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Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental............ ISSN 2238-8753
Sumário v. 1, n. 1 (2012)
SUMÁRIO
Editorial.................................................................................................................p. 1-5
Artigos:
Decomposição de compostos orgânicos voláteis oriundos de postos de gasolina por plasma de descarga corona..................................................................................................................p. 6-18
O Sistema de Informação Geográfica para o planejamento e a gestão sustentável do turismo.................................................................................................................p. 19-32
Produção de biodiesel a partir do óleo de fritura usado e o empoderamento da comunidade.........................................................................................................p. 33-40
Estudos de Caso:
A utilização de recifes artificiais marinhos como ferramenta de recuperação da fauna marinha..............................................................................................................p. 41-73
Avaliação do uso do rejeito gerado pelo beneficiamento da Rocha Fosfatada na Agricultura........................................................................................................p. 74-122
Introdução de Relatórios de Sustentabilidade como forma de melhoria no controle das Organizações.................................................................................................p. 123-155
Redução dos remanescentes de Adansonia Digitata (Imbondeiro, Embondeiro ou Baobá) no perímetro de Luanda.....................................................................p. 156-182
Redução de emissão de CO2 nas atividades aéreas da Empresa Aérea ABSA S.A., com ênfase na redução de consumo de combustíveis fósseis......................p. 183-197
Áreas de Preservação Permanente em encostas: Delimitação através de Dados SRTM............................................................................................................ p. 198-254
Projeto de preservação do Cervo-do-pantanal no Banhado dos Pachecos, Município de Viamão - RS..............................................................................................p. 255-269
Entrevista:
Entrevista com o Diretor do Campus Unisul Virtual......................................p. 270-271
Notícias:
Reconhecimento do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental.............................................................................................................p. 272
Projeto Pedagógico do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental
da Unisul, atualizado e em nova etapa de transformação..................................p. 273
Registro do Curso no CREA/SC e as atribuições profissionais..........................p. 274
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 1-5, abr./set. 2012.1
A implantação e o desenvolvimento do Curso de Gestão Ambiental da Unisul,
curso na modalidade EaD, do Campus Unisul Virtual, fez surgir algumas
lacunas e demandas novas que começaram a estimular novos objetivos a
serem alcançados, ações que foram pauta de diversas reuniões da
Congregação do Curso.
Com a determinação presente, e focado no novo modelo em desenvolvimento
na Unisul, voltado para a “Educação Permanente”, sempre construindo o novo,
com os alicerces no tripé “ensino-pesquisa e extensão”, emerge o projeto de
criação, implantação e manutenção de Revista Eletrônica do Curso e da Área.
Para se chegar a esta edição da primeira Revista Científica Eletrônica no
âmbito do Campus Unisul Virtual, houve um planejamento prévio envolvendo
diversos segmentos do Campus a partir do Núcleo Docente Estruturante e da
Congregação de Curso, passando pela aprovação e orientação da Direção da
Unisul Virtual, avalizada pela Pró - Reitoria de Ensino, Pesquisa e Extensão da
Unisul e culminando com o apoio fundamental da equipe da Biblioteca
Universitária, responsável pelo Portal de Periódicos da Universidade.
Com esta base estrutural, concisos e coerentes na construção deste novo
espaço de aprendizagem, de debates e de apresentação de estudos, projetos e
ações, apresentamos à comunidade Acadêmica, à sociedade científica, e à
sociedade em geral a primeira edição da Revista Gestão & SustentabilidadeAmbiental.
Este projeto nasce, com o firme propósito de estabelecer um vínculo real entre
a Academia e a Sociedade, pela apresentação e produção de conteúdos
acadêmico-científicos, demonstrando a aplicação e a evolução dos
delineamentos teóricos entre outras descobertas que merecem e devem ser
publicadas e divulgadas para a sociedade.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 1-5, abr./set. 2012.2
Desta forma o uso de arquivos e ferramentas digitais torna o processo de
produção e socialização de conteúdos, mais amplo, proporcionando maior
visibilidade às ações desenvolvidas na Academia, tanto dentro como fora dela.
O SEER- Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas, já em uso na Unisul,
proporciona aos cursos e em especial ao Curso de Gestão Ambiental, a
divulgação e publicação de suas Atividades, Estudos, Artigos Científicos,
Projetos de Pesquisa e Extensão, para todo o universo de interessados nos
assuntos vinculados à gestão ambiental.
Com este projeto procura-se incrementar a produção acadêmica, dentro da
Área de Gestão e Sustentabilidade Ambiental, abrindo espaços para a
publicação no Portal de Periódicos da Unisul, criando oportunidades para o seu
Corpo Docente e Discente, em estímulo à produção de novos conteúdos,
análises e pesquisas científicas. Desta forma promove a Universidade, os
Cursos, os Professores, os Pesquisadores e Acadêmicos da Universidade.
Esta publicação tem como objetivos:
Oportunizar a publicação científica e pedagógica dos Estudos e
pesquisas desenvolvidas no ambiente acadêmico;
Incentivar a publicação periódica científica da Unisul, e em especial do
Campus Unisul Virtual, disseminando a produção acadêmica e científica
da Unisul;
Divulgar o potencial do Curso de Gestão Ambiental e demais Cursos da
Unisul para a sociedade por meio da produção acadêmica e científica na
área em foco;
Contribuir no processo de ensino-aprendizagem, na pesquisa e extensão
relativas à área de gestão e sustentabilidade ambiental;
Fomentar a prospecção de parcerias institucionais, para projetos de
ensino, pesquisa e extensão.
As publicações deste periódico terão como área de concentração: a gestão e a
sustentabilidade ambiental sob todos os pontos de vista, quer seja, dentro dos
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aspectos conceituais das engenharias, da tecnologia em gestão ambiental, da
administração, assim como das ciências humanas e sociais aplicadas.
O público alvo num primeiro momento será composto por acadêmicos e
professores do Curso de Gestão Ambiental da Unisul, Campus Virtual e dos
demais Cursos e acadêmicos da Unisul com concentração e ações nesta área.
Num segundo momento, profissionais do setor, professores e pesquisadores
da Unisul e de outras Instituições com produção científica na área de interesse.
E em momento contínuo, a Comunidade Acadêmica e a Comunidade
Científica, estabelecendo um novo Fórum de publicação e discussão de
conteúdos relativos à Gestão e a Sustentabilidade Ambiental.
Desta forma convido a todos a se cadastrarem como usuários ou como autores
participando ativamente na construção do conhecimento, neste espaço
acadêmico-científico que se propõe a debater temas relacionados à gestão e a
sustentabilidade ambiental.
Nesta primeira Edição da Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental, naSeção de Artigos, apresentamos três Artigos Científicos e na Seção deEstudos de Caso, apresentamos sete Estudos de Caso, todos desenvolvidos
por Professores e Acadêmicos da Universidade do Sul de Santa Catarina.
O primeiro Artigo trata da Decomposição de Compostos Orgânicos Voláteis
oriundos de Postos de Gasolina, por Plasma de Descarga Corona,
constituindo-se em estudo vinculado à área de Poluição Ambiental e
Tratamento de Efluentes.
O segundo artigo trata do uso do Sistema de Informação Geográfica para o
Planejamento e a Gestão Sustentável do Turismo, constituindo-se em estudo
vinculado à área de Sensoriamento Remoto e SIG.
O terceiro artigo trata da conversão de óleos de fritura em biocombustíveis em
projeto comunitário para abastecimento de barcos de pesca, constituindo-se
em estudo vinculado ao reaproveitamento de resíduos e a geração de energias
alternativas.
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Na seção de Estudos de Caso, apresentamos sete estudos, sendo que o
primeiro Estudo de Caso trata da utilização dos Recifes Artificiais Marinhos,
como ferramenta para a recuperação da Fauna e Flora Marinha, revelando-se
uma boa opção para a recuperação das mesmas. Constituiu-se em estudo
vinculado à área de Conservação e Recuperação Ambiental.
O segundo Estudo de Caso, trata da Avaliação do uso do rejeito gerado pelo
beneficiamento da rocha fosfatada na agricultura, constituindo-se numa
necessidade de ordem ambiental e como suplemento nutricional em sistemas
produtivos, constituindo-se de estudo vinculado à área de Conservação e
Recuperação Ambiental e Gestão de Resíduos.
O terceiro Estudo de Caso trata da Introdução de Relatórios de
sustentabilidade como forma de melhoria no controle das organizações,contribuindo para a identificação dos indicadores ambientais nas organizações,
constituindo-se de estudo vinculado à área temática de Avaliação Ambiental.
O quarto Estudo de Caso trata da Avaliação da Redução dos remanescentes
de Adansonia digitada (Imbondeiro, Embondeiro ou Baobá) no perímetro de
Luanda, em Angola, constituindo-se em estudo vinculado à área de
Conservação e Preservação Ambiental.
O quinto Estudo de Caso trata da Redução de emissão de CO2 nas atividades
aéreas da empresa aérea ABSA S.A., com ênfase na redução de consumo de
combustíveis fósseis. Constituindo-se de estudo vinculado à Redução de
emissões atmosféricas e à redução no consumo de recursos naturais.
O sexto Estudo de Caso trata da delimitação de Áreas de Preservação
Permanente em encostas: Delimitação através de dados SRTM, constituindo-
se em um estudo de viabilidade da aplicação do Modelo Digital de Elevação –
MDE, constituindo-se de estudo vinculado à área de Sensoriamento Remoto /
SIG e a Conservação Ambiental.
O sétimo Estudo de Caso trata do Projeto de Preservação do Cervo – do –
Pantanal no Banhado dos Pachecos, no MunicÍpio de Viamão – RS,
constituindo-se de estudo vinculado à área de Conservação e Preservação
Ambiental.
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Na seção Entrevista apresentamos uma breve entrevista com o Diretor do
Campus Unisul Virtual, professor Moacir Heerdt, e na Seção Notícias,
apresentamos notícias importantes relacionadas ao Curso de Gestão
Ambiental da Unisul Virtual.
Desejamos a todos uma excelente interação com nossa Revista, boas leituras
e votos de intensa colaboração na confecção, avaliação e envio de trabalhos
para publicação.
Jairo Afonso Henkes, M.Sc.Coordenador de Gestão Ambiental
Editor da Revista Gestão & Sustentabilidade Ambientale-mail: jairo.henkes@unisul.br
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 6-18, abr./set. 2012. 6
DECOMPOSIÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS ORIUNDOSDE POSTOS DE GASOLINA, POR PLASMA DE DESCARGA CORONA
Marília de Medeiros Machado
Anelise Leal Vieira Cubas
RESUMO
A formação de hidrocarbonetos voláteis tem se tornado um fator causador de impacto
ambiental, no tocante às indústrias petroquímicas. Nessas indústrias, as principais
emissões de compostos orgânicos voláteis (COVs), como benzeno e tolueno, em
conjunto com a pressão de vapor próxima ou acima da atmosférica, estão
relacionadas com a carga, descarga e armazenamento dos combustíveis. Os impactos
provenientes da emissão de compostos orgânicos voláteis para atmosfera acarretam
em conseqüências à saúde humana, expondo a população aos hidrocarbonetos, ao
meio biótico e ao meio físico. Nesse sentido, o presente estudo propõe um método de
tratamento desses compostos através da utilização de tecnologia de plasma descarga
corona. A metodologia do trabalho baseou-se na coleta de amostras de gasolina em
postos de combustíveis na região da Grande Florianópolis e sua eficiência foi testada
analisando-se os gases provenientes da pirólise da gasolina realizada pelo plasma,
através de um identificador de gases por infravermelho e pelo método da
cromatografia gasosa. Os resultados mostram que o tempo de permanência ideal da
amostra no plasma foi o de 8 minutos.
Palavras-chave: Plasma. Compostos orgânicos voláteis. Descarga corona.
Engenheira Ambiental - UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina
Email: mariliammachado@gmail.com
** Engenheira Química – Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB
Profa Dra. em química - Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade do Sul de Santa Catarina
Engenharia Ambiental - Email: anelise.cubas@unisul.br
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 6-18, abr./set. 2012. 6
1. Introdução
A formação de hidrocarbonetos voláteis torna-se um fator relevante de
impacto ambiental, no que diz respeito às indústrias petroquímicas, estando
presentes em todas as etapas do processo, desde a produção do combustível
até a sua distribuição. Nessas indústrias, as principais emissões desses
compostos orgânicos voláteis (COVs), como benzeno e tolueno, em conjunto
com a pressão de vapor próxima ou acima da atmosférica, estão relacionadas
com a carga, descarga e armazenamento dos combustíveis. Os COVs podem
causar impactos em todas as esferas, tanto na física (devido as emissões de
COVs com a formação de ozônio), na biótica (devido as emissões de COVs
com danos a flora e fauna) e na antrópica (devido as emissões de COVs expor
as pessoas a hidrocarbonetos).(JUNQUEIRA, 2005).
O impacto no meio ambiente devido à eliminação de um material tóxico
é, muitas vezes, sentido de imediato, o que não acontece quando se trata de
doenças que são, na maioria das vezes, retardadas pela causa natural. Esse
fato torna o problema ainda mais crítico, visto que os compostos orgânicos
voláteis estão entre os poluentes mais comuns do ar atmosférico, sendo
originados de reações químicas que ocorrem na atmosfera formando o ozônio
e outros oxidantes, os quais trazem riscos à saúde humana e ao meio
ambiente.
Os COVs estão presentes em todos os segmentos que envolvem
processamento e distribuição de combustíveis fósseis. Na região da Grande
Florianópolis encontram-se em torno de 300 postos de gasolina que, por sua
vez, emitem, portanto, uma quantidade preocupante de COVs. Estando ciente
desse quadro, e levando-se em consideração que esses postos têm sua fonte
de emissão de COVs nos tanques de armazenamento de combustíveis, para o
presente trabalho foi projetado um sistema piloto de plasma frio para
decomposição desses compostos provenientes da gasolina.
O presente estudo objetiva analisar as emissões de COVs de amostras
de gasolina comum e desenvolver tecnologia apropriada para o tratamento de
COVs com a utilização do plasma de descarga corona. Para isso, depois da
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identificação dos gases oriundos da gasolina foi desenvolvido um reator de
plasma por descarga corona, a fim de se reduzir a emissão de poluentes
desses e, portanto, eliminar sua toxicidade. Essa eliminação é possível devida
à alta energia resultante da descarga corona, oferecendo, assim, uma boa
eficiência de destruição.
Os processos que utilizam a descarga corona, também são conhecidos
como “plasma corona” ou “plasma frio”. Esse processo é denominado como um
gás ionizado parcialmente, no qual a energia média dos elétrons é
consideravelmente mais elevada do que o dos íons e moléculas de gás. A
energia produzida para gerar o plasma frio é muito pequena sendo proporcional
ao aumento temperatura que fica próxima a 25ªC. A figura abaixo mostra os
componentes principais do reator de plasma. A descarga é formada através da
aplicação de um campo elétrico intenso, o que provoca a formação de auto-
propagação eletrônica dentro do volume de gás (GROTHAUS, 1996).
Figura 1: Reator de plasma anular com eletrodos cilíndricos (1- eletrodo parafuso de aço, 2-tela fina de alumínio- eletrodo, 3- corpo do reator- tubo de quartzo, 4- entrada de gás, 5- saída
de gás, 6 – fonte de alimentação.
A descarga corona é criada através da aplicação de uma série de pulsos
de alta tensão aplicada a um fino fio metálico coaxial localizado dentro de um
tubo metálico. Uma descarga típica de plasma frio é do modo incandescente ou
de serpentina.
Uma vez gerado o gás ionizado, os elétrons colidem com as moléculas
de gás, criando quimicamente espécies ativas conhecidas como radicais. Os
radicais uma vez produzidos podem reagir com moléculas poluentes no fluxo
de gás, quebrando-as em compostos menos perigosos ou mais facilmente
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manipulados. No presente trabalho utilizou-se um reator de plasma anular com
eletrodos cilíndricos, de descarga de barreira (KOUTSOSPYROS, 2004).
A metodologia desse estudo seguiu as seguintes etapas: identificação
dos compostos orgânicos voláteis (COVs) provenientes da gasolina. Seguida
do desenvolvimento do reator de plasma corona para a eliminação desses
gases, o que os fez reduzir a seu estado fundamental, tornando-se possível
eliminar a toxicidade dos mesmos e, por fim, a identificação dos gases inertes,
através de infravermelho e cromatografia gasosa.
O grande interesse na determinação de COV’s muitas vezes, se
concentra nos compostos de benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos, também
conhecidos por BTEX, devido seus altos índices de toxidade (OLIVEIRA,
2007). Os hidrocarbonetos monoaromáticos, BTEX, são compostos líquidos
voláteis, incolor, com cheiro característico, altamente inflamável, apresentam
pontos de ebulição relativamente baixos, que vão de 80º à 138º, evaporando-
se rapidamente. São compostos pouco solúveis em água, porém, miscíveis
com a maioria dos solventes orgânicos (VIEIRA, 2004).
A contaminação por esse composto está relacionada aos produtos
derivados do petróleo, como por exemplo, a gasolina que apresenta em sua
composição cerca de 10 a 59% de compostos aromáticos, sendo que estes
hidrocarbonetos monoaromáticos são os constituintes mais solúveis e mais
móveis da fração da gasolina (SONG, 2002).
Os BTEX são compostos tóxicos, onde a exposição a esses compostos,
dependendo da concentração e do tempo de exposição, pode causar sérios
riscos à saúde que vão desde fadiga, irritação no nariz, olhos e garganta,
fraqueza, confusão mental, convulsões até o coma e à morte. O benzeno, é
considerado o mais tóxico dos demais por ser potencialmente carcinogênico
(MELLO, 2007). No entanto, o tolueno é encontrado em concentrações
maiores, comparado com os demais constituintes do BTEX (PICELI, 2005).
Entretanto, apesar dos efeitos causados pela contaminação do BTEX na
atmosfera, ainda não existe no Brasil regulamentações para controle da
emissão desses poluentes na atmosfera, existe apenas, estabelecidos pela
legislação, níveis aceitáveis de BTEX em água para consumo humano e solo
(LABORSOLOS, 2005).
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2. Objetivos
2.1. Objetivo geral
O presente estudo tem como objetivo principal analisar as emissões de
COVs de amostras de gasolina comum e desenvolver tecnologia apropriada
para o tratamento de COVs com a utilização do plasma de descarga corona.
2.2. Objetivos específicos
Avaliar as emissões de COVs de amostras de gasolina.
Projetar, construir e avaliar um reator para a eliminação de gases tóxicos
por plasma descarga corona;
Efetuar a decomposição de COVs por plasma corona;
Identificar os compostos presentes nos gases resultantes do processo
de plasma por infravermelho e cromatografia gasosa.
3. Metodologia
Para atingir os objetivos supracitados acima, o trabalho seguiu o seguinte
procedimento:
No primeiro momento foi construído um reator piloto. O corpo do reator
é constituído de um tubo cilíndrico de quartzo. Na figura 2 pode-se entender
melhor o funcionamento do reator de plasma. Um dos eletrodos consiste de
uma chapa fina de alumínio que envolve o tubo de quartzo, enquanto o outro
eletrodo é constituído por um fio ou parafuso de aço localizado
concentricamente no interior do cilindro de quartzo. O gás contaminado é
arrastado por ar comprimido para o interior do reator após serem volatilizados
no interior de um frasco lavador de gases. A volatilização pode ou não, ser
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controlada através de um aquecedor elétrico com temperatura controlada
colocado sob o frasco lavador. O gás contaminado estando no interior do reator
é submetido à exposição do plasma. A dimensão total do reator é 30 cm de
comprimento com 2,5 cm de diâmetro.
Figura 2: Configuração do reator experimental de plasma.
Posteriormente, com os gases provenientes dos postos de gasolina,
coletados e identificados através do espectrômetro de massa, efetuou-se a
decomposição dos COVs (compostos orgânicos voláteis) por plasma.
3.1. Decomposição química de COV’s por plasma
Uma amostra de gasolina foi depositada em um frasco vaporizador. Um
fluxo de ar comprimido arrastou os COVs vaporizados para o interior do reator
cilíndrico de quartzo. O fluxo foi ajustado com um fluxímetro, com vazão do gás
de 1L/min. O ar comprimido além de gás de arraste também foi empregado
como gás plasmagênico devido à formação de ozônio, sendo o ozônio um forte
oxidante.
O tempo de permanência da mistura BTEX e ar comprimido no interior do
reator de descarga corona foi realizada nos intervalos de 8, 10 e 12 min.
Durante cada período tanto a entrada como a saída do reator foram mantidas
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fechadas. A tensão aplicada para a descarga foi de 220 Volts, com potência de
17 KV.
Paralelamente a essa etapa, os gases contendo os produtos da reação
foram medidos através de identificador de gases por infravermelho. Os gases
medidos e identificados foram; CO2,, O2, CxHy, NO, NO2, SO2 e NOx.
3.2. Equipamentos Utilizados
Reator de plasma descarga corona
Fonte de alta tensão NEONEMA de 17 KV
Regulador de tensão VARIVOLT
Identificador de gases por infravermelho
Cromatógrafo gasoso SHIMADZU CG- 14B
Amostra de gasolina
4. Resultados e Discussão
A figura 1 mostra o reator cilíndrico utilizado no experimento, de
fabricação simples, e fácil operação. O reator utiliza descargas elétricas do tipo
corona para provocar a fragmentação das moléculas poluentes.
O plasma frio ou corona é produzido através de uma descarga em um gás
quando um potencial elétrico adequado é aplicado entre dois eletrodos
metálicos. Nas regiões de alto campo elétrico, ocorre a ionização do gás
produzindo vento corona (ocasionado pela colisão de elétrons com as espécies
gasosas durante sua passagem pelo espaço entre os eletrodos) e espécies
ativas (íons e moléculas excitadas) (GASPERI, 2008).
A tabela abaixo reporta os resultados para cada elemento analisado, ou
seja, para o CO2,, O2, CxHy, NO, NO2, SO2 e NOx. Os resultados obtidos
expressam quais elementos tiveram seu valor de saída reduzido ou elevado.
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Sendo que o processo do plasma frio reduz alguns do elementos devida a
descarga elétrica que sofrem esses gases que acontece em razão da troca
ionica.
Para o tratamento da decomposição do BTEX por plasma frio foram feitos
testes com as saídas das ampolas fechadas. As análises foram feitas todas em
duplicata.
A introdução de amostras líquidas no reator de plasma frio foi realizada
através da vaporização e arraste destas com ar comprimido. O branco do
BTEX foi realizado passando o BTEX após evaporação com temperatura
controlada no reator com descarga desligada (antes da decomposição).
Durante o tempo de contato com o plasma, tanto a entrada como a saída do
reator, eram mantidas fechadas. Após o tempo determinado de 10 minutos,
elas eram abertas simultaneamente e os produtos da fragmentação do BTEX
eram analisados através de um identificador de gases por infravermelho que foi
disposto na saída do reator. Além disso, os produtos foram, também,
coletados e dispostos em amostradores, os quais foram, posteriormente,
levados para análise por cromatografia gasosa.
O procedimento pode ser melhor compreendido através da ilustração da
figura 1.
Tabela 1 - Valores da concentração dos gases (ppm) para cada elemento.
Elementos Concentração dos Gases (ppm)
Branco Teste 1 Teste 2
CXHY 4460 3750 3662
SO2 1,0 0,0 0,0
Como pode-se observar, a tabela acima revela que houve redução nos
valores de praticamente todos os componentes. Os componentes da amostra
detectados pelo identificador de gases por infravermelho não foram analisados,
porém, acredita- se que a tecnologia tem a propriedade de desintegrar esses
compostos em compostos mais leves.
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De acordo com as Figuras 3, 4 e 5 obtidas das amostras de BTEX para
diferentes tempos, sendo que a amostra A refere-se ao branco do BTEX e
amostra B a decomposição do BTEX de acordo com cada tempo especificado.
A sobreposição dos cromatogramas em relação ao branco do BTEX, permite
uma melhor visualização da redução dos picos.
Figura 3: Cromatograma análise do BTEXA- Branco do BTEX ; B- BTEX 8 min
.
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Figura 4: Cromatograma análise do BTEX.A- Branco do BTEX; B- BTEX 10 min.
Figura 5: Cromatograma análise do BTEX.A- Branco do BTEX; B- BTEX 12 min.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 6-18, abr./set. 2012. 15
De acordo com os resultados obtidos, pode-se observar que o melhor
tempo foi de 8 min do gás contaminante em contato com o plasma corona,
ocorrendo melhor eficiência na decomposição dos compostos de BTEX.
Porém, a menor eficiência na decomposição do BTEX para os tempos de 10 e
12 min, pode ser devido a interações intermoleculares para uma determinada
quantidade de espécies reativas de plasma, pois durante o tempo de contato
com o plasma a entrada e saída de gás eram mantidas fechadas. O tempo de
corrida da análise foi de 20 min, não aparecendo outros de picos como
produtos formados da decomposição do BTEX, pois ocorre a formação de
produtos mais simples, não sendo detectados no cromatógrafo gasoso. Em
principio, o interesse neste estudo foi apenas observar a eliminação dos gases
contaminados.
Diversas bibliografias sugerem que a eficiência de destruição para os
componentes do BTEX, segue a seguinte ordem (KOUTSOSPYROS, 2004):
E benzene <E tolueno <E etlilbenzeno <E xilenos
Aparentemente, existe uma relação inversa entre a eficiência de
destruição e energia de ionização dos compostos. A energia de ionização de
cada um dos quatro compostos do BTEX é indicada na figura 3
(KOUTSOSPYROS, 2004).
Figura 6: Energias de ionização e eficiência de destruição.
Energia de Ionização
Eficiência de Destruição
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Isto nos fornece um indicativo de que a decomposição dos compostos
por plasma ocorre, primeiro, nas substituições químicas do anel aromático,
onde as ligações químicas são mais fracas, por isso, nos compostos mais
substituídos, a eficiência de destruição é maior.
Para compostos quimicamente semelhantes (hidrocarbonetos
aromáticos), a eficiência de destruição é inversamente relacionada com a
energia de ionização e está diretamente relacionada com o grau de
substituição, sugerindo, que os locais de substituição química podem ter
atividade maior do plasma.
A eficiência de destruição em misturas de COV (por ex., BTEX) é
reduzida quando comparada com eficiência de contaminantes individuais. Esta
é possivelmente uma conseqüência de interações intermolecular para uma
determinada quantidade de espécies reativas de plasma (KOUTSOSPYROS,
2004).
Inicialmente, para estudo deste trabalho, concentrou-se somente na
ocorrência da redução BTEX em contato com plasma frio, não identificou- se os
produtos formados, contudo, estas análises serão realizadas em estudos
futuros.
Apesar da limitação desse estudo, comprova- se a eficácia do plasma
frio em decompor gases contaminados, porém, são necessários estudos
futuros mais detalhados.
5. Conclusão
O plasma frio apresentou bons resultados para decomposição dos
compostos analisados, porém, é necessária, em estudos futuros, uma análise
mais detalhada sobre o processo. Para fins deste estudo, o objetivo deste
trabalho foi alcançado, visto que em princípio, buscava-se observar a
ocorrência da decomposição do BTEX. A utilização de reatores a plasma
gerados por descarga corona para eliminação de gases poluentes se mostrou
viável, além disso, a manutenção desses reatores é mínima, e conforme os
materiais escolhidos para a confecção do mesmo é simples.
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De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, pôde-se concluir
que os processos de tratamento de resíduos por plasma é completo, definitivo
e limpo, pois não gera outros resíduos.
6. Referências Bibliográficas
1. JUNQUEIRA, T. L.; ALBUQUERQUE, E.L., TOMAZ,E. Estudo sobre
compostos orgânicos voláteis em Campinas- SP. 2005. In: VICongresso Brasileiro de Engenharia Química em IniciaçãoCientífica, p. 1-6. 2005.
2. GROTHAUS, M. G.; FANICK, E. Harmful Compounds Yield toNonthermal Plasma Reactor. Disponível em:
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09 fev 2009.
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O SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA PARA O PLANEJAMENTO EA GESTÃO SUSTENTÁVEL DO TURISMO
Nilzo Ivo Ladwig1
RESUMO
Torna-se imprescindível estimular o desenvolvimento harmonioso e coordenado do turismo,
porque, se não houver equilíbrio com o meio ambiente, a atividade turística comprometerá sua
própria sobrevivência. Por outro lado, observa-se que, a pesquisa na área do turismo carece de
desenvolvimento e da utilização de novos instrumentos e ferramentas que possam viabilizar
um planejamento mais requintado, ou seja, com um número maior de informações territoriais.
Com esta preocupação é que surge o objetivo superior deste artigo, que discutisse a
aplicabilidade de nova ferramenta “Sistema de Informação Geográfica (SIG)”, dentro de uma
nova abordagem de planejamento e gestão sustentada do turismo. A tendência mundial na
área de SIG’s é a de um aumento considerável na quantidade e diversidade dos dados e
informações trabalhadas. No planejamento, cresce a necessidade de estruturar, gerenciar e
espacializar as informações territoriais, que tornam-se cada vez mais complexas. Um sistema
de informações geográficas deve ser capaz de armazenar, manipular e visualizar essas
informações. Sendo uma tecnologia em franco desenvolvimento, fica difícil chegar a uma
definição conceitual de SIG que satisfaça os envolvidos no seu desenvolvimento, uso e
marketing. A grande vantagem da aplicação do SIG no planejamento turístico é a possibilidade
de um gerenciamento da informação referenciada geograficamente, organizada em camadas
(layers), conectadas a tabelas de atributos alfanuméricos e dotados de capacidade de inter-
relação espacial. O potencial da aplicação do SIG nesses campos reside na quantidade de
informação geográfica que pode ser colocada ao alcance do usuário a uma distância remota,
mediante a utilização de redes de comunicação entre computadores. O Sistema de Informação
Geográfica (SIG) é ferramenta que poderá se mostrar eficiente porque permite diagnosticar e
analisar informações territoriais relevantes para o planejamento turístico e SIG poderá ser um
instrumento importante para a tomada de decisão.
1 Professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), Professor do Curso deEngenharia de Agrimensura e Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais - UNESC(Universidade do Extremo Sul Catarinense). E-mail: ladwig@linhalivre.net.
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1. INTRODUÇÃO
As atividades turísticas podem ser entendidas, em especial, como uma
experiência geográfica na qual a paisagem se constitui num elemento
essencial, causando impressões e emoções estéticas. A qualidade da
paisagem gera investimentos e divisas, com influências socioeconômicas e
ambientais no território.
Portanto, a relação de investimento em preservação e conservação da
paisagem e a contrapartida com a atividade do turismo são diretas. Assim, a
forma de garantir a integridade física dos atrativos turísticos é o seu
conhecimento por parte dos técnicos e população local.
Assegurar a preservação e a conservação do patrimônio natural e
histórico-cultural, elementos formadores da paisagem, não é uma tarefa fácil.
Porque, desde muito tempo, a concepção teórica mais usual sobre a atividade
turística é a economicista. Atualmente, há registros da incorporação da variável
ecológica nas discussões.
Dentro desta abordagem teórica, pode-se precisar que o turismo e o
meio ambiente necessitam encontrar um ponto de equilíbrio, a fim de que a
atratividade dos recursos não seja causa da sua degradação. Assim, torna-se
imprescindível estimular o desenvolvimento harmonioso e coordenado do
turismo, porque, se não houver equilíbrio com o meio ambiente, a atividade
turística comprometerá sua própria sobrevivência.
Por outro lado, observa-se que, para satisfazer a abordagem teórica
citada, a pesquisa na área do turismo carece do desenvolvimento e da
utilização de novos instrumentos e ferramentas que possam viabilizar um
planejamento mais requintado, ou seja, com um número maior de informações
territoriais.
Com esta preocupação é que surgiu o objetivo superior do artigo que
discutisse a aplicabilidade de nova ferramenta dentro de uma nova abordagem
de planejamento e gestão sustentada do turismo. A ferramenta utilizada na
discussão foi: o Sistema de Informação Geográfica (SIG).
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A continuidade da discussão está garantida devido à complexidade
com que a atividade do turismo se consolida, criando novas territorialidades,
desafiando os pesquisadores na elaboração de novos planos de gestão.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE SISTEMAS DE INFORMAÇÕESGEOGRÁFICAS (SIG’S)
A tecnologia dos sistemas de informação geográfica cresce de forma
muito rápida. Nos últimos anos tornou-se evidente a propagação e o uso
destes sistemas.
A tendência mundial na área de SIG’s é a de um aumento considerável
na quantidade e diversidade dos dados e informações trabalhadas. No
planejamento, cresce a necessidade de estruturar, gerenciar e espacializar as
informações territoriais que se tornam cada vez mais complexas.
2.1 Evolução histórica dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG’s)
É interessante observar que o emprego do conceito de computação,
para o processamento de dados geográficos, reporta-se ao século XIX, quando
Herman Hollerith, funcionário do Bureau of Census Americano, criou e
empregou cartões perfurados e uma máquina tabuladora para auxiliar as
atividades relativas ao censo de 1890. Processou em três anos o que se havia
levado oito, em 1880, para ser processado por vias convencionais.
Tremblay & Bunt (1983) comentam que o Bureau of Census inovou
mais uma vez quando, em 1951, instalou o UNIVAC I, um computador
automático universal, o qual era o mais avançado de sua geração, tornando-se
o primeiro a entrar em linha de produção. Entretanto, a comunidade científica
ressentia-se com a falta de ferramentas matemáticas adequadas para
descrever quantitativamente a variação espacial. Os primeiros
desenvolvimentos apropriados em matemática, segundo Burrough & Mcdonnell
(1998), para administrar problemas espaciais, começaram por volta de 1930,
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paralelos ao desenvolvimento de métodos estatísticos e à análise de séries
temporais.
O progresso prático efetivo, segundo Burrough & Mcdonnell, foi
completamente bloqueado pela ausência de ferramentas computacionais
adequadas. Somente após 1960, com a disponibilidade do computador digital,
floresceram tanto os métodos conceituais de análise espacial, como as reais
possibilidades de mapeamento temático quantitativo de análises espaciais.
A história relata diversas iniciativas efetivas, no sentido de empregar a
tecnologia computacional no processamento de dados espaciais. Entretanto, o
primeiro SIG que se tem registro surgiu em 1964 no Canadá (Canada
Geographic Information System), por iniciativa do Dr. Roger Tomlinson, que
embora tenha construído os módulos básicos de software, impulsionado o
desenvolvimento de hardware e elaborado uma complexa base de dados, só
publicou os seus trabalhos uma década depois. Na verdade, somente no final
da década de 70 é que a indústria dos SIG's começou a amadurecer,
favorecendo, inclusive, no início dos anos 80, o surgimento da versão
comercial dos primeiros sistemas, que passaram a ter aceitação mundial.
Foi nos anos 80 que o USGS (United States Geological Survey)
disponibilizou ao público bases de dados digitais, tais como os modelos digitais
de elevação ou DEM's (Digital Elevation Models).
Entre o final da década 80 e o início da década de 90, houve um
crescimento acentuado das aplicações de SIG's, o que se deve, em parte ao
advento e à disseminação do microcomputador pessoal (Personal Computers),
além da introdução de tecnologia de baixo custo e alta capacidade de
desempenho, tais como as estações de trabalho (Workstations). O
desenvolvimento tecnológico, entre 1985 e 1995, foi tão acentuado e rápido,
podendo-se mesmo afirmar, que os computadores é que impulsionaram as
aplicações, ou seja, exatamente o oposto do que ocorreu no início do processo
na década de 60, quando havia aplicações, mas não existiam recursos físicos,
nem mesmo para digitalização, impressão ou plotagem automatizados (SILVA,
1999).
Silva (1999), lembra muito bem, que com o surgimento dos sistemas de
informação, associou-se à "informação" o conceito de valor adicional (added
value), que é obtido ao se reunir, de forma ordenada, conjuntos de dados que
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previamente não estavam relacionados, cuja combinação pode ser usada a fim
de se realizar tarefas adicionais. Hoje, mais do que nunca na história da
humanidade, é válida a expressão, "Informação é Poder", e aqueles que têm
acesso à informação, não apenas chegam à frente dos concorrentes, como
seus concorrentes que não têm acesso à informação, nem ficam sabendo que
ficaram para trás.
2.2 O desenvolvimento da tecnologia de Sistemas de InformaçõesGeográficas (SIG’s) no Brasil
Numa breve discussão sobre a utilização de SIG’s, no Brasil, pode-se
destacar que, por volta de 1980, surgiu a primeira geração de SIG’s (Sistemas
de Informação Geográfica), ou GIS (Geographic Information System) como são
conhecidos no exterior, isto é programas específicos para geoprocessamento,
ou seja, trabalho com dados geográficos em um ambiente espacial que impõe
distorção pelo sistema de coordenadas terrestres. Um sistema de informações
geográficas deve ser capaz de armazenar, manipular e visualizar essas
informações. A primeira utilização destes programas foi a produção de
mapeamento básico, dada a carência de informações sobre todos os tipos de
dados, tanto ambientais como urbanos e rurais.
Foi ainda na primeira geração de SIG, que grandes projetos foram
desenvolvidos, como por exemplo, o projeto “SOS Mata Atlântica”, que realizou
um dos maiores estudos mundiais com esta tecnologia. Foram produzidas mais
de 200 cartas, contendo o levantamento de todos os remanescentes da floresta
tropical original, a partir da interpretação e processamento de imagens de
satélite.
A segunda geração de programas SIG caracterizou-se pela utilização
de um banco de dados geográfico. Assim, o que não se podia fazer na primeira
geração, que era armazenar dados referentes a informações encontradas no
campo, nesta data foi realizado.
Hoje em dia, estamos desenvolvendo a terceira geração de SIG’s, que
consiste basicamente em Bibliotecas Geográficas Digitais, isto é, um banco de
dados que pode ser compartilhado por várias instituições. A utilização dos
SIG’s cresceu tanto que se tornou imprescindível a sua utilização em qualquer
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projeto nas mais diversas áreas, desde seu nicho principal, que são as
disciplinas de geoprocessamento, fotogrametria, sensoriamento remoto e
cartografia pura, até outras ciências que necessitam de informação espacial.
As geotecnologias, são ferramentas cada vez mais utilizadas, não
somente por grandes instituições e prefeituras, mas também por empresas que
buscam o seu apoio para auxiliar nas tomadas de decisões que vão desde a
localização estratégica para a sua implantação, até a criação de um banco de
dados que aponta o perfil e a localização de seus clientes em potencial.
2.3 Definições de Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) no Brasil
Sendo uma tecnologia em franco processo de desenvolvimento, fica
difícil chegar a uma definição conceitual de SIG que satisfaça os envolvidos no
seu desenvolvimento, uso e marketing. Há, inclusive, os que chegam a
considerar o SIG como uma ciência, e não como uma ferramenta
(GOODCHILD, 1997).
Tem-se observado que muitas definições de SIG são claramente
concebidas pelos interessados em ganhar mercado para seus produtos.
Adicionalmente, o SIG tem uma gama muito grande de aplicações, havendo,
inclusive, sistemas que, com frequência, usam as mesmas ferramentas de SIG,
aplicadas em situações muito diferentes. Cada um destes grupos de usuários
também apóia sua própria definição de SIG.
Diante deste cenário, foram selecionadas algumas definições de SIG
pertinentes, conforme segue:
1) SIG é “qualquer conjunto de procedimentos manuais ou baseados
em computador, destinados a armazenar e manipular dados referenciados
geograficamente". (ARONOFF, 1989);
2) SIG é “um sistema de informações baseado em computador, que
permite a captura, modelagem, manipulação, recuperação, análise e
apresentação de dados georeferenciados". (WORBOYS, 1995);
3) SIG’s constituem "um conjunto de ferramentas para coleta,
armazenamento, recuperação, transformação e exibição de dados espaciais do
mundo real para um conjunto particular de propósitos”. (BURROUGH, 1998).
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Dentre as definições de SIG apresentadas por pesquisadores
brasileiros pode-se destacar: Silva & Souza (1987), Rodrigues & Quintanilha
(1991), Teixeira & Christofoletti (1992) e Camara (1993). Veja, a seguir, alguns
conceitos definidos por eles.
“Sistema Geográfico de Informação (SGI), constitui o tipo de estrutura
mais importante em termos de viabilização do geoprocessamento. Este último
sendo um conjunto de procedimentos computacionais, que operando sobre
bases de dados geocodificados, ou mais evoluidamente, sobre bancos de
dados geográficos, executa a análise, reformulações e sínteses sobre os dados
ambientais disponíveis”. (SILVA & SOUZA, 1987).
"Sistemas de Informações Geográficas são modelos do mundo real
úteis a certo propósito; subsidiam o processo de observação (atividades de
definição, mensuração e classificação), a atuação (atividades de operação,
manutenção, gerenciamento, construção, etc.) e a análise do mundo real".
(RODRIGUES & QUINTANILHA, 1991).
“SIG's são constituídos por uma série de programas e processos de
análise, cuja característica principal é focalizar o relacionamento de
determinado fenômeno da realidade com sua localização espacial; utilizam
uma base de dados computadorizada que contém informação espacial, sobre a
qual atuam uma série de operadores espaciais; baseia-se numa tecnologia de
armazenamento, análise e tratamento de dados espaciais, não-espaciais e
temporais e na geração de informações correlatas”. (TEIXEIRA &
CHRISTOFOLETTI, 1992).
“SIG's são sistemas cujas principais características são: integrar, numa
única base de dados, informações espaciais provenientes de dados
cartográficos, dados de censo e de cadastro urbano e rural, imagens de
satélite, redes e modelos numéricos de terreno; combinar as várias
informações, através de algoritmos de manipulação, para gerar mapeamentos
derivados; consultar, recuperar, visualizar e plotar o conteúdo da base de
dados geocodificados. (CÂMARA, 1993).
A utilização da tecnologia de SIG é relativamente nova. Nos últimos
anos, o SIG se tornou, especialmente, a regra para muitos usuários no uso de
gestão territorial e ambiental. Os SIG’s podem trabalhar dados extremamente
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complexos e grandes, processá-los em segundos e fornecer informação
sofisticada relacionada à informação espacial. (ROBIDOUX et al, 2003)2.
Na aquisição de um SIG se deve observar as seguintes questões:
garantir o poder de trabalhar e processar uma quantidade extremamente
grande de dados e ser compatível com a maioria dos outros sistemas
computacionais. Devemos sempre destacar que um SIG é concebido para
trabalhar com dados referenciados por coordenadas geográficas ou espaciais.
Em outras palavras, um SIG é um sistema de bases de dados com
capacidades específicas para lidar com dados espacialmente referenciados,
bem como um conjunto de operações para trabalhar com a informação
espacial. De certo modo, um SIG pode ser pensado como um mapa de ordem
superior.
2.4 Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) aplicados noplanejamento e na gestão do espaço turístico
O turismo é um fenômeno espacial, mesmo que com freqüência seja
analisado sob o aspecto estritamente econômico. Deve-se destacar que a
prática do turismo influi progressivamente em todos os setores de organização
da sociedade. (LANFANT, 1975).
Portanto, estudar a classificação e espacializar o fenômeno turístico,
nos seus diversos segmentos e espaços resultantes, é de grande importância
para o conhecimento da sua dimensão geográfica.
As diversas manifestações turísticas não têm sempre espacializações
coincidentes, o que aumenta a complexidade de seu caráter territorial. Todavia,
os diversos tipos de turismo em um mesmo espaço determinam uma
organização espacial, um modelo de assentamento complexo, formal e
funcional que pode dar lugar a uma estrutura desarticulada e com fortes
desequilíbrios e conflitos.
Perceber e administrar esta organização espacial é um desafio. Os
SIG’s devem auxiliar de maneira prática, pois a sua utilização no campo do
turismo deve basear-se no domínio interativo da informação espacial.
2 <http://www.fig.net/general/leaflet-english.htm> Acessado 23/10/2004.
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Caracterizando-se como um instrumental útil para o planejamento e gestão do
território onde será implantada a atividade turística, assim como para a
promoção e exploração de um destino.
A utilidade desta ferramenta no planejamento deriva tanto do processo
de produção e gestão da informação como de sua exploração. Necessita de
uma cartografia temática diversificada, fácil de consultar e atualizar, que
responda a uma variada gama de fins operativos de como pode ser o
planejamento de um espaço turístico, permitindo trabalhar com uma enorme
quantidade de dados, o que facilita o domínio da informação e sua capacidade
de divulgação.
Devemos repetir que a grande vantagem da aplicação do SIG no
planejamento turístico é a possibilidade de um gerenciamento da informação
referenciada geograficamente, organizada em camadas (layers), conectadas a
tabelas de atributos alfanuméricos e dotados de capacidade de inter-relação
espacial. Esta interação gráfica e alfanumérica irá produzir uma nova
informação.
Essa informação permitirá criar e analisar uma nova realidade
geográfica, cujo uso é extremamente interessante tanto para a vertente do
planejamento como para a divulgação e promoção do produto turístico. A via
de aplicação do SIG, no campo do turismo, é vista como promissora, pois o uso
desta ferramenta pode criar e adequar novas circunstâncias no trabalho
profissional.
2.5 Aplicação do SIG na promoção, comercialização e informação turística
O potencial da aplicação do SIG nesses campos reside na quantidade
de informação geográfica que pode ser colocada ao alcance do usuário a uma
distância remota, mediante a utilização de redes de comunicação entre
computadores, conhecida como web, que permite utilizar o SIG de qualquer
parte do mundo. (RAMÓN MORTE,1997).
Deste modo, uma grande quantidade de informação sobre um destino
ou região turística pode ser oferecida desde um computador ligado à internet,
de forma atrativa, cômoda, barata e de ampla difusão, se comparada à edição
tradicional de panfletos e folderes de promoção.
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O benefício ainda é maior, quando um SIG é oferecido em um portal de
rede, como é o caso de uma página da web, onde o usuário pode selecionar
um destino ou área, e obter uma informação relativa a aspectos ambientais,
paisagens, atrativos turísticos, equipamentos3, instalações, infra-estrutura
turística e a operacionalidade, que se resume na possibilidade de realizar
reservas.
Percebe-se o evidente potencial do SIG que, no conjunto, permite mais
que um simples planejamento das viagens turísticas e de lazer, visto que as
imagens, os modelos digitais do terreno e cenários virtuais de recreação
conectados à dados sobre produtos turísticos permitem adiantar a viagem.
Além disso, há a possibilidade da integração de som, animação e imagem nas
ferramentas do processo de elaboração e exploração do SIG, facilitando a
edição de uma cartografia muito mais sugestiva que a impressa em papel.
Pode-se, ainda, utilizar, na elaboração da integração desses artifícios visuais,
fotografias aéreas e imagens de satélites que permitem criar roteiros
imaginários sobre o mundo gráfico.
A possibilidade de dispor de uma informação considerável e importante
a qualquer hora, para decidir o destino de uma viagem de férias, é mais uma
resposta ao agenciamento da demanda, pois os usuários estão cada vez mais
bem informados, manifestando um crescente interesse pelo planejamento ativo
de seu tempo de ócio. Por isso, as novas tecnologias a serviço da divulgação e
exploração da informação geográfica propiciam novas fórmulas de
comercialização, ajustando-se aos perfis da demanda, aspecto que exige um
esforço profissional dentro do setor turístico.
Pode-se afirmar que os recursos de multimídia e hipermídia,
relacionados com o SIG, podem ser o incentivo para a difusão e promoção de
destinos turísticos, porque a informação turística de cunho geográfico pode ser
oferecida de forma mais atrativa e levar a qualquer lugar.
3 BOULLÓN, R. C. (2002, 49-61p.). “Os serviços vendidos aos turistas são elaborados por umsubsistema que denominamos empreendimento turístico, integrado por dois elementos: oequipamento e as instalações. A infraestrutura turística neste caso compreende adisponibilidade de bens e serviços com que o destino conta para sustentar suas estruturassociais e de produção turística (hospedagem, alimentação, entretenimento, outros serviços).”
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2.6 Aplicação do SIG no planejamento e na gestão do território
A aplicação da cartografia digital e dos SIG’s em temas de
ordenamento e planejamento territorial é uma das linhas mais usuais e onde se
observa um grande número de estudos realizados. As grandes bases de dados
referenciados constituem-se no instrumento mais apropriado para as tarefas de
análise territorial, planejamento de uso do solo, gestão de recursos, prevenção
de riscos, localização de equipamentos, entre outros aspectos de conteúdo
espacial. (VERA, et al 1997).
Percebe-se que a possibilidade de realizar aplicações específicas no
planejamento de destinos e áreas turísticas é grande. Pois os SIG’s podem
atender a necessidade de elaborar planos integrados para os processos de
ordenamento e reordenamento do turismo no território. Por exemplo, no
método de planejamento físico do turismo há a possibilidade de incorporar
variáveis como: a planialtimetria, a geologia, a hidrografia, a vegetação, as
condições climáticas etc., com as variáveis e componentes humanos,
destacando-se: o plano diretor, o sistema cadastral e as infraestruturas urbanas
vigentes.
Com esta operacionalidade dos SIG’s, é possível dispor de um sistema
de cartas digitais de informações geográficas, relativas a cada um dos níveis
de trabalho indicados. Com a possibilidade de estabelecer relações entre elas,
mediante a superposição gráfica e topológica, além dos seus vínculos com
uma extensa série de tabelas de dados alfanuméricos associados.
Deste modo, é possível obter a informação requerida em formato
cartográfico ou como informe estatístico, com a vantagem de considerar a
produção de uma nova informação gráfica e alfanumérica, a partir dos níveis
básicos dos dados de que dispõe o sistema. Por exemplo, a relação da
informação da carta do litoral do estado de Santa Catarina com a localização
dos pontos de coleta de água para obtenção das condições de balneabilidade,
cruzada com a da carta da dinâmica das correntes marinhas, irá mostrar o
deslocamento dos poluentes.
Ramóm Morte (1997) argumenta que os SIG’s têm sido largamente
utilizados na ordenação do território e gestão do espaço turístico, destacando-
se as seguintes funções desempenhadas:
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a) Integração da atividade turística nas tarefas de planejamento;
b) Elaboração de sistemas de informação para o planejamento espacial e
suportes lógicos para a tomada de decisões;
c) Análise da paisagem e atividades de expansão turística rural/urbana;
d) Prevenção de riscos naturais em espaços turísticos;
e) Controle da atividade turística em espaços naturais protegidos;
f) Impacto ambiental da atividade turística;
g) Estudos de qualidade ambiental nos espaços turísticos;
h) Gestão da qualidade das infra-estruturas e serviços;
i) Inventários sobre recursos e produtos turísticos de uma região;
j) Capacidade de uso do território com fins turísticos;
k) Promoção turística em espaços de interesse público;
l) Análise multicritério, elaboração de modelos, simulação e estudos de
exploração (localização de hotéis, futuras áreas de urbanização etc.).
Nesta linha de aplicação dos SIG’s e da cartografia digital tem-se
elaborado trabalhos para o planejamento ambiental de espaços protegidos,
definição de roteiros de cicloturismo, atividades de ecoturismo, dentre outros,
que possuem um papel especial na atividade turística. Tem-se observado
interesse especial em utilizar os SIG’s, na elaboração de sistemas de
informação, para gestão da qualidade em destinos turísticos, pois congrega
abundantes informações geográficas, procedentes de diversos métodos e
formatos, desde a cartografia analógica, assim como documentos e dados
estatísticos oficiais, e ainda com informações obtidas à partir do tratamento de
imagens de satélite e fotografias aéreas.
Deve-se destacar que o conhecimento prático em SIG é uma valiosa
ferramenta de aplicação. Mas muito cuidado deve ser tomado quando da
preparação técnica que deve satisfazer exigências cartográficas para se tornar
uma ferramenta que permita trabalhar a informação geográfica em destinos e
áreas turísticas, de maneira eficiente para o planejamento e a gestão territorial.
3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA DISCUSSÃO
O turismo é uma atividade complexa, em que se articulam uma série de
variáveis que têm interpretação espacial, isto é, variáveis econômicas, sociais,
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culturais e ambientais. Deve-se destacar que as relações que existem entre as
distintas variáveis citadas denominam-se territorialização do turismo.
O Sistema De Informação Geográfica (SIG) é ferramenta que poderá
se mostrar eficiente porque permite diagnosticar e analisar informações
territoriais relevantes para o planejamento turístico.
Por meio disso pode-se observar que se a área de interesse apresenta
uma grande complexidade territorial, onde cada comunidade possui as suas
peculiaridades geográficas, que em termos de produto turístico é de grande
valia o SIG poderá ser o instrumento para a tomada de decisão.
Os elementos territoriais, que devem ser levantados e considerados
tais como: geomorfologia, hidrografia, uso do solo, propriedades geotécnicas,
elementos ecológicos, atrativos naturais e histórico-culturais. Dentre outras
questões abordadas, mostram que, quando se argumenta a favor de ações de
planejamento turístico, as territorialidades devem ser consideradas nos seus
aspectos físico, social, econômico, ecológico e político, como uma exigência na
busca do desenvolvimento do turismo sustentado.
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PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DO ÓLEO DE FRITURA USADO E OEMPODERAMENTO DA COMUNIDADE.
Elisa Helena Siegel Moecke *Steffan Macali Werner *
Yuri Andrei Gelsleichter *Aline Ferreira Ali de Avila *Thayse Correa da Silveira *
Resumo
O aproveitamento de óleos e gorduras saturadas, provenientes de frituras, em produtos como sabão, ração ebiodiesel evita o lançamento destes no esgoto doméstico ou na forma bruta no solo e em cursos d’água. Aprodução de biodiesel a partir do óleo de fritura foi uma alternativa encontrada para a Associação Pro-Crep(Projeto Criar, Reciclar, Educar e Preservar), do bairro da Pinheira em Palhoça/SC, incrementar a renda deseus associados e preservar o meio ambiente. Através dos trabalhos desenvolvidos pela Unisul (Universidadedo Sul de Santa Catarina) com apoio do CNPq e da UniSol/Santander foi possível implantar uma unidade deprocessamento de biodiesel. Inicialmente foi efetuado um diagnóstico da situação atual, usado o mapacomunitário para o entendimento espacial e localização dos fornecedores de óleo, calendário sazonal de pescapara a compreensão do tipo de embarcação usada pelos pescadores e o impacto do óleo diesel na composiçãodos custos da pesca. O processo produtivo como também os equipamentos foram desenvolvidos com aparticipação dos associados da Pro-Crep, alunos e professores da Unisul. O projeto foi desenvolvido dentro deuma perspectiva de desenvolvimento sustentável, buscando conciliar a dimensão econômica, social eambiental. A partir dos trabalhos de educação ambiental, realizados nas escolas de ensino fundamental emédio, nas associações de bairro e nos grupos de terceira idade, criaram-se condições para manter oabastecimento da usina com óleo de fritura. As parcerias estabelecidas com os restaurantes tambémcontribuíram significativamente com o projeto. O biodiesel produzido é usado para abastecer o trator que realizaa coleta de resíduos sólidos e do óleo e para abastecer os barcos de pesca artesanal da Pinheira.
