jardins histÓricos: intervenções na praça da independência. · reino unido na disposição dos...
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JARDINS HISTÓRICOS: Intervenções na Praça da Independência.
COSTA, MARÍLIA JERONIMO. (1); LIMA, GABRIELLA DONATO DE OLIVEIRA. (2); FARIAS, SARAH BRANDEBURSKI. (3); JUNIOR, JOSÉ COELHO DE LEMOS. (4); MACHADO, PASCAL. (5); MONTENEGRO, ALINE PAIVA. (6); TEIXEIRA, DIMAS DE ASSIS ALBUQUERQUE. (7); TEIXEIRA, GEUZA ARAUJO ALBUQUERQUE.
(8); TIMOTHEO, JUSSARA BIÓCA DE MEDEIROS. (9);
1. FPB - Faculdade Internacional da Paraíba. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Av. Monsenhor Walfredo Leal, 512. Tambiá. João Pessoa/PB. 58020-540
marilia.costa@fpb.edu.br
2. FPB - Faculdade Internacional da Paraíba. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Av. Monsenhor Walfredo Leal, 512. Tambiá. João Pessoa/PB. 58020-540
gabriella_arquitetura@hotmail.com
3. FPB - Faculdade Internacional da Paraíba. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Av. Monsenhor Walfredo Leal, 512. Tambiá. João Pessoa/PB. 58020-540
sarah_farias@hotmail.com
4. FPB - Faculdade Internacional da Paraíba. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Av. Monsenhor Walfredo Leal, 512. Tambiá. João Pessoa/PB. 58020-540
jcljjunior@gmail.com
5. . FPB - Faculdade Internacional da Paraíba. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Av. Monsenhor Walfredo Leal, 512. Tambiá. João Pessoa/PB. 58020-540
pascal_univ@yahoo.com.br
6. FPB - Faculdade Internacional da Paraíba. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Av. Monsenhor Walfredo Leal, 512. Tambiá. João Pessoa/PB. 58020-540
alinepaivamontenegro@gmail.com
7. UFPB – Universidade Federal da Paraíba. Curso de Engenharia Ambiental. Av. Cidade Universitária, s/n. Castelo Branco. João Pessoa/PB. 58051-900
dimasteixeira@yahoo.com.br
8. UNIPÊ – Centro Universitário de João Pessoa. Curso de Design de Interiores. Rodovia BR-230, KM22, s/n. Água Fria. João Pessoa/PB. 58053-000
geuqui@yahoo.com.br
9. FPB - Faculdade Internacional da Paraíba. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Av. Monsenhor Walfredo Leal, 512. Tambiá. João Pessoa/PB. 58020-540
jbioca@gmail.com
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
RESUMO
O trabalho objetiva analisar a ocupação pós-revitalização da Praça da Independência e sua proposta de intervenção dos seus espaços para atrair a presença de famílias, o lazer e prática esportiva, tornando um novo lugar para novos usuários, contribuindo para o resgate de hábitos e costumes além da segurança do entorno. A área está localizada no trecho de convergência de eixos viários considerados vias de preservação rigorosa inseridas na poligonal de tombamento estadual conforme Decreto nº 25.138, de 28 de Junho de 2004. Medindo mais de 37.000 m², a Praça da Independência foi idealizada em virtude da comemoração do Centenário da Independência do Brasil e inaugurada em 07 de setembro de 1922, dentro de um processo de urbanização e expansão que ocorria no município de João Pessoa, capital paraibana. Considerada um dos ícones do crescimento territorial da cidade, a praça passa a representar, devido à localização, um elo entre a cidade e o mar, sendo declarada como Patrimônio Histórico Artístico Nacional no ano de 1980 e, tendo posteriormente projeto aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP). O arquiteto Hermenegildo di Lascio inspirou-se no traçado geométrico típico francês ao projetá-la, representando a bandeira do Reino Unido na disposição dos jardins e passarelas, em que todos os caminhos levam ao centro, onde existe um obelisco no estilo eclético e o busto de Otacílio de Albuquerque. Em uma das laterais há um coreto erguido no estilo neoclássico. Seu projeto de paisagismo privilegiou a diversidade da flora nativa paraibana, como o Ipê, Acácia, Pau-Brasil, Abricó-de-Macaco e palmeiras nativas da Amazônia, de forma que a vegetação se definisse pelo contraste