o ministÉrio pÚblico do estado do paranÁ , por sua ... · aÇÃo civil pÚblica ambiental com...
Post on 03-Dec-2018
215 Views
Preview:
TRANSCRIPT
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
1
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA
CÍVEL DA COMARCA DE GUAÍRA – PARANÁ.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO
PARANÁ, por sua Promotora de Justiça, no uso das atribuições que lhe
são conferidas pelo artigo 129, inciso III, da Constituição Federal e pelo
artigo 25, inciso IV, da Lei 8.625/93, vem respeitosamente perante Vossa
Excelência propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL
COM PEDIDO LIMINAR
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
2
em face de
da Prefeitura Municipal de Guaíra/PARANÁ,
pessoa jurídica de direito público interno, representado pelo
Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal, Sr. Fabian Vendruscolo, com
sede na Av. Coronel Otávio Tosta, bairro Centro, nº 126, Guaíra, Paraná,
pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor:
I – SÍNTESE FÁTICA
Em 12 de julho de 2013 representantes da
Prefeitura Municipal de Guaíra, juntamente com engenheiros,
compareceram na sede da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio
Ambiente de Guaíra, informando que há um projeto que visa a reforma
das calçadas próximas ao fórum da Comarca de Guaíra/PR, visando,
principalmente a acessibilidade dos deficientes físicos.
No projeto há a necessidade do corte de
aproximadamente 13 (treze) árvores nativas, da espécie Sibipiruna,
porém em decorrência de negligência por parte dos idealizadores do
projeto, não foi requerida junto ao IAP a competente autorização ou
licenciamento ambiental.
Após conversa nesta Promotoria do Meio
Ambiente, foi informado aos engenheiros e ao Procurador do Município
Wilson, que em razão da ausência de autorização do IAP, não seria
possível realizar o corte das árvores nativas, uma vez que na frente do
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
3
fórum existem 07 (sete) árvores nativas e em seu entorno há
aproximadamente 10 (árvores), sendo que a legislação ambiental permite
o corte de até 05 (árvores) nativas sem licenciamento ambiental, o que
não se enquadrava no presente projeto da Prefeitura.
Dessa forma e para garantir a acessibilidade dos
deficientes, o próprio engenheiro contratado pela Prefeitura sugeriu que
afastasse a grade do fórum, para que reformassem a calçada sem que
houvesse a necessidade de cortar as árvores, garantindo-se, assim, a
acessibilidade dos deficientes e preservando-se o meio ambiente.
Nesse contexto, em contato com o Diretor do
Fórum foi permitida a medida de afastar a grade, inclusive ficando em
harmonia com o passeio de fronte ao Banco do Brasil e Justiça Federal,
que preservaram as árvores e afastaram suas construções, exatamente
para dar acessibilidade aos deficientes e preservar o meio ambiente.
Todavia, apesar dos próprios representantes da
Prefeitura terem mencionado a possibilidade de afastarem a grade,
quando foi autorizada a medida, se recusaram e informaram que iriam
conseguir a autorização do IAP na segunda-feira para realizarem o corte
dessas árvores.
Ressalta-se que o processamento de uma
autorização do IAP para autorizar o corte de árvores nativas gira em torno
de 90 (noventa) dias.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
4
Em 15 de julho de 2013 (segunda-feira), a
Promotoria do Meio Ambiente flagrou servidores da Prefeitura Municipal,
sem autorização e ao arrepio da legislação ambiental, podando as árvores
localizadas na frente do fórum (Rua dos Bandeirantes, s/nº, Centro),
preparando-as para o corte.
Se não fosse pela pronta intervenção do Ministério
Público com apoio da Polícia Militar, as 07 (sete) árvores localizadas no
passeio em frente ao fórum da Comarca de Guaíra estariam devidamente
cortadas, sem autorização do IAP e em completo descaso e afronta à
legislação ambiental.
Além disso, constata-se várias irregularidades nos
cortes das árvores do Município de Guaíra, havendo inclusive denúncias
realizadas na Promotoria de Justiça, conforme se depreende do termo de
declarações de Marlene Jambersi (em anexo), que relatou que na Rua
Professor Galvoso, altura do numeral 1414, a Prefeitura teria podado
todas as árvores, da espécie mangueiras, até o tronco.
