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fhl,ilustações

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D.

FORJAZIlustrações de Marina Rodrigues a partir da obra ‘’Felizmente há luar’’ de Luis Sttau Monteiro

novembro 2011

01

Nasceu em Lisboa, em 3 de Abril de 1926. Aos 13 anos foi viver para Londres, onde seu pai desempenhava as funções de embaixador. O tempo que aí passou terá condicionado muitos aspectos da sua formação estética e literária. Nesses anos, viveu de perto a tragédia da Segunda Guerra Mundial. De regresso a Portugal, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, tendo exercido, por um breve período de tempo, a advocacia. Publicou o seu primeiro romance em 1960, Um Homem Não Chora. Em 1961, publica-se Angústia para o Jantar, que o colocou desde logo, num lugar de relevo no panorama da literatura portuguesa.

Nota Biobibliográfica

Luis de sttau Monteiro

01

Nasceu em Lisboa, em 3 de Abril de 1926. Aos 13 anos foi viver para Londres, onde seu pai desempenhava as funções de embaixador. O tempo que aí passou terá condicionado muitos aspectos da sua formação estética e literária. Nesses anos, viveu de perto a tragédia da Segunda Guerra Mundial. De regresso a Portugal, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, tendo exercido, por um breve período de tempo, a advocacia. Publicou o seu primeiro romance em 1960, Um Homem Não Chora. Em 1961, publica-se Angústia para o Jantar, que o colocou desde logo, num lugar de relevo no panorama da literatura portuguesa.

Nota Biobibliográfica

Luis de sttau Monteiro

Autoritário

02

D.Miguel Tenho uma missão para si. Quero que se torne conhecido para os lados do Rato e que veja quem entra em casa de meu primo. Quero que me venha aqui trazer, todas as manhãs, uma lista das pessoas com quem o general se dá. Uma lista a que não falte ninguém. Se cumprir esta missão com o zelo que lhe impõe o seu dever e a gravidade da situação, prom eto-lhe que não acabará os seus dias a pedir. Interessa-lhe a chefia dum posto de polícia? VICENTE Só me interessa. Excelência, a oportunidade de servir el-rei e a Pátria. Nada mais me interessa. Agora - ou mais tarde, como chefe de polícia - é o que farei...

T en h o u m a m iss ã o p a r a s i. Q u er o q u e s e t o r n e

c o n h e c id o p a r a o s la d o s do R a t o e q u e v e j a q u e m

e n t r a em c a s a d e m e u p r im o . Q u e r o q u e m e

v en h a a q u i t r a z er , t o d a s a s m a n h ã s , u m a l i s t a d a s

p e s s o a s co m q u e m o g e n e r a l s e d á . U m a li s t a a

q u e n ã o fa l t e n in g u é m . S e c u m p r i r e s t a m iss ã o

c o m o z e l o q u e l h e im p õ e o s e u d e v e r e a

g r a v id a d e d a s i t u a ç ã o , p r o m e t o - lh e q u e n ã o

a c a b a r á o s se u s d i a s a p e d i r . In t er e s sa - l h e a

c h e f i a d u m p o s t o d e p o l í c ia ?

03

Autoritário

02

D.Miguel Tenho uma missão para si. Quero que se torne conhecido para os lados do Rato e que veja quem entra em casa de meu primo. Quero que me venha aqui trazer, todas as manhãs, uma lista das pessoas com quem o general se dá. Uma lista a que não falte ninguém. Se cumprir esta missão com o zelo que lhe impõe o seu dever e a gravidade da situação, prom eto-lhe que não acabará os seus dias a pedir. Interessa-lhe a chefia dum posto de polícia? VICENTE Só me interessa. Excelência, a oportunidade de servir el-rei e a Pátria. Nada mais me interessa. Agora - ou mais tarde, como chefe de polícia - é o que farei...

T en h o u m a m iss ã o p a r a s i. Q u er o q u e s e t o r n e

c o n h e c id o p a r a o s la d o s do R a t o e q u e v e j a q u e m

e n t r a em c a s a d e m e u p r im o . Q u e r o q u e m e

v en h a a q u i t r a z er , t o d a s a s m a n h ã s , u m a l i s t a d a s

p e s s o a s co m q u e m o g e n e r a l s e d á . U m a li s t a a

q u e n ã o fa l t e n in g u é m . S e c u m p r i r e s t a m iss ã o

c o m o z e l o q u e l h e im p õ e o s e u d e v e r e a

g r a v id a d e d a s i t u a ç ã o , p r o m e t o - lh e q u e n ã o

a c a b a r á o s se u s d i a s a p e d i r . In t er e s sa - l h e a

c h e f i a d u m p o s t o d e p o l í c ia ?

03

Hipócrita

04

D. Miguel A "patriotas", Reverência. Há-os sempre prontos a condenar o que não entendem e a classificar de racionais os seus estados emotivos. Os estadistas recorrem a tal gente sempre que a mais nada podem recorrer... PRINCIPAL SOUSA Mas... prestar-se-ão a isso? D. Miguel A tudo, Reverência, a tudo! Aliás, os seus serviços não serão gratuitos... Para o juiz da Inconfidência irão os bens do condenado... Para os restantes, Reverência, comendas e promoções... El-rei é generoso!

