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O USO DE INDICADORES FINACEIROS NA DETECÇÃO DE
FRAUDES NO CIRCULANTE
Marcelo Alvaro MacedoBrasil - Doutor em Ciências Contábeis (UFRJ-RJ)
email: malvaro.facc.ufrj@gmail.com
Fernando Cesar da Cunha MattosBrasil - Mestre em Ciências Contábeis (UGF-RJ)
email: Fernando.mattos@fazenda.mg.gov.br
PALAVRAS-CHAVE: Indicadores Contábeis; Irregularidades Fiscais; Regressão Logística.
Área Temática: Fiscalidade
Metodologia aplicada: Case/Field Study
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo principal avaliar a possibilidade da utilização de
indicadores contábeis no planejamento das ações fiscais da Secretaria de Estado da Fazenda
de Minas Gerais, pois, com a implementação do SPED (Sistema Público de Escrituração
Digital), que disponibiliza as informações contábeis das empresas contribuintes mineiras, a
Administração Pública tem a disposição uma gama considerável de dados que poderão
subsidiar a tomada de decisão dos gestores públicos. Foram escolhidos indicadores
financeiros de curto prazo utilizados pela literatura. Os mesmos foram aplicados nas
demonstrações contábeis das empresas, após sua divisão em dois grupos: o primeiro de
empresas sem irregularidades fiscais no curto prazo, e o segundo de empresas com estas
irregularidades. Com base nos resultados apurados, após a aplicação do modelo proposto,
verificou-se a elevação da possibilidade de acerto dos 40% iniciais para 94,2%. Dessa forma,
com a utilização de quatro indicadores financeiros, o referido modelo permitirá a seleção das
empresas com irregularidades e representará um instrumento valioso para a Administração
Tributária do Estado de Minas Gerais.
PALAVRAS-CHAVE: Indicadores Contábeis; Irregularidades Fiscais; Regressão Logística.
1 INTRODUÇÃO
A sociedade moderna vem atravessando um período de mudanças rápidas e complexas com a
consolidação de várias tendências, como a internacionalização da economia e da consciência
ecológica, a formação de grandes blocos econômicos, os novos padrões tecnológicos e a
revolução da informação.
Neste ambiente turbulento e em constates evoluções, observa-se na citação de Druker (1980,
p.33), “nesses tempos uma empresa deve manter-se ágil, forte e sem gordura, capaz de
suportar esforços e tensões e capaz também de se movimentar rapidamente e aproveitar as
oportunidades”, que o uso da Tecnologia da Informação pode ser decisivo dentro do contexto
econômico, em virtude de sua rápida difusão e respostas, propicia aplicações no nível
estratégico das organizações.
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A Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG) em conjunto com a Secretaria
da Receita Federal implantou e disponibilizou, a partir de janeiro de 2008, um novo sistema
de banco de dados com informações sobre contribuintes do Imposto sobre a Circulação de
mercadorias e serviços de transportes interestaduais e intermunicipais e de comunicação -
ICMS (SPED – Sistema Público de Escrituração Fiscal), sendo o conteúdo apresentado
refere-se a informações fiscais e movimentações contábeis.
A pesquisa proposta busca levantar as informações contábeis dos contribuintes do Estado de
Minas Gerais, de maneira a subsidiar o Plano de Fiscalização, com o intuito de selecionar
empresas com indícios de sonegação o que possibilitaria, direcionar os esforços da
fiscalização nestas empresas visando o crescimento da receita tributária. Desta forma,
pretende-se levantar indicadores que possibilitem identificar as mudanças no comportamento
fiscal dos contribuintes e os principais focos de sonegação, especificamente a identificação de
indícios que apontem para a redução de arrecadação tributária, buscando um maior controle
fiscal das operações tributadas pelo Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS).
O uso de indicadores e o estabelecimento de padrões de comportamento tributário facilitam o
processo de tomada de decisões, possibilitando que se atue tempestivamente, realizando ações
corretivas, adicionais e estratégicas para alcançar os objetivos e expectativas de crescimento
da receita tributária. À medida que se transforma informação disponível em conhecimento,
será possível identificar as reais ameaças e oportunidades, desencadeando as ações
decorrentes e transformando-as em diferenciais estratégicos de gestão.
Para aprimorar o trabalho de monitoramento fiscal dos setores econômicos, faz-se necessário
ainda um estudo detalhado do ambiente externo, analisando os principais indicadores
econômicos e o comportamento fiscal das grandes empresas envolvidas. Neste sentido, deve-
se ter uma visão ampla da informação elaborada, criando novas estratégias de trabalho e
gerenciamento das informações.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Indicadores de Análise das Demonstrações Financeiras
Segundo com Matarazzo (2003) os índices são na realidade dados extraído da relação entre
contas ou mesmo grupo de contas do balanço patrimonial, sendo que sobre estes são aplicadas
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as técnicas de análise, com a finalidade de fornecer uma ampla situação financeira das
organizações, podendo-se construir a avaliação das instituições.
Para Matarazzo (2003, p. 147) os índices devem ser vistos como “(...) a relação entre contas
ou grupo de contas das demonstrações financeiras, que visa evidenciar determinado aspecto
da situação econômica ou financeira de uma empresa.”.
Neste contexto, Silva (2006, p. 216) retrata que os índices financeiros são na realidade as
relações entre contas ou grupos de contas das demonstrações financeiras, sendo que estas têm
como finalidade o fornecimento de informações consideradas como não fáceis de serem
visualizadas de modo direto nas demonstrações financeiras.
Na prática os analistas procuram fazer com que cada variável tenha um numero maior de
informações possíveis, de modo, que por meio de um número de índices se consiga realmente
analisar de forma rápida e também objetiva o maior numero de informações para uma
organização (FOSTER, 1986).
Matarazzo (2003, p.153) retrata que um “um índice é como uma vela acessa num quarto
escuro”. Para o autor, um índice por si só não tem o condão de fornecer uma base satisfatória
para análise de medida para vários aspectos econômicos e financeiros das organizações,
sendo, portanto, necessário que outras informações sejam acrescentadas.
Assim, os índices extraídos dos balanços patrimoniais deverão sempre ser comparados a um
índice denominado como padrão, sendo o mesmo adotado para cada ramo específico,
permitindo, que o analista compare todo o desempenho da organização em relação ao
segmento praticado (MATARAZZO, 2003).
