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FILO PORIFERA: BIOLOGIA E ECOLOGIA
Conhecidas e utilizadas desde a antiguidade pelos povos primitivos as esponjas foram incluídas
já no primeiro tratado sobre classificação de organismos, escrito por Aristóteles em 350 a.C., na Grécia
clássica. Consideradas inicialmente como plantas, sua natureza animal só foi reconhecida no final do
século XVIII, quando se observaram as correntes de água no seu corpo. No entanto, os grandes
naturalistas da época (Lammarck, Lineu, Cuvier) classificavam as esponjas como Zoophyta (animais-
plantas) ou Pólipos (considerando-as como próximas dos cnidários). Foi o naturalista inglês R.E. Grant
quem primeiro compreendeu a anatomia e fisiologia das esponjas e criou o nome Porifera, que significa
“portador de poros”. A elevação de Porifera ao nível de Filo, sugerida por Huxley em 1875 e por Sollas
em 1884, só foi aceita no início do século XX. Ainda assim, os debates a respeito de sua posição em
relação aos protozoários e metazoários permaneceram até recentemente.
O Filo Porifera está composto por organismos multicelulares com um nível de organização bem
simples, sem a formação de tecidos homólogos às camadas de origem embrionária de outros animais.
Apesar de multicelulares, realizam várias de suas funções vitais de forma semelhante a seres
unicelulares, como protistas. Devido a estas características, os poríferos, também conhecidos como
esponjas, são classificados por alguns zoólogos em Parazoa (do grego: ao lado de, junto aos outros
animais), acreditando-se que tenham seguido uma linha evolutiva paralela àquela que deu origem aos
metazoários. No entanto, devido a inúmeras características em comum com outros animais, diversos
zoólogos preferem incluí-los entre os metazoários e muitos os consideram em uma posição
intermediária entre um estado unicelular e a multicelularidade mais complexa dos Metazoa. Os
mecanismos utilizados pelas esponjas para a realização de suas funções vitais diferem de todos os
demais metazoários e por esta razão há um consenso de que os poríferos divergiram muito cedo da
linha evolutiva que deu origem ao resto dos animais.
Tradicionalmente, as esponjas eram caracterizadas como “animais filtradores e sedentários, que
utilizam uma única camada de células flageladas para bombear água através de seu corpo” (Bergquist,
1980). No entanto, descobertas recentes já não sustentam esta definição. Em 1995 foi descrito um
grupo de esponjas de profundidade com hábito carnívoro. Este fato foi tão marcante que saiu publicado
(e foi capa) da tradicional revista britânica Nature (Vacelet et al., 1995).
As esponjas são organismos exclusivamente aquáticos, na maioria marinhos (apenas cerca de
150 spp de água doce), que variam desde alguns poucos mm em tamanho até mais de 1 metro. Habitam
todos os mares, dos trópicos aos pólos e desde a zona mediolitoral até profundidades abissais. São, no
entanto, mais abundantes em áreas costeiras não poluídas e em ambientes recifais tropicais.
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Apresentam coloração bem variada, muitas vezes devido à simbiose com bactérias ou algas
unicelulares. Podem ser vermelhas, amarelas, laranjas, verdes, púrpuras, entre outras. No entanto,
perdem a cor fora da água.
Livros didáticos citam mais de 5.000 espécies viventes, porém alguns especialistas, como o Dr.
Muricy da UFRJ, relatam cerca de 10.000 espécies descritas e em torno de 7.800 espécies válidas.
Estão, atualmente agrupadas em 3 Classes: Calcarea, Demospongiae e Hexactinellida. São organismos
bentônicos que crescem sobre substratos duros como rochas, recifes, fragmentos de origem vegetal e
estruturas artificiais, como diques, plataformas petrolíferas e estruturas portuárias. Também estão
presentes em substrato móvel, como lama, areia e cascalho. Apresentam padrões de crescimento que
podem ser incrustante, perfurador, ereto, ramificado, lobado, etc.
De forma geral, a estrutura corporal das esponjas é caracterizada por uma massa de células
embebida em uma matriz protéica, que pode estar enrijecida por espículas diminutas de carbonato de
cálcio ou sílica. Podem ser assimétricas ou de simetria radial. Não apresentam órgão ou tecido
verdadeiro e suas células apresentam certo grau de independência. Possuem apenas elementos
contráteis simples e não foi comprovada ainda a presença de sistema nervoso nem órgãos de sentido.
Considerando toda esta simplicidade estrutural poder-se-ia questionar como as esponjas atingiram a
condição multicelular e chegaram a atingir tamanhos consideráveis. A explicação está no
desenvolvimento de soluções bastante originais, algumas com grande semelhança com protista e outras
exclusivas. Dentre estas, dois atributos organizacionais únicos foram importantes para o sucesso dos
poríferos, além de caracterizá-los: um sistema para circulação de água através de seu corpo, com a
presença de coanócitos, e a grande natureza totipotente de suas células. A grande diversidade de formas
e tamanhos destes organismos ocorreu tanto evolutivamente como individualmente e se deve, em
grande parte, a estas duas características citadas.
A superfície externa do corpo das esponjas apresenta aberturas pequenas denominadas poros
dérmicos ou inalantes (termo aplicado, geralmente, quando apenas uma célula participa em sua
formação) ou óstio (quando formado por mais de uma célula). A água penetra por estes poros e passa,
através de canais, para a cavidade corporal das esponjas, chamada espongiocele ou átrio. Esta cavidade
(sem nenhuma relação com cavidades digestivas de outros metazoários) e parte dos canais estão
forrados por uma camada de células flageladas, os coanócitos. Eles são os responsáveis por manter a
circulação da água pelo corpo da esponja através do batimento dos flagelos e também participam na
captura de alimento. A água então sai por aberturas maiores que pode ser única ou em número variado,
denominada ósculo. Este sistema de canais, também chamado por alguns autores como sistema
aqüífero é uma aquisição única das esponjas e, como foi dito, é um dos grandes responsáveis pelo
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sucesso do filo. Esta estrutura simples, aqui descrita pode sofrer graus variáveis de modificação
tornando-se mais complexa e definindo três tipos básicos de estrutura dos sistemas de canais: os tipos
asconóide, siconóide e leuconóide.
Na estrutura asconóide, a mais simples, a água penetra por numerosos óstios ou poros dérmicos
sendo levada a uma espongiocele ampla, revestida por coanócitos. Daí a água sai através de um ósculo
único. As esponjas com esta morfologia são, em geral, pequenas (menos de 10 cm) e tubulares, sendo o
adulto radialmente simétrico. Só ocorrem representantes asconóides dentro da Classe Calcarea, entre os
quais podemos citar os gêneros Leucosolenia (=cone branco), que apresenta diversos indivíduos
tubulares e afilados crescendo em grupos presos por um estolão comum ou ramos a objetos em águas
marinhas rasas e o gênero Clathrina (=treliça), com representantes de coloração amarelo luminoso,
com tubos entrelaçados.
