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Prática de Ensino Supervisionada em Educação Pré-escolar
e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Susana Isabel dos Santos Alves
Relatório de Estágio apresentado à Escola Superior de Educação de Bragança
para obtenção do Grau de Mestre em Educação Pré-escolar e Ensino do 1.º Ciclo
do Ensino Básico
Orientado por
Ana Maria Fernandes Pires Pereira
Bragança
2011
Prática de Ensino Supervisionada em Educação Pré-
escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Susana Isabel dos Santos Alves
Relatório de Estágio apresentado à Escola Superior de Educação de Bragança
para obtenção do Grau de Mestre em Educação Pré-escolar e Ensino do 1.º Ciclo
do Ensino Básico
Orientado por
Ana Maria Fernandes Pires Pereira
Bragança
2011
ii
Agradecimentos
A muitos tenho que agradecer!
Em primeiro aos meus pais e irmão pela sua presença e apoio.
À Instituição que me acolheu ao longo destes meses de estágio, e a toda a equipa que lá
trabalhava, especialmente à Professora cooperante Judite Fernandes, que me apoiou sempre
que precisei.
À professora Ana Maria Fernandes Pires Pereira, minha orientadora, pela amizade, pelo
apoio que me prestou e pelas dúvidas que me esclareceu.
À minha colega Olga Bernardes, pelo seu apoio e companheirismo.
À minha colega Manuela Teixeira Valpaços, que sempre me substituiu quando tinha que
faltar ao trabalho para frequentar o estágio.
A todos os meus amigos que me souberam ouvir e animar e também aqueles que
acreditaram e acreditam em mim.
Ao meu grupo de crianças, pelo sorriso com que todos os dias me recebiam e pela forma
como me ajudaram a crescer.
A todos(as). Eu agradeço
iii
Resumo
Na actualidade, as transformações contínuas exigidas pela sociedade remetem para a
necessidade de se desenvolverem competências nas crianças a nível das literacias, ou seja, na
era da pós-modernidade, na qual nos encontramos, não basta saber ler ou escrever, mas sim
que se saiba usar, mobilizar ou utilizar a informação da linguagem escrita em situações do dia-
a-dia. Por outras palavras, torna-se imperioso que a escola promova actividades para que a
criança desenvolva a capacidade de usar todas as formas de material escrito exigidos pela
sociedade para um determinado objectivo da vida quotidiana dos indivíduos que a integram.
Neste sentido, partimos da seguinte questão inicial: Será que o contacto das crianças
com a narrativa e diversas técnicas de escrita criativa permitirá elevar os seus níveis de
literacia no âmbito de escrita? Para lhe darmos resposta(s) estipulamos alguns objectivos,
nomeadamente: (i) Desenvolver a criatividade das crianças e o gosto pela escrita, fazendo
desta uma actividade diária; (ii) Contribuir para o desenvolvimento de competências
linguísticas das crianças através da implementação de técnicas de escrita criativa; e, (iii)
Valorizar a escrita como recurso potenciador do desenvolvimento de um trabalho
multidisciplinar. Situamos este estudo numa abordagem qualitativa com características de uma
investigação-acção. No entanto, no processo de análise dos dados, sobretudo os que foram
recolhidos através do inquérito por questionário, recorremos à sua apresentação numa linha
quantitativa. Assim, metodologicamente, num primeiro momento, aplicou-se um questionário
de diagnóstico para verificação das atitudes das crianças perante a escrita, seguiu-se a
implementação do plano de acção e, por último, fez-se a avaliação da implementação do
plano. Esta última etapa concretizou-se recorrendo a uma recolha de dados através da
observação directa e, consequente, registo em grelhas de observação. Efectuou-se ainda um
questionário final com o intuito de verificarmos se se registaram, ou não, alterações nas
opiniões das crianças sobre a escrita. A maioria das crianças referiu que o projecto de escrita
criativa as ajudou a gostar mais de escrever, a escrever um texto sozinhas, a escrever com
menos erros, a observar as coisas e escrever sobre elas, a perceber a importância das palavras e
a escrever para exprimir opiniões. Com o tempo e a exploração de obras de literatura para a
iv
infância percebemos que as resistências à escrita se foram dissipando. Prova disso foram as
produções escritas das crianças. Estas passaram a ser mais extensas e com maior qualidade.
Verificou-se o desenvolvimento de competências ao nível da escrita, o que lhes permitiu
assegurar mais facilmente a sequencialidade de uma narração, dando-lhe lógica. Pensamos,
assim, poder concluir que as actividades desenvolvidas contribuíram para que as crianças
ampliassem a sua capacidade criativa, mas também melhorassem as suas competências
linguísticas, pois através do contacto com diferentes técnicas de escrita, puderam utilizá-las de
acordo com o seu objectivo comunicativo e aperfeiçoar o espírito crítico.
v
Abstract
At present, continuous transformations required by society refer to the need to develop
skills in children at the level of literacy, in other words, in the era of post modernity, in which
we find ourselves is not enough to read or write, but that know how to use, move or use the
information written in language the day-to-day.
In other words, it is imperative that the school promotes activities for the children to
develop the ability to use all forms of written material required by the company for a particular
purpose of the daily lives of the individuals who compose them. In this sense, starting from the
following question: Does helping children with various techniques of narrative and creative
writing will improve their levels of literacy in the context of writing? To give you answer (s)
stipulated a number of objectives, namely: (i) Developing children's creativity and taste for
writing, making this a daily activity, (ii) contribute to the development of language skills of
children through the implementation of techniques creative writing, and (iii) making use
writing as an enabler of the development of multidisciplinary work. Situate this study a
qualitative approach with characteristics of an action research. However, in the process of data
analysis, especially those that have been collected through the questionnaire survey, we draw
on a line quantitative presentation. Thus, methodologically, at first, we applied a diagnostic
questionnaire to verify the children's attitudes towards writing, followed by the
implementation of the action plan and, finally, it was evaluating the implementation of the
plan. This last step is realized using a collection of data through direct observation and,
consequently, registration grids of observation. It also made a final questionnaire in order to
check whether there is or not changes in children's views on writing. Most children said that
the creative writing project helped them to like to write, to write a text alone, to write with
fewer errors, to observe things and write about them, to realize the importance of words and
writing to express opinions. With time and the exploitation of works of literature for children
noticed that the writing has been resistance to fading.
Proof of this was the children's written productions. These became more extensive and
higher quality. There was the development of skills in writing, allowing them to best ensure a
sequential narrative, giving it logical. We think, therefore, to conclude that the activities have
contributed to the children broaden their creative ability, but also improve their language
vi
skills, as through contact with different writing techniques, were able to use them according to
their communicative purpose and improve critical thinking.
vii
ÍNDICE
Introdução................................................................................................................ 11
CAPÍTULO I- CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAl
1. Localização e caracterização da Instituição ........................................................ 14
1.1. Caracterização do espaço Institucional ....................................................................... 14
1.2. Sala de aula .......................................................................................................................... 15
1.3.Espaço exterior ..................................................................................................................... 17
1.4. Organização e gestão do tempo ...................................................................................... 17
1.5. Equipa educativa ................................................................................................................ 19
1.6. O grupo de crianças ........................................................................................................... 19
1.7. Caracterização sócio-profissional dos agregados familiares ................................ 20
2. Fundamentação das opções educativas ............................................................... 22
3. Desenvolvimento da prática profissional ............................................................ 27
CAPITULO II - ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1. Literacia emergente ............................................................................................. 32
2. O texto literário: relevância formativa ............................................................... 33
3. A escrita: uma técnica a aprender ...................................................................... 35
4. Contextos de promoção da escrita....................................................................... 37
4.1. Contexto: Educação Pré-Escolar ................................................................................... 37
4.2. Contexto: 1.º Ciclo do Ensino Básico ........................................................................... 38
5. Criatividade como actividade imprescindível em contexto ................................ 40
6. Escrita criativa ..................................................................................................... 43
CAPÍTULO III- ENQUADRAMENTO EMPÍRICO
1. Definição do problema ......................................................................................... 46
2. Objectivos do estudo ............................................................................................ 47
3. Participantes ........................................................................................................ 47
4. Metodologia.......................................................................................................... 47
viii
4.1. Instrumentos de recolha de dados................................................................................. 49
4.1.1.Questionário ................................................................................................ 49
4.1.2. Grelhas de observação ............................................................................... 49
4.1.3. Diário de bordo .......................................................................................... 50
5. Procedimentos ...................................................................................................... 50
CAPITULO IV- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
1.Diagnóstico ............................................................................................................ 52
2. Acção Educativa .................................................................................................. 59
3. Questionário final ................................................................................................ 89
Considerações finais ................................................................................................ 92
Bibliografia .............................................................................................................. 96
ANEXOS ................................................................................................................ 100
ix
Índice de figuras
Fig.1. Planta da sala ................................................................................................. 15
Fig.2. Planta da sala ................................................................................................. 16
Fig.3- Indicadores de criatividade ........................................................................... 42
Fig.4- Painel alusivo ................................................................................................. 63
Figs.5/6- As crianças a manipularem o livro........................................................... 66
Fig.7- Apresentação do livro a uma turma ............................................................. 66
Fig. 8- Dobragem ..................................................................................................... 76
Fig.9- Painel ............................................................................................................. 76
Fig.10- Exemplos de acrósticos ................................................................................ 78
Fig.11- Exemplos de rimas ...................................................................................... 81
Fig.12- Manipulação do livro .................................................................................. 86
Fig.13- Descoberta das cores secundárias ............................................................... 88
Fig.14- Escrita no quadro dos poemas .................................................................... 89
Índice de tabelas
Tabela nº1- Horário da turma ................................................................................. 18
x
Índice de gráficos
Gráfico nº1- Habilitações literárias dos pais........................................................... 21
Gráfico nº2 - Profissões dos pais ............................................................................. 21
Gráfico nº 3- Gostas de escrever ............................................................................. 52
Gráfico nº4 - Com que frequência escreves ............................................................ 53
Gráfico nº5- Achas que escreve o suficiente............................................................ 54
Gráfico nº6- Falas com os teus pais sobre o que escreves....................................... 54
Gráfico nº7- Costumas ver os pais escrever ............................................................ 55
Gráfico nº8 - O que os teus pais costumam escrever .............................................. 55
Gráfico nº9- O que pensas sobre a escrita .............................................................. 56
Gráfico nº 10- O que te levaria a escrever mais ...................................................... 57
Gráfico nº 11- Que actividades gostavas de realizar .............................................. 57
Gráfico nº 12- Porque escreves ................................................................................ 58
Gráfico nº13- Registo de observação 1 .................................................................... 69
Gráfico nº14- Registo de observação 2 .................................................................... 72
Gráfico nº 15- Registo de observação 3 ................................................................... 77
Gráfico nº 16- Registo de observação 4 ................................................................... 81
Gráfico nº 17- Registo de observação 5 ................................................................... 83
Gráfico nº 18 – Em que sentido ajudou o projecto de escrita criativa .................. 90
11
Introdução
Todos os docentes e indivíduos em geral reconhecem que saber ler e escrever é uma
condição indispensável para o sucesso na vida pessoal e profissional. Vivemos numa
sociedade que se “alimenta” da difusão de informação, nomeadamente do código escrito, pois
o que distingue os membros da sociedade é a forma como cada um lhe consegue aceder. Desta
forma o exercício pleno da escrita manifesta-se nas competências de aceder à informação, de
seleccionar criticamente o que é relevante e na utilização da escrita enquanto instrumento de
intervenção social (Santana, 2005). Atribui-se, assim, às capacidades de compreensão e
produção de escrita um interesse cada vez mais elevado.
A chegada à escola representa a passagem da criança para um meio onde a cultura
escrita ganha mais força. A escola é a instituição da escrita. É através da linguagem escrita que
frequentemente se ensina, se aprende e se avalia quase todo o saber. No quotidiano, a
sociedade apela, também, ao uso da capacidade de leitura e escrita para um determinado fim
da vida e em contextos específicos. Por tal, chegou-se à conclusão que saber ler e escrever não
é suficiente, já não basta ser-se “alfabetizado” como acontecia há duas décadas atrás. É preciso
compreender o que se lê e o que se escreve, porque apesar de muitas crianças e adultos
conseguirem descodificar palavras, frases e textos, podem não conseguir escrevê-los com
sentido nem interpretar e usar a informação escrita contida em livros, jornais, folhetos, etc.
Nesse sentido, acredita-se que “a pedagogia da literacia deve conduzir os alunos, através da
participação em contextos autênticos e significativos de uso da linguagem, à aprendizagem
explícita dos instrumentos linguísticos necessários para a aprendizagem e participação social”
(Vygotsky, 1995:23).
Espera-se, então, que a escola desempenhe um papel fundamental na aprendizagem da
linguagem escrita pois, ao contrário da linguagem oral, que a criança adquire no contexto
familiar e depois a vai alargando, a vertente escrita exige o ensino explícito e sistematizado de
quem ensina. A sala de aula está ligada a conhecimentos muitas vezes isolados, que não levam
as crianças a reflectir acerca do que ouvem e do que pensam, ficando assim muito aquém o
desenvolvimento da criatividade. As crianças, muitas vezes, não se sentem motivados para a
escrita e, por tal, o acto de escrever acontece associado a uma obrigação. Assim sendo, a
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motivação constitui-se como um dos grandes pilares para o desenvolvimento de competências
de escrita. Ninguém escreve sem motivo, não basta escrever por escrever é preciso que haja
uma motivação. A motivação para a realização de algo depende, muitas vezes, das estratégias
que se usam e no uso que delas se fazem.
Chegado o momento de escolher o tema para desenvolver o projecto de investigação-acção na
turma de 2.º ano de escolaridade, onde realizámos a Prática de Ensino Supervisionada,
ocorreu-nos algo que pudesse ser do interesse das crianças e que contribuísse para o
desenvolvimento de competências na área da escrita. Partindo deste interesse, surgiu a
seguinte problemática: Será que o contacto das crianças com a narrativa e diversas técnicas
de escrita criativa permitirá elevar os seus níveis de literacia no âmbito de escrita? No
sentido de lhe dar resposta definimos os seguintes objectivos: (i) Desenvolver a criatividade
das crianças e o gosto pela escrita, fazendo desta uma actividade diária; (ii) Contribuir para o
desenvolvimento de competências linguísticas das crianças através da implementação de
técnicas de escrita criativa; e (iii) Valorizar a escrita como recurso potenciador do
desenvolvimento de um trabalho multidisciplinar.
A escrita criativa constitui-se como uma técnica a desenvolver e, por tal, quisemos saber
a opinião das crianças face às competências que elas consideravam importantes desenvolver.
Através dos diálogos que se estabeleceram em contexto de sala de aula percebeu-se que as crianças
entendiam a escola como um local onde se aprende a ler, a escrever e a “fazer contas”.
Constatou-se, ainda, que manifestavam resistência à escrita. Com o intuito de confirmarmos
esta inferência optámos por aplicar um questionário no sentido de percebermos as razões de tal
resistência e a forma como poderíamos colmatar determinadas lacunas.
Este projecto foi desenvolvido, tendo sempre como base a pedagogia de participação.
Nesta pedagogia valoriza-se a construção do dia-a-dia educativo que concebe a criança como
pessoa com agência, que lê o mundo e o interpreta, que constrói saberes e cultura, que
participa como pessoa e como cidadã na vida da família, da escola e da sociedade (Oliveira-
Formosinho, 2007). Possuir agência é entendido por Barnes “como ter poder e capacidades
que, sendo exercitados, tornam o indivíduo uma entidade activa que constantemente intervém
no curso dos acontecimentos à sua volta” (citado por Oliveira-Formosinho e Araújo, 2008:33).
Contudo, para que o quotidiano educativo “se consubstancie como realidade, são necessários
processos que constituem, eles próprios, pilares da pedagogia da participação: a observação, a
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escuta e a negociação”. Segundo Oliveira Formosinho e Araújo (2008) a escuta deverá
“constituir um processo contínuo, no quotidiano educativo de procura de conhecimento sobre
as crianças, realizado no contexto da comunidade, numa ética de reciprocidade” (p.33).
Corroboramos da tese de Azevedo e Oliveira Formosinho quando defendem a ideia de que a
criança tem direito a participar na sua educação e, como tal, a ser escutada. “Ser escutada é ter
direito a ter voz relativamente às questões que lhe dizem respeito” (p.119). As autoras
argumentam também que a escuta é um processo de ouvir a criança sobre a sua colaboração na
co-definição da sua jornada de aprendizagem. Tendo em mente estes princípios, propomos
este trabalho que se divide em quatro capítulos. No primeiro capítulo abordamos questões
relacionadas com o contexto educativo onde decorreu a prática de Ensino Supervisionada.
Fundamentamos, ainda, as opções educativas de forma a justificar os métodos, estratégias e
técnicas de ensino implementadas em contexto sala de aula. No segundo capítulo, designado
por enquadramento teórico, apresenta-se uma revisão bibliográfica acerca da problemática em
questão. No terceiro capítulo, designado por enquadramento empírico, definimos o problema e
os objectivos do relatório, bem como os participantes, os métodos utilizados e os instrumentos
de recolha de dados. Apresentámos, ainda, o plano de acção que foi pensado e delineado com
o intuito de colmatar lacunas na área da escrita. No quarto capítulo, apresentam-se e discutem-
se os resultados dos questionários e realizam-se algumas reflexões em torno das práticas
desenvolvidas no âmbito da escrita criativa.
Por fim tecem-se algumas considerações finais apresentando-se também os contributos
que este trabalho acrescentou à nossa formação.
14
CAPÍTULO I- CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL
1. Localização e caracterização da Instituição
Torre de Dona Chama é a vila sede da maior freguesia rural de Mirandela. Dista desta
cerca de 24 km. Nos censos de 2001 a sua população era constituída por 1.386 habitantes,
sendo 654 do sexo masculino. Os seus habitantes dedicam-se na sua maioria à agricultura.
Embora esta seja uma actividade preponderante, a pecuária, o comércio e o ensino têm
prosperado na localidade.
No aspecto sociocultural a Torre D. Chama marca bem a diferença em relação às
restantes freguesias rurais do concelho. Tem Casa do Povo e uma delegação da Segurança
Social com corpo médico, enfermagem e ambulância. Possui ainda agências bancárias, estação
dos CTT, posto da GNR e Bombeiros Voluntários.
A vila Torre de Dona Chama tem ensino particular e público. O ensino público,
corporiza-se no Agrupamento de Escolas da Torre Dona Chama. Este é composto pela escola
sede que integra 1.º e 2.º Ciclos e um Jardim de Infância; uma Escola Básica do 1.º Ciclo do
Ensino Básico (EB1) e cinco Jardins de Infância. No ensino privado esta localidade tem um
Externato Liceal que acolhe crianças desde a educação Pré-Escolar ao 12.º ano.
A Prática de Ensino supervisionada, referenciada neste relatório, foi realizada na sede do
Agrupamento de Escolas da Torre D. Chama.
1.1. Caracterização do espaço Institucional
As escolas que fazem parte do Agrupamento de Escolas da Torre Dona Chama
pertencem à rede pública e estão sob tutela do Ministério da Educação. Este constitui-se como
um espaço educativo e funcional. As crianças para além de poderem contactar com adultos e
outras crianças dentro da escola, usufruem de um espaço institucional que fornece numerosas
oportunidades educativas.
A escola sede é constituída por três edifícios. Um dos edifícios possui os seguintes
espaços: cantina, salão polivalente buffet, reprografia e duas casas de banho. O outro edifício
tem dois pisos. No 1.º piso encontra-se a sala dos professores, sala do pessoal auxiliar, sala da
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direcção, a secretária e duas casas de banho. No 2.º piso encontra-se a biblioteca escolar, a sala
de informática e quatro salas do 1º Ciclo do Ensino Básico. Existe, ainda, outro edifício que
também tem dois pisos. No 1º piso encontramos as salas destinadas ao ensino Pré-Escolar,
uma sala de 2.º Ciclo e duas casas de banho. No 2.º piso há uma sala de 1.º Ciclo do Ensino
Básico e quatro salas do 2.º ciclo do Ensino Básico. Neste edifício existe ainda um ginásio
polidesportivo, onde as crianças têm oportunidade de fazer actividades físicas.
1.2. Sala de aula
As crianças passam a maior parte do seu dia no espaço sala de aula. É neste espaço que
eles interagem entre si, com os professores e também com os diferentes materiais escolares.
A sala onde realizámos a prática pedagógica tinha uma forma rectangular e ocupava uma
área bastante pequena, facto que dificultou algumas alterações na disposição e organização das
mesas para o desenvolvimento de dinâmicas de grupo. Apesar das limitações, ao longo do ano
a sala sofreu algumas alterações de acordo com as dinâmicas implementadas. Era uma sala
com janelas amplas, em que a luminosidade natural podia ser controlada pelo uso de estores.
Estava equipada com um computador, um projector de vídeo, um quadro branco, dois placares
de corticite, dois armários, cadeiras, mesas e uma secretária para a professora.
Quando iniciámos a Pratica de Ensino Supervisionada o espaço estava organizado por
filas, tal como se pode observar na figura 1.
