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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU
6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES
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IC nº 0053.12.000560-7
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ª VARA
CÍVEL DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ.
“O ladrão passa por homem de bem
quando o roubo o enriquece” (Thomas Fuller).
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,
por seu Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições
constitucionais e legais, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 129, inciso III, e 225, ambos da Constituição Federal de
1988; 62 e 69, ambos do Código Civil, e 1.204 do Código de Processo Civil, bem
como demais dispositivos elencados na Lei Orgânica do Ministério Público, propor
o presente pedido de provimento jurisdicional de
AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA EXTINÇÃO
DA FUNDAÇÃO NOSSO LAR CUMULADA COM PEDIDO DE
NULIDADE DE TERMO DE PARCERIA E COMODATO E COM
PEDIDO LIMINAR
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU
6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES
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IC nº 0053.12.000560-7
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em face a
1. FUNDAÇÃO NOSSO LAR, pessoa jurídica de direito privado, representada por
seu presidente Valtenir Lazzarini, com sede na Rua Ernesto Keller, nº 388, no
Jardim Eliza I, nesta cidade de Foz do Iguaçu-Pr;
2. VALTENIR LAZZARINI, brasileiro, casado, servidor público municipal,
portador do Cadastro de Pessoas Físicas nº 628.057.039-87, portador do Título de
Eleitor nº 47533890671, filho de Geni Berton Lazzarini, nascido em 28.10.1971,
residente na Rua Ernesto Keller, nº 442, no Jardim Eliza I, nesta Cidade e Comarca
de Foz do Iguaçu-Pr;
3. ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO A VIDA – APROVI, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 03.177.998/0001-92, com sede na Rua
Ernesto Keller, nº 388, sala 02, Jardim Eliza I, nesta Cidade e Comarca de Foz do
Iguaçu-Pr;
4. BLADIMIR LAZZARINI, brasileiro, portador do Cadastro de Pessoas Físicas
nº 628311826900, portador do Título de Eleitor nº 46331580612, filho de Geni
Berton Lazzarini, nascido em 11.03.1970, residente na Rua Carijós, nº 439, no
Jardim Tarobá, nesta Cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr; e
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6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU
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5. IVANIA FERRONATTO, brasileira, casada, portadora do Cadastro de Pessoas
Físicas nº 35766603053, portadora do Título de Eleitor nº 63657610663, filha de
Idalina Bosio Ferronatto, nascido em 07.03.1963, residente na Rua Ernesto Keller,
nº 442, no Jardim Eliza I, nesta Cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr, pelos
fundamentos fáticos e jurídicos que passo a expor:
1. DOS FATOS:
1.1 DA FUNDAÇÃO NOSSO LAR:
A FUNDAÇÃO NOSSO LAR foi fundada no dia 12 de
novembro de 1996, com personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos,
tendo como instituidores Reginaldo Alves da Cruz, Francisco Lacerda Brasileiro e
Regina Coeli Rocha, possuindo sua sede na Cidade de Foz do Iguaçu-Pr.
Sobre a gestão da entidade, o artigo 11, do Estatuto
apresenta a seguinte composição de seus órgãos:
Conselho Deliberativo;
Conselho Fiscal;
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Diretoria Executiva.
O Conselho Deliberativo, segundo o referido
instrumento, é o órgão máximo da entidade, com mandato de 03(três) anos, sendo
constituído por 01 (um) Diretor Administrativo/Financeiro e por 04 (quatro)
Conselheiros eleitos dentre os membros da Fundação, os quais se reunirão
ordinariamente no mês de novembro e fevereiro para apreciar os assuntos de rotina.
Possui como funções precípuas: aprovar o regimento
interno, o plano orçamentário, o quadro de pessoal e respectivas despesas, deliberar
sobre as alienações de bens imóveis, aprovar a assinatura de contratos, convênios e
parcerias, deliberar sobre a venda de patrimônio da entidade e alterar seu estatuto.
O mandato do Conselho Fiscal é de 03 (três) anos, e seus
componentes se reunirão obrigatoriamente no mês de novembro e fevereiro, bem
como extraordinariamente sempre que necessário por proposta de qualquer de seus
membros, por convocação da Diretoria Executiva ou do Conselho Deliberativo.
Compete ao sobredito órgão apresentar ao Conselho
Deliberativo anualmente parecer sobre as operações sociais, com base no inventário,
relatórios contábeis e outros documentos da instituição.
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Já a Diretoria Executiva tem mandato de 03 (três) anos,
sendo composta pelo Secretário Geral e pelo Diretor Administrativo/Financeiro.
1.2 DA FINALIDADE DA FUNDAÇÃO NOSSO LAR:
De acordo com o artigo 2º de seu Estatuto (fls. 15/19 –
ICP), possui como objetivos:
Propiciar a crianças e adolescentes órfãos, abandonados ou sub judice, moradia
provisória ou definitiva em Casas-Lares com ambiente familiar na qual a família, como
unidade mínima, possa ser um amparo para a reeducação dessas crianças e
adolescentes que não tiveram a oportunidade de vivenciá-la ou que vivenciaram de
forma problemática;
Promover a educação informal (educação para vida)) para essas crianças e
adolescentes;
Acompanhar e propiciar as crianças e adolescentes, sob seus cuidados, a frequência a
escola, como meio de socialização dos conhecimentos, elevando seu nível educacional
e cultural;
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Desenvolver atividades que permitam a integração dessas crianças e adolescentes
com a comunidade onde vivem;
Manter em suas dependências ou em outras, ensino profissionalizante, cursos de
aprendizagem, oficinas que possibilitem, aos adolescentes em especial, a educação
para o trabalho e o seu preparo para o mercado de trabalho quando sua idade permitir;
Prestar serviço a comunidade através de “unidades de produção/prestação de
serviços” revertendo os recursos advindos para satisfação de seus objetivos;
Desenvolver um Centro de Educação para promover o ensino nos diferentes níveis;
Propiciar a educação infantil a crianças de 0 a 6 anos em consonância as leis e
normas vigentes;
Realizar e promover campanhas e cursos para prevenção ao uso e abuso de drogas,
DST/AIDS;
Criar e manter um Centro de Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes;
Criar e desenvolver programas de geração de renda junto as comunidades;
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Criar e manter unidade de proteção às vítimas de negligência, abuso exploração,
maus-tratos e violência.
No entanto, verifica-se que, em visita in locu realizada pela
Assistente Social e pelas Auditoras do Ministério Público, nenhuma dessas finalidades
estão sendo cumpridas pela FUNDAÇÃO NOSSO LAR.
Conforme Informação de fls. 201/203 (Inquérito Civil
Público nº 0053.12.000560-7), em vistoria realizada em 14 de setembro de 2011, já
havia sido constatado que somente um objetivo estava sendo executado de forma
parcial, qual seja: “cumprir e manter um Centro de Defesa dos Direitos das Crianças e
Adolescentes”.
No entanto, na última inspeção realizada em 11 de outubro
de 2012 (fls. 352/363 – Procedimento Administrativo nº 0053.12.000437-8),
constatou-se a existência de um Termo de Parceria e de Comodato firmado entre a
FUNDAÇÃO NOSSO LAR e a ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO À VIDA -
APROVI, em 14 de novembro de 2011, na qual a primeira repassa a segunda
sobredita finalidade.