Para conseguir aumentar seu tamanho, o que resultaria em um aumento da área de superfície foi
necessário ocorrer um dobramento da parede do corpo, numa variedade de padrões. Isto é o que ocorre
nos tipos siconóide e leuconóide. No primeiro ocorreu a formação de canais flagelados. As paredes são
mais espessas e mais complexas. Os poros dérmicos desembocam em canais inalantes. Daí a água
passa através de aberturas denominadas prosópilas para canais radiais, forrados por coanócitos. Estes
desembocam na espongiocele, a qual está forrada por células não flageladas, através de poros internos
chamados apópilas. A saída da água ocorre por meio de um ósculo. Dentro deste plano existem graus
variáveis de complexidade. As esponjas siconóides são, geralmente, maiores que as asconóides, com
forma tubular e não tão ramificadas. Durante o seu desenvolvimento apresentam um estágio asconóide
e apenas posteriormente os canais se formam por evaginações da parede do corpo. Devido a este
desenvolvimento, se acredita que as esponjas leuconóides derivem de um estoque asconóide.
Representantes das Classes Calcarea e Hexactinellida podem apresentar este tipo de estrutura. Um
exemplo são representantes do gênero Scypha (=Sycon).
Na estrutura leuconóide ocorrem câmaras flageladas e a sua estrutura mais complexa permite
um aumento do tamanho. Geralmente formam grandes massas com numerosos poros inalantes e
ósculos. A água penetra pelos poros, passa por canais inalantes e daí, através de prosópilas, para
câmaras flageladas, geralmente pequenas e bem numerosas, que estão revestidas por coanócitos. A
espongiocele está reduzida a uma série de canais exalantes ou excurrentes por onde passa a água
quando sai das câmaras através de apópilas, em direção aos ósculos. Ocorre nas Classes Calcarea,
Hexactinellida e em todos os representantes de Demospongiae. Apenas na Classe Calcarea, considerada
a mais primitiva entre as viventes, ocorrem os três tipos de estrutura. As esponjas calcárias leuconóides
passam por estágios de desenvolvimento asconóide e siconóide durante seu crescimento. Apesar de
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estes três sistemas representarem um aumento de complexidade, não implica, necessariamente, uma
seqüência de desenvolvimento ou evolutiva. A forma leuconóide evoluiu de forma independente várias
vezes entre as esponjas. Além disso, nem todas as esponjas passam pelos 3 tipos de estrutura ao longo
do seu desenvolvimento ou de sua evolução. Ademais, é comum encontrar estágios intermediários.
Apesar da forma asconóide ser normalmente descrita como modelo nos livros didáticos, devido a sua
simplicidade, apenas cerca de1% das esponjas apresentam esta morfologia, sendo a maioria (95%) do
tipo leuconóide.
Devido ao fato das esponjas apresentarem um nível de organização ainda celular, com grande
independência das células, a descrição dos seus tipos celulares é imprescindível para o entendimento do
funcionamento destes organismos. A princípio poucos tipos celulares eram descritos. Posteriormente
estudos histoquímicos e outras técnicas revelaram uma quantidade maior de tipos celulares, muitos
deles ainda têm sua função e/ou funcionamento desconhecidos. Os tipos melhor descritos são:
PINACÒCITOS- são células do tipo epitelial afiladas e achatadas cujas margens se sobrepõem. Alguns
apresentam forma de T, com seus corpos celulares se inserindo no meso-hilo, uma matriz protéica que
forma a camada intermediária nas esponjas. Organizam-se na superfície externa formando a
pinacoderme, o que mais se aproxima a um tecido verdadeiro em esponjas. No entanto, a ausência de
membrana basal a difere de camadas realmente epiteliais em outros metazoários. Não obstante,
trabalhos recentes sugerem que uma membrana basal poderia ocorrer entre os Homoscleromorpha. Os
pinacócitos podem também revestir parte da superfície interna, como canais inalantes e exalantes,
sendo denominados endopinacócitos (e os outros seriam exopinacócitos). Na superfície interna estas
células são mais fusiformes e se sobrepõem menos. Na região basal ou de adesão, podem ocorrer
basopinacócitos, células achatadas ou em forma de T que secretam complexo polissacarídeo de
colágeno fibrilar que atua como estrutura de adesão ou fixação. Em esponjas de água doce, os
basopinacócitos podem participar na nutrição engolfando bactérias e também na regulação osmótica,
com muitos vacúolos contráteis e vesículas de expulsão de água. Alguns pinacócitos podem se
modificar em MIÓCITOS, contráteis, os quais normalmente são alongados e se organizam
concentricamente no meso-hilo, formando bandas circulares em torno de óstios e ósculos para regular a
entrada de água. Devido ao arranjo de fibras, se sugeriu que os miócitos seriam homólogos às células
musculares lisas de outros invertebrados superiores. Eles são efetores independentes, com pequenos
tempo de resposta e, ao contrário de neurônios ou fibras musculares verdadeiras, parecem ser
insensíveis a estímulos elétricos.
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COANÓCITOS- São células ovóides com uma extremidade embebida no meso-hilo e a outra exposta,
na qual há um flagelo circundado por um colarinho de microvilosidades. Estas células forram a
espongiocele, canais e câmaras flageladas. O flagelo cria, através de seu batimento, uma corrente de
água que atravessa o corpo da esponja do óstio em direção ao ósculo. Este fluxo de água criado é o
responsável pelo funcionamento das atividades das esponjas, estando o coanócito intimamente
associado à nutrição. O flagelo, em realidade, tem uma ultra-estrutura de cílio. Parece ser que os
flagelos verdadeiros ficaram restritos às bactérias. No entanto, convencionou-se usar o termo flagelo
quando os cílios aparecem longos e em número reduzido (1 ou 2). A base do flagelo é circundada por
um colarinho de 20 a 35 microvilosidades, ou microvilas adjacentes, conectadas por microfilamentos
formando um dispositivo de filtragem de partículas alimentares na água.
PORÓCITOS- células cilíndricas, similares à tubos, presentes na pinacoderme. Forma o poro inalante e
são contráteis, regulando a abertura. Não se sabe, porém os mecanismos de contração/expansão
utilizados. Alguns podem construir na abertura do poro uma membrana citoplasmática similar a um
diafragma que regula o tamanho do poro.
