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1 Formador: Carlos Quintino
MANUAL DE FORMAÇÃO
FORMADOR: CARLOS QUINTINO
DEZ 2013 JAN, FEV 2014
2 Formador: Carlos Quintino
Introdução
Este manual surge no âmbito da UFCD – Animação em lares e centros de dia – e
pretende ser uma ferramenta para futuros agentes de geriatria e/ou técnicos de
animação. O objetivo desta ação de formação é dar ao formando o conhecimento
necessário para que este possa vir a desenvolver atividades de animação/ocupação de
tempos de lazer e para tal é importante adquirir os conceitos básicos para atingir os
objetivos propostos.
Para que tal seja possível o manual está organizado da seguinte maneira:
Definição de Animação; modalidades da animação; categorias de animação; objetivos
da animação de idosos; o utente; o animador; técnicas de animação e sua execução;
planificação; plano de desenvolvimento individual (PDI); plano de atividades
socioculturais (PAS); projeto de animação sociocultural e atividades de animação.
3 Formador: Carlos Quintino
Importa iniciar este manual com a definição destes dois conceitos chavão para que o
formando entenda e consiga aplicar seus conteúdos duma forma prática e objetiva.
Como tal, segundo Quintas e Castaño (1998) a animação é uma atividade
interdisciplinar e intergeracional que atua em diversas áreas e que influencia a vida do
indivíduo e do grupo.
Animação:
Segundo o dicionário (Porto editora, 2005) “animação significa animar, dar vida a,
vitalização, dar movimento ao que está parado, motivar. Neste sentido a animação é
dar vida ou movimento (pôr a funcionar ou a mexer) a um objeto, pessoa ou grupo.”
Animação Sociocultural
“É o conjunto de práticas desenvolvidas a partir do conhecimento de uma determinada
realidade, que visa estimular os indivíduos, para a sua participação com vista a
tornarem-se agentes do seu próprio desenvolvimento e das comunidades onde se
inserem.”
(ANASC, 2006, p.149)
O objetivo das atividades de animação podem dividir-se em quatro modalidades:
Cultural – a animação surge como entidade criadora, gestora e construtora de um
produto cultural, artístico ou criativo.
Educativa – a animação surge como promotora da educação e formação, inicial e ao
longo da vida;
Económica – a animação aparece como atividade geradora de meios económicos e
financeiros, como sejam a criação do próprio emprego ou ela própria como fonte de
receitas;
Social – a animação e o animador renascem como meios de superar as desigualdades
sociais e motores de promoção da pessoa e da comunidade.
É a partir da aplicação destas quatro modalidades que o profissional de animação
consegue estipular a sua área de conforto e assim, decidir com quais irá trabalhar.
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A Animação Sociocultural, cujo conceito nasceu na Europa nos anos 60, pode ser vista
como uma “intervenção dialética dos indivíduos e dos grupos com o seu meio e sobre
si mesmo, contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida” (Viché, 1989,
referido em Quintas e Castaño, 1998).
A animação também pode organizar-se em quatro categorias:
● Difusão cultural – incentivar o gosto pelas formas culturais, científicas e do
conhecimento;
● Atividades artísticas não profissionais – desenvolver os talentos e as capacidades
artísticas e criativas das pessoas através da sua prática;
● Atividades lúdicas – a animação por divertimento, lazer, desporto ou convívio;
● Atividades sociais – promover a participação das pessoas nos movimentos cívicos,
sociais, políticos ou económicos.
Com a definição das quatro categorias importa salientar que elas se complementam e
o Animador trabalha com as quatro e no que se diz respeito à Animação de Idosos
segundo o autor Luís Jacob “É a maneira de atuar em todos os campos do
desenvolvimento da qualidade de vida dos mais velhos, sendo um estímulo
permanente da vida mental, física e afetiva da pessoa idosa, assim como da sua
interação com a comunidade.” (Luís Jacob, 2006)
Esta definição de Animação de idosos, segundo os objetivos do módulo, desenvolver
atividades de animação/ocupação de tempos de lazer, leva o animador a comprovar
que “A educação para o lazer entre os idosos tem por objetivo facilitar o
desenvolvimento de um estilo de vida que aumente a sua qualidade de vida.”