Nesse sentido:
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“Tomando como base laudo social produzido em visita
anterior (realizada em 14/09/2011, solicitada no
Procedimento Administrativo nº 0053.11.000052-7 e seus
resultados materializados no Ofício 037/2011 S.S.), foi
possível perceber que, quanto às atividades desenvolvidas
e sua adequação as finalidades estatutárias, a única que
vinha sendo cumprida em partes naquela época referia-se
a “Criar e manter um Centro de Defesa dos Direitos das
Crianças e Adolescentes”. Contudo, conforme consta no
“Termo de Parceria e de Comodato” firmado entre a
Fundação Nosso Lar e a Associação de Proteção à Vida
(APROVI), em 14 de novembro de 2011, a contrapartida
desta Associação refere-se à responsabilidade por
desenvolver “as ações necessárias para implementação do
centro de defesa dos direitos da criança e do
adolescente”, transferindo assim a Fundação Nosso Lar
para a APROVI o único objetivo estatutário que ainda
encontrava-se desenvolvendo” (fls. 201/202 – Inquérito
Civil Público nº 0053.12.000560-7).
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Ademais, verifica-se que o termo ajustado teve como
comodante e comodatário, o Sr. VALTENIR LAZZARINI, o qual além de ceder o
patrimônio da FUNDAÇÃO NOSSO LAR, transferiu a título de doação o valor de
R$ 230.000,00 à APROVI.
Frise-se, que VALTENIR LAZZARINI é Diretor
Administrativo Financeiro e Responsável Legal presidente da FUNDAÇÃO NOSSO
LAR e responsável pela APROVI. Ou seja, atuou como doador e donatário da aludida
quantia pertencente a referida instituição.
Em atendimento à solicitação ministerial, VALTENIR
LAZZARINI informou que o foco da FUNDAÇÃO NOSSO LAR encontra-se na
realização de pesquisas e estudos sobre homicídios de adolescentes (fls. 30/31 –
Inquérito Civil Público nº 0053.12.000560-7), juntando os documentos de fls. 32/187
(Inquérito Civil Público nº 0053.12.000560-7).
Conforme se verá nos tópicos abaixo, a FUNDAÇÃO
NOSSO LAR não possui como objeto a realização de “estudos e pesquisas”, as quais
vêm sendo desenvolvidas de forma única e exclusiva por seu diretor VALTENIR
LAZZARINI, havendo flagrante irregularidade.
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1.3 DO CONTRATO CELEBRADO COM A ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO
A VIDA – APROVI:
Conforme afirmado acima, em 14 de novembro de 2011,
a FUNDAÇÃO NOSSO LAR firmou contrato de comodato com a ASSOCIAÇÃO
DE PROTEÇÃO À VIDA – APROVI, cuja sede se localiza em local de
propriedade daquela.
O objeto do dito instrumento foi a transferência de
recursos, bem como os direitos de uso e gozo dos móveis e imóveis da fundação.
Desta feita, de acordo com o documento de fls. 73/78
(Inquérito Civil Público nº 0053.12.000560-7), a comodante (FUNDAÇÃO NOSSO
LAR) transferiu os direitos de uso e gozo dos móveis e imóveis descritos a seguir a
comodatária (APROVI):
Imóveis:
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Inscrição Imobiliária Descrição Matrícula
10.3.15.10.0107.001
Lote nº 12, Quadra 38
Casa 005181
10.3.16.09.0445.001
Lote nº 445, Quadra 09
Casa 011621
10.3.14.05.0250.001
Lote nº 06, Quadra 43
Casa 15196
10.3.15.29.0301.001
Lote nº 01, Quadra 20
Casa 26620
10.3.15.29.0319.001
Lote nº 02, Quadra 20
Terreno 007566
10.3.16.09.0157.001
Lote nº 157, Quadra 09
unificado com
10.3.16.09.0141.001
Lote nº 141, Quadra 09
Casas 011608
011607
10.3.07.10.0255.001
Lote nº 03, Quadra 19
Unificado com
10.3.07.10.0205.001
Lote nº 02, Quadra 19
Sede 19000
20567
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Veículos:
Veículo Ano/Modelo Chassi Placas
Fiat Uno Mille
Economy
2009/2010 9BD15802AA6272228 ARF-1480
Fiat Uno Mille
Fire Flex
2008/2008 9BD15802786160644 AQJ-0547
Fiat Strada Fire
Flex
2008/2009 9BD27803A97096496 AQL-1875
VW Gol 1.0
GIV
2008/2009 9BWAA05AA05W49T065286 AQI-9579
Demais bens móveis: descritos às fls. 74/77.
Além disso, a FUNDAÇÃO NOSSO LAR transferiu a
título de doação à APROVI a quantia de R$ 230.000,00 (duzentos e trinta mil
reais), conforme se observa do parágrafo segundo da cláusula primeira, in verbis:
“Parágrafo segundo – a COMODANTE transfere à
COMODATÁRIA, R$ 230.000,00 (Duzentos e Trinta Mil
Reais) a título de doação”.
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Em consonância com os livros contábeis da entidade, no
exercício 2011, ficaram evidenciadas transferências para a APROVI em 24 de
novembro de 2011 no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) e em 21 de
dezembro de 2011, no montante de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
Com isso, percebe-se que todos os recursos financeiros
disponíveis pela FUNDAÇÃO NOSSO LAR, os veículos, os demais bens móveis e
os imóveis foram cedidos e/ou transferidos para a entidade APROVI.
Observa-se, porém, que apesar de ter havido, em tese,
autorização pelo Conselho Deliberativo, não houve qualquer autorização do
Ministério Público do Estado do Paraná para a realização deste negócio.
Desta feita, verifica-se que a FUNDAÇÃO NOSSO
LAR foi totalmente descapitalizada e ainda teve toda a sua estrutura cedida para a
APROVI, o que certamente ensejou a inativação da instituição.
Repise-se, o contrato de comodato (fls. 73/78 –
Procedimento Administrativo nº 0053.12.000437-8) foi assinado pelo Diretor
Administrativo Financeiro da Fundação – VALTENIR LAZZARINI e pelo
Presidente da APROVI, que também é VALTENIR LAZZARINI.
Senão vejamos:
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Também se constata que, segundo pesquisa pelo sistema
INFOSEG, o secretário da APROVI, BLADIMIR LAZZARINI é irmão do
Diretor e Presidente da Fundação Nosso Lar e da APROVI, VALTENIR
LAZZARINI, possuindo ao menos a mesma genitora (Geni Berton Lazzarini).
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Aliás, a APROVI foi constituída em 29 de abril de 1999,
tendo como presidente IVANIA FERRONATTO, ex-diretora de projetos da
FUNDAÇÃO NOSSO LAR, e esposa/companheira de VALTENIR LAZZARINI.
Com isso, restaram-se evidenciadas diversas
irregularidades, as quais serão a posteriori escritas.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO:
2.1 DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO:
O Ministério Público possui a atribuição constitucional e
legal para fiscalizar as fundações públicas e privadas, na medida em que o
patrimônio do ente fundacional é considerado de interesse social (artigo 127, da
Constituição Federal) e suas finalidades são voltadas à coletividade
abrangentemente considerada, ou não, e o legislador civil (e processual civil) pátrio
concedeu ao Parquet a relevante missão de velar por tais pessoas jurídicas.
O Professor Miguel Seabra Fagundes, a propósito,
anotou (RT 304/58-77):
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“O papel do Ministério Público em relação às
fundações não é de mero observador das
irregularidades. Tanto em face do artigo 26,
Código Civil, como dos arts. 658 e seguintes do
Código de Processo Civil, que aquele
complementar, o que compete a este órgão e
velar em defesa das finalidades das fundações e
dos seus patrimônios. A expressão de que nesses
textos se usa - velar pelas fundações - significa a
entrega, ao Ministério Público, da guarda ativa
das fundações, de modo que possa fiscalizar as
administrações delas para que não desviem do
reto caminho e para atendimento das finalidades
visadas pelo fundador. E, consequentemente,
implica o uso dos meios para tanto insertos nas
leis locais reguladoras, do ponto de vista
administrativo, do papel e da ação do órgão de
defesa social (Leis de organização Judiciária e do
Ministério Público), e no Código de Processo
Civil com vias a atuação judicial. Não se lhes
pode negar, para o desempenho da função que a
lei assim lhe confia, acesso aos meios adequados e
a uma atuação eficiente”.
