manifesto final
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Neste ano, mais uma vez a população brasileira vai ser
chamada escolher seus dirigentes, reafirmando novamente a
democracia eleitoral. No entanto, este é o momento de
transitarmos desde uma democracia eleitoral a um verdadeiro
sistema democrático, o que só existirá quando forem apresentadas
opções concretas de radicalização do processo de
desenvolvimento nacional. Isso significa um padrão de
desenvolvimento que coloque como objetivos centrais o
investimento em um crescimento autônomo e soberano, voltado
para a geração de emprego, a distribuição de renda e a garantia
dos direitos de cidadania.
A estabilidade da economia nacional tem sido a principal
preocupação dos últimos governos, com resultados positivos em
relação ao controle inflacionário e ao manejo da dívida. Estes foram
fruto tanto de políticas públicas que abriram novos mercados para
exportações, reduziram a dívida externa atrelada à variação
cambial e alongaram os prazos de seu pagamento, quanto do
dinamismo do setor produtivo nacional, que conseguiu se reciclar
e tornar-se competitivo no mercado internacional.
No entanto, os governos tornaram-se prisioneiros dos
instrumentos de sua política monetária, o que acarretou a
consolidação de um padrão de capitalismo financeiro que, apesar
de dinâmico e inserido na economia globalizada e no comércio
internacional, produz e reproduz a concentração da renda. Isso se
dá, principalmente, pela manutenção de taxas elevadíssimas de
juros, drenando as riquezas produzidas pela população para o
Estado, por meio da elevação incessante da carga tributária, e pelo
Estado para o setor financeiro nacional e internacional, com o
pagamento de juros.
Esse padrão é o resultado da política neoliberal implantada
desde a década de 90, com conseqüências irreversíveis e/ou
altamente deletérias para a sociedade, face à efetuada
transferência de responsabilidades governamentais e do
patrimônio público para mãos privadas, ao desmantelamento da
inteligência e das carreiras do Estado, às restrições orçamentárias
para as políticas sociais universais e à ameaça permanente de
desvinculação das receitas constitucionais a elas destinadas.
A população brasileira está cada vez mais consciente da
distância entre as propostas eleitorais e as realizações dos
governantes, e exige que a democracia seja mais do que um jogo
político: é preciso que a democracia se traduza em medidas
concretas, voltadas para o pleno emprego, a redução das
desigualdades salariais e regionais, além de exigir a garantia dos
direitos sociais por meio da cobertura universal, humanizada e de
qualidade. Mais do que nunca, a sociedade sabe que isso só
ocorrerá se aprofundarmos os mecanismos de participação,
controle e transparência na gestão pública, fortalecendo os
instrumentos de democracia direta, como a iniciativa popular
legislativa, os orçamentos participativos, os conselhos gestores e
os fóruns deliberativos. No entanto, é preciso que esses
mecanismos deixem de ser restritos às áreas sociais e avancem
para aumentar a transparência e a participação social na definição
e implementação das políticas macroeconômicas, pois sabemos
que estes são fatores condicionantes do êxito na democratização
da política de saúde. Setorialmente, também temos que radicalizar
para fazer valer o texto constitucional. Mais do que isso, sabe-se
que é possível, com as condições técnicas, políticas e econômicas
que temos hoje no país, dar o salto que falta para termos um SUS
pra valer: UNIVERSAL, HUMANIZADO, DE QUALIDADE.
FÓRUM DA REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRAABRASCO – CEBES – ABRES – REDE UNIDA – AMPASA
O SUS pra valer:universal, humanizado
e de qualidade*
* Este documento foi preparado pelo Fórum e está em discussão com a Frente Parlamentar da Saúde, com outras entidades dos setores de saúde e de educação e com a sociedade. Seuobjetivo é contribuir para as plataformas eleitorais nas eleições gerais de outubro. Mensagens poderão ser enviadas para os endereços abaixo.”
www.abrasco.org.br | cebes@ensp.fiocruz.br | www.abres.fea.usp.br | www.redeunida.org.br | www.ampasa.org.br
A REFORMA SANITÁRIA E O SUSO Sistema Único de Saúde (SUS) é fruto de um longo processo
deconstrução política e institucional nomeado Reforma Sanitária,
voltado para a transformação das condições de saúde e de atenção
à saúde da população brasileira, gestado a partir da década de 70,
quando vivíamos sob a ditadura militar.
Mais do que um arranjo institucional, o processo da Reforma
Sanitária brasileira é um projeto civilizatório, ou seja, pretende
produzir mudanças dos valores prevalentes na sociedade brasileira,
tendo a saúde como eixo de transformação e a solidariedade como
valor estruturante. Da mesma forma, o projeto do SUS é uma
política de construção da democracia que visa à ampliação da
esfera pública, à inclusão social e à redução das desigualdade. Se a
Reforma Sanitária é a expressão do nosso desejo de transformação
social, sua materialização institucional no SUS é a resultante do
enfrentamento desta proposta com as contingências que se
apresentaram nessa trajetória. Em outras palavras, expressa a
correlação de forças existente em uma conjuntura particular.
