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Geografias, Políticas Públicas e Dinâmicas Territoriais De 07 a 10 de outubro de 2013
PANORAMA DOS FLUXOS IMIGRATÓRIOS INTERNACIONAIS
CONTEMPORÂNEOS PARA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO
CAMILA DA SILVA VIEIRA1 GENILSON ESTÁCIO DA COSTA2
1 – Introdução
Os movimentos da população no espaço sempre fizeram parte da história da
humanidade. No entanto, a partir dos anos 1980 verificou-se grande intensificação desses
fluxos a nível mundial, que se tornaram mais velozes e mais complexos em decorrência do
processo de globalização. A nível nacional, segundo alguns autores (Patarra, 2012; Patarra
e Baeninger, 2006; Souchaud e Carmo, 2006), na medida em que o Brasil fortalece sua
influência econômica e política sobre os demais países, aumenta seu poder de atração de
imigrantes. Assim, o estudo desses fluxos migratórios internacionais pode revelar dinâmicas
socioespaciais particulares, uma vez que os migrantes se constituem em reflexo e condição
do processo de mudanças de uma sociedade e de alteração e produção do espaço nos
países de origem e de destino, como destaca Castles:
As migrações internacionais constituem um importante fator de mudança social no mundo contemporâneo. São as transformações econômicas, demográficas, políticas e sociais que ocorrem no seio de uma dada sociedade que fazem com que as pessoas migrem. Por sua vez, estas migrações ajudam a produzir novas mudanças, tanto no país de origem, como no de acolhimento (CASTLES, 2005: 7).
Nesse contexto, têm-se como objetivo principal neste trabalho analisar os fluxos
imigratórios internacionais contemporâneos para a cidade do Rio de Janeiro. Para isso,
colocam-se os seguintes objetivos específicos: avaliar a capacidade atrativa de imigrantes
internacionais da cidade; analisar a localização desses novos imigrantes em diversas
escalas buscando padrões espaciais; e identificar a permanência ou mudança nas rotas
imigratórias recentes quando comparadas com os tradicionais fluxos de imigrantes
1 Formada nos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da mesma Universidade. E-mail de contato: camilavieira.ufrj@gmail.com 2 Graduando do curso de Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). E-mail de contato: genilsonestacio@gmail.com
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internacionais para a cidade do Rio de Janeiro, permitindo que se verifique como isso se
insere no novo mapa das migrações mundiais.
As questões propostas serão abordadas nas escalas nacional, estadual e municipal
de modo a verificar a inserção dos imigrantes em diferentes contextos espaciais. Do ponto
de vista intramunicipal, são consideradas as Áreas de Ponderação como unidade espacial
de análise capaz de fornecer um estudo mais detalhado da distribuição espacial desses
imigrantes na cidade. O recorte temporal adotado compreende o período entre 2001 e 2010.
Tal escolha se justifica na busca pela captação das dinâmicas imigratórias mais recentes
levantadas pelos Censos Demográficos.
A partir disso, as categorias de análise utilizadas no presente estudo são assim
definidas: imigrante internacional, como o indivíduo que estabeleceu residência em país
diferente do de nascimento; imigrante recente, como o indivíduo que imigrou para o Brasil
entre os anos 2001 e 2010; e imigrante antigo, como o indivíduo que imigrou para o Brasil
até o ano 2000.
Como fonte de dados, foram utilizados os dados da amostra do Banco
Multidimensional de Estatísticas (BME) referentes aos Censos Demográficos de 2000 e
2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Adquiridos os dados, alguns
procedimentos foram realizados, tais como organização, cruzamento e construção de
gráficos e tabelas a partir do software Excel e elaboração de mapas temáticos a partir de
softwares de SIG (Sistema de Informações Geográficas).
2- Discussão
A dimensão que o fenômeno migratório alcançou nas últimas décadas acabou
colocando-o como assunto prioritário nas agendas políticas internacionais, conquistando
espaço não só entre as ações governamentais, como também entre a opinião pública e no
meio acadêmico. Apesar disso, não raro muitas questões importantes no contexto das
migrações internacionais, como os direitos humanos envolvidos nessa discussão ou as
políticas para melhoria das condições de permanência dos migrantes, são deixadas de lado.