Palavras Chave: biodiesel, óleo de fritura, empoderamento.
________________________________________________________________* Farmacêutica e Bioquímica, Doutora em Química pela UFSC, Professora do curso de Engenharia Ambientale Sanitária e de Engenharia de Produção. E mail: elisa.moecke@unisul.br** Acadêmico do curso de Engenharia de Produção. E mail: steffan.werner@unisul.br*** Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. E mail: yuri.gelsleichter@unisul.br**** Acadêmica do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. E mail: aline.avila@unisul.br***** Acadêmica do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. E mail: thayse.silveira@unisul.br
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1. Introdução
A pesca artesanal é uma das atividades mais antigas, sendo a principal fonte derecurso para muitas famílias de diversas comunidades. Para o Estado de Santa Catarina, apesca artesanal tem significativa importância econômica, uma vez que a costa litorânea temextensão de 531 km, correspondendo a 7% do litoral brasileiro. O Estado abrange 34municípios, com população de 1.917.719 pessoas. Em Santa Catarina a pesca é realizadaem toda a extensão da costa litorânea, em diferentes ambientes aquáticos: mar aberto,baías, lagoas e estuários.
Estes ambientes, por possuírem características próprias que os distinguem entre si,determinam a forma de exploração dos seus recursos pesqueiros e, em função dela, ascondições sociais e econômicas da população que os exploram.
De acordo com Severo (2008), o principal componente do custo na pesca artesanalda Praia da Pinheira é o combustível utilizado pelas embarcações, no caso o óleo diesel,consumido em média 3.240 L/ano, por embarcação.
A Praia da Pinheira localiza-se no distrito de Enseada de Brito, o qual pertence àPalhoça, que é um dos municípios mais extensos do litoral catarinense, com 323 km², edensidade demográfica de 371 hab/km². Mas, dessa área total de Palhoça, 235 km² são deárea de preservação permanente (ou seja, 73% do território) devido à presença de duasunidades de conservação: o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e o Parque EcológicoMunicipal dos Manguezais.
A região, além da atividade pesqueira, se caracteriza pela presença do turismodevido às belezas naturais. Para receber os turistas existem diversos espaçosgastronômicos, os quais consomem óleo vegetal para preparar um dos principais pratos daregião o “peixe frito”. Através de um levantamento feito com os donos de estabelecimentosda região, estima-se que por mês sejam descartados cerca de 6000 litros de óleo saturado,o qual muitas vezes pode não ter a destinação adequada, podendo ocasionar poluição naregião.
O aproveitamento destes óleos e gorduras saturadas, provenientes de frituras, emprodutos como sabão, massa de vidraceiro, ração e biodiesel ou para outros fins, evitaria olançamento destes no esgoto doméstico ou na forma bruta no solo e em cursos d’água.Uma das grandes dificuldades para utilizar o óleo de frituras como matéria prima é a falta deorganização na coleta e de conscientização da comunidade na disposição deste rejeito paraposterior coleta.
O óleo e gorduras provenientes de frituras apresentam uma elevada oxidação comformação de peróxidos e o uso em ração animal pode trazer problemas às pessoas queingerem animais alimentados com essa ração. E o efeito acumulativo da ingestão contínua eprolongada de compostos de maior toxicidade, como monômeros cíclicos e hidrocarbonetospoli-aromáticos formados durante a fritura por imersão, deveria ser mais bem investigadoem razão de suas reconhecidas propriedades carcinogênicas (Costa Neto et al., 2002).
Reduzir a poluição ambiental é hoje um objetivo mundial. Todo dia tomamosconhecimento de estudos e notícias indicando os males do efeito estufa. A ComunidadeEuropeia, os Estados Unidos e outros países vêm estimulando a substituição do petróleopor combustíveis de fontes renováveis, incluindo principalmente o biodiesel. Devido a suaexpressiva capacidade de redução na emissão de poluentes, quando comparado ao óleodiesel. Pode atingir a redução de até 98% a emissão de enxofre, 30% de aromáticos e 50%de material particulado, e redução de no mínimo 78% de gases causadores do efeito estufae da chuva ácida. Apresenta ainda vantagens, como de ser produzido localmente, criandoempregos e resolvendo os problemas de descarte de resíduos pontuais, que apresentamvários inconvenientes ambientais (FERRARI,2005; FELIZARDO, 2003; KNOTHE, 2005).
Quimicamente, o biodiesel é uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos. Uma sériede métodos atualmente disponíveis tem sido adotados para a produção de biodiesel. Há
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quatro maneiras principais de produção: utilização direta e mistura de óleos crus, micro-emulsificação, craqueamento térmico (pirólise) e transesterificação. O método detransesterificação é o processo mais utilizado e bem estabelecido para melhorar apropriedade de óleos combustíveis (LEUNG, WU, LEUNG, 2010; SIVAKUMAR, P.;ANBARASU, K; RENGANATHAN, 2011). A Transesterificação é o deslocamento do álcool apartir de um éster por outro álcool. Reação de transesterificação geral se dá a partir de trêsreações consecutivas e reversíveis. É amplamente utilizado para reduzir a viscosidade detriglicéridos derivados de matérias primas renováveis, na presença de um catalisador paraacelerar a reação de transesterificação e aumentar o rendimento. O excesso de álcool éutilizado para a completa a reação. A transesterificação é um termo usado para descreveruma classe de reações orgânicas onde um éster é transformado em outro, através da trocados grupos alcóxidos. É necessário o uso de agentes transesterificantes, os álcoois de baixopeso molecular, como o metanol, etanol, propanol, butanol e álcool amílico. Metanol é omais utilizado devido às suas vantagens físicas e químicas (polaridade, álcool de cadeiamais curta, reage rapidamente com o triacilglicerídeo e dissolve facilmente o catalisadorbásico). Além disso, permite a separação simultânea da glicerina (RINALDI et al., 2007;SANTOS et al., 2007).
O presente trabalho, dentro de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável,busca proporcionar um fim adequado ao óleo de fritura a partir da produção de biodieselpara ser usado nas embarcações de pesca artesanal, aliando a necessidade dospescadores artesanais e dos associados e a disponibilidade do óleo de fritura na região.
2. Material e Métodos
Inicialmente foi realizada uma parceria com a Associação Pró-Crep (Criar, reciclar,educar e preservar) para desenvolver o projeto na comunidade da Pinheira em Palhoça/SC.Foi realizado um diagnóstico da situação atual e, ainda, usado o mapa comunitário para oentendimento espacial da comunidade e localização dos pontos fornecedores de óleo;calendário sazonal de pesca para a compreensão do tipo de embarcação usada pelospescadores e o impacto do óleo diesel na composição dos custos.
Durante o desenvolvimento do projeto foram proferidas palestras nas escolas e paraa comunidade, buscando a conscientização pela preservação do meio ambiente. Estaetapa foi realizada pelos associados, alunos e professores da Universidade do Sul de SantaCatarina - Unisul.
O projeto da unidade de processamento de biodiesel foi elaborado segundo ametodologia de Projeto de Desenvolvimento de Produto, proposta por Hozenfeld e Forcellini(2006).
O biodiesel foi obtido a partir da reação de transesterificação do óleo de fritura emetanol usando como catalisador o hidróxido de potássio, o processo foi previamenteotimizado em nível de laboratório através da metodologia de análise de superfície. Osprojetos dos reatores foram desenvolvidos com os alunos da Engenharia de Produção e daEngenharia Ambiental e Sanitária, sendo fabricados numa empresa metalúrgica da região.
A unidade de processamento de biodiesel foi implantada ao lado do galpão detriagem da associação Pro-Crep. Todas as etapas para a implantação foram realizadascom a participação ativa dos associados.
O processo de transesterificação desenvolvido para a unidade envolve basicamentequatro etapas: o pré – tratamento do óleo de fritura (peneiramento e decantação) pararetirada das impurezas e da água; a reação de transesterificação (usando metanol e KOH),separação da glicerina e a purificação do biodiesel formado (lavagem e secagem).
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3. Resultados e Discussão
Os trabalhos de educação ambiental foram realizadas em 9 escolas de ensinofundamental e duas escolas com o ensino médio da região da Baixada do Maciambú ondese localiza a Pinheira. Foram feitas reuniões com a comunidade para discutir questõesambientais da região e, ainda, de motivação, buscando valorizar as potencialidades dasmesmas. As fotos da figura 1 se referem às atividades de educação ambiental, realizadasnas escolas e na comunidade.
Figura 1 - Cartilha de educação ambiental.Fonte: Elaboração dos autores, 2012.
Para a educação ambiental foi desenvolvido material didático (cartilha) que foidistribuído nas escolas, mostrando a importância da separação dos resíduos para o meioambiente e a divulgação do projeto biodiesel (figura 1). Além disso, foi elaborado um kitcontendo óleo de fritura bruto, óleo de fritura limpo, biodiesel e glicerina, biodiesel purificadoe a glicerina (figura 2).
Figura 2 – Kits com frascos contendoóleo de fritura bruto, óleo de frituralimpo, biodiesel e glicerina, biodieselpurificado e a glicerina.Fonte: Elaboração dos autores, 2012.
O uso do kit foi importante para o trabalho de divulgação do projeto, despertou ointeresse pelo trabalho. Possibilitou a visualização do óleo de fritura recebido na unidade deprocessamento e as transformações ocorridas durante a reação de transesterificação e depurificação final do biodiesel.
O projeto teve intensa participação da comunidade, resultando no aumentosignificativo de óleo de fritura enviado à unidade de processamento. Das residências, aunidade passou a receber aproximadamente 1.500 L/mês, enquanto que dosestabelecimentos gastronômico de 3.000 a 4.000 L/mês no período de verão, na baixatemporada o fornecimento diminui para 50%.
O óleo de fritura ao chegar à unidade de processamento passa por um sistema defiltração e decantação para a retirada das impurezas. Do total do óleo que chega a unidadede processamento, aproximadamente 3% corresponde a impurezas e 20 a 30% de sal e
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água, quando proveniente dos estabelecimentos gastronômicos. O óleo das residências nãoapresenta sal e água em quantidades significativas (< 2%). Após a separação dasimpurezas, sal e água o óleo é submetido à análise da acidez. Quando a acidez do óleo formaior de 3,0 %, este é encaminhado para a produção de sabão. E com teores de acidezmenores que 3,0 mg KOH/g o óleo segue para a produção de biodiesel. Na tabela 1 sãoapresentados os resultados referentes aos parâmetros físico químicos do óleo de friturafiltrado e os valores do óleo de soja refinado estabelecido pela resolução nº 482 da Anvisade 23 de setembro de 1999. Para a fritura dos alimentos, normalmente o óleo mais usado éo de soja.
Tabela 7 – Valores dos parâmetros físico-químicos do óleo de fritura filtrado e os valores doóleo de soja refinado estabelecido pela Anvisa (1999).
ResultadosParâmetros Físico-Químicosóleo de fritura
filtradoóleo de soja refinado*
Acidez (%) 2,34 máx. 0,06Umidade e voláteis (%) 0,21 máx. 0,06
Densidade a 25°C (g/cm³) 0,9309 0,919 a 0,925Índice de Refração a 25 °C 1,489 1,470 a 1,476
Rancidez Não constatado ausênciaÍndice de Saponificação 186,02 189 - 198
*Óleo de soja refinado”novo” que submetido ao processo de frituras – padrões de qualidade conformeestabelecido pela Resolução nº 482 da Anvisa (1999).Fonte: Elaboração dos autores, 2012.
Podemos observar que o óleo de fritura filtrado usado para produção de biodieselapresenta valores de acidez maiores que do óleo de soja “novo”. A acidez teve um valor de2,34% em ácido oleico, havendo um aumento em relação ao óleo “novo” (0,06%), resultadoda degradação do óleo por processos de hidrólise, oxidação e aquecimento, fatores quefavorecem o surgimento de ácidos graxos livres e consequente aumento da acidez devidoao processo de frituras. Esse valor é aceitável para que a reação de transesterificação comcatálise alcalina ocorra sem que haja um baixo rendimento (abaixo de 85%), não sendonecessária uma etapa de secagem do óleo antes da reação de transesterificação(SHARMA; SINGH; UPADHYAY, 2008; DERMIRBAS, 2009).
O valor da densidade do óleo de fritura foi um pouco acima (0,9276 g/cm³) do valorlimite que é de 0,925 g/cm³ para comercialização do óleo de soja refinado de acordo com aAgência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 1999). Com o processo de aquecimentodo óleo, normalmente atinge temperaturas de 180 a 200ºC, pode ocorre à quebra dasduplas ligações entre carbonos devido a termo-oxidação (Bannwart, 2009). O índice derefração foi de 1,489 em relação ao valor de 1,476 para o óleo de soja refinado, valormáximo estabelecido pela Anvisa (1999), mostra que houve pequenas modificações nocumprimento da cadeia hidrocarbonada e no grau de insaturação dos ácidos graxosconstituintes dos triglicerídeos.
O biodiesel produzido na unidade de processamento, usando óleo de fritura, foianalisado de acordo com alguns parâmetros de qualidade estabelecidos pela Resolução 14da ANP (2012). Na tabela 2 são comparados os valores obtidos nas análises com algunsparâmetros de qualidade especificados pela Resolução da ANP (2012).
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Tabela 2 - Resultados das análises do biodiesel.
Parâmetros BU* BP**
Índice de acidez (mg KOH/g) 0.45 0,5
Massa específica (kg/m3) 894,2 850 – 900
Viscosidade Cinemática (mm2/s) 5,82 3,0 – 6,0
Teor de umidade (mg/kg) 647,4 ***
Teor de ésteres (%) 93,4 96,5 min.Sódio + Potássio (mg/kg) 1,7 5 máx.
* Biodiesel produzido na unidade de processamento** Especificação do Biodiesel de acordo com a Resolução n.14 daANP de 18 de maio de 2012*** Será admitido o limite de 380 mg/kg 60 dias até 18/07/2012. Apartir de 1º de janeiro de 2013 até 31 de dezembro de 2013 seráadmitido o limite máximo de 350 mg/kg e a partir de 1º de janeiro de2014, o limite máximo será de 200 mg/kg.
Fonte: Elaboração dos autores, 2012.
O índice de acidez de 0,452 mg KOH/g, a massa específica de 894,2 (kg/m3), aviscosidade cinemática de 5,82 (mm2/s) e o teor de sódio e potássio satisfazem asexigências da resolução 14 da ANP (2012).
O teor de ésteres 93,5 % está abaixo do limite mínimo exigido pela resolução n. 14,esta perda pode estar associada a formação de sabão ou a presença de mono ediglicerídeos. A melhoria no sistema de purificação do biodiesel poderá aumentar o teor deésteres. O teor de umidade (647,4 mg/kg) é outro parâmetro que são satisfaz as exigênciasda ANP que admite o limite de 380 mg/kg (este limite está previsto até 18/07/2012, a partirde 1º de janeiro de 2013 até 31 de dezembro de 2013 será admitido o limite máximo de 350mg/kg e a partir de 1º de janeiro de 2014, o limite máximo será de 200 mg/kg).
A unidade de processamento tem capacidade de produzir 4.800 litros de biodiesel pormês. O biodiesel produzido se destina à embarcações de pesca artesanal da Pinheira epara o trator da Associação Cro-Crep . Atualmente duas embarcações de pequeno porteestão usando o biodiesel, há oito meses, com uma mistura de 20% e 40% de biodiesel (B20e B40) (figura 3). O desempenho dos motores está sendo monitorado por um mecânico.Além do uso pelas embarcações, o biodiesel está sendo usado pelo trator que realiza acoleta do óleo de fritura e dos resíduos sólidos recicláveis na região. Desde agosto de 2011,o trator usa uma mistura de 70% de biodiesel (B70) (figura 4).
Figura 3 - Foto da embarcação movida com biodiesel (B20). Figura 4 - Foto do trator movido com biodiesel(B70).
Fonte: Elaboração dos autores, 2012. Fonte: Elaboração dos autores, 2012.
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O uso do biodiesel pelos pescadores, ao mesmo tempo, que traz uma diminuição doscustos despendidos com o diesel, diminui a emissão de poluentes gerados pela queima doscombustíveis fósseis. pelos motores das embarcações. E permite também o uso no tratorque faz a coleta seletiva, possibilitando uma maior renda para os associados. Além disso, oóleo de fritura permanece na região, evitando o transporte para outros locais mais distantese desta forma os ganhos econômicos ficam na comunidade.
4. Resultados e Discussão
A educação ambiental e as reuniões realizadas sensibilizaram as comunidades daBaixada do Maciambú, quanto à separação e disponibilização do óleo usado em frituraspara a produção do biodiesel. As características físico-químicas do óleo de fritura sãoadequadas para a obtenção de biodiesel através da reação de transesterificação commetanol e usando KOH como catalisador. O processo produtivo do biodiesel instalado naunidade de processamento é tecnicamente viável, conforme foi verificado a partir dosresultados obtidos pelos parâmetros físico-químicos. O uso do biodiesel (B20) pelos barcosde pesca durante oito meses e pelo trator (B70) durante nove meses não mostroualterações nos motores.
5. Agradecimentos
Agradecemos o apoio financeiro recebido pelo CNPq e pelo Banco Santander.Agradecemos também a assistência recebida pela UniSol. E a Unisul pelas bolsas deIniciação Científica (PUIC).
6. Referências
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A UTILIZAÇÃO DE RECIFES ARTIFICIAIS MARINHOS COMO FERRAMENTA DE
RECUPERAÇÃO DA FAUNA MARINHA
Renato de Almeida Padilha*Jairo Afonso Henkes**
Resumo
O ecossistema costeiro caracteriza-se por ser extremamente complexo e gerenciá-lo de
forma integrada atendendo aos requisitos do Desenvolvimento Social Sustentável é o gran-
de desafio. O presente estudo analisa uma destas ferramentas de gestão que é a utilização
dos Recifes Artificiais Marinhos como ferramenta de recuperação da Fauna e Flora Marinha.
O trabalho analisou especificamente o lançamento do Recife Artificial Marinho Victory 8-B na
costa sul do estado do Espírito Santo em área contigua ao município de Guarapari. O estu-
do demonstrou que além da recuperação da fauna e da flora marinha, a utilização da técnica
de implantação de Recife Artificial Marinho (RAM) impede a utilização da temida “pesca de
arrasto”. Após a implantação do RAM Victory 8-B, através de processo de gestão e monito-
ramento, foi observado que, tanto a fauna como a flora forma recuperados e novos proces-
sos de utilização da área ( mergulho contemplativo ) demonstraram que o efeito desejado
pela implantação foi alcançado.
Palavras chave: Recife Artificial Marinho; Gestão Integrada da Zona Costeira; Zo-
nas Recifais; Repovoamento piscícola; Habitat marinho.
_______________________________________
* Tecnólogo em Gestão Ambiental (UNISUL) Bacharel em Ciências Náuticas pela Escola Naval,Mestrado Ciências Náuticas pela Escola de Guerra Naval, Pós Graduado em Gestão Ambiental(UFES), E- mail: renatopadilha1708@gmail.com
** Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Gradua-ção em Gestão Ambiental da Unisul. Mestre em Agroecossistemas (UFSC). Especialista em Admi-nistração Rural. E-mail: jairo.henkes@unisul.br
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1 INTRODUÇÃO
A Gestão Integrada da Zona Costeira do Brasil é o grande desafio a ser
vencido, mercê da ocupação desordenada do espaço marítimo denominado de Zona
Costeira. Atualmente a realidade nos informa o aproveitamento indevido deste espa-
ço para abrigar portos, terminais portuários, marinas e clubes náuticos baseado qua-
se que exclusivamente em interesse econômico sem considerar os aspectos e im-
pactos ambientais neste ecossistema fundamental para o equilíbrio ambiental do
planeta Terra.
O governo brasileiro formulou e colocou em vigor mediante lei o excelente
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro com objetivos claros e acertados. Infe-
lizmente o documento em si não tem se mostrado suficiente para mudar o quadro de
ocupação desordenada da Zona Costeira e outros interesses têm prevalecido sobre
a documentação legal.
Neste trabalho iremos apresentar uma possível solução que poderá ser
implementada em conjunto com os empreendimentos previstos para a Zona Costei-
ra, naturalmente esta solução propõe-se a contribuir para inverter o atual processo
de ocupação, envolvendo as comunidades regionais, para o estabelecimento de
condições coerentes com os requisitos do Desenvolvimento Social Sustentável.
A indicação que se apresenta solução é a implantação de RAMs na costa
sul do Estado do Espírito Santo que poderá ser utilizada como uma importantíssima
ferramenta, com contribuição importante à gestão ambiental integrada do ambiente
costeiro, levando em conta os aspectos sócio-econômicos da questão.
Neste trabalho se analisará as vantagens e desvantagens desta ferra-
menta e propor a implementação de RAM na costa sul do Estado do Espírito Santo,
como contribuição à preservação de inúmeras espécies marinhas.
2 TEMA
Os Recifes Naturais (RN) são ambientes marinhos formados por estrutu-
ras de constituição rochosa ou pela sobreposição de organismos, apresentando
grande abundância e uma alta diversidade marinha. Devido a este fato são conside-
rados como um dos mais ricos “habitats” marinhos do mundo, possuindo grande im-
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portância econômica, uma vez que representam a fonte de alimento e renda para
muitas comunidades. (SALEM, 2005).
Os Recifes Artificiais Marinhos (RAM), quando dispostos no ambiente ma-
rinho fornecem substrato para a colonização de diversos organismos, criando um
ambiente artificial similar aos RN. (SALEM, 2005)
Um RAM é uma estrutura submersa deliberadamente colocada no leito
submarino com o propósito de imitar algumas características dos RN - (EARRN –
“European Artificial Reef Research Network”, 1998 e “OSPAR and Barcelona Con-
ventions” (1995) – Convenções Internacionais sobre a proteção do ambiente, apud
SANTOS, 2008)
Os RAM podem desempenhar um importante papel na gestão da ativida-
de pesqueira tendo em vista a sua capacidade de atrair peixes criando alternativas
tanto para a pesca esportiva quanto para a pesca artesanal. (BELL, 2010)
Além disto, podem ser criados especialmente com a finalidade de servir
de berçários e santuários de populações de peixes. Evidentemente serão necessá-
rias regras especiais para proteção deste novo habitat criado artificialmente, com o
propósito de permitir que alcancem plenamente todo o seu potencial de recuperação
de peixes. (BELL, 2010)
Salem (2005) registra que:Os RAM apresentam uma variedade de funções, beneficiando não só o
meio ambiente, mas também a população em geral. Ao ser colonizado ele
imita a natureza biológica do ecossistema marinho, agregando biomassa e
biodiversidade no novo habitat. Esse novo habitat pode ser criado até em
ambientes arenosos e lamacentos que em condições naturais não apresen-
tariam possibilidades de suportar tal ecossistema. Os RAM podem também
recuperar ambientes degradados, provendo um novo ambiente para a colo-
nização de organismos marinhos. O setor turístico também se beneficia des-
tas estruturas submarinas, pois elas formam verdadeiros oásis para mergu-
lhadores. Muitos afirmam que esse ecossistema novo precisa estar acessí-
vel ao homem para ser utilizado de todas as formas que os ecossistemas
naturais também são. Isto significa que o RAM pode também ter forte apli-
cação sócio-econômica.
A prática de afundar estruturas sólidas em ambiente marinho para criação
de recifes artificiais, vem sendo desenvolvida em vários países do mundo, visando
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entre outros aspectos, à recuperação de áreas degradadas na zona costeira, incre-
mento do turismo subaquático, possibilidade de suprir parte da perda dos estoques
pesqueiros e desenvolvimento de pesquisas científicas. (SANTOS, 2007)
De acordo com a SEAD/PR, a procura por soluções que contemplem o
uso sustentável dos recursos marinhos, é um desafio no que diz respeito à busca de
soluções eficazes e racionais. Estas ações têm por objetivo solucionar os problemas
da pesca e de criação de alternativas racionais de sua exploração pelas comunida-
des pesqueiras tradicionais.
De acordo com a SEAD/PR (2008, apud FUNDACENTRO, 2010) a gestão
integrada de ambientes costeiros e marinhos, utilizando os RAM tem trazido resulta-
dos satisfatórios, principalmente na esfera da preservação ambiental e do zonea-
mento marinho. No âmbito pesqueiro, a aplicação de recifes artificiais tem apresen-
tado resultados favoráveis quando são adotados critérios técnicos e científicos pa-
dronizados.
No Brasil, as grandes demandas regionais na resolução de conflitos de
diversas naturezas, bem como no incremento da produção pesqueira, têm aumenta-
do o interesse de diversos setores na implantação de RAM. (SEAD/PR, 2008, apud
FUNDACENTRO, 2010)
Estes desafios, ainda circunscritos ao âmbito de um complexo processo
institucional englobando governo, universidades, institutos de pesquisa, sociedade
civil organizada e de empresas, e das prerrogativas de programas estruturantes, po-
derão trazer como solução a aplicação da tecnologia de implantação de RAM para o
benefício das comunidades costeiras tradicionais mais carentes. (SEAD/PR, 2008
apud FUNDACENTRO, 2010)
Assim podemos concluir pela necessidade de buscar mais conhecimentos
científicos que comprovem a contribuição da utilização dos RAM para o Gerencia-
mento Costeiro Integrado.
As regiões costeiras são consideradas uma das áreas de maior apropria-
ção, uso desordenado e predatório do seu imenso potencial em termos de recursos
naturais. (SANTOS e VIVACQUA, 2009)
A zona costeira, como região de interface entre os ecossistemas terres-
tres e marinhos, é responsável por uma ampla gama de funções ecológicas, tais
como a prevenção de inundações, da intrusão salina e da erosão costeira, a prote-
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ção contra tempestades, a reciclagem de nutrientes e de substâncias poluidoras e a
provisão direta ou indireta de “habitats” e de recursos para uma variedade de espé-
cies exploradas. (SANTOS e VIVACQUA, 2009)
Apesar de toda sua importância, os ambientes recifais em todo o mundo
vêm sofrendo um rápido processo de degradação através das atividades humanas.
Diante desse problema urge a necessidade de proteger essas áreas, recuperar á-
reas que apresentem sinais de degradação e até utilizar esses recursos marinhos de
maneira sustentável. (SALEN, 2008)
Conhecer e planejar a utilização dos RAM de forma adequada nos permi-
tirá alcançar os objetivos citados no parágrafo anterior, contribuindo tanto para a
conservação da biodiversidade marinha, quanto para o desenvolvimento sócio-
econômico. (SALEN, 2008)
Embora existam diversos registros que comprovam a eficiência dos RAM,
a literatura especializada registra alguns casos de insucessos. Os fracassos estão
geralmente associados à falta de objetivos claros na concepção dos respectivos pro-
jetos, à falta de critérios na execução e à falta de um acompanhamento sistemático
que garanta a perenidade na consecução dos seus objetivos propostos. Diversos
estudos científicos nessa área indicam a importância da realização de inventários
ambientais prévios, nas áreas onde serão instalados os “RAM”, dedicando-se um
planejamento prévio dos tipos de estruturas e sua constituição. De outro ponto de
vista, destaca-se ainda a implantação de um programa de monitoramento ambiental
e pesqueiro, assim como de planos de manejos com o envolvimento das comunida-
des. Além disso, muitos pesquisadores vêem os RAM como algo controverso, ale-
gando que esses novos ambientes inicialmente atraem os peixes, concentrando-os
nessas áreas e deixando-os mais vulneráveis à exploração. Afirmam que a única
maneira de minimizar esta exploração é com o estabelecimento de uma fiscalização
adequada e eficiente nessas áreas. (SALEM 2008)
Além da área objeto do Estudo de Caso, as pesquisas a serem realizadas
certamente contribuirão para outras áreas a serem investigadas.
Santos (2008) nos informam que na área de Ecologia poderão ser obtidos
conhecimentos sobre os seguintes processos:
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Colonização e sucessão das comunidades macrobentônicas
Influência da orientação das superfícies e da profundidade na colo-
nização macrobentônica.
Colonização e sucessão das comunidades ictiológicas (ex. qualita-
tivos e demográficos)
Ecologia trófica entre a comunidade ictiológica (ex. Sargo e do Ro-
balo)
Dinâmica de utilização diária (selvagens versus produtividade da
aqüicultura) e sazonal (ex. reprodução)
Importância das zonas recifais em termos de repovoamento piscí-
cola
Na área sócio-econômica poderão ser obtidos conhecimentos sobre os
padrões de utilização da área pelos diferentes agentes, processos de avaliação de
custo-benefício, percepção das vantagens e inconvenientes para os diferentes agen-
tes e análise econômica e das propostas de gestão das recém criadas zonas reci-
fais.
O Ecossistema costeiro possui um equilíbrio extremamente dinâmico e
complexo caracterizado por incertezas com relação ao entendimento de seus pro-
cessos naturais, sócio-econômicos e político-organizacionais. Um dos maiores desa-
fios no Gerenciamento Costeiro Integrado (GCI), principalmente em países em de-
senvolvimento, está relacionado à carência de informações básicas aplicáveis ao
planejamento e à gestão ambiental (FIDELMAN, 2002).
Em ambientes aquáticos, o uso de substratos artificiais de pequeno e
grande porte tem se mostrado particularmente indicado como subsídio para algu-
mas linhas de pesquisa, tanto com propósitos comerciais para implantar áreas de
maricultura e recuperação costeira segundo Seaman et aI. (1989 apud GOMES,
2001), como também de estudos sobre fenômenos ecológicos focalizando as intera-
ções entre os organismos segundo Jacob e Zalho et al. (1994; 1993 apud GOMES,
2001).
Neste Estudo de Caso pretendemos aumentar o nível de conhecimento
sobre a utilização de RAM, já que estas estruturas representam verdadeiros labora-
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tórios “in situ” e deste modo permitem a disponibilização de vários dados podem ser
analisados para melhor explicar os processos naturais. Além do conhecimento sobre
a utilização dos RAM será discutida a eficiência dos diferentes modelos de recifes
artificiais, identificada a natureza dos materiais que podem ser usados na confecção
dos recifes artificiais e estabelecidas medidas que visem a obtenção de um processo
de gerenciamento integrado de forma contribuir para a sustentabilidade dos ecossis-
temas costeiros. (SANTOS, 2007)
Atualmente os Recifes de Coral estão sofrendo um processo de degrada-
ção intenso. O aquecimento global, a sobrepesca, a poluição, a tecnologia aplicada
à atividade pesqueira, os mergulhadores inexperientes entre outros fatores estão
matando este frágil e importantíssimo ecossistema. Uma das ferramentas que pode
contribuir para enfrentar este desafio é a utilização dos RAM. Com a implantação de
RAM teremos naturalmente uma redução da pressão sobre os Recifes de Coral e,
em consequência serão criadas condições para que estes ecossistemas consigam
se recuperar naturalmente. (SCIENTIFIC DIVING. net, 2010).
Vários países vêm implantando RAM em suas costas com a finalidade de
viabilizar a pesca artesanal, mitigar perdas de recursos naturais por meio do incre-
mento da população de peixes, atenuar processos erosivos, estimular o turismo su-
baquático, etc. (SINIS et al., 2000; SEAMAN &SEAMAN, 2000; JONHS et al., 2001;
HARRIS, 2003, apud SANTOS et al, 2009).
De acordo com Fidelman (2002) a Zona Costeira é considerada como de
interesse especial para o Brasil, sendo definida como patrimônio nacional pela Cons-
tituição Federal em vigor, o que demonstra interesse particular, na esfera Federal, na
conservação dos recursos costeiros. Apesar deste reconhecimento formal o que se
observa é uma ocupação desordenada dos ambientes marinho e costeiro gerando
significativos impactos sobre os recursos naturais e seus ecossistemas. Em decor-
rência desta ocupação, constata-se a alteração ou destruição do habitat, super ex-
ploração de recursos naturais, além de uma ocupação desordenada do solo. Aliada
a isso a presença de poluição por atividades industriais e demais atividades trazen-
do a redução da qualidade de vida de parcela significativa da população residente e
a degradação crescente e acelerada do meio ambiente com uma série de efeitos
nocivos que impõem pesados custos à sociedade.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 41-73, abr./set. 2012. 48
A importância de estudos relativos à Zona Costeira justifica-se pelo fato
de que, seis em cada dez pessoas vivem dentro de um raio de 60 km (AGENDA 21,
1992) da costa. Dois terços das cidades do mundo, com populações de 2,5 milhões
de pessoas ou mais, estão próximas aos estuários, sujeitas à influência das marés.
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO) foi instituído pela
lei 7661/88 com a finalidade de formalizar o compromisso do governo brasileiro com
o desenvolvimento sustentável e integrado da sua Zona Costeira, já considerada
como patrimônio nacional (VILANOVA, 2009)
Com o surgimento do GERCO e o estabelecimento do PNGC II, ganha
importância o que hoje, entende-se por Gerenciamento Costeiro Integrado (GCI). O
GCI é caracterizado por ser um processo continuo e dinâmico em que são adotadas
decisões e ações para o uso sustentável, desenvolvimento e proteção das áreas
costeiras e recursos marítimos. (LEITZKE, 2006)
No momento em que se discute o uso sustentável dos recursos marinhos,
a sociedade se depara com o desafio de buscar soluções eficazes e racionais para a
resolução dos problemas da pesca brasileira e de criar alternativas racionais de sua
explotação pelas comunidades pesqueiras tradicionais. (LEITZKE, 2006)
Atualmente países como Japão, Taiwan, Canadá, Estados Unidos, França
e Portugal, são lideres na pratica de manejo sustentável dos recursos costeiros atra-
vés da implantação de sistemas de RAM. (LEITZKE, 2006)
3 OBJETIVOS
4 OBJETIVO GERAL
Demonstrar que um projeto contemplando a implantação de RAM é eficaz
na recuperação da fauna marinha e atende ao conceito do gerenciamento integrado
do ambiente costeiro do município de Anchieta.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 41-73, abr./set. 2012. 49
5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
5.1.1 Informar sobre a situação atual da fauna marinha no litoral brasileiro e mais
especificamente no litoral do Município de Anchieta-ES
5.1.2 Demonstrar a importância do Gerenciamento Costeiro Integrado como forma
de preservar os ambientes costeiros.
5.1.3 Demonstrar a eficácia do “corredor ecológico” criado a partir do lançamento
de um projeto contemplando a implantação de RAM como processo de recu-
peração da fauna marinha na região em que venha a ser aplicado.
5.1.4 Identificar os tipos e materiais de RAM disponíveis para utilização no litoral do
município de Anchieta.
5.1.5 Analisar o lançamento do RAM “Victory 8-B no Espírito Santo e suas conse-
quências no litoral do município de Guarapari.
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste Estudo de Caso utilizaremos a técnica de Pesquisa Exploratória
tendo em vista que a principal finalidade é a de descobrir práticas de sucesso e a-
daptá-las ao cenário específico objeto do estudo.
Será aplicada também a técnica de Pesquisa Descritiva com o propósito
de verificar como se deu a implantação do RAM Victory 8-B e definir de forma mais
embasada como será a implantação do programa que se pretende sugerir para o
litoral capixaba.
6.1 CAMPO DE ESTUDO
Neste trabalho será utilizada a amostragem não probabilística intencional
que de acordo com Cavalcanti (2009) é aquela em que a seleção dos elementos da
população para compor a amostra depende, ao menos em parte, do julgamento do
pesquisador.
Iniciaremos com uma avaliação do potencial pesqueiro do litoral Brasilei-
ro, com foco no litoral do município de Anchieta-ES.
Em seguida serão analisados os aspectos relativos ao Gerenciamento
costeiro integrado e analisados alguns casos de implantação de RAM e programas
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 41-73, abr./set. 2012. 50
consistentes, que apresentaram sucesso, uma vez que alcançaram os ob-
jetivos previamente definidos. O foco maior do trabalho será o caso do lançamento
do RAM Victory 8-B no litoral do município de Guarapari.
6.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
O principal instrumento de coleta de dados será a pesquisa bibliográfica.
Serão analisados os artigos científicos, os relatórios de estudos de casos bem suce-
didos e a legislação aplicável a esta atividade de implantação de RAM.
Também será desenvolvida uma entrevista com o Coordenador do Lançamento do
RAM Victory 8-B e com pescadores locais da região em estudo.
Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descri-
tos no quadro a seguir.
Instrumento de coleta
de dadosUniverso pesquisado Finalidade do Instrumento
Entrevista
Coordenador e Gerente do lança-
mento e implantação do RAM Vic-
tory 8-B na costa do Espírito Santo.
Obter as informações sobre como se
deu o processo de recuperação da
fauna da região e quais as vanta-
gens da utilização de Recifes Artifi-
ciais Marinhos para este propósito.
Entrevista Componentes da Colônia de Pesca
da Região de Anchieta e Guarapari.
Obter informações sobre a situação
atual da fauna marinha na costa
marítima do Espírito Santo.
Observação Direta ou
de participantes
Local onde foi lançado o RAM Vic-
tory 8-B
Observar “in loco” os benefícios
obtidos com o lançamento do RAM
Victory 8-B
Documentos
Livros, manuais, artigos científicos,
Palestras proferidas em congressos
Seminários
Compilar fatos e dados que sirvam
de base para elaboração do trabalho
Dados Arquivados
Serão pesquisados documentos “on
line” em sites especializados e arti-
gos disponíveis na internet .
Consolidar o trabalho utilizando
fontes confiáveis
Quadro 1- Instrumento de coleta de dados. Fonte: Unisul Virtual, 2007.
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7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE OBSERVADA
A prática de afundar estruturas no ambiente marinho para a criação de
RAM é bastante antiga e vem sendo realizada ao redor do mundo com o intuito de
enriquecer estoques pesqueiros e de outros organismos, conseqüentemente, bene-
ficiar atividades de lazer e pesca (SANTOS et al. 2009)
Riggio et al. (2000, apud SANTOS 2008) informa que há registros da utili-
zação de dispositivos de atração de atuns há 3000 anos.
No Brasil temos registros históricos de implantação de RAM por várias tri-
bos indígenas de nossa costa desde o século XVII. Os relatos descrevem estruturas
feitas de galhos, bambu, folhas e pedras, chamadas pelas comunidades estuarinas
e ribeirinhas de “Marambaias”. Estas “Marambaias” foram iniciativas de pescadores
artesanais, que através da experiência ao longo do tempo identificaram a eficiência
do material lançado ao fundo marinho, como fator de agregação de organismos de
diversas espécies. (SALEM, 2005)
Em outros países a utilização de RAM para promover o desenvolvimento
pesqueiro também não é novidade. Salem (2005) registra indícios que tribos poliné-
sias, sul e centro-americanas, que há séculos, já desenvolviam “pesqueiros artifici-
ais” com uso de troncos de arvores e pedras, para atraírem peixes.
Segundo Salem (2005).Os orientais também usufruem dos recifes artificiais há mais de 300 anos. O
cultivo de moluscos (ostras e mariscos) e de macro algas baseia-se no
mesmo principio e tem sido aplicado com sucesso, principalmente em paí-
ses asiáticos. Atualmente países como Japão, Taiwan, Canadá, Estados
Unidos, França e Portugal, são lideres na pratica de manejo sustentável dos
recursos costeiros através da implantação de sistemas de recifes artificiais.
Mais recentemente no Brasil, diversos Estados como Ceará, Rio Grande
do Norte, Pernambuco, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná
vêm desenvolvendo programas de Recifes Artificiais através de parcerias com uni-
versidades e organizações não governamentais, utilizando estruturas que vão de
pneus a cascos de embarcações (Santos & Passavante, 2007; Alencar et al., 2003,
apud SANTOS et al., 2009)
Estudos vêm comprovando que cascos de embarcações afundados em
plataformas continentais tornam-se, na maioria dos casos, “habitats” produtivos e
podem ter como princípio a criação de áreas ecológicas para atividades de mergulho
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e pesca artesanal (Grossman et al., 1997; Bohnsack et al., 1997; Claudet & Pelletier,
2004, apud SANTOS et al. 2009).
Além dos cascos de navios temos também a aplicação de Recifes Artifici-
ais Marinhos de uso Múltiplo (RAMM), este tipo de ferramenta é um exemplo de
fragmentação e sobreposição de responsabilidades em nível local, nacional e inter-
nacional. Paradoxalmente, este complexo “mosaico” contém em si soluções inovado-
ras para a governança das zonas costeiras.
(ANGELELLI e SAFFACHE, 2010)O Brasil não é uma nação pesqueira por excelência, pois sua plataforma
continental se caracteriza pela grande diversidade e pequena biomassa específica,
e uma teia alimentar complexa que inclui um número de elos comparativamente
maior do que outras plataformas (JABLONSKI, 2003, apud SANTOS; PASSAVAN-
TI, 2007).
A baixa produtividade do ecossistema costeiro brasi leiro de-
corre do fato das correntes oceânicas que atingem sua costa determinarem a o-
corrência de baixos teores de nutrientes inorgânicos dissolvidos (L O N G H U R S T;
PA ULY, 1 9 8 7, apud SANTOS; PASSAVANTI, 2007).
As águas quentes da plataforma continental brasileira na superfície são
menos densas e pobres em nutrientes. Estas águas superficiais são transportadas
pela Corrente do Brasil desde a região Nordeste. As águas mais frias que são mais
densas e ricas em nutrientes permanecem nas águas mais profundas dominando o
fundo da plataforma continental brasileira (BRANDINI et al., 1997, apud SANTOS,
2007). Devido à baixa produtividade da zona pelágica, região mais profunda e afas-
tada da zona costeira, assim como a quantidade limitada de estoques pesqueiros,
trazem em seu bojo preocupações com o futuro da atividade. Além de a economia
brasileira prover pequenos aportes financeiros para a atividade pesqueira, ao contrá-
rio dos países situados nas costas ocidentais dos continentes, banhadas por corren-
tes frias ricas em nutrientes e produtividade biológica, como por exemplo, o Chile e o
Peru e outros países que situados nas costas ocidentais dos continentes. (SANTOS,
2007)
Os estoques marinhos pesqueiros brasileiros vêm sendo superexplorados
há décadas, e os pescadores, artesanais ou industriais, encontram dificuldades para
manter os lucros da pesca. “O grande problema é que há mais pescadores do que
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recursos a extrair do mar”, alerta Jorge Pablo Castello, professor do Departamento
de Oceanografia da Fundação Universidade do Rio Grande (FURG, 2009), que há
34 anos trabalha com estudos sobre o impacto da pesca na biologia marinha do lito-
ral gaúcho.
A diminuição dos estoques de peixes não é um fenômeno apenas brasilei-
ro. A Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO) da Organização das
Nações Unidas (ONU) estima que entre 47% e 50% dos estoques pesqueiros mari-
nhos do mundo encontram-se sob exploração plena, não havendo, portanto, qual-
quer possibilidade de expansão das suas capturas em bases sustentáveis. Entre
15% e 18% estão sobre-explorados, e 9% a 10% já entraram em colapso, encon-
trando-se exauridos ou em recuperação. (Castello 2008).
Para reverter este quadro, dentro dos requisitos que atendam aos concei-
tos de Gerenciamento Costeiro integrado, podemos pensar na implantação sistemá-
tica e programada de lançamento de RAM ao logo litoral do Município de Anchieta -
ES.
Segundo Belchior (2008), podemos afirmar que existe uma clara depen-
dência entre a sobrevivência do Homem e a integridade dos ecossistemas. De acor-
do com o relatório do “World Resources Institute” (WRI, 2000), as economias mundi-
ais atuais são de tal modo baseadas nos bens e serviços derivados desses ecossis-
temas que a própria vida humana está condicionada pela capacidade que estes têm
de continuar a oferecer estes benefícios. Lamentavelmente as prioridades de desen-
volvimento das nações estiveram sempre focadas, no quanto poderia ser extraído
dos ecossistemas, deixando em plano secundário, os impactos ambientais decor-
rentes dessa forma de produzir.
O Gerenciamento Costeiro Integrado (GCI) é um processo que, segundo
CICIN-SAIN (1993), pode ser definido como contínuo e dinâmico, no qual as deci-
sões são tomadas para o uso sustentável, desenvolvimento e proteção dos recursos
das áreas costeiras e marinhas. O GCI tem ainda a função de unir os mais diversos
setores governamentais, a sociedade organizada e a ciência, de forma a compatibili-
zar o processo de gestão por meio de interesses setoriais e públicos, preparando e
implementando, assim, um plano integrado para a conservação e o desenvolvimento
dos ecossistemas e recursos costeiros. A principal meta do gerenciamento costeiro
integrado é melhorar a qualidade de vida das comunidades humanas que dependem
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dos recursos costeiros, levando em consideração a manutenção da diversidade bio-
lógica e a produtividade dos ecossistemas costeiros (GESAMP, 1996 apud POL-
LETTE et al.)
Os ecossistemas costeiros e oceânicos contêm a maior parte da biodiver-
sidade disponível no planeta. As alterações sofridas por estes ecossistemas em de-
corrência da ação humana vêm representando uma séria ameaça ao desenvolvi-
mento sustentável. (REVIMAR, 2008) 1.
A gestão costeira integrada tem sido considerada o mecanismo mais ade-
quado para promover o uso sustentável dos recursos naturais dos ecossistemas
costeiros (e.g. EC, 2002; UNESCO, 2003; DEFRA, 2008 apud SIMIONI, 2010).
Em 2002, o Parlamento e o Conselho Europeus publicaram um documen-
to (2002/413/EC de 30 de maio de 2002) recomendando que os países membros da
Comunidade Européia, implementassem estratégias nacionais de gestão costeira
integrada, com base em oito princípios: visão holística, planejamento em escalas de
longo-termo, manejo adaptativo, especificidade local, trabalhar com os processos
naturais, participação pública, integração entre diferentes níveis de governo e o uso
de uma combinação de instrumentos. Considerando-se que os RAM têm como es-
sência do seu conceito trabalhar com os processos naturais para promover múltiplas
funções e maximizar os benefícios gerados; faz-se pertinente a discussão do seu
processo de implementação e os efeitos observados sob a perspectiva da gestão
costeira integrada. (SIMIONI, 2010)
O Governo do Brasil, ao assinar, em 1982, e ratificar, em 1988, a Con-
venção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em vigor desde 16/11/1994, as-
sumiu uma série de direitos e deveres frente à comunidade nacional e internacional.
Dentre tais compromissos, destacam-se aqueles relacionados à exploração, aprovei-
tamento, conservação e gestão dos recursos vivos na ZEE, dentro da ótica de uso
sustentável do mar (Art. 61 e 62): (REVIMAR, 2008).
A Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6938/81) estabeleceu uma sé-
rie de instrumentos de gestão. Entre outros podemos citar:
O zoneamento ambiental,
Os incentivos à produção e instalação de equipamentos,
1 O Programa REVIMAR, substituiu o Programa REVIZEE após o seu término.
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A criação de tecnologias, voltados para a melhoria da qualidade am-
biental; e
A criação de espaços especialmente protegidos pelo Poder Público
Federal, Estadual e Municipal tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas.
No Brasil, o Estado de São Paulo, em 1998, destacou-se como pioneiro
na elaboração de critérios de gestão estratégica da sua zona litorânea, estabelecen-
do o zoneamento e os critérios que regulam os usos permitidos e as novas metas a
serem implantadas. Por meio do Projeto Orla, em 2002, e do Decreto 5.300 de 2004,
passaram a serem regulamentadas, respectivamente, as regras de uso e ocupação
da Zona Costeira e o estabelecimento dos critérios de gestão da orla marítima.
No que diz respeito ao gerenciamento da Zona Costeira uma interessante
opção que atenda aos instrumentos supramencionados está a criação de corredores
ecológicos no mar (GERCO-ES). Estas áreas devidamente protegidas poderiam ser
alvos de proteção especial e de um projeto que contemplasse o estabelecimento de
Recifes Artificiais Marinhos. Algo semelhante ao que aconteceu no litoral paranaen-
se e na costa sul de Portugal (SANTOS, 2008).
Rodrigues (2003) informa que a Zona Costeira, pode ser considerada uma
área de transição, é a interface entre os meios aquático, terrestre e aéreo. Compre-
ende ecossistemas interligados, exibindo elevada produtividade. Como consequên-
cia, exerce forte atratividade às sociedades humanas do planeta, o que condicionou
intensa ocupação e explotação dos recursos. Os fatores de pressão são numerosos,
com diferentes setores sociais disputando seus recursos.
A gestão da biodiversidade através da instituição de áreas protegidas na
Zona Costeira é uma das estratégias incentivada pelo PNGC. No entanto, apesar da
importância das áreas protegidas numa política de contenção da perda de diversida-
de biológica, as dificuldades de lidar com a complexidade, embutida no binômio meio
ambiente e desenvolvimento, muitas vezes tem agravado os problemas já existen-
tes. (SANTOS e VIVACQUA, 2008)
Os Recifes Artificiais Marinhos representam um novo conceito de enge-
nharia costeira cujo propósito é propiciar múltiplos usos e beneficiar um maior núme-
ro de usuários potenciais. Alega-se que os RAM podem melhorar a qualidade das
ondas para o surfe, promover proteção costeira, criar espaços para mergulho e ou-
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tros esportes aquáticos, bem como aumentar a biodiversidade local, trazendo assim
valor econômico agregado através do turismo, tornando o empreendimento auto-
sustentável (Ten Voorde et al., 2009; Hiliau & Phillips, 2003; Mead & Black, 2002,
apud SIMINOI, 2010).
Muito embora a Zona Costeira abranja apenas cerca de 8% da extensão
dos oceanos, é sobre ela que se concentram 80% das atividades de pesca no mun-
do (IUCN-UNEPWWF, 1991 apud RODRIGUES, 2003)). Nessa área, vive e trabalha
a maioria da população mundial (POLETTE, 1997 apud RODRIGUES 2003).
Os ambientes costeiros localizam-se ao longo do litoral brasileiro, em uma
extensão de 8.500 km de costa, entre o rio Oiapoque e o arroio Chuí, e são muito
produtivos sob o ponto de vista de recursos naturais renováveis. Os biomas litorâ-
neos e costeiros são “habitats” de uma grande parte dos recursos marinhos brasilei-
ros, pois são áreas de criação, refúgios permanentes ou temporários de inúmeras
espécies de peixes, crustáceos e moluscos capturados pela pesca industrial e arte-
sanal. Além disso, são “habitats” para inúmeras espécies de aves residentes, migra-
tórias e animais importantes da fauna brasileira (DIEGUES, 1989).
Devido à sua vastidão ficamos com a percepção de que seus recursos e-
ram inesgotáveis. Esta percepção acabou condicionando de forma decisiva os dife-
rentes usuários a utilizarem práticas de exploração sem o menor planejamento. (DI-
EGUES, 1989)
As atividades humanas promovem impactos de dimensões variadas, com
conseqüências que afetam comunidades locais e remotas, gerando problemas am-
bientais. A gestão ambiental integrada desponta como estratégia de mediação entre
diferentes atores em conflito, buscando conciliar interesses, democratizar direitos
sociais e sensibilizar grupos quanto aos limites naturais da sustentabilidade ecológi-
ca e econômica. (RODRIGUES, 2003)
O ambiente costeiro é identificado como uma área cada vez mais disputa-
da, sendo que essa constatação orienta as providências no sentido de não mais a-
penas ocupá-lo e/ou explorá-lo. Assim, de acordo com a política de governo, através
do Gerenciamento Costeiro, impõe-se a necessidade de sua gestão (BRASIL: MMA,
1996, apud RODRIGUES, 2003).
A preocupação com a integridade e a qualidade socioambiental das regi-
ões costeiras decorre do fato de serem as mais ameaçadas do planeta, justamente
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por estarem sendo submetidas a uma dinâmica de apropriação e uso desordenado e
predatório do seu imenso potencial em termos de recursos naturais. (ROSSO, 2007)
A valorização da diversidade cultural deve contribuir no sentido de possi-
bilitar a permanência de diferentes comunidades humanas, cujos saberes e fazeres
lidam com amplo espectro deste processo.
Muito embora a lógica da gestão integrada da Zona Costeira seja aceita
internacionalmente como paradigma, ainda não foram encontradas formas simples e
eficientes para sua implementação. A multiplicidade de problemas envolvidos e a
crescente demanda social e econômica sobre seus recursos determinam a comple-
xidade dos processos gerenciais.
Gerenciar as múltiplas paisagens das bacias hidrográficas costeiras cons-
titui-se num dos grandes desafios enfrentados pelos mais diversos setores da socie-
dade organizada, principalmente aqueles que utilizam os recursos naturais existen-
tes nestas áreas. A tarefa torna-se ainda mais complexa se considerarmos que estas
regiões estão sujeitas a mudanças de diversas magnitudes. (POLETTI et al. 1997)
A avaliação ambiental estratégica (AAE) é o nome que se dá a todas as
formas de avaliação de impacto de ações mais amplas que projetos individuais. Tipi-
camente, a AAE refere-se à avaliação das conseqüências ambientais de políticas,
planos e programas (PPPs), em geral no âmbito de iniciativas governamentais, em-
bora possa também ser aplicada em organizações privadas. (SANCHEZ 2009)
A ferramenta Avaliação Ambiental Estratégica ainda não está efetivamen-
te implantada no Brasil. Nas obras governamentais do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), temos acompanhado na mídia problemas decorrentes de pres-
sões das comunidades indireta e diretamente afetadas pelas obras e especialmente
pela futura operação do empreendimento. Estas obras, apesar de obterem as licen-
ças regulamentares baseadas no atendimento atual dos requisitos legais, têm en-
contrado obstáculos sociais e mesmo jurídicos que as permitam prosseguir. Isto se
deve, a meu ver, à abrangência muito restrita dos estudos de impacto ambiental ela-
borados, que contemplam apenas os efeitos pontuais na área abrangida pelo em-
preendedor.