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O próprio Supremo Tribunal Federal (RT 299/735,
in RE 44384 - SP) registrou que, compete ao Ministério Público o procedimento
judicial para destituição de todos os dirigentes fundacionais, ao passo que o Superior
Tribunal de Justiça (DJ 26.10.98, Jurisprudência do STJ, 1, ano 1999) admitiu que
pode o Parquet ajuizar ação visando o afastamento de curadores, in verbis:
“Velar pelas fundações significa exercer toda
atividade fiscalizadora, de modo efetivo e
eficiente, em ação contínua e constante, a fim de
verificar se realizam os seus órgãos dirigentes
proveitosa gerência da fundação, de modo a
alcançar, de forma a mais completa, a vontade
do instituidor.
O exercício das atribuições fiscalizadoras do
Ministério Público que decorrem do sentido
genérico da sua missão, envolve atuação de
caráter meramente administrativo que dispensa
regulação nas leis processuais.
As fiscalização das fundações deixaria de ter
significação, se por receio de ferir melindres e
suscetibilidades de seus dirigentes, viesse a
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constituir óbice a esse dever, de ordem pública,
de exigir a sua precisa administração.
Cabe ao Ministério Público o exercício da
medida de vigilância em que constatará se a
fundação está sendo gerida segundo a lei e os
estatutos, como outrossim, de tutela em que se
verificará se fundação está sendo gerida em
moldes convenientes e oportunos para alçar-se os
seus altos objetivos. No desempenho dessas
funções podem ser enumeradas entre as
atribuições do Ministério Público:
a) a formulação à autoridade competente de
pedido de suspensão administrativa de todos os
dirigentes da fundação, envolvendo nesse ato e
jurisdição graciosa, não só os órgãos ativos como
consultivos, sem as suas audiências, mas em
atenção ao resultado da sindicância levada a
efeito por solicitação também do Ministério
Público e determinação do Juízo;
b) o procedimento judicial para a destituição de
todos eles, em demanda com a participação dos
sujeitos da lide” (RT 735/744).
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Os autores contemporâneos não discrepam de tal
entendimento, cumprindo, a propósito, consultar Edson José Rafael1, José Eduardo
Sabo Paes2 e, no mais, Gustavo Saad Diniz3.
Todos, com razão, esposam o entendimento de que
o Ministério Público conta com legitimidade para o ajuizamento de ações que visem
tornar efetiva sua atribuição de fiscalizar as fundações.
Pacífico, pois, o entendimento de que o Parquet
conta com legitimidade para o ajuizamento de ações que visem tornar efetiva sua
atribuição de fiscalizar as fundações.
Para sedimentar o tema, o atual Código Civil, em
seu artigo 66, preleciona, ipsis litteris: “Velará pelas fundações o Ministério
Público do Estado onde situadas”.
O artigo 1.204 do Código de Processo Civil assinala:
“Art. 1.204. Qualquer interessado ou o
Ministério Público promoverá a extinção da
fundação quando:
1 RAFAEL, Edson José. Fundações e Direito. São Paulo: Melhoramentos, 1999. 2 PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e Entidade de Interesse Social. Brasília: Brasília Jurídica, 2001. 3 DINIZ, Gustavo Saad. Direito das Fundações Privadas. São Paulo: Síntese, 2000.
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I - se tornar impossível o seu objeto;
II - for impossível a sua manutenção;
III - se vencer o prazo de sua existência”.
No âmbito interno, o Procurador-Geral de Justiça
do Estado do Paraná, por meio da Resolução nº 2.434/2002, fixou a competência das
Promotorias de Justiça de Fundações e Entidades do Terceiro Setor, definindo a
existência em cada comarca do Estado, de ao menos um Promotor de Justiça
incumbido da matéria fundacional, estabelecendo a competência da Promotoria de
Justiça da comarca onde tenha sede a fundação, a participar e intervir de todos os
atos e processos relativos ao tema - da instituição até sua extinção -, e ainda que
estas Promotorias funcionarão, em processos judiciais como parte ou fiscais da
correta aplicação da lei, tanto na esfera administrativa quanto na esfera judicial.
Assim, afastada qualquer espécie de dúvida,
tornando patente a legitimidade do Ministério Público para promover a extinção da
referida fundação.
2.1 DO DESVIO DE FINALIDADE:
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6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES
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IC nº 0053.12.000560-7
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Conforme visto acima, a FUNDAÇÃO NOSSO LAR não
está exercendo nenhum dos objetivos previstos no artigo 2º de seu Estatuto (fls. 15/19
– Inquérito Civil Público nº 0053.12.000560-7).
A única finalidade que estaria sendo realizada pela referida
instituição seria a de pesquisas e estudos sobre homicídios de adolescentes (fls. 30/31 -
Inquérito Civil Público nº 0053.12.000560-7), a qual não está inserida no rol acima
mencionado.
Some-se a isto o fato de seu Diretor, por meio de contrato
com a APROVI, ter transferido todos os recursos financeiros para esta e cedido o
restante dos bens, impossibilitando o exercício dos escopos descritos acima.
O artigo 69, do Código Civil, e o artigo 1.204, do Código
de Processo Civil, disciplinam as hipóteses de extinção do ente fundacional: dentre
elas, observa-se que duas aplicam-se aos fatos narrados no presente petitório,
porquanto se veda a: inutilidade ou ilicitude de seu objeto e se autoriza a extinção
quando houver impossibilidade de sua mantença.
A fundação torna-se nociva quando suas atividades são
praticadas com desvio de finalidades lícitas e sociais, nos moldes do que, como se
afirmou, ocorre com a instituição em comento, na medida em que seus objetivos não
são cumpridos.
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IC nº 0053.12.000560-7
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O Professor Sabo Paes4 anota, com propriedade, sobre o
tema em foco que:
“A ilicitude de seu objeto ou de suas finalidades pode
ocorrer em razão do próprio desvio de finalidades que
acarreta a nocividade de sua mantença”.
Ora, a observação de se encontrar a fundação sem o
exercício da finalidade adequada evidencia, por si só, a necessidade de pronta
extinção, posto que o mero risco de cometimento de ilícitos (penais e civis) afronta
indiscutivelmente a lei e coloca em dúvida o próprio instituto (fundação), cujos
conceitos, princípios, valores e respeitabilidade necessitam ser resguardados.
Pela desatenção a ordem pública, mostra-se de rigor a
extinção do ente fundacional, porquanto, como assinala Edson José Rafael5:
“O patrimônio e a ideia voltada a um fim filantrópico
são pré-requisitos para o surgimento de uma
fundação”.
4 PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e Entidade de Interesse Social. Brasília: Brasília Jurídica, 2001. 5 RAFAEL, Edson José. Fundações e Direito. São Paulo: Melhoramentos, 1999.
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Constata-se, no mais, ser impossível a mantença da
entidade fundacional.
Isto porque, como se afirmou, observa-se o desvio de
finalidade da fundação e impossibilidade de exercício de seus objetivos originais.
A propósito, decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do
Distrito Federal, assinalando que o desvio de finalidade permite sua extinção:
“DIREITO CIVIL. AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DE
DIRIGENTES DE FUNDAÇÃO DE APOIO.
FINATEC. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
AFASTAMENTO DE DIRETORES. INDÍCIOS DE
DESVIO DE FINALIDADE. NOMEAÇÃO DE
ADMINISTRADOR PROVISÓRIO.