Legenda:
Porta (1)
Placares (2)
Armários(3)
Secretária da professora (4)
Quadro branco (5)
Secretárias dos alunos(9)
Cabides(6)
Janelas (8)
Fig.1. Planta da sala
16
Em nosso entender a forma de organização do espaço não respondia às necessidades das
crianças, dificultando a realização do trabalho de grupo. A professora titular preveniu-nos das
limitações do espaço dizendo, no entanto, que esta disposição poderia ser alterada. Segundo
Aragão (2006) se são feitas fileiras, o ruído na comunicação professor-aluno é muito grande e
as possibilidades de dispersão são muito maiores do que outra forma de disposição. Após
algum tempo de observação e reflexão sobre o espaço ocorreu-nos colocar as mesas em forma
de “U”, deixando duas mesas no meio para os alunos que se distraiam com mais facilidade,
como mostra a figura 2.
A disposição das mesas em forma de U parece-nos ser a mais adequada, visto que o
professor conseguia controlar melhor o grupo de crianças e estas, por sua vez, têm contacto
visual com todas as outras. Para Aragão (2006) “a melhor disposição das carteiras é aquela
que se assemelha a um U, pois desta forma os alunos visualizam melhor o docente e a lousa
(ou lona), estando mais aptos a manter o foco”. Também Arends (1995) refere que a forma
como o espaço pedagógico é organizado e gerido tem efeitos no ambiente sala de aula,
influenciando directamente os comportamentos das crianças em todos os aspectos
(pedagógicos, sentimentais e pessoais).
Legenda:
Porta
Placares
Armários
Secretária da professora
Quadro branco
Secretária dos alunos
Cabides
Janelas
Fig.2. Planta da sala
Legenda:
Porta (1)
Placares (2)
Armários(3)
Secretária da professora (4)
Quadro branco (5)
Secretárias dos alunos(9)
Cabides(6)
Janelas (8)
17
A reflexão sobre a funcionalidade do espaço e as potencialidades educativas dos
materiais, permite que se pense uma (re)organização de acordo com as necessidades e
evolução do grupo.
1.3. Espaço exterior
Toda a zona exterior à escola sede é delimitada por um muro com grades altas de forma
a salvaguardar a segurança das crianças que usufruem do espaço. O pavimento deste mesmo
espaço, é de terra batida, sendo o parque infantil de areia. Este é equipado com baloiços,
escorregas e uma teia. Trata-se de um espaço muito amplo o que, por vezes, provoca alguma
dificuldade no controle das crianças. O facto de ser em terra batida também não é muito
cómodo, pois quando chega a época das chuvas criam-se grandes poças de água. Ainda neste
espaço exterior existem algumas árvores, dando alguma beleza à escola e criando espaços com
sombra nos dias de mais calor.
O espaço exterior pode ser considerado como um espaço educativo, pois para além de
proporcionar actividades livres proporciona também várias potencialidades e oportunidades
educativas. É também um local privilegiado para a realização de eventos festivos ao ar livre.
1.4. Organização e gestão do tempo
As crianças passam grande parte do seu tempo na escola gerido em função de horários
estipulados pelos órgãos de gestão, obedecendo estes a critérios e leis emanados pelo
Ministério da Educação. Os horários determinam tempos para a criança dentro e fora da escola
bem como o tempo destinado às aprendizagens formais (áreas curriculares). A gestão do
tempo destinado às aprendizagens formais é da responsabilidade do professor. À criança cabe
gerir o seu tempo nos intervalos que acontecem ao meio da manhã e ao meio da tarde no qual
pode interagir com todos os membros da comunidade escolar. Neste espaço de tempo, a
comunidade escolar tem um papel importante na educação da “liberdade” destas crianças.
Pensamos que a organização e a gestão do tempo são importantes na medida em que
contribuem para o desenvolvimento social, afectivo e cognitivo da criança, quando este é
ajustado de forma adequada às suas necessidades.
Na Escola as aulas começavam às 9h:30 e terminavam às 17h:30. A hora do almoço para
as turmas do 1.º Ciclo do Ensino Básico começa às 12h:45. Seguia-se depois o intervalo até às
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14h:10. As crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico para além das áreas curriculares (Língua
Portuguesa, Matemática, Estudo do Meio e Expressões) podem frequentar as actividades extra
- curriculares (Expressão Motora, Musical e Inglês). À turma de 2º ano de escolaridade onde
realizámos a prática de Ensino Supervisionada foi-lhe atribuído o seguinte horário:
Tabela nº1- Horário da turma
Tempos
lectivos Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
09h:00/10h:15 L. Portuguesa Inglês L. Portuguesa Inglês Matemática
10h:15/11h:00 L. Portuguesa Estudo do
Meio L. Portuguesa Matemática Matemática
Intervalo Manhã – 30 minutos
11h:30/12h:15 Matemática Matemática Matemática L. Portuguesa L.Portuguesa
12h:15/12h:45 Matemática Matemática Matemática L. Portuguesa L.Portuguesa
14h:10/14h.55 Estudo do
Meio L. Portuguesa
Área de
projecto
Estudo do
Meio
Estudo do
Meio
14h:55/15h:40 Estudo do
Meio L. Portuguesa
Área de
projecto
Estudo do
Meio
Estudo do
Meio
Intervalo Tarde – 20 minutos
16h:00/16h:45 Expressão
Musical
Formação
cívica
Expressão
Musical
Expressão
plástica
Actividade
Física e
Desportiva
16h:45/17h:30
Actividade
Física e
Desportiva
Expressão
Musical
Apoio ao
estudo
Actividade
Física e
Desportiva
Apoio ao
estudo
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1.5. Equipa educativa
A equipa educativa desta instituição é formada por nove professores do 1º Ciclo do
Ensino Básico, sendo cinco titulares de turma, três de apoio e uma a exercer funções de
coordenação do departamento. Na turma, na qual fizemos estágio, estava uma professora
titular e uma professora de apoio.
1.6. O grupo de crianças
A turma era constituída por 14 crianças, cinco do sexo feminino e nove do sexo
masculino. Dois alunos estavam matriculados pela segunda vez no 2º ano de escolaridade. Os
alunos tinham idades compreendidas entre os 7 e os 8 anos. Dois dos alunos estavam
referenciados como tendo Necessidades Educativas Especiais.
Era uma turma heterogénea ao nível das aprendizagens. Por vezes era barulhenta e com
algumas dificuldades de concentração. No geral eram crianças sem grandes vivências culturais
pela sua inexistência no meio em que estavam inseridas. A escola era para muitas delas o
único veículo de conhecimento. Notou-se que estabeleciam preferências, em relação às
amizades. Mas pelo que pudemos observar constatámos uma certa vulnerabilidade, pois o
amigo de hoje podia mudar e, no dia seguinte, já era outro. Sentimos que as crianças sofriam
com as relações de amizade, pois faziam constantemente queixas do género: “Ele não é meu
amigo!”; “Ele disse que não é meu amigo”.
Constatámos que eram crianças com um claro sentido de justiça, preocupando-se em
diferenciar e argumentar o que estava certo e o que estava errado, tentando desta forma
agradar às pessoas de quem gostavam. Mas, por vezes, tinham atitudes menos adequadas. Era
um grupo que necessitava que lhes lembrassem constantemente as regras a cumprir na sala de
aula.
A relação professor/aluno e aluno/ professor era boa, existia uma inter-ajuda e
cooperação visível o que fazia com que a turma funcionasse bem no seu conjunto.
A maioria das crianças participava activamente, tanto a nível oral como na realização de
trabalhos em grupo. No entanto, notámos diferenças entre elas a alguns níveis, nomeadamente
nas expressões oral e escrita. Ao longo deste percurso formativo, tentámos proporcionar mais
oportunidades de intervenção às crianças que manifestavam dificuldade de modo a que estas
20
se exprimissem mais e melhor. Estamos convictas, que algumas dessas dificuldades de
expressão foram sendo combatidas ao longo do ano, visto que foi notória a sua evolução.
Em geral, aquando da realização de actividades na área da Matemática, as crianças
envolviam-se bastante, demonstrando grande interesse. Manifestavam pouco interesse por
actividades do âmbito da área de Língua Portuguesa, nomeadamente nos domínios da leitura e
da escrita.
Algumas destas crianças viviam na Vila de Torre Dona Chama e outras nas aldeias
pertencentes ao concelho (Aguieiras, Espadanedo, Fornos de Ledra, Lamalonga, Valongo,
Vilares e Vilarinho de Agrochão). As crianças que viviam nas aldeias deslocavam-se em
transportes que a autarquia colocava à sua disposição, sendo que para estas, o tempo de
deslocação casa/escola era um pouco maior, pois tinham que percorrer quilómetros que
implicavam rotinas de desgaste físico que se reflectiam no desempenho escolar.
Na sua maioria, as crianças viviam em famílias nucleares (pai, mãe e irmãos), excepto
uma que vivia com a mãe e os irmãos e outro que vivia com o irmão e uma tia viúva.
As crianças desta turma eram provenientes, na sua maioria, de um estrato social
desfavorecido e quatro delas eram de etnia cigana.
1.7. Caracterização sócio-profissional dos agregados familiares
A criança inicia o seu desenvolvimento pessoal e social no seio da família. Esta dá
forma às crenças, à cultura de origem, às atitudes e às acções. Torna-se por isso pertinente
conhecer a família da criança, pois é a partir dessa percepção que se torna possível
compreender as suas vivências e ambientes socioculturais que, futuramente possibilitarão
novas oportunidades no sentido de colmatar desigualdades e limitações sociais, contribuindo
para a construção social e o respeito pela pluralidade de culturas.
Relativamente às habilitações dos pais, constatámos, através da análise do Projecto
Curricular de Turma, que estes possuíam pouca formação académica, como se pode verificar
através do gráfico nº 1.
21
Gráfico nº1- Habilitações literárias dos pais
N=28
De referir que a maior parte dos pais possui o 2º ano e o 4º ano de escolaridade. Seis pais
frequentaram a escolaridade até ao 2º ano e outros seis até ao 4º ano. Com uma ocorrência de
cinco pais temos, em exequo, a frequência dos 6.º e 9.º anos de escolaridade. Finalmente
surgem duas ocorrências quer para o 12º ano quer para a licenciatura. No gráfico seguinte
apresentamos dados que nos contextualizam as profissões dos pais:
Gráfico nº2 - Profissões dos pais
N=28
6
6
5
5
2
2 2
2º ano
4ºano
6º ano
9º ano
12º ano
Licenciatura
Sem dados
1 2
1
2
2
1 1
1 2
8
1
1 1
1
3
Trolha
Reformado
Taxista
Empregados de balcão
Manobrador de máquinas
Costureiras
Ajudante de Cozinheira
Professores
Agricultor
Domésticas
Serralheiro
Tecnico de montagens
Assistente Operacional
Empresário
Sem dados
22
A maioria das mães são domésticas, dedicam-se à casa e aos seus filhos. Os pais têm as
mais variadas profissões, nomeadamente na área da restauração, do comércio, da construção
civil, da serralharia e da agricultura. Existem ainda 2 pais não activos e de 3 não temos dados.
Depois desta breve análise, percebemos que o nível de escolaridade dos pais das
crianças desta escola é reduzido. A grande maioria possui somente a antiga 4ª classe
(correspondente ao 4º ano de escolaridade do Ensino Básico) chegando a haver um número
significativo que possui um nível escolar ainda inferior. Poucos são os que possuem uma
formação académica de nível médio ou superior.
A baixa escolarização dos pais e a quase inexistente intervenção na vida escolar acabou
por se repercutir no deficiente acompanhamento dos seus educandos quer a nível da resolução
dos trabalhos de casa, quer a nível da participação nas festas escolares.
2. Fundamentação das opções educativas
Construir contextos onde as atitudes de respeito, partilha e cooperação coexistam e onde
a criança se sinta motivada para o envolvimento nas tarefas escolares, é um processo difícil e
complexo para a maior parte dos professores em início de carreira. Assim, partindo do
conhecimento que possuímos sobre a importância que a motivação desempenha para o
envolvimento da criança no processo de ensino aprendizagem, no decorrer do estágio, todo o
trabalho desenvolvido foi no sentido de se promoverem aprendizagens significativas que
fossem ao encontro das necessidades das crianças.
Nas salas de aula continua-se a assistir a um modo de fazer pedagogia que parece não
envolver a criança no processo, mas apenas no produto. A prática pedagógica desenvolvida na
sala de aula onde realizámos o estágio baseou-se numa pedagogia da participação. Isto, porque
acreditamos que as pedagogias participativas produzem uma ruptura com uma pedagogia
transmissiva para promover outra visão de processo de ensino aprendizagem. Nas pedagogias
participativas os papéis do aluno e do professor são reconstruídos com base na
reconceptualização da pessoa (a pessoa do aluno e a pessoa do professor) como detentor de
agência e colaboração (Oliveira-Formosinho, 2009). É preciso que a pedagogia se centre mais
nas crianças do que nos professores, para que estas construam os seus conhecimentos e o seu
23
projecto de vida. A criança, na escola, deve ser activa, questionadora, investigadora e
participativa na planificação e desenvolvimento de projectos. Tal como frisam Pinazza e
Kishimoto (2008) é necessário “observar a criança, ouvir a sua voz, sondar as suas intenções
para incorporá-la no processo educativo” (p.7). O professor tal como nos refere Oliveira- Formosinho
(2007) deve basear, desta forma, o seu trabalho numa pedagogia da participação, uma vez que se
organiza num movimento triangular (criança, professor, contexto) onde se convocam crenças,
valores, práticas e saberes A interactividade entre saberes, práticas e crenças resulta da
construção do itinerário de aprendizagem que os actores traçam e assumem na interacção com
os seus contextos de vida e com os contextos de acção pedagógica (Oliveira-Formosinho e
Azevedo, 2008:140).
Para que se concretize esta pedagogia o professor deve ter em conta uma diversidade de
projectos. Começando pelo projecto mais abrangente, ou seja, o Projecto Educativo (P.E), este
é elaborado pela Direcção Executiva da escola depois de analisar as propostas apresentadas
pelo Conselho Pedagógico. As propostas surgem do conhecimento que estes possuem sobre a
escola, o meio local e os recursos, assim como das informações recolhidas em reuniões
agendadas, para o efeito, com pais, alunos, professores, assistentes operacionais, pessoal
administrativo e representantes das entidades locais. Este documento deve definir os
objectivos pretendidos pela instituição, no sentido de solucionar problemas de intervenção
prioritários, contribuindo para melhorar a mesma, bem como o seu funcionamento. Sendo um
instrumento de gestão, constitui-se como ponto de referência para a conquista dos objectivos e
unidade educativa (Pacheco, 2001). O Projecto Educativo, segundo Antúnez, é
um contrato que compromete e vincula todos os membros da comunidade educativa
numa finalidade comum sendo o resultado de um consenso a que se chega depois de
uma análise de dados, de necessidades e de expectativas (…) e que, por isso,
proporciona um enquadramento e um sentido coerente para as acções (citado por
Figueiredo 2001:9).
Do projecto educativo derivam o Projecto Curricular de Escola e o Projecto Curricular
de Turma, isto porque, estes projectos são influenciados pelas suas linhas ideológicas. O
Projecto Curricular de Escola (P.C.T), segundo Leite, Gomes e Fernandes (2001) é um
documento que pretende adequar o currículo nacional ao contexto de cada escola. Define “o
nível de prioridades da escola, as competências essenciais e transversais em torno das quais se
24
organizará o projecto e os conteúdos que serão trabalhados em cada área curricular” (Leite,
Gomes e Fernandes, 2001:17).
Seguindo esta mesma linha de pensamento, Roldão entende por projecto curricular a
forma particular como, em cada contexto, se reconstrói e se apropria um currículo face a
uma situação real, definindo opções e intencionalidades próprias e constituindo modos
específicos de organização e gestão curricular, adequados à consecução das
aprendizagens que integrem o currículo para os alunos concretos daquele contexto
(citado por Leite, Gomes e Fernandes, 2001:16).
Assim sendo, o Projecto Curricular de Turma (P.C.T) define-se a partir do Projecto
Curricular de Escola tendo como objectivo dar sentido às aprendizagens, devendo a sua
construção ter em conta as situações reais dos alunos que constituem as turmas (Leite, Gomes
e Fernandes, 2001).
O Projecto Curricular de Turma passa por diversas fases, primeiro traça-se o perfil do
grupo, identificando-se algumas das suas características e alguns problemas e de seguida
traça-se um plano de acção de forma a proporcionar às crianças aprendizagens significativas
que contribuam para formar cidadãos que se adaptem às exigências da sociedade. O Projecto
Curricular de Escola no Agrupamento da Torre Dona Chama intitulava-se “Educar para a
cidadania”, e o Projecto Curricular de Turma “Lidar com a diferença”. Ao longo do nosso
estágio, percebemos que as questões relacionadas com estas temáticas eram trabalhadas com
mais expressão na área de projecto. As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar
(2002) e o Currículo Nacional do Ensino Básico (2001) conferem grande importância à
educação para a cidadania atribuindo-lhe um carácter integrador e transversal. Para a
realização deste relatório tivemos em conta estes três documentos que nos foram facultados
pela titular da turma onde realizámos a Prática de Ensino Supervisionada.
Os conhecimentos que possuíamos acerca do trabalho de projecto, enquanto Educadora
de Infância, influenciaram também as nossas práticas de ensino no 1º Ciclo do Ensino Básico.
No Jardim de Infância os projectos são imprescindíveis, pois são eles que orientam a acção
pedagógica do educador de infância. A experiência tem-nos mostrado que o Educador de
Infância concebe um projecto, a partir de um tópico ou tema “retirado do mundo que é
familiar à criança” para explorar conteúdos de todas as áreas curriculares (Katz e Chard,
1999:5). O educador de infância não tem um currículo a nível nacional, tem sim as orientações
curriculares para a Educação Pré-escolar. Estas integram um conjunto de princípios no sentido
25
de apoiar o educador nas decisões sobre a sua prática. As Orientações Curriculares
“diferenciam-se de algumas concepções de currículo por serem mais gerais e abrangentes, isto
é, por incluírem a possibilidade de fundamentar diversas opções educativas e, portanto, vários
currículos” (Ministério da Educação, 2002:13).
O Educador de Infância ao elaborar projectos com as crianças deverá ter em conta as
diversas vertentes das Orientações Curriculares, no sentido de abranger todas as áreas e
domínios do conhecimento (Área da Formação Pessoal e Social; Área do Conhecimento do
Mundo; Área da expressão e Comunicação que engloba o domínio das expressões motora;
dramática; plástica e musical; o domínio da linguagem oral e abordagem à escrita; e o domínio
da matemática). O educador ao ter em conta todas as áreas e domínios está a contribuir para
que a criança adquira um leque de conhecimentos que a vão ajudar na sua formação social,
educacional, emocional e consequentemente proporcionar uma melhor integração no 1º Ciclo
do Ensino Básico.
Os professores de 1º Ciclo do Ensino Básico, têm um Currículo Nacional que integra
várias áreas curriculares disciplinares de frequência obrigatória (Língua Portuguesa,
Matemática, Estudo do Meio e Expressões Artísticas). O professor deste nível de ensino
planifica actividades para todas as áreas curriculares em função da criança, para que os
conhecimentos se tornem significativos e funcionais. Planificar é muito importante na medida
em que permite que o professor organize o seu pensamento, e construa um suporte com
estratégias de actuação para o processo ensino-aprendizagem.
Zabalza refere que no processo de planificação estão sempre presentes:
um conjunto de conhecimentos, ideias, experiências sobre o fenómeno a organizar que
actuará como apoio conceptual e de justificação do que se decide; de um propósito, fim
ou meta a alcançar que indique a direcção a seguir; de uma previsão relacionada com o
processo a seguir que se concretizará numa estratégia de procedimentos na qual se
incluem os conteúdos ou tarefas a realizar, a sequência das actividades e alguma forma
de avaliação ou conclusão do processo ( citado por Pacheco 2001:105).
O termo planificar remete-nos para planear, programar, ou seja, elaborar um plano que
depois se põe em prática. Arends (1995) acrescenta que “planificar o que fazer amanhã é
muito diferente de planificar um ano inteiro (…) os planos realizados num dia específico são
influenciados pelo que aconteceu antes e irão influenciar os planos para os dias e semanas
26
seguintes" (p.101). Os professores planificam para diferentes períodos de tempo (planificações
a longo, médio e curto prazo).
A planificação a longo prazo faz-se no início do ano e tem como principal objectivo
seleccionar e distribuir os conteúdos no tempo. Esta baseia-se nas orientações do Projecto
Curricular de Escola, tendo em vista o melhor para a escola. Os professores para realizarem a
planificação a longo prazo reflectem sobre os temas e os objectivos que se pretendem
alcançar. A planificação a médio prazo, são os planos de uma unidade de ensino, ou de um
período de tempo mais curto. Arends (1995) entende que uma unidade de ensino corresponde
a um grupo de conteúdos e de competências que se devem desenvolver na criança, sendo
importante “equacionar os materiais necessários de forma mais concreta, a motivação dos
alunos, os instrumentos de avaliação, entre outros” (p.59-60). A planificação a curto prazo, é
aquela a que o professor disponibiliza mais tempo e atenção. Sobre este tipo de planificação,
Arends (1995) considera que “normalmente os planos diários esquematizam o conteúdo a ser
ensinado, as técnicas motivacionais a serem exploradas, os passos e actividades específicas
preconizadas para os alunos, os materiais necessários e os processos de avaliação” (p.59).
Podemos então referir que os planos a longo prazo influenciam os planos a médio prazo,
e estes constituem o suporte da planificação a curto prazo. No decorrer destes deve-se reflectir
e avaliar o trabalho realizado. Nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar
(2002) expressa-se que “planear o processo educativo de acordo com o que o educador sabe
do grupo e da criança, do seu contexto familiar e social” permite que a educação pré-escolar
“proporcione um ambiente estimulante de desenvolvimento e promova aprendizagens
significativas e diferenciadas que contribuam para uma maior igualdade de oportunidades”
acrescentando, ainda, que “planear implica que o educador reflicta sobre as suas intenções
educativas e as formas de as adequar ao grupo” (p.26).
