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No final de abril todos ostrabalhadores do quadro daLísnave vão receber umbónus que pode atingir 150%do salário mensal. O estaleirolucrou mais de €5 milhões
LISNAVE DISTRIBUI BÓNUS
El
6
Êxito industrial 0 estaleiro da Mitrena, perto de Setúbal, onde a Lisnave continuaa reparar grandes navios, confirma a viabilidade deste sector em Portugal
Como a Lisnavefintou a falênciae se tornou um sucessoPassou a dar lucro e no fim do mês pagará bónus aos trabalhadores
Textos J.F. PALMA-FERREIRAInfografia ANA SERRA
e JAIME FIGUEIREDO
Doucos
são os grandesestaleiros navais euro-peus que "renasce-ram", como aconteceucom a Lisnave. Deuma situação de falên-cia no final dos anos90, a empresa passoupara o "pódio" da repa-
ração naval a nível mundial. Sobrevi-veu e tornou-se viável, gerida por qua-dros oriundos dos estaleiros da Mar-gueira e da Setenave.
O Estado mantém uma participaçãode 2,9% e há pequenos acionistas, queno seu conjunto detêm 4,2% do capital,que nunca quiseram vender as suas
ações e continuam a receber dividen-dos. A maioria do capital (72,83%) per-tence à Navivessel, dos empresários Jo-sé Rodrigues e Nelson Rodrigues. Ho-je, apesar da crise, a Lisnave dá lucro evai distribuir bónus aos seus trabalha-dores — a gratificação máxima podechegar a 150% do ordenado mensal.
O presidente executivo da empresa,Frederico Mesquita Spranger, na últi-ma gala dos 75 anos da Ordem dos En-genheiros — realizada em março —
agradeceu o reconhecimento público
feito à Lisnave, admitindo que "é o úni-co grande projeto industrial portuguêsdesenvolvido nos anos 70 que se man-tém vivo". Apesar da crise em que vive-
mos, a Lisnave tem "reais perspetivasde sobrevivência futura", diz.
Perante uma plateia de engenheirosportugueses, Frederico Spranger fri-sou que a Lisnave é "o maior estaleirode reparação naval da Europa e umdos cinco maiores a nível mundial".Atualmente, a Lisnave "exporta cercade 97% dos seus serviços, com um va-lor acrescentado nacional superior a90%", referiu.
Esta é uma das razões do sucesso doestaleiro. Mas o fator mais decisivotem sido precisamente a flexibilidadedo modelo de produção. Ao contráriodo período que sucedeu à revolução de
1974 em que o estaleiro teve largos mi-lhares de trabalhadores, hoje a Lisna-ve — confinada à unidade da Mitrena,em Setúbal —
, tem apenas 302 efeti-vos. No pós-25 de Abril, o estaleiro da
Margueira, em Almada, empregavacerca de 10 mil trabalhadores. E no es-taleiro da Mitrena ainda havia mais6500 trabalhadores. Na conjunturaatual, a Lisnave nunca sobreviveriacom uma estrutura laborai idêntica à
que tinha em 1974 e 1975.Para a Lisnave conseguir adaptar-se
às variações bruscas no volume das em-preitadas, o modelo de gestão vigenteapoia-se num pequeno quadro de traba-lhadores, complementado por equipasespecializadas que são contratadas emfunção do tipo de reparação feito emcada navio. Em média, cruzam diaria-mente os portões do estaleiro da Mitre-na cerca de 2000 trabalhadores.
O tempo de reparação em estaleirovaria consoante se trate do arranjo deum paquete — que pode ocupar entresete e dez dias de trabalho. Ou de repa-rações que impliquem alterações nosmódulos estruturais de petroleiros ouporta-contentores. Ou da renovação de
chapa e arranjo mecânico de dragas,que habitualmente ocupam maior nú-mero de dias de trabalho em estaleiro.
Desde o início do plano de reestrutu-ração da Lisnave — no segundo semes-tre de 1997 — até ao final de 2011, oestaleiro da Mitrena reparou e fez ma-nutenção de 1839 navios, oriundos demais de 50 países espalhados pelo mun-do, o que corresponde a um volume devendas de €1,61 mil milhões, dos quais€1,53 mil milhões se traduzem em ex-
portações de serviços.Neste período, a Lisnave refere que o
valor global pago em salários atingiu€920 milhões, que permitiram pagarimpostos e contribuições ao Estado da
ordem dos €165 milhões.A atual conjuntura económica e finan-
ceira tem vindo a reduzir o ritmo da
atividade da reparação naval e o valormédio de trabalhos por cada navio queentra no estaleiro da Mitrena caiu decerca de €1 milhão em 2008 para umafatura média que agora se aproximados €800 mil.
Armadores esmagam preços
Face à redução da rentabilidade dos
serviços prestados pelos armadores(caíram todas as taxas de frete que co-bram pelos serviços de transporte ma-rítimo), estes tentam negociar a desci-da dos preços das reparações que pre-cisam de fazer nos navios.
Tendo como exemplo a evolução dosvalores médios da taxa de frete dos mo-dernos petroleiros do tipo "Suezmax"— que seguem a rota do canal de Suez— , nota-se que enquanto em 2008 oseu afretamento custava cerca de 47,7mil dólares por dia, atualmente estão aser contratados por 19,6 mil dólaresdiários. No caso dos grandes navios
graneleiros — que transportam cargaa granel —
, os fretes caíram dos 100mil dólares diários em 2008 para 16,1mil dólares nos dias que correm.