Para Matarazzo (2003, p. 148) não é importante realizar o cálculo de um grande número de
índices para se alcançar um bom resultado em relação à análise, o que realmente é necessário
é a apresentação de um conjunto de índices que realmente possibilitem a situação real da
organização.
Assim, Matarazzo (2003, p. 149) retrata que “(...) a análise de empresas industriais e
comerciais através de índices tradicionais deve ter, no mínimo, quatro, e não é preciso
estender-se além de onze índices.”.
De modo teórico os índices acabam representando realmente a capacidade da organização em
pagar as suas dívidas. Assim, torna-se necessário analisar o fator temporal. Neste contexto, os
vencimentos dos ativos não são coincidentes com os do passivo, portanto a capacidade real de
pagamento apenas será conhecida apenas por meio da gestão diária do fluxo de caixa de
entradas e saídas.
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Deste modo, a utilização dos índices para uma organização é de extrema importância, pois,
por meio deles é possível a realização de uma verdadeira análise da situação financeira da
empresa.
2.1.1 Indicadores de Liquidez
Nos dias atuais verifica-se as diferentes mudanças no cenário econômico, provocando,
consequentemente, vários fatores, sendo, possível destacar o constante processo de
globalização, alterações na legislação fiscal, tributária e a taxa de juros, que tendem a afetar
de forma direta ou indireta o sistema financeiros das organizações (OLIVEIRA et al, 2005).
Como meio de se identificar tanto o sucesso como o fracasso de uma empresa, necessário
analisar a liquidez e, consequente, rentabilidade, tendo, sempre como base o resultado
econômico, vendas e também investimentos (OLIVEIRA et al, 2005).
Ainda neste raciocínio, Assaf Neto e Silva (1997, p.13) cita que: ”Uma administração
inadequada do capital de giro, resulta normalmente em sérios problemas financeiros [...]”.
Continua o autor esclarecendo que: “O termo giro refere-se aos recursos correntes (curto
prazo) da empresa [...] e conclui que “O capital de giro ou capital circulante é representado
pelo ativo circulante [...].
Na administração do capital de giro entende-se que o controle das contas dos elementos de
giro (ativos e passivos circulantes) é fundamental para a manutenção de determinado nível de
rentabilidade e liquidez (ASSAF NETO e SILVA, 1997, p. 15).
Assaf Neto e Silva (1997, p.29) cita que: “Um importante indicador de liquidez empresarial é
o volume de capital circulante líquido, que é medido [...]”:Capital Circulante Líquido (CCL) = Ativo Circulante(AC) − Passivo Circulante(PC)Importante salientar que a avaliação da liquidez com base no valor do CCL não é suficiente
para conclusões mais definitivas, sendo necessário que se trabalhe complementarmente com
índices financeiros de liquidez, que relacionam também valores correntes compatíveis entre si
(ASSAF NETO e SILVA, 1997).
Assim, os indicadores de liquidez têm como finalidade mediar a capacidade da organização
em pagar as suas dívidas, isto é, sua habilidade em cumprir em dia suas obrigações assumidas.
(MARION 2006).
A liquidez se divide em: liquidez geral; liquidez corrente, liquidez seca e liquidez imediata.
Assim, passa-se a analisar cada uma delas:
Liquidez Geral: a presente serve para analisar a “saúde” financeira a curto e longo
prazo da organização, indicando, portanto, se a mesma possui ativo circulante e
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realizável em longo Prazo, sendo utilizado para demonstrar a segurança financeira da
instituição a longo prazo, revelando, assim, a capacidade de assumir todos os seus
compromissos. Segundo Assaf Neto (2007, p. 191) a fórmula a ser utilizada é a
seguinte:Liquidez Geral (LG) = Ativo circulante (AC) + Relizável a longo prazoPassivo Circulante (PC) + Exigível a longo prazoSegundo Silva (2006, p.307) “a interpretação do índice de liquidez geral é no sentido de
quanto maior, melhor, mantidos constantes os demais fatores”.
Liquidez Corrente: a presente acaba indicando quanto existe em dinheiro mais bens, e
também os direitos realizáveis em curto prazo, principalmente quando comparado com
as obrigações a serem pagas no mesmo período, sendo que, segundo Assaf Neto
(2007, p. 191) “quanto maior a liquidez corrente mais alta se apresenta a capacidade
da empresa em financiar suas necessidades de capital de giro”. Assim, a fórmula a ser
utilizada é a seguinte:Liquidez Corrente (LC) = Ativo circulante (AC)Passivo circulante (PC)Importante salientar que a figura acima demonstra que quanto maior for a liquidez,
consequentemente, maior será a retenção de dinheiro aplicado no capital de giro da
instituição.
Liquidez Seca: a presente segundo Silva (2006, p. 314) “indica quanto a empresa
possui em disponibilidades, aplicações financeiras a curto prazo e duplicatas a receber,
para fazer face a seu passivo circulante”. Diante do raciocínio dos índices de liquidez
geral e corrente, verifica-se que quanto maior melhor. Assim, a fórmula a ser utilizada
é a seguinte:
Liquidez Seca (LS) = Ativo circulante (AC) − estoquesPassivo circulante (PC)A variante adequada para a avaliação da situação de liquidez da organização acaba por
eliminar o estoque do numerador, demonstrando, portanto se a empresa viesse a sofre uma
paralisação de suas vendas ou seu estoque se torna totalmente obsoleto, quais seriam as reais
chances de suas dívidas serem saldadas com disponível e duplicatas a receber.
Liquidez Imediata: segundo Marques et al (2008, p. 49) “avalia aquela garantia
somente a partir de recursos financeiros disponíveis, ou seja, caixa, bancos e
aplicações prontamente conversíveis em dinheiro.”. Diante do raciocínio dos índices
de liquidez, verifica-se que quanto maior melhor. Assim, a fórmula a ser utilizada é a
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seguinte: Liquidez Imediata (LI) = DisponibilidadePassivo circulante (PC)2.1.2 Indicadores de Rotatividade
Este grupo de indicadores tem a finalidade de avaliar a rotação dos recursos e conforme Braga
(1990) nas operações das empresas, os investimentos retornam sob a forma de moeda corrente
e neste entendimento busca-se conhecer o tempo que os capitais investidos se convertem em
dinheiro.