1.Nos termos do artigo 66 do Código Civil de 2002,
incumbe ao Ministério Público velar pelas fundações,
dentre as quais as de apoio à pesquisa e
desenvolvimento tecnológico.
2. Havendo indícios consistentes da prática de
atividades incompatíveis com a finalidade para a qual
foi criada a FINATEC, mostra-se impositiva a
intervenção requerida pelo Ministério Público, de
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forma a evitar a continuidade das irregularidades
apontadas e permitir o retorno da entidade ao
cumprimento de seus objetivos estatutários.
3.Agravo de Instrumento conhecido e provido”
(Acórdão nº 20080020014277).
Além disso, a fundação conta com diversos débitos
tributários, os quais comprometem seu ativo, o que levará a entidade a uma situação
ruinosa.
A título de exemplificação, somente em contencioso,
têm-se dívidas decorrentes de tributos municipais e federais, sendo que desta última
até o momento perfaz um total de R$ 511.264,28 (quinhentos e onze mil, duzentos e
sessenta e quatro reais e vinte e oito centavos) (fls. 40/41 – Procedimento
Administrativo nº 0053.12.000437-8).
Assim, a FUNDAÇÃO NOSSO LAR não exerce
nenhuma daquelas funções estabelecidas no artigo 62, parágrafo único, do Código
Civil, in verbis:
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“Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará,
por escritura pública ou testamento, dotação especial de
bens livres, especificando o fim a que se destina, e
declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá
constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou
de assistência” (sem destaque no original).
A entidade em questão não cumpre atualmente nenhuma
das finalidades legais acima mencionadas.
Da análise do Inquérito Civil Público e dos
Procedimentos Administrativos em anexo, verifica-se que as atividades de
acolhimento de crianças e adolescentes órfãos abandonados encerraram-se em 2010,
quando os convênios com o Município de Foz do Iguaçu deixaram de ser renovados.
Consoante informações do Presidente da Fundação,
VALTENIR LAZZARINI, ao Núcleo de Perícia (fls. 41 - Procedimento
Administrativo nº 0053.12.000437-8), a entidade passou a trabalhar com pesquisas
cujo objetivo primordial seria a coleta de dados de adolescentes vítimas de
homicídio para municiar organismos públicos no desenvolvimento de políticas
públicas.
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No entanto, embora solicitado pela equipe de Auditoria,
não apresentou nenhum projeto, relatório e/ou documento que corroborasse e/ou
justificasse o trabalho realizado, limitando-se a encaminhar planilhas de dados, as
quais, analisadas fora de algum contexto, nada representam.
De acordo com do ilustre Procurador de Justiça,
Coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Tutela de
Fundações de Minas Gerais, doutor Tomáz de Aquino Resende, apresentada em
atualíssimo artigo sobre a matéria6, pontifica:
“Ao acrescentar o parágrafo único ao artigo 62 do
Código Civil, buscou o legislador, pensamos, tornar
mais claro ainda que no direito pátrio, como tradição
secular, não se admite a figura de pessoa patrimonial
a administrar interesses exclusivamente privados,
como acontece em outros países, onde são criadas
fundações para administrar fortunas em favor de
alguns poucos herdeiros”.
6 Disponível em: < http://www.fundata.org.br/Artigos%20-%20Cefeis/18%20-%20FUNDA%C3%87OES%
20E%20NOVO%20C%C3%93DIGO%20CIVIL%20-%20CIBELE.pdf> Acesso em: 14/11/2012.
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O ilustre Procurador de Justiça discorre, ainda, que não
são permitidas entidades imorais no ordenamento pátrio ou que tenham objeto
ilícito.
Para identificar tais finalidades descritas no diploma
civil, importante salientar o que dispôs o constituinte originário para a concretização
das políticas públicas decorrentes dos princípios fundamentais da dignidade humana,
da cidadania, da justiça social, dentre outros, estabelecendo no artigo 6º da
Constituição Federal, os Direitos Sociais:
“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma dessa Constituição”.
Expressam ainda as políticas públicas voltadas ao
apoiamento dos direitos sociais, entre outras, o disposto no artigo 203 da
Constituição Federal, o qual indica como objetivos da assistência social,
regulamentados pela LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social (Lei n° 8.742/93):
a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo
a crianças e adolescentes carentes; à promoção da integração ao mercado de
trabalho; à habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária.
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Outrossim, o Decreto n° 2.536/98, que dispõe sobre a
concessão do CEBA – Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social
(antigo certificado de filantropia), considera como entidade beneficente de
assistência social, sem fins lucrativos, além das entidades que atuem nas áreas
acima, aquelas que promovam, gratuitamente, assistência educacional ou de saúde.
Ao lado dessas fontes primárias de interpretação, o
mencionado estudo apresentado pelo Procurador de Justiça mineiro, Tomás Aquino
Resende, acerca da interpretação do novel regramento preleciona, ipsis litteris:
“(...) Quanto a “fins de assistência” melhor sorte não
merece, vez que além dos argumentos acima
alinhavados, aqui também plenamente cabíveis, devemos
entender que a intenção do legislador foi a de deixar
ainda mais claro que as entidades sem fins lucrativos
continuam obrigadas a prestar assistência às questões
de interesse coletivo.
Se, como dizem alguns, os fins fossem os de prestar
serviço gratuito ao atendimento das necessidades de
pessoas desprovidas de recurso, imprescindível seria o
acréscimo da expressão social. Assim, se não se trata de
assistência social, o foco do legislador ao mandar
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acrescentar o termo à lei, evidentemente foi o de
estabelecer que só se admitem fundações com o fim de,
nos mais diversos campos do interesse coletivo,
colaborar, apoiar, proteger e amparar, pois esta a
interpretação léxica da expressão assistência,
considerando, inclusive, o contexto onde a mesma está
inserida.
E, colaborar, apoiar, proteger, amparar, enfim, prestar
assistência (muito diferente da assistência social, repita-
se com ênfase) pode ser realizado em qualquer das áreas
de interesse coletivo: Meio ambiente, pesquisa, esportes,
saúde, educação, etc.,etc.”.
De forma plenamente compatível com esta linha de
raciocínio, registra-se, ainda, o ponto de vista de Maria Helena Diniz7, a qual, se
reportando às conclusões do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça
Federal8, refere-se às fundações privadas e suas finalidades da seguinte forma:
7 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil. Teoria Geral do Direito Civil. V. I. 10 ed. São Paulo:
Saraiva, p. 211. 8 Enunciado nº 9 do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal.
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“É, portanto, um acervo de bens livres, que recebe da lei
a capacidade jurídica para realizar as finalidades
pretendidas pelo seu instituidor, em atenção aos seus
estatutos, desde que religiosos, morais, culturais ou
assistenciais (CC, art. 62, parágrafo único). Não tem
fins econômicos, nem fúteis. Logo, “a constituição de
fundação para fins científicos, educacionais ou de
promoção do meio ambiente está compreendida no
Código Civil, art. 62, parágrafo único” (Enunciado nº 8
do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça
Federal), por ser meramente enunciativa e por indicar a
exclusão de fins lucrativos. E, além disso, cultura em
sentido amplo pode abranger a educação, inclusive a
ambiental, a pesquisa científica, a preservação do
patrimônio cultural, a valorização e a difusão de
manifestações culturais, o desenvolvimento intelectual
etc. “O art. 62, parágrafo único, deve ser interpretado
de modo a excluir apenas as fundações de fins
lucrativos”.
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Além dos argumentos explanados, outros aspectos que
ensejam a máxima atenção ao aplicador da lei, são o contexto e a oportunidade em
que a previsão surgiu, justamente, quando também ocorreram mudanças afetas às
demais pessoas jurídicas de direito privado interno.
