metodologia científica - autor: fábio appolinário
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METODOLOGIA CIENTÍFICA
METODOLOGIA CIENTÍFICA
5Metodologia científica
Apresentação
Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva
a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga
o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.
Pensando na imensa necessidade em atender o desejo desse exigente leitor é que foi
criado este produto voltado aos anseios de quem busca informação e conhecimento
com o dinamismo dos dias atuais.
Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning,
com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada.
Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente,
associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e
a memorização de cada disciplina.
A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a
interação com o assunto tratado.
Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos
“Atenção”, que o alertará sobre a importância do assunto abordado, e o “Para saber mais”, com dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosidades bem
bacanas, que aprofundarão a apreensão do assunto, além de recursos ilustrativos,
que permitirão a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras-
-chave em negrito, o leitor será levado ao Glossário, para ter acesso à definição da
palavra. Para voltar ao texto, de onde parou, o leitor clica na própria palavra-chave
do Glossário, em negrito.
Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance
do conhecimento de maneira objetiva, concisa, didática e eficaz.
Boa leitura!
7Metodologia científica
Prefácio
A constante necessidade de aperfeiçoar os meios de conhecimento fez com que
o indivíduo estabelecesse formas de pesquisas que viabilizassem o encontro de
respostas mais abrangentes e precisas para as suas dúvidas.
O termo metodologia científica compreende as formas e métodos a serem utilizados
no campo de uma verificação, seja ela teórica ou prática.
Esta obra divide-se em 4 partes. Na primeira, são estudados os conceitos basilares
do método científico e os sistemas válidos da produção científica. Nesta passagem, o
leitor aprenderá um pouco mais sobre eventos, periódicos, comunidades científicas,
fomento por parte de organismos e instituições ao processo de iniciação científica.
A segunda parte do trabalho vai apresentar o passo a passo do processo de
pesquisa e os instrumentos postos à disposição do pesquisador/cientista para
elaboração do seu projeto. Interessante atentar-se para as orientações sobre os
diversos mecanismos passíveis de serem utilizados para a escolha daquele que
melhor atende aos objetivos do pesquisador.
Já na terceira parte da obra, o leitor vai encontrar as modalidades de um trabalho
científico e os tipos de discursos existentes no campo da metodologia. A partir das
noções lançadas, o leitor terá condições de traçar seus próprios paradigmas acerca
do que representa uma pesquisa e sua relevância prática.
Por fim, na quarta parte do trabalho, o leitor vai entender a importância das
variáveis e dos níveis de amostragem, bem como a utilidade desses parâmetros
para o resultado de um trabalho científico.
A leitura didática e organizada oferecerá, certamente, uma proveitosa absorção
dos conceitos.
Desejamos uma excelente leitura!
9Unidade 1 - Introdução
UNIDADE 1INTRODUÇÃO
Capítulo 1 Conhecimento Científico e Senso Comum, 10
Capítulo 2 Método e Método Científico, 11
Capítulo 3 Ciência, 12
Conhecimento Religioso (ou Teológico), 12
Conhecimento Artístico, 12
Conhecimento Filosófico, 13
Capítulo 4 Divisão da Ciência, 14
Capítulo 5 O Sistema de Produção Científica, 15
Periódicos Científicos, 15
Eventos Científicos, 18
Comunidade Científica, 19
Natureza da Pesquisa: Qualitativa versus Quantitativa, 22
Finalidade da Pesquisa: Básica versus Aplicada, 23
Tipo de Pesquisa: Descritiva versus Experimental, 23
Estratégias de Pesquisa, 24
Delineamentos de Pesquisa, 28
Glossário Unidade 1, 31
10 Metodologia científica
O mundo seria menos dinâmico se não existisse a ciência. A busca pelo conhecimento, sempre em ampla evolução no que consiste aos seus meios,
permitiu ao ser humano alcançar o atual desenvolvimento, possibilitando, ainda, sua incansável procura. A metodologia de pesquisa científica fornece ao pesquisador o caminho que ele deve percorrer para otimizar e viabilizar esse encontro. O Capítulo 1 deste material apresenta os tópicos introdutórios do conhecimento científico, seus métodos, sua divisão e natureza, proporcionando ao leitor conhecer as razões e a importância da pesquisa científica no nosso cotidiano.
