nilson cap 10 con senso washington
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10. O neoliberalismo e o Consenso de Washington
Ao longo da década de 1990, o governo dos Estados Unidos e
suas corporações realizaram uma segunda tentativa para levantar
a economia do país, que se encontrava estagnada desde os anos
de 1970. Para isso, refizeram o diagnóstico da origem da crise.
O diagnóstico subjacente à Reaganomics era o de que a
causa da crise encontrava-se na perda da supremacia econômica
para o Japão e a Alemanha, que provocara o déficit crônico de
sua balança comercial, e no aumento do salário real dos
trabalhadores estadunidenses e na subida dos preços das
matérias primas oriundas dos países da periferia, que teriam
diminuído a rentabilidade e a competitividade das empresas.
Foi com base nessa avaliação que a política da Reaganomics
confrontou o Japão e a Alemanha, pressionou os países da
periferia a reduzir o preço das matérias primas e diminuiu o
salário real dos trabalhadores estadunidenses. Apesar disso,
como examinamos no capítulo anterior, a crise estrutural
continuou.
O novo diagnóstico passou a ser o de que a causa da crise
seria o excesso de Estado na economia. Ressuscitou-se, para
isso, o ideário neoliberal que, como veremos adiante, havia
sido formulado no final da II Guerra em oposição ao pensamento
keynesiano.
Segundo o novo liberalismo, estaria havendo no mundo um
processo de globalização da economia, ou seja, estaria se
formando um mundo sem fronteiras econômicas. A afirmação dessa
tendência exigiria que as relações econômicas, tanto em cada
país, quanto em âmbito mundial, fossem reguladas pelo mercado.
Este seria capaz de distribuir adequadamente os recursos
existentes entre os distintos ramos da economia, regiões ou
países, de forma a promover a prosperidade, o bem-estar e a
felicidade geral da Humanidade.
Esse ideário foi corporificado num documento conhecido
como Consenso de Washington e, a partir daí, foi sendo
implementado mundo afora. Veremos que o mundo desenvolvido
aplicou apenas duas das dez recomendações – a desregulação
financeira e a queda dos direitos trabalhistas -, cabendo aos
países da periferia, sobretudo os da América Latina, adotar o
conjunto do programa.
Veremos que essa nova estratégia deixou um rastro de
destruição econômica no Terceiro Mundo e fez crescer como nunca
a riqueza financeira nos países centrais, mas, mais uma vez,
não conseguiu debelar a crise estrutural. Ao contrário,
acelerou as crises econômicas periódicas, ampliou as
vulnerabilidades da economia mundial e gestou as condições para
uma crise de maior profundidade.
O Consenso de Washington e o neoliberalismo
O sucessor de Reagan, seu ex-vice-presidente George Bush,
assumiu o governo, em 1989, quando a economia já derrapava em
direção à recessão. Tudo indicava que a política de Reagan
começava a revelar seu esgotamento.
Bush, como seu legítimo herdeiro, buscou revitalizar e
mesmo radicalizar sua política, ao aumentar a pressão sobre a
União Soviética e o Japão, mas, ao mesmo tempo, ao propor a
“Iniciativa para as Américas” e uma “nova ordem mundial” sob
comando dos Estados Unidos, ensaiou uma mudança de rumo na
estratégia de enfrentamento da crise econômica.
Sob seus auspícios, mas patrocinado formalmente pelo
Instituto Internacional de Economia (IIE), presidido por John
Williamson, reuniu-se em Washington, em 1989, um grupo de
acadêmicos e executivos do governo e das empresas
transnacionais estadunidenses, bem como do FMI, do Banco
Mundial e de grandes grupos financeiros, com o objetivo de
analisar o panorama mundial e propor alternativas para as
dificuldades econômicas então enfrentadas pela economia
mundial.
O embaixador Paulo Nogueira Batista (2009) foi um dos
primeiros a analisar o documento elaborado naquele encontro.
Segundo ele, o grupo reunido pelo IIE produziu um documento
conhecido como Consenso de Washington, constituído de dez
pontos, todos voltados à idéia de que o Estado deveria retirar-
se da economia e deixar sua regulação sob comando do mercado.
Os dez pontos do Consenso podem ser resumidos em apenas
quatro:
1) a “abertura econômica”, isto é, o fim das barreiras
protecionistas entre as nações, cujo objetivo básico era
abrir os mercados mundiais, particularmente os da América
Latina, para os produtos das corporações estadunidenses;
2) a “desestatização”, isto é, a privatização das empresas
estatais, cujo objetivo básico era passar para o controle
das transnacionais estadunidenses os recursos minerais e
setores estratégicos da América Latina, a fim de suprir de
matérias-primas abundantes e baratas a economia dos EUA,
cujos recursos minerais e fósseis estavam em fase final de
esgotamento, melhorando, ao mesmo tempo, sua competitividade
internacional;
3) a “desregulamentação financeira”, isto é, o fim das regras
que limitavam o movimento do capital em nível internacional
e no interior de cada país, particularmente o especulativo,
com o objetivo básico de viabilizar campos de aplicação
rentáveis e seguros para os excedentes financeiros que
escaparam do processo produtivo e circulavam na esfera
puramente especulativa;
4) a “flexibilização das relações de trabalho”, isto é, a
redução dos direitos sindicais, trabalhistas e
previdenciários, sobretudo nos países da América Latina, a
fim de que as transnacionais pudessem instalar nesses países
determinadas etapas do processo produtivo, particularmente
as de mão-de-obra intensiva, à moda das “maquiladoras”
mexicanas, com vistas a baratear os custos de seus produtos
e melhorar suas condições competitivas no mercado
internacional; visava, também, abrir novos campos de
investimento, em especial na previdência privada, para os
capitais excedentes dos EUA.
Sistematizou-se assim o que passou a chamar-se de
neoliberalismo, ideologia que prega a retirada do Estado da
economia e a regulação econômica por meio do mercado.
Os predecessores imediatos da doutrina neoliberal foram
Milton Friedman, Ludwig Von Misses e Frederick Von Hayek, que
desenvolveram suas idéias na década de 1940, em reação ao
predomínio do pensamento keynesiano nos meios acadêmicos e na
definição de políticas econômicas.
Hayek escreveu dois libelos contra a ação econômica do
Estado e a favor da regulação pelo mercado, O caminho da
servidão e os Fundamentos da liberdade, por meio dos quais
procurou contrapor-se ao pensamento keynesiano. Diz ele:
O Estado deveria limitar-se a estabelecer regras que se
aplicassem a tipos gerais de situação e deixassem os indivíduos
livres em tudo que depende das circunstâncias de tempo e lugar,
porque só os indivíduos interessados em cada caso podem
conhecer plenamente essas circunstâncias e a elas adaptar suas
ações (...) Quanto mais o Estado planeja, mais difícil se torna
o planejamento para o indivíduo (HAYEK, s.d.: 119-120).
Na mesma linha, seguiu Friedman:
Primeiro, o objetivo do governo deve ser limitado. Sua
principal função deve ser a de proteger nossa liberdade contra
inimigos externos e contra nossos próprios compatriotas;
preservar a lei e a ordem; reforçar os contratos privados;
promover os mercados competitivos (...) Se o governo deve
exercer o poder, é melhor que seja no condado; e melhor no
Estado do que em Washington (...) O governo não poderá jamais
imitar a variedade e a diversidade da ação humana (FRIEDMAN,
1984: 12-13).
Em síntese, para esses autores, o Estado deveria limitar-
se a promover os ”mercados competitivos” e a garantir a “lei e
a ordem” e os “contratos privados”. Isso significa que não
caberia outro papel ao Estado que proteger a propriedade
privada e seu corolário, o mercado. E este, deixado livre,
cuidaria da regulação da economia. Era o ressurgimento do
pensamento neoclássico, que predominara nas Ciências Econômicas
até a Grande Depressão e fora desbancado por John Maynard
Keynes.
O problema era que o mercado já não era tão livre. Depois
de décadas de concentração e centralização do capital, haviam-
se formado no mundo desenvolvido grandes corporações
empresariais, que atuavam cada vez mais de forma monopolista
(ver capítulo 2). Afastando-se o Estado da economia, não seria
a livre concorrência que regularia a atividade econômica, mas a
ação monopolista dessas corporações.
Na verdade, a implementação do neoliberalismo do
“Consenso” era a segunda tentativa estratégica de levantar a
economia estadunidense, que estava estagnada desde o início dos
anos de 1970: entre 1973 e 1993, seu PIB só cresceu a pouco
mais de 1% ao ano. A primeira tentativa se materializara na
Reaganomics. Como examinamos no capítulo anterior, essa
política não atingiu seu objetivo.
Veremos adiante que o programa econômico do Consenso,
salvo nos aspectos referentes à desregulamentação financeira e
à flexibilização das relações trabalhistas, não se destinava
aos países desenvolvidos – muito menos aos Estados Unidos. O
objetivo era aplicá-lo prioritariamente no mundo
subdesenvolvido, em particular na América Latina.
O objetivo imediato do governo dos EUA com o Consenso de
Washington era, de um lado, encontrar mercados para os produtos
e capitais excedentes das transnacionais estadunidenses e, de
outro, suprir-se de força de trabalho e de matérias-primas
baratas a fim de melhorar sua capacidade de competir no mercado
internacional.