de cores, massas, intervalos e texturas, mediante perspectivas e soluções espaciais inesperadas. Praças públicas são espaços de contemplação e convivência, e ainda marcos simbólico do tecido urbano. Porém, a falta da devida manutenção e de serviços constantes de melhorias submetem esses patrimônios a contextos diversos de degradação. Estes fatos acarretaram na deterioração dos passeios e jardins da Praça da Independência, por isso em 2015 houve uma intervenção, com o intuito de devolvê-la e torná-la mais atrativa ao uso coletivo da população. O projeto revitalizou o obelisco e o busto existentes; recuperou as calçadas e gradis; no coreto, houve a instalação de novas escadas e de um elevador para os portadores de necessidades especiais; a substituição da iluminação pública; a instalação de bancos; um rigoroso mapeamento dos canteiros verdes, implantação de um sistema de irrigação, melhoramento do solo e plantio de grama, vegetação até então inexistente. Além disso, efetuaram-se podas e o levantamento das espécies, cujo resultado propiciou a especificação de uma cobertura vegetal baseada em exemplares arbóreos, herbáceos e arbustivos, com colorações variadas, contrastando com o verde predominante, porém preservando a intenção do projeto original. O trabalho pretende confirmar que, após a intervenção de 2015, a Praça da Independência configura-se como um novo local, contribuindo para a socialização da população e também de passagem, corroborando com a revitalização do Centro Histórico da capital paraibana.
Palavras-chave: revitalização, convivência, Praça da Independência, manutenção de praças,
manutenção de jardins.
4ᵒ COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
1 – Introdução
Segundo Carneiro (2009, p.211), os jardins históricos são gestos artísticos do homem na
paisagem, caracterizando uma paisagem cultural e seu conceito, moldado no plano
internacional pela Carta de Florença de 1981, ressaltam a vegetação como principal elemento
da composição arquitetônica que concede o significado cultural na condição de monumento
vivo.
Estes jardins são importantes na organização, disposição e no uso da paisagem cultural,
aonde a vegetação torna-se o elemento relevante na composição arquitetônica, assim como
outros elementos de importância cultural, a exemplo dos traçados, elementos construtivos e
mobiliário; que juntos, somam valor artístico, histórico e social uma determinada época e são
vistos no presente e futuramente, como testemunho de um capítulo da sociedade. São ainda,
elementos fundamentais para atingir a uma melhoria da qualidade de vida no meio urbano,
sendo os elementos naturais detentores de um papel primordial dentro do ambiente
extremamente artificial em que as nossas cidades se transformaram. Estes espaços verdes
são igualmente relevantes para o bem-estar, para as condições de saúde e o equilíbrio mental
da população, por promoverem a convivência e socialização de várias pessoas, por instituir a
manutenção da biodiversidade, constituírem importante parte da paisagem urbana, trazerem
benefícios econômicos significativos e por formar espaços estruturais e funcionais
fundamentais para transformar as nossas cidades, em áreas mais agradáveis de viver. Os
jardins podem assim assumir um papel primordial no que diz respeito à melhoria da qualidade
de vida, ao desenvolvimento sustentável e à cultura local.
O cuidado com estes jardins, por vezes ignorados, é um aspecto importante no
desenvolvimento das cidades. Como as modificações da paisagem figuram-se cada vez mais
em ritmo acelerado, constantemente se perdem importantes espaços naturais ou os ainda
restantes tornam-se verdadeiras ilhas nas cidades dia a dia mais urbanizadas. O processo de
urbanização, ocasionado pela imprescindível necessidade de ajuste às condicionantes
econômicas, demográficas e à situação política, traz consequências significativas, tanto para
o ambiente natural como na composição das sociedades urbanas.
