o processo do trabalho - novo cpc - instrução normativa nº ... · processual comum será fonte...
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O Processo do Trabalho - Novo
CPC - Instrução Normativa Nº 39
do TST
CARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE
Doutor e Mestre em Direito (PUC/SP)
Professor de Direito Processual do Trabalho e Direitos Humanos Sociais
Metaindividuais (FDV)
Desembargador do TRT da 17ª Região/ES
Titular da Cadeira 44 da Academia Brasileira de Direito do Trabalho
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO PROCESSO
O Processo passa a ser interpretado, ordenado e aplicado com
base nos:
•Valores, princípios e objetivos fundamentais (CF, arts. 1º, 3º e 4º);
•Princípios de acesso à justiça insculpidos no Título II (“Dos Direitos
e Garantias Fundamentais”), Capítulo I (“Dos Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos”), especialmente os princípios da
inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV), devido processo
legal (LIV), ampla defesa e contraditório (LV), da duração razoável
do processo (LXXVIII) e fundamentação das decisões (CF, art. 93,
IX).
•NOVOS DEVERES DO JUIZ:
Adotar Método Hermenêutico Concretizador (Konrd
Hesse) = Força Normativa da CF (Princípios, Valores e Regras
Constitucionais)
Interpretar a lei conforme a Constituição
Declarar a inconstitucionalidade da lei sem redução de
texto
Suprir omissão legal que impeça a realização de direitos
fundamentais (declaração de inconstituionalidade por omissão
incidenter tantum)
Decidir diante de colisão de direitos e princípios
fundamentais
Hermenêutica do Novo CPC
Art. 1º - O processo civil será ordenado,disciplinado e interpretado conforme os valores eos princípios fundamentais estabelecidos naConstituição da República Federativa do Brasil,observando-se as disposições deste Código.
O Novo CPC adota como premissa ideológica oparadigma do Estado Democrático de Direito ecomo inspiração hermenêutica o pós-positivismo,que “não mais se reduz a regras legais, senão,e, principalmente, compõe-se de princípiosmaiores que representam o centro de gravidadede todo o sistema jurídico” (LUIZ FUX)
Heterointegração dos microsssistemas
processuais por meio dos princípios
Art. 8º do Novo CPC:
Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos
fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Dever do Juiz: promover o diálogo das fontes entre o
Direito Processual (civil, trabalhista, administrativo e
tributário), o Direito Constitucional, os Direitos Humanos
(ou Fundamentais) em todas as suas dimensões, o
Direito Administrativo, o Direito Civil (direitos da
personalidade), o Direito do Trabalho etc.
Aplicação do Novo CPC no Processo Do Trabalho
Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos
eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições
deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.
• Novo CPC não apenas subsidiará a legislação
processual trabalhista como também a complementará,
• reconhecimento das lacunas ontológicas e
axiológicas do processo trabalhista
• necessidade de adequação da CLT, “outorgada”
(Decreto-Lei) num Estado Social, porém, ditatorial, ao
paradigma do Estado Democrático de Direito, no qual é
“promulgado” e “ambientado” o novel CPC.
Aplicação do Novo CPC no Processo Do Trabalho
“Art. 769 da CLT: Nos casos omissos, o direito
processual comum será fonte subsidiária do direito
processual do trabalho, exceto naquilo em que for
incompatível com as normas deste Título”.
O art. 15 do Novo CPC deverá ser interpretado sistemática
e teleologicamente com o art. 769 da CLT.
Ambos, porém, devem estar em harmonia com os
princípios, regras e valores que fundamentam o Estado
Democrático de Direito, isto é, DEVEM SER
INTERPRETADOS CONFORME A CF.
IN 39/2016: Art. 1° Aplica-se o NCPC, subsidiária e
supletivamente, ao Processo do Trabalho, em caso de omissão e
compatibilidade com o Direito Processual do Trabalho
Normas do Novo CPC aplicáveis no
Processo Do Trabalho
Por força da interpretação sistemática dos arts. 769 da CLT
e 15 do Novo CPC, algumas normas do processo civil
poderão ser aplicadas supletiva e subsidiariamente,
desde que:
• exista lacuna (normativa, ontológica ou axiológica) da
legislação processual trabalhista;
e
• a norma migrada seja compatível com a principiologia
protetiva que informa e fundamenta o processo laboral
(nas ações oriundas da relação de emprego e relação de
trabalho avulso).
Normas de aplicação duvidosano Processo do Trabalho
Terá aplicação duvidosa a NORMA do Novo CPC:
• Que diante da lacuna (normativa, ontológica ou axiológica) da
CLT, apresentar dificuldade de compatibilização com os
princípios constitucionais e infraconstitucionais do processo
laboral.
• Nas ações oriundas da relação de trabalho que passaram
para a competência da Justiça do Trabalho (CF, art. 114), pois a
CLT, pode, no caso concreto, ser menos benéfica do que o
Novo CPC no que concerne ao procedimento e à aplicação dos
princípios constitucionais do processo, especialmente os que
propiciam tutela jurisdicional mais efetiva, adequada e
tempestiva na realização dos direitos fundamentais.