Originalmente uma idéia e um ideário de um grupo de
intelectuais, a proposta se desenvolveu na transição democrática,
congregando entidades representativas dos gestores, profissionais
da saúde e movimentos sociais que, articulados na Plenária
Nacional de Entidades de Saúde, conseguiu influenciar o processo
constituinte e plasmar na Constituição Brasileira de 1988 (CF/88) o
texto aprovado na 8a Conferência Nacional de Saúde que garante
que “Saúde é um Direito de Todos e um Dever do Estado”. Em
outras palavras, a saúde passou a fazer parte dos direitos sociais da
cidadania.
A partir de então, iniciou-se uma nova fase do processo da
Reforma Sanitária em que, ao mesmo tempo, era necessário
prosseguir elaborando o referencial teórico e estratégico e começar
a construir os métodos e instrumentos de gestão do Sistema Único
de Saúde (SUS). CEBES, ABRASCO, CONASS, o CONASEMS, a Rede
UNIDA, ABRES, AMPASA, parlamentares, entidades representadas
nos Conselhos de Saúde, a Frente Parlamentar da Saúde e outros
têm liderado o debate e concentrado esforços para a concretização
do projeto da Reforma Sanitária.
Ao incluir a saúde como um direito constitucional da cidadania
no capítulo da Seguridade Social, avançamos na concretização da
democracia, fortalecendo a responsabilidade do Parlamento e da
Justiça, cada dia mais presentes na garantia dos direitos sociais.
Mesmo coincidindo com o governo Collor e o início da implantação
das propostas neoliberais de ajuste do Estado, a construção do SUS
foi realizada na contramão das políticas econômicas, configurando,
juntamente com a atuação do Ministério Público, alguns dos mais
expressivos resultados dos preceitos democráticos inscritos na
CF/88.
No âmbito da reforma do Estado, o SUS desenvolveu um
projeto de reforma democrática que se caracterizou pela
introdução de um modelo de pacto federativo baseado na
descentralização do poder para os níveis subnacionais e para a
participação e controle social. Como conseqüência, ocorreu uma
ousada municipalização do setor Saúde. Foram criados Conselhos
de Saúde, com caráter deliberativo, em todos os municípios e
estados nos quais os representantes dos usuários ocupam 50% dos
assentos. Foram instituídos os Fundos de Saúde, substituindo os
convênios que regiam as relações entre as três esferas
governamentais. A criação das Comissões Bipartites (CIB), nos
estados, e a Tripartite (CIT), no nível nacional, estabeleceu o espaço
para o desenvolvimento de relações cooperativas entre os entes
governamentais.
O modelo de pacto federativo do SUS mostrou-se altamente
adequado à realidade de uma sociedade marcada pelas
desigualdades sociais e regionais. Em um país com tais
características só será democrático o poder exercido de forma
pactuada e socialmente controlada que considere as desigualdades
entre grupos populacionais e regiões como o principal problema a
ser superado. Por isso, esse modelo do SUS está sendo expandido e
reinterpretado para a área de Assistência Social (SUAS) e também
para a área de Segurança (SUSP).
O êxito da descentralização pode ser medido pelo seu impacto
no aumento da base técnica da gestão pública em saúde nos níveis
local, regional e central. Também, a rede de atenção básica teve
grande expansão, a partir de 1998, ampliando enormemente o
acesso das populações antes excluídas. O sistema universal e
descentralizado permite que o país realize um dos maiores
programas públicos de imunizações do planeta e um programa de
controle da AIDS mundialmente reconhecido. Esses resultados
constituem os esforços de milhares de trabalhadores da saúde, de
todos os níveis e especialidades de formação, para concretizar o
direito à saúde no cotidiano da população brasileira.
Entretanto, tendo sido implementado em condições adversas,
da década de 90 até hoje o SUS enfrentou obstáculos que
marcaram sua configuração como Sistema Nacional de Saúde, entre
os quais os mais graves seriam: a não implementação do preceito
constitucional do Sistema de Seguridade Social com seus
respectivos mecanismos de financiamento e gestão; o drástico
subfinanciamento desde a sua criação; a profunda precarização das
relações, remunerações e condições de trabalho dos trabalhadores
da saúde; a insignificância de mudanças estruturantes nos modelos
de atenção à saúde e de gestão do sistema; o desenvolvimento
intensivo do marketing de valores de mercado em detrimento das
soluções que ataquem os determinantes estruturais das
necessidades de saúde.
O SUS PRA VALER: UNIVERSAL, HUMANIZADO E DE QUALIDADE
Por isso, apesar dos referidos e reconhecidos avanços na
produção, produtividade e inclusão, muito pouco se avançou na
efetivação da integralidade, da igualdade, e só recentemente
retomamos a questão da regionalização. Sabemos que não será
possível seguir expandindo a cobertura sem alterar os modelos de
atenção e de gestão em saúde. Tampouco a sociedade civil e os
Conselhos de Saúde têm conseguido participar com efetividade e
assim influir na formulação de políticas e estratégias do SUS.
