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O COMPORTAMENTO DOS PARLAMENTARES DO PSOL NA CÂMARA
DOS DEPUTADOS POR UMA PERSPECTIVA INSTITUCIONAL RACIONAL
Marcelo Maurício de Morais1
Resumo
A proposta deste texto é verificar através da escola da escolha racional como os parlamentares do PSOL
agem na Câmara dos Deputados, uma vez que entendemos ser a melhor metodologia para realizar essa
análise. De maneira geral, a escola da escolha racional explica como as regras do processo de decisão e
das instituições influenciam e estruturam as escolhas e os fluxos de informação em determinadas
situações políticas institucionais. A análise utilizou ferramentas como o Basômetro que permitiu medir
esse comportamento quantitativamente, bem como uma revisão bibliográfica que possibilitou uma
qualificação do comportamento institucional partidário. Vale lembrar que o comportamento dos
parlamentares será mensurado através da taxa de governismo que a ferramenta Basômetro possibilita
medir por meio das votações dos parlamentares em PL, PEC, MP etc. E que necessariamente não foram
aprovadas pelo congresso.
Palavras-chave: Câmara; Basômetro; PSOL; Parlamentares.
Introdução
Este breve estudo pretende verificar o comportamento dos Parlamentares do
PSOL na Câmara dos Deputados por uma perspectiva institucional racional. A análise
utilizará ferramentas como o Basômetro que permite medir esse comportamento
quantitativamente, bem como uma literatura que possibilite uma qualificação do
comportamento institucional partidário. Vale lembrar que o comportamento dos
parlamentares será mensurado através da taxa de governismo que a ferramenta
Basômetro possibilita medir por meio das votações dos parlamentares em PL, PEC, MP
etc. E que necessariamente não foram aprovadas pelo congresso. O Partido Socialismo e
Liberdade, segundo seu programa parte da premissa de que o país não tem sido capaz de
dar conta das enormes demandas históricas dos trabalhadores e excluídos do país.
Portanto, esse estudo irá verificar por meio do programa e comportamento de seus
parlamentares no Congresso Nacional se há uma construção estratégica de objetivos a
serem alcançados. Para tanto, escolhemos a perspectiva institucional racional entre as
vertentes de pensamento neo-institucionalista, pois a perspectiva racional é a que
melhor pode explicar o comportamento de parlamentares, do que as vertentes do
1 Mestrando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP.
marcello.morais@bol.com.br Agência de Fomento: CNPq.
Institucionalismo histórico e Institucionalismo sociológico, uma vez que o pensamento
do Institucionalismo racional desenvolve uma concepção mais precisa das relações entre
instituições e o comportamento.
O PSOL nasce do PT, Partido dos trabalhadores que foi fundado em 1980 e
recebeu seu registro na justiça eleitoral em 1982. O PT nasceu como movimento social
e foi construído a partir de quatro “alicerces”: de setores progressistas da Igreja
Católica; o novo sindicalismo, com forte influência no ABC paulista; com o movimento
dos professores universitários, intelectuais, artistas, estudantes, etc.; e setores de
diversas organizações tanto as democráticas como as revolucionárias, que lutaram
contra a ditadura militar, portanto, não é por acaso a escolha de estudar o
comportamento dos parlamentares do PSOL. Pois o partido surge com a perspectiva de
um projeto socialista que procura construir um partido alternativo com o objetivo de
lutar por um Brasil sem misérias e sem exploração. O PSOL propõe através de seu
programa um socialismo com democracia como estratégia para a superação da ordem
capitalista.
O PSOL se põe como um partido alternativo aos partidos da política nacional que já não
atendem aos interesses da sociedade, tem um viés de socialismo democrático que acene
para a possibilidade de um Brasil sem misérias e sem exploração.
Seu programa está fundamentado num princípio que luta contra a especulação
financeira, a exploração do trabalho, da miséria e suas contradições. Também faz parte
de seu programa um projeto que promova a emancipação social dos explorados diante
das contradições de um capitalismo imperialista. O Partido Socialismo e Liberdade faz
de seu programa uma defesa do resgate da independência política e não estimula a
conciliação de classes, bem como incentiva a retomada do internacionalismo ativo. Pois,
o partido entende que se deve diminuir e eliminar o abismo econômico e social que
existe no país, haja visto que mais de 50 milhões sofrem com a fome e apenas 5 mil
famílias concentram um patrimônio equivalente a 46% da riqueza gerada por ano (PIB).