O Ministério Público, diante desta notícia, remeteu
o ofício nº 104/2013 (em anexo) requisitando informações em até 10
(dez) dias, para que o responsável explicasse os motivos da poda, bem
como eventual intervenção do IAP.
Cumpre ressaltar que, a espécie Magueira é
nativa, árvore frutífera da família “Anacardiaceae”, nativa do sul e do
sudeste asiáticos desde o leste da Índia até as Filipinas, e introduzida com
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
5
sucesso no Brasil, em Angola, em Moçambique e em outros países
tropicais, dependendo de autorização do IAP para o corte e poda.
Em relação às arvores na frente do fórum, são
nativas, da espécie sibipiruna (Caesalpinia pluviosa sin. C. peltophoroides;
Caesalpinioideae), também conhecida como sebipira, sendo uma árvore
de grande porte, nativa do Brasil, perenifólia, chegando a medir 28
metros de altura (normalmente entre 6-18m) com até 6 metros de
diâmetro da copa arredondada e muito vistosa. Dessa forma, por ser
árvore nativa, também seu corte fica restrito às hipóteses e autorização
do IAP.
As áreas verdes constituem regiões no meio
urbano, que também apresentam características distintas do seu entorno,
e se comportam como áreas que teriam dentre outras funções a
minimização das temperaturas do ar e das correntes de ventos, ajudariam
na dispersão dos poluentes na atmosfera e garantiriam uma melhor
qualidade de vida urbana para os habitantes.
Funções da arborização urbana e suas implicações
ecológicas e sociais1
1 Tabela elaborada pelo Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCAR).
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
6
Funções Implicações
Ecológicas
Implicações
Sociais
* Interceptação,
absorção e reflexão
de radiação
luminosa,
* Fotossíntese,
* Produção Primária
Líquida,
* Fluxo de energia.
* Manutenção do
equilíbrio dos ciclos
biogeoquímicos,
* Manutenção das
altas taxas de
evapotranspiração,
* Manutenção do micro
clima,
* Manutenção da
fauna.
* Conforto
térmico,
* Conforto lúmico,
* Conforto sonoro,
* Manutenção da
biomassa com
possibilidade de
integração da
comunidade local.
* Biofiltração. * Eliminação de
materiais tóxicos
particulados e gasosos
e sua incorporação nos
ciclos biogeoquímicos.
* Melhoria na
qualidade do ar da
água de
escoamento
superficial.
* Infiltração de água
pluvial.
* Redução do
escoamento superficial,
* Recarga de aquífero,
* Diminuição na
amplitude das
hidrógrafas.
* Prevenção de
inundações.
* Movimentos de
massas de ar.
* Manutenção do
clima.
* Conforto
térmico,
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
7
Difusão de gases
tóxicos e material
particulado do ar.
* Fluxo de
organismos entre
fragmentos rurais e
o meio urbano.
* Manutenção da
diversidade genética.
* Aumento na
riqueza da flora e
da fauna,
Realce na biofilia.
* Atenuação sonora. * Aspectos etológicos
da fauna.
* Conforto
acústico.
Os estudos de Milano2 (1988) mostram que
elementos climáticos como a intensidade de radiação solar, a
temperatura, a umidade relativa do ar, a circulação do ar, a velocidade do
vento entre outros, são afetados pelas condições de artificialidade do meio
urbano, e que a vegetação urbana apresenta um poderoso potencial na
melhoria da qualidade de vida, podendo diminuir a ação de poluentes
químicos, de poluição sonora, remover partículas e absorver gases
poluentes da atmosfera. Além desses aspectos, os benefícios ecológicos, a
importância sócio-econômica e a questão da estética, são fundamentais
para o bem estar das pessoas que vivem nos centros urbanos.
O processo de urbanização modifica o comportamento dos
elementos do clima (temperatura, umidade, vento e precipitações),
alterando com isso as condições de conforto térmico nas cidades. Em
2 MILANO, M. S. Avaliação quali-quantitativa e manejo da arborização urbana: exemplo de Maringá-PR. 1998. Tese (Doutor em Ciências Florestais) - Engenharia Florestal do Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
8
decorrência do acréscimo de carga térmica, a temperaturas nas cidades é
maior que na área rural circundante, ocorrendo o que se convencionou
chamar “ilha de calor”.
