mao tse tung
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Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Memória
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Mao Tse-Tung
O Grande Timoneiro
Apesar das críticas aos excessos do maoísmo – a interpretação
que o líder revolucionário chinês Mao Tse-tung (1893 – 1976) fez do
marxismo-leninismo – tecidas não só por seus rivais, mas também
por diversos analistas políticos, os simpatizantes desse ditador re-
conhecem nele um líder competente e tenaz. Grande teórico políti-
co, Mao, que iniciou sua carreira como auxiliar de bibliotecário,
deixou uma obra de 2.300 publicações. O “Grande Timoneiro”, co-
mo era chamado, defendia a necessidade de revoluções rurais, em
vez de urbanas, na Ásia, para reduzir as diferenças entre as classes.
Essa ideia foi interpretada de maneira infeliz e radical durante o
regime do Khmer Vermelho, na década de 1970, no Camboja, quan-
do se buscou exterminar a população urbana.
A China antes de Mao tinha uma taxa de analfabetismo de 80%,
e a expectativa de vida era de apenas trinta e cinco anos. Quando
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ele morreu, em 1976, a taxa de analfabetismo caíra para 7%, e a
expectativa de vida mais do que dobrara. No mesmo período, a
população explodiu, indo de 400 a 700 milhões de habitantes. A
condição da mulher também melhorou muito. E para melhor. Pela
primeira vez na história, a mulher chinesa tinha direitos iguais aos
do homem. O Grande Timoneiro provavelmente não foi o homem
que levou a China a se tornar, no começo do século XXI, a segunda
maior potência mundial. Mas certamente o rumo que estipulou
ajudou a manter a coesão do país
Mao aos 20 anos, em 1913
Mao Tse-tung surgiu em meio ao turbi-
lhão político que fragmentou a China no
começo do século XX. Líder carismático,
estrategista militar bem sucedido, Mao
soube tirar proveito do caos em que seu
país se transformou e construir, a partir
dos escombros que restaram, a funda-
ção para a construção de uma nova
nação. Sob seu comando, o país se
transformou. Deixou de ser um império
falido, vítima da tradição ultrapassada
que a tornou prisioneira das potências
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europeias, e se preparou para emergir, ainda no final do século XX,
como um dos principais motores da economia mundial.
Ao longo do século XIX, a China foi pressionada por diversos paí-
ses europeus e os EUA a assinar acordos comerciais desvantajosos e
permitir que seu enorme mercado fosse explorado de forma avil-
tante. Nos primeiros anos do novo século, essa situação levou à
revolução. Liderada por Sun Yat-sen, a insurreição derrubou o impé-
rio e estabeleceu a república. Mas a nova forma de governo que se
instalou no país em 1912 foi rapidamente desestruturada. A guerra
civil estourou, levando o país à divisão e desordem. O poder dança-
va nas mãos de líderes militares que se digladiavam, e nada foi feito
para satisfazer as necessidades sociais e econômicas da população.
O número de endividados e de camponeses sem terra cresceu, as-
sim como a fome e a miséria. Para piorar ainda mais a situação, o
Japão se aproveitou da debilidade chinesa para impor demandas
territoriais, comerciais e políticas. O país mergulhou no caos. Pare-
cia que a China tinha chegado no fundo do poço.
Mas foi justamente a crise sem precedentes que fez com que a-
contecesse, em 1919, o primeiro movimento maciço em apoio à
independência chinesa contra a interferência estrangeira. O Movi-
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mento de Quatro de Maio, como foi chamado em referência à data
em que começou, promoveu o despertar da consciência chinesa. O
movimento acabou ressuscitando a causa da revolução republicana.
Sun Yat-sen
Os líderes chineses ainda estavam dividi-
dos, e os rumos do país não delineados,
mas duas forças distintas começavam a
surgir para tomar as rédeas da situação.
Em 1919, Sun Yat-sen, que tinha liderado o
movimento republicano e tinha sido o
primeiro presidente provisório da China,
restabeleceu o partido nacionalista, re-
formador e modernista, o Kuomitang, ou
MKT, e dedicou-se a consolidar seu regime
e a reunificar a China. E em 1921, o Partido
Comunista Chinês (PCC) foi fundado, bus-
cando inspiração e ajuda em Moscou.