É preciso, portanto, considerar as novas tendências da mobilidade do mundo
globalizado, que pode intensificar e alterar fluxos migratórios, suas causas, consequências,
agentes envolvidos, temporalidades, entre outros aspectos. Segundo Becker (1997), cada
nova ordem política mundial é associada a uma nova ordem econômica com o surgimento
de novos fluxos demográficos.
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Sendo assim, para o estudo das migrações internacionais contemporâneas não são
mais suficientes as interpretações decorrentes das abordagens clássicas em migração.
Torna-se necessário vencer o desafio teórico de analisar as migrações contemporâneas à
luz de um novo paradigma a partir das alterações desencadeadas especialmente com a
globalização e o transnacionalismo.
Nesse sentido, sugere-se que os contornos desse novo paradigma3 possam estar
ligados à superação do enfoque majoritariamente econômico das migrações até a década
de 70, e à associação a outras dimensões de análise que estariam ganhando destaque no
cenário das migrações internacionais, dentre as quais são consideradas pertinentes aqui a
dimensão política desencadeada com a globalização e a dimensão social, através do
conceito de redes sociais. O estudo dessas dimensões visa, sobretudo, o entendimento de
como se configuram as dinâmicas migratórias na atualidade, tendo em vista a grande
intensificação que ocorre nos últimos anos.
A partir da década de 1980 a necessidade de acompanhar a dinâmica do capitalismo
acabou consolidando o fenômeno da globalização, a partir da integração e interdependência
cada vez maiores entre os países, considerando aspectos econômicos, políticos, sociais e
culturais. Esse processo desencadeou significativas transformações nas sociedades e
territórios, estudadas por autores como Ianni (1997), Bauman (1999) e Castles (2005).
Como exemplo dessas transformações, o fortalecimento da integração entre os países fez
emergir no mundo uma lógica transnacional, onde os processos e as trocas de mercadorias,
informações e pessoas ultrapassam as fronteiras dos Estados Nação.
Castells (1999) destaca que as redes sociais não são um fenômeno exclusivamente
contemporâneo, mas sim já inerente à sociedade. A novidade consistiria na massificação
das redes a partir das transformações que ocorrem na sociedade atual, com as inúmeras
inovações tecnológicas de comunicação e transportes, que associados ao processo de
globalização, facilitam em grande medida as trocas entre as pessoas em nível mundial.
Segundo o autor:
Redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão penetrante em toda a estrutura social (CASTELLS, 1999: 497).
3 Para a discussão de novos paradigmas migratórios ver: Brito (2009).
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Quanto à dimensão social, destacam-se as práticas desenvolvidas pelos migrantes,
contendo as estratégias e os recursos que disponibilizam, os contatos tecidos no trajeto da
migração, as relações de sociabilidade entre os migrantes e as articulações internas e
externas ao seu grupo (SANTOS, 2007). Tais práticas constituem as redes sociais ligadas
aos movimentos migratórios, sendo mecanismos que, acionados pelos indivíduos que
migram, podem minimizar bastante os malefícios e dificuldades inerentes ao processo
migratório.
Todas essas mudanças em curso se destacam no Brasil na medida em que o país
aumenta sua influência geopolítica na atualidade, sobretudo na América Latina, confirmando
seu papel de referência regional. Diversos autores se dedicam a estudar como isso
influencia no contexto migratório, se destacando, dentre outras, Patarra (2006; 2012) e
Baeninger (2008). O recente caso da migração haitiana para o Brasil, largamente exposto
pela mídia, exemplifica bem esse papel de referência regional econômica exercido pelo
país. O caso dos haitianos, depois de inúmeras discussões a respeito da gravidade da
situação, vem sendo considerado como um caso de ajuda humanitária.
O estado do Rio de Janeiro recebe destaque econômico ainda maior dentro do Brasil
devido à grande quantidade de megainvestimentos que vem recebendo, dentre os quais
podem ser citados o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), no município
de Itaboraí, e o Complexo Industrial do Super Porto do Açu (CIPA), no município de São
João da Barra, além dos vinculados aos megaeventos da Copa do Mundo e Olimpíadas, e à
descoberta de reservas do Pré-sal no estado (FIRJAN, 2013).
Como capital fluminense, a cidade do Rio de Janeiro concentra boa parte das sedes
das empresas vinculadas a esses investimentos e com isso recebe tanto malefícios quanto
benefícios desse novo contexto econômico. Essa dinâmica pela qual a cidade passa se
torna um grande atrativo de imigrantes internacionais, uma vez que os empreendimentos
localizados no estado mobilizam a vinda de trabalhadores de diferentes destinos. Nesse
contexto, a cidade do Rio de Janeiro se constitui no segundo destino mais procurado no
país, de acordo com o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, perdendo apenas para São
Paulo.