ARQUEÓCITOS- células grandes, bem móveis, que se deslocam no meso-hilo. São de fundamental
papel no transporte e digestão, apresentando muitas enzimas digestivas como amilases, proteases,
lípases, etc. Podem fagocitar partículas na pinacoderme dos canais de água, receber partículas
fagocitadas pelos coanócitos e tem grande capacidade de diferenciar-se em qualquer um dos tipos
celulares especializados das esponjas, tendo grande importância na reprodução assexuada. Entre os
tipos celulares que normalmente são formados a partir de um arqueócito pode-se citar:
Esclerócitos- São secretores de espículas (estruturas esqueletárias). Apresentam muitas mitocôndrias,
microfilamentos citoplasmáticos e pequenos vacúolos. Já foram descritos vários tipos e se desintegram
após secretar as espículas.
Espongiócitos- Atuam em grupos, secretam fibras de espongina, um tipo especializado de colágeno
exclusivo das esponjas.
Colêncitos- secretam colágeno fibrilar que fica entre as células. Muito similar morfologicamente aos
pinacócitos.
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Lofócitos- secretam grandes quantidades de colágeno, porém são morfologicamente diferentes dos
colêncitos. São maiores, mais móveis e podem ser reconhecidos pela cauda de colágeno que arrastam.
Células esferulosas- grandes, no meso-hilo, com grande quantidade de inclusões químicas. Geralmente
contém os metabólitos secundários bem comuns nas esponjas.
Com relação às estruturas esqueletárias, as esponjas também apresentam uma variedade de
possibilidades. A presença das mesmas confere proteção e sustentação a estes animais, evitando que as
câmaras colapsem. O colágeno é a principal proteína estrutural do Reino Animal. Ele forma a matriz
orgânica intercelular de todas as esponjas, sendo menos abundante entre as esponjas de vidro. Apenas
as Demosponjas podem secretar um tipo diferenciado de colágeno, chamado espongina, organizado
como uma rede fibrosa no meso-hilo. A espongina não é conhecida em nenhum outro animal e pode
também formar a cobertura das gêmulas de esponjas de água doce e algumas marinhas. Estas
substâncias de natureza orgânica podem estar associadas a estruturas esqueletárias inorgânicas
denominadas espículas. Estas estruturas minerais estão em quase todas as esponjas, exceto em algumas
Demosponjas, podendo, inclusive, alguns representantes não apresentarem nem espongina e nem
espículas (Ex: Chondrosia, Euspongia, Halisarca, Oscarella), ocorrendo apenas uma trama de fibras
colágenas.
As espículas podem ser de natureza calcária, formadas por carbonato de cálcio sedimentado na
forma de calcita ou aragonita ou silicosas, formadas por dióxido de sílica hidratado. As esponjas são os
únicos animais a usarem sílica hidratada como material esquelético. As espículas apresentam grande
variedade de formas e possuem enorme valor taxonômico. Na Classe Calcarea, ocorrem espículas
geralmente de carbonato de cálcio cristalino, com 1, 3 ou 4 raios. Na Classe Demospongiae, ocorre
secreção de espongina, associada ou não com espículas silicosas ou calcáreas, ou ainda haver apenas
colágeno formando uma rede. A terceira classe reconhecida de esponjas, Hexactinellida, também
chamadas de esponjas de vidro, apresentam espículas silicosas com 6 raios.
O processo de formação das espículas ocorre no meso-hilo. Esclerócitos são capazes de
acumular cálcio e sílica e depositá-los de forma organizada. Às vezes um esclerócito produz 1 espícula,
outras, vários esclerócitos trabalham juntos produzindo uma única espícula. Em geral, trabalham 2
células por raio da espícula. Em espículas silicosas o processo inicia com a secreção de um filamento
orgânico axial dentro de um grande vacúolo alongado no esclerócito. Enquanto o filamento se alonga
de ambas as extremidades, sílica hidratada é secretada dentro de vacúolos e depositada em volta do
filamento. Em espículas calcáreas não tem filamento axial. São produzidas extracelularmente nos
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espaços intercelulares circundados por muitos esclerócitos. Cada espícula é essencialmente um único
cristal de calcita ou aragonita. As espículas calcárias não podem continuar crescendo, como as
silicosas, devido à ausência de um eixo orgânico
Todas as funções realizadas pelas esponjas dependem da corrente de água através do seu corpo.
A água é levada para as células responsáveis pela captura de alimento e trocas gasosas ao mesmo
tempo em que resíduos digestivos e excretores e os produtos reprodutivos são expelidos pela ação das
correntes. Os alimentos podem ser partículas de detritos, pequenos protistas, algas unicelulares e
bactérias. As esponjas apresentam seletividade de tamanho devido ao diâmetro de suas aberturas,
funcionando como um sistema de peneira progressivo: óstios, canais, prosópilas, microvilosidades do
colarinho e retículo microfilamentoso. Assim sendo, a primeira seleção é feita pelo diâmetro dos óstios
(média de 50 µm) e a última pela largura dos espaços entre a microvilosidades do colarinho (0,1 µm).
Os coanócitos, além de gerarem a corrente de água pelo batimento de seus flagelos, também participam
na captura do alimento. Partículas ficam retidas em seu colarinho e são engolfadas pelo corpo celular.
São responsáveis pela captura de partículas menores (cerca de 80% do carbono orgânico particulado).
Eles realizam parcialmente a digestão intracelular e depois passa o alimento para arqueócitos no meso-
hilo que concluem a digestão. Os arqueócitos também podem capturar partículas alimentícias. A maior
quantidade de alimento é engolfada por estas células nos canais. Os pinacócitos também podem, em
pequena quantidade, fagocitar partículas na superfície. As esponjas podem também utilizar matéria
orgânica dissolvida (MOD) diretamente da água nos canais e engolfar moléculas de proteína nos
coanócitos. A digestão, na grande maioria das esponjas é, exclusivamente, intracelular. Ocorre,
principalmente nos arqueócitos, porém nos tipos asconóide e nas formas leuconoíes mais simples os
coanócitos são os principais responsáveis pela captura e digestão do alimento. Os arqueócitos fazem
também o transporte dos nutrientes para as demais células. As trocas gasosas e a excreção são
realizadas por mecanismos simples de difusão em células individuais, a maioria na coanoderme.
Algumas espécies parecem expelir pelets fecais formados de matéria não digerida em pequenas
cápsulas recobertas com fina camada de muco. Tanto dejetos alimentares como produtos de excreção
saem do corpo da esponja através do fluxo de saída que passa pelo ósculo. A pressão de saída e/ou a
circulação de correntes na área garantem que estes resíduos sejam lançados para longe da esponja
evitando que penetrem pelos poros inalantes.
