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PARQUE DO CINQUENTENÁRIO: PERCEPÇÃO AMBIENTAL PELACOMUNIDADE ESCOLAR DO ENTORNO

Adalberto Ferdnando Inocêncio (PIBIC/CNPq), Ana Lúcia Olivo Rosas Moreira (Orientadora), e-mail: alormoreira@uem.br

Universidade Estadual de Maringá/ Departamento de Biologia/ Maringá, PR

Ciências Humanas, Educação - 7.08.00.00-6

Palavras-chave: Educação Ambiental, Fenomenologia, Pesquisa Qualitativa.

ResumoEsta pesquisa considerou a comunidade escolar do entorno de forma a investigar a interação e a percepção sobre o Parque do Cinquentenário, e a concepção do termo natureza, obtendo subsídios que possam orientar futuros projetos em Educação Ambiental. Seguiram-se os referenciais de uma pesquisa qualitativa e fenomenologia. Observou-se multiplicidade conceitual de natureza e o desconhecimento da área natural do referido parque, sem perdê-lo, contudo, na prática de ação pedagógica ambiental.

IntroduçãoA preocupação do nível de perturbação antrópica dos ecossistemas

naturais e como forma de valorizar estes ambientes, pela sua importância ecológica, econômica, social e cultural, determina a necessidade de criação legal de Unidades de Conservação como uma medida para mitigar tal ação. Considerando os remanescentes florestais urbanos, esta postura favorece a instituição de parques, representados como remanescentes de ecossistemas naturais, da biodiversidade que lhe corresponda, dos fenômenos físicos e paisagens de grande valor cênico (DOUROJEANNI; PÁDUA, 2001). Terborgh e Schaik (2002) consideram os parques como vitais para a perpetuação da biodiversidade em um mundo dominado pelo homem.

Os componentes reais do cotidiano sejam eles, pessoas, ambientes ou acontecimentos, permitem revelar como são constituídos os sistemas vigentes no planeta.

O processo mental de Percepção Ambiental provoca uma interação do indivíduo com o ambiente, a qual está sujeita à motivação, necessidade, expectativas e questões culturais associadas aos valores, conhecimentos e experiências anteriores dos sujeitos. Este processo representa uma atividade cognitiva e estabelece uma ligação na orientação de condutas e de práticas sociais que favorecem uma ação educativa e participativa. Sendo assim, considerando a escola como um dos principais agentes socializadores, ela é responsável não apenas pela difusão de conhecimentos, mas também, pela transmissão dos valores de uma cultura entre gerações. Nestes termos, a educação ambiental se insere no campo

pedagógico, ganhando relevância e sensibilizando a uma ação concreta, que envolve atitudes e comportamentos construídos nos alunos, como compreensão dos fatos naturais e humanos pelas questões ambientais, as quais permitirão uma relação construtiva consigo mesmo e com o meio (BRASIL, 2000).

O presente trabalho é uma análise das representações da comunidade escolar sobre o conceito de natureza, estendendo nesse sentido, a ligação que se estabelece com os setores sociais, a proximidade das escolas com uma área de conservação ambiental, influindo na construção de um trabalho em Educação Ambiental e o modo como as mesmas instituições trabalham a temática.Materiais e Métodos

A pesquisa foi realizada em duas escolas do município de Maringá, localizadas nas proximidades do Parque do Cinqüentenário, uma unidade de conservação com 18,31 ha. Foram selecionadas duas quartas séries e uma sétima do ensino fundamental. Segundo Korpela (2002) citado por Elali (2003), em pesquisas com crianças e adolescentes entre 5 e 15 anos pertencentes a diversos contextos culturais, revelam que para a criança de menor idade torna-se essencial o contato direto com áreas externas e ambientes naturais, enquanto que os adolescentes se distanciam destes locais por sentir necessidade de aceitação social e pelo aumento do interesse por atividades em grupos e uso de recursos tecnológicos.

A comunidade escolar das duas instituições foi representada por alunos-AL (50), professores-PR (10), funcionários-FU (6), diretor-DI (2) e pais-PA (6), totalizando 76 participantes da pesquisa.Por meio da aplicação de questionário, a pesquisa de campo procurou revelar como aspectos perceptivos dos respondentes, a formação de imagens e uma postura de caráter avaliativa e de conduta. A primeira parte das questões se destinou a identificação dos participantes, com exceção dos alunos, pois estes representam o grupo de estudantes das séries selecionadas. Seguiram-se os referenciais teóricos da Fenomenologia (SOKOLOWSKI, 2004) e da pesquisa qualitativa na educação (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

Os dados qualitativos foram apresentados conforme o estabelecido pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos –COPEP, de forma a garantir a privacidade das informações e o sigilo da identificação dos participantes.