3 - Resultados Parciais
3.1 - Magnitude das Migrações
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O Censo Demográfico de 2010 traz a informação de que há no Brasil 592.582
imigrantes, 16,3% deles moradores do estado do Rio de Janeiro, e 11,7% (69.299
imigrantes) da cidade do Rio de Janeiro. Portanto, 71,6% dos imigrantes internacionais no
estado moram na capital fluminense.
Com relação à entrada de imigrantes na década entre 2001 e 2010, o referido Censo
computou a chegada de 158.600 imigrantes internacionais ao país. Nessa mesma época,
vieram para o estado 14.505 imigrantes e para a cidade 10.225. Esses números
representam um acréscimo de 63,9% na chegada de imigrantes durante esse período em
relação à década anterior (do ano de 1991 a 2000) a nível nacional e de 25,7% a nível
municipal. Apesar disso, o total de imigrantes internacionais no Brasil diminuiu cerca de 13%
entre 2000 e 2010.
Esses números significam, portanto, que, concomitante a um acréscimo na chegada
de imigrantes internacionais, houve significativa saída de imigrantes internacionais que
residiam no país em 2000, o que demonstra um crescimento da participação do Brasil nos
fluxos internacionais de pessoas. Para analisar essas informações, recorre-se a Castles
(2005), que defende que as migrações modernas tornam-se mais complexas nos seus
fluxos de saída e entrada de pessoas, assim como a outras ideias correntes na dinâmica
migratória contemporânea, tais como a de uma circularidade/mobilidade cada vez maior e
ainda de uma migração de retorno.
Essas informações seguem a tendência indicada por Castles (2005) de que a
melhoria das tecnologias de informação e transporte, que aumentaram a circulação de
capital, mercadorias, informações e pessoas pelo mundo, faz com que seja mais fácil e
vantajoso migrar. O mesmo autor destaca que essa tendência se intensifica a partir da
década de 1980 com a intensificação da globalização. E também estão de acordo com o
que defende Patarra (2006; 2012), ao afirmar que o fortalecimento da imagem do Brasil no
cenário mundial, ocorrido, sobretudo, nos últimos anos, faz com que o país atraia cada vez
mais imigrantes. A autora destaca ainda a tendência de que os imigrantes que se dirigem
atualmente ao Brasil sejam mais qualificados, visto que não se percebe uma carência de
mão de obra em geral no país, e sim de trabalhadores especializados, que não são
encontrados aqui de forma satisfatória (PATARRA, 2012).
3.2 - Espacialização dos Imigrantes
A distribuição dos imigrantes recentes no país por UF’s (figura 01) demonstra o
grande destaque que o estado de São Paulo recebe a nível nacional, com o contingente
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total de 59.868 imigrantes vindos para o Brasil entre 2001 e 2010, número muito superior ao
das demais UF’s. Essa característica do estado é histórica, com origem na colonização do
Brasil. Pode-se perceber, ainda, a grande concentração desses imigrantes a nível regional,
onde o Sudeste e o Sul do país tem grande destaque por conter as UF’s que mais
receberam imigrantes na década analisada. Dentre elas, além de São Paulo, se destacam o
Paraná e o Rio de Janeiro, que ocupam a segunda e a terceira posição nesse quadro,
respectivamente.
Figura 01: Espacialização dos Imigrantes Recentes por Unidades da Federação. Organização: Vieira e Estácio (2013).
Fonte dos dados: Censo Demográfico de 2010, BME/IBGE.
Na cidade do Rio de Janeiro, segundo o Censo Demográfico de 2010, os imigrantes
internacionais representam 1,09% da população carioca total, o que a torna uma das
cidades com maior participação de imigrantes em sua população. As demais que se
destacam nessa questão são grandes metrópoles, como São Paulo e Curitiba, além
daquelas que se localizam próximas a fronteiras com países da América do Sul e que
servem como vias de entrada de imigrantes no país, como Chuí e Ponta Porã.
Na espacialização dos imigrantes recentes no estado do Rio de Janeiro (figura 02)
destaca-se mais uma vez a capacidade de atração de imigrantes da capital fluminense.