O fluxo de água nas esponjas tem que ser lento suficiente para permitir trocas e outras
atividades. O aumento da espessura do meso-hilo provoca uma diminuição no fluxo de água quando
passa pela coanoderme. A área somada das câmaras flageladas é maior que a dos poros inalantes,
garantindo uma diminuição da velocidade do fluxo para as trocas. Não obstante a área dos ósculos é
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ainda menor que a dos poros o que provoca um aumento de velocidade na saída da água para carrear os
dejetos para longe. Isto é fundamental nas esponjas de águas calmas. Em águas agitadas a saída dos
dejetos é garantida pelas correntes. Em algumas esponjas células amebóides podem alterar a forma e a
direção de algumas prosópilas ajudando a controlar a velocidade do fluxo. É importante também
considerar que o dobramento na parede do corpo das esponjas nas formas siconóide e, principalmente,
leuconóide, permitiu o aumento de tamanho solucionando o problema de área X superfície de contato.
Assim sendo, nenhuma célula está a mais de 1 mm de distância do fluxo de água. O volume de água
que passa no interior de uma esponja é enorme. Em um indivíduo de 1 X 10 cm da esponja complexa
Leuconia, passam diariamente 22,5 l de água. Pesquisas registraram esponjas bombeando taxas que vão
de 0,002 a 0,84 ml de água por segundo e por cm3 de esponja. Dessa forma, uma esponja grande
filtraria seu próprio volume em água a cada 10 ou 20 segundos.
O batimento dos flagelos não é coordenado nem sequer em uma mesma câmara. No entanto,
todos os coanócitos estão alinhados e o flagelo bate em direção a apópila e da base para a ponta. Os
flagelos podem também gerar um fluxo contrário que serve para desobstrução. Pode ocorrer também
abertura e fechamento de poros inalante se exalantes e, principalmente fechamento dos ósculos, Isto
ocorre, por exemplo, para evitar obstrução quando há muitas partículas grandes na água. Não se
conhece nenhum sistema de coordenação e aparentemente a excitação se espalha célula a célula. Os
miócitos atuam como efetores independentes sem condução polarizada. Alguns zoólogos consideram a
possibilidade de coordenação através de substâncias químicas carreadas nos canais de água. Outros
consideram a presença de células nervosas, porém nunca foi demonstrado. Estudos em esponjas de
vidro observaram uma resposta do tipo tudo ou nada a estímulos mecânicos e elétricos, porém a
velocidade de condução era baixa demais para ser neuronal e alta demais para ser difusão química.
Além disso, a atividade pode variar com alguns fatores. Por exemplo, a atividade dos coanócitos e o
fluxo diminuem durante o processo de reprodução assexuado e mesmo sob condições normais a
atividade dos coanócitos pode ser interrompida por um tempo.
Em esponjas de água doce, a regulação osmótica é realizada através de vacúolos contráteis e
vesículas de expulsão de água presentes em arqueócitos e coanócitos.
Como foi mencionado anteriormente, a maior parte das esponjas são filtradoras, porém a família
de Demospongiae, Cladorhizidae tem um sistema bem diferente. Estas esponjas são carnívoras, agindo
como predadoras. Perderam sua linha de coanócitos e tem uma espícula modificada, similar a um
gancho ou anzol sai emerge de uma estrutura similar a tentáculo. Organismos que ficam presos nesta
espícula são envolvidos por células arqueocíticas que migram até o local, envolvem a presa ae realizam
digestão extracelular e absorção do material. Este mecanismo totalmente diferente quebra a antiga
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definição das esponjas e demonstra outra estratégia de sobrevivência. A maior parte dos representantes
desta família são de águas profundas porém espécies do gênero Asbestoplua vivem em grutas no
Mediterrâneo, onde o estudo foi realizado (Vacelet et al., 1995). Outra espécie ainda não descrita da
família preda e também consome bactérias metamórficas que vivem simbiontes em seus tecidos
(Vacelet et al., 1998). O consumo de organismos simbiontes é comum também em outras esponjas com
hábito filtrador. Estes organismos vivem nos tecidos das esponjas e podem fornecer parte da matéria
orgânica produzida por eles a seus hospedeiros. Não obstante, quando necessário, a esponja pode usar
estes simbiontes como fonte de alimento. No Brasil ocorre uma espécie da família Cladorhizidae,
Chondrocladia albatrossi, coletada a 4.450 m de profundidade por expedição sueca a cerca de 500 km
da costa.
Outro grande tabu é o caráter séssil as esponjas. Trabalhos recentes (Bond, 1887, 1998)
comprovaram um registro de 100 anos atrás acerca da mobilidade das esponjas. Já era comprovada a
mobilidade das células, em especial as do meso-hilo, porém também ocorre nas células da pinacoderme
e da coanoderme, de forma que toda a estrutura pode se mover como um sistema contínuo. Algumas
células amebóides se arrastam enquanto outras trazem espículas que darão suporte. Foram observados
inclusive amebócitos que saem livre da esponja se movem por conta própria um tempo e retornam para
a esponja parental. A locomoção não dá a esponja capacidade de fuga contra predação, porém, segundo
Bond, o campeão em velocidade consegue se deslocar de forma regular mais de 4 mm por dia.
As esponjas se reproduzem por mecanismos sexuados e assexuados. Entre os assexuados,
algumas espécies podem produzir brotos, externos, que podem se soltar do parental e flutuar para
formar novas esponjas ou pode ficar junto do parental e formar o que alguns autores chamam de
colônia. Outros autores, como Brusca & Brusca preferem tratar as esponjas como organismos
solitários. Eles preconizam que a esponja inteira (ou seja, todo e qualquer material de esponja limitado
por uma cobertura contínua) seria um indivíduo solitário. Desta forma, uma esponja, como um todo,
cresce como um corpo único ditado pelas características ambientais (fluxo de água, contorno do
substrato, etc). As esponjas crescem por adição constante de novas células que se diferenciam segundo
as necessidades, o que normalmente não é visto como reprodução assexuada colonial. A existência de
certa coordenação no comportamento como no caso do bombeamento dos coanócitos reforçam, para
estes autores, a idéia de que cada esponja é, em seu todo, um indivíduo.
