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Companhia Energética de Minas Gerais
Relatório de Biodiversidade 2018
Integridade Ecológica de Águas Superficiais
Reservatório Peti, MG Foto: Karine Alves Ferreira
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
1
Índice
1. Introdução .............................................................................................................................. 7
2. Manejo da Biodiversidade e ações complexas ....................................................................... 8
2.1. Caracterização dos ambientes impactados ....................................................................10
2.1.1. Tipificação abiótica das massas de águas ...............................................................10
2.1.2. Usos e Ocupação do Solo e Cobertura Vegetal das Áreas de Estudo .....................11
2.2. Levantamento e monitoramento biótico ..........................................................................17
2.2.1. Comunidades Vegetais ............................................................................................17
2.2.2. Comunidades Planctônicas e Perifíticas ..................................................................32
2.2.3. Comunidades dos Macroinvertebrados Aquáticos ....................................................38
2.2.4. Monitoramento e detecção de espécies exóticas invasoras .....................................42
2.3. Integridade Ecológica dos Ambientes Aquáticos ............................................................47
3. Desafio e Perspectivas Futuras.............................................................................................49
3.1 Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ................................................................................49
3.1.2 Projetos Futuros Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ...............................................50
Índice de figuras
Figura 01. Agrupamento entre os 19 reservatórios de produção de energia elétrica da CEMIG em
Minas Gerais, com base em variáveis selecionadas (área, profundidade, volume, fator de
envolvimento, desenvolvimento de perímetro, variação do nível de água, tempo de residência,
temperatura do ar, altitude e idade). .........................................................................................10
Figura 02. Municípios na bacia de contribuição do reservatório da PCH Cajuru. ......................12
Figura 03. Municípios com territórios inseridos na bacia de contribuição do reservatório da PCH
Peti. ..........................................................................................................................................14
Figura 04. Municípios na bacia de contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras. ..........15
Figura 05. Salvinia auriculata (A) e Noteroclada confluens (B), ocorrentes na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares. ..................................17
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 06. Bambusa sp. (A) e Hedychium coronarium (B), espécies exóticas ocorrentes na bacia
de contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares. .............................18
Figura 07. Eleocharis montana (A) e Ludwigia octovalvis (B), ocorrentes na bacia de contribuição
do reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares. ......................................................18
Figura 08. Exemplares de Xyris sp. (A) e Oldenlandia salzmannii (B), ocorrentes na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares. ..................................18
Figura 09. Mutisia campanulata, espécie de liana ocorrente na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares. ...........................................................19
Figura 10. Exemplares de Erythrina falcata (A) e Trembleya parviflora (B) ocorrentes na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares. ..................................19
Figura 11. Exemplares dos gêneros Ludwigia sp. (A) e Inga sp. (B), ocorrentes na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares. ..................................20
Figura 12. Heteranthera reniformis (A) e Ludwigia peploides (B), coletadas na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Glaysimara Felipe e Aylton Soares. ..20
Figura 13. Vista panorâmica do sítio U16-E, no reservatório Cajuru (MG), evidenciando a margem
com solo exposto. .....................................................................................................................21
Figura 14. Selaginella marginata (A) e Dumortiera hirsuta (B) ocorrentes na bacia de contribuição
do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares. ..........................................................22
Figura 15. Exemplares de Augusta longifolia (A) e Tibouchina sebastianopolitana (B) coletadas
na bacia de contribuição do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares. ...................22
Figura 16. Exemplares de Bacopa salzmannii (A) e Mucuna pruriens (B), ocorrentes na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares. ......................................24
Figura 17. Exemplares de Schinus terebinthifolius (A) e Polygala paniculata (B) ocorrentes na
bacia de contribuição do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares. ........................24
Figura 18. Exemplar de Utricularia subulata (A) e Aciotis paludosa (B) representantes do estrato
herbáceo, bacia de contribuição do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares. .......25
Figura 19. Formas biológicas de macrófitas aquáticas ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Peti (MG): emergente Eleocharis debilis (A) e anfíbias Oldenlandia
salzmannii (B) e Mayaca sellowiana (C). Fotos: Aylton Soares. ................................................25
Figura 20. Exemplar de Potamogeton polygonus, representante da forma biológica submersa
fixa, ocorrente na bacia de contribuição do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares
e Helena Ferreira. .....................................................................................................................26
Figura 21. Exemplar de Melaleuca leucadendron, ocorrente no reservatório da PCH Peti, MG.
Fotos: Helena Ferreira. .............................................................................................................26
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Figura 22. Exemplares de Eichhornia crassipes e Salvinia auriculata, ocorrentes no reservatório
da PCH Peti, MG. Fotos: Helena Ferreira. ................................................................................27
Figura 23. Exemplares de Cyathea delgadii (A) e Adiantum subcordatum (B) ocorrentes na bacia
de contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Helena Ferreira. ..............27
Figura 24. População de Bambusa sp. (A) e Pinus sp. (B e C), na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares. ...............................................28
Figura 25. Exemplares de Selaginella contigua (A) e Agarista oleifolia (B) coletadas na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares. ......................28
Figura 26. Eleocharis montana (Cyperaceae), ocorrente na bacia de contribuição do reservatório
da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares. ..................................................................29
Figura 27. Exemplares de Hydrocotyle verticillata (A) e Floscopa glabrata (B), ocorrentes na bacia
de contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares e Helena
Ferreira. ....................................................................................................................................30
Figura 28. Exemplar de Alternanthera aquatica (macrófita anfíbia) amostrada na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares. ......................30
Figura 29. Mayaca fluviatilis em duas formas biológicas distintas, ocorrente no reservatório da
PCH Rio de ...............................................................................................................................31
Pedras, MG. Fotos: Helena Ferreira. ........................................................................................31
Figura 30. Achnanthidium minutissimum (A) e Ulnaria ulna (B) ocorrentes como espécies
dominantes nas bacias de contribuição dos reservatórios das PCHs Cajuru , Peti e Rio de Pedras
em 2013/2014. ..........................................................................................................................33
Figura 31. Microspora sp. (A) e Mougeotia sp. (B) ocorrentes como espécies dominantes nas
bacias .......................................................................................................................................33
de contribuição dos reservatórios das PCHs Cajuru , Peti e Rio de Pedras em 2013/2014. .....33
Figura 32. Cryptomonas sp. (A) e Surirella guatimalensis (B) ocorrentes como espécies
dominantes ...............................................................................................................................33
nos reservatórios das PCHs Cajuru , Peti e Rio de Pedras em 2014. .......................................33
Figura 33. Eunotia sp. (A) e Phormidium sp. (B) ocorrentes como espécies dominantes nos
reservatórios das PCHs Cajuru , Peti e Rio de Pedras em 2014. ..............................................34
Figura 34. Exemplares da microfauna ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da
PCH Cajuru, MG. ......................................................................................................................34
Figura 35. Exemplares da microfauna ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da
PCH Peti, MG. ..........................................................................................................................35
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 36. Exemplares da microfauna ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da
PCH Rio de Pedras, MG. ..........................................................................................................35
Figura 37. Exemplares da microfauna ocorrentes no reservatório da PCH Cajuru, MG. ..........36
Figura 38. Exemplares da microfauna ocorrentes no reservatório da PCH Peti, MG................36
Figura 39. Exemplares da microfauna ocorrentes no reservatório da PCH Rio de Pedras, MG.