Não considerar a Avaliação Ambiental Estratégica neste processo de ges-
tão do ecossistema costeiro será um erro grave. Podemos afirmar com segurança
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que esta será única maneira de alcançarmos a tão desejada Gestão Integrada dos
Recursos Costeiros.
Com a aplicação da AAE no ambiente costeiro naturalmente iremos identi-
ficar entre as ferramentas para a obtenção de um adequado gerenciamento costeiro
integrado a demanda pela instalação de verdadeiros “corredores ecológicos” ao lon-
go da costa brasileira englobando, evidentemente, o litoral do estado do Espírito
Santo.
De acordo com o site de notícias, do Ministério do Meio Ambiente (MMA),
entre os dias 5 e 9 de novembro do ano de 2007, foi realizada na cidade de Carave-
las, Litoral sul do estado da Bahia, a primeira Oficina de Planejamento, para a cria-
ção do 1º Corredor Ecológico do Parque Nacional Marinho de Abrolhos. Estiveram
reunidos mais de 60 profissionais e técnicos do setor entre gestores, pesquisadores,
pescadores, extrativistas, representantes dos governos federal, estadual e municipal,
de ONGs, dos setores de turismo e empresarial.
Na oficina foi ressaltada que a criação de corredores ecológicos marinhos
é prioridade para o MMA e baseia-se, entre outros fundamentos, em ações de plane-
jamento e conservação ambiental de forma participativa e descentralizada, ações de
vigilância, fiscalização, monitoramento e controle e criação de oportunidades de ne-
gócios sustentáveis.
Roberto Xavier de Lima, coordenador do Corredor Central da Mata Atlân-
tica, informou que a criação do primeiro corredor ecológico marinho tem por objetivo
contribuir para a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais na porção
costeira e marinha do CCMA - Corredor Central da Mata Atlântica e estabelecer uma
rede de Unidades de Conservação Marinha na região, através um planejamento es-
tratégico, criação e implementação de uma rede de áreas marinhas protegidas.
Ainda de acordo com Roberto Xavier de Lima: "O primeiro corredor mari-
nho vai fornecer bases sólidas de conhecimento para um planejamento de conser-
vação compatível com as características sociais, econômicas e ambientais da regi-
ão. Permitirá também a seleção de áreas prioritárias para a conservação da biodi-
versidade, por meio de banco de dados gerados e de levantamentos em campo. Ele
vai ainda desenvolver um mecanismo de financiamento e sustentabilidade econômi-
ca em longo prazo para a rede de áreas marinhas protegidas na área focal de Abro-
lhos".
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De acordo com o MMA este corredor ecológico englobará o Parque de
Abrolhos que é reconhecido internacionalmente pela UNESCO. O Parque de Abro-
lhos é formado por inúmeras unidades de conservação costeiras e marinhas e tem
importância inestimável para a conservação da natureza. É fundamental para a pro-
criação de diversas espécies de corais, tartarugas, peixes e aves, o Parque de Abro-
lhos foi o primeiro parque marinho criado no Brasil, em 1983, abrangendo mais de
88 mil hectares.
De acordo com Rebouças (2009), o corredor ecológico ou corredor da
biodiversidade é destinado à conservação ambiental em nível regional. É uma rede
de áreas protegidas que passam por graus de ocupação humana.
O manejo nestes corredores ocorre de forma integrada para desenvolver
a possibilidade de sobrevivência das espécies, do ecossistema e de uma economia
local sustentável que respeite os recursos naturais (REBOUÇAS, 2009)
Deste modo podemos concluir que a solução dos corredores ecológicos é
aplicável ao Gerenciamento costeiro integrado e uma ótima solução para a preser-
vação do ambiente costeiro marítimo.
De acordo com Salen (2008), os Recifes Artificiais Marinhos (RAM) po-
dem ser definidos como estruturas submersas, que, quando dispostas no ambiente
marinho fornecem substrato para a colonização de diversos organismos, criando um
ambiente artificial similar aos recifes naturais. Várias espécies de peixes de impor-
tância econômica e ecológica utilizam estes habitat’s como abrigos contra predado-
res, áreas de crescimento, reprodução e alimentação.
Vários tipos de RAM vêm sendo submersos pelo mundo afora como estru-
turas de cimento, pneus, carcaças de navios e rebocadores, pilares de piers, sucatas
de bases petrolíferas etc. Mas na realidade para se obter recifes artificiais bem su-
cedidos a escolha do material apresenta-se como fator fundamental. (SALEM, 2005).
A escolha do material a ser escolhido dependerá especialmente do pro-
pósito especifico e do tipo de ambiente onde se planeja implantar o RAM.
Os RAM apresentam uma variedade de funções, beneficiando tanto o
meio ambiente como a população em geral. Ao ser colonizado pela fauna marinha
da região, ele imita a natureza biológica do Recife Natural marinho, agregando bio-
massa e biodiversidade no novo habitat. Esse novo habitat pode ser criado até em
ambientes arenosos e lamacentos que em condições naturais não apresentariam
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possibilidades de suportar tal ecossistema. Os RAM podem também recuperar am-
bientes degradados, provendo um novo ambiente para a colonização de organismos
marinhos. O setor turístico também se beneficia destas estruturas submarinas, pois
elas formam verdadeiros oásis para mergulhadores. Até alguns processos erosivos
já iniciados podem ser neutralizados com utilização de RAM. (SALEM, 2005)
Os pesquisadores investigaram formas, desenhos e arranjos que maximi-
zassem a produtividade e a biodiversidade em condições ambientais específicas. A
durabilidade e estabilidade dos materiais vêm sendo adequados ao ambiente mari-
nho, tendo em vista a diminuição de custos, impacto ambiental e o aumento dos be-
nefícios dos sistemas artificiais. (SALEM, 2005)
Por exemplo, pesquisadores japoneses projetam e constroem recifes arti-
ficiais que diferem em localização, forma e materiais, com o objetivo de atrair deter-
minadas espécies de peixes, pois o material com que são construídos também influ-
encia a resposta da comunidade a se desenvolver no RA. (SALEM, 2005)
Existe também uma tecnologia americana muito difundida no uso de reci-
fes artificiais que são os Reef Balls (bolas de recifes), que são verdadeiros iglus
construídos com cimento especial. Além de apresentarem características desenvol-
vidas especialmente para a pratica de recifes artificiais eles apresentam buracos que
servem de abrigos para a vida marinha e auxiliam a fixação no fundo marinho. (SA-
LEM, 2005)
A biodiversidade e a grande biomassa de peixes e invertebrados
,encontrada nesses recifes artificiais, aliada à substituição de práticas de pesca pou-
co seletivas pelo uso de petrechos mais conservativos, mostra o grande potencial de
projetos desta natureza. Aparentemente o sucesso dos recifes artificiais é tão evi-
dente que até a FAO (Food and Agriculture Organization da ONU) recomenda a utili-
zação de recifes artificiais pelos países costeiros interessados em explorar mais a-
dequadamente seus recursos marinhos (Salem, 2005)
Um RAM deve satisfazer a dois critérios:
a) ser construído de material localmente abundante e relativamente bara-
to (RISK, 1981 e PEARCE & CHANG, 1982 apud Gomes et al, 2010)
b) apresentar, quando pronto, uma ampla variedade de interstícios e ca-
vidades. Uma grande variedade de formatos dos módulos é descrita na literatura,
sendo o formato então característico para cada caso, ou seja, não é necessário se-
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guir um padrão morfológico ou morfométrico (JARA & CÉSPEDES 1994; GRAVE et al.
1994; LfNDQUIST et a!. 1994 apud GOMES et al. 2010).
O lançamento do RAM VICTORY 8-B foi uma verdadeira aventura con-
forme nos explicou o Sr. Jorge Lemos, Presidente da Fundação CLEAN UP DAY
que atua em Vila Velha – Espírito Santo.
Toda a preparação ficou a cargo da CLEAN UP DAY. A idéia surgiu a par-
tir do perdimento de um casco de navio designado Victory 8-B que estava atracado
no cais do porto de Vila Velha, pondo em risco a segurança do porto (o navio já es-
tava abandonado) e com material potencialmente poluidor a bordo.
Após seis meses de negociação e preparação foi definido que o navio
Victory 8-B poderia ser afundado ao largo do município de Guarapari. O local do a-
fundamento foi escolhido em consenso com a Marinha do Brasil e demais autorida-
des ambientais. Em seguida foi definido um ponto em uma área com aproximada-
mente 35 metros de profundidade.
O afundamento foi precedido por um trânsito rebocado de aproximada-
mente 30 milhas marítimas, ocorrendo sem nenhum acidente. Ao chegar ao local o
navio foi afundado utilizando-se o processo de abertura de válvulas que permitiram
um pouso suave no leito submarino.
Dois dias após o afundamento foi feito um mergulho exploratório, consta-
tando-se já naquela ocasião a presença de peixes juvenis.
De acordo com Jorge Lemos, os resultados obtidos foram excelentes e
muito acima das expectativas.
Em seguida foram feitos mergulhos de acompanhamento a cada dois me-
ses, que confirmaram o notável progresso do crescimento da biomassa e da concen-
tração das espécies. Foram registradas algumas espécies que já tinha escasseado a
tal ponto que se julgavam extintas na região.
A situação do litoral capixaba, assim como em grande parte do Brasil, es-
tá efetivamente longe do que pretendemos em termos de Gerenciamento Costeiro
Integrado.
A primeira dificuldade decorre da ausência do poder público estadual que
ainda não colocou em prática o próprio Plano de Gerenciamento Costeiro do Espírito
Santo.
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A segunda dificuldade diz respeito aos projetos previstos para esta região.
Na região sul do litoral capixaba se assiste a um “boom” de empreendimentos portu-
ários, todos de grande porte.
No Terminal de Ponta Ubu, pertencente à SAMARCO Mineração, está
prevista a sua ampliação e consequentemente o trânsito de navios. Provavelmente
este terminal atenderá ao complexo Industrial denominado Companhia Siderúrgica
de Ubu que provocará um aumento aproximado de maior do que 200% em número
de navios em relação aos atuais quinze a vinte por mês que atualmente trafegam na
região.
A Petrobras está construindo um terminal especializado em gás liquefeito.
Para este terminal são esperados navios de grande porte e que demandam regras
especiais de navegação por serem de alto risco operacional.
No próximo ano teremos o início da instalação de um terminal portuário
próximo à cidade de Presidente Kennedy. Serão mais navios de grande porte a tra-
fegar na área.
Estes empreendimentos trarão naturalmente um aumento considerável de
trânsito de navios na região o que tenderá a agravar a situação da fauna e especi-
almente o problema sócio-ambiental, uma vez que será cada vez mais difícil a pesca
tendo em vista os perigos a que serão submetidas as embarcações menores em
áreas com grande concentração de navios maiores bem como a interferência no ha-
bitat dos peixes.
Por isto tudo haverá um aumento da importância de se trabalhar com a
implantação de RAM como forma de provocar cada vez mais a discussão sobre o
GCI e criar novas possibilidades de recuperação da fauna marinha na região afetada
por estes novos empreendimentos.
A implantação de RAM, além de limitar a área a ser navegada pelos bar-
cos de pesca, contribuirá para a segurança das embarcações menores que passa-
rão a trafegar em áreas mais restritas e em rotas mais bem definidas. Devido à tec-
nologia disponível (equipamentos GPS de baixo custo) os pescadores poderão na-
vegar com mais precisão e diretamente para os locais onde serão implantados os
RAM.
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8 PROPOSTA DE SOLUÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
8.1 PROPOSTA DE MELHORIA PARA A REALIDADE ESTUDADA
Como se registrou anteriormente, o Gerenciamento Costeiro Integrado
busca planejar o espaço e administrar a utilização racional dos recursos naturais da
Zona Costeira, considerando os aspectos socioculturais assim como conflitos de in-
teresse e usos, através de ações articuladas entre os setores públicos e privados e a
sociedade civil.
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro tem por objetivo orientar a
utilização racional dos recursos na Zona Costeira, de forma a contribuir para elevar a
qualidade da vida de sua população, e a proteção do seu patrimônio natural, históri-
co, étnico e cultural.
De acordo com Esteves (2010), a implantação de Recifes Artificiais Marí-
timos Multifuncionais (RAMM) caracteriza uma ótima opção na obtenção de um Ge-
renciamento Costeiro Integrado (GCI) uma vez que seus objetivos incluem o benefi-
ciamento de um maior número de usuários por propiciarem múltiplos usos, incluindo:
Proteção costeira,
Aumento da biodiversidade local,
Melhoria da qualidade das ondas para o surfe e
Promoção do turismo ligado aos esportes aquáticos.
Tendo em vista que as múltiplas funções dos RAM acabem gerando uma
grande gama de usuários e parceiros que têm interesse na consecução e perma-
nência dos objetivos iniciais é natural que estes próprios usuários acabem se trans-
formando em agentes de proteção ao projeto.
A administração do projeto de RAM em qualquer área depende fundamen-
talmente de um processo de utilização correta e dentro do previsto em projeto por
todos os usuários interessados.
O litoral sul do Estado do Espírito Santo possui características que fazem
desta região um ótimo local para se implantar RAM. De acordo com Santos (2008)
podemos citar:
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Forte concentração de populações.
Existência de sistemas estuarinos ao longo deste litoral.
Ocorrência de juvenis.
Grande variedade de recursos e boas condições de mar,
Grande diversidade de modalidades de pesca
Impacto sócio-econômico extremamente positivo.
Demanda por expansão de outras atividades tais como: ecoturismo
e aqüicultura “off-shore”.
Necessidade de ordenação das pescarias no litoral, e
Necessidade de conciliar conservação e exploração sustentada.
Viabilidade econômica.
O lançamento de um RAM deve ser planejado e desenvolvido de acordo
com as seguintes fases citadas a seguir:
Planejamento sócio-participativo dos interessados;
Seleção do material (no nosso caso uso de casco de embarcações);
Preparação do Casco;
Seleção da Área onde será implantado o RAM.
Planejamento da Operação do lançamento.
Lançamento do RAM
Definição do sistema de monitoramento a ser implementado.
O planejamento sócio-participativo tem por objetivo
Promover a inserção das comunidades e demais interessados nas
atividades de gerenciamento e manutenção do RAM.
Proporcionar a integração do conhecimento técnico-científico ao sa-
ber da cultura tradicional dos pescadores e demais interessados da
região.
Minimizar futuros conflitos de uso entre as atividades realizadas pelo
público beneficiário (comunidades locais) e de outros grupos de inte-
resse na região.
A seleção do material é um processo complexo devido à grande disponibi-
lidade de opções. Neste caso dar-se-á prioridade, para a utilização de cascos de
embarcações, por ser a que melhor se adapta è região. A exemplo do lançamento
do RAM “Victory 8-B” na região a cerca de 40 milhas marítimas ao norte do local on-
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de se pretende lançar o RAM na região de Anchieta e Ubu. Além disto, de acordo
com Jorge Lemos, existe disponibilidade pelo menos três cascos de embarcações
que poderão ser utilizados no projeto.
Após a escolha será iniciada a preparação do casco, esta atividade deve
ser cuidadosamente planejada, já que o sucesso do projeto depende fundamental-
mente da perfeita preparação do casco, quando serão eliminadas todas as possíveis
fontes de poluição e de materiais que poderão influenciar negativamente no proces-
so de recuperação da fauna marinha.
A preparação do casco é dividida nas seguintes etapas:
Limpeza e descontaminação
Desgaseificação dos diversos tanques de bordo
Remoção de material poluente, tais como: tintas, óleos, graxas, lâm-
padas, fiação, mobiliário, vidro, plástico, revestimentos térmicos e
acústicos.
Adequação do casco para servir de habitat marinho com abertura de
passagens e cavidades para a circulação interna da água, acesso
da fauna e flora e abrigo para as espécies e penetração de luz, bem
como o acesso de mergulhadores em atividades de mergulho con-
templativo.
Definido e preparado o casco passa-se à fase da escolha da área e mais
especificamente do ponto onde será lançado o RAM.
Escolher a área prescinde uma análise sócio-econômica detalhada onde
se procura conciliar os interesses das comunidades interessadas e dos empreendi-
mentos previstos para área. Evidentemente a área não poderá interferir com as rotas
de navegação, de trânsito das embarcações e das áreas destinadas ao fundeio des-
tas embarcações que irão interagir com os projetos portuários da região.
Deve-se verificar a característica do leito submarino (tença) priorizando-se
as áreas em que tença seja de areia e lama. As correntes marinhas devem ser de
baixa intensidade (inferior a 2.0 nós) rica em nutrientes e larvas.
A profundidade desejável varia entre 20 e 40 metros.
Definido o material e o local da implantação do RAM, tem sequência a fa-
se de estabelecimento dos programas de monitoramente onde são realizados os
registros de ocorrências e levantamento de espécies que vieram a povoar o RAM.
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O programa de monitoramento deve ficar a cargo de uma instituição sele-
cionada e deverá ter entre seus objetivos:
Avaliar a eficiência do RAM no aumento da produção pesqueira local
através dos métodos visuais, numéricos, estatísticos e de relatos
sistemáticos dos diversos interessados (pescadores e mergulhado-
res)
Realizar uma campanha antes do lançamento e quatro trimestrais
até um ano após o lançamento e uma a cada seis meses indefini-
damente.
Finalmente todo o processo deve ser amplamente divulgado e desenvol-
vido visando a uma ampla divulgação dos benefícios e cuidados que deverão ser
responsabilidade de todos os interessados no objetivo final do RAM.
8.2 RESULTADOS ESPERADOS
A implantação de um RAM pretenderá como resultado:
Recuperar a fauna pela aproximação e estabelecimento de popula-
ção juvenil de peixes;
Promover a biodiversidade e de captura de espécies comerciais;
Eliminar a pesca utilizando o processo de arrasto com rede;
Promover a exploração controlada dos recursos ictiológicos litorâ-
neos;
Desenvolver estratégias de exploração consentâneas com a nature-
za evolutiva destes ecossistemas;
Promover formas alternativas e inovadoras de gestão, contribuindo
para a valorização da Zona Costeira;
Incrementar as atividades de turismo, incluindo o mergulho contem-
plativo.
Desenvolver um processo de gestão participativo incluindo o apoio
financeiro dos empreendimentos que serão estabelecidos na área
de abrangência do RAM implantado;
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8.3 VIABILIDADE DA PROPOSTA
A área onde está programado o lançamento do RAM é de grande impor-
tância do ponto de vista ambiental devido ao fato de envolver praias onde ocorre a
desova de tartarugas marinhas. Este fato em si deverá ser aproveitado para promo-
ver o estabelecimento de parceiras entre o Poder Público e os empreendimentos a
serem estabelecidos na região. Qualquer ação que esteja focada na preservação
das espécies marinhas consideradas ameaçadas como a tartaruga marinha, tem um
excelente apelo de marketing e certamente contribuirá para a fixação de imagem de
empreendimentos “amigos do meio ambiente”.
De acordo com Jorge Lemos a implantação de um RAM nas condições
que se pretende está orçada em aproximadamente R$ 700000,00 (setecentos mil
reais). Este valor decorre principalmente do reboque a ser efetuado do Rio de Janei-
ro, onde estão os possíveis cascos a serem utilizados até o local de lançamento ao
largo da cidade de Anchieta-ES.
Os empreendedores poderão ser parceiros deste projeto, contribuindo no
processo de educação ambiental de toda a comunidade envolvida, ficando a cargo
do poder público, a responsabilidade pela fiscalização de todo o processo especial-
mente após a implantação do RAM.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estamos vivendo em um novo cenário em que as questões ambientais
são consideradas fundamentais para que obtenhamos sucesso em qualquer ativida-
de.
Neste trabalho buscou-se caracterizar a importância de implantar solu-
ções para a recuperação da fauna marinha em ambiente costeiro que atendessem
aos requisitos definidos no Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) qual
seja o gerenciamento costeiro integrado.
Como é natural a maior dificuldade encontrada situo-se na conciliação dos
diversos interesses de todas as partes interessadas, especialmente as das gerações
futuras.
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Após a implantação do “RAM”, tem início uma permanente e continuada
dinâmica de educação ambiental das partes interessadas, especialmente das comu-
nidades que tiram o seu sustento do mar, no sentido de sensibilizá-las para as mu-
danças de hábitos necessárias à manutenção da atividade pesqueira, sem esgotar
os recursos naturais.
Acredita-se que mantendo este programa de educação ambiental de for-
ma continuada forçosamente será conseguido o equilíbrio natural entre a pesca e a
manutenção da fauna marinha na região do RAM.
Evidentemente o cenário ambiental ainda está em constante mutação.
Deste modo os relatórios de acompanhamento serão também importantíssimos para
que mantenhamos o foco principal da solução que e atender ao conceito mestre do
Desenvolvimento Social Sustentável.
Se por um lado tem-se disponível a efetiva possibilidade de parceria com
os empreendedores da região, por outro lado percebemos que , especialmente as
comunidades de pescadores costeiros ainda têm muito que aprender e mudar os
seus hábitos. Assim percebemos como a dificuldade do projeto será a educação
ambiental dos componentes das comunidades de pesca da região.
A gestão de um projeto pode ser entendida como o planejamento, a pro-
gramação e o controle de uma série de tarefas integradas que permitem alcançar os
objetivos estabelecidos com sucesso para o benefício de todos os parceiros e inte-
ressados no projeto. (KERZNER 2006, apud ANTÔNIO 2010);
A sustentabilidade da zona costeira depende de abordagens integradas
de gestão ambiental que venham a possibilitar a incorporação do gradiente flúvio-
marinho, assim como as múltiplas atividades humanas desenvolvidas nas bacias
hidrográficas costeiras. (NICOLODI et al. 2009)
A política de gestão da biodiversidade por meio do estabelecimiento e im-
plantação de áreas protegidas assume novos significados – e desafíos – se estiver
integrada às políticas de desenvolvimento territorial sustentável (SANTOS e VIVAC-
QUA, 2009),
O Instituto Ecoplan divulga diversos benefícios decorrentes da implanta-
ção de RAMs, alegando que, além dos sistemas implantados se transformarem em
áreas protegidas para espécies ameaçadas como o Mero e o Cherne, por exemplo,
também trazem benefícios para a pesca sustentável agregando aumento de renda.
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Os pescadores locais já utilizam os recifes artificiais implantados para a produção de
vieiras e mexilhões. Sem contar que se tornaram excelentes áreas de mergulho e
pesquisa cientifica, onde teses de mestrado e doutorado estão sendo desenvolvidas,
gerando informações cientificas e tecnológicas de grande valor.
(Alencar et al. (2003 apud SANTOS e PASSAVANTI 2007)) acreditam que
o desenvolvimento e a implementação de RAMs pode ser considerado um assunto
estratégico para a gestão ambiental da costa brasileira, especialmente se conside-
rarmos que os recifes artificiais podem se constituir em instrumentos de ordenamen-
to pesqueiro e tendo como embasamento o artigo 8º do Código de Conduta para a
Pesca Responsável da FAO que recomenda aos estados elaborarem sistemas de
ordenamento dos RAMs nos naufrágios visitados por turistas subaquáticos.
As recomendações para a implementação da gestão costeira integrada na
Europa (EC, 2002) estimulam a criação de áreas de lazer e oportunidades econômi-
cas para as populações de regiões costeiras, porém, ressalvam a importância em se
manter as culturas tradicionais locais, em se evitar a pressão excessiva do turismo e,
em especial, promover a participação de todos os setores da sociedade no planeja-
mento e manejo adaptativo. (SIMIONI, 2010)
Segundo Davos (1998), os benefícios da gestão costeira integrada nunca
serão atingidos enquanto a “melhor prática” for definida pela opinião técnica de
(poucos) especialistas em vez de se buscar identificar a “prática mais correta”, que é
aquela capaz de atrair o apoio do maior número de grupos e indivíduos.
Deste modo, o envolvimento do público é imprescindível desde as etapas
iniciais do processo de decisão (e.g. McFadden, 2008), incluindo a seleção das o-
bras, eventos ou práticas a serem contempladas com estudos de viabilidade. (SIMI-
ONI, 2010)
Na verdade percebe-se, atualmente que a maioria desses países utiliza a
pratica de RAMs visando criar áreas de exclusão contra o impacto da pesca predató-
ria e como atratores artificiais de fauna marinha, incrementando a produtividade
pesqueira da frota artesanal local. (SALEM, 2005)
De qualquer maneira, de um modo geral, muitos países usufruem dessa
pratica há algumas décadas indicando os recifes artificiais como excelente instru-
mento de conservação ambiental e gerador de benefícios sócio econômico. A biodi-
versidade e a grande biomassa de peixes e invertebrados encontradas nesses reci-
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fes artificiais, aliados à substituição de práticas de pesca pouco seletivas, pelo uso
de petrechos menos agressivos, mostra o grande potencial de projetos desta nature-
za. (SALEM, 2005)
Title: The utilization of Marine Artificial Reef as a tool of recuperation of marinespecimens.
Authors: Renato de Almeida Padilha; Jairo Afonso Henkes
Abstract: The coastal ecosystem is characterized by being extremely complex and
manage it order to meeting the requirements of the Sustainable So-
cial Development is a huge challenge. This study examines one of the-
se management tools is the use of Marine Artificial Reefs as a tool for recovery
of Marine Fauna and Flora. The study specifically examined the release of the Marine
Artificial Reef “ Victory 8-B” in the south coast of Espírito Santo at a contiguous area
of District of Guarapari’s. The study demonstrate in addition to recover-
ing of marine fauna and flora that use of the Implementation of Marine Artifi-
cial Reef is usefull to prevent the use of the dreaded "bottom trawling". After the im-
plementation of RAM Victory 8-B, through the management and monitoring, it was
observed that both the fauna and flora so recovered and new processes for use of
the area (diving contemplative) showed that the goals were achieved .
Keywords: Marine artificial reef; Coast Zones Management; Reef zones;Recovery of marine fauna; Marine habitat.
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AVALIAÇÃO DO USO DO REJEITO GERADO PELO BENEFICIAMENTO DAROCHA FOSFATADA NA AGRICULTURA
Cláudia Marques Peixoto*
Jairo Afonso Henkes**
Resumo
O processo de beneficiamento da rocha fosfatada para produção de ácido fosfórico por via úmida temgerado muitos resíduos como o fosfogesso, cujas características químicas e físicas são semelhantesao gesso natural (sulfato de cálcio dihidratado). O imenso volume de fosfogesso produzido anualmen-te pelas indústrias de produção de ácido fosfórico, vem merecendo a atenção de órgãos de proteçãoradiológica e das agências de proteção ambiental do Brasil e do exterior. Trabalhos de pesquisa quevisam desvendar o desenvolvimento de possíveis usos do fosfogesso, torna-se cada vez mais impor-tante, tanto do ponto de vista econômico, como tecnológico e ambiental, uma vez que este é um resí-duo abundante, de baixo custo e cujo aproveitamento evitaria o comprometimento ambiental das á-reas onde este produto é armazenado. O processo mais utilizado na produção de fertilizantes fosfa-tados é aquele constituído pelo ataque da rocha fosfática com ácido sulfúrico concentrado e água.Neste caso, os principais produtos das reações químicas são o ácido fosfórico, o super-fosfato sim-ples (SSP) e o super-fosfato triplo (TSP). A estocagem de grandes quantidades de fosfogesso envol-ve uma série de problemas, entre os quais se destacam, a necessidade de dispor-se de grandes á-reas para o seu armazenamento e a possibilidade, em virtude da sua natureza ácida, de causar im-pactos ao meio ambiente. Além disso, o reaproveitamento contribuiria para a preservação de reser-vas de gesso natural, garantindo assim, um dos princípios básicos do desenvolvimento sustentável,ou seja, a preservação de recursos naturais para as gerações futuras. Este trabalho pretende contri-buir para o manuseio e utilização segura, tanto do ponto de vista agronômico como ambiental, de umdos rejeitos, notadamente o fosfogesso, gerado no processo de beneficiamento da rocha fosfatada,para a agricultura por meio da investigação do papel da adubação de solos na mobilidade dos radio-nuclídeos naturais. Pretende ainda compreender os mecanismos de transferência de radionuclídeosnaturais no sistema solo/planta e avaliar se o uso do fosfogesso como corretivo da acidez de soloscontribui para um aumento significativo da concentração de radionuclídeos nas plantas e, conseqüen-temente, para um aumento da exposição dos consumidores à radioatividade natural.
Palavras Chave: fosfogesso; rocha fosfatada; radionuclídeos; super-fosfato._______________________________________________
*Acadêmica do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental – Unisul Virtual. E-mail:'cmp@cdtn.br'
** Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Gra-duação em Gestão Ambiental da Unisul. Mestre em Agroecossistemas. Especialista em Adminis-tração Rural. E-mail: jairo.henkes@unisul.br
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1 INTRODUÇÃO
A população mundial cresceu de 2,5 bilhões de pessoas em 1950 para
6,2 bilhões no ano de 2002 (BRAGA, 2005). Esse crescimento estimulou o aumento
das atividades industriais, comerciais e agropecuárias que, em sua maioria, geram
uma grande quantidade de resíduos. O gerenciamento inadequado desses resíduos
pode resultar em riscos para a qualidade de vida das comunidades, criando, ao
mesmo tempo, problemas de saúde pública e se transformando em fator de degra-
dação do meio ambiente, além, é claro, dos aspectos social, estético, econômicos e
administrativos envolvidos (BRAGA, 2005).
Em decorrência do processo de beneficiamento da rocha fosfatada para
produção de ácido fosfórico por via úmida tem-se a geração do resíduo fosfogesso,
cujas características químicas e físicas são semelhantes ao gesso natural (sulfato de
cálcio dihidratado). A taxa de geração de fosfogesso é de aproximadamente 4,8 to-
neladas para cada tonelada de ácido fosfórico produzido (MAZZILLI et al., 2000). A
produção mundial anual pode ser estimada em 150 milhões de toneladas. Desse
total, cerca de 6 milhões de toneladas são provenientes do Brasil, onde a maior par-
te gerada encontra-se disponibilizada nos estados de Minas Gerais e São Paulo,
mais especificamente, nas regiões onde estão localizados os municípios de Uberaba
e Cubatão (MAZZILLI et al., 2000).
Embora o fosfogesso seja composto principalmente por sulfato de cálcio
dihidratado, ele pode apresentar níveis elevados de impurezas provenientes da ro-
cha fosfática matriz (FERNANDES ET AL., 2004). Essas rochas transferem para o
fosfogesso, durante a fabricação do ácido fosfórico, parte das impurezas insolúveis
(ou solubilizadas no meio ácido), como os metais pesados e semi-metais (por exem-
plo, Cd, As e Zn), os fluoretos e radionuclídeos naturais (SANTOS, 2002).
O imenso volume de fosfogesso produzido anualmente pelas indústrias
de produção de ácido fosfórico existentes no mundo vem merecendo a atenção de
órgãos de proteção radiológica e das agências de proteção ambiental do Brasil e do
exterior. Portanto, a pesquisa visando o desenvolvimento de possíveis usos do fos-
fogesso, é cada vez mais importante, tanto do ponto de vista econômico, como tec-
nológico e ambiental, uma vez que ele é um resíduo abundante, de baixo custo e
cujo aproveitamento evitaria o comprometimento ambiental das áreas onde este
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produto é armazenado. Além disso, o seu reaproveitamento contribuiria para a pre-
servação de reservas de gesso natural, garantindo assim, um dos princípios básicos
do desenvolvimento sustentável, ou seja, a preservação de recursos naturais para
as gerações futuras.
É importante ressaltar que as leis de proteção ao meio ambiente, tanto no
Brasil como em todo o mundo, estão cada vez mais rigorosas no que se refere aos
cuidados a serem observados na estocagem de materiais com estas características.
Várias alternativas vêm sendo avaliadas, entre elas, a utilização do fosfogesso como
fertilizante. No Brasil, este material vem sendo utilizado há várias décadas, princi-
palmente como insumo agrícola. Nesse caso, o fosfogesso ou o “gesso agrícola” é
largamente aplicado como fonte de cálcio e enxofre, como condicionador de subsu-
perfície e para correção de solos saturados com sódio, potássio ou alumínio (EM-
BRAPA, 2005).
Vale ressaltar, no entanto, que as avaliações meramente agronômicas
podem deixar a desejar do ponto de vista ambiental. Tendo em vista a presença de
radionuclídeos naturais no fosfogesso, sua utilização como corretivo da acidez do
solo requer a realização de estudos adicionais que permitam a avaliação da mobili-
dade de material radioativo no solo, contaminação das águas de drenagem e sua
absorção pelas plantas.
As reações envolvidas entre os radionuclídeos e os componentes dos so-
los podem ser por:
Complexação: são aquelas em que se formam complexos e fazem parte da
complexometria. Esta consiste na utilização de agentes quelantes ou ligan-
dos, em geral orgânicos, que se coordenam com um íon metálico através de
dois ou mais átomos doadores electrónicos.
Precipitação ou dissolução: Os compostos químicos se dissolvem em diferen-
tes solventes nos mais diferentes graus de intensidade, os quais por sua vez
são afetados por vários fatores, dos quais sobressai a temperatura.
Adsorção ou dessorção: Isso ocorre em um sistema estar no estado de equi-
líbrio de sorção entre fase (a granel líquido, ou seja, gás ou solução líquida) e
uma superfície de adsorção (sólido ou fronteira que separa dois fluidos).
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Quando a concentração (ou pressão) da substância na fase de volume é re-
duzido, algumas das alterações de substância sorvida ao estado a granel.
Estas reações são responsáveis pelo controle da solubilidade dos elementos e de-
pendem da concentração dos radionuclídeos e seus análogos químicos, dos ligantes
capazes de formar complexos organo-minerais, da composição mineralógica dos
solos, do pH e do potencial redox.
Tradicionalmente, a literatura apresenta um parâmetro para estimar a ca-
pacidade de um vegetal em absorver os radionuclídeos presentes na solução do so-
lo. Seguindo as recomendações da União Internacional de Radioecologistas (IUR,
1989), esse parâmetro é denominado Fator de Transferência (FT). Este, por sua
vez, é definido como sendo a razão entre a concentração do radionuclídeo no tecido
vegetal estudado, e a concentração do mesmo radionuclídeo no solo, na zona das
raízes, ou seja, da superfície à 20 cm de profundidade, exceto para vegetais da fa-
mília das gramíneas, cuja profundidade de amostragem de solo é de 10 cm a partir
da superfície do solo. (IUR, 1989).
2 TEMA
A principal matéria prima da indústria nacional de fertilizantes fosfatados são
os minérios apáticos provenientes da rocha fosfatada, cujas principais reservas natu-
rais estão distribuídas nos estados produtores, a saber: Minas Gerais com 73,8%,
Goiás com 8,3% e São Paulo com 7,3%, que juntos participam com 89,4% das re-
servas totais do país, seguidos dos estados de Santa Catarina, Ceará, Pernambuco,
Bahia e Paraíba (SOUZA, 2004). Os depósitos carbonaticos brasileiros mais impor-
tantes estão localizados no Complexo de Tapira (MG), Ouvidor (GO), Cajati (SP) e o
complexo alcalino carbonático de Mairicuru (MA). Cerca de 80% das jazidas fosfata-
das naturais brasileiras são de origem ígnea (CANUT, 2006). A formação das rochas
ígneas vêm do resultado da consolidação devida ao resfriamento do magma
derretido ou parcialmente derretido. Elas podem ser formadas com ou sem a
cristalização, ou abaixo da superfície como rochas intrusivas (plutônicas) ou próximo
à superfície, sendo rochas extrusivas (vulcânicas).
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O processo mais utilizado na produção de fertilizantes fosfatados é aquele
constituído pelo ataque da rocha fosfática com ácido sulfúrico concentrado e água.
Neste caso, os principais produtos das reações químicas são o ácido fosfórico, o
super-fosfato simples (SSP) e o super-fosfato triplo (TSP). Como rejeitos do proces-
so de beneficiamento têm-se o sulfato de cálcio dihidratado - (“fosfogesso”) e o ácido
fluorídrico. (MALAVOLTA, 1991).
Os adubos fosfatados provém das rochas fosfatadas naturais. Podem ser u-
sados pelas indústrias tanto os fosfatos naturais brasileiros como os fosfatos natu-
rais importados. Os fosfatos naturais pouco reativos por serem de baixa reatividade
precisam ser atacados por ácidos ou submetidos ao calor para tornarem-se produtos
solúveis em água. O ácido fosfórico possui 52 a 55% de P2O5. Para obtenção deste
ácido submete-se a rocha fosfatada a uma reação com maior quantidade de ácido
sulfúrico. Obtém-se o ácido fosfórico e o sulfato de cálcio (gesso). O sulfato de cálcio
é separado por filtração. Este processo é chamado “processo úmido “.
A taxa de geração deste material é de aproximadamente 4,8 t para cada tone-
lada de ácido fosfórico produzido. A produção mundial anual de fosfogesso pode ser
estimada em 150 milhões de toneladas. Deste total, cerca de 12 milhões toneladas
são provenientes do Brasil (MAZZILLI et al, 2000), onde a maior parte gerada está
disponibilizada no estado de MinasGerais.
A forma mais comum de descarte dos rejeitos gerados pelo beneficiamento e
processamento das rochas fosfatadas é a sua disposição em pilhas em áreas próxi-
mas às fábricas. Entretanto, esta prática pode representar um risco potencial ao am-
biente circunvizinho, principalmente, para o ar, solo e para as fontes de água locali-
zadas nas proximidades das mesmas.
Os possíveis impactos ambientais associados à disposição do fosfogesso em
pilhas são: lixiviação e escoamento superficial de elementos tóxicos, (F־, SO4²־, me-
tais pesados) e rádio (226Ra e 228Ra na forma solúvel), resultando na contaminação
dos meios hídricos, irradiação gama direta da pilha (trabalhadores), liberação de ae-
rossóis causados por erosão eólica nas pilhas e inalação do gás 222Rn (trabalhado-
res) (FERNANDES et al, 2004, SANTOS, 2006).
Embora o fosfogesso seja composto principalmente por sulfato de cálcio dihi-
dratado, ele pode apresentar níveis elevados de impurezas provenientes da rocha
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fosfática matriz. Estas rochas transferem para o fosfogesso, durante a fabricação do
ácido fosfórico, parte das impurezas insolúveis (ou solubilizadas no meio ácido), co-
mo os metais pesados e metalóides (por exemplo, Cd, As e Zn), os fluoretos e os
nuclídeos radioativos (SANTOS et al, 2000).
Os rejeitos sólidos contendo materiais radioativos de ocorrência natural são denomi-
nados NORM (do inglês, Naturally Occurring Radioactive Material) (EU, 2001; IAEA,
2005). Entre as atividades industriais que geram rejeitos contendo radionuclídeos
das séries naturais do U e Th associados tem-se: o processamento mineral, produ-
ção de gás/petróleo e a indústria de fosfato. Na natureza existem elementos radioa-
tivos que realizam transmutações ou “desintegrações” sucessivas, até que o núcleo
atinja uma configuração estável. Isso significa que, após um decaimento radioativo,
o núcleo não possui, ainda, uma organização interna estável e, assim, ele executa
outra transmutação para melhorá-la e, ainda não conseguindo, prossegue, até atin-
gir a configuração de equilíbrio. Em cada decaimento, os núcleos emitem radiações
dos tipos alfa, beta e/ou gama e cada um deles é mais “organizado” que o núcleo
anterior. No estudo da radioatividade, constatou-se que existem 2 séries ou famílias
radioativas naturais. No caso da indústria de fosfato, os radionuclídeos presentes
são provenientes da matéria prima básica utilizada na fabricação do ácido fosfórico,
ou seja, os minérios apáticos, os quais contêm quantidades significativas de urânio,
tório e demais elementos radioativos de suas respectivas cadeias de decaimento,
metais pesados, fluoretos e outros. O teor de radionuclídeos em cada rocha é bas-
tante variável, dependendo, basicamente, das características geológicas do local de
extração da rocha.
Após a digestão da rocha, em plantas que utilizam o processo por via úmida
para a produção de fertilizantes, o equilíbrio é quebrado, havendo uma redistribuição
dos radionuclídeos. Aproximadamente 86% do 238U e 70% do 232Th vão para o ferti-
lizante, enquanto que 80% do 226Ra, que tem comportamento semelhante ao do cál-
cio, vão para o fosfogesso (SANTOS, A.J.G. et al, 2006; MAZZILLI, B. P. et al.,
2000). Estudos de caracterização de parte do fosfogesso estocado nas indústrias
nacionais de fertilizantes em geral, mostraram concentrações nas faixas de 22 a 729
nBq.kg-1 de 226Ra, 11 a 152 Bq.kg-1 de 232Th e menores que 52 Bq.kg-1 de 40K (SIL-
VA et al., 2001).
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As indústrias que se dedicam à fabricação do ácido fosfórico têm se preocu-
pado em encontrar aplicações para o fosfogesso e, assim, evitar a disposição deste
rejeito nos próprios locais de produção. Como mencionado anteriormente, a estoca-
gem de grandes quantidades de fosfogesso envolve uma série de problemas entre
os quais se destacam a necessidade de dispor-se de grandes áreas para o seu ar-
mazenamento e a possibilidade, em virtude da sua natureza ácida, de causar impac-
tos ao meio ambiente. É importante ressaltar que as leis de proteção ao meio ambi-
ente, tanto no Brasil como em todo o mundo, tornam-se cada vez mais rigorosas ao
que se refere aos cuidados a serem observados na estocagem de materiais com
estas características.
A pesquisa que visa o desenvolvimento de possíveis usos do fosfogesso é
cada vez mais importante, tanto do ponto de vista econômico, como tecnológico e
ambiental. Este pode ser considerado como um rejeito abundante, de baixo custo e
cujo aproveitamento evitaria o comprometimento ambiental de grandes áreas onde
este produto é armazenado. Além disso, o seu reaproveitamento contribuiria para a
preservação de reservas de gesso natural, garantindo assim, um dos princípios bá-
sicos do desenvolvimento sustentável, ou seja, a preservação de recursos naturais
para as gerações futuras.
Várias pesquisas vêm sendo realizadas em diversos países do mundo (EPA,
1992), incluindo o Brasil, visando avaliar a possibilidade de aproveitamento do fosfo-
gesso na agricultura, tanto no controle da erosão, como corretivo da acidez dos so-
los do Cerrado. Uma das principais características dos solos dessas regiões é a rá-
pida mineralização da matéria orgânica que, associada à lixiviação intensa, produz
solos com baixo conteúdo de matéria orgânica e baixa fertilidade natural. Tais solos
são ácidos (pH entre 4,3 e 6,2), pobres em cálcio e magnésio, elementos diretamen-
te envolvidos no desenvolvimento das raízes, com teores elevados de alumínio tro-
cável e baixa disponibilidade de fósforo para as plantas (MELLO, 1989).
Os materiais comumente usados na agricultura para correção da acidez do
solo são as rochas carbonáticas moídas, cujos principais minerais são calcita e do-
lomita, carbonatos de cálcio e de magnésio de solubilidade relativamente baixa. Por
outro lado, as rochas calcárias calcinadas contêm óxidos de cálcio e magnésio (cal
virgem) ou os materiais hidratados oriundos dos óxidos, os hidróxidos de Ca e de
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Mg (cal hidratada), que são mais solúveis que os carbonatos, porém com menor uti-
lização na agricultura.
Além dos materiais citados acima, o fosfogesso, objeto de estudo, também
vem sendo utilizado como corretivo da acidez do solo (Alvares et al., 1999). A sua
composição média é: umidade livre 15-17%; CaO 26-28%; S 15-16%; P2O5 0,6 -
0,75%, SiO2 insolúveis 1,26%; Fluoretos 0,63% e óxidos de Al e Fe 0,37% (VITTI et
al, 1985).
De acordo com EMBRAPA (2000), o uso do fosfogesso, sob a ótica agronô-
mica, tem sido justificado em duas situações, principalmente: a) onde há necessida-
de de fornecimento de cálcio e de enxofre e, b) na diminuição de concentrações tó-
xicas do alumínio trocável nas camadas sub-superficiais com conseqüente aumento
de cálcio nessas camadas, visando-se "melhorar" o ambiente para o crescimento
radicular. A tomada de decisão sobre o uso do fosfogesso deve sempre ser feita
com base no conhecimento de algumas características químicas e na textura do solo
das camadas sub-superficiais (20 a 40 cm e 30 a 60 cm). Haverá maior probabilida-
de de resposta ao fosfogesso quando a saturação por Al3+ for maior que 30 %, ou o
teor de Ca, menor que 0,4 cmolc/dm3 de solo. Deve ser salientado que esta é uma
situação comum nos solos da região do Cerrado.
Vale ressaltar, no entanto, que as avaliações meramente agronômicas podem
deixar a desejar do ponto de vista ambiental. Tendo em vista a presença de radionu-
clídeos naturais e metais pesados no fosfogesso, sua utilização como corretivo da
acidez do solo requer a realização de estudos adicionais que permitam a avaliação
da mobilidade de material radioativo e metais pesados no solo, contaminação das
águas de drenagem e sua absorção pelas plantas.
As reações envolvidas entre os radionuclídeos e os componentes dos solos
(e.g.: complexação, precipitação ou dissolução, adsorção ou dessorção) são res-
ponsáveis pelo controle da solubilidade dos elementos e dependem da concentração
dos radionuclídeos e seus análogos químicos, dos ligantes capazes de formar com-
plexos organo-minerais, da composição mineralógica dos solos, do pH e do potenci-
al redox.
Os solos ricos em óxidos de ferro e de alumínio, de condições muito ácidas e
com baixos teores de nutrientes, podem ser citados, como exemplos de ambientes
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.82
críticos, que interferem na transferência de radionuclídeos e metais pesados para as
plantas. Características estas presentes, em uma fração significativa dos solos com
potencial agrícola no país.
O trabalho de WASSERMAN et al (2002) demonstrou que as características
dos Latossolos, tais como, acidez, baixo conteúdo em matéria orgânica, baixa dis-
ponibilidade de nutrientes como o cálcio e o potássio e a presença de minerais como
a caulinita e a gibsita, influenciam os processos de transferência de radionuclídeos
no sistema solo – planta. Conseqüentemente, o estudo do processo de transferên-
cia de material radioativo do solo para as plantas é o passo inicial para propor e ava-
liar medidas de proteção radiológica ambiental, principalmente devido à complexida-
de física, química e biológica de diferentes cenários. Conforme demonstrado na Fi-
gura 1, esse processo ocorre, principalmente, através da absorção pelas raízes de
radionuclídeos presentes na solução do solo, assim como da assimilação do materi-
al radioativo presente no solo depositado em folhas, caules, flores e frutos, por pro-
cessos de ressuspensão de solo contaminado (ANGUISSOLA & SILVA, 1992; RO-
CHEDO & WASSERMAN, 2000).
Tradicionalmente, a literatura apresenta um parâmetro para estimar a capaci-
dade de um vegetal em absorver os radionuclídeos presentes na solução do solo.
Seguindo as recomendações da União Internacional de Radioecologistas (IUR,
1989), esse parâmetro é denominado Fator de Transferência (FT). Este por sua vez
é definido como sendo a razão entre a concentração do radionuclídeo, no tecido
vegetal estudado e a concentração do mesmo radionuclídeo no solo, na zona das
raízes, ou seja, da superfície a 20 cm de profundidade, exceto para vegetais da fa-
mília das gramíneas, cuja profundidade de amostragem de solo é de 10 cm a partir
da superfície do solo.
Radionuclí-deos
Deposição
Absorção Foliar
Ressuspen-são Retenção nas
Folhas
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.83
Figura 1. Exemplo das interações dos radionuclídeos no sistema solo-
planta
Fonte: Adaptado de PORTILHO, 2005.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Contribuir para o manuseio e utilização segura, tanto do ponto de vista
agronômico como ambiental, de um dos rejeitos, notadamente o fosfogesso, gerado
no processo de beneficiamento da rocha fosfatada, para a agricultura por meio da
investigação do papel da adubação de solos na mobilidade dos radionuclídeos natu-
rais (238U, 232Th, 226Ra, 228Ra e 210Pb presentes neste material na superfície do solo.
(IUR, 1989).
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Compreender os mecanismos de transferência de radionuclídeos naturais no
sistema solo/planta, suprir informações a respeito de avaliação de risco radioló-
gico, por meio do levantamento de valores dos radionuclídeos encontrados em
solo e planta.
Avaliar se o uso do fosfogesso como corretivo da acidez de solos contribui para
um aumento significativo da concentração de radionuclídeos nas plantas e,
conseqüentemente, para um aumento da exposição dos consumidores à radioa-
tividade natural.
Translocação
Absorção Radicular Migração nosolo
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.84
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 CAMPO DE ESTUDO
Levantamento de dados nacionais e internacionais na temática emquestão.
1. Levantamento da composição química do fosfogesso. (Documentos, ar-
tigos, publicações, etc.)
2. Levantamento das concentrações dos radionuclídeos naturais (226Ra,228Ra, 210Po e 210Pb) presentes nas amostras de solo e fosfogesso. (Docu-
mentos, artigos, publicações, etc.)
3. Levantamento da concentração de 232 Th e 238U presente nas amostras de so-
lo e fosfogesso. (Documentos, artigos, publicações, etc.)
4. Levantamento da concentração de 226Ra, 228Ra, 210Po e 210Pb presente nas
amostras de vegetais e água . (Documentos, artigos, publicações, etc.)
5. Levantamento da concentração de 232 Th e 238U presente nas amostras de
vegetais e água. (Documentos, artigos, publicações, etc.)
6. Avaliar o risco radiológico das possíveis vias de exposição:
ingestão de água proveniente de poços contaminados;
Ingestão de alimentos proveniente de solos adubados com fos-
fogesso ou gesso agrícola;
4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descri-
tos no quadro a seguir.
Instrumento de
coleta de dados
Universo pesquisado Finalidade do Instrumento
Documentos
Manuais, relatórios, documen-
tos, artigos, livros, etc).
Levantamento de dados de
caracterização do solo, plan-
tas e fosfogesso.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.85
Documentos Manuais, relatórios, documen-
tos, artigos, livros, etc).
Levantamento de dados rela-
tivos à aplicação do fosfo-
gesso no Brasil e do consu-
mo de alimentos na região do
Cerrado.
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
5.1 CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO FOSFOGESSO
Os resultados das análises para caracterização química do fosfogesso são
apresentados na Tabela 1. Conforme pode ser verificado, a composição química do
fosfogesso revela a presença predominante de cálcio e enxofre. Em média, a quan-
tidade de P2O5 encontrada é da ordem de 1,2%, evidenciando que o fosfogesso não
deve ser usado como um fertilizante fosfatado, mas sim, como um corretivo do solo
que atua na diminuição da acidez potencial. Os outros elementos e substâncias ana-
lisadas apresentaram em níveis percentuais abaixo de 1%, sendo considerados e-
lementos traços.
Tabela 1. Caracterização química do fosfogesso
Óxidos Fosfogesso (%)
SO4 58,120
CaO 40,120
SiO2 1,990
TiO2 1,620
P2O5 1,170
MgO 0,102
Al2O3 0,098
Fe2O3 0,602
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.86
Na2O 0,049
K2O 0,031
ZnO 0,001
Cu2O 0,005
MnO3 0,031
PPC(*) 23,1
Fonte: (CANUT, 2006)
(*)PPC: % de perda por calcinação
5.2 CONCENTRAÇÃO DOS RADIONUCLÍDEOS PRESENTES NAS AMOSTRASDE FOSFOGESSO
Na Tabela 2 são apresentados os resultados da atividade específica média de
cada um dos radionuclídeos analisados na amostra de fosfogesso utilizada no pre-
sente estudo.
Tabela 2. Atividade específica média dos radionuclídeos naturais presentes
no fosfogesso
Radionuclídeo (Bq.kg-1)
238U 80 ± 20
232Th 111 ± 13
226Ra 252 ± 26
228Ra 226 ± 29
210Pb 206 ± 29
210Po 230 ± 26
Fonte: (JACOMINO,2008)
Como pode ser verificado, a atividade específica média do 238U no fosfogesso
(80 Bq.kg-1) ficou abaixo daquela do 232Th (111 Bq.kg-1). Isso pode ser explicado pe-
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.87
lo fato da rocha fosfatada utilizada para a produção de ácido fosfórico ser de origem
ígnea e, portanto, apresenta concentrações de U menores que as de Th.
As atividades específicas médias do 226Ra (252 Bq.kg-1) ficaram abaixo do li-
mite recomendado pela Agência Ambiental Americana (EPA, 1988) para uso do fos-
fogesso na agricultura, cujo valor é igual a 370 Bq.kg-1 (ICRP, 1995; LIV e LIPTÁK,
1997).
Não existem limites de concentração de 238U, 232Th, 228Ra, 210Pb e 210Po no
fosfogesso abaixo dos quais seja liberada a sua utilização na agricultura. Contudo,
eles foram considerados nesse estudo, não apenas devido à sua alta toxicidade pa-
ra sistemas biológicos, mas também por serem uma fonte potencial importante de
contaminação ambiental (ICRP, 1995; LIV e LIPTÁK, 1997). A concentração de ra-
dionuclídeos em fosfogesso nacional, obtiveram valores médios de atividade especí-
fica da ordem de 174 Bq.kg-1 para o 232Th, 225 Bq.kg-1 para o 226Ra e
275 Bq.kg-1 para o 210Pb, Mazzilli et al (2000).
Silva et al (2001), analisando amostras nacionais de fosfogesso coletadas em
duas importantes empresas de produção de ácido fosfórico do Brasil, encontraram
valores da ordem de 90 Bq.kg-1 para o 238U e 300 Bq.kg-1 para o 210Po. Saueia et al
(2006), analisando amostras de fosfogesso nacional por espectrometria gama, en-
contraram valores de atividade específica de 228Ra variando de 29 a 273 Bq.kg-1.
Yamazaki e Geraldo (2003) obtiveram valores de até 706 Bq.kg-1 de 238U em
amostras de fertilizantes comerciais produzidos no Brasil. Nos estudos de Saueia e
Mazzilli (2006), os valores das concentrações de 238U em fertilizantes fosfatados
brasileiros variaram de 40 a 1200 Bq.kg-1. Para o 232Th, os valores variaram de um
mínimo de 110 Bq.kg-1até o máximo de 450 Bq.kg-1. Conceição e Bonotto (2003)
apresentaram em seu trabalho, valor médio de 587 Bq.kg-1 de 238U e 31 Bq.kg-1 para
o 232Th para os fertilizantes fosfatados utilizados nas plantações de cana.