1. Conhecimento Científico e Senso Comum
Quando o ser humano deixou de aceitar passivamente o funcionamento das coisas,
se interessando e observando cada etapa desse desempenho, ele passou a aderir
a um sistema chamado procedimento científico, que visa alcançar sempre o
resultado mais preciso e correto possível. Este tipo de conhecimento permite ao
homem entender a fundo a existência de diversos fenômenos, observando cada
etapa do processo envolvido.
Diferentemente do procedimento científico, temos o conhecimento que se perfaz
por meio do senso comum e que tem um caráter menos complexo por se valer dos
conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, mediante experiências individuais
passadas de geração a geração, e que não requerem procedimentos problemáticos.
Tabela 1 – Conhecimento científico e senso comum.
Conhecimento a partir de procedimentos científicos
Conhecimento a partir do senso comum
Sistemático. Assistemático.
Metódico: é produzido a partir de uma série de procedimentos específicos e
bem definidos.
Ametódico: frequentemente depende do caso.
Objetivo e impessoal: é simples, direto e factual. Tende a ser mais isento,
dependendo menos dos nossos juízos e disposições pessoais
Subjetivo: depende de nossos juízos e disposições pessoais.
Apesar da existência desses dois modos de conhecimento, um não é superior ao
outro. Em verdade, eles se complementam. Isso porque, o conhecimento científico
depende e se origina de indagações oriundas do senso comum, o que pode acabar
resultando em alguma descoberta científica importante.
Numa simples e modesta definição, pode se entender que o conhecimento científico
é o conhecimento produzido pelos cientistas. O cientista nada mais é do que o
11Unidade 1 - Introdução
indivíduo que se utiliza de procedimentos científicos
para obter conhecimento e encontro de respostas
às indagações suscitadas.
2. Método e Método Científico
Método é um procedimento ou um
conjunto organizado de passos que se
deve realizar para atingir determinado
objetivo e está presente em todos os
âmbitos da experiência humana.
O método científico é, portanto, apenas
um caso particular dos diversos tipos de
métodos e consiste em algumas etapas
bem definidas, como: identificação de um
fenômeno no universo que peça explicação
(observação); produção de uma explicação provisória
que desvende esse fenômeno (geração de hipóteses); execução de um procedimento
que possa testar essa explicação, a fim de verificar se ela é verdadeira ou falsa
(experimentação); análise e conclusão, visando estabelecer se a hipótese pode
ser considerada verdadeira também em outros contextos diferentes daquele do
experimento original (generalização).
Por exemplo: um pesquisador na área de educação observa que seus alunos
parecem obter melhor desempenho acadêmico quando têm acesso ao material de
estudo antes da aula (observação). Dessa forma, ele supõe que isso ocorra porque,
ao ler o material com antecedência, os alunos assistem às aulas mais relaxados e
podem fazer perguntas de melhor qualidade (geração de hipóteses). O pesquisador
decide, então, testar essa suposição da seguinte forma: distribui seus alunos em
dois grupos. O primeiro terá acesso ao material antes da aula, ao passo que o
segundo, não. Ao longo de seis meses de aulas, o pesquisador aplica provas de
conhecimentos para acompanhar o desenvolvimento da compreensão dos alunos
sobre o tema ensinado e observa o comportamento deles em sala de aula, o tipo de
pergunta que fazem etc. (experimentação). Ao final de todo o processo, ele compara
as notas dos alunos dos dois grupos e verifica que sua suposição estava correta:
“alunos que têm acesso ao material instrucional, com antecedência, apresentam
desempenho acadêmico superior, pois assistem às aulas mais relaxados e fazem
perguntas de melhor qualidade” (generalização).
ATENÇÃO: O método científico está embasado em vários outros métodos, como a observação, a geração de hipóteses, a experimentação e a generalização!
12 Metodologia científica
3. Ciência
A palavra ciência vem do latim scientia, cujo significado é “conhecer”.
Por sua definição, a ciência possui algumas características particulares especiais
que a diferenciam de outras formas de conhecimento, como a arte, a religião, a
filosofia e o senso comum.
Conhecimento Religioso ou Teológico
Desde os primórdios, existe a crença em uma força superior, divina, que rege os
destinos do universo. Essa crença, produto da fé e da transcendência, permitiu ao
ser humano explicar e organizar uma realidade muitas vezes ameaçadora e perigosa.