Logo, a qualidade do ar das cidades não depende somente
da quantidade de poluentes lançados pelas fontes emissoras, mas
também da forma como a atmosfera age no sentido de concentrá-los ou
dispersá-los.
Sendo assim e ante o dano ambiental ora constatado, bem
como a ausência de autorização do órgão ambiental competente, não
resta alternativa senão ingressar com a presente Ação Civil Pública.
II – DO DIREITO:
Buscando proteger a qualidade de vida, a
dignidade e bem-estar, a Constituição Federal de 1.988, pela primeira
vez na história da República Federativa do Brasil, dedicou um Capítulo
exclusivo ao meio ambiente, possibilitando ao Poder Público e à
coletividade os meios necessários para a tutela desse bem comum do
povo. Definindo princípios e regras a serem seguidos, dentre eles o
Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado e Essencial à
Sadia Qualidade de Vida, o caput do artigo 225 da Constituição Federal,
assim dispôs:
“Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
9
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”.
Ainda, além do dispositivo constitucional
supracitado, outros artigos do mesmo texto legal evidenciam a opção do
legislador em considerar a preservação do meio ambiente como um dos
pilares fundamentais da ordem constitucional, tais como:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípio:
(...)
VI – defesa do meio ambiente.(grifo nosso)
e
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada
pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais
fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem- estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal,
obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o
instrumento básico da política de desenvolvimento e de
expansão urbana.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
10
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando
atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor.
Além disso, o Código de Posturas do Munício de
Guaíra – PR (anexo), dispõe que:
Art. 77 No interesse do controle da poluição do ar,
do solo e água, o Poder Executivo Municipal poderá exigir parecer técnico
do órgão estadual competente, sempre que for solicitado alvará de
funcionamento para estabelecimentos industriais, ou quaisquer outros que
se figurem como potenciais modificadores do espaço territorial e do meio
ambiente do Município.
Art. 78 É vedado o corte, a derrubada ou a prática
de qualquer ação que possa provocar dano, alteração do desenvolvimento
natural ou morte de árvore em bem público ou em terreno particular,
obedecidas às disposições do Código Florestal Brasileiro.
Parágrafo único. As árvores isoladas nativas e
exóticas na área urbana poderão ter autorizado sua poda, corte ou
derrubada pelo órgão municipal de meio ambiente, desde que verificada a
necessidade de uso e ocupação do solo, além do risco, atendidas as
legislações municipal, estadual e federal pertinente.
(...)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
11
De acordo com o Instituto Ambiental do Paraná –
IAP: “O corte isolado em área urbana somente será permitido nas
seguintes condições: I – Para fins de edificação; II – Árvores que ponham
em risco a vida e ao patrimônio público ou privado; Está dispensado do
licenciamento ambiental os cortes isolados de espécies nativas em área
urbana até 05 exemplares, desde que não constantes da lista vermelha de
espécies ameaçadas de extinção e localizadas fora de áreas de
preservação permanente”.
Nesse caso, como eram mais de 05 árvores
nativas, haveria a necessidade de licenciamento ambiental, o que não
ocorreu na espécie, sendo que os responsáveis foram alertados
expressamente desta necessidade, bem como não havia autorização para
o corte fracionado das árvores.
Observa-se, nesse diapasão, que o corte
fracionado de 05 exemplares de árvores nativas demonstra a má-fé do
responsável, uma vez que o projeto global pretendia o corte de no mínimo
13 (treze) árvores, conforme croqui da obra em anexo.
Ademais, conforme se infere da Portaria IAP nº
176 de 19 de setembro de 2007, não há a necessidade de aprovação
prévia do órgão ambiental (IAP) para o corte de árvores EXÓTICAS,
situadas em áreas públicas que estejam localizadas no perímetro urbano
dos Municípios, restando claro que para o corte de árvores NATIVAS,
há a necessidade de intervenção do órgão ambiental e expressa
autorização.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
12
Desta forma, tratando-se de árvores nativas há a
necessidade de LICENCIAMENTO AMBIENTAL e/ou AUTORIZAÇÃO do
Órgão Ambiental competente, no caso, o Instituto Ambiental do Paraná –
IAP.