Outra forma de reprodução agamética é a formação de brotos internos ou gêmulas. São
estruturas esféricas pequenas formadas pela junção de arqueócitos no meso-hilo, que realizam mitose
rapidamente. “Nurse cells” ou trofócitos migram para a massa de arqueócitos e são engolfadas por estes
que ficam com uma reserva vitelínica. Esta massa é envolta por uma cobertura de espongina, dispostas
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em 3 camadas, com espículas silicosas microscleras incorporadas. A membrana mais externa não
apresenta espículas. Quando a esponja parental morre as gêmulas sobrevivem e permanecem dormentes
durante períodos de congelamento ou seca. Quando as condições são apropriadas as células saem por
uma abertura denominada micrópila e se desenvolvem em novas esponjas. O primeiro grupo de células
coloniza o substrato e forma uma trama de pinacoderme e coanoderme. O segundo grupo coloniza esta
trama. Algumas gêmulas suportam até –70º C por 1 hora e outra morrem a –10º C. A grande vantagem
deste processo é permitir a sobrevivência da espécie à mudanças estacionais, em água doce, por
exemplo. Também permite a colonização de novos ambientes, pois as gêmulas podem ser dispersas por
rios e/ou animais. As razões pelas quais as gêmulas não eclodem dentro do corpo do parental parecem
ter relação com a secreção de substâncias inibidoras pelo parental e pelo fato de algumas espécies
maturarem a baixas temperaturas (ex. Inverno) e só depois germinarem. A formação de gêmulas é
muito comum es esponjas de água doce (família Spongillidae), onde são mais complexas. Algumas
espécies marinhas produzem gêmulas mais simples, que contem amebócitos também e cuja parede é
menos complexa. Alguns autores preferem chamar estas estruturas de corpos de redução, sendo esta a
única forma destas espécies sobreviverem ao inverno. A dormência das gêmulas pode ser quiescência
quando imposta por condições desfavoráveis e terminando quando as condições melhoram, ou pode ser
uma diapausa, imposta por uma combinação de fatores endógenos e ambientais. Neste caso,
geralmente, para interromper é preciso exposição a temperaturas bem baixas por um certo tempo.
Muitas vezes a produção de gêmulas permite que algumas espécies ampliem sua distribuição
latitudinal, já que isto permitem que elas sobrevivam ao período de inverno.
Na virada do século XX, Wilson demonstrou, pela primeira vez, a assombrosa capacidade de
células de esponjas re-agregarem após serem mecanicamente dissociadas. Este processo tratado como
embriogênese somática é similar a reprodução assexuada por fragmentação e implica em reorganização
celular. O processo fifere em esponjas de complexidade diferente e ainda não se sabe bem como as
células segrega, se aderem e especializam. Existem muitos estudos experimentais onde pedaços de
esponjas dissociadas se reorganizam em 2 ou 3 semanas de migração celular ativa formando uma
esponja funcional e as células originais assumem de volta suas respectivas funções. Também já foi
comprovado reconhecimento entre as espécies, de forma que células de espécies diferentes misturadas
se re-organizam separadamente. Este processo é usado em fazendas de cultivo de esponjas comerciais,
onde pedaços cortados são cimentados em blocos submersos. É lógico que todo este processo implica
uma gande capacidade de regeneração, habilidade comum entre as esponjas e que tem grande relação
com a natureza totipotente de cuas células. No entanto a regeneração é um processo que serve para
recuperar partes perdidas ou lesões e injúrias, o que não implica reorganização de todo o animal.
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Alguns trabalhos citam ainda um outro processo de reprodução assexuado que implica na formação de
uma larva assexuada em algumas esponjas. O tema, ainda pouco estudado e controvertido, pareceria ser
uma forma de garantir um estágio livre dispersivo mesmo quando a fertilização falhou.
As esponjas, assim como outros metazoários, não possuem gônadas verdadeiras. Ocorre a
formação de gametas no meso-hilo, com grande assincronia em uma espécie ou população. A maioria é
monóica, ou seja, hermafroditas, produzindo gametas em épocas diferentes (protrandria ou protoginia).
Pode ocorrer uma vez a troca no tipo de gameta produzido ou alternar constantemente ao longo da vida.
Em uma população pode haver alguns indivíduos dióicos e outros monóicos, no entanto a regra parece
ser sempre a fecundação cruzada. Os espermatozóides são formados a partir de coanócitos que se
modificam. Os ovócitos podem ser formados por coanócitos (Calcarea e algumas Demosponjas) ou por
arqueócitos. A espermatogênese ocorre em cistos espermáticos ou folículos espermáticos formados
quando todas as células de uma câmara flagelada se transforma em espermatogônia ou quando
coanócitos modificados migram para o meso-hilo e se agregam. Sobre a oogênese se conhece pouco.
Informações disponíveis sugerem que oócitos solitários se desenvolvem dentro de cistos circundados
por uma camada de células foliculares e trofócitos ou trofonema. A meiose começa quando a oogônia
tem alimento suficiente aportado pela ingestão dos trofonemas.
A maioria é vivípara, liberando espermatozóides na água. Algumas vezes a liberação é tão
massiva que forma uma nuvem branca e parece que as esponjas estão fumando. A liberação pode ser
simultânea em toda a população ou restrita a alguns indivíduos. Os espermatozóides liberados penetram
no sistema de canais de outro indivíduo e são capturados pelos coanócitos e fagocitados. É interessante
notar que coanócitos se alimentam de espermatozóides de outras espécies de esponjas e invertebrados,
porém reconhecem, não se sabe por quais mecanismos, os gametas de sua espécie. Os coanócitos
perdem o flagelo e o colar, sendo chamadas de coanócitos de transferência (se comportam como células
amebóides) e realizam o transporte até ovócitos no meso-hilo onde ocorre a fertilização. O zigoto é
mantido dentro do parental e recebe nutrientes deste até formar uma larva ciliada a qual é liberada
através do ósculo ou por ruptura da parede. A larva pode assentar logo no substrato, repousar sobre o
substrato até estar pronta para assentar, estratégias comuns em espécies subtidais, ou permanecer no
plâncton por várias horas ou poucos dias, comum em espécies litorais. Outras espécies, ovíparas,
liberam ovócitos e espermatozóides na água, sendo a fecundação externa.
A larva típica das esponjas é denominada parênquímula e está na maioria dos poríferos. È livre
natante, com pouco tempo de vida no plâncton, de corpo mole, com exterior flagelado. Quando a larva
assenta estas células migram para o interior tornando-se coanócitos nas câmaras flageladas. Estudos
recentes, no entanto, questionam este processo. Acredita-se que as células flageladas ecternas são
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simplesmente desprendidas ou fagocitadas durante a metamorfose. Os coanócitos internos seriam
formados a partir de arqueócitos. Em qualquer uma das teorias, sempre da metamorfose resulta uma
forma leuconóide denominada rhagon. Outro padrão de desenvolvimento diferente pode ocorrer entre
as Calcarea e poucas Demospongiae. É formada uma blástula oca denominada por alguns autores como
Coeloblastula (outros tratam diretamente como anfiblástula) com células flageladas voltadas para o
interior. Ocorre então uma inversão, através da invaginação formando o estádio denominado
anfiblástula. Em uma extremidade estão micrômeros formados de células flageladas e na outra
macrômeros de células não-flageladas. Os micrômeros se invaginam, ao contrário do que ocorre em
outros metazoários e ficam rodeados pelos macrômeros. Os micrômeros flagelados originam
coanócitos, arqueócitos e colêncitos e os macrômeros, não flagelados, formam pinacócitos e
esclerócitos. A anfiblástula assenta por extremidade flagelada, originando um estágio inicial chamado
olynthus, que já se alimenta. As esponjas têm uma variedade maior de desenvolvimento embriológico
que outros animais e pouco se sabe sobre os mecanismos de assentamento e metamorfose. Um maior
aprofundamento pode ser conseguido com a leitura de Bergquist, 1978.