Em contrapartida, os 50% mais pobre corresponde a 39 milhões de trabalhadores que
detêm apenas 15% da renda nacional2. O Partido também defende a redução imediata da
2 http://psol50.org.br/site/paginas/2/programa acesso em 11/04/2014.
jornada de trabalho para 40horas, sem redução de salário e um progresso tecnológico
que promova a criação de postos de trabalho e não sua extinção.
Luta ainda pela reforma agrária e reforma urbana ampla a qual promova o acesso
à agua, saúde e transporte pela população mais pobre, defende também que 10% do PIB
nacional seja destinado a Educação, reduza o gasto público e reverta o dinheiro para
Educação, Infraestrutura e Saúde.
São essas características do Partido Socialismo e Liberdade que permite um
mapeamento sobre o comportamento de seus parlamentares na Câmara Federal dos
Deputados. Pois, pode existir uma lógica estratégica partidária, isto é, uma orientação
do partido para os parlamentares atuarem no Congresso a fim de que seus objetivos
sejam alcançados.
Nesse sentido, entendemos que a vertente mais apropriada para estudarmos esse
comportamento é o Institucionalismo racional que permite uma precisão maior desse
comportamento. O estudo será dividido em duas partes, na primeira, iremos incorporar
o conceito teórico do institucionalismo racional com o intuito de explicar
comportamento dos atores políticos, já à segunda parte trará a luz do dia o estudo do
comportamento dos parlamentares na esfera quantitativa e qualitativa para
comprovarmos se existe ou não uma ação racional institucional partidária.
1. A Ação Estratégica do Institucionalismo Racional:
O institucionalismo racional é uma vertente do neo-institucionalismo que surge
para contrapor o pensamento comportamentalista, uma vez que era o pensamento
dominante da Ciência Política em meados do Século XX. Os neos- institucionalistas
faziam a crítica ao comportamentalismo devido à falta de um contexto institucional em
sua abordagem, bem como a falta de cientificidade do antigo institucionalismo, pois
eram estudos voltados para criar regras normativas, isto é, estudavam padrões
constitucionais e prescreviam como deveria ser a política; por isso, concentravam-se em
dados empíricos que demonstravam a ação real do comportamento dos atores políticos.
Sendo assim, o neo-institucionalismo não surge somente como contraponto aos
antigos pensamentos, podemos considerar o neo-institucionalismo uma síntese de
ambos os pensamentos anteriores, o antigo institucionalismo e o comportamentalismo,
portanto, não é apenas uma crítica a esses pensamentos é também o complemento deles.
Do antigo institucionalismo existe a centralidade das instituições no estudo do
comportamento dos atores esses que são indivíduos de tomada de decisão, enquanto do
pensamento comportamentalista foi mantida a cientificidade e o rigor teórico
metodológico da teoria da escolha racional, e que não abre mão de sua precisão
conceitual, pois a orientação empírica da pesquisa lhe proporciona a aplicação de testes
quantitativos em seus estudos.
O neo-institucionalismo retoma como variáveis para explicar a dinâmica política
dos atores, as bases empíricas e a centralidade das instituições, bem como reduziu essas
variáveis que podem explicar o comportamento que os atores tomam de acordo com
seus interesses para alcançar um objetivo, um comportamento estratégico e calculista
que possibilite alcançar seus objetivos, reduzem essas variáveis exatamente às
instituições como centralidade dos seus estudos.
Segundo (ARROW, 1951) existem outras variáveis além do
comportamento dos atores que podem explicar essa tomada de decisão, isto é, existe
uma lógica capaz de responder que o comportamento e a tomada de decisão estão
baseados num contexto de decisão coletiva. Ainda, segundo Arrow, as escolhas são
racionais e estratégicas, e suas escolhas podem seguir a regra da maioria3, caso contrário
essas decisões seriam irracionais, pois podem ser decisões incoerentes e instáveis.
A despeito da explicação acima podemos entender de que, se existe uma lógica
que leva a determinar ou influenciar o comportamento dos atores políticos na tomada de
decisão, essa lógica pode ser determinada pelas instituições, pois elas estabelecem
regras internas no jogo político que influenciam as escolhas de um grupo a se aliar a
outro determinado grupo em busca do poder.
