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PESQUISAS

Democratização

cultural e Formação

De Públicos:inquérito aos

“serviços eDucativos”em Portugal

Rui Telmo GomesVanda Lourenço

[últimosnúmeros]

10 Público(s) do Teatro Nacional S. João MariadeLourdesLimadosSantos(coordenação) JoãoSedasNunes(responsávelexecutivo),SofiaAlexandraCruzeVandaLourenço

11 Públicos do Porto 2001 MariadeLourdesLimadosSantos(coordenação) RuiTelmoGomeseJoséSoaresNeves(responsáveisexecutivos) MariaJoãoLima,VandaLourenço,TeresaDuarteMartinho eJorgeAlvesdosSantos

12 Políticas Culturais e Descentralização. Impactos do Programa Difusão das Artes do Espectáculo MariadeLourdesLimadosSantos(coordenação) RuiTelmoGomeseJoséSoaresNeves(responsáveisexecutivos) MariaJoãoLima,VandaLourenço,TeresaDuarteMartinho eJorgeAlvesdosSantos MartaAraújo,SaraDuarte,TâniaLeão,JoanaSaldanhaNuneseRitaRosado

13 Cartografia Cultural do Concelho de Cascais MariadeLourdesLimadosSantos(coordenação) MariaJoãoLimaeJoséSoaresNeves

14 Trabalho e Qualificação nas Actividades Culturais. Um Panorama em Vários Domínios RuiTelmoGomeseTeresaDuarteMartinho

15 Democratização Cultural e Formação de Públicos: Inquérito aos “Serviços Educativos” em Portugal RuiTelmoGomeseVandaLourenço

Democratização

cultural e Formação De Públicos:inquérito aos

“serviços eDucativos”em Portugal

Rui Telmo GomesVanda LourençoJoana Crisóstomo [Colaboração]

Director José Machado Pais

Título Democratização Cultural e Formação de Públicos: Inquérito aos “Serviços Educativos” em Portugal

Autores Rui Telmo Gomes e Vanda Lourenço

Edição Observatório das Actividades Culturais Av.ConselheiroFernandodeSousa,21A 1070-072LISBOA – PORTUGAL Tel.:213219860–Fax:213429697 E-mail:oac@oac.pt • www.oac.pt

Coordenaçãoeditorial José Soares Neves

Capaepaginação Carlos Vieira Reis

Datadeedição Setembro de 2009

ÍNDiCE

ApRESENTAção.................................................................................................................................................................................................. 7

1. DEMoCRATizAçãoCuLTuRAL:uMCoNCEiTo,DiFERENTESSENTiDoS.............11

1.1. Reequacionamentodasabordagensda“DemocratizaçãoCultural”............................11

1.2. Metodologia......................................................................................................................................................................................22

2. poLÍTiCASpúbLiCAS..........................................................................................................................................................................25

2.1. Democratizaçãoculturaleformaçãodepúblicosnosprogramaspolíticos..........26

2.2. instrumentosdeintervençãopolíticaeadministrativa................................................................48

3. pRáTiCASECoNSuMoSCuLTuRAiSEMpoRTuGAL...........................................................................75

4. iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS

DoSEquipAMENToSCuLTuRAiS...................................................................................................................................87

4.1. Caracterizaçãoinstitucional..........................................................................................................................................91

4.2. Caracterizaçãodasequipas.........................................................................................................................................101

4.3. Caracterizaçãodasactividadeserespectivospúblicos..............................................................112

4.4. organizaçãodasactividadespedagógicasformativas.................................................................138

5. ASACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS–CASoSiLuSTRATiVoS............155

5.1. percursos............................................................................................................................................................................................156

5.2. qualificaçõesecompetências..................................................................................................................................162

5.3. Actividades.....................................................................................................................................................................................168

CoNCLuSão......................................................................................................................................................................................................173

bibLioGRAFiA..................................................................................................................................................................................................177

ANExoA..................................................................................................................................................................................................................187

ANExob...................................................................................................................................................................................................................193

ApRESENTAção

opresentelivrotemporpontodepartidaoprojecto A Cultura em Portugal: Diagnóstico e Prospecção,oqualprivilegiouasproblemá-ticasdoemprego e exercício profissional no sector da culturaeademo-cratização cultural e formação de públicos,constituindodoisdistintosmódulosdetrabalho.Aanálisedesenvolvidanosegundomóduloéaqueagorasepublica,comotítuloDemocratização Cultural e Forma-ção de Públicos: Inquérito aos “Serviços Educativos” em Portugal.

A Cultura em Portugal:Diagnóstico e Prospecção constituiumareleitura e actualizaçãodoestudoPolíticas Culturais em Portugal,relativoaoperíodode1985a1995, realizadopeloobservatóriodasActividadesCulturaiseeditadoem1998.Esseestudofoiela-boradonoquadrodoprogramadoConselhodaEuropa“AvaliaçãodaspolíticasCulturaisNacionais”,queapresentavacomoobjec-tivos: reunir informação sobre os diferentes sectores da políticaculturaldosváriospaíses;desenvolveroconhecimentodospro-blemaseresultadosdessaspolíticas;estabelecerumametodologiacomumparaaanáliseeavaliaçãodapolíticacultural;contribuirparanovasiniciativasnodomíniodacooperaçãocultural.Emter-mos de linhas de orientação, eram privilegiadas como temáticasadesenvolverpelosrelatóriosnacionais:apromoçãodacriativi-dade;adescentralizaçãocultural;oalargamentodaparticipaçãonavidacultural.Finalmente,erapreconizadaumametodologiadeavaliaçãoassente em três eixos: identificaçãodosobjectivosdaspolíticas culturais; análise dos meios para os atingir; estudo dosresultadosobtidos.

8 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

o estudo foi um dos primeiros levados a cabo no observató-riodasActividadesCulturaisesignificouumtrabalhodeavaliaçãoinédito à época em termosdeumaperspectivapanorâmica sobrepolítica cultural, quantoa sectoresde actividade eproblemáticasconsideradas.paraalémdoenquadramentohistóricoepolíticodarealidadeculturalportuguesa,oRelatóriofinaldaavaliaçãoapresen-tava-seprecisamentesegundoaquelasduasdimensões:umapartedoRelatóriocompunha-sedeumconjuntodecapítulossectoriaisespecíficosdeacordocomatipologiadaUneScO adoptadapeloCon-selhodaEuropa (contemplando:Artesplásticas;Música;Dança;Teatro; Cinema, televisão e rádio; Livro, publicações e bibliote-cas; património, museus e arquivos; Actividades sócio-culturais);umaoutrapartefocavaumconjuntodeproblemáticastransversais(Estado,mercadoesociedadecivil;Formaçãoeprofissionalização;públicos e recepção cultural; intermediação cultural, marketing epublicidade; indústrias culturais, media e novas tecnologias; Des-centralização,participaçãoediversidadecultural;internacionaliza-çãoecooperação).

umoutroestudorealizadonoobservatóriomaisrecentemente,Contribuições para a Formulação de Políticas Públicas no Horizonte 2013 Relativas ao Tema “Cultura, Identidades e Património” (2005), visoutambémumaanálisepanorâmicadodomíniodacultura,destafeitacomopropósitodeidentificarlinhaspossíveisdeinvestimentoprio-ritáriodefundoscomunitáriosprevistosparaoquadroNacionaldeReferênciaEstratégica(2007-2013).Emboraoenfoquedeanáliseeametodologiaseguidafossemdiferentesdoanterior,háalgunspontoscomunsadestacar.

Dopontodevistadapesquisasobrepolíticacultural,estesegundoestudopossibilitouaactualizaçãoesistematizaçãodeumconjuntodeindicadoresestatísticoseodiagnósticodasprincipaistendênciasdeevoluçãodosector.Emgeral,observa-seoseuclarocrescimentoquandocomparadocomadécadaanterior,aindaquesujeitoaosci-lações conjunturais (nomeadamente as decorrentes da recessãoeconómicadoiníciodosanos2000)eadebilidadesinstitucionaise

ApRESENTAção | 9

reguladorasassociadasaoprópriocrescimentodosector(porexem-plo,acrescentedesregulaçãodosmercadosdetrabalho).

Emsegundolugar,apesardadiferençadepropósitosdosdoisestu-dos,asorientaçõesestratégicasenunciadascomoconclusãoprospec-tivadoRelatóriosobreoHorizonte 2013fazemecodasproblemáticasantesabordadasnoestudosobreAs Políticas Culturais em Portugal:acriatividadeinscritanosectorculturalcomofactordecompetitivi-dadeeconómicadopaís;novosmodelosdeplaneamentoedesen-volvimento territorial, com destaque para a requalificação urbanae a revitalização rural ligadas às actividades culturais e aos recur-sospatrimoniais;ademocratizaçãodoacessoàculturaeaculturaenquantoformadeparticipaçãoeexpressãodapopulação.

Acoincidênciatemáticaentreosdoisestudosnãoécasual.pelocontrário,correspondeao lugarcentralque têmocupado,naevo-luçãodosectorculturalaolongodasúltimasdécadasemdiferentespaíseseuropeus–eemportugaldemodoparticular–ostrêstemasreferidos:cultura,empregoeeconomia;culturaeterritório;partici-paçãocultural.

éemtornodeumdestestemasquesecentraopresenteestudo.Nãotemevidentementeomesmoenquadramento–nãosesituanoâmbitodeprogramasdefinidosaníveleuropeunemestádirectamenteimplicadoemprocessosdeintervençãopolítica.Decorredaquiumamaiordelimitaçãodoobjectodeestudo,privilegiandosobretudoaproblemáticadademocratização cultural e formação de públicos.

Asquestõesdeanálisereferentesàdimensãoterritorialdacul-turaeàdescentralizaçãoculturalsãofocadasemarticulaçãocomessaproblemática.Nessesentido,adescentralizaçãoéfocadacomoeixodedemocratizaçãoculturalnosprogramaspolíticose regula-mentaçãonormativaaolongodasúltimasdécadaseéreferidotam-bémopapeldasautarquias(masnãosó)narecentevagadeserviçoseducativoscriadosemequipamentosculturais.queristodizerqueéatribuídaespecialatençãoaopapeldesempenhadopelosmunicípiosnoplanoterritorialdapolíticaculturalecomoagentesdedescen-tralização.

10 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Foiigualmenteadoptadocomoprincípiometodológicoasequên-ciaanalíticadeobjectivos,meioseresultados.érealizadaumaabor-dagemaosprogramaspartidários,governativoselegislaçãoaplicávelacadaumadasproblemáticas,nosentidodeaveriguaraelaboraçãodasrespectivasagendaspolíticasduranteasdécadasmaisrecentes.programaseprojectosdeintervençãopolítica,bemcomoosresul-tados atingidos, são também apresentados, ainda que sujeitos àinformação(designadamenteestatística)disponível.Nesteaspecto,e assinalando a actualidade das problemáticas focadas, foi feito oacompanhamentodoprocessodereflexãopresentementeemcursoaoníveldadefiniçãodepolíticasculturais,designadamenteparaodebatesobreeducaçãoartísticaeculturalsobaégideda UneScO.

Nosdoiscapítulosiniciaissãoabordadasasváriasformulaçõesdoconceitode“democratizaçãocultural”eassuastraduçõesemqua-drosnormativosemedidasdepolíticacultural.Faz-seainda,noter-ceirocapítulo,umretratoestatísticodaevoluçãodaprocuraculturalemportugal,antesdeserapresentada,noquartocapítulo,aprinci-palcomponenteempíricadesteestudo–oinquéritoàsactividadespedagógicaseformativasdosequipamentosculturais.Asuaexten-são(cercade200respostasobtidas)ecarácterinéditopermitemumacaracterizaçãoexaustivaedetalhadadeumafunçãodasinstituiçõesculturaisquetemassumidorecentementegranderelevância,emboraaindapoucodescritaemestudosespecíficos.umderradeirocapítulopropõeumaabordagemmaisqualitativatomandocomocasosilus-trativosumnúmeroreduzidodeserviçoseducativoseosseusmodosdefuncionamento.

1. DEMoCRATizAçãoCuLTuRAL:uMCoNCEiTo,DiFERENTESSENTiDoS

1.1. REEquACioNAMENToDASAboRDAGENSDA“DEMoCRATizAçãoCuLTuRAL”

A democratização cultural – objectivo fundado no aumento edescentralizaçãodaofertaenaampliaçãodonúmeroeperfilsocialdospraticantesculturais–temconstituídoumimportantedesígnio,commaioroumenordestaque,nosprogramaspolíticosdossucessi-vosgovernosconstitucionaisfaceàsuaimportânciacomofactordedesenvolvimento,cidadaniaecoesãosocial.Actualmenteé-lheatri-buídaumacrescentevisibilidade,ancoradaemestratégiasdealarga-mentoedecriaçãodenovospúblicosparaacultura.

Emportugal,estedestaquenãopoderádissociar-sedacentrali-dade que a criação/recuperação de infra-estruturas culturais teve,numpassadoaindamuito recente,noconjuntodos investimentospúblicos nacionais e locais, e, por outro lado, da verificação, emalguns casos, de reduzidas audiências para as actividades culturaispropostasnosnovosequipamentos(SantoseGomes,2005).

Comefeito,algunsdosinvestimentosefectuadosnãosefizeramacompanhardeoutrosigualmenteindispensáveisparaavalorizaçãoemobilizaçãodasdinâmicasculturaislocais,capazesdeincentivaraparticipaçãodepopulaçõesmenosfamiliarizadascomasarteseacul-tura.Emmuitascidadeseconcelhosondeserealizaramimportantesinvestimentos infraestruturais não existe ainda um retorno equili-bradorelativamenteàprocuradebenseserviçosaígerados.

12 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

para além do desequilíbrio entre a oferta e a procura culturais–maisvisívelemdeterminadasregiõesdopaíseparacertosdomíniosartísticos–,é igualmenteperceptívela influênciadedeterminadosfactores sociais na constituição dos consumidores/praticantes cul-turais.Deacordocomalgunsestudos realizadosnaúltimadécada–designadamenteos inquéritos apráticas culturais depopulaçõesespecíficaseosestudosdepúblicosdeeventoseequipamentoscul-turais–émanifestaaselectividadesocialdospraticantes,associadaaelevadosníveisdequalificaçãoescolareprofissional1.

Aestepropósitoconvémrecordaralgunsaspectosdaexperiênciafrancesa,dadaalongevidadedassuaspolíticasnosectordacultura,edos intuitosdepositadosnodesígniodedemocratizaçãocultural.Aofazer-seumbalançodasintervençõespolíticasfrancesasdasúlti-mas quatro décadas, podem assinalar-se resultados que, à partida,parecemcontraditórios.Seporumladoseassistiuaumatransforma-çãoglobalmentepositivadosector,designadamentenoalargamento,diversificaçãoequalificaçãodaofertacultural,algunsestudosreali-zadosevidenciamapermanênciadadescriminaçãosocialnoacessoàcultura.

umacomparaçãoentreos resultadosdos inquéritos àspráticasculturaisdosfranceses–realizadosregularmentedesdeoiníciodosanos70eo fimdosanos90–,permiteverificarquea frequênciadosequipamentosculturaisaumentouglobalmente.porém,nãoobs-tanteoaumentodopesoabsolutodosfrequentadores,osresultadosrevelamquenão severificam transformações sociais significativas,à escaladapopulação francesa, relativamente aos segmentosmaisempenhadosnavidacultural(quadrossuperioreseprofissõesinte-lectuaisecientíficas).

A permanência deste cenário ao longo de várias décadas depolíticasculturaisapostadasnademocratizaçãocultural, edepro-gressivas transformações no campo cultural e artístico, obrigam

1 VermaisadiantenoCapítulo3(notas66e68)algunsdosestudosondeestaquestãoéabordada.

DEMoCRATizAçãoCuLTuRAL... | 13

necessariamenteareequacionarosobjectivoseossentidosinerentesaestedesígnio.

umadasprimeirasinferênciasdoimpactodaspolíticasapostadasnademocratizaçãoatravésdoaumentoedescentralizaçãodaofertacultural–nomeadamenteaquesetraduznaconstrução,requalifi-caçãoeapetrechamentodeespaçosculturais–éofactodestasnãogeraremautomaticamenteumalargamentosocialdospúblicos.

Esta ilusão estará relacionada, no entender de olivier Donnat(2001), com alguma ambiguidade na utilização do conceito dedemocratizaçãoculturaleespecialmentedo termo“acesso”,usadoparaabarcarobjectivosque,alémdemuitosdistintos,podemmesmosercontraditórios.

Aamplitudepolissémicado termo implicaque,apropósitodademocratização sedefinamobjectivos associados à oferta cultural(tais como a acessibilidade a equipamentos culturais através, porexemplo, da sua descentralização ou a facilitação do acesso atra-vésdoestabelecimentodetarifáriosrazoáveis,etc.)eoutros,maisambiciosos,relativosaoalargamentosocialdepúblicos.Comefeito,a concretizaçãodosprimeirosnãoé garantepara a concretizaçãodossegundos.Mesmoopropósitovastode“alargar”ospúblicosdacultura pode implicar uma série de objectivos diferenciados que,longedeseremcomplementares,podemserportadoresdetensõesse englobados num plano comum. Na verdade, a necessidade de“aumentaronúmerodepúblicos”,“criarnovospúblicos”ou“fideli-zarpúblicos”,implicaadefiniçãodeestratégiasmuitodiferenciadasdeplanificaçãoedinamizaçãodeactividades.Nestesentido,umdoscontributos para a análise das políticas de democratização cultu-ralseráaclarificaçãodosobjectivosouintuitossubjacentesaestedesígnio.

umasegunda inferênciaque igualmenteremeteparaanecessi-dadedereequacionarosentidodaspolíticasdedemocratizaçãocul-tural–nãosónasociedadefrancesa,masdeumaformaglobalnassociedadescontemporâneasocidentais–traduz-senafortediversifi-caçãonosmodosdeacessoedeapropriaçãodaarteedacultura.

14 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Astransformaçõesnocampodoaudiovisual,multimédiaesupor-tes digitais, alteraram drasticamente o conceito de “visita cultu-ral”earelaçãoqueosindivíduosestabelecemcomosbensartísti-cos.oacessovirtual aos “lugaresda cultura”, atravésde suportestecnológicos,favoreceaemergênciadenovasformasderecepçãoemostraqueoencontrocomasobrasdaartenãoestáreservadoaumtempoeaumespaçoparticulares.

Refira-setambém,entreasalteraçõesevidenciadasnosectorcul-tural,ocrescentealargamentodasexpressõesculturais eartísticas“legítimas”, sobretudo através do cruzamento multidisciplinar dasdiferentesmanifestaçõesdasartesedadiversificaçãodosmodosdeestabelecerumarelaçãocomacultura,designadamenteatravésdaparticipaçãocultural.

Acrescentediversidadedeexpressõesartísticas,demodosdeacessoà cultura e de formas de relação e de recepção dos bens culturais,reclamaumolharrenovadosobreasformasdeintervençãonoâmbitodaspolíticasculturaisesobreoconceitodedemocratizaçãocultural.

Entre essas novas formas de repensar as políticas culturais quevisamademocratizaçãodacultura,asqueapontamparaaformação de públicosganhamumanotoriedadeacrescidaedãoaestedomínioumestatutode“campodeintervenção emergente”.

Nocasoportuguês,senumaprimeirafasedeinvestimentospúbli-cos, a criação de uma rede alargada de infra-estruturas se definiucomoobjectivopolíticoprioritário,atendênciaéparaesteprogres-sivamentedarlugarainvestimentosdireccionadostantoparaapro-moçãodeumaofertaculturalqualificada–apostandonacontrataçãodetécnicoscomcompetênciasespecializadasenodesenvolvimentodeumaprogramaçãoculturalregular–comoparaadinamizaçãodeacçõesquevisamaformação de novos públicos para a cultura.

Aspolíticasnacionaisparaademocratizaçãoculturale,particu-larmente, as que visam a formação de públicos, têm-se orientadofundamentalmente seguindo três vias: i) o incentivo à criação erequalificaçãodeserviçoseducativosnosequipamentosculturais;ii)oestímuloaodesenvolvimentodeactividadesdestanaturezajunto

DEMoCRATizAçãoCuLTuRAL... | 15

deagentesculturaiseartísticosatravésdelegislaçãoespecífica;iii)astentativasdereequacionamentodaaprendizagemedocontactocomasartesnasescolasdoensinoregular.

Noquerespeitaàprimeiraviadeintervençãopública,assinale--se,atítulodeexemplo,oaumentodonúmerodemuseuscomservi-çoseducativoseaamplificaçãoediversificaçãodassuasactividades,assim como a crescente preocupação, por parte de outros equipa-mentos culturais, em organizar serviços ou actividades com umacomponentepedagógica/formativa(Santoseoutros,2005;Gomes,LourençoeMartinho,2006).

Astransformaçõesocorridasnosectormuseológico–nomeada-menteasuacrescentenotoriedadecomoimportanterecursoeduca-tivoaolongodetodooséculoxx–sãoparadigmáticasdorelevoqueapolíticasfocalizadasnospúblicosalcançaramaolongodasúltimasdécadasnosectorcultural.Noiníciodosanos70,ascríticasdirigidasaosectormuseológicovisaramsobretudoa fracaaberturaaoexte-rioreaquaseexclusivaconcentraçãoemfunçõesdeinventariaçãoeconservação.Comefeito,arelaçãodomuseucomascomunidadeseoquestionamentodoexercíciodasuafunçãosocialconstituíramocentrodacríticaaosmuseusemotivarammovimentosderenovaçãodamuseologia.otrabalhopara(ecom)ospúblicosterásidoumdosprincipais“motores”paraagrandemudançadeparadigmaoperadanosectornoiníciodaqueladécada.

oquestionamentoemtornodafunçãosocialdosmuseusfoitam-bémumestímuloaodesenvolvimentodasnovasteoriasdaeducação–lifelong learning–,movimentodeorigemsobretudoanglo-saxónicadoiníciodadécadade70.Aideiasubjacenteaestasteoriasresidenofactodafunçãoeducativadosmuseusnãoseesgotarunicamentenaeducaçãoformal,estandotambémassenteemprocessosdeaprendiza-gemeconhecimentodirigidosapúblicosemdiferentesfasesdasuavidaouquemanifesteminteressesdiversos.Comesteentendimento,a funçãoeducativadosmuseus abre-se aum lequemuitovariadode públicos não estando confinadas exclusivamente ao segmentoescolar.

16 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

A importância e o entendimento que a função educativa temvindoprogressivamenteaassumirnopanoramamuseológicoportu-guês não pode dissociar-se da evolução desta mesma temática nopanorama internacional.Todavia,apesardasalteraçõesverificadasa nível internacional e da influência que estas tiveram em portu-gal,amuseologiaportuguesatemumpercursopróprio2.ésobretudoduranteosanos80,apardaexplosãodonúmerodemuseusentre-tantocriadosemportugal,queosserviçoseducativosganhammaiorexpressão.osnovosmuseuscriadossãomaioritariamentedeinicia-tivaautárquica,ligadosàscomunidadesondetêmorigem,razãopelaqual,deacordocomaCoordenadoradaRedeportuguesadeMuseus(RpM),terãotidomuitomaiorsensibilidadeparaaacçãoeducativaatravésdapromoçãodeumaproximidadecomaspopulaçõeslocais.

Atransformaçãoprogressivanocampodaeducação/mediaçãodosectordosmuseus,surgiráapardaatençãodepositadanaqualificaçãodosseusrecursos.A(re)construçãodosprópriosedifícios–atravésdefinanciamentospúblicosecomunitários3–ea(re)qualificaçãodascondiçõesdeconservação/inventariaçãoedeconfortodosmuseus,terãosidoasprimeirastransformaçõesverificadasnosector.Tambémoaparecimentodecursosdeformaçãoeespecializaçãoemmuseolo-giaduranteosanos90permitiudarinícioaumprocessodequalifica-çãodostécnicoscomreflexosexpressivosnaáreadaeducação.

Aevoluçãodopanoramamuseológicoportuguêstembeneficiadodeumconjuntodefactoresqueconvergemparaqueaspreocupa-çõesrelativasaospúblicosadquiram,sobretudoapartirdoiníciodo

2 Nocasodosmuseusportugueses,jáduranteosanos50sepodemidentificaracçõesespecíficas que evidenciam e sublinham a função educativa dos museus. o MuseuNacional de Arte Antiga (MnAA) terá sido um dos primeiros museus a desenvolveractividadespedagógicaseformativasdadoointeressedemonstradoporalgunsdosseusresponsáveis. Refira-se designadamente João Couto e, mais tarde, Madalena Cabral–ambostiveramumpapeldeterminantenacentralidadequeprogressivamenteasacti-vidadespedagógicaseformativasforamassumindonaprogramaçãodoMuseu.3 Refira-sequeentreasprincipaisdespesasdaAdministraçãocentralelocalcomacultura,figuramasdespesascomopatrimónio.

DEMoCRATizAçãoCuLTuRAL... | 17

séculoxxi,maiorevidênciaeumaimportânciacrescente.Nosúlti-moscincoanos,estetrabalho“ganhaumanovavisibilidadejuntodosmeiosdecomunicaçãosocialedospúblicos”4.umadasrazõesestarácertamenterelacionadacomasexigênciasdacomunicação/media-çãoparaqueosmuseusestãoagoramuitomaisdespertos.Aprodu-çãoe ediçãodepublicações, demateriais didácticos emultimédiae o maior empenho e investimento na divulgação das actividadestêmvindoaganharmuitomaisexpressãoereconhecimentojuntodospúblicos.Asacçõeseducativasnosmuseustêmcomoenquadra-mento, políticas museológicas que, actualmente, dão muito maioratenção à importância dos serviços educativos nas suas estruturasorgânicas,assimcomoàdinamizaçãodeactividadesparasegmentosdepúblicosmuitodiferenciados.

Asegundaviaatrásapontadaparaumaintervençãopolíticaquevisa a formação de públicos é a relativa à definição de legislaçãoespecífica. o anterior quadro normativo para a regulamentaçãodosapoiosdoEstadoaosectordacultura5teráconduzido,decertaforma,aoaumentodonúmerodeactividadesformativasemestru-turasprivadas,aoreforçarasuapromoçãonosobjectivosdelinea-dos e no perfil de estruturas beneficiárias bem como nos factoresdeponderaçãonaapreciaçãodecandidaturas.Entreosobjectivosfiguravaoincentivoà“vertenteeducativadasactividadesartísticase(...)aligaçãoaomeioescolar,fomentandoointeressedascriançasedosjovenspelacultura”6,sendoprincipaisbeneficiáriasasestru-turasquedetivessem“valorartísticocomprovadopelaqualidadeeprojecção das suas actividades nomeadamente no âmbito da for-maçãodenovospúblicos edoacessodos cidadãos às actividades

4 EntrevistarealizadaàCoordenadoradaRedeportuguesadeMuseusa1deFeve-reirode2007.5 Decreto-Leinº272/2003,de29deoutubroeposterioralteraçãopeloDecreto-Leinº224/2005,de27deDezembro.6 Alíneag)doartigo2ºdoDecreto-Leinº272/2003,de29deoutubro.

18 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

artísticas7.quantoàapreciaçãodecandidaturas,tinhaemcontao“cumprimentodefunçõesdeutilidadesocial,designadamentenosdomíniosdoensinoedaformação,dadifusão,daitinerânciaedaformaçãodepúblicos”8.

paralelamente, a importância política conferida às acções nodomíniodaformaçãodepúblicosestimulaodesenvolvimentodestasactividades juntodeestruturasdosectorprivado.Aintegraçãodeumacomponentepedagógica/formativanotrabalhoculturaleartís-ticopode,inclusive,funcionarcomoumaviaparaaafirmaçãodasactividadesdegruposecompanhiase,dessemodo,facilitaroacessoaapoiosesubsídiospúblicos.

oactualquadrolegislativoqueregulamentaosapoiosdoEstadoao sector da cultura altera o anterior cenário, prevendo um seg-mento de financiamento específico para as estruturas artísticas“cujaactividadeprincipalsejaaformaçãoemcontextonãoescolar(...)9.

Finalmente,aterceiraviadaintervençãopúblicanoquerespeitaàformaçãodepúblicosdizrespeitoàarticulaçãoentrepolíticasedu-cacionaiseculturaiscomvistaàreformulaçãodomodocomoasarteseaculturasãopercepcionadasnoensinoregular,nosentidodepode-remcontribuirdeformamaisefectivanodesenvolvimentoglobaldosalunosefuturoscidadãos.A“educaçãoartística”–expressãodeori-gemfrancesadegeneralizaçãorecenteemportugal–funda-seprio-ritariamentenapromoçãodeumamaiorproximidadecomasartesatravésdoencontrocomasobras,comasuaforçacomunicacional,comoseuimpactoestéticoecomcontextosdecriação.Dizrespeito,deumaformageral,àsensibilizaçãoparaosváriosdomíniosartísticosdentroeforadostemposescolares.

Em portugal, não obstante as sucessivas propostas de articula-çãoentreosMinistériosdaEducaçãoedaCulturacomointuitode

7 Alíneasa)eb)doartigo4ºdoDecreto-Leinº272/2003,de29deoutubro.8 Nº4doartigo6ºdoDecreto-lei272/2003,de29deoutubro.9 Nº3dosartigos10ªe11ºdoDecreto-Leinº225/2006,de13deNovembro.

DEMoCRATizAçãoCuLTuRAL... | 19

promoveralteraçõesaomodelovigente,asintervençõesavançadasapresentamaindaumcarácteravulsoemuitopontual.éocasododesenvolvimentodealgunsprojectoseprogramasespecíficosdequemaisadianteseprocurarádarconta.

No caso francês, as políticas culturais têm também procurado,desdemeadosdosanos80,umaaproximaçãomaisefectivaàspolí-ticasdaeducação.umadasrazõesterásido,comoseviu,aperma-nênciadedesigualdades sociaisnoacessoàcultura,maugradoaspolíticasdedemocratizaçãoempreendidas.

Aarticulaçãodaspolíticasculturaiscomasdaeducaçãodenotaumreconhecimentodaimportânciadosistemaeducativonastenta-tivasdereduçãodasdesigualdadessociaisnoacessoàarte10–umarelaçãoque,deresto,osestudosdepúblicosdaculturatêmsucessi-vamentesublinhado.

Aindanoâmbitodosapoiospúblicosquevisamademocratiza-çãodacultura,contam-sealgunsprojectosdenaturezaartísticaqueimplicamaparticipaçãodepopulaçõesoucomunidades–aindaqueestesapoiosnãoconstituamumalinhadeintervençãoespecíficadaspolíticasdatutela,apresentando,porisso,umcarácteravulso.

Regrageral,odesenvolvimentodeprojectosdestanaturezaestáligadoà“marcadistintiva”dotrabalhocriativodealgunsgruposecompanhiasartísticasdosectorprivado(sobretudonão lucrativo),sendo o seu trabalho esporadicamente cooptado para figurar emeventosculturaisdeiniciativapública.

Algumasdestasacçõestêmsidoenquadradasnoâmbitodegran-des eventos nacionais, apresentando tanto objectivos associados àdescentralizaçãoedemocratizaçãocultural,como,emalgunscasos,umafortecomponentedeintervençãosocialjuntodecomunidades

10 Catherine Trautmann (ex-ministra da cultura de França) reforçou a necessidadedeapostarnumtrabalhodemediaçãoparaoacompanhamentoeducativodaspráticasculturais.“Semesteesforçodeeducaçãoedemediação,osdiscursosemtornodademo-cratizaçãosãoapenasteoria”(1998[Donnat,2003]).

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desfavorecidas11.umadassuasparticularidadeséofactodeapelaremàparticipaçãodapopulaçãonosdiferentesmomentosdaactividadeartística–nacriação,naprodução/montagemenaapresentaçãodeespectáculos–promovendoumaaproximaçãoàs artes e à culturaatravés da experiência de participação nos “modos de fazer” arte.Nesteprocesso,desenvolvem-sehabitualmentedinâmicasquevisama dessacralização da cultura, aproximando-a das populações e dosseusquotidianos.

uma nota distintiva destes projectos artísticos refere-se ao seupotencialtransformadordedinâmicaslocais.podendoproduziralte-raçõesnosmodosdepercepcionaraculturaemodificarpráticaseconsumosculturais,podemgeraroutrosimpactossociaissignificati-vosassociadosqueràqualificaçãodaspopulações,queraodesenvol-vimentodeeconomiaslocais.

Nesseâmbitotêmsurgidonocontextoculturalportuguês,algu-masestruturascujaactividadeartísticaassumeumafortecompo-nentede intervenção social.Emboraemcertoscasoso trabalhodesenvolvidopossaterumcarácterpontual,assumindooformatodeprojecto,noutrosédesenvolvidodeformaduradouranoseiodecomunidades específicas.Refira-seoPrograma Escolhas quepro-movea inclusãosocialdecriançase jovensemcontextossocio-económicos mais vulneráveis. Através do apoio a instituiçõeslocais(Escolas,CentrosdeFormação,Associações,ipSS)responsá-veispelaconcepção,implementaçãoeavaliação,sãodinamizadosprojectos associados à promoção da inclusão escolar e formaçãoprofissional;eàocupaçãodostemposlivreseparticipaçãocomu-nitária,entreoutros.Algunsdestesprojectosdeintervençãosocialpropõem-sedesenvolver actividades culturais e artísticas,assumindo

11 Veja-se a título de exemplo o projecto artístico Wozzeck da responsabilidade dabirminghamoperaCompanyedesenvolvidopeloServiçoEducativodaCasadaMúsicacomapopulaçãodobairrodeAldoarparaoporto2001,CapitalEuropeiadaCultura(AAVV,2002).Refira-setambémoprojectodobandonaaldeiadequerença,desenvol-vidonoâmbitodaFaroCapitalNacionaldaCultura2005.

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umpapelcentralnaintegraçãosocialdaspopulaçõesaquemsãodirigidos12.

Apartirdaanálisedasdiferentesestratégiasqueconvergemparaa formação de públicos é possível analisar tendências recentes dopapeldaculturanassociedadescontemporâneas.Deumaperspec-tivadaculturacomo“ornamento”comprincípiosduradourosdehie-rarquizaçãoereproduçãosimbólicaesocial,assiste-separalelamenteao“uso”ourefuncionalizaçãodaculturacomoimportanterecursodecomunicação,cidadania,desenvolvimentoeconómico,coesãoeintegração social (Matarasso, 2003; Santos, 2004). Com efeito, asdinâmicasculturaisactuaistendemaaproximarasduasperspectivas,apresentandoestratégiasde“tipohíbrido”noquerespeitaàforma-çãodepúblicos.istoé,convocamlógicasdeumaculturasimbólica-estatutária, com outras lógicas comunicacionais e de intervençãoeconómicaesocial(Santos,2004).

Apesardoconsensosobreanecessidadedeformarpúblicosparaacultura,esteobjectivoparececruzarumamultiplicidadedeestraté-giasemedidasdiferenciadas.Nemsempreanoçãode“formarpúbli-cos” é igualmente percepcionada pelos vários agentes implicados,podendocorresponderamodosdistintosdecomunicaredefomentarumarelaçãoentreaspopulaçõeseosobjectosdaarteedacultura.

Estasdiferençassãovisíveisemdiversosplanos,designadamentenoquerespeita:aos seus objectivos,(oraassentesemlógicasestritasderecrutamentodepúblicos,oraemprincípiosdedemocratização

12 Esteprogramade iniciativa governamental é actualmente coordenadopeloAltoComissariadoparaaimigraçãoeDiálogointercultural(ACiDi)efinanciadopelosMinis-tériosdoTrabalhoeSegurançaSocial,daEducaçãoedaCiência,TecnologiaeEnsinoSuperior.Começandoporserumprogramaparaaprevençãodacriminalidadeeinser-çãode jovensdosbairrosmaisproblemáticosdosdistritosdeLisboa,portoeSetúbal(1ªgeraçãodoprogramaEscolhasquedecorreuentre2001e2003),a2ªGeraçãodoEscolhas(2004-2006)visoua“promoçãodainclusãosocialdecriançasejovenspro-vindosdecontextossocioeconómicosdesfavorecidoseproblemáticos,numalógicadesolidariedadeede justiçasocial”.A3ªGeraçãodoprogramateve inícionodia1deDezembrode2006com120projectosdistribuídospelasdiferentesregiõesdopaíseirádecorreraté2009.

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culturalecoesãosocial);à sua periodicidadecomquesedesenvolvem(esporádicas ou com continuidade); à sua configuração (diferentesactividadesparadiferentespúblicosalvo);e aos seus conteúdos / mé-todos, particularmente no que concerne a formas diferenciadas decomunicarcomospúblicos,(oramaisassentesnumalógicaunívocadetransmissãodeconhecimentos,orainteractiva,apelandoàparti-cipaçãoeenvolvimentodepúblicosedecomunidadesespecíficas).

é justamente sobreasdiferentes formasdeabordarademocra-tizaçãoculturale,emparticular,aformaçãodepúblicosparaacul-tura,queesteestudoprocuraincidir,considerandoasestratégiasdeintervençãoqueparaelaconvergemcomoobjectodeestudoprivi-legiado.

1.2. METoDoLoGiA

paraabordarasestratégiasedinâmicasdequeserevesteempor-tugaloprocessodedemocratização culturalea formação de públicos para a cultura, são convocadasdiferentesmodalidadesdepesquisaquepodemagrupar-seemduaspartesdistintas.

Aprimeiraconsistenolevantamentodemateriaisdecarizdocu-mentalquepermitamcaracterizaraformacomootemadademocra-tizaçãocultural foi sendoenunciadonosdiscursospolíticosecon-cretizadoemprogramasemedidasdeintervençãopública.Comesseobjectivoserãoanalisados,porumlado,ostextosprogramáticosdosváriosGovernosConstitucionais(1976-2005)eosprogramasparti-dáriosparaosectordaculturanosúltimosdezanos(1995-2005).

Serãotambémapresentadasasprincipaismedidasdeintervençãopolíticaeadministrativanoâmbitodademocratizaçãoculturaledaformaçãodepúblicosatravésdolevantamentodelegislação,depro-jectosedeprogramasespecíficos.Adefiniçãodequadrosregulamen-tares,acriaçãoderedesdeequipamentos,aimplementaçãodeprogra-masespecíficos,assimcomoasreflexõesemtornodapresençadaarteedaculturanoensinoescolar,sãoalgumasdasquestõesanalisadas.

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Abordar-se-ão,aindanestaprimeiraparte,algunsdosresultadosdeinquéritosapráticasculturaisedeestudosdepúblicosdaculturarealizadosnasúltimasdécadas,procurandoevidenciarastendênciasdaprocura cultural emportugal.

Asegundaparterecorreaduastécnicasdetrabalho.umacon-sistenarealizaçãodeuminquéritoporquestionárioàsactividadespedagógicas/formativas de diferentes equipamentos culturais. pre-tende-se caracterizar as dinâmicas destas actividades nos equipa-mentosculturaisrecorrendoaquatrosdimensõesdeanálise:i)perfilinstitucional;ii)caracterizaçãodasequipas;iii)modosdeorganiza-ção;iv)actividadesdesenvolvidas.

A realização de entrevistas a responsáveis por três equipamen-toscomactividadespedagógicas/formativascorrespondeàsegundatécnicadetrabalho.Nestapretende-se,atravésdeexemplossubstan-tivos,aprofundaralgumasdas linhasdeanáliseentretantoeviden-ciadasapartirdos resultadosobtidospelo inquéritoàsactividadespedagógicas/formativasdosequipamentosculturais.

2. poLÍTiCASpúbLiCAS

o objectivo de democratizar a cultura assume um lugar des-tacado no delineamento das políticas públicas desde a instaura-ção do regime democrático em portugal. Embora unanimementevalorizadoemtodososprogramaspolíticosdosGovernosConsti-tucionais, estedesígnio tendeaassumir formulaçõesdiversas e aestipular prioridades distintas, dependendo menos das ideologiaspolíticasvigentesemaisdasconjunturaseconómicasesociaisdaépoca.Sãosobretudoestasúltimasquemaisdeterminam,aliás,asestratégiaseosmeiosadoptadosnaprossecuçãodosobjectivosdademocratização.

opresentecapítuloencontra-sedivididoemduaspartes.pre-tende-se,numprimeiromomento,evidenciarosdiferentesobjec-tivos políticos associados à temática da democratização cultural– expressos tanto nos programas dos Governos Constitucionais,comonosprogramasdosprincipaispartidospolíticos13–paraposte-riormentedestacarmedidasemeiosadoptadospelaadministraçõespúblicasparacolocarempráticaosenunciadospolíticossobreestatemática.

13 Optou-se por considerar os programas políticos desde 1995 dos partidos que actual-mente têmassento na Assembleia da República.

26 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

2.1. DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoSNoSpRoGRAMASpoLÍTiCoS

Da democratização da oferta à democratização da procura

Asreferênciasàimportânciaenecessidadededemocratização da culturasãotransversaisaosváriosprogramasdosGovernosConstitu-cionaisdastrêsúltimasdécadas(1976-2005)assumindoestatemática,quase invariavelmente,uma fortecentralidadenodiscursopolíticopara o sector. à cultura e à necessidade imperativa da sua demo-cratizaçãoestãosubjacentesvaloresassociadosaodesenvolvimentohumanoeàpromoçãodaqualidadedevidadetodososcidadãos.