A classificação do Filo Porifera é ainda hoje muito debatida, desde a definição das espécies até
as relações entre as classes e subclasses. Os caracteres morfológicos e esqueléticos, insuficientes para
um estudo filogenético amplo do grupo, vêm sendo complementados por uma diversidade cada vez
maior de critérios alternativos (incluindo métodos bioquímicos, moleculares, embriológicos,
histológicos e citológicos) para a taxonomia de Porifera. A grande variabilidade morfológica das
esponjas e a dificuldade de se estabelecerem os limites das espécies complica a situação.
Esponjas são organismos dominantes em muitos habitats marinhos bentônicos. A maioria dos
litorais rochosa abriga um grande número de espécies, e elas são também abundantes em torno da
Antártida, onde boa parte do substrato consolidado deve-se a uma espessa camada de espículas
silicosas. Os padrões de crescimento variam segundo as condições ambientais. A mesma espécie pode
apresentar aparência diferente em locais distintos. A forma do substrato, velocidade das correntes,
disponibilidade de espaço, entre outros fatores, podem interferir. Muitas esponjas litorais crescem
como camadas finas ou espessas sobre substrato duro, no entanto, em substrato móvel, geralmente são
altas e eretas para evitar, assim, serem soterradas pelo sedimento em suspensão no ambiente. Espécies
infralitorais, de águas profundas, que não enfrentam correntes fortes são geralmente maiores e de forma
mais simétrica. Pouco se sabe sobre suas taxas de crescimento, mas os dados disponíveis sugerem uma
grande variação entre as espécies. Por exemplo, a esponja Terpios sp. das Filipinas cresce até 2.3 cm
por mês sobre corais, hidrocorais, moluscos e algas, matando-os através da liberação de uma toxina e
por sofocamento. De modo geral as esponjas parecem ser animais bastante estáveis e de vida longa.
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Embora algumas espécies tenham um ciclo de vida anual (por exemplo, Sycon sp), estimativas
baseadas em taxas de crescimento conferem idades acima de 1500 anos a indivíduos algumas espécies
(Lehnert & Reitner, 1997). Se confirmadas estas estimativas as esponjas seriam os animais com tempo
de vida mais longa do planeta.
Vários animais se alimentam de esponjas, embora o dano causado por estes predadores seja geralmente
pequeno. Alguns moluscos, ouriços e estrelas-do-mar, além de peixes tropicais (donzelas, peixes-
borboleta) e tartarugas, comem esponjas. Muitas espécies são totalmente expostas aos predadores, e na
impossibilidade de bater em retirada apresentam mecanismos alternativos de defesa contra a predação
excessiva. O mecanismo primário de defesa das esponjas é de natureza química. As esponjas produzem
uma ampla gama de compostos tóxicos, alguns bastante potentes. Espécies de alguns gêneros como
Tedania e Neofibularia, podem mesmo causar dermatites dolorosas em seres humanos. Muitas espécies
produzem compostos com atividade antimicrobiana (antibacteriana, antifúngica, antiviral). Além de
defesas antipredação e contra infecções microbianas, as toxinas de esponjas servem também para a
competição por espaço com outros invertebrados, como briozoários, ascídias, corais e até mesmo outras
esponjas. Isto permite a algumas esponjas crescer rapidamente e recobrir a fauna e a flora adjacentes.
Relações de comensalismo envolvendo esponjas são muito comuns. O intrincado sistema de canais das
esponjas e suas defesas antipredação as tornam excelentes refúgios para uma horda de invertebrados
menores (crustáceos, ofiuróides, poliquetos) e alguns peixes (gobídeos e blennídeos). Várias espécies
dependem dessa proteção das esponjas em sua fase de juvenis para manterem suas populações em
níveis estáveis. Por exemplo, conhece-se um peixe no Japão que desova dentro de uma esponja
(Mycale adhaerens), valendo-se da química desta espécie para a proteção de seus ovos. Outros
organismos usam as esponjas como cobertura ou camuflagem, como os caranguejos do gênero Dromia,
que recortam pedaços de esponjas de diversas espécies e os posicionam sobre sua carapaça. Outras
associações muito comuns são aquelas envolvendo esponjas e microorganismos endossimbiontes,
principalmente bactérias e cianofíceas. Presumivelmente, a matriz extracelular das esponjas provê um
meio rico para o crescimento das bactérias, e o hospedeiro se beneficia de um estoque de bactérias
utilizável em sua nutrição. As esponjas são os únicos metazoários conhecidos a manter relações
simbióticas com cianofíceas, que produzem glicerol e compostos fosfatados para a nutrição das
esponjas. Esponjas portadoras de cianobactérias funcionam como produtores primários, e apresentam
um crescimento rápido e alta produtividade primária em recifes de coral.
As esponjas perfurantes (gêneros Cliona e Aka) escavam galerias complexas em substratos
calcáreos como corais e conchas de moluscos. Apesar de causarem danos significativos às culturas
comerciais de ostras, a biorosão causada por estas esponjas em recifes de coral auxilia no processo de
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crescimento do recife. O processo de perfuração envolve a remoção química de pastilhas de carbonato
de cálcio que contribuem para a deposição de sedimentos no local. Esse sedimento será depois
reincorporado ao recife pelo processo de cimentação, que envolve fatores físicos, químicos e biológicos
e que é fundamental para o crescimento do recife de coral. As esponjas auxiliam também por crescerem
sobre os grãos de sedimento, mantendo-os agregados e estabilizados por mais tempo e facilitando a
ação de microorganismos cimentadores.
Algumas espécies de esponjas, principalmente do gênero Spongia e Hippospongia, são ainda
hoje usadas como esponjas de banho apesar da concorrência das esponjas artificiais. Este uso data da
antiguidade, tendo várias menções ao fato sido feitas pelo filósofo grego Homero. O apogeu da pesca e
cultivo comercial de esponjas deu-se na década de 1930, tendo feito muitas fortunas na Flórida, em
Cuba, nas Bahamas, e na Tunísia. No Caribe este apogeu foi seguido por duas epidemias, causadas por
um agente não determinado, em 1938 e 1947. Após isso as populações locais nunca mais voltaram à
abundância anterior e o conseqüente aumento da coleta no Mediterrâneo acarretou um declínio nas
populações nativas deste local. A isso se somaram infestações bacterianas entre 1986 e 1990, que
colocaram a pesca de esponjas e a indústria da espongicultura nos modestos níveis de atividade atuais,
ou seja, produzindo cerca de 10% do material comercializado nos anos 30. Ainda assim, as esponjas
naturais são de qualidade superior às sintéticas, sendo muito valorizadas. Para se ter uma idéia, em
1985 o preço do quilograma de esponja bruta importada pela França variava entre US$ 16 e US$ 86,
dependendo de sua qualidade. Não se conhecem no Brasil localidades com abundância de esponjas de
banho, mas é possível que uma espongicultura fosse viável.