Enquanto isso, o objetivo estratégico era ocupar o mercado
da América Latina a fim de usá-lo como plataforma para
prosseguir sua política de confronto com o Japão e a Alemanha.
Assim, o Consenso visava aplainar o caminho para a formação de
um bloco econômico nas Américas sob a hegemonia dos EUA.
Inicialmente chamada por Bush de “Iniciativa para as Américas”,
essa proposta receberia depois o nome de Área de Livre Comércio
das Américas (Alca).
A etapa de implementação do Consenso na América Latina
cuidaria de debilitar a economia regional e torná-la mais
vulnerável, de forma a favorecer um posterior domínio completo
dos monopólios estadunidenses na região, através da Alca.
Esse enfraquecimento da economia latino-americana se daria
à medida que, enquanto os EUA manteriam intactas suas barreiras
comerciais e suas estruturas produtivas, os governos da região
vinham implementando rigorosamente o programa preconizado pelo
Consenso.
O Nafta e a desestruturação da economia mexicana
Ao mesmo tempo em que buscava impor o Consenso na América
Latina, a administração Bush propôs a criação do Nafta, sigla
em inglês para o Tratado de Livre Comércio da América do Norte,
que integra num mercado comum os EUA, o Canadá e o México. O
Nafta seria o passo inicial para a criação da Alca.
Através desse bloco, as grandes corporações estadunidenses
ocupavam, crescentemente, o mercado interno do México e do
Canadá. Além disso, montavam plantas fabris no norte do México,
conhecidas como “maquiladoras”, que usavam mão-de-obra
intensiva para montar peças fabricadas nos EUA e exportar os
produtos daí derivados, geralmente inacabados, para os próprios
EUA e outras partes do mundo.
O custo médio da mão-de-obra no México estava, em 1997,
em torno de US$ 1,47 por hora, mas as “maquiladoras” pagavam
menos ainda: em torno de US$ 5,00 por dia e basicamente para o
trabalho feminino, que ocupava 60% das vagas oferecidas.
Até um trabalhador mexicano nos EUA, que ganhava muito
menos do que um estadunidense, chegava a receber lá dez vezes
mais do que as “maquiladoras” pagavam no norte do México. Esse
era um dos expedientes utilizados pelas corporações para
competir no mercado mundial.
Já antes da inauguração do bloco, em 1994, as corporações
estadunidenses vinham inundando a economia mexicana com seus
produtos, em face da política de redução das barreiras
alfandegárias e da valorização da moeda mexicana: em 1993, já
haviam exportado US$ 41,6 bilhões, mais do que para o resto da
América Latina.
Entre 1989 e 1994, enquanto o PIB mexicano crescia a um
ritmo inferior a 3% ao ano, as importações o faziam a 26%. De
1988 a 1994, elas cresciam quatro vezes mais do que as
exportações. Em 1994, essa situação se agravou, somando-se às
dificuldades financeiras provocadas basicamente pela elevação
das taxas de juros nos EUA, levando à crise que explodiu as
contas externas do México no final daquele ano1.
O resultado foi a destruição de indústrias e de empregos
naquele país, situação que nem de longe foi compensada pela
instalação das “maquiladoras”. Todas as plantas que então
estavam no México só ocupavam em 1998 um milhão de
trabalhadores, quando só na crise mexicana deflagrada em
dezembro de 1994 se perderam mais de dois milhões de empregos.
Além disso, como as transnacionais estadunidenses traziam
as peças de suas matrizes nos EUA apenas para montar o produto
final ou fabricavam determinadas peças de menor valor agregado
no México para montar o produto final nos EUA, agregavam muito
pouco valor do lado mexicano. Estudo da época mostra que,
enquanto nos estados não-fronteiriços do México para cada 100
de valor da produção se adicionava no país um valor de 43, nos
estados da fronteira, ou seja, onde estão as “maquiladoras”, o
valor adicionado era de apenas 22,2 (INEGI, s.d.).
De 1995 em diante, houve uma melhora da conta comercial do
México com os EUA, chegando, inclusive, a obter superávits. As
importações seguiram crescendo - já haviam chegado a US$ 56
bilhões em 1996 -, mas houve um avanço das exportações.
De um lado, porque, com a crise, sua moeda sofreu uma
forte desvalorização, permitindo melhorar a competitividade
1 Não foi por mera coincidência que o México foi, de um lado, o primeiro país da América Latina a sofrer insolvência financeira em face da crise da divida em 1982 e, de outro, também o primeiro a entrar em colapso financeiro em face da aplicação do modelo neoliberal em 1994. Sua maior proximidade com os EUA ajuda a explicar esse fenômeno.
externa de seus produtos. De outro, porque o recrudescimento da
inflação e do desemprego jogou os salários ainda mais para
baixo, atraindo novas “maquiladoras”2 com o objetivo de montar
produtos basicamente para o mercado estadunidense: sua
participação nas exportações mexicanas, que era de 16% em 1980,
atingiu 50% em 1997.
Mas, a partir de 1998, os superávits começaram a
desaparecer. Isso porque o objetivo central das transnacionais
estadunidenses, nos países do lado de baixo do Rio Grande, não
era instalar plantas industriais, ainda que o fizessem em certa
medida para explorar a força de trabalho barata,
particularmente no caso do México, dada a proximidade
geográfica do seu mercado. Seu objetivo era monopolizar o
mercado interno da região, além de se apropriar de seus
recursos naturais.
A implementação das medidas do “Consenso” na América
Latina
A drástica diminuição ou mesmo anulação das barreiras
tarifárias e não-tarifárias na América Latina, ao lado da
valorização artificial das moedas da maioria dos países da
região, operou na época como um verdadeiro subsídio à produção
estrangeira, favorecendo sua entrada nessas economias.
2 O número de empregos nessas fábricas, que não passava de 500 mil antes da crise, chegou a 1 milhão logo depois em 3.650 empresas.
Segundo a professora de economia do Massachusetts
Institute of Technology (MIT), Alice Amsden, essa foi uma
política deliberada do governo dos Estados Unidos, conforme lhe
confessaram em uma mesa-redonda altos funcionários do comércio
internacional e do Tesouro daquele país, os quais alegaram a
necessidade de diminuir seus déficits comerciais; e citaram
explicitamente o Brasil como um dos países que deveriam adotar
essa política (CARTACAPITAL, 10.06.1998: 31).
De acordo com levantamento da CEPAL, a tarifa média de
importação na região caiu de algo em torno de 40% para menos de
15% (CEPAL, 1996). Sem exigir qualquer contrapartida, os países
latino-americanos foram aderindo um a um a essa abertura
comercial: México e Chile em 1985 (este último já fizera um
ensaio na década de 1970), a Bolívia em 1986, a Argentina e a
Venezuela em 1989, o Brasil, o Peru e a Colômbia em 1990.
A queda das tarifas de importação no Brasil foi ainda mais
forte do que a média latino-americana: a média ponderada da
tarifa legal, que estava em 60% em meados da década de 1980,
caiu para 12% em 1996. Conforme estudo da OIT (1994), a
proteção efetiva (que inclui subsídios ou incentivos a produtos
importados) caiu de 47,3% em 1985 para 16,5% em 1993, chegando
em 1997 à insignificante taxa de 7%. E isso ocorria ao mesmo
tempo em que iam sendo eliminadas as barreiras não-tarifárias,
como ocorreu com a reserva de mercado na informática.
Por outro lado, estudo do BNDES, usando como deflator o
IPC da FIPE (órgão de pesquisa da USP), revelava em 1995 uma
valorização da nossa moeda de 30,1% em relação à média de 1989.
Trabalho da CEPAL, tomando como base 1987, mostrava uma
valorização de 55%.
Em conseqüência, o coeficiente de importação do Brasil
(importações sobre produção interna) aumentou de 4,3% em 1989
para 15,6% em 1996, excedendo os 60% em setores de tecnologia
avançada, como os de máquinas e equipamentos, material
eletrônico e de comunicação, segundo estudo do IBGE. De 1993 a
1996, o coeficiente aumentou de 8% para 25% em peças e
componentes e de 29% para 70% em informática e
telecomunicações.
Ao mesmo tempo, os EUA não apenas mantinham como,
inclusive, reforçavam suas barreiras alfandegárias. Às vezes
reduziam determinadas tarifas de importação, mas rapidamente as
substituíam por barreiras não-tarifárias. No final da década de
1990, 67 produtos brasileiros tinham seu acesso bloqueado ao
mercado estadunidense. Na mesma época, o governo dos EUA editou
40 leis e decisões executivas destinadas a aplicar sanções
econômicas contra 75 nações, que representam 42% da população
mundial.
As barreiras não-tarifárias iam desde as convencionais,
como o estabelecimento de cotas, subsídios, direitos
compensatórios e medidas anti-dumping, até outras menos
convencionais, como a acusação de violação dos direitos
indígenas ou de agressão ao meio ambiente e aos direitos
sociais. O objetivo não era outro senão proteger sua economia
da entrada de nossos produtos.
As exportações dos EUA para a América Latina aumentaram de
US$ 35 bilhões em 1987 para US$ 92,6 bilhões em 1994. A
decorrência dessa política foi que a América Latina passou a
ser na época a única região do globo em que os EUA conseguiam
superávit comercial. Vendiam para a América Latina e Canadá,
conforme declaração do então presidente Bill Clinton na Cúpula
das Américas, realizada no Chile, em abril de 1998, 42% do
conjunto de suas exportações.