Nãoobstanteodenominadorcomumqueenquadraostextospro-gramáticos,asestratégiaseinstrumentospropostosparaaconcreti-zaçãodaqueledesígnioapresentamalgumasdiferençasexpressivas.Sãoassinaladasprioridadesouenfoquesdiferenciadosque,podendoseratribuídosàsorientaçõespolíticasdospartidoseleitos,sãoobvia-menteresultadodasconjunturaseconómicas,sociaiseculturaisdasociedadeportuguesaàdatadaredacçãodosrespectivosprogramas.

Começandoporuma leituraglobaldestesenunciadospolíticos,évisível, independentementedosGovernosqueosproferem,umamudança progressiva dos “objectos” de intervenção com vista àdemocratização cultural. Se até ao término dos anos 90 a impor-tância conferida à construção e descentralização de equipamen-tos culturais – designadamente no que se refere à preservação dopatrimónioarquitectónicoeàcriaçãoderedesdeequipamentos–émuitosignificativa,estatemáticavaicedendolugaraoutraspreocu-paçõesque,emborajápresentesnosanterioresprogramaspolíticos,vão ganhando destaque – refiram-se, nomeadamente, as questõesrelativasaoalargamentosocialdoacessoàculturaeaoaumentoequalificaçãodepúblicos.Ditodeoutraforma,éperceptívelumapas-sagemdepreocupaçõeseminentementefocadasnainfra-estrutura-ção–associadasàqualificação da cultura–paraoutrasaliadasàquali-ficação pela cultura,ouseja,aodesenvolvimentonãosódaactividade

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culturaleartísticamastambémdospróprioscidadãos,querenquantopraticantes efectivos, quer enquanto potenciais fruidores dos bensartísticoseculturais.Nesteúltimoaspectoéexemplaraprogressivaelaboraçãodotemadaformação de públicos,expressoliteralmentenoprogramadoactualGoverno,masjáantesconstituindoumapreocu-pação,designadamentenoxiV,xVexViGovernos.

oquadronº1procurajustamentedestacarasprincipaistemáti-casassociadasàdemocratizaçãoculturalevidenciadasnosprogramasdosGovernosConstitucionais.Correndoo riscode simplificar emexcessoosenunciadosdosGovernos,atravésdoreferidoquadro,épossível,contudo,evidenciarduasideiasfundamentaisquecaracte-rizam,emtermosglobais,asprincipaispreocupaçõespolíticasasso-ciadasàdemocratizaçãocultural.

A primeira corrobora a indicação antes expressa relativamenteaopredomíniodepreocupaçõescomaconstrução/requalificaçãodeequipamentosculturaise,designadamentecomaestruturaçãoefun-cionamento em rede destas infra-estruturas. As referências a estaquestãoaolongodetodooperíodoconsiderado,emboraespaçadas,sãosinaldeumapreocupaçãopolíticaquasesemprepresentequernosprimeirosanosdoregimedemocrático,quernaactualidade.Nes-tasmesmascircunstânciasestãotambémasreferênciasatribuídasàdescentralizaçãocultural,comoumdosdesígnios fundamentaisdademocratização.

Asegunda ideiaqueoquadrodestacaéprecisamenteo relevoentretantoadquiridopelaspreocupaçõesrelativasàdemocratização da procura cultural consubstanciadasquernoaprofundamentodarela-çãoentreosministériosdaEducaçãoedaCulturacomoobjectivode intervir nos currículos escolares, quer pela importância atribu-ídaàsactividadespedagógicascomomeiosparaacriação/formaçãodenovospúblicosparaacultura.osprogramasdoscincoúltimosGovernos Constitucionais expressam precisamente esta crescentepreocupação.

procurando pormenorizar algumas das evidências gerais des-tacadaspeloquadro, refira-sequeésobretudono fimdosanos80

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Temáticas da “democratização cultural” nos Programasdos Governos Constitucionais[quADRoNº1]

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que os enunciados políticos relativos à infra-estruturação ganhammaiorconsistência–sebemqueasreferênciasànecessidadedecriarequipamentos diversos acompanhem quase todos os programas.Recorde-sequeénaqueleperíodoqueportugalpassa a integrar aentãoComunidadeEconómicaEuropeia(CEE),assistindo-seprova-velmenteaumamaiordisponibilidadefinanceiradopaísparainvesti-mentoseminfra-estruturasatravésdoacessoafundoscomunitários.podendonãoresultardeumacorrelaçãodirectacomaentradadefinanciamentoscomunitários,refira-se,noentanto,quesóem1987éefectivamenteinstituídaaRedeNacionaldebibliotecaspúblicas14,emboraas referênciasànecessidadede “definiçãodeumapolíticaunificadadebibliotecaspopulareseconsequentereestruturaçãodaredeexistente”, se tenhamanifestado logono iiiGovernoConsti-tucional (1978)15.Tambémanecessidadedeumaredederecintosculturaissereafirmaráapartirdosanos80,aindaquejánosfinaisdadécadaanterior,noprogramadoiiGovernoConstitucional,fossereferidoo“prosseguimentodaexecuçãodoprojectodecriaçãodeumarededecentrosculturaisemíntimacolaboraçãocomosórgãosdistritaisemunicipais”16.

Nodomíniodolivroprivilegiar-se-áacontinuidadedosprogramasdeinstalaçãodeumaredenacionaldebibliotecasmunicipais(…)Como objectivo de incentivar a real descentralização e diversificação dainiciativacultural, continuaráaapoiar-seodesenvolvimentodeumarededeespaçosculturais(Programa do XI Governo Constitucional (1987-1991),capítuloiV,ponto2)

NaáreaculturaloGovernoprovidenciaráaexistênciadeinfra-estru-turas,semprequepossívelpolivalentes,quesejampólosdedivulgaçãoanívelregionalequetenhamcapacidadeparamostraroquedemais

14 Ver,aestepropósito,nofimdestecapítulooquadronº3,página48.15 programadoiiiGovernoConstitucional,capítuloiV,ponto2.6.3.2.5,alínead).16 programadoiiGovernoConstitucional,capítuloiii;pontoF);alínea3.15.2.10.

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relevanteexistanaproduçãoculturalnacional,decarizeruditocomodecarizpopular,equepossamviraconstituirpontosdeexibiçãoecir-culaçãodeartistasesuasobras.(Programa do XII Governo Constitucional (1991-1995),capítuloiii,ponto1)

Regista-sedesdecedoumapreocupaçãocomapromoçãodeumamaiorproximidadeentreaspopulaçõesmaisdesfavorecidaseosdife-rentesbenseserviçosdacultura.Estapreocupaçãomanifesta-se,porumlado,noreconhecimentodaselectividadesocialdospúblicosdaculturae,poroutro,noenunciadodotipodeacçõesadesenvolver,procurandoumaintervençãoadaptadaàsdiferentesorigenssociaisdapopulação.

promoçãodoacessoàculturadasmaisamplascamadaspopulacio-nais,atravésdadeterminaçãoeaplicaçãodemétodosde intervençãoculturalquetenhamemcontaacaracterizaçãodasprópriaspopulaçõesaque sedirigem. (Programa do I Governo Constitucional (1976-1978),capítuloiii,pontoF),alínea3.4)

Adefinição,aprogramaçãoeaexecuçãodeumapolíticaculturalparaasociedadeportuguesaprocurarãorealizarobjectivosdedemocra-tizaçãoculturaledasuaconsequentedescentralização(…)incrementodaparticipaçãoculturaldoscidadãos,atodososníveis,privilegiandoasáreasgeográficaseascamadassociaismaisdesfavorecidasdopontodevistadoacessoaosmeioseinstrumentosdaacçãocultural(...)promo-ção(...)demanifestaçõesculturaisitinerantes,possibilitandoodiálogodaspopulaçõescomosartistasecriadoresrepresentados.(Programa do III Governo Constitucional (1978),capítuloiV,pontos2.6.3.1.1,2.6.3.1.5e2.6.3.3.4)

paraaconcretizaçãodestesobjectivossãomencionadasestraté-giasespecíficasdealargamentosocialdaparticipaçãoculturalatra-vésdoapoioaprogramasdedivulgaçãoculturalnosmeiosdecomu-nicaçãosocial;doprosseguimentodaacçãodosserviçoseducativosdemuseusebibliotecasoudoestudoparaaconstituiçãodepasses

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culturais17.Note-setambém,desdecedo,orelevoqueaarticulaçãoentreaescolaeoensinoartísticomereceunoiníciodosanos80,noprogramadoixGovernoConstitucional,comodinâmicaassociadaàdemocratização.“EmcooperaçãocomoMinistériodaEducação,procuraráremediar-seacarênciaemformaçãoartísticaeeducarogosto artístico aos diversos níveis do ensino”. o destaque dado àescolaeaoensinoartísticofoiretomadoemposterioresprogramasvisando“(...)articulareapoiarosorganismosdoMinistériodaEdu-caçãoeCulturanapromoçãodeintegraçãodedisciplinasdeíndoleartística(literária,visual,musical,etc.)noscurrículosescolaresaosváriosníveisdeensino”18.

o aumento e a formação de novos públicos como objectivosexplícitosdedemocratizaçãoculturalecidadaniaganhamrealcenoprogramadoxiVGovernoConstitucional,sendoaíexpressasestra-tégiasespecíficaspara“conseguirmaispúblicos”quepassam,entreoutras,peloreforçodaarticulaçãoentreasescolas,oscriadoreseosequipamentosculturais.

Sãosobretudoduasasdimensõesemqueapolíticaculturaldeveassu-mirummaioresforçodeaprofundamento:adaprofissionalizaçãoeadosnovospúblicos.(…)quantoaosegundo,éprecisoterpresentequesóaconquistadenovospúblicos,introduzindoosbensculturaisnarotinadetodososportugueses,farádaculturaumelementoconstanteevivodecidadania.(...)paraconseguirmaispúblico,énecessáriopromoverdiver-sasacções:desenvolvimentodarededasbibliotecasescolares;(...)dina-mizaçãodoensinoartístico;intensificaçãodarealizaçãodeencontrosedeacçõesentreoscriadores,asinstituiçõesculturaiseaescola(...)criaçãodeumaredenacionaldecentrosdepedagogiaeanimação(...)alargamento,atravésdasnovastecnologias,doacessodoscidadãosàcultura.(Programa do XIV Governo Constitucional (1999-2002),capítuloV,pontoi)

17 programadoiVGovernoConstitucional,capítuloiii,pontoA-1,alíneasA-l)eb-f)(1978-1979);ViiiGovernoConstitucional,capítuloiii,ponto2,alínea2(1981-1983),respectivamente.18 programadoxGovernoConstitucional,capítuloiV,ponto2(1985-1987).

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JánoxiiiGovernoConstitucionalaintençãodeintervirnareformu-lação da relação entre artes e escola foi explícita, dando espaço,inclusive,àreflexãoemtornodestatemáticaatravésdacriaçãodegruposdetrabalhocomrepresentantesdosMinistériosdaEducaçãoedaCultura(quadronº1).osprogramasdosGovernosseguintes(oxV,xVieoxViiGovernoConstitucional,presentementeemfun-ções)acentuamaimportânciaconferidaaestaarticulaçãoministe-rialcomoviaparaacriaçãodemeioseiniciativasdedemocratizaçãodoacessoàculturaporviadaescola.étambémnessesentidoquesepropõemestimulararelaçãoentreaescolaeosequipamentoscultu-raislocaisatravésdoestabelecimentodeparceriasduradouras.

umaoutraestratégiadeintervençãonodomíniodademocratiza-çãoculturalincidenadefiniçãodepolíticasespecíficasparaoapoiopúblicoàcultura.Refira-seaideiadedinamizaçãodeumaofertacul-turalvocacionadaparaaformação/sensibilizaçãodepúblicosatravésdoestabelecimentodecontrapartidasparaaatribuiçãodefinancia-mentos do Estado à criação e produção artísticas. o xV GovernoConstitucional anuncia esse propósito concretizando-o posterior-menteatravésdeumquadronormativoespecífico19.

(…)SeráatribuídaprioridadeabsolutaàarticulaçãocomoMinistériodaEducação,nostermosseguintes:interessandoascriançaseosjovenspela Cultura, introduzindo a obrigatoriedade curricular das visitas deestudoaopatrimónioeaexposições,bemcomoaassistênciaaespectá-culos;(...)solicitandoaosagentesculturaiscontrapartidasaapoiospúbli-cos,designadamenteporumapresençaregularnasescolas;organizandoprogramações locais e nacionais de espectáculos e exposições, quandopossívelitinerantes,comligaçãoarticuladaaosprogramasescolares.(Pro-grama do XV Governo Constitucional (2002-2004),capítuloiii,ponto4)

oprogramadoactualGoverno(xVii)parao sectordaculturainsiste na consolidação das redes de equipamentos e actividades

19 Decreto-Leinº272/2003de29deoutubro.

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culturais e artísticas comovia fundamentalparaa sensibilizaçãoeformaçãodepúblicos.Nessesentidoapontacomoumdosobjectivosprogramáticosodesenvolvimentodeprogramaseducativosdirigidosadiferentespúblicosemtodososequipamentosintegradosemredesnacionais,dandoparticularatençãoà“relaçãocomacomunidadeeàformaçãodepúblicos”.

Asredesdeequipamentoseactividadesculturaissãoomelhorfactordeconsolidaçãoedescentralizaçãodavidaculturaledesensibilizaçãoeformaçãodepúblicos.Aprioridade,nadimensãofísica,éaconclusãodasredesjáiniciadas:aRededeLeiturapública,aRededeTeatros,aRededeMuseuseaRededeArquivos.(Programa do XVII Governo Cons-titucional (2005),capítuloii,pontoii,alínea2)

observe-se,paralelamente,orelevoatribuídoàarticulaçãoentreaspolíticasdaeducaçãoedacultura–jámanifestadoemprogramasanteriores.Sãoenunciadosobjectivosdegeneralizaçãodaeducaçãoartísticaemtodooensinobásicoesecundárioedacooperaçãoentreescolas, instituições e agentes como via para “o envolvimento decadavezmais pessoasnasdiferentes áreas edimensõesdapráticacultural”20.

podedizer-se,sintetizandoosconteúdosdosprogramasdosGover-nosConstitucionais,queatéaotérminodosanos90asestratégiasdedemocratização cultural incidiam especialmente na democratização da oferta através da construção descentralizada de equipamentosculturais;doapoioàitinerânciadeespectáculos;doapoioàculturapopularepráticasamadorasedaapresentaçãoedifusãodeactivida-desculturaisatravésdosmeiosdecomunicaçãosocial.Nos textosprogramáticosmaisrecentesasreferênciasàdemocratizaçãodacul-turaparecemdirigir-semaisparticularmenteapreocupaçõesassocia-dasàdemocratização da procura,nosentidoemqueincidemespecial-mentenasestratégiasemeiosdeacesso(formação/sensibilização)e

20 programadoxViiGovernoConstitucional,capítuloii,pontoii,alínea2(2005).

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decomunicaçãodaarteedaculturaamaisamplasediversificadascamadasdapopulação.

uma outra nota extraída da leitura dos vários programas dosgovernos constitucionais é o facto das principais linhas de inter-venção não serem “partidariamente” distintivas. ou seja, não sediferenciam ideologias políticas no modo como os dois principaispartidosqueconstituíramgoverno(PSePSD)aolongodastrêsúlti-mas décadas de regime democrático, abordam a democratizaçãocultural.Naverdade,oqueparece sobressair éumaconsonânciaentreasprincipaispreocupaçõesnoquesereportaaestamatéria.Algumasdistinçõesmanifestar-se-ão,comoseverámaisadiante,naconcretizaçãodasopçõesestratégicasenunciadas.

Consensos partidários na definição de objectivospara a “democratização cultural”

Também os programas eleitorais das diferentes forças políticasenglobamtransversalmenteobjectivosassociadosàdemocratizaçãocultural, apresentando entre si, todavia, prioridades diferenciadas.Tomandocomoreferênciaosprogramaseleitoraisdospartidoscomassentoparlamentardesde199521,épossíveldestacartrêstemáticasrelativasàdemocratizaçãoculturalaludidascommaisfrequênciaportodas as facções políticas nos seus programas, designadamente: i)apoioàcriaçãoderedesdeequipamentos;ii)sensibilizaçãoesalva-guardadopatrimónioiii)apoioàitinerânciaeàdescentralizaçãodasactividadesculturaiseartísticase iv) intervençãonareformulaçãodoensinoartísticoenapresençadaculturaedasartesnosquotidia-nosescolares(quadronº2).

Sendo temáticas transversais a todos os partidos referenciados,algumasganhammaiornotoriedadedadaaatençãoquelhesédedi-cadaaolongodosváriosprogramaseleitorais.éocaso,porexemplo,

21 blocodeEsquerda,partidoComunistaportuguês,partidoSocialista,partidoSocial--Democrataepartidopopular.

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Principais temáticas da “democratização cultural” nos programasdos partidos políticos (1995-2005)[quADRoNº2]

*oblocodeEsquerdaapenasapresentaenunciadospolíticosparaaculturanoseuprogramade2005.Naselei-çõesanteriores–1999e2002–apresentaumAnte-projectodeDeclaraçãodesignadode“Começardenovo”–ManifestofundadordoblocodeEsquerda”em1999;eoManifestode2002intitulado“Comrazõesfortes”.Emnenhumdestesprimeirosmanifestossãomencionadosplanosdeintençõesespecificamenteparaacultura.

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dasreferênciasàcriaçãoderedesdeequipamentosmanifestadapelopartidoSocialistaemtodosostextosprogramáticosdaúltimadécada.Seem1995aatençãosobreestaquestãosedirigiaexclusivamenteànecessidadedeincrementar“aRedeNacionaldeLeiturapública,articulando-acomaRededebibliotecasEscolares”,em1999opro-pósitodecriar,ampliarouconcluirredesdeequipamentosestende-seaoutrosdomínios.Refira-seaestepropósitooobjectivode“concluiraredenacionaldoscine-teatros(garantindoaconstrução/recupera-çãodeumcine-teatroemcadacapitaldedistrito)eampliararedemunicipaldeespaçosculturais”;o“apoioàdistribuiçãoecriaçãodeumaredenacionaldelivrarias”ea“criaçãodeumaredenacionaldecentrosdepedagogiaeanimação”.

Em2002e2005osprogramaseleitoraisdoPS sublinhavam,demodoglobal, a importânciadaconclusãoedinamizaçãodas redesculturaiscomomotoresparao“desenvolvimentoequilibradodopaísedademocratizaçãodoacessoàcultura”,referindo,paralelamente,anecessidadedecriarparceriasentreaadministraçãolocaleasocie-dadecivilparaadinamizaçãodeprogramasemrede.

Equiparoterritóriocomredesculturaisdesenvolvendoosprogramasqueseencontramemcursoecriandonovosprogramas,tendosemprecomoelementosfundamentaisasparceriascomasautarquiaslocaiseasociedadecivil(...)estabelecendoquadrosdeparceriaregularentreoMinistériodaCultura,asautarquiaslocais,asinstituiçõesdeensinoasinstituiçõesculturaiseoutrosagentesurbanos.(pS–programaeleitoralde2005)

Asalusõesaodesenvolvimentoeconclusãodarededebibliotecaspúblicassãotransversaisatodososprogramaspartidários,sendoestaglobalmente reconhecidacomouma importantemedidadedemo-cratizaçãoedescentralizaçãocultural.Nosprogramaseleitoraisde1995é,aliás,umenunciadopolíticoconsensualatodosospartidos,22

22 ExcepçãofeitaaoblocodeEsquerdaqueaindanãoexistiacomopartidopolítico.

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querenquantoimportanteinstrumentopolíticodecooperaçãoentreaadministraçãocentraleasautarquias,quercomofomentadordedinâmicaspotenciadorasdeoutrasredesassociadasaolivroeàlei-tura,nomeadamente,umarededebibliotecasescolareseumarededelivrarias.

Reforçodapolíticadecooperaçãoentreaadministraçãocentraleasautarquiascomvistaaoalargamentodarededebibliotecaspúblicaseàpromoçãodebibliotecasescolares.(pCp–programaeleitoralde1995)

políticadeleiturapúblicaqueurgecontinuareintensificar,apoiando,ampliandoevalorizandoaactualrededebibliotecasmunicipaiseesco-lares.(pSD–programaeleitoralde1995)

Criaremosumaredenacionaldelivrarias,emparalelocomaredenacionaldebibliotecas.(CDS-pp–programaeleitoralde1995)

EmboraopartidoComunistaenunciassenostextosprogramáti-cosde1995aintençãode“criarprogressivamenteumaredepúblicadecentrosdramáticos,dotadosdecapacidadedecriaçãoprópriaepermanente”,ésóapartirdaslegislativasde1999queamaioriadosprogramaspartidáriosalargamoconceitoderedeaoutrosequipa-mentosculturais,sendomencionadaarededeteatrosecine-teatrosetambémumarededegalerias.oblocodeEsquerdasugereinclusive,noseuprogramapolíticode2005,aexpansãodofuncionamentoemredecomomodeloorganizacionalaimplementarnagestãodosequi-pamentos culturais integrados em diferentes contextos territoriais,quersejamdeâmbitonacional,regionalouconcelhio.

incentivoàcriaçãodeumaredenacionaldegalerias,quepromovaeapoieaorganizaçãodeprojectosemtodasasregiõesdopaís(...)dota-çãodopaís comuma redenacionalde salasdeespectáculosdotadasdecapacidadedeprogramação,técnicasedeacolhimentodasdiversasartes(....)(pCp–programaeleitoralde1999)

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Continuação da construção da Rede de Cine-Teatros nas capitaisdistritais.(pSD–programaeleitoralde2002)

Fomentar o funcionamento em rede de equipamentos culturaisnacionais, regionais e concelhios (...), conclusão, na próxima legisla-tura,daredenacionaldebibliotecaspúblicas:umaemcadaconcelho.(bE–programaeleitoralde2005)

uma outra temática recorrentemente referida nos programaspartidáriosdizrespeitoàpreservaçãodopatrimónioculturalnacio-nal. Só mais recentemente, porém, é que as preocupações com opatrimónio se correlacionam mais directamente com as temáticasdademocratizaçãoculturalnosentidoemqueintegrampropósitosligadosàanimação,divulgaçãoesensibilizaçãorelativasaopatrimó-nio.Comefeito,emboradentrodostextospartidáriosastemáticasassociadasaopatrimónioculturalsemanifestassemdesdecedo,estassublinhamquaseexclusivamenteasestritasintençõesdesalvaguardaedeinventariaçãodopatrimónioculturalnacional.

osprogramasdopCpmastambémdocDS-PP,sublinhamemtodosostextosprogramáticosdaúltimadécada,aimportânciadepolíticasquefavoreçamasalvaguardadopatrimónioculturaleaidentidadenacional.opartidoComunista anuncia a extensãodas interven-çõesnestedomínioaquestõesassociadasàsensibilização,àinven-tariaçãoeconservaçãonoquerespeitaaopatrimónioimóvel,mastambémaopatrimóniomóvel–comosejamasarteseofíciostradi-cionais.opartidopopularfocalizaasuaatençãosobretudonopatri-móniofísicoenanecessidadedeoqualificar.Contudo,noúltimotextoprogramáticodestaforçapolítica,oacentorecainaintençãodepromover,dinamizaredivulgarestesespaços.

opCppropõe(...)umapolíticadeCulturaquesalvaguardeopatri-mónio cultural e promova a sua efectiva apropriação sócio-cultural;quepotencieaidentidadeculturaldeportugalnoquadrodeumactivodiálogodasculturasedapromoçãodamulticulturalidadenaEuropaenomundo(...)Atençãoparticularaopatrimónioculturalpopular;às

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artes e ofícios tradicionais, através de medidas concretas e legislaçãoadequadas,nomeadamentedeumaLei-quadroeestatutodoartesão.(pCp–programaeleitoralde1995)

umapolíticaculturalque(...)defendaopatrimónioeaafirmaçãodasidentidadesculturaisdopaís(...)paraapolíticacultural,entendidadeformarestrita(...),defendemos(...)ainvestigação,asalvaguardaeaapropriaçãosocialdopatrimóniocultural.(pCp–programaeleitoralde2005)

Aconservaçãodopatrimónio,queéumdosdeveresprimáriosdoEstado,deveseracompanhadodeumapromoçãodomesmo,criandomotivosdeinteresseparaocidadão,organizandoeventosdasartesdoespectáculoeanimação.(CDS-pp–programaeleitoralde2005)

Apesardatemáticarelativaàsalvaguardadopatrimóniosertrans-versala todososprogramaspartidários,nemtodos lheatribuemamesmacentralidade.opSdestaca,em1999,aintençãodecriarum“planoNacionaldeinventáriodopatrimónio”ereforçaanecessi-dadedeumamediaçãonestedomínioatravésdacriaçãoe“desenvol-vimentodeprogramasdeintervençãoparaaconservação,avaloriza-çãoeadivulgaçãodopatrimónio,quermóvel,querimóvel,usandoarticuladamenteosrecursosdisponíveisnoorçamentodeEstadoenoiiiquadroComunitáriodeApoio”.opartidoSocialDemocratarefere,noprogramadomesmoano,aintençãode“estabelecerumplanodepreservaçãodopatrimónioescritoportuguês”,enquantooblocodeEsquerdasublinha,jáem2005,ointuitodecriar“umplanodeemergêncianoapoioesalvaguardadopatrimóniocultural”.

A descentralização de actividades e equipamentos culturais éoutradasmedidasmais frequentemente evocadapor todas as for-çaspolíticasnosseusprogramaspartidárioscomomedidasdeinter-vençãonosectorcultural.Nestedomínioaestratégiadeinterven-çãoquesobressai,atravessandotodooespectropolítico,refere-seàtransferênciadecompetênciasemeiosparaasautarquias.Em1999,opSdestacaaelaboraçãode“umamagnacartadadescentralização

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culturalqueconsagreasambiçõescomunseasmodalidadesdecoo-peraçãoentreoEstadoeasAutarquias”.Nomesmosentido,emboradirigidoespecificamenteaodomíniodopatrimónio,opartidoSocialDemocrataevoca,noprogramade2002,umadescentralizaçãoefec-tiva“atravésdatransferênciadecompetênciasemeiosqueaumen-temacapacidadeeresponsabilidadedasautarquiasedasinstituiçõesnaconservaçãoemanutençãodopatrimónioimóvelecentroshis-tóricos”.

Amesmaideiarelativaàtransferênciaderesponsabilidadesparaas administrações locais édesenvolvidanosprogramasdo CDS-pp,acrescentandoesteaelaboraçãodeumplanodeitinerânciasparaasestruturasculturaiseartísticasconsagradas–temáticajáaludidanoprogramade1995para“orquestraeteatronacionallírico”.

Aimplementaçãodeumapolíticadesubsídiosparaprojectosdeitinerância e para a difusão no estrangeiro de obras dos criadoresnacionaiséumdosenunciadosdopartidoComunista,umaideiapar-tilhadapeloblocodeEsquerdanoprogramade2005,reforçandoaideiade“descentralizaçãosemqueestasejaresultadodecontraparti-dasparaapoioàcriaçãoculturaleartística”(bE–programaeleitoralde2005).

uma política de apoio a projectos de itinerância, nomeadamenteprojectosdeexposiçõescolectivasitineranteseoutrasformasdedivul-gação no país e no estrangeiro da obra de criadores nacionais. (pCp–programaeleitoralde1999)

os enunciados relativos à descentralização atravessam todos ostextosprogramáticosdopartidoSocialista.Alémdedefesadatransfe-rênciadecompetênciasparaaAdministraçãolocal,referemtambémacooperaçãoentreasautarquiaseasinstituiçõesculturaislocaiscomointuitodefomentaracriaçãoemestruturaslocais.AssociadaàideiadedescentralizaçãooPSrefereigualmente,noseuprogramade1995,umapolíticadedesconcentraçãoatravésdacriaçãodepólosregionaiscommeiosecompetênciasforadoscentrosdedecisãodacapital.

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Nosdoisúltimosprogramasconsideradosévalorizadaaitinerân-ciadeespectáculosnasredesdeequipamentosculturaisentretantocriados,prevendo-seinclusiveacriaçãodeumprogramadedifusãocultural.

programas de difusão e itinerância de espectáculos e exposições,potenciandoas redesculturaisaproveitandoo trabalhodos institutoseorganismosnacionais evalorizandoespecificamenteas regiõesmaiscarenciadas de oferta cultural regular. (pS – programa eleitoral de2002)

oGovernodopScriaráumprogramadeapoioàdifusãocultural,cujoobjectivoprincipalseráestimulara itinerânciadeespectáculoseexposições,assimcomoacirculaçãodeinformaçãoeapoiotécnico,noâmbito,designadamente,daRededeTeatros.(pS–programaeleitoralde2005)

Amudançaprogressivadepreocupaçõeseminentementemate-riais – relativas à construção de equipamentos culturais, como asatrásaludidasapropósitodosprogramasdosGovernosConstitucio-nais–paraoutrasdequalidade incorpóreadirigidasàqualificaçãoda oferta e da procura cultural, está também presente nos textosprogramáticos dos vários partidos políticos. um dos exemplos é atemáticarelativaàintegraçãodasactividadesartísticasnaescola–aúnicatemática,dasquatrodestacadas,queétransversalmenterefe-renciada por todos os partidos políticos nos programas elaboradosparaaslegislativasde2005.Verifica-se,talcomofoisublinhado,umacrescentecentralidadedepreocupaçõesrelativasàdemocratizaçãodaprocuracultural,comosobjectivosdeaumentarealargaroespec-trosocialdospúblicosdacultura.

Embora de forma mais discreta, este tipo de problemáticas foisendoevocadodesdecedo.Tomandocomoreferênciaasquatroúlti-maseleiçõeslegislativas,refira-seporexemplo,em1995aintençãode“cooperarcomoMinistériodaEducaçãocomvistaaoreforçodoensinoartístico,quercomocomponentedocurrículoescolargeral,

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quercomoramovocacional”.Asprimeiraspreocupaçõesdedemo-cratização cultural associadas à formação de públicos para a culturaestãoprecisamenteassociadasaumaintervençãoespecíficanaedu-cação artística e da sua relação com o currículo escolar, tal comoexpressaotextoprogramáticodoPcPem1999:

Adefesadeumaprofundareformaerevitalizaçãodoensinoartís-tico nos seus vários níveis, e da componente de desenvolvimento dacriatividadeartísticaedaformaçãodointeresseculturalnodecursodaescolaridadeobrigatória.(pCp–programaeleitoralde1999)

A estes enunciados políticos vêm progressivamente juntar-seoutrostambémassociadosapreocupaçõesquevisamoacessosocial-mentealargadoaosbense serviçosdacultura.oacentodeixadeser exclusivamente centrado nas aprendizagens técnicas para seconstituirnumaprofundamentodarelaçãoentreaescolaeasváriasabordagenspossíveisdasartesedacultura.umaabordagemnãosódapráticamastambémvivencial,contextualizadoradasobras,doscriadoresedosespaçoseprocessosdecriação.

Estetipodemudançapermitedizerqueseassisteaumdesloca-mentodepreocupaçõesque tendem fundamentalmenteacentrar-senodomíniodasaprendizagenstecnicistas(mesmonoensinonãovocacional)paraoutrasquevisam,emprimeirainstância,asensibi-lizaçãoparaacultura.Aesterespeitoveja-se,porexemplo,osenun-ciadosdopSD,dopS oudobEemalgunsdosseustextosprogramá-ticos.

Celebrarprotocolosentreasescolaseentidadesculturaisdarespec-tivaáreacomvistaàfrequênciadestasporpartedosalunos,emregimecurricularouextra-curricular.(pSD–programaeleitoralde1999)

Assumirocontactocomaartecomoessencialàconstruçãodeiden-tidade e proporcionar ao público escolar um contacto com arte maisabrangentedoqueosimplescomplementopedagógicoaosprogramascurriculares, desenhando programas transversais aos ministérios da

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Cultura e Educação que permitam integrar nos currículos escolaresmatériasquedesenvolvamacompreensãodaslinguagensartísticascon-temporâneas.(bE–programaeleitoraldo2005)

intensificaçãodarealizaçãodeencontrosedeacçõesentreoscria-dores,as instituiçõesculturaiseaescola. (pS–programaeleitoralde1999)

Apardealteraçõesrelativasàrelaçãoentreescolaeartes,assiste-separalelamenteaopropósitode incrementaronúmerodeactivi-dades pedagógicas e formativas no domínio da cultura. os textospartidários reflectem este tipo de preocupações quando referem aimplementaçãodeserviçoseducativosnasinfra-estruturasculturaisexistentes e o desenvolvimento de actividades desta natureza nasredesdeequipamentosentretantocriadas.

Aumentar a oferta educativa e pedagógica dos espaços e eventosculturais através dos serviços educativos e flexibilidade de horário ebilheteira.(CDS-pp–programaeleitoralde2005)

Reforçodavertentepedagógicaeeducativadasestruturasculturais,introduzindoaobrigatoriedadecurriculardasvisitasdeestudoaopatri-mónioeassistênciaaespectáculos.(pSD–programaeleitoralde2002)

Todos os equipamentos dependentes do Ministério da Cultura etodos os equipamentos integrados em redes nacionais devem propor-cionarprogramaseducativos,dirigidosaosdiferentespúblicos,quersetratedecrianças,jovens,adultosoucidadãosseniores.(pS–programaeleitoralde2005)

osprogramaspolíticosdosprincipaispartidosacompanhamtam-bém as transformações evidenciadas nos programas dos GovernosConstitucionaise,naquelescomonestes,nãoexistemdiferençasassi-naláveisentreosprogramasdosdiferentespartidosnoquerespeitaaos objectivos de democratização cultural. Existe um conjunto de

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temáticasqueétransversal,emboraalgumasganhemumaimportân-ciadestacadaemdeterminadosprogramaspartidários.Comefeito,anotademaiorrelevorecainoconsensodosprincipaisobjectivosdelineadoscomvistaàdemocratizaçãocultural,independentementedasideologiaspolíticaspresentes.Deumaformaglobalpodedizer-sequenosectordaculturaas lutaspartidáriasesbatem-seeganhamcontornospacíficoscomaenunciaçãodeobjectivosquaseunânimes.paraestequadrogeralpodeeventualmentecontribuirafracadota-çãoorçamentaldosectordacultura–abaixode1%doorçamentogeraldoEstado–nãodandoesteazoàdelineaçãodeobjectivosouestratégias políticas ambiciosas que ultrapassem a fasquia do con-senso.

oqueimportadestacarnoqueàenunciaçãopolíticaparaacul-turadizrespeitoe,particularmente,paraademocratizaçãocultural,tem que ver sobretudo com os enunciados com vista à democrati-zação da procura cultural, cujas temáticas adquirem em 2005 umafortecentralidade.Entreelasrefira-seemparticularoinvestimentocolocadonaarticulaçãodepolíticasdaeducaçãoedaculturacomvistaàreformulaçãodoensinodasartesnasescolaseàdinamizaçãodeactividadespedagógicaseformativasnosrecémqualificadosequi-pamentosculturais.Nessamedida,osobjectivospolíticos incorpo-ramtambémasrecentespercepçõesrelativasaopapeldaculturanatransformaçãoeconómicaesocialdeterritóriosepopulações.Man-tendo-seaspolíticasquevisamaqualificação da cultura,designada-menteasquevisamaconstruçãoevalorizaçãodeequipamentosmastambémadiversificação,qualificaçãoeprofissionalizaçãodaofertacultural,existeumacrescenteatençãodirigidaàspolíticasenquadra-dasnoquesedesignadequalificação pela cultura.

peseemboraovolumeeconsensodas temáticas referidaspelosdiferentes partidos políticos a propósito do delineamento de prio-ridades com vista à democratização cultural, a concretização daspropostas émuitomoderadacomparativamente comosobjectivosenunciados.porvezes,aafirmaçãodeobjectivosacabapornãoterreflexosnacriaçãodedisposiçõeslegaisquematerializemaasserção

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davontadepolíticae,emalgunscasos,mesmoaexistênciadenor-mativos legaisnãoassegura,porsisó,aefectivaconcretizaçãodospropósitosprevistos.

o quadro nº 3 apresenta algumas das medidas – e respectivosquadros regulamentares – que consubstanciam certos enunciadospresentes nos programas dos partidos e dos governos constitucio-nais.Entreelesosnormativosqueregulamentamacriaçãodasredesdeequipamentoseasestruturasdeorganizaçãoemrede.oapoioà itinerância e descentralização, de onde se destacam o programadeDifusãodasArtesdoEspectáculoeoactualprogramaTerritórioArtes.Refira-setambémosváriosdispositivosquevisamaarticula-çãoentreossectoresdaEducaçãoedaCultura,nomeadamentenoque respeita à reformulação dos princípios que orientam a educa-çãoartísticaeculturalnosistemadeensinoregular.Nãoobstanteaintegraçãodedisciplinasdeexpressãoartísticanosdiferentescurrí-culosdoensinoregular–medidaregulamentadanaLeidebasesdoSistemaEducativoduranteoxGovernoconstitucional(1986)–ocontactodaspopulaçõescomasartes,sobretudoenquantofruidoresinformados,permaneceaindamuitoaquémdoqueseriadesejável,talcomosepoderáverificarnocapítulo3apropósitodaanálisedaspráticas/consumosculturaisdosportuguesesedosestudosdepúbli-cosdacultura.

Serádevidoàpercepçãodaaindareduzidarelaçãoqueosindiví-duosestabelecemcomosbensdasartesedacultura–independen-tementedo tipode relaçãoqueestabelecem(Costa,2004)–edaimportânciadefomentarestarelaçãonodesenvolvimentoglobaldoscidadãos,quetêmsidodesenvolvidosalgunsesforçosdearticulaçãoentreosMinistériosdaCulturaedaEducaçãoparaalteraromodocomosãoencaradasactualmenteasexpressõesartísticasnoensinoregular.Enquantoinstituiçãocentralnapromoçãodoacessodemo-cratizadoaoconhecimento,osistemaeducativoe,concretamenteasescolas,assumemumpapelessencialnodesenvolvimentodeapetên-cias/competênciasparaasarteseparaacultura.Nestaacepçãoestásubjacenteobenefíciodocontactoprecoceparaodesenvolvimento

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Medidas / meios que visam a ‘democratização da cultura’ [quADRoNº3]

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geral dos indivíduos; para a sensibilização e familiarização com asartese;eventualmente,paraaformaçãodepúblicosparaaculturacomorigenssocialmentediferenciadas.

Maugradooconsensoereconhecimentodaimportânciadarela-çãoeducação/culturapelasdiferentesforçaspolíticasqueassumiramfunçõesgovernativas–edostrêsgruposdetrabalhoinstituídoscomrepresentantesdosdoisministérios(verquadronº3)–,muitasvezesaspolíticasquepromovemocruzamentointerministerialpermane-cemprojectosdeintenção.

Aspolíticasculturaistendemaaumentaraatençãoeointeressenodesenvolvimentodeestratégiasquevisamacriaçãoeoalarga-mentodenovospúblicos,talcomoosmaisrecentestextosprogramá-ticosdospartidosegovernosconstitucionaisaludem,–porexemplo,oincentivoàcriaçãoedinamizaçãodeserviçoseducativosnosequi-pamentos culturais com actividades vocacionadas para diferentespúblicos.Essavontadepolíticafoiformalizadaatravésdealgunsnor-mativoslegais,talcomoarecenteLei-quadrodosMuseusquandoserefereàfunçãoeducativanestesequipamentoscomoumafunçãoequiparadaàdeconservação;ouosquadros legaisquedefinemosapoios às artes;oumesmoa inclusãodeplanosparaa captaçãoeformaçãodenovospúblicosemprogramasdedescentralizaçãocomofoioprogramadeDifusãodasArtesdoEspectáculoeéoactualpro-gramaTerritórioArtes.

oreconhecimentodanecessidadedeintervirnosentidodedemo-cratizaraculturaeasartesestáclaramenteexpressonosprogramasdosgovernosconstitucionaisedospartidospolíticos.Ao longodemaisdetrêsdécadasderegimedemocrático,noentanto,asiniciati-vas,emborainegavelmentesignificativaseimportantes,sãoescassascomparativamentecomodesejoexpressonosprogramaspolíticos.

o ponto seguinte destaca algumas das principais intervençõesrealizadascomvistaàdemocratizaçãocultural.