(PERES, 2008, p. 55) afirma que:
3 A maioria dos sistemas de votação é baseada na regra da maioria, ou o princípio de é satisfeita a
opinião apoiada por mais da metade dos votantes.
(...) de modo geral, os institucionalistas estão interessados em
todo o tipo de instituições sociais e estatais que moldam a
maneira pela qual os atores políticos definem seus interesses e
estruturam as razões de poder com outro grupo.
Considerando que o neo-institucionalismo é uma síntese do antigo
Institucionalismo e do Comportamentalismo podemos afirmar sem nenhuma dúvida que
as instituições políticas são variáveis que podem explicar os processos de decisões,
como também pode explicar o próprio comportamento dos atores políticos enquanto
indivíduos responsáveis pelos processos decisórios das instituições políticas.
A compreensão de que o neo-institucionalismo tem três vertentes em seu interior
nos leva a verificar que a escolha racional é a que prevalece entre essas três vertentes,
tanto que, no Institucionalismo Histórico, Racional e Sociológico as preferências, os
objetos e as relações dos atores políticos podem ser explicados pela racionalidade, isto
é, aparece nos comportamentos desses atores um cálculo estratégico que possibilite
alcançar determinados objetivos mesmo quando essas decisões possam assumir um
caráter de regra da decisão da maioria.
Portanto, ao considerar as Instituições como uma variável central que pode
explicar o processo de decisão e o comportamento dos atores políticos, a própria
Ciência Política assume que as Instituições são fundamentais nas explicações de que os
atores políticos respondem a uma ação racional estratégica em que as próprias
Instituições são determinantes nesse processo de decisão.
A proposta deste texto é verificar através da escola da escolha racional como os
parlamentares do PSOL agem na Câmara dos Deputados, uma vez que entendemos ser a
melhor metodologia para realizar essa análise. Pois o institucionalismo racional surge
no interior do Congresso americano exatamente com o intuito de estudar o
comportamento de parlamentares e sua relação com a instituição.
De maneira geral a escola da escolha racional explica como as regras do
processo de decisão e das instituições influenciam e estruturam as escolhas e os fluxos
de informações em determinadas situações políticas institucionais.
(HALL, 2003, p. 196)
Algumas dessas regras permitem fixar a pauta
de modo a limitar o surgimento de decisões submetidas aos votos
dos representantes. Outras atribuem a responsabilidade das
questões-chave a comissões estruturadas de modo a seguir aos
interesses eleitorais dos membros do Congresso, ou produzem
mecanismos de adoção de leis que facilitam a negociação entre
parlamentares.
O fato é que a escola da escolha racional faz uma análise do comportamento dos
parlamentares tentando explicá-los através dos regulamentos do Congresso, como regras
que podem determinar a construção de uma relação entre os legisladores e a instituição
que leve a criar mecanismos de tomada de decisão, nesse sentido, é a estrutura do
Estado agindo sobre o sistema partidário, (CAMPELLO DE SOUZA, 1978).
Dessa maneira, o institucionalismo racional desenvolve com precisão uma
análise por meio da relação institucional dos atores políticos e permite uma explicação
lógica das ações desempenhadas pelos parlamentares.
Essas ações ou comportamentos são desenhados, ou seja, são ações planejadas,
calculadas conforme a situação política vivida no contexto institucional. Isto é, os
parlamentares agem estrategicamente para tomar decisões.
Portanto, a escola da escolha racional vai ao encontro do objetivo desse estudo
que é verificar se o comportamento dos parlamentares do Partido Socialismo e
Liberdade tem uma ação estratégica com relação a um fim racional, quer dizer, são
ações calculadas para atingir um determinado objetivo?
2. O comportamento em números
Procurando responder à questão colocada nesse texto, isto é, responder se o
comportamento dos parlamentares do PSOL segue uma ação planejada, estratégica que
leve a alcançar um determinado objetivo, iniciaremos nossa análise quantitativa, e para
isso usaremos a ferramenta Basômetro com o intuito de medir em números tal
comportamento.