É inconstitucional porque:
a) viola o princípio da separação dos poderes (CF 2º);
b) compete à União legislar sobre direito processual (CF 22,
I);
c) viola o princípio da inafastabilidade do acesso à justiça (CF
5º, XXXV);
d) usurpa a competência do juiz natural (CF 5º, XXXVII- Não
haverá juízo ou tribunal de exceção; LIII- Ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente);
e) a competência do TST há de estar prevista em lei (CF 111-
A).
IN 39/2016 DO TST
É também ilegal porque:
a) viola o princípio da inércia da jurisdição (NCPC art. 2º
- “Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão
quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e
forma legais”;
b) no sistema dos precedentes adotado pelo Novo CPC, é
preciso existir divergência interpretativa de normas
em casos concretos para que o TST possa, se
provocado, uniformizar a jurisprudência.
A Anamatra ajuizou ADI 5516.
IN TST 39/2016
É mera orientação, sem efeitos vinculantes?!?!
Mas o art. 927, V, do NCPC dispõe:
• Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:• ........• V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos
quais estiverem vinculados.
Felizmente, o Ministro-Corregedor da JT
informou que não abrirá PAD para o Juiz ou
Desembargador que não cumprir a IN 39
INSTRUÇÃO NORMATIVA TST 39/2016
Normas do NCPC INAPLICÁVEIS ao Processo do Trabalho
IN 39/2016 TST, art. 2º:
I - art. 63 (modificação da competência territorial e eleição de foro);
II - art. 190 e parágrafo único (negociação processual);
III - art. 219 (contagem de prazos em dias úteis);
IV - art. 334 (audiência de conciliação ou de mediação);
V - art. 335 (prazo para contestação);
VI - art. 362, III (adiamento da audiência em razão de atraso injustificado
superior a 30 minutos);
VII - art. 373, §§ 3º e 4º (distribuição diversa do ônus da prova por
convenção das partes);
Normas do NCPC INAPLICÁVEIS ao Processo do Trabalho
IN 39/2016 TST, art. 2º:
(...)
VIII - arts. 921, §§ 4º e 5º, e 924, V (prescrição intercorrente);
IX - art. 942 e parágrafos (prosseguimento de julgamento não unânime
de apelação);
X - art. 944 (notas taquigráficas para substituir acórdão);
XI - art. 1010, § 3º (desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de
admissibilidade na apelação);
XII - arts. 1043 e 1044 (embargos de divergência);
XIII - art. 1070 (prazo para interposição de agravo).
Normas do NCPC de aplicação duvidosano Processo do Trabalho
• Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas
as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de
sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial.
• (...) § 2º. Dispensa-se a instauração do incidente se a
desconsideração da personalidade jurídica for requerida na
petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a
pessoa jurídica.
• § 3º. A instauração do incidente suspenderá o processo,
salvo na hipótese do § 2o.
Normas do NCPC de aplicação duvidosa no Processo do Trabalho
• IN 39/2016: Art. 6° Aplica-se ao Processo do Trabalho o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica
regulado no CPC (arts. 133 a 137), assegurada a iniciativa
também do juiz do trabalho na fase de execução (CLT, art. 878).
• § 1º. Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o
incidente: I – na fase de cognição, não cabe recurso deimediato, na forma do art. 893, § 1º da CLT; II – na fase de
execução, cabe agravo de petição, independentemente de
garantia do juízo; III – cabe agravo interno se proferida pelo
Relator, em incidente instaurado originariamente no tribunal
(CPC, art. 932, inciso VI).
• § 2º. A instauração do incidente suspenderá o processo,
sem prejuízo de concessão da tutela de urgência de natureza
cautelar de que trata o art. 301 do CPC.
NCPC aplicação duvidosa no PT
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos
pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
§ 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a
existência de obrigação líquida ou ilíquida.
§ 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação
reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito,
independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa
interposto.
§ 3o Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado da decisão, a
execução será definitiva.
§ 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o
mérito poderão ser processados em autos suplementares, a
requerimento da parte ou a critério do juiz.
NCPC Normas Aplicáveis no PT
Art. 373. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito do autor.
§ 1º. Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de
cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de
obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da
prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada,
caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir
do ônus que lhe foi atribuído.
§ 2º. A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar situação em
que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou
excessivamente difícil.
Normas do NCPC de aplicaçãoduvidosa no PT
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
(...) II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões
de fato e de direito;
(...)§ 1o Não se considera fundamentada qualquer
decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a
questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar
o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão;
Normas do NCPC de aplicação duvidosano PT
... Art. 489...
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula,
sem identificar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.
Normas do NCPC de aplicação duvidosano PT
... Art. 489...
§ 2o No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o
objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada,
enunciando as razões que autorizam a interferência na
norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a
conclusão.
§ 3o A decisão judicial deve ser interpretada a partir da
conjugação de todos os seus elementos e em
conformidade com o princípio da boa-fé.
Conclusão
Não defendemos a aplicação desmedida e automáticadas normas (princípios e regras) do Novo CPC nossítios do processo do trabalho, especialmente nasações oriundas da relação de emprego, e sim apromoção de um diálogo franco e virtuoso entreestes dois importantes microssistemas do edifíciojurídico.
Diálogo que passe, necessariamente, pela funçãoprecípua de ambos os processos (civil e trabalhista):realizar os direitos fundamentais e a justiça socialem nosso País, de forma adequada, tempestiva eefetiva.
MUITO OBRIGADO!
www.carloshenriquebezerraleite.com
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