.................................................................................................................................................37
Figura 40. Densidade média de macroinvertebrados aquáticos na região litorânea dos
reservatórios das PCHs Cajuru, Peti e Rio de Pedras em 2014. ...............................................39
Figura 41. Riqueza das comunidades de macroinvetebrados aquáticos na região litorânea dos
reservatórios das PCHs Cajuru, Peti e Rio de Pedras em 2014. ...............................................39
Figura 42. Densidade média do macrozoobentos nas regiões bentônicas dos reservatórios das
PCHs Cajuru, Peti e Rio de Pedras em 2014. ...........................................................................40
Figura 43. Riqueza das comunidades de macrozoonbentos na região bentônica dos
reservatórios das PCHs Cajuru, Peti e Rio de Pedras em 2014. ...............................................41
Figura 44. O DRRI é resultado de um composto de pesquisa aplicada e desenvolvimento
tecnológico organizado principalmente nas áreas de obtenção de conhecimento, prevenção e
controle. ....................................................................................................................................43
Figura 45. Limnoperna fortunei. ...............................................................................................44
Figura 46. Espécimes de Limnoperna fortunei encontrados na bacia do rio São Francisco. 1:
Larva identificada no reservatório de Sobradinho, BA. 2: Indivíduos coletados nos condensadores
da usina hidrelétrica de Sobradinho. 3: Indivíduos coletados em tanques de piscicultura no
reservatório de Sobradinho 4: Indivíduo encontrado no trecho inicial do canal de transposição
norte do Rio São Francisco. Fotos: Newton Pimentel de Ulhôa Barbosa. .................................44
Figura 47. Nova área de infestação de Limnoperna fortunei no Nordeste Brasileiro, indicando o
reservatório de Sobradinho e o canal de transposição do Rio São Francisco. ..........................45
Figura 48. Modelo de risco de invasão do Brasil por Limnoperna fortunei no ano de 2016, gerado
através de autômatos celulares. ...............................................................................................45
Figura 49. Modelos de risco de invasão do Brasil por Limnoperna fortunei para os anos de 2030
e 2050, gerados através de autômatos celulares. .....................................................................46
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Índice de tabelas
Tabela 01. Quantificação do uso do solo e cobertura vegetal da bacia de contribuição do
reservatório da PCH Cajuru, MG. .............................................................................................13
Tabela 02. Uso do solo e cobertura vegetal da bacia de contribuição do Reservatório da PCH
Peti. ..........................................................................................................................................14
Tabela 03. Uso do solo e cobertura vegetal da bacia de contribuição do Reservatório da PCH Rio
de Pedras. ................................................................................................................................15
Tabela 04. Espécies citadas nas listas de espécies ameaçadas de extinção ocorrentes na bacia
de contribuição do reservatório Cajuru, MG. LC= Menos preocupante; NT= Quase ameaçada.
.................................................................................................................................................20
Tabela 05. Espécies citadas nas listas de espécies ameaçadas de extinção ocorrentes na bacia
de contribuição do reservatório da PCH Peti, MG . LC= Menos preocupante; NT= Quase
ameaçada. ................................................................................................................................23
Tabela 06. Espécies citadas nas listas de espécies ameaçadas de extinção ocorrentes na bacia
de contribuição do reservatório da PCH Peti, MG . LC= menor preocupação; NT= quase
ameaçada; VU= vulnerável. ......................................................................................................28
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Superintendência
O grupo Cemig possui um parque gerador de cerca de 40 hidrelétricas, a maioria
distribuída em diversas bacias hidrográficas de Minas Gerais e outras fora do
Estado. Consolidou-se como empresa reconhecida nacional e internacionalmente tornando-se
referência no setor de energia elétrica, em todas as suas áreas de atuação.
Ao elaborar Estudos Ambientais, e em especial ao executar Programas de
Monitoramento de Qualidade das Águas, sempre em parcerias com instituições de ensino e
pesquisas e empresas especializadas, a Cemig avança na identificação de oportunidades e
melhorias, que contribuam na implementação de inovações referenciadas pelas melhores
práticas reportadas em nível global.
Fundamental para a manutenção da biodiversidade, de todos os ciclos naturais e a
preservação da própria vida, a água vem se tornando cada vez mais um recurso estratégico para
a humanidade. As atividades da Companhia são pautadas no compromisso com a
responsabilidade socioambiental, discutindo e contribuindo para o constante aperfeiçoamento
das práticas ambientais do setor elétrico e na preservação da biodiversidade.
Enio Marcus Brandão
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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1. Introdução
Nas últimas décadas, o planeta tem vivido uma grave crise ambiental que tem resultado na perda
efetiva da biodiversidade em praticamente todos os ecossistemas terrestres e aquáticos. A
CEMIG está atenta ao fato de que as sociedades humanas dependem da biodiversidade e os
diversos serviços ambientais fornecidos pelos ecossistemas à nossa sociedade dependem
diretamente ou indiretamente da biodiversidade.
Para a CEMIG, esta é uma questão de grande relevância, o que leva a empresa a se
comprometer com uma gestão efetiva dos impactos de suas ações na Biodiversidade, assim
como no levantamento do universo ecológico no qual estas ações estão inseridas. A empresa
assume que o respeito à biodiversidade e aos ecossistemas devem ter um papel de destaque
dentro das estratégias da corporação.
O Relatório Bianual de Biodiversidade da Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG
descreve o manejo e as principais atividades realizadas pela empresa entre os anos de 2017-
2018, na área de Biodiversidade especificamente no tema recursos hídricos.
Foto 1. Rio de Pedras. Itabirito, MG Foto: Mariana d’Ávila
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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2. Manejo da Biodiversidade e ações complexas
A atividade principal da CEMIG é transformar determinados recursos naturais (água,
combustíveis fósseis, vento, energia solar, etc.) em energia elétrica, que consequentemente é
distribuída e vendida em praticamente todo o território brasileiro. O desenvolvimento dessas
atividades envolve uma grande diversidade de ecossistemas, paisagens e espécies.
As atividades da companhia são pautadas em critérios que busquem a preservação da
biodiversidade. Como um dos principais indicadores de desenvolvimento sustentável, a
biodiversidade está implícita nos planos de políticas ambientais da companhia. A CEMIG
desenvolve um inventário das áreas que sofreram impactos durante a geração de energia e que
apresentam grande potencial regenerativo. Com base na caracterização destes ambientes e do
levantamento e monitoramento da fauna e flora associadas, a CEMIG subsidia ações de
conservação dos ecossistemas envolvidos nas atividades da empresa.