(Tabourne, 1992, 47 in Pinto e Osório, 2007, 283) e que “a importância da animação
social das pessoas mais velhas é facilitar a sua inserção na sociedade, a sua
participação na vida social e, sobretudo, permitir-lhes desempenhar um papel,
inclusive, reativar papéis sociais.”(Hervey, 2001, 11)
5 Formador: Carlos Quintino
OBJETIVOS DA ANIMAÇÃO DO IDOSO
→ Promover a inovação e novas descobertas;
→ Valorizar a formação ao longo da vida;
→ Proporcionar uma vida mais harmoniosa, atrativa e dinâmica com a participação e
envolvimento do idoso;
→Incrementar a ocupação adequada do tempo livre para evitar que o tempo de ócio
seja alienante, passivo e despersonalizador;
→ Rentabilizar os serviços e recursos comunitários para melhorar a qualidade de vida
do idoso;
→ Valorizar as capacidades, competências, saberes e cultura do idoso, aumentando a
sua autoconfiança e autoestima;
→ …..
Estes são alguns dos objetivos gerais para que se elabore um bom plano de animação e
assim conseguir atingir os meios que são propostos.
A Animação de Idosos realizada num contexto de lar ou centro de dia estabelece um
compromisso com o utente que visa:
→ Solicitar a sua participação e ao torná-los mais ativos e interventivos, fazer com que
se sintam mais úteis e pessoas de pleno direito;
→ Incentivá-los a empreender certas atividades que contribuem para o seu
desenvolvimento, dando-lhe o sentimento de pertencer a uma sociedade, para cuja
evolução podem continuar a contribuir;
Cabe ao Animador:
→ Conhecer os idosos: as suas características pessoais, valores, princípios, cultura,
capacidades, dificuldades, gostos pessoais, etc.;
→ Conhecer a instituição: horários, funcionamento; espaços disponíveis, recursos
materiais, financeiros e humanos, prioridades e objetivos da direção;
→ Conhecer a comunidade local: a sua cultura, modos de vida, outras instituições,
equipamentos e organizações sociais e culturais.
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Animador Sociocultural
É todo aquele que, sendo possuidor de uma formação adequada, é capaz de elaborar e
executar um plano de intervenção, numa comunidade, instituição ou organismo,
utilizando técnicas culturais, sociais, educativas, desportivas, recreativas e lúdicas.
(in “Estatuto do Animador Sociocultural”)
Existem três documentos que conferem à profissão de Animador Sociocultural o
reconhecimento e profissionalização tão esperados:
1 – PERFIL PROFISSIONAL DO ANIMADOR SOCIOCULTURAL (anexo 1)
2 – ESTATUTO DO ANIMADOR SOCIOCULTURAL (anexo 2)
3 – CÓDIGO DEONTOLÓGICO DO ANIMADOR SOCIOCULTURAL (anexo 3)
Estes três documentos são de uma importância crucial pois vieram esclarecer que os
profissionais de Animação podem ser:
→ Animadores profissionais – formados e com diploma; através da sua formação
desempenham a função a tempo inteiro de animador.
→ Animadores eventuais – não têm formação específica mas exercem a atividade a
meio tempo, partilhando a função da animação com outras pessoas.
→ Animadores voluntários – podem ser parentes, amigos, reformados; podem não ter
uma responsabilidade na execução das atividades, mas prestam uma ajuda preciosa.
→ Animadores de passagem – normalmente estagiários ou pessoal temporário, que
está durante pouco tempo na instituição.
O animador para ser um profissional competente, sobre o plano pedagógico, técnico e
na gestão de grupos, de modo a fazer progredir o seu grupo, tem de obedecer a três
condições:
1 – Tem de saber e conhecer as técnicas, as teorias, os instrumentos e as metodologias
da animação dos idosos. Tem de ter conhecimentos de Psicologia, Gerontologia,
Animação, Motricidade, Artes Plásticas, etc….
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2 – Tem de ter vontade de aprender, de agir, de animar, de não se acomodar, de não
ter medo da mudança, de ser ativo, de ser persistente e de não se deixar desanimar. O
Animador pode saber mas, se não quiser, não é competente.
3 – Tem de ter meios pois deve ter ao seu dispor os meios humanos, materiais e
financeiros adequados às suas funções, público-alvo (quantitativa e qualitativamente)
e objetivos.
Qualidades que um Animador deve ter:
- Organizado: ter simultaneamente atenção aos detalhes e capacidade de
planeamento.
- Favorável ao trabalho em equipa: discutir e exprimir as suas ideias, trocar,
debater e escutar.
- Atento ao grupo: escutar ativamente não apenas aquilo que se diz
verbalmente mas também aquilo que transparece nas atitudes e
comportamentos.
- Justo: ser imparcial, não favorecer, nem desfavorecer nenhum elemento.
- Compreensivo: promover a compreensão e a empatia, não fazendo juízos de
valor.
- Confiante: dentro dos membros do grupo, deve respeitar as necessidades e
preferências de cada um.