Os fertilizantes NPK estudados na Alemanha por Pfister et al. (1976), apre-
sentaram atividades específicas mais elevadas com valor médio de 3419 Bq.kg-1
para o 238U e
107 Bq.kg-1 para o 232Th. No Egito, segundo ElBahi et al. (2004), as amostras apre-
sentaram valores entre 125 e 239 Bq.kg-1 para o 232Th.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.88
Todos estes dados indicam que a atividade específica dos radionuclídeos
presentes nas amostras de fertilizantes comerciais pode ser superior à do resíduo
fosfogesso.
Concentração dos radionuclídeos presentes nas amostras de solo
Na Tabela 3 são apresentados os valores da atividade específica média dos
radionuclídeos de interesse presentes nas amostras de solo natural. Os resultados
são expressos em Bq.kg-1 (em base de peso seco). São mostrados também os re-
sultados dos valores certificados e experimentais das análises da amostra de refe-
rência (IAEA/Soil-7).
Para os resultados expressos como “menor que” foi adotado como referência
o maior valor de Atividade Mínima Detectável (AMD).
Como já esperado, as atividades específicas médias dos radionuclídeos pre-
sentes no solo argiloso foram bem superiores às obtidas para o solo arenoso. Vale
lembrar que os argilo-minerais caracterizam-se por possuir uma expressiva área es-
pecífica, decorrente, sobretudo, de suas dimensões diminutas (da ordem de micrô-
metros a nanômetros) e de sua forma alongada. Quanto maior a área superficial,
maior será a capacidade de retenção de água, nutrientes e outras substâncias quí-
micas no solo. Importante ressaltar também a maior concentração de cargas negati-
vas em tais argilo-minerais que corroboram para a retenção de cátions.
A atividade específica média do 238U no fosfogesso ficou bem abaixo da en-
contrada no solo argiloso. É importante ressaltar que esse solo foi coletado em uma
região cujas rochas são de origem sedimentar, formadas a partir do intemperismo de
rochas graníticas de 2700 milhões de anos, sendo que os seus teores de urânio po-
dem variar entre 5 a 10 ppm (DOMINGUEZ, 1993).
Tabela 3: Atividade específica média dos radionuclídeos naturais presentes nas a-
mostras de solo natural (base seca)
Solo Argi-
loso
Solo Are-
noso
Valor Certi-
ficado IAE-
A/Soil-7
Valor Expe-
rimental
Atividade
mínima de-
tectávelRadionuclídeo
(Bq.kg-1) (Bq.kg-1) (Bq.kg-1) (Bq.kg-1) (Bq.kg-1)
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.89
238U 150 ± 25 < 50 65 ± 14 54,11 ± 0.02 50
232Th 117 ± 3 36 ± 1 33 ± 1 34,1 ± 0.1 30
226Ra 69 ± 5 < 20 NR NR 20
228Ra 114 ± 5 34 ± 2 NR NR 7,0
210Pb 50 ± 8 20 ± 5 NR NR 20
210Po 43 ± 6 <13 NR NR 13
(NR= Não Reportado)
Fonte: Fonte: (JACOMINO,2008)
Para solos não adubados da região de Itu, SP, valores médios de atividade
específica da ordem de 20 Bq.kg-1 para o 238U e 52 Bq.kg-1 para o 232Th. Fausto et al
(1995).
Umisedo (2007) obteve valores de atividade específica de 238U variando de 42
a 121 Bq.kg-1, com valor médio igual a 71 ± 20 Bq.kg-1. Para o 232Th, foram encon-
trados valores variando de 37 a 119 Bq.kg-1, com valor médio igual a 70 ± 23 Bq.kg-
1. Os solos analisados por ele eram provenientes de dezoito chácaras localizadas
nos municípios de Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra e Suzano.
De acordo com a UNSCEAR (2000)- UNITED NATIONS SCIENTIFIC COM-
MITTEE ON THE EFFECTS OF ATOMIC RADIATION, a concentração média mun-
dial de 226Ra no solo varia de 17 a 60 Bq.kg-1 (média igual a 35 Bq.kg-1). Evidente-
mente, esse valor depende das características geológicas do local.
Concentração de radionuclídeos presentes nas amostras de solo adubadascom fosfogesso
Na Tabela 4 são mostrados os resultados da atividade específica média de
cada um dos radionuclídeos analisados nas misturas das amostras de solo aduba-
das com as massas recomendadas de fosfogesso (1 NG), o dobro (2 NG) e a meta-
de (0,5 NG) e da amostra de solo sem a adição de fosfogesso (solo não adubado).
Para cada condição foi considerado o valor médio das três repetições de cada expe-
rimento.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.90
Um dos poucos trabalhos sobre solos adubados com fosfogesso em uma re-
gião da Grécia (PAPASTEFANOU et al 2006) apresenta valores de atividade especí-
fica de 226Ra variando de 37 a 54 Bq.kg-1 (média 48 Bq.kg-1), valor esse, bem próxi-
mo àquele obtido para o solo argiloso no presente estudo.
Komosa et al. (2005) apresentam valores de 16 a 40 Bq.kg-1 e de 6 a 25
Bq.kg-1, respectivamente, para as atividades específicas 238U e 232Th em amostras
de solo coletadas na Polônia, os quais são semelhantes aos valores obtidos para o
solo arenoso.
De forma a avaliar a existência de diferenças estatisticamente significativas
entre as diversas faixas de doses de fosfogesso, para cada um dos radionuclídeos
analisados nas amostras de solo adubado, foi realizado o teste não paramétrico
Kruskal-Wallis. Esse teste avalia se conjuntos de dados representam a mesma po-
pulação, por meio da comparação de suas medianas, calculando um nível de signifi-
cância denominado “valor p”. Para o nível de confiança de 95%, existe diferença es-
tatisticamente significativa, sempre que o “valor p” for igual ou inferior a 0,05 (KLE-
INBAUM et al, 1998). Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 5.12.
Conforme pode ser verificado, todos os resultados apresentaram um “valor p”
superior a 0,05 indicando, portanto, que o conjunto de dados representa uma mes-
ma população. Conseqüentemente, pode-se considerar que a adição de fosfogesso,
para todas as doses utilizadas, não chegou a alterar a concentração dos radionuclí-
deos em comparação com a amostra de referência (dose igual a 0 NG).
Tabela 4: Atividade específica média dos radionuclídeos naturais presentes nas a-
mostras de solo adubadas com fosfogesso
Frações de
fosfogesso
238U
(Bq.kg-1)
232Th
(Bq.kg-1)
226Ra
(Bq.kg-1)
228Ra
(Bq.kg-1)
210Pb
(Bq.kg-1)
210Po
(Bq.kg-1)
Solo Argiloso0 NG 142 ± 14 109 ± 7 58 ± 9 104 ± 10 49 ± 26 39 ± 8
0,5 NG 133 ± 14 110 ± 12 55 ± 8 108 ± 12 47 ± 27 38 ± 9
1,0 NG 125 ± 14 116 ± 10 49 ± 8 108 ± 13 44 ± 34 34 ± 7
2,0 NG 142 ± 14 109 ± 8 57 ± 8 105 ± 10 47 ± 28 42 ± 8
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.91
Solo Arenoso0 NG < 50 30 ± 3 < 20 27 ± 5 < 30 < 11
0,5 NG < 50 31 ± 3 < 20 30 ± 10 < 30 < 11
1,0 NG < 50 30 ± 3 < 20 25 ± 9 < 30 < 11
2,0 NG < 50 31 ± 5 < 20 29 ± 10 < 30 < 11
Fonte: (JACOMINO,2008)
Tabela 5: Resultados do teste Kruskal-Wallis para as amostras de solo
Solo Argiloso comfosfogesso
Radionuclídeos
238U 232Th 226Ra 228Ra 210Pb 210Po
Valor p 0,468 0,086 0,448 0,691 0,624 0,077
n 12 12 12 12 12 12
Solo Arenoso comfosfogesso
Radionuclídeos
238U 232Th 226Ra 228Ra 210Pb 210Po
Valor p 0,817 0,183 0,297 0,668 0,627 0,875
n 12 12 12 12 12 12
(n = número de amostras.)Fonte: (JACOMINO, 2008)
5.3 CONCENTRAÇÃO DE RADIONUCLÍDEOS PRESENTES NAS AMOSTRASDE ALFACE, SOJA E MILHO
Nas tabelas 6 a 8 são apresentados os resultados, da atividade específica
média de cada um dos radionuclídeos naturais, presentes nas amostras de alface,
soja e milho cultivadas nas misturas de solo com as massas recomendadas de fos-
fogesso (1 NG), o dobro (2 NG) e a metade (0,5 NG) e da amostra de solo sem a
adição de fosfogesso (solo não adubado). Como pode ser verificado, não foram ob-
servadas diferenças significativas entre os valores de atividade específica levando-
se em conta as diferentes doses de fosfogesso utilizadas. A única exceção ficou por
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.92
conta das amostras de soja cultivadas em solo arenoso adubado com uma dose de
fosfogesso igual a 2 NG.
As concentrações obtidas no presente estudo são semelhantes às obtidas por
outros autores. Ribeiro (2004), por exemplo, mediu a concentração de radionuclí-
deos em alfaces cultivadas em solo brasileiro adubado com fertilizantes fosfatados e
encontrou valores variando de 0,32 a 2,77 Bq.kg-1 para o 226Ra; 0,13 a 7,5 Bq.kg-1
para o 228Ra e de 0,94 a
8,48 Bq.kg-1 para o 210Pb. Esses resultados indicam que o uso do resíduo fosfogesso
pode vir a concentrar menos radionuclídeos nas plantas que o próprio fertilizante
fosfatado.
Tabela 6: Atividade específica média dos radionuclídeos naturais presentes
nas amostras de alface (base seca).
Radionuclídeos238U
(Bq.kg-1)
232Th
(Bq.kg-1)
226Ra
(Bq.kg-1)
228Ra
(Bq.kg-1)
210Pb
(Bq.kg-
1)
210Po
(Bq.kg-1)
Solo Argiloso
0 NG0,223 +
0,030
0,2 ±
0,05< 3,6 < 8,0 < 8,0 3,0 ± 1,0
0,5 NG0,217 +
0,037< 0,07 2,0 ±1,0 1,5 ± 0,6 < 3,0 2,0 ± 0,6
1,0 NG0,118 +
0,025< 0,07 < 2,2 < 4,0 < 3,0 1,0 ± 0,6
2,0 NG0,145 +
0,0230,4 ± 0,2 2,0 ±1,0 < 2,0 < 3,0 2,0 ± 0,6
Solo Arenoso
0 NG0,156 +
0,0380,7 ± 0,2 < 2,0 < 6,4 < 7,0 3,0 ± 1,0
0,5 NG0,123 +
0,0310,5 ± 0,2 < 4,0 6,0 ± 2,0 < 4,0 < 1,0
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.93
1,0 NG0,126 +
0,030,6 ± 0,3 < 3,0 8,0 ± 3,0 < 3,0 1,3 ± 0,6
2,0 NG0,115 +
0,0240,7 ± 0,3 < 2,0 7,0 ± 2,0 < 5,0 1,5 ± 0,4
Fonte: (JACOMINO,2008)
.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.94
Tabela 7: Atividade específica média dos radionuclídeos naturais presentes nas a-
mostras de soja (base seca).
Radionuclídeos238U
(Bq.kg-1)
232Th
(Bq.kg-1)
226Ra
(Bq.kg-1)
228Ra
(Bq.kg-
1)
210Pb
(Bq.kg-1)
210Po
(Bq.kg-1)
Solo Argiloso
0 NG< 0,042
0,045 ±
0,012 6,0 ± 0,1
2,1 ±
0,3
2,1 ±
0,4 < 0,7
0,5 NG0,165 ±
0,018
0,805 ±
0,054 7,0 ± 0,1
4,0 ±
0,5
4,0 ±
0,5 < 0,7
1,0 NG<0,035
0,273 ±
0,028 11,0 ± 1,0
9,1 ±
0,9
9,1 ±
0,5 < 0,6
2,0 NG< 0,028
0,152 ±
0,018 6,0 ± 0,9
4,5 ±
0,5
4,5 ±
0,5 < 0,7
Solo Arenoso
0 NG0,065 ±
0,014
0,035 ±
0,011 4,2 ± 0,8
5,4 ±
0,7
4,2 ±
0,8 < 0,7
0,5 NG< 0,048
0,125 ±
0,021 4,0 ± 0,7
5,6 ±
0,7 <4,0 < 0,6
1,0 NG0,449 ±
0,031
0,193 ±
0,021 4,1 ± 0,7
7,9 ±
0,9 <4,0 < 0,7
2,0 NG2,58 ±
0,13
0,294 ±
0,039 6,0 ± 1,0
10 ±
1,0
4,8 ±
0,9 < 0,7
Fonte: (JACOMINO,2008)
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.95
Tabela 8. Atividade específica média dos radionuclídeos naturais presentes nas a-mostras de milho (base seca).
Radionuclídeos
238U
(Bq.kg-
1)
232Th
(Bq.kg-1)
226Ra
(Bq.kg-1)
228Ra
(Bq.kg-1)
210Pb
(Bq.kg-1)
210Po
(Bq.kg-1)
Solo Argiloso
0 NG< 0,011
0,038 ±
0,004 < 2,0 < 2,0 < 2,0< 0,3
0,5 NG< 0,019
0,036 ±
0,004 < 2,0 < 2,0 < 2,0< 0,3
1,0 NG< 0,010
0,083 ±
0,008 < 2,0 < 2,0 < 2,0< 0,3
2,0 NG < 0,010 < 0,005 < 2,0 < 2,0 < 2,0 < 0,3
Solo Arenoso
0 NG < 0,009 < 0,005 < 2,0 < 2,0 < 2,0 < 0,3
0,5 NG< 0,010
0,013 ±
0,003 < 2,0 < 2,0 < 2,0< 0,3
1,0 NG< 0,009
0,079 ±
0,008 < 2,0 < 2,0 < 2,0< 0,3
2,0 NG < 0,013 < 0,007 < 2,0 < 2,0 < 2,0 < 0,3
Fonte: (JACOMINO,2008)
5.4 ESTIMATIVA DOS FATORES DE TRANSFERÊNCIA
A absorção de radionuclídeos pelos vegetais é descrita pelo fator de transferência
(FT), o qual é definido como sendo a razão entre as concentrações de
radionuclídeos na planta e as concentrações no solo, expressas em Bq.kg-1, dos
respectivos pesos secos (IUR, 1989).
A literatura demonstra que para o mesmo tipo de solo, para a mesma espécie
vegetal e para um mesmo radionuclídeo, os valores de FT variam, inclusive em
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.96
ordem de magnitude (FRISSEL et al 2002; TWINING et al, 2004; AMARAL, 2005;
CARINI et al, 2005; CHEN et al, 2005, GREEN et al, 2005). Essa grande
variabilidade indica que existe uma baixa relação direta entre a concentração de um
radionuclídeo no solo e na planta, e a razão para a tal variabilidade de FT é óbvia.
Como citado anteriormente, os fatores que influenciam a absorção dos elementos
pelas raízes somam-se um número de processos relacionados à química, biologia e
física do solo, à heterogeneidade do solo, à hidrogeologia e à fisiologia vegetal, e às
atividades humanas, como a agricultura (HANLON, 1991). No entanto, embora
questionável, o FT é até o presente o parâmetro utilizado para estimar a
transferência de um nuclídeo do solo para planta (RIBEIRO, 2004).
De uma maneira geral, os resultados de atividade média específica dos radionuclí-
deos analisados apresentaram valores menores que a atividade mínima detectável,
conforme descrito abaixo.
Amostras de solo adubado com fosfogesso
238U , 226Ra, 210Pb e 210Po (as amostras de solo arenoso adubadas com dose
de fosfogesso iguais a 0,5 NG e 1,0 NG).
Amostras de alface
232Th (amostras cultivadas em solo argiloso adubado com doses de
fosfogesso iguais a 0,5 NG e 1,0 NG);
226Ra (amostras cultivadas em solo argiloso adubado com doses de
fosfogesso iguais a 0 NG e 1,0 NG e para todas cultivadas em solo arenoso
adubado com doses de fosfogesso iguais a 0 NG; 0,5 NG; 1,0 NG e 2,0 NG);
228Ra (amostras cultivadas em solo argiloso adubado com doses de
fosfogesso iguais a 0 NG; 1,0 NG e 2,0 NG) e para as amostras cultivadas em solo
arenoso adubado com uma dose de fosfogesso igual a 0 NG)
210Pb (amostras ccultivadas em solos argiloso e arenoso adubados com do-
ses de fosfogesso iguais a 0NG; 0,5 NG; 1,0 NG e 2,0 NG);
210Po (amostras cultivadas em solo arenoso adubado com uma dose de fos-
fogesso igual 0,5 NG).
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.97
Amostras de milho
238U, 226Ra, 228Ra,210Pb e 210Po (amostras cultivadas em solos argiloso e
arenoso adubados com doses de fosfogesso iguais a 0 NG, 0,5 NG; 1,0 NG e 2,0
NG);
232Th (amostras cultivadas em solo argiloso adubado com doses de
fosfogesso iguais a 0,5 NG e 1,0 NG).
Amostras de soja
238U (amostras cultivadas em solo argiloso adubado com doses de fosfogesso
iguais a 0 NG; 1,0 NG e 2,0 NG e para as amostras cultivadas em solo arenoso
adubado com uma dose de fosfogesso igual a 0,5 NG);
210Pb (amostras cultivadas em solo arenoso adubado com doses de fosfoges-
so iguais a 0,5 NG e 1,0 NG);
210Po (amostras cultivadas em solos argiloso e arenoso adubados com doses
de fosfogesso iguais a 0 NG; 1,0 NG e 2,0 NG).
Fonte: (JACOMINO,2008)
Desta forma foram calculados os FT dos radionuclídeos para aquelas condições em
que a atividade específica estava acima da AMD. Nesse caso, foram utilizados os
valores médios de atividade específica obtidos para cada caso. Os resultados
encontrados são apresentados na Tabela 9.
Nas figuras 2 a 4 são mostradas o comportamento das ativdades específicas obtidas
em cada compartimento de interesse (solo, planta e água). Como pode ser
verificado praticamente todos os radionuclídeos permanecem no solo, não
ocorrendo a transferência no sistema solo-planta-água.
É interessante notar que os maiores valores obtidos são aqueles correspondentes
aos isótopos de rádio, nas plantações de alface e soja. Vale ressaltar que a
demanda por Ca dessas plantas é maior e que o Ra tem um comportamento
químico e, possivelmente, metabólico semelhante ao Ca. Além disso, a soja é um
planta fixadora de N atmosférico e, como tal, sua absorção de nitrato é limitada. Isso
causa um "desbalanço" na relação cátions/ânions absorvidos, o que é compensado
pela extrusão de prótons (H+) acidificando a rizosfera. Como conseqüência, aumenta
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.98
a solubilidade de vários metais nas região próxima ao sistema radicular o que
facilita a absorção destes metais pela planta.
Os resultados mostram uma tendência em se ter um FT maior para os experimentos
em solo arenoso. Haja vistao que o solo arenoso com uma baixa concentração de
matéria orgânica e baixa CTC possui baixa capacidade em reter os radionuclídeos
disponibilizando-os, portanto, com maior facilidade para as plantas.
Portilho (2005) em estudo sobre o fator de transferência de radionuclídeos no
sistema solo-planta verificou que os solos com maior teor de matéria orgânica
apresentaram os menores valores de fator de transferência (FT). Nota-se que os
solos estudados apresentaram valores de FT mais elevados que aqueles obtidos em
solos de clima temperado para a mesma cultura, de acordo com levantamento
realizado pela IUR (1989), superando-os em alguns casos em uma ordem de
grandeza.
A tendência de valores de FT mais elevados para solos brasileiros do que solos de
clima temperado tem sido observada também para outras culturas em trabalhos
realizados por Wasserman e Belém (1996) e Wasserman et al. (2001). Tais
resultados podem ser explicados pelo fato dos solos de clima tropicais serem mais
lixiviados e pobres em matéria orgânica, resultando em uma menor capacidade de
retenção de elementos no solo, promovendo maior mobilidade dos elementos para
as plantas e, portanto, a elevação dos valores de FT.
Ribeiro (2004) utilizando fertilizantes fosfatados em solos oriundos de diferentes
regiões do Brasil, encontrou fatores de transferência solo-planta de 0,02 para 226Ra
e 0,03 para 228Ra na cultura do feijão, e 0,03 para 226Ra e de 0,04 para 228Ra na
cultura da alface. Na cultura da cenoura, o fator de transferência de 226Ra foi de
0,06. Valores esses da mesma ordem de grandeza que os encontrados no presente
estudo. Como já mencionado, nos experimentos realizados por Ribeiro (2004), os
solos foram adubados com fertilizantes fosfatados e não com fosfogesso.
Os resultados obtidos no presente estudo indicam que, de uma maneira geral, a
mobilidade dos radionuclídeos em ambos os solos estudados foi baixa. Deve ser
salientado que o processo envolvendo a mobilidade de radionuclídeos no solo é
muito complexo e depende de vários fatores que descrevem as características
físicas, químicas e biológicas do solo, tais como pH, granulometria, composição
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.99
mineralógica, conteúdo de matéria orgânica, retenção mecânica, entre outros.
Quando presentes no solo, os radionuclídeos podem formar complexos com a
matéria orgânica, a qual possui elevado poder de adsorção de íons. Tal
complexação possui uma grande influência na mobilidade desses elementos no
perfil do solo.
Outros fatores que podem afetar a mobilidades dos radionuclídeos no solo são: o
fluxo de água no solo e o intervalo de tempo em que cada experimento é realizado
(JACQUES et al., 2005; GOLMAKANI, 2008). O fluxo de água é um aspecto muito
importante, mas pouco investigado, e tal condição (velocidade e tempo de fluxo)
induz mudanças nas condições geoquímicas do solo que podem influenciar de forma
significativa a mobilidade de radionuclídeos e metais no solo. Jacques et al (2005),
utilizando modelo computacional para estudo sobre a mobilidade de radionuclídeos
em solo adubado com fertilizante fosfatado, observou que um intervalo de tempo
correspondente a 30 anos consecutivos de simulação não foi suficiente para se
chegar a uma conclusão sobre os efeitos da lixiviação dos radionuclídeos e metais.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.100
Tabela 9: Fatores de transferência sistema solo-planta (expressos em kg.kg-1)
Alface
Doses de fos-fogesso
238U 232Th 226Ra 228Ra 210Pb 210Po
Solo Argiloso
0NG1,6 E-03
1,8E-03 - - -7,7E-
02
0,5NG1,6 E-03
- 3,6 E-02 1,4E-02 -5,3E-
02
1NG9,4 E-04
- - -2,9E-
02
2NG1,0 E-03
3,E-03 3,6 10-2 - -4,8E-
02
Solo Arenoso
0NG - 2,3E-02 - - - -
0,5NG - 1,6E-02 - 2,0E-01 - -
1NG - 2,0E-02 - 3,2E-01 - -
2NG - 2,3E-02 - 2,4E-01 - -
Soja
Solo Argiloso
0NG - 4,1E-04 1,0E-01 2,0E-02 8,6E-02 -
0,5NG - 7,3E-03 1,3E-01 3,7E-02 9,8E-02 -
1NG 1,3E-03 2,4E-03 2,2E-01 8,4E-02 9,3E-02 -
2NG - 1,4E-03 1,1E-01 4,3E-02 8,5E-02 -
Solo Arenoso
Doses de fos-238U 232Th 226Ra 228Ra 210Pb 210Po
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.101
fogesso
0NG - 1,2E-03 2,0E-01 - -
0,5NG - 4,0E-03 1,9E-01 - -
1NG - 6,4E-03 3,2E-01 - -
2NG - 9,5E-03 3,4E-01 - -
Milho
Solo Argiloso
0NG - 3,49E-04 - - - -
0,5NG - 3,27E-04 - - - -
1NG - 7,16E-04 - - - -
2NG - - - - - -
3,49E-04
Solo Arenoso
0NG - - - - - -
0,5NG - 4,19E-04 - - - -
1NG - 2,63E-03 - - - -
2NG - - - - - -
Fonte: (JACOMINO,2008)
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.102
Transferência solo argiloso - milho água percolada
0 50 100 150
U-238
Th-232
Ra-226
Ra-228
Pb-210
Po-210R
adio
nucl
ídeo
s
Concentração (Bq/kg)
águamilhosolo
Transferência solo arenoso - milho - água percolada
0 10 20 30 40
U-238
Th-232
Ra-226
Ra-228
Pb-210
Po-210
Rad
ionu
clíd
eos
Concentração (Bq/kg)
águamilhosolo
Figura 2: Comportamento da transferência de radionuclídeos no sistema
solo – planta (milho) – água.
Fonte: (JACOMINO,2008)
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.103
Tranferência solo argiloso - soja - água percolada
0 50 100 150
U-238
Th-232
Ra-226
Ra-228
Pb-210
Po-210
Rad
ionu
clíd
eos
Concentração (Bq/kg)
águasojasolo
Transferência solo arenoso - soja - água percolada
0 10 20 30 40
U-238
Th-232
Ra-226
Ra-228
Pb-210
Po-210
Rad
ionu
clíd
eos
Concentração (Bq/kg)
águasojasolo
Figura 3: Comportamento da transferência de radionuclídeos no
sistema solo – planta (soja) – água.
Fonte: (JACOMINO,2008)
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.104
Figura 4: Comportamento da transferência de radionuclídeos
No sistema solo – planta (alface) – água.
Fonte: (JACOMINO,2008)
Transferência solo argiloso - alface - água
0 20 40 60 80 100 120 140 160
238U
232Th
226Ra
228Ra
210Pb
210Po
Rad
ionu
clíd
eos
Concentração (Bq/kg)
águaalfacesolo
Transferência solo arenoso - alface- água
0 50 100 150
238U
232Th
226Ra
228Ra
210Pb
210Po
Rad
ionu
clíd
eos
Concentração (Bq/kg)
águaalfacesolo
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.105
ESTIMATIVA DA DOSE
Para estimar a contribuição anual à dose efetiva comprometida, decorrente da inges-
tão crônica das culturas analisadas neste trabalho, inicialmente, foi realizada uma
pesquisa para conhecer a quantidade consumida por um indivíduo da população em
questão. No Brasil, essa informação é fornecida pela POF (Pesquisa de Orçamentos
Familiares) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Neste trabalho
foram utilizados dados do último censo de 2002/2003 (IBGE, 2003).
Além disso, é necessário ter disponível os valores das doses efetivas comprometida
por unidade de incorporação por ingestão para membros do público (Sv Bq-1) para
cada um dos radionuclídeos, os quais são estimados a partir de modelos biocinéti-
cos e dosimétricos de incorporação de radionuclídeos (ICRP, 1996; CNEN, 2005).
No presente estudo foi feita a estimativa da dose equivalente efetiva anual conside-
rando apenas os maiores valores de atividade específica média de cada radionuclí-
deo cujos resultados finais apresentaram-se superiores à AMD.
Os resultados da atividade ingerida anual e da dose equivalente efetiva anual para
membros do público com idade superior a 17 anos são apresentados na Tabela 10.
Nessa tabela também se encontram relacionados os valores adotados de dose efeti-
va comprometida por unidade de incorporação por ingestão para cada um dos ra-
dionuclídeos de interesse e da atividade específica média das amostras de alface,
soja e milho.
Este resultado demonstra que para as condições simuladas no presente estudo, não
haveria restrição, do ponto de vista de proteção radiológica do uso do fosfogesso na
agricultura.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.106
Tabela 10: Resultados da dose efetiva comprometida anual
Culturas Alface Soja Milho
Consumo Per Capita
Consume no estado de
Minas Gerais (kg/ano)
0,822 0,425 10,62
Radionuclides Dose Efetiva Comprometida
(mSv/ano)
U-238 - 8,6e-06 -
Th-232 1,3e-04 2,7e-05 2,0e-04
Ra-226 - 1,1e-03 -
Ra-228 4,8e-03 3,2e-03 -
Pb-210 - 1,2e-03 -
Po-210 1,5e-03 -
Dose total por tipo de cul-
tura
(mSv/ano)
6,4e-03 5,5e-03 2,0e-04
Dose Total (mSv/ano) 0,012
Fonte: (JACOMINO,2008)
A dose efetiva comprometida determinada ficou muito abaixo do limite de0,3
mSv.ano-1 da ICRP (1991), para o público em geral. Evidentemente, esse resultado
deve-se apenas à pequena fração que a alface representa na dieta diária típica. E-
xistem muitos outros alimentos que não foram analisados e, portanto, não foram
considerados no cálculo da dose, apesar de serem consumidos de forma significati-
va pela população brasileira. Mesmo assim, pode-se inferir que a aplicação do fos-
fogesso, tanto no solo argiloso, como arenoso, não resultou em um aumento da ex-
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.107
posição do homem à radioatividade natural para as condições experimentais consi-
deradas no presente estudo.
5.4 ESTIMATIVA DO RISCO DECORRENTE DO CONSUMO DE ALIMENTOS
Quociente de Perigo não Carcinogênico (HQ)
O HQ assume que existe um nível de exposição (RfD) abaixo do qual provavelmente
não ocorrem efeitos adversos a saúde de populações ou indivíduos expostos a uma
concentração de um composto químico de interesse.
Se o nível de exposição quantificado para um cenário de exposição excede a RfD,
ou seja, HQ > 1existe um perigo de ocorrência de efeitos não carcinogênicos adver-
sos a saúde humana.
HQ é definido matematicamente como sendo (EPA, 1989):
RfDI
i
nHQ (1)
Sendo,
HQ: o quociente de perigo não carcinogêncio
I (mg/kg-dia): dose de ingresso para o cenário de exposição “n”
RfD (mg/kg-dia): dose de referência para a via de ingresso “i”. Esse é uma parâme-
tro toxicológico usado freqüentemente para avaliar efeitos não carcinogênicos resul-
tantes de um evento de exposição.
A dose de ingresso para ingestão de alimentos é calculada de acordo com a relação:
(2)
Fonte: (EPA, 1989)
Sendo:
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.108
I (mg/kg.dia )= Dose de ingresso decorrente da ingestão de alimento contaminado
Cs (mg/kg) = Concentração do contaminante no alimento
IR (mg/dia) = taxa de ingestão do alimento
FI (adimensional) = fração ingerida da fonte (0,50). Nesse caso, foi assumido que
50% dos alimentos consumidos (alface, soja e milho) foram plantados em solos a-
dubados com fosfogesso nas mesmas proporções adotadas no presente trabalho
EF (dias/ano) = Freqüência de exposição (365 dias/ano)
ED (anos) = duração da exposição (70 anos)
CF (10-6 kg/mg)= fator de conversão
BW (kg) = peso corpóreo (60 kg para adulto)
AT (dias) = período de exposição (365 dias/ano* 70 anos = 25.550 dias)
Nas tabelas 11 e 12 são apresentados os resultados dos quocientes de perigo de
cada um dos elementos de interesse para os solos argiloso e arenoso, respectiva-
mente. Todas as estimativas foram feitas com base no valor médio da concentração
e no consumo diário no estado de Minas Gerais de cada um das culturas analisadas
(IBGE, 2003). Além disso, foram consideradas as doses de referência para a via de
ingresso “ingestão” (RfD) recomendadas pela Agência Ambiental dos Estados Uni-
dos (EPA,2005). Os fatores de exposição foram obtidos da EPA (1997). Como po-
de ser verificado, os quocientes de perigo (HQ), para todos os elementos considera-
dos (Cd, Pb, Cr, Ni, Hg, As e Se), apresentaram valores inferiores a 1 indicando, por-
tanto, que não existe um perigo de ocorrência de efeitos não carcinogênicos adver-
sos a saúde humana em virtude da ingestão das plantas cultivadas em solos areno-
so e argiloso adubados com fosfogesso.
Quantificação do Risco Carcinogênico
Para compostos químicos que gerem efeitos carcinogênicos, o risco é estimado a
partir do fator de carcinogenicidade (SF), como um incremento da probabilidade de
um indivíduo desenvolver câncer ao longo do tempo de sua vida, como resultado de
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.109
um evento de exposição a um composto químico de interesse que potencialmente
gere câncer
Neste caso, a estimativa do risco carcinogênico é dada pela relação:
Risco = In x SF (3)
Sendo:
In (mg/kg-dia): dose de ingresso para o cenário de exposição “n”; a qual é obtida a
partir da equação 2, com a única diferença que neste caso, a duração da exposição
(ED) é igual a 30 anos.
SF: (1/mg/kg-dia): fator de carcinogenicidade.
De acordo com a EPA (2005), de todos os elementos químicos analisados no pre-
sente estudo, o único considerado carcinogênico devido à exposição oral é o Arsê-
nio. O seu fator de carcinogenicidade oral (SForal) é igual a 1,5/(mg/kg.dia) (EPA,
2005).
A dose de ingresso total (In), levando-se em conta o valor médio da concentração e o
consumo diário no estado de Minas Gerais de todas as culturas analisadas (IBGE,
2003), é de 2,0E-06 mg/kg.dia para o solo argiloso e 1,5E-06 mg/kg.dia, para o solo
arenoso. Isto equivale a um risco carcinogênico de 2,0E-06 (~ 2 novos casos por
milhão de habitantes) 2,6E-06 (~ 3 novos casos por milhão de habitantes) para os
solos argiloso e arenoso, respectivamente.
As estimativas do Instituto Nacional do câncer (INCA, 2008) para o ano de 2008,
válidas também para o ano de 2009, apontam para a ocorrência de 466.730 novos
casos câncer. Levando-se em conta uma população 191.869.683 (IBGE, 2004), isto
equivale a uma taxa de aproximadamente 2,4 novos casos a cada 1000 habitantes
(0,0024 novos casos). Portanto, o consumo dos alimentos cultivados com fosfoges-
so irá levar a um acréscimo de 0,0024020 (solo arenoso) e 0,0024026 (solo argiloso)
novos casos de câncer, valores esses, não significativos.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 74-122, abr./set. 2012.110
Tabela 11: Resultados do quociente de perigo – solo argiloso adubado com fos-
fogesso.
Culturas Alface Soja Milho
Consumo Per Capi-
ta Consume no es-
tado de Minas Ge-
rais (mg/dia) (1)
2300 1200 29.100
Elementos
Químicos
Dose
Refe-
rência(2)
(mg/kg-
dia)
Valor
Médio
de Con-
centra-
ção
(mg/kg)
Dose de
ingresso
para
ingestão
(mg/kg-
dia)
HQ Valor
Médio
de Con-
centra-
ção
(mg/kg)
Dose de
ingresso
para
ingestão
(mg/kg-
dia)
HQ Valor
Médio
de Con-
centra-
ção
(mg/kg)
Dose de
ingresso
para
ingestão
(mg/kg-
dia)
HQ
Cd 1,0E-
03
0,09 1,71E-
05
0,02 0,0051 5,10E-
07
0,001 0,0017 4,13E-
06
0,004
Pb 4,0E-
03
- - - 0,034 3,40E-
06
0,001 - - -
Cr 3,0E-
03
- - - 0,2 2,00E-
05
0,007 2,8 7,29E-
04
0,24
Ni 2,0E-
02
- - - 3,1 3,10E-
04
0,02 - - -
Hg 7,1E-
04
- - - - - - - - -
As 3,0E-
04
0,41 7,90E-
05
0,26 - - - - - -
Se 5,0E-
03
0,65 1,20E-
04
0,02 - - - - - -
(1)IBGE, 2003
(2)EPA, 2005, WHO/FAO, 2003.
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TABELA 12: RESULTADOS DO QUOCIENTE DE PERIGO – SOLO ARENOSOADUBADO COM FOSFOGESSO. (JACOMINO, 2008)
Culturas Alface Soja Milho
Consumo
Per Capita
Consume no
estado de
Minas Gerais
(mg/dia) (1)
2300 1200 29.100
E-
lem
ento
s
Quí-
mi-
cos
Dose
Refe-
rência(2)
(mg/k
g-dia)
Valor
Médio
de
Con-
cen-
tração
(mg/k
g)
Dose
de
in-
gresso
para
inges-
tão
(mg/k
g-dia)
HQ Valor
Médio
de
Con-
cen-
tração
(mg/k
g)
Dose
de
in-
gresso
para
inges-
tão
(mg/k
g-dia)
HQ Valor
Médio
de
Con-
cen-
tração
(mg/k
g)
Dose
de
in-
gresso
para
inges-
tão
(mg/k
g-dia)
HQ
Cd 1,0E-
03
0,09 1,7E-
05
0,0
2
0,014 1,4E-
06
0,00
1
- - -
Pb 4,0E-
03
- - - 0,052 5,2E-
06
0,00
1
- - -
Cr 3,0E-
03
- - - 0,25 2,5E-
05
0,00
8
0,22 5,3E-
04
0,2
0Ni 2,0E-
02
- - - 2,6 2,6E-
04
0,01
3
- - -
Hg 7,1E-
04
- - - - - - - - -
As 3,0E-
04
0,34 6,5E-
05
0,2
2
- - - - - -
Se 5,0E-
03
- - - - - - - - -(1)IBGE, 2003
(2)EPA, 2005, WHO/FAO, 2003.
6 CONCLUSÕES
DE acordo com a Norma ABNT NBR 10004:2004, o fosfogesso é classifi-
cado como um resíduo Classe II A, não perigoso. Os resultados das análises para
determinação da concentração de radionucídeos naturais nas amostras de fosfoges-
so indicaram que a atividade específica média do 226Ra (252 Bq.kg-1) no fosfogesso
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ficou abaixo do limite recomendado pela Agência Ambiental Americana (EPA, 1988)
para uso do fosfogesso na agricultura, cujo valor é igual a 370 Bq.kg-1.
Apesar de não existirem limites recomendados pela Agência Ambiental
Americana (EPA,1988) para o 238U, 232Th, 228Ra, 210Pb e 210Po, tais elementos foram
considerados neste estudo devido à sua toxicidade para sistemas biológicos, além
de serem uma importante fonte potencial de contaminante ambiental. Em geral, o
fosfogesso analisado apresentou valores de atividade específica para o 228Ra, 210Pb
e 210Po da mesma ordem de grandeza que aquela observada para o 226Ra. Por outro
lado, as atividades específicas do 238U e o 232Th ficaram bem abaixo da atividade do226Ra. Esse comportamento já era esperado, uma vez que, após a digestão da ro-
cha, em instalações que utilizam o processo por via úmida para a produção de fertili-
zantes, o equilíbrio é quebrado, havendo uma redistribuição dos radionuclídeos. A-
proximadamente 86% do 238U e 70% do 232Th vão para o fertilizante, enquanto que
80% do 226Ra, 228Ra e 210Pb vão para o fosfogesso.
De uma maneira geral, o fosfogesso apresentou valores de atividade es-
pecífica média para os radionuclídeos considerados (238U, 232Th, 226Ra, 228Ra, 210Pb
e 210Po) próximos aos valores encontrados na literatura.
A atividade específica de cada um dos radionuclídeos de interesse pre-
sentes nas amostras de solo argiloso é bem superior à obtida para o solo arenoso.
Tal fato pode ser explicado pelas características mineralógicas dos solos argilosos,
os quais possuem uma maior capacidade de retenção de íons em sua superfície,
haja vista possuirem maior teor de matéria orgânica e área superficial.
Resultados esperados
Um dos objetivos do presente estudo foi o de avaliar se o uso do fosfo-
gesso como corretivo da acidez de solos contribui para um aumento significativo da
concentração de radionuclídeos nas plantas e, conseqüentemente, para um au-
mento da exposição dos consumidores à radioatividade natural.
Para tanto, as análises estatísticas (teste não paramétrico Kruskal-Wallis)
(KLEINBAUM et al, 1998) mostraram que a adição de fosfogesso nos solos nas
várias doses efetuadas não chegou a alterar a concentração dos radionuclídeos
nesses solos a níveis considerados estatisticamente relevantes.
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A água percolada apresentou valores de atividade e concentração média
abaixo dos limites mínimos de detecção para todas as culturas analisadas.
O outro objetivo do presente estudo visava compreender os mecanismos
de transferência de radionuclídeos naturais no sistema solo/planta , suprir informa-
ções a respeito de avaliação de risco radiológico, por meio do levantamento de va-
lores dos radionuclídeos encontrados em solo e planta.
De uma maneira geral, os resultados obtidos no presente estudo indica-
ram que a mobilidade dos radionuclídeos em ambos os solos estudados foi baixa.
A dose efetiva comprometida determinada no presente trabalho ficou mui-
to abaixo do limite de 1 mSv.ano-1 da ICRP (1991) para o público em geral indican-
do, portanto, que a aplicação do fosfogesso não resultou em um aumento significati-
vo da exposição do homem à radioatividade natural, nas condições experimentais do
presente trabalho.
Viabilidade da Proposta:
Os dados levantados neste trabalho demonstram a viabilidade do uso do
fosfogesso na agricultura. Estas informações poderão contribuir não apenas para o
uso seguro e sustentável de um resíduo tipo NORM na agricultura, mas também pa-
ra a geração de oportunidades para micro e pequenas empresas da cadeia produti-
va envolvidas na sua comercialização, distribuição e aplicação e para a minimização
dos impactos ambientais decorrentes de sua disposição em pilhas, no próprio local
em que ele é gerado.
Propostas de melhoria da realidade encontrada:
Como descrito anteriormente, a pesquisa visando o desenvolvimento de
possíveis usos do fosfogesso, torna-se cada vez mais importante, tanto do ponto de
vista econômico, como tecnológico e ambiental, uma vez que este pode ser conside-
rado como um rejeito abundante, de baixo custo e cujo aproveitamento evitaria o
comprometimento ambiental de grandes áreas onde este produto é armazenado.
Além disso, o seu reaproveitamento contribuiria para a preservação de reservas de
gesso natural, garantindo assim, um dos princípios básicos do desenvolvimento sus-
tentável, ou seja, a preservação de recursos naturais para as gerações futuras.
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Desta forma, o presente estudo demonstrou que o uso do fosfogesso na
agicultura é viável e ambientalmente sustentável, pois os radionuclídeos presentes
no fosfogesso não contribuiram significativamente para um aumento nas concentra-
ções do solo e das plantas.
Considerações finais
Por fim, vale salientar que o trabalho de WASSERMAN et al (2002) de-
monstrou que as características dos Latossolos, tais como, acidez, baixo conteúdo
em matéria orgânica, baixa disponibilidade de nutrientes como o cálcio e o potássio
e a presença de minerais como a caulinita e a gibsita, influenciam os processos de
transferência de radionuclídeos no sistema solo – planta. Conseqüentemente, o es-
tudo do processo de transferência de material radioativo do solo para as plantas é o
passo inicial para propor e avaliar medidas de proteção radiológica ambiental, princi-
palmente devido à complexidade física, química e biológica de diferentes cenários.
Desta forma, dever ser recomendado um estudo específico para cada ce-
nário no qual será utilizado o fosfogesso, com o objetivo de subsidiar a tomada de
decisão sobre o seu uso, com base no conhecimento de algumas características
químicas e na textura do solo das camadas sub-superficiais.
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INTRODUÇÃO DE RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE COMO FORMA DEMELHORIA NO CONTROLE DAS ORGANIZAÇÕES
Bruna Campos Bernardo*Jairo Afonso Henkes**
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo desenvolver uma proposta de relatórios de susten-
tabilidade para a implantação nas organizações, como uma forma de contribuir com
a gestão ambiental incorporando-os aos controles internos e externos já existentes
nas empresas. A caracterização do estudo deste trabalho foi uma pesquisa na forma
de um estudo de caso exploratório, onde foram analisadas duas empresas a nível
nacional, uma no setor alimentício (BUNGE) e a outra na área de papel e celulose
(SUZANO). A pesquisa visa incentivar as organizações na elaboração dos relatórios
de sustentabilidade, os quais colaboram o com o desenvolvimento sustentável do
meio empresarial. A proposta do trabalho foi feita a partir da seleção de 17 indicado-
res de desempenho ambiental, propostos na Cartilha GRI. Indicadores estes, consi-
derados na presente pesquisa como essenciais para a identificação dos aspectos
ambientais das organizações.
Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável; Relatório de Sustentabili-
dade; Indicadores Ambientais.
___________________________________________________________________
* Engenheira Ambiental. Acadêmica do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental – UnisulVirtual. E-mail: bruna.bernardo@unisul.br; bruninha_cb@hotmail.com** Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Gradua-ção em Gestão Ambiental da Unisul. Mestre em Agroecossistemas. Especialista em AdministraçãoRural. E-mail: jairo.henkes@unisul.br
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1 INTRODUÇÃO
Segundo WWF (2010), o desenvolvimento sustentável tem como objetivo
“satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gera-
ções futuras de suprir suas próprias necessidades”. Como forças fundamentais na
sociedade, as organizações de todos os tipos têm um papel importante a desempe-
nhar em seu alcance.
A elaboração dos relatórios de sustentabilidade é uma prática que visa à
medição, divulgação e a prestação de contas para stakeholders internos e externos
do desempenho da organização visando o desenvolvimento sustentável. “Relatório
de sustentabilidade” é um termo amplo considerado sinônimo de outros relatórios
cujo objetivo é descrever os impactos econômicos, ambientais e sociais de uma or-
ganização.
O Relatório de sustentabilidade deve ser um documento que ofereça uma
descrição equilibrada, sensata do desempenho da organização relatora, onde de-
vem ser incluídas informações tanto positivas como negativas (GRI, 2006).
Tendo em vista esse conceito, este trabalho tem como objetivo desenvol-
ver uma proposta de relatórios de sustentabilidade para a implantação nas organiza-
ções, como uma forma de contribuir com a gestão ambiental incorporando-os aos
controles internos e externos já existentes nas empresas.
2 TEMA
Questões ambientais, como a degradação de recursos naturais e da biodiver-
sidade, vêm impondo às sociedades sua participação em busca de novas formas de
pensar e agir, através de caminhos e modelos de produção, os quais possam suprir
as necessidades humanas e as relações sociais, garantindo o equilíbrio entre ho-
mem e natureza.
Nesse contexto, as organizações, tornam-se peças fundamentais na busca
desenvolvimento da sustentabilidade, diante dos impactos causados pelas suas ati-
vidades ao patrimônio natural. Segundo WWF (2010), o desenvolvimento sustentá-
vel tem como objetivo “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a
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capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Conceito
este criado pela Organização das Nações Unidas – ONU, com o intuito de harmoni-
zar as questões envolvendo conservação ambiental e desenvolvimento econômico.
Entretanto, o principal desafio do desenvolvimento sustentável é exatamente
a exigência das escolhas e formas de pensar inovadoras. As organizações encon-
tram-se cada vez mais desafiadas, pelos novos conhecimentos e inovações em tec-
nologia, gestão e políticas públicas, tendo as mesmas que se adaptar e tomar medi-
das em relação ao impacto de suas operações, produtos, serviços e atividades en-
volvendo a economia, as pessoas e o planeta (GRI, 2006).
Tendo em vista a magnitude dos riscos e os impactos econômicos, ambien-
tais e sociais, os stakeholders1 estão cada vez mais interessados na atuação das
organizações nesse meio, tornando necessária a comunicação por parte das organi-
zações de forma clara e coerente no seu envolvimento, aumentando assim a rele-
vância mundial dos relatórios de sustentabilidade ou balanços sociais (CASTRO et
al, 2009). A transparência de informações de sustentabilidade das atividades organi-
zacionais só traz benefícios e status para as empresas, além do interesse de dife-
rentes públicos, como mercado, trabalhadores, investidores, contadores, ONGS (or-
ganizações não governamentais), dentre outros.
Foi em busca de fornecer às organizações, uma ferramenta para a geração
de relatórios de sustentabilidade confiáveis, completos, consistentes e padronizados
internacionalmente que a Global Reporting Initiative (GRI) 2criou o modelo de estru-
tura de relatórios (Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade – G3), sendo consi-
derado atualmente o mais completo e difundido no mundo inteiro. Essa iniciativa e-
xiste desde 1997.
Esses relatórios têm como principal objetivo descrever de uma forma equili-
brada o desempenho de sustentabilidade e os aspectos tanto positivos quanto nega-
tivos dos impactos econômicos, ambientais e sociais (triple bottom line), de organi-
zações de qualquer porte, setor ou localização geográfica, de maneira periódica,
podendo ser impresso ou publicado na internet, separado ou como parte do relatório
anual financeiro da empresa (ETHOS, 2007).
1 Stakeholders (partes interessadas): são definidos como as organizações ou qualquer indivíduo que possa afetara empresa por meio de suas opiniões ou ações, ou ser por ela afetado (ETHOS, 2010)
2 GRI: Organização Internacional criada com o objetivo de desenvolver e aprimorar diretrizes para elaboração derelatórios de sustentabilidade, tendo em vista a padronização mundial dos relatórios.
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De acordo com os dados dos gráficos 1 e 2, apresentados a seguir, o numero
das organizações que vem aderido às diretrizes da GRI, aumentou de 30 para 1000,
entre os anos de 2000 a 2006.
Gráfico 1: Crescimento do uso das Diretrizes da GRI no mundo (2000- 2006)3
Fonte: ETHOS, 2007.
Gráfico 2: Crescimento do uso das Diretrizes da GRI no Brasil (2003- 2006)
3 Dados referentes apenas as organizações que declaram o uso das Diretrizes da GRI para a elaboração dos seusrelatórios de sustentabilidade.
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Fonte: ETHOS, 2007
As diretrizes para a Elaboração de Relatórios de Sustentabilidade englobam
os princípios, as orientações e os indicadores de desempenho (Figura 1). O foco do
presente estudo são os indicadores de desempenho, os quais fornecem dados
quantitativos e qualitativos de informações comparáveis sobre os desempenhos e-
conômicos, sociais e ambientais das empresas (GRI, 2006, p.5). Esses indicadores
são classificados em essenciais e adicionais, sendo os essenciais aplicáveis e rele-
vantes para a maioria das organizações, e os adicionais aplicáveis e relevantes para
algumas organizações, mas não para a maioria.
Os indicadores da vertente ambiental abrangem o desempenho relacionado a
insumos, como materiais, energia, água, produção e emissões de efluentes, atmos-
féricas e de resíduos. Cabe também mensurar o provimento de informações relativas
à conformidade ambiental, gastos com meio ambiente e os impactos de produtos e
serviços (GRI, 2006, p.27).
Dentro do contexto do tema apresentado, este trabalho visa responder à se-
guinte questão: “Como implantar relatórios de sustentabilidade visando à melhoria
no controle das organizações?”.
Para a gestão corporativa das empresas, o levantamento de Indicadores Am-
bientais, pode representar o diagnóstico das principais qualidades e debilidades, em
relação ao seu desempenho ambiental, e assim, uma oportunidade de inovação e
melhoria de desempenho, do mesmo modo que pode ser considerado um passo que
se dá em busca de certificações ambientais, ISOS por exemplo. Sendo assim, o le-
vantamento dos indicadores ambientais pode servir como um ponto de partida para
uma posterior elaboração de um relatório de sustentabilidade.
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Figura 1: Visão Geral das Diretrizes da GRI
Fonte: GRI, 2006.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Este trabalho tem como objetivo desenvolver uma proposta de relatórios
de sustentabilidade para a implantação nas organizações, como uma forma de con-
tribuir com a gestão ambiental incorporando-os aos controles internos e externos já
existentes nas empresas.
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3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Identificar e analisar os indicadores ambientais provenientes nos relató-
rios elaborados pela GRI.
- A definição da quantidade de indicadores a ser monitorada fica a critério
de cada empresa. A GRI define 30 indicadores possíveis.
- Elaborar proposta alternativa, compatível com o relatório GRI, para im-
plantação dos relatórios de sustentabilidade a partir da utilização de indicadores am-
bientais.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 CAMPO DE ESTUDO
A caracterização do estudo deste trabalho será uma pesquisa na forma
de um estudo de caso EXLORATÓRIO. O universo desta pesquisa envolve todas as
organizações, independendo do seu porte, setor ou localidade. Neste trabalho serão
analisadas duas empresas a nível nacional, uma no setor alimentício (BUNGE) e a
outra na área de papel e celulose (SUZANO). A pesquisa visa incentivar as organi-
zações elaborar relatórios de sustentabilidade, os quais colaboram o com o desen-
volvimento sustentável do meio empresarial.
4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descri-
tos no quadro a seguir.
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Instrumento decoleta de dados
Universo pesquisado Finalidade do Instrumento
DocumentosManuais;
Relatórios de sustentabilidade;
Artigos científicos;
Livros.
Coletar informações necessá-
rias para compressão da ela-
boração dos relatórios de
sustentabilidade.
Dados Arquiva-dos
Documentos on-line;
Home-pages;
Artigos digitais.
Definir as propostas e neces-
sidades de implantação dos
relatórios nas organizações.Quadro 1- Instrumento de coleta de dados. Fonte: BERNARDO, 2010.
4.3 INDICADORES AMBIENTAIS
Entre os 30 (trinta) indicadores relacionados na Cartilha GRI, foram selecio-
nados 17 (dezessete) para serem trabalhados. A GRI enquadra os indicadores am-
bientais em relação à relevância, classificando alguns dados como essenciais e ou-
tros como adicionais.
Neste ponto, foram considerados tais itens como sendo de mesma relevância.
A apresentação dos indicadores como essenciais ou como adicionais apenas de-
monstra a classificação feita pela GRI, uma vez que o critério de seleção dos indica-
dores a serem trabalhados não levou em conta esse aspecto.
A seguir estão relacionados os indicadores ambientais trabalhados neste le-
vantamento, seguidos de uma breve descrição da relevância de se apurar tais valo-
res:
EN1: Materiais usados por peso ou volume.
Esse indicador descreve a contribuição da organização relatora à conserva-
ção da base de recursos globais e os esforços para reduzir a intensidade dos mate-
riais e aumentar a eficiência da economia. Para gerentes internos e outros interes-
sados na situação financeira da organização, o consumo de materiais está direta-
mente relacionado a custos operacionais gerais. O rastreamento interno desse con-
sumo, tanto por produto ou por categoria de produto, facilita o monitoramento da efi-
ciência dos materiais e do custo de fluxo de materiais.