No 1º Ciclo do Ensino Básico, o professor tem ao seu dispor o Currículo Nacional que
lhe permite organizar a sua prática educativa. Clark e Lampert lembram-nos que “o currículo,
como é publicado, é depois transformado e adaptado segundo o processo de planificação
através de adições, eliminações, interpretações, e decisões do professor sobre o ritmo, a
sequência e a ênfase” que cada um lhe imprimir (citados por Arends, 1995: 93).
A planificação não deve ser rígida, mas flexível, para se puder ter sempre em conta os
interesses e as motivações das crianças. Ao longo do percurso formativo, a planificação
27
obriga-nos a reflectir sobre a intencionalidade educativa. Quantas vezes, durante a elaboração
da planificação, nos deparamos com questões do género: Será que o que planificamos vai ao
encontro dos interesses das crianças? Será que estas actividades permitem desenvolver
determinadas competências? Serão muitos conteúdos, para uma só planificação? Que recursos,
que estratégias se adaptarão ao grupo de crianças com quem trabalho?
3. Desenvolvimento da prática profissional
A base do conhecimento profissional do professor está na reflexão que este faz sobre as
práticas de ensino que implementa para que os seus alunos possam assumir e realizar
aprendizagens activas e significativas. Segundo Serrazina (1999) é através da reflexão sobre as
práticas que o professor avalia criticamente a sua actuação, pois ao fazê-lo desenvolve uma
nova compreensão, enriquecendo o seu reportório e melhorando a sua capacidade de resolver
problemas. Morais (1993) considera que “a reflexão sobre as práticas determina novas práticas
mais ajustadas e eficientes”, por tal, o professor deve desenvolver capacidades de reflexão que
lhe permitam resolver os problemas que ocorrem na sala de aula. O processo de reflexão-acção
constitui um “gerador de uma pesquisa formativa perante os acontecimentos da sala de aula”
(Morais, 1993:28).
Uma aula que promova a participação activa da criança requer mais trabalho por parte
do professor, mas o retorno pode ser bastante mais expressivo e compensador.
Partindo do conhecimento de que o envolvimento da criança no processo de
ensino/aprendizagem é pertinente o trabalho que desenvolvemos permitiu-nos promover
oportunidades de aprendizagem em todas as áreas curriculares, uma vez que abordamos os
conteúdos de forma articulada e integrada, recorrendo a diferentes tipos de materiais e
estratégias diversificadas.
No Currículo do 1º Ciclo do Ensino Básico (2001) expressa-se que as crianças já
possuem um “conjunto de experiências e saberes que foram acumulados ao longo da sua vida,
no contacto com o meio que as rodeia” (p.101). Neste sentido, o professor deve proporcionar
aprendizagens significativas que partam das experiências vividas pelas crianças e que, desta
forma, lhes permita desenvolver capacidades para compreender, explicar e actuar sobre o meio
28
de modo consciente e criativo. Consideramos, deste modo, que as práticas dos professores
devem ser estruturadas de acordo com os seguintes princípios definidos por Tudor:
A aceitação do potencial do aluno e a valorização das suas aprendizagens prévias;
O incessante acompanhamento e monitorização dos processos de aprendizagem
efectuadas pelos alunos;
A topicalidade, na acepção em que é sempre possível introduzir novos tópicos ou
assentos em função do interesse dos alunos ou das suas necessidades;
A aceitação de que o aluno é um construtor da própria aprendizagem: o aluno é
activamente envolvido nesse processo, assumindo responsabilidades compartilhadas
com o professor em numerosas situações;
A defesa de uma aprendizagem a avaliação cooperativa, através de processos de
interacção entre pares;
A solidariedade do grupo: todos têm uma contribuição positiva a dar ao grupo,
independentemente da sua mestria linguística, uma vez que todos trabalham uns com
os outros e não uns em competição com os outros (Citado por Azevedo, 2009:227).
Por sua vez na Organização Curricular e Programas (2006), podemos ler que o Estudo
do Meio “está na intersecção de todas as outras áreas do programa, podendo ser motivo e
motor para a aprendizagem nessas áreas” (p.101). Assim sendo, o Estudo do Meio possibilita
trabalhar de uma forma integrada o currículo, pois oferece um conjunto de conteúdos
temáticos que permitem articular aprendizagens das restantes áreas curriculares. Por tal, no
estágio que realizámos, esta área curricular foi muitas vezes o eixo estruturador do ensino-
aprendizagem. Neste sentido, concordamos que o Estudo do Meio deverá ser explorado a
partir de inquietações de carácter pessoal ou social. É importante que o professor valorize as
vivências das crianças e que proporcione experiências de aprendizagem que envolvam a
resolução de problemas, a concepção e o desenvolvimento de projectos, bem como a
realização de actividades investigativas. Pois, tal como se expressa no Currículo Nacional do
Ensino Básico (2001) estas “situações potenciam aprendizagens diversas nos domínios
cognitivo (aquisição de conhecimentos, de métodos de estudo, de estratégias cognitivas…) e
afectivo-social (trabalho cooperativo, atitudes, hábitos…)”. Destes domínios resultam
“competências de saber (conhecimentos cognitivos), de saber fazer (observações, consulta de
mapas, localização, interpretação de códigos, métodos de estudo…) e saber-ser (respeito pelo
património, defesa do ambiente, manifestações de solidariedade)” (p.78).
As actividades experimentais são também práticas a implementar nesta área. No
Currículo Nacional do Ensino Básico (2001) expressa-se que para o desenvolvimento de uma
29
atitude científica torna-se fundamental o envolvimento dos alunos na planificação e execução
de experiências e de fenómenos que lhes são comuns, de questões que os preocupem, e
experiências vividas em trabalho de campo. Aos alunos deve ser dada a possibilidade de
realizarem actividades investigativas que lhes permitam apropriar-se dos processos científicos
para construírem conceitos de forma a compreenderem os fenómenos e os acontecimentos
observados e, deste modo, contribuírem para um melhor conhecimento, compreensão e
domínio do mundo que os rodeia.
A resolução de problemas, ao envolver os alunos em situações activas de aprendizagem,
obriga-os a usar os seus conhecimentos prévios, a pesquisar, muitas vezes a utilizar
competências práticas e processos “só o ensino problemático desenvolve apropriadamente o
pensamento reflexivo” (Roldão, 1995:60)
Posicionando-nos perante formas de trabalhar, esta e outras áreas curriculares, o trabalho
de grupo surge como uma dinâmica importantíssima a implementar em contexto sala de aula,
uma vez que se constitui em momentos de trocas de saberes e experiências entre os elementos
do grupo. Permite que as crianças comuniquem e partilhem informações relativas ao trabalho
realizado.
O trabalho experimental, que o programa do 1º Ciclo do Ensino Básico contempla,
permite que o aluno construa e reconstrua o seu próprio conhecimento através de uma
participação activa. Concebido como uma actividade investigativa é baseado na resolução de
problemas e pode desempenhar um papel fulcral na promoção e apropriação do conhecimento
científico (Ministério da Educação, 2001).
A área de Língua Portuguesa desempenha um papel cada vez mais importante na
formação dos alunos a todos os níveis. O seu domínio é um factor essencial para a formação
das crianças. Sá (2004) refere que o processo de ensino-aprendizagem “deve conduzir a
aprendizagens que se irão revelar úteis na frequência de qualquer outra disciplina do currículo
do aluno e ainda pela vida fora” (p.7). A Língua materna assume-se como o “elemento
mediador que permite a nossa identificação, a comunicação com os outros e a descoberta e
compreensão do mundo que nos rodeia” e convoca conhecimentos associados às questões
gramaticais e lexicais (Ministério da Educação, 2006:135). Por tal, é importante que o
professor implemente estratégias no sentido de desenvolver na criança competências
linguísticas, pois a restrição destas competências “impede a realização integral da pessoa, isola
30
a comunicação, limita o acesso ao conhecimento, à criação e fruição da cultura e reduz ou
inibe a participação na praxis social” (Ministério da Educação, 2006:135).
Torna-se, então, necessário desenvolver no aluno competências específicas no domínio
da compreensão e expressão oral, da leitura e expressão escrita e do conhecimento explícito da
língua.
A compreensão, sendo uma competência transversal, desempenha um papel primordial
na aprendizagem de outras disciplinas do currículo dos alunos e na vida extra-escolar. O
ensino-aprendizagem eficaz no domínio da leitura possibilita aos alunos ampliar as formas de
comunicação. Cabe, desta forma, ao professor desenvolver actividades promotoras do
desenvolvimento de competências literácitas que possibilitem um uso correcto da língua para
comunicar adequadamente e para estruturar pensamentos. Contudo o desenvolvimento destas
competências não se efectiva exclusivamente através de práticas que visam a aprendizagem da
leitura e da escrita. Como sublinha Azevedo (2009), saber ler e escrever não basta, é
necessário saber utilizar a informação escrita de forma contextualizada e em contextos
diversificados de uso. Este autor remete-nos assim para o conceito de literacia que desenvolve
o conhecimento e a compreensão que estimula o raciocínio crítico, bem como a comunicação,
assegurando a formação integral do ser humano.
O currículo da Matemática do 1º Ciclo do Ensino Básico privilegia a construção de
conhecimentos a partir de situações reais e significativas. Neste sentido, o envolvimento activo
das crianças nas actividades deve ter sempre em conta a sua aplicabilidade no dia-a-dia,
fazendo com que estas a compreendam como parte integrante do mundo real. Ajudar a criança
a descobrir a matemática, presente nas mais variadas situações do quotidiano, é um dos
grandes objectivo do ensino. Essa descoberta/desocultação contribui para a formação de
cidadãos participativos, críticos e confiantes no modo como lidam com a matemática.
(Ministério da Educação, 2006).
Fernandes (1994) defende que as actividades de matemática devem ser exploradas de
uma forma lúdica recorrendo à manipulação de material. Ainda para este autor, a criança deve
ter a consciência que durante aquele tempo e espaço utilizou diversos materiais, realizou
experiências, assimilou conceitos matemáticos e mobilizou-os para situações do dia-a-dia.
31
Depois desta incursão pelas áreas curriculares ditas prioritárias pela grande maioria dos
professores, reservamos um espaço para reflectirmos sobre a Expressão Plástica. Pelas leituras
que efectuámos (Vasconcelos, 2005) e pelo que nos foi dado a observar, as actividades de
Expressão Plástica ocorrem quase sempre como complemento posterior às outras áreas
curriculares (Matemática, Língua Portuguesa e Estudo do Meio). Contudo não partilhamos
esta visão, uma vez que a exploração livre, gráfica e plástica não só contribui para despertar a
imaginação e a criatividade das crianças como também permite ampliar a destreza manual
(Ministério da Educação, 2006). A arte desempenha, seguramente, um papel de grande relevo
no desenvolvimento da personalidade. O desenho, a pintura e a moldagem são meios de
expressão livre que permitem às crianças a revelação de um poder especificamente humano o
de criar (Cardoso e Valsassina, 1988).
A Formação Pessoal e Social que se trabalha, todos os dias, nas escolas é considerada
uma área transversal, “dado que todas as componentes curriculares deverão contribuir para
promover nos alunos atitudes e valores que lhes permitam tornarem-se cidadãos conscientes e
solidários” (Orientações Curriculares, 2002:51). Neste sentido, esta, a par de todas as outras, é
uma área que se deve trabalhar diariamente com as crianças, nas atitudes, na responsabilidade,
no comportamento e nos valores.
32
CAPITULO II - ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1. Literacia emergente
Por literacia entende-se o “domínio da leitura, escrita, entre um conjunto de outros actos
criativos ou analíticos associados ao conhecimento e competência numa particular área de
desempenho” (Fernandes, 2007:19). O estudo da literacia emergente é, segundo Benavente et
al. (1996), um fenómeno muito recente que tem vindo a valorizar o papel de vários factores
negligenciados até ao momento, como por exemplo: as experiências de escrita; a consciência
fonológica; e a acessibilidade ao impresso nos diferentes ambientes em que as crianças se
inserem. Encarando-se, assim a literacia, não apenas como uma capacidade cognitiva, mas
também como uma actividade sócio-psico-linguística. Deste modo, é valorizada a “dimensão
social inerente à literacia emergente, nomeadamente o contributo dos contextos familiares e da
comunidade” (Teale e Sulzby, citados por Mata, 2006:18).
Muitas vezes, encontramos, associado ao conceito de literacia, o conceito de
alfabetização. Convém clarificar que no conceito de alfabetização especifica-se no acto de
ensinar e aprender a escrever, a ler e a calcular. A literacia, pelo contrário, “tende a encontrar
novas capacidades de usar as competências (ensinadas e aprendidas) de leitura, de escrita e de
cálculo” (Benavente et al., 1996:4). O conceito de literacia diz respeito à “capacidade de
compreender e usar todas as formas e tipos de materiais escritos requeridos pela sociedade e
usados pelos indivíduos que a integram” (Sim-Sim, 1993:7). De forma análoga, Benavente
(1996) define literacia como a “capacidade de processamento de informação escrita na vida
quotidiana”. Trata-se das “capacidades de leitura, escrita e cálculo, com base em diversos
materiais escritos (textos, documentos, gráficos), de uso corrente na vida quotidiana (social,
profissional e pessoal) ” (p.4).
Para a emergência de uma competência literácita é necessário assegurar que se reúnam
“oportunidades de desenvolver uma linguagem oral competente, incluindo o conhecimento
fonológico da língua, o conhecimento de princípios sobre o impresso, o reconhecimento de
letras, a consciência de regras de escrita e a motivação para a leitura” (Burns, citado por
Fernandes, 2007:20). A promoção destas competências não deve cingir-se a faixas etárias
específicas, bem pelo contrário, quanto mais precocemente se proporcionarem melhor. Educar
33
para a literacia implica “reconhecer relevância aos materiais escritos e ao processamento dessa
informação e tal pode ser feito desde a infância da criança, aproveitando todas as situações de
ficcionalização lúdica” (Pessanha, Azevedo, Rosa, Fernandes, citados por Azevedo, 2007:2).
De acordo com Azevedo (2009) não existe uma única forma de garantir o sucesso em
literacia, uma vez que actualmente se reconhece que existem uma multiplicidade de literacias
que devem ser exercitadas de acordo com as práticas educativas. Contudo as experiências
vividas pelas crianças de tenra idade, designadamente as oportunidades de acesso a variedades
de leitura e de exploração da linguagem escrita, influenciam o desenvolvimento de
competências da literacia emergente, bem como as atitudes e sentimentos face à leitura e à
escrita. Mas, tal requer um trabalho de planificação consciente de práticas intencionais e
sistemáticas.
2. O texto literário: relevância formativa
Os textos literários permitem às crianças alargar as suas experiências e os seus
horizontes porque retratam, por vezes, realidades que estas desconhecem. Segundo Azevedo
(2006) os textos literários permitem desenvolver o conhecimento das crianças e as suas
capacidades de observação e reflexão. Também de acordo Cerrillo refere que
o ensino-aprendizagem da literatura deve pretender que a criança aprenda a ler, mas
também deve levar a criança a sentir prazer com os livros, a valorizá-los e a ter uma
experiência pessoal de leitura. Esta experiência pessoal de leitura permitirá ao leitor ter
um conhecimento cultural amplo, fazer uma análise do seu mundo interior, ter
capacidade para interpretar a realidade exterior” (citado por Balça, 2007:133).
Activar e desenvolver competências enciclopédicas nas crianças através da exploração
da compreensão dos textos narrativos “implica trabalhar histórias curtas, pequenas novelas e
obras completas adequadas à idade e interesses das crianças, fomentando o raciocínio
dedutivo, a análise de acções, a antecipação de acontecimentos, a previsão de consequências, o
raciocínio inferencial e a apreciação valorativa do texto” (Sim-Sim, 2007:37).
A escola assume um papel capital na exploração do livro de literatura infantil e na
promoção de uma educação literária, visto que para muitas crianças inseridas em contextos de
baixo nível de literacia familiar, o contacto com o texto literário é feito unicamente na escola.
As Orientações Curriculares (2002) sobre este assunto expressam que “é através dos livros que
34
as crianças descobrem o prazer da leitura e desenvolvem a sensibilidade estética” (p.70). Daí
entender a necessidade dos professores tomarem consciência da “relevância formativa que os
textos literários têm no cimentar da competência literária dos alunos”. Isto, porque a literatura
é, antes de tudo, “leitura, ou melhor, é arte: fenómeno de criatividade que representa o mundo,
o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, as
ideias e a sua possível/impossível realização” (Coelho, 2000:27). O professor deve, neste
sentido, proporcionar aos alunos a leitura de livros de literatura infantil para lerem na íntegra e
não apenas excertos, fragmentos soltos e desgarrados, adaptações desastrosas, seguidas de
questionários e exercícios, como encontramos sistematicamente nos manuais escolares (Balça,
2007).
O livro é para a criança um objecto precioso. Com ele aprende e descobre o mundo
imagina e contacta com realidades diferentes da sua. A formação de leitores literários exige
então um modelo de ensino da leitura centrado na literatura, num processo que envolve três
etapas a saber:
(i) Actividades de pré-leitura - Estas têm como principais objectivos:
Activar e construir a competência enciclopédica do aluno, através da exploração de
elementos paratextuais (a capa, o titulo, as ilustrações), encorajando a criança a
expressar as suas ideias e a partilhar as suas experiencias. A conversa em torno do
livro favorece a participação oral, contribuindo para o desenvolvimento da
linguagem.
Proporcionar e promover uma verdadeira igualdade de oportunidades a todos os
alunos de tem acesso a conhecimentos enciclopédicos, designadamente aqueles que
sejam portadores de deficits de informação motivada pelo desfavorecimento de
meios sociais e familiares de que são oriundos e onde não lhes é facilitada e
disponibilizada uma cultura de leitura e de informação.
Despertar nos alunos a curiosidade, motivando-os para a leitura, fomentando as
expectativas, aguçar o apetite da criança, consoante se aprofunde e se leve esta
exploração a aspectos que provoquem construtivamente a curiosidade infantil:
acerca do conteúdo da obra trabalhada a ser confirmado ou não no momento da
leitura” (Lopes, 2009:85).
Segundo Lopes (2009) este momento deve ser utilizado para estabelecer “objectivos de
leitura” que visam auxiliar o aluno na interpretação do texto, estimulando a sua interacção
com ele, levando-o a questionar esse texto, em suma, a “construir conhecimento” (p.85).
(ii) As Actividades durante a leitura – Estas pretendem desenvolver nas crianças e
jovens-leitores, as seguintes competências:
35
Preparar o aluno para usar estratégias de compreensão,
Familiarizar o aluno com a estrutura do texto;
Focar a atenção do aluno na linguagem, dado que o contacto com a riqueza
oferecida pela linguagem literária favorece o enriquecimento da linguagem e do
vocabulário;
Facilitar a compreensão sobre as personagens, acontecimentos, temas e ideias-
chave;
Colaborar na construção de sentidos e interpretações” (Pontes e Barros, citados por
Lopes, 2009:85-86).
Lopes (2009), referindo Azevedo, diz ainda que é durante a leitura que a criança e o
jovem-leitor mais se envolvem com o texto, estabelecendo conexões, cruzando informação do
texto com saberes do mundo empírico e histórico-factual. É possível ainda perceber a relação
afectiva com o texto e com a partilha de emoções que este lhe provoca.
(iii) Actividades após a leitura – Este é o momento do balanço, da confirmação,
ou não, das expectativas criadas, devendo-se:
Encorajar respostas pessoais;
Promover a reflexão sobre o texto, sendo os alunos incentivados a identificarem o
que é mais significativo para eles;
Facilitar a organização, análise e a síntese de ideias;
Proporciona oportunidades de partilha e construção de significados com os
restantes companheiros (Lopes, 2009:86).
Neste enquadramento é importante considerar todos os aspectos referidos aquando da
leitura de uma obra de literatura para a infância.
3. A escrita: uma técnica a aprender
A linguagem é um código de comunicação oral. A escrita é um código que assenta numa
convenção que liga os elementos sonoros a grafismos. Esta é então uma representação gráfica
da linguagem que utiliza signos convencionais, sistemáticos e identificáveis. Consiste numa
representação visual e permanente da linguagem que outorga um carácter transmissível,
conservável e veicular (Reis e Adragão, 1990).
A escrita é um modo de expressão verbal tardio, tanto na história da humanidade como
na evolução do indivíduo. Esta não é algo de inato ao ser humano. A escrita, que é grafismo e
linguagem, está intimamente ligada à evolução das possibilidades motoras do ser humano.
36
Na opinião de Costa escrever é “uma técnica que é preciso aprender, pois não é o tipo de
conhecimento que se adquire, se guarda e a que se recorre sempre que é necessário. Tem de
ser exercitado, tanto mais que envolve o progressivo domínio de um complexo processo, que
decorre desde a concepção inicial de um texto até à altura em que o autor o considere em fase
de poder ser divulgado” (citado por Azevedo, 2000:43).