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Hipócrita

04

D. Miguel A "patriotas", Reverência. Há-os sempre prontos a condenar o que não entendem e a classificar de racionais os seus estados emotivos. Os estadistas recorrem a tal gente sempre que a mais nada podem recorrer... PRINCIPAL SOUSA Mas... prestar-se-ão a isso? D. Miguel A tudo, Reverência, a tudo! Aliás, os seus serviços não serão gratuitos... Para o juiz da Inconfidência irão os bens do condenado... Para os restantes, Reverência, comendas e promoções... El-rei é generoso!

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05

Prepotente

06

D.Miguel Em tom de confidência. Fala A polícia não chega para arrancar os pasquins como um homem desiludido revolucionários das portas das igrejas.. . que, depois de ter dado o O mundo parece estar atacado de loucura, melhor do seu trabalho, se Reverência… Vê incompreendido e desacreditado.

PRIN CIPAL SOUSA Maior é, por isso mesmo, a nossa responsabilidade. Esta noite sonhei que nós, os governadores do Reino, tínhamos sido destacados, pelo Senhor, para a primeira linha de combate eterno entre o bem e o mal. Temos uma missão a cumprir, uma missão sagrada e penosa: a de conservar no jardim do Senhor este pequeno canteiro português. Enquanto a Europa se desfaz, Aponta para o tecto. O nosso povo tem de continuar a ver, no Céu, a Cruz de Ourique.

LLIIIO

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Prepotente

06

D.Miguel Em tom de confidência. Fala A polícia não chega para arrancar os pasquins como um homem desiludido revolucionários das portas das igrejas.. . que, depois de ter dado o O mundo parece estar atacado de loucura, melhor do seu trabalho, se Reverência… Vê incompreendido e desacreditado.

PRIN CIPAL SOUSA Maior é, por isso mesmo, a nossa responsabilidade. Esta noite sonhei que nós, os governadores do Reino, tínhamos sido destacados, pelo Senhor, para a primeira linha de combate eterno entre o bem e o mal. Temos uma missão a cumprir, uma missão sagrada e penosa: a de conservar no jardim do Senhor este pequeno canteiro português. Enquanto a Europa se desfaz, Aponta para o tecto. O nosso povo tem de continuar a ver, no Céu, a Cruz de Ourique.

LLIIIO

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Servil

08

Eu também tenho medo, senhores, mas o meu medo não é semelhante ao vosso. Pouco me importa a fortuna ou a vida, ambas daria de boa vontade, se me fosse necessário fazê-lo, pela minha terra. A Pátria, Excelências, não é, para mim, uma palavra vã... Se algum sonho tenho, se a um estadista é permitido sonhar, o meu sonho é de não morrer sem exterminar de vez as sementes da anarquia e do jacobinismo... Sonho com um Portugal próspera e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor. Sonho com um a nobreza orgulhosa, que, das suas casas, dirija esta terra privilegiada. Vejo um clero, uma nobreza e um povo conscientes da sua missão, integrados na estrutura tradicional do Reino...

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09

Servil

08

Eu também tenho medo, senhores, mas o meu medo não é semelhante ao vosso. Pouco me importa a fortuna ou a vida, ambas daria de boa vontade, se me fosse necessário fazê-lo, pela minha terra. A Pátria, Excelências, não é, para mim, uma palavra vã... Se algum sonho tenho, se a um estadista é permitido sonhar, o meu sonho é de não morrer sem exterminar de vez as sementes da anarquia e do jacobinismo... Sonho com um Portugal próspera e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor. Sonho com um a nobreza orgulhosa, que, das suas casas, dirija esta terra privilegiada. Vejo um clero, uma nobreza e um povo conscientes da sua missão, integrados na estrutura tradicional do Reino...

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Corrupto

10

D. Miguel O reino de Deus está a saque e os inimigos do Senhor já não se encontram apenas na rua... Há- os nos palácios e no próprio Conselho da Regência. Ao que o mundo chegou, para que me veja obrigado a aceitar o auxílio dum herege a fim de combater outros hereges.

BERESFORD Senhores: Deixemos o reino de Deus para outra ocasião. O que me traz aqui é bem mais grave. Enquanto estamos a conversar - neste mesmo momento - conjura-se abertamente em Lisboa. Dentro de minutos vem aqui um oficial repetir a VV. Ex.as o que me disse ontem, à noite, em minha casa. Oiçam bem o que ele diz, porque, da decisão que tomarmos, depende a cabeça de V. Ex.a, Sr. D. Miguel, os meus 16 000$00 anuais e a possibilidade de o principal Sousa continuar a interferir nos negócios deste Reino. D. MIGUEL Querem matar-me?

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Corrupto

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D. Miguel O reino de Deus está a saque e os inimigos do Senhor já não se encontram apenas na rua... Há- os nos palácios e no próprio Conselho da Regência. Ao que o mundo chegou, para que me veja obrigado a aceitar o auxílio dum herege a fim de combater outros hereges.