E, com isso, promoviam a rápida deterioração das contas
externas latino-americanas: o déficit em transações correntes
da região (comércio, serviços e remuneração do capital) subiu
de US$ 35 bilhões em 1996 para US$ 60 bilhões em 1997, chegando
a US$ 65 bilhões quando se excluía a Venezuela, que exporta
petróleo (ONU-CEPAL, 1998). Em 1998, já havia ultrapassado os
US$ 90 bilhões.
Isso sem contar a amortização de dívida externa. Se
tomarmos só o caso do Brasil, quando se incluía a amortização,
o déficit externo explodia: aumentou de US$ 29,11 bilhões em
1995 para US$ 38,79 bilhões em 1996 e para US$ 62,20 bilhões em
1997 (BANCO CENTRAL DO BRASIL, vários números).
A criação da Alca reforçaria ainda mais essa tendência.
Segundo estudo do IPEA, órgão do Ministério do Planejamento do
Brasil, se as tarifas aduaneiras fossem zeradas entre os países
das Américas, as exportações dos EUA para o Brasil cresceriam
duas vezes mais do que as do Brasil para aquele país.
Mesmo antes da Alca, esse processo de abertura comercial
já havia destruído indústrias e empregos na América Latina. No
caso do Brasil, segundo o IBGE, o emprego industrial caiu 34,2%
de 1989 a 1996. O encolhimento da indústria também foi muito
forte: de acordo com estudo da OIT já citado, a participação do
produto industrial no PIB, que, em média, esteve na faixa de
40% na década de 1980, atingindo 44% em 1986, caiu para 34% em
1994. A participação do emprego industrial no emprego total,
que sempre aumentou desde a Revolução de 30, caiu de 22,8% em
1990 para 19,6% em 1995 (dados do IBGE).
Isso revela o nível a que chegou a desindustrialização do
país. Setores inteiros foram fortemente afetados, como
autopeças, calçados, roupas, brinquedos etc.
A chamada precarização das relações de trabalho, isto é, o
lançamento de milhões de trabalhadores no subemprego, foi outra
conseqüência desse processo de destruição da indústria em nossa
região. Segundo dados do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), os trabalhadores “informais”, que já
representavam a enorme cifra de 51,6% da força de trabalho da
América Latina em 1990, subiram para 57,4% em 1996.
Enquanto uma parte das indústrias da região era destruída,
outra era absorvida por grupos estrangeiros. O exemplo do
Brasil é, mais uma vez, sintomático. Segundo levantamento da
consultoria KPMG, 73% dos capitais envolvidos em fusões e
aquisições no Brasil, de 1994 a 1996, tinham procedência
estrangeira, índice que não passava de 14% em 1992.
Relatório da UNCTAD3, por sua vez, mostra que praticamente
todo o chamado investimento direto estrangeiro na América
Latina em 1999, no valor de US$ 97 bilhões, destinou-se à
aquisição de empresas nacionais, nada acrescentando à
capacidade produtiva da região.
Ao mesmo tempo, avançou bastante o processo de
privatização de empresas estatais da região, com destaque para
os setores de minérios, petróleo, aço, energia e
telecomunicações. Nunca houve tanta desnacionalização, em tão
pouco tempo, como ocorreu na década de 1990 na América Latina.
Em grande medida, os mercados da região, as fontes de matérias-
primas e os setores tecnologicamente mais avançados (como os de
bens de capital e de telecomunicações) foram absorvidos e
monopolizados pelo capital estrangeiro.
Além da desnacionalização e da desindustrialização, o
aumento do endividamento externo foi outra conseqüência desse
processo de avanço econômico externo na América Latina na
década de 1990. Segundo a Cepal, a dívida externa da região
aumentou de US$ 500 bilhões em 1992 para US$ 800 bilhões em
2000.
3 Sigla em inglês para Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.
Isso ocorreu, em grande medida, porque as políticas de
abertura comercial provocaram déficits comerciais, que eram
cobertos, em boa parte, com a tomada de empréstimos no
exterior.
Para levar adiante a política do Consenso na região, o
governo dos Estados Unidos utilizou como instrumento de
pressão, além de sua “diplomacia da força” e do tradicional
FMI, o Banco Mundial (BIRD) e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). Se antes essas instituições combinavam o
papel de instrumento de intervenção do governo dos EUA na
região com a promoção e financiamento de políticas regionais de
desenvolvimento, a partir da década de 1990 passaram a cumprir
exclusivamente o primeiro papel.
Foi isso que ficou claro com a divulgação de documentos
tidos como secretos desses bancos em relação ao Brasil. Os
documentos “Estratégia de Assistência ao País”, do BIRD, e
“Documento de País”, do BID, que tiveram a concordância do
governo brasileiro, estabeleciam com detalhe a política
econômica que deveria ser posta em prática no Brasil nos anos
de 1990. E isso coincidiu com um período em que, em lugar de
receber recursos dessas instituições, o Brasil realizava
transferências líquidas para elas. No caso do BIRD, a remessa
líquida do Brasil chegou a superar a cifra de US$ 1 bilhão por
ano no período de 1993 a 1996 (MINEIRO et alii, 1998)
O Mercosul como instrumento de defesa do cone sul da
América do Sul
Na segunda metade da década de 1980, os países do cone sul
da América do Sul - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai -,
haviam deflagrado um processo com vistas a criar um mercado
comum na região, que receberia o nome de Mercado Comum do Sul -
Mercosul. Essa iniciativa, capitaneada pelos presidentes que
estavam governando na fase de redemocratização do Brasil (José
Sarney) e da Argentina (Raúl Alfonsin), visava enfrentar a
realidade adversa provocada pelo longo período de estagnação
econômica que atravessavam esses países.
A implantação do Mercosul, no entanto, já se deu sob as
administrações de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique
Cardoso, no Brasil, e de Carlos Menen, na Argentina.
Influenciados pelas idéias neoliberais, corporificadas no
Consenso de Washington, mudaram, na prática, os objetivos
iniciais do bloco. Em lugar da integração produtiva prevista
nos acordos iniciais, praticou-se a integração comercial.
De área de integração com vistas à defesa das nossas
economias diante de um cenário internacional adverso,
destacando-se a disputa entre os “três grandes” pela redivisão
do mercado mundial, tornou-se um mercado ampliado para as
mercadorias de fora da área, oriundas principalmente dos EUA.
Pois, ao lado da redução das tarifas intra-regionais, também
reduzia-se a chamada tarifa externa comum (TEC) e se
valorizavam as moedas locais, em verdadeiro subsídio aos
produtos estrangeiros.
Depois da criação do Mercosul, as exportações dos EUA para
a região aumentaram significativamente. O caso do Brasil é mais
uma vez exemplar, não apenas por ser o país mais importante do
bloco, mas também por possuir a economia mais forte. De 1991 a
1994, o Brasil teve um superávit comercial médio de US$ 1,7
bilhão por ano com os EUA, mas em 1995 já havia se convertido
num déficit de igual montante, que subiu em 1996 para US$ 2,5
bilhões e em 1997 para US$ 5,5 bilhões - cerca de 60% de todo o
déficit comercial brasileiro no ano. As importações brasileiras
com origem nos EUA, que estiveram em torno de US$ 5 bilhões
anuais nos três primeiros anos da década de 1990, já haviam
atingido US$ 12 bilhões em 1996 (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 1992-
96).
Se considerarmos o conjunto da América do Sul, as
exportações estadunidenses quase dobraram de 1991 para 1995,
passando de US$ 15,9 bilhões para US$ 28 bilhões, conforme
dados do Departamento de Comércio dos EUA.
Mas as corporações estadunidenses não se contentavam com
esse crescimento de suas exportações. Queriam um espaço maior
no mercado latino-americano. A lógica dos monopólios é
monopolizar. Não aceitam compartilhar o mercado com outros
concorrentes. O Mercosul, apesar de estar servindo mais a seus
interesses, também abria algum espaço para o empresariado da
região.
Por isso, na luta do governo e das corporações
estadunidenses para criar a Alça, colocavam como objetivo
primordial a quebra do Mercosul. A secretária de Estado da
administração Clinton, Madeleine Albright, declarou: “o
Mercosul é nocivo aos interesses dos Estados Unidos”.
Reforçando essa opinião, a então representante do
Escritório Comercial dos EUA, Charlene Barshefsky, depois de
classificar o Mercosul como “uma unidadezinha de comércio ou
sisteminha de regras próprias”, acusou-o de ter “um claro
objetivo estratégico de expansão comercial e fortalecimento nos
negócios mundiais”, o que, para ela, seria totalmente
inaceitável, porque representaria uma ameaça aos interesses
comerciais e à “liderança” dos EUA no hemisfério. Daí, concluiu
que o Mercosul devia dissolver-se no Nafta, como caminho para
formar a Alca.
A implementação desse projeto, ao liberalizar o comércio
da região, poderia comprometer seriamente o processo de
industrialização em curso na América Latina, fazendo-a regredir
aos antigos modelos primário-exportadores. Mas, sem
agricultura, já que os Estados Unidos, com base nos subsídios,
protegem fortemente sua produção agrícola.