Significativamente, no Código Civil atual, as sociedades
civis sem fins lucrativos desaparecem, subsistindo apenas como sociedades civis as
que possuem fins lucrativos, simples ou empresárias.
Atualmente, sem fins lucrativos serão apenas as
associações e as fundações.
Sob este prisma encontra-se realçada a ideia de que as
fundações, tal como as associações, não se coadunam com objetivos econômicos ou
lucrativos, razão pela qual as finalidades para as quais podem ser instituídas deverão
atender, puramente, a objetivos de interesse coletivo.
Nesses moldes, mostra-se justificável a limitação
pensada pelo legislador, quanto às finalidades religiosas, morais, culturais e de
assistência, devendo o Ministério Público zelar por seu cumprimento.
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Ressalte-se que as fundações sempre tiveram as suas
finalidades voltadas para a coletividade, não se admitindo, portanto, a criação de
fundação com fins voltados para o interesse mútuo de seus instituidores ou
dirigentes, desnaturando-a.
E infelizmente, constata-se que esta instituição está
sendo utilizada para acobertar interesses pessoais de seu diretor VALTENIR
LAZZARINI, conforme demonstrado e segundo melhor exposto nos itens abaixo.
Desta forma, necessária a extinção da FUNDAÇÃO
NOSSO LAR, revertendo-se seu patrimônio a uma instituição de semelhantes fins
(àqueles estabelecidos no seu ato constitutivo), registrada no CNAS (Conselho
Nacional de Assistência Social) ou a entidade pública, conforme artigo 35, do
Estatuto Social.
2.2 DA ILEGALIDADE DO ACORDO CELEBRADO COM A ASSOCIAÇÃO
DE PROTEÇÃO À VIDA (APROVI):
Conforme exposto acima, em 14 de novembro de 2011, a
FUNDAÇÃO NOSSO LAR firmou contrato de comodato com a Associação de
Proteção à Vida – APROVI, transferindo recursos, bem como os direitos de uso e
gozo dos móveis e imóveis daquela entidade.
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São diversas irregularidades encontradas em tal contrato.
Senão vejamos:
2.2.1 DA TRANSFERÊNCIA DE TODOS OS BENS DA FUNDAÇÃO NOSSO
LAR:
As fundações encontram-se delineadas no artigo 44 do
Código Civil entre as pessoas jurídicas de direito privado, ao lado das associações,
das sociedades, das organizações religiosas e dos partidos políticos.
A fundação, no entanto, guarda traço peculiar em relação
às demais pessoas jurídicas mencionadas acima, em razão do elemento que dá
suporte à sua personalidade jurídica: o patrimônio. Enquanto as demais pessoas
jurídicas se organizam em torno da reunião de pessoas, a fundação irá adquirir
personalidade jurídica a partir do conjunto de bens livres e desembaraçados
destinados a uma finalidade social, lícita e, em princípio, imutável.
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Dessa forma, um instituidor (pessoa física ou jurídica)
'cria' uma fundação, reservando-lhe bens suficientes para garantir a consecução de
seus fins estatutários. A partir do momento de sua instituição, a fundação adquire
vida própria, distinta de seu instituidor, e o Ministério Público exercerá sobre ela o
"velamento", consubstanciado nas medidas necessárias para que o patrimônio seja
aplicado nas finalidades previstas no ato de constituição e a atuação dos dirigentes
fique dentro dos limites fixados pelo estatuto.
Consoante o documento de fls. 73/78 (Inquérito Civil
Público nº 0053.12.000437-8), a comodante (FUNDAÇÃO NOSSO LAR)
transferiu os direitos de uso e gozo dos móveis e imóveis a comodatária (APROVI).
Além disso, a FUNDAÇÃO NOSSO LAR transferiu a
título de doação à APROVI a quantia de R$ 230.000,00 (duzentos e trinta mil
reais), conforme se observa do parágrafo segundo da cláusula primeira.
Não há qualquer interesse fundacional nessa doação já a
ausência de patrimônio levaria a entidade a sua extinção, como ocorre no momento.
Em consonância com os Livros contábeis da entidade, no
exercício 2011, ficaram evidencias transferências para a APROVI em 24 de
novembro de 2011 no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) e em 21 de
dezembro de 2011, no montante de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
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Com isso, percebe-se que todos os recursos financeiros
disponíveis da FUNDAÇÃO NOSSO LAR, os veículos, os demais bens móveis e
os imóveis foram cedidos e/ou transferidos para a entidade APROVI.
Some-se a isto o fato da APROVI ter recebido tais bens
e recursos para desenvolver a atividade contemplada no projeto CEDEDICA, da
FUNDAÇÃO NOSSO LAR, e, no entanto, alugou os imóveis recebidos em
comodato a outra entidade privada – Aldeias Infantil SOS Brasil, recebendo por esta
locação os alugueres pertinentes (fls. 233/256 e 271/293 - Procedimento
Administrativo nº 0053.12.000437-8).
Desta feita, resta prejudicada a realização dos objetivos
estabelecidos no Estatuto Social da referida entidade, por estar esta descapitalizada e
pela ausência de patrimônio livre e disponível.
2.2.2 DA AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO:
Conforme já foi ressaltado, o Parquet é o curador legal
das fundações, devendo fiscalizar os atos de administração e disposição de bens
(artigo 66, do Código Civil).
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De acordo com o artigo 13, inciso XVII, da Resolução nº
2.434/2002 da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Paraná, é obrigatório
conter no estatuto da fundação a “necessidade de autorização da Promotoria das
Fundações para alienação, permuta ou oneração de patrimônio da Fundação”.
Sem tal cláusula, o instrumento constitutivo da entidade
sequer é aprovado pelo órgão ministerial.
No presente caso, o Estatuto da FUNDAÇÃO NOSSO
LAR prescreve em seu artigo 6º, § 3º que “a alienação ou permuta de bens, para
aquisição de outros mais rendosos ou mais adequados, serão decididos pelo
Conselho Deliberativo, observando-se o quorum qualificado de deliberação de 2/3
(dois terços), com prévia aprovação do Ministério Público”.
Observa-se, porém, que não houve qualquer
autorização do Ministério Público do Estado do Paraná para a realização deste
negócio.
Em que pese ter havido, em tese, autorização do
Conselho Deliberativo, tal transação não poderia ser realizada sem a autorização
prévia do Parquet, já que iria dispor de bens e direitos da Fundação, ou seja, houve
efetiva doação de patrimônio (a quantia de R$ 230.000,00, que se encontrava em
aplicativos financeiros) à APROVI, iniciando a descapitalização da Fundação.
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Aliás, inegável a má-fé do Diretor da FUNDAÇÃO
NOSSO LAR que por diversas vezes solicitou ao Parquet autorização para alienar
os veículos pertencentes à Fundação, tendo-lhe sido indeferida a permissão, em
virtude de ser incabível (ICP nº 0053.11.000052-7).
Assim, mesmo possuindo consciência da AUSÊNCIA
DE PERMISSÃO PARA ALIENAÇÃO e da impossibilidade jurídica da venda dos
automóveis, VALTERNI LAZZARINI fez mais, primeiramente DOOU TODA A
RESERVA FINANCEIRA da FUNDAÇÃO NOSSO LAR e CONCEDEU O USO
DE TODOS OS BENS DA ENTIDADE.
Proibiu-se o menos (a alienação de alguns bens móveis),
mas isso não o impediu de se fazer o mais (transferência de todos o patrimônio de
forma definitiva ou em forma de concessão de uso).