Assim sendo, com os indicadores de rotatividade, de acordo com Braga (1990, p. 141) “visa
determinar o giro dos recursos aplicados pela empresa, tendo como objetivo último o
estabelecimento de condições “idéias” na rotação desses recursos, de forma a facilitar, ao
máximo, a obtenção de um resultado positivo (lucro)”
Ainda reforça Marques et al (2008, p.55) que “os quocientes de atividade abrangem as
medidas de rotação (giro) por período (em geral um ano) das contas operacionais”
Resumindo, Braga (1990) conclui que na interpretação dos indicadores de rotatividade,
procura-se apurar quantas vezes um capital médio se renova na empresa, durante um
exercício, ou seja, quanto tempo esses recursos demoram a ser renovados.
Existem vários indicadores de rotatividade, mas para o desenvolvimento desta foi utilizado os
seguintes índices:
Rotação dos Estoques;
Rotação de Contas a Receber e
Rotação de Contas a Pagar.
A escolha destes indicadores foi motivada pelo fato de que estes aferem o ciclo operacional,
ciclo econômico e o ciclo financeiro. Conforme Marques et al (2008, p. 59) “o ciclo
operacional refere-se ao período de tempo decorrente entre as compras de matérias primas ou
mercadorias e o recebimento de suas vendas”, ou seja, analise feita pela Rotação dos Estoques
e Rotação de Contas a Receber.
Continua Marques et al (2008, p. 59) definindo o ciclo econômico como sendo “o intervalo de
tempo compreendido entre as transações econômicas de compra e venda.” Nesta condição a
análise do indicador Rotação dos Estoques permite um conhecimento deste ciclo.
Em relação ao ciclo financeiro, Marques et al (2008) define como sendo o espaço de tempo
entre o pagamento das compras e o recebimento das vendas. E complementando este
entendimento, Assaf Neto (2007, p. 205) afirma que o ciclo financeiro “é determinado
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basicamente pela diferença entre o número de dias do ciclo operacional e o prazo médio de
pagamentos a fornecedores”
- Rotação dos Estoques
éO referido indicador demonstra quantas vezes o estoque se renova durante o exercício.
Segundo Braga (1990, p. 143) “quanto maior a rotação dos estoques, melhor será a situação
da empresa, uma vez que tal fato estará indicando um alto grau de comercialização de seus
produtos.”
Marques et al (2008) afirma que o aumento deste giro reduz o investimento médio necessário
para a sua manutenção.
- Rotação de Contas a Receber( )− éO presente índice representa quantas vezes se renova as contas a receber de clientes. Assim,
de acordo com Marques et al (2008, p 56) “quanto maior o giro das contas a receber durante o
período, melhor para a companhia, dado que seu prazo de cobrança diminui. Continua
Marques et al (2008) ressaltando que o amento deste giro reduz o investimento.
- Rotação de Pagamentos
é í /Segundo Braga (1990, p.144) “essas relações indicam o número de vezes em são renovadas as
dívidas com fornecedores da empresa e, também os prazos médios que os fornecedores
concedem à empresa para pagamento de suas compras.”
Marques et al (2008) afirma que quanto menor a rotação das contas a pagar melhor para
empresa, pois desta forma, com a dilatação dos prazos de pagamentos a fornecedores, este
acabam financiando as operações da entidade.
Assim, a rotação é importante para a empresa, pois, de acordo com Braga (1990), é por meio
destes indicadores que se sabe quantos vezes um capital médio se renova e se a rotação é ou
não adequada.
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Para Ferreira (2004, p. 8) “Por intermédio desses índices, pode-se apurar o número de
renovações, durante o exercício, do capital médio aplicado em determinado elemento
patrimonial”.
Segundo Marion (2002, p. 467) é por meio da rotatividade que se verifica a velocidade de
recebimento das vendas, bem como, a renovação de estoque. Para o mesmo autor, “quanto
mais lento for o pagamento das compras, desde que não corresponda a atrasos, melhor”
2.1.3 Indicadores Modelo Fleuriet
Com o objetivo de desenvolver métodos de análises das demonstrações com enfoque
diferenciado, a Fundação Dom Cabral – da Universidade Católica de Minas Gerais, iniciou os
estudos com a constituição de um grupo de trabalho conduzido por Michel Fleuriet.
Brasil e Brasil (1997) ressalta que “este perfil levou a uma reestruturação do enfoque da
análise contábil tradicional, que privilegiava muito mais uma visão estática da empresa do que
sua dinâmica operacional”. A análise tradicional das demonstrações financeiras está voltada
para a solvência, pelos índices de liquidez, que tem sua importância para uma situação
particular, ou seja, quando se pretende avaliar o grau de liquidez de uma empresa, verifica-se
que em caso da mesma vir a encerrar suas atividades, a liquidação de seus ativos é suficiente
para cobrir seus compromissos (passivos). Critério de análise que se distancia muito de um
padrão de avaliação quando se almeja avaliar a situação visando sua perpetuação, antecipando
pelas análises, possíveis dificuldades futuras de ordem financeira diante do quadro econômico
que a empresa apresenta.
Com essa nova abordagem, a empresa “é um organismo vivo, agindo num ambiente em
constantes mudanças. Cresce, desenvolve-se e aumenta seu valor patrimonial, criando,
portanto, riqueza para o país e emprego para os cidadãos”, ressalta Brasil e Brasil (1997, p. 1-
2), colocando a questão com outro enfoque: “Como pode a empresa continuar a saldar seus
compromissos, mantendo-se em funcionamento?” Para dar resposta a esta questão, conforme
Brasil e Brasil (1997, p. 2-3), sugeriram os seguintes passos:
Tornar a contabilidade funcional – ou seja, reclassificar as contas de acordo com sua
funcionalidade, agrupando-as conforme suas relações com as operações da empresa, e
não apenas pelo grau de liquidez;
Dar à contabilidade um enfoque sistêmico, o que significa que, no âmbito de cada
demonstrativo e entre si (subsistemas e sistema), tem-se que conceituar um modelo, na
ótica financeira, que abarque a empresa como um todo.