Mao Tse-Tung foi cofundador do partido. Ao longo da década de
1920, Mao se firmou como líder militar, comandando o Exército
Revolucionário dos Trabalhadores e Camponeses. Unindo-se a ou-
tras forças dissidentes, Mao formou o Exército Vermelho, o braço
armado do Partido Comunista Chinês.
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Enquanto Sun Yat-sen viveu, o MKT e o PCC cooperaram e con-
seguiram cada vez mais concessões dos estrangeiros. No entanto,
depois da morte de Sun Yat-sen, em 1925, o novo líder militar do
MKT, Chiang Kai-shek, resolveu acabar com o desafio dos rivais.
Nessa época, a China tinha três capitais: Pequim, sede do regime
dos líderes militares, reconhecido internacionalmente; Wuhan, con-
trolada pela a aliança entre o MKT e o PCC; e Nanquim, capital do
regime nacionalista de direita do MKT. Kai-shek foi bem sucedido e,
em 1928, já tinha conseguido reunificar a China novamente. Seu
regime foi prontamente reconhecido pela comunidade internacio-
nal.
Ching Kai-shek
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Rompendo com seus aliados, Kai-shek atacou os comunistas.
Houve muito derramamento de sangue, e os comunistas foram vir-
tualmente expulsos das cidades, entrincheirando-se no campo, on-
de tinham o apoio dos camponeses. Em Jiangxi, no sul, os comunis-
tas organizaram um exército e afirmaram governar cinquenta mi-
lhões de pessoas. Visando acabar o que tinha começado, o governo
MKT decidiu destruir esse santuário comunista. Em 1934, seus ata-
ques – feitos com armas e aviões alemães – forçaram o exército
comunista a iniciar o que veio a se chamar de “A Longa Marcha”,
quando cerca de 100.000 combatentes – muitos com suas famílias –
saíram de Jiangxi para se reunir com outras unidades comunistas
dispersas. Sob a liderança de Mao Tsé-tung, alcançaram, em 1935, o
norte de Shenxi, onde os camponeses foram reprimidos ainda mais
cruelmente do que no sul por apoiarem os comunistas. No entanto,
o MKT não venceu a guerra civil. Apesar de ter seu contingente tre-
mendamente reduzido e mesmo tendo sido desalojado do sul, o
exército comunista sobreviveu, e a Longa Marcha tornou-se um
épico a inspirar sua causa.
A Guerra Sino-japonesa
Apesar do grande desenvolvimento industrial – a produção de
aço, por exemplo, crescera dez vezes entre 1909 e 1929 –, em 1931,
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com a crise mundial, o Japão tinha metade das suas fabricas parali-
sadas, e milhões de pessoas estavam na miséria. Faminto por maté-
rias-primas e pressionado por um enorme aumento populacional, o
Japão tomou a Manchúria em setembro de 1931 e colocou o ex
imperador Manchu, Puyi, no trono de um novo Estado fantoche,
Manchuko, controlado pelos japoneses. As potências ocidentais
tinham outras questões em mente e não interviram.
Mao (esquerda) e Kai-shek unem suas forças contra os japoneses
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Em 1937, tropas japonesas cruzaram a Grande Muralha e invadi-
ram pela primeira vez a China histórica. Sem apoio das potências
europeias, os chineses tiveram de se virar como podiam. No final
das contas, os antigos inimigos voltaram a colaborar. O MKT e o PCC
formaram uma aliança contra os japoneses. Mas a aliança não se
mostrou muito eficiente. Os comunistas procuravam expandir sua
influencia sempre que possível, e conflitos entre os dois partidos
eram muito frequentes. No final da Segunda Guerra Mundial, os
japoneses foram finalmente expulsos. Mesmo assim, a derrota do
Japão se deveu mais à ação das forças aliadas em operação na China
do que ao esforço dos chineses. Restava agora fazer o acerto de
contas entre o MKT e o PCC.