Por exemplo: quando perdemos um ente querido, a ciência não pode nos consolar,
mas as matrizes explicativas religiosas nos trazem conforto e nos ajudam a suportar
melhor a perda. A maioria de nós já se sentiu ligada, de alguma forma, a essa força
divina que, em cada religião, assume uma manifestação específica.
O conhecimento religioso, em seu sentido mais amplo, refere-se a qualquer
conhecimento que não possa ser questionado ou testado, adquirindo portanto um
caráter dogmático. O dogma é uma afirmação que não pode ser contestada e acaba
se constituindo na base da maioria das religiões. Um individuo católico apostólico
romano, por exemplo, deve necessariamente acreditar no “dogma da infalibilidade
papal”, que afiança ser impossível que o papa se engane sobre qualquer assunto,
uma vez que ele seria, supostamente, o legítimo representante de Deus na Terra.
Outra característica interessante do conhecimento religioso refere-se ao seu
caráter pessoal: a fé de uma pessoa não pode ser totalmente comunicada às
outras. Ou seja, a “experiência religiosa” é muito pessoal, e essa “reconexão” (a
palavra religião é derivada do termo latino religare – ligar novamente, ou seja,
reconectar algo que já foi ligado em eras passadas: Deus e o homem) pode se dar
tanto em uma cerimônia religiosa como em outras situações inusitadas.
Conhecimento Artístico
O conhecimento artístico é embasado na emoção e na intuição. Em contato com
uma obra de arte, seja ela uma pintura, uma escultura, uma música ou uma poesia,
por exemplo, muitas vezes não é possível resumir, em palavras, a experiência
que se extrai. Isso se deve ao fato de a informação veiculada pela manifestação
artística ser preponderantemente de natureza emocional. Ao observar um quadro,
ele despertará algum tipo de emoção: admiração, irritação, paz, alegria etc.
O conhecimento artístico pode ou não assumir uma lógica similar ao senso comum
e à ciência. A arte pode, na realidade, assumir qualquer forma, uma vez que o
que vale é a relação particular que se estabelece entre o observador e o fenômeno
13Unidade 1 - Introdução
observado. Por exemplo: pode-se olhar para uma equação escrita em um quadro-
-negro e pensá-la sob a ótica da matemática (ciência) ou da estética (o equilíbrio
dos termos, a cor do giz, a sonoridade de seus elementos etc.).
O conhecimento artístico possui duas características bem importantes: é uma forma
de conhecimento inesgotável, ou seja, a informação estética contida em uma obra de
arte é encarada de forma diferente por várias pessoas e também de diversos modos
por uma única pessoa, em momentos diferentes. Segundo, a informação estética
não pode ser traduzida para outras linguagens sem perda de informação relevante.
Conhecimento Filosófico
A palavra filosofia deriva da junção dos termos gregos philos (amor) e
sófia (sabedoria).
Pitágoras, grande filósofo do século VI a.C., denominava-se “amante da sabedoria”.
A “filosofia” é algo intermediário entre a religião e a ciência. Semelhantemente à
religião, a filosofia consiste em especulações sobre diversos assuntos, com respeito aos
quais ainda não foi possível obter conhecimento científico. Mas, semelhantemente à
ciência, a filosofia apela à razão humana, e não a uma autoridade, seja ela relacionada
à tradição ou à revelação. Todo conhecimento definido sistemática, ametódica e
subjetivamente pertence à ciência; todo dogma a respeito daquilo que jaz além do
conhecimento definido cientificamente pertence à religião. Mas entre a religião e a
ciência há uma terra descampada que está aberta a ataques de ambos os lados, pois
ela não pertence a nenhuma delas: essa terra descampada pertence à filosofia.
14 Metodologia científica
Pode-se dizer que um dos mais fortes componentes
presentes na filosofia é a razão. Naturalmente
isso também ocorre na ciência, mas a diferença
básica entre elas reside no método para a
produção do conhecimento: a filosofia baseia-
-se fundamentalmente na razão, tanto como a
ciência, mas, ao buscar comprovações empíricas
acerca dos fatos, a ciência produz conhecimentos
necessariamente verificáveis.
Tabela 2 – Tipos de conhecimentos e suas bases.