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Ao clássico conceito de Capital de Giro Líquido (CDG), o modelo de Fleuriet adicionou dois
conceitos básicos que estruturam o modelo: “Necessidade de Capital de Giro” (NCG) – ou
Investimento em Giro (IOG) – e “Efeito Tesoura”, que será visto em seguida, consiste no eixo
em torno do qual giram as análises do modelo.
2.1.3.1 O Modelo Fleuriet – Um Modelo Dinâmico de Análise Econômico-Financeira
A estrutura tradicional do balanço patrimonial de uma empresa apresenta-se disposta, pela
organização e agrupamento das contas, segundo dois critérios básicos: um se refere à origem
(fonte) – PASSIVO – e à aplicação – ATIVO – dos recursos ou fundos e o outro, está
relacionado com os prazos, curto e longo prazo, em que se encontram esses recursos dentro
do patrimônio da empresa, conforme sua origem ou destinação
Configurada de acordo com a legislação societária, o Quadro 1 abaixo, mostra esta estrutura
do balanço patrimonial, utilizada na análise financeira tradicional:
Quadro 1 - Estrutura do balanço patrimonialConteúdo do Balanço
Ativo Passivo
Ativo Circulante
Ativo Não Circulante, dividido em:
- Realizável a Longo Prazo
- Investimentos
- Ativo Imobilizado
- Ativo Intangível
Passivo Circulante
Passivo Não Circulante
Patrimônio Líquido, dividido em:
- Capital Social
- Reservas de Capital
- Ajustes de Avaliação Patrimonial
- Reservas de Lucro
- Lucros (ou Prejuízos) Acumulados
Fonte: Iudícibus (2010)
Como mencionado, esta estrutura na forma disposta mostra-se limitada para uma análise
dinâmica da situação econômico-financeira das empresas, tendo em vista que esta análise
requer uma classificação das contas de acordo com o seu conteúdo, sua funcionalidade,
relativamente às atividades desenvolvidas pela empresa, daí Brasil e Brasil (1997, p.5) defini-
las em três grupos de contas: as estratégicas, aquelas que estão vinculadas à alta administração
da empresa; as operacionais, que guardam relação com as atividades da empresa, como será
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exposto a seguir; e, as táticas que representam aquelas de curto e curtíssimo prazo, geralmente
a cargo da tesouraria da empresa.
Com essa nova definição a estrutura mostrada no quadro 2 passa a ser representada da
seguinte maneira no quadro 2:
Quadro 2 - Estrutura do balanço patrimonial – classificação funcional
Tático
Tático
Operacional
Operacional
Estratégico
Estratégico
Fonte: Brasil e Brasil (1997)
Assaf Neto (2007) expõe que “pode-se definir como cíclico todos os elementos patrimoniais
diretamente vinculados ao ciclo operacional da empresa. Qualquer alteração que venha a
ocorrer em seu volume de atividade (produção e vendas), ou em seus prazos operacionais,
afeta diretamente o montante dos ativos e passivos cíclicos.”.
Salientam Fleuriet, Kehdy e Blanc (1980, p.13) que algumas contas, quando analisadas
isoladamente ou em relação ao conjunto de outras contas, apresentam movimentação tão lenta
que podem ser consideradas como "permanentes ou não-cíclicas" (realizável a longo prazo;
investimentos; reserva de lucros, etc.). Outras, em contrapartida, apresentam movimento
"contínuo e cíclico", bem de acordo com o ciclo operacional da empresa (estoques; clientes;
fornecedores; etc.). Finalmente, existem as que não estão relacionadas diretamente ao ciclo
operacional, essas contas apresentam movimento “descontínuo ou errático" (disponível;
títulos negociáveis; duplicatas descontadas, etc.).
Diante dessas novas conceituações, o balanço patrimonial fica estruturado conforme Quadro
3.
Quadro 3 - Balanço patrimonial adaptado do Modelo Fleuriet
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A T I V O P A S S I V O + P L
Circulante Circulante
Financeiro (errático) (ACF) Financeiro (errático) (PCF)
Operacional (cíclico) (ACC) Operacional (cíclico) (PCC)
Fonte: Fleuriet, Kehdy e Blanc (1980)
Na definição financeira clássica, o Capital de Giro Líquido, ou simplesmente Capital de Giro
(CDG), ou Capital Circulante Líquido (CCL), define-se como: CDG = ativo circulante –
passivo circulante. Conforme Fleuriet, “o capital de giro é um conceito econômico-financeiro
e não uma definição legal, constituindo uma fonte de fundos permanente utilizada para
financiar a Necessidade de Capital de Giro da empresa” (FLEURIET; KEHDY; BLANC,
1980, p. 18).
Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (1980, p. 14), “quando, no ciclo financeiro, as saídas de
caixa ocorrem antes das entradas de caixa, a operação da empresa cria uma necessidade de
aplicação permanente de fundos, que se evidencia no balanço por uma diferença positiva entre
o valor das contas cíclicas do ativo e das contas do passivo.” Essa diferença entre as contas
cíclicas do ativo e do passivo é o que se definiu como Necessidade de Capital de Giro (NCG)
definida pela expressão: NCG = ativo cíclico (ACC) – passivo cíclico (PCC).
Da diferença entre as demais contas (não cíclicas) do ativo e do passivo circulantes, ou seja,
entre o ativo e passivo errático, decorre o conceito de Saldo de Tesouraria ou Tesouraria (T),
definido pela expressão: T = ativo errático (ACF) – passivo errático (PCF). (FLEURIET;
KEHDY; BLANC, 1980).
Considerando que o CDG = Ativo Circulante (AC) – Passivo Circulante (PC) e que o Ativo e
o Passivo Circulantes podem ser desdobrados pelos grupos de contas cíclicas e de financeiras,
tem-se: CDG = (ACC + ACF) – (PCC + PCF) que equivale a CDG = ACC + ACF – PCC –
PCF, reagrupando obtém-se:
CDG = (ACC – PCC) + (ACF – PCF), ou seja: CDG = NCG + T, o que permite expressar a
variável Tesouraria como a diferença entre o Capital de Giro e a Necessidade de Capital de
Giro: T = CDG – NCG.
2.1.3.2 A Relação entre a Necessidade de Capital de Giro (NCG) e a Atividade
Econômica da Empresa.