Estados Unidos, União Européia e Japão nunca foram tão
protecionistas como naquela época na área de cereais. Segundo o
FMI, o subsídio efetivo nessa área nos Estados Unidos era de
27%, na União Européia de 38% e no Japão de 72% (FMI, set.
1990).
Estimava-se que as diversas formas de subsídios nesses
países chegassem então a US$ 585 bilhões, sendo US$ 160 bilhões
só na área da agricultura. Se considerarmos o conjunto dos
países da OCDE, os subsídios à agricultura aumentaram de US$
329 bilhões em 1997 para US$ 361 bilhões em 1999 (FMI-BIRD,
2000).
Por sua vez, estudo da Fundação Getúlio Vargas indicou que
essas barreiras impediam que as vendas de produtos agrícolas e
alimentares brasileiros para o exterior aumentassem em 50%.
Ao mesmo tempo, o Brasil transformou-se na época num
grande importador de produtos agrícolas: essas importações não
passavam, em média, de US$ 2,7 bilhões por ano no período
1991/1993, mas, no primeiro ano do Plano Real (1994), subiram
para US$ 4,2 bilhões, avançando para uma média anual de US$
6,25 bilhões de 1995 a 1997 (BANCO CENTRAL DO BRASIL, jan.
1998).
Nesse quadro de deterioração econômica da América Latina,
a intensa pressão do governo dos EUA para criar a Alca terminou
produzindo efeito contrário na região. Despertou entre o
empresariado e governos da região um movimento de resistência à
formação do bloco. Exemplo disso foi a Cúpula de Santiago,
realizada em maio de 1998. Prevista para estabelecer os
critérios para a criação da Alca, não conseguiu chegar a acordo
algum.
Isso era uma indicação das dificuldades que enfrentavam os
EUA para levar adiante sua estratégia de dominação da região. E
essa resistência se manifestava de diversas formas e em
distintos fóruns:
- os EUA não conseguiram impor a criação de uma força
militar interamericana para intervir na região nem evitar
a “descertificação” da Colômbia;
- prosseguiam as denúncias de sua prática discriminatória
no comércio;
- os governos latino-americanos e caribenhos mantinham o
repúdio à lei Helms-Burton, que havia reforçado o bloqueio
econômico a Cuba;
- a Assembléia Geral da OEA aprovou no Panamá resolução em
aberto desafio à delegação dos Estados Unidos;
- prosseguiam as tensões nas reuniões de ministros de
Comércio e das Relações Exteriores das Américas, sobretudo
em oposição à Alca.
A reação européia: acelerar a integração regional
Em reação à ofensiva adotada pelo governo dos EUA desde os
anos de 1980, tendo como instrumento a forte desvalorização do
dólar, a Europa, sob a liderança da Alemanha, procurou acelerar
seu processo de unificação. Entre as medidas utilizadas nesse
processo de unificação, recorreram-se às propostas pelo
Consenso, particularmente no que diz respeito à diminuição das
barreiras alfandegárias e dos direitos trabalhistas.
Nesse processo, as corporações alemães, que eram mais
poderosas, passaram a absorver e, em alguns casos, a destruir
as estruturas produtivas do Leste Europeu, principalmente na
antiga Alemanha Oriental. Além disso, destruía-se a indústria
das regiões mais atrasadas da Europa Ocidental, como Portugal,
Espanha e Grécia. Em face disso, o desemprego na Espanha chegou
a atingir a faixa dos 20% da força de trabalho e o do conjunto
da Europa ultrapassou os 11%.
Esse processo de unificação européia enfrentou grandes
resistências, pois havia a compreensão de que beneficiaria
principalmente as economias mais fortes, sobretudo a alemã. Na
maioria dos casos, os governos deixaram de consultar a
população (através de plebiscito) sobre a unificação, com
receio de não ser aprovada, sendo a decisão tomada em nível do
executivo ou, no máximo, do parlamento.
Onde houve plebiscito, o resultado revelou uma nítida
divisão da população e houve casos, como o da Dinamarca, em
que o “não” chegou a vencer numa primeira votação. A Inglaterra
seguiu resistindo e não participou da unificação monetária em
1999, ao lado de outros três países, como a Suíça, onde o “não”
ganhou em plebiscito com 77% dos votos.
As resistências foram maiores na política de quebra dos
direitos trabalhistas, isto é, de extinção do Welfare State
(“Estado de Bem-Estar”). Trata-se, na realidade, de direitos
conquistados ao longo de séculos pelos trabalhadores europeus,
que se expandiram depois da II Guerra Mundial. A quebra desses
direitos passou a ser uma condição “sine qua non” para a
unificação européia sob hegemonia da Alemanha.
O objetivo era diminuir os custos trabalhistas a fim de
melhorar a capacidade de a Europa competir no mercado
internacional. Buscava-se competir, não com a melhoria da
tecnologia e, portanto, da produtividade, mas, mais uma vez,
com base na redução do custo do trabalho. Os trabalhadores
europeus realizaram grandes mobilizações e movimentos grevistas
com o objetivo de garantir seus direitos históricos.
Mas o processo de unificação européia e de quebra do
“Estado de Bem-Estar” seguiu avançando. A 1o. de janeiro de
1999, a união monetária, através da moeda única, o euro, deu um
passo decisivo nesse processo de unificação.
No entanto, as contradições continuaram:
- ficaram de fora da união monetária quatro dos quinze
países-membros da União Européia, entre eles a
Inglaterra
- estabeleceu-se uma disputa acirrada, em maio de 1998,
entre a Alemanha e a França, durante a escolha do
presidente do novo Banco Central europeu, que se
responsabilizaria pela emissão da nova moeda, bem como
pelo conjunto da política monetária, cambial e de
juros.
A disputa entre a França e a Alemanha expressava a
resistência dos franceses a serem enquadrados na política
expansionista da Alemanha, que implicava a quebra dos direitos
sociais em toda a Europa.
Estimava-se, na época, que o euro, depois que se tornasse
uma moeda corrente, e não apenas moeda de conta como
inicialmente, teria condição de competir com o dólar na divisão
do mercado financeiro internacional: o economista-chefe do
Deutsche Bank, Norbert Walter, estimou que o euro dominaria 35%
das transações comerciais do mundo, além de desafiar a
supremacia do dólar como moeda de reserva dos bancos centrais.
O economista Fred Bergsten, diretor do Instituto de
Economia Internacional e ex-secretário-adjunto do Tesouro dos
Estados Unidos, avaliava que “o dólar e o euro provavelmente
acabarão, cada um deles, dominando cerca de 40% das finanças
mundiais, restando cerca de 20% para o iene, o franco suíço e
outras moedas mais fracas” (BERGSTEN, 2000).
Na década de 1990, as duas economias (EUA e Europa) se
equivaliam: enquanto a União Européia era responsável por 31%
da produção mundial e 20% do comércio, os EUA respondiam,
respectivamente, por 27% e 18%. O PIB europeu, em 1996, era um
pouco superior ao dos EUA: US$ 8,4 trilhões contra US$ 7,2
trilhões (Ibid.).
Mesmo que a Europa não seja uma nação, mas um aglomerado
de nações, cujas corporações empresariais têm conflitos entre
si e cujos povos resistem ao domínio de uma potência com
pretensões hegemônicas, como a Alemanha, é evidente que o peso
desse país na disputa econômica com os EUA seria maior do que
antes da criação da União Européia, ainda que esta, em face das
resistências nacionais, não se submetesse inteiramente à
supremacia germânica.
Isso significa que a polarização entre os EUA e a União
Européia tenderia a crescer no futuro, ao lado do acirramento
dos conflitos internos na própria Europa. Havia a tendência de
que essa redivisão do poder monetário se daria em meio a
enormes conflitos, podendo desencadear uma violenta guerra
comercial, com o conseqüente recrudescimento do protecionismo.
Japão tentou constituir um bloco informal com os “tigres
asiáticos”
No caso do Japão, a situação era mais delicada. Procurou
adotar em relação aos seus parceiros comerciais da Ásia (os
chamados “tigres asiáticos”) o mesmo programa preconizado pelo
Consenso. Não precisou buscar quebrar os direitos sociais,
porque eles quase inexistem na região.
O que as corporações japonesas queriam era facilidade para
aplicar seus capitais excedentes no mercado financeiro ou nas
empresas desses países, além de abrir suas fronteiras para a
entrada de seus produtos ou usá-los como plataforma de
exportação de produtos baratos para o resto do mundo.
Necessitados de capitais para produzir para o mercado
mundial (dada sua “vantagem comparativa” de custos salariais
mais baixos), os governos dessas nações fizeram uma espécie de
troca com o Japão: abriram seus mercados em troca de novos
capitais. Contribuiu para isso a valorização de suas moedas que
resultara dos enormes superávits comerciais e, portanto, das
reservas em dólar que haviam acumulado anteriormente.
Começava a mudar a história de protecionismo dos “tigres”
e, com essa mudança, se preparava o seu colapso. As exportações
do Japão para os chamados países emergentes do Sudeste da Ásia
aumentaram de 24% de sua pauta total de exportações em 1985
para 44% em 1997.