Foto 2. PCH Peti. São Gonçalo do Rio Abaixo, MG Foto: Cemig
Esse relatório demonstra alguns resultados gerados a partir de ações ambientais da gestão da
qualidade das águas na elaboração dos estudos ambientais previstos nos licenciamentos, em
sua grande maioria com parcerias de instituições de ensino e pesquisas. Destaca-se aqui um
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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trabalho de grande relevância para a biodiversidade que é a proposição de uma nova
metodologia de monitoramento da qualidade das águas que busca abordar uma visão
integradora dos ambientes lóticos e represados no contexto da bacia hidrográfica, utilizando-se
do conceito de integridade ecológica, que se baseia em três pilares: as condições
ecohidromorfológicas do habitat, as condições físico-químicas das águas e a caracterização da
estrutura das comunidades aquáticas Além, de apresentar outros resultados de alguns impactos,
tais como a presença de espécies invasoras, que são fortemente estudados dentro da empresa.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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2.1. Caracterização dos ambientes impactados
2.1.1. Tipificação abiótica das massas de águas
A tipificação dos ambientes lóticos no estado de Minas Gerais (macro escala) e nas áreas de
contribuição dos reservatórios das PCHs Cajuru, Peti e Rio de Pedras (meso escala), permitiu
agrupar ambientes fluviais (segmentos) com características hidromorfológicas relativamente
homogêneas. A tipificação dos reservatórios em Minas Gerais, segundo variáveis morfométricas,
é constituída por 7 grupos distintos, que foram gerados por análises de similaridade (Figura 1).
Ressalta-se que a amostra de ambientes estudados (19 reservatórios) foi selecionada de acordo
com os critérios de interesse sobre pressões antrópicas, condições ecohidromorfológicas do
habitat, as condições físico-quimica das águas e a caracterização da estrutura das comunidades
aquáticas. Importante ressaltar que não representa todos os ambientes lóticos represados
existentes no estado de Minas Gerais.
Figura 01. Agrupamento entre os 19 reservatórios de produção de energia elétrica da CEMIG em Minas Gerais, com base
em variáveis selecionadas (área, profundidade, volume, fator de envolvimento, desenvolvimento de perímetro, variação do
nível de água, tempo de residência, temperatura do ar, altitude e idade).
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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A classificação dos corpos de água de acordo com fatores abióticos é o primeiro passo para a
avaliação ecológica dos ambientes aquáticos, com base no conhecimento das especificidades
abióticas e bióticas do seu estado natural. Ela mostra a estrutura física em que as comunidades
biológicas se desenvolvem para validar esta classificação. As abordagens utilizadas do Sistema
A e Sistema B possibilitaram diferenciar as massas de água nas áreas piloto. O Sistema A
fornece um ponto de partida para identificar os tipos de rios com base nas condições gerais da
paisagem e serve como uma primeira base para comparações (inserção dos corpos de água nas
ecorregiões, dimensão das áreas das bacias, geologia e altitude). Ele permite diferenciar as
ecorregiões aquáticas de acordo com as áreas geográficas e dentro de cada um deles diferenciar
os corpos de água de acordo com a geologia e a altitude. Para cada tipo é possível incorporar
outros possíveis descritores hidromorfológicos que serão validados em escala de detalhe, por
meio dos estudos nos sítios de amostragem. Para o Sistema B é previsto os fatores obrigatórios
do Sistema A acrescidos dos fatores facultativos (Profundidade média das águas, forma do lago,
tempo de residência, temperatura ar, amplitude térmica do ar, capacidade de neutralizar ácidos,
estado de referência de concentração de nutrientes, composição media do substrato, flutuação
do nível das aguas, características de mistura – estratificação).
2.1.2. Usos e Ocupação do Solo e Cobertura Vegetal das Áreas de Estudo
A caracterização do uso e ocupação do solo e cobertura vegetal se expressa pela quantificação
e percentuais das classes de usos das porções da bacia do rio Pará, rio Santa Bárbara e das
Velhas, as quais representam, respectivamente, as bacias de contribuição dos reservatórios das
PCH’s Cajuru, Peti e Rio de Pedras. A seguir apresentam-se aspectos desta caracterização.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 02. Municípios na bacia de contribuição do reservatório da PCH Cajuru.
A bacia de contribuição do reservatório da PCH Cajuru, com área aproximada de 232.618
hectares, abrange uma pequena porção dos municípios de Resende Costa, Oliveira e
Divinópolis, uma parte do território de Carmo do Cajuru, Cláudio e Desterro de Entre Rios e a
totalidade, ou quase a totalidade, da área municipal de Passa-Tempo, Piracema, Carmópolis de
Minas e Itaguara. Destes dez municípios, os últimos quatro e Desterro de Entre-Rios possuem a
sede municipal dentro da bacia (Figura 2, Tabela 1).
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Tabela 01. Quantificação do uso do solo e cobertura vegetal da bacia de contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG.
A bacia de contribuição do reservatório da PCH Peti possui aproximadamente 75.727 hectares
e engloba parte dos municípios de Catas Altas, São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais e
Santa Bárbara, em especial (Figura 3, Tabela 2).
Observa-se que as áreas naturais na bacia do reservatório da PCH Peti correspondem a cerca
de 80% da área total e as áreas antropizadas representam 20%. Dentre as fitofisionomias
existentes observa-se o predomínio da floresta estacional semidecidual, com 58,8%. O campo
rupestre, com predomínio na serra do Caraça, e o campo limpo representam cerca de 20% da
área de estudo e situam-se nos divisores de água da bacia. Os remanescentes de floresta e de
cerrado lato sensu (campo limpo) encontram-se conectados e, via de regra, em ótimo estado de
conservação.
Os usos rurais predominantes, em termos de área ocupada, são as pastagens plantadas e a
silvicultura que correspondem a 7,7% e 5,8%, respectivamente. As pastagens se estendem ao
longo dos vales mais planos dos maiores tributários. Os plantios de eucalipto concentram-se,
preferencialmente, no entorno da mina de Gongo Soco, nas encostas dos vales e nos topos de
morros situados na margem direita do reservatório. As atividades de mineração (minas de
minério de ferro de Brucutu e Gongo Soco da Vale) e as áreas urbanas de Barão de Cocais,
Santa Bárbara, em especial, correspondem, respectivamente, a cerca de 3,2 e 2,9% da área total
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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da bacia. As sedes destes dois municípios situam-se bem próximas do remanso do reservatório
da PCH Peti.
Figura 03. Municípios com territórios inseridos na bacia de contribuição do reservatório da PCH Peti.
Tabela 02. Uso do solo e cobertura vegetal da bacia de contribuição do Reservatório da PCH Peti.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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A bacia de contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras tem área aproximada de 54.702
hectares. Os terços médio e superior da bacia estão inseridos no município de Ouro Preto,
enquanto o seu terço inferior está situado no município de Itabirito (Figura 4, Tabela 3). Nenhum
deles possui a sede municipal no interior da bacia.
Figura 04. Municípios na bacia de contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras.