Como mencionado anteriormente, a Necessidade de Capital de Giro é função do nível de
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atividade de uma empresa. Seu aumento tanto pode ocorrer em períodos de rápido
crescimento como também em períodos de queda nas vendas. Quando a empresa experimenta
um rápido crescimento de suas vendas, a Necessidade de Capital de Giro pode crescer
proporcionalmente mais que o autofinanciamento, sendo necessário, neste caso, fontes
externas de recursos até que se alcance um novo equilíbrio econômico-financeiro. Do
contrário, o Saldo de Tesouraria se tornará cada vez mais negativo, evoluindo para o que
Fleuriet denominou "efeito tesoura" (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 1980, p. 46). Ressalta
ainda que, de modo geral, o “efeito tesoura” ocorre quando estão presentes as seguintes
condições:
As vendas da empresa crescem a taxas anuais elevadas.
A relação ΔNCG/Vendas mantém-se, substancialmente, mais elevada do que a relação
Autofinanciamento/Vendas, durante o período de crescimento das vendas. Considera-
se que ambas as relações sejam positivas.
Durante o período de crescimento das vendas, as fontes externas, que aumentam o
Capital de Giro, são utilizadas somente para novos investimentos em bens do ativo
permanente que, por sua vez, diminuem o Capital de Giro.
Somam a essas condições, as seguintes apontadas por Brasil e Brasil (1997, p. 60):
endividamento de perfil de retorno inadequado; imobilização excessiva; prejuízos e
distribuição excessiva de dividendos.
Do exposto, decorre que “o autofinanciamento da empresa deve ser suficiente para financiar,
pelo menos, os aumentos de sua necessidade de capital de giro (NCG)”, concluem Fleuriet,
Kehdy e Blanc (1980, p. 50).
Para saber se uma empresa corre o risco de entrar sob “efeito tesoura” é preciso conhecer
(FLEURIET; KEHDY; BLANC, 1980, p. 52):
Seu ciclo financeiro.
Sua taxa de autofinanciamento corrente em porcentagem do faturamento.
Como expressado, a Necessidade de Capital de Giro é função do nível de atividade da
empresa, especificamente, proporcional às vendas, desde que seu ciclo financeiro permaneça
constante.
3 METODOLOGIA
Este capítulo destina-se a apresentar o tipo e as técnicas de pesquisa, a definição
das variáveis pesquisadas, a população e amostra utilizadas, a forma como foi
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realizada a coleta e tratamento dos dados estatísticos, as hipóteses de pesquisa e
suas limitações.
3.1 Classificação
Conforme a sua natureza, essa referida pesquisa é descritiva, explicativa e quantitativa.
Segundo Gil (1995, p. 45) as pesquisas descritivas “tem como objetivo primordial a descrição
das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações
entre variáveis.”. Neste trabalho procura-se a associação entre variáveis sendo a variável
dependente, a possibilidade de ter ou não irregularidades tributárias, e as variáveis
independentes, indicadores contábil-financeiros, e corroborando com esta idéia, Richardson
(2009 p. 70) cita que “é freqüentemente aplicado nos estudos descritivos, naqueles que
provocam descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como nos que investigam a
relação entre variáveis, bem como nos que investigam a relação de causalidade entre
fenômenos”.
Desta forma, esta pesquisa não é apenas descritiva, mas também explicativa, pois de acordo
com Gil (1995) quando se pretende determinar uma relação entre as variáveis, a pesquisa
descritiva se aproxima da explicativa, desta forma, Gil (1995, p. 46) define que pesquisas
explicativas “são aquelas pesquisas que têm como preocupação central identificar os fatores
que determinam ou contribuem para ocorrência dos fenômenos” e continua: “uma pesquisa
explicativa pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a identificação dos fatores
que determinam um fenômeno exige que este esteja suficientemente descrito e detalhado.”
E para atender aos objetivos desta pesquisa, faz-se necessário a utilização de pesquisa
quantitativa, que segundo Martins e Theóphilo (2009 p. 107), as pesquisas quantitativas “são
aquelas em que os dados e as evidências coletados podem ser quantificados, mensurados” e
enfatiza que “os dados são filtrados, organizados e tabulados, enfim, preparados para serem
submetidos a técnicas e/ou testes estatístico”. Neste trabalho, conforme descritos nos
objetivos, os dados estudados serão preparados, tabulados e aplicado um modelo estatístico,
regressão logística, o que caracteriza plenamente a pesquisa quantitativa, ainda reforçando o
entendimento, Richardson (2009 p. 70) cita que “o método quantitativo, como o próprio nome
indica, caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de
informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas”.
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3.2 Universo e Amostra
A população de pesquisa foi constituída junto ao cadastro de contribuintes do Estado de
Minas Gerais, sendo classificadas como aptas as empresas que dispunham de escrita contábil
regular com informações contábeis disponíveis e que pertençam a carteira de empresas
sujeitas a acompanhamento e monitoramento fiscal pelos auditores fiscais do Estado de Minas
Gerais. A população total que compõe este grupo de empresas totaliza 8.633 empresas.
O processo de amostra foi não probabilístico e de acordo com Richardson (2009) o tipo de
amostra utilizada foi a intencional ou de seleção racional.
Segundo Martins e Theóphilo (2009) na amostragem intencional “é escolhido
intencionalmente um grupo de elementos que irão compor a amostra. O investigador se dirige,
intencionalmente, a grupos de elementos dos quais se deseja opinião”.
A escolha da amostra ocorreu na condição de que a empresa tenha escrita contábil e que tenha
passado por um processo de verificação fiscal, pois para validação da pesquisa, faz-se
necessário a constatação efetiva da ocorrência do procedimento fiscal para apuração de
irregularidade tributária nos grupos de curto prazo.
Com base neste entendimento, a pesquisa foi feita na base de dados de autuações do Conselho
de Contribuintes de Minas Gerais e nas denúncias espontâneas protocoladas nas delegacias
fiscais de Minas Gerais sendo selecionadas trinta e uma empresas que se submeteram aos
procedimentos fiscais com o uso da contabilidade e que apresentaram irregularidades nas
contas de curto prazo.