Com o fim da guerra, o KMT
trouxe mais opressão às
áreas que controlava
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A China Comunista
Com a queda dos japoneses, os comunistas já tinham assumido
posições estratégicas em muitas áreas. Auxiliados pelos soviéticos,
eles se armaram com equipamento nipônico abandonado na retira-
da. Com o fim da guerra, o KMT, por sua vez, trouxe mais opressão
às áreas que controlava, elevando impostos e aluguéis exigidos pe-
los donos de terra que apoiavam o partido. E nesse quadro alta-
mente inflamável, a guerra civil recomeçou. Em 1947, depois que os
EUA retiraram suas tropas, a China foi varrida pela luta. Logo no
início do conflito, o governo do Kuomitang perdeu o controle. Seus
próprios soldados e burocratas começaram a dar sinais de que a-
chavam que o comunismo era a melhor solução para a China. No
final, o governo acompanhado de dois milhões de refugiados se
retirou para Taiwan. Seus sucessores estão lá até hoje. Quanto aos
comunistas, puderam consolidar sua posição no continente com
apoio praticamente incondicional de toda a população. E em 1o de
outubro de 1949, o presidente do Partido Comunista, Mao Tsé-tung,
instaurou a Republica Popular da China. Finalmente o país estava
sob um regime verdadeiramente revolucionário.
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Mao declara a fundação da República Popular da China, em 1949
O quadro que Mao encontrou não era nada encorajador. O país
estava exaurido depois de duas gerações de guerras e conflitos so-
ciais; a economia, corrompida por uma elevada taxa de inflação; as
linhas de transporte, parcialmente destruídas. Na década de 1950,
Mao promoveu uma série de reformas econômicas, conseguindo
apoio popular ao baixar os índices de inflação e ao reconstruir insta-
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lações industriais destruídas durante a guerra. Paralelamente, o
ditador, através do Partido Comunista controlava cada vez mais a
vida dos chineses.
Em 1958, Mao Tsé-tung rompeu com o modelo soviético e anun-
ciou um novo pacote econômico, “O Grande Salto para Frente”, que
buscava fomentar um rápido crescimento industrial e agrícola. Mas
as consequências foram desastrosas. Como resultado de um plano
falho que desprezava os mecanismos de mercado, a fome se alas-
trou até mesmo em áreas agrícolas férteis. E, enquanto isso, as rela-
ções com a União Soviética se deterioraram cada vez mais, a ponto
de a URSS interromper seu apoio à China e, em 1960, retirar todo o
seu pessoal do país. No mesmo ano, Pequim e Moscou começaram
a levar suas disputas a fóruns internacionais. Como resultado, Mao
ficou tremendamente desacreditado, e seu prestígio político, seria-
mente abalado.
Buscando reparar o erro de Mao, o Presidente do PCC, Liu Shao-
qi, e o Secretário Geral, Deng Xiaoping, assumiram a direção do
partido e adotaram medidas econômicas pragmáticas, conflitantes
com a visão comunitária de Mao. E mais uma vez a estabilidade foi
ameaçada. Insatisfeito com as medidas e com a diminuição da sua
autoridade, na primavera de 1966 Mao lançou um movimento polí-
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tico contra Liu, Deng e outros “pragmáticos”, como eram conheci-
dos os defensores das novas medidas. O movimento, “A Grande
Revolução Cultural Proletária”, não tinha precedentes na história do
comunismo chinês. Pela primeira vez, uma ala comunista buscava
mobilizar a população contra outra ala do mesmo partido. Mao
acusava Liu e Deng de estarem levando a China de volta ao capita-
lismo.
Humilhação pública durante a Revolução Cultural (1967)
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A Guarda Vermelha, uma milícia juvenil pró-Mao, atacou organi-
zações estatais e órgãos ligados ao partido, tendo como alvo aque-
les contrários às ideias de Mao. A China mergulhou mais uma vez
num pesadelo social e político. Mas, em 1971, depois de uma tenta-
tiva fracassada de golpe articulada pelo Ministro da Defesa, Lin Bi-
ao, a situação política se estabilizou. Mao morreu em 9 de setembro
de 1976, deixando o palco da China aberto para as reformas neces-
sárias. Com a reestruturação política que se seguiu, vários líderes
que haviam sido banidos durante a Revolução Cultural reaparece-
ram, entre eles Deng Xiaoping, que assumiu o governo em 1978.
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de São Paulo
Direito reservados: Sindicato dos Padeiros de São Paulo, 2013 Este artigo pode ser reproduzido para fins educativos
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