Tabela 03. Uso do solo e cobertura vegetal da bacia de contribuição do Reservatório da PCH Rio de Pedras.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Na bacia de contribuição da PCH Rio de Pedras observa-se também o predomínio das áreas
naturais, correspondendo a cerca de 68% da área total, e as áreas antropizadas representam
32%. Dentre as fitofisionomias existentes observa-se o predomínio da floresta estacional
semidecidual, com 50,7%. O campo rupestre e o campo limpo representam cerca de 15,5% da
área de estudo e situam-se nos divisores de água da porção nordeste da bacia. Os
remanescentes de floresta e de cerrado encontram-se fragmentados na maior parte da área,
exceto na porção leste da bacia onde se situam as nascentes que formam o rio das Velhas. A
maioria dos fragmentos florestais encontra-se conectados. A pastagem plantada é a tipologia de
uso predominante, seguida da silvicultura, correspondendo a aproximadamente 28,2% da bacia.
As pastagens concentram-se nas porções centro-sul, oeste, sudoeste e noroeste da bacia, ao
longo da principal via de acesso que é a BR-356. As atividades de mineração concentram-se na
porção norte da bacia com cerca de 217ha.
Em síntese, as características que melhor definem as três áreas são: (i) Peti apresenta-se como
a mais preservada, contudo sofre pressões pontuais da atividade minerária e das áreas urbanas
dos municípios de Santa Bárbara e Barão de Cocais; (ii) Rio de Pedras está em condição
intermediária sendo menos preservada que Peti mas, em estado de conservação superior a
Cajuru; (iii) Cajuru, comparativamente a mais antropizada, tendo como uso predominante (80%)
a pastagem.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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2.2. Levantamento e monitoramento biótico
2.2.1. Comunidades Vegetais
A riqueza florística da bacia de contribuição do reservatório de Cajuru foi de 238 espécies, o
percentual de nativas correspondeu a 86,55%. A maioria das espécies foi exclusiva de um sítio.
As famílias com maior riqueza foram Asteraceae (25), Cyperaceae (25), Poaceae (24), Fabaceae
(17) e Melastomataceae (12). As espécies da floresta ripária contribuíram com 36,13%, as
macrófitas aquáticas com 30% e as colonizadoras de áreas antrópicas com 21,01%. As formas
biológicas mais representadas foram anfíbias e emergentes (Figuras 5 a 12).
Figura 05. Salvinia auriculata (A) e Noteroclada confluens (B), ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da PCH
Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 06. Bambusa sp. (A) e Hedychium coronarium (B), espécies exóticas ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares.
Figura 07. Eleocharis montana (A) e Ludwigia octovalvis (B), ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da PCH
Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares.
Figura 08. Exemplares de Xyris sp. (A) e Oldenlandia salzmannii (B), ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório
da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 09. Mutisia campanulata, espécie de liana ocorrente na bacia de contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG.
Fotos: Aylton Soares.
Figura 10. Exemplares de Erythrina falcata (A) e Trembleya parviflora (B) ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 11. Exemplares dos gêneros Ludwigia sp. (A) e Inga sp. (B), ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da
PCH Cajuru, MG. Fotos: Aylton Soares.
Figura 12. Heteranthera reniformis (A) e Ludwigia peploides (B), coletadas na bacia de contribuição do reservatório da
PCH Cajuru, MG. Fotos: Glaysimara Felipe e Aylton Soares.
Os sítios do reservatório de Cajuru (Figura 13) totalizaram 29 espécies, todas Angiospermas.
Melinis minutiflora foi a única espécie exótica, Fimbristylis squarrosa a espécie que apresentou
maior frequência. As espécies únicas somaram 61% do total. Quatorze espécies estão
enquadradas em alguma categoria de ameaça (Tabela 4).
Tabela 04. Espécies citadas nas listas de espécies ameaçadas de extinção ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório Cajuru, MG. LC= Menos preocupante; NT= Quase ameaçada.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 13. Vista panorâmica do sítio U16-E, no reservatório Cajuru (MG), evidenciando a margem com solo exposto.
A bacia de contribuição da PCH Peti totalizou 195 espécies. O grupo das Samambaias e Licófitas
foi representado por Selaginella marginata e as Briófitas por Campylopus sp., Dumortiera hirsuta
e Noteroclada confluens. O percentual de espécies nativas foi superior a 80%. Podem ser citados
como exemplos de plantas exóticas, ocorrentes na área de estudos: Thunbergia alata, Ricinus
communis, Hedychium coronarium e Bambusa sp.. As famílias de maior riqueza foram
Cyperaceae (23) Asteraceae (20) Poaceae (16) Melastomataceae (10) e Fabaceae. As espécies
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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colonizadoras de áreas antrópicas atingiram 25%, a forma biológica mais representativa foi a
anfíbia e a única espécie de submersa fixa foi Potamogeton polygonus (Figuras 14 a 20).
Figura 14. Selaginella marginata (A) e Dumortiera hirsuta (B) ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da PCH
Peti, MG. Fotos: Aylton Soares.
Figura 15. Exemplares de Augusta longifolia (A) e Tibouchina sebastianopolitana (B) coletadas na bacia de contribuição
do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares.
Quatorze espécies são citadas nas listas oficiais de espécies ameaçadas. A riqueza total para
os sítios do reservatório da PCH Peti foi de 26 espécies. Salvinia auriculata foi a única espécie
do grupo das Samambaias. As famílias com maior número de espécies foram Poaceae (7) e
Melastomataceae (3). As formas biológicas ocorrentes foram anfíbias, emergentes e flutuantes
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
23
livres, essas últimas correspondendo a Eichhornia crassipes e Salvinia auriculata. Quatorze
espécies são citadas nas listas oficiais de espécies ameaçadas. Destaca-se Lepidaploa
chamissonis e Bowdichia virgilioides na categoria de “quase ameaçada (NT)”, outras doze
espécies são descritas na categoria de “menor preocupação” (LC) (Tabela 5). Foram
identificadas quatro espécies exóticas ao Brasil que ocorreram nos sítios de amostragem do
reservatório de Peti: Urochloa arrecta, Urochloa brizantha, Urochloa decumbens e Melaleula
leucadendron. Dentre elas, as três primeiras são forrageiras e popularmente conhecidas como
braquiárias e M. leucadendron corresponde a uma representante da família das Myrtaceae, uma
planta arbórea originária da Oceania (Figura 21). Eichhornia crassipes, apesar de ser nativa do
Brasil, foi enquadrada como exótica por ser originária do norte do Brasil, bacia do rio Amazonas
e da Venezuela, baixo rio Orenoco (Figura 22).
Tabela 05. Espécies citadas nas listas de espécies ameaçadas de extinção ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Peti, MG . LC= Menos preocupante; NT= Quase ameaçada.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 16. Exemplares de Bacopa salzmannii (A) e Mucuna pruriens (B), ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares.
Figura 17. Exemplares de Schinus terebinthifolius (A) e Polygala paniculata (B) ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 18. Exemplar de Utricularia subulata (A) e Aciotis paludosa (B) representantes do estrato herbáceo, bacia de
contribuição do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares.
Figura 19. Formas biológicas de macrófitas aquáticas ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da PCH Peti
(MG): emergente Eleocharis debilis (A) e anfíbias Oldenlandia salzmannii (B) e Mayaca sellowiana (C). Fotos: Aylton
Soares.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 20. Exemplar de Potamogeton polygonus, representante da forma biológica submersa fixa, ocorrente na bacia de
contribuição do reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Aylton Soares e Helena Ferreira.