Estão inalteradas, ou crescentes, as doenças do perfil
epidemiológico contemporâneo, previsíveis mas não prevenidas, as
doenças agravadas pela ausência de intervenções oportunas e
precoces, as mortes evitáveis e os altíssimos percentuais de exames
diagnósticos, tratamentos medicamentosos e encaminhamentos
desnecessários e de baixa qualidade, apesar dos conhecimentos e
técnicas já disponíveis.
Por outro lado, entre os problemas enfrentados encontram-se
aspectos relacionados com o funcionamento do mercado em saúde
no qual o Estado tem um papel a exercer considerando que a saúde
é um bem público. Ressaltem-se as importantes dificuldades
vigentes na relação com o setor privado suplementar, seja na
regulação das condições de trabalho profissional, seja na produção
de serviços e na garantia das coberturas contratadas. É também
notória a luta por democratizar o acesso a medicamentos
produzidos por empresas multinacionais. Ambos os problemas
deverão ser enfrentados de forma mais vigorosa, transparente e
contínua.
Ainda está por ser reconhecido o impacto do setor Saúde – que
movimenta parcela considerável do PIB na geração de empregos,
produção científica e tecnológica, aumento da produtividade do
trabalho, redução do absenteísmo – na economia brasileira. Os
governos terão que deixar de falar da saúde como gasto e passar a
encarar o investimento que estão fazendo, além da melhoria da
qualidade de vida da população.
No entanto, não se pode esperar que o setor Saúde seja capaz
de responder à demanda crescente de atenção provocada por uma
sociedade desigual, injusta e cada dia mais violenta, cuja
sociabilidade se encontra rompida e na qual o outro é visto como
uma ameaça. As conseqüências são a perda da coesão social,
expressa não apenas em milhares de mortes e internações, mas
também no sofrimento mental, na insegurança e no desalento, que
seriam evitáveis onde predominassem uma cultura de paz e a
justiça social.
O SUS universal, cujo melhor exemplo é o programa de AIDS –
cartão de visitas de diversos governos –, convive com avaliações
negativas sobre o acesso e as condições indignas do atendimento
efetuado pela rede de serviços de saúde. A desfiguração da
Seguridade Social, o adiamento sine die de direitos básicos de
cidadania e o deslocamento das políticas sociais em direção a
programas de transferência de rendas, cujos efeitos redistributivos
não incidem especificamente sobre as condições que produzem os
principais problemas de saúde dos brasileiros, retardam a melhoria
dos padrões de saúde e qualidade de vida. A organização do SUS
deve pautar-se pela aproximação dos indicadores de saúde, pelo
menos, àqueles verificados na economia. É imprescindível ao
desenvolvimento alcançar padrões de saúde compatíveis com o
progresso científico-tecnológico, cultural e político.
Os impasses antepostos ao SUS universal, humanizado e de
qualidade exigem a reposição do usuário-cidadão como o centro
das formulações e operacionalização das políticas e ações de saúde.
É essa a premissa que orienta a reinvenção de modelos e
alternativas de gestão para superar a crise dos sistemas públicos. A
subordinação dos problemas e necessidades de saúde da
população a interesses econômicos das indústrias de
equipamentos e insumos, de prestadores de serviços, de
burocracias governamentais ou corporativos, por vezes opostos aos
da garantia da atenção oportuna respeitosa, reflete-se no
cotidiano da assistência à saúde. Os brasileiros em busca de
assistência e cuidados à saúde na rede do SUS são submetidos a
filas que se formam desde a madrugada para pegar senhas, passam
por triagens, aguardam horas em locais de espera, freqüentemente
desconfortáveis, e necessitam, quase sempre, percorrer mais de um
estabelecimento nos casos exigentes de realização de exames e
obtenção de medicamentos. A lógica que deve orientar a
organização dos serviços de atenção e atuação dos profissionais da
saúde é a de tornar mais fácil a vida do cidadão-usuário, no usufruto
de seus direitos. Trata-se de organizar o SUS em torno dos preceitos
da promoção da saúde, do acolhimento, dos direitos à decisão
sobre alternativas terapêuticas, dos compromissos de amenizar o
desconforto e o sofrimento dos que necessitam assistência e
cuidados.
ESTRATÉGIAS PROGRAMÁTICAS
Romper o insulamento do setor Saúde
É sabido que melhores níveis de saúde não serão alcançados se
as transformações não ultrapassarem o setor Saúde, envolvendo
outras áreas igualmente comprometidas com as necessidades
sociais e com os direitos de cidadania (Previdência Social,
Assistência Social, Educação, Segurança Alimentar, Habitação,
Urbanização, Saneamento e Meio Ambiente, Segurança Pública,
Emprego e Renda).
Para tanto, é necessário que os três níveis de governo deixem
de operar em termos exclusivamente setoriais e passem a priorizar
o desenvolvimento social de forma integrada e integral. O governo
O SUS PRA VALER: UNIVERSAL, HUMANIZADO E DE QUALIDADE
nacional, o Congresso e a Justiça têm que se responsabilizar por
implementar os mecanismos que garantam a existência real da
Seguridade Social, com a implantação do orçamento deste setor, a
convocação da Conferência Nacional da Seguridade e a criação de
fóruns de deliberação conjunta da Previdência, Saúde e Assistência
Social.