Tipo de conhecimento Base
Conhecimento religioso Dogma
Conhecimento artístico Emoção e intuição
Conhecimento filosófico Razão e sabedoria
4. Divisão da Ciência
A ciência encontra-se dividida em ciências formais, ciências naturais e ciências
sociais.
As ciências formais lidam unicamente com abstrações, ideias e estruturas
conceituais, não necessariamente ligadas aos fatos, como a matemática e a lógica.
As ciências naturais, como a biologia, a física e a química, estudam os fenômenos
naturais (a vida, o ambiente etc.).
Por fim, as ciências sociais, como a psicologia, a sociologia e a economia, dedicam-
-se à investigação dos fenômenos humanos e sociais.
Quadro 1 – Divisão das ciências.
Divisão da Ciência
Ciências formaisLidam unicamente com abstrações, ideias e estruturas
conceituais.
Ciências naturaisEstudam os fenômenos concernentes à biologia, física e
química (vida, ambiente etc.).
Ciências sociaisCiências sociais, como a psicologia, a sociologia e a economia dedicam-se à investigação dos fenômenos humanos e sociais.
15Unidade 1 - Introdução
5. O Sistema de Produção Científica
Algo muito importante a se saber é onde o conhecimento científico é veiculado. A
resposta é: nos periódicos científicos, principalmente.
Periódicos Científicos
Um periódico científico (ou jour-
nal, em inglês) é um tipo especial
de revista que possui certas carac-
terísticas diferenciais em relação
às revistas comuns. A primeira ca-
racterística refere-se ao fato de que
um periódico científico possui um
comitê científico-editorial, dos
quais alguns membros avaliam a
qualidade dos artigos submetidos à
publicação. Para quem deseja publi-
car um artigo em um periódico, o primeiro passo a ser adotado é enviá-lo para o
editor do periódico que, primeiramente, eliminará do artigo quaisquer informações
que permitam a identificação de sua autoria. Depois disso, o editor enviará o artigo
para dois ou três pareceristas ad hoc (membros do comitê científico-editorial). O
parecerista ad hoc é um cientista, provavelmente ligado a alguma instituição de
ensino superior dentro ou fora do país, cuja área de pesquisa é a mesma abordada
no artigo ou muito próxima dela.
Esses pareceristas têm um prazo – normalmente 30 ou 40 dias – para analisar
o artigo e criticá-lo. O artigo pode ser aceito ou recusado e devolvido, com os
comentários críticos dos pareceristas, no caso de rejeição. Se recusado, o artigo
poderá ser retificado e submetido novamente à avaliação. Esse processo pode,
então, repetir-se inúmeras vezes, até que o artigo seja aceito para publicação.
Esse sistema de envio-análise-retorno denomina-se peer review ou simplesmente
“revisão pelos pares”, e é realizado, normalmente, na modalidade de double blind
review – ou seja, “revisão duplamente cega” (você não conhece a identidade dos
pareceristas nem eles a sua). Evidentemente, esse procedimento é feito para tornar
o sistema mais justo e imune a personalismos indesejáveis.
É muito comum encontrarmos a expressão: “Esta revista não se responsabiliza
pelas opiniões aqui emitidas, que são de responsabilidade unicamente de seus
autores”, que normalmente aparece em revistas. Isso, no entanto, não ocorre
em um periódico científico: ele, de fato, responsabiliza-se pela veracidade dos
artigos publicados, uma vez que o comitê científico-editorial avaliou aquele
conteúdo informacional.
16 Metodologia científica
A segunda grande diferença entre uma revista comum e um periódico científico
reside no procedimento de indexação. Os artigos publicados em um periódico
científico são indexados, ou seja, passam a fazer parte de índices científicos setoriais
que servem para que outros pesquisadores possam encontrá-lo quando estiverem
procurando informações sobre o tema desenvolvido em sua pesquisa. A maioria
desses índices é consultada, atualmente, por meio da internet e alguns deles são
públicos e gratuitos, embora outros tenham seu acesso restrito às instituições que
pagam pelo serviço.
Fluxograma 1 – Passo a passo para a publicação de um artigo científico em periódico científico.
Processo de indexação
Ao escrever um artigo científico, ele deverá conter uma série de tópicos obrigatórios,
como seções de método, resultados, discussão, referências etc. Dois desses
elementos obrigatórios são o resumo do artigo e as palavras-chave a ele associadas.