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2.2. iNSTRuMENToSDEiNTERVENçãopoLÍTiCAEADMiNiSTRATiVA

Alguns dos enunciados políticos dos programas dos governosconstitucionaisquevisamademocratizaçãoculturalderamorigemàelaboraçãodemedidaseàconcepçãodeinstrumentosespecíficos.Este segundo sub-pontodocapítulodedicadoàspolíticaspúblicasprocurasistematizaredestacarasprincipaisintervençõesnaprosse-cuçãodoobjectivodedemocratização,realçandosobretudoalgumasdasiniciativasconduzidaspelaAdministraçãocentral.Nessesentidosãomobilizadosquatroeixosdeanáliseque representamosdomí-niosmaissignificativosdemediaçãopúblicacomvistaàcorrecçãodeassimetriassociaisnoacessoàcultura.Refiram-se:i)estabeleci-mentodequadrosregulamentaresdaactividadeculturalesistemasdefinanciamentopróprios;ii)constituiçãoderedespúblicasaolongodasúltimasdécadas;iii)programaseprojectosespecíficose;iv)pro-cessosquevisamaarticulaçãodaspolíticasdaeducaçãoedacultura.Naanálisedasquatrodimensõesprocurar-se-á,semprequepossível,teremconsideração,osváriossectoresoudomíniosculturaiseartís-ticoserealçarastendênciasevidenciadaspelosenunciadospolíticosdosprogramasdosgovernosconstitucionaisepartidários, istoé, acentralidadedasintervençõesrespeitantesàinfraestruturação,numaprimeirafase,eumatransiçãoprogressivaparapreocupaçõesrelati-vasàqualificaçãotantodasactividadesculturaiseartísticas,comotambémdospúblicosedaprocuracultural.

A “formação de públicos”nos normativos legais

A evolução do modo como o Estado foi definindo a sua inter-vençãoemtermosorgânicos,funcionaisefinanceirosnocampodasartesedaculturaétambémumaformadeavaliarasprioridadesesta-belecidaseosinstrumentosprivilegiadosparaascolocaremprática.

AtéàcriaçãodoMinistériodaCultura,duranteoxiiiGoverno(1995),osassuntosrelacionadoscomaculturaestiveram,comose

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sabe,dispersosporváriosministérios–fundamentalmenteassocia-dosà tuteladaEducação–oudirectamentedependentedapresi-dênciadoconselhodeministrosouainda,emoutrasocasiões,reuni-dosnumasóSecretariadeEstado23.Comacriaçãodeumministériopara a cultura, em 1996 (Decreto-Lei nº 42/96 de 7 de Maio), aorgânicadosserviçosdaAdministraçãocentralparaestedomínio,entãocoordenadospelaSecretariadeEstadodaCultura(SEC),passaporumaprofundareestruturação.Sãocriadosnovosorganismoseéredefinidaaestruturaorganizativadealgunsserviçosexistentes(verorgânicadoMC,AnexoA).Estamudançadáàculturaumacen-tralidadeatéaíinexistentenaspolíticaspúblicas,sublinhando-seofactodeumnúmero significativodeorganismos soba tuteladeonovoministériotersidoequiparado,emtermosjurídicos,apessoascolectivasdedireitopúblico,“nãosódotadosdeelevadaautonomiafuncional como capazes de garantirem as necessárias articulaçõestransversais”24.

23 Em1983écriadopelaprimeiravezumMinistériodaCulturaduranteoixGovernoConstitucional,masem1985éextintoporseconsiderar“desejávelarticulardesdelogoaspolíticasculturaleeducativaatendendoprecisamenteaquesãoderaizeducativagrandepartedosproblemasculturaisdonossopaís”–JoãodeDeuspinheiro,entãoministrodaEducaçãoedaCulturanoxGoverno(1985)naDiscussãodoprogramadoxGovernoConstitucional(Santos,1998:78).NosdoisGovernosseguintes,aSecreta-riadeEstadodaCulturavoltaaestarintegradanapresidênciadoConselhodeMinis-tros.24 Decreto-Lei42/96de7deMaio.EntreelesoIPPAR,(institutoportuguêsdopatri-mónioArquitectónico);oIPA(institutoportuguêsdeArqueologia)–organismocriadocomonovoMinistériocomoobjectivodereconfiguraroinstitutoportuguêsdopatri-mónioArquitectónicoeArqueológico–;IPM(institutoportuguêsdeMuseus);IAc(ins-titutoportuguêsdeArteContemporânea);oCentroportuguêsdeFotografia,instituídoem1996;Cinematecaportuguesa–MuseudoCinema; institutoportuguêsdoLivroedaLeitura(IPLB);institutoportuguêsdasArtesdoEspectáculo(IPAe);institutodosArquivosNacionais/TorredoTombo.Alémdestesorganismos,areestruturaçãoabran-geutambémorganismosdeproduçãoecriaçãoartísticastaiscomo,oTeatroNacionalS. Carlos, o Teatro Nacional D. Maria, Companhia Nacional de bailado; orquestraNacionaldoportoeoTeatroNacionalS.João–organismoscomautonomiaadminis-trativaetambémfinanceira.

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AleiorgânicaqueinstituioMinistériodaCulturaem1996defineasgrandeslinhasdeorientaçãodapolíticacultural,tendoestacomoprincipalobjectivoamelhoriadoacessoàculturaatravésdacriaçãoourequalificaçãodeequipamentosculturais.“AsfunçõesdoEstadonestaáreasãosobretudoduas:porumlado,ademelhorarascon-diçõesdeacessoàculturae,poroutro,defendere salvaguardaropatrimóniocultural,incentivandonovasmodalidadesdasuafruiçãoeconhecimento(...) [estas] traduzem-se fundamentalmentenumaparticular responsabilização no domínio das grandes infra-estrutu-rasindispensáveisaodesenvolvimentodeumapolíticaculturalcoe-rente,consistenteeeficaz.”25.

As principais opções programáticas definidas pela primeira LeiorgânicadoMinistériodaCultura–noquetocaparticularmenteaoinvestimentoeminfraestruturas–estiveramtambémsubjacentesàslinhasorientadorasdoprogramaoperacionalparaaCultura(poC),enquadrado no iii quadro Comunitário de Apoio (2000-2006)26.Com efeito, os eixos, medidas e acções que definem as actuaçõesfinanceiras deste programa apresentam uma mais elevada compo-nentefísicadoqueimaterial(Santoseoutros,2005).Nãoobstante,oprogramareservou,noqueconcerneespecialmenteàformaçãodepúblicos,algumasmedidasespecíficas27.

Durante os dez anos de vigência da primeira Lei orgânica doMinistériodaCultura,algumasalteraçõesforamsendointroduzidas

25 TextointrodutóriodoDecreto-Lei42/96de7deMaioqueinstituioMinistériodaCultura.26 Como se sabe, o programa operacional da Cultura (POc) constitui uma medidainovadoranoquadrocomunitário,dadoque se tratoudoprimeiroprogramaopera-cionaldirigidoaestesector,nauniãoEuropeia.NoiiquadroComunitáriodeApoioosectordaculturadetinhaapenasduasmedidasdoSubprogramaTurismoepatrimóniocultural.27 Veja-seaAcção3(“Acontecimentosculturaisligadosàvalorizaçãoeanimaçãodepatrimóniobemcomoaformaçãoecaptaçãodepúblicos”)enquadradanamedida1.1(“Recuperaçãoeanimaçãodesítioshistóricoseculturais”);eaacção3daMedida1.2ondefiguraoapoioaextensõeseducativasdosmuseus.

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(reverAnexoA),entreelas,refira-seemespecialafusãoentreoipAE(institutoportuguêsdasArtesdoEspectáculo)eoiAC(institutodaArteContemporânea)em2003,duranteoxVGovernoConstitucio-nal.Estareformulaçãoéparadigmática,porumlado,deumatendênciaparaaracionalizaçãoderecursosatravésdareestruturaçãoorgânica28,etambémdeumapreocupaçãocrescentecomo“acessoàcultura”,acrescentandoaestaacepçãoumsegundosentido:odaqualificaçãoda procura cultural. No conjunto dos objectivos programáticos daconstituiçãodoinstitutodasArtes(Decreto-Leinº181/2003de16deAgosto),aalíneai)refereanecessidadedegarantira“repercus-sãoeducativadasacçõesporsidesenvolvidasoupromovidas,atravésdaarticulaçãoprogramáticaeoperacionalcomosistemadeensinoecomosistemadeformaçãoprofissional,promovendo,emcontrapar-tida,acomponenteformativaeeducativadasestruturasculturais”29.Entreassuasatribuiçõesfiguraa“captaçãoeformaçãodepúblicoscomespecialrealcedepúblicosjovens,proporcionando-lhesafruiçãoecompreensãodosfenómenosartísticoscontemporâneos”30.

Estenovoinstitutotemaindaaincumbênciadeaplicarum“novoquadronormativoreguladordaconcessãodeapoiosdoEstado”nosector das artes do espectáculo e da arte contemporânea31. Até àdefiniçãodestequadroregulamentaroscritériosparaaconcessãodeapoiosbaseavam-segenericamentenosobjectivosdelineadospelasleisorgânicasdosváriosorganismospúblicos.osprojectos/candida-turasqueseapresentassemmaispróximosdessesobjectivosteriam,àpartida,maiorprobabilidadedeviremaalcançarapoioporpartedoEstado.Noentanto,aausênciadecritériosestritoseregulamen-tados para a concessão de apoios concorreu frequentemente parao surgimento de contestações por parte de criadores e produtores

28 EntretantoaprofundadapeloactualGovernoatravésdoPRAce(programadeRees-truturaçãodaAdministraçãocentraldoEstado)(verquadronº3,emanexo).29 Decreto-Leinº181/2003,de16deAgosto,artigo4º,alíneai).30 Decreto-Leinº181/2003,de16deAgosto,artigo8º,alíneae).31 Decreto-Leinº272/2003,de29deoutubro.

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culturais. perante um cenário progressivamente mais conturbado,procurou-seinverteratendênciadesenhandoumquadronormativodeapoiosàsartesquepermitisse“garantirumamaiorigualdadedeacessoàscriaçõeseproduçõesartísticasdeformaaatenuarasassi-metriasregionaiseatenuarosdesequilíbriossociaiseculturais”32.

Asmedidasperfiladasparaalcançarosobjectivospropostospau-tam-sesobretudopelodelineamentoderegrasde“transparência”edecritériosde“qualidade,deconsistênciadagestãodasrespectivasactividadesedacapacidadedeobtençãodeoutrasfontesdefinancia-mento,bemcomoemfunçãodaprossecuçãodeobjectivos de utilidade social, designadamente nas áreas do ensino e da formação, da difusão, da itinerância e da formação de públicos, como contrapartida dos agentes culturais aos apoios públicos atribuídos”33[sublinhadosnossos].

Embora a preocupação deste quadro normativo seja fomentar acriação de novos públicos para a cultura, o seu cumprimento podetambém induzir, paralelamente, uma reorientação do trabalho doscriadores/produtoresartísticosparaodesenvolvimentodaquelasoutrasactividades.Nãotendosidopossívelconheceraquantidadeeanatu-rezadascandidaturassurgidasduranteavigênciadestequadrolegal,o estudo sobre Entidades Culturais e Artísticas em Portugal, realizadopeloobservatóriodasActividadesCulturaisduranteoano2005,nãodeixoudedarcontadacrescenteimportânciaqueasactividadespeda-gógicas/formativasassumemnotrabalhodesenvolvidoporestruturasdosectorpúblicoeprivado(Gomes,Lourenço,Martinho,2006).

oxViiGovernoinstituiumnovoquadroregulamentardeapoioàsartesqueprocuracolmataralgumasdasdificuldadesentretantoevidenciadas.oactualquadrolegislativoqueregulamentaosapoiosdo Estado ao sector da cultura altera globalmente este cenário,prevendoumsegmentodefinanciamentoespecíficoparaasestrutu-rasartísticas“cujaactividadeprincipalsejaaformaçãoemcontexto

32 TextointrodutóriodoDecreto-Leinº272/2003,de29deoutubro.33 Ibidem.

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nãoescolar(...)”34.Asdistinçõesmaisrelevantesreferem-seaofactodeosapoiosseremconcedidosdeformadiferenciadaemfunçãodoperfildasentidadesedanaturezadosprojectos.“paraalémdadis-tinçãoporáreaartística,estabelece-seumadistinçãodebaseentreactividadesdecriaçãoeactividadesdeprogramação,distinguindo-seigualmenteactividadescontinuadasdecriaçãoouprogramaçãodeprojectosdenaturezapontual”35.

Noquerespeitaaodesenvolvimentodeactividadesassociadasàformaçãodepúblicos,sãoadmitidos“apoiosdirectos”aestruturaspro-fissionalizadas,compelomenoscincoanosdeactividadecontinuadaecujaactividadeprincipalsejaaformaçãoemcontextonãoescolar.osapoiosaprojectosquevisemacaptaçãoeformaçãodepúblicose as acções dirigidas a público infantil/juvenil, estão enquadradosnos“apoiosindirectos”concedidonoâmbitodeacordostripartidosentreoEstado,asautarquiaseasentidadesdecriação/programaçãoequevisamadinamizaçãodeequipamentosculturaistaiscomooscine-teatros e centros culturais – alguns resultantes da criação deredesdeequipamentos,comoseveráadiante.odesenvolvimentode actividadesdenatureza pedagógica/formativa deixa de resultardecontrapartidasparaoapoiopúblicoaagentesculturaisindiferen-ciados,estandoantesdependentedeestruturasqueevidenciemumtrabalholongoecontinuadonaáreadaformação.

Note-se,porém,queestenormativo,procurandosalvaguardaraqualidadeeexperiênciadaofertanesteâmbito,circunscrevedrasti-camenteonúmerodeestruturasquepoderãoacederaestesapoios.Tratando-sedeactividadesemergentesnosectorculturalportuguês,serãopoucasaestruturasquereúnemascondiçõesexigidas,designa-damente,teremcincoanosdetrabalhoprofissionalizado.

As medidas entretanto adoptadas por alguns organismos daadministração pública evidenciam mudanças significativas no que

34 N.os 3 dos Artigos 10º e 11º do Decreto-Lei nº 225/2006, de 13 de Novembro.35 Decreto-Leinº225/2006,de13deNovembro.

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diz respeito à incorporação e desenvolvimento de dispositivos deintermediação e de comunicação com os públicos, no sentido deummelhoremaiseficazacessoàsartes.porexemplo,aRedeportu-guesadeMuseusreservaapoiosespecíficosparaodesenvolvimentodeprojectoseducativos;odesenvolvimentodoprogramaTerritórioArtes,deiniciativadaDirecção-GeraldasArtes(DGArtes),integraacçõesespecíficasparaasensibilizaçãodepúblicos,comoseverámaisadiante.

Apassagemdatónicadeumapolíticaassentenadotaçãofísicaematerialdacultura,paraoutra,maisempenhadanoalargamentoequa-lificaçãodaprocuracultural,transparecetambémnodelineamentodeoutrosnormativoslegaisquenorteiamaintervençãopolítica.Veja-seanovaLeiorgânicadoMinistériodaCulturaenquadradanoâmbitodareformadaAdministraçãocentral,levadaacabopeloxViiGoverno(verLeiorgânicadoMC,AnexoA)36–noconjuntodas suasatri-buiçõesestáaconsolidaçãodosapoiospúblicosàcriação,produçãoedifusãodasarteseàformação de novos públicos37 [sublinhadosnossos].

Redes Públicas: estímulo à programação e gestão informada

Aconstruçãoe(re)qualificaçãodescentralizadadeequipamentosforamasprimeiraseprincipaisestratégiasdepolíticaculturalquederamcorpoaodesígniodademocratização,tendosidoassumidas,comosereferiunoponto2.1.,pordiversosgovernosconstitucionaisaolongodasúltimasdécadas.Comesseintuitoseprocurouedificarinfra-estru-turasnoâmbitodeprogramasespecíficos,designadamenteatravésdaconstituiçãoderedesdeequipamentos.ARedeNacionaldebiblio-tecaspúblicas(RNbp)38,criadaem1987,étalvezamaisemblemáticadasredespúblicasapósaimplementaçãodoregimedemocráticoemportugal.paraelaterátambémcontribuídoainfluênciadeumgrupo

36 Decreto-Leinº215/2006de27deoutubro.37 Decreto-Leinº215/2006de27deoutubro,artigo2º,alíneaj.38 EntãodesignadadeRededeLeiturapública.

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profissionaldebibliotecáriosportuguesesque“procuravasensibilizaraopiniãopúblicaeosdecisorespolíticosparaanecessidadedeapos-tarnaleiturapúblicacomouminstrumentomaiordedemocratizaçãocultural”(Melo,2002:374-375[inSilva,2004:242]).

Este dispositivo, de iniciativa da Administração central emparceriacomasautarquiaslocais,visaacriaçãoerequalificaçãodebibliotecasem todososconcelhosdopaís.Em2007, a RNbpcon-tavacom154bibliotecasinauguradas(gráficonº1),estandoentãoprotocoladasentreoEstadoeasautarquiasmais108bibliotecas39.AcomparticipaçãodoEstadopodeiraté50%doinvestimentofísicoinicialeàscâmarascompetelançaraobraegeriroequipamentodeacordocomespecificaçõestécnicasnoqueconcerneaoprogramadeconstrução, recursos técnicose condiçõesde funcionamento.Asbibliotecasqueintegramaredecomportamumconjuntodeespa-çosquelhespermitedesenvolver,apropósitodolivroedaleitura,umlequedeoutrasactividadesculturaiseartísticas.Asbibliotecasdemaiordimensão40,alémdeumespaçopolivalenteeáreasespecífi-casparaanimaçãoemultimédia,incluemtambémsalaparaateliêsdeexpressão.Comaintençãodeproporcionarcomregularidadeactivi-dadesdeanimaçãoedepromoçãodolivroedaleitura,foicriadoem1997pelaAdministraçãocentraloprogramaNacionaldepromoçãodaLeitura(verCaixanº1).Esteprograma incluia itinerânciadeescritores, investigadores ou formadores, a constituição de gruposinformaisdeleitoresearealizaçãodeespectáculosouexposições.

39 o conjunto de bibliotecas inauguradas e protocoladas (262 bibliotecas) permiteobterumacoberturademaisde90%dosconcelhosdocontinenteemaisde85%sese considerarem os concelhos de portugal (em 2002 a Rede foi alargada às RegiõesAutónomasdosAçoresedaMadeira).Refira-senoentantoqueentreaassinaturadeumprotocoloparaaconstruçãodeumabibliotecaeasuainauguraçãopodemdecorrerváriosanos(àvoltadeseteanos,emmédia).40 AsbibliotecasdotipoBM1correspondemaconcelhoscommenosde20000habi-tantes; as bibliotecas do tipo BM2 correspondem a concelhos com 20 000 a 50 000habitantes;easbibliotecasdotipoBM3destinam-seaconcelhoscommaisde50000habitantes.

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Número de bibliotecas inauguradas e total de bibliotecas da rNbP, por ano[GRáFiCoNº1]

Fonte:oACapartirdedadosfornecidospelo ipLb(série1988-2006)

Programa Nacional de Promoção da Leitura[CAixANº1]

o programa Nacional de promoção da Leitura, que se desen-volvedesde1997,temporobjectivocriareconsolidaroshábitosdeleitura,comespecialatençãoparaopúblicoinfanto-juvenil,atravésdeprojectoseacçõesdedifusãodolivroepromoçãodaleituraquecobremtodooterritórionacional.Nesteâmbito,oIPLBdesenvolveumconjuntodeacçõesdepromoçãodaleitura,emparceriacomasbibliotecasMunicipaisoucomaDirecção-GeraldosServiçosprisio-nais(promoçãodaleituraemestabelecimentosprisionais);eapoiainstituições que desenvolvem actividades de promoção da leitura.Actualmenteoprogramadeacçõesdepromoçãoda leituraestarádirectamenteligadoaoplanoNacionaldeLeitura.

Fonte:<http://www.iplb.pt>

7 13 143

10 418

2 6 719

4 9 12 12 91

154

3 10

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Número de bibliotecas inauguradas Número de bibliotecas da RNBP

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Emalgunsconcelhosdopaísestesequipamentoscentralizamasprincipaisdinâmicasculturaiseartísticasdesenvolvidas.Ainstalaçãodebibliotecasdaredeemdiferentesconcelhosdopaísterásidoumadasprimeirasmedidasdedescentralizaçãoededemocratizaçãocul-tural,pelofactodeterproporcionadoàpopulaçãoresidenteforadasgrandesáreasmetropolitanasumamaiorproximidadedeumlequediversificadodebenseserviçosdacultura(Santoseoutros,2004).

Aindanodomíniodolivro,em1996foicriadaaRededebiblio-tecasEscolares(RbE)apartirdeumainiciativaconjuntaentreosMinistériosdaEducaçãoedaCultura(verCaixanº2).onúmerode estabelecimentos de ensino que integram a RbE representa

rede de bibliotecas Escolares[CAixANº2]

oprogramaRededebibliotecasEscolares(RBe)foiiniciadonoano lectivo de 1996/97 tendo como principal competência insta-lar,demodofaseado,umarededebibliotecasescolaresnoterritórionacional.Esteprogramavemdesenvolvendoasuaacçãoatravésdeduasmodalidadesdeintervençãooperacionalizadasatravésdecan-didaturasaonívelconcelhioounacional.

ACandidaturaConcelhiadestina-seaapoiarescolaspertencen-tesaconcelhospreviamenteseleccionadosmediantecritériostécni-cospré-definidos.Acandidaturafaz-semedianteapresentaçãopelasescolasdeumplanoparaodesenvolvimentodarespectivabibliotecaEscolar/CentrodeRecursosEducativos,contandoparaoefeitocomoapoiodasDirecçõesRegionaisdeEducação,dasCâmarasMuni-cipais,debibliotecaspúblicas,etambémdoGabinetedaRededebibliotecasEscolares.ACandidaturaNacionaldirige-seàsescolasdosváriosníveisdeensinoque,foradasáreasgeográficasabrangidaspelascandidaturasconcelhias,desenvolvemexperiênciassignificati-vasemmatériadeorganização,gestãoedinamizaçãodebibliotecasEscolares/CentrosdeRecursosEducativos.

Fonte:<http://www.rbe.min-edu.pt>

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33% dos estabelecimentos de ensino do Continente (dados de2005/2006),abarcando64%dototaldapopulaçãoescolar–subli-nhe-seacoberturaquea RBe apresentanaregiãodoAlgarve,con-templando94%dasescolasatéao secundárioe86%do totaldealunos(quadronº4).

omaiorinvestimentodestaredefoidirigido,numaprimeirafase,aosestabelecimentosdoensinosecundário(quadronº5).paraesteníveldeaprendizagem,aRbEapresentaumapercentagemdecober-turamuitoelevada, correspondendoa89%dealunos inscritosnoContinente–destaqueconferido,aoAlgarveeàregiãodeLisboa,estaúltimacom93%dototaldealunosdosecundárioaterpossibi-lidadedeacederàsbibliotecasdaRede.Sãoosalunosqueentrampelaprimeiravezparaaescola(1ºciclo)quetêmmenoracessoàsbibliotecas de Rede, salientando-se sobretudo os que frequentamescolasdasregiõesNorteeCentro.pareceverificar-se,noentanto,umacrescentepreocupaçãocomaintegraçãodasescolasdoprimeiro

Percentagem de estabelecimentos e de alunos beneficiáriosda rede de bibliotecas Escolares

[quADRoNº4]

Direcções regionais% de estabelecimentos escolares

abrangidos pela rbE

% de alunos beneficiários

da rbE

Continente 32,5 64,0

Alentejo 58,4 77,4

Algarve 93,8 86,3

Centro 29,1 59,2

Lisboa 35,5 68,3

Norte 25,3 58,3

Fonte:GIASe(Me)eRededebibliotecasEscolares.Dadosrelativosaoanolectivo2005/2006.

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ciclonosúltimosanos–em2007sãoapoiadas36escolasdesteníveldeensinonoContinente41.

Tendopercepçãodequeumdosprocessosmaissignificativosdetransformaçãosocialdasociedadeportuguesaaseguirao25deAbrilpassoupelademocratizaçãodaeducação,aoalargaroacessoàescolaatodososcidadãos,aRededebibliotecasEscolaresétambém,dadoouniversosocialmentediversificadoqueabarca,umimportanteins-trumentodedemocratizaçãocultural.

Percentagem de alunos beneficiários da rede de bibliotecasEscolares, por nível de ensino

[quADRoNº5]

Direcções regionais 1º Ciclo 2º Ciclo 3º CicloTotal ensino

obrigatório

Ensino

secundário

Continente 29,4 76,0 81,9 57,3 88,7

Alentejo 47,5 95,7 97,1 74,7 86,8

Algarve 60,8 99,9 99,2 82,7 97,8

Centro 21,7 69,6 78,8 50,6 88,0

Lisboa 36,2 75,0 83,3 60,6 93,1

Norte 21,7 74,3 78,5 52,5 83,3

Fonte:GIASe(Me)eRededebibliotecasEscolares.Dadosrelativosaoanolectivo2005/200642.

41 ApoioconferidopeloPIDDAc,correspondendoaumtotalde451.590euros(fonte:<www.rbe.min-edu.pt>).42 o número total de escolas activas (do ensino básico e secundário) era de 8503atéSetembrode2006;em2007onúmerodeescolascobertaspelaRbEéde1770,oque se traduz numa cobertura de 21% das escolas em funcionamento. Refira-se, noentanto,quedestas8503escolas36%(3064)correspondemaescolasdo1ºCiclocommenosde20alunos,asquaisnãointegramoprojectodaRbEdevidoaobaixonúmerode alunos e forte probabilidade de encerramento. Restam 5439 escolas activas, commaisde20 alunos, revelandoumacoberturade33%.Relativamente a estasúltimasconclui-seaindao seguinte:doconjuntodeescolasdo1º ciclo (4208), apenas19%(807) integram a RBe – devendo-se o fraco valor ao elevado número de escolas >

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A preocupação com a criação/requalificação de infra-estruturasculturais estende-se tambémaoutrosdomínios culturais.Aindanoque respeita a redes de equipamentos, em 1999 foram lançadas asredesdeteatrosecine-teatro(RNTCT)edeespaçosculturaismunici-pais(RMEC),emborasemaconsistênciaformalverificadaparaarededebibliotecas.“Nenhumadestasduasredescontinharequisitospadro-nizadoseimpunhacondiçõesprecisasemtermosdeconstrução,equi-pamentoouactividade.Acapacidadederespostadasautarquiasfoibastantefraca,tendoquasetodasfalhadoosprimeirosprazosestabe-lecidosparaaapresentaçãodeprojectos”(Silva,2004:245).AtravésdeverbasdisponibilizadaspeloprogramaoperacionalparaaCultura(poC)foipossível,apartirdoano2000,começaraestabilizaropro-cessodeimplantaçãodasredese“em2001esteprojectoéassumidopoliticamentedandoprioridadeàscapitaisdedistrito”(Silva,2004).

Nemaredenacionaldeteatrosecine-teatros,nemaredemuni-cipaldeteatrosapresentamomesmograudeformalizaçãoeestru-turação que outras redes entretanto instituídas, tal como a Redeportuguesa de Museus. A conjugação da vontade dos governos, ainiciativadealgumasadministrações locaiseaindaaexistênciademeiosfinanceirosdisponíveis(sobretudofinanciamentoscomunitá-rios),permitiuquearequalificaçãodealgunsdestesequipamentospudesseefectivamenteconcretizar-se.inicialmente,foiprevistoqueseriamosteatrosecine-teatrosdascapitaisdedistritoquecomeça-riamporbeneficiardosapoiosdoPOcpara,posteriormente,seesten-deremaoutrosconcelhos.

paraalémdaprogressivaimplementaçãoderedesdeequipamen-tos,oconceitode“rede”foisendoalargado,integrandoobjectivosnão já relacionados apenas com a infra-estruturação mas tambémcommodosdegestãodasactividadesculturais.

compoucosalunos. Jánoque respeitao2ºe3ºciclosocenáriomudasignificativa-mente:das750escolasactivas,76%(567) integramaRbE,omesmoseaplicandoaoensinosecundário.Nestecaso,deumtotalde481escolassecundárias,396estãointe-gradasnaRede(82%).

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oexemplomaisilustrativodestenovoentendimentodofuncio-namentoemrede–nãojáassentenacriaçãodeequipamentosmasnummétododeorganizaçãoegestãodasactividadesculturais–éfornecido pela Rede portuguesa de Museus (RpM), criada no ano2000.

Esta estrutura concentra a sua actividade em três eixos funda-mentais:circulaçãoetrocadeinformação;formaçãodepessoal;qua-lificaçãodosserviçostécnicosedosespaçosfuncionaisqueratravésde consultoria técnica, quer através de apoios financeiros. A RpM contaactualmentecom125museus.

NestaRedeaatençãodirigidaàcomponentepedagógica/forma-tivaadquireumpesosignificativonaatribuiçãodeapoiosfinanceiros.oprogramadefinanciamentodaRede(pAqM–programadeApoioàqualificaçãodosMuseus43)contacomquatrolinhasdefinancia-mento,entreelasoApoioaacçõesdecomunicaçãoondeestáinse-ridoosub-programadeapoioaprojectosEducativos.oquadronº6permiteprecisamenteevidenciarorelevoatribuídoaestadimensãono conjunto dos apoios concedidos, destacando-se do conjunto oano2003pelaabundânciadeprojectosapoiados.

Programas e projectos específicos

Entreoconjuntodeprogramaseprojectosmaissignificativosnoâmbitodademocratizaçãoculturaledaformaçãodepúblicos,refi-ram-se em especial o programa de Difusão das Artes do Espectá-culo(pDAE)eoseusucessorprogramaTerritórioArtes(pTA),pelacobertura geográficaque apresentamepelo impactonadinamiza-çãodeactividadesculturaislocais.Emboracomportandoumlequediferenciadodeobjectivos,visaramemprimeirainstânciaadescen-tralização da cultura. Neste processo de levar a cultura a lugaresdistantes,desconcentrando-adasmaiorescidades,estesprogramas

43 CriadopeloDespachoNormativode28/2001,de7deJunho.

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Programa de Apoio à Qualificação dos Museus (PAQM), por ano[quADRoNº6]

Fonte:OAc;Panorama Museológico Português(2000-2003);dadosfornecidospelaRpM.

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propõem-seaindafomentaroalargamentodospúblicosdaculturaatravésdeacçõesespecíficasdesensibilização.

Refira-seaindaoprojectopilotodeFormaçãodeNovospúbli-cosemMeioEscolarque,emboratendoaslimitaçõesassociadasaosconstrangimentos financeiros e experimentais, é um exemplo empequenaescaladasparceriaspossíveisnadinamizaçãodasactivida-deseducativas/culturaiscomvistaà“educaçãoartística”.

• Programa de Difusão das Artes do Espectáculo

Nasartesperformativas,osinvestimentospúblicosnaestrutura-çãoegestãodaofertaculturalganhamespecialrelevocomacriaçãodoprogramadeDifusãodasArtesdoEspectáculo.

Esteprograma foi instituídopelo então institutoportuguêsdasArtes do Espectáculo (ipAE) no ano 2000. Teve como principaisobjectivos a descentralização e democratização da oferta cultural“fazendofaceaassimetriasregionaiseadesigualdadessociaisecul-turais através da constituição de uma rede nacional de difusão”44.Assumiu,entreosseusdiferentesplanosdeintervenção,o“desen-volvimentodepúblicos”reflectindopreocupaçõesquernadotaçãode uma programação regular nos equipamentos culturais, quer noalargamentoesensibilizaçãodapopulaçãoparaasartesdoespectá-culo.paraesteúltimopropósitooprogramaconstituiuumaofertaespecífica de natureza pedagógica/formativa com objectivos dis-tintos, sendodirigidaapúblicosdiferenciados.Foram inicialmenteprevistasváriasacções, entreelas:osCursos Breves (tinhamcomodestinatáriosapopulaçãoemgeralecomoobjectivofacultarinfor-mação sobre temas, correntesouperíodosartísticos); aSensibiliza-ção dos Agentes(tendocomopúblico-alvopreferencialosprofissio-naisda educação); osEstágios de Curta Duração (queprocuravamproporcionar a funcionários de estrutura de acolhimento períodos

44 ipAE,DifusãodasArtesdoEspectáculo,DossierdeCandidatura,2002,DocumentoConstitutivodoprograma,p.6.

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decontactodirectocomequipasdeproduçãoprofissionais);cursosdeFormação de Profissionais(dirigidoatécnicosautárquicos):osAte-liês Pedagógicos(dirigidosàpopulação)e,finalmente,aFormação de Novos Públicos em Meio Escolar,quepreviaacçõesdirigidasaalunosdoensinonãosuperior).

pesememboraosobjectivosiniciaisdoprogramanoquerespeitaàsensibilizaçãoeformaçãodepúblicosparaasartes,asacçõesdesen-volvidasconcentraram-sefundamentalmentenoâmbitodosateliêspedagógicosdirigidosaumpúblicoinfantil-juvenil.Apesardascon-tingênciasquenãopermitiramarealizaçãodetodasasacçõespre-vistas,adimensãoformativadoprogramaassumiuumaimportânciamuito relevante para as autarquias que nele participaram, dada aescassezdeumaofertaespecializadanestedomínio.Deacordocomalgunsresultadosdaavaliaçãodoprograma(Santoseoutros,2004),foram agendadas 2.359 sessões de ateliês e estima-se que nelastenham participado 46.643 crianças/jovens. Neste conjunto 70%foramrecrutadasemcontextoescolar.Tendoinicialmentesidopre-vistodecorreraté2003,esteprogramafoi interrompidono fimdoprimeirosemestrede2002porfaltadegarantiasfinanceiras.

• Programa Território Artes

Refira-senoâmbitodasactividadesdeiniciativadaDGArtesenasequênciadopDAE,aconstituiçãodeumnovoprogramadedescen-tralizaçãodasartes(programaTerritórioArtes–pTA).

TodasasmodalidadesdeprogramaçãoimplicamaobrigatoriedadedeapresentarumplanoMunicipalEnquadradordosAgendamentospTA.Esteplanotemcomponentessectoriaisobrigatórias,entreelas,oPrograma de Qualificação e Sensibilização de Públicos.

Esteprograma,obrigatórioparaasautarquiasqueparticiparamnamodalidadedeNúcleosdeprogramação–tipodemodalidademaisexigenteemtermosdeparticipação–estipulava,paraocasodoPro-grama de Qualificação e Sensibilização de Públicos,umagendamentoobrigatóriode14acções.

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oprogramaintegroutrêssegmentosespecíficosdeprogramaçãoregularquevisaramobjectivosdiferenciados:a)as acções de sensibili-zação ou ateliês pedagógicos;b)osprojectos artísticos de continuidadee;c)oscursos breves.

a) As Acções de sensibilização/Ateliês pedagógicos foram umdosinvestimentosprincipaisemtermosdeformaçãoealargamentodepúblicos,integrandoateliêsdemotivaçãoparaasartesdirigidosadiversossectoresdapopulação.osateliês/oficinasdetrabalhotive-ramporobjectoasartesdoespectáculoeasartesvisuais,explorandoalgunsdelesaligaçãocomoutrasexpressõesartísticasecomaciên-ciaeatecnologia.oateliêtipoteveaduraçãode3horas.

b) os projectos artísticos de continuidade em meio escolarconsubstanciaram-se em acções dirigidas a alunos do ensino nãosuperior,desenvolvidasnoespaçoescolareenvolvendoaparticipa-çãodeestruturasartísticasprofissionais,compossibilidadedealar-gamentodoprocessodetrabalhoaestruturaslocaisdecarácternãoprofissional.

c) osCursosbrevesdirigiram-seàpopulaçãoemgeral,etive-ramcomoobjectivofacultarinformaçãosobretemas,correntesouperíodosartísticos,procurandoaumentarograudeconhecimentoedemotivaçãoparaoobjectodassessõeseparaasartesemgeral.Aacçãotipoteveaduraçãode5dias,com3horasdiáriasemhorá-riopós-laboral.

• Projecto-Piloto de Formação de Novos Públicos em Meio Escolar

oGabinetedeFormaçãodoentãoipAE(institutoportuguêsdasArtesdoEspectáculo,substituídopeloinstitutodasArteseactual-mentepelaDGArtes)promoveuentre1998e2003umprojectoquevisouasensibilizaçãodepúblicosescolaresparaasartes.ointituladoProjecto-piloto de Formação de Novos Públicos em Meio Escolar teveaduraçãodecincoanoslectivosefoidesenvolvidoemescolasdeváriosconcelhosdopaís, implicandooenvolvimentodediferentesagenteslocaisnapromoçãodeactividadesculturaiseartísticas.Esteprojecto

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tevecomoprincipaisobjectivos“formarumpúblicojovemminima-menteconhecedor,conscienteecrítico,comcapacidadeparaproce-deraumaapreciaçãoindividualdasartesdoespectáculo”,porumladoe,poroutro,“envolveracomunidadeescolareacomunidadelocal em geral, bem como desenvolver competências relacionadascomaáreaescolhida(dança,música,teatro)”(CarichaseDuarte,2006:18).Nodecursodoscincoanoslectivosenvolveu29escolasdeumtotalde14concelhosdopaís(estandomaisrepresentadasasescolas localizadasnosconcelhosdoAlentejo)e25formadoresdediferentesdomíniosartísticos.

umadaspreocupaçõessubjacentesàarquitecturaeoperaciona-lizaçãodoreferidoprojectopassavaporevitararealizaçãodeacçõesesporádicas,procurandopromoveractividadesque tivessemconti-nuidadeaolongodetodooanolectivoe,emalgunscasos,aolongodosciclosdeescolaridade.paraoefeitoprocurarammobilizardiver-sosparceirosinstitucionais,nomeadamenteasescolaseasautarquias,comosquaisoipAEestabeleceuacordostripartidos.oprojectopro-curavasobretudoadinamizaçãodascomunidadeslocaisimplicandoautarquias,escolaseprofessores.Nãotevecontinuidade,deacordocomas suas responsáveis,dadasasprioridadesentãodefinidasporaqueleinstitutoparaasuaintervençãonosector.

Articulação entre políticas educativas e culturais– um demorado processo

Tal como se tem vindo a sublinhar, a articulação entre políti-cas educacionais e culturais tem sido um projecto governamentalaolongodosúltimostempos,muitoembora,comoseverificará,asexperiênciaspontuaisdearticulaçãodatemjádemeadosdoséculoxx.ocruzamentoentreosdoisdomíniosdeintervençãovisacontri-buirpara:a)acriaçãodepolíticasquevisemodesenvolvimentomaisamplo e completo dos cidadãos – integrando a educação artísticanoscurrículosdoensinoregular;b)aproximarosbenseserviçosdaculturadosquotidianosdapopulação.

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Sempretenderreconstituircronologicamentetodasasiniciativasquetiveramlugarnaarticulaçãodepolíticasdeeducaçãoeculturaao longo dos anos, convém, no entanto, destacar algumas que seconstituemcomomarcos,pelasuarelevância.

Em1956,éfundadaporváriospedagogosaAssociaçãoportuguesadeEducaçãopelaArte45.EstaAssociaçãopreconizavaummodelopedagógico que, para além do ensino das artes, institui uma edu-caçãoglobalatravésdarelaçãocomasactividadesartísticas.Nestaconcepção,asartessãoentendidasenquantometodologiaespecíficaparaarealizaçãodeumaeducaçãointegralatodososníveis(afec-tivo,cognitivo,social,motor)(Sousa,2003).

Até aos anos 70, no entanto, as únicas disciplinas artísticasexistentesnoscurrículosdaescolaridadeportuguesaeramocantocoraleodesenho(tendoestasdisciplinasdenominaçõesdiversi-ficadas).Em1971écriadoporMadalenaperdigão,noConserva-tórioNacional,a Escola Superior de Educação pela Arte,formandoprofessores atravésdeumametodologia específica. “A influênciaexercida por estes pedagogos e pelos alunos formados por estecursocomeçouafazer-sesentiraníveldosistemaescolargerallogoaseguiràRevoluçãode25deAbril,comainserçãonosprogramasdeescolaridadeprimáriadaáreademovimento,músicaedrama.”(Sousa,2003:31).

Em1978,oplanoNacionaldeEducaçãoArtísticadefineoficial-mentea«EducaçãopelaArte»(quepropõeodesenvolvimentodaexpressãoartística)ea«Educaçãoparaaarte»(quevisaa forma-çãodeartistasprofissionais).Aindaduranteofimdosanos70enoâmbitodestequadrolegal,foramcriadosCentrosdeTemposLivresonde eram desenvolvidos clubes artísticos extra-curriculares comactividadescomooteatro,música, fotografia,artesplásticas,entreoutros. Refiram-se também os “projectos de animação em museusebibliotecas,numa tentativadeestabelecerumarelaçãocadavez

45 EntreosquaisJoãodosSantos;CalvetdeMagalhães;AliceGomes;AlmadaNegrei-ros;Chiró;J.F.branco;AdrianoGusmão;CecíliaMenano,entreoutros.

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maisestreitaentreescolaecomunidade”(CarichaseDuarte,2006:10).Em1980aEscolaSuperiordeEducaçãopelaArteésuspensa46,sendoextintatrêsanosmaistarde.