A pressão que o governo dos EUA, por meio do FMI e do
BIRD, exerceu por uma maior abertura comercial e financeira
nesses países, a fim de procurar ocupar seus mercados, terminou
por ajudar o Japão na sua investida na região. O fato de os
“tigres” dependerem demasiado do mercado estadunidense para
escoar suas exportações os havia deixado muito vulneráveis a
essas pressões. Desde 1987, adotaram-se nesses países medidas
tais como desregulação das taxas de juros e dos mercados de
câmbio, privatização de bancos estatais (como o Banco de
Desenvolvimento da Coréia), abertura de seus mercados etc.
De superavitárias que eram antes, essas economias passaram
a ter enormes déficits em suas contas correntes com o exterior.
Por ocasião da crise de 1997, chegaram a ter déficits externos,
sem contar a amortização de dívida, que variaram de 4% a 8% do
PIB.
Registre-se que os especuladores costumam fugir em massa
de um país quando seu déficit externo se aproxima dos 5% do
PIB, pois avaliam que começa a comprometer-se a possibilidade
de resgatar suas aplicações no futuro. O déficit comercial dos
“tigres” era basicamente com o Japão: aumentou de US$ 5 bilhões
em 1985 para US$ 84,5 bilhões em 1994.
Para cobrir esses déficits, tomavam cada vez mais dinheiro
emprestado no exterior, sobretudo do Japão, que usava para isso
não apenas o superávit que obtinha com os EUA, mas o que
conseguia nesses mesmos países: nos anos de 1980, a dívida
externa total dos países asiáticos, excetuando o Japão,
triplicou. Na década de 1990, o endividamento continuou: a
dívida externa coreana, por exemplo, aumentou de US$ 50 bilhões
em 1994 para US$ 150 bilhões em 1997.
Tomavam dinheiro emprestado, mas não tinham campo de
investimento produtivo suficiente para absorvê-lo, já que, com
suas moedas supervalorizadas, além da pressão da concorrência
japonesa e chinesa, enfrentavam cada vez maiores dificuldades
para exportar seus produtos. Boa parte do dinheiro ia,
portanto, para a especulação em títulos, ações, terrenos,
imóveis, como já ocorrera com o Japão.
Além de dependerem cada vez mais dos capitais
especulativos japoneses para financiar seus déficits em conta-
corrente, os tigres exportadores da Ásia foram tomados pela
especulação interna. Nessa onda especulativa, empresas tomavam
dinheiro fácil emprestado sem a menor garantia de poderem pagar
porque não tinham mais garantia de vender seus produtos no
mercado internacional. Era uma situação evidentemente
insustentável. A pradaria estava seca e poderia pegar fogo à
primeira faísca que fosse ateada.
Esse processo de formação de “regiões”, isto é, de
tentativa de redivisão do mundo entre as grandes potências,
prejudicou seriamente as nações mais débeis. Foi o que ocorreu
na Europa do Leste e na parte mais pobre da Europa Ocidental,
na América Latina e na Ásia. A expansão das economias dos
países centrais passou a demandar a destruição do que havia se
construído na periferia ao longo de dezenas de anos.
A continuar aquele processo, as regiões mais pobres teriam
suas indústrias devastadas e voltariam a ser meros mercados das
indústrias dos países centrais, bem como fornecedores de
matérias primas e força de trabalho baratas, como na época da
antiga divisão internacional do trabalho – ou que se
transformassem em meros centros turísticos, como no caso da
Espanha, Portugal e Grécia.
Globalização: “política de avanço econômico em outros
países”
A doutrina neoliberal começou a difundir nos anos de 1990
que estaria em curso no mundo um processo de globalização.
Globalização, segundo eles, seria a abolição das fronteiras
econômicas entre as nações, o que permitiria a livre mobilidade
de capitais, mercadorias, tecnologia e força de trabalho em
nível mundial.
Mostramos anteriormente que o reforço do protecionismo
pelos “três grandes”, a partir da década de 1980, dificultou
ainda mais a mobilidade internacional de mercadorias. A
mobilidade passou a ser cada vez mais uma mobilidade de mão
única: dos países centrais para as nações mais débeis
integrantes da “região” que queriam construir sob seu domínio4.
E mesmo isso tinha seus limites. Num primeiro momento,
quando se realizou a abertura comercial dos países
subdesenvolvidos, o comércio mundial cresceu em níveis
inéditos. No entanto, ao destruir parte da capacidade produtiva
desses países, processo também destruía seu poder de compra. E,
por isso, começaram a cair os ritmos de crescimento do comércio
mundial: foi de 10% em 1994, 8% em 1995 e 5% em 1996
4 Documento do Grupo dos 24 (que reúne os 17 principais países ditos em desenvolvimento, mais os integrantes do G7), divulgado em fins de abril de 2001, em Washington, revelou que os países pobres perdiam US$ 100 bilhões de exportação por ano graças às barreiras protecionistas dos países ricos.
(RICUPERO). Dados da OMC revelam que esse ritmo havia baixado
para 3,5% em 1998.
Ao perderem o emprego na periferia, os trabalhadores
passaram a tentar migrar para os países do centro a fim de
recuperar seus empregos, mas ali encontravam enormes
dificuldades de acesso. Até o Brasil, que tem sido conhecido
mundialmente pela generosidade com que recebe há séculos
migrantes estrangeiros, começou a ver seus cidadãos tentarem
migrar, na maioria das vezes temporariamente, para outros
países em busca de emprego. O Decassegui, retorno temporário de
filhos de japoneses para servirem de mão-de-obra barata no
Japão, é apenas indicação mais antiga desse fenômeno.
Mas o exemplo mais simbólico dessa transmigração é o da
fronteira entre o México e os Estados Unidos. O governo desse
país começou a construir na década de 1990 de uma muralha de
3.140 km para separar os dois países e, assim, impedir a
migração dos mexicanos que perderam o emprego em seu país
devido à entrada indiscriminada de produção estadunidense.
O muro é patrulhado diuturnamente pela Border Patrol
(Patrulha de Fronteira), cujos métodos truculentos tem sido
largamente denunciados na imprensa dos dois lados da fronteira.
Segundo estudo da Universidade de Houston, entre 1994 e 1997,
1.185 mexicanos morreram tentando atravessar a fronteira
(MANIFESTO, dez. 1997).
A União Européia também começou a construir um muro no sul
da Espanha a fim de evitar a imigração de trabalhadores de
origem árabe. O Acordo de Schengen limita seriamente a
imigração na Europa. Em face desse acordo, chegou, inclusive, a
ser abalada a tradicional amizade entre brasileiros e
portugueses (como ocorreu no rumoroso “caso dos dentistas”),
depois que Portugal ingressou na União Européia e, por isso,
começou a limitar o ingresso de brasileiros no país.
Na área de tecnologia, também não há livre movimentação
internacional. Cada vez mais, as descobertas tecnológicas são
feitas por grandes estruturas de pesquisas, financiadas direta
ou indiretamente pelos distintos governos nacionais, mas que
são apropriadas e monopolizadas pelos grandes conglomerados
empresariais.
Em face da disputa que se abriu entre as corporações dos
“três grandes”, as empresas passaram a disponibilizar para o
Terceiro Mundo, cobrando regiamente seus royalties, as
tecnologias mais antigas, mas conservam para si as tecnologias
de ponta. Para reforçar esse monopólio tecnológico, o governo
dos EUA pressionou os países da periferia a aprovar “leis de
patentes”, que permitem o patenteamento, por empresas
estrangeiras, inclusive de descobertas feitas com materiais
genéticos desses países.
A mobilidade internacional de capitais é a única área em
que há algo com a aparência do que se chama de globalização.
Não que esteja havendo remessa de capitais dos países centrais
para investir na produção dos países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento, como já ocorreu no passado.
Os capitais dos países centrais intensificaram, na década
de 1990, sua movimentação pelo mundo para adquirir, a baixo
preço, patrimônios públicos e privados das nações mais débeis;
ou, sob a forma líquida, financeira, para especular e obter
ganho fácil, rápido e seguro nos distintos mercados financeiros
do mundo, num volume infinitamente maior do que a parte que
busca a aquisição de patrimônios produtivos.
Em apenas sete anos, de 1990 a 1997, essa massa de
capitais especulativos cresceu quase 13 vezes, passando de US$
5 trilhões para US$ 63,7 trilhões. Para que isso ocorresse,
realizou-se, por pressão dos EUA e da força do dólar, a
desregulamentação cambial e financeira de quase todo o planeta;
esta se completou, no fundamental, até 1992.
Esses capitais especulativos se movimentam pelo mundo
literalmente na velocidade da luz5. No começo dos anos 2000,
estimava-se que o movimento diário era da ordem de US$ 1,9
trilhão, 100 vezes o volume diário das transações
internacionais de mercadorias6. Quando os teóricos do início do
século XX escreveram que, na época, as exportações de capitais
5 As ordens de aplicação são feitas através dos modernos sistemas de telecomunicações, que usam a fibra ótica e o raio laser como meio de transmissão.6 Seu movimento diário havia subido de US$ 75 bilhões em 1979 para US$ 500 bilhões em 1990 e US$ 1,8 trilhão em 1998 (TOUSSAINT, 2001: 90).
passaram a preponderar sobre as de mercadorias jamais
imaginaram que a proporção seria essa.