No âmbito federal, o artigo 2º, incisos I, IV e VIII
da Lei nº. 6.938/81, dispõe os parâmetros a serem seguidos pelo Poder
Público na defesa do meio ambiente natural:
“Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo
a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia a vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento sócio econômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,
atendidos os seguintes princípios:
I – Ação governamental na manutenção do equilíbrio
ecológico, considerando o meio ambiente como um
patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo.
(...)
VIII – Recuperação de áreas degradadas.” (grifo nosso)
Também no âmbito estadual, a Constituição do
Estado do Paraná, elege a proteção do meio ambiente como diretriz
fundamental, vejamos:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
13
Art. 1º. O Estado do Paraná, integrando de forma indissolúvel
à República Federativa do Brasil, proclama e assegura o
Estado democrático, a cidadania, a dignidade da pessoa
humana, os valores sociais, do trabalho e da livre iniciativa, o
pluralismo político e tem por princípios e objetivos:
(...)
IX – A defesa do meio ambiente e da qualidade de vida.”
(grifo nosso)
Portanto, a área verde em questão certamente
contribuía e contribui para o equilíbrio do meio ambiente do entorno.
Restando claro que a Prefeitura tem realizado o corte em diversos locais
do Município sem autorização ambiental.
Isto posto e, muito embora a Prefeitura pretenda
garantir o direito de acessibilidade dos deficientes, há meios menos
gravosos ao Meio Ambiente para a garantia deste direito.
Para a preservação do Meio Ambiente e garantia
da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência, basta que haja o
recuo de menos de 1,5 centímetros para dentro da área do fórum,
afastando-se a grade ao entorno do estabelecimento, reformando nessa
área o passeio, garantindo-se assim a acessibilidade dos deficientes, bem
como preservando-se as árvores nativas.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
14
Os direitos constitucionais mencionados (Meio
Ambiente e Acessibilidade das Pessoas portadoras de deficiência) não são
excludentes, e, havendo meio menos gravoso para a garantia do direito,
não há razoabilidade no corte das árvores.
Conforme as imagens captadas da frente do Banco
do Brasil e Justiça Federal (localizada ao lado do fórum da Comarca de
Guaíra), percebe-se que houve o recuo de menos de 1,5 centímetros,
garantindo ambos direitos constitucionalmente assegurados.
Conforme as imagens da frente do Banco do Brasil,
resta evidente que não há a necessidade do corte das árvores nativas
para se preservar o direito de acessibilidade das pessoas portadoras de
deficiência:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
15
De acordo com a seguinte imagem, resta
absolutamente evidente a possibilidade do recuo e preservação das
árvores:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
19
Desta forma, verifica-se a extrema ausência de
razoabilidade e proporcionalidade no corte das árvores nativas, uma vez
que há outra forma menos gravosa à sociedade para garantir o direito de
acessibilidade.
O princípio da proporcionalidade ordena que a
relação entre o fim que se busca e o meio utilizado deva ser proporcional,
não-excessiva. Deve haver uma relação adequada entre eles. Pois o
princípio da proporcionalidade é utilizado quando há colisão de direitos
fundamentais, sejam eles de 1 a , 2 a ou 3 a geração, individuais ou
coletivos. Afinal, sabe-se que os direitos fundamentais não são ilimitados
ou absolutos. Encontram seus limites em outros direitos, também
fundamentais. Mas para que possam ter efetivação, isto é aplicabilidade,
devem ser ponderados quando estiverem em choque, colisão.
O princípio da proporcionalidade traduz a busca do
equilíbrio e harmonia, da ponderação de direitos e interesses à luz do caso
concreto como melhor forma de aplicação e efetivação destes mesmos
direito. Ora, sabendo-se que há dois direitos em conflito e para assegurar
a aplicabilidade de um não há a necessidade de sacrificar-se o outro, pois
há meios menos lesivos no caso concreto, a Administração Pública tem o
dever de utilizar esse meio menos lesivo.