Ensinar a escrever é uma tarefa que começa muito cedo ainda no Pré- Escolar quando se
começa a treinar a psicomotricidade. O saber escrever recobre um conjunto complexo de
saberes e saberes-fazer que implicam o sujeito que escreve na sua totalidade e a vários níveis:
físico, sensório, motor, cognitivo, psico-afectivo” (Pereira e Azevedo, 2005:7). Não se pode
dizer que um indivíduo atingiu o grau máximo de domínio da escrita, pois há sempre um
caminho que se percorre com etapas, com degraus, mas sem fim à vista. É necessária a
adequação entre a produção escrita e uma correcta organização e articulação de ideias,
promovendo o enriquecimento vocabular, propondo actividades criativas e estimulando a
originalidade.
No dizer de Reis e Adragão (1990) é importante que o aluno seja capaz de escrever de
acordo com as mais variadas intenções comunicativas, dominando técnicas, criticando e
aplicando os diferentes modelos. Que seja capaz de se auto-corrigir, de aumentar, de encurtar,
aperfeiçoar os próprios textos em ordem a atingir os objectivos que lhe são propostos ou que
se auto-propõe. No entanto, situamo-nos na linha de Barbeiro e Pereira (2007) quando referem
que quem escreve realiza actividades no decurso do processo que devem incluir:
Activar conhecimentos sobre o tópico e sobre o género de texto, programar a forma
como se vai realizar a tarefa, sobretudo se decorrer num período temporal longo,
efectuar pesquisas e consultas, tomar notas para posterior utilização, seleccionar e
organizar a informação, elaborar planos que projectem a organização do texto, ou de
unidades como capítulos, secções, parágrafos ou grupos de frases;
Redigir o texto, procurando as palavras que o formarão e colocando-as no papel ou
no ecrã;
Avaliar o que se escreveu, relendo, riscando, apagando, corrigindo, reformulando
(p.19).
Estas actividades podem ser agrupadas segundo 3 componentes: planificação,
textualização e revisão (Barbeiro e Pereira, 2007).
Referem Barbeiro e Pereira (2007) que a planificação da escrita constitui um dos
aspectos que diferencia o domínio da escrita por parte dos alunos, devendo ser trabalhada
37
desde muito cedo. Acrescentam ainda os autores que “a planificação do processo de escrita é
mobilizada para estabelecer objectivos e antecipar efeitos, para activar e seleccionar
conteúdos, para organizar a informação e para programar a própria realização da tarefa”
(Barbeiro e Pereira, 2007:20).
A textualização é aplicada à redacção propriamente dita. Segundo Barbeiro e Pereira
(2007) à medida que o aluno vai escrevendo tem que dar resposta às seguintes tarefas ou
exigências:
Explicitação de conteúdo - mesmo quando houve uma planificação inicial cuidada,
muitas ideias foram activadas e registadas de forma genérica, devendo ser
explicitadas para permitirem ao leitor aceder ao conhecimento;
Formulação linguística - a explicitação de conteúdo deverá ser feita em ligação à sua
expressão, tal como figurará no texto;
Articulação linguística - um texto não é constituído por mera adição de frases ou
proposições autónomas, que apenas fosse necessário juntar, mas constitui uma
unidade em que essas frase se interligam entre si, estabelecendo relações de coesão
linguística e de coerência lógica (p.20).
Por último aparece a revisão. Esta, segundo Barbeiro e Pereira (2007), “processa-se
através da leitura, avaliação e eventual correcção ou reformulação do que foi escrito” (p.21).
Mencionam ainda os autores que a revisão é marcada sobretudo pela reflexão em relação ao
texto produzido, devendo esta “ser aproveitada para tomar decisões respeitantes à correcção e
reformulação do texto” e ainda “ser aproveitada para reforçar a descoberta e a
consciencialização de outras possibilidades, susceptíveis de serem exploradas em processos de
reescrita ou na construção de novos textos (p.21).
4. Contextos de promoção da escrita
4.1. Contexto: Educação Pré-Escolar
O contexto da educação Pré-escolar deve proporcionar um ambiente rico em
experiências de promoção de competências de escrita. É actualmente indiscutível que a
abordagem à escrita faz parte da educação pré-escolar. Nas Orientações Curriculares para a
educação pré-escolar expressa-se que a “escrita situa-se numa perspectiva de literacia
enquanto competência global para a leitura no sentido de interpretação e tratamento de
38
informação que implica a leitura, da realidade, das imagens e de saber para que serve a escrita,
mesmo sem saber ler formalmente” (Ministério da Educação, 2002:66).
Os educadores devem trabalhar com as crianças a emergência da escrita organizando
ambientes educativos onde a palavra impressa tenha papel relevante. Tal como se expressa nas
Orientações Curriculares “a atitude do educador e o ambiente que é criado devem ser
facilitadores de uma familiarização com o código escrito” (Ministério da Educação, 2002:69).
É nesse contacto com as palavras impressas e com actividades de leitura e escrita que a criança
pode fazer as suas descobertas e as suas aprendizagens.
É através de registos de actividades, quadro de presença, quadro do tempo e outros
suportes escritos que as crianças têm oportunidade de observar que é o texto que transporta a
informação.
Para Simmons, Kamenui e Martins “a exploração de actividades de escrita promove a
conceptualização de elementos como: palavra, espaço, linha, página, capítulo, ilustração”
(citados por Fernandes, 2007:22). Estes conceitos são aprendidos a par de actividades que
promovam o desenvolvimento da consciência fonológica e do conhecimento de letras através
de hipóteses ortográficas.
Depois da Pré-Escola a criança entra numa nova fase: O 1º Ciclo do Ensino Básico.
4.2. Contexto: 1.º Ciclo do Ensino Básico
A escrita no 1º Ciclo Do Ensino Básico é uma actividade complexa que exige muita
dedicação e treino. Sendo esta uma actividade complexa não deve, nem pode, estar confinada
a algumas sessões pontuais ou à simples composição escrita. Os alunos precisam de
diversificar os seus escritos para compreenderem melhor a sua utilidade. Pereira e Azevedo
(2005) referem que a “escrita serve para comunicar a partir de um determinado contexto social
e cultural e que para além disso, a escrita constitui uma poderosa estratégia de aprendizagem,
não só dos próprios processos que a compõem, como também de outros domínios do saber"
(p.8).
A escola deverá incentivar os alunos a produzir textos motivantes e que façam sentido
para o aluno. Azevedo (2000), consciente da relevância que o texto escrito assume no dia-a-
dia, sugere:
39
a necessidade de produção de textos significativos, considerando-se significativo o
que provêm de uma vontade de comunicar verdadeiramente e que o destinatário
possa compreender, uma vez que a linguagem deve fazer sempre sentido;
a necessidade de tornar a escrita um acontecimento social, o que sucede sempre que
o aluno escreve para transmitir uma mensagem a um ou mais receptores ausentes,
escrevendo o que quer que eles compreendam.
a necessidade de envolver os alunos em projectos de comunicação estimulantes
(p.84).
Torna-se importante que a escola encontre destinatários para os escritos dos seus alunos.
Esses podem estar dentro da própria escola ou fora dela. Segundo Azevedo (2000), os textos
devem saltar as paredes da escola e chegar à comunidade, pois só assim poderá provocar
reacções. Neste sentido deve-se ter consciência de que:
mesmo em actividades que não ultrapassem a sala de aula a socialização dos textos
é possível, através da leitura e apreciação dos textos dos alunos pelos seus pares;
as crianças precisam de mostrar a outros o que produziram e de que a escola deve
possibilitar-lhe isso, não como objectos em competição, mas como manifestação de
orgulho no que são capazes de fazer;
a escrita não é sempre utilizada com um objectivo comunicativo, devendo a escola
estar também atenta a este aspecto;
o reconhecimento de que é importante que o professor estimule a partilha de
vivências, valorizando-as a ponto de merecerem ser contadas por escrito (Azevedo,
2000:84/85).
Para além desta tomada de consciência o professor também deve reconhecer que é
importante “discutir o trabalho a realizar com os alunos, com o objectivo não só de partilha de
responsabilidades, mas também como forma de todos encontrarem sentido, interesse no que
fazem” (Azevedo, 2000:85).
Diversos tipos de textos deverão ser produzidos na escola. Cassany sugere que o
professor deve ajudar “os alunos com ideias, perguntas e sugestões para que elas decidam o
que podem fazer, uma vez encontrado o tema, o ampliem e o aprofundem”. Acrescenta ainda
que os “tipos de texto trabalhados na escola devem constituir uma amostra representativa da
diversidade de textos sociais e devem permitir abordar o essencial das dificuldades técnicas
que se encontram em todos os tipos de texto”. Por tal deveria praticar-se a redacção de textos
argumentativos, informativos, explicativos, tal como os narrativos e descritivos” (citado por
Azevedo, 2000:87).
40
Neste sentido, Graves considera importante que as crianças experimentem “situações
que as induzam a escrever cartas, exprimir opiniões sobre acontecimentos, experimentar
formas poéticas e escrever narrativas”, enquanto que Farr, “preconiza a produção de textos
com as seguintes intenções: para entreter (narrativas, poemas), para persuadir (cartas, artigos
de opinião), para aprender (relatos, resumos), para informar (relatos), para evocar sentimentos
(descrições, páginas de diários, cartas)” (citado por Azevedo, 2000:87).
Segundo Fonseca, a “escola deverá privilegiar os textos com maior complexidade,
dificuldade e representatividade” (citado por Azevedo, 2000:87). Contudo, Azevedo (2000)
defende que, antes de se chegar ao texto livre, é preciso “criar condições para que se manifeste
a necessidade de expressão pessoal”. Devendo-se privilegiar, também, “a escrita colectiva, a
reescrita, a escrita com motivações funcionais específicas, com um destinatário, com um
objectivo” (p.87).
Parece, desta forma, consensual que a escola deve, de forma harmoniosa, permitir
tarefas de escrita, disponibilizando material de apoio, bem como permitir o acesso ao texto
livre.
5. Criatividade como actividade imprescindível em contexto
A palavra criatividade é definida no dicionário de Língua Portuguesa como uma
“capacidade de produção do artista, do descobridor e do inventor que se manifesta pela
originalidade inventiva”. Gil e Bellmann (1999) referem que a palavra criatividade tem “raiz
no verbo creare e significa originar, gerar, formar” (p.19). Este conceito, segundo estes
autores, esteve durante muito tempo associado à fantasia, imaginação, poder de abstracção,
inteligência. Os mesmos autores, citando Rogers, apontam a criatividade como um processo
“em que a acção produtiva gera algo de novo, algo de diferente, resultante da relação entre o
carácter único do indivíduo e os objectos, acontecimentos, personalidades e situações que o
envolvem” (1999:19). Assim sendo, concordamos com Santos e Santos (2009) quando
afirmam que a criatividade é uma competência que envolve a capacidade de fazer diferente e,
por tal, complexa. Talvez, por este motivo, a criatividade seja um objectivo muito difícil de
atingir embora, como refere Balancho deve ser o “objectivo primeiro, o imediato e o
41
indispensável”. (citado por Martins 2004:3). Muitos professores, segundo Alencar, consideram
que:
a criatividade se manifesta apenas em actividades artísticas, cabendo ao professor de
artes o seu desenvolvimento;
apenas alguns indivíduos são criativos;
a criatividade não pode ser desenvolvida e aprimorada através da prática e do treino
(citado por Martins 2004: 4-5).
Na mesma linha de pensamento Balancho e Coelho (1996) dizem que é necessário
exercitar a criatividade, defendendo que “um modelo criativo de ensino pode ser um excelente
antídoto contra a passividade, o aborrecimento, a falta de iniciativa e a desmotivação
institucionalizada que existem na escola” (p.40).
A verdade é que a criatividade pode ser desenvolvida em qualquer contexto. Santos e
Santos (2009), referem que esta se exerce “em todos os níveis da produção linguística, seja
oral, seja escrita” (p.159). Defendem estas autoras que a criatividade pode ser evidenciada
através da:
Concretização de uma intenção comunicativa;
Construção de frase;
Escolha de unidades e sequências semânticas;
Escolha de palavras (Santos e Santos, 2009:159).
O papel do professor na selecção de métodos e técnicas a utilizar em contexto sala de
aula é importantíssimo, devendo estes assentar em processos de acção educativa.
Segundo Gil e Bellmam (1999) a acção criativa pressupõe:
abertura para novas experiências - o contrário de bloqueamento e a capacidade de
tolerância ao que é ambíguo;
a capacidade de avaliar factos;
a capacidade de jogar com elementos e conceitos da realidade; a capacidade de
jogar espontaneamente com ideias e relações entre coisas;
a capacidade de combinar partículas da realidade de uma forma pouco comum ou
dando-lhe uma forma pouco usual (p.20).
Brooks e Alii referem a importância de se proporcionarem actividades na escola que
promovam o pensamento divergente. O pensamento convergente remete-nos para um
pensamento que “tende a reter o conhecido, aprender o predeterminado e conservar o que é”,
42
enquanto que o pensamento divergente “tende a revisar o conhecido, explorar o indeterminado
e construir ou elaborar o que poderia ser” (citados por Condemarín e Chadwick, 1987:159).
O pensamento divergente necessita, segundo Getzels e Jackson, citados por Condemarín
e Chadwick (1987), de ser desenvolvido tanto nas crianças que já possuam esta habilidade,
como nas que a não possuem. Todas elas precisam expandir o seu pensamento a modalidades
divergentes. Assim sendo, é possível associar o pensamento divergente à escrita criativa.
A importância da criatividade na educação em Portugal surge expressa em vários
documentos oficiais. Na Organização Curricular e Programas do 1º Ciclo do Ensino Básico,
expressa-se que se deve favorecer, uma construção pessoal assente nos valores da iniciativa,
da criatividade e da persistência” (Ministério da Educação, 2006:13).
Também no Currículo Nacional do Ensino Básico se expressa a importância da
criatividade, afirmando que no final do ensino básico o aluno deve ser capaz de “realizar
actividades de forma autónoma, responsável e criativa” (Ministério da Educação, 2001:15).
Estas devem ser operacionalizadas de forma a “identificar, seleccionar e aplicar métodos de
trabalho, numa perspectiva crítica e criativa” (Ministério da Educação, 2001:24). Refere-se
ainda que as crianças devem ser capazes de “exprimir-se oralmente e por escrito de uma forma
confiante, autónoma e criativa (Ministério da Educação, 2001:31).
Saturnino de la Torre (1991:44) fala-nos de indicadores de criatividade. Como o
esquema seguinte demonstra.
Fig.3- Indicadores de criatividade
43
Como podemos verificar pelo esquema, o autor indica vários indicadores de criatividade,
como a originalidade, a fantasia, o alcance imaginativo, a habilidade gráfica e a riqueza de
expressão.
Guilford defende que a criatividade pode ser avaliada através de critérios que se
prendem com a fluência, a flexibilidade, a originalidade e a elaboração. A fluência refere-se à
capacidade do sujeito para produzir um elevado número de respostas face a um determinado
problema. A flexibilidade diz respeito à capacidade do sujeito apresentar diferentes tipos de
respostas a um dado problema. Assim, o que importa agora não é tanto o número de respostas
mas sim a sua variedade. A originalidade prende-se, fundamentalmente, com a raridade da
resposta apresentada face àquilo que é genericamente mais frequente. Por fim a elaboração
refere-se a capacidade de inserção de detalhes que confiram uma maior riqueza à informação
(citado por Nogueira e Baía, s/d).
Torrance e Torrance tentaram avaliar a criatividade dos sujeitos através da análise a
histórias imaginativas construídas em 20 minutos. Como itens de avaliação seleccionou: a
qualidade do pitoresco – quando sugere um quadro colorido, impressionantemente gráfico ou
objectivamente descritivo; a vivacidade – quando a história é interessante, podendo deixar o
leitor emocionado; o gosto – quando apela ao sentido do paladar ou olfacto; o elemento
pessoal – quando o autor expressa sentimentos sobre o que se passa; o desfecho – quando é
inesperado e surpreendente; o ambiente ou trama original – quando o tema ou a moral é
incomum; o humor – quando apresenta características que despertam o riso; as palavras –
quando estas surgem carregadas de conotações (citados por Nogueira e Baía, s/d).
Consideramos que, na escrita, os itens de avaliação descritos anteriormente, ganham especial
significado, pois um texto quando possui todas estas particularidades é certamente criativo.
Assim sendo, questionamos como pode o professor desenvolver actividades que promovam a
criatividade na escrita?
6. Escrita criativa
Para Margarida Fonseca Santos a “escrita criativa é mais do que um conjunto de
exercícios, funcionando como uma possibilidades de aceder a um novo mundo, descoberto
para além dos caminhos habitualmente percorridos” (citada por Barros, 2008:34).
44
Para Gil e Bellmann (1999) a escrita criativa é um método. Esta apresenta-se como
sendo composta por três componentes:
Uso de formas de jogo e prática;
Considerando o processo, não o produto o mais relevante;
Considerando-se um processo social, fomentando a escrita em grupos (p.20).
Ainda que toda a escrita discursiva, como relatórios, cartas, reportagens, etc., deva ser
composta de forma criativa, “o termo escrita criativa é aplicado com maior propriedade às
composições espontâneas imaginativas que são elaboradas como produto da fantasia ou da
experiência” (Condemarín e Chadwick, 1987:159). Já Barbeiro (2001), na mesma linha de
pensamento, defende que
a expressão escrita pelas características do processo que lhe dá origem, surge, a
determinada altura, como um instrumento fundamental que pode desenvolver a
criatividade. O processo de escrita poderá ser orientado para a produção de algo novo,
para a transformação dos conhecimentos do sujeito e, por essa via, para a transformação
do próprio sujeito (p.65).
Na mesma linha, Gil e Bellmann (1999), referem que a forma como a escrita criativa
acentua o jogo, um jogo que contém regras mais ou menos rígidas. Acrescenta Barbeiro
(2001) que a intervenção do jogo, por meio da mobilização do acaso e das regras, abre
caminhos infindáveis para a descoberta da linguagem, por meio da expressão escrita.
Condemarín e Chadwick (1987), citando Maya, consideram que quando os professores
desenvolvem actividades de escrita criativa devem ter em linha de conta alguns aspectos
gerais:
Enfatizar o produto, não o processo. As crianças podem desanimar rapidamente se
as primeiras tentativas de escrita desenvolvidas forem cobertas de marcas vermelhas
indicando erros de ortografia ou de gramática.
Criar uma atmosfera em que as crianças se sintam livre para expressar-se
abertamente. É importante manter uma atitude positiva em relação ao trabalho dos
alunos.
Permitir que as crianças leiam os seus trabalhos em voz alta. Não solicitar somente
ao melhor aluno que mostre o seu trabalho, mas recolher amostras de escrita de
todos os alunos e lê-las ou expô-las.
Ter paciência com as crianças que são mais lentas para escrever ou que não têm,
inclinação para fazê-lo.
Permitir o anonimato das primeiras tentativas de escrita. Assim as crianças não se
sentirão pressionadas.
45
Não esperar que todas as crianças utilizem o mesmo estilo ou padrão de escrita, nem
tão pouco julgar a escrita da criança pelas expectativas presentes. É importante
ajudar a criança a tomar consciência da qualidade especial da sua escrita.
Ajudar as crianças a desenvolver uma disposição para escrever, a fim de serem
estudadas. Se elas sabem que estão escrevendo para um público, tenderão a
melhorar a qualidade da sua escrita.
Apresentar tópicos abertos para dar aos alunos a liberdade necessária para criar e
experimentar.
Proporcionar uma variedade de actividades de escrita desenhada para estimular a
imaginação e criatividade, enquanto são desenvolvidas destrezas de leitura e
pensamento.
Utilizar escritos de alunos como instrumento para diagnosticar suas necessidades
nas destrezas da comunicação.
Escrever! Praticar o que foi ensinado aos alunos. Realizar diariamente actividades
de escrita criativa, como escrever uma carta ou diário. Comunicar-se, com
frequência, com os alunos, através da escrita.
Observar as actividades espontâneas de escrita que as crianças realizem. Aprová-las,
respeitar o anonimato, não sancioná-las nem ridicularizá-la, mas estimulá-las.
Solicitar a colaboração dos pais. Dar-lhe uma lista de actividades de escrita como
diversão, que eles podem realizar com seus filhos em casa.
Ao enviar aos pais mostras escritas dos seus filhos, incluir uma nota solicitando-lhes
que o conteúdo seja valorizado estimulado e de que forma, no momento, não deve
ser criticada.
Recompilar todas as criações escritas. Os escritos das crianças não devem acabar no
escritório do educador nem em uma caixa em casa, mas devem ser colocados em
arquivo, ou compostos para serem utilizados. As crianças ficarão muito motivadas a
ler e escrever se participam como autores ou editores (Maya citada por Condemarín
e Chadwick, 1987:160).
Percebe-se pelo exposto que o professor deve promover a escrita, neste caso criativa,
tendo em atenção alguns aspectos, pois podem ser determinantes para se superarem
dificuldades e bloqueamentos, contribuindo para o sucesso das crianças.
Considera Nuno Leitão, citado por Barros (2008), que a escrita criativa não é apenas um
poderoso instrumento de desenvolvimento linguístico mas também de desenvolvimento
pessoal. O exercício criativo da escrita, para quem escreve, é sempre uma experiência
ampliadora ou seja, cada texto escrito inaugura um mundo de experiência que abre, no plano
existencial, um conjunto de novas possibilidades (ainda que virtuais) de existência, à luz das
quais o próprio mundo dos redactores se recria e refigura.