Para tanto, escolhemos pontos estratégicos do programa do Partido Socialismo e
Liberdade como educação, gastos públicos e a causa do trabalhador. Através do
Basômetro analisaremos o comportamento de seus parlamentares a fim de verificar por
uma amostra se estão ou não agindo com racionalidade e de acordo com seu programa
partidário, ideologia, etc. Mesmo que em algum momento seja necessário votar com o
governo, uma vez, que essas propostas possam estar de acordo com as reinvindicações
do partido.
Em algum momento também cruzaremos informações entre uma votação e outra
de áreas diferentes com o intuito de verificar se existe uma ação racional, pois sabe-se
que para atingir seu objetivo será necessário votar com o governo, abster-se ou votar
contra tal projeto visando uma ação estratégica para ocupar espaço político na pressão
do partido contra o governo.
O Basômetro.
A ferramenta mede a taxa de governismo de deputados. O Basômetro forma
uma linha do tempo que permite ver o comportamento dos parlamentares ao longo das
votações, um instrumento que permite medir o apoio dos deputados ao governo e ao
mesmo tempo acompanhar sua posição nas votações da Câmara dos deputados.
A análise será feita através de votações em plenário no primeiro Governo Dilma.
Três das quatro votações foram realizadas alguns meses antes das manifestações de
junho de 2013 e outra em relação à Educação em 2011, escolhemos essas datas para
pontuar que esses acontecimentos meses antes das manifestações não influenciaram as
preferências dos parlamentares nessas votações, foram selecionadas algumas votações
de áreas estratégicas tanto para o governo quanto para o PSOL.
1-Votação da remuneração de carreiras no setor público
Esta análise irá verificar a posição dos três parlamentares do PSOL em relação à
remuneração de carreira do setor público, a votação trata-se do aumento da remuneração do
funcionalismo público, e podemos interpretar como aumento do gasto público.
Os parlamentares a serem analisados são: Chico Alencar do PSOL do Rio de Janeiro,
Jean Wyllys também do Rio de Janeiro e Ivan Valente PSOL de São Paulo, os únicos três
Deputados Federais do PSOL.
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
FONTE: http://estadaodados.com/basometro/ acesso em 06/05/2014
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Interpretando os dados da ferramenta Basômetro podemos identificar que em votação da
remuneração da carreira do setor público nenhum dos três parlamentares votaram com o
governo em 50% das vezes ou mais, mas os três votaram com o governo em menos de 50%
das vezes, isto é, votaram contra o governo.
Agora, realizando uma análise mais precisa da votação desses deputados, vemos que
tanto Chico Alencar, Como Jean Wyllys e Ivan Valente votaram contra o governo, ou seja, a
taxa de governismo dos três parlamentares nesse caso é de 0%, o que implica num
entendimento de que esses parlamentares do PSOL estão realizando uma pressão contra o
governo com intuito de ganhar e ocupar espaço político no Congresso para que se forme
uma oposição ao executivo, uma oposição de esquerda.
Essa votação ocorreu em 20/03/2013, iremos analisar agora outra situação em que os
parlamentares também participaram da votação.
2- Votação da ampliação da bolsa formação para estudantes
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
FONTE: http://estadaodados.com/basometro/ acesso em 06/05/2014
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Nessa participação, o gráfico aponta que em uma única votação os três deputados
votaram com o governo em 50% das vezes ou mais e, portanto, nenhum dos parlamentares
votaram em menos de 50% das vezes com o executivo.
O gráfico mostra mais precisamente que uma a uma, a votação dos deputados foi de
acordo com a proposta do governo se, olharmos mais atentamente ao gráfico identificaremos
que cada um dos parlamentares votara com o governo em 100%.
3- Votação do Plano especial para recuperação física da escola pública
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
FONTE: http://estadaodados.com/basometro/ acesso em 06/05/2014
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Ainda, em relação à Educação analisaremos outra votação em que os parlamentares
do PSOL participaram, nesse caso, o Plano especial para recuperação física da escola
pública e notaremos segundo o gráfico um comportamento dos deputados parecido com a
votação da ampliação da bolsa estudante ao qual votaram anteriormente.
Os deputados Chico Alencar, Jean Wyllys e Ivan valente votaram em 100% com o
governo, isto é, optaram novamente em votar na proposta do executivo, portanto, voto a
favor e não contra. De maneira geral esses números apontam que em uma única votação os
três parlamentares votaram com o governo em mais de 50% das vezes e menos de 50% das
vezes contra o executivo. A posição dos deputados do PSOL nessa votação foi a mesma que
na votação pelo aumento da bolsa estudante (5331).