Os governos locais e regionais precisam romper modelos
ultrapassados de gestão e passar a atuar de forma transversal,
criando instâncias intersetoriais de políticas, implantando a gestão
em redes e garantindo maior eficácia e efetividade na redistribuição
da renda e no acesso aos benefícios sociais.
É preciso construir canais de interação com a mídia que nos
permitam divulgar nossa concepção ampliada de saúde. Um
esforço nesse sentido deve ser realizado pelos gestores,
parlamentares, acadêmicos e militantes da Reforma Sanitária para
retomar espaços de debate, divulgação e difusão de concepções
sobre saúde e criar novas possibilidades de comunicação.
No âmbito internacional devem ser intensificados os esforços
para ampliar o intercâmbio de experiências e o debate em torno da
defesa dos sistemas universais. A divulgação e o debate sobre o
SUS, considerado um modelo avançado de sistema de saúde na
América Latina, nos fóruns internacionais contribui para sua
consolidação e para o protagonismo da luta por reformas do Estado
democráticas e inclusivas.
Estabelecer responsabilidades sanitárias e direitos dos cidadãos usuários
As necessidades que a população apresenta de ações e serviços
de saúde, preventivos e curativos, de acordo com a realidade de
cada região e microrregião, com base nas características
demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas da população,
devem presidir o planejamento estratégico de cada município e a
programação local das atividades. Sua divulgação deverá ser feita
para a população usuária e suas entidades representativas de
maneira a contribuir para a formação da consciência das
necessidades e dos direitos, e a permitir o controle popular e
representativo.
A responsabilidade sanitária de cada ente governamental, de
cada serviço e dos trabalhadores da saúde deve ser normalizada e
regulamentada, assim como os direitos e deveres do cidadão
usuário do SUS. A qualidade dos serviços prestados deve ser
cobrada de cada um dos profissionais e dirigentes do setor. Mesmo
sabendo que temos condições muito limitadas em termos
financeiros e operacionais, os gestores e profissionais deverão ser
responsabilizados por prestar o melhor cuidado possível dentro
dessas condições. Isso só se tornará realidade quando metas forem
estabelecidas, parâmetros definidos e se a população conhecer e
compartilhar estas metas, assim como puder dispor de mecanismos
efetivos de cobrança.
A responsabilidade sanitária deve ser exercida plenamente nos
locais de trabalho, garantindo condições de produção que
preservem a saúde do trabalhador e evitem os acidentes de
trabalho.
Intensificar a participação e controle social
Os Conselhos e as Conferências municipais, estaduais e
nacional de Saúde são as modalidades de participação fortemente
disseminadas no país, fazendo parte da dinâmica política da área da
saúde. Entretanto, é necessário revitalizar tais fóruns no sentido de
viabilizar relações sociais mais igualitárias entre os atores sociais
que deles participam. É sabido que principalmente gestores, mas,
em menor medida, também prestadores de serviços e profissionais
da saúde dispõem de maiores recursos de poder do que usuários e
controlam a agenda de debates desses fóruns. É necessário ampliar
a capacitação de conselheiros e democratizar a formulação da
agenda da saúde. Esforços devem ser realizados no sentido de
aumentar a representatividade dos integrantes dos Conselhos,
incentivando uma relação mais constante e transparente com seus
representados. Também, deverá ser avaliada a efetividade do papel
deliberativo dos Conselhos na formulação e acompanhamento das
políticas de saúde para superar os obstáculos antepostos de
diferentes naturezas.
Por outro lado, um conjunto de mecanismos inovadores de
participação e de controle social não se generalizou no sistema. É o
caso dos Conselhos locais de unidades ambulatoriais e de unidades
hospitalares. Apenas as unidades próprias do SUS, nas três esferas
de governo, têm apresentado experiências nesse sentido, sendo
que na área hospitalar elas são dramaticamente escassas. Outros
mecanismos de participação individual, tais como ouvidorias,
disque saúde, pesquisas sistemáticas de satisfação de usuários,
carecem também de generalização no contexto do sistema.
Unidades de serviços privadas que são financiadas com
recursos públicos não dispõem de mecanismos de participação ou
de controle social, além dos exercidos pelo Ministério da Saúde ou
Ministério Público. É necessário definir quais seriam os mecanismos
básicos indispensáveis para a democratização da gestão do sistema
e constituir instrumentos legais e administrativos que generalizem
o funcionamento desses mecanismos em unidades de saúde
próprias e financiadas pelo SUS, levando em conta que a prestação
de serviços de saúde, especialmente quando financiados por
recursos públicos, é uma concessão que o Poder Executivo faz para
o exercício de um dever de Estado.
Gestores do SUS, Ministério Público e Poder Legislativo
O SUS PRA VALER: UNIVERSAL, HUMANIZADO E DE QUALIDADE
precisam criar espaços para viabilizar ações cooperativas e
coordenadas. Compete ao Ministério da Saúde induzir a
coordenação horizontal dessas instâncias estatais.