Através deste artigo, há o ensejo de auxiliar outras cidades a tratar melhor e com mais
atenção este espaço verde importante do tecido urbano, crendo que este irá elevar a
qualidade de vida, o bem-estar da população e aprimorar os atributos das áreas urbanas e
especialmente de vizinhanças; tornando-os espaços mais aprazíveis e atraindo desse modo,
a comunidade, assim como afirmado por Sitte (1989 trad. 1992, p.165) citado por Oliveira
(2009, p.143):
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Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Em tempos imemoriais, nossos antepassados foram homens das florestas.
Hoje somos homens dos edifícios de apartamentos. Apenas isto basta, para
explicar a atração irresistível que a natureza exerce sobre o morador da
metrópole moderna, sempre seduzido pelas áreas verdes, um verdadeiro
refúgio contra o moinho de poeira deste oceano de moradias.
2 - A Praça da Independência
No final do século XIX, o Brasil passa pela transição do modelo governamental do país de
Império para República, entretanto o recém Estado da Paraíba, localizado na região nordeste
do Brasil, não acompanha tal evolução permanecendo em situação de pobreza, ao contrário
da região sudeste do Brasil. À época, o bairro do Tambiá, sito à região central da cidade de
João Pessoa e sede do objeto desse estudo, consistia em região predominantemente
residencial, ocupado por modestas residências e diversas chácaras e sítios.
O fim da década de 1910 e inicio da década de 1920 marca, no contexto paraibano, uma fase
de prosperidade econômica e social. Neste momento, a cultura algodoeira, principal fonte
econômica local, tem grande expansão, visto que os concorrentes ingleses passavam pela
Primeira Guerra Mundial. O período também é favorecido pela gestão de Epitácio Pessoa na
presidência, entre 1919-1922, que passa a designar mais recursos para a região (MELO,
2000, p.162).
Acompanhando o desenvolvimento econômico, são realizadas intervenções urbanas que
visam adequar a capital aos moldes de uma cidade ‘moderna’, como já acontecia em cidades
como Rio de Janeiro e São Paulo. Nessas cidades, por sua vez, são as referências à Belle
Époque francesa que influenciam o traçado adotado nas intervenções urbanas, no intuito de
atender ao desejo corrente de seguir os padrões artísticos e culturais europeus (SILVA, 2009,
p.77). Seguindo esta tendência, e tendo nos espaços públicos importante símbolo deste
momento, em sete de setembro de 1922, no governo do então prefeito da cidade Walfredo
Guedes Pereira (1920-1924), inaugurou-se a Praça da Independência, durante o Centenário
da Proclamação da República, em uma área da cidade ainda pouco ocupada e que,
posteriormente, viria a representar marco da ligação entre a cidade com o mar.
A área de 70.000m² localizada no bairro do Tambiá, propriedade pertencente à família
Guedes Pereira, foi doada ao município por seus proprietários pra que fosse urbanizada
através da construção de uma praça e da abertura de novas vias, sob a condição única e
exclusiva de ser um logradouro sob o aviso de ter a propriedade de volta às mãos das famílias
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doadoras, caso houvesse qualquer modificação no uso previsto para a área, em qualquer
tempo.
Ilustração 1: Mapas de localização da Paraíba, João Pessoa e Praça da Independência
Fonte: http://www.de.ufpb.br/~cbsf2014/local_evento.html. Acesso em: 4 set. 2016.
O projeto original da praça foi do arquiteto Hermenegildo Di Lascio, que a desenhou fazendo
alusão ao traçado radial da bandeira da Inglaterra na disposição dos seus jardins e
passarelas, e tomou como referência o estilo geométrico típico dos jardins franceses.