Completando a base de dados desta pesquisa, foram utilizadas as informações contábeis de
vinte e uma empresas, Contribuintes de Minas Gerais, que sofreram procedimentos fiscais e
não foram encontrados irregularidades nas contas de curto prazo para buscar, de forma
comparativa, as divergências possíveis entre seus indicadores contábil-financeiros.
Observa-se a necessidade de aplicar os procedimentos de auditoria nas demonstrações
contábeis para que possa validar a eficácia da análise e, sendo que, para o desenvolvimento do
trabalho fiscal faz-se necessário uma programação da administração tributária da SEF/MG
que se manifesta por meio de ordem de serviço onde prevê todas as atividades a serem
desenvolvidas pelo Auditor Fiscal.
Mediante a isso, apesar de termos uma população de 8.633 empresas que são monitoradas
pelo corpo fiscal da SEF/MG, apenas parte dessas empresas foram auditadas e uma pequena
proporção utilizou a contabilidade como material fonte na elaboração e constatação do ilícito
tributário.
16
Dessa forma essa limitação não permite uma escolha livre ou aleatória, pois devido à
necessidade essencial de auditar a empresa, ficamos limitados à escolha de empresas que já
tiveram suas auditorias fiscais efetuadas.
3.3 Coleta de Dados
Os dados foram coletados junto à administração tributária do Estado de Minas Gerais,
especificamente junto ao Conselho de Contribuintes de Minas Gerais e das Delegacias
Fiscais, no período de 2005 a 2009, referentes a trabalhos com resultado em que a exigência
de saldo credor da conta caixa foi constatada.
Com essas informações, busca-se a aplicação de determinados indicadores econômico-
financeiros que de acordo com Assaf Neto (2007, p. 62) enfatiza que estes indicadores
procuram relacionar elementos afins das demonstrações contábeis de forma a melhor extrair
conclusões sobre a situação da empresa.
Com este entendimento, utiliza-se determinados indicadores com uma abordagem de análise
sistematizada, ou seja, adota-se uma análise específica com a utilização dos seguintes
indicadores:
Capital Circulante Líquido (CCL)
Liquidez Corrente (LC)
Liquidez Seca (LS),
Liquidez Imediata (LI)
Rotação dos Estoques
Rotação de Clientes
Rotação de Pagamentos
Necessidade de Capital de Giro (NCG)
Ressalta-se que no caso dos indicadores CCL e NCG foram divididos pelo ativo total (AT)
para se tornarem valores relativos e os indicadores de rotatividade: PMRE, PMRC e PMRP
foram consolidados e utilizados no cálculo do Ciclo Financeiro (CF) que será utilizado como
uma das variáveis de análise, sendo o mesmo conhecido pela seguinte fórmula:
CF = PMRE + PMRC - PMRF
A escolha destes indicadores foi motivada pelo fato de que estes índices são, em suas relações
e as interpretações, envolvem grupos de curto prazo, quer no ativo como no passivo. Ou seja,
os indicadores acima avaliam as situações econômicas e financeiras das contas de curto prazo
17
e considerando que no ativo circulante encontram-se a origens dos recursos utilizados nos
pagamentos de tributos onde, também, se encontram as mais diversas fraudes fiscais.
3.4 Instrumentos de Análise dos Resultados
Nesta fase e com o auxílio do software SPSS 18.0 explica-se a avaliação dos dados
produzidos pela aplicação das fórmulas relativas aos indicadores nos demonstrativos
contábeis das empresas utilizadas na pesquisa.
3.4.1 Teste de Diferença de Média
Inicialmente esta pesquisa identificou dois grupos de empresas. Um grupo formado por
entidades que sofreram um processo de verificação fiscal e que foi concluído sem a
constatação de irregularidade tributária de curto prazo que totalizou em 21 empresas e no
outro grupo refere-se às empresas com a ocorrência de infringência tributária no grupo de
curto prazo que totalizou 31 empresas.
Esta pesquisa se utilizou do “Teste de Hipóteses” e segundo Fávero et al (2009, p.110)” O
objetivo do teste de hipótese é fornecer um método que permita verificar se os dados
amostrais trazem evidências que apoiam ou não uma hipótese formulada.”.
Continua Fávero et al (2009, p.110), “Quando os testes assumem premissas sobre a
distribuição de parâmetros da população, são denominados testes paramétricos.
Os testes paramétricos analisam suposições sobre parâmetros populacionais, tais como média
e a normalidade da distribuição e para avaliar a normalidade foi utilizado o teste de Shapiro-
Wilk (FÁVERO et al, 2009).
O teste de Shapiro-Wilk testa se uma variável possui ou não uma distribuição normal e para
tanto, o teste considera a hipótese nula a amostra que provem de uma população normal e a
hipótese alternativa a amostra que não provém de uma população normal, ainda, admite o
nível de significância de 5% e de acordo com o resultado a amostra será considerada como
uma distribuição normal ou não (FÁVERO et al, 2009).
Com a rejeição da amostra para uma distribuição normal, a amostra foi submetida a testes
não-Paramétricos que são uma alternativa aos testes paramétricos quando as condições de
aplicações destes não se verificam (FÁVERO et al, 2009).
O teste não-paramétrico utilizado nesta pesquisa foi o de Mann-Whitney, que segundo Fávero
et al (2009, p. 163) o teste tem característica voltada para duas amostras independentes em
18
que a variável deve ter medida em escala ordinal ou quantitativa e a mediada que o tamanho
da amostra cresce a distribuição de Mann-Whitney aproxima-se de uma distribuição normal
padrão.
Com a utilização do software SPSS versão de número 18 é possível avaliar as variáveis com
base no teste Mann-Whitney.
3.4.2 Regressão Logística
Este trabalho utilizou a regressão logística para avaliar a possibilidade de conhecer os
indicadores contábil-financeiros que tenham a melhor possibilidade de auxiliar a
Administração Fazendária de Minas Gerais na seleção de contribuintes com possibilidade de
irregularidades fiscais usando como base das informações a análise dos dados contábeis.
No modelo logístico, usamos os valores de uma série de variáveis independentes para predizer
a ocorrência de irregularidades (variável dependente). Como usamos uma série de variáveis
independentes, trata-se de um problema multivariável.
Os modelos de regressão acabam por estabelecer a relação entre uma variável, respondendo,
assim, a uma ou mais variáveis totalmente independentes ou explanatórias.