2.2.3 DA COINCIDÊNCIA DOS REPRESENTANTES DA FUNDAÇÃO NOSSO
LAR E DA APROVI:
Observa-se que o contrato de comodato (fls. 73/78 –
Procedimento Administrativo nº 0053.12.000437-8) foi assinado pelo Diretor
Administrativo Financeiro da Fundação – VALTENIR LAZZARINI e pelo
Presidente da APROVI, que também é VALTENIR LAZZARINI.
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Conforme assinaturas constantes no item 1.3 desta
inicial, verifica-se que são idênticas. Aliás, também se observa que, segundo
pesquisa pelo sistema INFOSEG, o secretário da APROVI, BLADIMIR
LAZZARINI é irmão do Diretor e Presidente da FUNDAÇÃO NOSSO LAR e
APROVI, VALTENIR LAZZARINI, possuindo ao menos a mesma genitora
(Geni Berton Lazzarini).
Verifica-se que de acordo com o artigo 61, da Resolução
nº 2.434/2002 da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Paraná dispõe:
“Art. 61. Os integrantes dos órgãos deliberativo,
executivo e de fiscalização das fundações, e as
empresas ou entidades das quais sejam aqueles ou
seus parentes até 2º grau, diretores, gerentes, sócios
ou acionistas, não poderão efetuar, com ditas
fundações, negócios de qualquer natureza, direta ou
indiretamente, salvo em favor da fundação, a título
gratuito”.
Assim, não poderia VALTENIR LAZZARINI ter
celebrado negócio de qualquer natureza com ele mesmo, nem com seu irmão, sob
pena de nulidade do ato praticado.
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Ademais, em consulta ao estatuto da APROVI e
Cadastro de Pessoa Jurídica, verifica-se que a Associação foi constituída em
29/04/1999, e possui como presidente IVANIA FERRONATTO, ex-diretora de
projetos da FUNDAÇÃO NOSSO LAR e esposa/companheira de VALTENIR
LAZZARINI. Apesar de ter sido constituída em 1999, o Estatuto da Associação foi
documentado e registrado em cartório em 2010 (fls. 167 e 171/178 - Procedimento
Administrativo nº 0053.12.000437-8).
Como se vê, há confusão entre as entidades APROVI e a
FUNDAÇÃO NOSSO LAR. A APROVI, instituída como associação privada sem
fins econômicos, por membros, funcionários e/ou familiares pertencentes aos
quadros da fundação, sendo que a segunda funcionava inicialmente em imóvel
pertencente àquela.
Importante salientar que a doação das aplicações
financeiras e a cessão em comodato dos bens imóveis constituíram uma forma de
privatização desses, já que com as operações realizadas estar-se-ia fugindo da
fiscalização do Ministério Público, já que as associações não prestam contas de seus
atos a nenhum órgão público.
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Desta feita, pelos três motivos expostos acima, verifica-
se que o Termo de Parceria e de Comodato realizado pela FUNDAÇÃO NOSSO
LAR e pela ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO À VIDA - APROVI é nulo de
pleno direito, já que ausentes os requisitos essenciais para sua validade.
Uma vez sendo anulado, deverão todos os bens da
FUNDAÇÃO NOSSO LAR, inclusive a quantia de R$ 230.000,00 retornar ao
patrimônio desta.
2.3 DA MALVERSAÇÃO DOS RECURSOS DA FUNDAÇÃO NOSSO LAR
PELO DIRETOR VALTENIR LAZZARINI:
De acordo com José Naufel9, malversação significa a má
administração, dilapidação, é o ato de fazer subtrações abusivas.
Conforme foi exposto acima, houve malversação dos
bens da FUNDAÇÃO NOSSO LAR por seu diretor VALTERNI LAZZARINI.
Em resumo, podem ser citadas as seguintes
irregularidades:
9 NAUFEL, José. Novo Dicionário Jurídico Brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 584.
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1ª) Desviar a finalidade da FUNDAÇÃO NOSSO LAR daquela descrita no
estatuto;
2ª) Firmar Termo de Parceria e de Comodato com a APROVI sem autorização do
Ministério Público;
3ª) Celebrar o instrumento acima como ambas as partes: como diretor da
FUNDAÇÃO NOSSO LAR e como diretor da APROVI;
4ª) Doar todo ativo financeiro da fundação para a APROVI (R$ 230.000,00);
5ª) Fazer concessão de uso de todo o patrimônio restante da fundação para a
APROVI;
6ª) Não fazer reserva de patrimônio para que a fundação pudesse desenvolver as
finalidades pela qual foi criada;
7ª) Deixar acumular diversas dívidas tributárias em face a fundação e mesmo que
elas ainda estejam sendo discutidas judicialmente não constituir capital para
eventual sucumbência;
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8ª) residir em imóvel da fundação, o qual não visa atender necessidade de seu
Presidente, já que este serve àquela e não o contrário.
Verifica-se que, com o não recolhimento da parte
patronal do INSS por parte da Fundação, tendo em vista contenda jurídica da
possibilidade de isenção, criou-se um passivo contingente tributário causando sério e
elevado risco dos bens da referida serem leiloados para fazer face a estas dívidas, já
que não existem quaisquer depósitos em garantia.
Desta forma, constata-se a má-fé de VALTENIR
LAZZARINI para com o patrimônio da FUNDAÇÃO NOSSO LAR, dilapidando
seu patrimônio e desvirtuando sua finalidade como se a entidade lhe pertencesse.
Frise-se que o referido é servidor público municipal,
administrando temporariamente os bens da fundação.
No entanto, a Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu não
localizou o ato pessoal que cedeu o referido servidor para desenvolver suas
atividades na FUNDAÇÃO NOSSO LAR (fls. 228 – Inquérito Civil Público nº
0053.12.000560-7). Há apenas uma solicitação elaborada pela entidade às fls. 214 –
Inquérito Civil Público nº 0053.12.000560-7).
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Além disso, ressalta-se que de acordo com a Informação
do Núcleo de Perícia do Ministério Público (fls. 18/45 – Procedimento
Administrativo nº 0053.12.000437-8), constataram-se outras irregularidades:
a) Pagamento de bolsa de estudos (pós-graduação) para o assistente administrativo
BLADIMIR LAZZARINI (irmão de VALTENIR LAZZARINI). Verificou-se
que os pagamentos das parcelas continuaram a ser pagos pela FUNDAÇÃO
NOSSO LAR mesmo após a demissão do sobredito em maio de 2010 (fls. 80/97 -
Procedimento Administrativo nº 0053.12.000437-8). Senão vejamos: Data
Pagamento Valor Descrição Despesa Conta Bancária
28/05/2010 182,00 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
04/06/2010 165,80 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
01/07/2010 160,40 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
02/08/2010 160,40 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
02/09/2010 165,80 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
06/10/2010 165,80 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
09/11/2010 171,20 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
05/01/2011 185,54 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
05/01/2011 165,80 Parcela Pós-Graduação UNICOC* Bladimir Lazzarini Sicredi - 18545-0
Total 1.522,74 * UNICOC - União de Cursos Superiores COC Ltda.