Figura 21. Exemplar de Melaleuca leucadendron, ocorrente no reservatório da PCH Peti, MG. Fotos: Helena Ferreira.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 22. Exemplares de Eichhornia crassipes e Salvinia auriculata, ocorrentes no reservatório da PCH Peti, MG. Fotos:
Helena Ferreira.
A riqueza florística da bacia de contribuição de Rio de Pedras totalizou 212 espécies, sendo sete
de Samambaias e Licófitas e seis Briófitas (Figura 23, 26 a 28). As espécies nativas totalizaram
87,26%, dentre as exóticas citam-se Pinus sp. e Bambusa sp. (Figura 24). As espécies únicas
somaram 57,1%. As famílias com maior riqueza foram Cyperaceae (23), Asteraceae (23),
Poaceae (23), Fabaceae (18), Melastomataceae (11) e Rubiaceae. A forma mais representativa
foi a anfíbia (Figura 25).
Figura 23. Exemplares de Cyathea delgadii (A) e Adiantum subcordatum (B) ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Helena Ferreira.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
28
Figura 24. População de Bambusa sp. (A) e Pinus sp. (B e C), na bacia de contribuição do reservatório da PCH Rio de
Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares.
Figura 25. Exemplares de Selaginella contigua (A) e Agarista oleifolia (B) coletadas na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares.
Doze espécies foram indicadas nas listas oficiais de ameaça de extinção, dessas destacam-se
Lepidaploa chamissonis na categoria de “quase ameaçada” (NT) e Maytenus rupesties na
categoria de “vulnerável”. As demais foram classificadas como “Menos preocupantes” (Tabela
6).
Tabela 06. Espécies citadas nas listas de espécies ameaçadas de extinção ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Peti, MG . LC= menor preocupação; NT= quase ameaçada; VU= vulnerável.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 26. Eleocharis montana (Cyperaceae), ocorrente na bacia de contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras,
MG. Fotos: Aylton Soares.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 27. Exemplares de Hydrocotyle verticillata (A) e Floscopa glabrata (B), ocorrentes na bacia de contribuição do
reservatório da PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares e Helena Ferreira.
Figura 28. Exemplar de Alternanthera aquatica (macrófita anfíbia) amostrada na bacia de contribuição do reservatório da
PCH Rio de Pedras, MG. Fotos: Aylton Soares.
No reservatório da PCH Rio de Pedras foram identificadas 22 espécies, todas representantes do
grupo das Angiospermas. A família com maior número de espécies foi Cyperaceae. As espécies
de maior frequência de ocorrência foram Mayaca fluviatilis (Figura 29) e Polygalapaniculata sp.
Todas as espécies amostradas no reservatório de Rio de Pedras são nativas do Brasil. Todos os
sítios amostrados abrigaram um percentual elevado de espécies indicadoras de perturbação e
uma riqueza florística baixa.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 29. Mayaca fluviatilis em duas formas biológicas distintas, ocorrente no reservatório da PCH Rio de
Pedras, MG. Fotos: Helena Ferreira.
A riqueza florística dos cursos de água das três bacias de contribuição totalizou 417 espécies,
as Angiospermas foram as mais representativas. Rio de Pedras apresentou maior número de
Samambaias, Licófitas e Briófitas. Cajuru apresentou a maior riqueza (238), comparativamente
a Peti (195) e Rio de Pedras (212). Mais de 90% das espécies amostradas em todas as bacias
são nativas do Brasil. Os maiores percentuais de espécies exóticas e de indicadoras de
perturbação foram registrados para Peti. Hedychium coronarium, espécie exótica, teve
frequência de ocorrência de 42,85% no total dos sítios. O elevado percentual de espécies
indicadoras de perturbação pode ser relacionado aos impactos antropogênicos registrados em
parte dos sítios estudados. Foram amostradas 26 espécies citadas nas listas oficiais de plantas
ameaçadas de extinção, sendo Bowdichia virgilioides, Lepidaploa chamissonise e Xylopia
brasiliensis na categoria de “quase ameaçada” e Maytenus rupestres como “vulnerável”, essa
última ocorrendo em Peti. As espécies únicas somaram 47,24%. As famílias de maior riqueza
foram: Asteraceae, Cyperaceae, Poaceae, Fabaceae e Melastomataceae. A riqueza de espécies
da floresta ripária foi maior em Rio de Pedras (41,52%), provavelmente refletindo a melhor
condição dessa formação em relação às demais. Peti teve maior destaque para as espécies
colonizadoras de áreas antrópicas. Os percentuais de plantas anfíbias foram expressivos em
todas as bacias, assim como o das emergentes. O índice de similaridade resultou em valores
aproximados de 30% e a composição florística de Cajuru e Rio de Pedras foram as mais
diferentes. Considerando as espécies de macrófitas aquáticas, os valores de similaridade ficaram
em torno de 40%. A riqueza florística dos três reservatórios totalizou 65 espécies, sendo de
Cajuru a maior riqueza de espécies (29). Mais de 90% das espécies amostradas em todos os
reservatórios são nativas do Brasil. O maior percentual de exóticas foi registrado para Peti.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
32
Cajuru apresentou a maior quantidade de espécies indicadoras de alteração. Em Peti foi
amostrada a única espécie enquadrada em listas oficiais de ameaça de extinção (Hymenachne
pernambucensis), na categoria de “Menos Preocupante”. As espécies únicas somaram 60% e
as famílias de maior riqueza foram: Poaceae, Cyperaceae, Asteraceae, Fabaceae,
Melastomataceae, Onagraceae e Rubiaceae. As espécies oriundas da floresta ripária
corresponderam ao maior número no reservatório de Peti. Em Rio de Pedras e Cajuru as
macrófitas se destacaram. O percentual representativo de espécies indicadoras de perturbação
para os três reservatórios pode estar relacionado aos impactos antropogênicos registrados. As
anfíbias corresponderam à maioria das espécies de macrófitas amostradas. Cajuru e Peti tiveram
a maior similaridade de macrófitas. Peti e Rio de Pedras foram as bacias mais similares
floristicamente apesar de pertencerem a ecorregiões distintas. Nos reservatórios verificou-se
maior similaridade entre Cajuru e Peti.
2.2.2. Comunidades Planctônicas e Perifíticas
As comunidades biológicas são constituídas por populações de diferentes espécies, que se
relacionam de diversas maneiras. No ambiente aquático estas comunidades podem ser divididas
em planctônicas, organismos que vivem dispersos nas águas e em perifíticas, organismos
aderidos a um substrato.