Mas o que isso quer dizer, deixaremos a resposta dessa pergunta para quando analisarmos de
forma conjunta todas as votações que propomos analisar, pois pode ser a resposta ao qual estamos
procurando, ou seja, qual o comportamento dos parlamentares do PSOL? Em seguida realizaremos
a última análise individual das votações.
4- Votação sobre estímulos fiscais desoneração da folha de pagamento
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
FONTE: http://estadaodados.com/basometro/ acesso em 06/05/2014
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A análise agora será feita de acordo com a votação dos deputados do PSOL em relação a
estímulos ficais e desoneração da folha de pagamento, em outras palavras a desoneração do capital.
Se observarmos num plano geral a votação dos três parlamentares, Chico Alencar, Ivan
Valente e Jean Wyllys, verificaremos que nenhum dos três votaram com o governo, ainda, segundo
o gráfico em uma única votação nenhum dos deputados votaram com mais de 50% das vezes com o
executivo, ao contrário, não votaram em nenhuma das vezes. Observando como cada deputado
votou veremos que a taxa de governismo de cada deputado nesse caso é de 0%, o que deixa bem
claro a posição desses parlamentares em relação à desoneração da folha de pagamento.
3. A qualificação do comportamento
Dando continuidade à nossa análise apontaremos agora qual a posição do PSOL no cenário
congressual brasileiro. Segundo, o Cientista Político Claudio Couto, existe no sistema partidário
brasileiro hoje três grandes blocos todos eles divididos da seguinte forma: o primeiro bloco está à
esquerda e é formado pelos partidos que são aliados ao PT tanto como governo quanto oposição. O
segundo bloco gira em torno do PSDB que é de centro-direita e tem como aliados o PPS mais à
esquerda e o DEM à direita e o terceiro e último bloco é composto pelos demais partidos. E tem no
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
PMDB sua principal concentração, um partido que parece ser sempre situação, e o PSOL é a
exceção, mas por que o Partido Socialismo e Liberdade não pertence a nenhum desses três blocos?
A resposta a essa pergunta pode ser a seguinte, primeiro o PSOL é um partido recente, é
pequeno, e ainda não tem força para formar um bloco de oposição, bem como não se identifica com
nenhum dos três blocos. E como dissidente do PT faz oposição a ele, como também faria ao PSDB.
Mas, se o PSOL não se enquadra em nenhum dos três blocos e faz oposição tanto ao PT e ao PSDB,
quais sejam eles o governo, pode-se afirmar que o PSOL é um partido de esquerda e tende a assumir
o papel de destaque na oposição que outrora fora do PT. Uma vez, que suas origens estão na ruptura
com o PT e, portanto, possuem características de um partido de esquerda socialista essas
características são segundo o próprio partido:
“Primeiro a predominância de certa interpretação da sociedade; (...) A
percepção de uma forma de luta estratégica, que, uma vez conduzida com
êxito (...) possibilita alterar a correlação de forças entre as classes e
inaugurar um novo e mais avançado período de luta e a presença de uma
organização política que se apresenta legitimamente, aos olhos da
sociedade, como instituição autorizada para propor, defender e aperfeiçoar
aquela interpretação e como mais capacitada para conduzir a luta estratégica
a ela associada”4.
Considerações Finais
Uma vez constatada a posição do Partido Socialismo e Liberdade no sistema
partidário brasileiro, partiremos agora para a qualificação do comportamento dos parlamentares do
PSOL na Câmara dos deputados, tentaremos identificar se a luta estratégica partidária se traduz em
uma racionalidade institucional. Identificaremos a qualificação por meio da interpretação dos dados
coletados através da ferramenta Basômetro, informações coletadas e analisadas anteriormente nesse
texto. Espera-se que essa interpretação dos dados aponte um comportamento racional dos
parlamentares em busca do alcance de objetivos traçados estrategicamente, e indique o PSOL como
principal partido de oposição dentro de uma lógica institucional.
4http://psolriodasostras.wordpress.com/artigos/as-origens-do-psol/ acesso em 28/04/2014
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
Partindo da compreensão de que os números analisados por este estudo podem apontar um
comportamento dos parlamentares do PSOL na Câmara dos deputados, podemos formular a
seguinte interpretação.