Podemos observar ainda que as cidades que mais receberam imigrantes no estado são, de
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modo geral, as que se encontram na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), a
exemplo de São Gonçalo e Duque de Caxias, e as que têm grande importância industrial
(Macaé e Volta Redonda) ou turística (Paraty e Petrópolis), sendo também as de maior
população e economia mais dinâmica.
Figura 02: Espacialização dos Imigrantes Recentes por Municípios. Organização: Vieira e Estácio (2013).
Fonte dos dados: Censo Demográfico de 2010, BME/IBGE.
O Rio de Janeiro se caracteriza como uma cidade com forte segregação
socioespacial, resultado do seu processo de ocupação e desenvolvimento, em que as ações
do capital imobiliário associadas a políticas públicas favoráveis a elas privilegiaram
fortemente algumas áreas da cidade em detrimento de outras, como estudado por Abreu
(1988). Dessa forma, hoje se encontra na cidade um quadro de grandes disparidades em
questões sociais e econômicas. Isso pode ser demonstrado na divisão da cidade em áreas
homogêneas, em que se encontra a grande maioria das atividades econômicas
concentradas em bairros do Centro, da Zona Sul e da Grande Tijuca, além do eixo de
expansão em direção aos bairros da Barra da Tijuca e do Recreio.
Na análise dos padrões espaciais de distribuição dos imigrantes internacionais
recentes na cidade do Rio de Janeiro é possível concluir que eles estão concentrados nas
Áreas de Ponderação correspondentes aos bairros anteriormente mencionados, como pode
ser visualizado na figura 03. Essa informação permite aferir que os fluxos migratórios para a
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cidade estão diretamente relacionados à sua característica de cidade com economia
altamente dinâmica.
Figura 03: Espacialização dos Imigrantes Recentes por Áreas de Ponderação. Organização: Vieira e Estácio (2013).
Fonte dos dados: Censo Demográfico de 2010, BME/IBGE.
3.3 - Fluxos Imigratórios
Na figura 04, é possível perceber que os fluxos imigratórios brasileiros estão mais
equilibrados: enquanto 28,48% dos imigrantes antigos vinham de Portugal, e a diferença
para o segundo maior fluxo (Japão) era de 19,37%, a diferença entre o maior fluxo recente
(Bolívia) e o quinto maior (Portugal) é de apenas 7,94%. E, além dos 17 maiores fluxos
demonstrados, a porcentagem de participação dos demais fluxos (outros) cresceu 2.93%.
Ou seja, há atualmente uma maior diversidade de países que enviam migrantes para o
Brasil. Destaca-se, dentre os imigrantes recentes, principalmente, a ocorrência da
manutenção de fluxos antigos e o crescimento de importância dos países sul-americanos
Bolívia, Paraguai, Argentina, Peru, Uruguai e Chile nesses fluxos.
Os fluxos antigos para a cidade do Rio de Janeiro se caracterizam pela grande
importância de Portugal, que é a origem de 61,2% desses imigrantes (figura 05). Dessa
forma, os demais países de origem não se sobressaem, refletindo a ocorrência de fluxos
evidenciada a nível nacional. Os outros dois fluxos mais importantes são Itália e Espanha,
que foram emissores importantes de imigrantes para o Brasil no início do século passado, o
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que pode ser explicado pela manutenção de redes sociais constituídas em períodos
anteriores.
Figura 04: Distribuição relativa dos imigrantes antigos e recentes no Brasil por país de nascimento. Organização: Vieira e Estácio (2013).
Fonte dos dados: Censo Demográfico de 2010, BME/IBGE.
Figura 05: Distribuição relativa dos imigrantes antigos no Rio de Janeiro por país de nascimento. Organização: Vieira e Estácio (2013).
Fonte dos dados: Censo Demográfico de 2010, BME/IBGE.
Quanto à distribuição dos imigrantes recentes na cidade por países de origem (figura
06), nota-se, primeiramente, o equilíbrio entre os principais fluxos de imigrantes. Os países
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de origem dos imigrantes se diversificaram, o que pode ser visto pela quantidade de países
de origem que representam mais do que 1% do total de imigrantes, totalizando 20.
