para estudo foi a Ribeira de Albergaria (mapa 1),
localizada no Distrito de Aveiro, mais propriamente nos Concelhos de
Albergaria-a-Velha e Estarreja. A sua nascente encontra-se na zona
industrial de Albergaria-a-Velha, a cerca de 160 metros de altitude, correndo
numa primeira fase no sentido N-S durante sensivelmente 7 km, a poente do
aglomerado urbano de Albergaria-a-Velha, paralelamente à EN1. Quando se
aproxima da localidade de Frias de Baixo, inflecte para noroeste,
deambulando até à localidade do Fontão, por um vale encaixado. A partir
desse ponto, a Ribeira corre através de um vale muito mais aberto, até
Angeja, onde o relevo é mais suave e os solos mais arenosos. Nessa
localidade praticamente se encontra com o rio Vouga, distando deste uns
meros 200 metros, tomando depois nova direção, no sentido S-N. A partir
desta fase, a Ribeira corre a uma cota nunca superior a 5 metros,
espraiando-se na zona aluvionar da Ria de Aveiro até desaguar no esteiro
de Canelas, em Fermelã, já no Concelho de Estarreja. Neste ponto, a
Ribeira completa os seus 22 km de percurso, tendo a sua bacia uma área de
32 km² e um perímetro de sensivelmente 31 km.
Para a realização deste trabalho a documentação de base utilizada foi
a Carta Topográfica 1\25000, folha 186, do Concelho de Albergaria-a-Velha.
Para o cálculo da área, perímetro, ordem de canais e perfis, utilizaram-se
várias técnicas como a transposição dos elementos através de papel vegetal
para papel milimétrico, a scanerização das cartas em estudo e a sua análise
e tratamento através de programas como o Paint, o AcrobatViewer e o
AutoCad. A análise geológica e geomorfológica foram elaboradas com base
num extrato da Carta Geológica de Portugal, com adaptação 1/500000,
fornecida pela Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha.
Caracterização física da bacia hidrográfica da ribeira de Albergaria
Geomorfologia
A bacia hidrográfica da Ribeira de Albergaria encontra-se localizada
numa zona que marca a transição do maciço rígido central para a zona
mesozoica e cenozoica, separando duas regiões de constituição geológica
muito diferente e relevo bastante desigual. Sobre a zona geológica mais
recente adensa-se consideravelmente o revestimento humano e nela, desde
tempos seculares, se construíram as vias de comunicação mais importantes
da fachada atlântica.
A região a Este, de relevo mais vigoroso, integra-se na área periférica
do conjunto montanhoso de orientação de Nordeste a Sudeste, que constitui
a Serra do Caramulo.
Os valores de cota da Ribeira variam desde as margens da Ria de
Aveiro, com registos abaixo dos 10 metros de altitude, até valores
ligeiramente superiores a 150 metros, nas áreas mais elevadas do sector
oriental da bacia.
À zona menos elevada corresponde em geral um relevo suave, com
áreas aplanadas e encostas suaves, normalmente orientadas para Poente,
que têm origem nos depósitos de aluviões formados nas margens do Rio
Vouga, bem como nos depósitos de antigos terraços marinhos e fluviais, em
consequência quer da erosão diferenciada (provocada pela erosão
regressiva das águas superficiais), quer pela acção da tectónica, ou ainda a
lembrar arribas marinhas fósseis. Esta zona, em particular após a localidade
de Angeja, sofre problemas de inundação frequentes. O perfil longitudinal
em anexo demonstra os declives mais acentuados junto à nascente,
enquanto que a parte terminal, correspondente aos terrenos aluvionares, é
praticamente plana.
Geologia
Na zona referente ao maciço central (zona este da bacia), as rochas
predominantes são os xistos metamórficos (xistos de Arada), do Pré-
câmbrico, apresentando um maior grau de alteração nas zonas mais planas,
dando origem a um solo residual de natureza argilo-siltosa, de espessura
variável.
Estas formações desaparecem sob os depósitos sedimentares do
Plio-Plistocénico e do Triássico. No primeiro caso, na zona sul da bacia, em
contacto com a margem esquerda do Vouga, encontram-se areias médias e
grosseiras siltosas, com seixo e calhau rolado, de tonalidade amarelo-
acastanhado, assim como areias finas siltosas, com boas características de
compactação. Existem também formações mais antigas, cobertas pelas
anteriores, representadas nas encostas dos vales onde a erosão fluvial se
fez sentir e as pôs a descoberto, como o grés e arenitos do Triássico.
Na parte vestibular da ribeira, área de altitude reduzida, inferior a 5
metros, predominam os depósitos aluvionares, de natureza fina, siltosa e
argilosa e possuem elevado teor em matéria orgânica que lhes confere
aspecto lodoso, estando os terrenos encharcados quase em regime
permanente.
Pedologia e Fitogeografia
O conjunto mais representativo na bacia é o complexo xisto-
grauvíquico e os xistos metamórficos, intensamente fracturados e com uma
camada superficial de alteração que origina um tipo de solo argiloso.
Apresentam uma permeabilidade em pequeno de pouca importância e uma
permeabilidade em grande de alguma forma reduzida, pelo facto de as
fendas e fracturas se encontrarem fechadas em profundidade. Contribuem
assim para a ocorrência de infiltração reduzida e a existência de elevados
coeficientes de escoamento superficial.