O PSOL, como um partido que pretende ocupar espaço político como protagonista da
esquerda brasileira, tende algumas vezes se movimentar no Congresso numa direção oposta à sua
propositura, mas com uma lógica institucional que lhe proporcione atingir seus objetivos. Dado que,
muitas vezes votará com a proposta governista. Dessa forma, vai ao encontro de objetivos
estratégicos traçados pelos deputados oposicionistas e é certo que se utilizarão dessas regras
institucionais para reforçar sua estratégia para a tomada de decisão e ocupação de espaço político.
Agora verificaremos o quadro de votações dos parlamentares e a partir de então faremos a
interpretação desses números.
Em nossa análise foram apontadas quatro situações de votação, entre elas, duas votações em
relação à Educação, uma em relação à remuneração de carreira do setor público e outra em relação a
incentivos a desoneração da folha de pagamento conforme indica o gráfico abaixo.
FONTE: elaborado pelo autor a partir de dados fornecidos pelo Basômetro - 2015
Podemos verificar no gráfico acima o total de votações em único panorama. Isto é, aferimos
que essas quatro situações evidenciam muito bem uma ação estratégica por parte dos deputados do
PSOL, na medida em que verificamos as votações em relação à remuneração de carreiras do setor
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
público percebe-se que os três deputados do partido votaram contra o governo, a rigor se olharmos a
situação 1 e 4 verificaremos quem em 50% das vezes ou mais esses deputados votaram contra o
governo, ou seja, votaram 0% com o governo, portanto nesse sentido o PSOL assume uma atitude
de oposição ao executivo, uma vez que o PSOL é um partido da esquerda socialista fica claro que
seu voto nesse caso seria contrário ao governo. Pois, se trata num primeiro momento de uma
votação contrária ao aumento da remuneração de carreira do setor público e os parlamentares
entendem como aumento dos gastos públicos e, num segundo momento votam contra os incentivos
à desoneração da folha de pagamento o que representa uma desoneração do capital e de perda de
direitos dos trabalhadores. Essa posição é recorrente nos discursos dos deputados, o que reflete o
raciocínio do próprio partido.
Em contrapartida, os parlamentares votam com o governo em mais de 50% das vezes em
relação às propostas de aumento de bolsa formação estudante e a recuperação física das escolas
públicas ver a situação 2 e 3, precisamente, a análise do gráfico aponta como Ivan Valente, Chico
Alencar e Jean Wyllys votaram com o governo em 100% da proposta. Ora, se o PSOL se propôs a
ser um partido de oposição ao PT por que então os parlamentares votaram com o executivo nessa
situação?
A explicação para esse comportamento é lógica, pois, a posição adotada pelos parlamentares
é estratégica na medida que os parlamentares do PSOL com o propósito de combater as
desigualdades sociais e econômicas trabalham no sentido de canalizar o orçamento público para as
áreas sociais, disputando esse orçamento com o poder econômico, empreiteiras, etc.
Portanto, quando os parlamentares votam contra o aumento da remuneração de carreiras do setor
público e a favor do aumento da bolsa formação para estudantes e do plano especial para
recuperação física das escolas públicas podemos fazer a seguinte leitura. Os deputados do PSOL
com o propósito de combater as desigualdades sociais e econômicas trabalham no sentindo de
canalizar o orçamento público para as a áreas sociais, disputando esse orçamento com o poder
econômico, empreiteiras, bancos, etc., para que o dinheiro seja investido na Educação, Segurança,
Saúde Pública, por exemplo.
“Olha, as prioridades do PSOL que é um partido de esquerda é o pleno
combate às desigualdades sociais e econômicas, trabalha muito nessa linha e
sobretudo pata tentar canalizar o orçamento público, toda riqueza produzida
para as áreas sociais. Para nós, hoje luta de classes não é tomar o poder, é
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
sobretudo você disputar o orçamento que financia as áreas sociais, esse
orçamento é disputado pelo poder econômico, empreiteiras, bancos,
construtoras, concessionais de governo e de outro lado os movimentos
populares, movimentos sociais querendo que esse dinheiro seja investido na
educação pública, na segurança, na saúde pública, no saneamento, isso para
nós é a luta de classes nesse momento então nós interferimos no
direcionamento do orçamento para as áreas sociais essa é a grande luta hoje
de prioridade do PSOL”5.