De forma diferente do que aconteceu nas últimas décadas, Portugal teve sua
importância reduzida. No entanto, os países que mais enviam pessoas à cidade continuam
sendo os que já tinham representatividade nas décadas anteriores, havendo mudanças na
hierarquia desses fluxos. Chama a atenção o crescimento da chegada de imigrantes da
Angola, França e Estados Unidos, que no primeiro nos fluxos antigos eram uma parcela
muito pequena do total de imigrantes, mas que se tornaram os principais fluxos. Além
desses, destaca-se também o aparecimento de importantes novos contingentes vindos de
países sul-americanos e europeus, tais como Venezuela, Peru, Finlândia e Holanda.
Figura 06: Distribuição relativa dos imigrantes recentes no Rio de Janeiro por país de nascimento. Organização: Vieira e Estácio (2013).
Fonte dos dados: Censo Demográfico de 2010, BME/IBGE.
4 - Conclusões
Como foi visto, a partir da década de 1980 foi possível detectar forte intensificação e
complexificação dos fluxos migratórios a nível mundial, o que faz dessa temática, assunto
cada vez mais abordado nos meios acadêmico e midiático de maneira geral. Nesse
contexto, destaca-se a ampliação da globalização e da presença de redes sociais como
fatores importantes na explicação das mudanças nos fluxos na atualidade. Torna-se
fundamental, portanto, a presença cada vez mais constante de estudos que destaquem
aspectos e exemplos que possam contribuir para a questão das migrações internacionais na
contemporaneidade.
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Sendo assim, o presente estudo procurou analisar a cidade do Rio de Janeiro, como
um reflexo em microescala de mudanças que ocorrem globalmente, revelando assim
transformações que a própria cidade vivenciou nos últimos anos. A investigação propôs uma
análise da dinâmica migratória na cidade, através das perspectivas da magnitude, da
espacialização e dos países de origem dos migrantes.
Com relação à magnitude, verificou-se que no período analisado (2001-2010), a
entrada de imigrantes internacionais no Brasil foi superior à registrada na década anterior,
seja a nível nacional (64%), estadual (31%) ou municipal (26%), o que confirma para o caso
brasileiro a intensificação dos movimentos migratórios na atualidade. Ressalta-se ainda que
o estado e a cidade do Rio de Janeiro mantiveram sua importância como polos atrativos de
imigrantes internacionais, tendo a capital fluminense apresentado considerável participação
em relação a sua população total (69.299 imigrantes sobre um total de 6.320.443
habitantes). Esse cenário ratifica a posição de destaque na qual se encontra o Brasil na
atualidade, traduzida pelo crescimento econômico que vem apresentando nos últimos anos,
o que sugere boas possibilidades de emprego e condições de vida. Com isso, torna-se cada
vez mais destino preferido por imigrantes de outros países com perspectivas de crescimento
menos promissoras.
Já a espacialização dos imigrantes internacionais recentes no Brasil mostrou a força
do estado do Rio de Janeiro no contexto nacional, tendo alcançado o terceiro lugar no
ranking de atratividade de imigrantes internacionais na última década analisada. Além disso,
a cidade do Rio de Janeiro também confirmou seu potencial de destaque dentro do estado,
na medida em que concentra grande parcela dos imigrantes que chegam. Quanto à
distribuição intramunicipal desses imigrantes na cidade do Rio de Janeiro, nota-se a
presença mais acentuada em bairros do Centro, da Zona Sul e da Grande Tijuca, além dos
bairros da Barra da Tijuca e do Recreio, áreas que historicamente concentram políticas
públicas e, portanto, são representativas de um maior dinamismo econômico dentro da
cidade, em detrimentos de outras áreas menos privilegiadas, o que contribui para a
configuração de grandes disparidades sociosespaciais na cidade do Rio de Janeiro.
Constatou-se ainda que houve uma significativa diversificação dos fluxos imigratórios
internacionais para a cidade do Rio de Janeiro, tendo Portugal diminuído sua importância ao
longo do tempo, e Angola, França e Estados Unidos, aumentado sua representatividade.
Além disso, destacaram-se, dentre os novos contingentes, os oriundos de países sul-
americanos e europeus, tais como Colômbia, Peru, Finlândia e Holanda. Esses resultados
mostram, acima de tudo, a multiplicidade de fluxos migratórios com destino à cidade do Rio
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de Janeiro na última década, confirmando a tendência de complexificação dos fluxos de
maneira geral e a posição de destaque que a cidade e o país exercem cada vez mais na
atração de imigrantes de outros países.
5- Referências Bibliográficas
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