- Atento e disponível: no desenrolar das atividades, sem ser omnipresente.
- Responsável: levar o grupo a atingir os seus objetivos, com audácia e
perseverança.
- Bom observador: ver com clareza o que se passa ao nível da vida profunda do
grupo, e evitar a formação de subgrupos.
- Paciente e socorrista: ajudar os membros em dificuldade, distribuir conselhos,
encorajar o grupo.
- Mediador: não exigir mais do que aquilo que o grupo consegue fazer, mas
ajudando-o a progredir.
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- Devoto, interessado: estar centrado sobre as pessoas de um grupo, mas
também sobre as isoladas.
- Dinâmico e entusiasta: ter sentido de humor, criar um bom ambiente de
trabalho.
- Ter uma personalidade afirmativa: tomar decisões quando necessário, ter
autoridade sem ser autoritário.
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Com este esquema pretende-se mostrar que os cinco intervenientes fazem parte da
engrenagem que dá vida à Animação Social, neste caso, direcionada para o contexto
de lar e/ou centro de dia. Todos participam e todos contribuem para que os objetivos
propostos sejam atingidos. Todos têm as suas funções bem estipuladas mas o que
importa aqui referir são as Funções do Animador, pois é ele que tem um papel
preponderante para que o ator principal, o sénior, tenha uma melhor qualidade de
vida dentro da instituição:
1. Entusiasmo: motivar idosos;
2. Empatia: compreender os idosos, colocar-se no lugar deles;
3. Atitude construtiva: ser positivo, demonstrar seriedade, comentários positivos;
4. Ter espírito de adaptação;
5. Organizar o espaço;
6. Possuir uma grande variedade de atividades/jogos;
7. Planificar e preparar os jogos /atividades com antecedência;
8. Apresentar os jogos/atividades com clareza;
9. Observar e acompanhar os idosos durante os jogos/atividades.
TÉCNICAS DE ANIMAÇÃO
→ Recorta
→ Colar
→ Estampar (com batatas, rolhas de cortiça, esponjas...)
→ Impressão (de diferentes objetos)
→ Modelagem: barro, pasta de papel, madeira, moldar, plasticina, massas de cor...
→ Técnicas de pintura
→ Técnicas de desenho
→ Técnicas de colagem (diferentes materiais)
→ Expressão dramática; Teatro
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→ Expressão musical
→ Expressão psicomotora
→ Expressão plástica, construções
→ Jogos pedagógicos
→ Dança
→ Histórias e contos populares
→ Poemas, rimas, anedotas
→ Visitas à comunidade, passeios, visitas de estudo
→ Ciência divertida
→ Culinária
→ Jogos tradicionais
→ Jardinagem
→ Tarefas agrícolas
→ Atividades específicas: costura, bordados, renda e tapeçaria, carpintaria
→ Conversar
→ Leitura de livros
→ Leitura e comentário de jornais e revistas
→ Pequena ajuda nas tarefas da instituição
→ Visionamento de filmes
→ Fotografia
→ Informática
→ Intercâmbio intergeracional
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EXECUÇÃO DAS DIFERENTES TÉCNICAS
→ Trabalhar os hábitos de higiene e limpeza
→ Utilizar diferentes materiais e técnicas
→ Estimular a atividade cognitiva através da observação direta, manipulação e
experimentação
→ Reforçar a autonomia
→ Boa planificação da sessão, atividades e material a utilizar
→ Motivar, explicar o que vão fazer e porquê
→ Realizar as atividades no mesmo horário, no mesmo dia, não alterando muito as
rotinas
→ Despertar a curiosidade e vontade
→ Criar um ambiente sereno, descontraído e aberto às experiências estéticas
→ Ter em conta que os idosos se cansam facilmente das atividades
→ Dar importância aos interesses, motivação e estado de espírito dos idosos. Não
forçar.
Planificação
→ É usar procedimentos para introduzir organização e racionalidade à ação, com vista
a alcançar determinadas metas e objetivos
Elementos da Planificação
→ Conteúdo da planificação: O Quê…?
→ Objetivos: Para Quê…?
→ Local: Onde…?
→ Metodologia: Como…?
→ Atividades e Tarefas: o que se pretende desenvolver
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→ Calendarização, Cronograma: dias, horários, duração da atividade
→ Destinatários: sala, idades, número de participantes
→ Recursos Humanos: quem promove e participa na atividade
→ Recursos Humanos, Materiais e Financeiros
→ Avaliação
Plano de Desenvolvimento Individual (PDI)
O que é?