AinserçãodaartenosistemaescolartemoficialmenteorigemnaLeidebasesdoSistemaEducativo,em198647.EstaLeideterminaque nos currículos dos níveis pré-escolar, Ensino básico, EnsinoSuperior,EducaçãoExtra-EscolareEnsinoEspecial,sejamintegradasáreasdisciplinarescomoobjectivodedesenvolver“ascapacidadedeexpressão;(...)aimaginaçãocriativa;(...)aactividadelúdica(...);apromoçãodaEducaçãoArtística;(....);asdiversasformasdeExpres-sãoEstética”48.

oreconhecimentodaimportânciadaartenoensinoganhatam-bémmaior relevoatravésdo lançamentodealgunsprojectospon-tuais.Em1986oMinistériodaEducaçãolançaoprojectoAEscolaCulturalcomoobjectivode“colmatarlacunasinerentesàspráticasculturais e artísticas que funcionavam nas escolas completamentedesligadasdacomunidade”.Em1989aSecretariadeEstadodaCul-tura(SEC)emarticulaçãocomoMinistériodaEducaçãopromoveoprojecto“ACulturaComeçanaEscola”“visandoabriraescolaaoexterioreligá-laàcomunidadeatravésdaintervençãodeprofissio-naisdasartes”(CarichaseDuarte,2003:11).

Acrescentepercepção,porpartedaclassepolítica,daimportân-ciadasartesnodesenvolvimentoglobaldosindivíduos–e,particu-larmente,naformaçãodepúblicosparaacultura–edopapelestra-tégicodaescolanestamissão,terásidoomotivoparaaconstituiçãode três grupos de trabalho entre os Ministérios da Educação e daCulturaaolongodaúltimadécada.oobjectivo,transversalaostrêsgrupos,foiproporestratégiasdearticulaçãoentreosdoisministérioscomointuitodeseremdefinidaspolíticasquecruzemosdoisdomí-niosdeintervenção.

46 peloDespachonº379/80.47 Leinº46/86,de30deSetembro.48 Leinº46/86,de30deSetembro.

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oprimeirogrupode trabalho foicoordenadoporMariaEmíliabrederode dos Santos49 e Augusto Santos Silva dirigiu o segundogrupo em 1998, designado por Grupo de Contacto com represen-tantesdosdoisministérios50.Acriaçãoerespectivaarticulaçãodepropostasdestaequipavisaramapreparaçãodemedidasquepermi-tissema“oestabelecimentodainterligaçãoentreaspolíticasrelati-vasaoensinoartísticoeasreferentesàpromoção,animaçãoesensi-bilizaçãoparaasartes”51.

Noano2000épublicadooresultadodotrabalhodorespectivoGrupodeContactosobotítulode Educação artística e a promoção das artes, na perspectiva das políticas públicas (AAVV,2000)eaí sãoapresentadasváriaspropostasquetêmemvistaaarticulaçãoentreescola e cultura, de acordo comquatro eixosde intervenção: i) apresençadasartesnaeducaçãobásicaenoensinosecundário;ii)oensinoartísticoespecializado;iii)aprofissionalizaçãoeomercadodeemprego;iv)aformaçãodepúblicos.

A propósito do contributo deste relatório para promoção depolíticas conjuntas no domínio da educação artística vale a penarecuperar algumas das referências aí mencionadas a propósito doquartoeixorespeitanteàformação de públicos.Aintroduçãodeumcapítulorelativoaestatemáticanorelatórioproduzidonofimdosanos90ésintomáticodavisívelnecessidadedeclarificaroconceitoe de alertar os decisores políticos para a importância do papel daescolanapromoçãodeumarelaçãodiferenciadacomasartes,nãosóassentenatradicionaltransmissãodesaberesespecíficos.

Nessamedidao relatório sublinha: “(...) épreciso,pois, formarpúblicos,nestaacepçãoprecisa:constituirpúblicos.oquesignifica,

49 Despachoconjuntonº7/96.orelatórioproduzidoporestegrupodetrabalhonãofoipublicado.50 EstegrupofoidesignadopeloDespachoconjuntonº296/97,de19deAgosto.AcomposiçãodoGrupodeContactofoiobjectodoDespachoconjuntonº154/98,de30deJaneiro,depoiscorrigidopeloDespachoconjuntonº889/98,de17deoutubro.51 Despachoconjuntonº296/97,de19deAgosto.

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primeiro, proporcionar possibilidades e formas de contacto com acultura; segundo, alargar os círculosdaqueles quematerializamoscontactoscomoconsumos;terceiro,tornarregularesosconsumos”(AAVV,2000:164).Nestamissãoaescolaassumeumlugarcentral,semcontudo significarqueaeducaçãoculturalprocure imporumparadigma,“éantesproporcionaroencontrocommúltiplosparadig-mas,éaumentarediversificarolequedepossibilidadesderelaciona-mentodaspessoascomacultura”(AAVV,2000:166).

oterceiroeúltimorelatórioproduzidonoâmbitodaarticulaçãoeducação/cultura foi elaboradoem2004e esteve soba coordena-çãodeJorgebarretoxavier52.EsterelatórioavançacomapropostadeaplicaçãodeumplanoNacionalEducaçãoeCultura, sendoaísugeridaumaestratégiaglobaldeintervenção.paraaprossecuçãodoreferidoplanosãodefinidos,genericamente,cincoeixos:i)dimensãoculturaldocurrículo; ii)missãoeducativadasestruturasculturais;iii)formaçãodeprofissionaisdaeducaçãoedacultura;iv)sistemati-zaçãoeacessoàinformaçãoe,v)oincentivoaofuncionamentoemrededasestruturaslocaisenacionaisedestascomestruturasinter-nacionais.Sintetizandoosprincipaiscontributosdestegrupo,refira--seaimportânciaassentenadefiniçãodecurrículosquecontemplemocruzamentodedomínios,ou seja,umamaiorpresençadaesferaculturaleartísticanasescolas(através,porexemplo,dapresençasdosartistasnosestabelecimentosescolares),eaadopçãodeestra-tégiaspedagógicasdiversificadasporpartedosequipamentoscultu-raisqueproporcionemapúblicosinfantis/juvenisdiferentestiposdeexperiênciascomasartes.

Sãoaindaavançadasmedidasconcretasqueproporcionemumaqualificação profissional de professores e profissionais da cultura,designadamenteatravésdocontactocomestabelecimentosdeensinosuperiorcomrecursoàfrequênciadeespecializações.“paraaqualifi-caçãodaformaçãodeprofessores,quersetratedeformaçãoinicialou

52 Despachoconjuntonº1062/2003,de27deNovembro.

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daformaçãocontínua,oGrupodeTrabalhopropõeoincrementodediferentesmodosderelaçãocomasuniversidades,traduzindo-senafrequênciadecursosbrevesoudecursosdemestrado,ouaindapelatrocaderecursosoudeexperiênciasdetrabalho”(AAVV,2004:58).

AsúltimasdimensõesdeintervençãopropostaspeloGrupoinci-demsobremodosdedinamizarasactividades,tantonoquerespeitaàsistematizaçãoedifusãodeinformaçãorelevante–criaçãodeumabasededadosdeartistasedeumportalEducação/Cultura–comoaosmodosdegestãodasiniciativaspropostas,nesteúltimocasocomrecursoaoestabelecimentodeparceriasedeactividadesintegradasemsistemaderede.

Apesardetodosostrabalhosemtornodaarticulaçãoentreaspolí-ticaseducacionaiseculturaisrealizadosaolongodaúltimadécada,asmedidasavançadasdefrontam-seaindacomdificuldadesnasuaefectivação – caso da colocação de professores em equipamentos(Caixanº3)oudoprogramadepromoçãodeprojectosEducativosnaáreadaCultura(Caixanº4).

Asacçõesdesenvolvidasatéaomomentopoderiamtermaiorpro-jecçãoeeficáciase integradasnumplanoglobaldepolíticas inter-sectoriaisefectivas53.

Colocação de professores em equipamentos culturais[CAixANº3]

umadaspropostasdeacçãopresenteno“planoNacionalEdu-cação e Cultura” elaborado pelo último Grupo de Trabalho entreMinistériodaEducaçãoedoMinistériodaCultura (AAVV,2004)refere-se à colocação de professores com horário incompleto emequipamentosculturais,reforçandodestemodoacomponenteedu-cativadasestruturasculturais.Nessesentidoépropostonoreferido

53 Veja-se, por exemplo, o programa “A Minha Escola Adopta um Museu”, de ini-ciativaconjuntadaDirecção-Geralda inovaçãoeDesenvolvimentoCurricular(Me)einstitutodosMuseusedaConservação(MC);ouo“projecto-pilotodeFormaçãodeNovospúblicosemMeioEscolar”promovidopeloentãoIPAe.

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relatórioque sejam integradosprofessoresdosquadrosdenomea-çãodefinitiva “atravésdeumprocessodecandidatura,para exer-cerfunçõespedagógicasjuntodasestruturasculturaisquesesituemnazonadereferênciadoagrupamentodeescolasaquepertencem”(AAVV,2004:57).Nasequênciadestapropostafoiregulamentada54a “possibilidade de afectação ao Ministério da Cultura de pessoaldocentedosquadrosdaeducaçãopré-escolaredosensinosbásicoesecundárioqueseencontramsemactividadelectiva,faceànecessi-dadedemaximizararentabilidadedosrecursoshumanosaodispordoEstado”55.oprocessodeafectaçãodecorreusobaformadecan-didaturaeaselecçãoatravésdeanálisecurricularedeentrevistaacargodoMinistériodaCultura.Duranteoanolectivo2005/2006,foramcolocados69professoresemequipamentosculturais–sobre-tudoemmuseus.Destesconjunto,53solicitaramprorrogaçãoparaoanolectivo2006/2007tendosidoospedidosapreciadosefavoráveispara50professores56.

Programa de Promoção de Projectos Educativosna Área da Cultura (PPEAC)[CAixANº4]

Embora não resultando directamente de propostas do Grupode Trabalho entre os Ministérios da Educação e da Cultura, oprograma de promoção de projectos Educativos na área da Cul-tura tem subjacente algumas das suas directrizes, designadamenteapromoçãodeiniciativasqueenvolvamparceiroslocais–escolase

54 AtravésdoDespachoconjuntonº1053/2005,de7deDezembro.55 ponto1doDespachoconjuntonº1053/2005,de7deDezembro.56 informaçãoextraídada“ListadeDocentesaafectaraosorganismosdoMinistériodaCultura”elistada“prorrogaçãodaafectaçãoaoMinistériodaculturadosdocentesabrangidospeloDespachoConjuntonº1053/2005,de7deDezembro”(Fonte:Minis-tériodaEducação).

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equipamentosculturais–nodelineamentodeprojectosnoâmbitodacultura.étambémnessesentidoqueéaprovadooPPPeAcatravésdoDespachoconjuntonº834/2005–“considerandoaspotencialidadesdainteracçãoentreespaçosdaculturaeasescolas(…)”podendoestastraduzir-seno“planeamentoeexecuçãodeacçõesregularesecontinuadasdeparcerianasáreasdasensibilizaçãoparaaprevençãoevalorizaçãodopatrimónioculturaleambiental,enapreparaçãoeacompanhamentodevisitas a espaçosde cultura”57.osprojectos,podendodesenvolver-senasescolasounosequipamentosculturais,devemcontudo,preverumadeslocaçãoanualaumespaçocultural.

EmeditalpublicadopeloMinistériodaCulturaemNovembrode2005,foiabertooregimedeacessoaoprogramaatravésdecan-didaturasaapresentarnasDirecçõesRegionaisdaEducaçãoenasDelegaçõesRegionaisdaCultura–findandooprazodecandidaturaa31deJaneiro2006.

Apesardaapresentaçãodeumconjuntosignificativodecandi-daturas58 o PPPeAc, embora previsto para decorrer durante o anolectivode2005/2006,encontra-seactualmentesuspenso,segundofontedoMe.

Nãoobstante,asdificuldadessentidasnodelineamentodepolí-ticasarticuladas,algumasmedidassignificativastêmsidocolocadasem prática. Veja-se, por exemplo, a integração de actividades deenriquecimentocurricular(cominícionoanolectivode2006/2007)– considerando a música e as expressões plástica e dramática emquasetodasasescolasdo1ºciclodopaís(99%,deacordocomfontedoMe).

Aindanoquerespeitaàdefiniçãodepolíticas interministeriais,refira-searealizaçãodaConferênciaNacionalsobreEducaçãoArtís-ticaemoutubrode2007naCasadaMúsica.Esteeventovemna

57 Despachoconjuntonº834/2005,de4deNovembro.58 DeacordocomfontedoMe,terãosidoapresentadaspertode100candidaturasaoPPPeAc.

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sequênciada realizaçãoda iConferênciaMundial sobreEducaçãoArtísticapromovidapelaUneScOerealizadaemLisboa,emMarçode200659.Entreasváriasrecomendaçõesquedaíresultaramrefira-seaqueaconselhaosváriosEstadosparticipantesapromoverareflexãoeodebateemtornodatemáticadaeducaçãoartísticanosrespecti-vospaíses.NasequênciadestarecomendaçãooGovernoportuguêsdecretou, ainda em Novembro de 2006, através de um despachointerministerial(entreosministériosdosNegóciosEstrangeiros,daEducaçãoedaCultura)apromoçãodeumdebatenacionalemtornoda educação artística. “(…) Como resultado da reflexão que tevelugarapósarealizaçãodaConferênciaMundialdeEducaçãoArtís-ticadaUneScO, importaassegurarqueoesforçodesenvolvidopormuitospaísesnosentidodegarantiraexistênciadeumdebatesobreo papel da educação artística no sistema educativo se não perca.Donde a necessidade de organização de uma Conferência Nacio-naldeEducaçãoArtísticaque,reunindoperitoserepresentantesdeorganizações governamentais e não-governamentais, crie o espaçonecessárioaumadiscussãoereflexãoalargadasrelativamenteàedu-caçãoartística(…)”60.

59 A propósito dos resultados da Conferência Mundial para a educação artística, aComissãoNacionaldaUneScOpublicouo“RoteiroparaaEducaçãoArtística(Lisboa,2006).60 Despacho23572/2006,de20deNovembrode2006.

3. pRáTiCASECoNSuMoSCuLTuRAiSEMpoRTuGAL

A informação produzida sobre a procura cultural em portugalancora-se,emtrêspólosfundamentais:i)nasestatísticasoficiais;ii)nos inquéritosàspráticasculturais; iii)nosestudosdepúblicosdacultura.Estastrêsviasdeaferiçãodosconsumos/práticasrepresen-tamleiturasdistintasdouniversodaprocuracultural.

oprimeiroédaresponsabilidadedoinstitutoNacionaldeEsta-tística (Ine) e assenta no número de entradas em equipamentosqueacolhemactividadesculturais.Estetipodeinformaçãomedeovolumeglobaldaprocurapermitindoaconstituiçãodesériescrono-lógicasqueevidenciamaumentosouquebrasdeacordocomdomí-niosculturaiseartísticosdiferenciados.

o gráfico nº 1 permite identificar oscilações significativas novolume da procura cultural ao longo de quase duas décadas. umprimeirodestaquedirige-seaoaumentoglobaldosconsumosapartirdosmeadosdos anos90, comespecial visibilidadeparao cinema.Este crescimento estará, em parte, associado a alguns factores detransformação estrutural da sociedade portuguesa, destacando-seentreelesademocratizaçãodoensinoeoalongamentodonúmerode anos da escolaridade obrigatória. Embora nem sempre as com-petênciasescolaresgeremautomaticamenteconsumidoresculturaiseartísticos, comoseverámaisadianteapropósitodacomposiçãosocialdospúblicosdacultura,osváriosestudosrealizadosapontamparaumacorrelaçãomuitosignificativaentreaspráticasculturaiseadetençãodeelevadascompetênciasescolareseprofissionais.

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Cinema

Teatro

Museus

Bibliotecas

Espectáculos públicos/ao vivo

Exposições

Frequência de equipamentos culturais em Portugal(valoresemmilhõesdeentradas)

[GRáFiCoNº1]

Fonte:oACapartirdeiNE,EstatísticasdaCulturaDesportoeRecreio(série1990-2005)Nota:NãofoipossívelapuraronúmerodeentradasemMuseusparaoano1999,dadoque,nesteano,oiNE,interrompeuarecolhadeinformaçãoparaprocederàreformulaçãodasestatísticasdestesectorapartirdosresul-tadosdoinquéritoaoMuseusemportugalrealizadopelooAC.Tambémnãofoipossívelapresentardadosdosfrequentadoresdebibliotecasparaosdoisúltimosanosconsidera-dosdadoqueo Ine procedeactualmenteàreavaliaçãometodológicadoinquéritoàsbibliotecas.Sóapartirde1994oIneconsideraonúmerodevisitantesemexposições.

Entreastransformaçõesglobaisocorridasespecificamentenosec-tordacultura,oaumentodaofertacultural–tantonoqueconcerneàconstruçãoerecuperaçãodeinfra-estruturas,comoaoaumentoediversificaçãodasactividadesdeumcrescentenúmerodeagentesculturaisnosector–gerourepercussõessignificativasnovolumedaprocuracultural.Nocasodocinema,depoisdeumaquebraacen-tuadanosanos80– relacionada,emparte, comoefeitodenovi-dadedovídeoecomaprogressivadegradaçãodasgrandessalasdecinema–ocrescimentoexponencialverificadoemmeadosdosanos

pRáTiCASECoNSuMoSCuLTuRAiSEMpoRTuGAL | 77

90dever-se-á,emgrandemedida,aoaumentodonúmerodesalas(principalmenteemcentroscomerciais),registando-se,noentanto,algumaquebranosúltimosanos.

um outro destaque, também relacionado com o aumento donúmeroerequalificaçãodeinfraestruturas,édirigidoaocrescimentodonúmerode frequentadoresdebibliotecas.A implementaçãodaRedeNacionaldebibliotecaspúblicasveioalterarsubstancialmenteo panorama da oferta cultural em muitas regiões do país61. Comefeito,as“novas”bibliotecasassumemactualmenteumpapelcentralnadinamizaçãodavidaculturaldemuitosconcelhosdadoquealar-garamsubstancialmenteo lequedeactividadesqueproporcionam.Deumafunção“passiva”quedesempenhavamnopassado,especial-menteassentenaconsultaeempréstimodelivros,passaramaassumirumafunção“activa”aoproporcionaremumaofertadiversificadadeactividadesquecruzam“livroseleitura”comoutrosdomíniosartís-ticos.paraoefeitoterácontribuídotambémoconjuntodevalênciasquepassaramaintegrar(salasdeleituravocacionadasparapúblicos-alvo diferenciados, auditórios, salas multimédia, oficinas/ateliês),possibilitandoapromoçãodeumlequemuitodiversificadodeacti-vidades.Note-setambém,dopontodevistadosrecursoshumanos,aexigênciadeespecializaçãoeaimportânciaatribuídaàsfunçõesdecomunicação,difusãoemarketingcomoobjectivodeangariarnovosleitoresefomentaraleitura.

é também devido ao melhoramento das condições físicas e deacolhimentodosmuseusqueasentradasnestesequipamentosregis-taram um crescimento assinalável (o grande salto verificado em1998poderátersidodevidoaoaumentodevisitantesestrangeirosatraídos pela Expo’98). os significativos investimentos realizadospelas autarquias na revitalização do seu património – em muitoscasos beneficiando de financiamentos comunitários – permitiramqualificaraofertaculturalproporcionadaporestas infraestruturas.

61 Refira-seque,deacordocomdadosde2006,154bibliotecasdaRNbpseencontramabertasaopúblico,ouseja,abrangemjá50%dototaldeconcelhosdopaís.

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A este respeito é ainda importante mencionar a criação de RedeportuguesadeMuseus(RPM),permitindoaoconjuntodemuseusporelaabrangidosahipótesedebeneficiaremdeumconjuntodeapoiosaoníveldaformação,qualificaçãoedifusãodainformação62.Anotó-riaimportânciaqueosserviçoseducativoseasestratégiasdecomu-nicação,marketingemerchandisingadquiriramemmuitosmuseus,éparadigmáticadacentralidadequeasdinâmicasassentesnodesen-volvimentodepúblicosassumiramnagestãodestesespaços.

Regista-setambémumaumentoprogressivodonúmerodeentra-dasemexposições,aindaquemenosacentuadodoqueoverificadoparaosmuseusebibliotecas,aumentoessebeneficiandocertamentedeumamelhoriadoslocaisdeexposiçãoedeumaumentodaofertanestedomínio.

Refira-seporúltimooaumentoverificadonasentradasemespec-táculospúblicosaovivoetambémnosespectáculosdeteatro(revergráficonº1).peseemboraofactodeseremosdomíniosqueapre-sentammenornúmerodeentradasnoconjuntoassinalado, sãoosqueapresentamoaumentomaisacentuado, sobretudoapartirde200063.Ascausasparatãosignificativaalteraçãonumdomíniofre-quentementemarcadopor“fechamentos”simbólicosesociais,estarátambém relacionado com as alterações já anteriormente aludidas,referentesqueraoaumentoediversificaçãodaofertaculturalpro-porcionadopeloaumento/requalificaçãodonúmeroderecintosdis-poníveis,querporumincrementodonúmerodeagentesnosector(Gomes,LourençoeMartinho,2006).umdospropósitosdacriaçãodeuma redenacionalde teatros e cine-teatros (RNTCT)em1999foidinamizarespaçosculturaisemconcelhosforadasáreasmetro-politanasdeLisboaeporto.Aoabrigodesteprojectorevitalizaram--se, nos últimos anos, antigas salas de teatro em profundo estado

62 ARPMcontaactualmentecom120museus.63 Astaxasdevariaçãoentreasentradasregistadasem1990e2005sãode433,9%paraoteatroede90,7%paraosespectáculosaovivo–globalmentesuperioresàsveri-ficadas,porexemplo,paraosMuseus(59,4%)ouparaoCinema(44,1%).

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dedegradação,atravésdeverbascomunitáriasdopoCmastambémdo esforço financeiro de muitas autarquias. para além da referidarede nacional de teatros e cine-teatros, também a rede municipaldeequipamentosculturais(RMEC),oaparecimentodeváriasredesdeprogramaçãodeespectáculos64,assimcomooprogramadeDifu-sãodasArtesdoEspectáculo65,tiveramumimpactosignificativonadinamizaçãoculturaldealgunsdosequipamentosrecémconstruídosourequalificados.

Asestatísticasoficiaissobreovolumedaprocuraculturalpermi-temaferiraevoluçãodonúmerodeentradasdaprocuraculturalemsériescronológicas,masnãopermitemaveriguaracomposiçãosocialdospúblicos.Alémdisso,nãopossibilitamverificarseumeventualaumentodeentradassedeveàregularidade/fidelizaçãodosmesmospúblicosouaoaparecimentodenovospúblicos,nempermitemsaberseaexistênciaderenovadasaudiênciascorrespondeaumefectivoalargamentosocialdospraticantes.

Estessãoalgunsaspectosqueosinquéritos às práticasculturaisper-mitemanalisar.Emboranãoexistaemportugaluminquéritonacio-nalàspráticasculturais,sãováriososestudosrealizadosnaúltimadécadaqueapresentamamplitudeseenfoquesdiferenciados,permi-tindoter,nesteâmbito,umavastabaseteóricaeempíricaderefle-xão66.

64 AArtemrede–Rededeprogramaçãodeteatrosecine-teatrodaRegiãodeLisboaeValedoTejo;aredeComum,aSemrede,sãoalgunsdosexemplos.65 Talcomoreferidoanteriormente,oprogramadeDifusãodasArtesdoEspectáculo,deiniciativadoentãoIPAeevigorandoentreosanos2000e2002,visouacriaçãodebolsasdeacções(espectáculoseateliês)nodomíniodasartesperformativasaqueasautarquiasaderentespodiamteracessoparaaprogramaçãodassuasactividades.66 Semterapreocupaçãodeexaustividaderefiram-seinquéritosincidindosobreumapopulaçãodelimitadaregionalmente:Inquérito às Práticas Culturais dos Lisboetas(paiseoutros,1994);Públicos para a Cultura na Cidade do Porto(SilvaeSantos,2000);Projecto e Circunstância: Culturas Urbanas em Portugal (FortunaeSilva (orgs.),2001); inqué-ritoscomenfoquenumdomínioemparticular:Hábitos de Leitura em Portugal(FreitaseSantos,1992);Hábitos de Leitura: Um inquérito à População Portuguesa(Freitaseoutros,1997)efinalmente,inquéritosreportadosaumsegmentopopulacionalespecífico: >

80 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

De um modo geral, na análise dos resultados dos inquéritos àspráticasculturais“cruzam-sedoisenfoquesanalíticosqueremetemparatendênciasespecíficasnaestruturaçãodaspráticasculturais.porumladooqueaveriguaograudebanalização/rarefacçãodediferen-tesmodalidadesdelazerdeumadeterminadapopulaçãoinquirida,poroutrooqueremeteparaorecortesocialdediferentespráticas,aferindoacorrelaçãoentrearegularidadedecadaumaeosrecur-sossociaisdetidospelosrespectivospraticantesculturais”(Santoseoutros,2002)

paraanalisaraconfiguraçãodaspráticasculturaisàescalanacio-nalpodem,convocar-seosresultadosaoinquéritoàocupaçãodoTempo realizado pelo iNE em 1999. Não sendo especificamentedirigidoaspráticasculturais,apresentaummódulosobreotema67.Considerandooprimeiroenfoqueanalíticomencionado–banaliza-çãovs.rarefacçãodasmodalidadesdelazer–oprimeirodestaqueéconferidoàcentralidadequeaspráticasdomésticasnostemposdelazer assumem,emparticularnoque se refereaoconsumoaudio-visual.Nooutroextremo,aspráticasde saídacultural,particular-menteorientadasparaarecepçãodebensartísticos,remetemparaumprincípioderaridade.ográficonº2éparticularmenteilustrativodestes contrastes.ovisionamento televisivo surge comoapráticamaisfrequente,aqueseseguempráticasdeconvivialidadeligadasàsvisitasinterdomiciliáriaseàsrefeiçõesforadecasa.

Aspráticasdesaídaculturalsituam-senopólooposto,sendopar-tilhadaspormenosdemetadedapopulação.Seavisitaamuseus,asidasaocinemaeaconcertosdemúsicapopularsãoassinaladasentreoslimiaresdeumquartoeumterçodosportugueses,jáasbibliotecas

> A Procura e a Oferta cultural e os Jovens(Schmidt,1993);Estudantes do Ensino Superior do Porto: Representações e Práticas Culturais(Fernandes,2001);Perfil dos Estudantes do Ensino Superior: Desigualdades e Diferenciação (balsaeoutros,2001)ePráticas Culturais e Condutas de Risco: Um Inquérito ao Jovens Portugueses(paiseCabral(orgs.),2003).67 VerRuiGomes, “práticasCulturais dosportugueses (1)” e JoséNeves, “práticasCulturaisdosportugueses(2)”,FolhaobS,nº2deAbrilde2001enº3deJunho2001,oAC.

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Ir a concertos de música erudita/clássica

Praticar actividades artísticas amadoras

Ir a espectáculos de dança

Ir ao teatro

Ir a bibliotecas

Frequentar associações recreativas

Ir a discotecas, bares

Ir a concertos de música popular

Praticar desporto

Ir ao cinema

Ir a museus, exposições

Ler livros

Jogar às cartas, xadrez, damas...

Ir a festas populares, bailes

Ler jornais

Ir comer fora com familiares ou amigos

Visitar e ser visitado

Ver televisão

regularidade das práticas de lazer entre a população portuguesa (1999)n=8275023(percentagem)

GRáFiCoNº2]

Fonte:OAcapartirdeAAVVinquéritoàocupaçãodoTempo,1999,Lisboa, Ine,2001.Nota:ovalorparaotelevisionamentoreporta-seàpráticadiária.ovalorparaaleituradejornaiscorrespondeàproporçãodeportuguesesquedeclaramapráticacomohabitual.Asrestantestaxassãorelativasàrealizaçãodecadapráticaduranteumano.

82 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

são frequentadas por 15% da população inquirida, enquanto osespectáculos de teatro, dança e de música clássica se encontramabaixodos10%dapopulação.osresultadosapuradosrelativamenteàregularidadedaspráticasculturaisconfirmamoprincípioderari-dadenoqueconcerneàspráticasdesaídaculturaleodebanalizaçãonorespeitanteàspráticasdomiciliárias.

os inquéritosàspráticas culturaispermitemainda traçarperfisdiferenciadosdepraticantescruzandoaregularidadecomosrecur-sossociaisdetidospelosrespectivospraticantes.Nesteaspectooqueimporta sublinhar é a influênciadeterminantede factores comoosexo,aidade,oscapitaisescolareseogrupoprofissional.TomandoaindacomoexemplooinquéritoàocupaçãodoTempoeventilandoumconjuntodepráticasdelazerpelavariávelescolaridade–porseraquelaque,deumaformaglobal,mais sobredeterminaacondiçãodepraticantecultural regular–obtêm-seperfisde lazeredecon-sumo cultural socialmente distintos. As práticas interdomiciliáriassendomuito generalizadas, apresentam reduzidas assimetrias entreosdetentoresdebaixaeelevadaescolaridade,masasdeconsumoculturaldadesignada“culturacultivada”,sãotantomaisprováveisquantomaiselevadoocapitalescolar.“oconsumotendeareque-rer, a título de uma condição necessária, embora não suficiente,umaqualificaçãoescolarintermédiaousuperior;erequere-otantomaisquantomaiselevadaforaposiçãodobemconsumidonaescalasocialmentehegemónicadosbensculturais”(Silva,2001:109).

Emboraascredenciaçõesescolaressejamumtraçocomumaospra-ticantesculturais,refira-sequenemsempreoelevadoperfilescolarésuficienteparadeterminaracondiçãodeconsumidor.Naverdade,nemsempreascompetênciasescolaresgeramapetênciasculturais;a idadeé tambémumavariávelcentralnasegmentaçãodosprati-cantesculturaise,emportugal,ganhaumrelevoacrescido.oefeitogeracionalnosconsumos/práticasculturaispodeserentendido,emgrande parte, como resultado das transformações estruturais naculturacontemporânea,marcadapelasdinâmicasintroduzidascomoaudiovisualeasnovastecnologiasdeinformaçãoecomunicação.

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Comefeito,aversatilidadedestessuportesdáàcriaçãoartísticaumalarga margem de experimentação e criatividade, proporcionandoumaofertaculturaldiversificadaeinovadora.oaumentoediferen-ciaçãodaofertaestimulamaprocuraeamplificaminteressesegostosdiferenciados. Nesse sentido, as novas gerações são portadoras depráticaserepresentaçõesque,decertaforma,“interpelamatricoto-miaconvencionalentreculturaerudita,demassasepopular”(Silva,2001:110).

Apardascaracterísticassocialmenteselectivasqueconfiguramospraticantesculturais,umoutrofactorconstitutivodospraticantesregulareséodacumulatividadedaspráticas–cumulatividadequepodeirnosentidodaespecialização(consumoregularoufrequentedeummesmobemcultural)oudadiversificação(conjugaçãodeprá-ticasculturaismuitovariadas).Aconjugaçãodepráticascultivadasepráticasdelazer,sobretudoasqueremetemparacontextosdecon-vivialidade,sãodissoexemplo.

o efeito de cumulatividade das práticas destaca-se igualmentenosestudos de públicosdeequipamentosoueventosculturais68.Nes-tes, a nota distintiva remete para o facto de incidirem sobre pra-ticantesefectivos (naprópriaocasiãoemque seconstituemcomopúblicos).queristodizerqueonúcleodepraticantesmaisintensos,minoritáriosnoconjuntodapopulação,surgirácomumpesorelativosobrerepresentadoouatémaioritárionosestudosdepúblicos.

Aaplicaçãodeinquéritosapúblicosdeequipamentosoueven-tosculturais,destacatambémalgumasdascaracterísticasquejáosinquéritosàspráticasculturaisevidenciam,istoé,umconjuntores-tritodefactoresestruturaisexplicativosdaspráticasculturais.

68 umavezmaissempretensõesdeexaustividade,indicam-sealgunsestudosparaocasoportuguês:Os Públicos do Festival de Almada(Gomeseoutros,2000);Públicos do Teatro S. João(Santos,Nuneseoutros,2001);Públicos do Porto 2001(Santoseoutros,2002);O Festival Estoril Jazz(Lourenço,Gomes,2005);O Centro Cultural de Cascais(MartinhoeGomes,2005);Os Museus Municipais e Cascais (SantoseNeves,2005);Públicos para a Cultura na Cidade do Porto (Silva eoutros, 2000);o(s)Público(s) da Fundação de Serralves(Conde;1995).

84 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Arecorrênciaecentralidadequeestesresultadosassumem,acen-tuam,porumlado,a“banalização”depropriedadesdistintivasdospúblicosdaculturae,poroutrolado,questiona,noplanoempírico,ovalorheurísticodoinquéritocomoinstrumentoderecolhadeinfor-mação.Estesestudostêmpermitido,contudo,identificarimportan-testransformaçõesaoníveldarelaçãoqueosindivíduosestabelecemcomacultura.Entreessastransformaçõesestáajáaludidadiversi-ficaçãodaspráticasculturaiseacorrelativaalteraçãodahierarquiadeclassificaçõesartísticas.“porumladotaldiversificaçãovemesba-teroprimadodaspráticasculturaislegítimas(própriasdachamada“cultura cultivada”) e favorecer a possibilidade de combinatóriasentrepráticasmúltiplas(maiscultivadasemaislúdicas).poroutrolado,contudo,aprobabilidadede seefectivaremessascombinató-rias cumulativas permanece associada às variáveis genericamenteexplicativasdaspráticas culturais.Em todoocaso,observa-seumdeslocamentoteóricoemquesepassa(...)deumaperspectivaexclu-sivista[perspectivalegitimista]aummaiorênfasepostonoecletismo[cumulatividade e diversificação] das práticas culturais.” (Gomes,2004:33).

Longedeesgotara sua importânciacomo instrumento teórico-metodológico,osinquéritosaospúblicosdacultura,reposicionamosseusenfoquesanalíticosprocurandoaprofundarasdiferentescom-binatóriasdepráticasculturaisedelazer,eacorrespondênciaentreessas combinatórias e o perfil dos respectivos praticantes. Destaformaépossíveltipificarperfisdistintosdepúblicosdaculturaapre-sentando tipologias específicas que combinam indicadores sócio-demográficoscompráticasculturais(Gomeseoutros,2000;Santos,Nuneseoutros,2002;Santoseoutros,2002).

Aestepropósitorefira-seoestudodos“públicosdoporto2001”(Santos e outros, 2001), que procura precisamente evidenciar acumulatividadedepráticasegostoscompósitosatravésdaelaboraçãodetipologiasespecíficas.Nesteestudofoirealizadaumaanálisedosprocessosderecrutamentodepúblicoscorrelacionandoperfissociaisecombinatóriasdepráticasculturais.Conformeesperado,ouniverso

pRáTiCASECoNSuMoSCuLTuRAiSEMpoRTuGAL | 85

depraticantesculturaisdoporto2001mostrou-sefortementeselec-tivoem funçãodaselevadascredenciais (escolares eprofissionais)detidas.Nãoobstante,otratamentodevariáveissócio-demográficasedasvariáveisrelativasapráticasculturaisatravésdeumaanálisemultivariada,permitiuaidentificaçãodegruposdiferenciadosden-trodeumuniversosocialrelativamentehomogéneo.

paraconhecimentogeneralizadodealguns traços fundamentaisdos praticantes culturais, os inquéritos a públicos de eventos ouequipamentos culturais permitem acrescentar mais conhecimentosobreoshábitos e comportamentosdospraticantes.Sublinhe-seaênfasequeestesestudostêmatribuídoàcumulatividadeediversi-dadedepráticaseasuaimportâncianaidentificaçãoetipificaçãodepúblicos.Naperspectivadosagentesresponsáveispela“formaçãodenovospúblicos”,oconhecimentodealgunsdestesperfis–designa-damente,públicosfidelizadosoupúblicospotenciais,etc.–revela-seumimportanteinstrumentodegestãodasrespectivasactividades.

4. iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS

DoSEquipAMENToSCuLTuRAiS

oprogressivoerecentementemaisvisível interessedosdeciso-res políticos pela dimensão educativa/pedagógica das actividadesculturais e artísticas, assimcomoaausênciadeumconhecimentoextensivoesistematizadosobreestarealidade,sãoasprincipaisrazõesqueexplicamarealizaçãodeuminquéritoàsactividadespedagógi-cas/formativasdosequipamentosculturais.

Apreocupaçãocomacriaçãodemeiosquepermitamestabeleceruma relaçãomais próximaentre artes e população–preocupaçãopatentenãosónaclassepolíticamastambémemagentesculturaisdiversos (programadores, produtores e tambémcriadores)– estaráassociada,porumlado,àcrescentepercepçãodaimportânciadacul-turanodesenvolvimentohumanoenapromoçãodacoesãosocial,mastambém,poroutro,àstendênciasrecentesqueperspectivamaculturacomoimportantefactordedesenvolvimentodaseconomiaslocaiseglobais.

peranteumcenáriomuitogeneralizado(esocialmentedeter-minado) de escassas práticas culturais – sobretudo no que res-peitaasaídasculturais, talcomoseverificounocapítuloante-rior – e da necessidade de alargar, fidelizar e conquistar novospúblicos,aspolíticaspúblicas têmatribuídoumpapelcadavezmaisrelevanteàcriaçãodeserviçoseducativos(ouaodesenvol-vimentodeactividadespedagógica/formativas)nosequipamen-tosculturais.

88 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Algumasexperiências,nacionaiseinternacionais,têmpermitidomostrarqueosinvestimentosrealizadosnaconstruçãoerequalifica-çãodosespaços–considerandoascondiçõesdeacolhimento,pro-gramação,divulgaçãoedifusãodeactividades–semumtrabalhodemediaçãoentrepúblicoseobras,nãosãosuficientesparacriarumarelaçãocomosobjectos/serviçosdasartesedacultura.Nessamedidatem-seprocuradodotarosequipamentoscomserviçoseactividadescujoobjectivoprincipalpassaporcriarmodosdecomunicaraarteedeproporcionarinteracçõesduradourascomosespaçosecomosobjectosartísticos.

Apercepçãodeumnúmerocadavezmais elevadode serviçoseducativos(ouafins)nosequipamentosculturaise,poroutrolado,a inexistência de informação específica sobre os seus objectivos emodos de funcionamento (modo como estão integrados na plani-ficaçãodas actividades e composiçãodas equipas; actividadesquedesenvolvemepúblicosaquemsedirigem),levaramàrealizaçãodeuminquéritocujosresultadosagoraseapresentam69.

o presente capítulo é composto por cinco partes, iniciando-secomaapresentaçãodealgumasindicaçõesmetodológicasrelativasàdefiniçãodouniversodeinquirição,seguindo-seaapresentaçãodequatrotemáticaspassíveisdeumaabordagemextensiva:i)Caracte-rizaçãoinstitucionaldosequipamentos;ii)Caracterizaçãodasequi-pas;iii)Caracterizaçãodasactividadesdesenvolvidas;iv)organiza-çãodasactividadespedagógicas/formativas.

Nota metodológica

ouniversodeinquiriçãofoiconstituídoapartirdefontesprove-nientesdoMinistériodaCultura,mobilizadasnoâmbitodeoutros

69 Dada a existência de uma terminologia específica para as actividades pedagógi-cas/formativas promovidas pelas bibliotecas, optou-se por desenhar um questionáriopróprioparaestesequipamentos,muitoemboraasquestõescolocadassejamgenerica-menteasmesmas.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 89

projectos de investigação realizados no oAC (Gomes, Lourenço eMartinho, 2006). procurou-se envolver um leque diversificado deequipamentostendocomoprimeirapreocupaçãoabrangerestruturasquepudessemapresentar,àpartida,umaprogramaçãoregular,mani-festandodestemodoumamaiorprobabilidadedepromoveremactivi-dadespedagógicas/formativas.Nessesentidoforamcontempladososequipamentosintegradosemredes,comoseverámaisadiante.

Foram enviados questionários para um universo de 600 equi-pamentosculturaisrecorrendoàsuaexpediçãoporviaelectrónica(e-mail) em duas fases distintas. A primeira realizou-se durante asegundaquinzenadeNovembrode2006easegundaduranteomêsdeJaneirode2007.Foramrecebidas282respostasválidas(47%douniversoinquirido)70.

o quadro nº 1 permite verificar que o conjunto integra umnúmero aproximado de Museus, bibliotecas, Teatros/Cine-teatros–sendoalargamaioriaequipamentosassociadosemredes(Rededebibliotecaspúblicas,RedeportuguesadeMuseus,RedeNacionaldeTeatroseCine-teatroseRedeMunicipaldeEspaçosCulturais)–aqueseseguemespaçosculturaisdeutilizaçãopolivalente,comosãoosAuditórios/FórunseosCentrosCulturais.Acategoriarespeitanteaopatrimóniointegrasobretudopalácioseoutrosmonumentosdevalorarquitectónicoearqueológico,abarcando,prioritariamente,osequipamentostuteladospelaAdministraçãocentral.Dentrodacate-goriaoutrosestãoincluídosequipamentosquedesenvolvemactivi-dadesemdiferentesdomíniosculturaiseartísticos.Caracterizam-setambémporumautilizaçãopolivalente,emboranãoseenquadremnofigurinodoauditório,fórumoucentrocultural.

onúmerodas respostasobtidasnãoalterasignificativamentearepartiçãodouniversodeinquirição.oúnicodestaqueéconferido

70 No total foram recebidos 315 questionários com respostas de equipamentos, noentantosó foramconsideradas282respostas,dadoqueas restantescorrespondiamaequipamentos(maioritariamenteTeatroseCine-teatros)que,comoseveioaverificar,nãodesenvolvemactividadespedagógicas/formativas.