O primeiro, como o próprio nome indica, é uma síntese, normalmente com até 200
palavras, que apresenta todas as informações relevantes acerca do artigo, incluindo
suas conclusões. O outro elemento obrigatório são as palavras-chave, tipicamente
cinco ou seis, que o autor deverá escolher como as mais representativas para
descrever o assunto de que trata o artigo.
Assim, os índices de busca científica funcionam de forma muito parecida com a
dos de busca populares (como Google ou Yahoo!): basta que a pessoa interessada
informe as palavras-chave de sua busca e solicite ao índice que pesquise artigos
que as contenham – não ao longo de todo o texto do artigo, mas que coincidam
com as palavras-chave que o autor do artigo estipulou. O resultado dessa pesquisa
não será uma relação de artigos em sua íntegra, mas dos resumos desses artigos.
Elaboração de artigo segundo
processo científico
Envio do artigo ao editor do
periódico para análise
Encaminhamento a pareceristas do comitê científico-
-editorial para verificação do
conteúdo.
Devolução ao editor
Recusa Aprovação
Devolução ao autor
para retificação
Publicação
17Unidade 1 - Introdução
Os pesquisadores interessados no assunto lerão apenas o resumo do artigo e,
daí, julgarão se vale ou não a pena obter o texto na íntegra para analisá-lo mais
detidamente. Convém destacar que o idioma da ciência é o inglês, e não o português.
Por esse motivo, todo artigo publicado em um periódico científico brasileiro tem um
resumo em português e um abstract (o resumo vertido para a língua inglesa), além
das palavras-chave e as keywords (as palavras-chave, em língua inglesa), embora o
artigo propriamente dito possa estar redigido em português, inglês ou ou até mesmo
em espanhol, francês e outras línguas. Nos periódicos totalmente redigidos em
inglês, não haverá versão para o português do abstract e das keywords.
Outro detalhe importante é que nem sempre será possível encontrar o conteúdo
de artigos na íntegra, mas apenas os resumos. Nesse caso, será possível conhecer
apenas o nome do periódico, o volume, e as páginas em que o artigo se encontra
para, posteriormente, procurar alguma biblioteca que possua o periódico para
então poder lê-lo. Há periódicos científicos apenas na versão impressa, em versões
digital e impressa, e outros ainda que só existem virtualmente.
Uma última observação acerca dos periódicos científicos merece destaque. Trata-
-se do fato de eles serem, em geral, altamente especializados. Assim, cada ciência
tem seus próprios periódicos – e, mais do que isso, normalmente, cada tópico
específico de determinada ciência tem periódicos especializados.
Tabela 3 – Exemplos de periódicos especializados.
Ciência Disciplina ou subárea Periódico
Biologia Biologia celularEuropean Journal of Cell
Biology
Psicologia Reabilitação cognitivaJournal of Cognitive
Rehabilitation
Física ÓpticaJournal of Pure and Applied
Optics
Sociologia Culturas comparadasInternational Journal of Comparative Sociology
Economia AgronegóciosAgricultural and Resource
Economic Review
Ciências contábeis
Auditoria contábil Journal of Forensic Accounting
18 Metodologia científica
Existem, também, periódicos mais gerais, com escopo de publicação mais amplo
(exemplos: Brazilian Journal of Biology, American Journal of Sociology, Revista
Brasileira de Administração etc.), até o ponto de abarcar diversas ciências, como é
o caso das prestigiosas Science e Nature.
Embora os livros possam ser meios legítimos de veiculação do conhecimento
científico, o meio oficial para essa divulgação é o periódico científico, em versão
impressa ou digital. Existe um sistema de validação dos próprios periódicos.
No Brasil, por exemplo, uma entidade ligada ao governo federal que fiscaliza e
avalia os periódicos é a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior – http://www.capes.gov.br). Além disso, os periódicos também são
reconhecidos e validados pela própria comunidade científica à qual estão ligados –
por exemplo, na área de psicologia, o periódico Psicologia: Teoria e Pesquisa, ligado
à Universidade de Brasília (UnB). Na área de administração, tem-se a Revista de
Administração de Empresas – RAE-FGV, editada pela Fundação Getúlio Vargas de
São Paulo, e assim por diante.