Neste enquadramento, face a 2010,o volume de vendas da Lisnave caiu€9 milhões em 2011, fixando-se nos€80,8 milhões. A empresa continuoua apresentar lucros, mas caíram de
€11,97 milhões em 2010 para €5,21 mi-lhões em 2011.
Esta nova fase da vida da Lisnave co-
meçou em julho de 2000, quando dois
quadros da Lisnave — Nelson Rodri-
gues, dos estaleiros da Margueira, e Jo-sé Rodrigues, da Mitrena, donos da so-ciedade Navivessel — compraram a Lis-nave ao Grupo José de Mello pelo valorsimbólico de um dólar. Desde então, o
parceiro alemão, a ThyssenKrupp, tevede reduzir a atividade na área dos esta-leiros navais, vendendo o seu estaleirode referência em Hamburgo, o históri-co Bloom & Voss, onde, em 1937, foiconstruído o navio-escola "Sagres"(ver texto na página ao lado).
jpferreira@expresso.impresa.pt
Mérito e assiduidade
pesam no prémio a pagar
O presidente da administraçãoda Lisnave, José Rodrigues,explicou que os prémios terãouma componente fixa (80% dosalário) e duas partes variáveis
O contributo de todos os trabalhado-res da Lisnave para os resultados obti-dos pela empresa em 2011 — um lucrode €5,21 milhões — será compensadono final de abril com o pagamento de
uma gratificação que poderá atingir o
valor máximo de um ordenado e meio
por funcionário (até 150% do venci-mento fixo). Esta é a proposta aprova-da pela última Assembleia Geral deacionistas da Lisnave.
Numa informação interna, o presi-dente do conselho de administração da
Lisnave, José Rodrigues, refere que se-rá atribuída uma gratificação "a todosos trabalhadores da empresa, que nes-ta data fazem parte do seu efetivo". Oseu pagamento será efetuado junta-mente com o processamento de venci-mentos do mês de abril (no final do
mês). Este bónus será composto por
uma parte fixa, correspondente a 80%da remuneração fixa mensal, e porduas partes variáveis, em percentagemdesta mesma remuneração fixa.
"Uma destas partes, dependente domérito revelado durante 2011, será de-terminada mediante avaliação de ca-da um dos trabalhadores e variará en-tre um mínimo de 5% e um máximode 40%", refere José Rodrigues.
A outra parte variável, "cujo mínimoserá de 0%, tendo como máximo o va-lor de 30%, dependerá da assiduidadede cada trabalhador e será calculadaem função do absentismo 'tipo zero'de cada um, durante o exercício de2011", explica a nota do presidente daLisnave.
No ano passado, a atividade da Lis-nave garantiu emprego a cerca de2000 pessoas por dia (em termos mé-dios), o que equivale, segundo dadosda empresa, ao valor global de €46milhões. A nível da responsabilidadesocial, a Lisnave concedeu donativosde €145 mil, dos quais €92,5 mil naárea social.
OS ÚLTIMOS NÚMEROS
27navios reparados no primeirotrimestre de 2012, o que cria
perspetivas menos negativas para esteano, em que se antevia maior crise
6navios para reparar em maio — entreos quais duas dragas, que implicamreparações mais demoradas erentáveis —
,além de dois navios que
entram a 22 e 24 de abril e que só
estarão terminados em maio
€5,21milhões de lucro em 2011, ano em quea Lisnave registou uma quebra de 10%
no número de navios reparados
Alemães da ThyssenKruppdesinvestem no sector
O acionista alemão da Lisnavejá teve grandes ambições naindústria naval, mas a evoluçãodos negócios internacionaisimpôs a venda de estaleiros
O gigante alemão do aço Thyssen-Krupp — que detém 20% do capital daLisnave — terá de desinvestir em ati-vos industriais para reestruturar a suadívida — cujo valor global atinge €3,6mil milhões. Uma das suas primeirasalienações será a da unidade de me-gaiates dos estaleiros da Blohm &Voss, de Hamburgo, ao fundo britâni-co Star Capital Partners.
O estaleiro da Blohm & Voss — ondefoi construído o navio-escola "Sagres",antes da II Guerra Mundial, batizadocom o nome Albert Leo Schlageter —
,
foi um dos porta-estandartes do sectornaval do ThyssenKrupp. Embora o va-lor do negócio nunca tenha sido torna-do público, é reconhecido internacio-nalmente o potencial do estaleiro daBlohm & Voss, que, entre outros na-vios, construiu o mítico "Bismarck" —
para a marinha nazi — , a fragata "Vas-co da Gama" da classe MEXO, e os ia-tes "Dubai" e "Eclipse", este último en-comendado pelo multimilionário russoAbramovitch. "Estou contente por tercomprado uma das mais importantesempresas de engenharia alemãs, reco-nhecida a nível mundial", referiu ao "Fi-nancial Times" o presidente executivoda Star Capital, Tony Mallin.
Neste enquadramento, as ambiçõesda ThyssenKrupp na indústria navalserão limitadas, sendo de excluir quepossa vir a ter uma participação maisrelevante no capital da Lisnave. Narealidade, parece colocada de partequalquer perspetiva de reforço acimados 20% que os alemães já controlamno estaleiro do Sado.
Tal como acontece com o Estado por-tuguês (que detém 2,97% da Lisnave),ou com os pequenos acionistas (quetêm 4,2%), a posição de 20% detida pe-la ThyssenKrupp continua a render di-videndos.
Atualmente, a Lisnave é dos poucosestaleiros europeus com lucros.
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