Aumentar a cobertura e a resolutividade e mudar radicalmente o
modelo de atenção à saúde
A sustentabilidade político-econômica do SUS e sua
legitimidade dependem da promoção de mudança radical do
modelo de atenção, pois a qualidade e a resolutividade das ações e
serviços de saúde possibilitarão ao SUS tornar-se patrimônio
nacional e ser o local preferencial de atendimento para todos os
segmentos sociais.
Uma mudança radical do modelo de atenção à saúde envolve
não apenas priorizar a atenção primária e retirar do centro do
modelo o papel do hospital e das especialidades, mas,
principalmente, concentrar-se no usuário-cidadão como um ser
humano integral, abandonando a fragmentação do cuidado que
transforma as pessoas em órgãos, sistemas ou pedaços de gente
doentes. Aspráticas interativas, mais holísticas, devem estar
disponíveis como alternativas de cuidado à saúde. A humanização
do cuidado, que envolve desde o respeito na recepção e no
atendimento até a limpeza e conforto dos ambientes dos serviços
de saúde, deve orientar todas as intervenções.
A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde deve ser
amplamente divulgada e sua implantação acompanhada pelos
órgãos gestores e de controle social, visando à sua avaliação e a
eventuais aprimoramentos. E os servidores públicos devem estar
comprometidos com o resultado de suas ações no cuidado das
pessoas.
Para ampliar o acesso e garantir a cobertura de ações e
cuidados à saúde, é necessário expandir e organizar redes de
serviços de saúde articuladas. As unidades básicas, acolhedoras, de
qualidade e resolutivas nas suas ações integrais, preventivas e
curativas, baseadas nas necessidades e demandas da população,
devem articular-se aos demais níveis do sistema local de saúde com
garantias de referência e contra-referência. Nesse sentido, é
imprescindível articular atividades de saúde coletiva com ações de
assistência clínica nos serviços de atenção básica, estabelecer esses
serviços como porta de entrada dos sistemas locais de saúde,
equipar e expandir os serviços de urgência e emergência e de
referência, implantar centrais de marcação de consultas, exames e
internação e o Cartão SUS como instrumentos de garantia de
acesso e atendimento.
A formação de microrregiões ou consórcios sob
responsabilidade dos municípios e dos estados deve pautar-se pela
coordenação, programação e oferta de recursos para promover,
prevenir e tratar problemas de saúde. A ampliação e a garantia de
investimentos na estruturação de redes articuladas e
territorializadas são essenciais para conferir mais qualidade e
resolutividade aos serviços prestados.
A execução de ações de assistência terapêutica integral,
inclusive farmacêutica, deve se traduzir na garantia do acesso
universal da população àqueles medicamentos considerados
essenciais, bem como no controle da segurança, eficácia e
qualidade dos produtos e na promoção do seu uso racional. A
política nacional de medicamentos não se restringe à aquisição e à
distribuição; envolve todas as atividades relacionadas à garantia do
acesso da população àqueles essenciais, incluindo investimentos e
incentivos em desenvolvimento científico e tecnológico e
produção.
Formar e valorizar os trabalhadores da saúde
Deve-se enfrentar o desafio de superar as barreiras legais que
dificultam a combinação das imprescindíveis agilidade e eficiência
da gestão com a vinculação regular dos trabalhadores ao SUS, de
modo a evitar não apenas a burocratização mas também a
precarização, privatização e terceirização das relações de trabalho
do SUS. Trata-se de enfrentar esses problemas inadiáveis com a
formulação e implementação de políticas articuladas entre os
setores da saúde e educação, para assegurar que a oferta
(distribuição e abertura de cursos e programas e o respectivo
número de vagas) de formação técnica, de graduação e de
especialização na área da saúde corresponda às necessidades do
SUS e da população, superando os desequilíbrios regionais e intra-
regionais e as determinações do mercado. A par das políticas de
corte nacional, é preciso responsabilizar as três esferas, de acordo
com suas competências e possibilidades, pela efetivação de
políticas que favoreçam a interiorização do trabalho em saúde com
qualidade, bem como assegurar a autonomia dos municípios, DF e
estados para criar mecanismos de atração e fixação de equipes de
saúde em todos os níveis do sistema.
Medidas voltadas para a formação, a educação permanente e a
fixação das equipes de profissionais da saúde com base nas
necessidades e direitos da população têm papel crucial na
implementação do conjunto dos princípios e diretrizes do SUS e do
novo modelo de atenção à saúde e de gestão.
A redução dos cargos de confiança para a gestão em saúde, nas
três esferas de governo, e sua substituição por quadros técnicos e
administrativos de carreira são necessárias à estabilização e
qualificação da gestão do SUS. Por outro lado, trata-se de um meio
de evitar que a gestão da saúde seja usada como moeda para
O SUS PRA VALER: UNIVERSAL, HUMANIZADO E DE QUALIDADE
garantia de governabilidade. O provimento de cargos de direção
deve obedecer a critérios objetivos e compatíveis com os
requerimentos de capacitação e habilitação específicos.