BERESFORD Senhores: Deixemos o reino de Deus para outra ocasião. O que me traz aqui é bem mais grave. Enquanto estamos a conversar - neste mesmo momento - conjura-se abertamente em Lisboa. Dentro de minutos vem aqui um oficial repetir a VV. Ex.as o que me disse ontem, à noite, em minha casa. Oiçam bem o que ele diz, porque, da decisão que tomarmos, depende a cabeça de V. Ex.a, Sr. D. Miguel, os meus 16 000$00 anuais e a possibilidade de o principal Sousa continuar a interferir nos negócios deste Reino. D. MIGUEL Querem matar-me?

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Mesquinho

12

Sou um homem de gabinete. Não tenho as qualidades necessárias para falar ao povo... Repugna-me a acção, estaria politicamente liquidado se tivesse de discutir as minhas ordens… Não sou, e nunca serei, popular. Quem o for, é meu inimigo pessoal. No estado em que se encontra o Reino, basta o aparecimento de alguém capaz de falar ao povo para inutilizar o trabalho de toda a minha vida... E há quem seja capaz de o fazer...

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Mesquinho

12

Sou um homem de gabinete. Não tenho as qualidades necessárias para falar ao povo... Repugna-me a acção, estaria politicamente liquidado se tivesse de discutir as minhas ordens… Não sou, e nunca serei, popular. Quem o for, é meu inimigo pessoal. No estado em que se encontra o Reino, basta o aparecimento de alguém capaz de falar ao povo para inutilizar o trabalho de toda a minha vida... E há quem seja capaz de o fazer...

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Renegado

14

MATILDE Vamos falar com o D. Miguel Forjaz. SOUSA FALCÃO Nem nos receberá! Conheço-o há muitos anos. É frio, desumano e calculista. Odeia Gomes Freire com um ódio que vem de longe, Diz por dizer. Sabe que não há nada a fazer. Mas não deseja reconhecê-lo em frente de Matilde. Com a energia possível a quem chegou ao fim das suas forças. Lembre-se de que são primos, e antigos camaradas de armas... Um é franco, aberto, leal. O outro é a personificação de mediocridade consciente e rancorosa.

Gomes Freire perdoaria a D. Miguel Forjaz, mas D. Miguel Forjaz vai nforcar Gomes Freire. É inútil bater-lhe à porta. MATILDE Um cristão não fecha assim a porta a uma desgraçada que lhe vem pedir pela vida do seu homem... tem de me ouvir. SOUSA FALCÃO (Com azedume) D. Miguel é um cristão de domingo, Matilde. Pode estar certa de que todos os dias dá, a um pobre, pão que lhe baste para se conservar vivo até morrer de fome...

LLIIIO..

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Renegado

14

MATILDE Vamos falar com o D. Miguel Forjaz. SOUSA FALCÃO Nem nos receberá! Conheço-o há muitos anos. É frio, desumano e calculista. Odeia Gomes Freire com um ódio que vem de longe, Diz por dizer. Sabe que não há nada a fazer. Mas não deseja reconhecê-lo em frente de Matilde. Com a energia possível a quem chegou ao fim das suas forças. Lembre-se de que são primos, e antigos camaradas de armas... Um é franco, aberto, leal. O outro é a personificação de mediocridade consciente e rancorosa.

Gomes Freire perdoaria a D. Miguel Forjaz, mas D. Miguel Forjaz vai nforcar Gomes Freire. É inútil bater-lhe à porta. MATILDE Um cristão não fecha assim a porta a uma desgraçada que lhe vem pedir pela vida do seu homem... tem de me ouvir. SOUSA FALCÃO (Com azedume) D. Miguel é um cristão de domingo, Matilde. Pode estar certa de que todos os dias dá, a um pobre, pão que lhe baste para se conservar vivo até morrer de fome...

LLIIIO..

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Índice

Nota Biobibliográfica

AutoritárioHipócrita

Prepotente

ServilCorrupto

Mesquinho

Renegado

1

2

4

6

8

10

12

14

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Índice

Nota Biobibliográfica

AutoritárioHipócrita

Prepotente

ServilCorrupto

Mesquinho

Renegado

1

2

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8

10

12

14

5 6 0 e s d j g f a 2 0 1 1 ma r i na r o d r i g u e s 1 2 D

Primo de Gomes Freire, é um governante prepotente, assustado com transformações que não

deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio, desumano, calculista. Inteiramente dedicado aos

seus ideais, D. Miguel assume como missão o combate por um modelo de sociedade à luz dos

valores do patriotismo e da noção de Estado, assente nos pilares tradicionais da monarquia

absolutista; da defesa de uma sociedade estratificada, com papéis sociais distintos; da recusa de

uma sociedade regida por princípios como liberdade e igualdade; da concessão de um poder

político autocrático. Representante da Nobreza na Regência, assume o papel principal na

acusação do General Gomes Freire pois receia que o prestígio, inteligência e capacidade deste

lhe retirem a projecção a que está habituado e coloquem em causa o seu lugar na Regência.

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