A especulação que passou a vicejar na década de 1990 era
infinitamente mais irracional do que em qualquer outra época
anterior. Os derivativos, que compõem a imensa massa dos
capitais especulativos e que são títulos emitidos com base em
outros títulos ou em meros indicadores da economia, passaram a
assumir literalmente o caráter de aposta.
Os apostadores emitem, compram ou vendem títulos com base
na expectativa do comportamento futuro de determinados
indicadores econômicos. Quem acertar ganha a aposta. A melhor
designação desse mundo da especulação não poderia ser outra
senão a de cassino global, onde, até que sobreviesse o colapso,
só ganhavam os grandes apostadores, os chamados
megaespeculadores.
Com essa massa de capital especulativo circulando pelo
mundo, a economia mundial capitalista passou a se expor a um
grau de vulnerabilidade que nunca teve antes. A crise mexicana
ou a quebra do Banco Bering na Inglaterra ou as sacudidas nas
bolsas da Ásia ou na Rússia e no Brasil foram suficientes para
abalar seriamente o conjunto da economia mundial.
A razão disso é simples, e quem o demonstra é o banco dos
bancos centrais, o BIS7: segundo seus cálculos, uma alteração
de apenas 1% na composição das aplicações internacionais dos
chamados investidores institucionais do G-7 equivaleria a 27%
7 Bank for International Settlements. Em português, Banco Internacional de Compensações.
dos mercados acionários da Ásia e a 66% de todos os mercados
acionários da América Latina.
Isso significa que uma mera mexida na carteira de alguns
grandes especuladores pode derrubar as bolsas de vários países.
Quando um especulador tem prejuízo em qualquer parte do mundo,
pode retirar recursos que tem aplicado em qualquer outra parte,
deflagrando aí uma crise financeira e cambial, que, a depender
da profundidade, pode repercutir na economia real. Pode também
promover ataques especulativos contra um país ou outro com o
objetivo de pressioná-lo a desvalorizar sua moeda ou elevar
suas taxas de juros e assim aumentar seus ganhos especulativos.
Além disso, quanto mais cresce essa massa de capital fora
da esfera produtiva, mais ela tem de se apropriar de valor
gerado no processo produtivo (já que na especulação não se
produz valor algum), esmagando, de forma crescente, a base da
acumulação capitalista e, portanto, as possibilidades futuras
de desenvolvimento do sistema.
Se a estagnação da economia capitalista desde os anos de
1970, decorrente da queda das taxas de lucro e da emergência
dos conflitos econômicos no seio da “tríade”, foi a responsável
pelo recrudescimento da especulação financeira, esta, por sua
vez, ao crescer em bola de neve, esmaga mais ainda a economia
real.
Os elevados níveis de desemprego, que se tornaram crônicos
desde o início da crise estrutural e que, segundo a OIT,
chegaram a atingir a 1 bilhão de trabalhadores no mundo no
final da década de 1990 (computados o desemprego aberto e o
subemprego), resultam dessa estagnação econômica, e não de uma
suposta revolução científico-técnica. É evidente que, num
quadro de estagnação econômica crônica, qualquer tímido avanço
tecnológico é capaz de provocar demissões em massa.
Assim, sobram capitais de um lado e trabalhadores de
outro. Por aí, se pode perceber o grau de irracionalidade a que
chegou esse sistema. Qualquer sistema minimamente racional,
dispondo de recursos financeiros e força de trabalho em
abundância, os colocaria para produzir bens e serviços para
atender à população.
Mas, a economia mundial contemporânea não pode fazer isso,
pois, se produzir, não tem para quem vender, já que reduziu os
salários nos países centrais e o poder de compra das economias
mais débeis.
O único aspecto da economia mundial que aparenta uma
“globalização” – a desenfreada especulação global - nada mais é
do que expressão da profunda fragilidade e irracionalidade
desse sistema.
Diz-se que esses capitais especulativos que circulam pelo
mundo são “capitais globais”, “sem pátria”. O mesmo é dito
acerca de movimentos de fusões que têm ocorrido entre capitais
monopolistas de distintos países. É também nesse sentido que
certos autores usam o termo “transnacionalização do capital”.
A crise das bolsas e das moedas da Ásia, em 1997, revelou,
na superfície, a falta de fundamento dessas afirmações. A crise
começou porque os bancos e corporações japoneses, mergulhados
em profundas dificuldades financeiras, começaram a se desfazer
de seus títulos naqueles países, a fim de recuperar dinheiro
líquido e procurar sanar seus prejuízos, pouco se importando
com as dificuldades que esse ato poderia acarretar nas
economias de seus “parceiros”.
Por sua vez, os especuladores estadunidenses, que tiveram
perdas com a queda das bolsas e, portanto, de suas aplicações
na Ásia, tentaram compensá-las vendendo suas posições no
mercado financeiro de outros países, levando de volta parte dos
recursos neles aplicados, pouco se importando com os problemas
que isso poderia provocar em suas economias.
O processo de discussão que ocorreu nos anos de 1990, no
âmbito da OCDE8, do Acordo Multilateral sobre Investimentos
(AMI) também indicou claramente que as grandes corporações,
ainda que internacionalizadas, têm claramente um vínculo com
sua origem. O AMI teria como objetivo, não apenas abrir espaço
em todo o mundo, sem qualquer restrição, para os investimentos
estrangeiros (leia-se: dos países centrais), mas também
garantir punição para as nações que viessem a tomar qualquer
medida contra esses investimentos.
Na reunião da OCDE realizada no começo de 1998, houve
forte reação de representantes de vários governos contra o
8 Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que, na década de 1990, reunia os 29 países mais industrializados.
estabelecimento do AMI. O delegado francês declarou
explicitamente que “não havia mais apoio social” para um acordo
desse tipo. Na mesma época, o Parlamento Europeu condenou, por
480 votos a 8, os termos contidos no esboço de acordo.
Esses fatos indicam, claramente, que, apesar da circulação
internacional do capital especulativo ou das fusões
internacionais de alguns grandes grupos econômicos, o que segue
predominando é a base nacional dos capitais. Até porque eles
necessitam dessa base, particularmente de seus Estados
Nacionais, para garantir, inclusive com o uso da força, sua
projeção em nível mundial.
Foi o que demonstraram, respaldados em farta documentação
e fonte de dados, livros escritos por autores estadunidenses.
Os autores Paul Hirst e Grahame Thompson (1998) mostraram que:
- o mercado interno seguia absorvendo uma parcela
largamente preponderante da produção;
- a poupança interna seguia financiando a parcela mais
expressiva da formação bruta de capital fixo;
- o mercado de trabalho local é que aportava o principal
da força de trabalho explorada pelas grandes empresas.
Por isso, as empresas, inclusive as que operavam
intensamente no mercado internacional, não se desvinculavam de
seus países de origem e tinham um centro de gravidade nacional
claramente definido.
Um outro grupo de oito economistas, liderados por Paul N.
Doremus (1988), demonstrou que:
- não havia convergência entre os comportamentos das
transnacionais dos distintos países;
- as semelhanças eram apenas superficiais;
- na raiz, suas estratégias continuavam altamente
dependentes da situação nacional, que variava muito de um
país para outro.
Para esses economistas, são os Estados nacionais que
moldam o ambiente em que essas empresas atuam. Um fato que
provava isso dizia respeito à fonte dos recursos que
financiavam os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento. No
caso dos EUA, apenas 10% vinham do estrangeiro, Reino Unido
15%, França 12%, Alemanha 3% e Japão 0,1%, segundo dados do
National Science Board, reproduzidos no livro.
Outro economista, R. Gilpin (1987), também demonstrou que,
ainda que as transnacionais espalhassem sua produção por vários
países do mundo, a montagem do produto final (que coincide com
as tarefas mais importantes técnica e economicamente) se dava
na sua economia nacional, mesmo que exportassem uma parcela
depois.
Na mesma linha de raciocínio, seguiram os autores alemães
Hans Peter Martin e Harald Schumann (1998). Em livro repleto de
dados e informações, demonstraram que, sob o disfarce da
“globalização”, as corporações dos países centrais absorveram
patrimônios, ocuparam mercados e obtiveram volumosos ganhos em
várias regiões do mundo, sobretudo nos países da periferia.
Em síntese, as fontes de recursos para a formação de
capital, o investimento tecnológico e as tarefas produtivas
mais relevantes das transnacionais são essencialmente nacionais
e elas vendem seus produtos basicamente para o mercado interno
de seus países, ainda que também inundem o mercado mundial. Que
há de “global” nisso?
Os fatos que vêm ocorrendo na economia mundial desde a
década de 1980, mas, sobretudo, a partir da de 1990, após a
desagregação da União Soviética, indicam que, ao contrário da
globalização, o que estaria ocorrendo seria, de um lado, a
tentativa de os EUA promoverem uma “nova ordem mundial” sob sua
hegemonia, conforme foi proposto pelo presidente George Bush,
e, de outro, a forte disputa entre as três grandes potências
por redividir o mercado mundial.
Nessa disputa, cada Estado de um país central se
“transnacionaliza”, não no sentido de que perde sua base
nacional, mas no de que passa a defender em nível internacional
os interesses de seus próprios capitais nacionais. A tentativa
de formar regiões sob o domínio de cada potência se enquadra
nessa lógica. A formação de uma região nesses moldes, ao mesmo
tempo em que poderia fortalecer ainda mais o Estado do país
hegemônico, implicaria uma maior fragilização dos Estados
nacionais mais débeis da região.