46
CAPÍTULO III- ENQUADRAMENTO EMPÍRICO
1. Definição do problema
Muitas crianças portuguesas concluem o Ensino Básico com várias lacunas ao nível da
escrita, o que torna mais difícil a sua integração na sociedade. Desenvolver competências de
escrita deve ser um dos objectivos da escolarização e um contributo fundamental para a sua
integração social, na prática de uma cidadania crítica e interventiva (Sim-Sim, 2003;
Benavente et al., 1996). Atendendo às lacunas e à falta de interesse assinaladas pelas crianças
da turma, com a qual realizámos estágio, em termos da expressão escrita, bem como a
complexidade que envolve esta prática estipulámos como objectivo principal contribuir para a
promoção de competências na área da escrita.
A escrita nas salas do 1.º Ciclo do Ensino Básico não é, muitas vezes, um objectivo mas
sim um meio, tendo um carácter de apoio na resolução de tarefas. Estas tarefas de escrita são
corporizadas muitas vezes, em trabalhos de casa, testes de avaliação e cópias. A escola
continua preocupada em ensinar a ler, a escrever e a contar, embora os desafios actuais sejam
formar bons leitores e escritores, isto é, elevar os níveis de literacia (Azevedo, 2007; Sim-Sim,
2009). No reconhecimento do défice a nível da escrita, o professor não se pode alhear nem
demitir da sua função enquanto mediador de um currículo que contempla o desenvolvimento
de competências nesse domínio. Impõe-se que os professores sejam portadores de um
conhecimento acerca do processo de escrita, bem como de um conjunto de métodos que o
ensino da escrita exige.
Sendo a expressão escrita, grosso modo, do domínio da Língua Portuguesa, torna-se
evidente que esta desempenha um papel fundamental nas nossas vivências sociais, sendo ainda
um factor essencial na formação de cidadãos. Sá (2004) refere que a “aprendizagem da escrita
se deve revelar útil para a frequência de qualquer outra disciplina do currículo e funcional para
a sociedade” (p.7)
Refere Cassany a importância de um “bom domínio da língua, nomeadamente da
escrita, como condição necessária para a elaboração do pensamento, para o desenvolvimento
do raciocínio e também para o sucesso em todas as disciplinas” (Azevedo, 2000:83). Assim
sendo, um bom desempenho no domínio da língua materna (compreensão e produção) permite
elevar os níveis de literacia dos alunos, contribuindo para o sucesso pessoal e social. A escola
47
desempenha um papel determinante na construção de saberes que proporcionem aos seus
alunos os códigos, não só linguísticos, mas, também, sociais que lhe permitam sentir-se à
vontade nas formas de sociabilidade em torno da escrita.
Este projecto foi desenvolvido a partir da necessidade de perceber como posso ajudar as
crianças no processo de escrita. Neste sentido surgiu a seguinte problemática: Será que o
contacto das crianças com a narrativa e diversas técnicas de escrita criativa permitirá elevar
os seus níveis de literacia no âmbito de escrita?
2. Objectivos do estudo
Perante a problemática, estipulamos como objectivos os que se assinalam:
(i) Desenvolver a criatividade das crianças e o gosto pela escrita, fazendo desta
uma actividade diária;
(ii) Contribuir para o desenvolvimento de competências linguísticas das crianças
através da implementação de técnicas de escrita criativa;
(iii) Valorizar a escrita como recurso potenciador do desenvolvimento de um
trabalho multidisciplinar.
3. Participantes
Este projecto foi desenvolvido na Escola 1,2 da Torre D. Chama, numa turma de 2º ano
de escolaridade do 1º Ciclo do Ensino Básico.
A turma era constituída por 14 alunos, 5 do sexo feminino e 9 do sexo masculino. Dois
alunos estavam matriculados pela segunda vez no 2º ano. As crianças tinham entre os 7 e os 8
anos de idade. Duas das crianças estavam referenciadas como tendo necessidades educativas
especiais.
4. Metodologia
A metodologia utilizada no desenvolvimento deste projecto foi a investigação-acção.
Esta consiste na recolha de informações sistemáticas com o objectivo de promover mudanças
sociais, na qual o investigador se envolve activamente (Bogdan e Bilklen, 1994).
48
Lewin identifica quatro fases na investigacão-accão: planificar, actuar, observar e
reflectir que poderão levar, “gradualmente a uma independência, igualdade e cooperação”
(citado por Gómez, Flores e Jiménez, 1996:52).
A investigação-acção, segundo Kemmis “es una forma de búsqueda autorreflexiva,
llevada a cabo por participantes en situaciones sociales (incluyendo las educativas), para
perfeccionar la lógica y la equidad de: a) las propias prácticas sociales o educativas en las que
se efectúan estas prácticas, b) comprensión de estas prácticas, y c) las situaciones en las que se
efectúan estas práticas” (citado por Gómez, Flores e Jiménez, 1996:52-53).
Para Cohen e Manion a investigação-acção é um
procedimento essencialmente in loco, com vista a lidar com um problema concreto
localizado numa situação imediata. Isto significa que o processo é constantemente
controlado passo a passo, durante períodos variáveis, através de diversos mecanismos
(questionários, diários, entrevista e estudos de casos por exemplo), de modo que os
resultados subsequentes possam ser traduzidos em modificações, ajustamentos,
mudanças de direcção redefinições, de acordo com as necessidades, de modo a trazer
vantagens duradouras ao próprio processo em curso” (citados por Bell, 1993:20).
Acrescentam, ainda, os autores que a investigação-acção se adequa a “qualquer situação,
sempre que seja requerido um conhecimento específico para um problema específico numa
situação específica, ou sempre que se queira aplicar uma nova abordagem a um sistema
existente” (citados por Bell, 1993:22).
De forma sucinta a investigação-acção é um método que tem como finalidade adaptar e
melhorar a qualidade da acção educativa numa determinada situação, segundo a procura e
investigação das causas que procuram dar resposta a um determinado problema. Neste sentido,
o professor, para poder intervir na sua realidade educativa de modo fundamentado, terá de
“observar e problematizar, intervir e avaliar” (Estrela, 1994:26). O tipo de observação por nós
utilizado foi a observação naturalista, visto que as crianças foram observadas num meio que
lhes é familiar e neste sentido, concordamos que a “observação do comportamento dos
indivíduos deve ser feita nas circunstâncias da sua vida quotidiana” (Fraisse, citado por Estrela
1994:45). A observação naturalista foi, desta forma, uma estratégia efectiva na obtenção de
informação, pois permitiu-nos a recolha de informação verdadeira sem modificação do
contexto natural, não causando constrangimentos para o grupo estudado.
49
4.1. Instrumentos de recolha de dados
Depois de definido o tema, o problema, especificados os objectivos e termos efectuado
uma breve abordagem sobre a metodologia utilizada, salientamos de seguida os instrumentos
de recolha de informação.
4.1.1. Questionário
O questionário define-se como uma forma de “encuesta caracterizada por la ausência
dela encuestador, por considerar que para recoger información sobre o problema objeto de
estúdio es suficiente una interacción impersonal com el encuestado”. Assim, escrever umas
perguntas “las acercará aquellas personas que considera pueden proporcionarle información
sobre el problema que está analizando y les pedirá que escriban sus respuestas” (Gómez,
Flores e Jiménez, 1996:186).
O questionário é então uma técnica de recolha de informação feita através de perguntas
previamente estabelecidas. Tal como dizem Gómez, Flores e Jiménez (1996) “esta técnica se
realiza sobre la base de un formulário previamente preparado y estrictamente normalizado”
(p.186).
Para a implementação deste projecto foi implementado um questionário às crianças de
modo a percepcionar as suas opiniões e atitudes perante a escrita. O questionário estava
dividido em duas partes com questões, às quais responderam em duas fases distintas. Numa
primeira fase do projecto as crianças responderam à primeira parte do questionário (vide
anexo1), pretendendo-se saber mais acerca do que as crianças pensavam acerca da escrita. A
outra parte do questionário (vide anexo 2) foi preenchida no final do ano, e possibilitou-nos
avaliar os efeitos da implementação deste projecto de investigação-acção.
4.1.2. Grelhas de observação
A escolha dos registos de observação através de grelhas para a realização deste projecto,
constituiu-se pertinente e fundamental ao ser uma fonte de obtenção de dados, uma vez que
proporciona um conhecimento mais aprofundado dos comportamentos habituais das crianças.
Elaborámos grelhas (vide anexo 3). Para este efeito utilizámos as notas de campo e
elaborámos grelhas de observação onde registámos os comportamentos das crianças nas
50
diversas actividades de escrita. É de referir que os registos de observação directa foram
cruciais para a identificação da problemática em estudo e também imprescindíveis no decorrer
da execução deste trabalho.
4.1.3. Diário de bordo
O diário de bordo é um instrumento em que o investigador vai registando as notas
retiradas das suas observações no campo (Bogdan e Biklen, 1994). Para Bodgan e Biklen
(1994) as notas que emergem são “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê,
experiência e pensa no decurso da recolha” permitindo-lhe reflectir “sobre os dados de um
estudo qualitativo” (p.150). O diário de bordo representa, assim, não só uma fonte importante
de dados, mas também pode apoiar o investigador a acompanhar o desenvolvimento do estudo
(Bogdan e Biklen, 1994).
5. Procedimentos
Após a recolha e análise dos inquéritos que nos permitiram diagnosticar e justificar o
problema que deu origem ao projecto de investigação-acção, chegou o momento de delinear
um plano de acção. Este teve como objectivo tentar melhorar a acção educativa, perante o
grupo de alunos que constituía a turma.
Para o desenvolvimento da acção educativa iniciámos quase sempre as aulas com uma
história. As histórias usadas foram: “Diversidade” Tatiana Belinky ,“Coração de Mãe” e “Pê
de Pai” da autora Isabel Minhós Martins, “Mago Goma” de Tono Nunez, “A que sabe a lua?”
de Michael Grejneic e o “Livro negro das cores”, de Rosana Faria e Menena Cottin, entre
outras. Estas constituíram-se um recurso para o desenvolvimento de competências de leitura e
escrita bem como para a exploração de conteúdos de outras áreas curriculares. Configura-se
como essencial a leitura de textos literários nas salas de aula do 1º Ciclo do Ensino Básico,
aliás (a leitura diária é uma das medidas do Plano Nacional de Leitura e do Currículo
Nacional).
Integrados no desenvolvimento deste projecto estiveram presentes uma série de
actividades que deram origem a outros projectos dos quais destaco “Semear uma história”.
51
Este consistiu na escrita e ilustração de um conto em grupo, tendo resultado num livro que as
crianças tiveram o prazer de partilhar com a comunidade.
As actividades incidiram em situações de aprendizagem que pretendiam a valorização da
interacção leitura/escrita, implicando os alunos em dinâmicas com várias finalidades. As
actividades de leitura surgiram com o intuito de obter informação; seguir instruções; aprender;
incentivar o prazer de ler; praticar a leitura em voz alta; escrever textos; activar conhecimentos
prévios; valorizar o desenvolvimento da competência lexical; e promover a articulação da
leitura com a escrita.
Ao longo do ano procurámos desenvolver um conjunto de sessões de escrita numa
perspectiva lúdica, definindo regras, de forma a que as crianças se sentissem orientadas. As
regras e as actividades foram pensadas com base nas leituras que efectuámos ao longo deste
percurso tendo em linha de conta os objectivos a que nos propusemos. Pretendíamos, desta
forma, motivar a participação das crianças para as actividades de escrita, ambicionando-se,
ainda um alargamento a todas as áreas de expressão produzindo criações nestes domínios.
Recorremos, assim, a técnicas de escrita livre, sem tema e com tema, escrita em grupo e
escrita através de imagens.
52
CAPITULO IV- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Explicitadas as opções e os procedimentos metodológicos, torna-se essencial apresentar
a análise e a interpretação dos dados obtidos durante este processo, tendo como referência o
quadro conceptual em que nos sustentamos, bem como a problemática e os objectivos da
pesquisa que nortearam este estudo. Começamos por analisar a 1ª parte dos questionários
aplicados, como diagnóstico, e, de seguida, apresentamos os resultados do desempenho das
crianças, cujos dados estavam expressos nas grelhas de observação preenchidas durante as
sessões. Por último, surge a análise das questões à 2ª parte do questionário, uma vez que estas
se destinavam a avaliar o trabalho desenvolvido.
1. Diagnóstico
Os questionários aplicados às crianças destinavam-se a avaliar atitudes perante a escrita.
Este foi preenchido antes de iniciarmos o desenvolvimento do projecto, funcionando como um
teste de diagnóstico. Este questionário estava dividido em duas partes. A primeira “Tu e a
escrita” e a segundo “O teu pensamento sobre a escrita”. A primeira tinha cinco questões e a
segunda quatro questões. No gráfico n.º 3 apresento os resultados relativos à questão “Gostas
de escrever”?
Gráfico nº 3- Gostas de escrever
N=12
Não gosto nada Gosto pouco
Gosto Gosto
bastante
0,00%
41,60% 41,60%
16,60%
% de alunos
53
As respostas levam-me a reflectir sobre as razões pelas quais as crianças (41,6%) não
manifestam muito interesse pelas actividades de escrita. A implementação de um projecto de
escrita criativa poderia contribuir para que as crianças, que gostam pouco de escrever,
pudessem ficar mais motivadas e passassem a encarar a escrita como uma actividade lúdica.
Considerámos ainda que as crianças que diziam gostar de escrever (41,6%) e as que gostavam
muito de escrever (16,6%), com a implementação do projecto aprendessem outras formas de
escrita, onde a criatividade pudesse assumir mais relevância.
A segunda questão: Com que frequência escreves depois de terminares a escola?
Gráfico nº4 - Com que frequência escreves
N=12
Como se pode verificar através do gráfico, 33,3% das crianças dizem escrever em casa
pelo menos uma vez por semana e só uma percentagem de 8,3% diz escrever todos os dias.
25% refere que escrevem duas ou mais vezes por semana, 25% das crianças dizem escrever
quase todos os dias e outras tantas diz quase nunca o fazer. A opção nunca, tem uma
percentagem de 0%. Em diálogos informais com as crianças percebemos que normalmente as
actividades de escrita que executavam em casa eram os trabalhos que estas tinham que realizar
por imposição do professor (trabalhos de casa). Pensamos poder inferir que este grupo de
crianças não tem hábitos de escrita.
Todos os dias Quase todos os dias
Uma vez por semana
Duas ou mais vezes por semana
Nunca Quase nunca
8,30%
25,00% 33,30%
8,30% 0,00%
25,00%
% de alunos
54
A terceira questão: Achas que escreves o suficiente?
Gráfico nº5- Achas que escreve o suficiente
N=12
Como se pode verificar através do gráfico só 8,3% das crianças diz escrever o suficiente.
Todas as outras (91,6%) consideraram que não escreviam o suficiente, mas que gostariam de
escrever mais. Estes dados levam-nos a inferir que o incentivo por parte da escola e da família
não se efectiva de forma desejada.
A quarta questão: Falas com os teus pais sobre o que estás a escrever?
Gráfico nº6- Falas com os teus pais sobre o que escreves
N=12
Quando se questionaram as crianças sobre se falam do que escrevem com os pais, as
respostas variaram. A maioria (58,3%) diz que “quase nunca” fala, 33,3% diz falar “às vezes”
e 8,3% diz que falam “sempre”. Penso que o facto de a maioria dos pais ter poucas
Sim
Não, mas gostaria
de escrever mais Não e não gostaria
de escrever mais
do que escrevo
8,30%
91,60%
0,00%
% de alunos
Sempre Às vezes
Quase nunca Nunca
8,30% 33,30%
58,30%
0,00%
% de alunos
55
habilitações literárias, não ajuda a que estes possam apoiar os seus filhos nas actividades de
escrita. As crianças, muitas vezes, não lhe pedem ajuda, nem falam com eles sobre o que
escrevem, porque reconhecem a falta de competência da família nesses domínios.
A quinta questão: Costumas ver os teus pais escrever?
Gráfico nº7- Costumas ver os pais escrever
N=12
A análise do gráfico mostra que só 8,3% das crianças costumam ver os seus pais
escrever “sempre”, 41,6% só “às vezes”, 33,3% “quase nunca” e 16,6% “nunca”. Mais uma
vez, estes resultados podem ser o reflexo das parcas habilitações literárias dos pais. As
crianças acabam por não terem uma referência nos pais, ao nível da escrita.
Relativamente à questão: O que é que os teus pais costumam escrever?, as crianças
puderam escolher mais que uma resposta.
Gráfico nº8 - O que os teus pais costumam escrever
N=12
Sempre Às vezes
Quase nunca Nunca
8,30%
41,60%
33,30%
16,60%
% de alunos
Recados Listas de compras
Cartas
Relatórios profissionais
25,00% 66,60%
16,60% 16,60%
% de alunos
56
Quando se questiona sobre o que os seus pais costumam escrever 66, 6% das crianças
dizem que os seus pais costumam escrever listas de compras. 16,0% das crianças referem que
os pais escrevem recados e relatórios profissionais. Através desta análise inferimos que os pais
destas crianças escrevem pouco, somente coisas simples como é o caso dos recados e listas de
compras. As crianças que não responderam à questão anterior também não responderam a esta
questão.
Segue-se depois o segundo bloco de questões. Salientamos a primeira questão: O que
pensas sobre a escrita?
Gráfico nº9- O que pensas sobre a escrita
N=12
Verifica-se que 83,3% das crianças dizem que escrever é importante, 8,3% das crianças
dizem que escrever é difícil e outras tantas que é divertido.
Com este resultado depreende-se que as crianças compreendem que escrever é muito
importante para elas, mas muito poucas vêem a escrita como algo divertido. Esta é uma lacuna
que pretendemos suprir com a implementação deste projecto, fazendo da escrita algo mais
atractivo.
Segue-se a questão: Eu escreveria mais se… Nesta questão, as crianças podiam
seleccionar mais do que uma resposta. Os dados analisados são os que constam do gráfico
seguinte.
Escrever é
aborrecido Escrever é difícil Escrever é
importante Escrever é
divertido
0,00% 8,30%
83,30%
8,30%
% de alunos
57
Gráfico nº 10- O que te levaria a escrever mais
N=12
Verifica-se que quase a totalidade das crianças dize que escreveriam mais se a escola os
encorajasse. Depois segue-se a afirmação que diz que escreveriam mais se achassem mais
fácil. Com estes dados dá para perceber que a escola não estará a incentivar da melhor forma
estas crianças para a escrita, e também o quanto é necessário tornar o acto de escrever num
acto mais fácil.
Segue-se a questão: Que actividades gostarias de realizar a fim de te ajudarem a escrever
mais? Nesta questão as crianças poderiam seleccionar várias respostas.
Gráfico nº 11- Que actividades gostavas de realizar
N=12
Na escola pudesse escrever sobre
assuntos que me interessam
Eu soubesse o que deveria escrever Eu achasse o acto de
escrever mais fácil A minha escola me encorajasse mais
16,60% 33,30% 50,00% 91,60%
% de alunos
75,00%
8,30%
50,00%
0,00%
50,00% 70,00%
16,60% 16,60%
% de alunos
58
Pela leitura do gráfico 11, verifica-se que 75% das crianças gostaria de “escrever com
grupos de amigos”; 50% refere que gostaria de realizar actividades de “escrita através de
jogos” e “ajudar os alunos mais novos a escrever”. Esta questão fez-nos reflectir sobre as
formas de inverter algumas situações verificadas, nomeadamente aquelas que estão ao nosso
alcance: proporcionar actividades de escrita que fossem de interesse para as crianças, uma vez
que não queríamos que a escrita continuasse a ser uma obrigação para a maioria das crianças
(58%), como se pode verificar através das respostas à questão que se segue: Por que escreves?
Nesta questão as crianças também puderam escolher várias opções.
Gráfico nº 12- Porque escreves
N=14
Quando se questionaram as crianças, sobre o porquê de escreverem, 58,3% diz que isso
as ajudará a encontrar emprego e outras tantas, como já referimos, dizem escrever porque são
obrigadas. 50% das crianças afirmam que a escrita é uma competência para a vida. Através da
análise do gráfico percebemos que muitas crianças referiram que escrevem porque são
obrigadas, o que é preocupante. Todos desejamos uma escola com crianças motivadas,
participativas, que façam sem que para isso sejam coagidas. Apesar destas crianças assumirem
que escrevem porque são obrigadas consideram que é importante treinar a escrita uma vez que
perceberam através das suas vivências que é uma competência para a vida e as ajudará a
encontrar emprego.
É uma competência
para a vida Ajudar-me-á a
encontrar emprego Ajudar-me-á a
reflectir melhor sobre
o mundo
É divertido
Permite distrair-me
Sou obrigado
50,00% 58,30%
25,00% 25,00%
0,00%
58,30%
% de alunos
59
Depois de analisados os questionários as principais conclusões a reter são:
Metade das crianças (41,6%) gosta pouco de escrever, mas 91,6% dizem que
gostariam de escrever mais;
Consideram que escrever é importante;
Dizem que escreveriam mais se a escola as encorajasse e se achassem o acto de
escrever mais fácil;
Gostavam de escrever com o grupo de amigos, realizar jogos de escrita e organizar
exposições com os trabalhos realizados;
Dizem ainda que escrevem porque são obrigadas, mas sabem que a escrita é uma
competência para a vida e que o seu domínio vai capacitá-las para um dia
conseguirem um trabalho.
2. Acção Educativa
Apresentámos, de seguida, as actividades desenvolvidas ao longo da prática de ensino
supervisionada, tendo-se em atenção o programa de 1º Ciclo do Ensino Básico. Pretendemos
fundamentadas na literatura, promover o gosto pela escrita a partir de propostas que apelassem
ao envolvimento da criança no processo de escrita.