90 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Questionários enviados e recebidos, por Tipo de equipamento com oferta de actividades pedagógicas / formativas

(números absolutos e percentagem)[quADRoNº1]

Nota:i)Acategoria“património”incluipalácioseoutrosmonumentosdevalorarquitectónicoearqueológico.Acategoria“outros”integraequipamentosquenãoseenquadrandoemnenhumadascontempladas,desenvolvefundamentalmenteumaactividademultidisciplinar.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 91

àmaiorpresençadeMuseus(representando31%dototaldaamos-tra),dadoque foramasestruturascommaiselevadapercentagemderepostasobtidas(69%).Noquerespeitaaindaàpercentagemderespostasalcançadas,refira-setambémacategoriapatrimónio,umavez que as respostas de equipamentos aí classificados alcançarammaisdemetadedototaldequestionáriosenviadosparaestetipodeestruturas(67%).

4.1. CARACTERizAçãoiNSTiTuCioNAL

oprimeiroplanodeanálise,relativoàcaracterizaçãodosequi-pamentosrespondentes,remeteparaofornecimentodedadoscon-textualizadoresdodesenvolvimentodasactividadespedagógicas/for-mativas nas estruturas inquiridas. Nesse sentido, serão abordadasquestõesrelativasàLocalização geográficadosequipamentos,aoseuRegime jurídico;àData de constituiçãodosserviçoseducativosoudeiníciodarealizaçãodasactividadespedagógicas/formativas.

Saliente-se,umavezmais,aelevadapercentagemdeMuseusebibliotecasquecompõemaamostra(quadronº2).Maisdemetadedosequipamentosrespondentespertenceaumdosdoistipos,pre-valecendo,contudo,apresençadeMuseus(31%).Estacaracterís-tica envia, de certa forma, para o histórico do desenvolvimento eorganizaçãodosserviçoseducativosemportugal.Recorde-sequeaconstituiçãodouniversodeinquirição,procurandoreunirumlequede equipamentos diversificados, considerou, no que diz respeito amuseus, bibliotecas e teatros/cine-teatros, especialmente os queintegramredespúblicas,vistoqueestes,àpartida,garantiriammaiorprobabilidadededesenvolveremactividadescomteoreducativo/for-mativo71.Arededebibliotecaséaqueapresentamaiorlongevidade

71 TalcomoseverificounoCapítulo2enoquerespeitaaosMuseus,aRPMpromoveo programa de Apoio e qualificação dos Museus (PAQM) onde se inscrevem verbasespecíficasparaprojectosEducativos.AsbibliotecasdaRnBPintegramasactividades >

92 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Estatuto jurídico dos equipamentos com oferta de actividadespedagógicas / formativas por Tipo de equipamento e NUTS II

(números absolutos e percentagem)[quADRoNº2]

Estatuto Jurídico AC AL Ar EMP FUND COOP ASS Outro Total %

Tipo de equipamento

Auditório/Fórum 0 21 0 0 0 0 1 0 22 7,8

biblioteca 0 65 0 0 0 0 0 0 65 23,0

Centrocultural 0 27 2 1 5 1 0 0 36 12,8

Teatro/Cine-teatro 4 28 0 2 0 4 6 0 44 15,6

Museu 22 39 8 3 9 0 2 5 88 31,2

património 12 2 0 0 0 0 0 0 14 5,0

outros 4 2 0 1 1 1 4 0 13 4,6

NUTS II

Norte 7 62 0 1 6 3 3 2 84 29,8

Centro 9 54 1 2 1 0 5 1 73 25,9

Lisboa 25 30 0 3 8 3 4 1 74 26,2

Alentejo 0 24 1 1 0 0 1 0 27 9,6

Algarve 1 13 0 0 0 0 0 0 14 5,0

R.A.Madeira 0 0 5 0 0 0 0 1 6 2,1

R.A.Açores 0 1 3 0 0 0 0 0 4 1,4

Total 42 184 10 7 15 6 13 5 282 100,0

% 14,9 65,2 3,5 2,5 5,3 2,1 4,6 1,8 100,0

Legenda:Ac(Administraçãocentral);AL(Administraçãolocal);AR(AdministraçãoRegional);eMP(empre-sas);FUnD(Fundações);cOOP(Cooperativas);ASS(Associações).

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 93

e,poressarazão,poderáapresentarumgraudeestruturaçãofuncio-naleorganizativaqueoutrosequipamentos(ainda)nãotêm.quantoaos museus, embora a sua organização em rede se tenha iniciadosomenteem2000,acriaçãoedesenvolvimentodeactividadespeda-gógicaseformativaséfortementeestimulada–apesardenãoserumrequisitoobrigatórioparaintegrararede.Alémdisso,osmuseussãoequipamentosquecedointegraramumacomponenteeducativanassuas dinâmicas internas, provavelmente influenciados pela ligaçãoentreaeducaçãoeamuseologiaquedepressasemanifestounoutrospaísesequeteve,anívelnacional,umpercursopróprio.

Aelevadapresençadeequipamentospertencentesaredespúbli-casatribuidesdelogotraçosespecíficosàamostra.Asredesnacio-nais,sendoprojectosouprogramasde iniciativadaAdministraçãocentral, têm subjacente, como se sabe, o estabelecimento de par-ceriascomasautarquias.Nessesentido,nãosurpreendeofactode84%dosequipamentosrespondentesseremtuteladospelasadminis-traçõespúblicas, sobressaindodeste conjuntoos espaços tuteladospelaAdministraçãolocal(65%)–designadamentemuseusebiblio-tecas, mas também teatros/cine-teatros e centros culturais. Estesdadosreflectemasprioridadesdequeserevestiuapolíticaculturalportuguesanoquerespeitaàpromoçãodoacessoàcultura,desig-nadamente nas estratégias de alargamento de públicos através daconstrução/qualificaçãodeequipamentos.

Apesardosectorprivadoseapresentarrepresentadocommuitoreduzidonúmerodeequipamentos,refiram-sealgunsmuseusecen-trosculturaistuteladosporfundações,assimcomoteatros/cine-tea-trosadministradosporassociaçõesoucooperativas.

écuriosoverificarqueadistribuiçãogeográficadosequipamen-tosrespondentescontraria,atécertoponto,atendênciadagrande

> de promoção do Livro e da Leitura que incluem espectáculos, exposições, etc.Somente a RnTcT e a RMec, semomesmograude estruturaçãodas anteriores,nãoapresentam actividades desta natureza com incentivos públicos formalizados para odesenvolvimentodeactividadesdestanatureza.

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concentraçãodeestruturasnacapitaloumesmonasáreasmetropo-litanas.Evidencia-seumasignificativadistribuiçãodeequipamentospelazonaNorte(amaisrepresentada,abarcando30%daamostra),Lisboa(26%)eCentro(25%).Veja-se,emespecial,ofactodeape-nas8%dosequipamentosrespondentespertenceremàAMp(áreaMetropolitanadoporto)ede22%pertenceremaoutrosconcelhosdaregiãoNorte(verquadronº2,Anexob).onúmerodeconcelhosdaAML (áreaMetropolitanadeLisboa)coincidecomosdefinidosparaaregiãodeLisboa(NuTSii), abarcando,comoseviu,maisde¼dosequipamentosrespondentes.Aesterespeitorefira-se,aindaassim, a predominância de estruturas no concelho de Lisboa (41equipamentos)–querepresenta55%dototaldeequipamentosres-pondentescomlocalizaçãonaregiãodeLisboa/AML.

Ainda a propósito da amplitude geográfica dos resultados doinquérito,refira-sequenelefiguram152concelhosdopaís(repre-sentando49%dosconcelhosdeportugal).oconjuntoabarca73%dapopulaçãodoterritórionacional.Acresce,noquerespeitaàloca-lizaçãodosequipamentosinquiridos,quesetratadeconcelhoscomuma população juvenilizada (75% dos concelhos abrangidos têmumapopulaçãojovemoumuitojovem)72.Estesdadosindiciamqueasdinâmicaseducacionais/pedagógicasdosequipamentosculturaispoderãoestar fundamentalmentecorrelacionadascomaexistênciadepopulaçãojoveme/ouemidadeescolar,talcomosepretenderáaprofundarmaisadiante.

Recorde-se,noreferenteàdistribuiçãoterritorialdosequipamentosculturais,queosinvestimentosrealizadosnasuaconstruçãoerequa-lificaçãotêmsidopólosprioritáriosdeinvestimentodaadministra-çãopúblicanasúltimasdécadas.Adisponibilidadedemeiosfinan-ceiros proporcionados pelo programa operacional para a Cultura(poC),iniciadoem2000,permitiucanalizarverbasespecíficasparaa construção ou recuperação de equipamentos. Muitas autarquias

72 Rácioentrepopulaçãocom65oumaisanossobrepopulaçãocomidadeatéaos24anos,deacordocomosresultadosdosCensosde2001.Verquadronº1,Anexob.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 95

aproveitaramaoportunidadepararequalificarempatrimónioouparadotarosseusconcelhosdeinfraestruturasparaacolhimentodeeven-tosculturaiseartísticos.Acrescentepercepçãodaimportânciadaculturaedasartescomofactoresdinamizadoresdaseconomiaslocaisterátidotambéminfluêncianadefiniçãodeprioridades.

Actualmente, embora ainda permaneça esse mesmo foco deinvestimento, as prioridades tendem a deslocar-se noutro sentido,dandoatençãoqueràqualificaçãodasactividadesedosprofissionaisdaculturaedasartes,queràqualificaçãodoscidadãos.Acriaçãodeserviçoseducativosnosequipamentosculturaiséparadigmáticadaemergênciadestanovaprioridade.

Ainda considerando a distribuição geográfica dos equipamen-tosrespondentesmasagoradeacordocomasuanaturezaculturaleartística,épossívelaferirque:umafatiaconsideráveldosMuseusedepatrimónioestásobrerepresentadaemLisboa(33%e57%,respectiva-mente);osCentrosculturaiseosAuditórios/fórunsencontram-sepre-dominantementenoNorte;amaioriadasbibliotecas(maisde70%)distribui-seequilibradamenteentreoNorteeoCentro(quadronº3).

Tomando como referência não os equipamentos culturais masespecificamente a constituição dos seus serviços educativos – ou,nocasodenãoteremserviçoseducativosconstituídos,o iníciododesenvolvimentodeactividadespedagógicas/formativas–sublinhe-seorelevodadécadade90naimplantaçãodestasactividades,masdestaque-separticularmenteosúltimos seis anos (quadronº4)73.Deacordocomosdadosdaamostra,41%dosserviçosdestanatu-reza foramcriadosentreosanos2001e2006,acentuando inequi-vocamenteaimportânciaqueestasactividadestêmvindoaassumirnopanoramaculturalportuguês.Recorde-seemparticularostextosprogramáticos dos últimos Governos, alusivos à necessidade de sealcançaremmaispúblicosfortalecendoarelaçãoentreaeducaçãoeaculturamastambém,deacordocomoenunciadopolíticodoactual

73 Vertambémgráficonº1,Anexob.

96 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Tipo de equipamento com oferta de actividades pedagógicas / formativas por NUTS II

(Percentagem em coluna)[quADRoNº3]

Aud

itóri

os /

Fóru

ns

bib

liote

cas

Cen

tros

cultu

rais

Teat

ros /

C.te

atro

Mus

eus

Patr

imón

io

Out

ros

Tota

l

Norte 40,9 38,5 47,2 13,6 25,0 14,3 23,1 29,8

Centro 27,3 33,8 16,7 40,9 18,2 21,4 15,4 25,9

Lisboa 31,8 7,7 13,9 29,5 33,0 57,1 53,8 26,2

Alentejo 0,0 12,3 16,7 9,1 9,1 0,0 7,7 9,6

Algarve 0,0 7,7 5,6 4,5 4,5 7,1 0,0 5,0

R.A.Madeira 0,0 0,0 0,0 0,0 6,8 0,0 0,0 2,1

R.A.Açores 0,0 0,0 0,0 2,3 3,4 0,0 0,0 1,4

Total 22 65 36 44 88 14 13 282

Tipo de equipamento com oferta de actividades pedagógicas / formativas, por Data de constituição dos serviços pedagógicos / formativos

[quADRoNº4]

Data de constituição Nº %

Até1990 54 19,1

1991-2000 99 35,1

2001–2005 106 37,6

Depoisde2005 9 3,2

ns/nr 14 5,0

Total 282 100,0

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 97

Governo(xVii),criandoserviçoseducativosnosequipamentoscul-turais da Administração central e/ou integrados em redes. “TodososequipamentosdependentesdoMinistériodaCulturaetodososequipamentos integrados em redes nacionais devem proporcionarprogramaseducativosdirigidosadiferentespúblicos,quersetratedecrianças,jovens,adultosoucidadãosseniores”74.

énoano2005que,deacordocomosdadosdaamostra,ovolumede equipamentos culturais com serviços educativos (ou serviçosequiparados) aumenta muito significativamente (gráfico nº 1). ocrescimento inusitado de serviços registado neste ano (41 novosserviços)reflectirá,certamente,aimportânciaconferidaaospúblicos

74 TextoprogramáticodoxViiGovernoConstitucional,Capítuloii,ii2(p.62).

Data de constituição e Evolução do número de serviçospedagógicos / formativos dos equipamentos culturais, por ano

(números absolutos)[GRáFiCoNº1]

111

5 8

41

9

269

713 17

8

211919110

50

100

150

200

250

300

1948

1954

1966

1972

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Serviços inaugurados Evolução do número de serviços

98 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

e à procura cultural no seio das políticas públicas para a cultura,(podendo,poroutrolado,reflectirtambémaaberturadenovosser-viçosemequipamentosmunicipaisemanodeeleiçõesautárquicas).

Nemtodosos tiposdeequipamentoseguem,porém,amesmatendência. Neste aspecto há a destacar a maior antiguidade dasdinâmicas formativas/educacionais em equipamentos como osMuseus75eopatrimónio(emboraestesúltimosemnúmeroredu-zidonaamostra),eocaráctermais recentedestas iniciativasemTeatroseCentrosCulturais(quadronº5).Acrescente-setambémograndeinvestimentonodomíniopedagógico/formativoocorridonas bibliotecas na década de 90, o que se explica pelo facto decoincidircomoperíododeimplementaçãoecrescimentodaRNbp(apartirde1987).

Note-sequejáosmuseusconstituídosnosfinaisdoséculoxViiieduranteoséculoxixvalorizamoespaçomuseológicocomoimpor-tante recurso educativo, não obstante o conceito de “educar” e afunção educativa dos museus terem sofrido, ao longo do tempo,mutaçõessignificativas.ésobretudoemmeadosdoséculoxx(anos60)queocorremasmudançasmais expressivas.Refira-se, porumlado,aimportânciaatribuídaàexperiênciaeàinteracçãocomobjec-toselugarese,poroutro,aaberturadolequededestinatáriosdasactividades proporcionadas pelos museus, sendo agora valorizadasas aprendizagens ao longo da vida (Martinho, 2007; Hein, 2000;Hooper-Greenhill,1999).

A incorporaçãode serviçoseactividadesdenaturezaeducativaemmuseusportuguesescorrespondeaumaexperiênciaadquiridaaolongodedécadas.Jáduranteosanos50sepodemidentificaractivida-desnessesentido76.Masésobretudonosanos80,apardeimportantes

75 Atendênciacrescenteparaaconstituiçãodeserviçoseducativosépatenteemape-nasdoisanos:de44%em2000,numuniversode491museus,sobepara48%em2002numconjuntode591museus(Santoseoutros,2005).76 oMuseudeArteAntigaterásidodosprimeirosadesenvolverestetipodeacti-vidades dada a centralidade que progressivamente as actividades pedagógicas >

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 99

transformaçõesnosector77,queseassisteàexpansãodonúmerodemuseusportugueses, sobretudo sob tutela autárquica.Entreoutrosfactores,asualigaçãoàcomunidadelocalteráfavorecidoacriaçãodeserviçosvoltadosparaaspopulaçõesdosconcelhos.

Aevoluçãodopanoramamuseológicoportuguêstembeneficiadodeumconjuntodefactoresqueconvergemparaqueaspreocupaçõesrelativasaospúblicosganhem,sobretudoapartirdoiníciodonovoséculo,umacrescenteimportância.Nosúltimosanos,estetrabalho

e formativas foramassumindonaprogramaçãodoMuseu.Nosanos60, aFundaçãoGulbenkian,atravésdacriaçãodoCentroArtísticoinfantil(cAI)temtambémumpapeldeterminante no reforço da componente educativa dos museus e dá inclusiveapoio e expressão ao movimento da educação pela arte e da educação pelo lúdico.77 Transformaçõesdenaturezainstitucionaleorgânica:écriadooippC(institutopor-tuguêsdopatrimónioCultural)eéaprovada,em1985,aLeidebasesdopatrimónio.Aindanosprimeirosanosdadécadade80,assiste-seaoaparecimentodemovimentosassociativosdedefesadopatrimónio.

Tipo de equipamento com oferta de actividades pedagógicas / formativas por Data de constituição

(percentagem em linha)[quADRoNº5]

Até 1990 1991-2000 2001-2005Depois

de 2005ns / nr Total

Auditório/Fórum 9,1 36,4 45,5 4,5 4,5 22

biblioteca 9,2 52,3 35,4 1,5 1,5 65

Centrocultural 5,6 36,1 47,2 2,8 8,3 36

Teatro/Cine-teatro 9,1 22,7 47,7 9,1 11,4 44

Museu 33,0 29,5 31,8 1,1 4,5 88

património 50,0 21,4 28,6 0,0 0,0 14

outros 30,8 38,5 23,1 7,7 0,0 13

Total 19,1 35,1 37,6 3,2 5,0 282

100 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

–quetemvindoaserrealizadoprogressivamente–ganhaumanovavisibilidade juntodosmeiosdecomunicaçãosocialedospúblicos.umadasrazõesestarácertamenterelacionadacomasexigênciasdacomunicaçãoparaqueosmuseusestãoagoramuitomaisdespertos.A produção e edição de publicações, de materiais didácticos e demultimédia e o maior empenho e investimento na divulgação dasactividadestêmagoramaisexpressividadeereconhecimentojuntodospúblicos.

Asbibliotecas,porsuavez,ganhamnovasdinâmicasapartirdoiníciodadécadade90,comacriaçãodaRedeNacionaldebibliote-caspúblicas.Comodesenvolvimentodestarede,asbibliotecasassu-memumafunçãodistintadaqueatéentãodesenvolviam,associadasobretudoaoempréstimodelivros.As“novasbibliotecas”–projec-tosarquitectónicosqueprevêemacriaçãodeespaçoscomfunçõesdiversificadas–alargamoseuâmbitodeactividade,promovendo,apropósitodolivroedaleitura,outrasdinâmicasculturaiseartísti-cas, taiscomoespectáculosde teatro,dançaemúsica,exposições,cinema,multimédia,entreoutras.Emalgunsconcelhosdopaísassu-mem um lugar central na programação cultural local, procurandoenvolverumlequealargadodepúblicos.

Asactividadespedagógicas/formativasmaisrecentementecons-tituídassão,deacordocomdadosdoinquérito,asdesenvolvidasemTeatrosecine-teatros,CentrosculturaiseAuditórios/fóruns–pertodemetadedecadaconjuntorefereterdadoinícioaestaspráticasnos primeiros cinco anos do novo século. o desenvolvimento deactividadesdenaturezapedagógicaestarácomcertezaassociadaaosurgimento de novas infraestruturas culturais. Tal como anterior-mentefoireferido(Capítulo2),muitosconcelhosdopaísinvestiram,aolongodosúltimosanos,narecuperaçãodepatrimónioarquitec-tónicoenacriaçãoe requalificaçãodeespaçosculturais.Atravésde esforços financeiros próprios ou através do recurso a financia-mentosdaAdministraçãocentraleafundosestruturaiscomunitá-rios,oconjuntodeequipamentosculturaisdenaturezapolivalente–comosãosobretudooscentrosculturaiseauditórios/fóruns–foi

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 101

aumentandosignificativamenteemportugal78.Recorde-setambémoaumentodonúmerode teatrosecine-teatros recuperadose/ourequalificadosnoâmbitodaRedeNacionaldeTeatroseCine-Tea-tros (RNTCT) – sobretudo as estruturas localizadas em concelhoscapital de distrito – ou da Rede Municipal de Espaços Culturais(RMEC).

Em síntese, no que respeita à caracterização institucional dosrespondentes,sublinhe-seumatendênciaparaoaumentodonúmerodeserviçoseducativos,principalmenteemespaçosmaisrecentementeconstruídos como são alguns auditórios e centros culturais. A suadistribuiçãoterritorialérelativamenteequilibrada,emboraalgumasregiõesaindanãoapresentemdinâmicasmuitoexpressivas.éocasodoAlgarveedasRegiõesAutónomasdaMadeiraedosAçores,talcomoseverificou.Realcetambémparaosignificativopesodosequi-pamentostuteladospelaAdministraçãolocal,sendoumdostraçosdominantes na caracterização dos equipamentos que figuram naamostra.

4.2. CARACTERizAçãoDASEquipAS

osegundoeixodeanálisedirige-seàcomposiçãoecaracterizaçãodas equipas que desempenham funções no âmbito das actividadespedagógicas/formativas.Trata-sedeuma temáticacujaabordagemsepodecentrarsobretudoemtrêsplanosfundamentais.oprimeiroérelativoàcomposição sociográficadoscolaboradoresquetêmaseucargoestesserviços/funções.Temcomoobjectivotraçaroseuper-filnomeadamentenoquerespeitaàidade,sexoehabilitações.umsegundorefere-seaomodocomoérealizadaaprestação de trabalho nas actividades educativas dos equipamentos, pretendendo ave-

78 DeacordocomdadosdoiNE(EstatísticasdaCultura,DesportoeRecreio)onúmerodeRecintosCulturaisaumentoudeumtotalde199recintosrecenseadosnoano1999,para372em2005.

102 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

riguar a exclusividade/cumulatividade de funções. Finalmente, oúltimoplanoprocuracaracterizaro tipo de relação laboral (vínculode trabalho) prevalecente na prestação destas actividades. Antesdestaabordagememtrêsplanos,avança-sealgumainformaçãosobreonúmerodecolaboradoreseasuadistribuiçãoporequipamentoeporregiões79.

Considerando, em primeiro lugar, o total de colaboradores queexerceramactividadespedagógicas/formativasduranteoano2005,verifica-sequesãoosequipamentosdenaturezapolivalente(Cen-tros culturais eAuditórios/Fóruns)osque apresentamumamédiasuperiordecolaboradores.Apresençadeequipamentosdegrandesdimensões, com actividades muito diversificadas e de abrangêncianacionaljustificará,emparte,onúmeromédiodecolaboradoresaíregistados80. Não obstante, são os Museus que apresentam o maiselevadocontingentedecolaboradoresdadaaelevadarepresentativi-dadequetêmnaamostra(quadronº6).

Noquerespeitaàdistribuiçãogeográfica,verifica-seumamaiselevadamédiadecolaboradoresdedicadosàs acçõeseducativasnaregiãodeLisboa(10,5)–umvalorsuperioràmédiageralregis-tadanaamostra,etambémmaiselevadodoqueamédiaassina-ladaparaaregiãoNorte–regiãocommaiornúmerodeequipa-mentos representados no conjunto das estruturas respondentes(quadronº7).

passandoàcaracterizaçãoemododefuncionamentodasequipasque,demodopermanenteeregular,estãoencarreguesdosserviços

79 Dadoqueoinquéritotomoucomoreferênciaoano2005paracaracterizarasacti-vidadespedagógicas/formativasdosequipamentosculturais,apartirdeagoranãoserãoconsideradososequipamentosqueindicaramumadataposteriorparaoiníciodosservi-ços/actividadespedagógicas/formativas(9equipamentosrespondentes).poressarazãoaamostrapassaráareportar-sea273equipamentos.80 Realce-seigualmenteacategoriaoutrospelosignificativonúmeromédiodecola-boradoresaíregistados.Nesteconjunto,nãoobstanteobaixocontingentederespostasnelerepresentadas,encontram-seespaçosdegrandedimensãooqueconcorreparaaelevadamédiadecolaboradoresregistadosnestacategoria.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 103

Número e média de colaboradores por Tipo de equipamento com oferta de actividades pedagógicas / formativas

[quADRoNº6]

Tipo

de equipamento

Número

de colaboradores%

Total

de respostas

Média

de colaboradores

Auditório/Fórum 197 8,8 18 10,9

biblioteca 420 18,8 64 6,6

Centrocultural 382 17,1 31 12,3

Teatro/Cine-teatro 253 11,3 37 6,8

Museu 623 27,9 86 7,2

património 138 6,2 14 9,9

outros 223 10,0 12 18,6

Total *2236 100,0 262 8,5

Nota:11equipamentosnãoresponderamàperguntarelativaaonúmerodecolaboradoresnosserviçoseducati-vosdurante2005.*Totaldecolaboradoresqueexerceramfunçõesnodomíniodasactividadespedagógicas/formativasnoano2005.

Número e média de colaboradores nas actividadespedagógicas / formativas, por NUTS II

[quADRoNº7]

NUTS IINúmero

de colaboradores%

Total

de respostas

Média

de colaboradores

Norte 616 27,5 74 8,3

Centro 491 22,0 68 7,2

Lisboa 725 32,4 69 10,5

Alentejo 232 10,4 27 8,6

Algarve 124 5,5 14 8,9

R.A.Madeira 26 1,2 6 4,3

R.A.Açores 22 1,0 4 5,5

Total *2236 100,0 262 8,5

Nota:11equipamentosnãoresponderamàperguntarelativaaonúmerodecolaboradoresnosserviçoseducati-vosdurante2005.*Totaldecolaboradoresqueexerceramfunçõesnodomíniodasactividadespedagógicas/formativasnoano2005.

104 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

educativosouincumbidasdaacçãoeducativadosequipamentoscul-turais,ver-se-áqueelasapresentamentresidiferençassignificativas.Diferençasquenãoestarãoassociadas apenas à especificidadedosdomíniosculturaiseartísticossobreosquaissãoplaneadasedesen-volvidasasactividades,mas sobretudo, talcomoseprocuraráevi-denciarmaisadiante,amodelosdeorganizaçãoegestãodistintos.

Acomposição sociográficadoscolaboradoresapontaglobalmenteparaumapopulaçãofeminizada–pertode70%–comelevadafor-maçãoescolarenasuamaioriacompostaporcolaboradoresjovens(menosde35anos)(quadronº8).

umaleituramaisdetalhadapermiteverificarque,emboraaper-centagemdemulheres seja largamentedominante–evidenciandosuperioridade numérica em todas as funções – note-se que estãosubrepresentadas na função de “Responsável”, relativamente aocontingentemasculinoverificadonaamostra.umcenárioquevaiaoencontrodealgumasdascaracterísticasdomercadodetrabalhoportuguêsqueapontaparaumaelevadapresençadasmulheresemcertasactividadesprofissionaispertencentesaosectoreducativo/cul-turale,aomesmotempo,paraasuamenorparticipação,regrageral,emcargosdechefia.

é tambémnotórioqueos colaboradoresqueasseguramas fun-çõeseducativassão,nasuamaioria,muitoqualificados,sobressaindoapercentagemdosque,exercendoafunçãode“Responsável”,sãodetentores de licenciaturas (88%). Repare-se igualmente para asuperiorqualificaçãodos“Monitores”relativamenteaos“Técnicos”.osprimeirosestãosobrerepresentadosnacategoriadoslicenciados(59%)eossegundosnacategoria correspondenteaoensinosecun-dário(54%).Acrescente-sequesãotambémos“Monitores”,junta-mentecomoscolaboradoresclassificadosnacategoria“outros”,osqueglobalmenteseafigurammaisjovens.

Estesdadospermitemreforçaraideiadeumsectordeactividadeemcrescenteexpansão,parecendoassistir-seaumarenovaçãoe/oualargamento das equipas dos serviços educativos nos equipamen-tosculturais.Comefeito,omaiornúmerodenovasinfraestruturas

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 105

Número e função dos colaboradores permanentes e regulares nas equipaspedagógicas / formativas por Sexo, Habilitações e Idade

[quADRoNº8]

*Totalqueconsideraapenasoscolaboradorespermanentese regularesem funçõesassociadasàsactividadespedagógicas/formativasdurante2005.Totalderespostas:Sexo=259;Habilitações=260;idade=255.

106 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

culturaiscomserviçoseducativoseacrescenteimportânciaatribu-ídasaestasactividadessão“motores”paraaemergênciadenovasdinâmicasprofissionaiseempresariais.Alémdepermitiremorecru-tamento de mais técnicos ou monitores, podem eventualmentefomentaraconstituiçãodenovasáreasdeformaçãoespecializadaeacriaçãodeummercadovocacionadoparaaprestaçãodeserviçoseducativosnoâmbitoculturaleartístico.

o novo ou renovado impulso que as acções educativas vêemadquirindonosequipamentosculturais,retomaumaantigadiscus-sãoemtornodanecessidadedeespecializaçãoprofissionaldostéc-nicosdosserviçoseducativos,designadamentenosmuseus,–oqueremeteparaalegitimaçãodeumaactividadequefrequentementeévistacomo“menosimportante”noconjuntodasactividadescultu-rais ou artísticas dos equipamentos81. Tomando como referência osectordosmuseus,saliente-seofactodejáem1982setercriadoacarreirademonitordeserviçosdeeducaçãodemuseus,projectoquenoentanto,nuncachegouaconcluir-se,estandoaindaporresolverquestões ligadasà figuracontratualdoanimador/educadoreàsuaformação(Faria,2000).

odelineamentodeumacarreiraespecíficaparaosprofissionaisligados à dinamização das actividades pedagógicas/formativas,nemsemprecolheopiniõesfavoráveis.paraalgunsdosespecialis-tasnãosejustificaacriaçãodeumacarreiraparticular,dadoqueestas actividades podem ser desempenhadas cumulativamente,podendo inclusive,beneficiardocruzamentodeconhecimentos.poroutrolado,porém,asolicitaçãodeespecializaçõesedecom-petências específicas – designadamente a capacidade de comu-nicação, criatividade e flexibilidade– é frequentemente referidapor profissionais deste sector, tal como é descrita pelos próprios

81 Desde o início dos anos 90 foram criadas várias pós-graduações no domínio damuseologianasuniversidadesportuguesas.Recentemente(anolectivo2006-2007)foiorganizada a primeira edição da pós-graduação Museus e Educação ministrada peloDepartamentodeHistóriadauniversidadedeévora.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 107

numestudorecenterelativoaosmonitoresdevisitasaexposições(Martinho,2007).

Aperguntadoinquéritoreferenteà identificaçãodasespeciali-zações (p.18 do questionário) recolhe informações muito variadas,algumaspoucoounadarelacionadascomasactividadesdosserviçoseducativos82.Emtodoocaso,comoseriadeesperar,asespecializa-çõesquemaissobressaemsãoasligadasàpedagogiaeàsciênciasdaeducação.

Mudandooenfoqueanalíticoparaomodo de prestação de traba-lho(exclusivo,cumulativooupontual), o primeirodestaquepropor-cionadopelaanálisedos resultadosdo inquérito, refere-seà redu-zidapercentagemdecolaboradoresqueexercemfunçõesexclusivas(14%)nosserviçoseducativos,comparativamentecomaselevadaspercentagensdosqueacumulamcomactividadesdenaturezadife-rente(43%),ouqueapenascolaborampontualmentenestetipodeacções(41%)(quadronº9).

A distribuição do número de colaboradores de acordo com omododeprestaçãodas acçõespedagógicas/formativas, indicia for-masdistintasdeorganizaçãodestasactividadesnoseiodosequipa-mentos – temática que será abordada mais adiante no ponto 4.4.Nãoobstante,observe-separticularmenteaselevadaspercentagensdefunçõesexercidaspontualmente,sugerindooeventualrecursoaoutras formas de prestação do trabalho, nomeadamente profissio-nais com formações e competências especializadas que desenvol-vem temporariamente projectos específicos. Veja-se, por exemplo,o modelo de funcionamento do Centro de Arte Moderna (cAM).éatravésdeprojectospropostosporprofissionaisexternosalusivosàsexposiçõespermanentesou temporáriasdesteequipamentoque

82 Recorde-sealiásquealgunsprofessoresaquemnão foiatribuídohorário lectivo,puderamintegrarocorpodefuncionáriosdosequipamentosculturais,assumindoalgunsafunçãodemediadoresentreainstituiçãoculturaldeacolhimentoeasescolas.Verareferência aoprotocolo estabelecido entreosMinistériosdaEducação edaCultura,mencionadonoCapítulo2.

108 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

sãoconcretizadasgrandepartedasactividadesdoserviçoeducativo.Nestecaso,sãoosprópriosautoresquesimultaneamenteseencarre-gamderealizarasvisitasguiadas.

Aexistênciadecolaboradorespontuaispoderáigualmentedever-se à possibilidade de algumas acções serem fornecidas através dorecurso a serviços externos especializados (outsourcings). à seme-lhançadoquesucedecomoutrasáreasdeactividade,aconstitui-çãodeempresas(oudeentidadescomoutrofigurinojurídico,comoporexemploassociações)comumaofertaespecíficanoâmbitodasacçõespedagógicas/formativas,pareceserummercadoemergenteecomfortespotencialidadesdedesenvolvimento.práticasdestanatu-rezaconstituemsobretudo,maisdoquelimitaçõesdeordemlogísticaoufinanceira,opçõesdeorganizaçãoegestãodasactividades.

São os equipamentos inscritos na categoria património e nosAuditórios/Fórunsosque,emtermosmédios,integrammaiselevado

Número de membros das equipas por Modo de prestação de trabalhonas actividades pedagógica / formativas

n=262[quADRoNº9]

Número

de colaboradores com….

Número

de colaboradores%

Total

de respostas

Funçõesexclusivas 323 14,4 113

Funçõescumulativas 969 43,3 220

Colaboraçõespontuais 919 41,1 153

Nãodiscriminado 25 1,1 3

Total *2236 100,0 262

Nota:11equipamentosnãoforneceraminformaçãosobreonúmerodecolaboradoresnasactividadespedagó-gicas/formativas.* Total de colaboradores que exerceram funções no domínio das actividades pedagógicas/formativas no ano2005.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 109

númerodecolaboradoresemregimeexclusivo.ooutropólo,odacolaboraçãopontual,émaiscomumaosCentrosculturaiseàcate-goriaoutros–estaúltimaigualmentebemrepresentadanoqueres-peitaaoregimedecumulatividadedefunçõesexercidopeloscolabo-radores.umavezmais,osequipamentosassociadosaopatrimónio,mas também as bibliotecas e os Auditórios/Fóruns são os espaçosque registam mais elevada probabilidade de ter colaboradores emregimedecumulatividadedefunções(quadronº10).

Número e média de colaboradores de acordo com o modo de prestaçãode trabalho nas actividades pedagógicas / formativas

por Tipo de equipamento com programação desta naturezan=259

[quADRoNº10]

Tipo de equipamentoFunções exclusivas Funções cumulativas Funções pontuais

Total

respostasNº Média Nº Média Nº Média

Auditório/Fórum 30 1,7 75 4,2 92 5,1 18

biblioteca 52 0,8 268 4,2 100 1,6 64

Centrocultural 39 1,3 99 3,3 238 7,9 30

Teatro/Cine-teatro 37 1,0 111 3,0 105 2,8 37

Museu 116 1,3 260 3,0 248 2,9 86

património 24 1,8 59 4,5 49 3,8 13

outros 25 2,3 97 8,8 87 7,9 11

Total 323 1,2 969 3,7 919 3,5 259

Nota:Reporta-seaototaldecolaboradoresqueexerceramfunçõesnodomíniodasactividadespedagógicas/for-mativasnoano2005.11equipamentosnãoforneceraminformaçãosobreonúmerodecolaboradoresnasactividadespedagógicas/for-mativasetrêsnãodiscriminaramonúmerodecolaboradorespormodoeprestaçãodotrabalho.

110 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Considerandoporúltimoarelação laboral doscolaboradores,umdosaspectosrelevanteséofactodemaisdemetadedosquedesem-penhamfunçõesnosserviçosouactividadeseducativasdasorgani-zaçõesculturaisteremumcontratodetrabalhoduradouro(perma-nentes51%)(quadronº11).

Estecenáriovaiaoencontrodaideiaexpressaanteriormentenoquerespeitaàcumulatividadedetarefasexercidasnodesempenhodasactividadeseducativas.Tratando-sedefuncionáriosvinculadosaos equipamentos podem porventura desempenhar várias funçõesdiferenciadas,entreasquaisascorrespondentesaosserviçoseduca-tivos/formativos.Nãodeixasersignificativo,porém,oconjuntodefuncionáriosquetêmcontratosaprazoouavenças(25%).Cenáriosquepodemequivaleraformasprecáriasdetrabalho,masquetambémpodem indiciar formas inovadoras de organização das actividades,assentes,comoseviu,nodesenvolvimentodeprojectosespecíficose/oucorresponderanovasdinâmicasprofissionaiseempresariais.

Número de membros das equipas pedagógicas / formativaspor Tipo de vínculo

n=259[quADRoNº11]

Tipo de vínculo Número %

Funcionáriospermanentesdoorganismo 869 50,6

Funcionárioscontratadosaprazo/avençados 426 24,8

Voluntários 67 3,9

outros 264 15,4

Nãodiscriminado 90 5,2

Total *1.716 100,0

*Totalqueconsideraapenasoscolaboradorespermanenteseregularesemfunçõesassociadasàsacti-vidadespedagógicas/formativasdurante2005.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 111

Asbibliotecassãoosespaçosqueevidenciamtermaiscolabora-dorespermanentesnasequipasencarreguesdasactividadespedagógi-cas/formativas(ou,nestecaso,nasactividadesdepromoçãodolivroedaleitura)eaexercerCumulativamenteestasactividades(quadronº12).Seporumladoacriaçãodas“novas”bibliotecasda RnBPtemsubjacenteorecrutamentodemaistrabalhadoresparaosseusquadrosdepessoal,designadamente técnicosespecializados,poroutro,mui-tosdestesequipamentosenquadramasactividadesdepromoçãodolivroedaleituranasuaactividadegeral,sendoporventuraasfunçõesquelheestãoassociadasdesempenhadaspelosmesmostécnicosquecompõemaequipageral.Note-senoentantoquealgumasbibliotecas

Tipo de vínculo dos colaboradores em actividades pedagógicas / formativas por Tipo de equipamento com actividades pedagógica / formativas

(Percentagem em linha)n=259

[quADRoNº12]

Equipamento PermanentesPrazo /

AvençadosVoluntários Outros Total

Auditório/Fórum 77,9 20,8 0,0 1,3 77

biblioteca 79,6 16,2 0,5 3,7 377

Centrocultural 28,3 31,6 1,1 39,0 269

Teatro/Cine-teatro 53,1 34,3 6,9 5,7 175

Museu 55,1 26,6 4,7 13,6 470

património 31,1 19,3 2,5 47,1 119

outros 31,7 40,3 18,0 10,1 139

Nãodiscriminado 0,0 0,0 0,0 0,0 90

Total 50,6 24,8 3,9 15,4 *1716

*Totalqueconsideraapenasoscolaboradorespermanentese regularesem funçõesassociadasàsactividadespedagógicas/formativasdurante2005.

112 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

–sobretudoasdemaiordimensão–têmnúcleosespecíficosdedicadosexclusivamenteàsactividadesdepromoçãodolivroedaleitura(veraestepropósitoumdoscasosilustrativosabordadonoCapítulo5).

TambémnosAuditórios/Fórunsasactividadespedagógicas/forma-tivassãodesenvolvidasmaioritariamenteporcolaboradorescomvín-culopermanentedetrabalhoe,àsemelhançadasbibliotecas,tambémnestesespaçosésignificativaaacumulaçãodefunçõesnoquerespeitaàsformasdeprestaçãodetrabalho.Nestecaso,tratando-sesobretudode auditórios tutelados pela Administração local, estes espaços são,regrageral,programadosportécnicoscamaráriosque,sendofuncioná-riosdasautarquias,podemeventualmentedesempenharcumulativa-mentefunçõesnodomíniodasactividadespedagógicas/formativas.

observe-se,porúltimo,aelevadapercentagemdecolaboradorescomvínculosprecáriosdetrabalho(categoriaoutros)nodesempe-nho de actividades educativas em Centros culturais e em espaçospatrimoniais. No primeiro caso podem dever-se a lógicas organi-zacionais assentes no trabalho a projecto ou na externalização deserviçosespecíficos.Comefeito,étambémnestesespaços,comoseviu,quemaissecontabilizamsituaçõesdedesempenhopontual.porseulado,apresençadecolaboradorescomcontrataçõesprecáriasnocasodosespaçospatrimoniaissurgirá,porventura,emsituaçõesqueexigemtemporariamenteorecrutamentodemaispessoal,comoporexemplo,osperíodosdemaiorafluênciaturística.