Leia-se, a respeito, a declaração feita pelo ex-presidente
dos Estados Unidos, Bill Clinton, em discurso proferido em 14
de setembro de 1998: “Nada menos de 30% de nosso crescimento,
considerando apenas o período desde que me tornei presidente,
se deve a nosso envolvimento positivo e cada vez maior na
economia global [grifo nosso]”. Por “envolvimento positivo”, o
ex-presidente entende como sendo “um sistema global que nos tem
beneficiado mais do que a qualquer outra nação”.
É muito ilustrativa a declaração de um dos mais renomados
economistas estadunidenses, John K. Galbraith, ex-assessor dos
Presidentes Roosevelt e Kennedy: “Globalização não é um
conceito sério. Esse é um termo que nós, os americanos,
inventamos para dissimular nossa política de avanço econômico
em outros países e para tornar respeitáveis movimentos
especulativos de capital”.
A posição de Galbraith foi secundada por um ex-conselheiro
do GATT e antigo defensor da “globalização”, o economista
Jagdish Bhagwati. Em seu artigo “O Mito do Capital”, publicado
na revista Foreign Affairs, levanta-se contra o que ele chama
Conexão Wall Street-Tesouro: “A conexão apregoa em benefício
próprio por um mundo ideal de livre circulação de capital,
enquanto o FMI cumpre o papel de socorrer e garantir seu
status”.
Essas opiniões também foram expostas por ninguém menos que
o todo-poderoso ex-secretário de Estado dos Estados Unidos e,
na época, conselheiro de importantes transnacionais do país,
Henry Kissinger, em conferência realizada em Dublin em 1999: “O
desafio básico é que o que se chama de globalização é na
verdade outro nome para a posição dominante dos Estados
Unidos”.
Há, ainda, os que afirmam que a chamada globalização
corresponderia a uma nova onda de internacionalização da
economia. Ao contrário, conforme examinamos nos capítulos 7,
8 e 9, a economia mundial vive desde a década de 1960 um
processo de decadência da onda de internacionalização que
ocorreu depois da II Guerra Mundial, baseada na hegemonia dos
Eua e tendo as transnacionais como ponta de lança.
Durante a fase de expansão daquela onda, as
transnacionais, na busca do lucro máximo, exploravam
predatoriamente os mercados, os recursos naturais e a força
de trabalho do mundo, mas tinham como resultado a produção de
bens e serviços. No entanto, nessa fase de decadência, passou
a preponderar a especulação financeira, a fuga de massas
incomensuráveis de capitais do processo produtivo.
EUA não praticaram receituário neoliberal em sua própria
economia
As políticas neoliberais do Consenso de Washington
deixaram um rastro de destruição e crise no mundo
subdesenvolvido. Mas isso não garantiu que as economias dos
“três grandes” pudessem se levantar.
A economia japonesa continuou mergulhada em profunda
crise; a da Alemanha seguia às voltas com o processo de
anexação da parte oriental e de unificação européia e não
conseguia retomar o crescimento; a economia dos Estados Unidos
foi a única que experimentou um certo crescimento em parte
daquela década, mas, na virada de século, voltou a entrar em
recessão.
A economia dos EUA aparentou ter tido a melhor performance
na década de 1990, mas não foi muito diferente das demais
economias centrais. Depois da recessão de 1990 a 1992, os
índices oficiais indicaram uma taxa média de crescimento do PIB
em torno de 3% anuais de 1993 a 1999, conforme dados do FMI.
Nada muito diferente da média dos países do G-7 e da OCDE nos
últimos anos da década.
Mas foi o suficiente para desencadear uma campanha na
mídia mundial baseada no bordão: “É o novo milagre norte-
americano”. E o então subsecretário do Tesouro dos EUA,
Lawrence Summers, por ocasião da cúpula de Denver, que reuniu
em 1997 o “grupo dos sete”, completou: “Somos a única
superpotência econômica. Somos a economia mais dinâmica e
flexível do mundo”. Estaria se concretizando, sob a presidência
de Bill Clinton, a “nova ordem mundial” sob domínio dos EUA
sonhada por George Bush em fins dos anos de 1980.
É bem verdade que crescer a 3% ao ano foi um avanço
importante para uma economia que vinha há vinte anos crescendo
a uma taxa anual de pouco mais de 1%. Mas, convenhamos que
mudar do patamar de 1% para 3% não é nenhum milagre. A economia
brasileira cresceu a uma taxa média anual de 7% durante 50
anos, de 1930 a 1980, sendo que, em alguns momentos, ela
superou os 10%. A China vinha crescendo a uma taxa média de 8%
ao ano desde 1949, também por cinco décadas, sendo que, a
partir de 1979, o ritmo de crescimento subiu para a faixa de
10%.
O estranho seria se, depois de haverem, desde a década de
1980, absorvido os recursos do resto do mundo, como vimos no
capítulo anterior, e, na década de 1990, terem invadido, com
suas exportações, os mercados das Américas, os Estados Unidos
não houvessem conseguido melhorar um pouco sua performance
econômica.
Suas exportações haviam estagnado durante quase toda a
década de 1980 (em torno de uma cifra média de US$ 225 bilhões
por ano de 1980 a 1987), mas de 1988 em diante passaram a
crescer a um ritmo elevado, até atingirem o montante de US$ 612
bilhões em 1996, quase três vezes mais (FMI, 1995 e 1996;
CEPAL, 1997), tendo ultrapassado os US$ 800 bilhões em 1998 e
US$ 1 trilhão em 2000.
Esse forte crescimento das exportações se deveu à
combinação da violenta desvalorização do dólar deflagrada por
Reagan (baixou de 250 ienes em 1985 para 80 ienes dez anos
depois) com a pressão pela derrubada das barreiras
protecionistas de outros mercados (incluindo a sobrevalorização
de suas moedas), particularmente dos países da América Latina.
Além disso, essa aparente melhoria da economia
estadunidense se deveu à adoção, pela administração Clinton, de
uma política econômica interna que se opõe, no essencial, à que
o Consenso de Washington propugnou para os demais países do
mundo, em particular para o resto das Américas.
Em lugar da abertura de sua economia para a entrada de
produtos estrangeiros, como pregam para os outros, o que os EUA
fizeram foi criar cada vez maiores empecilhos para essa
entrada, desde a fixação de cotas e subsídios até o uso de
cláusulas ambientais, sociais, direitos humanos, direitos
indígenas etc. como instrumento de proteção externa. No final
dos anos de 1990, 67 produtos brasileiros estavam afetados por
essas limitações.
E assim foi que, enquanto de 1989 a 1996 foram destruídos
34,2% dos empregos industriais brasileiros (dados do IBGE),
estima-se que de 1992 a 1997 criaram-se 12 milhões de novos
empregos nos EUA. Graças a isso, os EUA eram então o único país
em que, num mar de desemprego que se alastrava pelo mundo,
houve uma queda da taxa oficial de desemprego: baixou de 6,9%
da força de trabalho no começo do governo Clinton para 4% no
final, enquanto na União Européia aumentava de 7,8% em 1990
para 9,1 no fim da década (tendo se situado na faixa dos 11% no
período 1993-1997) e no Japão subia de 2,1% para 4,7% (OCDE,
2001)9.
A queda do índice oficial de desemprego nos EUA mostra que
o desemprego que grassava o mundo não decorria, como alguns
economistas sugeriam, de eventuais avanços tecnológicos, pois,
mesmo experimentando um crescimento econômico baixo, os EUA
conseguiram diminuir seus níveis de desocupação.
É bem verdade que esses índices oficiais não dão a
verdadeira dimensão dos níveis de desemprego real nos EUA.
Segundo estudo de um economista dos Estados Unidos, o professor
do MIT Lester Thurow,
aos 7 milhões à procura de emprego, oficialmente declarados em
1995, deveriam ser adicionados mais 6 milhões dos que
necessitariam de trabalho, mas desistiram de procurá-lo.
Ademais, existem aproximadamente 4,5 milhões de pessoas que, a
contragosto, estão trabalhando como temporários. Somando apenas
esses três grupos, realmente está faltando trabalho regular a
14% da população economicamente ativa. O exército de
subempregados sobe a 28%, se considerados também os grupos que
não têm trabalho constante: 10,1 milhões de temporários, bem
9 Os sindicatos japoneses denunciavam, na época, que o desemprego real no Japão era mais do que o dobro do índice oficial.
como 8,3 milhões de autônomos, a maioria dos quais com formação
acadêmica, mas sem carteira assinada” (cit. in MARTIN &
SCHUMANN, 1998: 171).
Pode-se imaginar a que nível teria chegado o desemprego
nos EUA se não houvessem inundado nossos países com suas
mercadorias.
Em lugar de cortar os gastos públicos, como os
formuladores do “Consenso” propuseram, o que o governo Clinton
fez, ao iniciar seu mandato, foi baixar um pacote de
investimentos de US$ 1 trilhão, alavancado pelo setor público.
Seguindo Batista Jr., “nos EUA, o gasto público passou de 31,2%
do PIB entre l978-82 para 33,6% em 1991-95%” (BATISTA JR, 1998:
45).
Além de aumentarem os gastos públicos, parte desse aumento
foi reorientada para investimentos produtivos, o que contribuiu
para a elevação da taxa de investimento (investimento em
relação ao PIB) de 15% em 1992 para 17% em 1995.