EN2: Percentual dos materiais usados provenientes de reciclagem.
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Esse indicador visa identificar a capacidade da organização relatora de usar
insumos reciclados. O uso desses materiais ajuda na redução da demanda por ma-
terial virgem e contribui para a preservação da base de recursos globais. Para a si-
tuação financeira da organização relatora, a substituição de materiais reciclados po-
de contribuir na redução de custos operacionais gerais.
EN3: Consumo de energia direta discriminado por fonte de energia primária.
A capacidade da organização relatora de usar eficientemente a energia pode
ser revelada por meio do cálculo da quantidade de energia que ela consome. A
substituição de fontes de energia de combustível fóssil por fontes renováveis é es-
sencial para o combate às mudanças climáticas e outros impactos ambientais gera-
dos pela extração e processamento de energia.
EN5: Energia economizada devido a melhorias em conservação e eficiência.
Esse indicador demonstra os resultados de esforços proativos para melhorar
a eficiência energética por meio de melhorias tecnológicas de processos e outras
iniciativas de conservação de energia. A melhoria da eficiência da energia poderá
resultar em redução de custos, levando a vantagens competitivas e diferenciação de
mercado.
EN8: Total de retirada de água por fonte.
O volume total retirado fornece uma indicação do tamanho e importância rela-
tivos de uma organização como usuária de água e fornece também um valor de refe-
rência para outros cálculos relativos à eficiência e uso. O esforço sistemático para
monitorar e melhorar o uso eficiente de água pela organização relatora está direta-
mente relacionado a custos de consumo de água. O uso total de água também pode
indicar o nível do risco imposto por interrupções no abastecimento de água ou au-
mento em seu custo.
EN9: Fontes hídricas significativamente afetadas por retirada de água.
Esse indicador mede a magnitude dos impactos associados ao uso de água
por parte da organização. Em termos das relações com outros usuários das mesmas
fontes de água, esse indicador também possibilita uma análise das áreas específicas
de risco ou melhoria, assim como a estabilidade das próprias fontes de água da or-
ganização.
EN10: Percentual e volume total de água reciclada e reutilizada.
A taxa de reutilização e reciclagem de água pode ser uma medida de eficiên-
cia e pode demonstrar o sucesso da organização na redução da retirada e descarte
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total de água. O aumento na reutilização e reciclagem pode resultar em uma redu-
ção nos custos de consumo, tratamento e descarte de água.
EN16: Total de emissões diretas e indiretas de gases causadores do efeito
estufa, por peso. Esse indicador pode ser usado para explicar metas para regula-
mentos ou sistemas de comércio em nível nacional ou internacional. A combinação
de emissões diretas e indiretas também permite avaliar possíveis implicações dos
sistemas de tributação e comércio no custo das organizações relatoras.
EN19: Emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio, por peso.
O Protocolo de Montreal regulamenta internacionalmente a retirada progressi-
va de circulação de substâncias destruidoras da camada de ozônio. A medição de
tais substâncias possibilita uma avaliação de como a organização obedece à legisla-
ção atual e futura e seus prováveis riscos nessa área.
EN20: NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas, por tipo e pe-
so.
Esse indicador mede a magnitude das emissões atmosféricas da organização
e pode demonstrar o tamanho e importância dessas emissões em comparação a
outras organizações. As reduções ou a demonstração de um desempenho do que o
exigido pela legislação podem melhorar as relações com as comunidades e traba-
lhadores afetados e a capacidade de manter ou ampliar operações.
EN21: Descarte total de água, por qualidade e destinação.
O volume e a qualidade da água descartada pela organização relatora estão
diretamente vinculados a impacto ecológico e custos operacionais. O descarte de
efluentes ou água de processo em uma estação de tratamento não apenas reduz os
níveis de poluição, mas também pode diminuir os custos financeiros da empresa e o
risco de uma ação normativa por não conformidade com a legislação ambiental. Tu-
do isso fortalece a licença social de operação da organização.
EN22: Peso total de resíduos, por tipo e método de disposição.
Dados sobre geração de resíduos durante vários anos podem indicar o nível
de progresso que a organização atingiu no esforço de reduzir resíduos. Pode tam-
bém indicar possíveis melhorias na eficiência e produtividade dos processos. Do
ponto de vista financeiro, a redução de resíduos contribui diretamente para a redu-
ção dos custos de materiais, beneficiamento e disposição.
EN23: Número e volume total de derramamentos significativos.
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Derramamentos de substâncias químicas, óleos e combustíveis podem ter
impactos negativos significativos no entorno, potencialmente afetando o solo, a á-
gua, o ar, a biodiversidade e a saúde humana. O esforço sistemático para evitar der-
ramamentos de materiais perigosos está diretamente vinculado ao cumprimento da
legislação por parte da empresa, seus riscos financeiros devido a perdas de maté-
rias-primas, custos de remediação e o risco de medidas regulatórias, assim como
danos à reputação. Esse indicador também serve como uma medida indireta para
avaliar a capacidade de monitoramento de uma organização.
EN25: Identificação, tamanho, status de proteção e índice de biodiversidade
de corpos d’água e habitats relacionados significativamente afetados pode descartes
de água e drenagem realizados pela organização relatora.
A identificação de corpos d’água afetados por descarte fornece uma oportuni-
dade a identificação de atividades em regiões que inspiram preocupação significati-
va ou áreas onde a empresa pode enfrentar riscos específicos devido a preocupa-
ções da comunidade, recursos hídricos limitados, etc.
EN26: Iniciativas para mitigar os impactos ambientais de produtos e serviços
e a extensão da redução desses impactos.
Essa medida avalia ações que a empresa realiza para reduzir impactos ambi-
entais negativos e aumentar os impactos positivos no que se refere à concepção e
entrega de seus produtos e serviços. Uma concepção favorável ao meio ambiente
pode ajudar a identificar novas oportunidades de negócios, diferenciar produtos e
serviços e estimular inovações tecnológicas.
EN28: Valor monetário de multas significativas e número total de sanções
não-monetárias resultantes da não conformidade com leis e regulamentos ambien-
tais.
O nível de não conformidade dentro da organização ajuda a indicar a capaci-
dade de gestão de assegurar que as operações obedeçam a certos parâmetros de
desempenho. Do ponto de vista econômico, assegurar a conformidade ajuda a redu-
zir riscos financeiros que ocorrem diretamente, por meio de multas, ou indiretamen-
te, pelos impactos na reputação. Em algumas circunstâncias, a não conformidade
pode levar a obrigações de limpeza ou outras responsabilidades ambientais dispen-
diosas. A força do histórico de conformidade da organização também pode afetar
sua capacidade de ampliar as operações ou obter licenças.
EN30: Total de investimentos e gastos em proteção ambiental, por tipo.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 134
A medição de mitigação ambiental e despesas com proteção ambiental forne-
cem dados valiosos para análises internas de custo/ benefício. A comparação dos
dados sobre desempenho ambiental com as despesas com mitigação e proteção
ambiental permite avaliar a eficácia da organização no uso de recursos para melho-
rar o desempenho. Quando rastreados e analisados de forma abrangente ao longo
do tempo, esses dados sobre despesas permitem que a empresa julgue o valor de
investimentos organizacionais ou tecnológicos complexos visando melhorar seu de-
sempenho ambiental. Esse indicador foca a disposição de resíduos, tratamentos de
emissões, custos de remediação, assim como custos de prevenção e gestão ambi-
ental.
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE OBSERVADA
5.1 EMPRESA 1: BUNGE
A Bunge teve origem na Holanda, em 1818, fundada com o nome de Bunge &
Co. Hoje, como Bunge Limited, é sediada nos EUA e possui subsidiárias em mais de
30 países, tendo suas ações comercializadas na Bolsa de Valores de Nova York. No
Brasil, a Bunge é uma sociedade anônima de capital fechado e possui mais de 300
unidades, entre fábricas, centros de distribuição, armazéns, silos e unidades de
transbordo. Está presente no País desde 1905, tornando-se nesses 103 anos uma
das principais empresas de agronegócios e alimentos do País (BUNGE, 2008).
Hoje, a Bunge é líder no Brasil em compra de grãos e processamento de soja
e trigo, na produção de fertilizantes e ingredientes para nutrição animal, na fabrica-
ção de produtos alimentícios e em serviços portuários. É uma das maiores exporta-
doras do Brasil (a primeira do agronegócio), a segunda maior movimentadora de
cargas e a primeira no modal rodoviário.
A atuação integrada em toda a cadeia produtiva de alimentos, faz com que as
empresas Bunge no Brasil contribuam de maneira significativa para o desenvolvi-
mento regional nos 16 estados em que estão presentes, além de participar de forma
decisiva da Balança Comercial do País (seus produtos chegam a 30 países da Eu-
ropa, Ásia, América do Norte e América do Sul).
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 135
Ao final de 2007, as três empresas da Bunge no Brasil (Bunge Fertilizantes,
Bunge Alimentos e Fertimport), contavam com 8.909 colaboradores diretos. Regis-
travam vendas líquidas no ano, de R$ 18,18 bilhões, que representavam um cresci-
mento de 33%, em relação ao ano anterior (BUNGE, 2008).
- Bunge Fertilizantes: conta com cerca de 3.400 colaboradores e 60 mil cli-
entes, atua em todas as etapas da produção de fertilizantes. Suas operações come-
çam na mineração de rocha fosfática e calcário, passam pelo processamento quími-
co, indo até a entrega do produto final: fertilizantes, calcário para correção do solo e
ingredientes para nutrição animal. A empresa possui dois complexos minerado-
res/industriais, em Cajati (SP) e Araxá (MG ), de onde são extraídas cerca de 1,3
milhão de toneladas de rocha fosfática por ano. Em 2007, a Bunge Fertilizantes ocu-
pava a liderança na venda de fertilizantes e de ingredientes para nutrição animal
(BUNGE, 2008).
- Bunge Alimentos: Com cerca de 5.300 colaboradores, é líder na comercia-
lização de grãos e de produtos alimentícios – como óleos, gorduras vegetais, farelo
e margarinas –, além de fornecer farinha de trigo e pré-misturas para o setor de
transformadores, que inclui as indústrias alimentícias, de panificação e de alimenta-
ção fora do lar. A empresa possui cerca de 20 mil produtores rurais como fornecedo-
res e adquiriu, em 2007, cerca de 15 milhões de toneladas de soja, trigo, milho, ca-
roço de algodão, sorgo, girassol e açúcar.
Ao final do ano, a Bunge Alimentos ocupava a liderança do segmento de ó-
leos comestíveis e alcançou cerca de R$ 6,5 bilhões em vendas internacionais, tor-
nando-se a maior exportadora do setor de agronegócio brasileiro.
- Fertimport: Criada em 1947, oferece completo leque de serviços de apoio
ao comércio exterior: agenciamento marítimo, operação portuária, terminais portuá-
rios, representações externas, laytime, gerenciamento de processos de importação e
exportação, desembaraço aduaneiro e e-services. A empresa conta com mais de
200 colaboradores, distribuídos em 15 unidades estrategicamente localizadas nos
principais portos do Brasil e da Argentina. Em 2007, a Fertimport movimentou mais
de 9 milhões de toneladas de carga a granel, registrou 3 mil processos de desemba-
raço aduaneiro e vendeu aproximadamente 500 mil toneladas de fertilizantes e en-
xofre. Como agente marítimo, atendeu mais de 1.500 navios (BUNGE, 2008).
5.1.1 RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 136
Desde 2003 a Bunge no Brasil publica anualmente relatórios sobre o desem-
penho de suas operações nas esferas econômica, social e ambiental. O formato e o
conteúdo dessas publicações, evoluíram de acordo com as tendências do mercado,
aderindo em 2005, ao padrão da Global Reporting Initiative (GRI), grupo composto
por empresas, associações civis e outras organizações de todo o mundo cuja mis-
são é desenvolver um padrão internacional de relato que atenda às expectativas de
consumidores, investidores, comunidades e demais públicos interessados (BUNGE,
2008).
Refletindo a incorporação cada vez maior da sustentabilidade na gestão de
suas atividades, as empresas Bunge no Brasil assumiram o desafio de seguir inte-
gralmente a terceira geração de indicadores da GRI, a G3, na edição 2010 de seu
Relatório de Sustentabilidade. A decisão representa mais uma evolução da presta-
ção de contas da Bunge, já que os novos indicadores são mais completos e ade-
quados à realidade do mercado, permitindo a comparabilidade entre empresas do
mesmo setor, nos cinco continentes.
A comunicação da sustentabilidade tem o objetivo de proporcionar aos stake-
holders o entendimento dos esforços feitos pela Bunge no Brasil dentro de sua Pla-
taforma de Sustentabilidade, um movimento global do grupo para que seu desem-
penho seja acompanhado em quatro frentes principais, avaliadas como relevantes
por seus stakeholders: Agricultura Sustentável, Efeitos Climáticos, Dietas Saudáveis
e Redução de Resíduos.
O reconhecimento do mercado, de clientes, de instituições de ensino e pes-
quisa e de organizações internacionais é, para a Bunge, uma prova de que a meto-
dologia adotada está no caminho certo. Um exemplo, é o convite recebido da ONU,
para que a empresa participasse do Seminário Regional sobre Investimento Mundial,
cujo objetivo foi debater a atuação das empresas no que diz respeito à sustentabili-
dade nos países em desenvolvimento, uma oportunidade única de discutir e refletir
sobre os impactos ambientais e sociais e os reflexos na cadeia global e na economia
local.
O diálogo para a sustentabilidade, na Bunge, possui outros instrumentos além
do relatório, publicado anualmente desde 2003. O Painel de Stakeholders, realizado
todos os anos, é uma possibilidade de diálogo face a face em que a gestão da com-
panhia e a maneira de expressar os esforços são aprimoradas continuamente. Ou-
tras ferramentas, como os canais de relacionamento com clientes e as visitas perió-
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 137
dicas realizadas por equipes de campo aos produtores rurais, também incrementam
o processo (BUNGE, 2008).
5.1.2 DESEMPENHO AMBIENTAL
A gestão ambiental das operações da Bunge no País apóia-se fundamental-
mente em dois documentos corporativos, a Política Ambiental Mundial e a Política de
Sustentabilidade da Bunge no Brasil.
A Política Ambiental Mundial estabelece diretrizes para a condução dos negó-
cios de forma a promover a qualidade ambiental por meio do cumprimento da legis-
lação, da melhoria contínua de processos, do investimento em treinamento e consci-
entização e de indicadores de desempenho.
Com abrangência mais ampla, já que determinam também os princípios de
responsabilidade social, a Política de Sustentabilidade da Bunge no Brasil explicita a
necessidade de se associarem os objetivos dos negócios à preservação do meio
ambiente. Entre outros compromissos, a política estabelece a diretriz de “procurar ir
além do cumprimento da legislação ambiental local e de outros requisitos aplicáveis
aos seus processos, produtos e serviços” (BUNGE, 2008).
5.1.3 INDICADORES DE DESEMPENHO AMBIENTAL
Os valores apurados estão descritos a seguir, de forma a possibilitar a com-
paração entre as unidades da Bunge.
ASPECTO: MATERIAIS
Tabela 1 – EN1: Materiais usados por peso ou volume.
Bunge Fertilizantes Bunge AlimentosDetalhamento doIndicador
Un.
2008 2009 2008 2009
Matérias - primas einsumos
Ton 26.653 15.000,531
32.602.382,24
24.405.258,24
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 138
Embalagens Ton 8.292 11.203 15.684,57 18.179,44
Consumo total demateriais diretosdas empresas Bun-ge
Ton 41.673,026 57.041.504,49
Fonte: BERNARDO, 2010.
Adaptado de BUNGE, 2010
Por atuar em atividades diferentes, a Bunge no Brasil consome matérias-
primas diversas. O que existe de comum é a busca por eficiência, de forma a diminu-
ir o impacto ambiental de suas operações.
Na Bunge Alimentos, o consumo refere-se fundamentalmente a matérias-
primas, como grãos, ingredientes diversos e outros insumos, e embalagens, que en-
globam adesivos, papéis metálicos, sacos plásticos, resinas, filmes plásticos, bar-
bantes e cordas de costura.
Para a produção de fertilizantes, a Bunge Fertilizantes usa diversos insumos,
entre eles ácidos sulfúrico, fosfórico e fluorssilícico, amido de milho, amônia, apatita,
berol, barrilha, cal, carbonatito, dietileno glicol, enxofre, lilaflot. O consumo de emba-
lagens, por sua vez, refere-se fundamentalmente a sacarias ráfia e big bags.
O consumo de materiais pela Fertimport, por sua vez, tem um impacto irrele-
vante no contexto das operações da Bunge no Brasil, pois sua atividade é de pres-
tação de serviço (BUNGE 2010).
Tabela 2 – EN2: Percentual dos materiais provenientes de reciclagem.
Bunge FertilizantesDetalhamento do Indicador Un.2008 2009
Materiais provenientes das misturadas (ferti-lizantes)
Ton 4.516.935 5.059.768
Materiais aproveitados (varreduras) Ton 68.007 56.728Percentagem dos materiais utilizados quesão reciclados.
% 1,1 1,5
Fonte: BERNARDO, 2010.
Adaptado de BUNGE, 2010
A reciclagem e o reaproveitamento de produtos também são preocupações
das empresas Bunge. Devido a normas referentes a produtos alimentícios, a Bunge
Alimentos não utiliza resíduos de outros processos na fabricação de produtos para o
consumo humano. Porém, a Bunge fertilizantes, utiliza em seus fornos cavaco de
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 139
madeira proveniente de florestas plantadas e sobras de serrarias. Na produção de
fertilizantes também ocorre o reprocessamento de varreduras, como são chamadas
as perdas de materiais durante o processamento, o transporte interno, a limpeza de
equipamentos e a armazenagem (BUNGE 2010).
ASPECTO: ENERGIA
Tabela 3 – EN3: Consumo de energia direta e específica, discriminados por
fonte de energia primária.Bunge Fertilizantes Bunge AlimentosDetalhamento do Indi-
cador Un.2008 2009 2008 2009
Fontes Renováveis GJ 1.532.223,00 2.587.962,60 11.004.668,27 8.349.282,97
Fontes não-renováveis GJ 2.059.077,16 2.130.566,67 889.995,73 861.454,81
Consumo total de energiaelétrica GJ 3.591.300,16 4.718.529,27 11.894.664,00 9.210.737,78
PercentualUn.
Bunge Fertilizantes2008/2009
Bunge Alimentos2008/2009
Fontes renováveis % 43 55 93 91
Fontes não-renováveis % 57 45 7 9Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
Os processos produtivos e logísticos das empresas Bunge no Brasil utilizam-
se de diversas fontes energéticas, entre elas energia elétrica comprada da rede de
abastecimento público (gerada predominantemente em usinas hidrelétricas), com-
bustíveis fósseis e carvão. Hoje, como resultado dos esforços dos últimos anos para
a adoção de fontes energéticas renováveis, boa parte da matriz energética da Bunge
Alimentos e Bunge Fertilizantes é composta por biomassa, que alimenta os fornos
para gerar energia térmica. A Bunge também empreende esforços para melhorar a
eficiência dos seus processos, economizando energia (BUNGE 2010).
ASPECTO: ÁGUA
Tabela 4 – EN8: Total de retirada de água por fonte.
Detalhamento do Indi- Un. Bunge Bunge Bunge Bunge
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 140
Fertilizan-tes
Alimen-tos
Fertilizan-tes
Alimentoscador
2008 2009Consumo de água desuperfície m3 39.517.796,00 33.378.926,95
Consumo de água sub-terrânea m3 4.720.489,90 3.939.115,98
Abastecimento público m3 667.165 479.218,50
Consumo total de água m3 44.905.450,90 37.797.261,43
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
A redução do consumo de água ocorreu principalmente em função da queda
de produção na área de Alimentos.
A cadeia produtiva da Bunge depende da oferta de água. Nas áreas agríco-
las, de propriedade de fornecedores, as empresas do Grupo agem de três formas
para promover a sua preservação: orientando seus parceiros para o uso responsável
do recurso e o respeito às matas; disseminando a conscientização ambiental, por
meio de seus programas de educação ambiental; e mantendo áreas de preservação
de matas nativas, cuja integridade está diretamente relacionada à quantidade e qua-
lidade de água nas bacias hidrográficas.
Tabela 5 – EN10: Percentual e volume total de água reciclada e reutilizada.
BungeFertilizan-
tes
BungeAlimen-
tos
BungeFertilizantes
BungeAlimentos
Detalhamento do Indi-cador
Un.
2008 2009Volume total de águareutilizada/reciclada m3 45.283.424 45.397.706Percentual total de águareutilizada/reciclada % 50,21% 54,57%
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
Nos seus processos produtivos, as empresas do Grupo são orientadas a fazer
uso racional do recurso, economizando e reutilizando-o na medida do possível.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 141
ASPECTO: EMISSÕES, EFLUENTES E RESÍDUOS
Tabela 6 – EN16: Total de emissões diretas e indiretas de gases causadores
do efeito estufa, por peso.Bunge Ferti-
lizantesBunge
AlimentosBunge Fertili-
zantesBunge
AlimentosDetalhamento do Indica-
dorUn.
2008 2009
Emissões de CO2Ton 387.888,53 341.208,60
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
As emissões significativas de gases poluentes das empresas Bunge no Brasil
estão relacionadas ao transporte de materiais e produtos e à fabricação de fertilizan-
tes. Apesar de não ser responsável direto por grandes emissões de gases de efeito
estufa (GEE), a Bunge está desenvolvendo um inventário mundial e desenvolve al-
gumas ações com o objetivo de controlar e reduzir seus impactos relacionados à
poluição atmosférica.
Tabela 7 - EN19: Emissões de substâncias destruidoras da camada de ozô-
nio.Detalhamento do Indicador Un. Bunge Fertilizantes
2009
Freon R22 Ton 0,4624
Freon R12 Ton 0,0457
R -134ª Ton 0,0010
R-141B Ton 0,0008
Total Ton 0,5099Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
Na Bunge, as emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio li-
mitam-se ao uso de gás proveniente de aparelhos ar-condicionado, de todas as uni-
dades da Bunge Fertilizantes. Em 2007, o uso desses gases provocou a emissão de
5,4 toneladas de substâncias destruidoras da camada de ozônio. Para enfrentar o
problema, a Bunge está gradualmente abolindo o uso desses gases em equipamen-
tos refrigeradores.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 142
Tabela 8 – EN20: NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas, por tipo e
peso.
Detalhamento do Indicador Un. Bunge Fertilizantes2009
Emissões de NOxTon
27,42
Emissões de SOxTon
1.997,20
Material ParticuladoTon
350,94
FluorTon
28,19
AmoniaTon
0,22Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
Estão previstas, para 2010, a implantação de sistema de desempoeiramento
na G1, a descarga de matéria-prima e carregamento a granel para redução de emis-
sões atmosféricas e a instalação de uma estação de monitoramento da qualidade do
ar no município de Guará (SP). A área de Alimentos não possui sistema para gerar
esse indicador, por considerar que as emissões de particulados não são críticas,
pois os processos de queima de biomassa são otimizados.
Tabela 9 – EN21: Descarte total de água por qualidade e destinação.
Bunge Fertilizantes Bunge AlimentosDetalhamentodo Indicador Un
. 2008 2009 2008 2009
Descarte totalde água
m3 22.680.000 25.853.868,70 1.944.927 973.513
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
Tabela 10 – EN22: Peso total dos resíduos, por tipo e método de destinação.
Bunge Fertilizan-
tes
BungeAlimentos
Bunge Fertilizan-
tes
BungeAlimentos
Detalhamento do Indi-cador
Un.
2008 2009Resíduos não perigosos(Classe II A e B)
Ton 2.364.086,60 2.530.244,79
Resíduos perigosos Ton
2.461,03 21.577,16
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 143
Total 2.366.547,63 2.551.821,95Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
As atividades produtivas das empresas Bunge no Brasil geram tipos variados
de resíduos. Sua destinação segue as normas e regulamentações brasileiras e re-
corre, principalmente, a: aterros sanitários e industriais, reciclagem, reutilização, tra-
tamentos, devolução ao fornecedor, co-processamento, incineração e compostagem.
Os principais resíduos gerados pela Bunge Alimentos são de classe I, classe
II A e classe II B, segundo a classificação da Associação Brasileira de Normas Téc-
nicas (ABNT NBR 10.004). A Bunge Fertlizantes, por sua vez, gera resíduos classe
II A e classe II B. Nas duas empresas, a disposição adequada desses resíduos é
determinada pela Gerência de Qualidade e Meio Ambiente, em consonância com a
legislação ambiental e as melhores práticas ambientais.
Tabela 11– EN23: Número e volume total de derramamentos significativos.
Detalhamento do Indicador Un. Bunge Fertilizantes
2009
Bunge Alimentos
2009
Número de derramamentos significativos no 1 10
Volume total de derramamentos significa-tivos
Ton 27 263,57
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
As ocorrências citadas no quadro correspondem em sua totalidade aos der-
ramamentos ocasionados no transporte de produtos acabados, resíduos e substân-
cias químicas.
ASCPETO: PRODUTOS E SERVIÇOS
EN 26: Para reduzir os impactos ambientais decorrentes da utilização de seus
produtos, a Bunge se apóia no pilar Redução de Resíduos, desenvolvido em sua
Plataforma de Sustentabilidade. Dessa maneira, a companhia busca assegurar que
seus resíduos industriais tenham o encaminhamento correto, investe no aperfeiçoa-
mento das embalagens e promove a conscientização dos consumidores finais para o
descarte adequado das embalagens.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 144
O destino correto de resíduos de insumos e embalagens do produto represen-
ta o ponto final de uma atuação sustentável na cadeia de valor. A Bunge atua nessa
área com os mais rígidos controles internos de sua produção e a adequação para
evitar danos ambientais.
Um dos grandes desafios para a sustentabilidade, porém, está na conscienti-
zação dos consumidores finais no que diz respeito à destinação correta de embala-
gens e demais resíduos originados após a utilização dos produtos.
Por isso, a Bunge atua em diversos programas de educação e reciclagem, em
parceria com organizações não governamentais. Além disso, investe no aperfeiçoa-
mento de suas embalagens com materiais biodegradáveis, que reduzem o impacto
no meio ambiente após o descarte.
ASPECTO: CONFORMIDADE
EN28: Em 2009, a área de Alimentos não recebeu multas, nem em processos
administrativos nem em judiciais, envolvendo questões ambientais que impusessem
o pagamento de qualquer valor.
A unidade de Cubatão de produção de fertilizantes recebeu multa em razão
de efluentes líquidos da caixa de passagem do reservatório central no corpo d’água.
A multa atingiu o valor de R$ 38.040,00. Os controles foram aprimorados para que
não mais existam problemas nessa linha
ASCPECTO: GERAL
Tabela 12 – EN30: Total de investimentos e gastos em proteção ambiental.
Detalhamento do Indicador Un.
2008 2009
Tratamento e redução de resíduos, tratamentode emissões, despesas com compra e uso decertificados de emissão
R$ 15.196.453,26
4.968.503,85
Educação e treinamento, serviços externos degestão ambiental, certificação externa de sis-temas de gestão, pessoal para atividades ge-rais de gestão ambiental, pesquisa e desen-volvimento
R$ 9.173.447,83 5.254.309,93
Total R$ 24.369.901,09
10.222.813,78
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de BUNGE, 2010
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 145
5.2 EMPRESA 2: SUZANO PAPEL E CELULOSE
Com 85 anos de atuação, completados em 2009, a Suzano é uma empresa
de base florestal posicionada como a segunda maior produtora global de celulose de
eucalipto e uma das dez maiores de celulose de mercado, além de líder regional no
mercado de papel. Pertencente ao Grupo Suzano e, controlados pela Suzano Hol-
ding, é uma companhia de capital aberto desde 1982.
Sua estrutura organizacional inclui três Unidades de Negócio (Florestal, Celu-
lose e Papel) e quatro Prestadoras de Serviços (PS) internas: Operações; Finanças;
Recursos Humanos; e Estratégia, Novos Negócios e Relações com Investidores. A
Unidade de Negócio Papel contempla ainda a SPP - Nemo, distribuidora de papéis e
produtos gráficos que possui 13 unidades comerciais e grande abrangência no mer-
cado nacional.
Com sede administrativa em São Paulo, mantêm quatro unidades industriais
no País, uma em Mucuri (BA), uma em Embu (SP) e duas em Suzano (SP). Suas
áreas florestais e as dos parceiros fomentados estão concentradas no sul da Bahia,
no norte do Espírito Santo, em São Paulo e a leste de Minas Gerais. Também possui
áreas no Maranhão, no Piauí e no Tocantins. Nessas localidades, estão seus 3.862
colaboradores. No exterior, possuem três escritórios regionais, instalados nos Esta-
dos Unidos, na Suíça e na China, além de duas subsidiárias: a Sun Paper, na Ingla-
terra, e a Stenfar, na Argentina. Todas essas unidades internacionais reúnem 162
profissionais.
Sob essa estrutura, atuam em dois mercados distintos: celulose de mercado,
vendida para empresas de 31 países, e papel, vendido para 86 países, cujo portfólio
inclui quatro linhas de produtos: não-revestidos, cutsize ou papéis para escritório,
revestidos e papel cartão. Juntas, elas utilizam cerca de 30 marcas atualmente, al-
gumas das quais consagradas no mercado, como Report®, TpPremium®, Paper-
fect®, Alta Alvura®, Reciclato®, Pólen® e Supremo®.
Apesar do cenário adverso, em 2009 investiram R$ 658,7 milhões, 36,4% a-
cima do investido em 2008, sendo R$ 283,5 milhões, na manutenção da atual capa-
cidade, R$ 361,1 milhões nos projetos de expansão das unidades do Maranhão e do
Piauí, e ainda R$ 14,1 milhões em outros investimentos. Também se posiciona como
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 146
uma das empresas que mais plantou no setor de papel e celulose no País (55 mil
hectares ou 73 milhões de árvores).
Essa aspiração é amparada por sua gestão focada na sustentabilidade, o que
significa atribuir importância às dimensões econômico-financeira, social e ambiental,
de forma a ampliar a competitividade dos negócios, contribuindo, ao mesmo tempo,
para a preservação do meio ambiente e solidificando relacionamentos respeitosos
com todos os seus públicos (SUZANO, 2009).
5.2.1 RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
O Relatório de Sustentabilidade reflete o objetivo da empresa de crescer de
forma sustentável e, assim, assegurar a perenidade dos negócios e contribuir para
os avanços econômicos e socioambientais do País. Ele foi elaborado, pelo quarto
ano consecutivo, com base nos indicadores e nas diretrizes do Global Reporting Ini-
tiative (GRI) – em sua terceira versão –, e entendemos que se enquadra no nível C+
de aplicação. As informações aqui contidas referem-se ao ano de 2009 e reportam-
se ao desempenho e aos resultados de todas as nossas unidades no Brasil e dos
escritórios no exterior, exceto se indicadas de outra forma.
Em sintonia com o compromisso de manter diálogos com os stakeholders, a
empresa envia questionários individuais para um grupo de colaboradores, clientes,
fornecedores e membros das comunidades. Eles avaliam os Relatórios e manifes-
tam suas opiniões, críticas e sugestões para que possam subsidiar na elaboração
das novas edições (SUZANO, 2009).
5.2.2 DESEMPENHO AMBIENTAL
O compromisso com a preservação ambiental, o uso consciente de recursos
naturais e a redução dos impactos de suas atividades revelam-se em várias frentes.
Uma delas diz respeito às certificações: todas as áreas produtivas, com exceção dos
novos Escritórios no Maranhão e no Piauí, detêm a certificação ISO 14001 e são
auditadas pelo Bureau Veritas Certification e, além disso, as áreas florestais de São
Paulo, da Bahia e do Espírito Santo têm certificação FSC (Forest Stewardship Coun-
cil). Atuam, portanto, sob o rígido cumprimento de leis e regulamentos ambientais.
A empresa mantém uma política de melhoria constante de desempenho am-
biental, de forma a reduzir os impactos de suas atividades, preservarem os recursos
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 147
naturais e, consequentemente,reduzir possíveis riscos. Além disso, desenvolve e/ou
adota ferramentas e soluções inovadoras, como o software Bioindex (Índice de Di-
versidade Biológica), que possibilita compilar informações das áreas nativas e plan-
tadas, para planejar as atividades de maneira a obter melhora da biodiversidade – e
o manejo de mudas de eucalipto, que resulta na redução do consumo de água e
fungicidas (SUZANO, 2009).
5.2.3 INDICADORES DE DESEMPENHO AMBINETAL
ASPECTO: MATERIAIS
Tabela 13 – EN1: Materiais usados por peso ou volume.
Suzano SuzanoDetalhamento do Indicador Un.
2008 2009Cosnumo de Madeira Ton 1.377.395,00 1.305.704,00Cosumo de Materiais não-renováveis Ton 255.647,00 249.268,00
Consumo de Materiais Ton 1.633.042,00 1.554.972,00Porcentagem dos materiais utiliza-dos que é renovável % 84,00 84,00
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
Tabela 14 – EN2: Percentual dos materiais provenientes de reciclagem.
Suzano SuzanoDetalhamento do Indicador Un.
2008 2009
Peso dos Materiais Usados Ton 34.867,00 27.333,00
Porcentagem dos materiais utiliza-dos que são reciclados % 31,65 38,58
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
ASPECTO: ENERGIA
Tabela 15 – EN3: Consumo de energia direta e específica, discriminados por fonte
de energia primária.
Detalhamento do Indicador Un. Suzano Suzano
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 148
2008 2009
Consumo de energia elétrica comprada GJ 1.879.370,50 1.813.813,00
Consumo de energia elétrica produzidana fábrica GJ 4.864.038,90 4.708.538,00
Consumo de gás natural. GJ 5.704.336,98 4.747.777,31Consumo de óleo combustível GJ 3.458.843,13 3.184.875,08
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
Trabalha em direção à redução do consumo de energia e à auto-suficiência.
Na Unidade Mucuri, por exemplo, são produzidos internamente 97,75% da energia
consumida, em sua maioria a partir de fontes renováveis, com aplicação do reuso
dos resíduos da madeira.
ASPECTO: ÁGUA
Tabela 16 – EN8: Total de retirada de água por fonte.
Suzano SuzanoDetalhamento do Indicador Un.
2008 2009Consumo de água do rio m3 81.849.022,00 78.920.334,00Consumo específico de água do rio m3/t 102,02 96,28Consumo de água subterrânea m3 22.375,00 22.562,00Consumo específico de água subter-rânea m3/t N/A N/A
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
Nas Unidades Suzano e Rio Verde, há três anos são mantidos Grupos de
Trabalho para a Redução do Consumo de Água. A partir da detecção dos consumos
setoriais, eles definiram metas e aprimoraram os controles, que incluem o monitora-
mento online. Como fruto desse trabalho, a Unidade Suzano registrou redução de
9,7% de consumo em 2009, em comparação ao exercício anterior, e fechou o perío-
do em 37,04 m3/t.
Tabela 17 – EN9: Fontes hídricas significativamente afetadas por retirada de
água.
Suzano SuzanoDetalhamento do Indicador Un.
2009 2009 Vazão do Rio (total) m3/h 41.400,00 91.067,00Consumo de água (total) m3/h 3.190,00 2.752,00
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 149
Porcentagem de retirada. % 7,71 3,03Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
ASPECTO: EMISSÕES, EFLUENTES E RESÍDUOS
Tabela 18 – EN16: Total de emissões diretas e indiretas de gases causadores
do efeito estufa, por peso.
Suzano SuzanoDetalhamento do Indicador Un.
2008 2009Emissões de CO2 Ton 996.295 N/A
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
Possui um inventário de emissões calcula as emissões diretas e indiretas
dos gases de efeito estufa de todas as atividades e unidades, desde o plantio da
árvore até a entrega dos produtos nos portos de escoamento (mercado externo) ou
nos depósitos das regionais em diferentes Estados (mercado interno). O trabalho
segue as diretrizes do programa brasileiro GHG
Protocol, iniciativa do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) em parceria com outras organizações, como o World Resources Insti-
tute (WRI). Em 2009, a apuração referente a 2008 chegou a 996.295 quilos de CO2
equivalente.
O inventário é importante para identificar volume e causas das emissões
e, assim, nortear a adoção de ações para reduzi-las. Com esse entendimento, em
2009, a partir dos resultados apurados, iniciou-se o trabalho de mapeamento das
oportunidades de redução em todas as áreas, tanto em fontes móveis (caminhões,
empilhadeiras etc.) como nas estacionárias (máquinas e equipamentos).
A iniciativa resultou em uma série de projetos que serão avaliados e de-
senvolvidos a partir de 2010. A eles aliaram-se ainda atividades de conscientização
dos colaboradores no sentido de reduzir consumos como o de energia elétrica, por
exemplo.
Tabela 19 – EN20: NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas,
por tipo e peso.
Suzano SuzanoDetalhamento do Indicador Un.
2008 2009Emissão de NOx Ton 1.524,68 90.844,09
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 150
Emissão de SOx Ton 758,00 1.232,87Material Particulado Ton 3.338,00 3.403,87
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
Tabela 20 – EN21: Descarte total de água por qualidade e destinação
Suzano SuzanoDetalhamento do Indicador Un.
2008 2009Geração de efluentes líquidos m3 75.484.472,00 72.308.026,00Carga orgânica (DBO5) no efluentefinal(total) Ton 2.511,34 2.453,50
DQO no efluente final(total) Ton 24.222,17 24.510,63Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
O empenho para reduzir os impactos das operações ao meio ambiente tam-
bém passa por iniciativas que visam assegurar a qualidade dos efluentes.
Na Unidade Mucuri, por exemplo, a Estação de Tratamento de Efluentes (E-
TE) é dotada de mecanismo de dosagem de nutrientes, torre de resfriamento e do
sistema Moving Bed Biofilm Reactor (MBBR) de tratamento. Além disso, parte dos
resíduos locais, assim como na Unidade Suzano, é vendida para uma empresa que
recicla o material e o utiliza em produtos à base de celulose. As cascas de árvore
com areia também são comercializadas para serem usadas como fonte de energia
em empresas de pequeno porte.
Resultado de investimentos em pesquisas, utiliza ainda o adubo biossólido no
Núcleo Florestal de Itatinga (SP), o que evita que o material – proveniente de lama
seca de esgoto de estações de tratamento da Sabesp – seja depositado em aterros
sanitários.
Em relação ao descarte da água, na Unidade Mucuri ele não provoca impac-
tos significativos.
Já em Suzano, o lançamento é de 2.850 m3/h de efluentes, o que correspon-
de a 3,13% da vazão do Rio Tietê. Na Unidade Rio Verde, o lançamento é de 96
m3/h, o que corresponde a 0,106% da vazão do Rio Tietê. Em 2009, nenhuma de
nossas fábricas registrou caso de derramamento significativo.
Tabela 21 – EN22: Peso total dos resíduos, por tipo e método de destinação.
Detalhamento do Indicador Un. Suzano Suzano
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 151
2008 2009
Resíduos perigosos (Classe I) Ton 102,8 31
Resíduos não-perigosos (Classe II A eB) Ton 3.577,18 3.532,12
Fonte: BERNARDO, 2010.Adaptado de SUZANO, 2009
ASCPETO: PRODUTOS E SERVIÇOS
EN 26: A empresa busca continuamente soluções que contribuam para a re-
dução do uso de materiais e insumos, sem, no entanto, comprometer a qualidade
dos produtos e a rentabilidade das operações. Exemplo dessa política é o desenvol-
vimento de clones de eucaliptos adaptados a diferentes ecossistemas e com rendi-
mento silvicultural mais elevado, que resulta em maior taxa de conversão de madeira
em celulose e menor consumo de químicos.
Por outro lado, promove compensações de danos por meio da manutenção,
em seu portfólio, de produtos como o Report Carbono Zero®, cujos gases de efeito
estufa emitidos durante o processo de fabricação são compensados com o plantio
de árvores. Já o Reciclato® contém, em sua composição, 75% de Linha de produ-
ção do papel Report® aparas pré-consumo e 25% de aparas pós-consumo.
Levantamento da pegada de carbono, certificações, redução do consumo de
recursos naturais e gestão da biodiversidade são algumas das ações na área ambi-
ental
ASPECTO: CONFORMIDADE
EN28: Em 2009, a empresa recebeu 2 (duas) multas resultantes de não-
conformidade com os regulamentos ambientais. Porem seus valores não foi divulga-
do. Os dois atos de infração se devem as emissões de odor por problemas em equi-
pamentos.
ASPECTO: GERAL
EN30: Em 2009, foram investidos R$ 7,01 milhões nas unidades industriais
para proteção ambiental, valor 8,5% menor do que o do exercício anterior. Na área
florestal, esse investimento representou R$ 1,89 milhão. Uma das iniciativas adota-
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 152
das, pioneira no setor de papel e celulose no Brasil, foi o levantamento da pegada de
carbono – que vai além do inventário dos gases de efeito estufa (GEE), realizado
desde 2003. A prática engloba a medição dos gases ao longo de todo o ciclo de vida
de um produto, ou seja, da produção e distribuição da matéria-prima, passando pela
produção e distribuição do produto propriamente dito, até a venda e o uso e sua dis-
posição final.
6 PROPOSTA DE SOLUÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
6.1 PROPOSTA DE MELHORIA PARA A REALIDADE ESTUDADA
De acordo com o que foi visto, através dos dados obtidos pelas empresas
BUNGE e SUZANO. Nem todos os indicadores de desempenho ambiental relacio-
nados na Cartilha da GRI foram atendidos. Devido ao fato das indústrias trabalharem
em ramos diferentes, ao elaborar o relatório de sustentabilidade certos indicadores
foram desconsiderados e outros foram excluídos à medida que se notou a impossibi-
lidade de envolvê-los na atual conjuntura das unidades industriais.
Entretanto, cabe ressaltar que dentre os 30 (trinta) indicadores relacionados
na Cartilha GRI, foram selecionados 17 (dezessete) para serem trabalhados, onde
tais itens são considerados de mesma relevância. A apresentação desses indicado-
res torna-se essencial para avaliar os aspectos ambientais das empresas.
Deve-se ressaltar que o projeto de implantação de relatórios de sustentabili-
dade pode ser inserido no conteúdo expresso na Política de Qualidade das empre-
sas, servindo de base para a melhoria contínua do Sistema de Gestão da Qualidade
das mesmas.
6.2 RESULTADOS ESPERADOS
Para a gestão corporativa de uma empresa, o levantamento dos Indicado-
res Ambientais pode representar o diagnóstico das principais qualidades e debilida-
des quanto ao seu desempenho ambiental e, assim, uma oportunidade de inovação
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 123-155. abr./set. 2012. 153
e melhoria de performance, do mesmo modo que pode ser considerado um passo
que se dá em busca de certificações ambientais.
6.3 VIABILIDADE DA PROPOSTA
A implantação do relatório de sustentabilidade não envolve custos elevados,
levando em conta que a definição dos indicadores pode ser feita de acordo com do-
cumentos oficiais internos da própria empresa.
O formato de obtenção de dados sobre Indicadores Ambientais pode ser ba-
seado nos indicadores trabalhados pela Cartilha GRI (Global Reporting Initiative), a
fim de padronizar o trabalho. Esses dados estão disponíveis para download de for-
ma gratuita no site da GRI.
Após ter o trabalho devidamente estruturado, o projeto deve ser apresentado
em reunião aos gerentes, diretores, colaboradores e stakeholders da empresa, na
ocasião em que dúvidas possam ser esclarecidas e um cronograma de execução
das atividades possa ser estabelecido. Com as ações estabelecidas, aplicam-se os
valores a planilhas, juntamente com as instruções operacionais referentes a cada
indicador. Posteriormente, tendo as planilhas preenchidas, os dados de todas as
fábricas/empresas passam por uma análise crítica, seguida de encontros com os
responsáveis para o esclarecimento de dúvidas e a realização de correções.
Vale à pena ressaltar que o levantamento dos dados expõe números que
podem vir a sugerir melhorias em alguns aspectos, sendo que alguns necessitam de
investimentos, como por exemplo, a manutenção e obtenção de novos equipamen-
tos.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gestão ambiental empresarial está essencialmente voltada para organiza-
ções, ou seja, companhias, firmas, empresas ou instituições, e pode ser definida
como sendo um conjunto de políticas, programas, práticas administrativas e opera-
cionais, que levam em conta a saúde e a segurança das pessoas além da proteção
do meio ambiente. Através da eliminação ou minimização de impactos e danos am-
bientais, decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realoca-
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ção ou desativação de empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases
do ciclo de vida de um produto.
A prática da gestão ambiental, introduz a variável ambiental no planeja-
mento empresarial e, quando bem aplicada, permite a redução de custos diretos pe-
la diminuição do desperdício de matérias-primas e de recursos cada vez mais es-
cassos e mais dispendiosos, como água e energia, e de custos indiretos representa-
dos por sanções e indenizações relacionadas a danos ao meio ambiente ou à saúde
de funcionários e da população de comunidades que tenham proximidade geográfica
com as unidades de produção da empresa.
As plantas fabris das empresas, quando comparadas entre si ou até mesmo
com outras empresas do ramo, podem apontar oportunidades de ganhos para boa
parte de seus processos. A medida do efetivo aproveitamento dessas oportunidades
poderá ser observada nos resultados dos levantamentos que serão feitos nos próxi-
mos anos.
O conhecimento dos resultados alcançados por outras empresas também
serve para balizar o estabelecimento de metas realistas e, muitas vezes, incentivam
a busca de tecnologias e práticas de gestão que permitam o alcance de um desem-
penho excepcional. Também mostra os pontos onde a organização já tem resultados
de qualidade, nos quais os investimentos não devem ter a mesma prioridade.
REFERÊNCIAS
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BUNGE. Relatório de Sustentabilidade edição 2010 Brasil. Disponível em:<http://www.bunge.com.br/sustentabilidade/2010/pt-br/>. Acesso em: 17 nov. 2010.
CASTRO, et al. Indicadores ambientais essenciais: uma análise da sua utiliza-ção nos relatórios de sustentabilidade das empresas do setor de energia elé-trica sul americano, elaborados pela versão “g3” da global reporting initiative.In: 1 South American Congress on Social and Environmental Accounting Research –
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CSEAR 2009. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009, Rio de Janeiro. Dis-ponível em: <http://www.facc.ufrj.br/csear2009/23.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2010.
ETHOS, instituto. Guia para elaboração de balanço social e relatório de susten-tabilidade. São Paulo: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,2007. Disponível em:<http://www.ethos.org.br/_Uniethos/Documents/GuiaBalanco2007_PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2010.
ETHOS, instituto. Conceitos: stakeholders. 2010. Disponível em:<http://www.ethos.org.br/docs/conceitos_praticas/indicadores/glossario/>. Acessoem: 17 nov. 2010.
GRI, Global Reporting Initiative. Diretrizes para relatório de sustentabilidade. SãoPaulo, 2006. Disponível em:<http://www.globalreporting.org/ReportingFramework/ReportingFrameworkDownloads/>.Acesso em: 17 nov. 2010.
SUZANO, papel e celulose. Relatório de sustentabilidade, 2009. Disponível em:<http://www.suzano.com.br/portal/main.jsp?lumPageId=402880911AA63B43011AA68A40FE168D>. Acesso em: 17 nov. 2010.
WWF, Brasil. Desenvolvimento sustentável: o que é desenvolvimento Sustentá-vel?, 2010. Disponível em:<http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/>. Acesso em: 17 nov. 2010.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 156-182, abr./set. 2012.
156
REDUÇÃO DOS REMANESCENTES DE ADANSONIA DIGITADA (IM BONDEIRO, EMBONDEIRO OU BAOBÁ) NO PERÍMETRO DE LUANDA
Cleovamir José Bonifácio*
Jairo Afonso Henkes **
RESUMO
A Adansônia digitata é popularmente conhecida como imbondeiro, embondeiro ou
baobá, este último mais comum no Brasil. O Imbondeiro possui um tronco muito espesso na base,
chegando a atingir nove metros de diâmetro. O seu tronco é peculiar: vai se estreitando em forma de
cone e evidenciando grandes protuberâncias. Esse colosso vegetal pode atingir trinta metros de
altura e possui a capacidade de armazenar, em seu caule gigante, até 120.000 litros de água. Por tal
razão é denominada "árvore garrafa" (VAINSENCHER,2010). Nos últimos cinco anos tem-se
observado um significativo e acelerado processo de derrubada de árvores de imbondeiros no entorno
de Luanda, principalmente em função do crescimento urbano e parques industriais. Através de
entrevistas e pesquisas, buscamos identificar a importância desta árvore na cultura e costumes deste
povo, as causas que vem levando sua eliminação e a conivência das instituições, assistindo a
substituição dos bosques de imbondeiros pelo cinza e prateado da alvenaria e casas de chapas, e
pelo vermelho dos pátios terraplanados. Evidencia-se um processo de degradação ambiental com a
supressão de áreas verdes, além do vínculo milenar do Imbondeiro com os povos tradicionais de
Angola, chamando a atenção das instituições locais, além de propor alternativas para a preservação
e programas de sustentabilidade desta árvore e suas raízes que fundamentam boa parte da base
cultural deste povo.
Palavras-chave: Adansonia digitata; Imbondeiro; Província de Luanda; Supressão de
vegetação; Culturas tradicionais.
_____________________________________________________________________________
•••• Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental – Unisul Virtual. E-mail: cleovamir@hotmail.com
•••• ** Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Graduação em Gestão Ambiental da Unisul. Mestre em Agroecossistemas. Especialista em Administração Rural. Engenheiro Agrônomo.
E-mail: jairo.henkes@unisul.br
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157
1 INTRODUÇÃO
Em Luanda durante o desenvolvimento da cidade, poucas ou quase ne-
nhuma praça arborizada ou áreas verdes foram reservadas dentro da Capital. Nas
áreas periféricas o crescimento desordenado, de construções de casebres, sem ar-
ruamento e infra-estrutura, tal como água, energia e principalmente saneamento bá-
sico. Os novos parques industriais e comerciais, movidos pelo grande crescimento
econômico mantido principalmente pelas riquezas minerais, com a chegada de em-
presas internacionais e novos empreendimentos nacionais, vem ocasionando um
acelerado processo de diminuição de áreas verdes e dos remanescentes de imbon-
deiros.
Para o estudo de caso destacam-se três áreas específicas, que registra-
das em 2002 pelas imagens de satélite do Google Earth Pro, limitavam o cinturão
urbano de Luanda. A partir deste, as terras eram constituídas basicamente de áreas
verdes com predominância de plantações de agricultura de subsistência, com man-
dioca e árvores frutíferas como mangueiras e cajueiros. Em todas estas áreas, exis-
tiam árvores de imbondeiros em vários estágios de desenvolvimentos com caules
com um metro de diâmetro em média, tanto espaçados como em vários pontos con-
centrados, formando bosques. Nas mesmas imagens de satélites atualizadas em
junho de 2010, ocorreu um forte avanço urbano sobre estas áreas ocasionando a
supressão destas árvores.
A pesquisa de campo evidenciou, dois grandes fatores que vem provo-
cando a forte migração da população das Províncias para a capital, primeiramente a
guerra civil de 1975 até 2002 e nos últimos anos a busca de emprego e melhores
condições de vida na capital, através da reintegração de familiares que fixaram base
na cidade nas últimas décadas.
Evidente também a riqueza cultural deste povo e a interação e importân-
cia desta árvore na história, subsistência e modo de vida das diversas etnias que
constituem o grande povo angolano. A árvore fornece alimentos através do fruto,
folhas e raízes, medicamentos tradicionais, abrigos, água, utensílios rústicos, e base
de importantes eventos culturais. Nas Províncias, esta relação cultural apresenta-se
mais forte que na região da Capital, onde as pessoas de maior idade ainda apresen-
tam forte relação com os usos e costumes. Enquanto que a juventude abaixo de 30
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 156-182, abr./set. 2012.
158
anos e muito mais nos adolescentes, vem perdendo estes conhecimentos populares
ou rejeitando os costumes, pela forte influência da mídia externa. A cada africano
(angolano) que morre, desaparece uma biblioteca. (ALTUNA, 2006)
Preocupante o resultado da pesquisa onde grande parcela da população
(79%) atribui a responsabilidade apenas ao governo de tomar ações de preservação
do imbondeiro e 57% não acreditam que os Imbondeiros podem desaparecer de Lu-
anda.
Propor medidas a serem implementadas pelo governo e seus respectivos
ministérios, assim como ações da comunidade e iniciativa privada, buscando inves-
timentos e principalmente criar uma base de conscientização ambiental, não só da
preservação da “Árvore da vida”, bem como dos recursos naturais, solo, água e ar.
Não se pretende fechar este tema em si, mas sim abrir processos de dis-
cussão na sociedade e fomentar a realização de novos estudos com melhores técni-
cas científicas com base na viabilização dos recursos da árvore, por ela estar cultu-
ralmente ligada aos vários povos que constituem a nação “m’angolê”.
2 TEMA
Durante o período de novembro de 2005 até a data atual, as atividades de
Técnico de Segurança do Trabalho, apoiando as equipes de obras de infra-
estruturas em Luanda, desenvolvidas pela Odebrecht Angola Ltda (empresa brasilei-
ra do ramo de construção civil), no pacote de Obras de Projeto de Reconstrução Na-
cional, após o término da guerra civil em Angola que durou de 1976 à 2002. Com um
período de paz de maio de 1991 até 1992, retornando a guerra após o resultado das
eleições presidenciais, não aceito pela UNITA, segundo LORES (2006).
Em 1974, com a independência e a formação de um Governo de coligação
nacional composto pelo Movimento Popular para a Libertação de Angola
(MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a
Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), inicia a fase política da in-
dependência em Angola, mas em 1976, o fracasso desta coligação governa-
mental conduziu a um longo período de Guerra Civil entre o governo liderado
pelo MPLA e a UNITA. A Guerra Civil durou quinze anos, até que no dia 31
de Maio de 1991, o Governo de Angola e a UNITA assinaram os Acordos de
Bicesse pondo termo à Guerra Civil (ACNUR, 1997).
Neste período as estradas, redes de água, energia, escolas, indústrias e
parques agrícolas, foram destruídos ou deterioraram-se.