Também foi solicitada a elaboração de um projeto paisagístico por Burle Marx que, contudo,
não foi executado. O material gráfico original faz parte do acervo pessoal da família Di Lascio,
que em entrevista à citada pesquisadora, aponta aspectos políticos e influências relevantes
ao projeto:
Conforme informou o arquiteto Mário Di Lascio, em entrevista, ao conceber o
desenho da praça, seu pai procurou representar as fortes influências políticas
exercidas pela Maçonaria e pela Inglaterra à época da Proclamação da
República, bem como a nossa bandeira, o centenário, as nossas regiões
geográficas e a nossa exuberante flora. O traçado dos caminhos sugeria a
interseção do desenho das bandeiras inglesa com o da nossa; o obelisco,
símbolo universal da vitória, representaria a vitória na luta da independência;
e os cem bancos ali instalados faziam referência ao centenário. Já os
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quadrantes representavam as quatro regiões geográficas do Brasil da época,
com a vegetação especificada contendo exemplares significativos da flora de
cada uma dessas regiões.
Ilustração 2: Vista aérea da Praça da Independência e seu entorno, anos 1930.
Fonte: Arquivo Público Estadual
Nos anos seguintes à implantação da Praça da Independência, o desenvolvimento urbano da
capital cooperou para um novo perfil de ocupação do bairro, com o desmembramento dos
amplos lotes em parcelas menores que abrigariam elegantes residências. A abertura desse
novo espaço público revelou-se como fator preponderante para a expansão urbana, com o
paulatino deslocamento da população de classe econômica abastada. Posteriormente, em
1932, o arquiteto e urbanista Nestor de Figueiredo, após o Plano de Remodelação e
Expansão da Cidade de João Pessoa, considera a referida praça, em relação ao sistema
viário, como um dos principais pontos da cidade (ALMEIDA, 2004, p.138).
A área pertencente à família Guedes Pereira, antes de ser doada ao município de João
Pessoa para a fundação da Praça da Independência, era local de grande concentração de
vegetação nativa, principalmente frutífera, constituída por exemplares nativos da Mata
Atlântica como o Abricó-de-Macaco e palmáceas, plantas da flora nativa da Paraíba como
Pau-brasil, Ipê-amarelo, Ipê-roxo, a Acácia e outros a exemplo das Bromélias, Begônias,
Orquídeas, Cipós, Briófitas, Jacarandá, Peroba, Jequitibá-rosa, Cedro, Tapiriria, Andira,
Ananás e Figueiras.
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O projeto paisagístico original privilegiou e preservou essa diversidade, constituída em sua
maioria, além das árvores frutíferas, por espécies ornamentais, palmeiras, epífitas, arbustos,
forrações, gramíneas e invasoras. As praças tendem a estar situadas em locais privilegiados,
já que seriam os espaços mais usados pelos habitantes; e considerando-a uma área urbana,
a maneira mais eficaz de melhorar o clima ambiental bem como a interação entre as pessoas,
seria através do paisagismo (Lengen apud Bortoli, 2009, p.2).
Seguindo o traçado francês, foi instalado no centro da área, onde todos os caminhos se
encontram, um obelisco de pedra granítica que faz referências à luta da independência do
país como símbolo universal da vitória. Em uma de suas laterais surge outro aspecto histórico:
um coreto em alvenaria de estilo eclético elevado mediante aterro do local de sua fixação,
onde atualmente funciona uma floricultura, ambos tombados pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1980. Sujeitando-se aos princípios clássicos da
geometria dos jardins franceses, as partes arbustivas e os canteiros submetem-se a um rígido
alinhamento. Apresentam-se rigorosamente enfileirados, em posição radial, e a forma circular
é empregada no centro da praça, aonde se localiza o obelisco. Ainda em seu centro,
encontra-se a bandeira do Brasil, a qual todo dia 7 de setembro, dia da independência do
Brasil, é hasteada por soldados do estado; e um busto confeccionado em bronze de Otacílio
de Albuquerque, político paraibano que foi o terceiro prefeito da cidade de João Pessoa entre
1908 a 1911.
