no quintal de seu zeca, pouco antes do início do ensaio e mais tarde que a hora marcada para que...
Post on 17-Apr-2015
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No quintal de Seu Zeca, pouco antes do início do ensaio e
mais tarde que a hora marcada para que este começasse,
Seu Zeca falava a Seu Dola da necessidade de ensinar os de
menor idade na banda a tocar os instrumentos de maior
complexidade, já que “os velhos não tão tendo
compromisso”.
Seu Zeca ainda proferiu alguns dizeres a respeito da
aprendizagem neste momento: “Na vida inteira estamos
aprendendo e morremos sem saber de muita coisa. Um
professor nunca pára de estudar e aprender. Forma, faz
doutorado, mas não pára de aprender.”
O ensaio iniciou as 14 horas e 40 minutos, com mais de
meia hora de atraso. Como havia um número bastante
reduzido de pessoas, os integrantes mais novos cobraram
de Seu Dola que conversasse com as “pessoas
irresponsáveis” que não estavam comparecendo no ensaio.
Neste dia não havia nenhuma bandeireira, a Rainha Congo,
João Décimo e mais uma série de pessoas também não
estiveram presentes.
O ensaio iniciou cantando a música: “Dá licença, dá licença,
dá licença...”. Em seguida rezou-se um Pai Nosso e uma Ave
Maria “por intenção de Nossa Senhora do Rosário, Nossa
Senhora da Guia, São Benetido, Santa Efigênia, que é nossa
guia, Nossa da Penha, Jesus e Ave Maria.”
Após este momento Seu Dola contou-me
que ele e Seu Zeca foram convidados a ir
até o Colégio Anglo para falar um pouco
sobre o Congado. Eles disseram ter ficado
muito satisfeitos com atenção dada pelas
crianças que tinham entre sete e oito
anos, e que se surpreenderam com a
educação e as perguntas que fizeram.
“As vezes nem dançador nosso que não
sabe sobre alguma coisa pergunta as
coisas pra gente daquele jeito.”
Após a reza do Pai Nosso, a banda repetiu a primeira música e todos
beijaram a bandeira, que neste dia ficou pendurada no muro por não ter
estado presente nenhuma bandeireira. Cantaram em seguida: ”Senhora
do Rosário, esta banda é sua, oh me dá licença pra eu sair na rua. Se
pintou ensaio, esta banda é sua...”
“(Seu Dola): Tão todos aí?
(Banda) Tâmo sim senhô.
(Seu Dola): Tão cansado?
(Banda) Tâmo sim sinhô.
(Seu Dola): Tão pertubado?
(Banda): Tâmo sim sinhô.
(Seu Dola): Mais pertubado tô eu.
Então vâmo ficar com nosso zóio
regalado, pra nós ficar bem
afinado pra outubro nós tirar Rei e
Rainha, Príncipe e Princesa do
trono, viu?
(Banda): Sim sinhô nosso Rei.”
Seu Dola então proferiu alguns dizeres como faz comumente para
toda a banda que respondia a uma só voz:
Neste momento chegou o tocador
de cuíca, dele foi solicitado que
para entrar na banda fosse beijar a
bandeira.
Seu Dola começou a cantar uma música sem o acompanhamento
da banda que falava sobre os compromissos com a irmandade e
com Nossa Senhora do Rosário:
“Ele desperezou, ele vai voltar, ele desprezou, ele vai voltar...” “Se
vai sair um dia avisa por caridade, o seu nome tá escrito no livro da
irmandade.”
A impressão é que ele estava rememorando uma música que o
restante da banda ainda não conhecia, mas pode ser que ele
inventasse a música naquele momento.
A banda começou a cantar outra música sob a orientação de Seu
Dola: “Para ver, para ver, para ver a mãe de Deus, nós viemos de
tão longe para ver a mãe de Deus.”
Seu Dola ensinou uma nova música ao grupo; ele cantaria as partes
de louvor à bandeira, à Nossa Senhora do Rosário e as hierarquias
da banda (Rei do meio, Violeiro, Reco-reco, etc.) e o grupo cantaria
o refrão: “Ora viva, ora viva!”
Seu Zeca disse nesta hora que há uma porção de músicas que não
são do conhecimento de todos e que tem de ser aproveitado este
momento de ensaio para entrar em contato com estas cantorias.
Antes de toda a banda começar a “nova” cantoria, alguém
demandou de Seu Dola que ensinasse como se dançava esta
música, ele esboçou alguns passos e o grupo o seguiu. Depois
tocaram-na, Seu Dola cantou três vezes os mesmos dizeres: “Oh,
Rainha do Congo, ora viva!” e o grupo repetiu no refrão: “Ora viva,
ora viva!”
Foi cantada outra música: “A Senhora do Rosário mãe da
consolação, merece mais respeito e mais consideração.” Seu
Dola cantou esta música isoladamente, a banda não o
acompanhou, a música que começou logo em seguida não
possuía o mesmo sentido: “Que Santa é essa, que tá na
bandeira? É virgem do Rosário,a mãe verdadeira.”
Neste momento Seu João de Deus chegou e para entrar na
banda repetiu o mesmo ritual de beijar a bandeira.
Como em todos os ensaios, havia mulheres
assistindo ao evento.
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