Os estudos de cunho hidrobiológico destes ambientes tiveram por objetivo avaliar de forma
integrada e em associação às análises físicas e químicas das águas, as alterações estruturais
das comunidades fitoplanctônicas, fitoperifíticas (ex., figuras 30 a 33), zooplanctônicas e
zooperifíticas (ex., figuras 34 a 39) pela mensuração da composição, abundância, riqueza e
diversidade. Foi ressaltada através dos estudos das comunidades fitoplanctônicas e fitoperifíticas
a presença de espécies de interesse ecológico, tanto as espécies bioindicadoras de ambientes
menos impactados quanto aquelas potencialmente prejudiciais à saúde pública e suas
densidades em termos dos critérios de classificação para atender aos requisitos de qualidade
em relação ao enquadramento legal.
Os estudos conduzidos nas bacias de contribuição e nos reservatórios de Cajuru, Peti e Rio de
Pedras contribuirão não somente para avaliar a qualidade das águas, mas consolidar um
diagnóstico atual das condições limnológicas das áreas investigadas, que servirá de referencial
a futuras avaliações da qualidade ecológica dos ambientes aquáticos.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 30. Achnanthidium minutissimum (A) e Ulnaria ulna (B) ocorrentes como espécies dominantes nas bacias de
contribuição dos reservatórios das PCHs Cajuru , Peti e Rio de Pedras em 2013/2014.
Figura 31. Microspora sp. (A) e Mougeotia sp. (B) ocorrentes como espécies dominantes nas bacias
de contribuição dos reservatórios das PCHs Cajuru , Peti e Rio de Pedras em 2013/2014.
Figura 32. Cryptomonas sp. (A) e Surirella guatimalensis (B) ocorrentes como espécies dominantes
nos reservatórios das PCHs Cajuru , Peti e Rio de Pedras em 2014.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Figura 33. Eunotia sp. (A) e Phormidium sp. (B) ocorrentes como espécies dominantes nos reservatórios das PCHs
Cajuru , Peti e Rio de Pedras em 2014.
Figura 34. Exemplares da microfauna ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da PCH Cajuru, MG.
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Figura 35. Exemplares da microfauna ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da PCH Peti, MG.
Figura 36. Exemplares da microfauna ocorrentes na bacia de contribuição do reservatório da PCH Rio de Pedras, MG.
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Figura 37. Exemplares da microfauna ocorrentes no reservatório da PCH Cajuru, MG.
Figura 38. Exemplares da microfauna ocorrentes no reservatório da PCH Peti, MG.
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Figura 39. Exemplares da microfauna ocorrentes no reservatório da PCH Rio de Pedras, MG.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
38
2.2.3. Comunidades dos Macroinvertebrados Aquáticos
Na caracterização das comunidades de macroinvertebrados dos reservatórios, amostrados na
seca e chuva de 2014, e dos sítios de suas bacias de contribuição, amostrados nas secas de
2013 e 2014, foi estudado em detalhe a composição, riqueza, densidade e distribuição dos
táxons presentes nas biocenoses. Baseado nisto, realizou-se uma avaliação comparativa dos
ecossistemas, referente também a sua qualidade de água usando índices bióticos e as suas
estruturas tróficas e seus hábitats preferenciais. Os resultados da avaliação de composição e
riqueza das comunidades lóticas em especial de "EPT", índices de diversidade e qualidade das
águas mostraram, que as melhores condições ecológicas foram encontradas em ordem
decrescente nas bacias das PCHs Rio de Pedras, Peti e Cajuru.
Uma comparação da densidade média de macroinvertebrados aquáticos encontrados nos sítios
da região litorânea dos reservatórios de Cajuru, Peti e Rio de Pedras, nos dois períodos de chuva
e seca de 2014, é mostrada na figura 40. Constata-se que a maior densidade de organismos
ocorreu no reservatório de Cajuru, com média 2.369 org./m2, o que deve-se a uma altíssima
densidade de quironomídeos (93%). O reservatório de Peti e Rio de Pedras tiveram na região
litorânea aproximadamente a metade da densidade de Cajuru com respectivamente médias de
1.109 e 1.118 org./m2. Contudo, na região litorânea de Rio de Pedras, 87% da densidade deve-
se a uma única espécie, o molusco invasor Melanoides tuberculatus, ao contrário do que
aconteceu na região litorânea do reservatório de Peti, onde a densidade dos organismos está
distribuída em diversos grupos taxonômicos. Portanto comparando a riqueza das comunidades
de macroinvertebrados na região litorânea dos reservatórios, nos períodos de chuva e seca de
2014, representada na figura 41, fica evidente uma grande diversidade taxonômica no
reservatório de Peti, com 45 (quarenta e cinco) táxons, em relação ao reservatório de Cajuru,
com 17 (dezessete) táxons e de Rio de Pedras com apenas 13 (treze) táxons.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
39
Figura 40. Densidade média de macroinvertebrados aquáticos na região litorânea dos reservatórios das PCHs Cajuru, Peti
e Rio de Pedras em 2014.
Figura 41. Riqueza das comunidades de macroinvetebrados aquáticos na região litorânea dos reservatórios das PCHs
Cajuru, Peti e Rio de Pedras em 2014.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
40
Comparando as densidades das comunidades do macrozoobentos encontradas nos períodos de
chuva e seca de 2014 na região bentônica dos reservatórios de Cajuru, Peti e Rio de Pedras,
representadas na figura 42, percebe-se, que diferente da região litorânea a maior densidade de
organismos ocorreu no reservatório de Peti, com média 1.316 org./m2 e a maior porcentagem
desta densidade (68%) correspondeu a classe Oligochaeta, diferindo de Cajuru e Rio de Pedras,
cujas porcentagens das densidades de Chaoboridae e Chiromomidae são maiores do que de
Oligochaetas. Em Cajuru a maior porcentagem (60%) correspondeu a população de
quironomídeos. Na região bentônica de Rio de Pedras, como aconteceu também na sua região
litorânea, a maior porcentagem 88% correspondeu ao Gastropoda invasor Melanoides
tuberculatus.
Figura 42. Densidade média do macrozoobentos nas regiões bentônicas dos reservatórios das PCHs Cajuru, Peti e Rio de
Pedras em 2014.
Uma comparação das riquezas de táxons das comunidades dos macrozoobentos entre os
resultados encontrados nos reservatórios de Cajuru, Peti e Rio de Pedras nos períodos de chuva
e seca de 2014 é mostrada na figura 43. A maior riqueza de táxons de macrozoobentos foi
registrada no reservatório de Peti, como ocorrido também na região litorânea, apresentando 17
(dezessete) gêneros. Os reservatórios de Cajuru e Rio de Pedras tiveram igualmente 6 (seis)
gêneros. No benton do reservatório de Cajuru destaca-se a ocorrência dos gêneros de
Ephemeroptera, Asthenopus da família Polymitarcyidae e Homoeoneuria da família
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
41
Oligoneuriidae, indicando condições melhores do que em Rio de Pedras, embora estes
reservatórios tenham a mesma riqueza bentônica. O gênero Biomphalaria vetor da
Esquistossomosse ocorreu além da litorânea também na região bentônica do reservatório de
Peti.
Figura 43. Riqueza das comunidades de macrozoonbentos na região bentônica dos reservatórios das PCHs Cajuru, Peti e
Rio de Pedras em 2014.