Eventos Científicos
Os congressos científicos são grandes eventos nos quais os pesquisadores e
estudantes de determinada área da ciência se encontram periodicamente para
apresentarem seus trabalhos mais recentes e entrarem em contato com os
trabalhos dos demais colegas.
19Unidade 1 - Introdução
O congresso científico abarca determinados tipos de participação. O interessado
poderá ser meramente um “congressista”, ou seja, participante observador das
diversas atividades ali desenvolvidas, ou comparecer na qualidade de expositor
de determinado trabalho. Nesse caso, há diversas formas pelas quais se pode
informar à comunidade científica o que tem sido produzido nos últimos tempos.
Por exemplo: na categoria “painel”, monta-se um cartaz (normalmente nas medidas
de 1 m por 1,5 m) com todos os detalhes da pesquisa, que ficará exposto, durante
certo tempo, em uma área especialmente reservada para essa finalidade.
O trabalho também pode ser apresentado em uma sessão de comunicação oral ou,
tratando-se de um cientista renomado, pode ocorrer o convite para ele ministrar,
aos congressistas, uma conferência sobre determinado tema. De qualquer forma,
seja qual for a modalidade de participação, a presença em eventos científicos
é muito importante, tanto para o estudante como para o pesquisador, pois é
exatamente nessas oportunidades que se tem contato com os pares e interlocutores
intelectuais, colegas que criticarão e debaterão as ideias expostas – processo sem
o qual a ciência não avança.
Comunidade Científica
A ciência é, sobretudo, uma construção social e, sendo assim, a produção do
conhecimento científico se dá por meio de intensa colaboração entre os diversos
pesquisadores de cada área específica. Dessa forma, a primeira coisa a se saber é
quem serão os interlocutores do projeto que se visa apresentar. Ou seja, qual é a
comunidade científica que apreciará o trabalho. Assim, havendo interesse por uma
linha de pesquisa qualquer, o primeiro passo é determinar os principais periódicos
que veiculam o assunto, as principais referências clássicas (autores consagrados
de outras épocas) e contemporâneas (os pesquisadores de destaque atuais), os
principais centros de pesquisa (normalmente departamentos e laboratórios dentro
de universidades) etc.
O próximo passo é absorver a maior quantidade possível de informações acerca do
tema desejado (por meio dos índices de busca e acesso aos periódicos científicos
e livros recomendados por pesquisadores mais experientes). Finalmente, deve-se
entrar em contato com a comunidade visada e iniciar o processo de colaboração da
comunidade para com o pesquisador. Isso acaba ocorrendo, normalmente, quando
o estudante ingressa em um programa de pós-graduação stricto sensu, oferecido
por instituição de ensino superior reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC).
Pós-Graduação
A rigor, em nosso país há dois tipos de pós-graduação (atividades educacionais
que ocorrem após o estudante obter sua colação de grau em algum curso regular
de graduação): a lato sensu e a stricto sensu. O primeiro tipo refere-se aos cursos
20 Metodologia científica
de especialização, de cunho essencialmente profissionalizante – ou seja, voltados
às necessidades específicas do mercado de trabalho –, que possuem carga horária
de, no mínimo, 360 horas/aula. São cursos bastante específicos e ministrados em
um formato parecido com o da graduação.
A pós-graduação stricto sensu refere-se aos programas de mestrado e doutorado,
oferecidos nas mais diversas áreas de conhecimento, por várias instituições de
ensino. O objetivo de quem se inscreve em um programa desse tipo (normalmente,
primeiro o mestrado e depois o doutorado) é ingressar na carreira acadêmica, ou
seja, tornar-se em professor universitário e/ou pesquisador-cientista.
Tabela 4 – Tipos de pós-graduação.
Tipos de pós-graduação
Lato Sensu
Curso de especialização, de cunho essencialmente profissionalizante, voltado às necessidades específicas do
mercado de trabalho. Possui carga horária de, no mínimo, 360 horas/aula. São cursos bastante específicos e ministrados em
formato parecido com o da graduação.
Stricto Sensu
Curso voltado a programas de mestrado e doutorado, oferecidos nas mais diversas áreas de conhecimento, por várias instituições de ensino. O objetivo é ingressar na carreira acadêmica, a fim de se tornar um professor universitário e/ou pesquisador-cientista.