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159
Em deslocamentos pelos diferentes Bairros e Municípios da região de Lu-
anda, em função de obras de construção de redes de distribuição de água potável,
estações de bombeamento, entre outras, se pode observar esta região e verificar o
estado atual da população remanescente do Baobá. Estes deslocamentos na maio-
ria das vezes em estradas de terra batida ou picadas de areia, usando veiculo com
tração em média percorrendo 115 kilometros por dia.
Observando a forma de vida, de falarem nos dialetos, vestimentas,
hábitos alimentares, comércio informal forte com predominância das mulheres
denominadas de zungueiras, que vendiam desde artigos para o lar, roupas, mas
principalmente todos os gêneros alimentares como enlatados, bebidas, frutas,
carnes e peixes. Carregavam os produtos em bacias enormes na cabeça e ao
mesmo tempo o filho neném encilhado nas costas. Os prédios, casarões e ruas
ordenadas no centro da capital e sedes dos municípios na época anterior a
independência, constratavam com os “kubícos”, casas de alvenaria de bloco de
cimento de apenas um cômodo com cobertura de chapa de zinco, variando de 15 a
20 m2 onde em média vivem sete pessoas, sem qualquer planejamento ou infra-
estruturas, formam os musseques (favelas). Na zona rural as choupanas (casas de
pau a pique) ou cabanas de Jango com área menor de 9 a 15 m2, assim é comum
estas famílias cozirem seus alimentos na rua em fogões improvisados de barro ou
pedras. Utilizando pedras de carvão, ramos secos ou capim. Estranhamos a quase
inexistência de lenha ou madeiras na construção civil. Nas áreas do entorno de
Luanda não existe remanescentes de vegetação nativa, ou florestas com árvores
lenhosas, apenas alguns remanescentes na área da Barra do Kuanza, atualmente é
composto de vegetações rasteiras, gramíneas, intercaladas com áreas de plantios
de mandioca e plantas frutíferas como cajueiros e mangueiras, estas plantadas de
forma espaçadas e aleatórias. Neste contraste assim como Michel Andanson (1721
a 1806), nos surpreendeu a abundância, as dimensões avantajadas dos caules e o
formato dos galhos e ramos aparentando raízes quando perde as folhas na época
do cacimbo e dos frutos nas árvores. A planta conhecida popularmente como
Imbondeiro em Angola ou Baobá no Brasil – a Adansônia digitata. Segundo
Vainsencher (2010): Em 1749, o pesquisador francês Michel Adanson, voltando da
viagem para São-Louis, no Senegal, elaborou desenhos e descreveu o seguinte, em
seus registros:
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Chamou-me à atenção uma árvore cujo tamanho era incrível. Era uma árvore
que tinha frutos com formatos de abóboras, de nome "pão de macaco" no
qual os Wolots diziam ”goui” no idioma deles. Provavelmente a árvore mais
útil em toda a África... a árvore universal para os nativos.
Fora o grande centro da capital, denominado de cidade baixa, por todos
os bairros e dentro dos perímetros urbanos e rurais, encontramos árvores de Imbon-
deiro em maior ou menor quantidade, algumas com mais de cinco metros de diâme-
tros. Estranhamos tantas árvores de grande porte comparado à grande e evidente
demanda de madeiras, carvão e lenha em Luanda e contrastando com a abundância
de árvores enormes de andansônia digitata, não servindo para indústria madereira,
nem para construção civil. Segundo VAINSENCHER (2010):
Datado de 1853, existe um outro registro, no continente africano, sobre a
presença do baobá. Sobre a legendária árvore, observando-a na região de Mbour, o
padre David Boilat escreveu:
[...] as árvores são surpreendentemente grandes e muito numerosas: Eu medi
algumas e o cinturão era de 60 a 90 pés (20 a 30 metros). Não só é esta árvore útil
para os nativos, também é essencial, eles não sobreviveriam sem ela. Com suas
folhas secadas, eles fazem um pouco de pó que eles chamam de lalo o qual eles
misturam o "kouskous". Eles usam as raízes como um purgante; eles bebem chá
quente que curam doenças torácicas. A fruta chamada “o pão de macaco” é usada
para coalhar leite e também é servida com a comida que eles chamam de “lack” ou
“sangle" [...]. Esta árvore às vezes é escavada para formar casas [...]
Figura 01 - Imbondeiros no vale do Rio Kuanza – Kapiápia e Imbondeiro na área urbana, no Bairro
Golfe II
Fotos do Autor.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 156-182, abr./set. 2012.
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Através de observações, constatou-se a importância da fruta chamada mú-
cua, que é vendida nos mercados locais, sendo utilizada para fazer sumos, gelados
e “muamba” (um mingau semelhante ao angú no Brasil). Além da medicina tradicio-
nal com remédios originados de diversas partes da árvore como raiz, cascas, folhas
e farinha da “mucua”. As cascas também são usadas como inseticidas para mosqui-
tos. O respeito e importância cultural também são evidentes nas esculturas e pintu-
ras que representam os vários estilos tribais, sendo mais ou menos utilizados os re-
cursos da planta conforme a região, povos e hábitos culturais, pois com a grande
migração de pessoas fugindo dos conflitos da guerra civil e aglomerando-se em gru-
pos étnicos, principalmente nas periferias onde originaram-se os “musseques” (fave-
las). Em Angola existem mais 17 línguas reconhecidas oficialmente, além do portu-
guês que é a língua oficial, somados a mais de 30 dialetos, as pessoas mais velhas
“cotas”, comunicam-se principalmente em sua língua mãe. As rádios e TVs públicas
inclusive, apresentam programações exclusivas nas principais línguas nativas objeti-
vando manter a cultura local.
Figura 02 - Pinturas do Imbondeiro- Mercado Artesanato Benfica Fotos do Autor
Figura 03 -Esculturas em madeira do Imbondeiro – Mercado do Artesanato de Benfica
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Fotos do Autor
Com o processo de estabilização aliado ao processo de paz, gerou um
forte crescimento econômico e industrial em Angola, a partir de 2002, transforman-
do-a num “Eldorado Africano”. Com uma grande entrada de empresas estrangeiras
principalmente nos ramos da Construção Civil, de Mineração e Petróleo, oportuni-
zando uma abundância de empregos e uma concentração da riqueza na região de
Luanda. Com isso, novamente ocorreu uma grande migração da população das pro-
víncias para Capital, atrás de salários e melhores condições de vida, trazidos pelos
parentes que já haviam se estabelecidos. Somados a este crescimento ocorreu um
“boom” imobiliário, com forte valorização dos terrenos e habitações e as pessoas
começaram a invadir e construir de forma desorganizada, onde o próprio governo
classificou de construções anárquicas. A partir de 2006, e principalmente em 2007,
ocorreu um forte avanço de construções sobre a periferia e áreas rurais adjacentes,
com um terreno com área de 100 m2 sendo negociados no comércio informal no va-
lor de dois até vinte mil dólares. Uma casa ou “kubico” na ordem de 15 a 50 mil dóla-
res, verificando-se que qualquer pedaço de terra era valorizado e com isto a área de
um imbondeiro passou a ser desejada pois daria tranquilamente para se levantar um
“kubico” no local. Com isso vem ocorrendo uma forte redução na presença de árvo-
res nos perímetros de maior pressão urbana, e diante da passividade da população,
governo e órgãos de fiscalização e caso ações ou medidas preservacionistas não
venham a ser implementadas num curto espaço de tempo, a população de Luanda
terá outros motivos para se deslocar ao Parque Nacional de Quissama, além de visi-
tar os exemplares de animais africanos, também poderá visitar os Imbondeiros com
todo o seu esplendor e num futuro bem próximo, possivelmente extintos na região da
Capital Luanda.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Este estudo de caso tem por objetivo mostrar a redução do número de
exemplares de Adansonia digitata, na Capital Luanda e identificar a importância para
população e causas que levam a esta supressão de vegetação.
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3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
� Evidenciar a significativa redução de exemplares de adansônia digitata
nos últimos quatro anos em três áreas de estudo: Benfica, Sapú e Ki-
fangondo;
� Avaliar a importância do Imbondeiro para a população e as predomi-
nâncias culturais nas áreas de estudo;
� Identificar as causas de “aceitação” da população da supressão desta
espécie;
� Propor medidas a serem implantadas para preservação desta árvore.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 CAMPO DE ESTUDO
O Estudo de Caso é delimitado por três áreas compreendidas como Ben-
fica, Sapú e Kifangondo;
Compreendem pesquisas exploratórias em bibliotecas e trabalhos técni-
cos anteriores sobre a planta Adansonia digitata e a cultura angolana;
Através de entrevistas e pesquisas, identificar costumes e importância da
planta na vida e cultura da população.
4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Livros e Trabalhos Científicos, disponíveis nas bibliotecas ou na internet,
sobre a planta Andansônia digitata.
Baseando-se em imagens disponíveis no programa Google-earth, ima-
gens e plantas topográficas, banco de fotografias do autor e da empresa Odebrecht
Angola Lda e dos conhecimentos do autor identificaremos as significativas supres-
sões de plantas.
Entrevistas e Pesquisa de campo nas três áreas de estudo.
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Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descri-
tos no quadro a seguir.
Instrumento de
coleta de dados
Universo pesquisado Finalidade do Instrumento
Entrevista
Pessoas residentes nas três
áreas de estudo dois tópicos:
dirigida com pessoas da tercei-
ra idade e por amostragem
com questionário
Terceira idade: Pessoas mi-
gradas das províncias identi-
ficando utilidades, costumes
e importância da planta.
Amostragem aleatória: identi-
ficar importância da planta ou
“perda” de hábitos nativos em
área urbana.
Observação Di-
reta ou do par-
ticipantes
Circulação nas áreas de estu-
do evidenciando as supres-
sões em andamento.
Registrar diminuição e ocu-
pação de terrenos.
Documentos
1- Pesquisa nas bibliotecas da
Universidade Oscar Ribas e
Universidade Agostinho Neto,
sobre existência de estudos ou
pesquisas sobre o tema ante-
riores.
2- Plantas topográficas ou pla-
nialtimétricas das áreas de
estudo, com identificação de
árvores registradas que foram
ou possam a ser suprimidas
Buscar possível embasamen-
to científico para o trabalho e
se há trabalho registrado na
linha do estudo de caso em
questão.
Evidenciar diminuição nas
áreas de ocorrência e núme-
ro de plantas importantes nas
áreas de estudo.
Dados Arquiva-
dos
Pesquisas no domínio da in-
ternet aberta (documentos on-
line, home-pages, artigos digi-
tais, etc).
Buscar informações e estu-
dos sobre a utilidade e impor-
tância da Adonsônia digitata
no território e cultura Angola-
na.
Quadro 1- Instrumento de coleta de dados.
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Fonte: Unisul Virtual, 2007. Modificada pelo autor.
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE OBSERVADA
5.2 IMAGENS FOTOGRÁFICAS
Ao se deslocar por Luanda nos vários Municípios, Comunas e Bairros, nestes últi-
mos cinco anos, observou-se um crescimento acelerado das áreas urbanas sobre
antigas áreas de “lavras” ou áreas de agricultura familiar. O fortalecimento da eco-
nomia com grande circulação de dólares no mercado, o aporte de várias empresas
multinacionais, abundância de emprego e grande procura imobiliária, ocasionou uma
valoração dos terrenos e de imóveis, com esta pressão por casas, vem ocorrendo
com freqüência as invasões em terrenos antes públicos, de forma desordenada, as
freqüentes casas de chapa, espaçadas de forma aleatória sem qualquer arruamento
ou planejamento mínimo de alinhamento, muitas vezes derrubando árvores e plantas
para abrir o espaço de um casebre ou “kubico”, sendo muitas árvores derrubadas, e
entre elas encontram-se diversos imbondeiros.
Poderíamos citar como exemplo os vários condomínios de alto padrão onde hoje as
casas com valores de mais de um milhão de dólares ocupam áreas que antes eram
cobertas por vários imbondeiros. Nas regiões mais pobres de Luanda podemos ver
também locais que foram deixados como praça pública contendo imbondeiros hoje
substituídos por pequenos barracos. A fiscalização pública às vezes tem feito a der-
rubada destes barracos, mas não consegue repor as velhas árvores que foram cor-
tadas.
5.2 IMAGENS DE SATÉLITE E PLANTAS TOPOGRÁFICAS
Em pesquisas realizadas no Google Earth verificou-se que em 2002 havi-
am áreas verdes, contendo uma enorme quantidade de imbondeiros, porém atual-
mente, se depara com o avanço significativo e desordenado de construções urba-
nas, áreas em terraplanagem para indústrias e parques residenciais e industriais
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ocasionando o desmatamento desregrado das árvores, não observando qualquer
tipo de preocupação com a preservação da espécie. Nos empreendimentos habita-
cionais planejados desenvolvidos por organismos governamentais, as árvores são
preservadas e áreas verdes ou destinadas a paisagismo futuro, repentinamente são
ocupadas com construções “clonadas”, aparentemente facilitadas ou não evidencia-
do ações de contenção destes avanços de edificações “irregulares”.
As imagens demonstradas nas figuras a seguir demonstram o desenrolar da situa-ção ocupacional em diversas regiões de Luanda e a supressão de diversos exem-plares de imbondeiros.
Figura 04 - Imagem Panorâmica da área do Benfica em 05/07/2002-
Fonte: Google Earth Pro com edição do autor.
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Figura 05 - Imagem Panorâmica da área do Benfica em 25/06/2010
Fonte: Google Earth Pro com edição do autor.
Figura 06 - Imagem Panorâmica da área do Sapú em 19/06/2003
Fonte: Google Earth Pro com edição do autor.
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Figura 07 - Imagem Panorâmica da área do Sapú em 25/06/2010
Fonte: Google Earth Pro com edição do autor.
Figura 08 - Área em Zoom no Sapú com destaque a concentração de árvores em 19/06/2003
Fonte: Google Earth Pro, com edição do autor.
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Figura 09: Mesma área em Zoom no Sapú com destaque Habitações Populares Sapú II em
26/07/2010
Fonte: Google Earth Pro com edição do autor.
Figura 10: Área em Zoom no Kifangondo com destaque a concentração de árvores em 16/07/2002
Fonte:Google Earth Pro com edição do autor
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Figura 11: Mesma área em Zoom no Kifangondo com destaque a supressão de árvores em
26/07/2010
Fonte: Google Earth Pro
5.2.1 – Adansonia digitata
O Imbondeiro é uma árvore que chega a alcançar alturas de 5 a 25m
(excepcionalmente 30m), e até 7m de diâmetro do tronco (excepcionalmente 11m).
Destaca-se pela capacidade de armazenamento de água dentro do tronco, que pode
alcançar até 120.000 litros.
Os Imbondeiros ou baobás desenvolvem-se em zonas sazonalmente áridas, e
são árvores de folha caduca, caindo suas folhas durante a estação seca. Alguns têm
a fama de terem vários milhares de anos, mas como a sua madeira não produz
anéis de crescimento, isso é impossível de ser verificado: poucos botânicos dão
crédito a essas reivindicações de idade extrema. (WIKIPEDIA, 2010). Comparando-
se com a idade de alguns exemplares catalogados no Brasil e se houver similaridade
de desenvolvimento das plantas, podemos estimar que as árvores de Luanda tem
em média de 100 a mais de 500 anos.
a) Mudas ou árvores pequenas.
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Figura 12: Resgate de muda de imbondeiro em estrada de acesso, onde um caminhão havia passado por cima e posterior replantiu em área verde do Canteiro de Obras Odebrecht PRP. Fotos do Autor
Figura 13: Imbondeiro replantado em 27/06/2010 Figura 14:Mesmo Imbondeiro em foto de 15/11/2010, brotado e com folhas Foto do Autor Foto do Autor
Figura 15: Sistema Radicular e Caule: Raízae em forma de pinhão central com ramificações grossas
e relativamente curtas.
Fotos do Autor
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Figura 16: Caules bojudos e fibrosos sem aneis de crescimento e facilmente descamados com
galhadas similares às raízes.
Foto do Autor
Figura 17: Imbondeiro sem folha alguma no período de Cacimbo (Estação seca) e com folhagem
viçosa em Novembro. Fotos do Autor
Figura 18: Floração do Imbondeiro, pendunculos em vários estágios, ao abrir uma flor branca em
detalhe.
Fotos do Autor
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Figura 19: Frutos do Imboeiro: (Mukua ou Múcua)
Fotos do Autor
Os frutos tem um formato similar a uma bola de futebol americano, como se observa
na figura 19, cuja casca é semelhante à “cabaças ou porongos” com miolo seme-
lhante ao cacau, mas secas parecem quadrículos de açúcar e ao comer dissolvem-
se na boca, consistindo-se de um sabor agridoce. Ao moer forma uma espécie de
farinha ou pó, que pode ser dissolvida na água em forma de suco ou misturada em
comidas típicas.
Supressões de Imbondeiros na área do Benfica
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Figura 20: Derrubada de árvores em terraplanagem Foto do Autor
Figura 21: Máquinas fazendo derrubada de árvores no entorno do Córrego Cambambe na Honga. Foto do Autor
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Figura 22: Tronco de Imbondeiro derrubado Foto do Autor Supressões de Imbondeiros na área do Sapú II
Figura 23: Imbondeiro com mais de 3 metros de diâmetro e na seqüencia tronco em desintegração Fotos do Autor
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Evidências do uso da Planta
Figura 24: Árvore em zona rural com evidencia de aberturas no caule para coleta de água. Fotos do Autor
Figura 25: Imbondeiros em zona urbana com evidências de retirada da casca para uso tradicionais. Fotos do Autor
6 PROPOSTA DE MELHORIA PARA A REALIDADE ESTUDADA
Como podemos perceber estas árvores guardam dentro dos seus caules
e troncos, histórias, tradições, costumes que não podem ser apagados com o tempo.
Não queremos que nossos netos conheçam estas plantas apenas pelas fotos sem
nunca conseguirem entender a força desta planta capaz de atrair para debaixo de si
casais e “Sobas”, na busca para soluções de problemas familiares ou mesmo as
meninas e jovens receberem o título de adultos, liberados para constituírem família.
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Já perdemos muito tempo, muitos imbondeiros já foram ceifados pela ganância do
ter, sacrificando o nosso ser, nos tornando pedras frias e sem alma. Buscando rever-
ter este fato propomos:
1. Ao Governo:
Pelas afirmativas das pessoas consultadas neste estudo, cabe ao gover-
no toda a responsabilidade pela situação, porém sabe-se que todos devem fazer sua
parte, porém o Governo também pode realizar mais. A seguir apresenta-se suges-
tões de programas, ações e atividades que podem ser implantadas, tais como:
i. Aumentar a fiscalização, evitando que novas plantas sejam tom-
badas;
ii. Provocar um estudo por parte do Ministério da Agricultura para
avaliar o potencial econômico do imbondeiro e a viabilidade do
plantio econômico do mesmo;
iii. Parceria entre o Ministério do Meio Ambiente com o Ministério
da Educação para tornar obrigatória a inclusão da Disciplina E-
ducação Ambiental na grade curricular a partir das classes inici-
ais;
iv. Criar projetos de lei que visem a preservação e evitem a supres-
são da espécie;
v. Priorizar áreas verdes ou praças públicas preservadas com re-
manescentes da espécie Adonsônia digitata, bem como resgate
de outras árvores nativas com opções de áreas de interação
como passeios para caminhadas, ciclovias e áreas de lazer no
entorno dos vários municípios de Luanda
vi. Criar Reservas Ecológicas/Biológicas como por exemplo: no alto
do Kifangondo, e mais na área central por exemplo, transformar
as margens do Rio Cambambe, ao longo do Bairro Talatona, em
uma Reserva Ecológica/Biológica aproveitando o volume de im-
bondeiros existentes naquela área, local onde deverá ter lugares
apropriados para o resgate cultural e sobre as utilidades da ár-
vore;
vii. Parceria entre o Ministério do Meio Ambiente com o Ministério
da Educação para tornar obrigatória a inclusão da Disciplina
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Educação Ambiental na grade curricular a partir das classes ini-
ciais;
viii. Criar projeto de Parcerias com empresas públicas e privadas
nacionais e internacionais que aqui trabalham, para que contri-
buam para atenuar os problemas ambientais;
2. Por parte da população:
Nas entrevistas que foram realizadas ficou claro que todos deixam a respon-
sabilidade de preservar da planta somente para o Governo, e talvez seja por
isto que a cada dia tomba mais uma árvore. Deve-se compreender que não
depende só do governo, mas da força e participação de cada um. Desta for-
ma é necessário que cada um assuma esta nobre tarefa de impedir que ou-
tros imbondeiros tombem, diante da força daqueles que sonham a cada dia
em mais ter. Isto pode começar com a criação de grupos de proteção, organi-
zando e realizando denúncias, plantando novas árvores mantendo vivas as
historias na memória das crianças, envolvendo-as nesta cruzada.
7 RESULTADOS ESPERADOS
Ao desenvolver este trabalho nos surpreendemos com a escassez de ma-
terial sobre este tema abordado. Os imbondeiros parecem nunca terem encontrado
morada em nossas bibliotecas, os jovens pouco ou nada sabiam sobre esta grande
árvore, o seu farto volume não foi suficiente para elevar na nossa juventude um pou-
co mais de curiosidade e compromisso com a história. Desta forma o primeiro resul-
tado que se pretende com este trabalho é fomentar novas pesquisas sobre esta
planta, que torne eterna e viva em nossa mente a sombra dos imbondeiros.
Pretende-se também despertar os órgãos públicos para o tema, antes que
tombem as últimas arvores. Contribuindo na fixação das raízes desta planta na histo-
ria do país, fazendo brotar no peito de cada angolano o orgulho por esta árvore que
tanto acolheu os antepassados, inspirando-lhes força, coragem e uma longa vida.
Tem-se muito à aprender sobre esta planta, que atravessa os séculos, se conside-
rarmos que atualmente a média de vida de um angolano fica em torno de quarenta e
quatro anos. Estas árvores que hoje se derrubam, sem nenhum escrúpulo, nos dão
exemplo de vida longa, são séculos nos oferecendo sombra, frutos e remédios, não
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só para o homem, mas também, para muitos animais, desde um pequeno pássaro
até a um respeitado elefante.
Constatando-se a eficácia do plantio econômico do imbondeiro, ocorrerá a
recuperação da espécie e aumentará sua população. Aliado a isso a inclusão da
disciplina Educação Ambiental nas escolas, proporcionará uma maior reflexão da
população em relação à proteção do meio ambiente, bem como a criação de uma
futura Associação dos Amigos do Imbondeiro.
O Ministério do Meio Ambiente deverá criar ações mais concretas, capa-
zes de levar as pessoas que a derrubam a refletir e preocuparem-se com a preser-
vação e manutenção desta importante espécie.
A criação de uma Reserva Ecológica no local será apropriada para a for-
mação de agentes ambientais e para o resgate das tradições que acompanham a
existência da árvore gigante de Angola.
Do empresariado, bem como dos formadores de opiniões, assim como da
mídia impressa e falada, e instituições de ensino publica-privada espera-se uma
maior responsabilidade social para auxiliar na preservação do meio ambiente em
toda a região.
8 VIABILIDADE DA PROPOSTA
Acredita-se que todas as propostas podem ser viabilizadas, pois, existem exemplos
que deram certo em várias culturas e países. A conscientização e educação se tor-
nam o alicerce de transformação das ações em prol da coletividade. Como exemplo
pode-se citar a grande transformação do problema do lixo de Luanda que nestes
poucos anos já mudou a cara da cidade, mais bela, mais limpa e mais agradável.
Com novas ações governamentais, com a criação do Ministério de Meio Ambiente e
novas políticas para está área, despertam o interesse e o respeito pelo verde e a
natureza, com legislações protecionistas e políticas de fiscalização. Com controle
eficiente e objetivando o resgate do Imbondeiro, que poderá envolver parcerias com
outros ministérios com destaque para Agricultura, Educação e Cultura, também com
o Conselho de Ministros, Assembléia Legislativa, o Executivo e a Iniciativa Privada,
na busca de ações e viabilização financeira no patrocínio e execução destes proje-
tos.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A árvore gigante de Angola que está presente desde as Províncias até a
Capital é sem dúvida o Imbondeiro. Com a experiência vivida na época colonial e no
período de 30 anos de guerra civil, a população se tornou individualista e se aco-
modou, aguardando que as decisões sejam tomadas pelos governantes. Justifica-se
assim a sua omissão em relação à preservação dos imbondeiros, vez que responsa-
bilizam somente o governo pela preservação da flora e fauna local.
O crescimento desordenado da cidade, provocado pela migração das
províncias para a Capital, no começo fugindo da guerra e posteriormente em procura
do trabalho e da família, o grande investimento do governo em obras de infra-
estrutura por todo País, como a recuperação e revitalização das estradas, portos e
aeroportos principalmente, e a consolidação do processo de Paz, facilitando a des-
locamento no fluxo Província-Capital-Província, fez que esses migrantes retornem às
suas bases em busca da esposa ou marido ideal, aumentando assim cada vez mais
o número de habitantes residentes em Luanda.
Há urgência em se implantar em Luanda um Planejamento Urbano, e a-
pesar de o Governo desenvolver um Programa arrojado de construções habitacio-
nais populares, faz-se necessário controlar o avanço desordenado e irregular, para
evitar a favelização da periferia.
Vale ressaltar que, em algumas áreas muitos conjuntos habitacionais fo-
ram construídos preservando as árvores de imbondeiros, porém, após a entrega
desses imóveis, os moradores, destroem as árvores e ampliam suas casas, demons-
trando uma falta de consciência ambiental.
O Ministério do Meio Ambiente de Angola, é muito recente, foi criado em
2008, e ainda está em fase de estruturação, carecendo de dispositivos legais pre-
servacionistas, além de mecanismos de fiscalização e controle.
Os resultados deste estudo demonstram que os entrevistados reconhe-
cem a importância da árvore, principalmente os mais velhos, pois faz parte da sua
cultura, porém, alguns fatores de ordem religiosa, econômica e social, e ainda a mí-
dia externa, vem deteriorando os princípios culturais do povo, especificamente na
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 156-182, abr./set. 2012.
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capital. Os valores passam a ser outros, sendo visível a despreocupação dos mais
novos em relação aos valores tradicionais e passam a impressão de que o alegre e
pró-ativo povo angolano vêm extirpando suas raízes culturais, talvez em velocidade
maior que a supressão do imbondeiro.
Um registro disso é que as vestimentas masculinas e femininas alteraram-se, pois
hoje praticamente já não se vê homens circularem com “bubus” e somente as senho-
ras mais velhas as “mamans” usam os panos (trajes típicos) com panos enrolados à
cintura e na cabeça.
Figura 26: Flagrantes do cotidiano de 2006 num mercado de rua e a naturalidade da jovem com os
“panos”. Fotos do Autor.
Figura 27: Eventos na escola, homens com bubus e as mulheres como no encontro de senhoras tipicamente vestidas. Fotos do Autor.
As mais jovens já tem vergonha deste costume, vestindo jeans e encur-
tando as saias, influenciados principalmente pelas novelas brasileiras, além disso
mais dois fatores ficam evidentes, a comida tradicional “funge” com “quissaca” e “ga-
linha rija”, já não é tão solicitada nos refeitórios, inclusive o da empresa, como antes.
Nota-se que o respeito aos mais velhos e as autoridades tradicionais está se per-
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 156-182, abr./set. 2012.
182
dendo muito rapidamente, sendo que muitas destas tradições relacionadas aos hábi-
tos alimentares e culturais estão intimamente ligados aos imbondeiros.
Na vida se luta por aquilo que se consegue visualizar em seu verdadeiro
valor, para que estas sombras se tornem eternas neste espaço de solo é necessário
fazer brotar no peito de cada cidadão o compromisso com a história e com a tradição
locais.
REFERÊNCIAS
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REDUÇÃO DE EMISSÃO DE CO2 NAS ATIVIDADES AÉREAS DA EMPRESAAÉREA ABSA S.A., COM ÊNFASE NA REDUÇÃO DE CONSUMO DE COMBUS-
TÍVEIS FÓSSEIS.
Luis Eduardo Melnik*Jairo Afonso Henkes**
RESUMO
O trabalho aqui apresentado tem por finalidade sugerir mudanças opera-
cionais em uma empresa aérea objetivando a redução de emissões de CO2 através
da redução de consumo de combustíveis fósseis. Para tanto, uma pesquisa foi ela-
borada junto a uma das principais empresas de transporte aéreo de carga no Brasil
e a análise e verificação dos dados apresentados foram aqui transcritos de forma a
corroborar com a viabilidade deste tipo de programa. Os resultados apresentados
neste trabalho são bastante animadores e reforçam a ideia do crescimento e evolu-
ção de forma sustentável. Será possível verificar, ao longo do texto, os benefícios
ambientais e econômicos trazidos por este projeto.
Palavras-chave: Redução de emissão; Dióxido de Carbono; Aviação;
Sustentabilidade.
___________________________________________________________________* Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental – Unisul Virtual. E-mail:luis.melnik@unisul.br** Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Gradua-ção em Gestão Ambiental da Unisul. Mestre em Agroecossistemas. Especialista em AdministraçãoRural. E-mail: jairo.henkes@unisul.br
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1 INTRODUÇÃO
A geração de energia é a marca da evolução tecnológica dos tempos atu-
ais e sem dúvida não seria possível imaginar o mundo sem os benefícios trazidos
por ela. Mas é através da forma como atualmente realizamos estas transformações
que também nos expomos a seus perigos. A constante busca pela inovação dos
processos aplicados em uma empresa leva a uma interminável busca pelo que é o
novo. Muitas vezes somos surpreendidos não pelo que é novo, mas pelo o que já
julgávamos conquistado. Mesmo que o tema não seja uma novidade este ainda é
atual.
O presente trabalho propõe-se a discutir a implementação de um modelo
operacional relativo a operações de pouso de aeronaves em uma empresa aérea,
envolvendo, a principio, apenas o setor de operações de voo. Não cabe nesta pes-
quisa a comparação com outras empresas ou processos. Embora o trabalho seja
guiado dentro de uma determinada empresa poderemos constatar a sua relevância
para todo o mercado. Por fim, este projeto não tem a pretensão de esgotar o assun-
to, mas trazer a sua contribuição a gestão de empresas.
Este estudo de caso pode ser dividido em duas partes, sendo a primeira
compreendida pelos capítulos: 1) introdução, 2) tema, 3) objetivos e 4) procedimen-
tos metodológicos.
A segunda e última parte é constituída pelos capítulos: 5) análise da reali-
dade observada, 6) proposta de solução da situação problema e 7) considerações
finais, bem como as referências.
2 TEMA
A produção de CO2 (gás carbônico) por meio antrópico é hoje a marca de
nossa evolução tecnológica. O CO2 vem sendo apontado como o principal compo-
nente do efeito estufa, sendo este responsável pelo aquecimento global.[...] a concentração de gases na atmosfera vem aumentando consideravel-
mente, ao passo do crescimento das civilizações. Tal aumento já é notável
nos meados do século XIX, quando teve início a Revolução Industrial. Este
acúmulo de gases de efeito estufa, no caso antrópico, faz com que parte da
irradiação solar que seria liberada fique na atmosfera, causando o fenôme-
no de aquecimento (CERRI, C.; CERRI, E., 2007).
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A mitigação dos efeitos nocivos causados pelo homem junto ao meio am-
biente se faz tão necessário quanto o próprio desenvolver tecnológico. Para tanto, já
que a erradicação deste problema é viável na atualidade, a sociedade, através de
seus governos e setores industriais vem tentando diminuir o contínuo impacto cau-
sado, através de reduções de emissão de gases poluentes, principalmente de CO2.
Hoje, a principal fonte de emissão de CO2 é a queima de combustíveis
fósseis utilizados na geração de energia elétrica e pelos meios de transporte.Outros fatores que levam a este aumento é a utilização dos recursos natu-
rais tais como: carvão, petróleo e áreas florestadas, pois, devido à utilização
desses recursos, é liberada na atmosfera a poluição gerada pelos veículos,
queimadas, fábricas, agricultura e usinas energéticas (CERRI, C.; CERRI,
E., 2007).
Svante Arrhenius culpa a queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e
carvão) pela produção de dióxido de carbono (CO2) (PRESSE, 2007).
Neste contexto, o presente trabalho terá como tema a redução de emis-
são de CO2 nas atividades aéreas da empresa ABSA S.A., através da implementa-
ção de uma política operacional com ênfase na redução de consumo de combustí-
veis fósseis, visando o desenvolvimento de forma sustentável.
A justificativa deste trabalho encontra-se na necessidade global de melho-
ria de processos com redução de custos e o melhor aproveitamento dos recursos
naturais. Para a empresa aérea onde se efetuará esta pesquisa, a contribuição ime-
diata será a melhoria de seus processos operacionais e a redução de custos prove-
nientes do menor consumo de combustível. Para a sociedade, o benefício direto é a
redução do consumo de bens naturais, apoiando, assim, o desenvolvimento susten-
tável. Para o proponente, a elaboração e condução deste projeto trazem o amadure-
cimento profissional, amplia a visão gerencial proporcionando um melhor entendi-
mento da inter-relação meio ambiente e desenvolvimento.
Diante do exposto, este trabalho visa responder: “Quais são os benefícios
na implementação de uma política operacional, com ênfase na redução de consumo
de combustíveis fósseis para a empresa aérea ABSA S.A.”?
Ao final deste trabalho, será possível propor melhorias ao atual modo de
operação aérea da empresa consolidando sua visão de responsabilidade ambiental.
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3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Este trabalho tem como objetivo avaliar o Programa de redução de emis-
são de CO2 nas atividades aéreas da empresa aérea ABSA S.A., tomando como
base a implantação de uma política operacional com ênfase na redução de consumo
de combustíveis fósseis.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Descrever e analisar o atual modo de operação aérea utilizada pela em-
presa, visando referenciar seus pontos positivos e negativos.
- Avaliar o novo modelo de operação aérea na empresa ABSA S.A., apli-
cado pela nova proposta operacional para a fase de pouso e rolagem das aerona-
ves.
-Propor requalificação profissional aos funcionários da empresa para o
uso correto deste novo procedimento.
- Analisar os resultados relativos à redução de emissão de CO2 após a
implantação do novo modelo operacional e compará-las com os dados anteriores.
- Identificar os benefícios gerados pelo novo processo.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A caracterização do estudo deste trabalho será uma pesquisa na forma
de um estudo de caso exploratória. Com base na explicação de Rauen (2002), que
mostra o estudo de caso como um estudo profundo de um ou de poucos objetos, o
qual busca retratar a realidade de forma completa e profunda, de modo a permitir o
seu amplo e detalhado conhecimento.
4.1 CAMPO DE ESTUDO
Esta pesquisa está relacionada com as atividades da empresa ABSA S.A.
de transporte aéreo de carga, a referida empresa tem como sede o aeroporto de
Campinas, SP. Seu quadro de pilotos é composto por setenta tripulantes técnicos e
três aeronaves, modelo Boeing 767-300.
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A escolha da amostra nesta pesquisa será de caráter não-probabilístico
intencional, por entender que a natureza do problema implica a escolha de sujeitos
com características definidas pelo pesquisador, o qual escolheu como amostra o
diretor de operações e um grupo formado por oito pilotos. Esta escolha está relacio-
nada de forma direta com o objeto de estudo, a redução de emissões através da re-
dução de consumo de combustível fóssil.
4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descri-
tos no quadro a seguir.
Instrumento decoleta de dados
Universo pesquisado Finalidade do Instrumento
EntrevistaO Diretor de operações da
empresa e oito pilotos.
Definir como as operações de
pousos são atualmente reali-
zadas.
Observação Di-reta ou do par-ticipante
Acompanhar as operações de
pousos realizadas pela empre-
sa.
Definir como são os atuais
procedimentos de operação e
definir melhorias.
DocumentosSerão analisados: manuais e
boletins técnicos do fabricante
e do operador.
Trabalhos acadêmicos e bibli-
ografia especializada
Definir a possibilidade de me-
lhorias nos atuais procedi-
mentos.
Dados Arquiva-dos
Arquivo eletrônico: e-mail, bo-
letins, manuais.
Entender o funcionamento e
limitações do atual sistema.Quadro 1- Instrumento de coleta de dados.
Fonte: Unisul Virtual, 2007.
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5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE OBSERVADA
A história da ABSA iniciou em 02 de Junho de 1995 como uma empresa
aérea de carga utilizando em suas operações um avião DC-8-71F, efetuando vôos
não-regulares em rotas internacionais: Bogotá, Caracas, México e Miami foram seus
principais destinos. Em agosto de 2001, foi designada “Empresa Aérea Regular de
Bandeira Brasileira“, pelo antigo DAC (Departamento de Aviação Civil), hoje ANAC
(Agência Nacional de Aviação Civil), passando a operar vôos regulares domésticos e
internacionais, com a substituição de seus aviões por um modelo mais eficiente o
Boeing 767-300F. Em julho de 2005, a ABSA incorporou à sua frota o seu segundo
B767-300F, sendo esta a primeira aeronave exclusivamente cargueira de grande
porte original de fábrica, fornecida diretamente da Boeing em Seattle (EUA) a uma
empresa brasileira. Em 2008 teve uma participação de 25% na movimentação do
total da carga aérea internacional (exportação + importação) transportada de e para
todos os aeroportos brasileiros (ABSACARGO AIRLINE, 2011). Neste ano (2008)
houve a incorporação do terceiro B767-300F.
Nos últimos 14 anos, a ABSA expandiu suas operações e atendeu mais
de 35 destinos internacionais e 10 destinos domésticos. Hoje, a ABSA possui autori-
zação para efetuar vôos regulares para os EUA, Chile, Colômbia, Peru, Equador,
Argentina, Panamá, Paraguai e Alemanha (ABSACARGO AIRLINE, 2011).
A ABSA Cargo está localizada no Aeroporto Internacional de Viracopos
em Campinas, São Paulo, sendo este o maior aeroporto de carga da América Latina.
A ABSA conta em sua estrutura com 300 funcionários diretos, e uma estrutura orga-
nizacional descrita na figura 1, além de trabalhar com empresas terceirizadas e es-
tabelecer parcerias com outras empresas do setor de transportes (ABSACARGO
AIRLINE, 2011).
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Figura 1 – Organograma Geral
Fonte: Empresa ABSA S.A. (2011).
A figura acima é um organograma parcial da empresa ABSA, visto que o
objeto de estudo nesta empresa é o setor de operações de vôo, o qual é represen-
tado pelo diretor de operações, comandantes e co-pilotos.
No decorrer da pesquisa foi possível constatar os padrões atuais de ope-
ração da empresa e são notórios os procedimentos adotados para a redução de
combustível em suas aeronaves, objetivando, além da economia em combustível, a
redução de emissões.
A empresa possui três aeronaves Boeing 767-300F (somente para trans-
porte de carga) de mesmas características: bi-motor, com peso máximo de decola-
gem de 186 toneladas, podendo transportar até 55 toneladas de carga.
Constam de seus procedimentos atuais a utilização de rotas otimizadas
entre os aeródromos de decolagem e pouso; movimento nos pátios (taxi da aerona-
ve), após o pouso, com um motor desligado; balanceamento da carga e aeronave;
softwares de navegação de última geração; entre outros.
No tocante a operação de aeronaves de grande porte, desde a fase de
decolagem até a redução dos motores para a descida e aproximação, os motores a
jato trabalham em regime da máxima eficiência com valores próximos a cem por
cento da potência disponível sendo utilizada. Para a fase de descida e aproximação
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para pouso, esta realizada com regime de potência em torno de cinqüenta por cento
da potência disponível, pouco pode ser ofertado para a empresa, em termos de re-
dução de emissões, visto que esta fase de vôo é dependente de fatores diversos,
como: acúmulo de tráfego para aproximação, meteorologia, infraestrutura aeroportu-
ária, controle de tráfego aéreo, etc.
Na fase de pouso (toque da aeronave na pista de pouso) e na de rolagem
(desaceleração da aeronave sobre a pista de pouso), o atual procedimento reco-
mendado pela empresa, é a utilização dos motores com máxima potência reversa,
isto é o uso dos reversores do motor em potência máxima, aliados aos freios das
rodas do trem principal.
De acordo com o comandante “A” (2009):[...] Sabemos (todos os pilotos) que existem muitas técnicas de pouso, utili-
zamos esta, porque está no manual da empresa!
Co-piloto “B”:[...] Dizem que, o critério para uso do reverso no pouso era para poupar os
freios, porque, um tempo atrás, eles eram mais caros que o combustível que
carregávamos.
O cálculo de distância de pouso, exigido pelas autoridades mundiais de
aviação, os quais são responsáveis pela elaboração das normas utilizadas pela in-
dústria, não requerem o uso dos reversores do motor após o pouso com a finalidade
de auxiliar a desaceleração e parada da aeronave de forma segura sobre a pista. De
acordo com o Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC 25.125):
Distância de Pouso e Comprimento de Pista Requerido. A distância de
pouso é definida como a distância horizontal para chegar a uma parada
completa da aeronave sobre a superfície da pista de pouso e descolagem,
assumindo para fins de certificação, que não são requeridos o uso dos
reversores para o cálculo de distâncias de parada.
Após analise inicial do procedimento operacional adotado pela empresa
para a fase de pouso, foi realizado o acompanhamento das informações dos regis-
tros de bordo sobre o consumo de combustível, apesar destes valores não computa-
rem especificamente o combustível utilizado pelos reversores. Ainda, foram levanta-
das as informações do fabricante referente ao consumo de combustível utilizado pe-
lo grupo reversor da aeronave B767-300F.
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Foi possível verificar que não há restrição operacional por parte do fabri-
cante da aeronave e das autoridades governamentais.
Apesar do exposto acima, o intuito da organização é manter um alto pa-
drão em seus procedimentos, todos os problemas observados são estruturais, ou
seja, passíveis de correção através de treinamento e aplicação de técnicas e normas
mais adequadas à empresa.
Abaixo, apresenta-se um quadro com os pontos fortes e fracos levantados
na observação realizada na empresa em estudo.
Problema Pontos Fortes Pontos fracos Justificativa
A empresa já utili-
za alguns métodos
de controle e redu-
ção de emissões.
Falta de técnicas e
normas para os
procedimentos re-
lacionados à fase
de pouso das ae-
ronaves.
Melhorar os índi-
ces econômicos e
de emissões.
É detentora de cer-
tificação para reali-
zação de pousos
sem a utilização de
reversores.
Falta à implemen-
tação do procedi-
mento, via treina-
mento e conscien-
tização dos tripu-
lantes.
Maior eficiência na
operação.
Quais são os bene-
fícios da implemen-
tação de uma polí-
tica operacional
com ênfase na re-
dução de consumo
de combustíveis
fósseis para a em-
presa aérea ABSA
S.A.?
Disposição para
mudanças e corre-
ções na atual for-
ma de organiza-
ção.
Falta de organiza-
ção.
Otimização de pro-
cessos.
Quadro 2 – Pontos fortes e fracos do setor de operações da empresa ABSA.
Fonte: autor (2011).
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6 PROPOSTA DE SOLUÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
6.1 PROPOSTA DE MELHORIA PARA A REALIDADE ESTUDADA
Diante do que até aqui foi exposto, o autor propõe as seguintes reformas
como promotoras de melhorias para a redução de emissão de CO2 nas operações
aéreas da empresa ABSA S.A.:
a) Normatizar a realização de pousos sem a utilização de reversores:Todos os procedimentos operacionais relacionados ao voo devem estar contidos nos
manuais da empresa. A realização de pousos sem a utilização dos reversores deve
constar no Manual Geral de Operações, sendo suas normas e técnicas publicadas e
difundidas para o grupo de voo. Todos os procedimentos devem ser homologados
pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), tendo sido comprovada a capacida-
de da aeronave para a execução desta manobra via fabricante do avião.
b) Reformulação do programa de treinamento: O setor de treinamento
tem caráter essencial no processo acima citado, sendo o coautor destas mudanças.
O programa de treinamento deverá ser constantemente revisado e atualizado quan-
do necessário, visto que, o processo de redução de emissões deve ter caráter de
melhoria contínua.
Ao setor de treinamento cabe a divulgação de novas normas e deve fo-
mentar a adesão do grupo, a estas. Deverá servir de apoio durante todo o processo
de instrução de pilotos e será o coletor de feedback de todos os procedimentos apli-
cados. Mais do que criar uma conscientização do grupo de voo em relação à redu-
ção de emissões, o setor de treinamento deve formar gestores capazes de colocar o
processo em ação, objetivando com isso maior eficiência nas operações aéreas.
Somente através do treinamento contínuo poderão ser usufruídas ao má-
ximo as benesses das mudanças propostas.
Conscientização.
Padronização das operações de pouso sem a utilização de reversores.
Redução de emissões.
Retroalimentação do programa.
Otimização de processos.
Melhorar de forma contínua os índices econômicos e de emissões.
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6.2 RESULTADOS ESPERADOS
Através da implementação de pousos sem a utilização do grupo motor de
reversores de motor do Boeing 767-300F da Absa Cargo, será possível verificar os
seguintes resultados:
Número de pousos/dia (para o total de três avi-
ões)
12
Economia por pouso em Litros 41,6 Litros
Total/dia 499,2 Litros
Total/anual 182.208 Li-
tros/AnoQuadro 3 – Redução de queima de querosene para pousos sem reversores.
Fonte: Boeing (2011).
Os valores acima apresentados de redução de consumo (queima) de que-
rosene de aviação são a média para este tipo de aeronave. Variações destes valo-
res podem ocorrer por: tempo de uso e manutenção dos motores, variações climáti-
cas (ex.: temperatura local), mas são mínimas.
A redução dos custos de uma empresa está diretamente ligada à redução
do que esta consome na produção de bens e serviços para realizar seu processo
produtivo, assim sendo, esta técnica de redução de emissões trará junto, a adequa-
ção à responsabilidade ambiental, a redução de custos de operação, como pode ser
observado, existe uma substancial redução de consumo e consequentemente de
redução de emissão de CO2 por queima de combustível fóssil.
O aprimoramento das técnicas operacionais visa gerar um melhor apro-
veitamento dos recursos disponíveis e a redução de seus custos, demonstrando
maior confiabilidade nos serviços prestados a sociedade e podendo com isso pro-
porcionar a redução de tarifas, também.
A redução dos custos operacionais da empresa aérea ABSA S.A, através
das mudanças propostas, será notada já partir do início de sua implementação.
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Todas estas mudanças representam a diminuição do custo final do produ-
to ofertado pela empresa, fazendo desta uma empresa mais competitiva, além de
demonstrar seu engajamento a questões ambientais.
6.3 VIABILIDADE DA PROPOSTA
A viabilização deste projeto requer somente a mudança de padrões ope-
racionais e envolve somente a área de operações de voo. Os valores monetários de
implementação destes procedimentos não alteram o orçamento da empresa, visto
que, as mudanças em relação aos procedimentos para pouso ficarão sob a respon-
sabilidade do setor de treinamento e o mesmo já é realizado de forma contínua. Não
há necessidade de ser alocado um número maior de aulas ou reuniões com o grupo
de voo.
Como a utilização ou não de reversores para pouso, não é uma manobra
desconhecida para pilotos, não se faz necessário o treinamento prático, nem em si-
mulador de voo ou em voos reais. O treinamento em sala de aula terá um conteúdo
informativo sobre o novo modelo operacional e trará informações das vantagens e-
conômicas e ambientais sobre o tema. É previsto que o total de tripulantes envolvi-
dos nas operações conclua esta fase em um período de três meses, não sendo ne-
cessário aguardar o término das classes para início da operação com esta nova roti-
na.
Estima-se, ainda, uma economia anual em torno de R$ 637.000,00 so-
mente relativos ao combustível, se computarmos os valores relativos à manutenção
e desgaste dos motores que utilizam o grupo de reversores em potência máxima na
fase de pouso, os ganhos, facilmente, ultrapassam a R$ 1.000.000,00.
A implementação deste projeto levará a ABSA S.A. a aprimorar suas téc-
nicas operacionais e de gestão ambiental, levando a redução de custos e tarifas,
aumentando a sua participação no mercado e consequentemente seu lucro.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto foi motivado na crença da busca contínua por excelência.
Excelência que não é sinônimo de custos elevados, mas sim de oportunidades que
se revelam nas pequenas coisas do dia-a-dia.
Foi desenvolvida neste trabalho, a análise do processo de redução de e-
missões de uma empresa aérea do setor de cargas, referenciando seus pontos posi-
tivos e negativos. Após uma cuidadosa seleção de dados e aquisição de informa-
ções mais estruturadas foi-me possível sugerir a criação ou adequação de um de
seus procedimentos operacionais.
A redução de emissões é muito mais do que um modismo de época. É
uma necessidade, uma urgência, que deve contribuir para um presente sustentável,
sem o qual não podemos imaginar um futuro adequado para as gerações vindouras.
Este tipo de ação reflete não somente na organização onde é aplicada, vem a con-
tribuir com a conscientização de toda comunidade, através de seus indivíduos.
Foi possível mensurar e prever somente alguns dos benefícios originados
pelas mudanças propostas, já que este processo, se aplicado de forma correta, a-
presenta-se inacabado, pois o mesmo nunca deverá ter fim, ou seja, deverá ser atu-
alizado constantemente.
São fortes as evidencias de que a aplicação deste projeto trará redução
de custo de operação, aprimoramento de técnicas e uma melhor consciência ambi-
ental para a empresa e seus colaboradores.
Ainda, deve-se expor que os obstáculos encontrados não foram suficien-
tes para a mudança de rumo durante a pesquisa e que acredita-se que o amadure-
cimento das pessoas envolvidas, já está a tal ponto elevado, que este trabalho ocor-
reu de forma ordenada e sem grandes contra tempos.
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CO2 EMISSION REDUCTION IN THE ACTIVITIES OF THE AIR CARRIER ABSAS.A., WITH EMPHASIS ON THE REDUCTION OF FOSSIL FUEL CONSUMPTION.
ABSTRACTThe work presented here is to suggest operational changes in an airline aiming toreduce CO2 emissions by reducing fossil fuel consumption. For this purpose, a sur-vey was developed by one of the major airlines in Brazil and load analysis and verifi-cation of the data presented here were transcribed in order to corroborate the feasi-bility of such a program. The results presented in this study are very encouraging andreinforce the idea of growth and development in a sustainable manner. It will be pos-sible to verify, throughout the text, the environmental and economic benefits broughtby this project.
Keywords: Reduction of emissions, Carbon Dioxide, Aviation, Sustainability.
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ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM ENCOSTAS:DELIMITAÇÃO ATRAVÉS DE DADOS SRTM
Robson Pereira Alvares*Jairo Afonso Henkes**
RESUMO
O presente trabalho constitui-se em um estudo de viabilidade da aplicação do Mode-lo Digital de Elevação – MDE, elaborado a partir dos dados da missão “Shuttle Ra-darTopography Mission” (SRTM), no intuito de verificar se um mapa de declividadeelaborado através deste insumo permite a delimitação de áreas de preservaçãopermanente em encostas. A metodologia adotada utilizou dados vetoriais do Siste-ma Cartográfico do Distrito Federal para confecção de um MDE que serviu de basecomparativa para análise do MDE do SRTM. Foram utilizadas ferramentas de geo-processamento na execução das seguinte tarefaz: conversão da base vetorial e da-dos matriciais ao mesmo sistema de coordenadas, geração do modelo irregular detriangulação que originou o MDE do SICAD, comparação dos insumos através deimagens de diferença e estatística dos dados. Todos os dados foram analisados aluz do decreto lei nº 89.817, de 20 junho de 84, que define o Padrão de ExatidãoCartográfica – PEC. Os resultados encontrados indicam o Padrão de Exatidão Car-tográfica Classe A referido a escala 1 : 100.000 para o MDE do SRTM, tomando-secomo referência o modelo do SICAD, gerado a partir de base vetorial de PEC A naescala de 1: 10.000. Entretanto as regiões de maiores discrepâncias altimétricas emrelação ao modelo de referência, foram encostadas nas áreas de encostas e toposde morros, permitindo concluir sua inviabilidade para uso no que tange o objeto dapesquisa.
Palavras-chave: Modelo Digital de Elevação – MDE SRTM; Altimetria; Cartografia;
Sensoriamento Remoto; Geoprocessamento.
* Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental – Unisul Virtual.E-mail: robson.alvares@unisul.br
** Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Gradua-ção em Gestão Ambiental da Unisul. Mestre em Agroecossistemas. Especialista em AdministraçãoRural. E-mail: jairo.henkes@unisul.br
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1 INTRODUÇÃO
As dificuldades de interpretação e análise do relevo de extensas áreas
com a finalidade de subsidiar a tomada de decisões em projetos de grande aporte
financeiro, foram diminuindo a partir do desenvolvimento da cartografia digital e o
avanço das geotecnologias, possibilitando a modelagem digital da elevação da su-
perfície terrestre.
O desenvolvimento da tecnologia para geração de Modelos Digitais de
Elevação se deu através do professor Charles L. Miller, do Massachusetts Institute of
Technology – MIT, ao buscar subsídios para a execução de projetos de estradas,
auxiliado por computador (BRITO, 2007). Seus primeiros experimentos se deram
através da digitalização de dados topográficos coletados por levantamento planialti-
métrico, que em virtude do elevado grau de detalhamento para atingir precisão com-
patível com as demandas de projetos, vem sendo substituído por métodos mais rá-
pidos de obtenção à distâncias das informações.
A análise digital da superfície terrestre é feita através de arquivo matricial
cuja matriz composta por linhas e colunas de pixels com coordenadas planimétricas,
representam através de sua variação tonal do preto ao branco as referencias altimé-
tricas no mesmo. Sua utilização nas análises isoladas, possibilitando a identificação
pontual de altitudes, o cálculo de declividades de encostas ou na integração dos
modelos com outros dados, possibilitando a geração de cartas temáticas para apti-
dão agrícola, etc.
Utilizando-se destas ferramentas, no ano de 2000, foi lançado um projeto
com a finalidade de examinar a superfície terrestre, oceanos, atmosfera, gelo e vida.
Os dados da Shuttle Radar Topography Mission(SRTM), são resultado de uma mis-
são espacial da NASA (National Aeronautics and Space Administration), NIMA (Nati-
onal Imagery and Mapping Agency), DLR (Agência Espacial Alemã) e ASI (Agência
Espacial Italiana) com o objetivo de gerar um Modelo Digital de Elevação (MDE) da
Terra usando a interferometria, isto é, o processo de irradiação por radar da topogra-
fia. O projeto SRTM teve como veículo espacial a nave Endeavour. O equipamento
de Interferometria utilizado era uma versão modificada do mesmo instrumento (C/X-
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Band Synthetic Aperture Radar); os dados de elevação SRTM são determinados
relativamente ao elipsóide (WGS-84). SILVA apud PIRES (2006).