Escrita em grupo
Esta tarefa envolveu várias sessões que ocorreram em momentos diferentes ao longo do
ano. Perspectivava-se o desenvolvimento de actividades de escrita em grupo, permitindo, desta
forma, a participação das crianças e momentos de partilha de saberes, com a intencionalidade
educativa de promoção dos seus registos escritos, através da elaboração e publicação de uma
história da sua autoria. De seguida faz-se a descrição dos procedimentos, por cada uma das
sessões.
Titulo: Semear uma história
Objectivos:
Escrever em grupo a partir de motivações lúdicas;
Praticar o aperfeiçoamento de textos produzidos e integrá-los em circuitos
comunicativos;
60
Material:
Vaso, sementes e terra, duende previamente feito em cartolina, quadro branco, folhas
brancas, lápis de cor, biblioteca escolar, gráfica Pires e Brás.
Procedimentos:
1ª Sessão - 19 de Março de 2010
Para iniciar o trabalho apresentámos oralmente a expressão “ Semear uma
história”.
De seguida pedimos às crianças que estabelecessem paralelismos entre as
diversas etapas da germinação de uma semente com a escrita de uma
história.
Depois do confronto de ideias em grande grupo, referiram-se as etapas da
germinação de uma semente e as etapas para se escrever uma história.
Após terem sido registados no quadro alguns aspectos referentes a uma e
outra etapa, distribuímos materiais (terra, vasos e sementes) para as crianças
realizarem as suas sementeiras.
Quando a tarefa anterior ficou concluída, apresentámos às crianças o início
de uma história “ Num reino encantado mesmo aqui ao lado, vive um
duende….”.
Apresentámos, de seguida, a personagem principal da história feita em
cartolina e explicámos que todas as crianças tinham que participar na
continuação da história.
Explicitada a tarefa passámos à negociação de regras para se criar a história
em grupo a partir da expressão apresentada.
Por fim, deu-se início à construção da história.
2ª /3ª Sessões - 28 de Abril e 10 de Maio de 2010
Após um breve diálogo sobre o texto construído, deu-se continuidade à
história em cada uma das sessões.
Durante o processo de escrita, o texto surgiu e foi melhorado com o
contributo de todos.
61
4ª Sessão - 10 de Maio
Terminado o texto procedeu-se à sua leitura integral.
De seguida pediu-se às crianças que escolhessem um título para a história e
que o escrevessem num cartão previamente distribuído. Os títulos apresentados
pelas crianças foram escritos no quadro e votados por todo o grupo.
5ª/6ª Sessões – 10/12 de Maio de 2010
Depois do texto concluído e o título escolhido passámos à parte da
ilustração. Pedimos, nestas sessões que as crianças desenhassem partes da
história.
7ª Sessão - 12 de Maio de 2010
Concluído o trabalho de escrita e de desenho dialogámos com as crianças
sobre as etapas seguintes (construção da capa, contracapa, editora e
impressões) e negociámos alguns aspectos gráficos do livro.
8ª Sessão – 3 de Junho de 2010
Nesta sessão apresentámos a história às crianças em formato de livro, impresso
numa gráfica.
De seguida, estabeleceram-se diálogos sobre o livro e realizou-se um plano de
intervenção para a turma apresentar a obra (Biblioteca Escolar do Agrupamento e
turmas de 1º Ciclo do Ensino Básico).
Nesta fase, as crianças contactaram com a professora bibliotecária a fim de
solicitarem o espaço para o “lançamento” do livro. Realizaram-se, ainda,
cartazes e convites que se distribuíram pelos órgãos de gestão e turmas.
9ª Sessão – 6 de Junho de 2010
Nesta sessão, relembrou-se o plano de intervenção construído anteriormente
(função de cada um dos elementos da turma) para a divulgação junto da
comunidade escolar da obra e procedeu-se à sua apresentação na Biblioteca
Escolar.
Após a apresentação, regressámos à sala e reflectimos em grande grupo
sobre o trabalho desenvolvido;
62
Instrumentos de recolha de dados:
Observação directa
“Semear uma história” surgiu da necessidade de desenvolver actividades que exigissem
o envolvimento de todas as crianças, com base na pedagogia da participação. Achámos
interessante a escrita de um texto em situação de grupo, no sentido de promover uma troca de
experiências interdisciplinares, provocando desta forma discussão, partilha e reflexão sobre
aspectos da linguagem escrita. Isto porque concordamos com (Gil e Bellmann (1999)
Azevedo, (2000); Condemarín e chadwick, (1987) quando referem que a escrita criativa é
registada principalmente em grupo e, também, porque no questionário de diagnóstico aquando
da questão “ Que actividades gostavas de realizar a fim de te ajudarem a escrever mais? as
crianças demonstraram vontade de escrever com o seu grupo de amigos.
No dia em que as crianças foram confrontadas com a possibilidade de se trabalhar a
escrita através de um processo colectivo, notou-se logo uma grande motivação por parte
destas. Inicialmente foram incentivadas a estabelecer relações entre a expressão “Semear uma
história” e o “semear de sementes”. Os diálogos que surgiram permitiram-nos perceber que
concepções e representações possuíam estas crianças sobre a germinação, desenvolvendo-se
mais tarde actividades ao nível do ensino experimental. Demos, nestas actividades
experimentais, especial enfoque à questão das concepções alternativas sobre conceitos-chave
subjacentes à germinação que, posteriormente, foram envolvidos para a realização de outras
aprendizagens. Relevámos, também, o aparecimento de diferentes expectativas, como por
exemplo, a colocação de hipóteses e a descoberta de novas aprendizagens. Assim, um vaso,
umas sementes e terra serviram de estratégia para que as crianças se sentissem envolvidas e
percebessem metaforicamente o crescimento de uma história. As crianças responderam com
entusiasmo ao desafio proposto. Perceberam a intenção da actividade e o que se pretendia que
elas fizessem.
Seguiu-se a apresentação daquele que seria o início da história “Num reino encantado
mesmo aqui ao lado, vive um duende.…”. Apresentou-se também uma imagem que
representava a personagem desta história (duende) como se pode observar através da fig.4.
63
Fig.4- Painel alusivo
No sentido de todos possuírem mais conhecimentos acerca desta personagem mítica,
efectuámos pesquisas na internet e deslocámo-nos à biblioteca escolar para consultar
bibliografia.
Depois de todas as crianças possuírem informação sobre estes seres (duendes), já na
sala, começou a ouvir-se um burburinho pois, todos estavam a tentar dar um rumo à história.
Notou-se também que criaram uma certa empatia pelo duende. Algumas crianças especulavam
sobre as características físicas e psicológicas do duende, dizendo: “ O duende é um feiticeiro
muito pequenino e bom”; “O duende é um mágico”; “ Os duendes fazem coisas boas”; “ Este
duende deve ser amigo das crianças”; “Já viste as orelhas do duende?”, etc. Todas estas
expressões iam sendo registadas no quadro, pois poderiam vir a ser úteis para o
desenvolvimento da história.
Aproveitando a empatia das crianças pelo duende, sugerimos que lhe fosse atribuído um
nome. Depois de muitos nomes propostos, chegou-se a um consenso e o duende foi
“baptizado” de Benjamim. De seguida, em grande grupo, negociámos e estabelecemos regras
que nos permitiram trabalhar a escrita em grupo. Ficou decidido que através de sorteio seria
64
seleccionada uma criança por semana a fim de escrever um excerto da história para ser
apresentado à turma. À Sexta-feira o aluno sorteado trazia o texto, este era escrito no quadro,
lido, analisado e corrigido por todos, tal como nos sugerem Santana, (2005). Todas as semanas
ia sendo sorteada uma criança diferente. A criança sorteada trazia o texto de casa e este ia
sendo escrito no quadro. Esta forma de actuação teve em linha de conta as palavras de Gil e
Bellmamn, (1999); Santana, (2005); Azevedo, (2000) e Barbeiro e Pereira (2007) quando
referem que os textos poderão ser escritos em casa e depois lidos nos encontros em grupos.
Muitas foram as vezes que voltámos atrás, que revimos e corrigimos o que estava escrito, pois
como nos diz Santos e Santos, (2009), a avaliação dos textos elaborados, no âmbito da escrita
criativa deve ser feita em conjunto, professor/aluno, sempre numa perspectiva construtiva,
com sugestões dos colegas, em grande grupo, para o aperfeiçoar. Como algumas crianças não
traziam a continuação da história, a uma dada altura, renegociámos as regras e optámos por
continuá-la em grupo na sala de aula, através do contributo de todas.
Através de expressões que surgiram ao longo da construção da história, tais como: “
Bruxa Cartuxa”, “Ceptro carunchoso”, “Sapo amarelo florescente”, pudemos perceber a
influência que as leituras das obras de literatura para a infância exploradas em contexto sala de
aula, tiveram no enriquecimento das suas experiências e vocabulário. Ferreira e Fernandes,
(2007) e Balça, (2007) referem que a leitura de histórias promove uma grande variedade de
competências nas crianças. Durante a sua leitura, estas aprendem sobre a estrutura da língua
escrita, sobre o material impresso nos livros e desenvolvem o vocabulário.
Quando chegámos ao final da história a turma atribuiu-lhe um título. Cada uma das
crianças sugeriu um título que registou no quadro, fazendo-se depois uma votação para
escolher um dos títulos propostos. As crianças sugeriram uma grande variedade de títulos para
a história que tinha nascido e que todos ajudaram a crescer. Evidenciou-se, desta forma,
fluência e flexibilidade nas respostas ao desafio apresentado que são critérios que Nogueira e
Baia (s/d) identificam como características de criatividade. Muitos foram os títulos: “A fada
Ana”; “O Duende Benjamim”; “A fada Ana e o duende Benjamim”; “O duende”; “A fada Ana
e os meninos”; Benjamim e os poderes mágicos desaparecidos”; “A aventura dos meninos da
Escola 1,2 da Torre D. Chama” e “O reino encantado do duende Benjamim”. Os títulos
propostos surpreenderam-nos, considerando que todos foram muito sugestivos. A escolha foi
difícil, mas depois de alguma divergência de opiniões as crianças chegaram a um consenso. O
65
título vencedor foi “ Benjamim e os poderes mágicos desaparecidos”. Os títulos sugeridos
primaram pela originalidade, critério a ter em conta na escrita.
De seguida recordámos os elementos paratextuais das obras de literatura para a infância
e passamos à selecção do nome da editora. Quando o desafio foi lançado à turma, houve um
aluno que muito rapidamente avançou um nome, “Planeta ervilha”. Os restantes elementos da
turma gostaram e ficou decidido que a editora teria esse nome. Questionou-se a criança sobre
esta opção, ao que ela respondeu que se inspirou no nome da editora do livro “Coração de
Mãe”, que era “ Planeta Tangerina”. Ficámos contentes, pois percebemos que, mais uma vez,
o trabalho feito anteriormente ia gerando alguns frutos.
Ao analisarmos e reflectirmos sobre todo o trabalho realizado, percebemos que a história
que as crianças escreveram apresentava uma estrutura semelhante à dos contos que estas
estavam habituadas a ouvir e a ler. Esta apresentava uma situação inicial, “Num reino
encantado mesmo aqui ao lado, vivia um duende chamado Benjamim”, depois surgiu a intriga,
ou seja, surgiu um acontecimento que arruinou a harmonia porque “a bruxa Cartuxa (…)
arranjou forma de tirar todos os poderes ao Benjamim” e finalmente, após a transposição de
várias adversidades instala-se a ordem que se comprova através do discurso “O Benjamim
recuperou os seus poderes mágicos”. Por outras palavras, as crianças reconhecem que no dia-
a-dia existem obstáculos que é necessário ultrapassar e que, muitas vezes, torna-se necessária
a ajuda de outras pessoas. Nesta história verifica-se, também, a necessidade do herói enfrentar
provas, ultrapassando os obstáculos com ajuda de seres míticos “Que com a sua varinha
mágica, tirasse os poderes mágicos à bruxa Cartuxa”. Sustentadas em Nogueira e Baia (s/d)
consideramos que esta história integra outros elementos de criatividade, nomeadamente: o
humor - onde o exagero é evidenciado na expressão: “Lá ficaria petrificada até que um sapo
amarelo florescente lhe desse um beijo”; na vivacidade - onde as destrezas e artimanhas se
observam na expressão: “A Cartuxa era muito desastrada (…) deixou cair o seu ceptro
carunchoso e este partiu-se em mil bocadinhos”; nos nomes inventados – onde se salienta
originalidade: “sapo amarelo florescente” e “bruxa Cartuxa”; no elemento pessoal – onde se
evidenciam aspectos relacionados com a realidade vivida no quotidiano: “meninos e meninas
da Escola Básica 1,2 da Torre Dona Chama” e “ fada Ana”.
66
Depois deste longo percurso surgiu o produto final: um livro que foi impresso numa
gráfica. Imprimiram-se 22 exemplares (vide anexo 4) ficando cada criança com um e as
restantes foram distribuídos pela professora titular de turma e pela Biblioteca Escolar. As
manifestações de alegria eram bem visíveis nas atitudes e nos rostos das crianças, como
podemos constatar através das figuras 5 e 6.
Figs.5/6- As crianças a manipularem o livro
As atitudes e os comentários que teceram quando viram os livros levaram-nos a inferir
que elas nunca acreditaram que poderiam ter um livro editado com a história que eles próprios
escreveram. Organizámos, ainda, o lançamento do livro na Biblioteca Escolar. Aquando da
apresentação da história, às turmas do agrupamento, constatámos que estas irradiavam
felicidade por lhes ter sido dada a oportunidade de poderem partilhar com os colegas do
Agrupamento o trabalho que tinham realizado, como se pode observar através da figura 7.
Fig.7- Apresentação do livro a uma turma
67
Todo o trabalho desenvolvido foi ao encontro dos interesses das crianças, pois no
questionário de diagnóstico, quando responderam à questão “ Que actividades gostarias de
realizar na área da escrita?”, estas expressaram com alguma evidência a vontade de integrar os
seus textos em circuitos comunicativos (Azevedo, 2000; Santana, 2005).
Esta tarefa realizada em várias sessões permitiu-nos desenvolver competências a nível
da leitura e da escrita. Foi também nosso objectivo proporcionar às crianças experiências que
lhes proporcionassem perceber que uma história pode surgir das contribuições individuais,
colectivas e imaginadas, e que, por vezes, pode demorar muito tempo até estar concluídas,
pois a escrita é um processo demorado, sendo necessário planear, escrever e rever. Muitas
foram as horas dedicadas a esta tarefa mas no final, acreditámos que valeu a pena.
Ao longo das actividades que se foram desenvolvendo em grupo, para a construção desta
história, sentimos necessidade de implementar estratégias de escrita individual para que a
criança tivesse a oportunidade de exprimir, por si só, sentires e vivências que ia construindo
neste percurso de partilha e reflexão.
Escrita livre com tema
Nesta proposta de escrita livre com tema, perante as várias possibilidades que se
afiguram como promotoras do desenvolvimento da escrita, optámos por recorrer à escrita de
biopoemas no sentido de orientar a criança e possibilitar-lhe temas que lhe são próximos, tal
como se relata.
Titulo: Escrita de biopoemas
Objectivos:
Identificar palavras-chave;
Descrever pessoas utilizando adjectivos;
Escrever textos mediante proposta;
Rever os textos, com apoio do professor.
Material:
Computador, data show, Folhas brancas, Lápis de cor;
Procedimentos:
Iniciámos esta sessão com a apresentação do livro “Diversidade” de Tatiana
Belinky;
68
Estabeleceu-se um diálogo com as crianças sobre a imagem da capa;
Após o diálogo fez-se a leitura da história, através da sua projecção em
PowerPoint;
Procedeu-se à escrita no quadro das palavras-chave da história;
Distribuiu-se um esquema de um biopoema que continha os seguintes tópicos:
nome (só)..., sou…, gosto de…, Sinto-me ..., preciso de…, gostava de…, vivo
em…, apelido;
Pediu-se a cada criança que construísse o seu biopoema seguindo instruções;
Correcção dos biopoemas em grande grupo;
Ilustração do mesmo.
Instrumentos de recolha de dados:
Observação directa
Grelhas de observação
A escrita dos biopoemas foi um dos primeiros textos que as crianças produziram. Esta
forma de escrita constituiu-se como um exemplo de escrita orientada com tema. Como
motivação foi lida uma história intitulada “Diversidade” de Tatiana Belinky. Esta falava de
diferentes meninos e meninas, das suas características, emoções, das coisas que gostavam e
das coisas que não gostavam. A actividade escrita passou pela distribuição de uma estrutura de
um biopoema que as crianças teriam de completar. O biopoema tinha uma estrutura simples,
com tópicos de escrita. Cada linha continha o início de um verso com o intuito de tornar a
escrita mais fácil, interessante e motivadora.
A escrita dos biopoemas tinha que obedecer à seguinte estrutura:
Nome (só)__________________________
Sou _______________________________
Gosto de___________________________
Sinto-me___________________________
Preciso de__________________________
Gostava de_________________________
Vive em___________________________
Apelido___________________________
69
O facto de haver uma estrutura facilitou a escrita, pois as crianças já tinham um começo
delineado. No entanto, verificou-se que estas crianças demonstraram alguma resistência para a
escrita, uma vez que iam fazendo alguns comentários, tais como: “Vamos escrever!”; “Eu não
consigo!”; “O que temos que fazer professora?”; “Eu não vou conseguir”. As crianças,
especialmente aquelas que tinham mais dificuldade ao nível da correcção ortográfica não se
sentiam muito à vontade para realizar actividades de escrita. Notámos que estavam habituadas
a ver os seus textos com muitas correcções a vermelho e pensavam elas que esta seria mais
uma oportunidade de o professor assinalar os erros. Por tal, explicámos que ninguém saberia
dos erros dados nesta tentativa de escrita, mantendo, desta forma, o anonimato de quem deu os
erros (Maya, citado por Condemarín e Chadwich, 1987). Os biopoemas foram corrigidos e,
cada criança, teve a oportunidade de ler em voz alta para os colegas. Notou-se que a história
lida anteriormente ajudou na tarefa da escrita, pois as crianças recorreram a algum vocabulário
do texto (Balça, 2007; Azevedo, 2000). No final, registou-se numa grelha de observação o
desempenho das crianças. Esta avaliação de desempenho foi feita com base na seguinte escala:
Fraco, Não Satisfaz, Satisfaz e Satisfaz Bastante. Os dados dessa grelha foram organizados
num gráfico que a seguir se apresenta uma vez que este nos permitiu uma melhor leitura do
desempenho das crianças nesta actividade.
Gráfico nº13- Registo de observação 1
N=12
De uma forma geral todas as crianças tiveram um desempenho satisfatório. Inferimos
através do gráfico que a categoria onde as crianças tiveram mais dificuldade foi na “escreve
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Escreve com
clareza
Organiza a
informação
Escreve com
originalidade
Expressa emoções
0 0 0 0
4
0 0 0
3
6
8
3 3
2
3
5
2
4
0
2
Nº
de a
lun
os
Fraco Não satisfaz Satisfaz Satisfaz Bastante Excelente
70
com clareza”, sendo que quatro das crianças tiveram alguma dificuldade. Na categoria
“organiza a informação”, as crianças tiveram um bom desempenho que se deveu ao facto do
biopoema ter uma estrutura predefinida. Na categoria “escreve com originalidade”, referiram-se a
coisas muito pessoais, o que não permitiu serem muito originais.
As crianças conseguiram expressar as suas emoções como se pode observar através dos
seus discursos, dos quais salientamos os seguintes registos:
- “ Tenho medo de morcegos e aranhas”;
- “Gostava de ser futebolista”;
- “Tenho medo de lobos e cães”;
- “ Gostava de andar de moto”;
- “Não tenho medo de nada”;
- “Tenho medo que me magoem”;
- “Sinto-me bem e feliz”;
- “Sinto-me feliz, mas triste às vezes”;
- “Sinto-me feliz”;
- “Preciso de melhorar o meu comportamento”;
- “Sou diferente dos meus colegas”;
- “Sou bonito”.
Com algum incentivo e ajuda, as crianças foram conseguindo, ultrapassar alguns
bloqueios. Conscientes que a escrita exige treino e que é necessário proporcionar várias
actividades para que a criança a exercite optámos por criar oportunidades de escrita sobre
aquilo que ela sabe e conhece através das relações que estabelece no dia-a-dia. Assim, a
imagem, na sessão que apresentamos de seguida, constituiu-se como meio facilitador da
escrita.
Escrita através de imagens
Sendo o pai um dos elementos da família com quem a criança se identifica e se
relaciona, resolvemos, nesta sessão de escrita através de imagens, proporcionar actividades de
escrita individual onde as crianças tiveram a oportunidade de relatar momentos de
cumplicidade e lazer que já vivenciaram com a figura paternal. De igual forma, relatamos de
seguida os procedimentos tidos em consideração para o seu desenvolvimento.
71
Titulo: Escrita de um texto através de uma imagem
Objectivos:
Escrever textos mediante proposta;
Escrever legivelmente, com correcção ortográfica e gerindo correctamente o espaço da
página;
Material:
Computador, Data show, Livro “Pê de Pai;
Procedimentos:
Apresentação da história “Pê de Pai”;
Leitura da história;
Pediu-se a cada criança que escolhesse um dos slides da
história e tentasse partir daí para a construção de uma história ou rima (aquilo que eles
preferissem);
Correcção dos textos em grande grupo;
Ilustração da história ou das rimas;
Cada criança escreveu o respectivo texto corrigido e fez a sua ilustração;
Instrumentos de recolha de dados:
Observação directa
Grelha de observação
A história “Pê de Pai” foi a escolhida para este dia uma vez que se festejava o Dia do
Pai. O objectivo principal desta sessão foi trabalhar a relação pai/filho e convidar as crianças a
reflectir sobre as relações que mantêm com o seu pai, dando-lhes a oportunidade de relatar as
suas vivências e brincadeiras, bem como as demonstrações de afecto com o seu progenitor.