Se o PSOL fosse um partido que apenas fizesse oposição ao PT, não existiria lógica ao
votarem com o executivo em qualquer uma dessas situações apontadas acima em relação à
Educação. Mas o exemplo que usamos acima indica que essa atitude é exatamente uma ação
racional com a finalidade de ganhar espaço político não só no Congresso, mas na própria sociedade,
bem como tentar direcionar esse dinheiro para as áreas de interesse da sociedade e não de grupos
economicamente influentes, pois os parlamentares do PSOL fazem de suas propostas uma ação
lógica e estratégica para alcançar determinados objetivos. Não foi diferente na votação contra os
incentivos de desoneração da folha de pagamento, pois nesse sentido a sociedade e os trabalhadores
não se sentem representados por nenhum partido, isto é, existe um vácuo deixado pelo Partido dos
Trabalhadores quando este assumiu o governo e não atendeu as expectativas da sociedade em
relação a ser um partido alternativo que levasse os interesses do trabalhador na luta contra o capital,
ao contrário, ocorreu que o PT deu continuidade à política econômica de Fernando Henrique
Cardoso, com obrigações financeiras e desoneração do capital. Portanto, frustrou grande parte da
sociedade brasileira que depositava esperanças no Partido dos Trabalhadores na luta frente ao
capital e as desigualdades por ele provocadas, a partir de então coube ao PSOL assumir a postura de
luta contra as contradições do capitalismo e suas consequências.
O objetivo deste texto foi o de demonstrar através de uma perspectiva institucional racional,
uma das vertentes do Neo-Institucionalismo, a racionalidade do comportamento dos parlamentares
do PSOL na Câmara dos Deputados. Pois, o Neo-Institucionalismo destaca a importância da
influência das instituições no papel dos atores políticos, bem como é mediadora de impasses
existentes na sociedade, e, não obstante são importantes no entendimento dos processos sociais.
Portanto, o comportamento parlamentar refere-se a uma escolha estratégica dos atores
políticos que possibilite alterar suas ações com o propósito de alcançar objetivos específicos.
5 Texto retirado da entrevista com o Deputado Estadual (São Paulo) Professor Carlos Giannazi realizada em 23 de
outubro de 2014.
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
Nas palavras de (HALL, 2003, p. 198)
As instituições incluem regras formais como
constrangimentos informais, essa característica das instituições tornam os
atores políticos agentes maximizadores de preferências que são exógenas as
instituições, podem ser preferências econômicas, políticas ou sociais.
Para caracterizar como se dá esse comportamento utilizamos situações de votação na
Câmara dos Deputados. Nesse sentido, foram escolhidos os parlamentares do PSOL para elucidar
como esse comportamento segue uma ação estratégica, comportamento esse que permite alcançar
seus objetivos.
A ferramenta Basômetro permitiu ilustrar essas ações através de números de votação dos
deputados e, assim conseguimos também qualificar esse comportamento, já que esses números
auxiliaram a esclarecer que existe uma ação lógica e racional dos atores políticos em busca de
determinados objetivos. Pois, esses atores jogam um papel conforme as regras definidas pelas
instituições. Caso contrário, os atores não utilizassem as regras institucionais não seria possível
alcançar tais propósitos se valendo de um comportamento planejado que possibilite calcular cada
ação ora para atingir um determinado objetivo, ora para provocar o governo a implementar políticas
públicas especificas. Assim, provocando alterações na agenda e temas das questões de Estado.
I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
Referências ARROW, Kenneth. (1951), Social choice and individual values. Nova York, John Wiley.
CAMPELLO DE SOUZA, Maria do Carmo. Estado e Partidos Políticos no Brasil. São Paulo: Alfa-
Ômega. 1978.
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I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
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Notas 2 http://psol50.org.br/site/paginas/2/programa acesso em 11/04/2014.
3 A maioria dos sistemas de votação é baseada na regra da maioria, ou o princípio de é satisfeita a opinião
apoiada por mais da metade dos votantes. 4 http://psolriodasostras.wordpress.com/artigos/as-origens-do-psol/ acesso em 28/04/2014.
5 Texto retirado da entrevista com o Deputado Estadual (São Paulo) Professor Carlos Giannazi realizada em
23 de outubro de 2014.
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