4.3. CARACTERizAçãoDASACTiViDADESERESpECTiVoSpúbLiCoS

Diversificação e padronização da oferta

Asactividadespedagógicas/formativasquesãodinamizadasnosequipamentos culturais são tendencialmente mais diversificadas–nosentidoemquenãoselimitamexclusivamenteàstradicionaisvisitasguiadas–eprocuramfomentarumafrequênciamaisregular

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 113

destes espaços ao terem como destinatários diferentes segmentos da população. Reflectem, em parte, as transformações e as necessida-desqueocorremtantonosectorculturalcomonosectoreducativo.Aculturaévistacomotendoumpapelcadavezmaisrelevantenodesenvolvimentoglobaldeterritóriosepopulações,aomesmotempoque as teorias educacionais sublinhama importânciada educaçãoartísticanodesenvolvimentogeraldosindivíduos,contribuindoparaaformaçãodacidadania.

Regra geral, o denominador comum ao desenvolvimento dasactividades pedagógicas/formativas nos equipamentos culturaispassa, em primeira instância, por conseguir comunicar com dife-rentes públicos – uma comunicação que se desenvolva não numsentidounívoco(daaprendizagemtradicional,deumemissorparaumoumaisreceptores),masqueresultedeinteracçõescapazesdeconstruirconhecimentosubstantivo.

Esteobjectivo temsubjacenteumaalteraçãoprofundanascon-cepçõeseducativas,namedidaemqueosujeitopassaaterumpapelactivonaconstruçãodoconhecimento.“Aaprendizagemsignificativalevaossujeitosatrabalharemsobresiprópriosaomesmotempoqueserelacionamcomosobjectos,eessainteracçãodesenvolveetransfi-guraamaneiradepercepcionarosobjectos”(Marques,2001:9).

Comefeito,asactividadeseducativasdosequipamentosculturais–principalmenteasactividadesdosmuseus–começaramporcum-prirobjectivos “civilizacionais”paramais tarde sedirigiremaumapopulação jovem,especialmenteestudantil.osexemplosoriundosdamuseologiasãoparadigmáticosdaevoluçãodoconceitoactivida-deseducativas.Começandoomuseuporserencarado,noiníciodoséculoxix,comoumespaçoquefavoreceaeducaçãoparaacidada-nia–emboramuitomarcadoporconcepçõeselitistas–estesentidoeducacionalefilantrópicodoespaçomuseológicoésubstituído,noiníciodosanos60,porumentendimentomaisrestrito,assentandosobretudonotrabalhocomasescolas(Faria,2000).

é já nas duas décadas seguintes que a função educativa dosmuseusvoltaaserreavaliada,dadasastransformaçõeseconómicas

114 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

e sociais decorrentes da crise económica do Estado e do questio-namentoemtornodasuafunçãosocial.Seporumladoapressãoeconómica e social levou os museus a desenvolverem estratégiasespecíficasparaalargarosseuspúblicos,poroutro,tambémaevolu-çãodasteoriaseducacionais,valorizandoaexperiênciadoslugares,favoreceuosmuseuscomoespaçosprivilegiadosdas“novasaprendi-zagens”.Adiversificaçãodolequedeactividades,assimcomoadefi-niçãodeacçõesdirigidasapúblicosespecíficos,traduzemavontadede alargaros espaços culturais e artísticos aummaiornúmerodevisitantes/espectadores.

Assim se explica, em parte, a forte diversidade de actividadesrealizadasdurante2005pelosequipamentos inquiridos.Deacordocomográficonº2,maisdemetadedasestruturas(55%)declaraterrealizadoacimade6actividadespedagógicas/formativasdiferentesnummesmoano.

Deummodogeralasbibliotecassãoosequipamentosqueapre-sentamumlequemaisdiversificadodeactividades–73%desenvolvemaisde6acçõesdiferentes(quadronº13).

Leque de actividades pedagógicas / formativas realizadas em 2005(percentagem)

n=273[GRáFiCoNº2]

11,7

33,0

38,1

16,8

0,40

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Até 3

actividades

4 a 6

actividades

7 a 9

actividades

10 ou mais

actividades

ns/nr

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 115

Leque de actividades pedagógicas / formativas realizadas durante 2005por Tipo de equipamento com este tipo de oferta

(percentagens em linha)n=273

[quADRoNº13]

Tipo de equipamento

Diversidade de actividades pedagógicas / formativas

realizadas durante 2005 Total

de

respostasAté3

actividades

4a6

actividades

7a9

actividades

10oumais

actividadesns/nr

Auditório/Fórum 14,3 33,3 28,6 19,0 4,8 21

biblioteca 4,7 21,9 50,0 23,4 0,0 64

Centrocultural 11,4 40,0 28,6 20,0 0,0 35

Teatro/Cine-teatro 20,0 32,5 32,5 15,0 0,0 40

Museu 8,0 40,2 40,2 11,5 0,0 87

património 21,4 28,6 35,7 14,3 0,0 14

outros 33,3 25,0 25,0 16,7 0,0 12

Total 11,7 33,0 38,1 16,8 0,4 273

As bibliotecas, sobretudo as bibliotecas que integram a RnBP,foramprojectadasparapromoverumvastolequedeactividadesque–talcomoseviunoCapítulo2–,apesardeorientadasparaatemá-ticadolivroedaleitura,atravessamváriosdomíniosculturais.Sãoestruturasquepodemdominareprotagonizaraactividadeculturaleartísticaexistenteemterritórioscomfracaoferta,nãosendosur-preendenteque,nessamedida, seapresentemcomoespaçospluri-facetados no que concerne às actividades pedagógicas/formativasdesenvolvidas.

Desalientar igualmenteosmuseusnoconjuntodeequipamen-toscomactividadesdiversificadas,talvezsintomadeumamaislonga

116 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

tradiçãonaadopçãodeestratégiasdiferenciadasparacomunicarcomdiferentessegmentospopulacionais.Destaqueaindaparaasobrere-presentaçãodosCentrosculturaisnogrupodosequipamentosquedinamizarammaisde10actividadesdiferenciadasem2005(20%).São espaços que, em alguns casos, concentram avultados investi-mentoscamarários,constituindoporventuraasuadinamizaçãoumaapostaparaodesenvolvimentoglobaldosconcelhos.

Setomarmosemcontaadimensãodasequipaspedagógicas/for-mativasdosequipamentosculturaisdurante2005,verifica-sequeosequipamentosdispõemdeumlequetantomaisvariadodeactividadesquantomaioradimensãodassuasequipas.Deacordocomoquadronº14,asequipascommenornúmerodecolaboradoressãoasmaisrepresentadasnogrupodosqueorganizaummáximode3activida-desdiferentes/ano(31%).oinversoéverdadeparaasequipascomelevado número de colaboradores, sobrepresentadas no segmentoqueevidenciaorganizar10oumaisacçõespedagógicas/formativas(27%).

Tomandocomoreferêncianãojáonúmerodediferentesactivida-desdesenvolvidasmasanaturezadeacçõespropostasnoâmbitodosserviçoseducativos,verifica-seumapredominânciaclaradasVisitasguiadas na frequência mensal (61%), seguindo-se os Espectácu-los/animações(43%)easoficinas/workshops/ateliês(35%)(quadronº15).AsExposiçõesetambémasConferências/debatesapresen-tam realizaçõesmais esporádicas, encontrando-sebem representa-dastantonoconjuntodeactividadestrimestrais,comonoconjuntodasacçõesrealizadassemestralmente.Asactividadessazonaisestãorepresentadasporacçõesdecarácterlúdico,algumasdirigidasprefe-rencialmenteaumapopulaçãoestudantil–comoéocasodaAnima-çãoparafériaslectivas–mastambémosConcursos/passatempos.

As visitas guiadas podem ser entendidas como as actividadesfundadoras dos serviços educativos, especialmente nos museus,dadoquecomeçaramporserdasprincipaisacçõesorganizadascomo intuito de “educar” ou de transmitir conhecimentos sobre umadeterminada área cultural ou científica. A necessidade de alargar

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 117

Leque de actividades pedagógicas / formativas realizadas durante 2005 por Dimensão das equipas pedagógicas / formativas dos equipamentos

(percentagens em linha)n=273

[quADRoNº14]

Tipo de equipamento

Leque de actividades pedagógicas / formativas realizadas

durante 2005 Total

de

respostasAté3

actividades

4a6

actividades

7a9

actividades

10oumais

actividadesns/nr

Até3Colaboradores 30,6 32,7 24,5 10,2 2,0 49

4-6Colaboradores 11,3 40,6 32,1 16,0 0,0 106

7-10Colaboradores 3,6 27,3 50,9 18,2 0,0 55

Maisde10Colaboradores 0,0 21,2 51,9 26,9 0,0 52

Ns/nr 27,3 45,5 27,3 0,0 0,0 11

Total 11,7 33,0 38,1 16,8 0,4 273

audiências/visitantesedecolocarempráticaamissãosocialeeduca-tivadosequipamentosculturaisterásidoaprincipalrazãoparadina-mizarvisitasaosespaços.progressivamente,asacçõesforamsendoalargadasaoutrotipodeactividades–preocupaçõesquereflectem,emparte,asnovasteoriaseducacionaiseaspreocupaçõesemergen-tes coma “formaçãodepúblicos” para a cultura.Apromoção doconhecimentoatravésdejogoslúdicos,daexperimentaçãoedainte-racçãoentreosobjectosculturaiseosindivíduosconstituemagorarecursospedagógicos/formativospara sensibilizarpúblicosparaumlequediferenciadodeconhecimentos.

éaindaimportantedestacarofactodecadavezmaisosequipa-mentosculturaisintegraremumlequemuitodiferenciadodeacçõesindependentementedotipodefunção–patrimonial,museológica,criativa/artística, educativa/formativa – prevalecente em cada

118 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

espaço.osdadosrecolhidospeloinquéritosublinhamprecisamenteestetraçodominante,visívelatravésdocruzamentoentreasActi-vidadeseoTipodeequipamentos(quadronº16).Destaque-seemprimeirolugarosvaloresalcançadosnasoficinas/workshops/ateliês;

Taxa de realização e Periodicidade das actividades pedagógicas / formativas(percentagem)

n=273[quADRoNº15]

Actividades Periodicidade Não foram

realizadas

em 2005

Taxa de

realização

%Mensal Trimestral Semestral Sazonal

Exposições 32,2 19,4 11,7 18,3 17,9 84,6

Espectáculos/animações 42,9 13,2 7,3 20,9 15,4 82,1

oficinas/workshops/ateliês 34,8 15,4 8,1 16,8 24,5 75,5

Acçõesdedivulgação 32,2 11,7 7,3 15,0 33,3 66,7

Conferências/debates 15,4 15,0 11,7 22,0 35,5 64,5

Visitasguiadas 61,2 3,8 3,8 10,0 20,6 60,8

Animaçãoemfériaslectivas 5,5 11,7 6,2 25,6 50,5 49,5

publicações 6,6 8,8 7,3 20,1 56,8 43,2

Cursosdeformaçãovocacio-

nada7,3 7,7 9,9 14,3 60,4 39,6

Concursos/passatempos 4,4 4,0 4,8 22,0 64,5 35,5

Cursosdeformaçãogeral 5,9 4,4 6,2 9,2 74,0 26,0

Festivaisvocacionados 1,4 2,4 4,8 20,6 70,3 22,7

Comunidadedeleitores 12,5 1,6 7,8 12,5 65,6 na

Nota:perguntaderespostamúltiplaAs“Visitasguiadas”eos“Festivaisvocacionados”não foramcontempladosnosquestionáriosdirigidosàsbi-bliotecas;assimcomoacategoria“Comunidadedeleitores”nãofezpartedaquestãorelativaàsactividadesdosrestantesequipamentos.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 119

Actividades pedagógicas / formativas por Tipo de equipamento com oferta destas actividades

(percentagem em coluna)n=273

[quADRoNº16]

Nota:perguntaderespostamúltipla.

120 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

ExposiçõeseEspectáculos/animações,comrespostassempreacimados50%.istoé,qualquerquesejaodomínioculturalouartísticopre-dominantenosequipamentosinquiridos,maisdemetadedasestru-turasrealizaestasactividades–refira-seemparticularasExposiçõesrealizadasemAuditórios,bibliotecas,eTeatros,compercentagensacimados90%.

Não obstante a forte transversalidade de acções realizadas nosdiferentesequipamentos,emalgunscasosregista-seumacorrelaçãoexpressiva de certas actividades com certos espaços. é o caso dasVisitasguiadasnosMuseusenoslocaispatrimoniais–atotalidadedeestruturasinquiridasnestascategorias,declararealizarVisitasguia-das.

Talcomofoimencionado,asvisitasguiadasconstituemtalvezaprimeiraactividadedesenvolvidanosequipamentosculturais–par-ticularmente em Museus – com o objectivo de sensibilizar para aculturaeparaasartes.Actualmenteétambémumrecursoutilizadoporoutrotipodeorganizaçõesculturais.Nosteatros,centroscultu-raisouauditórios fazempartedepercursosparadaraconhecerosbastidores,emmuitoscasospermitindoconhecerfasesdoprocessocriativo e procurando conter alguns dos constrangimentos sociaisassociadosàentradaedeambulaçãonosespaçosdacultura.Veja-sequesãoreferidospor74%deequipamentosclassificadosnacategoriadeCentrosculturaise55%emTeatros/Cine-teatros.

porvezes,asvisitasguiadasconstituemaactividadeexclusivadealgunsequipamentos,esgotando-se,alémdomais,na recepçãodevisitas escolares. A ausência de recursos humanos e/ou logísticos,poderáexplicaremparte,estecenário.Note-se,porém,queopredo-míniodevisitasguiadasemdetrimentodeoutrotipodeactividades,nemsempredeveráservistocomomenospositivo.Estasactividadespodemelasmesmasassumirumafortediversidadeeseremdirigidasapúblicosmuitodistintos.

éaindainteressantesublinharorelevoqueassumemasactivida-desligadasàdivulgação.Maisdemetadedototaldeequipamentosinquiridosrefererealizaracçõesdestanatureza,sendoindicativodo

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 121

esforçodecomunicaçãoquemuitosequipamentosculturaistêmrea-lizadoparatrazerdiferentessegmentosdapopulaçãoaosseusespa-ços.Emtermosgerais,asacçõesdedivulgaçãopodemconsubstan-ciar-seemprocessostradicionaisdepublicitação,taiscomocartazes,fliers,mailing,etc.,maspodemtambémassumiraformadeconvitesasegmentosespecíficos,apelandoàsfamílias,professores,e“amigos”,paraparticiparememactividadesdiferenciadas.Aestepropósito,aentãoresponsávelpeloCentrodepedagogiaeAnimação(cPA)doccBconsideravaqueumadasformasmaiseficazesdesensibilizarapopulaçãoparaasarteseculturaéprecisamenteatravésdainovaçãodosmodosdecomunicar,referindoque“ofundamentaléperceberqueaspessoassópodemaderirsecompreenderem(…).Enquantoascoisasestiveremalinocartazehouverumsistemadecomunica-çãoedeinformaçãoenvelhecido,nãofunciona,éprecisoencontrarnovosmodosdecomunicaçãoede“energizar”arelaçãopúblico/arte(…).oscartazes,osanúncios,adivulgaçãoderua,osprogramas,osfliers,estátudoenvelhecido(…).éprecisorenovar(…)eumadasformaséprecisamenteestadasescolasquevêmaoccB fazerumaoficina”83.

Asactividadesexistentesnosserviçoseducativosdosdiferentesequipamentosculturais,emboraapresentem,tendencialmente,umasemelhança formal–no sentidoemquedesenvolvem igualmentevisitas guiadas, exposições, espectáculos, ateliês, independente-mentedodomínioculturaleartísticoprevalecentenoequipamento–podemagrupar-se,todavia,emgruposqueapresentamalgumaafi-nidade.

oquadronº17permiteaferiressasproximidadesentrepráticasatravésdeumaanálise factorialdecomponentesprincipais.Desteexercícioresultaramquatropadrõesdeactividades.

83 EntrevistaaMadalenaVictorino–responsávelpeloCentrodepedagogiaeAnima-ção(cPA)doccB,publicadanarevistaOBSnº13(Lourenço,2004).àdataderedacçãodeste estudo,MadalenaVictorino assumia a coordenaçãodoCentrodepedagogia eAnimação(CpA).

122 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Oferta-tipo de Actividades pedagógicas / formativasn=273

[quADRoNº17]

Actividades

Factor 1 Factor 2 Factor 3 Factor 4

Actividades

“contemplativas”

Actividades

“formativas”

Actividades

“criativas/lúdicas”

Actividades

“de Palco”

Visitasguiadas 0,724

Exposições 0,684

publicações 0,645

Acçõesdedivulgação 0,524 0,378

Cursosformaçãogeral 0,732

Festivaisvocacionados 0,658

Cursosformaçãovocacionados 0,594

Conferênciasedebates 0,544 0,417

oficinas/ateliês 0,780

Animaçãofériaslectivas 0,649

Concursos/passatempos 0,339 0,389

Espectáculos/animações 0,837

Nota:Valoresprópriosretidosdasvariáveissuperioresa0,300:variânciatotalexplicada=51,8optou-seporexcluiraactividade“Comunidadedeleitores,”que,dadaasuaelevadaespecificidade,dificultavaaagregaçãodeinformação.

a) No primeiro integram-se actividades que se designaram deContemplativas, dado que agrupam um conjunto de práticas maisdestinadasàobservação/audição,incluindoasVisitasguiadas,Expo-sições,publicaçõeseasAcçõesdedivulgação.São,deuma formageral, actividades mais frequentes nos museus e em alguns locaisassociadosaopatrimóniocultural.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 123

b) AsactividadesFormativasimplicamacçõesrelacionadascomafrequênciadecursosdeFormaçãogeralouFormaçãovocacionada,mastambémcomaorganizaçãodefestivaisedeconferênciasedeba-tes. Embora podendo ser actividades desenvolvidas em diferentestiposdeequipamentos,serãomaisfrequentementedinamizadasemespaçoscomcaracterísticaspolivalentes.

c) oterceiropadrão–actividadesCriativas/Lúdicas –éconsti-tuídosobretudoporacçõesqueenvolvemaexperiênciaeapartici-pação. As oficinas/ateliês, a Animação em férias lectivas e osConcursos/passatempos são as actividades que mais se destacamsendo,pornorma,dirigidasaumpúblicoinfantil/juvenil.

d) por último refiram-se as acções intituladas de actividadesDe palco.Esteconjunto,incluindomarginalmenteasconferênciasedebates,émuitomaisexpressivoparaasactividadesligadasaoespec-táculo e animação. Sendo uma actividade presente numa parcelamuitosignificativadeequipamentos,comoseviuatravésdoquadroanterior,estátendencialmentemaispresenteemespaçospolivalen-tesetambémnasbibliotecas–ondeécomumintegraro lequedeactividadesquecompõemapromoçãodolivroedaleitura.

ConfrontandoaOferta-tipo(resultantedospadrõesdeactividadeextraídosdaanálisefactorialdecomponentesprincipais)comoTipodeequipamentos(quadronº18),verifica-seque,emtermosmédios,as“ActividadesContemplativas”estão,comoénatural,maisasso-ciadasaosMuseus(0,523)edenotammenorpresençanosTeatrose Cine-teatros (-0,548). São igualmente significativos os valoresmédios encontradosparaas “ActividadesFormativas”nosAuditó-rios/Fóruns(0,709)e,menosexpressivosemborarelevantes,osvalo-resdas“Actividadesdepalco”tantonestesúltimosespaçoscomonosCentrosculturais(0,338e0,358,respectivamente).

umúltimoexercíciotendoemcontaaOferta-tipoaveriguaaexistên-ciadecorrelaçõessignificativasentreestaealgumasdasvariáveisquecaracterizamasactividadespedagógicas/formativasdosequipamentosculturais–Lequedeactividadesrealizadas;Númerodeparticipantes;NúmerodesessõeseNúmerodecolaboradores(quadronº19).

124 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Oferta-tipo no âmbito das actividades pedagógicas / formativaspor Tipo de equipamento

(média)[quADRoNº18]

Oferta-tipoAuditó-

rio / Fórum

Centro

cultural

Teatro / C.

teatroMuseu Património Outros

ActividadesContemplativas -0,677 -0,044 -0,548 0,523 -0,271 -0,393

ActividadesFormativas 0,709 -0,075 0,380 -0,306 -0,116 0,127

ActividadesCriativas/Lúdicas -0,116 0,125 -0,191 0,045 0,192 -0,088

Actividades“depalco” 0,338 0,358 0,247 -0,264 -0,163 -0,326

Correlação entre Oferta-tipo e Leque de actividades, Númerode participantes, Número de sessões e Número de colaboradores

(r de Pearson)[quADRoNº19]

Oferta-tipo

Variáveis

Lequedeactivida-

desrealizadas

Número

departicipantes

Número

desessões

Número

decolaboradores

n=273 n=192 n=198 n=262

ActividadesContemplativas *0,600 *0,273 *0,297 *0,204

ActividadesFormativas *0,556 0,090 0,053 *0,286

ActividadesCriativas/Lúdicas *0,431 0,110 *0,240 0,120

Actividades“depalco” *0,211 *0,217 -0,039 0,128

Nota:Asvariáveiscontempladasnesteexercícioforamstandardizadasvariáveiscontínuas.*=acorrelaçãoésignificativanograu0.01(2-tailed)

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 125

Aprimeiranotaadestacaréacorrelaçãoestatisticamentemuitosignificativaentrearegularidadeeadiversidadedasactividadespeda-gógicas/formativas,independentementedotipodeofertaprogramada.quantomaisfrequentessãoasactividadesnosequipamentos,maioraprobabilidadedepromoveremactividadesmaisdiversificadas.Emborasejaumtraçocomumatodososgruposdeactividadesconsideradas,énoentantomaissignificativoparaas“Actividadescontemplativas”(0,600) e para as “Actividades formativas” (0,556). outra nota dedestaqueédirigidaàcorrelaçãopositivaentreas“Actividadescon-templativas”easrestantesvariáveis.quantomaiselevadoonúmerodeparticipantes,desessõesrealizadasedecolaboradoresnasequipasdosserviçoseducativos,maioraprobabilidadedeseremdesenvolvi-dascomregularidadeasactividadesenquadradasnaqueleconjunto(Visitasguiadas;Exposições;publicaçõeseAcçõesdedivulgação).

Públicos-alvo dos serviços educativos

umúltimoapontamentoparacaracterizaromodocomosecom-põeaofertaproporcionadapelos serviçoseducativos, reporta-seàsSessõesrealizadas.quandoseanalisaonúmerodesessõesduranteoano2005tendoemcontaospúblicos-alvo,verifica-sequeamaiorfatiaédedicadaaosegmentoescolar(quadronº20).Nãoobstanteadiversidadedeactividadesquecompõemaofertadosserviçosedu-cativosonúmerodesessõesrealizadasparacadaumadaspropostas,privilegia largamenteasactividadesvocacionadasparaumpúblicoemcontextodeaprendizagemformal(escolar).

otrabalhocomasescolaséclaramenteaactividadecentraldosserviçoseducativosdosequipamentosculturais.Ainstituiçãoesco-larfoiadquirindoumlugardestacadocomodestinatáriodasacçõespromovidasporestesserviçosapartirdomomentoemqueasteoriaseducacionaispassamaconceberainfânciacomoestadoprivilegiadode formação da personalidade e de aprendizagem, e a sublinhar aimportânciadarelaçãodosindivíduoscomosespaçosecontextosdeproduçãodeconhecimento(científico,cultural,social,etc.).

126 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Número de sessões realizadas no âmbito das actividadespedagógicas / formativas programadas durante o ano 2005

n=198[quADRoNº20]

Públicos-alvo Número de sessões % Total de respostas

públicoemgeral 6.421 14,8 141

públicosescolares 29.656 68,2 172

outrospúblicos-alvo 2.828 6,5 108

Nãodiscriminado 4.587 10,5 17

Total 43.492 100,0 198

Nota:Só198equipamentos(72,5%)responderamaonúmerodesessõesdiscriminadaspelotipodepúblico-alvo.

Noentanto,paraalémdaimportânciaedalegitimidadedapro-gramaçãoespecíficaparasegmentospopulacionaisemidadeescolar–nosentidodafamiliarizaçãoesocializaçãoprecocecomosbenseserviçosdacultura–,emalgunscasosnãodeixadeserconstrange-doraafaltadediversificaçãodeactividadesparaoutrosdestinatários.Acresce ainda que a escola funcionará também, em alguns casos,como “reservatório de públicos” ou garante de sala cheia para asactividadesprogramadas,poupandorecursosquernadivulgaçãodeeventos,quernaconcepçãodeestratégiaspararecrutamento/forma-ção/fidelizaçãodeoutrospúblicos.

Note-se, contudo, que a relação quase instrumental que algunsequipamentosculturaistendemamantercomasescolastemsido,emalguns casos reequacionada por vários agentes (políticos, culturais,educacionais)nosentidodeumamelhoriaqualitativadaligaçãoqueosequipamentosculturaisestabelecemcomasinstituiçõesescolares84.

84 Refiram-seasreflexõeseiniciativaspromovidasapropósitodanecessidadedearti-cularaculturaeeducação(verCapítulo2).

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 127

Veja-seodelineamentodeprogramasquelevamemcontamatériascurriculares;apromoçãodeumarelaçãofidelizadacomprofessores;aconcepçãodemateriaisdidácticos;ouaadopçãodeformasdecomuni-carespecíficas,adaptadasaosuniversosparticularesdecadasegmentoestudantil.

Masantesdodomínioqueasescolasconquistaramnadelineaçãodaprogramaçãodosserviçoseducativos,osequipamentosculturais,eespecialmenteosespaçosmuseológicos,eramentendidosgenerica-mentecomo“instituiçõeseducacionais”,funcionandocomoespaçosdeeducaçãonãoformal–especialmenteparaadultos.AesterespeitoMargaridaLimadeFariarefereque“educarerafundamentalmenteformar, informar.Nãohavendoumaanálisecríticaacompanhandoeste seu sentidoeducacional, omesmo revestia-sedeumcarácterbasicamentefilantrópico,abertoatodososquenãotinhampodidobeneficiardaeducaçãoescolar,dando-lhesoportunidadedeseensi-naremasipróprios”(Faria,2000:4).

podedizer-sequeseassistehojeaumatentativaderecuperaralgunsdestesdesígniosatribuídosaosmuseus,procurandotambémqueestessedifundamparaoutrosespaçosculturaisondeprevalecemdiferentesdomíniosculturaiseartísticos.Mantendoaconcepçãodestesespaçoscomolugaresprivilegiadosdeaprendizagens,começatambémapro-curar-seestenderassuasactividadesformativasnãosóàpopulaçãoescolarmasaoutrasfracçõesdapopulaçãoparaquebeneficiemdaspráticasassociadasàsteoriasdaformaçãoaolongodavida.

De uma forma geral, a progressiva importância atribuída aospúblicos no delineamento da programação cultural e artística dosespaçosculturais implicouumaalteraçãodaconcepçãodepúblicovisitante/espectador. Começando por ser vistos como uma massahomogéneaeanónima,passaramaserentendidosdeacordocomasuadiversidadesocialecultural,dandoazoàconstituiçãode“formasvariadasdecomunicaçãointer-social,inter-culturalemesmointer-geracional”(Faria,2000:8).

é nesse sentido que os programadores das actividades cultu-raiseartísticasalargamolequedeacçõespossíveis,concebendo-as

128 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

especificamente para determinadas segmentos da população queratendendo a características geracionais (público infantil/juvenil,idosos) ou profissionais (públicos especializados, profissionais daeducação);queratendendoapúblicoscomnecessidadesespecíficas(públicoscomnecessidadesespeciaistaiscomoinvisuais,deficientesauditivosemotores).Refira-setambémapromoçãodeactividadespróprias para comunidades imigrantes, tais como as que têm sidodesenvolvidasemalgunsmuseus85.

SãoosCentrosculturaiseosMuseusaquelesqueevidenciamterrealizadomaiornúmerodesessõesduranteoano2005(38%e25%,respectivamente),emboraemtermosmédiossobressaiamumavezmaisosCentrosculturaiseosespaçospatrimoniais(quadronº21).Enquantoosprimeirosbeneficiam,porventura,donúmeroecapacidadedassalas,ossegundosserãoeventualmentefavorecidospelaforteafluênciadevisitantesnacionaiseestrangeiros.

A constituição de acções para públicos-alvo diferenciados noâmbitodasactividadesdosserviçoseducativos(ainda)nãopodeserconsiderada uma prática generalizada nos equipamentos culturaisnacionais.oinquéritoevidenciaumaconcentraçãomuitaelevadadeactividadesdirigidasa“públicosóbvios”ouseja,correspondentesaouniversoescolar(89%referepúblicoescolare53%profissionaisdeeducação)easegmentosetários(declaradospor84%dosequi-pamentoscomoprincipaispúblicos-alvo infanto-juvenis)–quadronº22.

85 Entre os exemplos refiram-se as actividades promovidas pelo Museu do CarroEléctricodoporto.umadas actividadespromovidas chama-se “públicos periféricos”etemcomopúblico-alvo,porumlado,osinvisuaise,poroutro,osimigrantesdeleste.oobjectivoécriarmecanismosparaumamelhorcomunicaçãoentreoMuseueestesnovospúblicos.Entreosmateriaisdeapoioconcebidosparaestasactividadesconstaaediçãodemateriaisdedivulgaçãodaexposiçãoembrailleeemcirílico,acriaçãodeumcircuitoáudiotambémemrussoeacontrataçãodeummonitorparaguiaralgumasvisitasnestalíngua.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 129

Número e média de sessões anuais realizadas por Tipo de equipamentocom oferta de actividades pedagógicas / formativas

n=198[quADRoNº21]

Tipo de equipamento Nº de sessões % Total de respostas Média de sessões

Auditório/Fórum 747 1,7 14 53,4

biblioteca 5889 13,5 48 122,7

Centrocultural 16632 38,2 26 639,7

Teatro/Cine-teatro 1317 3,0 30 43,9

Museu 10700 24,6 57 187,7

património 7493 17,2 13 576,4

outros 714 1,6 10 71,4

Total 43492 100,0 198 219,7

Nota:Só198equipamentos(72,5%)responderamaonúmerodesessões

Público-alvo das Actividades pedagógicas / formativas[quADRoNº22]

Públicos-alvo Nº %

públicoemgeral 226 82,8

bebés 29 10,6

públicoinfantil/juvenil 230 84,2

públicoespecializado 105 38,5

públicoescolar(visitasinseridasemprogramasescolares) 244 89,4

profissionaisdeeducação 144 52,7

públicocomnecessidadesespeciais 82 30,0

Famílias 107 39,2

idosos 27 9,9

outros 10 3,7

Total de respostas 273 100,0

Nota:perguntaderespostamúltipla,peloqueasomadasparcelasultrapassaos100%.

130 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Aapostanadiversidadedeacçõesprogramadasémaisfrequentepara Museus e património. é nestes equipamentos que avultam“públicoscomnecessidadesespeciais”e“Famílias”(quadronº23).osAuditórios/fórunsemaisumavezosMuseus,revelamdarespe-cialatençãoaos“públicosespecializados”.osequipamentosenqua-dradosnascategoriasMuseusepatrimóniosãosensíveisaactivida-desvocacionadasparaumsegmentosénior.Sublinhe-setambémaimportânciaqueasactividadesespecificamentedirigidasa“bébés”assumemnasbibliotecas,protagonizandoprovavelmenteumalinhainovadoranoseiodaofertadestasacções.

quantoaosresultadosrelativosaoRegisto das actividades – parâ-metrosdegestãoeavaliaçãoqueinformamsobreaparticipaçãodospúblicosnasactividades–édenotarque,nototaldeequipamentosinquiridos,92%procedemaoregistodonúmerogeraldeentradas,massomente72%registamonúmerodeparticipantesemactivida-despedagógicas/formativas.

o registo do número de visitantes/participantes faz parte, demodoquasegeneralizado,dasfunçõesdegestãoeprogramaçãodosequipamentos culturais inquiridos, independentemente do génerodeactividadesdesenvolvidas.oconhecimentodonúmerodeentra-dasquecadaactividadecontemplaéumindicadordareceptividadeàofertaculturalproposta.podedizer-sequeéumindicadormínimoda gestão dos equipamentos na medida em que dá a conhecer aquantidadedevisitantes–podendoinclusivegerarsériescronológi-casrelativasàevoluçãodasentradas–maséomissoquantoaoutrascaracterísticas. Com efeito, conhecendo alguns elementos sócio-culturaisdospúblicospoder-se-iagerirtodaaprogramaçãocultu-raldeformamaisinformada.ouseja,programar,porexemplo,deacordocomosinteressesdecertospúblicosqueseprocurafidelizar,oudivulgarumaofertaespecíficaparasegmentosquesepretendaatingir/conquistar.

porexemplo,algumasestruturasculturais,procurandodivulgara sua programação e fidelizar alguns dos seus públicos, começa-ramasolicitaraosseusvisitantesopreenchimentodefichascom

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 131

Tipo de equipamento por Público-alvo das actividadespedagógicas / formativas(percentagem em coluna)

n=273[quADRoNº23]

Nota:perguntaderespostamúltipla.Asomadasparcelasultrapassaos100%.

132 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

elementosmínimosdeidentificaçãoparaacomposiçãodemailing lists. Deste modo é-lhes possível divulgar a agenda cultural parapúblicos interessados,procurandotornarporventuramais regula-res as visitas destes públicos. outros equipamentos (embora emmuito menor número) também procuram conhecer mais porme-norizadamenteosseuspúblicosesolicitamaelaboraçãodeestudosespecíficos.Atravésdelesépossívelobterumacaracterizaçãodosvisitantes/espectadoreseterumaavaliaçãodareceptividadeàpro-gramaçãocultural86.

os dados do inquérito revelam uma atenção crescente, porparte dos responsáveis, ao registo de entradas nos equipamentosculturais, visto que, a grande maioria das estruturas parece ter“rotinizado” esse procedimento. No entanto, para as actividadespedagógicas/formativas, embora também se verifiquem percenta-genssignificativasdeequipamentosqueregistamonúmerodepar-ticipantes nas acções, não é um procedimento tão generalizado.Este resultado pode eventualmente significar um menor investi-mentoporpartedosequipamentosnadinamizaçãodestasactivi-dades,sendoentendidas,comojásefeznotarnoutropontodestecapítulo,comomeramentecomplementaresàsactividadescentraisprogramadaspelosespaços.

o gráfico nº 3 mostra que o registo de participantes nas acti-vidades dos serviços educativos é sobretudo mais frequentes nosMuseus (89%), no património (86%) e nos Teatros (80%), sendoglobalmente menos frequente nas bibliotecas, dado que a práticamaiscomumserá,nestescasos,oregistodosempréstimos(aquinãocontabilizado).

86 Veja-se,porexemplo,oestudosobreospúblicosdoTeatroS.João(Santos,Nuneseoutros,2001).

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 133

registo de participantes nas actividades pedagógicas / formativaspor Tipo de equipamento

(percentagem)n=273

[GRáFiCoNº3]

O universo escolar no centro das actividades pedagógicas / formativas

para o conjunto de equipamentos que contabilizam o númerodeparticipantesnasactividadespedagógicas/formativas(192equi-pamentos) e que indicam o total de participantes nas actividadesrealizadasem2005,regista-sepertode1,5milhõesdeentradas(ouparticipações),oqueperfazumamédiade7.400visitas/anoporequi-pamento(quadronº24).

quandoseafereamédiadeentradasporestruturatorna-seevi-dentequesãooslocaisassociadosaopatrimónioculturalquesomammais visitantes. Note-se que nesta categoria se encontram incluí-dos sobretudo equipamentos tutelados pela Administração central

75,0

52,4

51,6

65,7

80,0

88,5

85,7

25,0

47,6

46,9

34,3

20,0

11,5

14,3

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Outros

Auditório / Fórum

Biblioteca

Centro cultural

Teatro / Cine-teatro

Museu

Património

sim não ns/nr

134 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

ealgunscomforteafluênciadevisitantesnacionaiseestrangeiros87.Emsegundolugar,mascommenosdemetadedevisitantesemmédia,surgemosCentrosculturais–oquesedeveprovavelmente,comoreferido,àgrandecapacidadedealgumassalas.

o total de participantes em acções de acordo com o público-alvo, permite verificar que mais de metade corresponde a públicoescolar,oquenãosurpreende,vistoqueuma larga fatiadaoferta,comoatrásseevidenciou,destina-seprecisamenteaestesegmento(quadronº25).Note-seaindaqueparaoconjuntodeequipamentos

87 incluem-senesteconjuntoopaláciodequeluz,opaláciodeSintra,oConventodeMafra,entreoutros.

Total de participantes em actividades pedagógicas / formativas,por Tipo de equipamento com oferta destas actividades

[quADRoNº24]

Tipo de equipamento Nº de participantes % Total de respostas Média de participantes

Auditório/Fórum 27.432 1,9 10 2.743,2

biblioteca 170.012 12,0 33 5.151,9

Centrocultural 233.793 16,5 22 10.627,0

Teatro/Cine-teatro 112.877 8,0 31 3.641,2

Museu 546.151 38,5 76 7.186,2

património 263.916 18,6 12 21.993,0

outros 63.220 4,5 8 7.902,5

Total 1.417.401 100,0 *192 7.382,3

Nota: Só 192 equipamentos forneceram informação sobre o total de participantes em actividades pedagógi-cas/formativas.Doconjuntode273equipamentos,75afirmamnãofazeroregistodonúmerodeparticipantesemactividadespedagógicas/formativase6nãoresponderam.Desviopadrãodavariávelcorrespondenteaonúmerodeparticipantes=12029,71;Valormínimo=45;Valormáximo=97968

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 135

queforneceminformaçãosobreonúmerodeparticipantese,especi-ficamentesobrepúblicoescolar,104discriminamosgrausdeensinodesses mesmos participantes. o quadro nº 26 torna evidente queosmaisfortesconsumidoresdaofertaproporcionadapelosserviçoseducativosdosequipamentosculturaissãocriançasentreos6eos9anosfrequentadoresdo1ºciclodoensinobásico.

Saliente-se,porúltimo,onúmerodeparticipantesdeacordocomalocalizaçãogeográficadosequipamentos(quadronº27).AáreaMetropolitanadeLisboaapresentaocontingentemais elevadodeparticipantes,abarcando40%dototalregistadonaamostra.Anali-sando,porém,amédiadeparticipantesporregião,éaáreaMetro-politana do porto que sobressai de forma muito expressiva. Esta

Total de participantes em actividades pedagógicas / formativas de acordo com o Público-alvo

n=133[quADRoNº25]

Público-alvo Nº de participantes % Total de respostas

públicoemgeral 262.840 23,3 87

bebés 2.759 0,2 12

públicoinfantil/juvenil 114.348 10,2 69

públicoespecializado 21.536 1,9 36

profissionaisdeeducação 13.866 1,2 61

públicocomnecessidadesespeciais 7.137 0,6 38

Famílias 20.856 1,9 37

outros 24.638 2,2 43

públicoescolar 657.855 58,4 116

Total 1.125.835 100,0 133

Nota: Só 133 equipamentos forneceram informação sobre o total de participantes em actividades pedagógi-cas/formativasdeacordocomopúblico-alvo.

136 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Total de público escolar por Grau de ensinon=116

[quADRoNº26]

Níveis de ensino da categoria “Escolar” Nº de participantes % Total de respostas

públicopré-escolar 76.205 11,6 70

público1ºciclo 181.920 27,7 94

público2ºciclo 91.337 13,9 72

público3ºciclo 98.964 15,0 62

públicoensinosecundário 86.274 13,1 71

públicoensinosuperior 27.294 4,1 44

Nãodiscriminado 95.861 14,6 12

Total 657.855 100,0 116

visibilidade está certamente associada ao desenvolvimento muitosignificativoqueosserviçoseducativosdaFundaçãodeSerralvesedaCasadaMúsicatêmrealizadoaolongodosúltimosanos.

procurando sintetizar alguma das principais características dasactividades pedagógicas/formativas, sublinhe-se em primeiro lugaro número significativo de equipamentos que promovem um lequediversificadodeacçõesao longodeumano, sendoessavariedademaisevidenteparaoconjuntodebibliotecaseMuseusresponden-tes.Aindaaesterespeitorefira-sequeadiversidadedeactividadesétantomaisalargadaquantomaioradimensãodasequipasencarre-guesdasactividadespedagógicas/formativas.