Por serem, na maioria, organismos sésseis e filtradores, a repartição espacial das esponjas é fortemente
influenciada pela qualidade da água, especialmente pelo seu conteúdo em partículas orgânicas e
minerais, poluentes e materiais orgânicos dissolvidos. Elas são, portanto, boas indicadoras da qualidade
da água, e seu uso no monitoramento ambiental tem sido recomendado por alguns pesquisadores.
As esponjas produzem uma grande diversidade de metabólitos secundários, muitos dos quais
têm estruturas originais de grande interesse para a farmacologia e a pesquisa biomédica. Esses
compostos representam um importante recurso natural, pois podem levar à produção de medicamentos
mais eficazes contra o câncer e outras doenças graves, como as causadas por vírus, bactérias ou fungos.
As esponjas são um dos grupos de organismos com maior percentagem de espécies produtoras de
compostos antibióticos, antitumorais e antivirais. Outros invertebrados como briozoários, ascídias e
cnidários não têm tantas espécies com compostos ativos, nem um espectro tão amplo de atividades
quanto as esponjas.
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A atividade antifúngica é menos freqüente em esponjas do que a antibacteriana. Cerca de uma dúzia de
espécies do litoral sudeste têm atividade antifúngica demonstrada. Estes recursos podem ser explorados
por meio de cinco métodos básicos: extrativismo direto, síntese química, aquacultura, engenharia
genética, e cultura de células. Cada um destes métodos tem suas vantagens e dificuldades, e a forma
mais eficaz de exploração pode ser diferente para cada espécie ou envolver o emprego de mais de uma
técnica entre as cinco citadas acima. Suas peculiaridades fazem das esponjas de modo geral um recurso
renovável com amplo espectro de aplicações. A utilização efetiva desses animais no Brasil é porém
ainda bastante reduzida.
QUÍMICA E FARMACOLOGÍA
Em relação a compostos com interesse farmacológico as esponjas também ocupam uma posição
única. Estes organismos bentônicos ocupam um ambiente onde a competição por espaço é
extremamente agressiva. Isto não só à nível físico, pelo recobrimento daquelas espécies menos capazes,
mas principalmente a nível químico, pela produção de diversas substâncias tóxicas, ou alelopáticas, que
fornecem a vantagem competitiva necessária contra espécies concorrentes ou predadores (e.g. Becerro
et al, 1997; Thacker et al, 1998). Possuem reconhecidamente um metabolismo secundário
extremamente diversificado e também uma imensa variedade de microorganismos associados, com os
quais desenvolvem relações intrincadas, e que podem também ser fontes de novos elementos.
Em vista disso, as esponjas são um dos grupos mais promissores no que diz respeito a produção de
novos compostos de interesse. Atualmente tem sido um dos organismos mais estudados do ponto de
vista químico (Dumdei et al, 1997) e a atividade dos seus extratos vem sendo bem documentada em
diversos programas de pesquisa. Como conseqüência, nos últimos 20 anos centenas de substâncias
foram isoladas a partir de esponjas, muitas das quais já foram identificadas e apresentam fortes
atividades biológicas e farmacológicas. Diversos grupos de pesquisa acadêmicos e industriais, como a
Hoffmann-La Roche (através de sua divisão na Austrália, o Roche Research Institute of Marine
Pharmacology) e, mais recentemente, o Harbor Branch Oceanographic Institute, e as companhias
SeaPharm e PharmaMar, têm dedicado crescentes esforços ao seu isolamento. Um exemplo claro
desses esforços pode ser notado nas recentes avaliações realizadas pelo NCI (National Cancer Institute,
EUA), relativas a obtenção de extratos orgânicos de origem natural. Nelas observou-se que, dentre os
diversos grupos de organismos pesquisados, as esponjas são os que apresentam o maior número de
extratos com altas porcentagens de atividade anti-tumoral (Garson, 1994; Munro et al, 1994).
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Apesar do maciço número de substâncias já pesquisadas e descritas, existem vários problemas e
diversas questões ainda devem ser respondidas. Boa parte dos trabalhos em química se baseia em
identificações taxonômicas superficiais, apenas ao nível de gênero, ou pouco fundamentadas. Por outro
lado, parte dos artigos se limita a indicar a presença de alguma atividade biológica em extratos brutos,
sem que haja a identificação do componente responsável. Da mesma forma, são ainda raros os casos
onde à identificação da espécie produtora e de seu respectivo elemento de interesse farmacológico se
segue a caracterização deste composto dentro do contexto orgânico do animal. As subpopulações
celulares responsáveis pela sua produção ou mesmo as áreas de acúmulo destes compostos dificilmente
são identificadas. Dessa forma, as diversas informações que poderiam ser obtidas a respeito do papel
fisiológico e ecológico destes componentes são desperdiçadas. Perdem-se também dados que poderiam
auxiliar no entendimento das vias biossintéticas destes componentes em outros animais.
No Brasil, apenas da região sudeste cerca de 40% das espécies encontradas têm propriedades
farmacológicas conhecidas, e muitas dos restantes 60% certamente o terão, tão logo pesquisadas sob
este prisma. Apenas duas espécies endêmicas (Arenosclera brasiliensis e Clathrina aurea) já
demonstraram possuir atividades antimicrobianas. Os compostos bioativos de A. brasiliensis já foram
isolados, mas seus mecanismos de ação ainda precisam ser caracterizados. As quatro espécies com
espectro de atividade mais amplo na região Sudeste (Amphimedon viridis, Cliona celata, Scopalina
ruetzleri e Tedania ignis) são também muito abundantes e amplamente distribuídas no litoral brasileiro
e no Caribe. A esponja Amphimedom viridis produz a amphitoxina e a halitoxina, alcalóides
guanidínicos com atividade antibacteriana, citotóxica, ictiotóxica e hemolítica, além de causar redução
do nível de glicose no sangue em cobaias. Extratos brutos de Cliona celata têm atividade
antibacteriana, antifúngica, citotóxica, antimitótica, antiviral e ictiotóxica. Scopalina ruetzleri produz a
ulosantoina, um potente inseticida, e compostos indólicos reguladores do crescimento de plantas.