3 – A intervenção
Sendo um dos marcos históricos de João Pessoa, a Praça da Independência passou por um
processo de revitalização composta por várias etapas que envolveram questões técnicas e
artísticas, e acompanhadas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento. O projeto
previu a realização, manutenção e reparos nos passeios públicos, mobiliários urbanos,
jardins, monumento central (Obelisco) e busto. Diante do espaço em questão ser um bem
tombado foi elaborada, pelos arquitetos que compõem o setor de Planejamento da Prefeitura
Municipal de João Pessoa, uma proposta de intervenção que valorizasse os elementos que
compõem sua identidade: os passeios, jardins e o monumento.
Os trabalhos de requalificação deram início a partir de uma análise tanto da vegetação, como
dos elementos construídos existentes, tendo como base o projeto original. A partir daí, as
propostas convergiram na definição das áreas de intervenção que, devido ao mal estado em
que a praça encontrava-se, atingiu praticamente toda a sua extensão.
Os monumentos do obelisco central e o busto de Otacílio de Albuquerque, erguidos em pedra
granito, que se encontravam sujos e pichados, tiveram seus danos existentes mapeados e
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posteriormente restaurados, a fim de retomar seu caráter original, e receberam destaque com a
colocação de quatro holofotes próximos a eles.
No passeio, foram reformadas as calçadas externas e internas, respeitando as três tipologias
anteriormente existentes: o piso intertravado que cercava todo o perímetro da praça; o piso de
areia batida que se encontra na área interna da praça formando um desenho radial; e o piso
de mosaico em pedra sivalita, localizado em uma pequena extensão da mesma.
O projeto luminotécnico buscou valorizar as principais peças do acervo da praça, a exemplo do
busto, obelisco e coreto, bem como a sinalização dos jardins. A iluminação pública, antes com
lâmpadas de vapor de sódio que conferiam um tom de iluminação amarelada à praça, foi
substituída por lâmpadas de vapor metálico (brancas), porém conservando os mesmos
equipamentos (postes) e o método de fiação subterrânea.
Com relação ao mobiliário urbano, a praça que tinha seus bancos descaracterizados e
deteriorados, teve os mesmos substituídos por novos exemplares e com modelo igual aos que
estão sendo instalados nas praças históricas da cidade também localizadas na região central, a
exemplo da Praça João Pessoa e Parque Sólon de Lucena (Lagoa), compostos por assentos em
madeira e base de sustentação em ferro; reparo dos gradis que delimitavam o perímetro da praça,
antes retorcidos e enferrujados; inserção de novas rampas de acessibilidade e de novas lixeiras.
O coreto ganhou lavagem, limpeza das fissuras e consolidações e reconstruções, pintura,
recuperação de suas escadas, visando a recompor visualmente. Recebeu também a
instalação de um elevador plataforma para os portadores de deficiência ou com mobilidade
reduzida e rampas de acessibilidade, respeitando as recomendações da legislação e normas
vigentes.
O trabalho com a vegetação também recebeu atenção especial. A quantidade e a variedade
das espécies encontradas durante o início da intervenção era pouco diversificada.
Provavelmente, à medida que estas foram morrendo, não houve uma reposição das massas
vegetais e acredita-se que, muitas foram removidas para melhorar as condições de higiene e
segurança dos transeuntes, uma vez que os volumes altos e densos eram utilizados como
“banheiros públicos” ou locais de assaltos.
A primeira etapa das intervenções no plano paisagístico se deu pelo mapeamento, retirada ou
poda de limpeza de espécies. A Secretaria do Meio Ambiente (Semam) da cidade de João
Pessoa, órgão municipal responsável, elaborou um inventário florístico e arbóreo de todo o
plantel dos 24 canteiros internos e externos da praça, com a situação de toda a vegetação
existente; indicação do manejo de alguns exemplares por questões fitossanitárias; sugestão
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de plantio de nova vegetação, para compor os que foram sendo perdidos ao longo dos anos,
além da manutenção e limpeza das espécies que foram mantidas. Segundo o referido órgão
municipal, de acordo com o inventário e pesquisas realizadas, constatou-se que a
conformação florística da Praça da Independência variou ao longo de sua existência,
contendo poucas plantas que poderiam ser datadas da época da inauguração da praça e
muitos exemplares plantados aleatoriamente ao longo do século XX.