A maior densidade de macroinvertebrados aquáticos/m2 nos cursos de água ocorreu na bacia de
Cajuru e a menor na bacia de Rio de Pedras. Em Cajuru, os quironomídeos corresponderam a
48%, os oligochaetas 35% e os outros grupos taxonômicos 17%. Em Peti, os quironomídeos,
foram 20%, os oligochaetas 35% e os outros táxons 45%, já em Rio de Pedras 38%
corresponderam a quironomídeos e oligochaetas e a maior parte 62% aos outros táxons,
parecendo refletir condições ecológicas em Rio de Pedras mais próximas do natural.
A maior riqueza de gêneros da classe Insecta nos cursos de água foi encontrada na bacia de Rio
de Pedras com média de 8,5 táxons, Peti teve média de 8,2 e Cajuru teve a menor média de 5,8.
Considerando todos os gêneros dos outros grupos taxonômicos, Peti e Rio de Pedras ficaram
quase iguais com médias de respectivamente 9,3 e 9,2, mas Cajuru teve média menor de 6,6
táxons indicando uma condição pior.
O gênero Biomphalaria, vetor da esquistossomose mansônica de interesse sanitário ocorreu nos
cursos de água da bacia da PCH Cajuru, na bacia da PCH Peti foi encontrado tanto nos cursos
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
42
de água quanto no reservatório, já na bacia da PCH Rio de Pedras esteve presente apenas no
reservatório.
Considerando todos os gêneros de macroinvertebrados aquáticos encontrados nas três bacias
estudadas, as bacias de Peti e Rio de Pedras tiveram em comum 25 (vinte e cinco) gêneros de
macroinvertebrados aquáticos, nas bacias Cajuru e Rio de Pedras foram 19 (dezenove) gêneros
comuns e entre Cajuru e Peti apenas 11 (onze) gêneros em comum, mostrando haver uma maior
semelhança faunística entre as comunidades das bacias de Peti e Rio de Pedras, não
corroborando a classificação das ecorregiões, São Francisco e Mata Atlântica, adotada.
A maior riqueza de "EPT" (Ephemeroptera, Trichoptera e Plecoptera), nos cursos de água
estudados, aconteceu na bacia da PCH Rio de Pedras e a menor na bacia da PCH Cajuru,
mostrando mais uma vez um maior grau de distúrbio em ambientes lóticos da bacia de Cajuru
comparativamente às outras.
2.2.4. Monitoramento e detecção de espécies exóticas invasoras
As invasões biológicas estão entre os piores problemas ecológicos da atualidade, considerados
pela IUCN (International Union for Conservation of Nature/ União Internacional de Conservação
da Natureza) a segunda maior fonte de perda da biodiversidade no planeta. No Brasil, entre
muitas espécies invasoras, encontra-se o Mexilhão Dourado (Limnoperna fortunei) (figura 44),
molusco bivalve de água doce natural do sudeste asiático. Desde sua chegada à América do Sul
(por volta de 1990, na Argentina), tem causado sérios prejuízos aos ecossistemas e às atividades
ligadas ao tratamento de água e produção de hidroeletricidade.
Os estudos com enfoque em bioengenharia realizados através do conhecimento da biologia e
ecologia do organismo associados ao desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias de
modelagem computacional, biologia molecular, técnicas de campo e análises laboratoriais, um
programa pioneiro no Brasil de prevenção e combate às espécies invasoras foi desenvolvido e
testado. Este programa teve como base, a experiência de grandes centros de pesquisa
internacionais, que foi somada às novas tecnologias da informação desenvolvidas localmente no
Centro.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
43
O DRRI é uma metodologia, resultado de pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico
organizado principalmente nas áreas de obtenção de conhecimento, prevenção e controle. A
implantação do Programa de Detecção Rápida e Resposta Imediata - DRRI - garantirá ao estado,
às empresas e a todos os usuários das bacias um sistema eficiente de prevenção e combate à
espécie invasora mexilhão dourado e poderá servir de base para controle de outras espécies
invasoras. Por utilizar sistemas de inteligência, que garantem amostragens em ambientes
prioritários, técnicas de identificação e controle com a mais alta tecnologia disponível, bem como
uma rede integrada com todos os usuários e gestores da bacia, o DRRI possibilitará um sistema
mais eficiente, seguro e de baixo custo, comparado aos sistemas atualmente desenvolvidos.
Figura 44. O DRRI é resultado de um composto de pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico organizado
principalmente nas áreas de obtenção de conhecimento, prevenção e controle.
O desenvolvimento destas metodologias de detecção e monitoramento possibilitaram ao corpo
técnico da companhia identificar de forma pioneira o Mexilhão Dourado (Limnoperna fortunei) na
bacia do rio São Francisco (figura 45 e 46). Através de modelos matemáticos (autômatos
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
44
celulares), foi possível predizer as áreas mais susceptíveis de invasão por este molusco invasor,
para as décadas de 2030 e 2050 (figuras 47 e 48).
Figura 45. Limnoperna fortunei.
Figura 46. Espécimes de Limnoperna fortunei encontrados na bacia do rio São Francisco. 1: Larva identificada no
reservatório de Sobradinho, BA. 2: Indivíduos coletados nos condensadores da usina hidrelétrica de Sobradinho. 3:
Indivíduos coletados em tanques de piscicultura no reservatório de Sobradinho 4: Indivíduo encontrado no trecho inicial
do canal de transposição norte do Rio São Francisco. Fotos: Newton Pimentel de Ulhôa Barbosa.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
45
Figura 47. Nova área de infestação de Limnoperna fortunei no Nordeste Brasileiro, indicando o reservatório de Sobradinho
e o canal de transposição do Rio São Francisco.
Figura 48. Modelo de risco de invasão do Brasil por Limnoperna fortunei no ano de 2016, gerado através de autômatos
celulares.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
46
Figura 49. Modelos de risco de invasão do Brasil por Limnoperna fortunei para os anos de 2030 e 2050, gerados através de
autômatos celulares.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
47
2.3. Integridade Ecológica dos Ambientes Aquáticos
Na bacia do reservatório da PCH Cajuru a integridade da biocenose está mais comprometida do
que nas demais bacias de contribuição resultando nos piores índices de qualidade ecológica.
Nesta área os índices de integridade biótica estão em sua maioria na classe ruim. Constituem
como principais pressões e distúrbios nesta área, os aspectos ligados à qualidade das águas,
presença de elementos traços (metais) na água e a qualidade dos habitats, já que, as classes
correspondentes a estes indicadores (IQA e IQH) variaram entre regular e ruim para a maioria
dos locais.
A bacia de contribuição do reservatório de rio de Pedras apresenta uma situação melhor do que
a anterior. Os índices de integridade biótica gerados para esta área resultaram em uma maior
proporção de sítios com excelente integridade biótica e cinco situações cuja classificação foi
regular para os IIBs. Nesta bacia os sítios fluviais apresentam em geral baixa trofia, uma melhor
qualidade da água e dos habitats em relação à bacia de contribuição do reservatório de Cajuru.
A variabilidade das condições ecológicas entre os sítios da bacia do reservatório de Peti foi maior
do que em rio de Pedras, compreendendo desde sítios com excelente qualidade ecológica até
sítios considerados de péssima qualidade ecológica.