Em relação à Regressão Logística a variável dependente se demonstra como uma resposta
discreta, sendo que se apresenta como binária.
Segundo Fávero et al (2009, p. 440): “A regressão logística é uma técnica estatística
utilizada para descrever o comportamento entre uma variável dependente binária e variáveis
independentes métricas ou não métricas”
A Regressão Logística acaba sendo usada para descrever a relação entre a ocorrência ou não
de um evento de interesse, bem como, um conjunto de variáveis explanatórias e conforme
Fávero et al (2009, p. 440): “[...] destina-se a investigar o efeito das variáveis pelas quais os
indivíduos, objetos ou sujeitos estão expostos sobre a probabilidade de ocorrência de
determinado evento de interesse”
Desta forma, conforme Fávero et al (2009, p.440) “[...] a popularidade desta técnica advém
não apenas da possibilidade de prever a ocorrência de eventos de interesse, mas também da
capacidade de apresentar a probabilidade de sua ocorrência, [...]”
Concluindo, a Regressão Logística destina a verificar a probabilidade de ocorrência de um
evento e a identificar as características dos elementos de cada grupo determinado pela
variável categórica. (FÁVERO et al , 2009, p. 441).
19
4 ANÁLISES DOS RESULTADOS
4.1 Análise Estatística
A proposta deste capítulo é analisar os resultados obtidos na aplicação dos testes realizados no
modelo explicitado no capítulo anterior, interpretando seus significados sob a ótica da
literatura pertinente e demonstrando sua adequação aos objetivos inicialmente traçados.
Na sequência das análises das variáveis, aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk e os resultados
estão listados no quadro 4.
Observa-se que na coluna Sig. (nível de significância) e para base de análise considera-se a
amostra paramétrica ou que a distribuição é normal, quando os valores nas duas situações, “0”
ou “1” sejam, concomitantemente, superior a 0,05. Neste caso, conclui-se que a hipótese nula
é rejeitada, pois em nenhuma das situações ocorreu à condição possível para enquadrá-la
como uma amostra paramétrica, ou seja, observa-se que há normalidade da amostra apenas
para a SIT = 0 dos indicadores CCL e NCG, pois são superiores a 0,05, para os demais esta
suposição não se aplica o que impossibilita a aplicação deste teste..
Assim sendo, fez-se os testes para amostras não paramétricas, que no caso desta pesquisa foi
adotado o teste de Mann-Whitney.
Quadro 4 – Teste de Normalidade
SIT Shapiro-Wilk
Statistic df Sig.
CCL 0 ,972 21 ,770
1 ,883 31 ,003
NCG 0 ,913 21 ,063
1 ,594 31 ,000
CF 0 ,859 21 ,006
1 ,609 31 ,000
LC 0 ,752 21 ,000
1 ,643 31 ,000
LI 0 ,732 21 ,000
1 ,770 31 ,000
LS 0 ,693 21 ,000
1 ,844 31 ,000
20
Quadro 5 - Hipóteses – Sumário dos Testes
O quadro 5 acima apresenta os resultados dos testes segundo a metodologia de análise de
Mann-Whitney.
Quando o p-valor do teste (coluna sig.) é maior do que o nível de significância (5%) se aceita
a H0 de que as médias dos dois grupos são iguais. Para p-valores inferiores a 5% pode-se
rejeitar esse H0.
Logo, observa-se que para as variáveis CCl, NCG e LI tem-se que as diferenças nos valores
médios não são estatisticamente significativos, ou seja, a média dessas variáveis são iguais
nos dois grupos.
Porém, para os indicadores CF, LC e LS observa-se diferenças estatísticas significativas entre
os grupos analisados. Isso quer dizer que essas variáveis são relevantes na análise de fraudes
fiscais, segundo o teste de diferenças de média Mann-Whitney.
Em continuidade aos testes, iniciou-se a tabulação dos dados para aplicação da regressão
logística, o quadro 6 mostra os resultados dos parâmetros estimados. Na coluna Sig. observa-
21
se a significância das variáveis. Neste caso em questão, observa-se que as variáveis CCL, CF,
LI e NCG não apresentaram significância para o modelo, pois os p-valores são maiores que o
nível de significância de 5%.
Quadro 6 1 – Resultado do Modelo
B S.E. Wald df Sig. Exp(B)
95% C.I.for EXP(B)
Lower Upper
Step 1a CCL 15,667 8,323 3,543 1 ,060 6371234,677 ,524 7,743E13
NCG -10,519 6,598 2,541 1 ,111 ,000 ,000 11,175
CF -,004 ,005 ,494 1 ,482 ,997 ,987 1,006
LC 1,353 ,697 3,762 1 ,052 3,868 ,986 15,173
LI 4,123 3,116 1,752 1 ,186 61,765 ,138 27712,663
LS -14,381 5,957 5,828 1 ,016 ,000 ,000 ,067
Const 9,083 4,066 4,991 1 ,025 8803,688
a. Variable(s) entered on step 1: CCL, NCG, CF, LC, LI, LS.
Com base no resultado anterior em que se verificou a pouca significância das variáveis CF, LI
e NCG, foi retirado do modelo a variável CF (menos significativa)
No quadro 7 abaixo ocorreram algumas alterações que merecem destaques:
No caso da variável CCL e NCG observa-se que as mesmas aproximaram-se de ser
considerada significante. O que se conclui que a retirada da variável CF, melhorou a
performance do modelo. Ainda assim, verifica-se que a variável LI está muito distante de ser
considerada significante.
Quadro 7 – Resultado do Modelo
22
B S.E. Wald df Sig. Exp(B)
95% C.I.for EXP(B)
Lower Upper
Step 1a CCL 16,978 8,875 3,659 1 ,056 2,362E7 ,658 8,472E14
NCG -11,933 6,900 2,991 1 ,084 ,000 ,000 4,907
LC 1,521 ,708 4,608 1 ,032 4,576 1,141 18,341
LI 4,035 2,719 2,203 1 ,138 56,542 ,274 11655,061
LS -15,611 6,092 6,567 1 ,010 ,000 ,000 ,025
Constant 9,699 4,246 5,219 1 ,022 16307,836
a. Variable(s) entered on step 1: CCL, NCG, LC, LI, LS.