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b) Dentre os pagamentos de combustível para abastecimento dos veículos da
Instituição, verificou-se que foram pagos abastecimentos de veículos de outra
entidade (Placa AQJ-4875). Conforme consulta ao INFOSEG (fls. 142 –
Procedimento Administrativo nº 0053.12.000437-8), o veículo citado pertence à
APROVI. Ainda, nas notas fiscais constam IVANIA FERRONATO como
utilitária dos veículos mesmo em data posterior a sua demissão em 29 de maio de
2010, bem como todas as notas rubricadas por esta (fls. 125/141 - Procedimento
Administrativo nº 0053.12.000437-8). Data Produto Lt Vlr Un. Valor Total Placa Motorista Observação
13/12/2010 Etanol 47,75 1,699 81,13 AQJ 4875Leandra R. da Rosa
14/12/2010 Etanol 45,06 1,699 76,56Sem
Identificação Ivania Ferronato21/12/2010 Etanol 29,03 1,759 51,06 AQL1875 Ivania Ferronato21/12/2010 Gasolina 1,27 2,599 3,31 AQL1875 Ivania Ferronato03/01/2011 Etanol 42,91 77,19 AQI9579 Ivania Ferronato17/01/2011 Etanol 43,92 79,01 AQI9579 Ivania Ferronato18/01/2011 Etanol 46,47 83,59 AQL1875 Ivania Ferronato28/01/2011 Etanol 46,14 83,00 AQI9579 Ivania Ferronato09/02/2011 Etanol 48,36 1,799 87,01 AQI 9779 Ivania Ferronato16/02/2011 Etanol 45,25 1,899 85,93 AQL 1875 Ivania Ferronato17/02/2011 Etanol 67,8 1,899 67,80 AQI9579 Ivania Ferronato24/02/2011 Etanol 50,59 AQJ4875 Ivania Ferronato10/04/2011 471,74 Sem NF07/04/2011 Gasolina 44,39 2,749 122,03 AQI 9579 Ivania Ferronato19/04/2011 Gasolina 41,05 2,749 112,84 AQI 9579 Ivania Ferronato03/05/2011 Gasolina 44,84 2,799 125,51 AKI9579 Ivania Ferronato15/05/2011 Etanol 47,71 1,799 85,82 AQI 9579 Ivania Ferronato20/05/2011 Etanol 22,99 1,799 41,37 AQI 9579 Ivania Ferronato25/05/2011 81,00 AQI9576 Ivania Ferronato15/07/2011 252,66 Sem NF10/08/2011 291,01 Sem NF12/09/2011 360,06 Sem NF
13/09/2011 Etanol 22,97 1,959 45,00Sem
Identificação Ivania Ferronato2.815,22 Valor Total
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c) Além disso, a fundação conta com diversos débitos tributários, os quais
comprometem seu ativo, o que levará a entidade a uma situação ruinosa.
Conforme já mencionado, somente a título de
contencioso pode-se citar as dívidas decorrentes de tributos municipais e federais,
sendo que desta última até o momento perfaz um total de R$ 511.264,28 (quinhentos
e onze mil, duzentos e sessenta e quatro reais e vinte e oito centavos) (fls. 40/41, 50,
53, 55/62 e 64/71 – Procedimento Administrativo nº 0053.12.000437-8).
d) Verificou-se que os cheques emitidos pela FUNDAÇÃO NOSSO LAR
provenientes da conta corrente da Caixa Econômica Federal (agência nº 0589, Conta
03003006-4) foram assinados por: IVANIA FERRONATTO e BLADIMIR
LAZZARINI, a primeira sendo esposa/companheira do Diretor Presidente que fora
contratada à época como Diretora de Projetos, e o segundo irmão do Presidente que
fora contratado à época como Assistente Administrativo.
Não se vislumbrou no estatuto social permissão para tal
feito aos mencionados funcionários.
O artigo 21, do Estatuto Social, preleciona:
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“Parágrafo primeiro - A representação legal da
Fundação será exercida pelo Diretor
Administrativo/Financeiro e, na falta ou impossibilidade
deste Conselho Deliberativo nomeará definitiva ou
provisoriamente outro dentre a Diretoria Executiva.
Parágrafo segundo – Poderá a Diretoria Executiva, após
a provação do Conselho Deliberativo, outorgar o que é
de sua competência a profissionais contratados”.
e) A FUNDAÇÃO NOSSO LAR realizou empréstimos para outras entidades que
possuem como responsável a esposa/companheira do Diretor Administrativo;
f) Verificou-se que no mesmo endereço da sede da entidade (Rua Ernesto Keller, nº
368/388), funcionavam, em tese, mais três instituições: Associação Paranaense de
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, bem como a Associação Madre
Tereza e a Associação de Proteção a Vida. Todavia, da análise dos documentos
comprobatórios verificou-se que todas as despesas fixas da sede (água, luz, telefone)
eram pagas pela FUNDAÇÃO NOSSO LAR;
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g) Verificou-se, ainda, no exercício de 2011, quando já não havia mais atividade na
Fundação, que as despesas com alimentação, medicamentos, água, luz e telefone,
foram pagas com recursos da entidade. Neste exercício, não havia convênio vigente
e as casas da Fundação estavam alugadas para terceiros, exceto a sede, a qual era
utilizada como residência por VALTENIR LAZZARINI. Deste modo, tais
despesas não são justificadas (fls. 143/151 - Procedimento Administrativo nº
0053.12.000437-8);
h) observa-se que dos sete imóveis de propriedade da instituição, somente um (de
matrícula nº 26.620) possui averbada sua edificação (fls. 216/231 - Procedimento
Administrativo nº 0053.12.000437-8);
i) Na vistoria feita pela Auditoria do Ministério Público (fls. 352/363), em 11 de
outubro de 2012, constatou-se a presença de dois veículos no pátio da residência
situada a Rua Ernesto Keller, nº 442, a qual servia de moradia para VALTENIR
LAZZARINI e sua família. Em outras palavras, mesmo sem realizar as finalidades
da fundação, ele utiliza os veículos e a residência pertencente à entidade para uso
pessoal;
j) aprovação parcial das contas referentes ao exercício de 2009 e 2010 e da
reprovação daquelas referentes ao exercício de 2011 (conforme Informação de
Auditoria – fls. 18/45).
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A reprovação ocorreu em virtude das inúmeras
irregularidades apontadas pelo Núcleo de Auditoria e descritas nesta inicial, pois os
dirigentes das fundações possuem direitos e deveres próprios, incumbindo-lhes atuar
estritamente nos moldes do estatuto da instituição, a fim de empregar às atividades,
o patrimônio e os recursos da entidade aos fins a que ela se destina.
Imperioso colacionar:
“No presente trabalho restou evidenciado a malversação
dos recursos e patrimônio da Fundação por seus
dirigentes, implicando em descapitalização e
desmobilização da Fundação, o que resultou na
desaprovação das contas da referida” (fls. 44).
Assim percebe-se que os dirigentes da aludida entidade
agem como se fossem proprietários da fundação, utilizando seus recursos, já
escassos, em proveito próprio e de sua família.
Diante de tal malversação, necessário o afastamento de
VALTENIR LAZZARINI a fim de se manter integro o patrimônio da fundação
e/ou evitar que outros danos possam ser ocasionados.
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3. DA MEDIDA LIMINAR DE AFASTAMENTO DO DIRETOR VALTENIR
LAZZARINI:
Para se tentar resguardar ao menos parcela do interesse
público, e antes que ocorra uma maior dissipação de bens da FUNDAÇÃO NOSSO
LAR, fundamental é a concessão de medida liminar, de afastamento do diretor
VALTENIR LAZZARINI.
O fumus boni iuris é evidente, notadamente ante a farta
prova documental, indicando que VALTENIR LAZZARINI dilapidou o
patrimônio da FUNDAÇÃO NOSSO LAR.
O periculum in mora, por seu turno, está igualmente
evidente, haja vista que o mencionado diretor, que desfalcou o patrimônio da
fundação, em nome de escusos interesses pessoais, certamente não se sentirá inibido
de proceder ao desvio do restante dos bens, caso permaneça na administração da
entidade.
Ressalte-se que a concessão da medida liminar torna-se
imperiosa antes mesmo de serem os requeridos citados, pois se evitará, dessa forma,
a dissipação dos bens, o que provavelmente ocorrerá assim que VALTENIR
LAZZARINI tome conhecimento da ação, se não for proferida desde já a liminar
pleiteada.