Apesar de se detectar uma afinidade de actividades de acordocom o domínio artístico prevalecente em cada espaço, o tipo deacçõespedagógicas/formativasdesenvolvidassãoindependentesdanatureza cultural e artística dos equipamentos. ou seja, as visitasguiadassãoadoptadaspelosmuseusmastambémpelosteatros,assim

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 137

como os espectáculos são programados pelos espaços patrimoniaisoubibliotecas.Estacaracterísticaétambémumreflexodacrescentemultidisciplinaridadedaactividadeartísticaedamobilizaçãodedife-renteslinguagensparacomunicaraarteeacultura.oscruzamentos,sincretismosehibridaçõesdaactividadecriativatêmtambémoseureflexonaorganizaçãodasactividadesdasestruturasdemediação.Característicasdaculturacontemporâneaaquenãosãoalheiososserviçoseducativosdasinstituiçõesculturais.

outranotasignificativa,emboraesperada,éofactodouniversoescolar assumir um vasto domínio quer na planificação de acções

Número de participantes em actividades pedagógicas / formativas,por Localização geográfica

(percentagem em linha)n=192

[quADRoNº27]

Localização geográficaNº de

participantes%

Total

de respostas

Média

de participantes

áreaMetropolitanadoporto 236.049 16,7 17 13.885,2

Norte,exceptoAMp 196.634 13,9 33 5.958,6

Centro 268.623 19,0 49 5.482,1

áreaMetropolitanadeLisboa 572.291 40,4 62 9.230,5

Alentejo 81.936 5,8 13 6.302,8

Algarve 33.687 2,4 8 4.210,9

R.A.Madeira 10.166 0,7 6 1.694,3

R.A.Açores 18.015 1,3 4 4.503,8

Total 1.417.401 100,0 192 7.382,3

Nota:Só192equipamentos(68%)forneceraminformaçãosobreototaldeparticipantesemactividadespeda-gógicas/formativas.Desviopadrãodavariávelcorrespondenteaonúmerodeparticipantes=12029,71;Valormínimo=45;Valormáximo=97968

138 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

(a escola comopúblico-alvopreferencial) querno correspondentenúmerodeparticipantesnasacções.Realcesobretudoparaosalunosdo1ºciclo,oquesepoderáeventualmentejustificarpelamaiorfaci-lidadedeplanificaçãodeacçõesparaalunosaindaintegradosnumsistemademonodocência.

4.4. oRGANizAçãoDASACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS

o desenvolvimento de actividades de natureza educativa nosequipamentosculturaisnemsemprecorrespondeàexistênciadeser-viços formalmente constituídos.Emborasejaperceptívelumatendên-ciaparaoprogressivodesenvolvimentodeacçõespedagógicasnosequipamentos culturais, na verdade, as actividades desta naturezanemsempreganhamvisibilidadenaorganizaçãoorgânicadosespa-çosculturais.

o facto, em si, não invalida que estas práticas assumam umaimportante centralidade e significado no conjunto das actividadespromovidas.porvezes,a reduzidadimensãodasestruturas,e/ouoescassonúmerodepessoasquecompõemassuasequipas,poderãoser razões suficientesparaquenãoexistaumserviço formalmenteconstituído. por outro lado, o facto das actividades pedagógicas/formativasnãoestaremreunidasnumserviçoespecíficopoderátam-bém significar que são entendidas pelas direcções dos respectivosequipamentoscomofunçõessobretudocomplementaresàactividadeconsideradacentraleprioritária.Nessamedida,osobjectivosdeline-adosparaessesserviçosserãodiferentesdeoutrosqueapostamnasacçõesdestas estruturasparaoaumentoe/oudiversificação socialdosseuspúblicos.

Comefeito,acriaçãodeserviçoseducativos,emborasendoumatendência crescente, pode cumprir objectivos diferenciados nosrespectivos equipamentos culturais. Estas diferenças podem estarrelacionadascomasopçõeseorientaçõesconcretasdasdirecções,

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 139

mas também com obstáculos de ordem funcional ou mesmo, emalgunscasos,comresistênciasprofissionaiselutasdeprotagonismo.Veja-se,porexemplo,apropósitodosmuseusdearte,atensãoentrecuradoreseeducadores,naconcepçãoenagestãodasexposições.“(…) A relação deste grupo de profissionais [curadores] com oseducadorestemenvolvidoalgumatensãodecorrentedetradicional-mentetrabalharemdeformanãointegradaedeossegundossurgi-remnaetapafinaldalinhademontagemdasexposiçõesconcebidaselançadaspelosprimeiros”(Martinho,2007:80).

oexercíciodas actividades educativas enquanto serviços com-plementares, está relacionado, na opinião de alguns autores, comum “entendimento restrito do termo educação”. De acordo comAlloway,o seu significadopassoua traduzir “oconjuntodevisitasescolares,visitasguiadas,conferências(…)eserviçosàcomunidade,tudoactividadesperiféricasàcolecçãoeàsexposiçõestemporárias.oscuradoresfrequentementefacultamaodepartamentodeeduca-ção“deixas”enotasparaoprogramaalargado,masfazem-nocomouma ocupação adicional, não como uma actividade central (...)”(Alloway,1996:230,citadoemMartinho,2007:78).

procurando sistematizar, ainda que simplificadamente, o modocomo estão organizadas as actividades pedagógicas/formativas dosequipamentosculturais,podemconsiderar-seduasformasdistintas:i) as que são desenvolvidas sem estarem ligadas a um serviço oudepartamentoespecífico;ii)asqueseapresentamconstituídasnumserviçoespecializado–namaioriadoscasosdenominadosdeserviçoseducativosoudesignaçõesafins.

Noprimeirocaso,asactividadespedagógicas/formativasdosequi-pamentoscorrespondemàrealizaçãodeumconjuntodeactividadesdesenvolvidascomregularidadesemestaremorganizadasnumser-viçoespecífico.Seporumladopodemestarassociadasacenáriosdemenor(ourelativa)importâncianoconjuntodasacçõesdesenvolvi-das–assumindofunçõessobretudodenaturezacomplementar–poroutrolado,nãoobstanteainexistênciadeumserviçoformalizado,podemassumirumafunçãorelevantenoconjuntodasactividades,

140 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

aindaquepossamestarcondicionadasporfactoresrelacionadoscomaescassezderecursoshumanosemateriais.

osegundocasocorrespondeàexistênciadeumnúcleoespecí-ficonaorganizaçãofuncionaldoequipamentocujaactividadeprin-cipalpassapelodesenvolvimentodeacçõespedagógicas/formativas.Estabelecendo um paralelo com o perfil anterior, note-se que aconstituiçãodeumserviçopodesignificar,globalmente,umamaiorimportânciaatribuídaàsactividadesdestanatureza.Contudo,estaparticularidade,sóporsi,nãoésuficienteparaconcluirdainfluênciaouimportânciadosectoreducativonagestãodosespaçosculturais.Comefeito,aexistênciadeserviçosdestanaturezanãopermiteinfe-ririmediatamentesobreaefectivaassunçãodeumapolíticaeduca-tivatransversalatodaaactividadedoequipamento.Aesterespeitoa coordenadora da Rede portuguesa de Museus refere: “é muitoimportantequeocumprimentodafunçãoeducativatenhaexpres-sãoorgânicanomuseuatravésserviçoeducativo(SE),istoé,queoSEsejaumserviçodentrodomuseu.Masomais importanteé,eudiria,haverumapolíticaeducativaassumida,peloprópriodirector,comoumaprioridade,talcomoassume,porexemplo,apolíticadeexposições”88.

oconjuntodeinformaçãoreunidapeloinquéritoindiciaprecisa-mentemodosdeorganizaçãodasactividadespedagógicas/formativasmuitodiferenciadosquepoderãoestarnãosóassociadosàsopçõesorgânicasqueenquadramestasactividades,comotambémaoutrosfactores, designadamente: i) estatuto jurídico dos equipamentos onde estão inseridas;ii)vocação cultural e artística do equipamento;iii)objec-tivos e estratégias delineados pelas direcções; iv) definição das equipas(númeroeformaçãodoscolaboradores,vínculosdetrabalhoemodosdeprestaçãodaactividade);v)definição das actividades(noqueres-peitaàsuaregularidadeediversidade);vi)condições físicas e materiais disponíveis);vii) afluência de visitantes / participantes.

88 EntrevistarealizadaàresponsávelpelaRedeportuguesadeMuseus(RPM),nodia1deFevereirode2007.

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 141

Acombinaçãodasdiferentespossibilidadesgeranecessariamenteumamultiplicidadedemodosdeorganizaçãodistintos,difíceisdetipi-ficar.Asvariáveismobilizadaspeloinquéritocontribuem,noentanto,paraapontartendênciasnosmodosdeorganizaçãodasactividadespedagógicas/formativas. Destaque-se em particular o significativonúmerodecolaboraçõespontuaisnaaferiçãodomododeprestaçãode trabalho.Estedadoremeteparaapossibilidadedasactividadespedagógicas/formativasseremdesenvolvidascomrecursoaprofissio-naisexternos,enquadradoseventualmenteemprojectosespecíficos.Nessesentido,osmodelosorganizacionaisassentesnorecursoapro-fissionaisouactividadesexternas,incluirãoumlimitadonúmerodecolaboradorespermanentesquetenderãoaassumiressencialmenteasfunçõesdeprogramação.Estetipodemodeloorganizacionalpoder-se-á adequar mais ao desenvolvimento de actividades em equipa-mentosvocacionadosparacertosdomíniosculturaiseartísticosdoqueoutros,noentanto,comoseviurelativamenteàcaracterizaçãodasactividadespedagógicas/formativas,atendênciapresenteéparaaadopçãotransversaldediferentesmodalidades(ateliês,exposições,espectáculos,visitasguiadas)aqualquerdomínioculturaleartístico(GomeseMartinho,2009).

Veja-se,poroutrolado,oelevadonúmerodecolaboradoresqueexercemasactividadeseducativasconjuntamentecomoutrasfun-ções do equipamento, sugerindo um modelo organizacional maisfechado–nosentidoemqueadinamizaçãodasactividadesdepen-derásobretudoderecursosinternos.Estemododeorganizaçãodasactividades,podendoapontar,porventura,paraummenorrelevodas acções pedagógicas/formativas no conjunto das actividadespromovidaspelosequipamentos,podesimplesmentesignificarumaeventual limitaçãoderecursoshumanosparaodesempenhodes-tasactividades,outratar-sedeummododeorganizaçãoadoptadoporequipamentosdemenoresdimensões(tantonoqueconcerneà área física ocupada, como às actividades propostas e afluênciadepúblicos).Veja-seemparticularocasodasbibliotecas,ondeasacçõesdepromoçãodo livroeda leitura serão,emalgunscasos,

142 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

desenvolvidaspelostécnicospertencentesaosquadrosdepessoal,exercendoestes,simultaneamente,outrasfunçõesinerentesàsuaespecialização.

Note-setambémquenoscasosdosequipamentostuteladospelasautarquiasquenãoacolhemumadirecçãoartísticaouequipasespe-cializadas,asactividadessão,nasuamaioria,programadasportécni-coscamarários.Nestescasos,asactividadespedagógicasnãoestão,regrageral,organizadasnumserviço,nãoapresentandotambémumadesignaçãoparticular– tal comosepodeobservarnográficonº4alusivoàsdesignaçõesatribuídasaosserviçosouactividadeseducati-vas/formativasdosequipamentosinquiridos.

A categoria “Sem designação” refere-se precisamente ao con-juntodeactividadesdesenvolvidaspelosserviçoscamaráriosparaosespaçosquetutelam,representando15%dototaldaamostra.

ApropósitodasDesignações adoptadaspelosequipamentosparadenominar as actividades pedagógicas/formativas, verifica-se que42% perfilha do termo Serviço educativo ou de uma designação

Designação das actividades pedagógicas / formativas dos equipamentos culturais

(percentagem)n=282

[GRáFiCoNº4]

Ns/nr

Sem designação

Outras designações

Serviços Educativos e afins

11,4

14,741,8

32,2

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 143

afim; e32% refereoutros termos, entreosquais oquedesignaas“actividadesdepromoçãodolivroedaleitura”adoptadopelasbiblio-tecas. Nem todas as bibliotecas apresentam um serviço exclusivoencarreguededinamizarasactividadesdepromoçãodo livroedaleitura,emboraalgumas,dadoovolumedeactividadesregularmenteprogramadas,tenhamequipasespecíficassomentededicadasàquelasacções.Deumtotalde65bibliotecasinquiridas,42%declaramterum serviço ou uma equipa constituída para a programação destasactividades.

Práticas organizacionais: sub-aproveitamento das redesconstituídas para a programação das actividades educativas

omododegestãoeorganizaçãodasactividadespedagógicas/for-mativasinfluencianecessariamenteaformade articular a programa-ção geral dos equipamentos e a sua programação pedagógica / formativa. De acordo com os dados do inquérito, mais de metade dos equi-pamentos inquiridosdeclaramprogramare realizarconjuntamenteasactividadesgeraiseasactividadeseducativas(56%)eumquarto(25%)planeiaseparadamenteasactividadesearticula-asaquandodasuarealização(gráficonº5).

Algumaliteraturasobreopapeldosserviçoseducativosnasorga-nizaçõesculturais(Alloway,1996;Yrjö-Koskinen,2000)reforçapre-cisamente anecessidadede articulaçãodas actividades educativascomasrestantesactividadesdinamizadasnosequipamentos.oquesetemverificado,deacordocomalgunsautores,éaassunçãodeumafunçãosobretudocomplementaroudeapoioaosserviçosentendidoscomocentraisnasorganizaçõesculturais.pornorma,asactividadessãoprogramaspelonúcleoartístico/culturaldoequipamentoepos-teriormentetransmitidasaosserviçoseducativosque,combasenosconteúdospreviamentedefinidos,adaptam,porsuavez,asactivida-desdeacordocomastemáticasenecessidadesentãodefinidas.

A propósito de “boas práticas” no que respeita às actividadesdosdepartamentosouserviçoseducativosdasinstituiçõesculturais,

144 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Tuula Yrjö-Koskinen (2000)89, sublinha a necessidade de seremgarantidos interfacesentreos serviçoseducativosdasorganizaçõeseonúcleoartísticoecriativodasinstituições.Deacordocomestaautora,otrabalhoeducativoecomunitáriodeumaorganizaçãopodeestarcomprometidocomaausênciadeumaplanificaçãointegradajuntamente com a actividade artística desenvolvida nessa mesmaorganização.

os resultados do presente estudo vão, de facto, no sentido deumaarticulaçãoentreosváriosserviçosexistentesnosequipamen-tos.Coloca-seaquiahipótesede,emalgunscasos,nãoexistirumaseparaçãoorgânicae funcionalefectivaentreasactividadesgeraise as actividades educativas dos equipamentos. o facto de uma

89 Redactora do Relatório Mosaic (Managing an open and Strategic Approach inCulture)–ArtsorganizationsandtheirEducationprogrammes:respondingtoaneedforchange.Relatóriode2000paraoConselhodaEuropa.

1,1

8,4

9,2

25,3

56,0

0 10 20 30 40 50 60

ns/nr

Planeadas e realizadas separadamente

Planeadas em conjunto realizadas em separado

Planeadas em separado realizadas em

articulação

Planeadas e realizadas em conjunto

relação entre a Programação geral e a Programação pedagógica / formativa(percentagem)

n=273[GRáFiCoNº5]

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 145

percentagem elevada das actividades pedagógicas/formativas nãocorresponderem a serviços formalmente constituídos (integrandopessoal com competências específicas), poderá ser uma das razõesparaaplanificaçãoeRealizaçãoConjuntadasactividadesreferidaspormaisdemetadedosequipamentosinquiridos.

Deentreosaspectosquecontribuemparaaorganizaçãoeges-tãodasactividadesdosequipamentosculturaise,particularmente,dasactividadespedagógicas/formativas,refiram-seasqueimplicama definição de uma programação com recurso a agentes e meiosexternos, tais como a realização de parcerias e a pertença a redesdeprogramaçãoouequipamentos.Entreasquestõesabordadaspeloinquérito,atente-senasqueprocuramcaracterizarmodosdegestãoeplanificaçãodasactividadespedagógicas/formativascomrecursoàconstituiçãodeparcerias.

Deacordocomasrespostasfornecidas,acelebraçãodeacordosdecooperaçãofazpartedasdinâmicas inerentesàorganizaçãodasactividadespedagógicas/formativasparaumaparcelamuitosignifi-cativadeestruturas–85%dosrespondentesdeclaraterestabelecidoacordos durante o ano de 200590. De entre as entidades parceirasenumeradas,asescolassãoasquemaissedestacam,tendosidoassi-naladasporquase2/3dosequipamentosinquiridos(63%).Saliente-setambémasassociaçõeslocaisreferidaspor45%dosrespondentes,podendodenotar-seumaexpressivaimportânciaatribuídaàcriaçãode interfaces com diferentes agentes da comunidade envolvente(quadronº28).

Não surpreende que as Escolas constituam um dos parceirosfundamentais dos equipamentos culturais com actividades peda-gógicas/formativas, dado que são as entidades que, de uma formageral,maisdinâmicageramnosserviçoseducativosatravésdevisitas

90 Note-se,porém,quenãoexisteinformaçãosobreoconteúdodasparceriasrealiza-das.Dadaavariedadedesituaçõesemqueotermo“parceria”éactualmenteutilizado,oquestionárioprocurourestringironúmerodepossibilidadessolicitandoapenasoscasosdeparceriasquetenhamresultadodeprotocolosouacordosduradouros.

146 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Entidades parceiras na dinamização de actividades pedagógicas / formativas nos equipamentos culturais

n=273[quADRoNº28]

Entidades parceiras N %

Associaçõeslocais 124 45,4

Câmaras 96 35,2

Escolas 173 63,4

outrosequipamentosculturais 79 28,9

outrosagentes(produtores/promotoresculturais) 104 38,1

outros 43 15,8

Nãoforamestabelecidosprotocolos/acordosdeparceriaem2005 46 16,8

Ns/nr 7 2,6

Nota:perguntaderespostamúltipla

escolares.Talcomoseviu,sãoopúblico-alvocentraldestesserviçoseosegmentomaisnumerosoemtermosdeentradas.

Aimportânciaprogressivaatribuídaàsestratégiasdealargamentodepúblicos,orelevodaeducaçãoartísticanaeducaçãoglobaldosindivíduoseascrescentessolicitaçõesdasescolasparavisitascultu-rais,terãosidorazõesfundamentaisparaoreforçodotrabalhocomeparaasescolasnosequipamentosculturais.Muitodessetrabalhopassa,inclusive,porconceberactividadescomligaçõesàsmatériascurricularesdosdiversosgrausdeensino.

Recorde-sequefoisobretudoatravésdotrabalhoeducativoreali-zadoparaumapopulaçãofundamentalmenteescolarqueosserviçoseducativoscomeçaramporseconstituiremportugal.posteriormenteforamalargandooseuâmbitodeacçãoàmedidaqueaspráticasrela-tivasàeducação foramatendendoaoutrosprincípios–princípios

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 147

fundamentalmente ligadosà formaçãoao longodavida.De facto,só mais recentemente os serviços educativos foram diversificandoactividadesepúblicos-alvo,estendendo-aspara ládeacçõesestri-tamentevocacionadasparaumapopulaçãoescolar.Apercentagemdeassociaçõescomasquaisosequipamentosinquiridosestabelecemparceriaspodecertamenteserentendidacomoumsinaldeaberturadosequipamentosculturaisaoutrosagentesdacomunidade(quadronº29).Esseenvolvimentocontribuiparaquemaismembrosparti-cipememactividadesquevisamoalargamentoecomunicaçãodeconhecimentoemespaçosdeaprendizagemnãoformal.procurandoaveriguarotipodetendênciasnoquerespeitaàrealizaçãodepar-cerias, os Teatros (note-se que o seu reduzido contingente obrigaa leituras cautelosas) foramos equipamentos quemenosparceriasrealizaramdurante2005.porseulado,osequipamentosinscritosnacategoriapatrimónioforamosqueestabeleceramacordosdecoope-raçãocomumamaiordiversidadedeagentes.

àsemelhançadoquesãoastendênciascontemporâneasrelati-vamenteàprogramaçãodaactividadeculturaleartística–nomea-damenteasuaorganizaçãoemredeparamelhorresponderàneces-sidade de regularidade, qualidade e diversidade – também algunsserviços educativos beneficiam deste modelo de gestão das activi-dades.

Recorde-sequeumdoscritériosquepresidiuàdefiniçãodouni-verso de equipamentos a inquirir se reportou precisamente à suainclusãoemredesnacionais–designadamenteasredesdebibliote-cas,demuseusedeteatros/cine-teatros.Noentanto,somente41%dosequipamentosinquiridosafirmambeneficiardasredesnacionaisnoquesereportaestritamenteàgestãoeprogramaçãodeactivida-despedagógicas/formativas.Noquerespeitaaredesinternacionais,umaparcelasignificativamenteinferior(6%),beneficiadesteinstru-mento de gestão. No primeiro caso, são claramente as bibliotecaseosMuseusquerepresentamafatiamaisextensa–sendoosespa-çospolivalentesosque,poroutrolado,menossemobilizamparaoestabelecimentodecooperaçõesnacionais.Refira-se,paraocasodas

148 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Entidades parceiras por Tipo de equipamento com oferta de actividades pedagógicas / formativas(percentagem em linha)

n=273[quADRoNº29]

Nota:perguntaderespostamúltipla

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 149

bibliotecas,oprogramaNacionaldepromoçãodaLeitura,instituídopeloentãoIPLBem1997.umprogramaqueatravésdeuma“bolsadeacções”(deespectáculos,leituraencenadas,conversascomescri-tores,etc.)procuradisponibilizaràsbibliotecasdaRnBPeaoutrasinstituições91 uma animação regular e diversificada em torno dastemáticasdolivro.Asconexõesalémfronteirassãomaioritariamenteconcretizadaspelosequipamentosintegradosnacategoriaoutros92(25%),seguidosalargadistânciapelosMuseus(9%)(gráficonº6).

91 Comoporexemplo,aDirecção-GeraldosServiçosprisionais.92 Recorde-sequenacategoriaoutrosestãoequipamentosmultifuncionaisederefe-rêncianopanoramaculturalportuguês,masque,dadooseureduzidonúmeroeapoli-valênciadassuasactividades,optou-seporosconsiderarnumacategoriaresidual.

41,7

71,9

42,5

35,7

25,0

20,0

9,5

25,0

1,6

9,2

0,0

5,0

5,7

4,8

8,3

0,0

3,4

2,5

2,9

9,5

0,0

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Outros

Biblioteca

Museu

Património

Teatro / Cine-teatro

Centro cultural

Auditório / Fórum

Redes nacionais Redes internacionais ns/nr

Pertença a redes nacionais e / ou internacionais por Tipo de equipamento com oferta pedagógica / formativa

(percentagem)n=273[GRáFiCoNº6]

Nota:perguntaderespostamúltipla.

150 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

A reduzida mobilização internacional dos serviços pedagógi-cos/formativosnãoésurpreendentesetivermosemcontaopanoramanacionalnoquerespeitaapolíticasdeinternacionalização.Emboraaparticipaçãoemredesinternacionaissejaconsideradaumamaisvaliaparaagestãodaactividadeculturaleartística,sãopoucososagentesnacionaiscomparticipaçãoemprojectosoucircuitosinternacionais(Lourenço,2000;Gomes,Lourenço,Martinho,2006).

Destaquem-se,emsíntese,ostraçosmaissignificativosdascarac-terísticas organizacionais das actividades pedagógicas/formativas.Assiste-seaumatendênciaparaoaumentodonúmerodeequipa-mentoscomestasdinâmicas–talcomoseconstatouapropósitodadatadeconstituiçãodasestruturas inquiridas.odesenvolvimentodestas actividades está enquadrado em equipamentos que pode-rão,eventualmente,adoptarmodosdeorganizaçãomuitodiversos,dependentesdefactoresassociadosquerànaturezajurídicadosequi-pamentos onde estão integrados, quer a opções de ordem política(grandesorientaçõeseobjectivos)edegestão(equipas,actividades,meios).

Em termos gerais, verifica-se que algumas destas actividadespoderãoserdesenvolvidassemestaremenquadradasnumserviçoounúcleoespecífico,semquecomissolhesatribuamnecessariamentemenorrelevonoconjuntodasdinâmicasdosequipamentos.Comoseviu,umaparcelasignificativadosequipamentospertencemàAdmi-nistração local e, em alguns casos, são programados pelas equipascamaráriasque,namaioriadoscasos,têmaseucargoaprogramaçãodeváriosespaços,alémdeoutrasfunções.

outranotaderelevoédevidaàsligaçõescomoexteriorparaoexercíciodeplanificaçãoeprogramaçãodasactividades.Acoopera-çãocomoutrosagentesdáprioridadeàescola,emborasevislumbreumatendênciaparaumprogressivoalargamentoaoutrasentidades,taiscomoasassociações.Aindaqueumnúmeroimportantedeequi-pamentosinquiridosbeneficiedaorganizaçãoemredeparaapromo-çãodeactividadespedagógicas/formativas,tambémsãoperceptíveisasestruturasque,emboraintegradasemredesnacionais,nãotiram

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 151

vantagem deste dispositivo para a programação de actividades denaturezaeducativa.

Síntese

Refiram-se,paraterminar,asprincipaisnotasdaanáliseaosdadosresultantesdoinquéritoàsactividadespedagógicas/formativas.

oprimeirodestaquereenviaparaoaumentodonúmerodeequi-pamentos com acções educativas, reflexo, em parte, de políticaspúblicasempenhadasnademocratização da procura.Estasorientaçõessão visíveis em equipamentos já com alguma tradição na dinami-zação de acções educativas, tais como as bibliotecas e os Museuse surgemmais recentementeemequipamentos recémconstruídos,frutodeinvestimentosnacriaçãodeinfraestruturas,taiscomocen-trosculturais,auditórios,ououtrosrecémrequalificados,taiscomoteatrosecine-teatros.

Sublinhe-se também a feminização e juvenilização das equipasencarregues das actividades educativas dos equipamentos, o queremete,porumlado,paraumdostraçoscomunsàsprofissõesnasáreaseducativas/pedagógicas–mulheressobrerepresentadas–e,poroutro,paraofactodestaáreadetrabalhopoderviraconstituirumpóloderecrutamentodejovensprofissionaisespecializados.

Noquerespeitaaosmodosdeorganização,anotademaiorrelevorecaiprecisamentenagrandediversidadedemodelos,dificultandoatipificaçãodeperfisorganizacionais.

Realce-seaesserespeitoas funçõesdesempenhadasfundamen-talmenteem regimedecumulatividadeeporpessoal comvínculopermanenteàinstituição.Estecenárioorganizacionalparaodesen-volvimento das actividades pedagógicas/formativas, aparentandoum menor grau de estruturação orgânica dos serviços educativos,poderepresentarummodelo,entreoutros,adequadoàscaracterísti-casjurídicas,institucionaisefuncionaisdealgunsdosequipamentosou,poroutrolado,dever-seacondicionantesfísicasemateriais.Maspodetambémsignificarqueasactividadeseducativasassumemuma

152 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

funçãomeramentecomplementarrelativamenteàactividadeconsi-deradaprioritárianosequipamentos.Nesteúltimocaso,sublinhe-seoriscodepoderemestaraserdesenvolvidasactividadessemobjec-tivos ou missões concretas, desintegradas de planos estratégicos erealizadasdeformaavulsaepontual.Estecenárioémaiscondizentecomapromoçãodeactividadesdemeraanimaçãoemenoscompolí-ticasdeefectivaformação de públicos.

Destaquetambémparaosqueexercempontualmenteestasacti-vidades, indiciando a presença de trabalhadores temporários queintegram, porventura, projectos ou actividades criativas pontuais.Aprestaçãoesporádicadetrabalhonestaáreadeactividaderemeteparaapossibilidadedosequipamentosrecorreremàexternalizaçãode serviços (outsourcings). A criação de serviços educativos pode,enquanto campo de actividade emergente, potenciar tendencial-menteacriaçãodenovasdinâmicasprofissionaiseempresariaisatra-vésdacriaçãodemercadosespecíficos.

énítidaatendênciaparaadiversificaçãodotipodeactividadespropostas e para a multiplicação de públicos-alvo. A variação dolequeeactividadespropostaséacompanhadadeumacertapadroni-zaçãodeformatos,istoé,sãocomunsaosváriostiposdeequipamen-tos,porexemplo,asvisitas guiadas, exposições, ateliês, assumindoum figurino semelhante independentemente do domínio artísticoprevalecenteemcadaequipamento.

Frise-seopredomínioclarodeactividadesvocacionadasparaouniversoescolar(alunoseprofessores)ecorrespondentevolumedeprocura, pese embora o alargamento da programação a diferentespúblicos-alvo.Emborapareçacrucialaligaçãoentreosequipamen-tosculturaiseouniversoescolar,parecenecessáriaumareavaliaçãodomodocomoéestabelecidaessarelaçãodadoque,emalgunscasos,se corre o risco de torná-la meramente instrumental. Se, por umlado,paraosqueprogramamasactividadespedagógicas/formativas,aescolapodeconstituirumaespéciedearmazémdepúblicosgaranti-dos,paraprofessoresourepresentantesdainstituiçãoescolarasvisi-tasesporádicaspodemsimplesmentecumprirumasaídapontualno

iNquéRiToàSACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 153

programacurricular,semlastronoquetocaaexperiênciasvivenciaispromotorasdeconhecimento.

Realce-seporúltimo,atravésdeumquadrosíntese(quadronº30), os principais resultados do inquérito ventilados por tipo deequipamento. Veja-se, em termos médios, o peso significativo dosCentrosculturaisnoquerespeitaatodasasvariáveisconsideradase, emparticular, o volumeexpressivodeparticipantes emespaçospatrimoniais.

Síntese de algumas das variáveis de caracterização das actividadespedagógicas / formativas por Tipo de equipamento

(média anual)[quADRoNº30]

Tipo de equipamento

Média

de participantes

n=192

Média

de sessões

n=198

Média

de colaboradores

n=262

Média do leque

de actividades

realizadas

n=273

Auditórios/Fóruns 2.743,2 53,4 10,9 6,1

biblioteca 5.151,9 122,7 6,6 7,7

Centrosculturais 10.627,0 639,7 12,3 6,7

Teatros/Cine-teatros 3.641,2 43,9 6,8 6,1

Museus 7.186,2 187,7 7,2 6,8

patrimónios 21.993,0 576,4 9,9 6,1

outros 7.902,5 71,4 18,6 5,8

Total 7.382,3 219,7 8,5 6,1Nota:Resultadosreferentesàsactividadesrealizadasem2005.

5. ASACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS–CASoSiLuSTRATiVoS

Ainformaçãofacultadapeloinquéritonãopermiteaferirtodasasdimensõesdaactividadedosserviçoseducativosdesenvolvidasnosequipamentosculturais,dadaanaturezasobretudoquantitativadaanáliseproporcionadaporesteinstrumentometodológico.

Nosentidodeconheceremtermos substantivosessasdinâmicasmenosperceptíveis,foramrealizadasentrevistasaresponsáveispelasactividades educativas de três equipamentos integrados na amostraconstituídapeloinquérito–umMuseu,umTeatro,eumabiblioteca.

Aescolhaobedeceuatrêscritériosprincipaissugeridosporalgu-masdasconsideraçõesentretantoavançadascomaanálisedosresul-tadosdoinquérito.procurou-se,emprimeirolugar,abarcarespaçoscuja tutela pertencesse à Administração local. Além de serem osmais representados na amostra, evidenciam dinâmicas recentesnesteâmbito.Talcomosetemprocuradoevidenciaraolongodestetrabalho,asautarquiastêmvindoaassumirumprotagonismocres-centenapromoçãoegestãodaofertacultural,tantonoquerespeitaàconstruçãode infraestruturasculturais,comonadinamizaçãodeuma oferta que se pretende regular e diversificada.Este crescentedinamismopassatambémpelacriaçãodeserviçoseducativosoupeladinamizaçãodeactividadesdenaturezaeducativa/formativa.Nemtodasasautarquias,noentanto,adoptamosmesmosmodelosorgani-zacionaisoudefinemosmesmosobjectivosnodelineamentodassuasactividades.Comesseintuitoseprocuratambémdestacarexemplosdiversosnosmodosdeorganizarepromoveressasactividades.

156 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Aexistênciadeequipasespecíficasparaadinamizaçãodosservi-çosconstituiuumsegundocritérioparaaescolhadosequipamentosqueservemdecasosilustrativos.Ainformaçãoresultantedoinqué-rito, emborapermita caracterizaro grupodecolaboradoresque sededicaaestasactividadesatravésdoseuperfilsociográficoeformadeprestaçãodotrabalho,émaisomissaquantoàcaracterizaçãodasespecializaçõesoucompetênciasdoselementosque integramestasequipas, assim como ao modo de organização dos serviços. Nessesentidoprocurou-sequeoscasosanalisadosconstituíssemexemplossuficientementevariadosnestamatéria.

Finalmente,oterceirocritériotevesubjacenteainclusãodeequi-pamentosdedomíniosculturaiseartísticosdediferentesnaturezasquepromovamumlequediferenciadodeactividades.procurou-seabarcarestruturascomumaofertaalargada,incluindoasvocacionadasparaasescolas,mastambémcompropostasespecíficasparaoutrossegmentospopulacionais.Asentrevistasforamrealizadasaosrespectivosrespon-sáveispelosequipamentos,sendotambémeles,noscasosconsidera-dos,oscoordenadoresdasactividadesdosserviçoseducativos.

o presente capítulo está organizado de acordo com três eixostemáticos: i)Percursos–umbrevehistorialdacriaçãodosserviçoseducativos, tendo como objectivo contextualizar as actividadesactualmentedesenvolvidas;ii)Qualificações e competências –carac-terizaçãodaformaçãoprofissionaldoscolaboradoresdestesserviços;iii)Actividades–exemplosdealgumasactividadespropostasecarac-terizaçãodeobjectivosquelheestãosubjacentes.

5.1. pERCuRSoS

um dos aspectos comuns à história de cada um dos três equi-pamentos está intrinsecamente ligado à requalificação do espaçofísicoondeactualmenteédesenvolvidaaactividadequepromovem,dimensãoquevemaoencontroda tendênciaquetemvindoa serverificadarelativamenteaosinvestimentosaplicados,desdehácerca

ASACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 157

deumadécada,nainfraestruturaçãovocacionadaparaasactividadesculturais/artísticas, em particular pela Administração local. Regrageral,etalcomooCapítulo2destacou,os investimentospúblicosnaculturacomeçaramporseraplicadosnacriaçãoequalificaçãodeequipamentospara,mais recentemente, se redireccionaremparaadinamizaçãodaoferta(noquerespeitaaumaprogramaçãoregularediversificada)edaprocuracultural.

Comefeito,emboraestasejaumatendênciageral,aconsolidaçãodealgumaspráticaslocaispassaporpercursosdiferentesoumesmoinversos.éocasodahistóriaassociadaàcriaçãodosserviçoseduca-tivosnoMuseuqueaquirepresentaumdoscasosilustrativosabor-dados.Noiníciodosanos80,emboranãoexistisseumespaçofísicoconsagradoàdinamizaçãodeactividadeseducativas/formativasou–talcomoadirectoradestemuseupreferereferir–umespaçodedi-cado às “aprendizagens”, a criação das “maletas pedagógicas” porpartedosserviçosmunicipaisprocuravaresponderàfrequenteinsu-ficiênciadosmuseusedeoutrosequipamentosculturais locaisemmatériadecomunicaçãoedeformaçãoespecíficaparapúblicosdife-renciados.Ainiciativacomeçouporserdirigidafundamentalmenteaescolasmasrapidamentesealargouaoutrosagenteseinstituiçõesdacomunidade–taiscomohospitais,bombeiros,antigastabernas,entreoutros locais.Alémdadivulgaçãodopatrimónio local,estasvisitaspermitiramtambémconhecerereunir,emcolecção,peças/ins-trumentos utilizados no desempenho de várias profissões. Dada aausênciadeumespaçoondepudessemserreunidaseapresentadas,organizaram-se algumas exposições nos próprios locais de origemdestesmateriaisepromoveram-seexposiçõesitinerantes,levandoasescolasaconhecermodosefazeresdediferentesprofissões.

Aprimeira[maletapedagógica]tinhaumnomequeera“AsquatroEstaçõesnapintura”eoobjectivoeraexactamenteestimularacurio-sidade dos alunos e professores relativamente ao que o Museu lhespodiaoferecer.ComoamaioriadaspessoasnãoiaaoMuseu,comonãoconheciamoqueeraumMuseudeArteenãosabiamoqueéqueo

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Museulhespodiadar,nemcomoéquepoderiaserumrecursoparaaEscola,houveestaideia(….).porexemplo,umadasmaletaseraaquereuniapuzzlesdefotografiasqueeramimagensdeobrasdearte.umdospuzzleseraprecisamenteumadasobrasdeartedoJoãoVazondeexis-tiamreferênciasoupaisagensrelacionadascomasquatroestaçõesdoano.Depoistinhatambémumconjuntodemateriaisrelacionadoscomasestaçõesdoano:folhas,cortiça,ouumasconchas–materiaisquedealgumaformaserelacionavamcomessaspaisagens,comessesambienteequeapelavamparaapintura.

àmedidaque íamos tendocontactocomdiferentesgrupos sócio-profissionais,era-nossolicitadaavalidaçãodascolecçõesquenosapre-sentavam. por exemplo, os bombeiros tinham uma série de bombas,apetrechose instrumentos ligadosaos incêndiose fatosdeprotecção.Estudou-seintensamenteesseespólio,esseacervodosbombeiros,eficouláexposto.portanto,melhorou-seoespaçoecriou-seumasituaçãoparatrabalharamemóriadaquelaorganização.(…)Depoisessesdiferentesgruposforampercebendooquenóspodíamosfazerparavalorizaressespatrimónios materiais. por exemplo, os médicos diziam: «Nós temostantacoisa,temosimensosequipamentos,imensosapetrechos,imensascoisas,enãosabemosoqueéquehavemosdefazer.Sabemosquetêmvalor,umvalormuitograndeparaahistóriadamedicina,dastécnicasedosmétodos,mascomoorganizar?Comolhesdarsentido?Comolhedarvisibilidade?»,nofundo,comolhedarumdiscurso?Entãofizemosexpo-siçõeslánoátriodohospital(…)ecriámospequenasexposiçõesitine-rantes.Depoisoprópriohospitalcrioucondições–comvitrinas–parapreservaraquelepatrimónioquetinhaexposto.umaparteentretantoveioparacá[Museu],porqueelesnãotinhamcondições,masoqueépossívelpreservarnolocal,nósdefendemosquedeveaíserpreservado.

DirectoradoMuseu

ComaimplementaçãodoactualMuseunumaantigafábricadeconserva,em1987,(beneficiandotambémazonacircundanteatravésdeobrasderequalificaçãourbana)foipossíveltrazeralgumdoespólioentretantoreunidoparaesteespaço.oserviçoeducativodoMuseufoiinauguradodoisanosdepoisdasuaentradaemfuncionamento,

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incorporandoumajávastaexperiênciaacumulada.Tomandocomoreferênciaoano2005,esteserviçocontabilizouumtotalde15.275entradas,estandorepartidasemvisitasguiadas(49%);outrasactivi-dades–ondeestãointegradososateliêseanimaçõesvariadas(28%)–evisitantesindividuais(22%).

Note-sequeasvisitasguiadaspromovidaspeloserviçoeducativosãodesenvolvidastantonopróprioespaçoocupadopeloMuseu,comonoexterior,juntoalocaisderelevopatrimonial,ououtrosdeinte-ressegeral.oestímulosurgiusobretudodeescolaslocais,solicitandoàequipadoMuseuaorganizaçãodevisitasaváriospontosdeinte-ressedoconcelho.ovolumedepedidoslevouesteserviçoaprepararedesenvolverumlequediversificadodetemáticasparaapromoçãodasvisitas-guiadas.Em2005foramprogramadasactividadesagrupa-dasemduasmodalidadescentrais–asvisitasàhistória/patrimóniodoconcelhoeàsactividadeseconómicas/quotidianostípicos93.

Nocasodabiblioteca,atransferênciaparaumespaçorenovadoemodernamenteapetrechado,faztodaadiferençanotipodeofertaproporcionadaenovolumedaprocuradasactividadespromovidasporesteequipamento.Localizada inicialmentenumantigopaláciodesde1939–dataemqueabibliotecafoicriada–mudoudeinsta-laçõesem2003,anoemquepassoualocalizar-senumaantigacasasenhorial,depoisdestaterestadosujeitaaobrasderestauroealar-gamento.Noano2000passouaintegraraRedeNacionaldebiblio-tecaspúblicas(RnBP),assinandoocontrato-programacomoentãoIPLBparaaconstruçãodanovabiblioteca.Sótrêsanosdepoisabriuportasaopúblicointegrandotodasasvalênciasqueas“novas”biblio-tecaspúblicaspassaramadisponibilizar.Amudançadeespaço,pos-sibilitandooalargamentoediversificaçãodaoferta,veioaumentarexponencialmenteonúmerodevisitantes/utilizadoresdesteequipa-mento.Deacordocoma suadirectora, amudançade instalaçõespermitiupassardeumamédiamensalde300leitorespara4.500.