Aliás, os demais países ricos adotaram caminho
semelhante: “No G7 (...) a média ponderada da relação despesa
pública/PIB aumentou de 36,3% para 39,4%. Nos países do G7, a
média ponderada da carga tributária cresceu de 33,5% em 1978-
82 para 35,9% em 1991-95” (BATISTA JR, 1998: 48).
Cabe registrar que parcela expressiva desse aumento de
gasto público foi canalizada para o pagamento de encargos
financeiros da divida pública. Isso fica evidente ao se
acompanhar a evolução dessa dívida nas principais economias,
conforme se pode observar pela tabela 10.1.
Tabela 10.1
Principais países: dívida pública como percentagem do PIB
(%)
Países 1980 1990 1999
Países do G-7 41,5 58,3 73,2
Países da OCDE 40,2 57,1 71,1
Estados Unidos 37,0 55,5 59,7
Alemanha 31,1 45,5 64,2
Japão 51,2 65,1 99,5
Fonte: BEINSTEIN, 2001, com base em dados da OCDE.
Houve quem se apressasse em atribuir esse crescimento
econômico dos EUA a uma suposta revolução tecnológica10 -
designada de revolução científico-técnica -, que estaria
melhorando a produtividade de sua economia e dando, portanto,
base para um crescimento duradouro e sustentado, que estaria
formando uma “nova economia”.
10 Seria a terceira revolução tecnológica. A primeira foi a revolução industrial, com base na máquina a vapor e no carvão mineral, ocorrida entre 1770 e 1840 na Inglaterra; a segunda, com base no motor a explosão, na eletricidade e no petróleo, realizou-se entre o final do século XIX e começo do XX, tendo como palco, principalmente, a economia dos EUA.
Se isso fosse verdade, não estaria diminuindo o
desemprego, pois crescer a cerca de apenas 3% ao ano como
decorrência de um substancial progresso técnico e, ainda assim,
gerar novos empregos é algo impossível de ocorrer, a não ser
que estivesse havendo uma significativa redução da jornada de
trabalho, coisa que não aconteceu. Ao contrário, como veremos
adiante, a jornada de trabalho aumentou.
Vejamos os fatos acerca da suposta ocorrência de uma
revolução científico-técnica nos EUA. Comecemos pelo estudo de
dois renomados economistas daquele país, Stephen Oliner e
William Wascher, ambos assessores do Departamento de
Governadores da Reserva Federal (Banco Central), em Washington.
Em trabalho publicado em 1995, demonstraram que os incrementos
de produtividade do setor não-agrícola, nos anos de 1990, eram
tão insignificantes quanto os verificados nas décadas de 1970 e
de 198011.
Esse estudo foi reforçado por um outro, de Doug Henwood,
editor do boletim Left Business Observer. Demonstrou o autor
que o PIB por empregado nos EUA ficava em 12o lugar entre 14
países estudados.
Que “nova economia” era essa se os setores de tecnologia
de ponta não representavam mais que ridículos 4% do PIB,
podendo chegar, no máximo, a 8% se se incluísse a internet?12
11 Já vimos que, nesse período, o PIB estadunidense cresceu, em média, a 1% ao ano; o PIB per capita, expressão da produtividade, teve, portanto, crescimento zero.12 Cf. artigo escrito por Hamish Micrae para o jornal The Independent, de janeiro de 2000.
O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) é o
fundamento do progresso técnico. Segundo relatório que a OCDE
publicou em 1998 sobre indústria, ciência e tecnologia, os
gastos em P&D, como percentagem do PIB, declinaram entre 1985 e
1996 nos EUA, no Japão e em todos os países integrantes desse
organismo. Além disso, na década de 1990, diminuiu o número de
pesquisadores no conjunto da OCDE.
Os que defendem a existência de uma revolução científico-
técnica dizem que sua característica fundamental é o avanço dos
computadores. Vejamos o que dizem sobre o tema os autores
Oliver e Wascher:
Os computadores não são ainda tão presentes na economia
para justificar aumentos significativos na produtividade (...)
Parece que o foco de redução de custos concentrou-se mais no
emagrecimento das estruturas administrativas do que nas
mudanças de produção. Além disso, mesmo quando a reestruturação
eleva a produtividade da firma, o efeito para o conjunto da
economia é negativo quando, por exemplo, o trabalhador da
indústria é deslocado para o balcão do MacDonald’s.
De fato, avanços da produtividade em algumas empresas
existiam, mas não devido, principalmente, ao avanço
tecnológico. Os termos outsourcing (terceirização) e
reengineering (reestruturação interna) indicam bem o que estava
ocorrendo. A combinação de ambos os processos significa
“enxugar” os quadros próprios da empresa e recontratar os
serviços dos ex-funcionários, agora vinculados a “empresas
terceirizadas”, sob condições semi-escravas: salários mais
baixos e maior jornada de trabalho.
A gigante Caterpillar, por exemplo, nos EUA, vinha impondo
jornada de trabalho de até 12 horas, inclusive nos fins de
semana. O resultado da terceirização foi que, nos EUA, os
maiores empregadores já não eram a General Motors, AT&T ou IBM,
mas a Manpower, fornecedora de mão-de-obra temporária. No final
dos anos de 1990, já eram 10 milhões de trabalhadores
estadunidenses em trabalhos temporários, repetindo na maior
economia do planeta o fenômeno típico do meio rural brasileiro,
o do “bóia-fria”.
Segundo Martin e Schumann, “a mudança abrangeu
praticamente todo o universo do trabalho. A maioria dos 43
milhões de americanos que perderam seu emprego entre 1979 e
1995 logo encontrou emprego. Mas em dois terços dos casos
precisaram aceitar salários e condições piores” (MARTIN &
SCHUMANN, 1998: 168).
Expressão do aumento da jornada de trabalho era o fato de
que, ao final da década de 1990, em média, uma família
estadunidense trabalhava por ano 185 horas a mais do que no
começo da década, levando a que a jornada de trabalho comum nos
EUA subisse para 60 horas por semana, um retorno à situação
anterior às lutas do século XIX que conquistaram a jornada
diária de 8 horas.
Na verdade, o fundamento da melhora que experimentou a
economia estadunidense na década de 1990 era falso, que não
tinha como se sustentar por muito tempo: era o endividamento
público e externo dos EUA e o aumento da drenagem de recursos
do Terceiro Mundo.
O endividamento, isto é, a antecipação de renda futura
para financiar o presente, crescia de maneira incontrolável
desde a década de 1980. Havendo iniciado na época de Reagan,
levou não apenas a que os EUA se transformassem nos maiores
devedores líquidos do mundo, mas a que essa dívida passasse a
crescer a um ritmo acelerado: de uma dívida pública de US$ 1,6
trilhão em 1985, já chegara a US$ 5,2 trilhões em 1996,
equivalentes a 72% do PIB do país.
Nesse último ano, a dívida externa líquida já ultrapassava
US$ 1 trilhão e vinha crescendo de 15% a 20% ao ano. O conjunto
dos compromissos externos chegava então a US$ 4 trilhões, que
subiram para US$ 6,5 trilhões no final da década.
Recorde-se da confusão que houve em 1997 entre o executivo
e o Congresso, por ocasião da votação do orçamento, quando se
tratava de elevar o limite de endividamento. Depois de várias
paralisações da administração do país, Clinton teve que aceitar
imposição do Partido Republicano de reduzir os gastos públicos,
sobretudo os sociais, para ver autorizada a ampliação desse
limite. A prosseguir o corte de gastos públicos, poderia ser
eliminada uma das principais alavancas adotadas no período
Clinton para tentar recuperar a economia.
Mas o problema maior era a dificuldade crescente de
financiar os déficits interno e externo provocados pelos juros
decorrentes desse endividamento. Esses financiamentos tinham
origem basicamente externa, sobretudo no Japão13, mas também na
Alemanha. Esta, às voltas com as próprias dificuldades e as
dificuldades do processo de anexação da parte oriental e de
unificação européia, teria que se concentrar, cada vez mais em
sua própria economia e na Europa, os recursos de que dispunha.
Questionário
1. Quais os pontos principais do Consenso de Washington?2. Faça um resumo do ideário neoliberal e mostre sua relação com o Consenso de Washington.3. Quais os objetivos dos EUA ao propugnar a implementação do Consenso de Washington?4. Indique as conseqüências do Nafta para a economia mexicana.5. Mostre as conseqüências na América Latina da implementação das medidas propostas pelo Consenso de Washington.6. A criação do Mercosul era do interesse do governo dos EUA? Por que?7. Por que a Europa resolveu acelerar o processo de unificação na década de 1980 e quais as contradições desse processo?8. Por que o Japão tentou criar um bloco informal na Ásia e quais suas conseqüências sobre os “tigres asiáticos”?9. Defina globalização, indicando as contradições do conceito com a realidade.10. Analise o processo de expansão da especulação financeira mundial.
13 30% dos títulos do Tesouro dos EUA estavam em mãos japonesas.
11. Mostre as contradições entre o discurso e a prática dos EUA em relação ao receituário neoliberal.12. Analise o significado dos avanços tecnológicos na década de 1990.13. Mostre as contradições do processo de crescimento econômico dos EUA na década de 1990.
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