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Necessária, por fim, a nomeação de outro administrador
para a entidade, indicando o Parquet nesse momento a pessoa de Edinalva Severo,
qualificada no Termo de Declarações em anexo.
4. DA MEDIDA LIMINAR DE ANULAÇÃO DO TERMO DE PARCERIA E
COMODATO REALIZADO ENTRE A FUNDAÇÃO NOSSO LAR E A
ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO A VIDA – APROVI COM RETORNO
IMEDIATO DE TODOS OS BENS E VALORES:
Conforme foi visto, os valores e bens da FUNDAÇÃO
NOSSO LAR foram doados e/ou cedidos por meio de um termo de parceria nulo de
pleno direito para a APROVI, a qual possui como diretor a pessoa de VALTENIR
LAZZARINI.
Verifica-se que caso tais bens permaneçam em poder o
sobredito réu, por meio da associação em questão, existe um grave risco destes
serem dilapidados, como foram enquanto pertencentes à fundação em tela.
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Assim, imperiosa é a anulação liminar o Termo de
Parceria e Comodato realizado entre a FUNDAÇÃO NOSSO LAR e a
ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO A VIDA – APROVI, determinando o retorno
imediato de todos os valores doados e de todos os bens móveis e imóveis
concedidos ao patrimônio da fundação;
5. DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS:
Mister a concessão, "inaudita alterae pars", da
indisponibilidade dos bens de propriedade dos requeridos VALTENIR
LAZZARINI, BLADIMIR LAZZARINI, IVANA FERRONATTO e
ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO A VIDA – APROVI, em razão do primeiro ser
responsável pela FUNDAÇÃO NOSSO LAR e todos os três responsáveis pela
APROVI.
A indisponibilidade dos bens solicitada tem amparo no
artigo 798, do Código de Processo Civil, que visa a assegurar a futura execução de
sentença na forma requerida no item seguinte.
A disposição mencionada consigna que:
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“Art. 798. Além dos procedimentos cautelares
específicos, que este Código regula no Capítulo II
deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas
provisórias que julgar adequadas, quando houver
fundado receio de que uma parte, antes do julgamento
da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de
difícil reparação”.
A indisponibilidade dos bens de propriedade dos
requeridos decorre da nulidade da celebração do termo de parceria e comodato, que
transferiu por doação e comodato os bens da FUNDAÇÃO NOSSO LAR.
Conforme analisado acima, necessário que tais bens e
valores retornem ao patrimônio da entidade, sendo imperiosa tal medida cautelar
para garantir tal regresso.
Portanto, requer seja deferida a liminar de
indisponibilidade dos bens dos réus, consignando-se o bloqueio de valores junto ao
sistema BACEN-Jud, o registro e/ou averbação em todas as matrículas dos imóveis
nos Cartórios competentes dos Registros Imobiliários desta cidade de Foz do
Iguaçu, bem como junto ao Departamento de Transito do Paraná – DETRAN/PR
mediante a expedição de ofício e/ou mandado deste Juízo e pelo sistema Renajud.
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Sabe-se que ações desta natureza, em razão da
formulação dos pedidos e da qualidade das partes envolvidas, não raramente se
arrastam ao longo dos anos, não só pelas formalidades processuais, mas pela
ultimação de recursos interpostos pelas partes, o que acarretará prejuízos
irreparáveis à entidade e às Fazendas Públicas, caso não seja concedida a medida
pleiteada.
Sabe-se, também, que, em razão dos fatos, há sério risco
de que os réus venham a promover a retirada dos bens de seus nomes, para que não
sejam alcançados pela presente ação, sendo mais uma das razões pelas quais se
postula a tutela cautelar. Portanto, presentes os pressupostos do "periculum in mora"
(em que pese dispensável ex lege) e do "fumus boni iuris para a concessão da
medida, pede-se que, uma vez deferida, sejam expedidos urgentemente os
competentes mandados, inclusive a viabilidade da expedição via fax-símile, para os
órgãos locais.
6. DA DESTINAÇÃO DOS BENS:
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Conforme visto, sendo extinta a FUNDAÇÃO NOSSO
LAR, seu patrimônio deverá ser revertido a uma instituição de semelhantes fins
(àqueles estabelecidos no seu ato constitutivo), registrada no CNAS (Conselho
Nacional de Assistência Social) ou a entidade pública, conforme artigo 35, do
Estatuto Social.
7. DOS PEDIDOS:
Ante o exposto, o Ministério Público requer:
1. seja liminarmente, inaudita altera pars, afastado da FUNDAÇÃO NOSSO LAR,
seu diretor VALTENIR LAZZARINI, em virtude da malversação do patrimônio
da entidade e por estarem presentes os requisitos de fumus boni iuris e periculum in
mora;
2. que no prazo de 15 dias, os requeridos VALTENIR LAZZARINI e IVANIA
FERRONATTO desocupem o imóvel pertencente a FUNDAÇÃO NOSSO LAR;
3. seja nomeada a pessoa de Edinalva Severo, qualificada no Termo de Declarações
em anexo, como interventora/diretora da FUNDAÇÃO NOSSO LAR;
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4. seja liminarmente, inaudita altera pars, anulado de pleno direito o Termo de
Parceria e Comodato realizado entre a FUNDAÇÃO NOSSO LAR e a
ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO A VIDA – APROVI, determinando o retorno
imediato de todos os valores doados e de todos os bens móveis e imóveis
concedidos ao patrimônio da fundação;
5. Seja deferida a liminar de indisponibilidade dos bens dos réus VALTENIR
LAZZARINI, BLADIMIR LAZZARINI, IVANIA FERRONATTO e
ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO A VIDA – APROVI consignando-se o bloqueio
de valores junto ao sistema BACEN-Jud, o registro e/ou averbação em todas as
matrículas dos imóveis nos Cartórios competentes dos Registros Imobiliários desta
cidade de Foz do Iguaçu, bem como junto ao Departamento de Transito do Paraná –
DETRAN/PR mediante a expedição de ofício e/ou mandado deste Juízo e pelo
sistema Renajud;
6. sejam citados os réus, pessoalmente e/ou por meio de seu representante legal, para
contestarem, caso queiram, os termos da presente ação;
7. seja oficiado o Banco Central, para que informe a existência de contas correntes
e/ou poupanças em nome da FUNDAÇÃO NOSSO LAR, mencionando os valores
e instituições financeiras que as detém;
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8. a procedência do pedido, com a consequente decretação da extinção da
FUNDAÇÃO NOSSO LAR, e a determinação de averbação da decisão no Cartório
de Registro de Títulos e Documentos onde está averbado o Estatuto Social.
Outrossim, com a extinção da Fundação retro mencionada, deverá ser oficiada a
Receita Federal para que faça a baixa no CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica da referida entidade;
9. seja todo o patrimônio e valores remanescentes, caso existam, incorporados ao
patrimônio de instituição que se proponha a fins semelhantes aos da fundação a ser
extinta ou a entidade pública, em obediência ao que determina seu próprio estatuto;
10. seja o Termo de Parceria e Comodato realizado entre a FUNDAÇÃO NOSSO
LAR e a ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO A VIDA – APROVI anulado de pleno
direito, determinando o retorno imediato de todos os valores doados e de todos os
bens móveis e imóveis concedidos ao patrimônio da fundação;
11. pugna-se pela produção de todos os meios de prova em direito admitidas,
depoimento pessoal, perícias e rol de testemunhas, inclusive juntada posterior de
documentos.
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Dá-se à causa o valor de R$ 230.000,00 (duzentos e
trinta mil reais) reais, apenas para efeitos legais.
Foz do Iguaçu-Pr, 10 de janeiro de 2013.
MARCOS CRISTIANO ANDRADE
PROMOTOR DE JUSTIÇA
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