93 oserviçoeducativodoMuseupromove17visitas-tiponoexterior.Entreelas,visi-tasadiversoslocaisdopatrimóniohistóricoenaturaldoconcelho.

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oespaçodabibliotecanopalácioeramuitolimitado,masnãoerarazãoparanãofazermosactividades.FazíamosasactividadesdoLivroedaLeitura,nãodeformatãoabrangentecomoagora,umavezqueascondiçõessãooutras;maspromovíamosactividadestantoparaacomu-nidadeescolarcomoparaacomunidadeemgeral.Desenvolvíamos,eaindaofazemosactualmente,actividadesdeanimaçãoemqueolivroestivessesemprepresentedirectaouindirectamente–sempremantendoaideiadequeabibliotecaéumespaçodeinformação,independente-mente do suporte utilizado. obviamente que, vindo para aqui [novoespaço],nãosóalargámosolequedeofertamasonúmerodesessõesede leitores/frequentadores.EmJunhoeJulhotivemos9mil leitoressóaqui[excluindoospólos]Amudançadeespaçofoifundamental,oespaçochamaaspessoas,ofactodetermosjardimedeaproveitarmosestaáreaparaarealizaçãodeactividadeséimportante,masalémdissohouvesempreocuidadode,logodeinício,tersempreactividadesper-manentes,procurámosfidelizaropúblico.Começámostambémaperce-berqueatravésdascriançasconseguíamoschegaraospais.

Directoradabiblioteca

oTeatroqueservedecasoilustrativoétuteladopelaautarquiadesde1990.Manteve-seemactividade,albergandoumacompanhiadeteatro,até1997–dataemqueencerrouparaobrasderemode-lação.Veioa reabrirasportasaopúblicoem2004oferecendoumconjuntoalargadodeespaçoseactividadesculturais–saladeespec-táculos(comcapacidadeparaprojecçãodecinema,erealizaçãodeeventosde teatro,dançaemúsica); espaçopiano-bar;bar-galeria;espaço internet. o conjunto de valências reunido, assim como aregularidadeediversidadedaprogramaçãopensadaparadinamizarosváriosespaços,permitiramtrazerlogonoprimeiroanoumnúmeromuitosignificativodevisitantes.Deacordocomoactualresponsá-vel,areceitaparatãooelevadonúmerodepúblicosestaránãosórelacionada com a oferta de propostas culturais e artísticas diver-saseregularesmasigualmentecomfactoresexternos,entreeles,oreduzidonúmerodeespaços apropriadosnoconcelhoe arredores.DeacordocomoregistoestatísticodesteTeatro,em2005aoferta

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proporcionadapermitiupassardeumtotalde32.938visitantes/utili-zadores(dadosde2004)para47.110visitantes/utilizadores.

Note-seque,antesdareinauguraçãodoTeatroedadooinsufi-cientenúmerodeespaçosparaproporcionarumaoferta regular, adivisãodaculturadaCâmaraoptouporprogramaractividadesparaespaçosnãoconvencionais.Durantecercadeumadécadaaofertade actividades culturais e artísticas foi dinamizada em igrejas, jar-dins,entreoutros locais, indoaoencontrodepúblicosmuitodife-renciados.Estainiciativaterátido,deacordocomoresponsávelpeloTeatro,umefeitopositivonacriaçãodehábitosculturais juntodapopulação,sendotambém,porventura,umadasrazõesparaafortereceptividadeàsactividadesqueaqueleequipamentocomeçoupordesenvolver.

Em2004,quandofoireaberto,aindanãotinhasidoconstituídooserviçoeducativo,–oqueveioasucederumanodepois,comacontrataçãodeumatécnicacomformaçãoespecializada.Refira-seque,emboranãoexistisseumserviçoeducativoformalizado,eramjádinamizadasacçõesdeanimaçãoemespaçosalternativos.oactualserviçoeducativocomeçouporpromoveractividadesfundamental-menteparaasescolas–dandoespecialatençãoaoscurrículosesco-lares – e para um público infanto-juvenil. Só mais recentemente,durante2007,alargaramasactividadesaoutrospúblicos-alvo,ondeincluem,porexemplo,asfamílias.

Nostrêscasosreferidos,aqualificaçãodosespaçosterásidoumestímuloparaadiversificaçãoealargamentodonúmerodeactivi-dadesrealizadas,oqueterápermitidoacolherummaiorvolumedepúblicos.Apesardasanterioreslimitaçõesinfraestruturais,tambémnostrêscasoseramjádinamizadasactividadespedagógicas/formati-vasrecorrendo,emalgumasocasiões,aespaçosalternativos.

A vertente educativa/pedagógica, embora já anteriormentepresente na programação do Museu e da biblioteca, viria a serconsolidadaapartirdarequalificaçãodosequipamentos.NocasodoTeatro,asactividadeseducativas/pedagógicaslocaiseramjádinami-zadasapartirdosserviçoscamaráriosparaacultura–serviçosque

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integravamalgunsdoscolaboradoresquevieramdepoisdinamizaroespaçodoTeatro,comoseverádeseguida.

5.2. quALiFiCAçÕESECoMpETÊNCiAS

Emborasendoumcampoemavançadatransformação,acriaçãoeconsolidaçãodeserviçoseducativosemequipamentosculturaiséumapráticarelativamenterecenteemportugal,secomparadacomograudedesenvolvimentoalcançadonoutrospaíses.Nestecontexto,osaspectosrelacionadoscomaprofissionalizaçãodestaáreadetra-balho, designadamente a definição de formação e competênciasespecíficas,sãoquestõesaindapoucodesenvolvidas.

àmedidaqueaintegraçãodepolíticaseducativasnadinamizaçãodaactividadeculturaltemganhorelevo,tambémosaspectosrelacio-nadoscomaformalizaçãodestaactividadevãobeneficiandodemaiorvisibilidade.Recorde-se,arespeitodosectormuseológico,quejáem1982écriadaemportugalacarreirade“monitordeserviçodeeduca-çãodemuseus”dandovisibilidadeaumprojectodoiníciodosanos70que“pretendiatornarosmuseusaptosaincentivarumaacçãocria-tivaemobilizadoraapartirdariquezaediversidadedassuascolec-çõesatravésdepessoalespecializado”(Faria,2000:15).Noentanto,apesarda“oficialização”destaocupaçãonoquerespeitaaosmuseus,elanãopareceserextensívelatécnicosqueexerçamfunçõesseme-lhantesnoutrosequipamentosculturais.Alémdisso,mesmonoquerespeitaàcarreirade“monitordeserviçosdeeducaçãodemuseus”,mantêm-seaindahojepordefinire instituirosaspectos relativosàformaçãoequalificaçãoinerentesaoexercíciodaactividade,oquecomprometecertamenteoreconhecimentodestaáreadetrabalhoedosseustécnicoscomogrupoprofissionalespecífico.Aadopçãodeexpressõesvagastaiscomo“animadores”;“monitores”“guiasdevisi-tas”paranomearosquetrabalhamemserviçoseducativosé,porven-tura,paradigmáticodoaindareduzidopesoqueaactividadeerespec-tivostécnicosdetêmcomogrupoprofissional(Martinho,2007).

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Entreosfactoresquedificultamoprocessodeprofissionalizaçãodesta actividade, destacam-se dois. por um lado, a ainda reduzidasensibilidadeporpartedealgunsresponsáveisdeequipamentoscul-turaisparaaimportânciadestasactividadesnoseiodasorganizações–remetendo-asparaserviçoscomplementaresàactividadeconside-radalegítimaeprioritária–,poroutro,ainexistênciadeumaforma-ção/qualificaçãoespecíficaparaoseuexercício.

observem-seosserviçoseducativosdostrêscasosmencionadosàluzdacomposiçãodassuasequipas,nomeadamentenoqueconcerneà formação/qualificação dos seus técnicos, tendo presente o factodeseremequipamentosquedesenvolvemactividadesemdomíniosculturaisespecíficos.

AequipadoserviçoeducativodoMuseuécompostaporseisele-mentosnumtotalde19quetrabalhamnesteequipamento.Emboracom atribuições específicas no serviço educativo, estes técnicospodem eventualmente participar noutro tipo de actividades, esti-mulandoaarticulaçãoentreasactividadesgeraiseasespecíficasdoserviçoeducativo.Adirectora,e tambémresponsávelpeloserviçoeducativo,temformaçãoemmuseologiaeaequipaintegranoseuconjuntoumaantropóloga;umtécnicodeanimação;umatécnicadepatrimónioeduaseducadorasinfantis.

A formação multidisciplinar da equipa dos serviços educativosestá estreitamente relacionada com os objectivos gerais da activi-dadedoMuseu–objectivosestesqueresultamfundamentalmentedoentendimentodafunçãosocialdestesespaçosnascomunidadesondeseinserem.Veja-se,atítulodeexemplo,apromoçãodasTardesinterculturaiscomodinâmicaparaaintegraçãosocialdecomunida-desimigrantesresidentesnoconcelho(vermaisadiantepontodedi-cadoàsActividades).

HádeterminadotipodeacçõesdentrodoMuseuemquetodoscola-boram.Cadaumtemo seupapel,obviamente,ecadaumtema suafunção e especificidade profissional – uns ligados à educação, outrosligados à museografia... Eu assumo a direcção do Museu mas como

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museóloga, não há um conservador porque não temos esse conceito.portanto,existeessaespecificidadeprofissional, issonãosedilui,mashámomentosemquetodaaequipacolabora.Nemtodoscolaboramaomesmonívelnoquerespeitaàplanificaçãodasactividades,issojáéumbocadocomplicado,masdãooseucontributo.

DirectoradoMuseu

Abiblioteca estáorganizadadeacordocomquatronúcleosdetrabalho,entreosquaisonúcleodeanimação. écompostoporseispessoas num total de 27 que trabalham no equipamento sede94.os técnicos que asseguram estas actividades têm, na sua maioria,umaformaçãogeralembibliotecaseumaapetência“pessoal”paraodesenvolvimentode funçõesassociadasàsactividadesdo livroeda leitura, procurandocompletar essa apetência coma frequênciadecursosespecializados.paracontornaraausênciadecertascom-petências,comoporexemplotrabalharcominvisuaisoudeficientesauditivos,asoluçãopossíveltemsidorequisitarexternamenteprofis-sionaiscomosconhecimentosnecessários,tentandoposteriormenteadaptá-losàsespecificidadesdolivroedaleitura.

Na opinião da directora deste equipamento é cada vez maisurgentequesereavalieaformaçãodostécnicosdasbibliotecasou,em geral, as competências dos recursos humanos que compõem oquadrodepessoaldasbibliotecas.Segundaestaresponsável,seporum ladoé importanteque estes técnicos adquiram,durante a suaformaçãogeral,qualificaçõesecompetênciasespecíficasparaaáreadaanimação,étambémnecessárioreavaliarashabilitaçõesdoscola-boradoresquecompõemoquadrodepessoaldas“novasbibliotecas”dadaadiversidadedevalênciasqueactualmenteintegram.

(…)ostécnicosprofissionaisdebibliotecatêmumaformaçãogeralnestaárea,depoisháaquelesquetêmmaisapetênciaparaumacoisaou

94 Aestabibliotecapertencemaindamaisquatropólos.Nototaltrabalham70cola-boradoresdistribuídospelascincoestruturas.

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paraoutra.Temostécnicosprofissionaisdebibliotecaqueestãoatrabalharnaequipadeanimaçãoequetêmapetênciaparaisso.Depoisvãofazendoformaçõespor fora aoníveldas técnicasde animação.Temos tambémumacarreiraqueéadetécnicodeanimaçãocultural.Existeumcolabo-radorcomessaformação,masnoessencialsãotécnicosdebiblioteca.Nãoexistepropriamenteumaespecializaçãoemanimação,existeestacarreiradetécnicodeanimaçãoqueacabaporcorresponderàsnecessidades.

Aformaçãonaáreadebibliotecasdeviaapostarcadavezmaisnaanimação,porquenãosãosóastécnicasemsiquesãoimportantes,étambémprojectar,planear….todaaconcepção.Hácertascoisasqueotécnicodeanimaçãosabefazerqueostécnicosdebibliotecanãosabemevice-versa.Eramuitoimportanteterumanimadoreprofissionaisquesaibam trabalhar especificamente com crianças mas que, ao mesmotempo,tenhamumacomponentenaáreadaanimaçãodolivroedalei-tura.Secalharpassavapordesenvolverumaespecializaçãonaformaçãogeraldosprofissionaisdasbibliotecas.

éprecisohaverumacomponentemaisagressivanaáreadaanimaçãoedapromoçãodolivroedaleitura.Nosquadrosdepessoaldabibliotecanãodevemestarsóbibliotecários,deveestaruminformático,porexemplo,umeducadordeinfância…Hánecessidadequeosrecursoshumanossejamdiversificadossesequerpromoverserviçosdiversificados.precisamosdepessoascomcompetênciasespecíficas.Cadavezmaisaformaçãonaáreadasbibliotecastemqueseadaptaraestasnovasvertenteseperspectivas.

Directoradabiblioteca

Contrariamenteaoqueécostumeobservar-separaasbibliotecas,sobretudoasbibliotecasqueintegramaRnBP–ondeosquadrosdepessoal prevêem técnicos especializados95 – no caso dos teatros osrequisitosdeformaçãoespecializadanãoseencontramestabelecidos.NocasodoTeatroescolhidoparacasoilustrativo,aequipaencarre-guedaprogramaçãoéconstituídaportécnicosdaDivisãodaCulturadaautarquia.iniciandoasactividadesem2004comumaequipadeseiselementos,estaequipaéactualmentecompostapordoistécnicos

95 Veraestepropósito(GomeseMartinho,2009).

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quetrabalhamexclusivamentenoTeatroeporoutrosque,consoanteasexigênciasdaprogramação,colaborampontualmentenaproduçãodasactividades.Entreos técnicoscom funçõesexclusivasconta-seumacolaboradoracomformaçãoemanimaçãocultural96.

[quandooTeatro reabriu]Fiquei eu,quenaaltura eraChefedeDivisão,aacumularaprogramaçãodoTeatro.Algumaspessoasquetra-balhavamnaCulturacomeçaramtambémarealizartarefasrelacionadascomesteequipamento,designadamentecomaprogramação,produçãoexecutiva, manutenção etc. Ficámos com duas pessoas desse grupoanterior.Cadavezqueeranecessário,recorria-seaoutrasduaspessoasdaDivisãoparasecumpriraactividadedoTeatro.Aomesmotempocontrataram-semaisdoistécnicos:umparaaáreadaanimaçãocultu-ral,quemaistardeveioaintegrarosserviçoseducativos,eoutroparaaáreatécnica.Temostidotambém,pontualmente,algunsestagiáriosquecolaboramnaanimaçãocultural.

ResponsávelpeloTeatro

Assituaçõesdescritasnoqueconcerneàsqualificaçõesecompe-tênciasdasequipasqueintegramosserviçoseducativosapresentamaspectosmuitodiferenciados.Resultamcertamentedasespecificida-desdosdomíniosculturaiseartísticosondeseinserem,mastambémdeobjectivoseestratégiasdistintas.

NocasodoMuseu,asactividadesdosserviçoseducativosassu-memumaimportânciamuitoexpressivanoconjuntodasactivida-desgeraisdoequipamento,adquirindoamesmacentralidadequeasrestantes dinâmicas. Esta centralidade está patente sobretudo nosobjectivosenoentendimentoda“missão”doespaçomuseológico,mas também no número e especializações dos colaboradores quecompõemaequipaencarreguedestasactividadesenomododeorga-nizaçãoadoptado.Emboraexistaumaequipaespecíficaencarregue

96 Tendotambémrealizadoumaespecializaçãoemserviçoseducativosatravésdecur-sospromovidospelaFundaçãoCalousteGulbenkianepelaSetepés.

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da planificação, execução e avaliação das actividades dos serviçoseducativos,adefiniçãodaagendadeactividadesdoMuseuéarticu-ladaediscutidaentreosdiferentessectoresqueintegramaorgânicadoMuseu.

NósnãoestamossemprenoespaçodoMuseu.Temosumarelaçãocomoexterior.Aliás,nósachamosquetudooquenasce,nascedoter-reno.édoterrenoquenascetodaaacção.éaideiadequeoMuseué um território e uma população, não são quatro paredes. é indo aoencontrodessapopulação,aprendendoaleresseterritório,queoMuseucumpreasuamissão.Levantandoproblemas,identificandoessesproble-mas,transformandoessesproblemasemmotordeacçãoededesenvol-vimentolocal.portanto,nãoétantoumMuseudecasasecoisas–comonósporvezesdizemos–,ésobretudoumMuseuquesefundanumarededeconfiança,numarededeparcerias,devontades,eédaí,desseedifí-ciohumanoquenósachamosquesecumpreafunçãodoMuseu.

DirectoradoMuseu

é igualmente significativo o relevo atribuído pela biblioteca àsactividadesdeanimaçãodolivroedaleitura.Aconstituiçãodeumnúcleo específico, com colaboradores encarregues exclusivamentedadinamizaçãodasactividadesdeanimaçãoéparadigmáticodasuaimportâncianaorganizaçãogeraldasactividadesdesteequipamento.Subjacenteàexpressãoqueassumemnaorgânicaestátambémaper-cepçãodautilidadedestasdinâmicasnasensibilizaçãoparaolivroeparaaleituraenasuacapacidadedeatraírempúblicosdiferenciados.Note-setambém,comofactordaimportânciaatribuídaàfunçãodasactividadesdeanimação,apreocupaçãocomodesenvolvimentoeaquisiçãodecompetênciasespecíficasdoscolaboradores.

NocasodoTeatro,emboraasactividadespedagógicas/formativastenhamsórecentementesidoformalizadasnumserviçoespecífico,jáfaziampartedaofertaculturalcamarária.Arequalificaçãoereaber-turadoTeatro,dotandooconcelhodeumespaçoculturalvocacio-nado,permitiramexpandirediversificaraofertaculturalproporcio-nadapelosserviçoscamarários.étambémnasequênciadaexistência

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deumespaçocomcondiçõesapropriadasedorecrutamentodeumatécnicacomformaçãoespecializadaemanimaçãocultural,quesur-gemosserviçoseducativosdesteequipamento,começandoestesporpromoveractividadesparaasescolaslocais.

Ao contrário dos museus e das bibliotecas, os teatros têm, emportugal,umamenortradiçãoeexperiêncianoquerespeitaàdina-mizaçãodeserviçoseducativos.Estecenárioémaisfrequenteparaespaçostuteladospelasadministraçõeslocaisonde,porvezes,con-cluídas as intervenções infraestruturais, não existe financiamentosuficiente – ou sensibilidade política – para garantir a actividadeculturalregulardestesequipamentos.Sórecentemente,eemalgunscasos,setêmvindoadesenvolveracçõese/ouaconstituirnúcleosespecíficosnesteâmbito.

Nostrêscasos,oscolaboradoresquecompõemasequipasdosser-viçoseducativosoutêmformaçõesespecíficasouprocuramadqui-rircompetênciasespecializadasparaadinamizaçãodasactividadespedagógicas–oquedenotaocrescenterelevoqueestecampodeactividadeprofissionalvemprogressivamenteadquirindonopano-rama cultural português. A ausência de uma carreira profissionalespecífica,tendosubjacenteumaformaçãoespecializada,pode,emalguns casos, ser limitadora do desenvolvimento das actividadesdosserviçoseducativosedavisibilidadeereconhecimentodeuma“nova”áreaprofissional.Noutroscaso,porém,acomposiçãodeequi-pasmultidisciplinares,comcolaboradorescomformaçãoemdiversoscamposprofissionais,poderáfavorecerodesenvolvimentodasacti-vidadespedagógicas/formativas.

5.3. ACTiViDADES

Assiste-se,talcomofoireferidoapropósitodaanálisedosresul-tadosdoinquérito,aumatendênciaparaadiversificaçãodolequeactividadespropostaspelosserviçoseducativos.umadasrazõesparaestatendênciaestarácertamenterelacionadacomapreocupaçãoem

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alargar os frequentadores dos equipamentos culturais, quer alcan-çandosegmentosdapopulaçãohabitualmenteausentesdosespaçosculturais, quer procurando fidelizar públicos mais regulares. Nessesentido são planificadas acções para públicos-alvo diferenciados,amplificandoastradicionaisesemprepresentesactividadesparaasescolasque,emmuitoscasos,começaramporjustificaraexistênciadeserviçoseducativos.

Nos três casos considerados, a diversificação de actividades epúblicos-alvoétambémumaestratégiadealargamentodepúblicos,emboraapopulaçãoescolarassuma,emqualquerdoscasos,umlugardestacadonoreferenteaonúmerodeparticipantes.

AsactividadesdosserviçoseducativosdoTeatrosãofundamen-talmentedirigidasaescolas.umaopçãoporpartedasuadirecçãoquevênadiversificaçãoenaregularidadedaofertaculturalamelhorviaparaacaptaçãoefidelizaçãodepúblicos.otrabalhocomasescolasservefundamentalmenteopropósitodesensibilizaçãoparaasacti-vidadeselugaresdaculturaedasartes.Estetrabalhosegue,porém,orientações específicas que resultam de uma relação de “parceria”quedesenvolvemcomasescolasdoconcelho.

procurámos reunir com as escolas para percebermos que tipo deinteressestinhamesepodiamconjugar-secomosnossosinteressesemtermosdeprogramação.Seelestêminteresseemdeterminadasmatériascurriculareseseparanóstambéméinteressante,entãovamosfazerumespectáculoparaestespúblicos–públicosquechamode“arregimenta-dos”.Destaformanãotemostantoesforçoaprogramarumespectáculoparadepoisasescolasnãotereminteresseemvir.Alémdisso,emvezdasescolasgastaremmaisdinheironadeslocaçãoaLisboaparaveralgunsdessesespectáculos,vêmaqui,gastandoapenasopreçodobilhete.

ResponsávelpeloTeatro

oprotagonismoqueocupamasactividadesdirigidasàpopulaçãoescolar,não elimina,no casodoMuseu edabiblioteca, a progra-maçãoregulardeactividadesparaoutrospúblicos-alvo.NoMuseu,algumasdasestratégiasdecaptaçãodepúblicosésimultaneamente

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umtrabalhodeinvestigaçãoantropológicadevalorizaçãodopróprioespólioetnográficodoMuseu.

(…)Temosumprogramaqueéo“oláVizinhos”.Muitosdosnos-sosvizinhossãoaquelesquemenosnosvisitam.pensamqueconhecemmuitobemoMuseu,dizemquevãoláamanhãouquevãoládepois,têmconnoscoumarelaçãomuitosimpáticamasnãovêm.Temosaquinasredondezasumadiversidadedelojas,escritórios,agênciasdevia-gens,etc.eessadiversidadeérealmentemuitointeressante.Entãonósfizemosesteprograma,queéumacoisamuitosimples:Fomosparaarua,fizemosrecolhadeimagens,umpequenoquestionárioealgumasentrevistasacasosquesejustificavamporquesetratavamdeperso-nagensdahistória localevaliaapenapegarnogravadore ficaralimaistempo(antigasoperáriasdasfábricas,pescadores).perguntáva-mos:–«olhe,conheceoMuseu?»,«Ah,sim,sim»,«Masjáláfoi?»,«Não,poracasonuncafui»,«Entãooqueéqueachaqueláestá?»,«Achoquedevesermuitobom.Deveestaristo,deveestaraquilo...Maseuhei-deláir».Algunstambémdiziam:«Maseunãotenhonadaquefazer lá,eunãoseinada».Masdepoisnósperguntávamos«TemalgumacoisaqueachequefosseútilparaoMuseu?»,«Não,nãotenhonada».Depoiscomeçavam-nosacontarahistóriadavida.opaierapescadoramãetinhatrabalhadonumafábrica,edepoischegávamosao fim e dizíamos: «olhe, está a ver o que nos deu, deu-nos coisasmuitoimportantesparaoMuseu.istoagoravaificarnestagravaçãoedepoismaistardeoutraspessoaspodemouvireécomosefosseumlivro,», «Ah, está bem, disso conheço tudo!», «é isso que é funda-mental,édoqueoMuseuprecisa,ésódisso.Nãoprecisadeobjectosricos.»Aspessoastêmessaideiaderaridade,decoisasricasqueestãodentrodoMuseu.

DirectoradoMuseu

Entre o leque de novas propostas dos serviços educativos doMuseuedabiblioteca,veja-se,emparticular,asacçõesdirigidasasegmentosminoritáriosdapopulação,entreasquaisascomunida-desdeimigrantes.Nocasodabibliotecaédadaparticularatençãoacidadãosinvisuais.

ASACTiViDADESpEDAGóGiCAS/FoRMATiVAS... | 171

percebemosquetemosumacidademulticulturalmasnãointercul-tural.Ainterculturalidadeéqualquercoisaquetemdesertrabalhada,etrabalha-seproporcionandoessavivência.oMuseupodeserpalcodessainterculturalidade.oMuseunãoésómediador.quandooMuseufazumaexposiçãosobreospescadores,estáaterumdiscursodemediação,porqueésempreumdiscurso“sobre”,contaumahistoria“apropósitode”.MasquisemosexplorarestaideiadequeoMuseupodeelepróprioserumpalcodeauto-representaçãodeculturas.Enfim,éumacoisaqueestamosatentarperceberevalidarnaexperiênciaquetemos,nomeada-menteatravésdasTardes Interculturais.(…)Realizam-semensalmente,sãotardestemáticas(…),comtemasdaactualidade,àsvezespropostosmesmopelacomunidade.porexemplo, trabalhámosaquestãodedaràluzlongedecasa,aquestãodenascerfilhodeimigranteseainsegu-rançaqueasmulheresimigrantestêm,porumaquestãodelegislação,deterosfilhosforadasuaredesocialdeapoio,familiar,afectivolegal,foradoseupaís.(…)[Referindo-seaquemparticipanassessões]Nãosepodetrabalharcomtodos.procura-sesobretudoperceberquemsãooslíderesdascomunidades,comtodooriscoqueissotem.procuramosqueestasTardes Interculturaissejamumaabordagemdadiversidadequeosprópriosgrupostambémretratam.porqueàsvezesnósdizemos«Sãoosrussos»,«Sãoosmoldavos»,masdentrodosrussosoudosmoldavosexistemvariaçõesdeperspectivas,existemmodosdiferentesdepensar,diferentesmaneirasdeveracidade,diferentesmaneirasdevivenciaressecaminhodeinserçãolocal.procuramoscaptartambémessadiver-sidade. Cada Tarde Intercultural tem uma metodologia base, tem ummodelo,masdepoiscadaprocessoéúnico.éumtrabalhoquepassaporcontactarcomessasdiferentespessoas,vercomoéqueelesgostariamdeseverrepresentadosnoMuseu.Nãosomosnósadizer«Agoraconvi-damos“nãoseiquem”paravircáfalardasuahistória,dahistóriadoseupaís,ouparavircáfalarsobreaarte».podeeventualmentevirseaspes-soasdessacomunidadeoreconheceremeacharemqueéimportante.

DirectoradoMuseu

Esteanofoicriadoumfundodocumentalrussoparaacomunidadede imigrantes.Elesvêm,mas sãomuitodiscretos.Escolhemos livrosmasqueremessencialmentelê-losemportuguês.(…)Esteanovamostentartornarabibliotecaumespaçomaisactivodeencontroeinserção.

172 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Játemososlivros,mastambémqueremosofereceroespaçodabiblio-tecaparacursosdeportuguês,oumesmoparaencontrosdascomuni-dadesimigrantes.

Directoradabiblioteca

Desde o início, temos serviços e equipamentos para pessoas comdeficiência–parainvisuais.Estamosnestemomentoaterminaropro-jectoquetemdecorridoaolongodoanoebrevementevamosteruminvisualquevaiestarconnoscoaoabrigodovoluntariadoparanosaju-dara trataros livrosemBraille.Temosos livrosmasnão sabemosostítulosporqueninguémsabelerBraille.queremosofereceresteserviçoedarmaisautonomiaaoinvisualparapoderirdirectamenteàestanteescolher.Tambémestamosatentar,atéaofinaldoano,começarafazerfacturasdaáguaemBrailleparaosinvisuaisdoconcelho.Claroquenãosabemosquemsãoosinvisuais.Vamosanunciarquetemosesteserviçoequemquiserpodecontactar-nos.

Directoradabiblioteca

Adiversificaçãodolequedeactividadesdosserviçoseducativoséconsonantecoma informaçãoresultantedoinquéritoqueapontavaparaaassunçãodeváriaspropostasdiferentesnoconjuntodasacçõespromovidaspelosequipamentos.Noscasosdescritos,acrescesobretudoumaimportantefunçãodecoesãosocialnascomunidadesondepromo-vemassuasactividades.Asactividadescomasescolassãocentraismasatravésdelassãopotenciadasasactividadesvocacionadasparaasfamí-lias(programadasparaofim-de-semana),porexemplo,podendoestastersidoestimuladaspelasvisitasdosfilhosemcontextoescolar.

Realce-setambémasestratégiasde“saída”oudeidaao“encon-trodospúblicos”queMuseuebibliotecaprogramamparaasensibi-lização/captação”devisitantes–actividadesquetranspõemoespaçofísicodosequipamentosparairemaoencontrodepotenciaispúblicos.

TemosmenosleitoresnomêsdeVerão,portantofomosparaapraia.Játínhamosfeitoissoumaveznosjardins.

Directoradabiblioteca

CoNCLuSão

A problemática desenvolvida neste estudo corresponde à ver-tentedaactividadeculturalentendidapor recepçãocultural.paraele convoca-se um dos principais desígnios definidores de políticacultural,odademocratizaçãodoacessoàcultura,easuatraduçãomaisoperacionaldecaptaçãoealargamentodospúblicosfrequenta-doresdeequipamentoseeventosculturais.

Recuperam-se sinteticamente algumas das principais questõesabordadas à luzda relação entrequalificação e cultura.Aqualifi-caçãodosectorcultural,istoé,dosequipamentosedasactividadesculturais–nosentidodocrescentementereconhecidopesoeconó-micodaculturaedacontribuiçãodasactividadesculturaisparaainovaçãoecompetitividade–eaqualificaçãodaspopulações, emtermosdoacessoaosbensculturaiscomomeiodeparticipação.

Estas diferentes dimensões de qualificação cultural têm umcarácter central na definição de grandes orientações estratégicasdepolíticacultural,conformeseprocuroudemonstraraolongodoscapítulos precedentes. é desde logo patente, ao nível dos textospolíticoseprogramáticosestudados(programaspolítico-partidários,programasgovernamentais,diplomasepropostaslegislativas,dispo-sições de intervenção política), uma preocupação constante, aolongodasúltimastrêsdécadascomaqualificaçãodaculturaatra-vésdosinvestimentosrealizadosnarecuperaçãoecriaçãodeequi-pamentosculturais,assimcomoaqualificaçãopelacultura,através

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deumacessomaisgeneralizadodaspopulaçõesàsactividadescul-turais. Contudo, a repetição dessas referências também significanecessariamenteoadiamentodesoluçõesefectivasparaalgunsdosproblemasexistentes.

Astendênciasdedesenvolvimentodosectorculturalduranteaúltimadécadatêmacarretadoimportantesmudançasnestesplanos.Aprincipaldessasmudançasdecorredoclarocrescimentodosectorcultural,aindaqueessecrescimentosejaoscilanteemtermoscon-junturaiseemdiferentessubsectores.Conformeosindicadoresqueforam sendo avançados, tal crescimento refere-se quer ao valoreconómico da produção cultural; ao volume de emprego relativoàs actividades culturais; como também, e de uma forma até maisacentuada,aocrescimentodafrequênciadeequipamentosculturais.umaumentoassociado,comoseviu,aelevadosníveisdeformação,dadoserumapráticadapopulaçãomaisescolarizada,eexplicado,entreoutrosfactores,peloprogressivoalargamentodaescolaridadeavançada–oqueemportugaltemumsignificadoparticular,dadooatrasoestruturaldopaísnestamatéria.

A tendência de crescimento do sector implica diversos aspectoscorrelativos. o aumento das oportunidades de trabalho vem sendoassociado,porumlado,aumamaiorflexibilidade–oumesmoàpreca-riedade–emtermosdosvínculoseprestaçõesdetrabalhoe,poroutro,àemergênciaouconsolidaçãodenovasfunçõesemodosdeorganiza-çãodotrabalhomarcadospelapolivalênciaecumulatividade.Foiassi-naladaatendênciacomumparaacrescenterelevânciadefunçõesdemediaçãoculturaloudesuportetécnico–atítulodeexemplo,refiram-seasfunçõestécnicasassociadasanovosserviçosdaofertacultural.

o pronunciado crescimento nos últimos anos de ServiçosEducativosvocacionadosparaacaptaçãoealargamentodepúblicospodeentender-secomoumcasoparticularespecialmenteevidentedessatendênciageral,equeapontaumoutrosentidodedesenvolvi-mentodaactividadedasinstituiçõesculturais–odaespecialização.NocasodosServiçosEducativos,aespecializaçãodaofertaparececonstituirummeiodequalificação,namedidaemqueostécnicosque

CoNCLuSão | 175

desempenhamestastarefastenderãoatrazerconsigocompetênciasespecíficas.

uma outra vertente de especialização nas actividades culturaisque foi sendoassinaladadiz respeitoàexternalização(outsourcing)de funções. Esta externalização assume contornos muito distintosconsoanteosubsectoreotipodetarefas:aactividadedesenvolvidapelosServiçosEducativoséporvezescontratadaamicroempresasespecializadas;omesmoacontece,nodomíniodopatrimónio,comaactividadederestauroeconservação;aconcepçãoemontagemdeexposições;aconsultoriarespeitanteaplanosmunicipaisdedesen-volvimentoestratégicodacultura;nodomíniodasindústriascultu-rais,comonocasodaediçãolivreira,aexternalizaçãodasdiferen-tesfasesdeproduçãodolivro;entreoutrosexemplos.Deummodogeral, a conjugação de especialização e externalização de funçõestêmsignificadoaemergênciaouconsolidaçãodenichosdemercadoespecíficos.

Afinalizar,destacam-sealgumastendênciasverificadasnosectorculturalemparticularcomacriaçãodosserviçoseducativos.Avan-çam-setambémalgumasrecomendaçõesnestedomínio.

a) Principais tendências de desenvolvimento do Serviços Educativos• Aumentodeequipamentoscomacçõeseducativas,reflexode

políticas públicas “empenhadas” na democratização da pro-cura.

• Feminizaçãoejuvenilizaçãodasequipasencarreguesdasactivi-dadeseducativasdosequipamentos.

• Tarefas desempenhadas fundamentalmente em regime decumulatividade.

• Tendênciaparaapossibilidadedeseremserviçosprestadossobaformadeoutsourcing.

• Campodeactividadeemergentepotenciadordenovasdinâmi-casprofissionaiseempresariais,atravésdacriaçãodemercadosespecíficos.

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• Diversidade na forma como estão definidas organicamente asactividadespedagógicas/formativasnosequipamentosculturais.

• Tendênciaparaadiversificaçãodeactividadespropostaseparaamultiplicaçãodepúblicos-alvo.

• padronizaçãodasactividadesrealizadas(visitasguiadas,expo-sições, ateliês), assumindo um figurino semelhante indepen-dentementedodomínioartísticoprevalecente.

• Nota para o predomínio claro e inequívoco de actividadesvocacionadasparaouniversoescolar(alunoseprofessores)ecorrespondentevolumedeprocura.

b) Recomendações• integraçãodeprofissionaiscomcompetênciasespecíficasnos

serviçoseducativosdosequipamentosouemequipasresponsá-veispeladinamizaçãodeactividadespedagógicas/formativas.

• Adopçãodepolíticaseducativastransversaisaqualquerdomí-niodeactividadedosequipamentosculturais.

• potenciar a actividade das redes existentes para a dinamiza-çãodeactividadesespecificamentevocacionadasparaserviçoseducativos.

• Fomentodeligaçõesexterioreseintegraçãoemcircuitosinter-nacionais.

• Fomentodeparceriasentreequipamentos,escolaseassociaçõeslocais(ououtrosagentes).ConjunturafavorávelàarticulaçãocomoME,dadaas reflexõesemtornodaeducaçãoartística,actualmenteaserdesenvolvidas.

• Melhoriaqualitativadarelaçãocomasescolas.

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Governos

Constitucionais

Partido

Político

Primeiro

Ministro

Ministério

da tutela

Ministro

da Cultura

Secretários e

sub-secretários

de Estado

xiii

(1995-1999)

partido

Socialista

António

Guterres

Ministério

daCultura

ManuelMaria

Carrilho

(1995-1998)

JoséSasportes

(1998-1999)

RuiVieiraNery

(1995/1997)

CatarinaVaz

pinto(1997/1999)

xiV

(1999-2002)

partido

Socialista

António

Guterres

Ministério

daCultura

Augusto

SantosSilva

JoséManuel

CondeRodrigues

xV

(2002-2004)

partidoSocial

Democratae

partidopopular

Durão

barroso

Ministério

daCultura

pedro

Roseta

JoséAmaral

Lopes

xVi

(2004-2005)

partidoSocial

Democratae

partidopopular

pedroSantana

Lopes

Ministério

daCultura

MariaJoão

bustorff

JoséAmaral

LopeseTeresa

Caeiro

xVii

(2005-…)

partido

Socialista

José

Sócrates

Ministério

daCultura

isabelpires

deLima

MárioVieira

deCarvalho

xVii

(2005-…)

partido

Socialista

José

Sócrates

Ministério

daCultura

JoséAntónio

pintoRibeiro

Mariapaula

dosSantos

188 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Orgânica do Ministério da Cultura entre 1995-2005Lei orgânica do MC (Decreto-Lei 42 / 96, de 7 de Maio)

ANExoA | 189

190 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Lei Orgânica do mcDecreto-Lei 215 / 2006 de 27 de Outubro

ANExoA | 191

Notas:AorquestraNacionaldoportoéextinta,semqualquertransferênciadeatribuições.

ANExob

rácio de envelhecimento (Idosos / Jovens), por intervalos, no concelho, por nuts ii

(percentagem em linha)[quADRoNº1]

NUTS IIPopulação

muito jovem

População

jovem

População

equilibrada

População

envelhecida

População

muito

envelhecida

Total

Norte 61,9 26,2 2,4 9,5 0,0 84

Centro 17,8 69,9 2,7 4,1 5,5 73

Lisboa 39,2 5,4 55,4 0,0 0,0 74

Alentejo 11,1 51,9 11,1 25,9 0,0 27

Algarve 28,6 64,3 7,1 0,0 0,0 14

R.A.Madeira 83,3 16,7 0,0 0,0 0,0 6

R.A.Açores 50,0 50,0 0,0 0,0 0,0 4

Total 38,3 36,5 17,4 6,4 1,4 282

Nota:RácioscalculadoscombasenosCensosde2001.

194 | DEMoCRATizAçãoCuLTuRALEFoRMAçãoDEpúbLiCoS

Equipamentos com oferta de actividades pedagógicas / formativaspor nuts ii e áreas metropolitanas

[quADRoNº2]

NUT II Número %

áreaMetropolitanadeLisboa 74 26,2

áreaMetropolitanadoporto 23 8,2

Norte,exceptoAMp 61 21,6

Centro 73 25,9

Alentejo 27 9,6

Algarve 14 5,0

R.A.Madeira 6 2,1

R.A.Açores 4 1,4

Total 282 100,0

Data de constituição dos serviços pedagógicos / formativosdos equipamentos culturais, por ano

(números absolutos)[GRáFiCoNº1]

3 4 6 7 58 8

17

41

9

211919

1113

11119

77

133412

41

2111112111110

5

1015

20

25

3035

40

45

1948

1954

1966

1972

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

A participação cultural tem ganho crescente notoriedade nas últimas duas décadas. As políticas públicas e as práticas de agentes do sector cultural e artístico reflectem preocupações com

a qualificação de populações e territórios, assistindo-se a uma de mudança de para digma. ¶ É em torno do tema da participação cultural que se centra o presente estudo, privilegiando a problemática da democratização cultural e da formação de públicos. São abordadas as várias for-

mulações do conceito de “democratização cultural” e a sua tra-dução em quadros normativos e medidas de política cultural, bem como um retrato estatístico da evolução da procura cultural em Portugal. Como principal componente empírica deste estudo é apresentado um inquérito às actividades pedagógicas e formativas dos equipamentos culturais. A sua extensão e carácter inédito permitem uma caracterização exaustiva e detalhada de uma função das instituições culturais que tem assumido recentemente grande relevância, embora ainda pouco descrita em estudos específicos.

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