Esse conjunto de proposições concentra-se em torno da
adoção de políticas públicas de gestão do trabalho (municipais,
estaduais e federais) que considerem as diversidades regionais,
assegurem o caráter público do ingresso e estabeleçam carreiras no
SUS, que possibilitem a progressão associada não somente ao
tempo de trabalho e qualificação, mas também aos resultados do
trabalho e ao compromisso dos profissionais e das equipes com a
melhoria da saúde da população.
Aprofundar o modelo de gestão
No início deste ano os gestores dos três níveis de governo
pactuaram em defesa da vida, do SUS e da gestão. Por meio desse
instrumento, comprometem-se a fazer avançar a Reforma Sanitária
desenvolvendo ações articuladas, repolitizando a saúde e
promovendo a cidadania. Retomou-se a ênfase na diretriz
constitucional da regionalização. Trata-se de reconhecer a
autonomia das Comissões Bipartites para pactuar as estratégias da
regionalização nos estados, com base nas diretrizes nacionais
acordadas na Comissão Tripartite; promover a criação de Comissões
Intergestores regionais e microrregionais; resgatar o importante
papel coordenador do ente estadual e estabelecer formas de co-
gestão entre os entes federados para promover a descentralização
solidária e cooperativa do sistema de saúde. É necessário cumprir
cabalmente esse acordo em prol da população brasileira.
A definição de prioridades e metas é um componente
imprescindível para o planejamento efetivo e a responsabilização
por seu cumprimento. Para aprofundar o modelo de gestão do SUS,
tanto para os serviços de administração direta quanto para os
contratados, é necessário estabelecer a coresponsabilização por
meio de contratos de gestão e de financiamento misto que
estabeleçam as metas sanitárias a serem cumpridas. Isso envolve,
necessariamente, realizar uma reforma administrativa que atenda
às especificidades dos princípios e das organizações do SUS e lhes
permita agilidade e eficiência de suas decisões, sob a égide da ética
e da responsabilidade pública.
Todas as unidades públicas de saúde, das mais simples às mais
complexas, deverão usufruir de autonomia gerencial, desenvolver
modalidades de gestão participativa, colegiada ou co-gestão, com
trabalhadores da saúde e outras representações da comunidade, e
definir metas quali-quantitativas em interação com os objetivos
municipais e regionais, por meio de contratos de metas ou de
gestão.
Aumentar a transparência e controle dos gastos
As decisões da política de alocação de recursos e os critérios
dos gastos devem ser transparentes e passíveis de controle pela
população, e visar ao acesso igualitário aos serviços de qualidade
em todos os níveis do sistema.
As compras realizadas pelo setor público deverão ser feitas de
forma a impedir a corrupção em todos as esferas e níveis
governamentais, utilizando os instrumentos tecnológicos
disponíveis para realizar pregões que possam ser acompanhados
pelo público. A definição de parâmetros técnicos e financeiros deve
permitir que a sociedade e autoridades públicas possam
acompanhar e monitorar os gastos governamentais.
Um trabalho mais afinado com a Procuradoria Geral da União e
com os Tribunais de Contas será necessário para criar mecanismos
que impeçam os tipos de corrupção já detectados na área da saúde.
Torna-se necessário criar uma instância que congregue gestores
públicos, Procuradoria, Tribunais, Ministério Público, Legislativo e
organizações da sociedade civil para desenvolver políticas e
instrumentos efetivos de combate a toda forma de corrupção,
prevaricação ou malversação dos recursos públicos em saúde.
Ampliar a capacidade de regulação do Estado
As diversas áreas do setor Saúde – e suas derivações para
setores desde a Educação até a mídia – integram o complexo
produtivo da saúde. Sob ta acepção resgata-se o significado
econômico e produtivo das ações e produtos ligados ao
atendimento em saúde, considerando a estreita relação entre dois
pólos: (1) um setor produtivo industrial de bens como vacinas e
soros, medicamentos e fármacos, sangue e hemoderivados,
reagentes e kits diagnósticos, equipamentos médicos e cirúrgicos;
(2) um outro, da produção de ações de saúde pelos agentes
públicos e privados (filantrópicos e lucrativos).
É inescapável admitir que o não reconhecimento da influência
dos fatores de mercado na saúde elimina um importante elemento
de análise e de formulação das políticas, especialmente na
definição de prioridades de incorporação de inovações (produtos e
processos) e na importância da influência dos agentes econômicos
sobre a oferta de serviços de saúde. Dado que a saúde é um bem de
relevância pública, as relações público-privado devem ser objeto
permanente de regulação estatal, no sentido da preservação dos
direitos dos usuários do SUS e dos consumidores de planos e
seguros de saúde. Além disso, o poder público deve atuar na
O SUS PRA VALER: UNIVERSAL, HUMANIZADO E DE QUALIDADE
regulação da reorientação das demandas dos planos e seguros para
os serviços especializados do SUS e na eliminação das
interferências das empresas privadas no sistema público.