Esta sessão culminou com a escrita de um texto através de uma imagem do livro que cada uma
seleccionou. O livro foi mostrado às crianças explorando-se o título, capa, contracapa,
lombada, ilustração, ilustrador e editora. As crianças começaram por falar acerca da capa,
identificando na ilustração o pai e o filho. Anteciparam-se acontecimentos através da análise
da capa e elementos que compõem o livro (Sousa, 2007; Balça, 2007; Lopes, 2009). Depois
interrogaram-se as crianças sobre as brincadeiras que mais gostavam de fazer com o seu pai.
72
As respostas mais frequentes foram: “trabalhar com ele”; “jogar futebol”; “passear”; “andar às
cavalitas”; “ver televisão”. De seguida iniciou-se a leitura da história. Algumas imagens
provocaram sorrisos, outras originaram expressões de admiração. No geral as crianças
estiveram muito atentas à história. No final, foram questionadas sobre se seriam capazes de
contar novamente a história, a resposta foi unânime e positiva. Desenvolveram-se, assim,
competências comunicativas. Fez-se, então, uma revisão às imagens da história e notou-se que
as crianças conseguiram descrevê-las. De acordo com Colomer e Duran, as crianças
necessitam de aprender a ler as imagens do mesmo modo que necessitam de aprender a ler o
texto (citadas por Balça, 2007). De uma maneira geral, todas participaram na descodificação
das mensagens implícitas dos vários tipos de “Pais” que apareceram na história. Chegou,
depois, o momento de cada criança escolher uma das imagens da história para, a partir dela,
construir um texto. Considera-se que é importante proporcionar “escrita” a partir de um livro
de literatura para a infância, ou seja, dá-se a possibilidade de “colocar os alunos a falar dos
textos com as suas próprias palavras” (Pereira, citado por Balça 2007:135). Algumas crianças
ficaram empolgadas com a ideia de escrever a partir de uma imagem e todas escolheram
aquela com que mais se identificavam. No gráfico seguinte apresenta-se a forma como as
crianças se comportaram neste processo de escrita.
Gráfico nº14- Registo de observação 2
N=12
0 0 0 0
5 5
0 0
4 4
6
2 2
3
4
3
1
0
2
7
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Escreve com clareza Organiza a informação Escreve com
originalidade
Expressa emoções
Nº
de a
lun
os
Fraco Não Satisfaz Satisfaz Satisfaz Bastante Excelente
73
Numa observação mais atenta do gráfico podemos verificar que as crianças, na categoria
“escreve com clareza”, revelaram alguma dificuldade, pois, apesar dos diálogos que se
estabeleceram acerca da história, nomeadamente das imagens, verificámos que a escrita do
texto não foi uma tarefa fácil. Algumas revelaram resistência interior e manifestaram algumas
expressões de desalento. Em geral as crianças conseguiram exprimir-se oralmente, apesar do
vocabulário ser muito pobre. Contudo, pensamos que transformar o discurso oral em escrita,
ainda que pobre, se torna profícuo. A “organização da informação”, pelo mesmo motivo,
também não teve um grande desempenho por parte das crianças. Quanto à “originalidade” as
crianças conseguiram resultados bastante satisfatórios e, para tal, contribui a exploração da
história. Tal comprova-se na expressão: “O meu pai é doce como o chocolate”.
Na categoria “expressa emoções” as crianças tiveram um bom desempenho. Nestes
pequenos textos muitas das crianças falaram de acontecimentos que verdadeiramente se
passaram consigo e com o seu pai, estando, desta forma, presente o elemento pessoal que
Nogueira e Baía (s/d) falam como critério de criatividade. Tal ocorrência está presente em
expressões como:
“Naquele dia o meu pai… verdadeiro herói”
“Nesse dia brincou muito comigo”
“Os dois passaram um dia feliz”
“O meu pai naquele dia foi um grande amigo”
“O meu pai Carlos ajudou-me e levou-me muito rápido ao médico”
As crianças no seu dia-a-dia valorizam os pequenos gestos de afecto e carinho que os
seus progenitores têm para com elas. Quisemos, também, dar-lhe a possibilidade de escrever
sobre a mãe. Apresentamos de seguida as actividades que contextualizam a sessão de escrita
de um acróstico a partir da palavra mãe.
Escrita livre com tema
Tal como na sessão anterior, também consideramos que escrever sobre a mãe se trata de
um tema acessível e que todas as crianças têm muito para dizer sobre ela. No entanto, exprimir
através da palavra escrita pode tornar-se mais difícil. A história “Coração de mãe” serviu
74
como o impulsionador do diálogo e de escrita. De seguida, expressam-se os procedimentos
que deram origem à escrita livre com tema.
Titulo: Escrita de um acróstico
Objectivos:
Desenvolver o raciocínio lógico e a criatividade na escrita;
Construir acrósticos;
Material:
História “Coração de mãe”, Data Show e Computador, Fio de lã, Papel de várias cores,
Folhas A4 branco e lápis de cor;
Procedimentos:
Apresentação da história “Coração de Mãe”;
Diálogo sobre alguns elementos paratextuais da obra;
Leitura da história;
Exploração oral da história;
Realização de um jogo que consistiu na passagem de
um novelo de lã, de criança em criança, de modo a formarem uma teia que
simbolizava a ligação dos filhos à mãe. Para que a passagem do fio se
realizasse as crianças tinham que dizer sentimentos/emoções que ligavam as
mães aos filhos;
Realização de uma dobragem (origami) de um coração, por parte de todas as
crianças;
Cada criança escreveu na dobragem o sentimento que disse anteriormente no
jogo;
Realização de um painel;
Propôs-se às crianças que escrevessem um acróstico com o nome “mãe”;
Correcção dos acrósticos com a palavra “mãe”;
Ilustração dos mesmos;
Leitura para a turma de todos os acrósticos.
75
Instrumentos de recolha de dados:
Observação directa
Grelha de observação
A aula iniciou-se com a apresentação do livro “Coração de Mãe” de Isabel Martins e
Bernardo Carvalho. A exploração desta história surgiu em função das comemorações do Dia
da Mãe. As crianças rapidamente encontraram semelhanças entre este livro e “Pê de Pai” que
já tinha sido trabalhado na sala. A primeira característica que identificaram como sendo igual
ao “Pê de Pai” foi a editora, talvez porque esta tem um nome bastante apelativo (Planeta
Tangerina). Ficamos bastantes satisfeitas quando verificámos que as crianças ainda se
recordavam da história anterior.
O título “Coração de mãe” foi logo objecto de reflexão. Perguntámos às crianças se
sabiam o que era o coração. Estas tiveram alguma dificuldade em falar deste órgão do corpo
humano. Procurámos, então, localizá-lo no corpo humano e falar um pouco acerca da função
que este desempenha.
Após a leitura da história fez-se o reconto. As crianças ficaram muito animadas com as
imagens e com o texto escrito. Verificámos que as crianças estavam entusiasmadas e
interessadas, pois participaram activamente na descodificação das mensagens, atribuindo
significado ao texto icónico e ao texto escrito. Segundo Balça (2000) “a dimensão estético-literária,
possibilitada pela conjugação entre o código escrito e o código plástico presente no
livro de literatura, que permite às crianças múltiplos olhares e interpretações plurais
sobre os textos, fundamentais para o desenvolvimento do seu espírito crítico face ao mundo”
(p.132). Propusemos, ainda, às crianças, a realização de um jogo. Este consistia na passagem
de um novelo de lã, de criança em criança, de modo a se formar uma teia que simbolizaria a
ligação dos filhos à mãe. Para que essa passagem acontecesse as crianças tinham que
enumerar sentimentos/emoções que as ligavam às suas mães. As crianças participaram com
entusiasmo e algumas até pediram o novelo mais que uma vez. Quando se deu por terminado o
jogo, a teia formada entre todas as crianças constituiu-se como um elo de ligação entre todos
os sentimentos/emoções revelados. De seguida, distribuímos uma folha branca por cada
criança e referimos que iríamos elaborar uma dobragem (origami) de um coração (vide fig.8).
76
Fig. 8- Dobragem
Relembraram-se alguns conceitos de geometria nomeadamente de rectângulo, quadrado
e triângulo. Durante o processo algumas crianças tiverem bastantes dificuldades, apesar desta
dobragem ser simples. Mas houve, no entanto, duas das crianças que nos surpreenderam
conseguindo fazer outro imediatamente a seguir.
Depois de feitas as dobragens as crianças escreveram o sentimento que tinham dito no
jogo anterior. Com os elementos (lã, dobragens) fez-se um painel alusivo à história, como se
pode observar na figura 9.
Fig.9- Painel
77
Na aula seguinte relembrou-se a história e explicou-se uma técnica de escrita criativa- os
acrósticos. Estes, sendo uma composição poética cujas letras iniciais, médias ou finais dos
versos formam certas palavras, constituíram-se como um desafio para as crianças. Foi a partir
da palavra “Mãe” que as crianças construíram o seu poema. A ideia com a escrita dos
acrósticos era criar um constrangimento que funcionasse como um desafio para a escrita. As
crianças, perante as iniciais da palavra “mãe”, tinham de percorrer um caminho diferente do
que habitualmente percorriam, em termos de escrita. Tal ideia foi sustentada por alguns dos
autores que constam da fundamentação teórica deste trabalho (Gil e Bellmann, 1999). Os
dados obtidos após a análise da grelha de observação encontram sistematizados no gráfico
seguinte.
Gráfico nº 15- Registo de observação 3
N=12
Da leitura do gráfico percebe-se que as crianças, de uma maneira geral, tiveram um bom
desempenho. Na categoria “escreve com clareza” as crianças foram avaliadas quase todas com
“Satisfaz Bastante” e “Excelente”. Tal facto deveu-se à exploração da história e à quantidade
de sentimentos/emoções que foram expressos oralmente pelas crianças durante o jogo. A
categoria “Organiza a informação” foi uma das que obteve os melhores resultados, pois quase
todas as crianças tiveram “Excelente”. Para tal, contribuiu a escrita em forma de acróstico. A
categoria “Expressa emoções” foi também cotada com uma avaliação mais do que satisfatória,
uma vez que 10 crianças tiveram “Excelente”, assim como a categoria “Escreve com
originalidade”. Salientamos alguns exemplos de acrósticos que podem esclarecer melhor este
tipo de avaliação (vide fig.10).
0 0 0 0
2
0
2
0
5
2
5
2
5
10
5
10
0
2
4
6
8
10
12
Escreve com clareza Organiza a
informação
Escreve com
originalidade
Expressa emoções
Nº
de a
lun
os
Não Satisfaz Satisfaz Satisfaz Bastante Excelente
78
Fig.10- Exemplos de acrósticos
O resultado final foi bastante interessante, uma vez que até as crianças com mais
dificuldades conseguiram escrever o acróstico, o que entendemos resultar do facto destas
terem uma orientação para a escrita, tal como aconteceu com os biopoemas.
De seguida optámos por trabalhar rimas, palavras palíndromas e descobrir palavras
dentro de palavras. Estes jogos de descoberta e reflexão sobre as palavras poder-se-iam
constituir como desbloqueadores da escrita. Neste sentido, desenvolvemos actividades de
escrita livre com tema a partir de uma palavra.
.
Escrita livre com tema
A magia das palavras permitem-nos (des)construir conceitos que estão para além do seu
significado. A história “Mago Goma” possibilitou-nos transportar as crianças para o mundo do
nonsense e realizar jogos de leitura e escrita. Propusemos, mais uma vez, a escrita livre com
tema, tal como se descreve.
Titulo: Escrita de rimas
Objectivos:
Escrever textos a partir de uma palavra
Material:
Livro “ Mago Goma”, envelopes, folhas brancas, lápis de cor e fichas policopiadas.
79
Procedimentos:
Apresentação da história “Mago Goma” de Toño
Núñez e Adrià Fruitós;
Diálogo sobre alguns elementos paratextuais da
obra;
Pediu-se às crianças que identificassem as sílabas
das palavras que formavam o título do livro "Mago
Goma";
Levaram as crianças à descoberta das palavras “mago” e “goma”;
Levantamento de hipóteses sobre o conteúdo do livro;
Leitura da história;
Exploração oral da história;
Distribuição de envelopes que continham as palavras das quadras escritas em
tiras, pelas crianças, para que estas, a par, reconstruíssem as respectivas quadras;
Leitura a par das quadras reconstruídas;
Descoberta das palavras que rimavam;
Realização de jogos de rimas: O grupo sentava-se em duas filas, uma em frente
à outra. Os jogadores de uma das filas diziam uma palavra da história à qual a
criança que estava em frente teria de dar resposta com outra palavra que rimasse
com aquela;
Escrita no quadro das palavras;
Propôs-se às crianças que se imaginassem autores do livro “Mago Goma” e que
caracterizassem o Mago de outra forma, fazendo um texto em rima;
Correcção das rimas;
Ilustração das rimas;
Observação das palavras Mago e Goma;
Construção de outras palavras, utilizando somente as letras destas duas palavras;
Diálogo sobre palavras palíndromas (palavras que se lêem da direita para a
esquerda e da esquerda para a direita) e de palavras que moram dentro das
palavras;
80
Iniciámos a apresentação do livro “Mago Goma”. Através da observação das palavras
que formavam o título, as crianças foram incentivadas a descobrir que há palavras que contém
o mesmo número de sílabas e as mesmas sílabas também se lêem de forma diferente e têm
significados diferentes. Foi motivador observar as reacções das crianças, pois elas gostaram de
descobrir uma nova forma de brincar com as palavras. Neste jogo de palavras as crianças,
rapidamente, chegaram a outras palavras (Mala/Lama; Pata/Tapa) que se designam de
palíndromas. Quando distribuímos envelopes com as frases das quadras da história,
percebemos que as crianças não tiveram dificuldade. Este facto deveu-se essencialmente à
atenção que prestaram às quadras. A rima também não era algo de novo, visto que já tinha
sido trabalhada em aulas anteriores. A realização do jogo de rimas foi, por isso, algo que elas
fizeram com alguma facilidade e entusiasmo. Quando propusemos a escrita de rimas com base
no livro a aceitação foi imediata. Seguindo Balça (2007) comprovamos que é através da
“expressão escrita que as crianças podem fruir, expor e partilhar olhares, sentimentos,
Realização de jogos com palavras: a partir de palavras do texto (fenomenal;
espectacular; amarela; despistado; felicidade...) convidaram-se as crianças a
descobrirem outras palavras; cada criança tinha uma grelha onde registava as
palavras que descobria a partir de uma palavra dada.
Construção de um texto ou frases com as palavras descobertas.
Instrumentos de recolha de dados:
Observação directa;
Grelha de observação.
81
sensações, ideias em redor do texto literário, ou seja, podem fazer leituras plurais e pessoais do
texto” (p.136). No gráfico seguinte representa-se, numa escala de Fraco a Excelente, a forma
como as crianças se comportaram perante as actividades propostas.
Gráfico nº 16- Registo de observação 4
N=12
Através da leitura do gráfico percebemos que o desempenho das crianças foi satisfatório.
As categorias “escreve com clareza” e “organiza a informação”, foram as únicas onde as
crianças tiverem a avaliação de “não satisfaz”. Pensamos, desta forma, que a rima não era,
para estas crianças, uma técnica de escrita muito fácil, principalmente neste caso, pois foi-lhes
pedido que construíssem uma quadra. Contudo, na construção das rimas as crianças revelaram
originalidade, o que se evidência no gráfico n.º 16 e nos exemplos que, de seguida, se
apresentam:
Fig.11- Exemplos de rimas
0 0 0 0
2 2
0 0
3 3
4 4
3 3
4 4 4 4 4 4
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
Escreve com clareza Organiza a informação Escreve com
originalidade
Expressa emoções
Nº
de a
lun
os
Fraco Não Satisfaz Satisfaz Satisfaz Bastante Excelente
82
Sobre esta actividade consideramos que a sequencialidade ritmada com que as quadras
aparecem na obra “Mago Goma” e o jogo de leitura e escrita a que obriga, possibilitou às
crianças, como se observa na figura anterior, encontrarem sentidos para os textos que criaram,
também eles construídos através de rimas.
Escrita livre sem tema
Nesta proposta de escrita, embora se tivesse constituído numa escrita livre sem tema,
pretendíamos orientar as crianças no sentido de escreverem a partir de determinadas
orientações. Neste sentido, convidámos as crianças à escrita, mas a partir de um guião. Estas
poderiam escolher uma de entre as diferentes personagens que conheciam das obras
anteriormente exploradas e elaborar um mapa conceptual, mas dando resposta a um conjunto
de questões, tal como se anotam no seguinte registo.
Titulo: Escrita através de um guião
Objectivos:
Escrever textos a partir de uma esquema conceptual
Material:
Ficha policopiada, folhas A4 e lápis de cor;
Procedimentos:
Diálogo acerca das personagens que conhecíamos das várias histórias que fomos
lendo;
Entrega a cada criança de uma ficha policopiada com os seguintes itens: “Nome”,
“Data de nascimento”, “Sexo”, “Altura”, “Peso”, “ Nacionalidade”, “Morada”,
“Com quem vive”, “Comida preferida”, “Bebida preferida”, “ O que mais gostaria
de visitar”, “O que mais gosta de fazer”, “O que não gosta de fazer”, e “Outras
características”;
Explicitação da proposta de trabalho referindo-se que com estes itens podemos criar
uma personagem;
Convidou-se cada criança a preencher uma ficha, previamente elaborada;
Depois de preenchida a ficha com todas as características da personagem inventada,
83
convidaram-se as crianças a escrever um texto;
Revisão dos textos;
Ilustração do texto criado individualmente;
Leitura dos textos para a turma;
Reflexão sobre a actividade de escrita.
Instrumentos de recolha de dados:
Observação directa
Grelhas de observação
A aula começou com a explicação daquilo que se pretendia das crianças: “construção de
uma personagem”. Começámos com um diálogo acerca das personagens das histórias que eles
conheciam, as que mais gostaram, etc. Depois distribuímos uma grelha que continha vários
itens que as crianças tinham que preencher individualmente. Depois de preenchida a grelha,
foi pedido às crianças que escrevessem um texto. O desempenho das crianças foi registado
numa grelha de observação. No gráfico seguinte apresentamos os resultados da análise da
respectiva grelha.
Gráfico nº 17- Registo de observação 5
N=12
Na categoria “escreve com clareza” as crianças tiveram um bom desempenho, pois
verifica-se que dez, entre as doze crianças, obtiveram uma avaliação positiva. Na categoria
0 0 0 0
2 2
0 0
4 4
3 3 3
2
4 4
3
4
5
4
0
1
2
3
4
5
6
Escreve com clareza Organiza a informação Escreve com
originalidade
Expressa emoções
Nº
de a
lun
os
Fraco Não Satisfaz Satisfaz Satisfaz Bastante Excelente
84
“organiza a informação” as crianças também tiveram um bom desempenho. Pensamos que
facto se deveu essencialmente à existência da grelha e do seu preenchimento, uma vez que esta
serviu como planificação para a escrita. Já na categoria “escreve com originalidade” as
crianças tiveram um desempenho entre o “Satisfaz” e o “Excelente”. Das características que
Torrance e Torrance citados por Nogueira e Baía (s/d) evidenciam como elementos da
criatividade (qualidade do pitoresco, vivacidade, gosto, elemento pessoal, desfecho, ambiente
ou trama original, nomes inventados e humor), nas histórias inventadas, podemos destacar
alguns desses elementos, nomeadamente: (i) o humor – que se manifesta no exagero “Gostaria
de visitar o Museu dos Cães”; (ii) o elemento pessoal – “vive com o Srº Alexandre”; (iii) os
nomes inventados – “O chocolate é um cão”; e, (iv) a qualidade do pitoresco – “Vive na rua
do Amor”. Noutra história salientamos os seguintes elementos: (i) o humor – “Um grilo que
pesa 24 Kg e mede 1.35cm”; (ii) o elemento pessoal – “Mora na rua da travessa nº3
Rebordelo”; (iii) os nomes inventados – “grilo Bondoso”; (iv) a qualidade do pitoresco –
“Gostaria de visitar paisagens emocionantes”; e, (v) o ambiente ou trama original – “adora
vestir-se de homem –aranha”. Numa outra realçaram-se os seguintes elementos: (i) o humor –
“mágico que nunca fez magia”; (ii) o elemento pessoal – “tem 7 anos”; (iii) os nomes
inventados – “Mago Palhaçadas”; (iv) a qualidade do pitoresco – “adorava fazer um truque
com as cartas do baralho do pai”; e (v) o desfecho – “O mago não queria fazer magia e passou
a ser palhaço”. Mais ocorrências poderiam ter sido realçadas. Fica, no entanto, a ideia geral de
que as personagens inventados pelas crianças estiveram ligadas ao seu mundo, uma vez que
projectaram nesta personagem coisas que elas gostariam de fazer e experiências pelas quais
tinham passado. Notámos que a realização de um texto com uma planificação prévia foi uma
óptima solução, pois as crianças conseguiram, nesta actividade, escrever com qualidade e
textos mais extensos (com mais de doze linhas).