Tedania ignis produz um macrolídeo citotóxico chamado tedanolide, e seu extrato bruto metanólico
tem atividade antibacteriana, antifúngica, citotóxica e antitumoral. As espécies Aplysina fulva e
Dysidea aff. fragilis, conhecidas do litoral sudeste, apresentam respectivamente atividade
antimicrobiana e cito e ictiotóxica.
Desde 1983 aceita-se a divisão das esponjas em dois subfilos: Symplasma e Cellularia; o
primeiro inclui apenas a classe Hexactinellida enquanto o segundo abriga as classes Calcarea e
Demospongia. No entanto, Bergquist sugeriu em 1985 a separação das Hexactinellida em um filo
distinto, já que os membros deste grupo não apresentam várias apomorfias de esponjas. Esta sugestão,
que implica numa visão merofilética para o grupo em questão, não tem sido acatada pelos demais
esponjólogos. É verdade que a organização das Hexactinellida é diferente das demais esponjas porque é
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constituída por um sincício; as suas espículas portando seis raios são chamadas de hexactinas,
derivando daí o nome da classe, embora alguns membros desse grupo possuam espículas com quatro
raios, as quais podem representar uma redução morfológica das hexactinas ou um caráter plesiomórfico
de espículas de Hexactinellida.
A classificação mais utilizada por especialistas atualmente considera a existência de 3 classes e
está apresentada abaixo, com breve descrição de cada táxon:
SUBFILO CELLULARIA: organização sempre celular.
CLASSE CALCAREA
Todas marinhas, espículas calcárias, retilíneas, com 3 ou 4 raios, sem diferença entre micro e
megaescleras, isoladas ou cimentadas. Sistema aqüífero de três tipos básicos (ascon, sicon e leucon) e
formas intermediárias entre eles.Geralmente pequenas (até 10 cm de altura) tubulares ou em forma de
vasos. Exemplos: Scypha (antes chamada Sycon) e Leucosolenia. Dividida nas subclasses Calcinea e
Calcaronea.
SUBCLASSE CALCINEA: espículas diactinas, triactinas e/ou tetractinas regulares, raramente
irregulares; núcleo dos coanócitos em posição basal; larva celoblástula.
CLASSE DEMOSPONGIAE (gr. Demo, povo + ponges, esponja):
Contém 95% das espécies viventes, a maioria marinha e apenas quatro famílias límnicas. Esqueleto
composto de megascleras diactinas, triactinas e tetractinas silicosas; microscleras variadas. Pode
apresentar colágeno fibrilar + espongina + espículas; colágeno fibrilar + espongina; colágeno fibrilar;
espículas silicosas + colágeno + esqueleto de aragonita ou calcita maciço; esqueleto de aragonita sem
espículas. Sistema aqüífero no padrão leuconóide. Em água doce estão bem distribuídas em riachos e
lagoas bem oxigenados. Incrustam sobre talos de plantas e pedaços envelhecidos de madeira submersa.
Exemplos> Spongilla e Myenia. No ambiente marinho podem ter forma bem variada e chegam a atingir
vários metros em diâmetro. Exemplos: Cliona, Thenea. Neste grupo também estão as esponjas de
banho (Spongia e Hippospongia) que não possuem espículas (chamadas esponjas córneas). Tem 3
subclasses: Homoscleromorpha, Tetractinomorpha e Ceractinomorpha. Esta última contém a família
Spongillidae (de água doce) e também esponjas antes colocadas na Classe Sclerospongiae, não mais
utilizada pela maioria dos zoólogos. Ela incluía espécies com esqueleto calcário volumoso e espículas
silicosas que agora estão distribuídas nas Classes Demospongiae e Calcarea.
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SUBFILO SYMPLASMA: o protoplasma multinucleado não é dividido em células, é portanto
sincicial.
CLASSE HEXACTINELLIDA (esponjas de vidro):
Exclusivamente marinhas, em geral de mares profundos. Espículas silicosas com seis raios
(hexactinas), individuais ou fusionadas, formando uma malha de estrutura similar a vidro. Apresenta
uma rede trabecular de tecido vivo produzido pela fusão dos pseudópodos de arqueócitos. Dentro da
rede trabecular tem câmaras compridas e digitiformes forradas por coanócitos e se abrindo na
espongiocele. Coanócitos apenas com colarinho e flagelo embebidos em um protoplasma, esticadas
entre espículas e conectadas entre si, formando camada sincicial. Ósculo grande pode ser recoberto por
uma placa de sílica em forma de peneira. Não há pinacoderme ou meso-hilo gelatinoso. A superfície
externa e a espongiocele estão forradas por rede trabecular e externamente há uma membrana dérmica
não nucleada forrando a superfície. O esqueleto rígido parece não apresentar miócitos. Ou outros
elementos musculares. A estrutura é adaptada às correntes lentas e constantes do fundo do mar. Pouco
se conhece sobre a fisiologia devido ao habitat. Larva parenquímula incubada. Corpos em forma de
vasos ou funis, geralmente fixas ao substrato por tufo de espículas. Variam de 7,5 cm a mais de 1 m de
comprimento.A malha de espículas similares à treliças confere grande beleza a estes organismos.
Representantes do gênero Euplectella são chamados de cesta de flores de Vênus. Sua estrutura favorece
uma relação ecológica bem interessante. Um casal de camarões (Spongicola) juvenis ainda penetra na
estrutura da esponja de vidro, crescem e não podem mais sair. Eles passam a vida como “prisioneiros
do amor” e, por esta razão, a esponja e seus hóspedes são um presente de casamento tradicional no
Japão, como símbolo de união eterna. Apresenta as subclasses Amphidicophora e Hexasterophora.
A fauna de poríferos da costa Atlântica da América do Sul é uma das menos conhecidas do
mundo, e a maior parte do conhecimento sobre a espongofauna brasileira vêm de dragagens na
plataforma continental efetuadas por expedições estrangeiras (p.ex. navios "Challenger" e "Calypso").
Das espécies de Demospongiae conhecidas para a Costa Brasileira, cerca de 73% (194/267) foram
registradas por pesquisadores estrangeiros. As espécies litorais, de fácil acesso por mergulho livre, têm
sido pouco estudadas, com coletas esparsas ao longo da costa. Recentemente essa tendência vem se
invertendo, e os poucos grupos de pesquisa dedicados ao estudo das esponjas marinhas do Brasil
(coordenados por Beatriz Mothes e Rosária de Rosa Barbosa na Fundação Zoobotânica de Porto
Alegre; por Eduardo Hajdu e Guilherme Muricy no Museu Nacional, e por Solange Peixinho na
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Universidade Federal da Bahia) começam a intensificar o estudo taxonômico das espécies litorais,
principalmente através de coletas por mergulho autônomo.
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