A fragmentação e a segmentação vigentes no sistema nacional
de saúde exigem a explicitação do montante de recursos públicos
envolvidos com o financiamento de planos e seguros de saúde,
bem como dos interesses conflitantes derivados da acumulação de
postos gerenciais e administrativos por profissionais da saúde com
“dupla militância”.
Aprofundar a construção de convivência das instituições
públicas e privadas, em função das necessidades e direitos da
população usuária e sob a égide do princípio constitucional que
estabelece o caráter complementar dos serviços privados de saúde,
é uma tarefa inadiável. Os serviços privados que integram o SUS
devem pautar suas atividades como se públicos fossem.
Adicionalmente, é preciso induzir as empresas privadas prestadoras
de serviços, as que comercializam planos de saúde, bem como as
empresas empregadoras que ofertam planos de saúde para seus
empregados, a participaremdecisivamente dos esforços para a
construção de sistemas regionalizados, voltados para o
atendimento das necessidades e direitos da população.
A instituição de regras claras sobre o “trânsito privado-público
de pacientes” deve fortalecer a rede de serviços do SUS como a
“única porta de entrada” para a admissão nos serviços públicos,
quer para o atendimento de pacientes de empresas de planos e
seguros de saúde, quer para o acesso a medicamentos.
Para enfrentar a tendência à segmentação é preciso convocar a
entidades sindicais, empresariais e de profissionais da saúde para
empreender novos compromissos em torno da saúde. O
estabelecimento de tabelas de remuneração de procedimentos
que sejam compatíveis com os gastos dos profissionais e dos
serviços e assegurem a qualidade da assistência prestada é
essencial. A institucionalização do plano de saúde universal para os
servidores civis da esfera federal representaria a cristalização da
descrença do próprio governo na universalização da saúde. Os
recursos envolvidos e programados para financiar os planos de
saúde de funcionários públicos devem ser canalizados para
melhorar a qualidade de atenção à saúde nos serviços do SUS.
A adoção de critérios de ingresso nos serviços de saúde
vinculados ao SUS baseados nas condições clínicas e necessidades
de saúde, e não na capacidade de pagamento, e a exigência da
observância dos mesmos padrões assistenciais de casos com
diagnóstico similar para todos os brasileiros são essenciais ao
reordenamento das relações entre o público e o privado e à
garantia do acesso e da qualidade da assistência.
Superar a insegurança e o subfinanciamento
As políticas sociais encontram-se permanentemente
ameaçadas de terem seus recursos ainda mais reduzidos, gerando
uma situação de insegurança que impede a efetividade e eficácia
de seu planejamento e execução.
A forma mais corriqueira, embora muito prejudicial à gestão
social, é o permanente contingenciamento dos orçamentos
públicos para atender aos ditames do superávit primário
estabelecido pela área econômica, ou até mesmo superá-lo. Além
de prejudicial, essa prática corrói a própria democracia, ao
transformar o orçamento público em uma peça de ficção.
Outra maneira de subverter os ditames constitucionais sobre os
recursos a serem alocados na área social é a introdução constante
de outras despesas de programas governamentais considerados
prioritários dentro dos orçamentos para os quais há recursos
constitucionais definidos, como o da Saúde. Isso ocorre em função
da não regulamentação da E.C. nº 29.
Uma outra maneira de retirar recursos da área social que tem
sido reiteradamente usada e prorrogada é a DRU – Desvinculação
das Receitas da União, que, a pretexto de dar maior flexibilidade ao
governo central, retira 20% dos recursos constitucionalmente
destinados à área social. A DRU está em vigor até 2007 e temos que
exigir que o governo, desde agora, crie mecanismossubstitutivos
dessa fonte espúria. O momento das eleições é importante para
pactuarmos com os candidatos a eliminação e substituição da DRU.
Em diferentes momentos, setores governamentais ou elites
econômicas da sociedade civil têm se posicionado em relação à
necessidade de dar ainda maior flexibilidade orçamentária ao
governo, desvinculando totalmente as receitas constitucionais para
a área social. Apoiados por organismos internacionais, são, a cada
momento, lançados balões de ensaio nesse sentido. A alegação é
de que esses recursos são necessários para zerar o déficit nominal,
quando, então, sobrarão recursos para a área social. A sociedade
brasileira conhece essa lógica e sabe que não existe flexibilidade
para o pagamento de juros da dívida e que esses recursos
desviados das suas vinculações constitucionais jamais retornariam.
Por isso não permitiremos a desvinculação, e este compromisso
deverá ser assumido publicamente pelos candidatos
comprometidos com a democracia social.