No caso presente, basta que haja o afastamento
da grade do fórum para que seja reformada a calçada de acordo com as
normas de acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
20
Além disso, totalmente irregular a conduta da
Prefeitura Municipal que vem, diuturnamente, cortando e podando árvores
nativas no Município, sem qualquer autorização do órgão ambiental, em
grave afronta à legislação ambiental.
Interessante mencionar, ainda, propaganda
realizada pela própria Prefeitura com os dizeres “Antes de cortar uma
ÁRVORE, lembre-se dos dias quentes de verão”, conforme imagem:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
21
Ora, o cidadão tem que respeitar a legislação
ambiental e preservar o meio ambiental, mas a Prefeitura Municipal não !
Resta evidente que a Prefeitura age como se estivesse acima da lei, não
precisando agir de acordo com a legislação, inclusive leis municipais.
Registre-se, outrossim, a tentativa desenfreada da
Prefeitura Municipal de cortar e podar as árvores do Município,
independente de avaliação e autorização do órgão ambiental (IAP):
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
22
III – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA:
A inversão do ônus da prova é perfeitamente
cabível no caso em discussão. O artigo 21 da Lei 7.347/85 determina que
aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e
individuais, no que tenha cabimento, os dispositivos do Código de Defesa
do Consumidor.
O artigo 6º, inciso VIII da Lei 8.078/90 é expresso
ao admitir a inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
23
Defesa do Consumidor, na medida em que hipossuficiente o autor,
segundo as regras comuns da experiência como bem esclarece o texto
legal, in verbis:
“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência;
(...)”
Tal dispositivo certamente tem aplicação, também,
no âmbito de proteção ao meio ambiente, pois em matéria ambiental a
hipossuficiência e a verossimilhança são requisitos para uma inversão do
ônus da prova. Segundo Clóvis da Silveira3, a hipossuficiência pode se dar
sob várias perspectivas:
a) Hipossuficiência econômica: quando em um dos
pólos, figuram “pequenas associações desprovidas de recursos ou o MP,
que também não poderia comprometer seu orçamento institucional com o
custeio de dispendiosas perícias” (SILVEIRA, 2004);
3 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Aspectos Processuais do Direito Ambiental. Orgs. LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzagio. 2 ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2004.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
24
b) Hipossuficiência informativa: quando os
demandantes em matéria ambiental “não possuem, em regra, acesso às
informações necessárias para comprovar o nexo de causalidade que
permite responsabilizar o poluidor” (SILVEIRA, 2004);
c) Hipossuficiência técnica: “considerando que os
autores da ação civil pública obtivessem acesso aos referidos dados, que
não são informados a priori, não saberiam manipulá-los ou deles obter
significado que possa ser traduzido em provas” (SILVEIRA, 2004);
d) Hipossuficiência decorrente do caráter do
interesse tutelado: “a hipossuficiência decorre, pois, do fato de que o
empreendedor recolhe os benefícios da produção, cirando riscos inerentes
à atividade, enquanto o ambiente é degradado, lesado-se o direito de
todos” (SILVEIRA, 2004);
e) Hipossuficiência decorrente de Lei: “A própria
Lei reconhece, implicitamente, a hipossuficiência dos co-legitimados, pelo
fato de estarem agindo em interesse da coletividade, isentando-os do
adiantamento de despesas e ônus de sucumbência” (SILVEIRA, 2004).
Portanto é claro, que o Ministério Público ao
ajuizamento de Ações Civis Públicas, encontra-se em franca desvantagem
perante o demandado.
Assim entende a jurisprudência dominante:
“O instituto da inversão do ônus da prova, independentemente
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
25
do título em que esta disposto no Código de Defesa do
Consumidor, pode ser aplicado nas ações civis publicas, desde
que as circunstancias fáticas assim o autorizem.” (TJPR,
Processo: 334622-7/01, Agravo Regimental Cível, Órgão Julg.:
5ª. Câmara Cível, Relator: Desembargador Leonel Cunha,
22.05.2006).