Neste estudo será utilizado como um dos insumos o DEM gerado pela
missão SRTM da NASA e refinado pelo INPE, onde foram utilizadas imagens interfe-
rométricas do planeta, adquiridas nas bandas C e X, em fevereiro de 2000, resultan-
do na geração de DEM’s regionais com 90 metros de resolução espacial. VALERIA-
NO e ROSSETTI(2008) descrevem que, o refinamento foi executado para que se
pudesse atender a exploração do potencial destes dados, para derivação dos descri-
tores topográficos ou geomorfológicos do terreno, preservando-se as características
geométricas de detalhes do MDE formado, pois são sensíveis ao método de empre-
go no refinamento, o que gerou uma reamostragem do pixel com resolução espacial
de 3” para 1”.
Através de pares estéreos do RADARSAT, por processo similar a foto-
grametria convencional, duas imagens são adquiridas a partir de diferentes antenas
e incidências, permitindo a estereoscopia. Segundo PARADELLA et all (2000) “...
pontos de mesma posição no terreno são modelados e usados para derivar a eleva-
ção do Modelo Digital de Elevação - DEM.”
Projeto similar utilizando a tecnologia de imageamento por radar está
sendo desenvolvido pelo projeto Radiografia da Amazônia, originalmente concebido
pela Casa Civil e pelas Forças Armadas em abril de 2008, e executado pela Diretoria
de Serviço Geográfico, onde as imagens tem sido geradas através de um radar ae-
rotransportado operando nas bandas P e X. A grande vantagem deste projeto é o
mapeamento abaixo da copa das arvores devido ao comprimento de onda da banda
P (72 cm), que propicia a coleta de dados abaixo do dossel da floresta, permitindo a
representação do terreno natural, detalhando-se linhas de cumeada, talvegs e mas-
sas d’água. Como a banda X (3 cm) não possui a mesma propriedade, seu imagea-
mento restringe-se ao topo da vegetação existente e ao solo exposto, o que permite
pela interação entre as duas imagens o levantamento da biomassa da região image-
ada.
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2 TEMA
O Brasil devido as suas dimensões continentais, variedade de relevo e a
grande disponibilidade de recursos hídricos, enfrenta dificuldades para a identifica-
ção e fiscalização das áreas que devem ser conservadas ao longo dos cursos
d’água e nas encostas com alta declividade.
A Lei 4.771 de 1965 que instituiu o código florestal brasileiro definiu estas
áreas como Áreas de Preservação Permanente – APP´s, que segundo seu § 2o, in-
ciso II, são constituídas por regiões cobertas ou não por vegetação nativa, com a
função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geo-
lógica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar
o bem-estar das populações humanas.
Segundo DIAS (2011) conceitualmente a função da APP é manter a esta-
bilidade geológica, principalmente visando a proteção das áreas de encostas e topo
de morros, além daquelas associadas aos recursos hídricos. Sabe-se que mesmo
preservadas, as áreas com grandes declividades estão sujeitas naturalmente a mo-
vimentos de massa (deslizamentos).
A dificuldade de identificação das APP´s se deve a ausência de bases
cartográficas em escalas compatíveis para delimitação das mesmas, que possibili-
tem a mensuração das distâncias entre as margens dos rios e a análise de declivi-
dade das encostas. Nota-se que esta dificuldade quando observada do ponto de vis-
ta da cartografia convencional, esta longe de ser superada em função do elevado
custo para confecção de cartas e plantas em escala compatível com as necessida-
des de usuários e órgãos governamentais. Parte desta demanda tem sido suprida a
nível municipal pela confecção de plantas para dar suporte aos planos diretores,
contudo as áreas rurais, objeto de grandes desmatamentos sofrem com a falta de
insumos para sua identificação, delimitação e posterior fiscalização.
Ao longo dos últimos anos algumas técnicas de geoprocessamento, asso-
ciadas ao uso de imagens de sensoriamento remoto, tem sido utilizadas para gerar
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os insumos necessários a atividade de planejamento urbano, rural e a fiscalização
pelos órgãos competentes.
De forma sintética pode-se afirmar que sensoriamento remoto, é a obten-
ção de informações de um objeto à distância, e segundo CROSTA (1992), a função
primordial do processamento digital de imagens de sensoriamento remoto, é a de
fornecer ferramentas, para facilitar a identificação e a extração da informação conti-
das nas imagens, para posterior interpretação.
Segundo LADWIG (2009) apud XAVIER-DA-SILVA (1999) o geoproces-
samento é um conjunto de técnicas de processamento de dados destinado a extrair
informação ambiental a partir de uma base de dados georreferenciada. Ainda se-
gundo LADWIG (2009) apud Rocha (2002), o geoprocessamento é uma tecnologia
transdisciplinar que, através da localização e do processamento de dados geográfi-
cos, integra várias disciplinas, equipamentos, programas, processos, entidades, da-
dos, metodologias e pessoas, para coleta, tratamento, análise e apresentação de
informações associadas a mapas digitais georreferenciados.
Utilizando-se destas ferramentas, no ano de 2000, foi lançado um projeto
com a finalidade de examinar a superfície terrestre, oceanos, atmosfera, gelo e vida.
Os dados da Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), são o resultado de uma
missão espacial da NASA (National Aeronautics and Space Administration), NIMA
(National Imagery and Mapping Agency), DLR (Agência Espacial Alemã) e ASI (A-
gência Espacial Italiana) com o objetivo de gerar um Modelo Digital de Elevação
(MDE) da Terra usando a interferometria, isto é, o processo de irradiação por radar
da topografia. O projeto SRTM teve como veículo espacial a nave Endeavour. O e-
quipamento de Interferometria utilizado era uma versão modificada do mesmo ins-
trumento (C/X-Band Synthetic Aperture Radar); os dados de elevação SRTM são
determinados relativamente ao elipsóide (WGS-84). SILVA apud PIRES (2006).
Assim, tendo em vista o acima exposto, este trabalho visa responder a
seguinte questão: “Qual a viabilidade de produção de cartas de desnível utilizando-
se dos insumos gerados pela missão “Shuttle RadarTopography Mission” (SRTM)
para determinação de áreas de preservação permanente em encostas?
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Este projeto, justifica-se em virtude da necessidade da obtenção de um
posicionamento com respaldo técnico para circunstanciar e validar em função da
escala de utilização, o uso deste insumo na delimitação de áreas de encostas com
inclinação acima de 25º, o que forneceria dados para o embasamento de decisões
ligadas a área de gestão ambiental a nível municipal, estadual e federativo.
Do ponto de vista pessoal, este trabalho apresenta uma oportunidade de
crescimento profissional, pelo aprendizado de novas ferramentas e desenvolvimento
de técnicas para obtenção de dados através de sensoriamento remoto, uma vez que
este pesquisador atua na área de agrimensura e cartografia.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Análise da viabilidade de determinação das Áreas de Preservação Per-
manente em encostas, através de mapa de declividade gerado por ferramentas de
geoprocessamento, utilizando imagens de sensoriamento remoto.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Gerar um Modelo Digital de Elevação a partir das curvas de nível e pontos co-
tados do mapeamento do SICAD para comparação com Modelo Digital de E-
levação do SRTM.
Verificar o Padrão de Exatidão Cartográfica Altimétrico do Modelo Digital de
Elevaçao do SRTM, no intuito de validar seu uso na determinação da declivi-
dade para delimitação das Áreas de Preservação Permanente.
Elaboração de um mapa de declividades, delimitando as APP’s na região do
Parque Nacional de Brasília e a Rebio da Contagem, ambas no Distrito Fede-
ral.
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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 CAMPO DE ESTUDO
Está pesquisa foi executada de forma descritiva, baseando-se na análise
comparativa entre os modelos digitais de elevação, gerados pela missão SRTM e o
que foi gerado através das curvas de nível e pontos cotados obtidos no mapeamento
executado pela CODEPLAN (Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central),
com base no vôo de agosto de 1991 realizado pelo consórcio AEROSUL-ESTEIO.
As folhas mapeadas estão no Sistema Cartográfico do Distrito Federal (SICAD) onde
todo o Distrito Federal foi englobado no Fuso 23, meridiano central -45º, a oeste de
Greenwich, tendo como datum horizontal o Astro Chuá, como datum vertical o maré-
grafo de Imbituba (Santa Catarina) e projeção Universal Transversa de Mercator. A
base para a produção dos modelos digitais do terreno produzida pela manipulação e
o processamento dos dados adquiridos das cartas em escala 1:10.000 em formato
CAD. Os softwares utilizados para realização deste trabalho serão o ARCMAP 9.3, o
ENVI 4.4 e o MICROSTATION V8.
A escolha da amostra desta pesquisa será de caráter não-probabilistico,
uma vez que o objeto desta pesquisa necessita de áreas com encostas que possu-
am grande elevação, fazendo com que a escolha mais adequada seja a região com-
preendida entre as longitudes 47º40’ W, 48º10”W e latitudes 15º30’S e 15º44’S. O
polígono delimitado por estas coordenadas encontra-se dentro dos limites do Parque
Nacional de Brasília.
4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descri-
tos no quadro a seguir.
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Instrumento decoleta de dados
Universo pesquisado Finalidade do Instrumento
DocumentosManual do software ENVI,
ArcGis, livros de sensoriamen-
to remoto e artigos relaciona-
dos ao assunto.
Artigos científicos e Bibliografia
atualizada
Base conceitual e domínio de
ferramentas para execução
das tarefas relacionadas ao
objetivo
Dados Arquiva-dos
Imagens de sensores orbitais
ativos e passivos, base vetorial
dos dados planialtimétricos da
área em questão.
Produção de modelo digital
de elevação do terreno com
respectiva comparação de
sua precisão e acurácia.Quadro 1- Instrumento de coleta de dados.
Fonte: Unisul Virtual, 2007.
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE OBSERVADA
A invasão e utilização incorreta de áreas de grande valor ambiental, se
tornou algo comum nos grandes centros e áreas rurais. Este fato se deve a fiscaliza-
ção ineficiente em virtude das dimensões continentais de nosso país e a dificuldade
de identificação destas áreas. Esta ocupação retrata a ausência de planejamento,
demandando atuação preventiva e repressiva dos órgãos competentes, sobretudo
pela observância de metragens e inclinações estabelecidas pelo código florestal
quanto as áreas de preservação permanente.
SILVA e ZAIDAN ( 2007 apud COSTA, 2009,p.1), retratam seu ponto de
vista sobre a realidade da América Latina quanto a conservação do meio ambiente:Ao se tratar de América Latina, composta por países ditos em desenvolvimento, é notória
a necessidade de conservar e principalmente fiscalizar as áreas de proteção ambiental
permanente, em especial dos ecossistemas urbanos, já que a porção insular da América
é marcada por uma dinâmica própria de crescimento na qual impera desajustes estrutu-
rais que influenciam decisivamente na qualidade de vida da população.
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A grande conseqüência destas invasões é referente aos risco de desliza-
mentos, enchentes e poluição dos rios devido a falta de planejamento territorial.
O mapeamento das áreas de preservação ambiental ganha importância
no contexto nacional, uma vez que dá respaldo aos órgãos competentes para que
possam fiscalizar e penalizar os infratores, aplicando as devidas sanções.
Para que se possa produzir os insumos necessários e economicamente
viáveis para viabilizar o papel do Estado como fiscal, torna-se necessário o uso de
algumas ferramentas modernas aplicadas no contexto da cartografia, tais como o
sensoriamento remoto, utilizando-se sensores orbitais e aerotransportados e o geo-
processamento, através de plataformas de Sistemas de Informações Geográficas -
SIG.
Neste contexto a cartografia como ciência se estabeleceu em meio a ne-
cessidade humana de explorar novos continentes em busca de riquezas, e em con-
seqüência, o homem descobriu novos continentes. Seu desenvolvimento se deu a-
través de novas descobertas científicas, pelo desenvolvimento das artes e ciências e
pelos movimentos históricos que exigiram maior precisão na representação gráfica
da superfície terrestre.
Segundo BAKKER (1965, apud SANTOS, 1989,p.2), “a cartografia é a ci-
ência e arte de expressar, por meio de mapas e cartas, o conhecimento da superfí-
cie terrestre[...]”.
Portanto a representação da superfície terrestre pode ser feira através de
mapas, cartas e plantas, nos dando informações de acidentes naturais e artificiais do
relevo, assim como informações não visíveis, tais como limites político-
administrativos, divisores d’água, etc.
Alguns eventos históricos contribuíram fortemente para o desenvolvimen-
to da cartografia moderna. Dentre eles podemos citar o advento da agulha magnéti-
ca (século XV), que possibilitou as grandes navegações e por consequência, a in-
tensificação do comércio. Neste mesmo período intensificou-se a produção cartográ-
fica em virtude de novas técnicas de impressão, quando houve a substituição dos
manuscritos. Neste mesmo século, surge a cartografia Holandesa, representada
principalmente por Mercator e Ortelius, no século XVII sucedendo a cartografia Ho-
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landesa, aparece a Escola Francesa, e no século XVIII, a Academia de Ciências de
Paris, com o desenvolvimento das ciências, particularmente da matemática, da geo-
désia e astronomia, que possibilitou à cartografia mais solidez científica através do
uso de novos instrumentos como sextantes, teodolitos, cronômetros, etc., viabilizan-
do a determinação mais precisa dos elementos da superfície terrestre. O século XIX
foi caracterizado pelo desenvolvimento dos Serviços Geográficos Nacionais sendo
iniciados levantamentos topográficos em quase todos os países da Europa. Onde as
necessidades de navegação obrigavam as potências marítimas a efetuarem levan-
tamentos costeiros de todas as partes do mundo (BAKKER, 1965).
No Brasil o Serviço Geográfico foi criado em 31 de maio de 1890, inicialmente anexo ao
Observatório do Rio de Janeiro e depois transferido para o Ministério do Exército, então
Ministério da Guerra. Em 20 de junho de 1903, iniciava a execução do Projeto "A Carta
Geral do Brasil", elaborado pelo Estado-Maior do Exército, com a instalação da Comis-
são da Carta Geral, em Porto Alegre - RS. A partir de 1917 o Serviço é progressivamente
organizado na Fortaleza da Conceição, no Rio de Janeiro - RJ, sob a denominação de
Serviço Geográfico Militar. Em 1920 chega ao Brasil a Missão Austríaca, contratada pelo
Estado-Maior do Exército, com a finalidade de fornecer o embasamento técnico necessá-
rio ao mapeamento do Território Nacional. Os austríacos introduziram no país o levanta-
mento topográfico à prancheta, os métodos estereofotogramétricos de emprego de foto-
grafias terrestres e aéreas e a impressão off-set. A atual denominação Diretoria de Ser-
viço Geográfico (DSG) é atribuída por Portaria Ministerial de 1953, em conformidade com
a nova estrutura de organização do Exército. (DIRETORIA DE SERVIÇO GEOGRÁFI-
CO, 2011).
No século XX, a cartografia ganha um grande impulso em virtude do uso
de técnicas de Aerofotogrametria e pela introdução da eletrônica no instrumental
necessário aos levantamentos, procurando atender as demandas geradas pelo pro-
gresso com a produção em massa, no menor tempo possível e com precisão cada
vez maior (BAKKER, 1965).
Através das inovações tecnológicas que geraram um aumento da preci-
são dos produtos cartográficos, a Cartografia eleva sua importância na produção de
dados geográficos, deixando de oferecer apenas dados impressos analógicos. Esta
notoriedade foi propiciada pelo avanço da computação gráfica e o uso de técnicas
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de Geoprocessamento, promovendo um grande salto para produção cartográfica em
larga escala de forma digital, através da análise de dados e geração de produtos de
forma semi-automática e em alguns casos automática.
Segundo MARBLE (1984 apud LADWIG, 2009, p.16), “geoprocessamento
é o conjunto de tecnologias destinadas à coleta e tratamento de informações espa-
ciais assim como ao desenvolvimento de novos sistemas e aplicações, com diferen-
tes níveis de sofisticação”.
O termo Geoprocessamento denota a disciplina do conhecimento, que uti-
liza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geo-
gráfica e que vem influenciando de maneira crescente as áreas de Cartografia, Aná-
lise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Ur-
bano e Regional.
Historicamente na década de 70 foram observadas limitações quanto ao
custo dos equipamentos e a pessoal especializado em cartografia e computação,
contudo, a principal limitação era em relação aos altos preços dos mapeamentos
digitais devido ao custo do equipamento, software e mão de obra. Nos anos 80, ma-
pas produzidos em off-set puderam ser transcritos para o meio digital no formato
vetorial através de mesas digitalizadoras. O processo consiste em uma mesa que
possui uma malha magnética, um cursor e um computador com um software que
interpreta o sinal emitido pelo cursor sobre a mesa (RUFINO e FAGUNDO, [2007?],
p.55).
Embora, ainda seja um processo utilizável, em virtude das imprecisões ao
adquirir os dados vetoriais como, dilatação do papel, sensibilidade do equipamento e
erros inerentes ao próprio operador, este processo para produção cartográfica caiu
em desuso. Dando espaço a digitalização matricial através de scanner das cartas
analógicas, com posterior vetorização do produto. A vetorização do arquivo matricial
é mais precisa, pois ao ser georreferenciado o arquivo sofre ajustes possibilitando a
amenização de deformações como rotação, escala em ambos os eixos e translação
da imagem, propiciando vetores mais precisos. Este processo pode ser realizado
através de softwares como ArcGIS, ENVI, ERDAS, SPRING e CAD’s que possuam
ferramenta apropriada, dentre outros.
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A conversão dos dados analógicos em vetoriais ganha grande importân-
cia devido a utilidade pública das bases cartográficas à medida que dados tabulares
na forma de banco de dados são vinculados aos vetores, propiciando análises espa-
ciais em virtude dos atributos existentes nos bancos. Esta aplicação torna-se eviden-
te nos Sistemas de Informações Geográficas – SIG, que segundo WORBOYS (1995,
apud LADWIG,2009,p.25) é “um sistema de informações baseado em computador,
que permite a captura, modelagem, manipulação, recuperação, análise e apresenta-
ção de dados geográficos”.
Um SIG é a ferramenta computacional para o Geoprocessamento, que
permite uma análise conjunta de dados vetoriais e tabulares, através de algoritmos
computacionais próprios, representando informações sobre a distribuição geográfica
de recursos minerais, propriedades, animais e plantas, disponibilizando informações
sobre a organização da sociedade moderna.
Ressalta-se que a conversão dos dados analógicos, sejam vetoriais ou
tabulares, representa uma grande fração dos recursos para a implantação de um
SIG, sendo que seu custo pode ser um impedimento para a adoção em pequenas
organizações. Sempre que possível deve-se primar pela automatização da entrada
dos dados, pois processos manuais são bastante propensos a erros, sendo comum
observar-se a digitalização vetorial semi-automáticos e automáticos à medida em
que cresce a mão-de-obra e decresce o custo de equipamentos e software (RUFINO
e FAGUNDO, 2000).
O SIG pode ser aplicado em várias áreas do conhecimento e em mais á-
reas simultaneamente, o que lhe agrega valor e aumenta seu poder de resposta a
problemas.Devido a sua ampla gama de aplicações, que inclui temas como agricultura, floresta, car-tografia, cadastro urbano e redes de concessionárias (água, energia e telefonia), há pelomenos três grandes maneiras de utilizar um SIG:
Como ferramenta para produção de mapas - geração e visualização de dados espa-ciais; Como suporte para análise espacial de fenômenos - Combinação de informações es-paciais; Como um banco de dados geográficos - com funções de armazenamento e recupera-ção de informação espacial. (RUFINO e FAGUNDO, [2000], p.57)
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Utilizando-se de ferramentas de geoprocessamento, os produtos finais
podem ser gerados no formato vetorial ou matricial. No formato matricial cada cela
ou pixel, possui um valor qualitativo que a diferencia em relação às demais, sendo
os arquivos armazenados na forma de matriz, possibilitam operações algébricas en-
tre as imagens utilizadas. No formato vetorial os dados são armazenados através de
suas coordenadas cartesianas, possuindo módulo, sentido e direção, propiciando
análises mais precisas quando tratamos de áreas e perímetros. Neste trabalho serão
utilizados ambos os formatos para geração dos Modelos Digitais do Terreno – MDT.
Segundo RUFINO e FAGUNDO, (2000), p.67 apud BURROUGH (1986),
“(...)a eficiência do sistema depende do conhecimento que o usuário tem do problema im-
plementado. É perigosa e enganosa a implementação de um sistema sem a explícita defini-
ção da aplicação, dos dados e dos tipos de análise a serem desenvolvidos.”
Um SIG é concebido em virtude da visão geral que se tem do problema e
normalmente sua execução é feita através de equipe multidisciplinar, o que propor-
ciona maior conhecimento sobre a situação estudada, aumentando as chances de
êxito. Neste contexto ressalta-se que alguns projetos não necessitam necessaria-
mente de um SIG, mais sim da aplicação de algumas ferramentas de geoprocessa-
mento contidas nos softwares apropriados para SIG, possibilitando a geração de
mapas temáticos que medem no espaço de atributos valores nominais e ordinais,
onde os valores nominais (lista de valores) representam classes de um mapa temáti-
co, como por exemplo, um mapa de vegetação e os de valores ordinais as classes
do mapa, que representam intervalos (escala) de valores, como por exemplo, as
classes de um mapa de declividade (0 a 5% - 5 a 10%, etc), conforme ilustrado na
Figura 01.( RUFINO e FAGUNDO, 2000. p 72).
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Figura 01 – A esquerda mapa de vegetação e a direita mapa de declividades.
Fonte: Rufino e Fagundo (2000,p.72)
Em virtude da ausência de recursos destinados a produção cartográfica
no intuito de atualizar cartas existentes e produzir novas folhas em escalas maiores,
as imagens de sensoriamento remoto, obtidas principalmente por sensores orbitais,
têm sido o principal insumo para produção de mapas temáticos.
O sensoriamento remoto é definido por Lillesand e Kiefer (1987 apud
SULSOFT, p.1) como “... a ciência e arte de receber informações sobre um objeto,
área ou fenômeno pela análise dos dados obtidos de uma maneira tal que não haja
contato direto com este objeto, esta área ou este fenômeno”. As informações são
obtidas através da radiação eletromagnética que chega ao sensor de acordo com as
características do objeto e proporcionalmente aos comprimentos de onda refletidos
emitidos e absorvidos.
A principal fonte de radiação natural é o Sol, que emite, a uma temperatu-
ra de cerca de 6000 K, grandes quantidades de energia em um espectro contínuo
conforme figura 02.
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Figura 02: O espectro electromagnético, a transmissividade atmosférica e os comprimen-tos de onda usados em sensoriamento remotoFonte: SULSOFT, 2005, p. 1.
Em sensoriamento remoto podemos obter informações através de senso-
res ativos e passivos. Os ativos se diferenciam dos passivos, pois a radiação recebi-
da pelo sensor é gerada pelo mesmo, já os passivos recebem a radiação refletida ou
emitida pelo alvo.
A radiação natural forma um espectro contínuo, que contém comprimen-
tos de ondas de milésimos de nanômetros até dezenas de quilômetros. As técnicas
de sensoriamento remoto por sistemas passivos, contudo, utilizam somente o inter-
valo de 0,2 até 12,5m, dividido em bandas espectrais. Quando a radiação eletro-
magnética atravessa a atmosfera terrestre, os gases e aerossóis que a compõe, co-
mo oxigênio, ozônio, vapor d’água, gás carbônico, bloqueia a entrada de parte desta
energia, caracterizando-se para os comprimentos de onda relativos a este bloqueia a
intransmissividade ( SULSOFT, 2005).
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Os dados obtidos através do Guia do ENVI, nos retratam a forma como a
Radiaçao Eletromagnética – REM, chega até os alvos na superfície terrestre, con-
forme descrito abaixo:
O grau de transmissão, ou transmissividade, representa a capacidade das ondas eletro-
magnéticas em penetrarem a atmosfera. As faixas de comprimento de onda para as
quais a atmosfera parece transmissível são definidas como janelas atmosféricas. Elas
têm grande importância, porque possibilitam a reflexão da radiação pela Terra e podem
ser aproveitadas pelos sistemas sensores passivos. Além de toda a banda do visível, as
janelas mais importantes localizam-se no IR: são os intervalos entre 0,7 e 2,5 m, de 3,5
até 4,0 m e de 8,0 até 12,0 m. ( SULSOFT, 2005, p.2)
As janelas atmosféricas permitem a entrada de REM que de acordo com
as características físico-químicas dos alvos, proporcionam a reflexão desta energia
em maior ou menor intensidade, o que permite uma identificação singular das carac-
terísticas de cada objeto, em virtude da reflectância de cada banda.
A capacidade de identificação de alvos depende da resolução do sensor
que produz as imagens. Estas resoluções são desdobradas em três categorias de
forma independente, sendo: a resolução espacial, resolução espectral e resolução
radiométrica.
De forma prática, a resolução espacial é determinada pela capacidade do
detector em distinguir objetos na superfície terrestre, tornando-se importante portan-
to, o tamanho do pixel que compõe a matriz da imagem. Segundo LADWIG (2009)
em geral a resolução espacial de um detector é expressa em termos do seu campo
instantâneo de visada ou IFOV (“instantaneous field of view”). O IFOV define a área
do terreno focalizada a uma dada altitude pelo instrumento sensor. De uma forma
simplificada, o IFOV representa o tamanho do pixel.
A resolução espectral é um conceito inerente às imagens multi-espectrais,
sendo definida pelo número de bandas disponibilizadas pelo sensor, onde banda é o
intervalo de comprimento de onda do espectro eletromagnético gravado em determi-
nado canal.
A resolução radiométrica é expressa em bits, onde níveis de cinza são
usados para expressar os dados coletados pelo sensor. Quanto maior o número de
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bits de uma imagem, mais nítida esta imagem será. O número de níveis de cinza é
comumente expresso em função do número de dígitos binários (bits) necessários
para armazenar, em forma digital, o valor do nível máximo. O valor em bits é sempre
uma potência de 2, assim, 5 bits significam 25 que é igual a 32 níveis de cinza. (
SULSOFT, 2005)
A figura abaixo mostra a diferença entre imagens com radiometrias dife-
rentes. A primeira com dois níveis de cinza representada apenas pelo preto e o
branco (um bit) e a segundo com 32 níveis de cinza (cinco bits), o que torna evidente
a maior riqueza de detalhes.
Figura 3- comparação entre duas imagens de resoluções radiométricas diferentesFonte: Crósta (1993, P.27)
Quando temos limitações por condições atmosféricas, seja por cobertura
de nuvens ou fumaça produzida pelas queimadas, temos a operacionalidade dos
sensores passivos reduzida, ou até mesmo anulada. Regiões como a Amazônia em
virtude de sua vasta cobertura florestal, apresentam nas cartas topográficas, os da-
dos altimétricos relativos à copa das árvores, pois os sensores passivos não imagei-
am abaixo das mesmas, apresentando uma falsa impressão de planície ao se ob-
servar o dósel da floreta que tende a se nivelar na procura da luminosidade solar .
Esta limitação quanto a condições atmosféricas desfavoráveis, tem sido
contornada com o uso de sensores ativos como o RADARSAT, que utiliza um Radar
de Abertura Sintética- SAR, possibilitando a aquisição de imagens em condições
adversas como bruma, chuva e ausência de luminosidade solar. Este radar se cons-
titui em um dispositivo imageador que opera em rádio-frequência, fornecendo ima-
gens bidimencionais, dos dados em campo tridimensionais.
Através de pares estéreos do RADARSAT, por processo similar a foto-
grametria convencional, duas imagens são adquiridas, e a partir de diferentes ante-
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nas e incidências, permitem a estereoscopia. Segundo PARADELLA et all (2000) “...
pontos de mesma posição no terreno são modelados e usados para derivar a eleva-
ção do Modelo Digital de Elevação - DEM.”
Projeto similar, utilizando a tecnologia de imageamento por radar está
sendo desenvolvido pelo projeto Radiografia da Amazônia, originalmente concebido
pela Casa Civil e pelas Forças Armadas em abril de 2008, e executado Diretoria de
Serviço Geográfico, onde imagens tem sido geradas através de um radar aerotrans-
portado operando nas bandas P e X. A grande vantagem deste projeto é o mapea-
mento abaixo da copa das arvores devido ao comprimento de onda da banda P (72
cm), que propicia a coleta de dados abaixo do dossel da floresta, permitindo a repre-
sentação do terreno natural, detalhando-se linhas de cumeada, talvegs e massas
d’água. Como a banda X (3 cm) não possui a mesma propriedade, seu imageamento
restringe-se ao topo da vegetação existente e ao solo exposto, o que permite pela
interação entre as duas imagens o levantamento da biomassa da região imageada.
Os modelos digitais de elevação podem ser utilizados em análises isola-
das, possibilitando a identificação pontual de altitudes, o cálculo de declividades de
encostas ou na integração dos modelos com outros dados, possibilitando a geração
de cartas temáticas para aptidão agrícola, etc.
Neste estudo será utilizado como um dos insumos o DEM gerado pela
missão SRTM da NASA e refinado pelo INPE, onde foram utilizadas imagens interfe-
rométricas do planeta, adquiridas nas bandas C e X, em fevereiro de 2000, resultan-
do na geração de DEM’s regionais com 90 metros de resolução espacial. VALERIA-
NO e ROSSETTI (2008), descreve que o refinamento foi executado para que se pu-
desse atender a exploração do potencial destes dados, para derivação dos descrito-
res topográficos ou geomorfológicos do terreno, preservando as características ge-
ométricas de detalhe do MDE formado, sensíveis ao método de emprego no refina-
mento o que gerou uma reamostragem do pixel com resolução espacial de 3” para 1”
(polegada).
Conforme descrito por FELGUEIRAS e CÂMARA (2001, p.71), dentre as
principais aplicações do MDE pode-se destacar: a produção de dados altimétricos
para geração de cartas topográficas, análises de corte-aterro para projeto de estra-
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das e barragens; elaboração de mapas de declividade permitindo análises ambien-
tais, exposição para apoio a análise de geomorfologia e erodibilidade e a apresen-
tação tridimensional (em combinação com outras variáveis).
Em virtude do acima exposto, as imagens de sensoriamento remoto em
conjunto com as ferramentas de geoprocessamento, tem grande potencial para su-
prir carências no mapeamento sistemático do Brasil, necessitando de estudos que
demonstrem a compatibilidade quanto as escalas e áreas de utilização.
As aplicações na área ambiental tornam-se latentes quando nos reporta-
mos a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 225 do capítulo VI, (Meio Ambien-
te) que diz:“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivida-
de o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar
e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espé-
cies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes
a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os in-
fratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independen-
temente da obrigação de reparar os danos causados.
Disciplinando o acima exposto, o artigo 2° do Código Florestal Brasileiro –
a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 – contempla a criação das Áreas de Pre-
servação Permanente (APP) que em seu Art. 1º § 2º diz que para os efeitos deste
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código, entende-se por Área de Preservação Permanente: “A Área protegida por Lei,
coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar: os re-
cursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gêni-
co de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações huma-
nas”.
Observado o disposto acima, a Lei 4.771 de 1965, alterada pela Lei 7.511
de 1986, considera como APP’s, as florestas e demais formas de vegetação natural
situadas:a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa
marginal cuja largura mínima será:
1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;
2 - de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cin-
qüenta) metros de largura;
3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinqüenta) a 100
(cem) metros de largura;
5 - de 150 (cento e cinqüenta) metros para os cursos d’água que possuam entre 100
(cem) e 200 (duzentos) metros de largura;
6 - igual à distância entre as margens para os cursos d’água com largura superior a 200
(duzentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que
seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100%
na linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa
nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação.
Detalhamento pormenorizado das APP’s pode ser encontrado nas Reso-
luções do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, Nº 302 e 303 de 2002.
A Resolução CONAMA Nº 302 – trata das características legais e intrínsecas de pro-
teção às APP´s no entorno dos reservatórios artificiais e a Resolução CONAMA Nº
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303, traz o estabelecimento de parâmetros, definições e limites referentes às APP’s,
dentre eles destaco os conceitos de morro, montanha, base de morro, linha de cu-
meada, que se tornam imprescindíveis para aplicação da legislação vigente confor-
me descrito abaixo:Morro: elevação do terreno com cota do topo em relação a base entre cinqüenta e tre-
zentos metros e encostas com declividade superior a trinta por cento (aproximadamente
dezessete graus) na linha de maior declividade;
- Montanha: elevação do terreno com cota em relação a base superior a trezentos me-
tros;
- Base de morro ou montanha: plano horizontal definido por planície ou superfície de len-
çol d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota da depressão mais baixa ao
seu redor;
- Linha de cumeada: linha que une os pontos mais altos de uma seqüência de morros ou
de montanhas, constituindo-se no divisor de águas (Resolução CONAMA Nº 303, 2002).
Assim, a utilização do geoprocessamento no contexto das APP, é segun-
do OLIVEIRA, (2009, p.13) apud Câmara & Davis (1996), “um conjunto de tecnologi-
as de coleta, tratamento, manipulação e apresentação de informações espaciais que
vem alicerçando uma série de trabalhos com a finalidade de obtenção das caracte-
rísticas de delineamento das áreas de preservação permanente”.
Esta delimitação encontra dificuldades, devido à escassez de dados em
escala compatível para o diagnóstico das APP. Sendo de extrema relevância o uso
de dados de sensores remotos como os gerados pela missão SRTM (Shuttle Radar
Topographic Mission) e os gerados pelo projeto Radiografia da Amazônia, iniciativa
da Diretoria de Serviço Geográfico do Exército Brasileiro, utilizando radar aerotrans-
portado na banda P, representando uma alternativa para as áreas deficientes.
Embora os dados obtidos por sensoriamento remoto, apresentem um
grande potencial de trabalho para identificação das APP’s, as metodologias de deli-
mitação automática destas áreas ainda precisam de aperfeiçoamento e consolida-
ção, para que se tornem viáveis técnica e economicamente. Disponibilizando-se o
uso destes insumos para produção de mapas temáticos, que auxiliem os órgãos
responsáveis pelo monitoramento e fiscalização ambiental.
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6 PROPOSTA DE SOLUÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
6.1 PROPOSTA DE MELHORIA PARA A REALIDADE ESTUDADA
Em função das dimensões continentais de nosso país, associada à falta
de planejamento, falta de insumos e de instrumentos, que permitam aos órgãos am-
bientais realizar uma fiscalização eficiente nas Áreas de Preservação Permanente.
Torna-se cada vez mais comum, a invasão e utilização incorreta de áreas de grande
valor ambiental, tanto nos centros urbanos como em áreas rurais.
No intuito de corrigir as agressões ao meio ambiente, e garantir o direito
constitucional de que todo cidadão tem o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, torna-se necessário atuação repressiva dos órgãos competentes para
que sejam recompostas as áreas de preservação permanente, previstas no Código
Florestal. Contudo, a principal dificuldade enfrentada por estes é a identificação e
delimitação das áreas que seriam objeto de fiscalização, ganhando importância o
mapeamento das mesmas no contexto nacional, no intuito de dar respaldo aos ór-
gãos competentes permitindo a fiscalização e a penalização dos infratores.
Através da ciência da cartografia, que expressa por meio de mapas e car-
tas o conhecimento da superfície terrestre, este trabalho busca verificar a viabilidade
de determinação das Áreas de Preservação Permanentes em encostas utilizando-se
de ferramentas de geoprocessamento e imagens de sensoriamento remoto.
Esta análise em função de dados cartográficos, pôde ser viabilizada atra-
vés das inovações tecnológicas implementadas nos últimos anos que geraram um
aumento da precisão dos produtos cartográficos e deixando de disponibilizar apenas
dados analógicos como dados digitais do terreno.
Esta inovação se deu a partir dos anos 80, onde mapas produzidos em
off-set puderam ser transcritos para o meio digital no formato vetorial através de me-
sas digitalizadoras, permitindo uma análise computacional tridimensional, dos dados
analógicos.
A conversão dos dados analógicos em vetoriais ganha grande importân-
cia devido a utilidade pública das bases cartográficas à medida que dados tabulares
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 220
na forma de banco de dados são vinculados aos vetores, permitindo seu uso em Sis-
temas de Informação Geográficas – SIG, e por conseguinte em ferramentas compu-
tacionais para o Geoprocessamento, que permite uma análise conjunta de dados
vetoriais e tabulares, ou na forma de matriz, possibilitando operações algébricas en-
tre as imagens geradas ou utilizadas.
Em virtude da ausência de recursos destinados a produção cartográfica e
no intuito de atualizar cartas existentes e produzir novas folhas em escalas maiores,
as imagens de sensoriamento remoto obtidas principalmente por sensores orbitais,
têm sido o principal insumo para produção de mapas temáticos a baixo custo.
Os modelos digitais de elevação podem ser utilizados em análises isola-
das, possibilitando a identificação pontual de altitudes, o cálculo de declividades de
encostas ou na integração dos modelos com outros dados, possibilitando a geração
de cartas temáticas para aptidão agrícola, etc.
As imagens de sensoriamento remoto, em conjunto com as ferramentas
de geoprocessamento são o objeto deste estudo, que tem a intenção de avaliar a
precisão altimétrica do Modelo Digital de Elevação do SRTM. Além de verificar sua
escala de compatibilidade com o padrão de exatidão cartográfica classe A, e analisar
seu uso, para determinação de APP’s em encostas.
6.1.1 MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO - MDE
O Modelo Digital de Elevação nos apresenta a superfície real da terra re-
presentada de forma computacional, correspondendo a uma nova técnica para ela-
boração e implementação de projetos, sendo utilizado, em várias áreas do conheci-
mento, como a geodésia, geofísica, engenharia e hidrologia, podendo ser definido
como a representação matemática de uma superfície, através das coordenadas X, Y
e Z (ROCHA, 2000).
A Modelagem Digital de Elevação consiste basicamente em três etapas:
Aquisição de dados ou Amostragem, Geração do Modelo ou Interpolação e Análises
do Modelo.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 221
Na fase de aquisição ou amostragem ou dados podem ser adquiridos ale-
atoriamente, não possuindo arranjo geométrico ou através de uma malha de triângu-
los, estrutura de TIN (Triangulated Irregular Network), ou uma malha com espaça-
mento regular, GRID (Grade Regular de Pontos), com geometria e origem definidas
Para que o terreno seja representado da forma mais detalhada possível,
deve-se considerar um numero maior de pontos para terrenos irregulares e sua loca-
lização em relação a acidentes geográficos como cristas e pés de morros, evitando
assim erros por subamostragem.
Segundo Nogueira (2009), a grade regular é um modelo digital que apro-
xima superfícies através de um poliedro de faces retangulares, como mostrado na
figura 04.
Os pontos amostrados encontram-se nos vértices dos poliedros, caracte-
rizados pelas coordenadas XYZ, compondo assim o espaço amostral.
Figura 04 - Exemplo de Grade RegularFonte: Nogueira 2009 apud Felgueras e Câmara, 2001.
Uma malha irregular de triângulos é composta por poliedros cujas faces são
triângulos (fig. 05), onde seus vértices são os pontos amostrados na superfície. A
principal vantagem desta modelagem é a possibilidade de coincidência das arestas
dos triângulos com acidentes naturais e artificiais do terreno, representando sua
descontinuidade como cristas e vales por feições lineares, possibilitando preserva-
ção das feições geomórficas da superfície. Por este motivo neste trabalho adotare-
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 222
mos a rede triangular para geração do modelo digital do terreno a partir dos dados
vetoriais do SICAD.
Figura 05 - Exemplo de Grade IrregularFonte: Nogueira 2009 apud Felgueras e Câmara, 2001.
6.1.2 GERAÇÃO DA REDE IRREGULAR DE TRIÂNGULOS (TIN)
Na grade triangular irregular o poliedro de faces triangulares contem em
seus vértices os pontos amostrais, não precisando suas cotas serem estimadas por
interpolações, fato que não ocorre em grades regulares. Os algoritmos usados para
geração do modelo farão uso das curvas de nível e pontos cotados para distribuição
irregular dos pontos amostrais que ligados por linhas, formarão uma malha de triân-
gulos não sobrepostos
Os pontos são conectados geralmente de acordo com a triangulação de De-
launay (MATOS, 2005). Segundo Nogueira (2009 apud FELGUEIRAS, 2001), o crité-
rio utilizado na triangulação de Delaunay é o de maximização dos ângulos mínimos
de cada triângulo. Assim, a malha final deve conter triângulos o mais próximo possí-
vel de eqüiláteros, evitando-se a criação de triângulos com ângulos internos muito
agudos. Uma forma equivalente na implementação da triangulação de Delaunay
consiste em utilizar o critério do circuncírculo.
Portanto a triangulação de Delaunay é executada de forma que o circulo que
passa pelos vértices de cada triangulo não contenha em seu interior nenhum outro
ponto amostral, a não ser, os do triângulo circunscrito, não havendo cruzamento de
duas arestas, conforme ilustrado na figura 06.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 223
Figura 06 - Critério do circuncírculo para geração de triangulações de Delaunay: (a) T1 e T2 são tri-ângulos de Delaunay e (b) T1 e T2 não são triângulos de DelaunayFonte: Nogueira 2009 apud Felgueras e Câmara, 2001.
Devido à geometria de formação dos triângulos, o método TIN apresenta a
vantagem de não formar triângulos para interpolação fora da área, onde se possui
dados, evitando assim a geração de dados altimétricos onde não se tem dados de
controle. Por este motivo evita-se para áreas com relevo movimentado e acidentes
artificiais a geração de um “grid” regular, pois o mesmo extrapolaria os dados, apre-
sentando problemas nos limites da área a ser trabalhada.
Normalmente os softwares que geram o modelo TIN possuem ferramenta
para inclusão de linhas obrigatórias, onde forçosamente são criados triângulos de
forma adequada para modelar situações onde se tenha variação da vegetação e
descontinuidades naturais ou artificiais.
Segundo Nogueira (2009), o Modelo Digital de Elevação gerado a partir de
curvas de nível e pontos cotados, como as únicas fontes de informação altimétrica,
têm dois inconvenientes: a necessidade de um grande volume de dados, que interfe-
re no processamento e manipulação dos dados, e apresentar triangulações inconsis-
tentes (triângulos horizontais e aresta de triângulos interceptando feições topográfi-
cas estruturais), que alteram a representação do terreno. Porém tem como vanta-
gens: a preservação dos pontos amostrais (modelo determinístico), apresentação de
uma estrutura mais precisa (não há inferência de vértices) e possibilidade de con-
versão para outra estrutura (grade regular).
O fato de alguns profissionais usarem em seus trabalhos a malha regular de
pontos, se justifica, pela rápida leitura computacional e uma maior eficiência da es-
trutura dos dados para algoritmos de análise e representação da superfície com o
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ônus de perda de informação em regiões acidentadas pela tendência de suavização
do relevo.
Para aplicação direta na determinação de mapas de declividade de grandes
áreas, a malha regular é inapropriada, pois seu uso cartográfico fica restrito apenas
a pequenas escalas, onde a precisão altimétrica das cristas e pés de elevações não
seja fator preponderante para tomada de decisões.
6.1.3 ANÁLISES DO MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO
Após a geração do MDT, procedemos a análise do modelo em projeção ge-
ométrica planar, onde através de imagens em níveis de cinza, sombreadas ou temá-
ticas, podemos executar cálculos de volumes, de corte e aterro, realizar traçado de
perfis representando transversal ou longitudinalmente uma seção do terreno, gerar
mapas de declividade, drenagem, curvas de nível e mapas de visibilidade para o
planejamento urbano.
Através da interação com outros dados matriciais, vetoriais ou tabulares, os
modelos gerados podem integrar sistemas de informações, propiciando a tomada de
decisões através de ferramentas de geoprocessamento.
A representação da altimetria no MDE bidimensional se dá através de sua
resolução radiométrica, onde a informação do nível de cinza do pixel representa a
altimetria do mesmo. Tomando-se como exemplo uma imagem de 8 bits, teríamos
uma variação tonal de 0 a 255, onde zero é a região onde não existe definição de
cota no modelo.
A figura 07 representa um modelo digital de elevação do terreno, onde te-
mos a percepção da variação altimétrica em função dos níveis de cinza, onde as
linhas de talveg são representadas pelos pixels mais escuros e os pontos mais altos
pelos mais claros.
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Figura 07 – MDE em Níveis de Cinza.Fonte: Nogueira 2009 apud Felgueras e Câmara, 2001.
6.1.3 MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO DO SICAD
Com a finalidade de avaliar a classe de exatidão cartográfica, em função da
escala em que se pode enquadrar o MDE, gerado pela missão SRTM e interpolado
pelo INPE, no projeto TOPODATA. Neste caso o modelo foi reamostrado para uma
resolução espacial de 30 m, será gerado um MDE através dos dados obtidos pelo
processo de restituição fotogramétrica, curvas de nível e pontos cotados, pela Com-
panhia de Desenvolvimento do Planalto Central (CODEPLAN), com base no vôo de
agosto de 1991, realizado pelo consórcio AEROSUL-ESTEIO. A exatidão cartográfi-
ca das folhas produzidas para CODEPLAN foi classificada em A para as plantas de
escala de 1: 2000 e 1:10.000.
As folhas mapeadas fazem parte do Sistema Cartográfico do Distrito Fede-
ral (SICAD), sendo que todo o Distrito Federal foi englobado no Fuso 23, meridiano
central 45º a oeste de Greenwich. Tem como Datum horizontal o Astro Chuá e Da-
tum vertical o marégrafo de Imbituba (Santa Catarina), tendo por projeção cartográfi-
ca a Universal Transversa de Mercator (UTM).
Segundo a Lei Complementar 17/97, Título V, Capítulo II, Art. 71, o Sistema
Cartográfico do Distrito Federal – SICAD, integra o Sistema de Informação Territorial
e Urbana do Distrito Federal. § 2º e é a base cartográfica única para os projetos físi-
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co-territoriais, constituindo a referência oficial obrigatória para os trabalhos de topo-
grafia, cartografia, demarcação, estudos, projetos urbanísticos e controle e monito-
ramento do uso e da ocupação do solo do Distrito Federal. O mapeamento do SI-
CAD foi obtido na versão original no formato proprietário da Bentley System e soft-
ware MicroStation.
6.1.4 MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO SRTM
Com o propósito de produzir um banco de dados digital de todo planetas pa-
ra elaboração de modelos digitais de elevação, foram adquiridos dados para as regi-
ões posicionadas entre os paralelos de latitude 56ºS e 60ºN. As instituições respon-
sáveis por este banco foram a National Imagery and Mapping Agency (NIMA) e a
National Aeronautics and Space Administration (NASA), onde no período de 11 a 22
de fevereiro de 2000 foi realizada a coleta de dados através da nave espacial Ende-
avour. Nesse período, a nave realizou 16 órbitas diárias na Terra, totalizando 176
órbitas durante toda a missão (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E A-
BATECIMENTO, 2011).
A coleta de dados foi executada através de interferometria SAR, utilizando-
se de duas antenas que coletaram dados separadamente por um braço extensor de
60 metros (fig. 08), para posterior processamento por software interferométrico.
Figura 08 – Aquisição de dados do projeto SRTMFonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2011)
Os dados processados são distribuídos em formato raster pelo EROS Data
Center, com resolução radiométrica de 16 bits. Os MDEs são organizados em tiles
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de 1ºx1º e oferecem 30 m de resolução espacial para os Estados Unidos e 90 m de
resolução para as outras localidades. Sua resolução vetical é de 1 m. (MINISTÉRIO
DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABATECIMENTO, 2011).
Através de processos de refinamento os dados disponibilizados para o Brasil
foram reamostrados através do projeto TOPODATA sobre a gerência do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, o que possibilitou atingir uma resolução
espacial de 30 m, objetivando a melhoria do detalhamento do relevo.
Sua interpolação foi feita pelo método de Krigagem, onde se considera que
unidades de análise mais próximas entre si são mais parecidas do que unidades
mais afastadas. Utilizando-se de funções matemáticas para acrescentar pesos maio-
res nas posições mais próximas aos pontos amostrais, e pesos menores nas posi-
ções mais distantes, criando assim novos pontos interpolados com base nessas
combinações lineares de dados. (JAKOB, 2002).
Tal esforço foi motivado pela perspectiva de uma difusão do uso destes da-
dos por profissionais e estudantes de diversas áreas de aplicação, estimulada por
esta oferta.
Da forma em que foram disponibilizados até a geração dos produtos finais,
os dados SRTM passaram por uma seqüência de processos que engloba essenci-
almente: o preenchimento das falhas de aquisição, o refinamento da resolução es-
pacial (de 3” para 1”) e, enfim, seu desdobramento em variáveis geomorfométricas e
outros insumos derivados.
Segundo Evans (1992), a geomorfometria refere-se ao estudo do relevo feito
sob abordagem numérica, baseada na mensuração de características geométricas
da configuração tridimensional da superfície do terreno. Por uma evolução nos re-
cursos de análise de dados topográficos, o termo geomorfometria tem sido cada vez
mais relacionado a análises do MDE através de operações de Sistemas de Informa-
ção Geográfica.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 228
6.1.5 CONTROLE DA QUALIDADE DO MDE
O controle de qualidade do MDE gerado pela missão SRTM será feito com
base na estatística das discrepâncias entre as altitudes de referência – pontos de
controle do SICAD 1: 10.000 - e as obtidas no modelo analisado da missão
SRTM - , pela equação:
(1)
Serão utilizados a partir da imagem de diferença dos modelos, com espaço
amostral de toda a matriz definida pela área de estudo, sendo calculados através de
software a média, maior diferença positiva, maior diferença negativa e o desvio pa-
drão das discrepâncias, sendo a média e o desvio padrão matematicamente defini-
dos por:
(2)
(3)
Sendo:
= desvio-padrão das discrepâncias encontradas;
n – 1 = número de amostras menos uma amostra;
= desvios em relação à média, ao quadrado.
O Decreto Lei nº 89.817 de 20 de junho de 1984 define o Padrão de Exati-
dão Cartográfica (PEC), estando a qualidade geométrica das cartas detalhada nos
artigos 8º e 9º do Capítulo II desse Decreto Lei.Com base nos dados estatísticos
adquiridos serão feitas análises estatísticas da precisão, adotando como padrão as
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 229
Instruções Reguladoras das Normas Técnicas da Cartografia Nacional (Brasil 1984),
conforme transcritos a seguir:
Art 8º - As cartas quanto à sua exatidão devem obedecer ao Padrão de Exa-
tidão Cartográfica - PEC, seguinte o critério abaixo indicado: 1. Noventa por
cento dos pontos bem definidos numa carta, quando testados no terreno,
não deverão apresentar erro superior ao Padrão de Exatidão Cartográfica -
Planimétrico - estabelecido. 2. Noventa por cento dos pontos isolados de al-
titude, obtidos por interpolação de curvas de nível, quando testados no ter-
reno, não deverão apresentar erro superior ao Padrão de Exatidão Carto-
gráfica - Altimétrico - estabelecido. § 1º - Padrão de Exatidão Cartográfica é
um indicador estatístico de dispersão, relativo a 90% de probabilidade, que
define a exatidão de trabalhos cartográficos. § 2º - A probabilidade de 90%
corresponde a 1,6449 vezes o Erro-Padrão - PEC = 1,6449 EP. § 3º - O Er-
ro-Padrão isolado num trabalho cartográfico, não ultrapassará 60,8% do
Padrão de Exatidão Cartográfica. § 4º - Para efeito das presentes Instru-
ções, consideram-se equivalentes as expressões Erro-Padrão, Desvio-
Padrão e Erro Médio Quadrático. Art 9º - As cartas, segundo sua exatidão,
são classificadas nas Classes A, B e C, segundo os critérios seguintes: a -
Classe A 1 - Padrão de Exatidão Cartográfica - Planimétrico: 0,5 mm, na es-
cala da carta, sendo de 0,3 mm na escala da carta o Erro-Padrão corres-
pondente. 2 - Padrão de Exatidão Cartográfica - Altimétrico: metade da e-
quidistância entre as curvas de nível, sendo de um terço desta equidistância
o Erro-Padrão correspondente. b - Classe B 1 - Padrão de Exatidão Carto-
gráfica - Planimétrico: 0,8 mm na escala, da carta, sendo de 0,5 mm na es-
cala da carta o Erro-Padrão correspondente 2 - Padrão de Exatidão Carto-
gráfica - Altimétrico: três quintos da equidistância entre as curvas de nível,
sendo de dois quintos o Erro-Padrão correspondente. c - Classe C 1 - Pa-
drão de Exatidão Cartográfica - Planimétrico: 1,0 mm na escala da carta,
sendo de 0,6 mm na escala da carta o Erro-Padrão correspondente. 2 - Pa-
drão de Exatidão Cartográfica - Altimétrico: três quartos da equidistância en-
tre as curvas de nível, sendo de metade desta equidistância o Erro-Padrão
correspondente. Art 10 - É obrigatória a indicação da Classe no rodapé da
folha, ficando o produtor responsável pela fidelidade da classificação. 27
§ Único - Os documentos cartográficos, não enquadrados nas classes es-
pecificadas no artigo anterior, devem conter no rodapé da folha a indicação
obrigatória do Erro-Padrão verificado no processo de elaboração. Art 11 -
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 230
Nenhuma folha de carta será produzida a partir da ampliação de qualquer
documento cartográfico. § 1º - Excepcionalmente, quando isso se tornar ab-
solutamente necessário, tal fato deverá constar explicitamente em cláusula
contratual no termo de compromisso; § 2º - Uma carta nas condições deste
artigo será sempre classificada com exatidão inferior à do original, devendo
constar obrigatoriamente no rodapé a indicação: "Carta ampliada, a partir de
( ... documento cartográfico ) em escala (... tal)". § 3º - Não terá validade le-
gal para fins de regularização fundiária ou de propriedade imóvel, a carta de
que trata o "caput" do presente artigo. (Brasil 1984).
Uma vez definido o padrão de exatidão, que atinge o modelo, para que se
possa definir a classe de exatidão do mesmo em função da escala de mapeamento.