Em suma observou-se que a vegetação seguida pelo perifíton foram as comunidades que
apresentaram um índice mais ajustado ao gradiente de distúrbio, todavia as correlações obtidas
para os índices gerados pelos demais grupos foram igualmente aceitáveis. Os índices de
integridade biótica médios foram calculados de forma a retratarem uma condição de integridade
média e que incorporassem as respostas de todas as comunidades e por isso mostraram
resultados distintos das comunidades avaliadas separadamente. O índice calculado com base
na comunidade de macroinvertebrados foi o que mais se aproximou dos resultados médios
calculados para toda a biota. Nem sempre houve uma concordância das indicações dos melhores
sítios quando a avaliação foi feita com base em características gerais das comunidades e quando
se basearam nos resultados dos índices calculados a partir das métricas eleitas. Entre os
possíveis fatores explicativos destacam-se:
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
48
- No cálculo do gradiente de distúrbio, as métricas consideradas não cobriram a totalidade
dos fatores antrópicos que influenciam nas áreas estudadas o que pode ter interferido nas
respostas das comunidades biológicas;
- O peso indicativo da influência antrópica atribuído às métricas, quanto à magnitude e
importância (fator de influência), necessita de ajustes, que poderão refinar a sensibilidade da
biota aos distúrbios;
- O grau de ajuste dos índices (expressos pelas correlações obtidas entre os índices e o
gradiente de distúrbio), apesar de aceitáveis, pode ser melhorado aumentando o número
amostral. O número de amostras utilizado foi pequeno e as variações obtidas, dentro do
gradiente ambiental, também foram pequenas e pouco representativas.
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
49
3. Desafio e Perspectivas Futuras
No Brasil, a avaliação biológica da poluição das águas superficiais é pouco explorada. Há normas
e leis que determinam metodologias tradicionais e critérios para avaliação e classificação química
de impacto em corpos hídricos. Porém, a ausência de parâmetros biológicos impossibilita uma
interpretação dos efeitos nas comunidades aquáticas.
Os resultados dos projetos de pesquisa desenvolvidos pela Cemig, significam etapa
importantíssima para a implementação de metodologias capazes de romper paradigmas, ao
avaliar a qualidade ecológica do ambiente aquático e não somente a qualidade das águas. Os
avanços da pesquisa demonstram a aplicabilidade socioambiental da Cemig, do setor energético
e da sociedade como um todo, direcionando a continuidade dos estudos nessa linha de pesquisa,
com vistas a ampliar a base de dados e consolidar a validação da tipificação dos ambientes
aquáticos de Minas Gerais.
Nesse propósito, a caracterização dos atributos bióticos dos sítios de referência, para cada um
dos tipos de ambientes aquáticos identificados em nível estadual, não pode ser considerada
concluída em razão da pequena área geográfica investigada. Os avanços metodológicos e os
resultados obtidos com o projeto aplicado com determinação pelos órgãos gestores de recursos
hídricos irão se constituir em instrumento poderoso de mudanças. Mudanças de direção à
inovação e aprimoramento de gestão dos ambientes aquáticos de Minas, em prol da melhoria da
qualidade ecológica dos ecossistemas aquáticos.
3.1 Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
Os projetos são desenvolvidos junto ao Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O P&D foi regulamentado para incentivar a busca
por inovações e fazer frente aos desafios tecnológicos do setor elétrico. A Cemig estabelece
parcerias com centros de pesquisa para criar estratégias mais eficientes e subsidiar os
programas ambientais, além de estimular a constante troca de experiências entre suas equipes
técnicas e das universidades.
Este programa fortalece o plano de atuação da empresa, por meio da geração de informações,
garantindo uma estruturação de gestão diferenciada e implementações de inovações
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
50
referenciadas em nível mundial. É importante ressaltar que o alcance dos objetivos é gradativo
e a continuidade do projeto vem proporcionando a interação efetiva entre os órgãos gestores e
os usuários, com vistas ao alcance da gestão sustentável dos recursos hídricos.
3.1.2 Projetos Futuros Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
Projetos iniciados em 2018 em parceria com as instituições de pesquisa, Universidade Federal
de Minas Gerais - UFMG, Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais - PUC, Centro de Inovação e Tecnologia SENAI/FIEMG.
INTEGRIDADE ECOLÓGICA DE LAGOAS MARGINAIS PARA A CONSERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE DO RIO SÃO FRANCISCO
Objetivo do projeto: avaliar a integridade ecológica de lagoas marginais em articulação a gestão
operacional do reservatório da uhe três marias e integração com as comunidades locais, com
vista a conservação da biodiversidade do rio são francisco.
CONTROLE DO MEXILHÃO DOURADO: BIOENGENHARIA E NOVOS MATERIAIS PARA APLICAÇÕES EM ECOSSISTEMAS E USINAS HIDRELÉTRICAS-FASE 2
Objetivo do projeto: desenvolver metodologias que apoiem políticas mitigadoras da CEMIG e de
entes estatais e não-estatais no combate ao mexilhão dourado e espécies invasoras de UHEs,
combinando os produtos e ações de Tecnologia Social e Internet (Base de Dados colaborativa,
índice de Risco,etc) - já desenvolvidas pelo grupo de pesquisa CBEIH (Centro de Bioengenharia
de Espécies invasoras) vinculado à REDEMAT UFOP-UEMG e criado no GT343- com técnicas
de Modelamento e Simulação, Engenharia de Materiais, Biologia Molecular visando prevenir e
combater pragas aquáticas presentes em estruturas industriais de hidrelétricas e reservatórios.
Dentre estes organismos, destacam-se o Mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), os
microrganismos ferrometabólicos de diferentes espécies (componentes da chamada "lama
ferruginosa") e as cianobactérias tóxicas.
PROCESSOS ECOLÓGICOS: DESENVOLVIMENTO DE NOVAS ECOTECNOLOGIAS DE DIAGNÓSTICO E PROCESSOS AMBIENTAIS (Projeto PROECOS)
Relatório de Biodiversidade 2018 – CEMIG
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Objetivo do projeto: Este projeto viabilizará a implantação de metodologia eficiente e de baixo
custo na avaliação de integridade funcional como subsídio à implementação de medidas de
gestão de bacias hidrográficas para o Diagnóstico e Processos Ambientais em bacias
hidrográficas de reservatórios hidrelétricos e conservação de biodiversidade aquática, avaliando
processos ecológicos de produção primária; taxas de respiração de organismos aquáticos como
indicadora de metabolismo de ecossistemas frente a mudanças globais (p.ex. clima,
temperatura). Além disso, a abordagem PROECOS poderá ser amplamente utilizada por órgãos
do governo e ser implementado como ferramenta de diagnóstico e monitoramento, gestão de
saúde e qualidade ambiental em bacias hidrográficas no Estado de Minas Gerais e outras regiões
do Brasil. Os resultados obtidos poderão ser utilizados pela empresa para melhorar sua imagem
frente à comunidade e reduzir multas relativas a impactos ambientais.
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