A segunda etapa contemplou a preparação do solo, com a eliminação das espécies daninhas, a
remoção das espécies vegetais que prejudicavam a leitura da unidade do ambiente, e a instalação
de um sistema de irrigação automatizado no subsolo, que dificulta a ação de vândalos. Fez-se
necessário também, uma análise das potencialidades do uso dos diferentes tipos de arbustos, de
modo que seu posicionamento e sua formação não prejudicassem a segurança da praça, devido a
possíveis formações de massas contínuas. Em seguida, foram abertos os canteiros, feito o
nivelamento do solo, a colocação da terra de jardim e de grama-esmeralda, e a fase de
acabamento. As espécies utilizadas na cobertura vegetal são um mosaico multicor em meio ao
verde predominante: são exemplares arbóreos, herbáceos e arbustivos, contando com ixóras
vermelhas e amarelas, helicônias, dianelas, dracenas, arcas de Noé, panamás vermelhos e
assistácias.
Ilustração 3 : Projeto paisagístico da Praça da Independência, 2014.
Fonte: Adaptado a partir de planta cedida pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura
Municipal de João Pessoa.
A intervenção da Praça da Independência não se limitou ao campo visual. O agrupamento das
qualidades de diferentes texturas, temperatura e luz, em união com as sensações táteis e
visuais por meio da escolha de espécies variadas, proporcionam aos usuários sensações que
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buscam envolve-los com o espaço. Dentro desta forma de composição, a vegetação assume
posição de destaque e é considerado o principal elemento da composição paisagística do
jardim histórico, pois da maneira que foram dispostas, através da alternância dos contrastes
de cores de diferentes tonalidades, aromas e texturas, formas e volumes, constroem-se os
importantes elementos em projetos de praças: a dinâmica dos movimentos, a surpresa e a
expectativa; caracterizando-a como monumento vivo que une natureza e cultura.
Ilustração 4: Praça da Independência após a intervenção.
Fonte: BARBOSA, Ítalo. Dezembro, 2015. Disponível em:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=133302854. Acesso em: 30 ago. 2016.
4 - Análise pós- ocupação da praça da Independência
A vocação inicial da Praça da Independência era de manifestações políticas e sociais, tendo o
coreto como palco para os discursos, e passando posteriormente, a abrigar festas e feiras
municipais. O antigo palco de discursos, em 1968, passou a abrigar a Floricultura da
Independência. Com o passar dos anos, para atender as necessidades que surgiram com a
evolução da cidade, o caráter residencial foi cedendo lugar para estabelecimentos comerciais,
institucionais e de serviços, principalmente com o desenvolvimento da cidade na década de
1970, tendo o entorno da Praça da Independência acompanhado esta evolução imobiliária
(SOBREIRA, 2011).
Atualmente, os lotes periféricos à praça em questão são principalmente ocupados por
comércio, serviço ou instituições, mas ainda existem algumas edificações remanescentes da
época da inauguração da praça, com características ecléticas, conforme relatado por Tinem
(2006, p. 194).
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Ilustração 5: Mapa de uso e ocupação.
Fonte: Elaboração dos autores, 2016.
A primeira fase da pesquisa procurou reunir não só elementos relativos à pesquisa, análise e
interpretação inicial dos dados, mas também considerações a serem utilizadas nas etapas
posteriores, buscando compreender o desenvolvimento de projetos de recuperação da
qualidade espacial de ambientes urbanos.