Escrita em grupo
Nesta proposta de escrita em grupo prendíamos que as crianças contactassem com outro
tipo de escrita. Escrita esta que entra num mundo onde tudo é negro (escrita para cegos). Para
tal, utilizámos a obra de Menena Cottin e Rosana Faría “O livro negro das cores”. Esta obra
remete-nos para uma subtileza tal que consegue penetrar no mundo da criança através dos
sentidos. Convidámos, desta forma, as crianças a reflectirem sobre o que as rodeia e,
85
sobretudo, a perceberem o mundo das crianças que não conseguem ver. Solicitámos às
crianças que sentissem os cheiros, os sabores, as texturas e os sons que a obra lhes sugeria.
Isto foi o convite para a escrita de poemas em grupo e para a exploração das cores primárias e
secundárias, uma vez que este livro, à excepção do texto, todo ele é negro. Descrevemos os
procedimentos de seguida.
Titulo: Escrita de poemas
Objectivos:
Escrever textos dando continuidade a histórias.
Material:
Livro “ O livro negro das cores”, Saco preto, Maçã, laranja, morangos, pêra grãos de arroz,
folhas, pedaço de madeira, pedaço de metal, cores primárias, pincéis, cartolina preta, tesouras e
lápis de carvão;
Procedimentos:
Apresentação da história “ O livro negro das cores”;
Diálogo sobre alguns elementos paratextuais da obra;
Passagem do livro por todas as crianças para que elas se apercebessem da diferença
que este livro tem relativamente a outros que conheciam;
Leitura da história;
Exploração oral da história;
Diálogo acerca do personagem da história, reflectindo sobre a diferença que ele tem
relativamente a todos os presentes na sala de aula (deficiência visual);
Discussão acerca dos 5 sentidos frisando qual deles os invisuais não podem usar;
Diálogo sobre a forma de escrita em Braille e do seu inventor (Louis Braille);
Leitura de uma pequena biografia de Louis Braille;
Realização de um jogo que teve como objectivo tentar adivinhar a cor de um
determinado objecto com os olhos vendados, usando os outros 4 sentidos;
Exploração das cores primárias e das cores que podemos obter com estas;
Escrita no quadro das cores primárias e das cores secundárias;
Apresentação de um PowerPoint com a simbologia das cores;
86
Escrita de poemas no quadro;
Reflexão da actividade;
Realização de experiências para a descoberta das cores secundárias;
Sobreposição de todas as cores numa folha de papel e descoberta do resultado;
Ilustração dos poemas feitos anteriormente de forma a irmos ao encontro da técnica
de ilustração usada no livro;
Distribuição de cartolinas pretas pelas crianças para que estas desenhassem e
recortassem as formas dos objectos pretendidos e, depois, pudessem colá-las de
forma a criar relevo.
Instrumentos de recolha de dados:
Observação directa
Grelha de observação
A história “O Livro Negro das cores” era diferente de todos aqueles que já tínhamos
trabalhado na sala de aula. A aula começou pela apresentação do livro seguindo-se o
questionamento acerca do título. As crianças iam dizendo que o livro devia ser todo negro e
que ia falar das cores. O livro passou por todas as crianças para que estas o pudessem ver com
mais pormenor, como se pode observar na figura 12.
Fig.12- Manipulação do livro
87
As crianças iam fazendo alguns comentários: “O livro é todo preto”; “As imagens são
diferentes”, etc, mas ninguém referiu os pontos (escrita em Braille) que se apresentavam no
cimo de cada página. Só depois de se chamar a atenção do grupo para os referidos relevos é
que elas começaram a inferir sobre o seu significado. Nenhuma das crianças conseguiu
identificar o significado dos relevos como escrita em Braille. Ninguém conhecia este tipo de
escrita.
Após ter sido proporcionado a todas as crianças o contacto com o livro impresso, lemos
a história. Quando a história terminou começámos, então, a reflexão acerca do que tinham
ouvido e visto. Não foi muito fácil, pois só uma ou duas crianças conseguiram perceber a
história. A personagem da história era então um menino chamado Tomás que era cego.
Perguntámos às crianças como era possível o Tomás ser um menino cego se conseguia
distinguir as cores. Notou-se um certo silêncio, mas depois de voltarmos a ler outra vez
algumas das frases da história elas chegaram aos cinco sentidos (visão, audição, olfacto,
paladar e tacto). Surgiu então a pergunta “Os invisuais conseguem ler?”. Constatámos que as
crianças, mais uma vez, ficaram expectantes. Explicou-se, então, que a escrita em Braille é
uma escrita especial para cegos, visto que estes não conseguem ver, mas tem o tacto mais
desenvolvido Leu-se uma pequena biografia de Louis Braille que está no final do livro e em
grande grupo reflectimos sobre o seu contributo para a sociedade. Este livro vai ao encontro
do Projecto Curricular de Turma, pois foi nossa intenção promover actividades de acordo com
os seus objectivos. Percebemos, assim, que as narrativas, quando bem exploradas, promovem
uma educação multicultural, proporcionando à criança a tomada de consciência pela cultura do
outro, levando ao desenvolvimento de atitudes de alteridade para com seus pares, no sentido
de conhecer o outro, a perspectiva do outro, as suas regras de conduta, opções religiosas ou
sexuais.
Lançou-se depois um repto “será que conseguiríamos fazer como o Tomás e identificar
as cores de alguns objectos sem utilizarmos o sentido da visão?”. A partir daqui iniciou-se um
jogo. As crianças, uma a uma, com os olhos vendados tinham que tentar descobrir a cor de
diversos objectos, colocados previamente num saco negro. No decorrer do jogo as crianças
demonstraram-se participativas, interessadas e comunicativas. De seguida reflectimos sobre os
factores que contribuíram para tornar fácil esta tarefa de identificação das cores através do
tacto. Com este livro trabalharam-se também as cores primárias e como estas podem dar
88
origem às cores secundárias. Inicialmente demos-lhe as tintas, pincéis e uma folha branca para
que as crianças individualmente chegassem a algumas conclusões. No quadro estavam folhas
brancas afixadas e, por baixo de cada uma, estava escrita o nome da cor que teríamos que
obter a partir das cores primárias. À medida que iam sendo descobertas as combinações, as
crianças registavam as suas observações e conclusões numa folha branca, que posteriormente
apresentaram, como se observa na figura 13.
Fig.13- Descoberta das cores secundárias
Ficámos surpreendidas quando percebemos que as crianças desconheciam a forma de
obter as cores secundárias. Depois das descobertas efectuadas falámos acerca da simbologia
das cores. Para culminar todo o trabalho pedimos às crianças que, em conjunto, escrevessem
um texto, baseadas na forma como o Tomás se apercebia das cores que íamos descobrindo a
partir das experiências realizadas. As crianças foram lançando ideias e todas em conjunto
continuámos o livro. Escrevemos os poemas no quadro e fizemos a correcção, como se
verifica na figura 14.
89
Fig.14- Escrita no quadro dos poemas
É de realçar que quase todas as crianças conseguiram produzir pelo menos um verso a
partir das cores. A originalidade e a presença de detalhes estiveram presentes nos poemas, uma
vez que apresentaram elementos raros, tais como: “O cor-de-rosa é a cor do algodão doce que
se come nos dias de festa”; no entanto, disseram que “o azul é a cor do mar e dos olhos do
nosso colega Samuel Cristo”.
Terminada a apresentação de algumas actividades desenvolvidas no âmbito do projecto,
chega o momento de avaliar o que este contribuiu para a mudança de atitudes perante a escrita.
Neste sentido aplicou-se um questionário, cujas apresentação e análise se dá conta de seguida.
3. Questionário final
No final do ano foi aplicado outro questionário com o objectivo de perceber se as
actividades de escrita criativa implementadas tiveram, ou não, alguma influência na forma
como as crianças passaram a encarar a escrita. O questionário integrou uma série de hipóteses
que as crianças teriam de assinalar segundo critérios estabelecidos a priori (não ajudou,
90
ajudou pouco, ajudou e ajudou muito). Relativamente à pertinência do projecto, em
determinados aspectos relacionados com a escrita, apresentam-se no gráfico n.º 18 os
resultados das opiniões das crianças perante as respostas dadas às questões colocadas.
Gráfico nº 18 – Em que sentido ajudou o projecto de escrita criativa
N=12
A primeira conclusão, que podemos retirar da observação do gráfico, é que todas as
crianças assinalaram as hipóteses possíveis com “ajudou” e “ajudou muito”. Notámos, desta
forma, que o projecto desenvolvido na sala de aula influenciou positivamente a opinião das
crianças sobre a escrita, facto que também se verificou no empenho destas ao longo das
sessões.
0
2
4
6
8
10
12
Não ajudou Ajudou
pouco Ajudou Ajudou
muito
0 0
3
9
0 0
3
8
0 0
0
12
0 0
6 6
0 2
10
0 0
0
12
0 0
7
5
Não
ajudou
Ajudou
pouco Ajudou
Ajudou
muito
Perceber a importância das
palavras 0 0 3 9
Escrever para exprimir opiniões 0 0 3 8
Escrever textos mais longos 0 0 0 12
Observar as coisas e escrever
sobre elas 0 0 6 6
Escrever com menos erros 0 2 10
Gostar mais de escrever 0 0 0 12
Escrever um texto sozinho 0 0 7 5
Perceber a importância
das palavras
Escrever para exprimir
opiniões
Escrever textos mais
longos
Observar as coisas e
escrever sobre elas
Escrever com menos
erros
Gostar mais de
escrever
Escrever um texto
sozinho
91
Consideram estas crianças que as actividades que desenvolveram contribuíram muito
para: “gostar mais de escrever” (“ajudou muito” com 12 ocorrências); “escrever textos mais
longos” (“ajudou muito” com 12 ocorrências); “escrever com menos erros” (“ajudou muito”
com 10 ocorrências); “perceber a importância das palavras” (“ajudou muito” com 9
ocorrências); “escrever para exprimir opiniões” (“ajudou muito” com 8 ocorrências), sendo,
ainda de assinalar as restantes ocorrências, embora não tenham tido tanta representatividade.
92
Considerações finais
Em educação a avaliação é indispensável, pois requer observação, análise e reflexão
acerca do trabalho realizado. Torna-se, assim necessário avaliar o trabalho que se vai
realizando de uma forma contínua, já que as atitudes e os comportamentos de cada criança são
reveladores das aprendizagens adquiridas e do uso que delas fazem. A avaliação que
realizámos no decorrer deste estudo ajudou-nos a conseguir informação acerca da
implementação de um projecto de escrita criativa, bem como perceber a evolução de cada
criança. Todo o processo foi reflectido e constituiu-se de grande utilidade no desenvolvimento
da nossa intervenção educativa. Só assim fomos, acima de tudo, úteis. Só assim seremos
capazes de fazer cada vez melhor. Os objectivos foram atingidos? Que resultados? Estas e
outras perguntas decerto irão merecer atenção, afinal devemos isso às crianças...
Partilhando da ideia de que alguns autores consideram a escrita criativa e a narrativa
como métodos para o desenvolvimento de competências linguísticas, quando se realiza um
trabalho sistemático, percebemos a importância da escola criar oportunidades às crianças para
que essa realidade se consubstancie na formação de cidadãos activos, conscientes,
independentes, críticos e criativos. Desta forma, a narrativa, aliada à escrita, pode ser uma
solução criativa para responder às mais diversas situações que as crianças possam vir a
vivenciar numa sociedade global (Azevedo, 2009; Barros, 2008; Gil e Bellmann, 1999; Balça,
2007; Sim-Sim, 2007; Santana, 2005).
No término deste trabalho torna-se necessário avaliar para poder conhecer, corrigir e
projectar. É fundamental comparar resultados obtidos com os objectivos previamente
definidos e que relembramos: (i) desenvolver a criatividade das crianças e o gosto pela escrita,
fazendo desta uma actividade diária, (ii) contribuir para o desenvolvimento de competências
linguísticas das crianças através da implementação de técnicas de escrita criativa, e (iii)
valorizar a escrita como recurso potenciador do desenvolvimento de um trabalho
multidisciplinar.
Na fase de diagnóstico percebemos quais as concepções que as crianças tinham perante a
escrita. A análise dos dados revelaram-nos que as suas opiniões não eram as melhores, uma
vez que quase 50% das crianças gostavam pouco de escrever, embora todas manifestassem
93
que desejavam escrever mais. A escrita era tida como uma “obrigação” embora
reconhecessem que era uma competência para a vida. Demonstraram ainda a consciência de
que o seu domínio permitiria dotá-las de capacidades para um dia conseguirem um trabalho.
Referiram, ainda, que gostavam de escrever com o seu grupo de amigos e de realizarem
actividades de escrita através de jogos de escrita.
Numa fase seguinte, tendo em atenção as opiniões expressas pelas crianças, delineou-se
um plano de acção, onde se aliou a narrativa à escrita criativa. Na fase final de cada actividade
desenvolvida procedeu-se à observação/avaliação, recorrendo ao registo em grelhas de
observação para posterior análise. No final das diferenciadas propostas de produção textual,
procedeu-se ao preenchimento de um questionário, por parte das crianças de forma a verificar
se as suas concepções iniciais se tinham modificado, após a execução do plano de acção.
Na análise, desde a fase de diagnóstico ao preenchimento de um questionário de opinião,
percebemos a diferença dos resultados. A maioria das crianças referiu que o projecto de escrita
criativa as ajudou a gostar mais de escrever, a escrever autonomamente um texto sozinho, a
escrever com menos erros, a observar as coisas e escrever sobre elas, a perceber a importância
das palavras e a escrever para exprimir opiniões. Consideramos, por tal, que o primeiro
objectivo estipulado foi atingido, pois criámos oportunidades para que as crianças pensassem a
escrita como uma actividade diária, lúdica e motivadora, desenvolvendo, desta forma, o gosto
pela escrita, bem como torná-la mais profícua. No que diz respeito ao segundo objectivo
consideramos ter contribuído para o desenvolvimento das competências linguísticas das
crianças, potenciando-lhes o acesso à informação escrita nas mais diversas situações de uso da
linguagem escrita (Azevedo, 2009; Santana, 2005; Benavente e al., 1996; Azevedo, 2000;
Mata, 2006). Finalmente, com o terceiro objectivo pretendia-se que a escrita passasse a ser um
recurso potenciador de um trabalho multidisciplinar. Neste sentido, desenvolvemos
actividades integradas e integradoras concretizadas na escrita de textos com diferentes
objectivos. Estes foram corporizados em diferentes propostas que analisámos. Inicialmente,
propusemos às crianças que escrevessem tendo, ou não, como linha de partida um tema. Esta
proposta não foi, à partida, fácil, uma vez que as crianças mostraram algumas resistências,
pareciam ter “anticorpos”. Com o tempo e a exploração de obras de literatura para a infância
percebemos que essas resistências se foram dissipando. Prova disso foram as suas produções
escritas. Estas passaram a ser mais extensas e com mais qualidade. Verificou-se também que,
94
paulatinamente, desenvolveram competências a nível da escrita, o que lhes permitiu assegurar
mais facilmente a sequencialidade de uma narração, dando-lhe lógica.
O ensino-aprendizagem da escrita revelou-se uma tarefa bastante complexa e o seu
sucesso só se revela com muita insistência por parte do(a) professor(a). Na nossa prática, por
vezes, ocorreram-nos desalento e cansaço, tais eram as dificuldades. Contudo, os resultados
deram-nos ânimo para prosseguirmos. Estes foram melhorando com o tempo, levando-nos a
considerar importante que a escrita esteja presente no dia-a-dia da criança, quer seja através de
diferentes exercícios de escrita criativa, quer de exercícios de leitura. A criatividade no
processo de escrita também deve ser treinada, estimulando diferentes maneiras de resolver
situações (Gil e Bellmann, 1999; Barros, 2008; Martins, 2004; Balancho e Coelho, 1996). É
também importante que as crianças tenham noção que, aquilo que escrevem, tem um
destinatário e uma finalidade e, assim, percebam melhor a sua importância no quotidiano
escolar e social. Na interacção que estabelecemos no contexto educativo, tivemos sempre em
conta as produções das crianças, pois sempre que produziam um texto, este era lido para a
turma e também exposto para toda a comunidade educativa. Este facto deixava-as mais felizes
e orgulhosas, motivando-as para fazerem cada vez mais e melhor (Santana, 2005; Azevedo,
2000; Condemarín e Chadwick, 1987).
Pensamos, assim, poder concluir que as actividades desenvolvidas contribuíram para que
as crianças desenvolvessem progressivamente a sua capacidade criativa, mas também
melhorassem as suas competências linguísticas, pois através do contacto com diferentes
técnicas de escrita, puderam utilizá-las de acordo com o seu objectivo comunicativo e
aperfeiçoar o espírito crítico (Balça, 2007; Azevedo, 2000; Gil e Bellmann, 1999).
Este projecto, como quase tudo na vida, teve algumas limitações, uma delas deveu-se ao
facto de estarmos com as crianças desta sala uma só vez por semana. Por vezes, era difícil
levar uma actividade até ao fim, pois era necessário muito tempo para a elaboração e
correcção das produções escritas. Outra limitação encontrada foi o facto de possuirmos poucos
conhecimentos acerca do conceito escrita criativa e da forma como implementar técnicas com
as crianças em situação de sala de aula. Mas, tal facto, só contribuiu para aprofundarmos
significativamente os nossos conhecimentos, uma vez que tivemos de investigar formas de o
conseguirmos, numa tentativa sempre deliberada de ajustar os exercícios para a turma.
95
Relativamente aos contributos do estudo para a nossa prática profissional, consideramos
que este trabalho foi de grande importância, pois um projecto de investigação-acção é sempre
de grande interesse tanto para o(a) professor(a) como para as crianças, visto que nos permite
associar a investigação (teoria) às práticas educativas (prática) numa simbiose constante.
O percurso desenvolvido ao longo da frequência do mestrado foi por nós encarado como
uma etapa de desenvolvimento pessoal e profissional. Ficam desafios por realizar, desejos de
implementar novas estratégias pedagógicas, de continuar um processo já iniciado mas,
incompleto, pela complexidade que contempla.
96
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Asa.
SOBRE TI…
És menina És menino
Que idade tens? __
TU E A ESCRITA
1. Gostas de escrever? (Selecciona apenas uma opção)
Não gosto nada Gosto pouco Gosto Gosto bastante
2. Com que frequência escreves depois de terminares a escola? (Selecciona apenas uma das
opções)
Todos os dias Quase todos os dias Uma vez por semana Duas ou mais vezes por semana Nunca Quase nunca
3. Achas que escreves o suficiente?
Sim Não, mas gostaria de escrever mais Não e não gostaria de escrever mais do que escrevo
Este questionário destina-se a avaliar atitudes perante a escrita, no âmbito do Projecto de escrita
criativa. Gostaríamos que nos dissesses aquilo que, objectivamente, pensas sobre a escrita.
.
4. Falas com os teus pais sobre o que estás a escrever? (Selecciona apenas uma opção)
Sempre Às vezes Quase nunca Nunca
5. Costumas ver os teus pais escrever? (Selecciona apenas uma opção)
Sempre Às vezes Quase nunca Nunca
5.1. O que é que os teus pais costumam escrever? (podes seleccionar várias opções)
Recados Listas de Compras Cartas Relatórios profissionais
Outros
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
O TEU PENSAMENTO SOBRE A ESCRITA.
1. O que pensas sobre a escrita? (Selecciona apenas uma opção)
Escrever é aborrecido Escrever é difícil Escrever é importante Escrever é divertido
2. Eu escreveria mais se: (Podes seleccionar várias opções)
Na escola pudesse escrever sobre assuntos que me interessam Eu soubesse o que deveria escrever Eu achasse o acto de escrever mais fácil A minha escola me encorajasse mais
3. Que actividades gostarias de realizar a fim de te ajudarem (e aos teus colegas) a escrever mais?
(Podes seleccionar várias opções)
Escrever com grupos de amigos Trocar correspondência com colegas de outras escolas Jogos de escrita Escrever críticas de livros Ajudar alunos mais novos a escrever Organizar exposições com o que escrevemos Escrever em competições ou para conseguir prémios Construir websites
4. Escrevo porque: (Podes seleccionar várias opções)
É uma competência para a vida. Ajudar-me-á a encontrar emprego. Ajuda-me a reflectir melhor sobre o mundo. É divertido Permite distrair-me. Sou obrigado
Obrigada pela colaboração
TU E O PROJECTO DE ESCRITA CRIATIVA
“A escrita criativa” ajudou-te a melhorar a tua forma de escrever?
Pinta as estrelas respeitantes à tua resposta utilizando a seguinte escala:
Não ajudou
Ajudou pouco
Ajudou
Ajudou muito
O “O projecto de escrita criativa” ajudou-me a...
...conseguir escrever um texto sozinho.
... gostar mais de escrever.
... escrever com menos erros.
.... observar as coisas e escrever sobre elas.
... escrever textos mais longos.
... escrever para exprimir opiniões.
... a perceber a importância das palavras.
Julho de 2010
Obrigada pela colaboração
Este questionário destina-se a avaliar atitudes perante a escrita, depois de implementado o
Projecto de escrita criativa.
.
Grelha de observação
Fraco- F; Não Satisfaz-NS; Satisfaz-S; Satisfaz Bastante-SB; Excelente-E
Alunos
Aluno1 Aluno2 Aluno3 Aluno4 Aluno 5 Aluno6 Aluno7 Aluno8 Aluno9 Aluno10 Aluno11 Aluno12
Escreve com
clareza
Organiza a
informação
Escreve com
originalidade
Expressa
emoções
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