No que tange à responsabilidade pelo demandado
ao pagamento das respectivas custas, manifestou-se a jurisprudência:
“7.3.2. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A ATRIBUIÇÃO DOS
CUSTOS DA PERÍCIA PELO DEMANDADO. Admissibilidade nas
demandas que envolvam a proteção ao meio ambiente.
Ministério Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de
ações civis públicas que estão em franca desvantagem perante
os demandados.
Ementa: Tratando-se de demanda que envolva a proteção ao
meio ambiente, é cabível a inversão do ônus da prova e a
atribuição dos custos da perícia, pois o Ministério Público e
demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis públicas
estão em franca desvantagem perante os demandados. Edcl
70002338473 - 4ª Cam. Civil. - TJRS - j. 04.04.2001 - rel. Des
Wellington Pacheco Barros.4
E ainda:
4 Revista de Direito Ambiental, Coordenação: Antônio Herman V. Benjamin e Édis Milaré. Editora Revista dos Tribunais. Ano 6, n. 23, julho-setembro de 2001.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
26
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. PROVA PERICIAL. INVERSÃO DO ÔNUS.
ADIANTAMENTO PELO DEMANDADO. DESCABIMENTO.
PRECEDENTES.
I - Em autos de ação civil pública ajuizada pelo Ministério
Público Estadual visando apurar dano ambiental, foram
deferidos, a perícia e o pedido de inversão do ônus e das
custas respectivas, tendo a parte interposto agravo de
instrumento contra tal decisão.
II - Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais
tem o dever de reparar os danos causados e, em tal contexto,
transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta
não foi lesiva.
III - Cabível, na hipótese, a inversão do ônus da prova que,
em verdade, se dá em prol da sociedade, que detém o direito
de ver reparada ou compensada a eventual prática lesiva ao
meio ambiente - art. 6º, VIII, do CDC c/c o art. 18, da lei nº
7.347/85.
IV - Recurso improvido.” (STJ. REsp 1049822/RS. Rel. Min.
Francisco Falcão. Primeira Turma. Julg: 23/04/2009).
Assim, “pertence ao demandado, a partir de então,
o ônus da prova, para que comprove inexistência do nexo de causalidade
que se lhe atribui entre ação e dano. Uma vez que o agente criou as
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
27
condições (riscos) par que o dano ocorresse, nada mais lógico que a ele
pertença tal encargo”5
Conclui-se, portanto, pelo cabimento da inversão
do ônus da prova.
IV – DO PEDIDO LIMINAR:
É obrigação do Poder Público zelar pelo meio
ambiente.
O Artigo 12 da Lei da Ação Civil Pública –
7.347/85, é claro ao estabelecer que “poderá o juiz conceder mandado
liminar com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”.
O juiz pode determinar, mesmo de ofício, medidas
provisórias no curso do processo, sendo que no caso, pelo art. 12 da Lei
7.347/85, em se tratando de ação civil pública baseada em danos aos
interesses coletivos e difusos, facultado ao juiz a concessão de liminar,
sem ouvir a parte contrária, procurando manter o “status quo” até final
sentença, a fim de evitar danos irreparáveis.
Nesse caso, é clara a necessidade de se conceder
o pedido liminar, uma vez que estão presentes, para tanto, os
5 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Aspectos Processuais do Direito Ambiental. Orgs. LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzagio. 2 ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2004.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
28
pressupostos de admissibilidade de tal medida: O fumus boni iuris e o
periculum in mora.
O fumus boni iuris consiste na provável
existência de um direito a ser tutelado.
O artigo 225, caput, da Constituição Federal,
estabelece que “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Forma inequívoca do
interesse coletivo consistente na devida responsabilização dos infratores
do meio ambiente.
O periculum in mora trata da demonstração do
fundado temor de que, enquanto aguarda a tutela definitiva, venham a
faltar as circunstâncias de fato favoráveis à própria tutela.
Vale lembrar que, no caso em tela, como já
demonstrado, mesmo sem autorização do IAP a Prefeitura Municipal tem
realizado o corte e poda de diversas árvores, sob a alegação de
recomposição, porém sem observar a legislação pertinente.