A análise da avaliação pós-ocupacional da Praça da Independência após a intervenção
realizada pela Prefeitura de João Pessoa, baseou-se no método de mapa comportamental,
que se constitui em registro gráfico a partir de observações do comportamento e atividades
dos usuários em um determinado ambiente (RHEINGANTZ, 2009, p. 35). Os objetivos da
análise são a identificação dos usos, interações, movimentos, relações espaciais e
distribuição das pessoas em um determinado ambiente. Por se tratar de um objeto de estudo
de grandes dimensões a metodologia é adequada por permitir a produção de resultados
imediatos, conseguidos a partir da análise dos comportamentos constatados.
Desta maneira, realizou-se coleta das informações através de observação direta em
diferentes turnos e dias da semana objetivando-se a identificação dos diferentes tipos,
atividades, horários mais utilizados e perfil dos usuários (sexo, faixa etária, quantidade),
demarcando-se em planta baixa esquemática da praça e os espaços mais ocupados. De
acordo com Bernardi (2006, p.105) essa interpretação técnica auxilia na compreensão da
cidade comparando dados e informações socioeconômicas, ambientais e de infraestrutura,
sob o olhar dos cidadãos das mais diversas áreas e lugares, respeitando-se as memórias e
lembranças dos moradores e de diversos grupos sociais.
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No período de um mês foram realizadas doze visitas, as quais seis delas nos sábados e
domingos, e as outras seis durante às quartas e quintas. Os horários e turnos de observação
ocorreram da seguinte maneira:
a) No turno da manhã, as observações ocorreram entre 7h30 e 12h00;
b) No turno da tarde, as observações ocorreram entre 12h00 e 16h00;
c) No turno da noite, as observações ocorreram entre 19h00 e 22h00;
Quanto aos demais procedimentos de pesquisa relacionados ao uso anterior do referido
espaço público, devido à dificuldade de registros, recorreu-se a suposições embasadas em
dados indiretos referentes ao uso da praça ao longo dos anos, tais como arquivos de
instituições locais, material iconográfico, informações gerais disponíveis sobre o uso destes
espaços na cidade de João Pessoa em sites, blogs e notícias em meio eletrônico, e
referenciais bibliográficos de autores locais, para estabelecer um comparativo da avaliação
pós-ocupação.
Através do levantamento de informações baseadas na observação em dias e horários
alternados, e em conversas informais durante as visitações, constatou-se que os dias e
horários de maior utilização do espaço são aos finais de semana, no período da tarde,
principalmente entre às 15:30 e 18:00 horas, e durante a semana, das 16:00 às 17:30 horas,
com uso mais intenso na parte oeste da praça associado ao fato de que nesta região da praça,
que compreende a rua lateral do colégio Marista Pio X, existe um grande estacionamento
público, que facilita o acesso daqueles que vêm de veículos motorizados, como também um
fluxo constante de estudantes devido a proximidade deste trecho da praça com a referida
instituição.
Após a análise dos dados coletados nas visitas à praça e confrontando com dados anteriores
oriundos de relatos de antigos moradores das cercanias, percebeu-se que após a intervenção
realizada, a frequência, a quantidade de usuários e a origem dos frequentadores do espaço,
sofreram significativa alteração devido a maior atratividade conferida pela requalificação.
Outro tipo de uso que já existia e foi intensificado é o de alunos que estudam nas diversas
instituições localizadas nas imediações da praça, e que continuam a frequentar o ambiente
para namorar ou conversar. Parte da atratividade diurna se deve à recomposição e
revalorização dos jardins através do novo projeto paisagístico, que teve o acréscimo de
vegetação arbustiva, cooperando para o sombreamento e conforto térmico, bem como a
inserção de novo mobiliário urbano, a exemplo dos bancos.
Além da atração do público habitante dos bairros mais próximos ou trabalhadores da região,
observou-se a partir das conversas informais com visitantes na Praça da Independência, que
o referido local passou a receber pessoas oriundas de municípios de regiões metropolitanas
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como Bayeux, Santa Rita e Cabedelo, e que estas passaram a realizar um número maior de
deslocamentos até local com a finalidade de lazer e descanso. A opinião dos usuários
cooperou para a formulação da análise pós-ocupacional.