É um instrumento que visa os serviços prestados ao cliente, que promovam a sua
autonomia e qualidade de vida, respeitando o projeto de vida, hábitos, gostos,
confidencialidade e privacidade da pessoa.
Elaboração do PDI
Deve ser adequada às necessidades, hábitos, interesses e expectativas de cada cliente,
na medida em que este é um ser único e individual.
Objetivos
Visa conhecer o utente e definir áreas de intervenção a desenvolver de acordo com as
suas necessidades e vivências.
Plano de atividades socioculturais (PAS)
O que é?
É um instrumento que visa a definição e planificação das atividades socioculturais,
tendo em conta as necessidades, hábitos interesses e expectativas do utente.
Regras / Princípios
→ Respeitar as diferenças religiosas, étnicas e culturais
→ Promover a autonomia e qualidade de vida
→ Respeitar o cliente quanto à sua individualidade, capacidades, potencialidades,
hábitos, interesses e expectativas
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→ Promover a participação ativa dos idosos e/ou familiares nas atividades
→ Promover a comunicação, convivência e ocupação do tempo dos clientes
Bases de Apoio
→ PAS anterior
→ Objetivos operacionais da área/sector
→ Necessidades, interesses e potencialidades dos utentes
→ Planos de Desenvolvimento Individual
→ Recursos disponíveis na comunidade, próxima e alargada
→ Recursos disponibilizados pelos parceiros, formais e informais
Estrutura de um projeto de Animação Sociocultural
→ Denominação
→ Natureza do projeto
→ Beneficiários do projeto
→ Objetivos (gerais e específicos)
→ Descrição
→ Fundamentação teórica
→ Finalidade
→ Metas
→ Localização física e espacial
→ Descrição das atividades e tarefas a realizar
→ Métodos e técnicas a utilizar
→ Determinação dos prazos; Calendarização das atividades
→ Determinação dos recursos (humanos, materiais, técnicos e financeiros)
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→ Custos do projeto (elaboração e execução)
→ Coordenação do projeto
→ Indicadores de avaliação
→ Fatores externos; Condicionantes para o sucesso
→ Impacto do projeto
Atividades de Animação
→ Sociais
→ Culturais
→ Animação (lúdico-recreativo)
→ Espiritual/religioso
→ Quotidianas
→ Desportivas
→ Intelectual/formativo
→ Social – participar em passeios coletivos, festas ou em atividades desenvolvidas por
outras instituições, receber ou fazer visitas, fazer voluntariado dentro e fora da
instituição;
→ Cultural – ir ao cinema, ao teatro, a concertos, museus, exposições;
→ Animação (Lúdico-recreativo) – Jogar às damas, cartas ou outras, participar em
coros fazer objetos em cerâmica, crochet;
→ Espiritual e/ou religioso – ir à missa, rezar, Reiky, Tai Chi;
→ Quotidiano – ir às compras, ir ao cabeleireiro, realizar algumas tarefas domésticas,
ver TV, ouvir rádio, música, cuidar de um animal doméstico, cuidar de plantas, etc….
→ Desportivo – fazer ginástica de manutenção, natação, hidroginástica, Yoga;
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→ Intelectual / formativo – participar em aulas nas universidades e academias
seniores ou outras, conferências, palestras, seminários, música, canto coral e leitura.
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Conclusão
Este manual não pretende ser exaustivo e tendo em conta o referencial de formação e
sua carga horária espera-se que o formando ao concluir esta UFCD possa não só
desenvolver atividades de animação/ocupação de tempos de lazer como também vir a
trabalhar em lares e centros de dia e ser detentor de um conhecimento básico
necessário para que consiga abranger os conteúdos propostos: criar momentos de
lazer, estimular competências; trabalhar a ociosidade, ter um contacto com o
ambiente externo à instituição e participar nas atividades planeadas pela instituição.
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Bibliografia:
Jacob, Luís, Animação de Idosos, Lisboa, Ambar, 2007
Quintas, Sindo Froufe, Castaño, Mª Angeles Sanchez, Construir la Animación
Sociocultural, Salamanca, Amarú Ediciones, 1998
Pérez, Vitor Juan Ventosa, Fuentes de la animación sociocultural en Europa, Madrid,
Editorial Popular S.A., 1993
Ander-Egg, Ezequiel, Idañez, María José Aguilar, Como elaborar um projeto, Argentina,
Editorial Lumen, 1997
Trilla, Jaume, Animação Sociocultural, Lisboa, Instituo Piaget, 2001
Lopes, Marcelino de Sousa, Animação Sociocultural em Portugal, Lisboa, APDASC, 2006
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