Outra ameaça constante é relativa à redução ou eliminação de
benefícios sociais, vistos como causadores do alegado desequilíbrio
financeiro da Previdência Social. É preciso que este debate seja feito
de forma séria e não como sempre, sob a ameaça da espada do
déficit e crise. É preciso fazer um debate aberto e transparente: há
O SUS PRA VALER: UNIVERSAL, HUMANIZADO E DE QUALIDADE
dados que questionam o déficit, apontando a apropriação das
receitas sociais para outros fins e a evasão de contribuições. O
debate sobre os benefícios previdenciários não pode ser restrito à
dimensão contábil, prescindindo do princípio maior que subordina
a Previdência aos objetivos da ordem social de garantia do bem-
estar e da justiça social. Ao invés de desvincular os benefícios
previdenciários do salário mínimo, é preciso desvincular os
benefícios sociais da capacidade contributiva de cada indivíduo. Só
assim, com a socialização dos custos da proteção social, estaremos
permitindo que se realize uma redistribuição de renda via políticas
sociais que garantem direitos universais. Para tanto, é necessário
rever o enfoque desta discussão, passando a buscar fontes que
financiem a inclusão previdenciária de milhões de trabalhadoras e
trabalhadores cujo trabalho ainda não tem amparo legal.
Em relação ao financiamento da saúde, observamos:
• Acentuada retração da contrapartida federal, quando cotejada
com o crescimento das contrapartidas estaduais e municipais, tanto
em termos das porcentagens no total do financiamento público
como em dólares per capita. Ainda que os recursos destinados à
saúde representem um percentual considerado alto no orçamento,
ele é totalmente insuficiente face às necessidades da população.
· O Brasil gasta muito pouco com saúde. O total do
financiamento público vem oscilando entre 125 e 150 dólares per
capita ao ano, enquanto no Canadá, países europeus, Japão,
Austrália e outros, a média do financiamento público é de US$
1.400,00 per capita, na Argentina é US$ 362,00 e no Uruguai, US$
304,00.
· O Projeto de Lei Complementar nº 01/2003, que regulamenta
a E.C. nº 29/2000, foi exaustivamente debatido e aprimorado pelas
entidades da sociedade civil, representativas dos usuários, dos
membros dos Tribunais de Contas e do Ministério Público, dos
gestores nas três esferas de governo, dos profissionais da saúde,
dos prestadores de serviços. Esse debate se deu nas Conferências e
Conselhos de Saúde, por mais de dois anos, e finalmente nas
Comissões da Seguridade Social e Família, de Finanças e Tributação
e da Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados. É
preciso, pois, que governo e oposição se comprometam a aprová-
lo.
· Fruto desse consenso é a proposta de estabelecer a
contrapartida federal para a Saúde em 10% da receita bruta da
União, o que corresponde a um acréscimo de aproximadamente R$
10 bilhões, ou US$ 30,00 per capita, ao ano. Ainda que
gritantemente insuficiente e aquém das referências internacionais
citadas, significa um importante passo, porque atrela essa
contrapartida a uma base orçamentária, da mesma maneira com
que foi definida para os estados e municípios, dispõe sobre o que
são serviços de saúde financiados pelo SUS e o que não são serviços
de saúde, e orienta os gastos e as prestações de contas com base no
referencial da Eqüidade, Integralidade e Eficiência.
A SAÚDE UNIVERSAL, HUMANIZADA E DE QUALIDADE
COMO POLÍTICA DE ESTADOEssas estratégias programáticas representam as pontes a serem
construídas para fazermos a transição entre o SUS existente,
reconhecendo-se seus avanços e limites, e para o SUS pra valer:
Universal, Humanizado e de Qualidade. Hoje, é plenamente factível
e necessário ampliar a garantia do direito à saúde.
As eleições que se aproximam repõem a saúde na agenda de
prioridades dos candidatos e dos partidos. Nossa intenção é abrir
este debate de forma ampla, com todos os partidos políticos, de
forma a alcançar um lugar de destaque de nossas propostas em
seus programas. A luta pela democratização da saúde sempre foi
suprapartidária e permitiu a construção de uma ampla e sólida
coalizão reformadora que tem dado sustentação ao processo da
Reforma Sanitária.
Uma vez mais, estas forças comprometidas com o avanço da
democracia por meio da implementação da Reforma Sanitária
reafirmam a necessidade de que os postulantes aos cargos eletivos
se comprometam com o programa expresso nas linhas
programáticas acima enunciadas. Elas foram fruto de uma ampla
discussão entre várias entidades, e seu delineamento nasceu da
experiência acumulada pelo movimento da Reforma Sanitária em
todas as suas frentes de trabalho: nas organizações e entidades de
profissionais e usuários, nas universidades, no Executivo, no
Legislativo, no Judiciário etc.
Sabemos que é possível, hoje, atender a população em um SUS
pra valer: universal, humanizado e de qualidade. Para chegarmos a
isso é necessária a firme vontade política dos nossos líderes de
assumir o compromisso social com nossas propostas. Temos certeza
que, dessa forma, estaremos todos construindo uma sociedade
mais justa e democrática, o que transcende a mera perspectiva
setorial, possibilitando o avanço em direção a uma sociedade
inclusiva na qual predomine a cultura da paz. Este é um momento
crucial para transitarmos do SUS atual ao SUS pra valer: não serão
toleradas omissões.
Rio de Janeiro, Julho de 2006.
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cebes - cebes@ensp.fiocruz.br
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O SUS PRA VALER: UNIVERSAL, HUMANIZADO E DE QUALIDADE
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