Ilustração 6: Mapa de
Fonte: Elaboração dos autores, 2016.
A revitalização e manutenção do mobiliário urbano e espaços verdes contribuiu para maior
conforto dos usuários. As melhorias no ambiente também alcançaram o quesito segurança.
Ressalta-se a presença de guardas-municipais no local, além da ampliação da quantidade de
frequentadores o que contribui para sensação de segurança, visto que quanto mais
frequentado é um lugar, mais vigiado e seguro torna-se o local. (JACOBS, 2000, p.32).
Segundos relatos coletados no local, antes da intervenção era comum a presença de usuários
de drogas frequentando a praça, o que concorria para o desestímulo ao compartilhamento do
espaço por outras pessoas, situação que se inverteu após a intervenção.
Apesar de não contar com infraestrutura adequada à prática de esportes, foi possível observar
com as visitas in loco, crianças e adolescentes jogando futebol na área gramada; andando de
bicicleta e praticando exercícios aeróbicos em circuito, atividades estas que reforçam a
socialização.
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Ilustração 7: Diferentes atividades desenvolvidas na praça: reunião de amigos, jogo de futebol,
exercícios aeróbicos e piquenique.
Fonte: Arquivo dos autores
De acordo com a análise dos dados anteriores à ação no espaço público oriundos de relatos e
testemunhos de moradores antigos da região, a quantidade de visitantes bem como
frequência de retorno destes aumentou. Além de passagem ou permanência, algumas
práticas que não eram observadas antes na praça, como a permanência na grama e a
realização de festividades e piqueniques, foram frequentemente registradas após a
intervenção. Estes fatos são atribuídos à inserção da natureza em um contexto urbano, cujo
fator é um dos principais atrativos da praça.
5 – Considerações finais
A existência da vontade de se voltar a utilizar os espaços públicos a exemplo das praças,
como locais de permanência, e não com a finalidade simples de caminhar dos transeuntes,
onde exista a possibilidade de socialização, onde todos possam conviver em segurança e
harmonia, onde possa discutir assuntos diversos, continua sendo constitutiva da cidade como
fato social por mais que o uso do espaço público venha se alterando. Pode-se perceber que,
estes espaços quando revitalizados, acarretam em melhorias do entorno como um todo, na
qualidade de vida de seus usuários diretos e indiretos, e também no convívio e relações entre
os mesmos.
A manutenção e boa conservação destes espaços objetivam preservar a identidade cultural
local, estabelecendo uma relação de referência comum entre os diversos habitantes de uma
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região, gerando a ideia de afinidade, identidade e unidade, transmitidos de geração a geração
e estabelecendo o sentido de memória.
Assim como todo jardim histórico, temos na Praça da Independência a revelação de um
passado político, econômico, botânico e urbano, ao passo que é uma obra de arte e um
documento. Uma praça mal conservada impossibilita o cidadão de conhecer um pouco mais
de sua cultura e de usufruir deste espaço. Intervenções em jardins históricos devem expor e
valorizar suas características singulares e permitir que estes espaços sejam assinalados
como obras de arte, sem prejudicar o valor documental que a passagem do tempo deixou
marcada nesses lugares. Estes espaços, quando cuidados, podem potencializar as
edificações e a paisagem do entorno, e influenciar no uso intenso destes.
A participação da população como continuidade do processo de manutenção, é que poderá
garantir a boa gestão do jardim e a preservação do patrimônio cultural; não devendo os
trabalhos de manutenção e recuperação das praças serem tratados apenas no tocante às
atividades sazonais, como corte de gramados e podas de árvores. Assegurar a coesão
projetual da área é a maior contribuição a ser deixada para as gerações futuras; entendendo
que a conscientização para a conservação e o respeito ao patrimônio paisagístico devem ser
constantes na ação contra a descaracterização e possível destruição de obras importantes de
nossa paisagem.
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