Em relação à árvores nativas, de espécie
“Sibipiruna”, localizadas na frente do fórum Estadual da Comarca de
Guaíra, restou claro o descaso e a má-fé dos responsáveis pela obra da
Prefeitura, que mesmo sem autorização do órgão ambiental e mesmo
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
29
após a Promotoria do Meio Ambiente ter informado expressamente que
não poderia haver o corte de sequer uma árvore nativa sem a intervenção
do IAP, servidores da Prefeitura, comandados pelo Secretário do Meio
Ambiente Augusto, passaram a podar as árvores, preparando-as para o
corte, somente não cortando as 06 (seis) árvores nativas em razão da
pronta intervenção do Ministério Público e da Polícia Militar.
Evidente, desta forma, o fundado temor de dano
ambiental se não houver a concessão da medida liminar.
Nesse sentido, vale lembrar que um dos
sustentáculos fundamentais do Direito Ambiental é o Princípio da
Prevenção e o Princípio da Precaução, sendo a concessão da medida
liminar uma forma de se evitar que danos maiores venham a ocorrer
ainda no decurso do processo.
Preleciona Celso Antônio Pacheco Fiorillo :
“É por via da liminar, assecuratória ou satisfativa,
que se alcançará, ainda que provisoriamente, a certeza de que o processo
não será um mal maior do que já se constitui, na medida em que a
demora da entrega da tutela jurisdicional não se constituirá um mal maior
ou mais nefasta que a própria caracterização do dano ao meio ambiente.
Por isso, urge como regra necessária e política a utilização cada vez maior
da tutela liminar em sede de proteção efetiva de direito difusos como um
todo.”
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
30
Sendo assim, com o fim de que se garanta que as
árvores nativas do Município de Guaíra não sejam cortadas sem que haja
extrema necessidade e sem intervenção do órgão ambiental, imperiosa se
faz a concessão da liminar.
Cumpre ressaltar que, a desnecessidade e
desproporcionalidade do corte das árvores nativas localizadas na frente do
Fórum (Rua Bandeirantes, s/nº, centro), ainda que haja posterior
autorização do IAP, vez que o direito de acessibilidade, como já
mencionado, pode ser assegurado sem a necessidade do corte dessas
árvores.
Requer-se ainda, a imposição de multa no valor de
R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por árvore nativa cortada, em desacordo
com a decisão judicial.
Além disso, necessário se faz a recomposição das
árvores já cortadas em desacordo com a legislação, na fração de 10 (dez)
árvores por corte irregular. Ressaltando a proibição de plantação da
espécie Eucalipto para a recomposição.
V – DEMAIS PEDIDOS:
Diante de todos os fatos e fundamentos de direito
ora apresentados, REQUER a Vossa Excelência:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
31
I – a concessão da liminar pugnada, com a fixação
de multa de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por árvore irregularmente
cortada no Município de Guaíra;
II – a condenação do Réu na Obrigação Fazer, no
sentido de que se promova a recomposição das árvores já cortadas de
forma irregular, na fração de 10 (dez) árvores por corte;
III - a citação dos Réus, nos termos do artigo 221,
do Código de Processo Civil, para responder aos termos da presente Ação,
com as advertências da revelia, devendo o pedido ser julgado procedente,
condenando o réu ao ônus da sucumbência, honorários periciais e demais
cominações legais;
IV - Protesta-se por todos os meios de provas
admitidos em direito, inclusive depoimentos pessoais, testemunhais,
juntada de documentos e perícias;
V – a isenção de custas e emolumentos, nos
termos do artigo 18 da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1.985 – Lei da
Ação Civil Pública;
VI - a procedência da ação em todos os seus
termos, condenando-se o réu ao pagamento de eventuais danos
causados, das despesas processuais e verba honorária de sucumbência,
cujo recolhimento deste último deve ser feito ao Fundo Especial do
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE GUAÍRA
32
Ministério Público do Estado do Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241,
de 28 de julho de 1998 (DOE n. 5302, de 29 de julho de 1.998), nos
termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”, parte final da Constituição do
Estado do Paraná.
Dá-se à causa, o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil
reais).
Guaíra, 15 de julho de 2013.
Kelly Vicentini Neves Caldeiras
Promotora de Justiça
(Assinado digitalmente)
top related