As areias do Pliocénico, bem como os arenitos e grés vermelhos do
Triásico, constituem uma formação pouco meteorizada, tendo, por isso, uma
permeabilidade muito reduzida.
As zonas constituídas por grés e margas com intercalações arenosas
podem apresentar níveis aquíferos importantes, com forte artesianismo nas
zonas de contacto entre os diferentes níveis de permeabilidade.
Junto à foz, as características pedológicas são diferentes das
primeiras unidades consideradas, sendo constituídas pela cobertura de
alteração do xisto e por depósitos fluviais e marinhos de terra vegetal, areia
e lodos até profundidades significativas (cerca de 20 metros) onde assenta
sobre o substrato.
Climatologia
O conjunto das variáveis climáticas observadas para a região em que
se localiza a bacia hidrográfica da Ribeira de Albergaria mostra as
influências cruzadas de um clima mediterrânico típico e as de um clima
temperado de feição marítima. Não sendo possível utilizar as normais
climatológicas usualmente referenciadas, pois no Município de Albergaria-a-
Velha existe apenas um posto udométrico, recorreu-se ás observações
registadas na estação de Anadia.
Dois fatores dominam: a proximidade do oceano e a altitude,
exercendo uma influência acentuada nos valores da temperatura e da
pluviosidade. O clima da região, segundo a classificação de Thorthwaite,
será moderadamente húmido, mesotérmico, com deficit de água moderado e
pequena eficácia térmica no verão.
As observações registadas para a estação de Anadia (latitude 43º26’
N, longitude 8º26’ O e altitude 45 metros), de 1941 a 1970, completam estas
conclusões. Os dados do posto udométrico referem-se ao período de 1932 a
1960.
Com uma precipitação média anual de 1317 mm, concentrada
fundamentalmente no semestre de Outubro a Março, podemos afirmar que a
bacia se insere numa região moderadamente húmida, com valores que
ultrapassam os 180 mm para o mês de Janeiro. Na estação de Anadia a
precipitação média anual é de 1038 mm. Apresenta um período seco nítido
no Verão, de Julho a Setembro. Em média, verifica-se precipitação durante
116 dias, dos quais 47 registam valores superiores a 10 mm. Na época
estival, a pluviosidade é reduzida, não ultrapassando em média os 15 mm no
mês de Julho.
A humidade relativa é normalmente elevada. Para valores registados
ás nove horas, varia no Inverno entre os 74% e os 82%, no Verão entre os
70% e os 71%.
Análise da bacia de drenagem da ribeira de Albergaria
Forma da bacia
A bacia em estudo é caracterizada pela assimetria das suas vertentes
e consequentemente das suas áreas, já que a vertente norte tem um área
muito maior relativamente á vertente sul, que é delimitada pela bacia
hidrográfica do Vouga. Assume uma forma em ferradura, em U alongado,
sendo a sua fase intermédia muito densa e o tipo de drenagem dendrítica.
Através de vários índices podemos analisar qualitativamente a forma
da bacia, com o coeficiente de compacidade (Kc) e o índice de circularidade
(Ic).
Kc = 0,27
Ic = 0,4
O coeficiente de compacidade é elevado, o que revela que a bacia é
pouco compacta, irregular, o que implica uma concentração das águas mais
lenta, na foz, durante uma cheia.
Morfometria fluvial
A ribeira em estudo não se encontra totalmente hierarquizada, como
se pode comprovar através da relação de bifurcação (Rb). Os canais de
ordem 1 são 334, enquanto que os de ordem imediatamente a seguir, ordem
2, são 53, do que resulta Rb = 6,30. Esta relação não se mantém, pois
existem 7 canais de ordem 3 (Rb = 7,57) e 1 de ordem 4 (Rb = 7). Como se
constata, a hierarquização dos canais ainda não está concluída.
Bibliografia
Cartografia
Extrato da carta geológica de Portugal (adaptação 1/500000)
Carta Militar de Portugal folha 175, do Instituto Geográfico do Exército, a
1/25000
Planta Topográfica de Albergaria-a-Velha 1/25000
Livros e Revistas
CARVALHO, G. Soares de (1946) – As formações geológicas mais antigas
da orla mesozóica ocidental de Portugal. Dissertação de Doutoramento na
Universidade de Coimbra
CASTRO, Mendia de – Carta Litológico-Geotécnica do concelho de
Albergaria-a-Velha; escala 1/25000, Direcção Geral da Administração
Autárquica, Lisboa, 1974
CRISTO, Fernando P. – Estudo Hidrogeológico do Sistema Aquífero do
Baixo Vouga; Direcção dos Serviços de Hidrologia, Ministério da Habitação e
Obras Públicas, Lisboa
LOURENÇO, Luciano – Caderno de trabalhos práticos, Geografia Física,
Gabinete de Publicações, Faculdade de Letras, 1988
PINHO, António Homem de Albuquerque, “Albergaria-a-Velha, oito séculos –
do passado ao futuro” 2ª Edição, Reviver Editora, Paredes, 2002
PROFABRIL – Variante à EN 16 Albergaria-Viseu (IP5) Relatório geológico e
geotécnico 1982
Sítios Institucionais
Site oficial da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha www.cm-albergaria.pt
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