O mestrado pode ser visto como uma etapa intermediária em direção ao objetivo
maior: o doutorado. Trata-se de um curso no qual o estudante deve cursar algu-
mas disciplinas (umas obrigatórias e outras optativas) e, ao final, sob a orientação
de um professor doutor (o orientador), produzir um tipo especial de monografia
denominado dissertação, que é um trabalho acadêmico parecido com a mono-
grafia de conclusão de curso (ou trabalho de conclusão de curso, o TCC) exigida
ao final de alguns cursos de graduação. Além de elaborar a dissertação, o aluno
deve se submeter às arguições de uma banca: a banca de defesa. Nessa ocasião,
o pretendente ao grau de mestre (chamado de mestrando) apresentará seu tra-
balho e, em seguida, responderá oralmente aos questionamentos da banca exa-
minadora, que deve ter lido o trabalho com antecedência.
O doutorado não difere muito do mestrado em seu formato. Há, também, a
figura do orientador, certas disciplinas a serem cursadas e a produção de uma
monografia: a tese. Pode-se dizer que a principal diferença entre uma dissertação
e uma tese consiste na profundidade e complexidade do tratamento dado ao tema
pelo estudante. Assim, geralmente considera-se a tese um trabalho mais complexo
e profundo que uma dissertação. Ao final do doutorado (tipicamente, demora-
21Unidade 1 - Introdução
se dois ou três anos no mestrado e de três a cinco anos no doutorado), também
ocorre a arguição por ocasião da defesa da tese – após a qual o doutorando passa
à condição de doutor.
Bolsas e Agências de Fomento à Pesquisa
A formação de mestres e doutores tem relevância estratégica para qualquer país
do mundo. Assim, é muito comum que os governos incentivem e até financiem
integralmente as despesas dos alunos que desejam cursar esses programas. Dessa
forma, os programas de mestrado e doutorado, com qualidade reconhecida pela
Capes, normalmente oferecem bolsas de estudo para os estudantes, por meio
de alguma agência financiadora. No Brasil, por exemplo, no âmbito do governo
federal, dois organismos oferecem as referidas bolsas: a própria Capes e o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
No âmbito dos governos estaduais, também encontramos agências financiadoras,
como a Fapesp, no estado de São Paulo, e a Faperj, no estado do Rio de Janeiro.
Iniciação Científica
O planejamento de uma carreira acadêmico-científica deve ocorrer desde cedo na
vida universitária. Embora a maioria dos estudantes desconheça a existência de
todo esse sistema, em muitas áreas do conhecimento já existe uma tradição muito
grande em relação ao tema “educação continuada”.
Trata-se, além disso, de uma questão de empregabilidade: o curso universitário
não se constitui mais em um diferencial competitivo, já que quase todos o têm. As
empresas e instituições, de forma geral, desejam contratar pessoas diferenciadas
– ou seja, aquelas capazes de resolver e antecipar a ocorrência de problemas,
as aptas a agregar conhecimento às atividades operacionais e estratégicas e,
sobretudo, aquelas capazes de se reinventar a cada momento. Isso requer pessoas
que o tempo todo estão dispostas a aprender coisas novas e a reciclar seus
conhecimentos – e, para isso, nunca podem parar de estudar.
A segunda razão é que existem programas científicos voltados especificamente
para os alunos de cursos de graduação: são os chamados programas de iniciação
científica. Esses programas, em geral financiados pelas próprias instituições de
ensino, são voltados para a produção de uma monografia (versão simplificada de
uma dissertação) e, neles, o aluno recebe uma bolsa de estudos integral ou parcial,
normalmente por um ano. Ao longo desse período, o aluno terá o acompanhamento
de um professor-orientador que o auxiliará a desenvolver seu trabalho.
Esse tipo de programa, oferecido por muitas instituições de ensino – inclusive
privadas –, é muito importante, pois se trata do primeiro contato do aluno com a
atividade de produção de conhecimento científico.
O mundo seria menos dinâmico se hoje não existisse a ciência. A busca pelo conhecimento, sempre em ampla evolução no que consiste aos seus meios, permitiu ao ser humano alcançar o atual desenvolvimento e possibilita, ainda, a sua incansável procura. Este e-book fornece ao pesquisador o caminho que ele deve percorrer para otimizar e viabilizar esse encontro.
METODOLOGIA CIENTÍFICA
ISBN 13: 978-85-221-2242-4ISBN 10: 85-221-2242-3
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