Resultados e DiscussãoO estudo da percepção ambiental é exigido pela própria

complexidade dos sistemas de representação do fenômeno urbano, que se apresenta como interdisciplinar na sua essência, envolvendo, ao mesmo tempo outros fatores, tais como econômicos, sociais, tecnológicos e políticos (OLIVEIRA; RIO, 1999). Neste sentido, analisando as respostas encontradas na pesquisa observaram-se múltiplas perspectivas do entendimento de natureza por parte dos questionados, expondo pontos de vistas os quais foram ordenados em categorias, uma vez que não existe um consenso ao

conceito de natureza (CARVALHO, 1994). As opiniões acerca do conceito sobre natureza mostraram caráter multicomplexo e difuso, margeando aspectos: antropocêntricos, nos quais os fenômenos acontecem a favor do homem; “...a população não sabe utilizar” – PR; “ Os homens cortam a madeira para fazer coisas” – AL; “ .. agente precisa dele (ar) para viver” – AL; ecológicos, apresentando uma relação dos seres vivos com o ambiente, “tudo que me cerca, é uma troca” – FU; “Se não fosse ela nós não teríamos oxigênio- AL; “...se a natureza não existisse nós não respiraremos”- AL; “Eu entendo que existem seres vivos e seres não-vivos” – AL; naturais, focalizando elementos da natureza, principalmente as plantas e animais, “Os animais, porque eu gosto de animais” – AL; “Lugares onde tem animais, árvores, etc.” – AL; “Complexo de mata, água.” – PF;“Árvores, matas, etc..” – FU;espirituais, envolvendo Deus como agente criador da natureza: “Um lugar bonito de Deus” – AL; “...tudo o que foi criado por Deus e não pelo homem”-PR; “Bem que Deus deixou”– DI; “...é dom de Deus”– FU; estéticos, quando leva em conta a aparência física do ambiente: “Natureza é uma coisa bonita e que não foi afetada” – AL;éticos, considerando a necessidade de preservação ambiental: “Eu entendo que a natureza tem que ser preservada e não pode ser desmatada” – AL; “...ausência de lixo, consciência de preservação” – PA; “A gente tem que cuidar do meio ambiente e parar de poluir, por que a gente precisa dele para viver” – AL;tecnológicos, apontando aspectos elaborados pela tecnologia: “...ela está sendo poluída por máquinas” – AL;indefinidos, em função da dificuldade interpretativa da resposta: “São os elementos que já estavam na natureza” – PR; “Eu entendi que a natureza quer ficar em paz” – AL; “Aquilo que é natural” – FU.

Observou-se que esses entendimentos são construídos num processo das experiências vividas pelos sujeitos e da relação dialética do sujeito com o mundo. Considerando a figura humana e a natureza como fatores que ao longo do tempo constituíram uma própria história comum e que atuam de forma interventora entre si, esta pesquisa retrata, por alguns participantes a ausência do homem como elemento participante da natureza, por exemplo “ a natureza é tudo que me cerca e que não sofreu, de nenhuma forma a influência da ação humana”. Esta imagem equivocada é referenciada em o mito da natureza intocada (DIEGUES, 2001).

Com exceção de dois alunos e um funcionário, verificou-se que os demais não sabiam da existência do Parque do Cinquentenário nas proximidades das escolas, porém muitos alunos citaram outra área natural presente no bairro, que possui infra-estrutura para visitação pública. Na prática docente, o desenvolvimento de projetos em uma área natural, foi constatado em ambas as escolas, por meio de visitas, cujas intenções focalizaram a saúde pública, na pesquisa relacionada à “dengue”, “sobre tipos de árvores”, observação do modo com que o parque encontrava-se conservado: “muitas coisas estavam destruídas e poucas conservadas”,

“levar o lixo das margens do córrego Mandacarú”. Outra intenção de visita se deu com a proposta de lazer e interação com o ambiente: “a gente fez piquenique”, “foi muito legal e bem gostoso”. A partir desses dados, observa-se que o Parque do Cinquentenário já foi utilizado como recurso pedagógico, apesar do desconhecimento do nome que lhe é dado. A carência desta informação dificulta o processo de conservação da área natural.

ConclusõesO conceito de natureza, por não contemplar um consenso entre os

sujeitos, apresentou-se com multiplicidade de idéias e abordagens, destacando que a relação sócio-cultural é preponderante aos significados de natureza entre os pesquisados. Como afirma Carvalho (1991), a história da natureza é também a história da humanidade, visto que o homem a conhece a partir do relacionamento que ambos os elementos mantêm entre si.

A comunidade escolar participante da pesquisa revelou a falta de conhecimento com relação ao Parque do Cinquentenário, ao mesmo tempo, não deixou de fazer uso desta área no projeto pedagógico, instigando à potenciais de ação.

A instituição escolar é fundamental na construção dos conceitos, porém não é a única responsável pela formação das estâncias conceituais, cujas regras sociais são elaboradas a partir dos ideais científicos. Neste sentido, atividades educacionais destacando áreas naturais na proposta curricular, fortalecem a percepção e ação da comunidade escolar na preservação ambiental.

Referências:BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente: saúde. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto- Portugal: Porto, 1991.

CARVALHO, M. de. O que é natureza. São Paulo: Brasiliense, 1999. (col.primeiros passos).

DIEGUES, A. C. O mito da natureza intocada. 3. ed. São Paulo: Hucitec, USP, 2000.

DOUROJEANNI, M. J. ; PÁDUA, M. T. J. Biodiversidade: a hora decisiva. Curtiba: Editora da UFPR, 2001.

ELALI, G. A. The environment of school- The environment at school: A discussion of the school-nature relationship in the education children. Natal, Brasil: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2003, pp.309-319.

RIO, V. D.; OLIVEIRA, L. de (Org.). Percepção ambiental: a experiência brasileira. 2.ed. São Paulo: Studio Nobel, 1999.

SOKOLOWSKI, R. Introdução à fenomenologia. São Paulo: Loyola, 2004.

TERBORGH, J; SCHAIK V. C. 2002. Por que o mundo necessita de parques. In: TERBORGH, J. et al (Organizadores). Tornando os parques eficientes estratégias

para a conservação da natureza nos trópicos. Curitiba: UFPR/ Fundação O Boticário, 2002.

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