Com a verificação do progresso do primeiro modelo para o segundo modelo, foi retirado a
variável LI e constatou-se o seguinte:
No quadro 8, o SPSS apresenta a importância das variáveis do modelo, ou seja, todas as
variáveis foram consideradas importantes, pois na coluna sig., os valores ficaram abaixo de
5%, demonstrando, assim, que todas a variáveis são relevantes.
Quadro 2– Importância Relativa das Variáveis Independentes
Score df Sig.Step 0 Variables CCL 4,922 1 0,027
NCG 2,679 1 0,102
LC 5,818 1 0,016
LS 14,369 1 0
Overall Statistics 22,854 4 0
Quadro 9 – Tabela de Classificação
Observed Predicted
SIT Percentage
Correct0 1
Step 1 SIT 0 20 1 95,2
1 2 29 93,5
Overall Percentage 94,2
a. The cut value is ,600
No quadro acima, verifica-se que o percentual de acerto das empresas com irregularidades,
com a aplicação deste modelo é de 93.5% e o percentual global é de 94,2%, o que se
apresenta como um excelente nível de acerto.
23
O que se pode concluir que para o grupo de irregularidades que inicialmente tínhamos um
percentual de acerto por volta dos 60% foi aumentado em 33,5% o que possibilita uma maior
possibilidade de detecção de empresas com situação irregular.
Com relação a SIT = 0, ou seja, empresas em situação regular, verifica-se que há um
acréscimo dos aproximados 40% iniciais de possibilidade de acerto para 95,2%, o que
aumentaria a possibilidade de seleção mais criteriosa.
Com relação à significância das variáveis, observa-se no quadro 25, que as quatro variáveis
utilizadas foram consideradas significativas, pois na coluna sig. todas ficaram abaixo de 0,05.
Desta maneira o modelo a ser sugerido como forma possível de predição de irregularidades
fiscais será composto das seguintes variáveis:
CCL;
NCG;
LC;
LS.
Neste sentido, constatou-se que as variáveis acima ajudam a explicar se a empresa tem ou não
fraude fiscal no curto prazo relacionada com os seus demonstrativos contábeis, pois os
indicadores apresentam comportamentos diferentes, tanto para a situação de irregularidade
fiscal como para situação regular, sendo então favorável a sua utilização no planejamento
fiscal de seleção das empresas irregulares.
Quadro 10 – Resultado do Modelo
B S.E. Wald df Sig. Exp(B)
95% C.I.for EXP(B)
Lower Upper
Step 1a CCL 15,717 7,590 4,288 1 ,038 6694555,056 2,319 1,932E13
NCG -13,484 6,179 4,762 1 ,029 ,000 ,000 ,253
LC 1,782 ,721 6,111 1 ,013 5,940 1,446 24,392
LS -12,130 4,573 7,037 1 ,008 ,000 ,000 ,042
Constant 7,726 3,359 5,292 1 ,021 2267,241
a. Variable(s) entered on step 1: CCL, NCG, LC, LS.
5 CONCLUSÃO
Em virtude do recebimento das informações contábeis por ocasião da implementação do
SPED contábil, a Administração Fazendária de Minas Gerais encontra-se de posse de uma
gama de informações que necessitam serem trabalhadas para que a mesma possa auxiliar no
24
processo de tomada de decisão do corpo gerencial da SEF/MG com o objetivo de selecionar,
dentro da sua população de empresas que são controladas, entidades com possibilidade de
irregularidades fiscais.
Dessa forma, este estudo objetivou analisar e propor alguns indicadores financeiros que
possibilitem a administração da SEF/MG, identificar e selecionar empresas com possibilidade
de fraudes fiscais de curto prazo.
Ficou também esclarecido na revisão bibliográfica que este estudo focou nos indicadores de
liquidez e de rotatividade e, também, ampliação do conhecimento com o modelo dinâmico de
Fleuriet.
Conhecido os indicadores aplicou-se o teste estatístico de Shapiro-Wilk para verificar a
normalização das variáveis e após constatar que as mesmas não eram normais, utilizou-se o
teste Mann-Whitney, método não-paramétrico, que avaliou a eficácia das variáveis no
desenvolvimento do modelo, sendo, portanto com base nesta análise rejeitado os indicadores
CCL, NCG e LI, pois as médias destes indicadores não apresentavam diferenças para cada
situação (regularidade ou irregularidade). Assim sendo, as variáveis CF, LC e LS foram
aceitas pelo teste Mann-Whitney, indicando que estas são relevantes na análise de fraudes
fiscais.
Finalmente aplicou-se a regressão logística que após alguns ajustes, mostrou que o uso de
determinados indicadores financeiros aumentaria de 40% para 94,2% de possibilidade de
identificação de empresas com irregularidades fiscais.
Nesta modelo inicialmente utilizou-se de todas as variáveis, mas o resultado não se mostrou
significativo, pois alguns indicadores não apresentavam significância estatística. Após a
retirada dos indicadores CF e LI, o modelo apresentou um resultado satisfatório e com os
indicadores CCL, NCG, LC e LS são possíveis a SEF/MG aplicá-los em sua base de dados
contábeis e com o resultado selecionar as empresas com possíveis irregularidades e
encaminhá-las para o planejamento da ação fiscal.
Observou-se que tanto no teste de Mann-Whitney como no teste de regressão logística as
variáveis LC e LS foram consideradas significativas na possibilidade de identificação de
irregularidades fiscais.
Desta forma, este estudo contribuirá de forma positiva e inovadora na SEF/MG, pois com
aplicação deste modelo possibilitará ao corpo gerencial uma metodologia de seleção com base
nos demonstrativos contábeis.
25
Ainda nesta linha de raciocínio, esta metodologia de análise poderá ser disponibilizada para as
demais unidades da federação com o intuito de detectar irregularidades fiscais com base na
escrita contábil.
Finalmente cabe salientar que a presente dissertação não esgota o assunto. Há outros estudos
que podem aperfeiçoar o foi efetuado. Em especial, recomenda-se que a metodologia aplicada
nesta pesquisa se estenda para uma amostra maior e com a ampliação do uso de outros
indicadores o que possibilitaria uma maior eficácia e até mesmo uma abrangência maior das
irregularidades fiscais detectáveis.
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