Deve-se compará-la com os valores citados no decreto lei nº 89.817 de 20 de junho
de 1984, que define as três classes de precisão em A, B e C, conforme apresentado
nas tabelas abaixo.
Tabela 1 - Padrão de Exatidão Cartográfico- Altimétrico em função da escala para
classe A.
PEC Altimétrico Erro Padrão
Escala
Equidistancia
das curvas
de níve (m)Carta Terreno (m) Carta Terreno (m)
1 : 250.000 100 50 33,34
1 : 100.000 50 25 16,67
1 : 50.000 20 10 6,67
1 :25.000 10 5 3,33
1 : 10.000 5
1/2
2,5
1/3
1,66Fonte: Elaboração do autor, 2011.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 231
Tabela 02. Padrão de Exatidão Cartográfico- Altimétrico em função da escala para
classe B.
PEC Altimétrico Erro Padrão
Escala
Equidistancia
das curvas
de nível (m)Carta Terreno (m) Carta Terreno (m)
1 : 250.000 100 60 40
1 : 100.000 50 30 20
1 : 50.000 20 12 8
1 :25.000 10 6 4
1 : 10.000 5
3/5
3
2/5
2Fonte: Elaboração do autor, 2011.
Tabela 03. Padrão de Exatidão Cartográfico- Altimétrico em função da escala para
classe C.
PEC Altimétrico Erro Padrão
Escala
Equidistancia
das curvas
de nível (m)Carta Terreno (m) Carta Terreno (m)
1 : 250.000 100 75 50
1 : 100.000 50 37,5 25
1 : 50.000 20 15 10
1 :25.000 10 7,5 5
1 : 10.000 5
3/4
3,75
1/2
2,5Fonte: Elaboração do autor, 2011.
6.1.6 SOFTWARES UTILIZADOS
Os softwares utilizados para realização deste trabalho foram: plataforma Ar-
cInfo 9.3 em seus aplicativos ArcMap, ArcCatalog, ArcToolbox, software ENVI 4.5
para os processamentos digitais de imagens, MAPGEO2004 para obtenção da on-
dulação geoidal, EXCEL 2007 para execução de cálculos, confecção de gráficos e
WORD 2007.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 232
5.2 RESULTADOS ESPERADOS
6.2.1 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo do trabalho foi selecionada em virtude da variedade do re-
levo, optando-se por uma região com presença de montanhas e planícies, o que
permitirá uma abordagem comparativa entre os modelos de elevação do terreno. O
estudo foi realizado nas folhas de n º 52, 53, 69, 70, 86, 87, do Sistema Cartográfico
do Distrito Federal, que delimita um polígono regular cuja diagonal possui as seguin-
tes coordenadas: canto superior esquerdo Long -47º 56’ 15” e Lat -15º 45’ 00”, canto
inferior direito Long -47º 52’ 30”, Lat -15º 42’ 30”, ambas referidas ao datum hori-
zontal Astro Chuá. A amplitude altimétrica da área varia de 711 a 1342 m, tendo por
referência o marégrafo de Imbituba – SC.
Sua localização político-administrativa abrange porção das regiões adminis-
trativas RA I – Brasília,. RA V – Sobradinho e RA XVIII – Lago Norte, regiões do Dis-
trito Federal, ilustrada conforme figura abaixo.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 233
Figura 09 – Imagem da área de estudo delimitada pelo polígono em pretoFonte: Elaboração do autor, 2011.
6.2.2 COMPARAÇÃO DO MDE SRTM COM O MDE DO SICAD
A partir dos dados vetoriais das plantas topográficas do SICAD, foi gerado
um modelo digital de elevação. Sua confecção teve início na conversão das curvas
de nível dos dados vetoriais CAD para o formato shapefile, através do ArcCatalog,
programa integrante da plataforma do ArcGIS. O formato shapefile, é um arquivo
vetorial que é responsável pela comunicação entre os produtos da empresa ESRI e
outros softwares de SIG.
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Figura 10 – Visualização e conversão do arquivo CAD no ArcCatalogFonte:Elaboração do autor, 2011.
O MDE do SRTM reamostrado pelo projeto TOPODATA, foi gerado em sis-
tema de coordenadas geográficas, datum horizontal WGS-84, tendo como referência
para altimetria a altura elipsoidal. Para viabilização das comparações entre modelos,
todos os insumos foram convertidos para o mesmo sistema de coordenadas, optan-
do-se neste trabalho pelo sistema de projeção UTM referido ao fuso 23, datum hori-
zontal WGS-84 e como datum vertical o Marégrafo de Imbituba-SC.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 235
Figura 11 – Transformação do sistema de coordenadas de arquivo vetorialFonte: Elaboração do autor, 2011.
Como os arquivos vetoriais convertidos, não apresentavam informação tridi-
mensional, tornou-se necessária a elevação das curvas de nível. A atribuição de sua
respectiva altura foi feita através da ferramenta Calcontour do ArcMap conforme a
figura 12. Com a elevação das curvas de nível, foi possível a geração da rede irregu-
lar de triângulos – TIN, procedimento executado no ArcMap através da extensão 3D
Analist.
Figura 12 – Elevação das curvas de nívelFonte: Elaboração do autor, 2011.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 236
Figura 13 – Geração da TIN por intermédio da triangulação de Delanauy.Fonte: Elaboração do autor, 2011.
Figura 14 – Rede irregular de triângulos do SICADFonte: Elaboração do autor, 2011.
A conversão da rede irregular de triângulos em uma imagem em níveis decinza produz o nosso insumo de comparação, que é o modelo digital do terreno.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 237
Figura 15 – Conversão do TIN para MDEFonte: Elaboração do autor, 2011.
Embora todos os dados planimétricos tenham sido convertidos para o mes-
mo sistema de coordenadas, tendo por datum horizontal o WGS-84, o datum vertical
foi mantido, preservando a altura geoidal do SICAD, contudo, o modelo da missão
SRTM tem sua altimetria referida ao datum vertical elipsoidal. Para que possamos
gerar uma imagem de diferença entre os modelos, precisamos nivelá-los ao mesmo
referencial altimétrico.
Em virtude desta necessidade, coletou-se as coordenadas de 36 pontos na
área de trabalho, distribuídos de forma homogênea, servindo de base para o calculo
da ondulação geoidal, insumo decisório sobre a criação de um modelo de ondulação
para a redução ao mesmo plano de ambos, ou sobre a viabilidade da subtração de
uma ondulação média para toda área.
A ondulação geoidal, pode ser obtida através da equação H = h - N, onde H
representa a altura geoidal, h a altura elipsoidal e N a ondulação geoidal. Os valores
calculados de N podem ser negativos ou positivos, o que indica a posição relativa do
elipsóide em relação ao geoide. Quando a altura geoidal for positiva, significa que o
elipsóide se encontra abaixo do geóide e para valores negativos acima, conforme
ilustração abaixo:
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 238
Figura 16 – Interpretação do cálculo da ondulação geoidalFonte: Elaboração do autor, 2011.
Para o calculo da ondulação geoidal foi necessário a transformação das co-
ordenadas cartesianas dos 36 pontos para coordenadas geográficas. Como o MAP-
GEO2004 não apresenta o sistema de coordenadas WGS-84 como opção de saída,
o mesmo foi configurado para o sistema SIRGAS2000, por possuir o mesmo elipsói-
de de referência.
Figura 17 – Distribuição dos pontos usados para calculo da ondulação geoidalFonte: Elaboração do autor, 2011.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 239
Figura 18 – Cálculo da ondulação geoidalFonte: Software Mapgeo2004
Em virtude de termos obtido uma ondulação geoidal média de -12,88 m, com
desvio padrão de 0,15 m, adotou-se como valor inteiro para redução a mesma su-
perfície de referência altimétrica -13 m. Em função da análise do sinal da ondulação,
este valor foi deduzido do modelo SRTM, compatibilizando sua altimetria com a do
SICAD.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 240
Tabela 4 – Coordenadas dos pontos utilizados para o calculo da ondulação geoidal e
respectiva ondulação.
UTM – Astro Chuá (M) Coord. Geográfica – Wgs84(Dd.ddddd)Ponto
E N Latitude LongitudeN (M)
1 185038.9509 8274862.9032 -15,60856949 -47,93693715 -12,902 187621.7108 8274898.1274 -15,60856115 -47,91287349 -12,933 190304.4613 8274934.7153 -15,63357005 -47,88787770 -12,964 192987.2119 8274971.3032 -15,63357309 -47,86288140 -12,995 195669.9624 8275007.8911 -15,63357346 -47,83788459 -13,016 198255.2845 8275043.1503 -15,63357096 -47,81379511 -13,037 185075.7751 8272195.1573 -15,63356561 -47,93693691 -12,858 187658.5350 8272230.3815 -15,63355777 -47,91287043 -12,899 190341.2855 8272266.9694 -15,65856409 -47,88787172 -12,92
10 193024.0361 8272303.5573 -15,65856764 -47,86287250 -12,9511 195706.7866 8272340.1453 -15,65856852 -47,83787277 -12,9712 198290.5339 8272375.3829 -15,65856654 -47,81379514 -12,9913 1851-13,9796 8269427.4209 -15,65856169 -47,93693720 -12,8114 187696.7394 8269462.6452 -15,65855433 -47,91286780 -12,8415 190379.4900 8269499.2331 -15,68355809 -47,88786605 -12,8816 193062.2405 8269535.8210 -15,68356214 -47,86286379 -12,9117 195744.9911 8269572.4089 -15,68356353 -47,83786102 -12,9318 198327.1044 8269607.6243 -15,68356206 -47,81379570 -12,9619 185152.1840 8266659.6846 -15,68355772 -47,93693805 -12,7720 187734.9438 8266694.9088 -15,68355085 -47,91286572 -12,8121 190417.6944 8266731.4967 -15,70768072 -47,88786093 -12,8522 193100.4449 8266768.0846 -15,70768276 -47,86285563 -12,8823 195783.1955 8266804.6725 -15,70768207 -47,83784981 -12,9124 198363.6749 8266839.8656 -15,70768209 -47,81379679 -12,9325 185190.3884 8263891.9482 -15,70768283 -47,93693946 -12,7526 187773.1483 8263927.1724 -15,70768084 -47,91286419 -12,7827 190455.8988 8263963.7603 -15,60856949 -47,88785635 -12,8228 193138.6494 8264000.3482 -15,60856115 -47,86284800 -12,8529 195821.3999 8264036.9361 -15,63357005 -47,83783914 -12,8830 198400.2455 8264072.1070 -15,63357309 -47,81379841 -12,9131 185227.2610 8261220.6981 -15,63357346 -47,93694134 -12,7332 187810.0170 8261256.1980 -15,63357096 -47,91286324 -12,7633 190492.7636 8261293.0723 -15,63356561 -47,88785245 -12,8034 193175.5157 8261329.5487 -15,63355777 -47,86284115 -12,8335 195858.2733 8261365.6286 -15,65856409 -47,83782934 -12,8636 198435.5480 8261400.2898 -15,65856764 -47,81380049 -12,89
Fonte: Elaboração do autor, 2011.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 241
Figura 19– Matemática de bandas.B1- 13.Fonte: Elaboração do autor, 2011.
Compatibilizadas as referências altimétricas, foi realizada a subtração dos
modelos, SICAD – SRTM , obtendo como produto da matemática de bandas um ar-
quivo matricial com a diferença das altitudes dos insumos, que nos ofereceu infor-
mações sobre a variação altimétrica dos modelos conforme descrito na tabela a se-
guir:
Tabela 05 – Variação altimétrica dos modelos e sua estatística.
Altitudes (m)Insumo Mínima Máxima Média Desv. PadrãoSICAD 830 1304 1097 113SRTM 819 1296 1087 113
Fonte: Elaboração do autor, 2011.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 242
Em primeira análise pelos dados fornecidos pela ferramenta de estatística
rápida do ENVI resumida na tabela 05, notamos uma grande semelhança entre os
modelos, que distam entre si na altitude mínima 11 m, na altitude máxima 8 m e na
média 10 m. Destaca-se que o desvio padrão foi o mesmo e que o tamanho da po-
pulação é de 7.626.880 pixels. Uma análise mais detalhada sobre o comportamento
dos modelos será executada através da imagem de diferença dos mesmos.
Na figura a seguir, representa-se a imagem da diferença dos modelos, pode-
se observar as regiões escuras da imagem, que indicam as áreas onde o SRTM en-
contra-se mais alto que o SICAD, e por reciprocidade as regiões claras, onde o SI-
CAD encontra-se mais alto que o SRTM.
Os valores de mínimo e máximo da diferença altimétrica encontrada foram
de -77 m e 83 m respectivamente, a média 9 m e o desvio padrão de 7.5 m. A matriz
da imagem de diferença possuir 7.626.880 pixels onde 8.45 % dos mesmos possu-
em valores negativos e 2.14% dos pontos encontra-se com diferença altimétrica
maior que ± 25m. A imagem apresenta apenas um pixel na cota mínima e um na
máxima.
Figura 20 – Imagem de diferença e quadro de estatística.Fonte: Elaboração do autor, 2011.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 243
O Decreto Lei nº 89.817, em seu Art. 8º, Item 2, parágrafo segundo, nos ori-
enta a respeito do cálculo do Padrão de exatidão cartográfico, onde pontos isolados
de altitude obtidos por interpolação de curvas de nível, quando testados no terreno,
não deverão apresentar erro superior ao Padrão de Exatidão Cartográfico – PEC.
O PEC é um indicador estatístico de dispersão relativo a 90% de probabili-
dade, que define a exatidão do produto sendo que a probabilidade de 90% corres-
ponde a 1,6449 vezes o Erro Proporcional- EP. Em seu § 3º é defino que o Erro-
Padrão isolado num trabalho cartográfico, não ultrapassará 60,8% do Padrão de E-
xatidão Cartográfica e no § 4º - para efeito das instruções, são consideradas equiva-
lentes as expressões Erro-Padrão, Desvio-Padrão e Erro Médio Quadrático.
Devido ao fato da resolução CONAMA Nº 303/2002 não especificar as esca-
la de mapeamento e a resolução espacial de dados matriciais para o estudo da de-
clividade, torna-se desejável que a base apresente PEC classe A e a escala seja a
maior possível, pois variações de escala podem alterar sensivelmente a delimitação
das APP’s. Como já argumentado anteriormente, grande parte do território brasileiro
apresenta apenas cartas topográficas executadas pelo IBGE ou DSG na escala de 1
: 100.000, portanto caso o SRTM apresente PEC classe A , tal fato o colocaria em
pé de igualdade como insumo altimétrico quando comparado com as cartas topográ-
ficas desta escala.
Então se utilizando do artifício que é a base vetorial do SICAD na escala de
1:10.000 tem PEC classe A, que representa exatidão altimétrica melhor que 2,5m, o
modelo gerado a partir desta foi utilizado como verdade de campo e a partir do des-
vio padrão da imagem de diferença que é igual a 7,50 m, vezes 1,6449, foi obtido o
Padrão de Exatidão Cartográfico altimétrico de 12,33 m, valor menor que 25 m cor-
respondente ao PEC na escala de 1:100.000, que equivale a 1/2 da eqüidistância
das curvas de nível nesta escala, enquadrando assim o SRTM no Padrão de Exati-
dão Cartográfico classe A.
De forma semelhante os cálculos foram extrapolados para a escala de 1 :
50.000, onde o PEC não pode ser enquadrado em nenhuma das classes de mape-
amento, o que restringe o uso do SRTM a aplicações compatíveis com a escala de
1 : 100.000.
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6.2.3 TÉCNICA DE FATIAMENTO
Fatiar o modelo consiste em definir intervalos, ou fatias, de cotas a fim de se
gerar uma imagem temática a partir do modelo. Assim, cada tema, ou classe, da i-
magem temática é associado a um intervalo de cotas dentro dos valores atribuídos
ao fenômeno modelado (NOGUEIRA, 2009 apud BRITO, 2001).
A partir da análise da exatidão do modelo em função da PEC altimétrica, o
mesmo foi enquadrado na classe A para escala 1:100.000, não atendendo ao pa-
drão para escalas maiores. Em função disto foi realizada uma análise espacial de
distribuição geográfica das diferenças altimétricas, no intuito de identificar se as á-
reas onde os pixels não atendem a probabilidade de 90% para classe A, encontram-
se dentro das áreas de maior declividade, objeto deste estudo.
Figura 21– Imagem da análise do fatiamento de quatro classes.Fonte: Elaboração do autor, 2011.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 245
Na figura 21 as áreas em preto correspondem à diferença entre o modelo
do SICAD menos o SRTM no intervalo de – 25 m e -77,21m, as em amarelo ao in-
tervalo de 0 a -25 m, as em azul ao intervalo de 0 a 25 m e as em branco ao interva-
lo de 25 a 83,3 m. Neste sentido, destaca-se a importância dos pixels compreendi-
dos fora do intervalo de ± 25 m da imagem de diferença, uma vez que este são os
que não atendem a exatidão altimétrica exigida pela classe A para escala referida. A
figura 22 apresenta uma melhor visualização de abrangência dos intervalos altimétri-
cos representado pelos polígonos em preto e branco, evidenciando as regiões que
não atendem a classe A, dentro de nossa área de estudo.
Figura 22– Imagem das regiões que não atendem a classe A.Fonte: Elaboração do autor, 2011.
Como a legislação referente à delimitação das APP’s não amarra as escalas
de bases cartográficas usadas como insumos para delimitação das mesmas, um
insumo enquadrado em PEC altimétrica classe A não teria qualquer desabono legal
para sua utilização, embora saiba-se que quanto maior a escala, mais precisa será a
delimitação do polígono. Ao longo deste estudo, determinamos que o SRTM possui
PEC altimétrica classe A para escala 1 :100.000, contudo para que possamos utilizá-
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lo, mesmo com a limitação inerente a escala, devemos analisar se as áreas que não
atingiram o padrão de exatidão, dentro do limite estatístico aceitável para classifica-
ção no espaço amostral como um todo, não estão concentradas justamente dentro
das áreas de maior declividade. Para realizar esta comparação foram gerados os
mapas de declividade dos insumos conforme a figura 23.
Em uma primeira análise através de comparação visual entre os dois mapas
de declividade, torna-se notória a suavização do relevo no mapa do SRTM, obser-
vando-se também a inexistência de áreas com inclinação acima de 45º no modelo. O
que indicaria de forma errônea que a área de estudo não apresenta nenhuma APP
nesta classe, fato refutável ao se analisar o modelo pelo insumo do SICAD.
Os mapas de declividade abaixo apresentam a seguinte convenção de fai-
xas de declividade: de 0 a 15%, verde claro; de 15 a 30%, verde escuro; de 30 a
45% laranja e acima de 45%, vermelho.
Figura 23– Mapas de declividade, a esquerda SRTM e a direita SICADFonte: Elaboração do autor, 2011.
Por fim foi realizada a análise de distribuição geográfica das áreas de dis-
crepância conforme a figura 23, onde se torna evidente que as variações altimétricas
negativas que não atendem a probabilidade de 90% para classe A, se encontram
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nas encostas das linhas de talveg e que as positivas estão situadas nos topos de
morros, ambas regiões, de grande relevância para determinação de áreas de APP’s.
Figura 24– Polígonos de discrepância altimétrica, plotados dentro do Mapa de Declividade do SICADFonte: Elaboração do autor, 2011.
5.3 VIABILIDADE DA PROPOSTA
A partir da metodologia usada ao longo da proposta de trabalho espera-se
contribuir, para despertar uma utilização consciente dos insumos disponíveis aos
profissionais das áreas de engenharia cartográfica, civil, agrimensura, agronomia e
áreas afins, a respeito das limitações para geração de polígonos de Áreas de Pre-
servação Permanente através de imagens de sensoriamento remoto, uma vez que
devido a carência de insumos em grande parte do território brasileiro, e por necessi-
dade profissional, muitos são impelidos a utilizar este insumo para execução de tare-
fas sem o devido conhecimento da limitação de uso.
Como grande parte do território nacional apresenta dados cartográficos
apenas nas escalas de 1: 100.000 como maior escala, e boa parte não apresenta
estas convertidas para formato vetorial, a avaliação da exatidão do SRTM em rela-
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ção a insumo gerado por levantamento aerofotogramétrico na escala de 1: 10.000
contribuirá para correta utilização do mesmo.
Desta forma a partir do instrumental utilizado para atingir a proposta do
trabalho podemos considerar que a proposta apresenta-se condizente quanto à via-
bilidade metodológica ao se utilizar imagens de sensores que apresentem precisão e
acurácia, quanto aos dados altimétricos.
Evidencia-se que mesmo em pequenas áreas de estudo, a necessidade
de adequação de hardware e aquisição de softwares compatíveis com o volume de
dados a serem processados, a fim de viabilizar o processo produtivo de instituições,
demandando recursos financeiros inclusive para capacitação de pessoal, customiza-
ção de rotinas e suporte técnico.
Embora os custos para montagem de uma estrutura de trabalho voltada
ao geoprocessamento, não sejam baixos, os mesmos podem ser rateados em virtu-
de da capacidade produtiva adquirida para execução de outros projetos relativos à
confecção e execução de planejamento urbano e rural nas esferas municipal, esta-
dual e nacional.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho buscou-se verificar a viabilidade de determinação
das APP’s em encostas, utilizando-se do mapa de declividade gerado através do
Modelo de Elevação do Terreno a partir da missão SRTM.
Foi verificada sua compatibilidade em função do mapeamento sistemático
nacional, obedecendo a qualidade geométrica descrita pelo Decreto Lei nº 89.817 de
20 de junho de 1984, sendo enquadrado como Padrão de Exatidão cartográfica
Classe A para escala de 1:100.000, não sendo possível sua classificação em clas-
ses inferiores para escalas maiores. Como a resolução CONAMA Nº 303/2002 não
amarra a menor escala para execução de mapas de preservação, foi realizado um
estudo comparativo com o MDE gerado a partir da base vetorial do SICAD, PEC al-
timétrico classe A, na escala 1: 10.000, possibilitando a verificação da concordância
altimétrica entre os modelos.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 249
Verificou-se através dos mapas de declividade gerados que o modelo do
SRTM apresentou relevante suavização do relevo, não preservando as feições geo-
mórficas da superfície , suprimindo de todo conjunto amostral regiões com elevação
acima de 45º, tornando-se inviável para a região escolhida, a delimitação das áreas
de preservação em encostas. De forma direta esta suavização teve reflexo na repre-
sentação incorreta das encostas e no rebaixamento de topos de morros.
Tornou-se evidente neste estudo que áreas urbanas que possuam plantas
topográficas planialtimétricas, geradas em função de seu plano diretor, nas escalas
de 1: 2000 e 1: 10.000, possuem insumo compatível para geração de mapas temáti-
cos que atendam a demanda de delimitação das áreas de preservação, contudo,
fora destas áreas temos como insumo as cartas topográficas que em virtude da ge-
neralização dos dados e em função da escala, apresentariam grandes discrepân-
cias.
Esta realidade observada nos propicia a demanda por trabalhos futuros
que permitam a comprovação da viabilidade técnica e econômica de outros insumos
de sensoriamento remoto que propiciem através de maior exatidão cartográfica, a
delimitação das APP’s. Em virtude desta demanda sugiro para trabalhos futuros a
análise do grau de exatidão cartográfrica do MDE (ASTER GDEM) e a verificação do
grau de exatidão alcançado pelas cartas topográficas na escala 1: 100.000 e
1: 50.000 nas áreas de encostas.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 198-254, abr./set. 2012. 250
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PROJETO DE PRESERVAÇÃO DO CERVO – DO – PANTANAL NO BANHADODOS PACHECOS, MUNICÍPIO DE VIAMÃO - RS
Grasiela Tafas Esperança Wollenhaupt*
Jairo Afonso Henkes**
RESUMO
A distribuição do cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) atualmente encontra-se
bastante reduzida e fragmentada, sendo, portanto considerado como uma das espécies brasileiras
ameaçadas de extinção. No entanto, regiões que possuem espécies ameaçadas podem tirar proveito
delas, pois servem como símbolos para despertar o interesse da conservação que pode reverter em
benefícios para todo o ecossistema onde se encontram. Sendo assim, as espécies vegetal e animal
que vivem neste mesmo ecossistema acabam sendo protegidas. A área de preservação do Banhado
dos Pachecos parece ser no Estado do Rio Grande do Sul, um dos últimos refúgios onde constam
indícios da existência do cervo-do-pantanal.
Palavre-chave: cervo-do-pantanal, Blastocerus dichotomus, extinção, Banhado dos Pachecos.
___________________________________________________________________* Acadêmica do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental – Unisul Virtual. E-mail: gra-
siela.wollenhaupt@unisul.br
** Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Gra-
duação em Gestão Ambiental da Unisul. Mestre em Agroecossistemas. Especialista em Adminis-
tração Rural. E-mail: jairo.henkes@unisul.br
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1 INTRODUÇÃO
De acordo com Frankel e Soulé (1981), extinção pode ser definida como o
evento pelo qual o último representante de uma espécie deixa de existir. Ou ainda,
de modo mais abrangente, como o momento a partir do qual os indivíduos remanes-
centes de uma espécie mostram-se incapazes de produzir descendentes viáveis ou
férteis.
Um dos animais que corre o risco de extinção é o cervo-do-pantanal, o
maior cervídeo da América do Sul. Pesa em média 100 kg, mas alguns indivíduos
adultos podem ultrapassar 150 kg. Está ameaçado de extinção devido, a caça ilegal,
a destruição de seu habitat em decorrência da caça predatória e de projetos de irri-
gação e através das doenças introduzidas por animais domésticos como a febre af-
tosa e brucelose.
Entre as propostas para tentar livrar o cervo-do-pantanal da extinção es-
tão à criação de parques, reservas particulares e outras unidades de conservação,
aumento na fiscalização de caça e o estabelecimento de critérios para mitigar os
danos ambientais provocados pelas usinas hidrelétricas.
A dificuldade em encontrar o animal nos leva a duas conclusões antagô-
nicas sobre a vida do cervo. A primeira, mais confortante, é a capacidade dele se
infiltrar na mata e se esconder dos nossos olhos, numa tentativa de proteção. A se-
gunda já preocupa: devido à drástica redução do seu hábitat natural e apesar das
iniciativas de conservação da espécie, o cervo-do-pantanal já não é figura no ba-
nhado dos Pacheco em Viamão. Suas aparições são momentos raros, exceções no
cenário atual.
A partir disso a pesquisa objetivou por meio de estudo de caso, buscar e-
vidências da existência do cervo-do-pantanal na área de preservação do banhado
dos Pachecos.
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2 TEMA
Segundo dados do IBAMA (2004), o cervo-do-pantanal, maior mamífero
brasileiro pode ser a primeira das oito espécies de veados nativos a desaparecer
dentro de curtíssimo prazo, pelo menos em uma de suas antigas áreas de ocorrên-
cia, ao longo da Bacia do Rio Paraná, no estado de São Paulo. Previsões dos espe-
cialistas reunidos pelo Ibama no Comitê para a Conservação dos Cervídeos estimam
menos de dez anos para que o cervo-do-pantanal desapareça de vez do território
paulista, onde antes havia população abundante.
Entre as propostas para tentar livrar o cervo-do-pantanal da extinção, es-
tão à criação de parques, reservas particulares e outras unidades de conservação,
aumento na fiscalização da caça e o estabelecimento de critérios para mitigar os
danos ambientais provocados pelas usinas hidrelétricas. Além das ameaças diretas,
a falta de pesquisas e de dados científicos sobre esses grandes mamíferos é outro
fator que prejudica a conservação das espécies.
O banhado dos Pacheco é uma área de aproximadamente 2.543,46 hec-
tares, próximo à rodovia RS-040, na localidade de Águas Claras, no município de
Viamão, no Estado do Rio Grande do Sul, apresentando uma biodiversidade, de
flora e fauna, onde foram constatadas evidências da presença de espécies ameaça-
das de extinção como por exemplo o Cervo-do-pantanal conforme dados da Secreta-
ria Estadual do Meio Ambiente. Conforme Viegas (2009), técnicos da Fundação de
Meio Ambiente de Gravataí – FMMA localizaram alguns exemplares da espécie em
sobrevôo na área de preservação.
O cervo do pantanal é um animal mamífero ruminante, da família dos cer-
vídeos, que é encontrado em pântanos de alta vegetação, ocorrendo do sul do Peru
e Brasil até o Uruguai.
De acordo com dados do IBAMA, são os maiores veados da América do
Sul, chegando a medir até 2 metros de comprimento. Tais animais apresentam uma
cor marrom-avermelhada, ponta do focinho e patas pretas e grande galhada ramifi-
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cada. Também são conhecidos pelos nomes de açuçuapara, cervo, veado-galheiro,
suaçuapara, suaçuetê, suaçupucu e suçuapara.
A espécie é muito vulnerável à caça, por ocupar ambientes geralmente
abertos, o que torna fácil a sua visualização. No início do século XX, foi muito procu-
rada por sua pele, além dos cornos para troféu de caça. Atualmente, a caça furtiva
praticada por turistas, por populações de baixa renda e por caçadores de finais de
semana em muito afeta os exemplares que chegam próximo às cidades e rodovias.
As populações dessa espécie estão ameaçadas pelo convívio com bovi-
nos que lhes transmitem várias enfermidades e ainda por perda de habitat. A drena-
gem das várzeas para utilização para agricultura e ainda a construção de Usinas
Hidrelétricas têm utilizado grandes áreas de sua distribuição. A espécie encontra-se
hoje vulnerável segundo classificação da IUCN4 e do IBAMA (Lista de espécies a-
meaçadas, 2008).
Têm-se observado no Brasil, diversas iniciativas para a criação de áreas
de conservação com o objetivo de preservação da espécie. No Rio grande do Sul,
uma das áreas definidas como unidade de conservação foi o banhado dos Pache-
cos, pois parece ser o único local do Estado onde foram registrados indícios da pre-
sença do Cervo-do-pantanal conforme dados de 2002 da Secretaria Estadual do
Meio Ambiente - SEMA e por estar ameaçado de extinção devido à existência nas
proximidades do banhado, de um assentamento do Movimento dos Trabalhadores
Rurais sem Terra “Filhos de Se pé” registrados pelo INCRA – Instituto Nacional de
Reforma Agrária. Daí a necessidade de se analisar os mecanismos mais adequados
para o manejo dessa área de forma a preservação da espécie.
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Buscar evidências (pegadas, fezes, camas e se possível registro fotográfico) da exis-
tência do Cervo do Pantanal do banhado dos Pacheco, município de Viamão, Rio
Grande do Sul.
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3.2 Objetivos específicos
- Identificar a existência ou não do Cervo do Pantanal na reserva natural do banhado
dos Pacheco.
- Levantamento da cobertura vegetal, para análise da viabilidade de sua alimenta-
ção;
- Identificar os animais domésticos existentes nas proximidades das habitações hu-
manas, pois estes podem ser transmissores eventuais de zoonoses ou predadores
do cervo do pantanal;
- Propor medidas para o manejo e preservação da espécie em harmonia com as
demais ocorrentes no ecossistema e a influência da ação antrópica.
3.3 Problema de pesquisa
O ecossistema do banhado dos Pacheco é o local adequado à procriação
do cervo do pantanal?
4 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA DO TEMA
4.1 Caracterização geral do animal
O cervo-do-pantanal apresenta as seguintes características:
Nome científico: Blastocerus dichotomus.
Outros nomes: Veado – sulaçuapara / guaçupuçu / suaçuatê, Veado galheiro.
Filo: Chordata. Classe: mammalia. Ordem: Artiodactyla. Família: cervídea.
Período de gestação: 9 meses (1 filhote por ano) 1
O cervo-do-pantanal é o maior veado da América do Sul. Vive nas regiões
pantanosas e ao longo das bordas das florestas do Brasil, Uruguai, Paraguai e Gui-
anas (VOSS, 1981).
1 Obtido através do site: <http:www.impactotour.com.br> acesso em: 02/08/2010.
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O cervo-do-pantanal, com cerca de 1,20 m de altura nas cruzes, apresen-
ta colorido geral marrom avermelhado, sendo as patas e focinho de cor anegrada.
No campo, a cor clara da parte interna das orelhas se torna conspícua. Nos meses
de interno a sua pelagem apresenta um tom mais apagado. As fêmeas que não por-
tam galhada tem um porte algo menor do que os machos (VOSS, 1981).
Os cascos desse animal podem ficar completamente abertos e as duas
metades em que eles se dividem se mantêm unidas por uma membrana interdigital.
Esses cascos evitam que o animal afunde no lodo (VOSS, 1981).
O cervo-do-pantanal tem uma galhada bifurcada, com cinco pontas em
cada haste. É um animal muito arisco e se esconde durante o dia. À noite, vai para
as clareiras em grupo, para alimentar-se de capim, juncos e plantas aquáticas. O
cervo freqüentemente entra na água (VOSS, 1981).
Os machos, ao contrário da maioria dos outros antílopes, não lutam pela
posse da fêmea. Embora sua carne não sirva para comer, o cervo é caçado por
causa do seu couro e da galhada. Os índios da América do Sul preparam vários ti-
pos de remédio com a galhada do cervo, desde uma “poção do amor” até uma mis-
tura para facilitar o parto (VOSS, 1981).
4.2 Comportamento social
Apesar da falta de estudos específicos acerca do comportamento social
de cervo-do-pantanal, as informações existentes indicam que este cervídeo não for-
ma grupos numerosos. Normalmente, observa-se que grande parte das populações
consiste em indivíduos solitários, mas pequenos grupos podem ser formados, em
sua maioria constituídos de uma fêmea e seu filhote (TOMAS, 1986).
A formação de grupos não obedece a uma sazonalidade, como ocorre em
cervídeos cujo período reprodutivo é bem definido. Através de um levantamento aé-
reo não se observa diferença significativa no tamanho dos grupos nas estações seca
e chuvosa (TOMAS, 1986).
As observações de Schaller (1978) reforçam a dependência do cervo-do-
pantanal em relação a áreas úmidas para sua sobrevivência. A qualidade destes
habitats e sua capacidade de suporte das populações da espécie, estão relaciona-
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 255-269, abr./set. 2012.261
das com a disponibilidade de recursos e características físicas adequadas, por sua
vez dependentes da manutenção da dinâmica dos fatores climáticos.
4.3 Conservação: causas de declínio
Historicamente, o cervo-do-pantanal tem sido afetado por uma pressão
de caça, suficiente para causar seu desaparecimento em vastas áreas onde ocorria
originalmente, especialmente no Sul e Centro-oeste do Brasil. A caça associada à
outros fatores como a alteração de seus habitats, praticamente eliminou o cervo da
região dos cerrados, no Planalto Central Brasileiro, especialmente em áreas de pe-
quenos cursos de água, como veredas e varejões, nos quais as populações eram
provavelmente reduzidas e mais vulneráveis (PINDER, 1995).
Doenças introduzidas por bovinos são outra causa de mortalidade e de-
clínio das populações do cervo-do-pantanal. Para o pantanal Schaller (1978), sugeri-
ram a aftosa, a brucelose e a babesiose como causa do declínio das populações.
Mais recentemente, a construção de usinas hidroelétricas tem se trans-
formado no principal fator causando o desaparecimento de sub-populações de es-
pécie, uma vez que eliminam completamente os habitats marginais ao longo dos
grandes rios. Os reservatórios das HE eliminam as áreas de várzeas, praticamente
anulando qualquer possibilidade de sobrevivência e sustentabilidade das populações
em longo prazo (PINDER, 1995).
A drenagem de várzeas e outras áreas úmidas para projetos de agricultu-
ra também constitui um fato para o desaparecimento do cervo-do-pantanal, uma vez
que esse tipo de manipulação de habitats altera completamente as características
favoráveis à espécie (PINDER, 1995).
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5.1 Campos de estudo
Para a realização da pesquisa, será utilizado um estudo exploratório-
descritivo por meio de levantamento bibliográfico e de pesquisa de campo. O levan-
tamento bibliográfico tem a finalidade de dar embasamento teórico para a pesquisa
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e será obtido a partir da confecção de fichas de leitura de livros, revistas científicas,
além de material obtido por meio eletrônico (internet), visita in loco, fotografias e en-
trevistas.
5.2 Instrumentos de coletas de dados
Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descri-
tos no quadro a seguir.
Instrumento decoleta de dados
Universo pesquisado Finalidade do Instrumento
Entrevista
Serão entrevistadas 20 pessoas quemoram no entorno do banhado dosPacheco.
Pesquisadores, analistas ambien-tais, fiscais, policia ambiental.
Identificar indícios da existência doCervo do Pantanal na reserva natu-ral do Banhado dos Pacheco.
Observação Direta
Visita in loco a reserva natural. Re-gistros fotográficos de pegadas ououtras que denotem a presença doanimal.
Identificar a vegetação que podeser utilizada pelo cervo do pantanalpara sua alimentação.
Documentos
Pesquisa em livros e artigos científi-cos. Registros da SEMA e PolíciaAmbiental.
Fundamentação teórica da pesqui-sa.
6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE OBSERVADA
6.1 Caracterização da amostra analisada
Para responder aos objetivos propostos para a pesquisa foram seleciona-
dos pelo critério de amostra não-probabílistica intencional, 20 pessoas que moram
entorno da Unidade de Conservação do Banhado dos Pachecos. A figura 1 apresen-
ta a tabela da composição dos membros da amostra. Nela podemos observar que
45% dos entrevistados são donas de casa, 30% são agricultores, 15% são trabalha-
dores diversos (composto por: comerciante, técnico agrícola e motorista de ônibus) e
10% são fiscais do parque.
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Ocupação Quantidade % % acumulado
Dona de casa 09 045,0 045,0
Agricultor 06 030,0 075,0
Trabalhadores diversos 03 015,0 090,0
Fiscal do Parque 02 010,0 100,0
Total 20 100,00 -Figura 1: Tabela de caracterização geral da amostra
Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Foi perguntado aos entrevistados há quanto tempo os mesmos moram
entorno do parque. A figura 2 apresenta a tabela com o tempo de moradia dos pes-
quisados. Verificou-se que, entre as donas de casa, o tempo médio de moradia foi
de 18 anos. Para os agricultores o tempo médio foi de 16 anos, para os trabalhado-
res diversos, 8 anos e os guardas do parque o tempo foi de 3 anos.
Ocupação Tempo de médiode moradia
Dona de casa 18
Agricultor 16
Trabalhadores diversos 08
Guarda do Parque 03Figura 2: Tabela do tempo médio de moradia entorno do parque
Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
A figura 3 apresenta a idade média dos entrevistados. Constatou-se uma
similaridade na idade média dos entrevistados, pois a diferença entre a menor idade
(39 anos) e a maior idade é de apenas 13 anos.
Ocupação Idade média dospesquisados
Dona de casa 48
Agricultor 51
Trabalhadores diversos 39
Fiscal do Parque 52
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Figura 3: Tabela da idade média dos entrevistados
Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Foi perguntado aos entrevistados se eles sabiam da existência ou não da
Unidade de Conservação dos banhados dos Pachecos. A figura 4 apresenta o resul-
tado encontrado. Observou-se que 95% dos pesquisados sabem da existência da
reserva ecológica e apenas 5% não tinham esse conhecimento.
Opção Nº de respondentes %
NÃO 01 5,0
SIM 19 95,0
Total 20 100,0
Figura 4: Tabela sobre o conhecimento dos entrevistados sobre a
existência da Unidade de Conservação do banhado dos Pachecos
Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Os pesquisados responderam a seguinte pergunta: que tipo de animais fo
vistos na reserva? A figura 5 apresenta as respostas obtidas. Destaca-se que um
dos entrevistados afirmou que já teve a oportunidade de ver um cervo há aproxima-
damente três anos atrás.
Animais encontrados Quantidade % % acumulado
Pássaros 07 36,8 36,8
Cobras 05 26,3 63,1
Tatu 03 15,8 78,9
Lagarto 02 10,5 89,4
Lobo Guará 01 05,3 94,7
Cervo 01 05,3 100,0
Total 19 100,0 -Figura 5: Tabela da quantidade de animais vistos na Unidade de Conservação
Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
Através da amostra foi possível observar que os moradores do entorno da
Unidade de Conservação praticam a agricultura de subsistência. Entre os pesquisa-
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dos notou-se que o tamanho da propriedade está ente um e cinco hectares. A tabela
6 apresenta esses dados. Nessas propriedades foram observadas a criação de ani-
mais de pequeno porte como cães, gatos, porcos e galinhas além de outros animais
de maior porte como cavalos, bois e vacas.
Tamanho da Propriedade(em hectares)
Quantidade % % acumulado
Até 1 16 080,0 080,0
Entre 1 e 3 03 015,0 095,0
Acima de 3 01 005,0 100,0
Total 20 100,0 -Figura 6: Tabela do tamanho da propriedade dos pesquisados
Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
A caça é uma prática pouco comum entre os pesquisados (Figura 7). Ob-
servou-se que apenas 10% dos entrevistados afirmaram que praticam a caça no en-
torno da Unidade de Conservação. Desses, o animal mais caçado é a lebre e o tatu.
Opção Nº de respondentes %
NÃO 18 090,0
SIM 02 010,0
Total 20 100,0
Figura 7: Tabela sobre a prática da caça no entorno da Unidade
Fonte: Coleta de dados da pesquisa.
6.2 Análise da observação direta
Foram realizadas duas visitas in loco a Unidade de Conservação nos dias
19 e 26 de setembro de 2010. Junto à administração do parque foram obtidas algu-
mas fotos que evidenciam a existência do cervo do pantanal no banhado dos Pa-
checo. A figura 8 apresenta uma foto que dá uma visão geral da Unidade de Con-
servação.
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Figura 8: Unidade de Conservação do banhado dos Pacheco
Foto do Autor
As figuras 9 e 10 apresentam algumas evidências da existência do cervo
do pantanal na Unidade de Conservação do Banhado dos Pacheco.
Figura 9: Fezes do cervo do Pantanal. Obtida em julho em 2008
Fonte: Administração da Unidade de Conservação/SEMA
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Figura 10: Cama de dormir. Obtida em julho em 2008.
Fonte: Administração da Unidade de Conservação/SEMA
Segundo dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA a prin-
cipal alimentação do cervo do pantanal na Unidade de Conservação do Banhado
dos Pachecos são arbustos e a macrófila aquática camalote-da-meia-noite.
7 PROPOSTA DE SOLUÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
7.1 Proposta de melhoria para a realidade estudada
Realizar um plano de Conservação, com a realização de um levantamento
para estimar o tamanho da população existente na região, densidades populacionais
dessa espécie nas diferentes áreas de ocorrência e as condições de conservação
dos ambientes onde vivem esses animais.
As várzeas vêem sendo degradadas por canais de drenagem e por asso-
reamento, além de intenso uso pecuário. Essas ameaças diminuem a disponibilidade
de abrigo e alimentos para a espécie, e a caça, especialmente quando os animais
estão próximos de assentamentos.
O Plano de Conservação, terá como foco a conservação do cervo-do-
pantanal em seu próprio habitat, fazendo assim a captura dos exemplares existen-
tes, a “chipagem” desses para a implementação de monitoramento da população de
cervos do pantanal.
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Delimitar uma área de acordo com o número de exemplares capturados
reduzindo assim sua dispersão pelo Banhado, exames de consangüinidade entre
eles para que possa haver uma possível reprodução em cativeiro.
O Plano de Conservação terá como ações como a conservação e recupe-
ração ambiental da região, que abrigam não só os cervos, mas dezenas de outras
espécies de mamíferos, aves e répteis, a educação ambiental através de palestras
para as pessoas que vivem em torno do Banhado dos Pacheco, parceria com a SE-
MA para aumentar a fiscalização com mais guarda-paques. Entretanto, é essencial
que sejam adotadas medidas urgentes de fiscalização para coibir a degradação am-
biental, que poderão inviabilizar o Plano de Conservação e a própria sobrevivência e
reprodução do cervo na região.
7.2 Resultados esperados
Com essas medidas adotadas através do Plano de Conservação podere-
mos ter a possibilidade de reprodução em cativeiro e conscientização das pessoas
que moram em torno do banhado dos Pacheco e a importância de preservar o habi-
tat dos animais que vivem na região.
7.3 Viabilidade da proposta
A proposta poderá se tornar viável através de Parceria-Público-Privada.
Como se trata de uma área de preservação que pertencente ao governo do Estado
do Rio Grande do Sul, para que a Parceria-Público-Privada possa funcionar, será
necessário o envio de um projeto de Lei à Assembléia Legislativa autorizando o go-
verno a repassar a área de preservação à iniciativa privada.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE. O cervo-do-pantanal pode desa-
parecer nas próximas décadas. Disponível em: <http://ecoviagem.uol.com.br/notici
as/ambiente/o-cervo-do-pantanal-pode-desaparecer-nas-proximas-decadas-5049> A
cesso em: 30 ago 2010.
PINDER, L. Cervo-do-pantanal: Blastocerus dichotomus – análise da viabilidade de
população e habitat. IUCN/SSC Conservation Breeding Specialist Group, Apple Val-
ley, MN, USA, 172p., 1995.
SCHALLER G. B. A March derr Census in Brazil. Oryx, 14: 345-351, 1978.
SECRETARIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE - SEMA. Unidades de Conserva-
ção. Disponível em: <http://www.sema.rs.gov.br> acesso em: 13/08/2010.
TOMAS, W. M. Observações preliminares sobre a biologia do cervo-do-
pantanal, Blastocerus dichotomus no pantanal de Poconé, MT. Monografia. Ins-
tituto de Biociências. Cuiabá: UFMT, 1986.
VIEGAS, Cláudia. Boas novas sobre a APA do Banhado Grande. Disponível em:
http://centrodeestudosambientais.wordpress.com/category/banhadodospachecos> A
cesso em: 29 ago 2010.
VOSS, Walter A. et al. Constatação e observação de uma população residual de
Blastocerus Dichotomus. Monografia. Porto Alegre: UFRGS, 1981.
Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/animais/cervo-do-pantanal.php >
Acesso em: 20 abr 2010.
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ENTREVISTA COM O PROFESSOR MOACIR HEERDT
DIRETOR DO CAMPUS UNISUL VIRTUAL
O professor Moacir Heerdt, assumiu a Direção do Campus Unisul Virtualem março passado, com a confiança da Reitoria da Unisul e de todos oscolegas de Campus, dando prosseguimento ao projeto de modernização doensino virtual de excelência, padrão no Ensino à Distância da Unisul.
1.RG&SA - Quais foram suas primeiras ações e quais os projetos que estãosendo priorizados.
R. A UnisulVirtual, desde o seu início construiu uma imagem de excelênciano cenário educacional brasileiro. É uma Universidade de referência pela suaqualidade na metodologia, nos seus conteúdos e na mediação daaprendizagem. Neste momento também consolida sua presença em todos osestados brasileiros. Sabemos que as transformações sociais e tecnológicasdesafiam as instituições diariamente e precisamos estar atentos para quenossa trajetória continue a ser de qualidade. Não somos uma das maiores, mascom certeza uma das melhores. A UnisulVirtual faz parte de umaUniversidade e, portanto, segue as diretrizes da mesma. Neste aspecto aUniversidade está trabalhando para consolidar-se como a Universidade daEducação Permanente. Com currículos flexíveis permitindo certificaçõesintermediárias ao longo do percurso acadêmico oferecendo mais aderência aocontexto social. Fazemos parte desse processo e ao mesmo tempo ampliamosa nossa abrangência, temos Polos em todos os estados do Brasil. O nossogrande desafio, juntamente com nossos parceiros, será aumentar nossacaptação de alunos.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p.270-271, abr./set. 2012. 271
2.RG&SA - Como o senhor vê as possibilidades de implementação efetiva doensino, da pesquisa e da extensão dentro de um Campus Virtual.
R. Afirmei anteriormente que somos uma das melhores Universidades do Brasilem termos de ensino. Isto não significa parar no tempo. Tenho a convicção,também, que nossos colaboradores do Ensino a Distância estão entre osmais qualificados do Brasil. São os melhores porque a cada momento estão,criando, inovando e proporcionando aos nossos alunos as melhoresferramentas de aprendizagem. As mudanças gerais serão planejadasconjuntamente. Precisamos melhorar sempre! São processos, estruturas,tecnologia, etc. Cada responsável de setor ou gerência sabe onde precisamosmelhorar. E estão trabalhando para isso, a mudança é uma prerrogativa docoletivo e da colaboração.
O nosso desafio continua na extensão e na pesquisa. Na Extensão temosvários programas ao longo do semestre com destaque para o Programa +Unisul que consiste numa série de mini-cursos, palestras, seminários, debates,etc. com grande participação de nossos alunos e comunidade. A pesquisa é ogrande desafio e precisamos dinamizá-la através de grupos de pesquisa,incentivar nossos alunos através de programas de pesquisa da própriaUniversidade. E como a proposta da Educação Permanente prevê a articulaçãopor área de conhecimento certamente os cursos com seus professorespoderão gerar excelentes iniciativas. Obviamente o Campus precisa dar orespaldo.
3.RG&SA - No seu entendimento, o que representa a criação da RevistaGestão & Sustentabilidade Ambiental, aqui dentro do Campus Unisul Virtual.Qual a mensagem que o senhor pode deixar aos acadêmicos da Unisul, e emespecial da Unisul Virtual a partir do lançamento deste novo espaço deprodução científica.
R. O Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental nasceu dentro daproposta de um mundo mais humano, ou seja, um alerta para que os sereshumanos cuidem mais de si e de seus ambientes. A revista é uma ótimaoportunidade de difundir novos valores, fundamentais para umacivilização mais acolhedora. Esperamos que a mesma, seja um espaço decolaboração, alcance seus objetivos e ajude a sociedade do ponto devista acadêmico, científico e educativo.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 272, abr./set. 2012. 272
RECONHECIMENTO DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA
EM GESTÃO AMBIENTAL
Em agosto de 2011, poucos dias antes de formar a primeira turma de
Tecnólogos em Gestão Ambiental, a Unisul, representada pelo Campus Unisul
Virtual, recebeu a Visita Técnica de Avaliadores, para verificação do Curso
Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, por parte do Conselho Estadual
de Educação, representando o Ministério da Educação. Nesta visita foram
avaliados 34 quesitos em diversas dimensões, estabelecidos pelo MEC, para o
reconhecimento de cursos de nível superior. Desenvolvida a visita técnica e
após ampla e acurada análise documental e entrevistas com docentes e
discentes do curso, a Comissão de Avaliadores, emitiu parecer aprovando as
ações desenvolvidas no âmbito do curso.
Pontuando com conceito EXCELENTE, o Curso Superior de Tecnologia em
Gestão Ambiental, atribuindo nota máxima em 29 dos 34 quesitos avaliados,
culminando com uma pontuação final de 4,8, em uma escala de 0 a 5.
Realizada esta etapa, foi emitido o Parecer ao Pleno do CEE/SC (Conselho
Estadual de Educação/Santa Catarina) de nº 193 em 18 de outubro de 2011.
Nesta mesma data em Sessão Plenária do CEE/SC a Resolução nº 089, foi
aprovada, Reconhecendo o Curso Superior de Tecnologia em GestãoAmbiental, modalidade EaD, desenvolvido pela Unisul, em seu Campus
Unisul Virtual. Este Reconhecimento foi homologado em 07 de dezembro por
Decreto nº 711/2011 do Governador do Estado de Santa Catarina e publicado
no Diário Oficial do Estado no dia 08 de dezembro de 2011.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 273, abr./set. 2012. 273
PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EMGESTÃO AMBIENTAL DA UNISUL, ATUALIZADO E EM NOVA ETAPA DE
TRANSFORMAÇÃO
Consoante com o novo modelo de educação, em implantação na Universidade,o PPC do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, recebeuuma atualização no ano de 2011, com a inclusão de uma importante disciplinapara à formação acadêmica, na área de planejamento e projetos definanciamento às atividades, com forte relevância nas áreas de atuaçãoprofissional. Desta forma incorporou-se ao projeto inicial a disciplina deMatemática Financeira, com uma carga horária de 60 horas aula, dedestacada importância nos cálculos e ajustes relacionados ao mercadofinanceiro e de capitais. Considerando ainda a demanda dos acadêmicos enecessidade de ampliação de estudos na área de Auditoria Ambiental, estadisciplina, teve um acréscimo de dois créditos, representando mais 30 horasaula na disciplina, totalizando 2.490 horas aula.
Inquietos e ousados, dentro do movimento constante de mudanças deparadigmas na universidade, a Unisul se reinventa, implementando o novo,desenhado dentro de uma perspectiva moderna na concepção dos processosde ensino e aprendizagem, aliados a uma nova visão acadêmico-institucional.
A Congregação de Curso e a Coordenação, capitaneados pelas UNA’s(Unidades de Articulação Acadêmica), continuam com a ação desencadeadaem 2010, no sentido de transformar todo o processo de ensino presente nauniversidade. Está trabalhando em um Novo PPC, com concepçõesestabelecidas por um processo constante de mudanças, dentro de um novomodelo educacional, baseado em Certificações por Competências. Estasasseguram habilidades e potencialidades aos profissionais, preparados dentrodo novo modelo de educação em implantação na Unisul, organizado emUnidades de Aprendizagem, com conteúdos delineados nas diretrizescurriculares e demais instrumentos normativos com foco na EducaçãoPermanente.
R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 1, n.1, p. 274, abr./set. 2012. 274
REGISTRO DO CURSO NO CREA/SC E AS ATRIBUIÇÕESPROFISSIONAIS
Durante o último mês de fevereiro, foi encaminhada a documentação oficial
para Registro do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, junto ao
Conselho Regional de Arquitetura, Engenharia e Agronomia – CREA/SC.
Este processo encontra-se em tramitação e análise técnica nas câmaras
especializadas da instituição, que deverão culminar com o Registro definitivo
do Curso no CREA, com a respectiva homologação do CONFEA-CREA em
etapa posterior.
Vale destacar que com este registro deferido, em ato conjunto, devem ser
elencadas e registradas as atribuições profissionais, dos egressos do Curso
Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, da Unisul Virtual. Respeitando
as habilidades e competências adquiridas durante o curso, de acordo com seu
Projeto Político Pedagógico, em consonância com o que preceitua a Resolução
nº 1.010 do CONFEA/CREA a definição das atribuições garantirá o espaço de
articulação e atuação profissional aos Tecnólogos em Gestão Ambiental.
Estima-se que este processo deva estar concluso ainda no primeiro semestre
de 2012.
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